Vol 13 - Nº 4 - OUT/NOV/DEZ 2005
Vol 13 - Nº 4 - OUT/NOV/DEZ 2005
Vol 13 - Nº 4 - OUT/NOV/DEZ 2005
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Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 245.<br />
Pedra CAC. A Cardiologia Intervencionista para Cardiopatias Congênitas e Estruturais no Brasil: de Onde Viemos, Onde Estamos,<br />
para Onde Vamos. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(3): <strong>13</strong>9-140.<br />
Apresentação<br />
Écom muita satisfação que apresentamos este fascículo da nossa<br />
Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva, dedicada à intervenção<br />
percutânea extracardíaca. Do editorial aos artigos de revisão, o tema<br />
central é a aterosclerose, uma doença de caráter sistêmico, e que necessita<br />
do cardiologista atenção constante, pois suas altas taxas de mortalidade<br />
independem do território acometido, seja ele na árvore coronariana ou<br />
nos vasos extracardíacos. Desejamos que os conceitos apresentados neste<br />
fascículo sejam de grande proveito a todos.<br />
Ari Mandil 1<br />
Editor Convidado<br />
1<br />
Serviço de Cardiologia Intervencionista do Hospital Lifecenter e Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte, MG.<br />
Correspondência: Ari Mandil. Rua Boa Esperança, 525/200 - Belo Horizonte, MG, Brasil. CEP 30310-730 • E-mail: amandil@uol.com.br<br />
245
Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 247.<br />
Pedra CAC. A Cardiologia Intervencionista para Cardiopatias Congênitas e Estruturais no Brasil: de Onde Viemos, Onde Estamos,<br />
para Onde Vamos. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(3): <strong>13</strong>9-140.<br />
A Aterosclerose na Visão do Cardiologista:<br />
Reconhecimento de uma Doença Sistêmica<br />
Editorial<br />
J. Eduardo M. R. Sousa 1<br />
Tradicionalmente, os Cardiologistas têm direcionado<br />
seus esforços maiores no diagnóstico e no tratamento<br />
da doença arterial na árvore coronária,<br />
com menor foco no acometimento da aorta e das<br />
carótidas e sem uma forte atenção para a doença nas<br />
artérias renais e nas dos membros inferiores.<br />
Com o conhecimento que fomos adquirindo nas<br />
últimas duas décadas, esta postura não contempla a<br />
percepção de que, sendo a aterosclerose uma doença<br />
sistêmica e os acometimentos dos territórios não coronários,<br />
fortes marcadores de risco de eventos cardiovasculares,<br />
o foco de atenção deve sempre ser o aparelho<br />
cardiovascular como um todo.<br />
Em contraste com a doença coronária, a prevalência<br />
da afecção aterosclerótica não coronária depende da<br />
população estudada, do método diagnóstico empregado<br />
e se os sistemas são considerados e incluídos na<br />
estimativa. O que se observa, em geral, é que a doença<br />
extracardíaca é subdiagnosticada e, por isto, subtratada.<br />
Por exemplo, a doença arterial periférica, em grandes<br />
populações estudadas nos Estados Unidos, Europa e<br />
Oriente Médio, varia de 4,6% a 19,1%. Menos prevalente<br />
em jovens, atinge mais os idosos e os homens do<br />
que as mulheres.<br />
Uma série de fatores de risco modificáveis está<br />
associada à doença arterial coronária, mas também<br />
contribui para aterosclerose da circulação extracardíaca.<br />
Neste particular, além do tabagismo, da dislipidemia,<br />
da hipertensão e da hiperhomocisteinemia, o diabetes<br />
melito goza um papel relevante, em especial se considerarmos<br />
sua crescente incidência, ano a ano, em decorrência<br />
do envelhecimento das populações e do aumento<br />
da obesidade e do sedentarismo. A aterosclerose cardiovascular<br />
no diabético é mais extensa e mais grave,<br />
com maior propensão à calcificação e maior acometimento<br />
distal. No estudo de Framinghan, o diabetes<br />
contribui mais como fator de risco para doença arterial<br />
periférica do que para doença coronária ou acidente<br />
vascular cerebral.<br />
Após o reconhecimento, o tratamento da aterosclerose<br />
cardiovascular como um todo é igualmente desafiante,<br />
não só pela variedade de acometimentos isolados<br />
e múltiplos, de opções farmacológicas, percutâneas,<br />
cirúrgicas e associações terapêuticas, como pelo custoefetividade<br />
e segurança oferecidos pelas diversas propostas<br />
de tratamento, no curto e longo prazos.<br />
A terapêutica não farmacológica, que visa à mudança<br />
do estilo de vida, incluindo: alimentação adequada,<br />
exercícios programados e postura anti-stress, tem<br />
comprovado eficiência como coadjuvante de todas as<br />
outras formas de tratamento.<br />
Entre os fármacos, os quatro grupos de medicamentos<br />
recomendados (antiplaquetários, estatinas, betabloqueadores<br />
e inibidores da ECA) oferecem reais probabilidades<br />
de melhor evolução clínica, com excelentes<br />
efeitos na redução dos eventos, por meio de vários<br />
mecanismos, entre eles a estabilização das placas ateroscleróticas<br />
(estenóticas ou não), a inibição dos fenômenos<br />
trombóticos, com a prevenção das síndromes<br />
oclusivas arteriais agudas.<br />
Por outro lado, contemplamos a extraordinária<br />
evolução das técnicas de revascularização percutânea,<br />
de maneira rápida e constante, nos últimos anos, com<br />
a introdução de métodos e técnicas, com sem número<br />
de novos materiais e, principalmente, com grande evolução<br />
na habilidade e desempenho dos intervencionistas,<br />
que se deparam, cada vez mais, com casos complexos<br />
e desafiadores da competência.<br />
Este número da Revista Brasileira de Cardiologia<br />
Invasiva dedica-se ao tratamento intervencionista das<br />
afecções ateroscleróticas, em territórios extracardíacos.<br />
Temas de grande interesse são abordados por especialistas<br />
experientes, profundos conhecedores da arte do<br />
manejo terapêutico dos cateteres, na aorta e seus ramos.<br />
Chama a atenção que todos os capítulos são liderados<br />
por cardiologistas, destacando o papel que a Cardiologia<br />
tem exercido na área das intervenções extracardíacas.<br />
Com a presente publicação, a Sociedade Brasileira<br />
de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista dá<br />
importante passo no sentido de apoiar, estimular e<br />
promover a prática do tratamento percutâneo da doença<br />
aterosclerótica envolvendo territórios extracardíacos,<br />
chamando a atenção para sua relevância clínica e para<br />
o impacto médico que o seu tratamento proporciona.<br />
1<br />
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />
Correspondência: Dr. J. Eduardo M. R. Sousa. Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 - Ibirapuera. São Paulo,<br />
SP, Brasil. CEP 04012-909. Tel.: (11) 5085-4215. Fax: (11) 5549-7807 • E-mail: jesousa@uol.com.br<br />
Recebido em: 09/01/2006 • Aceito em: 16/01/2006<br />
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Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 248-260.<br />
Tarbine SG, et al. Intervenção em Artérias Carótidas: Terapia Endovascular ou Cirúrgica. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 248-260.<br />
Intervenção em Artérias Carótidas:<br />
Terapia Endovascular ou Cirúrgica<br />
Artigo de Revisão<br />
Sérgio G. Tarbine 1 , Costantino O. Costantini 1 , Marcelo Freitas 1 , Rubens Z. Darwich 1 ,<br />
Costantino R. Costantini 1<br />
RESUMO<br />
Neste artigo de revisão, analisamos a evolução histórica<br />
do tratamento da doença carotídea aterosclerótica extracranial,<br />
revisando a evolução da endarterectomia e de<br />
suas indicações em diferentes situações clínicas, até a<br />
realização da primeira diretriz, em 1995, atualizada em<br />
1998, bem como suas complicações e limitações. Descrevemos,<br />
a seguir, a grande e rápida evolução dos métodos<br />
percutâneos, alcançando finalmente, com o implante de<br />
stents e utilização de neuroproteção, excelentes resultados,<br />
no mínimo, comparáveis aos obtidos pela endarterectomia.<br />
DESCRITORES: Doenças das artérias carótidas. Estenose<br />
das carótidas. Contenedores. Endarterectomia. Acidente cerebrovascular.<br />
SUMMARY<br />
Carotid Artery Intervention:<br />
Endovascular and Surgical Treatment<br />
This article reviews the historical evolution of the treatment<br />
of extracraneal atherosclerotic carotid disease, carotid endarterectomy,<br />
and its indications, mentioning the 1995 and 1998<br />
AHA/ACC task forces, and also its limitations and complications.<br />
The great and fast evolution of percutaneous treatment is<br />
described, achieving finally with stenting and cerebralprotection<br />
devices, excellent results comparable to that of<br />
surgery.<br />
DESCRIPTORS: Carotid artery diseases. Carotid stenosis.<br />
Stents. Endarterectomy. Cerebrovascular accident.<br />
Oacidente vascular cerebral (AVC) é um dos eventos<br />
mais temidos na área médica. É a principal<br />
causa de incapacitação e a terceira causa mais<br />
freqüente de mortalidade nos EUA, onde ocorrem mais<br />
de 700.000 AVCs por ano, sendo que 20 a 30%<br />
destes são causados pela aterosclerose carotídea 1 . A<br />
revascularização é, portanto, uma estratégia importante<br />
para a redução da incidência de AVC nos pacientes<br />
com aterosclerose carotídea grave. A endarterectomia<br />
carotídea (EC) é um método terapêutico que demonstrou,<br />
em múltiplos estudos clínicos, eficácia na redução<br />
do risco de AVC nos pacientes com estenose carotídea<br />
extracranial, sendo que este método vem sendo utilizado<br />
há mais de 50 anos. Este procedimento cirúrgico é<br />
realizado, nos EUA, com uma freqüência anual de 99<br />
endarterectomias por cada 100.000 habitantes 2 .<br />
Há mais de 20 anos, os tratamentos endovasculares<br />
percutâneos vêm evoluindo. Esta evolução, lenta no<br />
seu início, foi acelerada com a introdução dos stents<br />
e, especialmente, dos dispositivos de neuroproteção.<br />
1<br />
Serviço de Hemodinâmica. Hospital Cardiológico C. Costantini.<br />
Fundação Francisco Costantini. Curitiba, PR.<br />
Correspondência: Dr. Sergio Gustavo Tarbine. R. Eng. Arthur Bettes, 42,<br />
apto 74 - Portão - Curitiba, Paraná. CEP 80610-290. Tel: (41) 3345-4126.<br />
Recebido em: 27/02/2006 • Aceito em: 17/03/2006<br />
Na atualidade, o tratamento percutâneo alcançou tal<br />
evolução que possibilita sua comparação com a endarterectomia<br />
no tratamento dos pacientes com doença<br />
carotídea extracranial.<br />
ENDARTERECTOMIA CAROTÍDEA<br />
É, atualmente, o tratamento considerado por muitos<br />
como padrão para a prevenção do AVC isquêmico,<br />
tanto nos pacientes sintomáticos como nos assintomáticos.<br />
Este procedimento cirúrgico foi introduzido no<br />
século passado, início da década de 50.<br />
Diferentes estudos clínicos demonstraram a superioridade<br />
da EC, com ou sem a utilização concomitante<br />
da aspirina, em comparação ao tratamento médico, no<br />
que diz respeito à prevenção do AVC.<br />
O estudo NASCET (The North American Symptomatic<br />
Carotid Endarterectomy Trial) analisou os riscos<br />
e benefícios da EC, em 2885 pacientes sintomáticos.<br />
Estes pacientes foram randomizados durante um período<br />
de nove anos, entre 1987 e 1996. A definição de<br />
sintomático incluía aqueles pacientes com AVC não<br />
incapacitante ou com ataque isquêmico transitório (AIT),<br />
nos 180 dias prévios à inclusão no estudo. Pela angiografia,<br />
os pacientes eram classificados de acordo com<br />
o grau de estenose das lesões em: 1) estenoses leves<br />
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Tarbine SG, et al. Intervenção em Artérias Carótidas: Terapia Endovascular ou Cirúrgica. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 248-260.<br />
a moderadas (
Tarbine SG, et al. Intervenção em Artérias Carótidas: Terapia Endovascular ou Cirúrgica. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 248-260.<br />
Meyer et al. 16 , na Mayo Clinic, relataram índices<br />
de complicações em 82 pacientes submetidos a uma<br />
nova EC, totalizando 92 procedimentos e documentaram<br />
uma taxa de 10,9% de AVC e óbito peri-operaferida<br />
cirúrgica, 0,9% de infarto agudo do miocárdio<br />
(IAM) e 0,6% de insuficiência cardíaca congestiva (ICC) 4 .<br />
No estudo VACS, foi relatada uma incidência em 30<br />
dias de 3,8% de lesão de nervo cranial 8 .<br />
Os resultados positivos destes estudos levaram a<br />
um aumento da indicação da EC em subgrupos de<br />
pacientes não incluídos nestes ensaios clínicos, com<br />
a intenção de prevenir um possível evento neurológico.<br />
Goldstein et al. 9 revisaram os dados de 463 registros<br />
médicos selecionados aleatoriamente de 12 centros<br />
acadêmicos, para determinar a incidência de complicações<br />
pós-cirúrgicas em pacientes assintomáticos submetidos<br />
à EC. A incidência de AVC e/ou óbito peri-operatório<br />
de 2,8% foi discretamente superior à do braço<br />
cirúrgico do estudo ACAS (2,3%), porém dentro do<br />
que se considera adequado, de acordo com as diretrizes.<br />
No entanto, os autores relataram que pacientes<br />
com idade superior a 75 anos apresentaram uma incidência<br />
de óbito e/ou AVC de 7,8% em comparação<br />
a 1,8% nos pacientes mais jovens (p=0,01). De forma<br />
similar, aqueles com história prévia de ICC apresentaram<br />
uma incidência de eventos de 8,6% em comparação<br />
a 2,3% naqueles sem ICC prévia (p= 0,03). Em 16<br />
pacientes com procedimento cirúrgico combinado de<br />
EC e revascularização miocárdica, a incidência de óbito<br />
e/ou AVC peri-operatório foi de 18,7% versus 2,1%<br />
para aqueles pacientes que foram submetidos somente<br />
à EC (p
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tório. Os investigadores não incluíram o IAM entre as<br />
complicações peri-operatórias, apesar de dois eventos<br />
fatais terem sido causados por IAM. Os pacientes<br />
sintomáticos representaram 87% desta população. De<br />
forma similar, Das et al. 17 relataram uma taxa de AVC<br />
e óbito em 30 dias de 6,6%, em 61 pacientes submetidos<br />
a uma nova EC, na Cleveland Clinic. Das 65<br />
reoperações relatadas, 51% foram em lesões sintomáticas.<br />
Gasecki et al. 18 , em nome dos investigadores do<br />
estudo NASCET, relataram uma taxa de 14,3% de AVC<br />
e óbito em 30 dias, naqueles pacientes sintomáticos<br />
que apresentavam também oclusão da artéria carótida<br />
interna contralateral.<br />
Foram descritos outros fatores de risco para a EC<br />
como, por exemplo, os pacientes com insuficiência<br />
renal, sendo esta definida como nível de creatinina<br />
plasmática superior a 1,5 mg/dl. Supõe-se que este<br />
aumento do risco é conseqüência do difícil controle<br />
da hipertensão que estes pacientes apresentam. Wong<br />
et al. 15 identificaram, neste tipo de pacientes submetidos<br />
à EC, uma incidência de AVC e óbito em 30 dias<br />
de <strong>13</strong>% e 23% de complicações cardíacas. Rigdon et<br />
al. 19 publicaram uma incidência de 43% de AVC e<br />
óbito em 30 dias em pacientes com nível plasmático<br />
de creatinina superior a 2,9 mg/dl. Hamdan et al. 20<br />
reportaram uma incidência peri-operatória de AVC,<br />
óbito e IAM de 8,2%, em pacientes com creatinina<br />
plasmática >1,5 mg/dl, quando submetidos à EC.<br />
ANATOMIA DE ALTO RISCO<br />
Outro grupo importante de pacientes com estenose<br />
carotídea, no qual a EC ainda tem limitações, é aquele<br />
que apresenta problemas relacionados ao acesso cirúrgico<br />
ou outras características anatômicas complexas.<br />
São estas, com freqüência, denominadas como “colo<br />
hostil” e são consideradas como situações que podem<br />
levar a uma complicação da EC.<br />
Diethrich 21 publicou dois grupos de pacientes que<br />
teoricamente poderiam receber benefícios com o implante<br />
de stent carotídeo. O primeiro grupo de candidatos<br />
era constituído por aquelas lesões de localização alta<br />
na artéria carótida interna. Nestes casos, a dissecção<br />
cervical teria grandes possibilidades de provocar danos<br />
aos nervos cervicais e, conseqüentemente, um resultado<br />
menos favorável. O segundo grupo era constituído<br />
por aqueles pacientes já submetidos a uma cirurgia<br />
radical de pescoço e à radioterapia. Para estes pacientes,<br />
Diethrich 21 descreveu o sítio cirúrgico como sendo<br />
similar ao couro pelas suas características físicas, aumentando<br />
assim o número de complicações.<br />
Outras condições anatômicas desfavoráveis são<br />
aquelas que levam à imobilização da espinha cérvicodorsal,<br />
assim como pacientes obesos com o pescoço<br />
curto, pacientes que apresentem a bifurcação carotídea<br />
em uma posição mais cefálica. Também devemos considerar<br />
os pacientes com paralisia do nervo laríngeo<br />
contralateral ou que tenham recebido uma traqueostomia,<br />
independentemente da causa.<br />
Contrariamente a estes achados, Lesche et al. 22<br />
publicaram seus resultados em 30 EC, realizadas em<br />
pacientes submetidos previamente à radioterapia na<br />
região cervical. As cirurgias foram realizadas entre maio<br />
de 1990 e maio de 2002. Ocorreu uma (3,3%) morte<br />
peri-operatória devido a hemorragia intracerebral massiva<br />
e um incidente de ICT. Os autores também relataram<br />
duas complicações de hematoma cervical, necessitando<br />
intervenções cirúrgicas adicionais; não houve incidência<br />
de infecção da ferida, tampouco de cicatrização<br />
inadequada. Desta forma, eles concluíram que a<br />
EC poderia ser realizada com segurança em campos<br />
previamente irradiados. De forma similar, Kashyap et<br />
al. 23 avaliaram 26 ECs realizadas, entre 1984 e 1997,<br />
em pacientes que também haviam sido previamente<br />
irradiados. Não ocorreram AVCs nem óbitos em 30<br />
dias, mostrando seis paralisias transitórias de nervos<br />
craniais e duas infecções da ferida cirúrgica. Estes<br />
autores concluíram, também, que a EC em pacientes<br />
previamente irradiados em região cervical foi segura e<br />
seus resultados duradouros.<br />
STENT CAROTÍDEO<br />
Theron et al. 24 , Mathias et al. 25 , Kachel et al. 26 e<br />
Wholey et al. 27 foram os primeiros a realizar intervenções<br />
percutâneas para o tratamento da doença arterial<br />
carotídea extracranial, no início dos anos 80. Com a<br />
introdução dos stents, o manejo intervencionista da<br />
doença carotídea começou a desenvolver-se como<br />
uma nova técnica.<br />
Os stents trouxeram melhorias importantes em comparação<br />
à angioplastia com balão. Eles demonstraram<br />
utilidade na redução da reestenose, evitando dissecções<br />
e também retendo o conteúdo das lesões, reduzindo,<br />
desta maneira, a possibilidade de embolizações distais.<br />
Quando os stents foram introduzidos, existiam<br />
somente dois tipos: o Palmaz montado num balão e<br />
o WALLSTENT, auto-expansível. De acordo com o<br />
registro mundial de carótidas de 1997, foram implantados<br />
2041 stents, correspondendo do total, 54% ao<br />
Palmaz, seguido pelo WALLSTENT, com 40% 29 . Os<br />
dois sistemas apresentavam vantagens e desvantagens.<br />
O stent Palmaz era mais curto, requeria um processo<br />
em duas etapas, sendo seu implante mais acurado,<br />
permitindo sua colocação no óstio da artéria carótida<br />
interna. Já o WALLSTENT era colocado através da<br />
origem da artéria carótida interna, chegando com sua<br />
extensão até a carótida comum. No entanto, o Stent<br />
Palmaz apresentava a desvantagem da sua compressibilidade<br />
e deformabilidade.<br />
Quando os stents de nitinol foram disponibilizados,<br />
em 1999, muitos intervencionistas trocaram os stents<br />
montados em balão pelos novos stents auto-expansíveis<br />
de nitinol. Após a atualização do registro mundial de<br />
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Tarbine SG, et al. Intervenção em Artérias Carótidas: Terapia Endovascular ou Cirúrgica. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 248-260.<br />
carótidas do ano 2000, 5427 stents haviam sido implantados,<br />
correspondendo, nesse momento, 57%, ao WALL-<br />
STENT e 33%, ao Palmaz 30 . Desde a nossa experiência<br />
inicial até agosto de 2001, quando os dispositivos de<br />
proteção cerebral foram introduzidos na nossa prática<br />
diária, estes resultados foram reproduzidos no nosso<br />
grupo. No seu início, a utilização do WALLSTENT<br />
representou somente 8,9%. Este grupo de pacientes,<br />
que representou a experiência inicial do nosso centro,<br />
foi caracterizado como sendo de alto risco, por apresentar<br />
doença arterial coronária em 97,7%, doença carotídea<br />
contralateral em 24,5%, estenose da artéria renal em<br />
32,2% e doença vascular periférica em 21,1% dos<br />
casos. Os resultados demonstraram um índice de sucesso<br />
inicial de 100%, com incidência de AVC menor de<br />
6% (66,6% do tipo I, com resolução em sete dias, e<br />
33,3% do tipo II com resolução em 30 dias), e 2% de<br />
AVC maior, sem nenhum óbito. O acompanhamento<br />
de seis meses destes pacientes também mostrou uma<br />
boa evolução, com ausência de óbito e AVC 31 . Atualmente,<br />
o uso do WALLSTENT representa 51,5% dos<br />
stents implantados na nossa instituição, sendo a utilização<br />
de dispositivos de neuroproteção uma rotina em<br />
todos os procedimentos.<br />
DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO CEREBRAL<br />
O desprendimento de partículas embólicas, durante<br />
a manipulação de cateteres e implante de stents, pode<br />
dar origem a sérias conseqüências neurológicas para<br />
o paciente. Vários dispositivos de proteção cerebral,<br />
incluindo sistemas de filtros e de balões oclusores,<br />
foram desenvolvidos para evitar a embolização de<br />
material desde o local tratado, coletando e removendo<br />
as partículas embolizadas distalmente à lesão. Atualmente,<br />
três tipos de dispositivos estão sendo utilizados<br />
(Figura 1).<br />
Um deles é um dispositivo de oclusão distal à<br />
lesão. Este sistema consiste num microcateter ou fioguia<br />
metálico que possui um balão de látex bem complacente<br />
na sua porção distal. Este sistema foi inicialmente<br />
desenvolvido e utilizado por Theron et al. 24 , em<br />
1990. O microcateter é avançado cuidadosamente através<br />
da lesão, sendo o balão distal insuflado durante<br />
o procedimento. Durante a intervenção da lesão, os<br />
detritos embolizados são contidos pelo balão distal<br />
insuflado e, em seguida, aspirados com um cateter de<br />
aspiração do próprio sistema.<br />
Um outro tipo de dispositivo de proteção distal<br />
disponível é o sistema de filtro. Este consiste num<br />
microcateter ou fio-guia que possui um filtro em forma<br />
de cesta, fixado na sua extremidade distal. Este filtro é<br />
avançado fechado através da lesão e, após cruzar a<br />
mesma, é aberto para coletar os possíveis detritos embolizados<br />
durante o procedimento.<br />
Finalmente, o terceiro tipo de dispositivo de neuroproteção<br />
disponível consiste num sistema de oclusão<br />
proximal à lesão. Este sistema, além do balão oclusor<br />
proximal à lesão, apresenta também um balão oclusor<br />
na artéria carótida externa ipsilateral, o que permite<br />
Figura 1 - Tipos de dispositivos de neuroproteção disponíveis para utilização durante o implante de stents carotídeos. A: Dispositivos do Tipo<br />
de Filtro Distal; B: Dispositivo do Tipo de Oclusão Proximal e Fluxo Reverso; C: Dispositivo do Tipo de Oclusão Distal.<br />
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Tarbine SG, et al. Intervenção em Artérias Carótidas: Terapia Endovascular ou Cirúrgica. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 248-260.<br />
um fluxo reverso desde a carótida interna que está<br />
sendo tratada em direção do cateter-guia.<br />
As vantagens do sistema oclusor com balão incluem<br />
a existência de estudos clínicos, tanto no sistema neurológico<br />
quanto no sistema coronário, demonstrando<br />
a sua eficácia 32 ; o uso de látex no balão, material<br />
muito complacente lesando minimamente a parede<br />
vascular e também uma capacidade de remoção de<br />
um grande volume de partículas embolizadas. Dentre<br />
as desvantagens do sistema oclusor com balão, devemos<br />
salientar a oclusão total do fluxo durante o procedimento.<br />
Este fato é de importante consideração em pacientes<br />
que possuam comprometimento da artéria carótida contralateral<br />
e fluxo colateral. A impossibilidade de lavar o<br />
contraste injetado e, conseqüentemente, de avaliar a<br />
lesão que está sendo tratada enquanto o balão é insuflado,<br />
é outra importante limitação deste sistema.<br />
As vantagens dos sistemas de filtro incluem a capacidade<br />
de permitir o fluxo sangüíneo durante todo o<br />
procedimento, evitando períodos prolongados de isquemia<br />
e permitindo a avaliação da lesão durante o implante<br />
do stent. As desvantagens destes sistemas incluem a<br />
indução de espasmo ou lesão da parede vascular pelo<br />
anel do filtro, que geralmente fica posicionado no<br />
leito vascular distal; o risco de liberar micropartículas<br />
através dos poros do filtro e a possibilidade que o<br />
material capturado no filtro escape no momento de<br />
fechamento e recuperação do mesmo (limitação no<br />
volume a ser capturado). Mediante a análise dos resultados<br />
dos registros de implante de stent carotídeo (ISC)<br />
com a utilização de dispositivos de proteção cerebral,<br />
podemos concluir que o uso dos mesmos deve ser<br />
mandatário (Tabela 1).<br />
EVIDÊNCIA DOS ESTUDOS CLÍNICOS<br />
CONTROLADOS COMPARANDO EC E ISC<br />
Três estudos clínicos randomizados comparando<br />
a eficácia do stent carotídeo com a EC foram realizados.<br />
Na Europa, o estudo CAVATAS (Carotid and Vertebral<br />
Artery Transluminal Angioplasty Study) comparou a<br />
TABELA 1<br />
Incidência de eventos combinados (AVC e óbitos)<br />
a 30 dias em estudos clínicos comparativos do<br />
implante percutâneo de stents carotídeos com ou<br />
sem a utilização de dispositivos de neuroproteção 37<br />
Estudo N Com proteção Sem proteção<br />
AVC/Óbito AVC/Óbito<br />
Henry, M 315 2,2% 4,9%<br />
Roubin, GS 1276 1,8% 6,9%<br />
Mathias, K 406 1,3% 3,0%<br />
German Registry 636 2,0% 2,8%<br />
Global Registry 10693 2,3% 5,3%<br />
intervenção cirúrgica à angioplastia para o tratamento<br />
de lesões obstrutivas de artérias carótidas e vertebrais.<br />
Entre os 504 pacientes randomizados para angioplastia<br />
convencional (somente 25% deste grupo recebeu stent)<br />
e considerados candidatos para EC, a incidência de<br />
AVC incapacitante e óbito em 30 dias foi de 6,3%<br />
com a EC e 6,4% com a angioplastia. A segunda fase<br />
deste estudo está sendo realizada, comparando EC<br />
com o implante de stent em pacientes sintomáticos 30 .<br />
Um estudo clínico de menor porte foi interrompido<br />
de forma prematura devido à alta incidência de complicações<br />
no grupo submetido à ISC 33 . Os problemas<br />
apareceram antes da interrupção do estudo devido ao<br />
fato de que os investigadores optaram por realizar o<br />
protocolo com uma amostra muito pequena de pacientes,<br />
com a realização do implante de stent de forma inadequada<br />
e com o relato de uma incidência de complicações<br />
muito elevada.<br />
Alberts et al. 34 descreveram a metodologia de outro<br />
ensaio clínico randomizado comparando a ISC com a<br />
EC, em 219 pacientes sintomáticos. O objetivo do<br />
estudo foi determinar se o ISC era equivalente à EC na<br />
prevenção de AVC ipsilateral e óbito peri-procedimento<br />
(dentro dos 30 dias) ou óbito vascular dentro do<br />
primeiro ano de tratamento. Não obstante, este estudo<br />
foi interrompido devido a dificuldades, tanto na realização<br />
do procedimento como na inclusão de pacientes.<br />
Dados desta série demonstraram uma incidência<br />
em 30 dias de AVC e óbito de 4,5% para a EC e<br />
12,1% para o ISC, assim como taxas do desfecho<br />
primário de 3,6% para a EC e 12,1% para o ISC 35 . A<br />
análise deste estudo não encontrou equivalência entre<br />
a ISC e a EC, em pacientes sintomáticos. Falências<br />
metodológicas incluíram experiência limitada com o<br />
procedimento por parte dos intervencionistas; regimes<br />
antiplaquetários não uniformes; ausência de supervisão<br />
por um investigador principal previamente designado<br />
e uma aparente má comunicação entre os comitês de<br />
monitorização e segurança e os investigadores. Os<br />
resultados destes estudos clínicos iniciais não proporcionaram<br />
dados conclusivos.<br />
ESTUDOS CLÍNICOS RECENTES E EM<br />
ANDAMENTO<br />
Diferentemente do ocorrido com a angioplastia<br />
coronariana e renal nos EUA, o FDA (US Food and<br />
Drug Administration) solicitou a realização de estudos<br />
randomizados e registros para avaliar a segurança do<br />
stent carotídeo (Tabela 2). O estudo SAPPHIRE (Stenting<br />
and Angioplasty with Protection in Patients at High<br />
Risk for Endarterectomy) comparou o implante de stent<br />
em associação com o sistema de proteção AngioGuard<br />
em relação à endarterectomia em pacientes com alto<br />
risco cirúrgico. Os critérios de alto risco são descritos<br />
no Quadro 1. De 723 pacientes com estenose de artéria<br />
carótida interna, 334 sintomáticos (≥ 50% estenose) ou<br />
253
Tarbine SG, et al. Intervenção em Artérias Carótidas: Terapia Endovascular ou Cirúrgica. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 248-260.<br />
TABELA 2<br />
Características e estado atual dos principais ensaios clínicos randomizados comparando<br />
a endarterectomia carotídea e o implante percutâneo de stents carotídeos 37<br />
Estudo N Apresentação Clínica Risco Cirúrgico Estado<br />
ACT I 15401 Assintomáticos Normal Em andamento<br />
CAVATAS 504 Sintomáticos Normal Concluído<br />
CREST 2500 Sintomáticos /Assintomáticos Normal Em andamento<br />
EVA-3S 2400 Sintomáticos Normal Em andamento<br />
SAPPHIRE 724 Sintomáticos Alto Concluído<br />
SPACE 1800 Sintomáticos Todos os riscos Em andamento<br />
TACIT 2400 Assintomáticos Normal Planejado<br />
ACT I= Carotid Stenting versus Surgery for the Treatment of Severe Carotid Artery Disease and the Prevention of Stroke in Asymptomatic<br />
Patients; CAVATAS= Carotid and Vertebral Artery Transluminal Angioplasty Study; CREST= The Carotid Revascularization Endarterectomy<br />
versus Stenting Trial; EVA-3S= Endarterectomy versus Angioplasty of Patients with Severe Symptomatic Carotid Stenosis; SAPPHIRE=<br />
Stenting and Angioplasty with Protection in Patients at High Risk for Endarterectomy; SPACE= Stent protected Percutaneous Angioplasty<br />
of the Carotid Artery versus Endarterectomy; TACIT= The Transatlantic Asymptomatic Carotid Intervention Trial.<br />
QUADRO 1<br />
Critérios de alto risco para<br />
endarterectomia carotídea<br />
Critérios do Estudo SAPPHIRE<br />
• Doença cardíaca significativa (insuficiência cardíaca<br />
congestiva, teste ergométrico anormal, necessidade<br />
de CRM).<br />
• Doença pulmonar grave.<br />
• Oclusão carotídea contralateral.<br />
• Paralisia contralateral do nervo laríngeo.<br />
• Cirurgia radical da região cervical ou radioterapia<br />
prévia.<br />
• Reestenose pós-endarterectomia.<br />
• Idade > 80 anos.<br />
Outros Critérios de Alto Risco<br />
• Lesões coronárias significativas não revascularizáveis.<br />
• Angina pectoris em repouso com alterações no<br />
ECG de repouso.<br />
• IAM nos últimos 30 dias.<br />
• Paciente em lista de transplante cardíaco, coraçãopulmão,<br />
rim, fígado.<br />
• FEVE < 30%.<br />
• Diabetes não controlada com glicemia >400mg/dl<br />
ou corpos cetônicos > 2.<br />
• Lesões inaccessíveis (acima da 2ª vértebra cervical;<br />
abaixo da clavícula).<br />
• Imobilidade total da coluna cervical.<br />
• Obesidade extrema.<br />
• Traqueostomia.<br />
assintomáticos (≥ 80% estenose), candidatos tanto para<br />
ISC ou EC foram randomizados para uma destas duas<br />
abordagens (167 pacientes para ISC e 167 para EC).<br />
A incidência em 30 dias do desfecho primário<br />
(óbito, AVC, IAM) foi significativamente inferior no<br />
grupo tratado com stent em comparação ao grupo<br />
cirúrgico (5,8% versus 12,6%; p=0,047) 36 . Observouse<br />
uma tendência a favor do ISC tanto nos pacientes<br />
sintomáticos (4,2% versus 15,4%; p=0,<strong>13</strong>) como nos<br />
assintomáticos (6,7% versus 11,2%; p=0,33).<br />
Além do grupo de pacientes randomizados, o estudo<br />
SAPPHIRE incluiu 409 pacientes num registro de<br />
ISC. Este grupo de pacientes foi excluído da randomização<br />
por apresentar um risco cirúrgico excessivamente<br />
alto, de acordo com os critérios de um comitê multidisciplinar,<br />
o qual incluía, ao menos, um cirurgião<br />
vascular. A incidência em 30 dias do desfecho primário<br />
para este grupo foi de 7,8%, discretamente superior<br />
ao grupo de pacientes com ISC randomizados no mesmo<br />
estudo (5,8%).<br />
A análise dos resultados tardios do estudo SAPPHIRE<br />
também demonstrou a superioridade do tratamento<br />
com ISC no que diz respeito à incidência de reestenose.<br />
Após três anos de acompanhamento, este estudo mostrou<br />
0,7% de reestenose, no grupo de ISC e 4,6%, no<br />
grupo tratado com EC. O grupo de Dortmund 37 apresentou<br />
dados referentes a cinco anos de acompanhamento<br />
após randomizar pacientes para EC ou ISC, mostrando<br />
incidência de reestenose de 2,1%, no grupo tratado<br />
com ISC e de 5,4%, no grupo de EC.<br />
Diferentes estudos de ISC em pacientes de alto<br />
risco vêm confirmando os resultados do estudo SAPPHI-<br />
RE com uma incidência de óbito, AVC e IAM em um<br />
mês entre 3,8% e 8,3% (Figura 2).<br />
O estudo CAVATAS 2, cujo número total de pacientes<br />
a serem incluídos é de 1500, leva incluídos, em<br />
quatro anos de andamento (de 2001 até novembro<br />
<strong>2005</strong>), 723 pacientes randomizados em 33 centros.<br />
Este estudo tem por objetivo comparar os riscos e<br />
254
Tarbine SG, et al. Intervenção em Artérias Carótidas: Terapia Endovascular ou Cirúrgica. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 248-260.<br />
SAPPHIRE= Stenting and Angioplasty with Protection in Patients at High Risk for<br />
Endarterectomy 36 ; ARCHeR 3= ACCULINK for Revascularization of Carotids in High<br />
Risk Patients 58 ; SECURITY= Registry Study to evaluate the Neuroshield Bare-Wire<br />
Cerebral Protection System and X-Act Stent in patients at high risk for Carotid<br />
Endarterectomy 59 ; BEACH= Boston Scientific EPI-A Carotid Stenting Trial for High<br />
Risk Surgical Patients 60 ; MAVERIC= Evaluation of the Medtronic AVE Self-Expanding<br />
Carotid Stent System With Distal Protection In the Treatment of Carotid Stenosis 61 ;<br />
CABERNET= Carotid Artery Revascularization Using the Boston Scientific Filter Wire<br />
and the EndoTex NexStent 62 .<br />
Figura 2 - Resultados clínicos a 30 dias nos registros americanos<br />
de implante de stents carotídeos conduzidos durante os anos de<br />
2002 a 2004.<br />
benefícios do ISC, com ou sem proteção cerebral, em<br />
relação à EC, em pacientes com alto risco de AVC.<br />
Estudos europeus estão em andamento; estes incluem<br />
o EVA-3S e o estudo SPACE. O estudo EVA-3S<br />
(Endarterectomy Versus Angioplasty of Patients with Severe<br />
Symptomatic Carotid Stenosis) é francês, prospectivo e<br />
randomizado (ISC ou EC), incluindo pacientes sintomáticos,<br />
cujo desfecho primário é a incidência de óbito e<br />
qualquer AVC dentro dos primeiros 30 dias, e qualquer<br />
AVC ipsilateral durante um período de 2-4 anos. A<br />
utilização de dispositivos de proteção distal foi inicialmente<br />
utilizada de acordo com o critério dos operadores.<br />
Após o comitê de segurança analisar os primeiros<br />
80 casos tratados com stent, foi suspensa a inclusão de<br />
pacientes no subgrupo de ISC sem proteção cerebral<br />
devido a maior incidência de AVC em 30 dias nestes<br />
pacientes (26% versus 8,6% no grupo com proteção) 38 .<br />
O estudo SPACE (Stent protected Percutaneous<br />
Angioplasty of the Carotid Artery versus Endarterectomy)<br />
é um estudo randomizado, multicêntrico, comparando<br />
a eficácia e a segurança do ISC versus EC em dois<br />
grupos de 450 pacientes. Atualmente, 39 centros randomizaram<br />
248 pacientes para ISC e 240 para EC.<br />
Entre os critérios de inclusão, foram considerados pacientes<br />
sintomáticos com estenose superior a 70%,<br />
sendo o desfecho primário a presença de AVC ou<br />
óbito em 30 dias. Foi estabelecido como desfecho<br />
secundário a incidência de AVC ou óbito após um<br />
ano. Até o momento, os resultados preliminares não<br />
demonstraram diferenças significativas entre os grupos<br />
comparados.<br />
Dois importantes estudos randomizados para avaliar<br />
o ISC em pacientes assintomáticos com doença<br />
carotídea estão atualmente em fase de inclusão de<br />
pacientes. Um deles é o estudo ACT I (Asymptomatic<br />
Carotid Stenosis, Stenting Versus Endarterectomy Trial),<br />
o qual teve início em março de <strong>2005</strong> e, atualmente,<br />
encontra-se recrutando centros e pacientes. O seu<br />
objetivo é demonstrar a equivalência entre EC e ISC<br />
com o uso de proteção cerebral para a prevenção de<br />
AVC, em pacientes assintomáticos com doença carotídea<br />
obstrutiva extracranial. Este estudo é multicêntrico e<br />
randomizado, no qual o desfecho primário será a<br />
incidência de eventos adversos maiores em 30 dias, e<br />
a incidência de AVC ipsilateral entre 31 e 365 dias<br />
após o procedimento.<br />
O outro estudo supracitado é o CREST (The Carotid<br />
Revascularization Endarterectomy Versus Stenting Trial),<br />
o qual inicialmente havia sido desenhado para incluir<br />
somente pacientes sintomáticos, que foi recentemente<br />
aberto para a inclusão de pacientes assintomáticos também.<br />
Este estudo planeja incluir, aproximadamente, 2300<br />
pacientes, em 40 centros americanos. O CREST avaliará<br />
a incidência de morte, AVC e/ou infarto do miocárdio.<br />
EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO ESPECIALIZADO<br />
EM INTERVENÇÕES PERCUTÂNEAS CORONÁRIAS<br />
NO TRATAMENTO DE DOENÇA CAROTÍDEA<br />
EXTRACRANIAL<br />
A experiência do nosso grupo está representada<br />
pelos pacientes que foram submetidos a uma intervenção<br />
percutânea carotídea no Hospital Cardiológico Costantini,<br />
em Curitiba, Brasil. No período de junho de 1998 até<br />
dezembro de <strong>2005</strong>, 212 pacientes receberam o implante<br />
de stents carotídeos, sendo que 29,2% dos casos<br />
(fase inicial da nossa experiência) foram realizados<br />
sem neuroproteção. No total, obtivemos uma incidência<br />
de AVC menor em 30 dias de 1,4%, AVC maior de<br />
1,4%, IAM de 0% e óbito de 0%.<br />
Do total das intervenções carotídeas realizadas no<br />
nosso centro, 47,5% foram procedimentos combinados<br />
(32,3% com angioplastia coronária, 11,8% com<br />
angioplastia de artéria renal, 3,4% com angioplastia<br />
de artéria ilíaca) - Figura 3. Em 10 (5%) pacientes, por<br />
características particulares dos mesmos, realizamos o<br />
tratamento simultâneo carotídeo bilateral. A análise<br />
dos resultados destes pacientes (procedimento combinado<br />
e bilateral) demonstrou uma evolução em 30 dias<br />
sem a presença de eventos importantes (AVC maior ou<br />
menor, óbito ou IAM), resultados em conformidade<br />
com as exigências do Special Writing Group of the<br />
Stroke Council da American Heart Association 7 .<br />
INDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES DA<br />
INTERVENÇÃO PERCUTÂNEA CAROTÍDEA<br />
De acordo com a evidência atual da literatura, o<br />
implante de stents carotídeos é considerado como<br />
255
Tarbine SG, et al. Intervenção em Artérias Carótidas: Terapia Endovascular ou Cirúrgica. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 248-260.<br />
Figura 3 - Procedimento de intervenção percutânea combinada de artéria carótida esquerda. A: de artéria coronária circunflexa; B: de artéria<br />
renal esquerda e C: no mesmo procedimento.<br />
uma alternativa à endarterectomia cirúrgica em pacientes<br />
com risco cirúrgico baixo. Se considerarmos os pacientes<br />
com um alto risco cirúrgico (Quadro 1), esta técnica<br />
passa de ser alternativa, para ser a opção terapêutica<br />
de escolha primária. Portanto, o ISC pode ser indicado<br />
em pacientes sintomáticos, com lesões anatomicamente<br />
acessíveis e estenose >50%, e também em pacientes<br />
assintomáticos com lesões > 80% de estenose. A utilização<br />
de sistemas de proteção cerebral é praticamente<br />
mandatária na ISC.<br />
Este procedimento está contra-indicado em pacientes<br />
que apresentem as seguintes características: AVC<br />
com menos de 4 semanas de evolução, AVC maior<br />
ipsilateral, demência importante, hemorragia cerebral<br />
no último ano, AVC isquêmico transformado em hemorrágico<br />
nos últimos 60 dias. Certas condições anatômicas<br />
também são consideradas como contra-indicações<br />
para o ISC: tortuosidade ou angulações que impossibilitem<br />
o acesso à artéria carótida comum, trombos<br />
intraluminais (onde uso de um sistema de proteção<br />
com fluxo reverso seria útil), oclusões totais, má-formações<br />
artério-venosas intracranianas (aneurismas, fístulas<br />
artério-venosas, etc.) que precisem de tratamento prévio<br />
ou simultâneo. Outras contra-indicações estão determinadas<br />
por doenças como diátese hemorrágica, alergias,<br />
neoplasias, insuficiência renal, etc.<br />
Existem condições clínicas e anatômicas que, apesar<br />
de não serem contra-indicações formais, aumentam o<br />
risco do procedimento. Tortuosidades ou angulações<br />
importantes da aorta ou da artéria carótida comum<br />
podem dificultar o posicionamento adequado do cateterguia.<br />
Procedimentos prolongados aumentam a possibilidade<br />
de complicações como, por exemplo, a formação<br />
de trombos no sistema de cateteres, assim como a<br />
manipulação repetitiva da lesão, aumenta o risco de<br />
embolização de material aterosclerótico, principalmente<br />
na presença de doença aterosclerótica proximal e/ou<br />
distal à lesão. Lesões longas e volumosas, assim como<br />
aquelas ecolucentes, possuem um risco maior de embolização<br />
distal. Obstruções subtotais com fluxo lento<br />
256
Tarbine SG, et al. Intervenção em Artérias Carótidas: Terapia Endovascular ou Cirúrgica. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 248-260.<br />
distal e com presença de circulação colateral favorecem<br />
a ocorrência da síndrome de hiperfluxo, levando<br />
a hemorragia cerebral por desregulação do fluxo nas<br />
artérias intracranianas. Outro fator que aumenta o risco<br />
é a presença de calcificação importante. A presença<br />
de qualquer destas condições desfavoráveis ao procedimento<br />
intervencionista deve levar a uma análise minuciosa<br />
dos riscos e benefícios da intervenção antes do<br />
procedimento percutâneo ser indicado 39 .<br />
SELEÇÃO DE PACIENTES PARA A<br />
INTERVENÇÃO PERCUTÂNEA CAROTÍDEA<br />
A seleção cuidadosa dos pacientes é de capital<br />
importância se pretendemos obter os potenciais benefícios<br />
do ISC. Devido à eficácia comprovada da EC, o ISC<br />
continuará sendo um procedimento de indicação questionada<br />
para alguns subgrupos de pacientes até que<br />
existam mais informações geradas por ensaios clínicos.<br />
Quando o ISC for considerado para o tratamento<br />
da doença carotídea, diversos fatores que podem levar<br />
a um desfecho desfavorável do procedimento devem<br />
ser analisados. Por exemplo, diversos preditores de<br />
complicações, principalmente de tipo embólicas, durante<br />
o implante de stents carotídeos. Estes preditores<br />
incluem idade avançada, sintomas neurológicos recentes<br />
ou um AVC maior, doença grave do arco áortico,<br />
lesão grave, calcificação importante da lesão, oclusão<br />
subtotal, presença de trombo associado, doença ostial<br />
da artéria carótida comum, conjuntamente com estenose<br />
da bifurcação e tortuosidade significativa do vaso 40,41 .<br />
ASPECTOS TÉCNICOS E MANEJO PÓS-<br />
INTERVENÇÃO PERCUTÂNEA CAROTÍDEA<br />
As intervenções carotídeas podem ser realizadas<br />
de maneira otimizada em laboratórios que possuam<br />
tecnologia com imagem de alta resolução. A utilização<br />
da subtração digital é muito importante, permitindo a<br />
otimização das imagens da bifurcação carotídea, que<br />
freqüentemente encontra-se com calcificação importante.<br />
Também, a obtenção de imagens da circulação intracraniana<br />
requer subtração digital. Qualquer tipo de<br />
fármaco com efeitos sedativos deve ser evitado, com<br />
a finalidade de não comprometer uma avaliação neurológica<br />
durante o procedimento, caso esta seja necessária.<br />
A via femoral é, geralmente, o acesso arterial preferido,<br />
apesar de em algumas circunstâncias tanto a via<br />
radial quanto a braquial poderem ser utilizadas 42,43 .<br />
Esta preferência de acesso é tão marcada que o material<br />
utilizado especificamente para o implante de stents<br />
em artérias carótidas foi desenhado para ser utilizado<br />
através da via femoral.<br />
Um acesso venoso central, apesar de não ser mandatário,<br />
oferece uma via útil para o rápido implante de<br />
eletrodos para marca-passo temporário e infusão de<br />
volume em casos de bradicardia e hipotensão persistente.<br />
Apesar deste tipo de evento ocorrer com uma freqüência<br />
menor que a observada nos inícios da técnica, ainda<br />
são observados de forma ocasional. Estar prevenido<br />
para este tipo de intercorrências pode representar o<br />
salvamento da vida do paciente.<br />
Após a obtenção do acesso femoral, a heparina é<br />
administrada em dose necessária para alcançar um<br />
tempo de coagulação ativado (TCA) de 300 segundos,<br />
aproximadamente. Este nível de anticoagulação está<br />
fundamentado em dados sobre a segurança de intervenções<br />
coronárias, e parece oferecer um grau de segurança<br />
similar para as intervenções carotídeas 44,45 .<br />
A utilização profilática padrão dos inibidores das<br />
glicoproteínas IIB/IIIA (IGP IIB/IIIA) não é aceita de forma<br />
geral como no implante de stents coronarianos. Alguns<br />
estudos relatam a ausência de efeito benéfico com a<br />
utilização deste tipo de fármacos. A explicação deste<br />
fato poderia estar fundamentada na ausência de benefício<br />
dos IGP IIB/IIIA nas intervenções de pontes de safena<br />
degeneradas devido, provavelmente, à natureza não<br />
plaquetária e sim fibrinóide do material embolizado 46,47 .<br />
Outros estudos sugerem que os detritos embólicos<br />
liberados durante a intervenção carotídea estão constituídos<br />
também por fragmentos de placa e não somente<br />
por agregados de plaquetas e trombo 48,49 .<br />
Investigações recentes não têm mostrado um incremento<br />
do risco de hemorragia intracranial com a utilização<br />
de IGP IIB/IIIA durante intervenções coronárias 50 .<br />
Estudos analisando o risco de hemorragia intracranial<br />
utilizando abciximab durante o implante de stents carotídeos<br />
demonstraram resultados divergentes 51,52 . Até<br />
agora, nenhum estudo sobre a utilização de IGP IIB/<br />
IIIA em intervenções carotídeas teve poder estatístico<br />
suficiente para analisar a eficácia e a segurança desta<br />
medicação coadjuvante. São necessários mais estudos<br />
para poder determinar o papel dos IGP IIB/IIIA nas<br />
intervenções percutâneas em carótidas.<br />
Com relação aos introdutores ou bainhas, são<br />
retirados no mesmo dia, e a rotina não inclui anticoagulação<br />
pós-procedimento.<br />
Existem poucos dados fazendo referência à trombose<br />
do stent na circulação carotídea devido ao fato da<br />
sua incidência ser bastante rara 53 . Tendo em consideração<br />
os benefícios provados e o excelente perfil de<br />
segurança da combinação de antiagregantes plaquetários<br />
para a prevenção da trombose de stents em intervenções<br />
coronárias, e o impacto devastador que teria a<br />
trombose de um stent carotídeo, o duplo esquema de<br />
antiagregação plaquetária com ácido acetilsalicílico e<br />
clopidogrel durante pelo menos um mês é o utilizado<br />
pela maioria dos grupos que realiza intervenções<br />
carotídeas 54-57 .<br />
Nos procedimentos realizados sem intercorrências,<br />
o paciente pode receber alta no dia seguinte. Durante<br />
o acompanhamento clínico do paciente, é de importância<br />
realizar exames com ecografia doppler. Nem o<br />
257
Tarbine SG, et al. Intervenção em Artérias Carótidas: Terapia Endovascular ou Cirúrgica. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 248-260.<br />
momento nem o intervalo de tempo mais adequado<br />
para a realização deste exame estão bem definidos.<br />
No entanto, alguns grupos realizam a ecografia antes<br />
da alta, e a posteriori a cada três meses até o nono<br />
mês, continuando após com controles anuais. Apesar<br />
de uma ecografia doppler negativa ser um indicador<br />
confiável de permeabilidade, o valor preditivo positivo<br />
de um estudo anormal parece ser pobre. A angiografia<br />
contrastada deve ser realizada para avaliar reestenoses<br />
clinicamente significativas, detectadas ou não pela ecografia<br />
doppler.<br />
CONCLUSÃO<br />
A EC é claramente superior ao tratamento médico<br />
para pacientes sintomáticos com estenose carotídea<br />
>50% e em pacientes assintomáticos com estenose >60%.<br />
Infelizmente, os resultados dos estudos randomizados<br />
de EC podem não ser aplicáveis a um amplo espectro<br />
de pacientes, nem a todos os cirurgiões. Isto se deve ao<br />
fato de que a população dos estudos é geralmente de<br />
baixo risco e não é representativa dos pacientes com<br />
doença carotídea que se apresentam na prática diária.<br />
Do mesmo modo, a reestenose ocorre em 5-19% dos<br />
pacientes até 2 anos após a EC, sendo a incidência de<br />
paralisia de algum nervo cranial de 7-10%.<br />
O ISC é bastante atrativo já que traz uma menor<br />
invasividade e comorbidade para o paciente. Carece<br />
de risco de paralisia de nervo cranial, e a incidência<br />
de reestenose é baixa (
Tarbine SG, et al. Intervenção em Artérias Carótidas: Terapia Endovascular ou Cirúrgica. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 248-260.<br />
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Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 261-269.<br />
Pinto DM, Mandil A. Claudicação Intermitente: do Tratamento Clínico ao Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 261-269.<br />
Artigo de Revisão<br />
Claudicação Intermitente:<br />
do Tratamento Clínico ao Intervencionista<br />
Daniel Mendes Pinto 1,2,3 , Ari Mandil 1,3<br />
RESUMO<br />
A claudicação intermitente é a apresentação clínica mais<br />
comum da doença arterial periférica. A abordagem principal<br />
desta condição é o tratamento da aterosclerose sistêmica,<br />
baseado na modificação de fatores de risco, controle medicamentoso<br />
e exercícios físicos. Uma minoria de pacientes<br />
necessita de tratamento invasivo, entretanto, a maior parte<br />
destes pode ser tratada com técnicas percutâneas. Várias<br />
são as opções de tratamento endovascular, dependendo da<br />
anatomia da lesão. O tratamento cirúrgico é reservado<br />
para uma pequena parte de pacientes com doença aterosclerótica<br />
difusa. Neste artigo, os autores revisam o tratamento<br />
clínico e as opções de tratamento invasivo atualmente<br />
disponíveis.<br />
DESCRITORES: Claudicação intermitente. Angioplastia transluminal<br />
percutânea coronária. Doenças vasculares.<br />
SUMMARY<br />
Intermittent Claudication:<br />
from Clinical to the Interventional Treatment<br />
Intermittent claudication is the most common feature of<br />
peripheral arterial disease. Core treatment of this condition<br />
includes the treatment of systemic atherosclerosis - based<br />
on risk factor modification -, pharmacotherapy and exercise<br />
rehabilitation. A minority of patients will need invasive<br />
procedures, most of them by percutaneous techniques. The<br />
several options for endovascular procedures are dependent<br />
on lesion anatomy. Surgical treatment is reserved for a<br />
small number of patients with diffuse atherosclerotic disease.<br />
In this article, the authors review clinical treatment and the<br />
different options for invasive treatment available.<br />
DESCRIPTORS: Intermittent claudication. Angioplasty, transluminal,<br />
percutaneous coronary. Vascular diseases.<br />
Adoença arterial obstrutiva periférica (DAOP) é a<br />
manifestação mais comum da doença aterosclerótica<br />
sistêmica 1 . Presume-se que 16% da população<br />
com mais de 55 anos é portadora da doença<br />
aterosclerótica periférica 2 . O diagnóstico da aterosclerose<br />
sistêmica pode ser feito precocemente com o exame<br />
minucioso das artérias dos membros inferiores. A mortalidade<br />
é seis vezes maior nos pacientes com doença<br />
arterial obstrutiva periférica. Quanto mais grave os<br />
sintomas, maior é a mortalidade, porém estudos demonstraram<br />
que a mortalidade em dez anos é maior também<br />
nos pacientes com DAOP assintomática.<br />
Claudicação intermitente é definida como dor nas<br />
pernas desencadeada pelo exercício e aliviada com<br />
repouso 3 . Trata-se da apresentação clínica mais comum<br />
da DAOP, que apresenta graus variados, conforme a<br />
intensidade da obstrução arterial 4 (Quadro 1). Aproxi-<br />
1<br />
Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte, MG.<br />
2<br />
Hospital Mater Dei, Belo Horizonte, MG.<br />
3<br />
Hospital Lifecenter, Belo Horizonte, MG.<br />
Correspondência: Ari Mandil. Rua Boa Esperança, 525/200. Belo<br />
Horizonte, MG, Brasil. CEP 30310-730. E-mail: amandil@uol.com.br<br />
Recebido em: 09/01/2006 • Aceito em: 27/01/2006<br />
madamente um terço dos pacientes com DAOP apresentam<br />
claudicação 5 . A DAOP ocorre em quatro estágios<br />
clínicos: assintomáticos, claudicação intermitente, dor<br />
isquêmica em repouso e presença de lesão trófica.<br />
Esses dois últimos (dor em repouso e/ou lesão trófica)<br />
configuram quadro de isquemia crítica dos membros<br />
inferiores, o que indica que, na maioria das vezes,<br />
algo deve ser feito para melhora da perfusão em membros<br />
inferiores, pois o risco de uma amputação é iminente 6 .<br />
DIAGNÓSTICO<br />
O diagnóstico da claudicação e da DAOP é feito<br />
pela avaliação clínica e por métodos não invasivos. A<br />
dor desencadeada pela deambulação ocorre em locais<br />
dependentes do sítio de obstrução arterial. Oclusão<br />
das artérias ilíacas leva a dor em glúteos e em coxa.<br />
Lesões da artéria femoral superficial, que é a artéria<br />
mais acometida pela doença arterial periférica, levam<br />
à claudicação de panturrilha. Trata-se de dor de forte<br />
intensidade, bem localizada na musculatura posterior<br />
da perna, com rápido alívio após a cessação da deambulação.<br />
Ateromatose de múltiplos segmentos leva a<br />
dor difusa nos membros inferiores. Com alguma freqüência,<br />
um paciente com DAOP grave pode não se queixar<br />
261
Pinto DM, Mandil A. Claudicação Intermitente: do Tratamento Clínico ao Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 261-269.<br />
QUADRO 1<br />
Classificação da doença arterial<br />
obstrutiva periférica 4<br />
Fontaine<br />
de dor à deambulação, porque outras condições limitam<br />
sua atividade física.<br />
Para estudos populacionais, o diagnóstico da claudicação<br />
pode ser feito com uso de questionários, como<br />
o de Rose, de 1962, e sua versão atualizada – questionário<br />
de Edimburgo 7 . Entretanto, os resultados destes<br />
questionários variam dependendo de características<br />
como a idade e a ocupação do paciente 5 .<br />
É freqüente a dificuldade diagnóstica com dor<br />
devido à compressão de raízes nervosas lombares ou<br />
à insuficiência venosa crônica. Falso-positivos de até<br />
44% podem ocorrer com a anamnese isolada 8 .<br />
A parte mais importante do exame físico para<br />
confirmação da DAOP é a palpação de pulsos periféricos.<br />
Devem ser palpados os pulsos das artérias femorais,<br />
poplíteos, tibial posterior e pediosa. Importante ressaltar<br />
que em até 12% das vezes o pulso pedioso não<br />
é palpável 8 . Na prática clínica diária, a palpação de<br />
pulsos periféricos é a chave para o diagnóstico, pois<br />
exclui a DAOP com alto grau de certeza e identifica<br />
o grupo que necessitará da avaliação não invasiva. O<br />
próximo importante passo do exame físico é a medição<br />
das pressões de tornozelo, com cálculo do índice<br />
tornozelo/braço.<br />
ÍNDICE TORNOZELO/BRAÇO<br />
Rutherford<br />
Estágio Quadro clínico Grau Quadro clínico<br />
I Assintomático 0 Assintomático<br />
II Claudicante 1 Claudicante leve<br />
III Dor em repouso 2 Claudicante moderado<br />
IV Úlcera ou 3 Claudicante grave<br />
gangrena<br />
4 Dor em repouso<br />
5 Perda tecidual menor<br />
6 Perda tecidual maior<br />
As medidas de pressão de tornozelo fazem parte<br />
do exame do paciente com DAOP e suspeito de claudicação.<br />
São feitas medidas de pressão da artéria tibial<br />
posterior atrás do maléolo medial e da artéria pediosa,<br />
no dorso do pé. Para isso, utiliza-se o aparelho de<br />
Doppler-ultra-som portátil. Trata-se de aparelho de fácil<br />
uso, de baixo custo, as medidas são indolores e de<br />
alta reprodutibilidade, o que torna o método de uso<br />
disseminado. Outras técnicas de avaliação quantitativa<br />
da circulação arterial podem ser mais acuradas para<br />
indicação de revascularização dos membros inferiores,<br />
como a pletismografia de hálux e a medida transcutânea<br />
da tensão de oxigênio, entretanto, não são de uso fácil<br />
e disponíveis como o Doppler portátil.<br />
O índice tornozelo/braço (ITB) é calculado com a<br />
divisão da maior pressão no tornozelo pela pressão<br />
braquial. Valores de 0,90 a 1,30 são considerados<br />
normais. Pacientes com claudicação têm ITB em torno<br />
de 0,50, com dor isquêmica em repouso, em torno de<br />
0,20 a 0,30 e valores menores que 0,20 estão associados<br />
a úlceras isquêmicas 9 . Importante ressaltar, porém,<br />
que valores menores que 0,90 (ou seja, próximos da<br />
normalidade) indicam presença de DAOP com sensibilidade<br />
e especificidade acima de 95% e, mesmo que<br />
assintomáticos, devem ser tratados agressivamente para<br />
prevenção de eventos cardiovasculares (infarto agudo<br />
do miocárdio, angina instável e acidente vascular cerebral).<br />
Pressões aumentadas nas artérias tibiais podem<br />
ocorrer em pacientes diabéticos e nefropatas, o que<br />
leva a índices falsamente elevados. Quando comparado<br />
com a arteriografia, o ITB apresenta sensibilidade de<br />
95% para diagnóstico de lesões obstrutivas nas artérias<br />
de membros inferiores e é quase 100% específico<br />
para identificar indivíduos saudáveis 10 . Pacientes com<br />
pressão de tornozelo acima de 100 mmHg têm mais<br />
de 80% de chance de cicatrização das úlceras isquêmicas<br />
nos pés 11 . Pacientes com ITB abaixo de 0,40 têm risco<br />
relativo de morte por doenças cardiovasculares de 3,35,<br />
comparados com aqueles com ITB acima de 0,85 1 .<br />
O diagnóstico da claudicação é preciso quando<br />
se associa a história clínica, a palpação de pulsos<br />
periféricos e a medida do ITB.<br />
EVOLUÇÃO DO PACIENTE<br />
COM CLAUDICAÇÃO<br />
A evolução dos pacientes com claudicação é benigna<br />
em sua maioria. De cada 100 pacientes, 75 estabilizam<br />
ou melhoram os sintomas, mesmo que ocorra<br />
deterioração do quadro angiográfico 12 . A estabilização<br />
dos sintomas ocorre pelo desenvolvimento de circulação<br />
colateral, por adaptação metabólica do músculo<br />
isquêmico e aumento da densidade capilar. Dos pacientes<br />
com claudicação, 25% pioram o quadro, aproximadamente<br />
5% necessitarão de alguma intervenção cirúrgica<br />
ou endovascular e 2% evoluem para amputação<br />
em 5 anos 5,11 (Figura 1). Os objetivos do tratamento da<br />
claudicação são melhorar os sintomas, a capacidade<br />
de deambulação e a qualidade de vida.<br />
TRATAMENTO CLÍNICO<br />
O principal problema do paciente claudicante não<br />
é a limitação à deambulação. Claudicação intermitente<br />
tem 30% de mortalidade em 5 anos, e risco de 2<br />
a 4 vezes maior de óbito por complicações cardiovasculares<br />
em comparação à população não claudicante <strong>13</strong> .<br />
A prioridade, portanto, é o tratamento para modificação<br />
dos fatores de risco de progressão da aterosclerose.<br />
Vários estudos mostram que pacientes com DAOP são<br />
262
Pinto DM, Mandil A. Claudicação Intermitente: do Tratamento Clínico ao Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 261-269.<br />
Antagonistas beta-adrenérgicos podem levar à piora<br />
dos sintomas da claudicação, especialmente em graus<br />
avançados. Apesar de ocorrer piora da dor com uso<br />
de betabloqueadores não seletivos, vários estudos mostram<br />
que não há redução da distância de marcha com<br />
esses medicamentos 18 . O uso dos betabloqueadores<br />
seletivos é seguro nos pacientes com claudicação leve<br />
a moderada, porém, pode agravar a dor isquêmica em<br />
repouso 19 . O uso de inibidores da enzima conversora<br />
da angiotensina (IECA) nos pacientes com DAOP tem<br />
a vantagem de reduzir os eventos cardiovasculares.<br />
Pacientes com DAOP beneficiam-se do uso de ramipril,<br />
porém não há diferença significativa em relação ao<br />
grupo de pacientes sem doença arterial periférica 20 .<br />
Figura 1 - Evolução do paciente claudicante em 5 anos 5,<strong>13</strong> .<br />
subtratados em relação ao uso de drogas antilipidêmicas<br />
e antiplaquetárias, em relação aos com doença coronariana<br />
14 . Os fatores de risco para DAOP, em ordem<br />
de importância, são: tabagismo, obesidade, diabetes<br />
mellitus, hipertensão familiar, hiperlipidemia, hipertensão<br />
arterial e trombofilias.<br />
Como observado acima, a grande maioria dos<br />
pacientes tem evolução benigna quanto aos sintomas<br />
de claudicação. Portanto, o tratamento é eminentemente<br />
clínico. Menos de um quarto dos pacientes necessitarão<br />
de alguma espécie de intervenção. Os objetivos do<br />
tratamento da claudicação são a prevenção de eventos<br />
cardiovasculares, melhorar os sintomas, a capacidade<br />
de deambulação e a qualidade de vida.<br />
O tratamento principal do claudicante é um programa<br />
de exercício físico formal. O exercício físico supervisionado<br />
leva ao aumento médio da distância de<br />
marcha de 179 metros 15 . Os melhores resultados requerem<br />
motivação dos pacientes, o que é uma limitação,<br />
como assim o é para a interrupção do hábito de fumar.<br />
Apesar da interrupção do tabagismo reduzir a chance<br />
de progressão para isquemia crítica, não está certo se<br />
leva à melhora da claudicação. Dados de uma metanálise<br />
mostraram que, parando de fumar, os pacientes<br />
não aumentaram a distância de marcha 15 .<br />
Os pacientes com DAOP, que freqüentemente<br />
cursam com doença coronariana ou cerebral, beneficiam-se<br />
do uso de drogas hipolipemiantes, com a<br />
recomendação atual de manter o colesterol LDL abaixo<br />
de 100 mg/dl e triglicerídeos abaixo de 150 mg/dl 16 .<br />
Estatinas são recomendadas como drogas iniciais. O<br />
ácido nicotínico é uma opção para redução de triglicerídeos<br />
em pacientes com dificuldade de controle da<br />
glicemia, com a vantagem de elevar os níveis séricos<br />
de colesterol HDL 17 .<br />
Apesar da análise do subgrupo de pacientes claudicantes<br />
do estudo Antiplatelet Trialist’s Collaboration 21<br />
mostrar uma redução de 18% de morte devido a causas<br />
vasculares nos pacientes recebendo aspirina, esta redução<br />
não foi estatisticamente significativa. Embora não<br />
seja indicada para tratamento específico da doença<br />
arterial periférica, a aspirina, mesmo em doses de 75<br />
a 325 mg/dl, reduz o risco de morte por causas vasculares,<br />
aumenta a patência de enxertos arteriais e da<br />
angioplastia periférica 22 . O uso de ticlopidina é dificultado<br />
pela incidência em 2,3% dos pacientes de trombocitopenia<br />
e neutropenia. O clopidogrel tem menos<br />
efeitos hematológicos que a ticlopidina.<br />
Dados do subgrupo de pacientes com doença<br />
arterial periférica do estudo CAPRIE mostraram que a<br />
redução de morte por eventos cardiovasculares foi<br />
significativamente menor quando em uso de clopidogrel<br />
em relação à aspirina (redução de 8,7%, p =0,04) 20 . A<br />
associação de clopidogrel e aspirina é usada por um<br />
período variável de 2 meses a 1 ano, em pacientes<br />
submetidos à angioplastia de membros inferiores.<br />
O controle da glicemia, dos níveis de colesterol<br />
LDL e triglicerídeos e o uso de antiagregantes (aspirina<br />
ou clopidogrel) fazem parte do tratamento do claudicante,<br />
no entanto, visam mais à redução dos eventos<br />
cardiovasculares fatais que ao tratamento específico<br />
da claudicação.<br />
DROGAS PARA TRATAMENTO<br />
DA CLAUDICAÇÃO<br />
A pentoxifilina é uma metilxantina que altera a deformabilidade<br />
das hemácias por meio de alterações estruturais<br />
nos microtúbulos. Apesar de ser a primeira droga<br />
liberada para uso em claudicantes, não mostrou ser superior<br />
ao placebo para o aumento da distância de deambulação<br />
23 . O pouco efeito na melhora da claudicação<br />
faz com que não haja indicação para seu uso corriqueiro.<br />
O cilostazol é um inibidor da fosfodiesterase-3, aumenta<br />
o AMP cíclico intracelular, inibe a agregação plaquetária<br />
e é um inibidor in vitro da célula muscular lisa.<br />
Apesar disso, o mecanismo pelo qual o cilostazol aumenta<br />
a tolerância à deambulação é desconhecido 24 . Vários<br />
trabalhos randomizados mostram o cilostazol superior ao<br />
263
Pinto DM, Mandil A. Claudicação Intermitente: do Tratamento Clínico ao Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 261-269.<br />
placebo e à pentoxifilina para aumento da distância de<br />
marcha e redução da dor à deambulação 25 . O principal<br />
efeito colateral é a cefaléia, que pode afetar um terço dos<br />
pacientes em uso de 100 mg duas vezes ao dia 25 . Assim<br />
como a milrinona, outro inibidor da fosfodiesterase-3,<br />
deve ser evitado em pacientes com insuficiência cardíaca.<br />
É o medicamento de escolha para tratamento com objetivo<br />
de melhora da distância de deambulação.<br />
O uso de outros medicamentos para tratamento<br />
da claudicação não se mostrou eficaz, incluindo os<br />
vasodilatadores, anticoagulantes, buflomedil, naftidrofuril<br />
e ginko biloba 24,25 .<br />
TRATAMENTO ENDOVASCULAR DA<br />
CLAUDICAÇÃO<br />
O tratamento invasivo para claudicação, seja por<br />
via endovascular, ou por cirurgia convencional, é indicado<br />
somente numa minoria de pacientes, especialmente<br />
naqueles que não houve melhora com exercício físico.<br />
Desde a primeira intervenção descrita por Dotter e<br />
Judkins, em 1964 26 , várias modalidades de tratamento<br />
podem ser utilizadas, desde a angioplastia isolada com<br />
balão, uso de stents metálicos e endopróteses a métodos<br />
de intervenção ainda de aplicabilidade limitada,<br />
como aterótomos periféricos, laser e crioplastia.<br />
O resultado da angioplastia com ou sem uso de<br />
stents é variável, conforme a localização da lesão e<br />
sua morfologia. Doença aterosclerótica difusa, com<br />
vários níveis de estenoses/obstruções desde a aorta<br />
até os membros inferiores, seguramente é melhor tratada<br />
com cirurgia. Por outro lado, lesões curtas ou segmentares<br />
apresentam resultado a longo prazo satisfatório<br />
com tratamento percutâneo. Lesões no território aortoilíaco<br />
apresentam excelente patência a longo prazo,<br />
comparável, em algumas situações, à cirurgia. Lesões<br />
abaixo do ligamento inguinal têm patência menor que<br />
as de ilíacas. No território infrapoplíteo, o tratamento<br />
endovascular habitualmente é reservado para o salvamento<br />
de membro, não usado para tratamento da<br />
claudicação devido à baixa perviedade.<br />
TRATAMENTO DAS LESÕES AORTO-ILÍACAS<br />
No território aorto-ilíaco, a maioria dos casos pode<br />
ser tratada por via endovascular com bons resultados<br />
a longo prazo. O TASC – Transatlantic Inter-Society<br />
Consensus – é um documento de consenso publicado<br />
em 2000, no qual é descrita a classificação das lesões<br />
ateroscleróticas periféricas, conforme utilizada hoje (Quadro<br />
2) 5 . Lesões curtas, abaixo de 5 cm de extensão<br />
(TASC A e B), são de tratamento preferencial por via<br />
endovascular. Para lesões TASC C ainda não há certeza<br />
sobre qual a opção mais eficaz. Lesões TASC D (oclusões<br />
longas em segmento aorto-ilíaco) apresentam maior perviedade<br />
com tratamento cirúrgico, apesar de inúmeras<br />
publicações mostrarem benefício na abordagem percutânea<br />
em pacientes de alto risco cirúrgico. A definição da<br />
conduta deve levar em conta as comorbidades dos<br />
pacientes, o risco operatório e a expectativa de vida.<br />
O sucesso técnico para as estenoses é próximo a<br />
100% e, para as oclusões, em torno de 80 a 85% 5,27 .<br />
Para angioplastia isolada com balão das artérias ilíacas,<br />
a patência é próxima a 80%, em 1 ano e 60%, em 5<br />
anos 28 . O resultado com uso de stents tem se mostrado<br />
melhor, com patência de 72%, em cinco anos para<br />
estenoses e de 64%, em 3 anos para oclusões 29,30 (Figuras<br />
2 e 3). Os resultados da angioplastia foram comparados<br />
pelo grupo TASC com os resultados cirúrgicos<br />
obtidos de uma metanálise da literatura sobre o bypass<br />
aorto-bifemoral de 1970 a 1996, que mostra patência<br />
de 91%, em 5 anos e mortalidade de 3,3% 31 . O grupo<br />
concluiu que apesar da maior perviedade, a cirurgia<br />
deve ser usada para tratamento da claudicação somente<br />
quando outras formas de tratamento medicamentoso<br />
não tiveram sucesso (recomendação 371 – TASC) 5 . De<br />
maneira geral, o benefício com a cirurgia é menor no<br />
claudicante leve a moderado, portanto, o tratamento<br />
endovascular é de escolha neste subgrupo de pacientes.<br />
A angioplastia tem sido comparada com programas<br />
de exercício físico, com objetivo de definir qual melhor<br />
opção para melhora da capacidade funcional e da qualidade<br />
de vida. Em estudo publicado recentemente, comparando<br />
artigos de 1980 a 2003 com grupos de pacientes<br />
submetidos à fisioterapia supervisionada e à angioplastia,<br />
os autores concluíram que ambos os tratamentos melhoram<br />
a qualidade de vida, porém a capacidade funcional<br />
de deambulação é significativamente maior naqueles submetidos<br />
à angioplastia 32 . Esses dados mostram a tendência<br />
atual de complementação das opções terapêuticas e<br />
não somente indicar a angioplastia ilíaca quando o paciente<br />
não tem melhora com o tratamento conservador 33 .<br />
A taxa de complicações geral após angioplastia<br />
QUADRO 2<br />
Classificação TASC de lesões ilíacas 5<br />
TASC A<br />
• lesões focais < 3 cm<br />
TASC B<br />
• estenose entre 3 e 10 cm extensão<br />
• lesão bilateral < 5 cm<br />
• oclusão unilateral da artéria ilíaca comum<br />
TASC C<br />
• estenose bilateral entre 5 e 10 cm<br />
• oclusão unilateral da artéria ilíaca externa<br />
• oclusão bilateral da artéria ilíaca comum<br />
TASC D<br />
• estenose ilíaco-femoral > 10 cm<br />
• oclusão unilateral da artéria ilíaca comum e da<br />
artéria ilíaca externa unilateral<br />
• oclusão bilateral da artéria ilíaca externa<br />
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Pinto DM, Mandil A. Claudicação Intermitente: do Tratamento Clínico ao Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 261-269.<br />
Figura 2 - Tratamento de estenose da artéria ilíaca externa esquerda (lesão TASC A) com angioplastia isolada com balão.<br />
Figura 3 - Oclusão bilateral das artérias ilíacas comuns (lesão TASC C) tratada com angioplastia com implante de stents.<br />
de ilíacas é de 8,1%, sendo 2,7% de complicações<br />
maiores 28 . As complicações mais comuns estão relacionadas<br />
ao acesso vascular: hematomas (2,9%), oclusão<br />
aguda (1,9%), embolização (1,6%) e pseudo-aneurismas<br />
(0,5%), com mortalidade média de 0,2% 28,33 .<br />
TRATAMENTO DAS LESÕES FÊMORO-POPLÍTEAS<br />
A artéria femoral superficial é a artéria periférica<br />
mais comumente acometida pela doença aterosclerótica.<br />
É submetida a forças de tração longitudinal e transversal<br />
causadas pelos grupos musculares da coxa, características<br />
que não se encontram em outros segmentos arteriais.<br />
Irriga um território de alta resistência periférica, por<br />
vezes com escoamento ruim pelas artérias tibiais, pois<br />
é comum o acometimento aterosclerótico concomitante<br />
dessas artérias (Figura 4).<br />
Essas características fazem com que o segmento<br />
fêmoro-poplíteo seja hoje o “calcanhar-de-aquiles” dos<br />
265
Pinto DM, Mandil A. Claudicação Intermitente: do Tratamento Clínico ao Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 261-269.<br />
intervencionalistas. Inúmeros métodos podem ser usados<br />
para tratamento dessas lesões, porém nenhum provou<br />
ser eficaz para evitar a reestenose tardia. Os stents<br />
auto-expansíveis de nitinol apresentam características<br />
de conformabilidade com a artéria femoral e a poplítea,<br />
com suporte para as forças de tração, consistindo<br />
na melhor opção atual para tratamento percutâneo.<br />
Entretanto, para as lesões curtas, provavelmente qualquer<br />
método pode ser usado, pois os resultados não<br />
diferem muito.<br />
Para lesões difusas e longas, o bypass fêmoropoplíteo<br />
é a melhor opção. É opinião de vários autores<br />
que para lesões de até 5 cm de extensão, o tratamento<br />
endovascular é efetivo e oferece resultados satisfatórios,<br />
considerando sua menor morbidade 34 .<br />
Figura 4 - Forças exercidas sobre a artéria femoral superficial.<br />
Com o desenvolvimento de stents auto-expansíveis<br />
de nitinol, o tratamento percutâneo tem sido cada vez<br />
mais usado como primeira opção 35,36 . Apesar da menor<br />
perviedade a longo prazo em relação às ilíacas, pacientes<br />
com lesões fêmoro-poplíteas têm maior probabilidade<br />
de apresentarem comorbidade coronariana e aterosclerose<br />
em múltiplos níveis 36 . Taxas de perviedade de<br />
85%, em 1 ano e de 68%, em 3 anos, são alcançadas<br />
com os stents de nitinol 37 . Desta forma, lesões fêmoropoplíteas<br />
curtas, de até 5 cm de extensão, são tratadas<br />
inicialmente por via endovascular, reservando a cirurgia<br />
para os casos de insucesso nas recanalizações e<br />
obstruções longas (Figura 5). Além disso, várias publicações<br />
mostram que o resultado clínico como alívio dos<br />
sintomas e a cicatrização das feridas é maior que as<br />
taxas de perviedade 38,39 . Não é raro encontrar pacientes<br />
com reestenose da artéria femoral que permanecem<br />
sem sintomas. Portanto, a perviedade não deve ser a<br />
única medida de resultado do tratamento, mas também<br />
o alívio dos sintomas e a morbidade a longo prazo.<br />
O Quadro 3 sumariza as opções de tratamento<br />
endovascular para as lesões fêmoro-poplíteas.<br />
Figura 5 - Tratamento de oclusão da artéria femoral superficial com angioplastia e implante de stent.<br />
266
Pinto DM, Mandil A. Claudicação Intermitente: do Tratamento Clínico ao Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 261-269.<br />
QUADRO 3<br />
Opções de tratamento endovascular para lesões fêmoro-poplíteas<br />
Tipo de procedimento Como funciona Melhor indicação Resultados<br />
Angioplastia<br />
intraluminal<br />
com balão<br />
Fratura da placa<br />
aterosclerótica e<br />
dilatação do lúmen<br />
arterial<br />
Lesões focais; lesões<br />
na linha articular do<br />
joelho; reestonoses<br />
intra-stent<br />
Patência primária de 61%, em 1 ano, 51%,<br />
em 3 anos e 48%, em 5 anos; para estenoses<br />
curtas, o resultado é semelhante ao uso<br />
de stents; para oclusões, a perviedade é muito<br />
baixa, sendo indicado uso de stents 40<br />
Angioplastia<br />
subintimal<br />
Angioplastia realizada<br />
com balão fora do<br />
lúmen da artéria, no<br />
espaço subintimal<br />
Lesões longas ou que<br />
ultrapassam a linha<br />
articular do joelho<br />
Taxas variáveis de sucesso nas recanalizações<br />
extraluminais (<strong>13</strong> a 24% de insucesso<br />
técnico) e patência primária em 1 ano de<br />
33 a 74% 41<br />
Angioplastia com<br />
cutting balloon<br />
Lâminas longitudinais<br />
causam fratura e<br />
dissecção ordenada da<br />
placa aterosclerótica<br />
Estenoses de anastomoses<br />
de bypass;<br />
reestenose intra-stent<br />
Resultados semelhantes à angioplastia com<br />
balão, porém com menor necessidade de<br />
uso de stents; séries com número reduzido<br />
de casos 42<br />
Stents autoexpansíveis<br />
de<br />
nitinol<br />
Malha de nitinol com<br />
força para manter o<br />
lúmen aberto e com<br />
elasticidade radial e<br />
axial<br />
Lesões longas e<br />
oclusões<br />
Resultados de 1 ano são próximos ao<br />
bypass com veia safena (patência primária<br />
de 85%), porém sofrem queda acentuada<br />
nos próximos anos, com patência primária<br />
de 68%, em 2 anos 43<br />
Stents revestidos<br />
com drogas<br />
Stents de nitinol<br />
revestidos com<br />
rapamicina<br />
Lesões longas e<br />
oclusões<br />
Resultados não foram superiores ao stent de<br />
nitinol não-revestidos devido à inesperada<br />
elevada patência primária desses stents (7%<br />
de reestenose em 6 meses) 44<br />
Stents recobertos<br />
(endopróteses)<br />
Endoprótese tubular de<br />
PTFE ou Dacron,<br />
montadas sob esqueleto<br />
de nitinol ou de aço<br />
Múltiplas estenoses<br />
ou oclusões longas<br />
Endoprótese de PTFE (Viabahn ® ) apresenta<br />
patência semelhante ao bypass com próteses,<br />
com patência de 74% em 2 anos 45<br />
Crioplastia<br />
Balão de angioplastia<br />
que esfria a placa; a<br />
temperatura de -10°C<br />
leva à apoptose da<br />
célula muscular lisa,<br />
teoricamente reduzindo<br />
a chance de reestenose<br />
Estenoses longas ou<br />
na linha articular do<br />
joelho<br />
Resultados similares à angioplastia com<br />
balão, porém sem dados a longo prazo 46<br />
Aterectomia<br />
O aterótomo SilverHawk<br />
(FoxHollow Technologies)<br />
é o único projetado<br />
para circulação periférica,<br />
com lâminas circulares<br />
que retiram<br />
fragmentos da placa<br />
aterosclerótica<br />
Lesões ostiais ou<br />
difusas; reestenose<br />
intra-stent<br />
Patência em 6 meses superior à angioplastia<br />
com balão para lesões difusas, porém com<br />
reduzido número de casos e não há dados<br />
a longo prazo 47<br />
Laser<br />
Excimer laser que usa<br />
efeito da luz de laser<br />
para ablação da placa<br />
Lesões difusas nas<br />
artérias tibiais; reestenose<br />
intra-stent<br />
Estudos PELA e LACI não mostraram maior<br />
perviedade em relação à angioplastia com<br />
balão, porém com maiores taxas de<br />
recanalização de artérias tibiais 48<br />
Cirurgia<br />
Derivações feitas com<br />
enxertos venosos ou<br />
próteses<br />
Lesões difusas ou<br />
oclusões longas<br />
Patência primária de 75% e secundária de<br />
81%, em 5 anos; taxas de infecção de ferida<br />
de 8 a 19% 49<br />
267
Pinto DM, Mandil A. Claudicação Intermitente: do Tratamento Clínico ao Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 261-269.<br />
TRATAMENTO CIRÚRGICO DA CLAUDICAÇÃO<br />
A cirurgia raramente é necessária para o tratamento<br />
da claudicação. Como visto anteriormente, somente uma<br />
pequena porcentagem necessitará de tratamento cirúrgico.<br />
No claudicante, o tratamento da aterosclerose sistêmica<br />
é prioritário ao das lesões periféricas. Ocasionalmente,<br />
se o exercício físico supervisionado, associado ao uso<br />
de cilostazol e estatinas, não funciona ou é rejeitado<br />
pelo paciente, este pode ser encaminhado para realização<br />
de exames de imagem para avaliar a possibilidade<br />
de angioplastia periférica. Se esta não é possível, devido<br />
à anatomia das lesões, a cirurgia é a opção.<br />
Derivações arteriais infra-inguinais com uso de<br />
enxerto venoso ou protético são feitas com menor<br />
morbidade que procedimentos no segmento aortoilíaco,<br />
que necessitam de incisões abdominais. Entretanto,<br />
os procedimentos proximais, especialmente aqueles<br />
com necessidade de pinçamento da aorta, têm<br />
maior morbidade, as revascularizações distais normalmente<br />
são feitas em pacientes diabéticos e/ou com<br />
aterosclerose avançada, cujo risco cirúrgico é alto.<br />
Taxas de perviedade de até 80%, em 10 anos, são<br />
atingidas com o bypass aorto-bifemoral 32 .<br />
Quando o acometimento das artérias tibiais é pequeno,<br />
ou seja, há um run-off adequado, o bypass<br />
fêmoro-poplíteo apresenta altas taxas de patência. Entretanto,<br />
como exposto anteriormente, deve ser indicada<br />
somente quando não há melhora com outras modalidades<br />
de tratamento conservador ou mesmo endovascular.<br />
Derivações para artérias infrapoplíteas são raramente<br />
justificadas para o tratamento da claudicação e<br />
são reservadas para o salvamento de membros.<br />
CONCLUSÃO<br />
O tratamento do paciente com claudicação deve<br />
ser focado na modificação de fatores de risco, terapia<br />
antiplaquetária, antilipidêmica, uso do cilostazol e exercício<br />
físico monitorizado. Para os pacientes que não<br />
melhoram ou não seguem as medidas conservadoras,<br />
o tratamento endovascular pode ser feito como primeira<br />
opção na maioria das vezes. O tratamento endovascular<br />
no segmento aorto-ilíaco apresenta perviedade próxima<br />
à da cirurgia, porém com grande impacto na redução<br />
da morbidade. Existem inúmeras opções para tratamento<br />
no segmento fêmoro-poplíteo, sendo que nenhuma<br />
resolveu ainda o problema da reestenose tardia.<br />
Entretanto, como as co-morbidades cardiovasculares<br />
são comuns neste subgrupo de pacientes, o tratamento<br />
percutâneo tem sido feito como primeira escolha em<br />
vários centros, pois o resultado clínico (alívio dos<br />
sintomas) tende a exceder as taxas de patência.<br />
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269
Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 270-277.<br />
Marino MA, Vasconcelos AVS. Intervenção Extracardíaca: Aplicação dos Stents Farmacológicos em Terapia Endovascular. Rev<br />
Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 270-277.<br />
Artigo de Revisão<br />
Intervenção Extracardíaca: Aplicação dos Stents<br />
Farmacológicos em Terapia Endovascular<br />
Marcos Antônio Marino 1 , Alexandre Von Sperling de Vasconcelos 1<br />
RESUMO<br />
A intervenção endovascular extracardíaca com stents, para<br />
o tratamento da doença aterosclerótica, tem sido cada vez<br />
mais empregada. Entretanto, os resultados (reestenose) a<br />
longo prazo são menos satisfatórios que os obtidos na intervenção<br />
coronária e dependentes do território vascular abordado.<br />
O uso de stents farmacológicos tem se mostrado promissor<br />
na inibição da hiperplasia intimal característica de reestenose,<br />
de maneira similar ao observado nos procedimentos cardíacos.<br />
Este artigo discutirá seu emprego nos territórios renal, femoral<br />
e infrapoplíteo, a partir da revisão dos estudos multicêntricos<br />
randomizados publicados ou apresentados em congressos.<br />
DESCRITORES: Obstrução da artéria renal, terapia. Artéria<br />
femoral, anormalidades. Arteriopatias oclusivas. Contenedores.<br />
SUMMARY<br />
Extracardiac Intervention: The Use of Drug Eluting<br />
Stents in Endovascular Therapy<br />
The use of drug eluting stents in extracardiac endovascular<br />
intervention has been more and more widely used to treat<br />
atherosclerosis. However, in the long run outcomes (restenosis)<br />
are less satisfactory if compared to those from coronary<br />
intervention, and are dependent on the specific vascular<br />
area. The use of drug eluting stents has shown to be promising<br />
to inhibit restenosis characteristic intimal hyperplasia, similarly<br />
to what has been observed in cardiac procedures. The<br />
present article will address the use of drug eluting stents for<br />
renal, femoral, and infrapopliteal conditions based on a<br />
review of multicenter, randomized studies published or<br />
presented at conferences.<br />
DESCRIPTORS: Renal artery obstruction, therapy. Femoral<br />
artery, abnormalities. Arterial occlusive diseases. Stents.<br />
Estima-se, empregando testes não-invasivos, que a<br />
doença aterosclerótica extracardíaca (DAE) acometa<br />
3% da população geral, na faixa etária de 40 a<br />
59 anos e 20%, acima de 70 anos 1,2 .<br />
Considerando-se o risco cardiovascular global da<br />
população geral, a mortalidade em cinco e 10 anos é<br />
de aproximadamente 25% e 50%, respectivamente.<br />
Estes dados reforçam a necessidade de otimização do<br />
tratamento da DAE nos pacientes sintomáticos, individualizado<br />
de acordo com a localização anatômica do<br />
processo obstrutivo arterial. Após a realização da primeira<br />
angioplastia periférica por Charles Dotter, em 1964 3 ,<br />
as intervenções endovasculares ocuparam, progressivamente,<br />
lugar de destaque na terapêutica da DAE, em<br />
função dos avanços tecnológicos, da disponibilidade<br />
1<br />
Serviço de Hemodinâmica e Radiologia Intervencionista do Hospital<br />
Madre Teresa, Belo Horizonte, MG.<br />
Correspondência: Marcos Antônio Marino. Departamento de Hemodinâmica,<br />
Cardiologia e Radiologia Vascular Intervencionista. Hospital<br />
Madre Teresa. Av. Raja Gabaglia, 1002 - Belo Horizonte, MG.<br />
CEP 30380-090. Telefone: (31) 3339-8053 • E-mail: marino@uai.com.br<br />
Recebido em: 31/01/2006 • Aceito em: 24/02/2006<br />
de novos materiais (guias, balões e stents de baixo perfil<br />
e uso de diferentes metais – nitinol) e do porcentual de<br />
sucesso terapêutico imediato (acima de 90% dos casos) 4,5 .<br />
Apesar destes excelentes resultados, a reestenose<br />
continua sendo a grande limitação desta opção terapêutica,<br />
com índices que variam de 10 a 80% dependendo<br />
do material empregado, da técnica e do território vascular<br />
abordado. Considerando-se os diferentes territórios vasculares,<br />
patência arterial após 12 meses é de 90 a 95%,<br />
nas artérias carótidas; 80 a 95%, nas ilíacas; 75 a 90%,<br />
nas renais e 22 a 65%, nas femorais superficiais 6-10 . Os<br />
vasos carotídeos, aorto-ilíacos, ilíacos e a veia cava são<br />
menos susceptíveis a reestenose quando os stents são<br />
empregados.<br />
A reestenose é resultado de mecanismos biológicos<br />
complexos desencadeados pela injúria vascular local<br />
após intervenção endovascular, quer seja angioplastia,<br />
implante de stents ou aterectomia. No processo de<br />
reestenose, estão envolvidos basicamente três processos<br />
distintos: retração elástica, remodelação e hiperplasia<br />
intimal do vaso.<br />
O uso de stents, na intervenção cardiovascular,<br />
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Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 270-277.<br />
A hipertensão secundária causada pela EAR acomete<br />
menos de 5% da população geral, entretanto, nos<br />
pacientes com doença aterosclerótica coronariana e<br />
extracardíaca ou naqueles com hipertensão arterial e<br />
insuficiência renal associada, a sua prevalência é substem<br />
como vantagem atuar na inibição dos processos<br />
de retração elástica e de remodelação vascular, embora<br />
estes não sejam capazes de impedir a hiperplasia intimal<br />
vascular secundária.<br />
As estratégias para impedir a reestenose na intervenção<br />
endovascular extracardíaca são: angioplastia com<br />
balão, stents, stent-grafts, cutting-balloon, aterectomia,<br />
laser, braquiterapia; no entanto, até o momento, não<br />
há um consenso sobre qual é a melhor técnica.<br />
Acredita-se que a avaliação comparativa do sucesso<br />
terapêutico destas técnicas fique prejudicada pelo número<br />
de variáveis a serem consideradas, como diferentes<br />
segmentos e diâmetros arteriais, comportamento desigual<br />
frente à aterosclerose e ao próprio trauma produzido<br />
pelo instrumental intervencionista.<br />
O uso dos stents farmacológicos na circulação<br />
coronária, particularmente utilizando as drogas rapamicina<br />
(sirolimus), paclitaxel e, mais recentemente, o everolimus<br />
(Figura 1), se mostrou eficaz no tratamento da<br />
obstrução coronariana, de acordo com os estudos<br />
multicêntricos e randomizados 12-18 . Os resultados do<br />
emprego de stents farmacológicos, no território vascular<br />
periférico, ainda não estão definidos, embora pareçam<br />
promissores e o seu emprego mereça ser pesquisado,<br />
uma vez que, em analogia ao território coronariano,<br />
poderiam reduzir a incidência de reestenose. Está sob<br />
investigação o seu emprego nos territórios femoral e<br />
renal, em neurologia e nas fístulas artério-venosas para<br />
hemodiálise.<br />
INTERVENÇÃO NA ARTÉRIA RENAL<br />
Nos últimos anos, temos observado diagnósticos<br />
mais freqüentes de estenose de artéria renal (EAR) de<br />
origem aterosclerótica. Isto se deve aos avanços tecnológicos<br />
na área de imagem (ultra-som com duplex<br />
e angioressonância), aos inúmeros trabalhos publicados<br />
e maior valorização da aterotrombose sistêmica pelos<br />
médicos clínicos.<br />
Figura 1 - Mecanismo de reestenose (adaptado de Rundback 11 ).<br />
271
Marino MA, Vasconcelos AVS. Intervenção Extracardíaca: Aplicação dos Stents Farmacológicos em Terapia Endovascular. Rev<br />
Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 270-277.<br />
tancialmente alta 19 . As obstruções das artérias renais<br />
maiores que 70% apresentam repercussão hemodinâmica<br />
para o rim, produzindo nefropatia isquêmica,<br />
como conseqüência, hipertensão arterial e piora da<br />
função excretora renal 20 .<br />
Trabalhos realizados em pacientes submetidos a<br />
cateterismo cardíaco mostram alta incidência de EAR<br />
(18-20%) naqueles com aterosclerose coronária confirmada<br />
de (25-30%) quando portador de aterosclerose<br />
coronária e periférica 21,22 . De acordo com todas as<br />
séries de pacientes estudados, demonstrou-se que a<br />
incidência de reestenose varia de 15 a 25%, dependendo<br />
de: tipo de lesão, calcificações, oclusões crônicas<br />
e tamanho do vaso.<br />
O tratamento da EAR, com implante de stents, mostrou<br />
melhor resultado pós-procedimento imediato ou a longo<br />
prazo, quando comparado às demais técnicas 23-26 . Mostrou-se<br />
capaz de preservar a função renal, com estabilização,<br />
melhora ou reversão da insuficiência renal grave,<br />
em pacientes selecionados 27-29 . Além disso, pôde beneficiar<br />
pacientes com angina instável e insuficiência cardíaca<br />
congestiva, com melhora das funcionais, provavelmente,<br />
por meio de um mecanismo de controle da pressão<br />
arterial, por atuar favoravelmente no sistema renina angiotensina,<br />
observa-se regressão do flash pulmonar, diminuindo<br />
o edema pulmonar recorrente em 60 a 90% 30,31 .<br />
São indicações para a realização de angioplastia<br />
com stent da artéria renal:<br />
1. EAR uni ou bilateral ≥ 70% com hipertensão<br />
arterial leve, moderada ou grave, segundo critérios WHO,<br />
em pacientes com múltiplos fatores de risco cardiovascular;<br />
2. EAR uni ou bilateral ≥ 70% com edema pulmonar<br />
recorrente;<br />
3. EAR uni ou bilateral ≥ 70% com leve ou moderada<br />
disfunção renal;<br />
4. Angina instável em pacientes em tratamento<br />
clínico, mantendo crises hipertensivas recorrentes, com<br />
EAR uni ou bilateral ≥ 70%;<br />
5. Insuficiência renal aguda ou subaguda devido<br />
à oclusão aguda ou subaguda de uma ou ambas as<br />
artérias renais.<br />
RESULTADOS<br />
As publicações existentes até este momento restringem-se<br />
à experiência de centros isolados e revelam<br />
que o sucesso primário deste procedimento varia de<br />
95 a 100% e a de reestenose de 20 a 30%, após 2<br />
a 4 anos (Tabelas 1 e 2) 32 .<br />
No nosso serviço, 72 pacientes (equivalendo a 80<br />
artérias renais, com lesões ostiais ou de seu terço<br />
médio e obstrução ≥ 70%), com média de idade de<br />
65±8 anos, foram submetidos a angioplastia com implante<br />
de stents, no período de janeiro 2000 a dezembro de<br />
2004. O sucesso terapêutico imediato foi de 100%.<br />
Reestenose, hemodinamicamente significativa, ocorreu<br />
em 9% dos pacientes, diagnosticadas ao ecoDopller e<br />
documentadas por arteriografia renal. Estes pacientes foram<br />
submetidos a nova angioplastia com balão e a artéria<br />
renal redilatada com sucesso (100%) - (Trabalho Apresentado<br />
no 60º Congresso da SBC, Porto Alegre, <strong>2005</strong>).<br />
O único estudo randomizado realizado para avaliar<br />
TABELA 1<br />
Sucesso técnico, stent artéria renal (adaptado de Lim e Rosenfield 32 )<br />
Estudo Ano de Período de Nº de Tipo de Lesão de Sucesso Sucesso<br />
Publicação Estudo Artérias Stent Óstio Definitivo Técnico (%)<br />
Rodriguez-Lopes 1999 93-96 125 Palmaz 66 Sem RS/dissecção 98<br />
van de Vem 1999 93-97 52 Palmaz 100 RS*
Marino MA, Vasconcelos AVS. Intervenção Extracardíaca: Aplicação dos Stents Farmacológicos em Terapia Endovascular. Rev<br />
Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 270-277.<br />
TABELA 2<br />
Reestenose, stent artéria renal (adaptado de Lim e Rosenfield 32 )<br />
Estudo Nº de Avaliação Lesão Tipo de Método de Tempo Médio Reestenose<br />
Artérias das Artérias (% de Óstio Stent Avaliação de Avaliação (Avaliação<br />
do total original (meses) da artéria)<br />
de artérias)<br />
Marino, <strong>2005</strong> 80 80 (100%) 64 Palmaz Angio+duplex 48 9%<br />
van de Vem,1999 52 50 (95%) 100 Palmaz Angio 6 21%<br />
Rocha-Singh, 1999 180 158 (88%) 43 Palmaz Duplex+angio <strong>13</strong> 12%<br />
Tuttle, 1998 148 49 (33%) 100 Palmaz Angio 8 14%<br />
Roundback,1998 54 28 (52%) NA Palmaz Angio+spiral CT 12 26%<br />
White, 1997 <strong>13</strong>3 80 (60%) 81 Palmaz Angio 9 19%<br />
Harden, 1997 32 24 (75%) 75 Palmaz Angio 6 12%<br />
Blum, 1997 74 74 (100%) 100 Palmaz Angio 24 11%<br />
Henry, 1996 64 54 (84%) 53 Palmaz Angio 14 9%<br />
Iannone, 1996 83 69 (85%) 78 Palmaz Duplex 11 14%<br />
Dorros, 1995 92 56 (61%) 100 Palmaz Angio 7 25%<br />
Hennequin, 1994 21 20 (95%) 33 Wallstent Angio 29 20%<br />
Raes, 1994 296 150 (51%) 100 Palmaz Angio 7 33%<br />
a eficiência do uso de stents farmacológicos em artérias<br />
renais foi o GREAT TRIAL (Palmaz Genesis Peripheral<br />
Stainless Steel Balloon - Expandable Stent, Comparing<br />
a Sirolimus - Coated Versus a Bare Stent in Renal Artery<br />
Treatment) apresentado no TCT, em 2004, por John H.<br />
Rundback, da Columbia University Medical Center 11 .<br />
Na Europa, o estudo GREAT foi realizado em três<br />
centros patrocinados pela CORDIS Corporation. Os<br />
critérios de inclusão do estudo foram: pacientes com<br />
idade maior que 30 anos, com indicação clínica para<br />
revascularização de EAR, lesão ≥ 50% e vaso de referência<br />
maior que 4 e menor que 8mm ou creatinina<br />
sérica menor que 5,0mg/dl. Foram selecionados 105<br />
pacientes, 53 submetidos a angioplastia com stent com<br />
droga de liberação em 30 dias (Sirolimus) e 52 com<br />
stent convencional e, reestudados após seis meses<br />
para avaliar comparativamente o diâmetro médio do<br />
vaso (objetivo primário). Os principais objetivos secundários<br />
foram avaliar: função renal após 24 meses;<br />
ausência de reestenose binária aos seis meses; evolução<br />
clínica aos 24 meses e ausência de eventos adversos<br />
maiores no seguimento.<br />
Os grupos não diferiam quanto às características<br />
clínicas ou angiográficas, porém 39% dos pacientes do<br />
grupo em que se utilizou stent farmacológico apresentaram<br />
creatinina maior que 1,5mg/dl versus 19% no<br />
grupo controle. Os vasos apresentavam diâmetro médio<br />
de 5,5mm e comprimento de lesão de 10mm; estenose<br />
média pré-procedimento de 68,5%. Imediatamente<br />
após o procedimento, a estenose final foi de 6,7±11,5%<br />
e 10,4±5,93 no grupo que utilizou stent convencional<br />
e farmacológico, respectivamente (p=0,039). O sucesso<br />
técnico foi de 100%, no grupo controle e 98,1%, no<br />
grupo farmacológico.<br />
A angiografia quantitativa após seis meses foi realizada<br />
em 41 pacientes do grupo controle e em 45 pacientes<br />
do grupo farmacológico, com reestenose de 14,3% e<br />
6,7%, respectivamente (p=0,30). A perda tardia (hiperplasia<br />
intimal intra-stent) foi 0,92 e 0,62mm, para grupo controle<br />
e farmacológico, respectivamente (p=0,21) - Tabela 3.<br />
TABELA 3<br />
GREAT Trial - dados de 6 meses angiografia quantitativa (adaptado de Rundback 11 )<br />
Stent Convencional Stent Farmacológico Valor de p<br />
Média ± DP N=41 (79%) Média ± DP N=45 (85%)<br />
Diâmetro de referência do vaso 5,58 ± 0,81 mm 5,582 ± 0,73 mm 0,74<br />
Diâmetro da estenose (%DS) 23,9 ± 22,89mm (-2,3 - 96,8) 18,7 ± 15,58 mm (0,7 - 66,6) 0,39<br />
Diâmetro luminal mínimo (DLM) 4,33 ± 1,44 mm (0,2 - 6,8) 4,45 ± 0,88 mm (1,6 - 6,1) 0,88<br />
Reestenose intra-stent (>50%) 6 (14,3%) 3 (6,7%) 0,30<br />
Perda tardia 0,92 0,62 0,21<br />
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Marino MA, Vasconcelos AVS. Intervenção Extracardíaca: Aplicação dos Stents Farmacológicos em Terapia Endovascular. Rev<br />
Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 270-277.<br />
Após seis meses, evidenciou-se patência clínica em 93,2%<br />
(com revascularização da lesão-alvo – RLA - em 7,7%),<br />
no grupo controle versus 96,2% (com RLA em 3,8%), no<br />
grupo farmacológico (Tabela 4).<br />
A reestenose no implante de stent em artérias<br />
renais é um assunto controverso, embora seja rara<br />
precocemente e, quando ocorre, há possibilidade de<br />
reintervenção com sucesso.<br />
INTERVENÇÃO NO SEGMENTO<br />
FÊMORO-POPLÍTEO<br />
Na circulação arterial extracardíaca, o segmento<br />
fêmoro-poplíteo é o mais estudado devido ao alto índice<br />
de reestenose dos stents nele implantados (30-50%).<br />
TABELA 4<br />
GREAT Trial - segurança<br />
(adaptado de Rundback 11 )<br />
Acima de 6 meses Stent Stent<br />
Convencional Farmacológico<br />
Morte 0 1 (2)<br />
Patência clínica (1) 92,3% (48/52) 96,2% (51/53)<br />
Revascularização 7,7% 3,8%<br />
da lesão-alvo<br />
Evento embólico 1,9% 0<br />
significante (3)<br />
Piora da função renal (4) 2 5<br />
(1)<br />
Definido como a ausência de qualquer TLR acima de 6<br />
meses. (2) Infarto do Miocárdio. (3) CVA com regressão espontânea.<br />
(4) Baseado nos níveis de creatinina (definido como aumento<br />
de ≥ 50% nos níveis de creatinina séricos, se o estado<br />
basal é ≤ 2.0) e SAE’ s: Dissecção grave pós-stent, resultando<br />
em nefrectomia; falha renal ocasionando diálise permanente<br />
até 4 meses após o procedimento.<br />
Os estudos SIROCCO I e II (Sirolimus Coated Cordis<br />
SMART Nitinol-Self-Expandable Stent for the Treatment<br />
of Obstructive Superficial Femoral Artery Disease) avaliaram<br />
a utilização dos stents farmacológicos nesse território<br />
33-35 . Ambos foram estudos randomizados, duplocegos,<br />
com controle angiográfico e compararam os<br />
resultados após seis meses do implante de stent autoexpansível<br />
de nitinol SMART (Cordis), eluído com sirolimus<br />
com o emprego do mesmo stent não recoberto<br />
com droga, em obstruções longas (>70%, incluindo<br />
oclusões totais), “de novo” ou reestenóticas da artéria<br />
femoral superficial. Os stents empregados tinham extensão<br />
de 8cm e diâmetro de 6-7mm, para serem<br />
implantados em artérias de 4-6 mm de diâmetro. O<br />
número de stents máximo por lesão foi de três, no<br />
SIROCCO I e dois, no SIROCCO II. Os pacientes receberam<br />
o mesmo esquema antiplaquetário (AAS associado<br />
a ticlopidina ou clopidogrel).<br />
O SIROCCO I foi realizado em seis centros da<br />
Europa e no Canadá, recrutou 36 pacientes sintomáticos<br />
(classificação de Rutherford 2 a 4), 18 para o<br />
grupo sirolimus e 18 para o grupo controle. As estenoses<br />
tinham de 7 a 20cm e as oclusões totais de 4 a 20cm<br />
de extensão. O objetivo primário foi avaliar a porcentagem<br />
de estenose intra-stent, após seis meses, pela<br />
angiografia quantitativa, parâmetro que independe do<br />
diâmetro do vaso. As características demográficas eram<br />
semelhantes nos dois grupos, com exceção do maior<br />
número de tabagistas (32,9% x 16,7%), diabéticos<br />
(50,0% x 28,8%) e de calcificações (em grau moderado<br />
a grave), presente em todas as lesões do grupo<br />
sirolimus e em apenas 46,7% das lesões do grupo<br />
controle (Tabela 5). Portanto, os pacientes do grupo<br />
que receberam o stent com droga tinham maior risco<br />
para reestenose e complicações quando comparados<br />
aos pacientes do grupo controle.<br />
A incidência global de oclusão total dos vasos foi<br />
de 57%. O sucesso dos procedimentos foi de 100%.<br />
A angiografia foi realizada em 33 pacientes após seis<br />
meses e evidenciou reestenose binária (>50%) de 0%,<br />
no grupo sirolimus e 23,5%, no grupo controle.<br />
A estenose média imediata foi de 21,2±18% e<br />
23,3±9,5%, para o grupo sirolimus e o controle, enquanto<br />
a estenose média, após seis meses, foi de 22,6±16,5%<br />
e 30,9±7,2%, respectivamente. O diâmetro luminal<br />
médio intra-stent, aos 6 meses, foi de 4,95±0,59mm e<br />
de 4,31±1,39mm e o índice de oclusão do stent foi de<br />
0% e 5,9%, nos grupos sirolimus e controle, respecti-<br />
TABELA 5<br />
SIROCCO I & II resultados angiográficos 6 meses in-stent (adaptado de Rundback 11 )<br />
Liberação Lenta Controle Valor de p<br />
(n=5 SIR I e n=28 SIR II)<br />
(n=17 SIR I e n=26SIR II)<br />
DLM (1) 3,98mm 3,49mm 0,037<br />
Diâmetro médio do stent (2) 5,02mm 4,58mm 0,039<br />
Perda tardia 0,38mm 0,82mm 0,059<br />
Taxa de reestenose 0% 11,6% 0,057<br />
(1)<br />
Diâmetro luminal mínimo; (2) Endpoint primário.<br />
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Marino MA, Vasconcelos AVS. Intervenção Extracardíaca: Aplicação dos Stents Farmacológicos em Terapia Endovascular. Rev<br />
Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 270-277.<br />
vamente. Nenhum paciente foi submetido a novo procedimento<br />
de revascularização, havendo melhora clínica<br />
(classificação de Rutherford) e do índice tornozelo/<br />
braço em ambos grupos.<br />
Os autores do SIROCCO chamaram atenção para<br />
o resultado melhor que o esperado com o uso de<br />
stents não recobertos em oposição ao sugerido pela<br />
literatura, embora todas as variáveis estudadas apontem<br />
para maior benefício com o uso de stent com<br />
sirolimus. Posteriormente, os mesmos autores apresentaram<br />
dados sobre o comportamento farmacocinético<br />
desta droga em três grupos de pacientes: stents com<br />
droga de liberação rápida, stents com droga de liberação<br />
lenta e stent convencional. Aos seis meses, os<br />
sistemas de liberação lenta tiveram uma evolução melhor<br />
que a liberação rápida, demonstrada por: maior diâmetro<br />
luminal mínimo (4,31mm x 3,47mm x 3,28mm); menor<br />
perda tardia (0,39mm x 0,72mm x 1,03mm) e maior<br />
diâmetro intra-stent (5,42mm x 4,74mm x 4,31mm). O<br />
índice de reestenose foi o mesmo nos grupos que<br />
utilizaram stents farmacológicos e superior ao grupo<br />
controle (0% x 0% x 17,6%). Aos 18 meses, permaneceu<br />
a melhor evolução com os sistemas de liberação<br />
lenta: reestenose binária menor (0% x 33% x 24%) e<br />
menor índice de RLA (0% x 11% x 0%) enquanto, aos<br />
24 meses: índice de reestenose binária/oclusão (40,0%<br />
x 44,4% x 47,1%) e RLA (0% x 11% x 5,8%) sem<br />
diferença com significância estatística.<br />
O SIROCCO II, realizado em oito centros na Europa<br />
e Austrália, recrutou 57 pacientes sintomáticos (Rutherford<br />
1 a 4), 29 para o grupo sirolimus (no esquema<br />
de liberação lenta) e 28 para o grupo controle. A<br />
extensão das estenoses era de 7 a 14,5cm e das oclusões<br />
totais de 4 a 14,5cm. O seu objetivo primário foi<br />
avaliar o diâmetro luminal médio intra-stent pela angiografia<br />
quantitativa aos seis meses. As características<br />
clínicas e angiográficas eram semelhantes nos dois<br />
grupos, porém com tendência a maior diâmetro de<br />
referência e à extensão da lesão no grupo sirolimus.<br />
O sucesso técnico dos procedimentos também foi de<br />
100%. A angiografia quantitativa foi realizada, aos seis<br />
meses, em 50 pacientes (24 sirolimus; 26 controle)<br />
sem diferença com significância estatística, no diâmetro<br />
intra-stent de 4,94±0,69 mm e 4,76±0,54 mm, no<br />
grupo sirolimus e controle, respectivamente (objetivo<br />
primário). Também, não houve diferença no diâmetro<br />
luminal mínimo intra-stent, porém com tendência à<br />
redução da perda tardia no grupo sirolimus (0,38±<br />
0,64mm x 0,68±0,97mm), bem como da incidência<br />
de reestenose binária (0% x 7,7%) - Tabela 6.<br />
Os autores concluíram que, em ambos os estudos<br />
acima citados, o tratamento foi efetivo nos dois grupos,<br />
embora haja tendência positiva do stent com sirolimus,<br />
ainda que sem diferença com significância estatística.<br />
Admitiram que o reduzido tamanho da amostra (57<br />
pacientes) pode ter reduzido o poder estatístico da<br />
amostra (o tamanho ideal seria de 90 pacientes), sugerindo<br />
analisar os dois estudos conjuntamente.<br />
Quando os dois estudos foram analisados conjuntamente,<br />
a evolução angiográfica aos seis meses demonstrou<br />
maior diâmetro luminal mínimo (3,98mm x<br />
3,49mm) e maior diâmetro do stent (5,02mm x 4,58mm),<br />
no grupo de liberação lenta do sirolimus, quando<br />
comparado ao grupo controle total no grupo sirolimus,<br />
com significância estatística. Foram também encontrados,<br />
neste grupo, menor perda tardia (0,38mm x 0,82mm)<br />
e menor índice de reestenose (0% x 11,6%). Portanto,<br />
pelo menos aos 6 meses, o estudo SIROCCO II confirmou<br />
a eficácia da formulação de liberação lenta identificada<br />
no SIROCCO I, mensurada pelo diâmetro médio<br />
do stent (objetivo primário), com significância estatística.<br />
Não se podendo, no entanto, desconsiderar os excelentes<br />
resultados obtidos com o uso do stent sem droga.<br />
O seguimento com duplex scan dos pacientes do<br />
SIROCCO II mostrou que: aos nove meses, a reestenose<br />
binária intra-stent foi de 7,7%, no grupo sirolimus e<br />
de 8,7%, no grupo controle 36 . Um paciente do grupo<br />
controle apresentou oclusão, sendo o total de reestenose/<br />
oclusão de 7,7% e <strong>13</strong>,0%, nos grupos sirolimus e<br />
controle, respectivamente. Quando analisados o segmento<br />
da lesão, o total de reestenose binária/oclusão foi<br />
de 23,1% x 21,7% (sirolimus x controle). Aos 18 meses,<br />
o índice total de reestenose intra-stent/oclusão foi de<br />
20,7% x 17,9% (sirolimus x controle) 37 .<br />
Esses dados apontam para o fato de que o stent<br />
com sirolimus na artéria femoral superficial apresenta<br />
modesto benefício inicial que não se mantém ao longo<br />
do tempo. Sendo assim, até o momento, não há vantagens<br />
em relação ao emprego do stent de nitinol (não<br />
recoberto por droga).<br />
Estudos adicionais devem ser realizados para uma<br />
melhor definição, talvez com a utilização de diferentes<br />
doses/drogas e novas plataformas de stents. Uma contribuição<br />
importante deverá ser dada pelo estudo randomizado<br />
Zilver PTX Drug Eluting Stent Trial 38 , comparando<br />
o Stent Zilver (Cook) de nitinol eluído com paclitaxel<br />
com o stent sem droga, em lesões no segmento fêmoro-<br />
TABELA 6<br />
SIROCCO II - Ultra-som Duplex 18 meses<br />
(adaptado de Rundback 11 )<br />
Intra-Stent Sirolimus Controle Valor<br />
(n=29) (n=28) de p<br />
Reestenose binária 6 (20,7%) 4 (14,3%) 0,73<br />
Oclusão 0 1 (3,6%) 0,47<br />
Total 6 (20,7%) 5 (17,9%) 0,66<br />
1 (3,4%) 4 (14,3%) 0,19<br />
3 (10,3%) 9 (32,6%) 0,04<br />
Óbitos 2 (6,9%) 1 (3,6%) 1<br />
(1)<br />
Revascularização da lesão-alvo. (2) Revascularização do<br />
vaso-alvo.<br />
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Marino MA, Vasconcelos AVS. Intervenção Extracardíaca: Aplicação dos Stents Farmacológicos em Terapia Endovascular. Rev<br />
Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 270-277.<br />
poplíteo. Esse estudo está em fase de recrutamento de<br />
pacientes e será realizado em até 50 centros nos Estados<br />
Unidos, Canadá, Europa, América Latina e Ásia.<br />
Deverão ser incluídos cerca de 480 pacientes e terá<br />
duas fases, fase 1: em lesões de até 7cm de extensão<br />
e, fase 2: em lesões de até 14 cm, com o objetivo de<br />
avaliar a patência primária do segmento fêmoro-poplíteo,<br />
aos 12 meses.<br />
INTERVENÇÃO NO SEGMENTO INFRAPOPLÍTEO<br />
Esse território arterial também confere um grande<br />
desafio à terapia endovascular, com reduzido índice<br />
de patência a longo prazo, devido às altas taxas de<br />
reestenose e oclusão das artérias. Isso se deve ao fato<br />
de que o tratamento intervencionista nessa região é<br />
geralmente indicado apenas em casos de: isquemia<br />
crítica do membro, em pacientes que já apresentam<br />
aterosclerose avançada, com doença arterial multisegmentar<br />
(apenas 20-30% dos pacientes apresentam lesões<br />
focais); em oclusões totais; e nos pacientes com outras<br />
co-morbidades como diabetes mellitus e insuficiência<br />
renal. Os pacientes com indicação para realizar este<br />
procedimento apresentam alto índice de amputações<br />
e elevada morbi-mortalidade, caracterizando quadro<br />
clínico da mais alta relevância social, econômica e<br />
também psicológica, merecendo grande investimento<br />
por parte dos pesquisadores, com o objetivo de encontrar<br />
melhores opções de tratamento.<br />
Na literatura médica, são raros os artigos sobre<br />
intervenções endovasculares nas artérias infrapoplíteas<br />
principalmente, abordando o uso dos stents farmacológicos.<br />
Em publicação recente, de dezembro de <strong>2005</strong> 39 ,<br />
o uso de stent com sirolimus em artérias infrapoplíteas,<br />
de pacientes com isquemia crítica de membros inferiores,<br />
foi avaliado prospectivamente, com controle angiográfico<br />
aos 6 meses. Foram comparados 29 pacientes submetidos<br />
ao implante de stent com sirolimus, em 66 lesões<br />
(46 estenoses e 20 oclusões) de 41 vasos, com outros<br />
29 pacientes nos quais foi utilizado o stent sem a<br />
droga, em 65 lesões (38 estenoses e 27 oclusões) de<br />
40 artérias. O sucesso técnico foi de 100%, no grupo<br />
sirolimus e de 96,6%, no grupo sem droga. Após 6<br />
meses, o grupo sirolimus foi superior em termos de<br />
patência primária (92,0% x 68,1%), reestenose binária<br />
intra-stent (4,0% x 55,3%), reestenose relacionada ao<br />
segmento da lesão (32,0% x 66,0%) e revascularização<br />
da lesão-alvo (4,0% x 17,0%). Com esses dados, os<br />
autores concluíram que os stents com sirolimus reduzem<br />
a hiperplasia neointimal no leito vascular infrapoplíteo.<br />
Referências adicionais sobre o uso de stents no<br />
segmento fêmoro-poplíteo, nos anais de grandes simpósios<br />
sobre terapia endovascular, são apresentadas<br />
pelos mais conceituados especialistas, embora todos<br />
com número reduzido de pacientes, mostrando o benefício<br />
dos stents com sirolimus nessas artérias 40 . Em<br />
apenas um estudo, não foi evidenciada vantagem com<br />
o uso de stents com tacrolimus em relação ao mesmo<br />
tipo de stent (Jostent) sem a droga (sete pacientes com<br />
reestenose significativa em um grupo de 12 pacientes<br />
submetidos à angiografia, após 6 meses do implante).<br />
Não poderíamos deixar de comentar, embora não<br />
seja exatamente o assunto desse texto, os promissores<br />
resultados da utilização dos stents recobertos com<br />
carbeto de silício e os stents bioabsorvíveis de magnésio<br />
41 . A avaliação inicial após 12 meses de evolução<br />
mostrou excelente índice de patência primária e, principalmente,<br />
de salvamento dos membros revascularizados.<br />
Não restam dúvidas quanto ao papel da abordagem<br />
endovascular no território arterial infrapoplíteo e<br />
do promissor papel do emprego de stents farmacológicos<br />
nestes procedimentos. Contudo, estudos randomizados<br />
com um maior número de pacientes são estritamente<br />
necessários, de preferência utilizando stents desenvolvidos<br />
especificamente para essas artérias.<br />
CONCLUSÃO<br />
A despeito da evolução tecnológica e dos melhores<br />
resultados clínicos da terapia endovascular na doença<br />
obstrutiva arterial periférica, a reestenose é uma limitação<br />
significativa em vários territórios vasculares. Os<br />
dados existentes até o momento apontam favoravelmente<br />
para a utilidade e eficácia dos stents farmacológicos<br />
na circulação extracardíaca, embora não haja consenso<br />
quanto ao seu emprego. Na circulação coronária, o<br />
progresso foi enorme e se encontra fundamentado em<br />
vários estudos randomizados já realizados e naqueles<br />
em andamento. Mas será que os resultados podem ser<br />
os mesmos na circulação extracardíaca? Quais drogas,<br />
doses e quais as plataformas de liberação serão<br />
mais efetivas? O efeito será o mesmo independente da<br />
localização e diâmetro da artéria? O resultado clínico<br />
alcançado justificaria o gasto econômico? Certamente,<br />
estudos multicêntricos serão necessários para a definição<br />
do emprego de stents na circulação extracardíaca.<br />
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Costa MA, et al. Renal Artery Disease. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 278-286.<br />
Artigo de Revisão<br />
Renal Artery Disease<br />
Marco A. Costa 1 , Prithviraj Rai 1 , Luis A. Guzman 1<br />
SUMMARY<br />
Renovascular disease (RVD) constitutes an array of conditions,<br />
which includes renal artery stenosis (RAS) and ischemic<br />
nephropathy such as atherosclerotic obstruction, thromboembolic<br />
phenomenon and nephrosclerosis. RVD along with<br />
diabetes mellitus constitutes 50% to 66% of all dialysis cases<br />
in elderly population. RAS is defined as a 50% or greater<br />
stenosis of a renal artery, and is the most common cause of<br />
secondary hypertension (HTN) affecting the general population.<br />
In addition, the presence of RAS is associated with high<br />
cardiovascular mortality as well. The common etiology of<br />
RAS is atherosclerotic, generally seen in patients older than<br />
50 years of age. About 10% of the RAS cases are seen in<br />
younger women due to a non-inflammatory vascular disease<br />
known as fibromuscular dysplasia. Patients with RAS often<br />
present drug refractory HTN, renal insufficiency and/or frequent<br />
episodes of flash pulmonary edema. Diagnosis and treatment<br />
of RAS is crucial to preserve renal function and improve<br />
clinical outcomes. Despite the potential clinical benefits,<br />
percutaneous intervention remains controversial because of<br />
the lack of appropriate clinical trials. This article reviews<br />
the pathophysiology, indications, and pitfalls of the current<br />
available diagnostic and therapeutic options.<br />
DESCRIPTORS: Renal artery obstruction. Peripheral vascular<br />
diseases. Arteriosclerosis.<br />
RESUMO<br />
Doença da Artéria Renal<br />
A doença renovascular (DRV) envolve uma gama de quadros<br />
clínicos, que inclui estenose da artéria renal (EAR) e nefropatia<br />
isquêmica, como a obstrução aterosclerótica, o fenômeno<br />
tromboembólico e a nefroesclerose. A DRV e o diabetes<br />
melito são responsáveis pelo total de 50 a 66% de todos os<br />
casos de diálise na população de idosos. A EAR é definida<br />
como estenose de 50% ou mais da artéria renal, sendo a<br />
causa mais comum da hipertensão secundária que afeta a<br />
população em geral. Além disso, a presença da EAR está,<br />
ainda, associada a um maior índice de mortalidade cardiovascular.<br />
A etiologia comum da EAR é aterosclerótica, geralmente<br />
identificada em pacientes com mais de 50 anos.<br />
Cerca de 10% dos casos de EAR são detectados em mulheres<br />
mais jovens como resultado de uma doença vascular nãoinflamatória<br />
conhecida como displasia fibromuscular. Os<br />
pacientes com EAR, em geral, apresentam hipertensão refratária<br />
a drogas, insuficiência renal e/ou episódios freqüentes de<br />
edema pulmonar agudo. O diagnóstico e o tratamento da<br />
EAR são de crucial importância para a preservação das<br />
funções renais e para melhores resultados clínicos. Apesar<br />
dos benefícios clínicos potenciais, a intervenção percutânea<br />
ainda é controversa em virtude da falta de estudos clínicos<br />
apropriados. O presente artigo faz uma revisão da fisiopatologia,<br />
das indicações e dos perigos apresentados pelas opções<br />
diagnósticas e terapêuticas atualmente disponíveis.<br />
DESCRITORES: Obstrução da artéria renal. Doenças vasculares<br />
periféricas. Arteriosclerose.<br />
Renovascular disease (RVD) is a broad term, which<br />
includes renal artery stenosis (RAS) and ischemic<br />
nephropathy such as atherosclerotic obstruction,<br />
thromboembolic phenomenon and nephrosclerosis secondary<br />
to hypertension (HTN). RVD along with diabetes<br />
mellitus (DM) is the main cause (50% to 66%) of<br />
1<br />
Division of Cardiology, University of Florida, Shands Jacksonville,<br />
FL, USA.<br />
Correspondence: Marco A Costa. Assistant Professor of Medicine,<br />
Division of Cardiology. Director of Research & Cardiovascular Imaging<br />
Core Laboratories. 655 west 8th street - Cardiovascular Center.<br />
Jacksonville, FL, USA - 32209 - Tel: 904-2443098 - Fax: 904-2443102<br />
E-mail: marco.costa@jax.ufl.edu<br />
Recebido em: 21/04/2006 • Aceito em: 12/05/2006<br />
dialysis in the elderly population, according to European<br />
and American dialysis registries, respectively 1 .<br />
RAS has been defined as a 50% or greater angiographic<br />
stenosis of a renal artery (unilateral or bilateral)<br />
2,3 . RAS is often presented clinically as hypertension<br />
refractory to multiple (≥3) drug therapy or renal insufficiency.<br />
Atherosclerosis comprises more than 90% of<br />
RAS cases, while fibro-muscular dysplasia accounts<br />
for less than 10% of RAS cases 4,5 . RAS incidence increases<br />
as the population ages and with the presence of<br />
multiple co-morbid conditions 2,5,6 .<br />
Patients with RAS have been associated to poor<br />
outcomes. The presence of RAS carries a 5-fold increase<br />
in cardiovascular mortality as compared with an age-<br />
278
Costa MA, et al. Renal Artery Disease. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 278-286.<br />
matched normal population. Whether this increased<br />
risk is related to the RAS or represents a marker of<br />
more advanced and aggressive manifestation of the<br />
atherosclerosis disease process is still not clear and<br />
remains to be determined. In contrast to the scientific<br />
knowledge accumulated in the treatment of coronary<br />
disease, applying evidence-based medicine for therapeutic<br />
decision making in patients with RAS remains<br />
controversial and it is largely based on non-comprehensive<br />
or retrospective studies. With those limitations<br />
in mind, we will describe the pathophysiology, diagnosis,<br />
and therapeutic options available for patients with RAS.<br />
FIBROMUSCULAR DYSPLASIA<br />
Fibromuscular dysplasia (FMD) is a rare, non-inflammatory<br />
vascular disease resulting from dysplasia of the<br />
tunica media with preservation of the intima, internal<br />
elastic lamina and adventitia. The pathognomonic sign<br />
is the presence of peri-medial infiltration by elastic<br />
tissue leading to focal stenosis, which angiographically<br />
appears as a string of beads 5,7,8 . The renal artery is the<br />
most commonly affected by FMD, but other arterial<br />
beds such as the carotids and extremities may be<br />
involved 5-9 . The etiology of FMD is unclear. A genetic<br />
preponderance has been reported and is thought to<br />
be inherited as autosomal dominant with decreased<br />
male penetrance 5,7-10 .<br />
In cases of FMD affecting the renal arteries, the<br />
involvement is generally unilateral with bilateral involvement<br />
being less common. The most common site of<br />
lesion in renal artery is mid and distal segment 7,8 . History<br />
of cigarette smoking and hypertension (HTN) has been<br />
associated with FMD 11 . FMD of the renal arteries is usually<br />
found in young female patients in the 15-50 year-old<br />
range, with clinical presentations that may vary from<br />
sudden onset of HTN - refractory to medication -, flash<br />
pulmonary edema, renal insufficiency, or with unilateral/<br />
bilateral small size kidneys 5,6,8 . In rare cases, patients with<br />
FMD may present end stage renal disease (ESRD).<br />
ATHEROSCLEROTIC RENAL ARTERY STENOSIS<br />
Atherosclerotic renal artery stenosis (ARAS) is a<br />
progressive disease, which if left untreated, may lead<br />
to ESRD and death 2,12-16 . Irreversible ischemic kidney<br />
disease is more likely to occur with more severe degree<br />
of stenoses. In addition, progression to renal artery<br />
occlusion will occur in 16% of patients within one to<br />
three years after being diagnosed with ARAS 12 .<br />
The incidence of ESRD secondary to RVD is increasing<br />
at a faster rate than any other cause of ESRD 14 .<br />
The exact incidence and prevalence of RAS remains<br />
unclear, as earlier reports are likely to have underestimated<br />
the true incidence of this disease. The incidence<br />
of RAS seems to be higher in the elderly population,<br />
and associated with other co-morbidities such as coronary<br />
artery disease (CAD), congestive heart failure<br />
(CHF), peripheral vascular disease (PVD), cerebrovascular<br />
disease (CVA), HTN, DM, dyslipidemia, obesity and<br />
smoking 2,5,6,15-20 . An autopsy series from Japan involving<br />
346 adult patients who had CVA found ARAS with<br />
stenosis rate at 75% or higher in 36 patients (10.4%) 16 .<br />
In ARAS, lesion morphology is typically eccentric and<br />
found in the ostium or the proximal segment of the<br />
renal arteries, unlike the mid and distal segment preferential<br />
location of FMD (Table 1) 5,8,21 .<br />
The obstructive lesion in the renal artery can cause<br />
renal hypoperfusion resulting in decreased shear stress<br />
in the afferent arterioles, and glomerular filtration rate<br />
(GFR). Glomerular hypoperfusion can lead to a cascade<br />
of events ultimately ending in renal dysfunction and<br />
failure. Decrease in renal perfusion will cause the release<br />
of renin and angiotensin II, resulting in the constriction<br />
of glomerular efferent arterioles. Renin-angiotensin II<br />
activation acts on the adrenal gland, and releases antidiuretic<br />
hormone (ADH) and aldosterone enzyme. The<br />
release of these enzymes results in sodium (Na) and<br />
water re-absorption along with potassium wasting in<br />
the distal convoluted tube and collecting ducts 5,6,21 .<br />
DIAGNOSIS OF RENAL ARTERY STENOSIS<br />
The gold standard diagnostic modality of RAS<br />
remains X-ray arteriography. However, new non-invasive<br />
imaging modalities such as magnetic resonance image<br />
(MRI) and multi-slice computed tomography (MSCT)<br />
have recently emerged as good alternatives with high<br />
specificity and sensitivity. Suspicion level plays a key<br />
role in selecting the right screening test for RAS. Patients<br />
with high probability of having RAS should be considered<br />
for renal evaluation (Table 1).<br />
In the context of cardiac catheterization, if the procedure<br />
can be performed without much increment in contrast<br />
load or procedural time, and if the cathlab is equipped<br />
with digital subtraction, it seems adequate to perform<br />
renal angiography for RAS screening in the same setting<br />
in this patient subset (Table 1), as the risk associated<br />
with RAS outweighs procedural complication risk.<br />
Blood tests such as renal function and cholesterol<br />
profile are beneficial to a certain degree; however, the<br />
yield is low. There have been some data suggesting<br />
the usefulness of high sensitive C reactive protein (hsCRP)<br />
and brain natriuretic peptide (BNP) 23 . Elevated BNP<br />
levels were found in patients with severe RAS, which<br />
decreased after successful intervention 24 . In addition,<br />
patients with pre-intervention BNP levels greater than<br />
80 pg/ml responded well to revascularization 24 .<br />
Plasma Renin Activity<br />
Patients with RAS would generally have an elevated<br />
level of plasma renin activity (PRA), but this is not<br />
always true. Plasma renin activity measurement has<br />
low sensitivity and was found to be elevated in 50%<br />
to 80% of the patients suffering from RAS 21,25-29 .<br />
279
Costa MA, et al. Renal Artery Disease. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 278-286.<br />
TABLE 1<br />
Clinical Characteristics of Renal Artery Stenosis (RAS)<br />
Fibromuscular Dysplasia:<br />
• Younger hypertensive patients (15 to 50 years old)<br />
• Female patients<br />
• Associated co-morbid condition (smokers)<br />
• Lesion found in mid and distal segments of renal artery<br />
• Rarely present in renal insufficiency<br />
• Less likely to have bilateral involvement<br />
Atherosclerotic Renal Artery Stenosis (ARAS):<br />
• Older population (50 year-old and older)<br />
• Male patients<br />
• Associated co-morbid condition (CAD, PVD, DM, smokers)<br />
• Ostial or proximal segment location<br />
• More likely to be associated with renal insufficiency or ESRD<br />
• More likely to have bilateral involvement<br />
Clinical Features/Findings of RAS:<br />
• Sudden onset of hypertension (In young patient with suspicion of FMD; in older patient with suspicion of ARAS)<br />
• Drug refractory hypertension (≥3 drugs)<br />
• Unexplained or sudden worsening of renal function<br />
• Episodes of Flash pulmonary edema 22<br />
• Azotemia induced by angiotensin converting enzyme inhibitor (ACEI)<br />
• Flank Bruit<br />
• Asymmetric kidneys (1.5 cm or greater difference between the kidneys on renal ultrasound)<br />
• Malignant, accelerated, or resistant hypertension<br />
• Unexplained size discrepancy of >1.5 cm between kidneys<br />
• Cardiac disturbance syndrome (flash pulmonary edema)<br />
• Peripheral arterial disease<br />
• Multivessel coronary artery disease<br />
Captopril Challenge Test<br />
The administration of captopril (short acting ACEI)<br />
an hour before drawing blood to test plasma renin<br />
activity showed improved sensitivity and specificity 26-29 .<br />
However, in cases of low to normal plasma renin activity<br />
captopril challenge results in false negatives, even in the<br />
presence of RAS 25-29 . Test sensitivity varies from 67% to<br />
96%, and specificity from 40% to 80% 21,25-29 .<br />
Captopril Renography<br />
Captopril Renography is a non-invasive renal scan<br />
performed using technetium [99m], Tc-diethylenetriaminepentacetic<br />
acid (DTPA) or [99m] Tc-mercaptoacetyl<br />
triglycerine (MAG3) 21 . Both radioisotopes are safe to<br />
be used in patients with renal failure. Test sensitivity<br />
is increased by giving captopril 25 mg to 50 mg one<br />
hour prior to radioisotope injection. The ACEI induced<br />
decline in GFR in the stenotic kidney is thought to be<br />
compensated by an increase in normal contra lateral<br />
kidney perfusion. Test sensitivity and specificity have<br />
been reported in the 80% to 100% and 70% to 92%<br />
ranges, respectively 28,30,31 .<br />
A positive scan shows a decreased uptake of the<br />
affected kidney, accounting for less than 40% uptake of<br />
tracer (marker for GFR), or when there is delayed uptake<br />
time in the renals (normal uptake time is 3 to 4 minutes)<br />
or a difference of 1 minute in transit time between the<br />
two kidneys 32 . However, this test is limited because of<br />
potential bilateral involvement of RAS, as it relies on<br />
differences in renal perfusion between the kidneys.<br />
Duplex Doppler Ultrasonography<br />
Duplex Doppler ultrasonography is a less expensive,<br />
non-invasive test providing both anatomical and functional<br />
assessment. Sensitivity and specificity are reported in<br />
the range of 80% to 98% 31,33 . Measured parameters include<br />
kidney size, kidneys symmetry or asymmetry, direct<br />
visualization of the renal artery and doppler blood flow<br />
velocities, which provide details of the degree of stenosis.<br />
A peak systolic velocity greater than 180 cm per second<br />
and/or renal/aortic ratio greater than 3.5 is suggestive of<br />
greater than 60% stenosis RAS 33 . Test limitations are: it is<br />
time consuming (more than 1 hour) and it is highly<br />
operator-dependent, with a steep learning curve.<br />
280
Costa MA, et al. Renal Artery Disease. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 278-286.<br />
Magnetic Resonance Angiogram and<br />
Computed Tomography<br />
MRA is a non-invasive imaging technique used<br />
extensively in screening for RAS. MRA represents an<br />
ideal diagnostic method due to high sensitivity and<br />
specificity, reasonable accuracy in predicting the degree<br />
of stenosis, for being radiation-free, and not requiring<br />
the use of nephrotoxic contrast agents. It is particularly<br />
useful in screening high-risk individuals with renal<br />
failure. Gadolinium contrast enhanced MRA provides<br />
further improvement in image quality 34 .<br />
Spiral CT scan is another non-invasive test used<br />
widely in the diagnosis of RAS. Spiral CT is easily<br />
accessible and takes less than a minute to perform.<br />
However, spiral CT uses ionizing radiation, and the<br />
contrast agent (iodine based) required amount is about<br />
100 to 150 cc, which makes it less desirable for patients<br />
with impaired renal function.<br />
There have been multiple studies and even a metaanalysis<br />
reporting sensitivity and specificity as high as<br />
90% for MRA and MSCTA of the renal arteries 34-40 .<br />
However, others have reported lower sensitivity for<br />
both MRA and CTA 38 in the 60% range and specificity<br />
between 84% and 92%, respectively. A prospective,<br />
multicenter, comparative study involved 356 patients<br />
who underwent all three tests: MSCTA, MRA and Digital<br />
subtraction angiogram (DSA). The study confirmed<br />
both non-invasive techniques high specificity, but still<br />
not comparable to DSA, thus supporting the concept<br />
that invasive angiography remains the gold standard<br />
for diagnosis of renal artery stenosis 38 .<br />
In our clinical practice, MRA is usually performed<br />
as a first diagnostic step for patients with suspicion of<br />
RAS (Table 1) due to the non-invasive nature and high<br />
specificity of this technique. In addition, important additional<br />
information can be obtained, such as the presence<br />
of polar accessory branches and the evaluation of<br />
aortic disease in case further treatment is to be indicated.<br />
Our group has validated a new quantitative method<br />
(QMRA-CMS software, Medical Imaging Systems, Leiden,<br />
Netherlands) to measure vascular dimensions based<br />
on MRA images. The reproducibility and accuracy of<br />
determining the severity of stenosis, particularly at the<br />
iliac and common femoral arteries, was equal to or<br />
superior to quantitative vascular angiography (QVA).<br />
QMRA measurements of stenosis agreed well with QVA,<br />
but did tend to underestimate lesion severity by a<br />
mean bias of 2.47%.<br />
Renal Arteriogram<br />
Renal arteriogram is the current gold standard in<br />
the diagnosis of RAS. It is an invasive procedure and<br />
uses an iodine based contrast agent, which can be<br />
nephrotoxic. However, the side effects are minimized<br />
by using low-osmolar agents, low volume of contrast,<br />
intravenous hydration (12 hours prior to and after the<br />
angiogram) and the use of digital subtraction 41 . Noniodine<br />
based contrast such as carbon dioxide gas (CO 2<br />
),<br />
gadolinium, and gadodiamide have been used in diagnosis<br />
and in percutaneous treatment of RAS 42-45 . However,<br />
angiography with selective injections using high quality<br />
digital subtraction images (>7Frames/sec) can be performed<br />
with very low amounts (
Costa MA, et al. Renal Artery Disease. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 278-286.<br />
remains a challenge. Most indices, including renal artery<br />
resistive index (RI) measured by Doppler ultrasound,<br />
pose limitations. In most institutions, including ours,<br />
patient selection for intervention has been the following.<br />
• Ostial or proximal stenosis of 70% or greater,<br />
• Drug Refractory blood pressure,<br />
• Progressive renal insufficiency/failure,<br />
• Episodes of flash pulmonary edema,<br />
• Documented >20mmHg systolic gradient across<br />
stenosis, measured with pressure wire or ≤4F glide catheter.<br />
Surgery<br />
Surgical treatment for RAS has been significantly<br />
reduced after safe and widespread availability of less<br />
invasive percutaneous transluminal angioplasty (PTA),<br />
even at high operative volume centers. Unlike carotid<br />
or lower extremity diseases, little debate exists regarding<br />
the benefit of percutaneous versus surgical revascularization<br />
for RAS. Surgery remains a good alternative for<br />
patients who failed PTA of the RAS and for patients<br />
who have renal artery aneurysm, complex stenosis of<br />
the distal branches (30% of FMD cases) and branch<br />
and ostial atherosclerotic renal artery disease 5 4,55 . Surgical<br />
treatment methods involve surgical endarterectomy, auto<br />
transplantation in rare cases, and the bypass of the<br />
stenotic lesions using autogenous grafts and sometimes<br />
Dacron or PTFE grafts 54,56 . Operative mortality rates<br />
range from 2% to 9% 54-58 .<br />
Increased mortality rates are associated to elevated<br />
creatinine levels, presence of co-morbid conditions such<br />
as coronary artery disease and surgery involving the<br />
repair of an aortic aneurysm and simultaneous bilateral<br />
RAS repair 54-58 . A main cause of perioperative and late<br />
mortality is myocardial infarction 54,58 . Early graft thrombosis<br />
has been reported to occur in about 2% of patients<br />
who undergo surgical correction 55 . Seventy to eighty<br />
percent of the patients treated with corrective surgery<br />
had a significant decrease in blood pressure and preservation<br />
of renal function, especially in patients with FMD 54-58 .<br />
Long-term graft patency is reported to be as high as 90%<br />
in RAS patients who underwent surgery 54 .<br />
Percutaneous Transluminal Renal<br />
Angioplasty (PTRA)<br />
Percutaneous transluminal renal angioplasty (PTRA)<br />
is the invasive treatment of choice for RAS patients<br />
refractory to medical therapy. A Swedish study showed<br />
lower mortality in the PTRA group (2%) when compared<br />
to patients who had surgery (9%) 59 . PTRA was first introduced<br />
in the late 1970’s, while stents became available<br />
in the early 1990’s. Restenosis rate with balloon dilation<br />
can be as high as 50%, with atherosclerotic aorto-ostial<br />
lesions having the highest incidence of restenosis, most<br />
likely due to significant elastic recoil 60-62 . Angioplasty<br />
remains the therapy of choice for patients with FMD,<br />
with low restenosis rates. A case of recurrent FMD<br />
post-angioplasty is shown in Figures 1 and 2. The<br />
young female patient had worsening of HTN, which<br />
had improved after the first PTRA procedure. The patient<br />
Pre intervention<br />
Post stent<br />
Figure 1 - Angiography of the Rt. Renal artery shows segmental lesion appearing as a chain of lakes suggestive of FMD. The patient was<br />
already treated with balloon angioplasty a year before, and presented new onset of uncontrolled HTN. Pressure gradient across the lesion<br />
measured by means of pressure wire was 24 mmHg pre-stenting and 3mmHg post-stenting. Stent was performed due to lesion recurrence. Notice<br />
the post-stenting angiographic resolution of the lesion in proximal renal artery.<br />
282
Costa MA, et al. Renal Artery Disease. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 278-286.<br />
A<br />
B<br />
C<br />
D<br />
E<br />
Figure 2 - IVUS images of the Rt. Renal artery show focal aneurysms and normal vessel anatomy in between the lesions. Notice the lack<br />
of plaque burden in the long axis image of the renal artery.<br />
was referred to our hospital for re-evaluation due to<br />
the same complaints of worsening HTN. Pressure wire<br />
and IVUS were used to document physiologically significance<br />
and extension of disease.<br />
The use of stents in RAS significantly decreased<br />
restenosis rates, which now ranges between 5% and<br />
15% 59-64 . Higher restenosis rates have been associated<br />
to gold-coated stents. Pre-intervention vessel diameter<br />
appeared as one of the main determinants of longterm<br />
patency. Vessels with a greater than 7mm diameter<br />
reported no restenosis; vessels with a less than 4 mm<br />
diameter reported the highest incidence of restenosis:<br />
15% after stent implantation 65 . Renal artery stents have<br />
also been successfully deployed in patients who had<br />
failed renal balloon angioplasty, with an 80% success<br />
rate and 17% restenosis rate 64 .<br />
Even though significant amount of information regarding<br />
better blood pressure control and improvement<br />
in renal function after renal revascularization in specific<br />
patient population has been demonstrated, data are<br />
mainly based on non-randomized studies, and life<br />
span extension after renal revascularization has not<br />
yet been proved 50,59-64 . Randomized data comparing<br />
percutaneous intervention (balloon or stent) did not<br />
report striking differences in favor of revascularization<br />
as compared with medical treatment. A modest decrease<br />
in blood pressure and in the number of blood pressure<br />
medications have been reported with no clear improvement<br />
in overall renal function 50,66,67 .<br />
However, major limitations posed to those trials<br />
have been extensively described to have very small<br />
sample size, significant crossover in the medical group,<br />
utilization of mainly balloon angioplasty with high incidence<br />
of restenosis, the use of very high profile and<br />
non-dedicated devices and the lack of appropriate<br />
definition of treatment effect. In FMD, complete normalization<br />
of blood pressure is seen in up to 70% of<br />
patients, who were treated with angioplasty alone 68 .<br />
Regarding improvement in renal function, the information<br />
is less clear. In some studies, there has been no<br />
significant improvement or even worsening of renal<br />
function 59,60,63,64,69 . However, studies have shown that renal<br />
intervention might delay the progression of renal failure<br />
and requirement for dialysis 70 . Post-stent management of<br />
renal arteries involves aggressive treatment of hypertension,<br />
lipid-lowering drugs, along with aspirin. The use of adjunctive<br />
clopidogrel remains controversial, with no studies<br />
addressing this issue through a scientific approach.<br />
Complication rate reported during PTRA is below<br />
5% 61 . Most common complications are bleeding or<br />
hematoma. Renal complications are very infrequent,<br />
and include perforations, dissection and atheroembolic<br />
phenomenon, stent thrombosis and ultimately renal<br />
failure and nephrectomy 60-62,65,68-70 . Proper sizing of the<br />
stent using quantitative measurements and progressive<br />
balloon inflation with continuous monitoring of flank<br />
pain, usually caused by the stretching of the adventitia<br />
layer, to determine the upper threshold for balloon<br />
inflation may decrease the chance of perforation.<br />
TECHNICAL ASPECTS OF RENAL<br />
ARTERY STENTING<br />
The issue of embolism during intervention remains<br />
unproven for renal artery. However, one should expect<br />
that a similar phenomenon - well documented in carotid<br />
and coronary arteries - should occur when treating the<br />
283
Costa MA, et al. Renal Artery Disease. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 278-286.<br />
bulky aorto-ostial lesions in the renal arteries. Furthermore,<br />
the deterioration in renal function observed in<br />
25% of patients, despite a successful procedure, may<br />
suggest that embolism is indeed frequent during renal<br />
artery intervention. Thus, distal protection devices designed<br />
for coronary or carotid treatment have been applied<br />
off label in the renal arteries. Holden et al. 71 reported<br />
the use of Angioguard filter device during stenting and<br />
found visible debris in 65% of the cases, in a retrospective<br />
series with patients who had abnormal renal<br />
function. Anatomical limitation, vessel size, and appropriate<br />
length to land the device remain a major limitation<br />
and potential source of vascular complication.<br />
Judicious technique, with minimal touch approaches,<br />
remains the best strategy to avoid embolism. In our<br />
experience, access to the renal artery is performed<br />
using a 4F IMA 90 cm long diagnostic catheter, placed<br />
inside a 6F RDC short guiding catheter. This assembled<br />
system is inserted and the ostium of the renal artery is<br />
cannulated with the IMA catheter. A 0.014” guide wire<br />
is advanced across the stenosis. The Guiding catheter<br />
is advanced right up to the ostium over the IMA catheter<br />
providing support. The IMA catheter is removed and<br />
the procedure is performed in the usual fashion. In<br />
addition, we have systematically applied the technique<br />
of direct stenting, using 6F-guiding catheters as opposed<br />
to sheaths, and 0.014” wires and monorail systems. In<br />
the past 100 renal stenting procedures using this strategy,<br />
no case of deterioration of renal function was reported.<br />
Certainly, such anecdotal experience does not provide<br />
the scientific basis for advocating this strategy to prevent<br />
embolism during renal intervention. However, minimizing<br />
vascular injury has been one of most important<br />
paradigms in interventional cardiology when working<br />
in the coronaries and carotid arteries. Therefore, the<br />
use of such concepts in the renal arteries seems to be<br />
a rational approach.<br />
Our group and others are participating in the Cardiovascular<br />
Outcomes in Renal Atherosclerotic Lesions<br />
(CORAL) trial comparing best medical therapy to renal<br />
artery stent placement in hypertensive patients with<br />
renal artery stenosis. Embolic protection devices will<br />
be used, if anatomically feasible, in all renal stent<br />
patients. The results of this study are highly anticipated.<br />
Although CORAL will not provide information regarding<br />
the usefulness of distal protection devices, it is expected<br />
to represent the first real scientific evidence of the<br />
benefit of renal artery revascularization using stents.<br />
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Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 287-291.<br />
Souza JAM, Alves CMR. Estado da Arte no Tratamento do Aneurisma da Aorta Abdominal. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 287-291.<br />
Artigo de Revisão<br />
Estado da Arte no Tratamento do Aneurisma<br />
da Aorta Abdominal<br />
José Augusto Marcondes de Souza 1 , Claudia M. Rodrigues Alves 1<br />
RESUMO<br />
A correção cirúrgica das doenças da aorta ainda apresenta<br />
desafios. A conduta endovascular é considerada, atualmente,<br />
uma alternativa potencial para a mortalidade e a morbidade<br />
associadas ao tratamento do aneurisma da aorta abdominal<br />
com cirurgia a céu aberto. Pacientes com indicação clínica<br />
dos quadros a seguir devem ser considerados para a conduta<br />
intervencionista: aneurisma maior que 5,5 cm de diâmetro,<br />
sinais de ruptura ou isquemia do órgão. A decisão pela<br />
escolha do tratamento endovascular depende de características<br />
anatômicas adequadas. Os índices de sucesso do procedimento<br />
estão entre 80 e 90%, com taxas de complicação<br />
aceitáveis. Os pacientes devem ter acompanhamento rigoroso,<br />
pois algumas complicações – como endovazamento e ruptura<br />
tardios – podem ocorrer.<br />
DESCRITORES: Aneurisma da aorta abdominal. Implante<br />
de prótese vascular. Contenedores.<br />
SUMMARY<br />
State-of-the-Art in Abdominal Aortic<br />
Aneurysm Treatment<br />
The surgical treatment of aortic diseases is still challenging.<br />
Endovascular approach is being considered as a potential<br />
alternative to mortality and morbidity associated to the<br />
open surgical abdominal aortic aneurysm treatment. Patients<br />
with clinical indication as: aneurysms larger than 5.5 cm<br />
in diameter, signs of rupture or end-organ ischemia should<br />
be considered for interventional approach. The decision to<br />
choose endovascular treatment depends on suitable anatomical<br />
features. Success rates of the procedure are around 80%-<br />
90%, with acceptable complication rates. Close surveillance<br />
of these patients is mandatory as complications as late<br />
endoleak and late rupture are possible.<br />
DESCRIPTORS: Aortic aneurysm, abdominal. Blood vessel<br />
prosthesis implantation. Stents.<br />
Adilatação aneurismática da aorta tem se tornado<br />
problema prevalente principalmente em decorrência<br />
da maior longevidade da população e,<br />
conseqüentemente, maior incidência da doença aterosclerótica<br />
e, também, da maior disponibilidade dos<br />
exames de screening. De todos os segmentos aórticos,<br />
é na aorta abdominal que a dilatação aneurismática se<br />
faz mais freqüente.<br />
Considera-se aneurisma vascular toda vez que o<br />
calibre do vaso ultrapassa em 50% o seu diâmetro<br />
usual. A aorta abdominal ao nível das artérias renais<br />
apresenta diâmetro habitual de 2,0 cm e, portanto,<br />
considera-se aneurisma da aorta abdominal (AAA) diâmetros<br />
acima de 3,0 cm.<br />
Para o tratamento do AAA é fundamental o conhe-<br />
1<br />
Setor de Cardiologia Intervencionista da Universidade Federal de<br />
São Paulo – Escola Paulista de Medicina, São Paulo, SP.<br />
Correspondência: José Augusto Marcondes de Souza. Rua Borges<br />
Lagoa, 564 - Cj. 93. Vila Clementino, São Paulo, SP, Brasil.<br />
CEP 04038-001 - E-mail: jamarcondes@uol.com.br<br />
Recebido em: 27/01/2006 • Aceito em: 20/02/2006<br />
cimento da sua história natural. Freqüentemente, o<br />
diagnóstico é realizado por meio de exames de imagem<br />
solicitados por outra suspeita diagnóstica, representando<br />
um achado incidental. Menos de 20% dos<br />
AAA são sintomáticos, e a presença de sintomas, freqüentemente,<br />
representa risco de ruptura. Nesses casos,<br />
a ruptura ou a ruptura iminente é caracterizada por<br />
dor abdominal. Preconiza-se que o AAA seja tratado<br />
na fase assintomática, uma vez que o tratamento da<br />
ruptura tem alta taxa de mortalidade.<br />
O principal fator relacionado com o risco de ruptura<br />
é o diâmetro do aneurisma e é este dado que tem<br />
norteado a indicação do tratamento cirúrgico 1 . Os AAA<br />
com diâmetros inferiores a 4,0 cm raramente rompem,<br />
aqueles com diâmetros entre 6,0 a 6,9 cm têm de<br />
10-20% de chance de ruptura, em 1 ano e aneurismas<br />
acima de 8,0 cm chegam a apresentar mais de 50%<br />
de ruptura, em 1 ano. Por estes dados é que se recomenda<br />
o tratamento dos AAA acima de 5,5 cm 2 .<br />
Outro fator importante a ser levado em consideração<br />
quanto à indicação de tratamento é o ritmo de<br />
crescimento do aneurisma. Uma expansão acima de<br />
0,5 cm no diâmetro, mesmo que em um AAA menor<br />
287
Souza JAM, Alves CMR. Estado da Arte no Tratamento do Aneurisma da Aorta Abdominal. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 287-291.<br />
que 5,0 cm, em um período de seis meses, coloca-o<br />
em risco de ruptura 3 .<br />
Os seguintes fatores também estão relacionados<br />
ao risco de ruptura: sexo masculino, hipertensão arterial<br />
sistêmica não controlada e uso do tabaco.<br />
TRATAMENTO CIRÚRGICO<br />
O tratamento clássico do AAA consiste no reparo<br />
cirúrgico, com interposição de um tubo sintético reto<br />
ou bifurcado. Está indicado, como visto anteriormente,<br />
quando o diâmetro ultrapassa 5,5 cm, quando o<br />
ritmo de expansão é maior de 0,5 cm, em 6 meses e<br />
nos casos ruptura.<br />
O tratamento cirúrgico tem uma mortalidade média<br />
de 4-6%, sendo de 2%, nos casos de baixo risco e de<br />
até 50%, nos casos rotos. Em dois estudos randomizados<br />
que compararam o tratamento cirúrgico com<br />
tratamento expectante de aneurismas com menos de<br />
5,4 cm de diâmetro, a mortalidade peri-operatória foi<br />
de 2,7% e 5,8%, respectivamente 4,5 .<br />
A mortalidade não só está relacionada com a urgência<br />
do procedimento, mas também com a presença de<br />
comorbidades como a doença aterosclerótica coronária,<br />
doença pulmonar e insuficiência renal. Portanto, no planejamento<br />
cirúrgico do paciente assintomático, deve-se<br />
levar em conta a relação risco/benefício desta intervenção.<br />
TRATAMENTO PERCUTÂNEO<br />
Apresenta-se como uma modalidade terapêutica<br />
menos invasiva, com potencial de reduzir a morbimortalidade<br />
do tratamento cirúrgico. Poderia, também,<br />
se tornar alternativa para pacientes que não são candidatos<br />
ao tratamento cirúrgico e, potencialmente, ser<br />
uma alternativa mais econômica.<br />
Endopróteses<br />
A maioria das próteses disponíveis no mercado é<br />
feita de uma estrutura tubular metálica de aço ou<br />
nitinol, que é recoberta por poliéster ou PTFE e compri-<br />
mida em um cateter de liberação (Figura 1). Esta estrutura,<br />
ao ser liberada, expande-se para o tamanho original,<br />
não permitindo a partir daí seu reposicionamento.<br />
Dez por cento dos AAA estão restritos ao terço médio<br />
da aorta infra-renal, possibilitando a utilização de uma<br />
endoprótese reta. Na maioria das vezes, o aneurisma<br />
se estende até a bifurcação e não raramente compromete<br />
o terço proximal das artérias ilíacas e, nesses<br />
casos, é necessária a utilização de uma endoprótese<br />
bifurcada. Uma vez liberada, a prótese pode ainda ser<br />
dilatada com um cateter-balão, para completa aposição<br />
na parede vascular. O calibre do cateter de liberação<br />
ainda é alto e varia de 20 a 24 French, para o corpo<br />
principal e 17 French, para as extensões ilíacas, impedindo<br />
a sua colocação por punção e exigindo a dissecção<br />
cirúrgica. Um fio-guia de alta rigidez é posicionado<br />
na aorta ascendente e serve de “trilho” para a progressão<br />
do cateter até o nível da lesão.<br />
A escolha da prótese é realizada a partir das medidas<br />
obtidas na avaliação das imagens diagnósticas (tomografia<br />
computadorizada ou ressonância nuclear magnética)<br />
e de sua confirmação na sala de hemodinâmica,<br />
durante o procedimento. A prótese escolhida deve ser<br />
de diâmetro 10 a 20% maior que o colo de liberação.<br />
Devemos dar preferência ao diâmetro aórtico observado<br />
na tomografia para a escolha da prótese, quando<br />
as medidas forem discordantes.<br />
Procedimento<br />
O procedimento pode ser realizado no laboratório<br />
de hemodinâmica ou no centro cirúrgico, sempre<br />
equipados com um bom sistema de imagens digitais.<br />
Habitualmente, a anestesia regional com bloqueio peridural<br />
é suficiente.<br />
O acesso vascular para introdução da prótese é<br />
obtido por dissecção cirúrgica das artérias femorais. O<br />
controle angiográfico é também feito por uma destas<br />
vias. Os pacientes não precisam ser submetidos à<br />
hipotensão por nitroprussiato de sódio, momentos antes<br />
da liberação da prótese, como nos casos de aneurismas<br />
torácicos.<br />
A<br />
Figura 1 - Modelos de endoprótese tubular e reta (A); Dispositivo contendo a endoprótese no seu interior (B).<br />
B<br />
288
Souza JAM, Alves CMR. Estado da Arte no Tratamento do Aneurisma da Aorta Abdominal. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 287-291.<br />
Após a dissecção cirúrgica da artéria femoral, um<br />
fio-guia extra-stiff 0,035 polegadas, 260 cm (p. ex.:<br />
Amplatz SuperStiff Ex,.35/260 – Boston Scientific – Med-<br />
Tech ou similar), é avançado até a raiz da aorta. Tal<br />
fio é obrigatório, pois confere a necessária rigidez<br />
para “tolerar” o peso da prótese e permite retificar<br />
pequenas angulações.<br />
Por meio de marcações anatômicas bem definidas,<br />
como a origem das artérias renais, identifica-se o local<br />
de liberação da prótese, sendo que, idealmente, cerca<br />
de 4 a 5 cm proximais à lesão sejam cobertos pela<br />
mesma. A utilização de uma gaiola proximal sem cobertura<br />
de poliéster é a regra e esta gaiola, habitualmente,<br />
é liberada sobre as artérias renais.<br />
A endoprótese é liberada através do recuo da<br />
bainha protetora, mantendo-se a estrutura da prótese<br />
imóvel até sua completa expansão. Uma vez liberado<br />
o corpo principal da endoprótese bifurcada, cada um<br />
dos ramos ilíacos também o é.<br />
A qualidade da angiografia após a liberação da<br />
prótese é de grande importância para se determinar o<br />
sucesso do procedimento. A presença de vazamentos,<br />
nas extremidades do stent (tipo I) ou nas junções entre<br />
eles (tipo III), são determinantes de insucesso e devem<br />
ser tratados com pós-dilatação com balões ou implante<br />
de nova endoprótese. Vazamentos que ocorram<br />
através da malha são tolerados, especialmente no período<br />
imediatamente após a sua liberação (tipo IV), e se<br />
devem à incompleta coagulação da endoprótese.<br />
Avaliação Inicial<br />
Apesar da maioria dos AAA ser infra-renal, apenas<br />
50% deles são passíveis de tratamento percutâneo por<br />
questões anatômicas. A adequada avaliação anatômica<br />
é fundamental para o sucesso do procedimento e baseia-se<br />
em imagens obtidas por meio de tomografia<br />
computadorizada (CT) ou ressonância nuclear magnética.<br />
A ultra-sonografia e a angiografia clássica apresentam-se<br />
limitadas, por serem incapazes de fornecer detalhes<br />
anatômicos importantes.<br />
A CT fornece imagens adequadas, tanto da luz<br />
quanto da parede vascular, e também medidas precisas<br />
dos diâmetros vasculares (Figura 2). Na correta obtenção<br />
destes diâmetros, deve se tomar cuidado com a<br />
presença de tortuosidade do vaso. A angiografia por<br />
CT com reconstrução tridimensional permite uma melhor<br />
visualização da aorta e de suas tortuosidades, permitindo<br />
mensurações mais acuradas. Para os pacientes com<br />
contra-indicação à CT (freqüentemente relacionada ao<br />
uso do contraste), a ressonância nuclear magnética<br />
fornece informações semelhantes e é uma alternativa.<br />
Colo proximal: deve estar, pelo menos, 1 cm distal<br />
à artéria renal mais baixa, deve ter diâmetro próximo<br />
ao da aorta normal e deve estar sem trombos. É neste<br />
segmento que se fará o apoio da porção proximal da<br />
endoprótese. A fixação supra-renal da endoprótese<br />
com uma “gaiola” descoberta facilita esta fixação. A<br />
presença de calcificação acentuada neste segmento<br />
dificulta a sua fixação.<br />
Colo distal: é o segmento distal ao aneurisma que<br />
apresenta segmento vascular de diâmetro normal, sem<br />
trombo. Pode estar localizado na aorta distal, porém<br />
mais freqüentemente se dá nas artérias ilíacas, obrigando<br />
a utilização de uma prótese bifurcada.<br />
Diâmetro do aneurisma: alguns estudos mostram<br />
que AAAs com grandes diâmetros (>6,5 cm) apresentam<br />
maiores taxas de complicação pós-procedimento.<br />
Angulação: a presença de angulação do eixo vertical<br />
da aorta maior que 60° está relacionada a maior<br />
dificuldade na fixação da endoprótese, favorecendo o<br />
aparecimento de vazamento, migração e, por conseguinte,<br />
levando ao procedimento ao insucesso.<br />
Artérias ilíacas: é freqüentemente o ponto de escolha<br />
para o ancoramento distal da endoprótese. Deve<br />
ser feito, preferentemente, nas artérias ilíacas comuns,<br />
porém, em casos excepcionais, como presença de<br />
dilatação de uma das artérias ilíacas comuns, pode se<br />
considerar a oclusão de uma das artérias ilíacas internas,<br />
com objetivo de se buscar um colo de aterrissagem<br />
mais adequado na artéria ilíaca externa. A oclusão<br />
de ambas as artérias ilíacas internas pode ser causa de<br />
isquemia pélvica e deve ser evitada. Deve-se ressaltar<br />
que a artéria ilíaca interna ocluída pode ser fonte de<br />
fluxo sangüíneo retrógrado, com reenchimento do saco<br />
aneurismático.<br />
Artérias femorais: devem ter calibre suficiente para<br />
permitir a introdução dos dispositivos, que variam de<br />
17 a 24 Fr. Além disso, a presença de tortuosidade ou<br />
Considerações Anatômicas<br />
As endopróteses devem ser escolhidas de acordo<br />
com as características anatômicas, que variam de paciente<br />
para paciente. Devem ser considerados:<br />
Figura 2 - Angiotomografia com reconstrução tridimensional de<br />
aneurisma aórtico abdominal.<br />
289
Souza JAM, Alves CMR. Estado da Arte no Tratamento do Aneurisma da Aorta Abdominal. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 287-291.<br />
obstruções deve ser avaliada, pois podem impedir a<br />
sua progressão. Nos casos em que as artérias femorais<br />
sejam inadequadas para a sua introdução, a artéria<br />
ilíaca pode ser utilizada a partir de uma abordagem<br />
retroperitoneal.<br />
Outras considerações: trinta por cento das pessoas<br />
apresentam artéria renal acessória e a sua oclusão<br />
pode levar a um infarto renal parcial. Se a artéria<br />
mesentérica inferior estiver pérvia, a patência da artéria<br />
mesentérica superior deve ser avaliada para prevenção<br />
de isquemia mesentérica, uma vez que a artéria mesentérica<br />
inferior vai ser ocluída pela endoprótese.<br />
Seguimento Pós-Procedimento<br />
O sucesso do procedimento é definido em sala,<br />
pela completa exclusão do saco aneurismático, no<br />
controle angiográfico convencional (Figura 3). No primeiro<br />
dia de pós-operatório, o paciente deve ser submetido<br />
a radiografia de abdome e a CT de controle. Estes<br />
exames devem ser repetidos a cada seis meses, no<br />
primeiro ano e, anualmente, após. Outro recurso de<br />
valor no seguimento destes pacientes é a ultra-sonografia<br />
abdominal. Espera-se, além da exclusão do saco aneurismático,<br />
diminuição do diâmetro do aneurisma, que<br />
ocorre em até 50% dos pacientes.<br />
Complicações<br />
Lesão vascular: relacionada, principalmente, à passagem<br />
da endoprótese pelo sistema ilíaco-femoral.<br />
Vazamento (Endoleak): definido como a presença de<br />
contraste dentro do saco aneurismático, observado após<br />
o implante da endoprótese. Pode ser de quatro tipos:<br />
• TIPO I: é o vazamento que ocorre pelos pontos<br />
de ancoragem, proximal ou distal, da endoprótese e<br />
está presente em até 10% dos implantes 6 . Pode ser<br />
imediato ou tardio e está relacionado à presença de<br />
trombo, de cálcio ou de irregularidades no segmento<br />
Figura 3 - Tomografia pós-operatória mostrando exclusão do saco<br />
aneurismático.<br />
de ancoragem. Este tipo de endoleak determina reintervenção<br />
do aneurisma, cirúrgica ou endovascular.<br />
• TIPO II: é o reenchimento do saco aneurismático<br />
por meio de fluxo sangüíneo proveniente de vasos<br />
que se originavam do aneurisma. Pacientes com este<br />
tipo de complicação devem ser monitorizados mais<br />
freqüentemente e reintervenções estão indicadas quando<br />
do aumento do volume do saco aneurismático. Devese<br />
salientar que, não raramente, este tipo de vazamento<br />
resolve-se espontaneamente.<br />
• TIPO III: é o vazamento que ocorre por disjunção<br />
entre os módulos da prótese. São habitualmente corrigidos<br />
com a interposição de uma nova endoprótese.<br />
• TIPO IV: é aquele que ocorre por passagem de<br />
sangue através da malha da endoprótese. Freqüentemente<br />
observado imediatamente após o implante, resolve-se<br />
espontaneamente com a impregnação da malha<br />
da endoprótese por elementos figurados do sangue,<br />
após reversão da anticoagulação.<br />
Síndrome pós-implante: Caracterizada pela presença<br />
de febre, leucocitose e elevação das provas inflamatórias,<br />
na ausência de infecção diagnosticada. Ocorre<br />
nos primeiros 10 dias pós-implante e é mediada por<br />
ativação de mediadores inflamatórios, como a interleucina-6.<br />
Deve ser tratada com administração de agentes<br />
antiinflamatórios.<br />
Resultados Clínicos<br />
Na nossa série 7 de 105 pacientes consecutivos<br />
tratados por AAA, obtivemos uma taxa de sucesso de<br />
implante da endoprótese de 97,2%. Nossos pacientes<br />
eram, predominantemente, do sexo masculino (89%),<br />
com idade média de 72 anos e com diâmetro médio<br />
do aneurisma de 5,9 cm. Setenta e sete por cento dos<br />
pacientes eram assintomáticos e 10% se apresentaram<br />
com aneurisma roto. Nossos procedimentos foram mais<br />
freqüentemente realizados com bloqueio anestésico<br />
da coluna espinhal (60%) e a prótese bifurcada foi<br />
empregada em 70% dos procedimentos.<br />
A taxa de mortalidade nos 30 primeiros dias de<br />
pós-operatório foi de 5,6%, próxima à observada nos<br />
principais estudos publicados 8,9 . Metade dos óbitos esteve<br />
diretamente relacionada ao procedimento. Deve se lembrar<br />
que estes números representam a experiência inicial<br />
do grupo e refletem a curva de aprendizado do procedimento,<br />
esperando-se melhores resultados no futuro.<br />
Alguns estudos comparativos entre tratamento cirúrgico<br />
clássico e endovascular, como o EVAR, mostram<br />
vantagens deste procedimento menos invasivo em relação<br />
ao procedimento cirúrgico clássico, com relação<br />
à mortalidade 10 . Este estudo e o DREAM 11 , na avaliação<br />
de curto prazo (30 dias), além de demonstrarem diminuição<br />
na mortalidade mostram, também, redução nas<br />
taxas de morbidade e de permanência hospitalar.<br />
No entanto, no seguimento de dois anos, a vanta-<br />
290
Souza JAM, Alves CMR. Estado da Arte no Tratamento do Aneurisma da Aorta Abdominal. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 287-291.<br />
gem de sobrevida obtida pelo procedimento percutâneo<br />
é atenuada pela presença de complicações relacionadas<br />
ao aneurisma, especialmente os vazamentos tardios<br />
(83,1 x 80,6% de sobrevida endovascular x cirurgia).<br />
A taxa de reintervenção no DREAM TRIAL 11 foi maior<br />
nos pacientes tratados com técnica endovascular (11%<br />
x 4%). O Estudo EVAR-1 12 mostrou que, após quatro<br />
anos de seguimento, ambas as técnicas apresentavam<br />
mortalidades semelhantes.<br />
Dados do EUROSTAR <strong>13</strong> mostram que a chance de<br />
morte por ruptura do aneurisma, em pacientes submetidos<br />
a tratamento endovascular, se situa ao redor de<br />
1%/ano e que está associada ao desenvolvimento de<br />
vazamento no período de acompanhamento. A presença<br />
de vazamento é causa de expansão do aneurisma.<br />
Não se observa, a partir de dados do sistema<br />
Medicare, dos Estados Unidos da América 14 , vantagem<br />
do tratamento endovascular com relação ao custo sobre<br />
o tratamento cirúrgico. Apesar de ser procedimento<br />
mais simples, com menor período de internação hospitalar<br />
e de permanência na unidade de terapia intensiva,<br />
o alto custo das endopróteses e dos procedimentos<br />
diagnósticos necessários para avaliação pré e pósoperatória<br />
determinam que ambos os procedimentos<br />
tenham custos semelhantes.<br />
CONCLUSÕES<br />
O tratamento endovascular do AAA é uma alternativa<br />
potencial ao tratamento cirúrgico, especialmente<br />
para os pacientes de alto risco cirúrgico.<br />
A indicação do procedimento deve incluir critérios<br />
clínicos e, principalmente, cuidadosa avaliação das<br />
características anatômicas do segmento aorto-ilíaco.<br />
Os resultados de curto prazo são bastante favoráveis<br />
ao procedimento endovascular, porém são semelhantes<br />
no médio-longo prazo aos obtidos após tratamento<br />
cirúrgico convencional. Pacientes submetidos à correção<br />
endovascular devem ser seguidos com exames<br />
clínicos e de imagem periodicamente, uma vez que as<br />
chances de reintervenção não são infreqüentes.<br />
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291
Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 292-300.<br />
Alves CMR. Tratamento Endovascular em Situações Especiais: Doenças do Tecido Conectivo, Aortites Não-Infecciosas, Aneurismas<br />
Micóticos, Aneurisma Isolado das Artérias Ilíacas e Urgências. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 292-300.<br />
Artigo de Revisão<br />
Tratamento Endovascular em Situações Especiais:<br />
Doenças do Tecido Conectivo, Aortites Não-Infecciosas,<br />
Aneurismas Micóticos, Aneurisma Isolado das Artérias<br />
Ilíacas e Urgências<br />
Claudia M. Rodrigues Alves 1<br />
RESUMO<br />
Neste artigo, revisamos os dados já publicados sobre o<br />
estado atual do tratamento endovascular em doenças aneurismáticas<br />
com dificuldades muito específicas, quer seja por<br />
sua baixa incidência, quer seja por dificuldade técnica<br />
peculiar. Desordens do tecido conectivo, aortites não-infecciosas<br />
e aneurismas micóticos, afetando a aorta torácica e<br />
abdominal, são comentados. Além disso, recordamos a ocorrência<br />
isolada de aneurisma das artérias ilíacas e as implicações<br />
para o tratamento percutâneo. Os resultados iniciais<br />
em tratamento percutâneo de urgência, na rotura traumática<br />
e não-traumática da aorta, são também relatados.<br />
DESCRITORES: Aneurisma da aorta torácica. Aneurisma<br />
da aorta abdominal. Artéria ilíaca.<br />
SUMMARY<br />
Endovascular Repair Under Special Situations: Connective<br />
Tissue Disorders, Non-infectious Aortitis, Mycotic<br />
Aneurysms, Isolated Iliac Artery Aneurysm and Emergencies<br />
The author reviews published data on the current status of<br />
endovascular therapy for rare aneurysm conditions – whether<br />
due to low prevalence or to unique technique difficulties.<br />
Connective tissue disorders, non-infectious aortitis, and mycotic<br />
aneurysm affecting thoracic or abdominal aorta are discussed.<br />
Furthermore, isolated iliac artery aneurysms and its anatomic<br />
implications for percutaneous repair are also addressed.<br />
Finally, the author addresses the early outcomes from emergency<br />
intervention in acute traumatic and non-traumatic<br />
aortic rupture.<br />
DESCRIPTORS: Aortic aneurysm, thoracic. Aortic aneurysm,<br />
abdominal. Iliac artery.<br />
Otratamento endovascular (TEV) das doenças da<br />
aorta é procedimento estabelecido para a correção<br />
das doenças da aorta torácica e abdominal,<br />
tendo, hoje, suas indicações e resultados razoavelmente<br />
definidos para os dispositivos comercialmente<br />
disponíveis 1-3 . Após mais de 10 anos de uso, da experiência<br />
de múltiplos centros, mais consenso do que<br />
dúvida tem emergido 4-7 . Entretanto, o emprego de stents<br />
aórticos pode ser criticado em situações particulares,<br />
nas quais, mesmo considerando múltiplos centros, o<br />
número de casos tratados ainda é pequeno, ou ainda,<br />
naquelas em que a própria natureza pouco conhecida<br />
da doença impede a definição de limites de atuação.<br />
Neste artigo, voltado principalmente para o car-<br />
1. Disciplina de Cardiologia – Escola Paulista de Medicina,<br />
Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP.<br />
Correspondência: Claudia M. Rodrigues Alves. R. Simão Álvares, 527,<br />
Apto 63. São Paulo, SP, Brasil. CEP 05417-030. E-mail:cmralves@uol.com.br<br />
Recebido em: 29/11/<strong>2005</strong> • Aceito em: 05/01/2006<br />
diologista clínico e intervencionista, procuraremos revisar<br />
aspectos de diagnóstico e seleção de pacientes<br />
para TEV nestas situações peculiares. Exploraremos,<br />
ainda, dados disponíveis na literatura e realizaremos<br />
reflexões sobre situações que podem não propiciar o<br />
excelente resultado observado com o uso de stents<br />
em praticamente toda a árvore vascular, como em<br />
pacientes com Síndrome de Marfan. Por outro lado,<br />
destacaremos aquelas em que seu uso significará grande<br />
redução de morbi-mortalidade (como nos casos de<br />
tratamento de aneurismas micóticos localizados ou<br />
urgências). Esta revisão procurará abordar, em especial,<br />
a doença do adulto e de localização torácica. Uma<br />
extensa bibliografia citada ajudará o leitor a aprofundar<br />
os temas abordados.<br />
DESORDENS DO TECIDO CONECTIVO:<br />
SÍNDROMES DE MARFAN E EHLERS-DANLOS<br />
Contrastando com a enorme quantidade de publicações<br />
sobre TEV em doenças da aorta, abdominal ou<br />
292
Alves CMR. Tratamento Endovascular em Situações Especiais: Doenças do Tecido Conectivo, Aortites Não-Infecciosas, Aneurismas<br />
Micóticos, Aneurisma Isolado das Artérias Ilíacas e Urgências. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 292-300.<br />
torácica, envolvendo múltiplas etiologias, na Síndrome<br />
de Marfan, observamos uma expressiva pobreza de<br />
dados. Tal fato se deve à falta de caracterização etiológica<br />
nas populações relatadas, que se soma ao pequeno<br />
número de pacientes nas séries, à grande diversidade de<br />
anatomias (incluindo variantes de dissecção) ou à freqüente<br />
exclusão de pacientes com dissecção aórtica 8-14 .<br />
A síndrome de Marfan, uma das doenças mais<br />
ameaçadoras envolvendo o sistema circulatório, é doença<br />
autossômica dominante, provocada por mais de<br />
100 diferentes tipos de mutação do gene fibrilina-1,<br />
responsáveis pela variedade de manifestações, envolvendo<br />
sistema cardiovascular, esquelético e pulmonar.<br />
Formas frustras da doença ou o fenótipo MASS (mitralaortic-skin-skeletal)<br />
podem ocorrer, sendo o critério<br />
diagnóstico baseado na concentração familiar, presença<br />
e número de alterações sistêmicas 15 . Para uma completa<br />
listagem dos critérios diagnósticos, recomendamos<br />
consulta a http://www.marfan.org. Por sua característica<br />
de doença vascular difusa na aorta, rapidamente<br />
progressiva, acometendo indivíduos em idade precoce<br />
e produtiva, muitas vezes fatal, representa também um<br />
fardo econômico e social. A ocorrência familiar é regra,<br />
geralmente desprezada nos sistemas públicos de saúde,<br />
nos quais a investigação dos parentes próximos é<br />
raramente realizada. O tratamento clássico das complicações<br />
aórticas é a substituição precoce do segmento<br />
acometido, em diâmetros menores do que os recomendados<br />
para aneurismas verdadeiros ou dissecções de<br />
outras etiologias 16 .<br />
Com relação ao uso de stents, grandes preocupações<br />
foram sempre citadas quanto à capacidade do<br />
vaso doente suportar a força radial do dispositivo,<br />
podendo provocar-se, com sua utilização, adicional<br />
dilatação ou dissecção nos segmentos justa-prótese.<br />
Nenhuma evidência pode ainda confirmar esta hipótese,<br />
mas a não utilização de exagerado oversizing, balões<br />
na pós-dilatação e bare stents nas extremidades são<br />
cuidados que têm sido recomendados 17 . Todavia, a<br />
surpreendente pobreza de relatos sobre pacientes com<br />
Marfan, especialmente com dissecção aguda, nas diversas<br />
séries publicadas sobre TEV em doenças torácicas,<br />
talvez demonstre um viés de seleção dos grupos, relacionado<br />
a maus resultados iniciais.<br />
No único relato pertinente exclusivamente a pacientes<br />
com Síndrome de Marfan, Ince et al. 18 , dentre um<br />
total de 6 pacientes, relataram 3 conversões cirúrgicas<br />
tardias e 1 morte súbita em seguimento de 51±22<br />
meses. Na nossa própria experiência, dois casos de<br />
dissecção aguda da aorta secundária à síndrome de<br />
Marfan e tratados com stents evoluíram para conversão<br />
cirúrgica precoce, por complicações provavelmente<br />
relacionadas ao stent (dissecção peri-stent).<br />
Alguns aspectos merecem destaque e só serão<br />
esclarecidos com o crescimento da experiência. Em<br />
primeiro lugar, um dos fatores que podem ter contribuí-<br />
do para resultados inadequados na evolução destes<br />
pacientes é o fato de se utilizar menores extensões de<br />
stent no tratamento percutâneo do que a dos enxertos<br />
cirúrgicos, propiciando dilatação adicional nos segmentos<br />
não protegidos por simples progressão da doença.<br />
Por este motivo, os grupos de maior experiência têm<br />
recomendado mais extensa cobertura na aorta torácica,<br />
evitando pontos de tensão <strong>13</strong>,19 . Em segundo lugar, em<br />
uma extensa revisão de tratamento cirúrgico para pacientes<br />
com desordens do tecido conectivo, esta alteração<br />
foi o único preditor independente de paresiaparaplegia<br />
em análise multivariada (OR=9,3, p=0,03) 20 ,<br />
reforçando a esperança de que o TEV possa reduzir<br />
estes índices quando comparado ao tratamento cirúrgico.<br />
Como a reoperação é freqüente na síndrome de<br />
Marfan, muitas vezes, em caráter de emergência, o<br />
TEV será, comumente, utilizado como estratégia complementar,<br />
prevendo-se complementações cirúrgicas em<br />
situação estável. De maneira oposta, a utilização de<br />
stents para tratamentos de falsos aneurismas, em anastomoses<br />
cirúrgicas prévias, é opção bastante interessante,<br />
uma vez que aborda lesão focal e restrita, livrando o<br />
paciente de nova operação 21 .<br />
Devemos fazer, ainda, uma ressalva quanto aos<br />
pacientes portadores de Síndrome de Ehlers-Danlos,<br />
conhecida pela apresentação característica de sua forma<br />
clássica, com hiperelasticidade da pele, hipermobilidade<br />
articular e fragilidade cutânea. Nos pacientes com síndrome<br />
de Ehlers-Danlos tipo IV ou tipo vascular, observa-se<br />
rotura espontânea uterina, intestinal ou vascular<br />
(artérias de médio e grande calibre). Cerca de 60 a<br />
80% dos pacientes terão apresentado uma complicação<br />
vascular até a idade de 40 anos. Muitas vezes, o<br />
diagnóstico só é feito na vigência de uma complicação<br />
hemorrágica grave e a hipermobilidade articular<br />
geralmente está ausente nestes pacientes, aumentando<br />
o desafio clínico. A melhor confirmação diagnóstica é<br />
obtida pela eletroforese, demonstrando a deficiência<br />
de pró-colágeno III, no material retirado da biópsia<br />
cutânea. Procedimentos diagnósticos invasivos (arteriografia)<br />
envolvem grande risco de lesão vascular, no<br />
local de acesso para o exame ou em vasos à distância<br />
e devem ser substituídos por avaliação angiotomográfica,<br />
quando possível. Até o momento, não se pode<br />
recomendar a utilização de stents nestes pacientes,<br />
devido à extrema fragilidade vascular e à alta probabilidade<br />
de lesão vascular pelo dispositivo 22,23 .<br />
AORTITES NÃO-INFECCIOSAS<br />
Doenças inflamatórias sistêmicas com acometimento<br />
vascular são de características clínicas e radiológicas<br />
bastante semelhantes. Acometem, preferencialmente,<br />
a aorta ascendente, sendo reduzido o número de relatos<br />
de TEV. Embora longe do escopo deste artigo, uma<br />
revisão breve sobre características das doenças que já<br />
foram tratadas com stents encontra-se no Quadro 1.<br />
293
Alves CMR. Tratamento Endovascular em Situações Especiais: Doenças do Tecido Conectivo, Aortites Não-Infecciosas, Aneurismas<br />
Micóticos, Aneurisma Isolado das Artérias Ilíacas e Urgências. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 292-300.<br />
QUADRO 1<br />
Principais características das doenças inflamatórias que provocam acometimento<br />
aórtico com maior freqüência<br />
Etiopatogenia Apresentação Vasos mais Peculiaridades<br />
e histologia clínica acometidos<br />
Arterite de células<br />
gigantes<br />
Mediada por células T,<br />
provavelmente desencadeada<br />
por antígeno<br />
externo<br />
Arterite granulomatosa<br />
ou não, células gigantes,<br />
espessamento intimal<br />
>50 anos, , sintomas<br />
gerais inespecíficos;<br />
perda da acuidade<br />
visual; cefaléia; claudicação<br />
de mandíbula;<br />
dor facial e couro cabeludo<br />
(artéria temporal)<br />
Polimialgia reumática<br />
em até 75% dos casos<br />
(dor e rigidez articular<br />
proximal)<br />
Artérias extracranianas<br />
pequeno e médio<br />
tamanho<br />
10% dos casos - grandes<br />
artérias - aorta torácica<br />
(especialmente ascendente)<br />
> freqüência que<br />
abdominal, freqüentemente<br />
com dissecção<br />
Lesões focais, mais<br />
freqüentemente estenóticas,<br />
com áreas<br />
interpoladas poupadas,<br />
em artérias dos<br />
mmss e carótida<br />
Arterite de Takayasu<br />
Imune-mediada,<br />
influência genética,<br />
hipersensibilidade ao<br />
bacilo da tuberculose<br />
Infiltrado inflamatório de<br />
linfócitos e plasmócitos<br />
na adventícia e vasa<br />
vasorum<br />
Tardiamente, espessamento<br />
e rigidez aórtica<br />
por fibrose das 3 camadas<br />
arteriais<br />
Jovens, ,sintomas<br />
gerais, artralgias, panserosites,<br />
dor torácica,<br />
hipertensão arterial,<br />
sopros, cefaléia, sincope.<br />
Mais tardiamente,<br />
fase oclusiva com perda<br />
de pulsos de predomínio<br />
nos mmss.<br />
Aneurisma isolado em<br />
2-30% dos casos,<br />
especialmente Ao<br />
ascendente<br />
Aorta e ramos principais<br />
50% com envolvimento<br />
da AP<br />
Estenoses e lesões<br />
aneurismáticas<br />
saculares ou<br />
fusiformes múltiplas<br />
Lúpus Eritematoso<br />
Sistêmico<br />
Infiltrado inflamatório<br />
inespecífico raramente<br />
encontrado no<br />
aneurisma<br />
Sintomas gerais, artrite,<br />
serosite, pan-cardite,<br />
alterações hematológicas,<br />
renais, neurológicas<br />
e imunológicas<br />
Raro acometimento<br />
da aorta<br />
Aneurisma inflamatório<br />
ou dissecção<br />
aórtica<br />
Doença de Behçet<br />
Imune-mediada,<br />
influência genética,<br />
HLA -B5, B27,B12<br />
Histologia variável e<br />
inespecífica<br />
Úlceras orais recorrentes,<br />
ulceração genital<br />
recorrente, lesões<br />
cutâneas e oculares.<br />
Sistêmicas - artrite, neurológico,<br />
gastrintestinal<br />
4% de incidência - Ao<br />
abdominal ou torácica<br />
e seus ramos principais,<br />
podendo comprometer<br />
a AP<br />
Pode ocorrer oclusão<br />
venosa<br />
Na aorta torácica,<br />
mais freqüente é o<br />
acometimento da<br />
ascendente com<br />
regurgitação aórtica<br />
Mmss= membros superiores; Ao= aorta; AP= artéria pulmonar; = predomínio do sexo feminino<br />
A peculiaridade de múltiplas lesões durante a vida,<br />
acometendo diferentes segmentos vasculares, faz a possibilidade<br />
de TEV atrativa. Lesões estenóticas são tratadas<br />
com stents há vários anos, especialmente na arterite<br />
de Takayasu 24 , e a doença aneurismática também pode<br />
receber intervenção percutânea, permitindo o tratamento<br />
simultâneo ou em dois tempos 25,26 . Outro aspecto favorecendo<br />
o TEV é a necessidade de tratamento de lesões<br />
em anastomoses cirúrgicas, nas quais se desenvolveu<br />
pseudo-aneurisma, poupando o paciente de reintervenções<br />
cirúrgicas de alta mortalidade 27,28 .<br />
Poderíamos especular sobre a possibilidade do stent<br />
estimular resposta inflamatória local, o que não encontra<br />
base na literatura hora publicada, na qual resultados de<br />
médio prazo têm sido encorajadores 29,30 , mas, certamente,<br />
o bom senso indica como melhor momento do tratamento<br />
o período inativo da doença (oligo ou assintomático<br />
e com marcadores inflamatórios normais ou próximos<br />
ao normal), estratégia que poderia também ajudar a<br />
prevenir lesões iatrogênicas em parede arterial frágil 25,29 .<br />
Se a incidência de aneurisma é baixa nos pacien-<br />
294
Alves CMR. Tratamento Endovascular em Situações Especiais: Doenças do Tecido Conectivo, Aortites Não-Infecciosas, Aneurismas<br />
Micóticos, Aneurisma Isolado das Artérias Ilíacas e Urgências. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 292-300.<br />
tes com síndromes inflamatórias, é preciso lembrar<br />
que o uso crônico de corticosteróides já foi relacionado<br />
à formação de aneurismas, devido à degeneração<br />
mucóide e necrose médio-cística 31,32 , sendo o tempo<br />
de uso da droga um aspecto relevante na chance de<br />
doença, ampliando a incidência de aterosclerose. Além<br />
disso, existe a possibilidade de infecção subclínica e<br />
desenvolvimento de aneurismas micóticos não diagnosticados.<br />
Muitas doenças inflamatórias não têm tradicionalmente<br />
sido relacionadas à doença aórtica, mas a prontidão<br />
diagnóstica deve ser mantida. Embora existam<br />
casos raros de pelve-espondilite-anquilosante associados<br />
à doença aórtica, lembramos que o mesmo defeito<br />
genético parece ligá-la à síndrome de Marfan, uma<br />
vez que a fibrilina é componente importante do tecido<br />
cartilaginoso 33 . No caso da artrite psoriática, já tivemos<br />
a oportunidade de acompanhar um paciente com importante<br />
manifestação aórtica, que recebeu tratamento<br />
percutâneo com sucesso e a biópsia, realizada na artéria<br />
femoral, evidenciou aspecto de necrose médio-cística.<br />
ANEURISMAS MICÓTICOS<br />
Correspondendo a cerca de 1% de todos os aneurismas,<br />
refere-se à dilatação vascular resultante de uma<br />
infecção bacteriana à distância. O tratamento clássico<br />
é associado à alta morbi-mortalidade 34 e compreende<br />
a associação de antibioticoterapia prolongada, cirurgia<br />
com extirpação do segmento acometido, debridamento<br />
local e interposição de enxerto. Os organismos mais<br />
freqüentemente encontrados em aorta nativa são o<br />
Staphilococus aureus e bactérias entéricas gram-negativas.<br />
Aneurismas micóticos podem ocorrer em aorta<br />
previamente normal ou em pacientes já operados, acometer<br />
qualquer segmento vascular, ocorrendo de forma<br />
isolada ou em múltiplos sítios 35 . O padrão anatômico<br />
mais freqüente é o de inflamação aguda, transmural,<br />
com microabscessos em áreas de aterosclerose e espessamento<br />
da média. Tais características têm sua intensidade<br />
dependente da duração dos sintomas e do tratamento<br />
com antibióticos. Nos últimos anos, o envelhecimento<br />
da população (com mais aterosclerose), grandes<br />
procedimentos cirúrgicos torácicos ou abdominais, uso<br />
indiscriminado de antibióticos e procedimentos vasculares<br />
invasivos, fazem supor que a ocorrência de infecção<br />
endovascular possa se tornar mais freqüente 35 .<br />
Embora a colocação de um enxerto intravascular<br />
em sítio infectado seja formalmente e intuitivamente<br />
inapropriada, a colocação de stents para tratamento<br />
destes falsos aneurismas tem sido relatada com sucesso<br />
na literatura. Especialmente em pacientes com doença<br />
da aorta torácica ou de múltiplos sítios, a capacidade<br />
de prover tratamento de reduzido risco em comparação<br />
à cirurgia convencional é especialmente atrativa 36,37 .<br />
Naturalmente, recomenda-se antibioticoterapia sistêmica<br />
por algumas semanas, previamente ao implante<br />
da endoprótese, aguardando-se, idealmente, a negativação<br />
persistente das culturas. Após o implante, utilização<br />
prolongada de antibióticos é parte necessária do<br />
tratamento bem sucedido. A utilização de enxertos de<br />
poliéster recobertos com antibiótico não foi eficaz na<br />
redução das taxas de infecção pós-operatória 38,39 e<br />
seu uso no TEV tem escassos relatos 14 . Antibioticoterapia<br />
de manutenção por período indefinido tem sido também<br />
recomendada, especialmente quando não há foco infeccioso<br />
reconhecido ou nas infecções por Salmonela 36,40 .<br />
No acompanhamento clínico, além do sucesso da<br />
exclusão da lesão anatômica, deve-se perseguir qualquer<br />
sinal de infecção do stent. Critérios para o diagnóstico<br />
de infecção da endoprótese não estão definidos,<br />
mas o quadro clínico, laboratorial e exames de imagem<br />
utilizados no diagnóstico da lesão infecciosa primária<br />
são geralmente suficientes, podendo-se confirmar o<br />
diagnóstico definitivo pela hemocultura ou cultura do<br />
tecido/enxerto explantado (Quadro 2).<br />
Infecção do stent não relacionada a tratamento de<br />
aneurismas micóticos ou fístulas aorto-entéricas ocorrem<br />
em cerca de 0,5% a 1% dos casos tratados 41-43 e, além<br />
do óbvio papel da bacteremia, fatores de risco conhecidos<br />
são extensão dos procedimentos associados (por<br />
exemplo, embolização de ilíacas ou endoleaks) 44 , o<br />
QUADRO 2<br />
Sinais clínicos e laboratoriais encontrados na<br />
infecção aórtica e/ou do enxerto endovascular<br />
Febre<br />
Leucocitose<br />
Sepse sistêmica<br />
Massa pulsátil, dolorosa<br />
Fístulas entéricas ou cutâneas<br />
Rotura vascular<br />
Provas inflamatórias inespecíficas elevadas<br />
Hemocultura positiva (com ecocardiograma excluindo<br />
endocardite)<br />
Achados Tomográficos:<br />
Freqüente presença de aterosclerose no sítio suspeito<br />
Irregularidades da parede aórtica – alterações inflamatórias<br />
em torno do saco aneurismático<br />
Espessamento da parede com realce periférico<br />
Formação líquida ou de gás em torno do vaso<br />
Comprometimento ou destruição de estruturas contíguas<br />
Realce de contraste<br />
Rápido crescimento (intervalo de dias)<br />
Pet-Scan da região acometida com aumento de captação<br />
Medicina Nuclear:<br />
Cintilografia com leucócitos marcados com Indium-111<br />
demonstrando aumento de captação na extensão da prótese<br />
Cultura de tecido vascular positiva<br />
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Micóticos, Aneurisma Isolado das Artérias Ilíacas e Urgências. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 292-300.<br />
uso crônico de corticosteróide e imunodeficiência. Na<br />
situação hora em discussão, extensão de cobertura do<br />
stent e/ou extensão do aneurisma bem como tipo de<br />
infecção primária (sepse franca, fístula aorto-entérica)<br />
podem também ser importantes no risco de infecção<br />
secundária da prótese e, neste ponto, a decisão pelo<br />
tratamento percutâneo deve ser considerada individualmente<br />
45,46 . O diagnóstico de infecção ativa da prótese<br />
deve se seguir de pronta conversão cirúrgica e retirada<br />
do dispositivo.<br />
A discussão sobre o ambiente hospitalar mais adequado<br />
para a realização do procedimento continua<br />
em aberto. A freqüente utilização de procedimentos<br />
acessórios ou combinados parece favorecer o ambiente<br />
cirúrgico 44 , desde que com equipamento com capacidade<br />
de ótimo desempenho quanto à geração e registro<br />
de imagem, enquanto procedimentos de urgência<br />
ou casos de anatomia favorável podem perfeitamente<br />
ser realizados no laboratório de hemodinâmica. Provavelmente,<br />
novas instalações hospitalares e as adaptações<br />
que devem ser feitas nas já existentes contemplarão<br />
este novo tipo de procedimento, híbrido e de alta<br />
complexidade, no qual habilidades e materiais intervencionistas<br />
e cirúrgicos se somam, criando um ambiente<br />
que seja adequado à nova especialidade 47,48 .<br />
ANEURISMA ISOLADO DA ARTÉRIA ILÍACA<br />
Embora compartilhem a etiopatogenia da doença<br />
e pacientes com aneurisma da aorta abdominal apresentem<br />
simultânea dilatação das artérias ilíacas em cerca<br />
de 10 a 20% dos casos 49 , aneurismas isolados da<br />
artéria ilíaca (comum, interna e externa) são de baixa<br />
prevalência (
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lesões bilaterais necessitando de embolização de ambas<br />
as artérias ilíacas internas, intervalo mínimo de duas<br />
semanas entre os procedimentos é recomendado, reduzindo<br />
a chance de complicação isquêmica pélvica.<br />
Para doença bilateral grave, deve-se considerar, ainda,<br />
a possibilidade de exclusão aorto-ilíaca unilateral, oclusão<br />
da ilíaca contralateral e enxerto fêmoro-femoral<br />
cruzado como opção. Bell-bottoning, a colocação de<br />
stents na borda distal das extensões ilíacas, para aneurismas<br />
da artéria ilíaca comum tem sido utilizado, permitindo<br />
aceitar casos em que esta artéria está dilatada,<br />
com melhor fixação distal, redução de vazamentos e<br />
de complicações isquêmicas, porque permite preservar<br />
o fluxo da artéria ilíaca interna 56 . A incidência de complicação<br />
isquêmica na oclusão unilateral oscila entre<br />
10-30% e, na oclusão bilateral, 50-80% 57,58 .<br />
Resultados de médio prazo revelam excelente patência<br />
tardia dos stents em posição ilíaca 55,59 e monitoração<br />
prolongada dos diâmetros por meio de exames<br />
de imagem é obrigatória. A redução dos diâmetros<br />
após o TEV parece infreqüente.<br />
O uso prolongado de antiagregantes para prevenção<br />
de trombose tem sido recomendado, especialmente<br />
quando o stent for posicionado em artérias muito tortuosas,<br />
provocando angulações 54,59 .<br />
As mesmas considerações sempre debatidas quanto<br />
à durabilidade do TEV para aneurisma da aorta abdominal<br />
podem ser levantadas aqui. Não há estudos de<br />
longo prazo mostrando a segurança da exclusão, entretanto,<br />
pacientes idosos e de alto risco operatório são<br />
excelentes candidatos. Quando a exclusão bilateral<br />
das artérias ilíacas internas for obrigatória em pacientes<br />
jovens, a possibilidade de tratamento cirúrgico com<br />
reconstrução ilíaca deve ser considerada, entretanto,<br />
este caso será mais a exceção do que a regra.<br />
URGÊNCIAS<br />
A maior conveniência da indicação de tratamento<br />
percutâneo nas roturas aórticas decorre da oportunidade<br />
de melhorar o resultado do tratamento na fase intrahospitalar<br />
de doença extremamente letal, deixando-se a<br />
discussão da durabilidade do método em segundo plano.<br />
Quando analisamos dados sobre o TEV em urgência,<br />
observamos que muitas situações diferentes estão<br />
reunidas nas diversas publicações e prejudicam a correta<br />
interpretação dos dados. Em primeiro lugar, podemos<br />
separar os dados pertinentes à localização da lesão<br />
(torácicas ou abdominais). Podemos, também, analisar<br />
a situação de urgência que se apresenta nas lesões<br />
traumáticas ou nas lesões crônicas complicadas, quer<br />
seja por aneurisma verdadeiro roto ou dissecção. Por<br />
fim, inclui-se o paciente com dissecção aguda da aorta,<br />
no qual a complicação (rotura e expansão aguda, especialmente)<br />
representa dado evolutivo de grande poder<br />
prognóstico, determinando elevada mortalidade no tratamento<br />
clínico ou cirúrgico. Sem dúvida, a dissecção<br />
aguda e a rotura traumática, em nossa opinião, representam<br />
grandes oportunidades para o TEV, com fortes<br />
indicações de benefício em comparação à cirurgia.<br />
O desenvolvimento de diferentes tipos de próteses,<br />
disponíveis em vários tamanhos, permite a realização<br />
do procedimento em caráter de urgência, desde que<br />
se mantenha um conjunto mínimo de stents em estoque.<br />
A avaliação da anatomia para adequação ao tratamento<br />
e seleção do diâmetro pode ser facilmente realizada,<br />
utilizando-se a tomografia computadorizada que, geralmente,<br />
é suficiente para medida dos colos de aterrissagem.<br />
Idealmente, recomenda-se que o procedimento<br />
seja realizado por equipes já treinadas em procedimentos<br />
eletivos.<br />
A comprovação intra-hospitalar precoce da exclusão<br />
da lesão, traumática ou não, certificando-se que<br />
não há mais sangramento ou vazamento, é fundamental<br />
e mais importante do que nos procedimentos eletivos.<br />
A persistência de fluxo e pressão no saco aneurismático<br />
ou falsa luz mantém o paciente em risco. Não sendo<br />
incomum a existência de fluxo através do poliéster do<br />
stent (vazamento tipo IV), imediatamente após a liberação<br />
ou mesmo nos primeiros dias de evolução, devido<br />
à porosidade do tecido, pode ser recomendável a<br />
colocação de múltiplos stents para interromper imediatamente<br />
o fluxo, especialmente em pacientes hemodinamicamente<br />
instáveis. Se a tomografia precoce revelar<br />
vazamento, nova intervenção (endovascular ou cirúrgica)<br />
deve ser programada com prontidão.<br />
Rotura traumática da aorta: tipicamente, o paciente<br />
encontra-se com múltiplas lesões traumáticas associadas,<br />
é jovem e não tem comorbidades crônicas associadas.<br />
O local mais freqüente da rotura é a região do<br />
istmo aórtico, ocorrendo em 85% dos pacientes que<br />
chegam vivos ao hospital, geralmente vítimas de acidente<br />
automobilístico 60 . Favorecendo o TEV, observa-se lesão<br />
localizada e aorta normal na região dos colos mas,<br />
principalmente, é especialmente atrativa a sua capacidade<br />
de rapidamente selar a lesão sem pinçamento<br />
aórtico, hipotensão e heparinização sistêmica, muitas<br />
vezes, responsáveis pela má evolução cirúrgica. A proximidade<br />
com a emergência da artéria subclávia esquerda,<br />
na impossibilidade de preparação cirúrgica prévia,<br />
recomenda a freqüente colocação do stent sobre esta<br />
artéria. Além disso, o diâmetro dos colos pode exigir<br />
a utilização de stents de pequeno diâmetro. Em diversas<br />
pequenas séries publicadas, o TEV foi eficaz em interromper<br />
o sangramento, com baixíssima mortalidade<br />
(0-6%) e redução de paraplegia (0-6%) 17,61-64 . Considerando-se<br />
que a cirurgia do trauma aórtico é de alta mortalidade<br />
(20-30%) com taxas de paraplegia em torno<br />
de 7-10% 64,65 , fica fácil recomendar o TEV como primeira<br />
escolha nestes pacientes, o que vem sendo feito na<br />
maioria dos serviços nos quais a tecnologia está disponível.<br />
Nos pacientes jovens, a preocupação com a<br />
durabilidade do stent é contrabalançada pela perspec-<br />
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Micóticos, Aneurisma Isolado das Artérias Ilíacas e Urgências. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 292-300.<br />
tiva de completa cicatrização da aorta, minimizando a<br />
possibilidade de vazamentos tardios, mas demanda<br />
estreita vigilância com exames de imagem periódicos.<br />
Embora incomum, a possibilidade de TEV no tratamento<br />
da rotura traumática abdominal também deve<br />
ser lembrada e vem sendo relatada com sucesso na<br />
literatura 66,67 .<br />
Rotura torácica, não-traumática: em oposição ao<br />
discutido acima, nesta população, encontraremos uma<br />
anatomia vascular que freqüentemente não é favorável<br />
ao procedimento percutâneo, especialmente nos grandes<br />
aneurismas verdadeiros rotos, nos quais ateromatose<br />
dos colos e ilíaco-femoral grave também é a regra.<br />
Além disso, comorbidades clínicas são freqüentes 14 ,<br />
especialmente nos aneurismas verdadeiros. A existência<br />
de prévia manipulação de aneurisma da aorta abdominal<br />
também ocorre nestes pacientes e pode elevar o risco<br />
de paraplegia.<br />
A despeito de excelente resultado agudo, a mortalidade<br />
intra-hospitalar é alta e geralmente relacionada<br />
à falência de múltiplos órgãos, mas esta taxa pode<br />
variar conforme o perfil demográfico da população<br />
selecionada, a etiologia predominante da série analisada,<br />
a intensidade do choque na apresentação e o<br />
tempo de retardo no atendimento e recuperação hemodinâmica<br />
14,68 . Estes fatores justificam o achado de dados<br />
divergentes quanto aos grupos de maior mortalidade,<br />
existindo evidência de maior mortalidade no grupo<br />
dissecção aórtica 14 e no grupo aneurisma verdadeiro 17 .<br />
Em recente metanálise, Eggebrecht et al. 6 relataram<br />
a experiência publicada no tratamento da dissecção<br />
aórtica do tipo B com stents. Entre mais de 300 publicações,<br />
47 com dados compatíveis para análise, reuniram<br />
1007 pacientes, dos quais 609 com dissecção<br />
aórtica, 58% aguda (menos de 14 dias de evolução)<br />
e 16% rota, realizada em caráter de urgência. Embora<br />
compreendesse grupo de menor idade, na dissecção<br />
aguda, observou-se maior incidência de complicações<br />
intra-hospitalares (21 vs 9%, p=0,005), bem como<br />
maior mortalidade aos 30 dias em comparação ao<br />
grupo de dissecção crônica (cerca de 10% vs 3,2%,<br />
p=0,015). Infelizmente, os dados são insuficientes para<br />
uma análise em separado dos casos tratados em caráter<br />
de urgência, mas evidências se somam para considerar<br />
a dissecção aórtica aguda e presença de rotura como<br />
preditores de alta mortalidade intra-hospitalar 69 .<br />
Rotura abdominal, não-traumática: o TEV da rotura<br />
do aneurisma da aorta abdominal apresentou-se como<br />
uma alternativa para o tratamento cirúrgico que, mesmo<br />
nos dias atuais, é de alta mortalidade, atingindo<br />
cerca de 50% dos pacientes. Muitas pequenas séries<br />
já demonstraram a possibilidade do tratamento percutâneo<br />
de urgência nestes pacientes, com taxas de mortalidade<br />
entre 18 e 24% 70 . Embora análise angiográfica<br />
primária para realização do procedimento já tenha<br />
sido utilizada, parece-nos adequado que, ao selecionar<br />
pacientes, se deva considerar um retardo de tratamento<br />
ao redor de 40 minutos para realização de tomografia<br />
computadorizada que trará análise anatômica mais<br />
adequada. Estas séries incluem também pacientes previamente<br />
tratados com stents, indicando a versatilidade<br />
do método, mas ainda excluem choque hipovolêmico<br />
profundo, o que pode rapidamente ser critério de<br />
exclusão desnecessário, uma vez que a possibilidade<br />
de oclusão da aorta com balão para controle hemodinâmico,<br />
múltiplos desenhos de próteses e a possibilidade<br />
de exclusão uniilíaca reduzem o número de pacientes<br />
anatomicamente inadequados (oscilando de 40 a 20%<br />
dos casos) 71-74 . A exclusão uniilíaca deve ser especialmente<br />
considerada em pacientes com importante tortuosidade<br />
aorto-ilíaca ou grandes aneurismas não trombosados,<br />
nos quais a cateterização da perna contralateral<br />
pode retardar a hemostasia 70 . Vigilância da exclusão<br />
do aneurisma é naturalmente recomendada e qualquer<br />
sinal de vazamento deve indicar pronta complementação,<br />
justificando uma alta taxa de reintervenção precoce<br />
observada em seguimentos de médio prazo 75 .<br />
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Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 301-306.<br />
Duda NT, et al. Tratamento Percutâneo das Oclusões Arteriais Agudas Periféricas. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 301-306.<br />
Artigo de Revisão<br />
Tratamento Percutâneo das Oclusões Arteriais<br />
Agudas Periféricas<br />
Norberto Toazza Duda 1 , Rogério Tadeu Tumelero 1 , Alexandre Pereira Tognon 1<br />
RESUMO<br />
A resolução de um evento vascular agudo de forma minimamente<br />
invasiva é muito atraente, desde que os resultados<br />
sejam melhores do que a terapêutica convencional. A<br />
intervenção cirúrgica tem estabelecido, há muito tempo,<br />
um padrão para decisões de quando intervir e qual estratégia<br />
utilizar. O advento da angioplastia primária no infarto<br />
agudo do miocárdio transformou dramaticamente não somente<br />
a visão do quadro clínico, mas, principalmente, melhorou<br />
a morbi-mortalidade na oclusão arterial aguda. De qualquer<br />
maneira, passou-se pelas fases da anticoagulação, pelos<br />
trombolíticos e antiadesivos plaquetários injetáveis e pelas<br />
associações medicamentosas com instrumentação mecânica.<br />
Na intervenção percutânea vascular periférica, há ainda<br />
um caminho a trilhar na adaptação dos conhecimentos<br />
adquiridos na coronarioplastia, não apenas nos materiais,<br />
mas, principalmente, na construção e na execução da<br />
estratégia para o procedimento. Atualmente, uma equipe<br />
multiprofissional é recomendada e vislumbra-se um futuro<br />
especialista vascular.<br />
DESCRITORES: Arteriopatias oclusivas. Trombose. Embolia.<br />
Isquemia. Angioplastia.<br />
SUMMARY<br />
Percutaneous Treatment of Acute Peripheral<br />
Arterial Occlusions<br />
A minimally invasive resolution of an acute vascular event<br />
is quite attractive, provided the outcomes are better than<br />
conventional therapeutics. Surgical intervention has for quite<br />
some time established a pattern for decision making on<br />
when it should be done and what strategy to use. Primary<br />
angioplasty for acute myocardial infarction (AMI) has dramatically<br />
changed not only how the condition has been focused,<br />
but has specially improved morbimortality in acute arterial<br />
occlusion. The different stages were followed: anticoagulation,<br />
thrombolytics and injectable antiplatelet drugs, and drug<br />
associations through mechanic devices. But one more pathway<br />
is to be trodden in vascular percutaneous peripheral intervention:<br />
the adaptation of the knowledge acquired in coronarioplasty<br />
- not only in regard to materials, but especially<br />
in the creation and in the execution of procedure strategy.<br />
A multiprofessional team is currently the recommendation.<br />
For the future, a vascular specialist is to be expected.<br />
DESCRIPTORS: Arterial occlusive diseases. Thrombosis. Embolism.<br />
Ischemia. Angioplasty.<br />
Aintervenção percutânea vascular periférica nas<br />
oclusões arteriais agudas, ao lado da cirurgia<br />
vascular, tem aumentado de importância desde<br />
que o desenvolvimento das habilidades dos profissionais<br />
e da tecnologia permitiram rápido diagnóstico e<br />
oportunizaram a recanalização arterial imediata, com<br />
bons resultados e baixa taxa de complicações. A trombólise<br />
e a dissolução com aspiração dos trombos,<br />
associadas à angioplastia com balão, com ou sem<br />
implante de endoprótese, têm redirecionado o tratamento<br />
dos quadros clínicos agudos.<br />
1<br />
Cardiologia Intervencionista do Hospital São Vicente de Paulo.<br />
Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo, RS.<br />
Correspondência: Norberto Toazza Duda. Rua Teixeira Soares, 777/807<br />
- CEP 99010-081 - Passo Fundo, RS • E-mail: ntduda@annex.com.br<br />
Recebido em: 7/2/2006 • Aceito em: 24/02/2006<br />
A isquemia aguda de extremidade é definida pelo<br />
TASC (TransAtlantic Inter-Society Consensus Working<br />
Group) como qualquer redução súbita ou piora da<br />
perfusão da extremidade, causando ameaça à viabilidade<br />
do membro. Não existem marcadores hematológicos<br />
ou imagens radiológicas para a determinação desta<br />
viabilidade.<br />
EPIDEMIOLOGIA<br />
A incidência de isquemia aguda nos membros<br />
inferiores é 14/100.000 ao ano, correspondendo a<br />
12% de todas as cirurgias em uma unidade vascular.<br />
Com a redução da incidência da cardiopatia reumática<br />
e o aumento da prevalência da aterosclerose, a<br />
trombose arterial aguda é responsável pela maioria<br />
dos casos de isquemia aguda nos membros inferiores.<br />
O trauma permanece como uma importante origem de<br />
301
Duda NT, et al. Tratamento Percutâneo das Oclusões Arteriais Agudas Periféricas. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 301-306.<br />
isquemia aguda nos jovens e, nos idosos, é freqüente<br />
a iatrogenia associada a intervenções endovasculares.<br />
Apesar da angiografia e do eco-doppler serem<br />
fundamentais no planejamento da intervenção, a viabilidade<br />
do membro e a urgência da revascularização<br />
permanecem de competência clínica. Ainda, as decisões<br />
podem ser difíceis em pacientes anestesiados e em<br />
ventilação mecânica ou naqueles muito idosos.<br />
A expectativa de vida para os pacientes com isquemia<br />
aguda é similar a de muitos tipos de câncer;<br />
somente 14-44% estarão vivos em 5 anos, sobrevida<br />
significativamente menor do que nos controles. Os<br />
pacientes com trombose sobrevivem duas vezes mais<br />
do que os com embolia, mas perdem o membro afetado<br />
duas vezes mais freqüentemente e, quando a intervenção<br />
não é realizada, 2/3 dos pacientes sofrem amputação.<br />
As variáveis que predizem risco de amputação<br />
são o tempo total de isquemia, a idade avançada e a<br />
não anticoagulação pós-operatória. A adequada história<br />
do quadro clínico pode evitar uma cascata de intervenções<br />
inapropriadas. Em alguns pacientes, os sintomas<br />
iniciais melhoram com a anticoagulação e a decisão<br />
de intervenção urgente demanda cuidadoso julgamento.<br />
Nem todas extremidades agudamente isquêmicas são<br />
recuperáveis e a amputação para manutenção da vida<br />
pode ser o desfecho apropriado. Raramente uma isquemia<br />
profunda é manifestação de doença terminal.<br />
Dessa forma, uma intervenção paliativa, ao invés de<br />
uma tentativa agressiva de salvamento, pode ser a<br />
melhor abordagem.<br />
A isquemia nos membros superiores corresponde<br />
a 1/5 (2,4 casos/100.000 pessoas/ano) dos casos de<br />
isquemia de membros, mas tem melhor prognóstico<br />
de vida e de salvamento do membro. Está associada<br />
ao embolismo em 80% dos casos e, geralmente, ocorre<br />
em pacientes com fibrilação atrial. O tratamento conservador<br />
é associado à claudicação do membro.<br />
QUADRO CLÍNICO<br />
A dor acompanha a isquemia aguda do membro<br />
inferior, com exceção da trombose aórtica aguda, na<br />
qual, além de cursar com isquemia profunda, a paralisia<br />
é o primeiro sintoma. A parestesia é um claro<br />
sintoma da deterioração da função sensorial como<br />
função neurológica, e sinal de progressiva isquemia.<br />
A perda da função motora dos músculos intrínsecos<br />
do pé ocorre primeiro. A ausência da dorsiflexão do<br />
pé precede a perda da flexão plantar, e esta condição<br />
exige restauração imediata do fluxo sangüíneo.<br />
A palidez é de fácil verificação, quando comparada<br />
com o membro contralateral. Se ambos os membros<br />
estão frios ou se as nádegas estão frias e cianosadas,<br />
a oclusão aorto-ilíaca deve ser vislumbrada.<br />
A ausência de pulsos é um pré-requisito para<br />
isquemia aguda. Quando, no membro contralateral os<br />
pulsos estão intactos, a suspeita de embolia adquire<br />
grau de certeza. Se ao contrário, os membros tiverem<br />
boa aparência com ausência de pulsos, a probabilidade<br />
maior é de doença arterial obstrutiva difusa, com<br />
um local de trombose sobreposta.<br />
EMBOLIA E TROMBOSE<br />
A diferenciação entre a embolia e a trombose<br />
arterial é, muitas vezes, difícil, mas, nos casos de trombose,<br />
40% dos pacientes têm história prévia de claudicação<br />
intermitente. A angiografia demonstra circulação<br />
colateral e as artérias aparecem difusamente doentes.<br />
A embolia arterial 1 está relacionada em 80% dos casos<br />
com a fibrilação atrial, em 10%, a infarto do miocárdio<br />
prévio e em 10%, a aneurismas e outras causas. Os<br />
locais mais freqüentemente atingidos são os membros<br />
inferiores (50-60%), os membros superiores (15-20%),<br />
o cérebro (15-20%) e as artérias mesentéricas (5%). O<br />
êmbolo tipicamente se aloja nas bifurcações, mais freqüentemente<br />
na artéria femoral (50%) ou na trifurcação<br />
dos vasos tibiais. Angiograficamente existe uma interrupção<br />
transversal, com artéria proximal normal.<br />
São conhecidos muitos fatores de risco para trombose<br />
aguda, além das lesões ateroscleróticas vasculares,<br />
sendo que eles devem sempre ser levados em consideração<br />
(Tabela 1). A resolução apenas do evento final<br />
não é suficiente para garantir um tratamento clínico<br />
adequado. É fundamental que se procure exaustivamente<br />
a fonte trombogênica.<br />
Além da identificação das prováveis causas embolígenas,<br />
a exploração com um guia metálico, para<br />
verificação da consistência e a aspiração, para testar<br />
a mobilidade do trombo, podem definir a estratégia a<br />
ser empregada em cada caso. As duas condições podem<br />
ser tratadas através de intervenção por cateter.<br />
ANALISANDO A VIABILIDADE DO MEMBRO<br />
Os critérios para avaliação da viabilidade de membros<br />
podem ser observados na Tabela 2.<br />
AVALIAÇÃO CLÍNICA E ESTRATÉGIA PARA O<br />
TRATAMENTO DA ISQUEMIA AGUDA NOS<br />
MEMBROS (FIGURA 1)<br />
A arteriografia permanece como o padrão-ouro<br />
para a investigação da isquemia aguda nos membros<br />
inferiores. Ela demonstra a árvore arterial do membro<br />
afetado e permite uma adequada abordagem para a<br />
reconstrução. Ela também permite a realização de trombólise<br />
local ou angioplastia.<br />
MUDANÇA DO PADRÃO DA DOENÇA EMBÓLICA<br />
E TROMBÓTICA<br />
A incidência relativa de embolia e trombose tem<br />
se alterado nas últimas décadas. O melhor controle<br />
das causas embólicas e o aumento da idade da população<br />
associada às tromboses dos enxertos fazem com<br />
que a trombose seja predominante.<br />
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Duda NT, et al. Tratamento Percutâneo das Oclusões Arteriais Agudas Periféricas. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 301-306.<br />
TABELA 1<br />
Síndromes hipercoaguláveis na isquemia dos<br />
membros inferiores 2<br />
Realizar os seguintes testes apenas em pacientes jovens<br />
com trombose arterial aguda, com forte história familiar<br />
de trombose ou sem outra causa predisponente óbvia:<br />
1. Distúrbios dos anticoagulantes naturais<br />
• Deficiência de antitrombina III, proteínas C e S<br />
• Resistência à proteína C ativada (fator I de Leiden/<br />
mutação pontual no gene do fator V)<br />
2. Hiperhomocisteinemia (><strong>13</strong>µmol)<br />
3. Déficit da fibrinólise endógena<br />
• Liberação inadequada do ativador do plasminogênio<br />
tecidual (t-PA)<br />
• Altos níveis do inibidor da ativação do plasminogênio<br />
(PAI-1)<br />
4. Lipoproteína (a) (>20mg/dL)<br />
5. Anticorpos antifosfolipídeos (mais especificamente<br />
família de anticorpos)<br />
• Inclui: anticoagulantes lúpicos (LA) e anticorpos<br />
anticardiolipina (ACA)<br />
• LA + ACA + síndrome clínica = síndrome dos<br />
anticorpos antifosfolipídicos<br />
6. Distúrbios mieloproliferativos<br />
• Policitemia rubra Vera<br />
• Trombocitemia essencial (ET) – contagem de<br />
plaquetas > 1.000.000/mµL<br />
7. Trombocitopenia induzida pela heparina (HIT)<br />
• HIT + trombose clínica = trombose associada à HIT<br />
8. Malignidades hematológicas<br />
• Mieloma múltiplo<br />
• Macroglobulinemia de Waldenström<br />
9. Outras<br />
• Hiperfibrinogenemia<br />
• Fator de Von Willebrand elevado<br />
• Síndrome da hiperadesividade plaquetária<br />
• Fator VIII elevado<br />
PREDITORES PARA O SALVAMENTO DO<br />
MEMBRO<br />
Pacientes com embolia aguda têm maior probabilidade<br />
de morte, enquanto que os acometidos de trombose<br />
têm maior chance de perda do membro 1 . Outro<br />
fator é o tempo de isquemia: para pacientes com mais<br />
de 25h de isquemia aguda, o salvamento do membro<br />
é 4 vezes menor do que para aqueles com duração da<br />
oclusão menor do que 6h 5,6 .<br />
ISQUEMIA AGUDA NOS MEMBROS SUPERIORES<br />
A isquemia aguda nos membros superiores é incomum<br />
e tem melhor prognóstico do que a isquemia<br />
nos membros inferiores. Usualmente, não há ameaça<br />
de amputação devido à rica circulação colateral. Porém,<br />
quando o resultado de um tratamento não atinge o<br />
objetivo, o efeito pode ser devastador. A terapia conservadora<br />
pode ser suficiente, mas a claudicação do antebraço<br />
pode ser debilitante. Assim, a decisão de intervir<br />
ou não nesta circunstância permanece controversa.<br />
Usando o sistema SVS/ISCVS, muitos casos são das<br />
classes I e IIa.<br />
INDICAÇÕES PARA EXAMES DE IMAGEM<br />
A maioria dos pacientes é tratada conservadoramente.<br />
Em uma minoria deles, nos quais o quadro<br />
clínico é pouco claro, exames de imagem são exigidos.<br />
Pacientes com cirurgia de derivação subclávia, áxilofemoral<br />
ou carótida-subclávia prévias deveriam ser avaliados<br />
com ultra-som e angiografia. Em pacientes com<br />
síndrome do desfiladeiro torácico ou evidência clínica<br />
de aneurisma da artéria subclávia, com suspeita de<br />
trombose, a angiografia é mandatória. Na “síndrome<br />
do dedo azul” ou isquemia digital isolada, a angiografia<br />
é fundamental. Hernandez-Richter et al. 7 referem que<br />
os angiogramas são necessários em 4% dos casos e<br />
nestes a indicação seria para os que tivessem ausência<br />
do pulso carotídeo ou aterosclerose generalizada.<br />
TABELA 2<br />
SVS/ISCVS – Critérios de viabilidade de membros 3<br />
Achados<br />
Sinal Doppler<br />
Categoria Descrição/Prognóstico Déficit Sensitivo Fraqueza Muscular Arterial Venoso<br />
I. Viável Sem ameaça imediata Não Não Audível Audível<br />
II. Ameaçado<br />
a. Marginalmente Recuperável se Mínimo ou Não (Freqüentemente)<br />
prontamente tratado ausente inaudível Audível<br />
b. Imediatamente Recuperável com Mais que dedos; Leve, (Usualmente)<br />
revascularização freqüentemente moderada inaudível Audível<br />
imediata<br />
dor em repouso<br />
III. Irreversível Grande perda tecidual Profunda, Profunda,<br />
ou dano neurológico anestesia paralisia Inaudível Inaudível<br />
permanente inevitável<br />
(rigor)<br />
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Duda NT, et al. Tratamento Percutâneo das Oclusões Arteriais Agudas Periféricas. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 301-306.<br />
Figura 1 - Avaliação clínica e estratégias para o tratamento da isquemia aguda nos membros 4 .<br />
Apenas 5% dos casos se relacionam com trombose<br />
nos braços, sendo que quanto mais proximal maior a<br />
probabilidade dessa etiologia. Nos pacientes não contemplados<br />
com adequada anticoagulação, a recorrência<br />
da embolização foi de 33%, contra 11% dos anticoagulados,<br />
determinando alta taxa de mortalidade.<br />
TERAPIA TROMBOLÍTICA<br />
Apesar da intervenção cirúrgica ser o padrão estabelecido,<br />
a multiplicidade e complexidade de comorbidades<br />
elevam as taxas de morbi-mortalidade peri-operatória,<br />
tornando alternativas não cirúrgicas atrativas. Neste caso,<br />
a intervenção por cateter deverá confirmar taxas de<br />
salvamento do membro similares, com menor morbidade.<br />
A trombólise venosa foi iniciada por Dotter et al. 8 ,<br />
em 1974, mas, à luz dos resultados, não tem sido utilizada 9 .<br />
Existem duas formas intra-arteriais para administração<br />
de trombolítico: a inserção do cateter proximal, a oclusão<br />
e a infiltração no trombo. O estudo TOPAS 10 comparou<br />
uroquinase com cirurgia e não evidenciou vantagem<br />
de qualquer método, sendo que a trombólise<br />
inicial teve maior taxa de complicações hemorrágicas<br />
e inaceitável risco de retrombose.<br />
Na infiltração do trombo, é utilizada menor dose<br />
de trombolítico, mas a mesma deve ser realizada estagiadamente,<br />
demandando a permanência do paciente e<br />
do médico na sala de cateterismo, freqüentemente por<br />
horas. A dose recomendada de rt-PA é de 2,5 mg/h e<br />
seria superior a uroquinase no restabelecimento do<br />
fluxo TIMI III 3 .<br />
Nunca é demais lembrar das contra-indicações<br />
formais para a terapêutica trombolítica.<br />
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Duda NT, et al. Tratamento Percutâneo das Oclusões Arteriais Agudas Periféricas. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 301-306.<br />
ASPIRAÇÃO DE TROMBOS COM CATETER<br />
A experiência internacional tem mostrado que a<br />
aspiração suplanta a trombólise por cateter. Existem<br />
vários instrumentos, mas, na realidade, a habilidade<br />
do profissional é o determinante do desfecho. Mahler<br />
et al. 11 referem que somente aspiração foi realizada em<br />
31% dos 112 pacientes de sua série, angioplasia adicional<br />
em 69%, lise adicional em 19%. Os porcentuais<br />
de amputação e mortalidade, no primeiro ano, foram<br />
de 8 e 18%, respectivamente. A taxa de re-intervenção<br />
foi de 30%, sendo 17% por cateter.<br />
DISPOSITIVOS PARA RECANALIZAÇÃO<br />
MECÂNICA DE OCLUSÕES AGUDAS<br />
Inúmeros dispositivos para trombectomia mecânica<br />
por cateter encontram-se disponíveis no mercado. Cada<br />
dispositivo tem suas limitações, incluindo; restrição a<br />
trombo fresco apenas, remoção incompleta do trombo,<br />
lesão da parede vascular ou complexidade do desenho<br />
do instrumento. Esses dispositivos atuam fragmentando<br />
o trombo sem removê-lo ou removendo os mesmos<br />
através dos efeitos Bernoulli e Venturi. Existem, ainda,<br />
dispositivos que combinam os dois mecanismos de<br />
ação, com o efeito teórico de prevenir embolização<br />
distal por partículas do trombo.<br />
Aparentemente, o dispositivo Straub-Rotarax TM , que<br />
combina os dois mecanismos de ação (fragmentação<br />
e aspiração), parece ser o que oferece maiores vantagens.<br />
Pode ser utilizado em casos agudos e subagudos<br />
e não necessita de princípios farmacológicos adicionais.<br />
Parece, também, funcionar em outras artérias além das<br />
infra-inguinais, possivelmente incluindo fístulas de diálise.<br />
Resultados iniciais de séries de casos parecem promissores,<br />
mas a análise dos resultados a longo prazo ainda<br />
não está disponível.<br />
A angioplastia com balão significa uma resolução<br />
mais definitiva do quadro clínico/anatômico, tanto para<br />
trombos residuais como para a lesão aterosclerótica.<br />
A intervenção mecânica, com ou sem implante de<br />
stents, é muito atrativa e deve ser utilizada sempre que<br />
viável. Acima do ligamento inguinal, o acesso é mais<br />
fácil, mas com maiores complicações potenciais devido<br />
ao território envolvido. Durante a fragmentação de<br />
trombo/placa aterosclerótica poderá acontecer embolia<br />
distal, geralmente em local de bifurcação, o que adiciona<br />
outro procedimento em território vascular distinto, e<br />
exige uso de outros materiais, tempo, contraste e abordagem<br />
de múltiplos sítios. A escolha de stents autoexpansíveis<br />
ou expansíveis por balão é decisão que<br />
visa à evolução de médio/longo prazo.<br />
CONCLUSÃO<br />
A incidência de oclusão arterial aguda está aumentando,<br />
refletindo a maior faixa etária e o conseqüente<br />
avanço da doença arterial obstrutiva crônico-degenerativa.<br />
Em geral, 70% dos pacientes têm seu membro<br />
salvo, sendo que os outros 30% morrem ou têm seu<br />
membro amputado, significando que a intervenção<br />
precoce é fundamental no salvamento do membro e<br />
da vida.<br />
A aspiração dos trombos não é técnica de uso<br />
isolado, uma vez que na quase totalidade dos casos<br />
há trombos residuais. Os trombolíticos e a angioplastia<br />
com balão, com ou sem implante de stents, podem ser<br />
utilizados como terapias associadas. O implante de<br />
stents tem mostrado resultados melhores quando comparado<br />
à angioplastia, especialmente no que se refere<br />
aos resultados angiográficos. A utilização de stents<br />
farmacológicos encontra-se em evolução e os resultados<br />
ainda não são conclusivos 12 . Nas oclusões acima<br />
do ligamento inguinal, há que se levar em conta o<br />
risco de embolização distal que não possa ser tratada<br />
no mesmo momento, transformando o quadro clínico<br />
inicial numa situação mais complexa.<br />
De maneira geral, especialistas vasculares teriam<br />
melhores resultados nos salvamentos de extremidades<br />
do que cirurgiões vasculares. Haverá profissionais específicos<br />
que tratarão destas doenças.<br />
Vale ressaltar que o adequado entendimento da<br />
anticoagulação/antiadesividade plaquetária é de fundamental<br />
importância, não somente no tratamento do<br />
quadro agudo, como no pós-operatório e na manutenção<br />
a longo prazo.<br />
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Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 307-310.<br />
Gonçalves R, et al. Tratamento Percutâneo de Úlcera Penetrante de Aorta: Relato de Caso. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 307-310.<br />
Relato de Caso<br />
Tratamento Percutâneo de Úlcera Penetrante de Aorta:<br />
Relato de Caso<br />
Rosaly Gonçalves 1 , Marcelo José de Carvalho Cantarelli 1 , Hélio José Castello Júnior 1 , Silvio Giopatto 1 ,<br />
Evandro Karlo Pracchia Ribeiro 1 , Ednelson Navarro 1 , Mário Lúcio Baptista Alves 1 , Renato Bauab Dauar 1 ,<br />
João Gualberto Diniz 1 , Márcia Tosi 1<br />
RESUMO<br />
A úlcera penetrante de aorta (UPA) é uma entidade rara<br />
e de prognóstico desfavorável, podendo evoluir para ruptura<br />
transmural da aorta, com freqüência maior que as<br />
dissecções aórticas. Ainda mais raros são os relatos na<br />
literatura de casos nos quais foram possíveis não apenas o<br />
diagnóstico angiográfico, mas sobretudo o tratamento<br />
endovascular com sucesso. Relatamos o caso de uma paciente<br />
com diagnóstico de UPA complicada por ruptura tamponada<br />
da aorta e associada à coronariopatia multiarterial grave,<br />
admitida em nosso serviço em franca instabilidade hemodinâmica<br />
e tratada com sucesso com o implante de duas<br />
endopróteses de aorta. A cirurgia de revascularização miocárdica<br />
pôde, então, ser realizada sob condições mais estáveis.<br />
SUMMARY<br />
Endoluminal Treatment of Penetrating Atherosclerotic<br />
Aortic Ulcer: Case Report<br />
A penetrating atherosclerotic aortic ulcer (PAU) is a rare<br />
entity with unfavorable prognosis, which may progress towards<br />
aortic transmural rupture, most times larger than aortic<br />
dissections. Even rarer in the literature are case reports of<br />
PAU with angiographic diagnostic confirmation and successful<br />
endovascular treatment. We report on a case of a patient<br />
with a PAU, complicated by a sealed rupture associated to<br />
serious multivessel coronary disease, and admitted at our<br />
Cath Lab with hemodynamic instability. Emergency endoluminal<br />
treatment was successful, with the use of two stents,<br />
which allowed surgical myocardial revascularization to be<br />
carried out under more stable conditions.<br />
DESCRITORES: Úlcera, cirurgia. Aortopatias. Aorta torácica,<br />
patologia, cirurgia. Contenedores.<br />
DESCRIPTORS: Ulcer, surgery. Aortic diseases. Aorta, thoracic,<br />
pathology, surgery. Stents.<br />
Aúlcera penetrante de aorta (UPA) é definida como<br />
a ulceração de uma lesão aterosclerótica da parede<br />
da aorta, que invade a lâmina elástica e acaba<br />
por levar à formação de um hematoma na camada média 1 .<br />
Embora a revisão da literatura atribua a sua primeira<br />
descrição a Shennan, em 1934 2 , foram Stanson et al. 3<br />
que posteriormente ampliaram os conhecimentos sobre<br />
o assunto, tendo sido os primeiros a descreverem<br />
a incidência, história natural, tratamento cirúrgico da<br />
lesão e quatro potenciais desfechos, a saber:<br />
• Ulceração da camada íntima;<br />
• Hematoma intramural;<br />
1<br />
Hospital Bandeirantes, São Paulo, SP.<br />
Correspondência: Rosaly Gonçalves. Av. Professor Rubens Gomes<br />
de Souza, 167 - Jardim Cordeiro - São Paulo - SP - CEP 04640-230.<br />
Tel.: (11) 9<strong>13</strong>2-9597/(11) 3345-2199 • Fax: (11) 3277-3390<br />
e-mail: rosaly2@terra.com.br<br />
Recebido em: 08/12/<strong>2005</strong> • Aceito em: 24/01/2006<br />
• Formação de pseudo-aneurisma;<br />
• Ruptura transmural.<br />
O hematoma pode se manter localizado ou se<br />
estender, porém, habitualmente, não se desenvolve o<br />
quadro típico de “falsa-luz”.<br />
Em cerca de 8% dos casos, o hematoma pode avançar<br />
através da adventícia e causar uma ruptura transmural<br />
ou pode progredir para uma dissecção aórtica típica.<br />
Os pacientes acometidos costumam ser idosos,<br />
com história pregressa de hipertensão arterial sistêmica<br />
(HAS) e doença aterosclerótica avançada.<br />
Conseqüentemente, a UPA está em geral associada<br />
a uma alta incidência de co-morbidades, tais como<br />
coronariopatia e obstruções do sistema carotídeo.<br />
Os sinais e sintomas podem incluir dor torácica<br />
(com ou sem irradiação para dorso), hemotórax, derrame<br />
pleural, sangramento gastrointestinal e embolização<br />
distal 3-5 .<br />
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Gonçalves R, et al. Tratamento Percutâneo de Úlcera Penetrante de Aorta: Relato de Caso. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 307-310.<br />
No seu amplo estudo, Coady et al. 6 enfatizaram<br />
que o aspecto fisiopatológico da UPA é singular e<br />
distinto da dissecção aórtica. O prognóstico em pacientes<br />
sintomáticos hospitalizados devido ao quadro de<br />
UPA mostrou-se pior que o daqueles com dissecção<br />
aórtica clássica, devido a maior incidência de ruptura.<br />
Contrastando com esses resultados, estão os dados<br />
de pacientes assintomáticos relatados por Harris et al. 7<br />
e Quint et al. 8 , onde a incidência de complicações<br />
com risco de vida foi significativamente menor.<br />
Some-se a isso a evidência aparente de que UPAs<br />
localizadas na aorta ascendente, arco aórtico ou aorta<br />
descendente proximal costumam ter uma evolução<br />
pior, comparando-se com as observadas nos terços<br />
médio e distal da aorta descendente. As explicações<br />
fisiopatológicas para tal diferença evolutiva podem ser<br />
o maior estresse hemodinâmico ou o predomínio de<br />
elastina sobre colágeno na camada média das porções<br />
proximais da aorta 9 .<br />
Embora ainda haja controvérsias, as ferramentas<br />
diagnósticas e os métodos de imagem de escolha para<br />
a avaliação pré-operatória são: tomografia computadorizada<br />
(TC), ressonância nuclear magnética (RNM) e<br />
angiografia. Cumpre enfatizar, entretanto, que um alto<br />
grau de suspeita clínica é fundamental para o diagnóstico.<br />
O achado típico da UPA, o deslocamento da calcificação<br />
da íntima, pode ser bem visualizado na TC.<br />
Alguns autores têm sugerido reservar a utilização de<br />
RNM e angiografia para os casos com dúvidas diagnósticas.<br />
Recomenda-se intervenção terapêutica rápida para<br />
os pacientes sintomáticos. A correção cirúrgica com<br />
colocação de enxerto é uma opção. Esses pacientes,<br />
entretanto, não são usualmente bons candidatos à<br />
cirurgia a céu aberto, pois têm altos índices de morbimortalidade<br />
operatória.<br />
A correção endovascular com o implante de stent<br />
surgiu mais recentemente como uma opção terapêutica<br />
menos invasiva e envolvendo menores taxas de<br />
complicações e mortalidade.<br />
Essa técnica foi inicialmente relatada com sucesso<br />
pelo grupo de Stanford 10,11 e relatos subseqüentes foram<br />
publicados 8,12-15 .<br />
Um caso de implante endovascular em um paciente<br />
com UPA rota foi relatado por Pitton et al. 16 .<br />
De modo semelhante, Schoder et al. 17 também<br />
publicaram uma série de oito casos de UPA complicada<br />
da aorta descendente tratados com o uso de stents.<br />
em outro hospital devido a quadro de forte dor torácica,<br />
de início súbito, localizada em hemitórax esquerdo<br />
com irradiação para dorso.<br />
A radiografia de tórax (RX) evidenciava nítido alargamento<br />
do mediastino e ela foi, então, encaminhada ao<br />
nosso serviço para estudo da árvore coronariana e<br />
aortografia.<br />
O eletrocardiograma evidenciou ondas R “amputadas”<br />
nas derivações D3, aVF, V1 e V2.<br />
Foi realizada uma TC de tórax que revelou alargamento<br />
da aorta torácica descendente e a presença de<br />
um hematoma intramural e de derrame pleural (Figura<br />
1). Levantou-se a hipótese diagnóstica de ruptura tamponada<br />
da aorta.<br />
A presença de uma úlcera da aorta torácica descendente<br />
foi evidenciada através da aortografia (Figura 2),<br />
que também evidenciou:<br />
Figura 1 - Tomografia computadorizada inicial, evidenciando alargamento<br />
da aorta torácica descendente, hematoma intramural e derrame<br />
pleural.<br />
RELATO DO CASO<br />
Paciente do sexo feminino, 76 anos, com HAS e<br />
diabetes mellitus como fatores de risco, foi admitida<br />
Figura 2 - Aortografia pré-procedimento, evidenciando presença de<br />
úlcera da aorta torácica descendente.<br />
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Gonçalves R, et al. Tratamento Percutâneo de Úlcera Penetrante de Aorta: Relato de Caso. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 307-310.<br />
• Ausência de dupla luz ou flap;<br />
• Dilatação leve da aorta ascendente e da porção<br />
abdominal da descendente.<br />
À coronariografia, detectamos:<br />
• Obstruções graves na artéria descendente anterior<br />
(DA), primeiro diagonal (DG 1) e artéria coronária<br />
direita (CD);<br />
• Obstruções moderadamente obstrutivas na artéria<br />
circunflexa (CX).<br />
Devido ao quadro clínico grave da paciente, com<br />
instabilidade hemodinâmica e os elevados índices de<br />
mortalidade associados com a cirurgia a céu aberto,<br />
nossa opção terapêutica foi a imediata correção endovascular<br />
da UPA complicada. A cirurgia de revascularização<br />
miocárdica poderia, então, ser realizada sob<br />
condições mais estáveis.<br />
O procedimento foi realizado no laboratório de<br />
Hemodinâmica, sob anestesia geral, usando acesso<br />
femoral padrão, com arteriotomia à direita para progressão<br />
do stent e punção à esquerda para posicionamento<br />
do cateter angiográfico tipo Pigtail.<br />
Foi realizado o implante transluminal do Sistema<br />
Braile (Rx) de endoprótese aórtica. As angiografias de<br />
controle evidenciaram, no entanto, um deslocamento<br />
da borda proximal da endoprótese (stent) dentro do<br />
hematoma intramural (Figura 3). Um segundo stent,<br />
posicionado distalmente ao primeiro, foi liberado, permitindo<br />
total cobertura do defeito. A tomografia pósprocedimento<br />
mostra exclusão da úlcera e hematoma<br />
intramural (Figura 4).<br />
Apesar da rápida e franca melhora hemodinâmica,<br />
a paciente persistiu com precordialgia, a qual foi atribuída<br />
à presença de doença multiarterial coronariana<br />
grave.<br />
A paciente foi, então, submetida à cirurgia de<br />
revascularização miocárdica, três dias após, sem circulação<br />
extracorpórea.<br />
Foram realizados um enxerto de veia safena para<br />
DG1 e uma anastomose de artéria torácica interna<br />
para DA. A CD não recebeu enxerto devido à extensa<br />
calcificação.<br />
A permanência hospitalar foi mais prolongada em<br />
decorrência de uma infecção pulmonar.<br />
O restante da sua internação transcorreu sem anormalidades.<br />
Durante o acompanhamento clínico de até 9 meses<br />
após o procedimento, por meio de contato telefônico,<br />
a paciente encontrava-se assintomática. Seu seguimento<br />
clínico-cardiológico estava sendo realizado em outro<br />
serviço com seu médico privado.<br />
Entretanto, a referida paciente apresentou morte<br />
súbita, dez meses após a intervenção. A real causa<br />
não pôde ser estabelecida, podendo ter sido de origem<br />
cardíaca ou cerebrovascular.<br />
DISCUSSÃO<br />
Essa é uma rara oportunidade de diagnóstico angiográfico<br />
de uma UPA com ruptura tamponada - complicação<br />
essa encontrada apenas em 8% das UPAs.<br />
O tratamento endoluminal em caráter de emergência<br />
foi realizado com sucesso, utilizando-se dois stents, o<br />
que permitiu que a cirurgia de revascularização miocárdica<br />
fosse realizada sob condições mais estáveis.<br />
A opção cirúrgica para o tratamento da coronariopatia<br />
deveu-se à presença de doença multiarterial<br />
difusa e grave em paciente diabética e sem disponibilidade<br />
para uso de stents com eluição de drogas.<br />
Apesar do sucesso do procedimento e da ótima<br />
evolução no seguimento a médio prazo, a paciente<br />
apresentou morte súbita.<br />
Figura 3 - Angiografia de controle, onde se observa deslocamento<br />
da borda proximal da endoprótese (stent) dentro do hematoma intramural.<br />
Figura 4 - Tomografia pós-procedimento exibindo exclusão da úlcera<br />
e hematoma intramural.<br />
309
Gonçalves R, et al. Tratamento Percutâneo de Úlcera Penetrante de Aorta: Relato de Caso. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 307-310.<br />
Especulamos se as causas podem ter sido a revascularização<br />
miocárdica incompleta (CD muito calcificada)<br />
ou mesmo a progressão da doença da aorta, já<br />
que a paciente apresentava outras dilatações da aorta<br />
abdominal que não foram tratadas.<br />
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310
Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 311-314.<br />
Bayerl DM, et al. Angina Instável Desencadeada por Tumor Cardíaco Primário: Relato de Caso. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4):<br />
311-314.<br />
Relato de Caso<br />
Angina Instável Desencadeada por Tumor Cardíaco<br />
Primário: Relato de Caso<br />
Denis Moulin Bayerl 1 , Walkimar Ururay Veloso 1 , Jorge Willian Gadioli 1 , Renato Serpa 1 ,<br />
Roberto Almeida 1 , Pedro Abílio Reseck 1 , Sérgio Almeida de Oliveira 2<br />
RESUMO<br />
Paciente do sexo feminino, 38 anos, com quadro clínico de<br />
angina instável progressiva e exames complementares positivos<br />
para isquemia. À coronariografia observamos tronco de<br />
artéria coronária esquerda conectado à massa tumoral,<br />
causando compressão importante do mesmo, sendo a irrigação<br />
das artérias descendente anterior e circunflexa realizada<br />
por meio de rica circulação colateral, originada da artéria<br />
coronária direita. Encaminhada paciente para cirurgia cardíaca,<br />
sendo realizada exérese do tumor e revascularização<br />
miocárdica.<br />
DESCRITORES: Neoplasias cardíacas. Paraganglioma. Angina<br />
instável.<br />
SUMMARY<br />
Unstable Angina Triggered by Primary Cardiac Tumor:<br />
Case Report<br />
Female patient, 38 years old, with a progressive unstable<br />
angina condition, and positive complementary exams for<br />
ischemia. Coronariography showed left coronary artery<br />
trunk connected to tumoral mass, resulting in relevant compression,<br />
with anterior descending and circumflex arteries irrigation<br />
through rich collateral circulation from right coronary artery.<br />
The patient was submitted to heart surgery. The tumor was<br />
excised and myocardial revascularization was carried out.<br />
DESCRIPTORS: Heart neoplasms. Paraganglioma. Unstable<br />
angina.<br />
Oprincipal mecanismo fisiopatológico das síndromes<br />
coronarianas agudas, como a angina instável,<br />
é a ruptura ou fissura da placa aterosclerótica,<br />
resultando usualmente na superposição de plaquetas<br />
e conseqüente formação de trombos.<br />
A angina instável de causa secundária (tipo A da<br />
classificação de Braunwald) 1 é uma apresentação clínica<br />
menos freqüente, que ocorre geralmente na presença<br />
de uma condição extracardíaca que intensifica a isquemia<br />
miocárdica.<br />
A doença arterial coronariana (DAC) tem uma alta<br />
prevalência e incidência mundial, apresentando variadas<br />
etiologias e uma diversidade muito grande de<br />
apresentação clínica.<br />
Os tumores cardíacos primários constituem uma<br />
afecção rara, cuja incidência varia de 0,08% a 0,3%<br />
de todos os tumores em dados de autópsia. Na sua<br />
1<br />
Vitória Apart Hospital, Serra, ES.<br />
2<br />
Instituto do Coração de São Paulo, São Paulo, SP.<br />
Correspondência: Denis Moulin Bayerl. R. Amélia Tartuce Nasser 1110,<br />
Apto. 504. Bairro Jardim Penha. Vitória, ES - Tel: (27) 3348-5991<br />
hosp VAH. • e-mail: denismb@cardiol.br<br />
Recebido em: 12/12/<strong>2005</strong> • Aceito em: 10/01/2006<br />
grande maioria (75%) são tumores benignos, sendo os<br />
mixomas os mais freqüentes 2 . Apenas 25% dos tumores<br />
cardíacos primários são malignos 3 .<br />
Já os tumores cardíacos secundários ou metastáticos<br />
(câncer broncogênico, melanomas) são de 20 a 40<br />
vezes mais freqüentes que os primários em pacientes<br />
adultos 4-6 .<br />
RELATO DE CASO<br />
Paciente do sexo feminino, 38 anos, previamente<br />
hígida e sem fatores de risco de maior relevância para<br />
DAC. Iniciou, há aproximadamente um ano, quadro<br />
de precordialgia típica, inicialmente aos grandes esforços<br />
físicos, apresentando piora progressiva nos últimos<br />
três meses, com aumento da intensidade e freqüência<br />
dos episódios, mesmo em uso da medicação antianginosa.<br />
Referia, ainda, quadro associado de cefaléia e<br />
alguns episódios de sudorese. Exame físico sem maiores<br />
anormalidades, porém encontrava-se com quadro<br />
de hipertensão leve. Eletrocardiograma de repouso com<br />
distúrbio de repolarização anterior. Encaminhada ao<br />
teste ergométrico, sendo francamente positivo, com<br />
infradesnivelamento do segmento ST de 4 mm associado<br />
à sintomatologia típica. Ecocardiograma transtorácico<br />
sem alteração segmentar de contratilidade. Solicitada<br />
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311-314.<br />
cintilografia miocárdica para melhor avaliação da isquemia.<br />
Cintilografia mostrou isquemia em território ínferolateral<br />
do VE.<br />
Diante dos resultados, a paciente foi encaminhada<br />
para cinecoronariografia que evidenciou: tronco de<br />
artéria coronária esquerda (TCE) conectado à provável<br />
massa tumoral vascular, formada por imagens angiográficas<br />
sugestivas de fístulas e aneurismas, causando<br />
compressão e diminuição da luz do TCE em 70%<br />
(Figuras 1 e 2). Não se observava opacificação dos<br />
segmentos distais das artérias descendente anterior (DA)<br />
e circunflexa (CX). Artéria coronária direita dominante,<br />
calibrosa, opacificando através de excelente rede de<br />
circulação colateral as artérias DA e CX, que se encontravam<br />
relacionadas com a massa tumoral (Figura 3).<br />
Ventriculografia esquerda evidenciando hipocontratilidade<br />
leve de parede ântero-apical. Aortografia normal.<br />
Para melhor avaliação do provável tumor, optouse<br />
pela realização de ressonância magnética cardíaca.<br />
O exame mostrou massa de natureza vascular de 7,2<br />
x 5,1 cm envolvendo o TCE, com extensão até o terço<br />
médio da parede anterior do VE e até o arco aórtico,<br />
sem planos de clivagem com aorta, parede pulmonar<br />
e parede anterior do VE (Figuras 4 e 5). Após diagnóstico,<br />
decidiu-se encaminhar a paciente para avaliação<br />
do tratamento cirúrgico.<br />
Figura 3 - Cinecoronariografia direita em projeção OAE, evidenciando<br />
circulação colateral para artéria coronária esquerda.<br />
Figura 4 - Ressonância magnética cardíaca demonstrando massa tumoral.<br />
Figura 1 - Cinecoronariografia esquerda em projeção OAD, demonstrando<br />
TCE conectado à massa tumoral.<br />
Figura 2 - Projeção OAE caudal (Spider view).<br />
Figura 5 - Ressonância evidenciando a íntima relação do tumor com<br />
o TCE.<br />
312
Bayerl DM, et al. Angina Instável Desencadeada por Tumor Cardíaco Primário: Relato de Caso. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4):<br />
311-314.<br />
Neste período, houve piora dos sintomas, mesmo<br />
estando em uso da medicação (beta-bloqueador e nitrato),<br />
sendo a paciente internada algumas vezes na<br />
Unidade Coronariana com quadro de angina instável.<br />
Paciente foi, então, submetida à cirurgia cardíaca<br />
em São Paulo, para retirada do tumor e revascularização<br />
miocárdica da primeira diagonal com sucesso. O tumor<br />
foi encaminhado para exame anatomopatológico, tendo<br />
diagnóstico de paraganglioma.<br />
No pós-operatório, evoluiu sem intercorrências,<br />
sendo submetida antes da alta a estadiamento de varredura<br />
tumoral por meio de Pet-Scan, sem sinais de<br />
malignidade. Houve sinal de captação em vértebra T8,<br />
porém não confirmado pela cintilografia com MIBG.<br />
Realizado, ainda, cateterismo pós-operatório, evidenciando<br />
TCE ocluído e ponte de safena pérvia para o<br />
ramo diagonal, opacificando todo sistema coronariano<br />
esquerdo.<br />
Atualmente, encontra-se assintomática e realizando<br />
atividades profissionais, estando em acompanhamento<br />
cardiológico e oncológico ambulatorial.<br />
DISCUSSÃO<br />
O caso relatado é extremamente raro e não menos<br />
complexo, pois se trata de um caso típico de insuficiência<br />
coronariana, em uma paciente mãe jovem de 38<br />
anos, ativa, sem fator de risco maior para DAC, com<br />
uma etiologia incomum: um tumor cardíaco primário.<br />
No caso descrito, os paragangliomas são neoplasias<br />
benignas, apresentando malignização em apenas 6,4%<br />
dos casos. Surgem a partir do tecido paragangliônico<br />
do sistema nervoso autônomo (SNA). Os paragânglios<br />
estão amplamente distribuídos no corpo humano, tendo<br />
sido encontrados nos pulmões, coração, trato gastrointestinal,<br />
retroperitônio, bexiga e, mais raramente, na<br />
cabeça e pescoço. No coração, localizam-se, na sua<br />
maioria, na superfície epicárdica de sua base, no teto<br />
da aurícula esquerda e, com menos freqüência, no<br />
septo interatrial 7 .<br />
Apresentam maior incidência nas idades entre 18<br />
a 85 anos, sem prevalência de sexo 8 .<br />
Na sua grande maioria são produtores de catecolaminas,<br />
sendo os pacientes muitas vezes hipertensos,<br />
apresentando cefaléia freqüente e flush. Os paragangliomas<br />
provêm do sistema extra-adrenal, enquanto os<br />
feocromocitomas derivam do sistema adrenal. Têm crescimento<br />
lento e em 10% podem infiltrar-se localmente 9 .<br />
A sua localização, diagnóstico e tratamento geram discussão,<br />
controvérsia e interesse, principalmente pelos<br />
cuidados peculiares que devem ser tomados na sua<br />
investigação e no seu tratamento em decorrência da<br />
sua hipervascularização e localização.<br />
De um modo geral, por se tratar de afecção rara,<br />
os tumores cardíacos apresentam um diagnóstico inicial<br />
complexo, principalmente devido à diversidade<br />
de suas manifestações clínicas, muitas vezes, mimetizando<br />
cardiopatias comuns, como insuficiência coronária,<br />
insuficiência cardíaca e tamponamento, o que<br />
dificulta muito o diagnóstico diferencial de cardiopatia<br />
tumoral 10-12 .<br />
O método de escolha para a avaliação diagnóstica<br />
e para o controle evolutivo das massas cardíacas é o<br />
ecocardiograma <strong>13</strong>,14 . Atualmente, a ressonância nuclear<br />
magnética tem fornecido informações adicionais importantes<br />
sobre a relação do tumor com estruturas intracardíacas<br />
normais e/ou extensão para vasos adjacentes<br />
e estruturas mediastinais 15 .<br />
A angiografia e o cateterismo cardíaco não são<br />
exames necessários em todos os casos de tumores<br />
cardíacos. A dificuldade de definição por meio dos<br />
exames não invasivos, a provável presença de tumor<br />
cardíaco maligno e a suspeita de lesões cardíacas<br />
associadas, são algumas situações nas quais sua indicação<br />
se impõe 16 . Os principais achados angiocardiográficos<br />
são: 1) compressão ou deslocamento das câmaras<br />
cardíacas ou grandes vasos; 2) deformidades<br />
das câmaras cardíacas (geralmente nos malignos); 3)<br />
defeito de enchimento intracavitário; 4) variações da<br />
espessura do miocárdio; 5) derrame pericárdico; 6)<br />
alterações de contratilidade. Além disto, a coronariografia<br />
pode, em alguns casos, permitir a identificação do<br />
suprimento vascular do tumor, sua relação com as<br />
artérias coronárias e se há presença de DAC associada 17 .<br />
A principal complicação do cateterismo é a embolização<br />
periférica, devido ao deslocamento de um fragmento<br />
do tumor ou trombo associado.<br />
O tratamento dependerá do tipo de tumor, ou<br />
seja, se é primário ou metastático. No caso de primário<br />
benigno, a retirada cirúrgica é o tratamento de escolha<br />
e, em muitos casos, resulta em cura completa.<br />
Apesar da maioria dos tumores ser histologicamente<br />
benigna, todos os tumores cardíacos são potencialmente<br />
letais, pois podem causar obstruções intracavitárias,<br />
valvulares e/ou vasculares, embolização periférica, além<br />
de distúrbios de ritmo e/ou condução.<br />
Já nos metastáticos, o tratamento é paliativo, consistindo<br />
em medidas gerais e medicação sintomática.<br />
Apesar das tentativas de diversas combinações de cirurgia,<br />
radioterapia e/ou quimioterapia, o prognóstico é<br />
reservado 16,18,19 .<br />
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314
Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 315-322.<br />
Diretrizes para Habilitação de Centros de Treinamento e para Obtenção de Certificação em Hemodinâmica e Cardiologia<br />
Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 315-322.<br />
Diretriz<br />
Diretrizes para Habilitação de Centros de Treinamento<br />
e para Obtenção de Certificação em Hemodinâmica e<br />
Cardiologia Intervencionista<br />
Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista<br />
Sociedade Brasileira de Cardiologia<br />
Editores: Eulógio Emílio Martinez Filho, Luiz Alberto Piva Mattos, Paulo R. A. Caramori<br />
Editores Associados: Adriano Mendes Caixeta, Ari Mandil, Cláudia M. Rodrigues Alves,<br />
Fábio Sândoli de Brito Júnior, Fausto Feres, José Klauber Roger Carneiro,<br />
Newton Fernando Stlader de Souza Filho, Ronaldo da Rocha Loures Bueno<br />
Apresentação<br />
A abordagem do tema “formação do especialista<br />
médico” vem sendo amplamente feita nos últimos anos<br />
e isto, certamente, se deve à importância do assunto.<br />
Com as grandes transformações sofridas na formação<br />
e no exercício profissional, o programa de treinamento<br />
na área médica tem se tornado requisito importante,<br />
motivo pelo qual a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica<br />
e Cardiologia Intervencionista tem se mobilizado<br />
para acompanhar, participar e avaliar os critérios para<br />
formação de especialistas.<br />
Conforme a legislação vigente, por meio da Resolução<br />
CFM nº 1634/2002, anexo 2, cláusula 1ª, letra<br />
A, é prerrogativa exclusiva da Comissão Nacional de<br />
CNRM-MEC de credenciar e autorizar o funcionamento<br />
dos programas de residência médica, em todo o<br />
território nacional.<br />
Como todos sabem, a Hemodinâmica e Cardiologia<br />
Intervencionista ainda não é uma especialidade médica<br />
reconhecida e sim uma área de atuação. Como<br />
área de atuação, não existe, até o momento, legislação<br />
regulatória definindo quem credencia e autoriza o funcionamento<br />
dos programas de treinamento para as<br />
áreas de atuação. A única citação que a legislação faz<br />
refere-se ao tempo mínimo para treinamento para a<br />
área de atuação em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista,<br />
que até há pouco tempo era de um ano,<br />
passando recentemente para dois anos.<br />
A SBHCI, ao longo desses últimos 20 anos, tem<br />
assumido postura de uma sociedade de especialidade<br />
médica, embora saibamos que esta condição estamos<br />
ainda para conquistar no próximo ano. Desta forma,<br />
sempre tratamos a questão de Habilitação de Centros<br />
de Treinamento e para Obtenção de Certificação em<br />
Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista como<br />
se fôssemos uma especialidade médica.<br />
A necessidade de elaborarmos uma proposta para<br />
a Comissão Mista de Especialidade para o pleito de<br />
especialidade médica, somada à tradição de agirmos<br />
como uma especialidade médica e adequando a legislação<br />
vigente, levou-nos a gerar duas versões de Diretrizes<br />
para Habilitação de Centros de Treinamento e<br />
para Obtenção de Certificação em Hemodinâmica e<br />
Cardiologia Intervencionista*.<br />
Uma das versões das diretrizes, no formato que<br />
obedece à resolução CFM nº 1634/2002, dá a prerrogativa<br />
CNRM - MEC de credenciar e autorizar o funcionamento<br />
dos programas de residência médica. Esta<br />
diretriz foi publicada nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia<br />
vol. 84, nº 3, Março <strong>2005</strong> - num formato<br />
parcial para atender à Coordenação e Normatização<br />
de Diretrizes da SBC. Esta versão também foi publicada,<br />
em <strong>2005</strong>, na íntegra, na Revista Brasileira de Cardiologia<br />
Invasiva - vol. 12, nº 1, Jan/Fev/Mar 2004.<br />
A outra versão, que segue o formato para atender<br />
à tradição da SBHCI, em recomendar Centros de Treinamento,<br />
apresentaremos a seguir.<br />
Ronaldo da Rocha Loures Bueno<br />
Presidente - SBHCI<br />
* Bueno RRL, Lima VC, Coelho WMC, Caramori P, Mandil A, Machado BM, Perin MA, Leite RS, Caixeta AM, Mattos LAP, Mangione JA, Gottschall<br />
C, Gasques A. Proposta de Inclusão da Hemodinâmica e Intervenção Cardiovascular como Especialidade Médica. SBHCI – Curitiba, Abril <strong>2005</strong>.<br />
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Diretrizes para Habilitação de Centros de Treinamento e para Obtenção de Certificação em Hemodinâmica e Cardiologia<br />
Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 315-322.<br />
Em 1977, foi criado o Departamento de Hemodinâmica<br />
e Angiocardiografia da Sociedade Brasileira<br />
de Cardiologia (SBC). Posteriormente, foi fundada,<br />
em 1993, a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica<br />
e Cardiologia Intervencionista (SBHCI).<br />
Ao longo de mais de 25 anos consecutivos de<br />
trabalho associativo e científico, a SBHCI acompanhou<br />
o crescimento exponencial e a aceitação, por parte da<br />
comunidade e dos médicos, da realização de exames<br />
diagnósticos hemodinâmicos e angiográficos, elucidando<br />
as diversas formas de doenças cardiovasculares, congênitas<br />
ou adquiridas. Também participou da introdução<br />
e estabelecimento de diversas técnicas de diagnóstico<br />
e tratamento de múltiplas formas de apresentação das<br />
doenças cardiovasculares no Brasil.<br />
A SBHCI sempre manifestou seu interesse na vigilância<br />
constante relacionada à certificação de novos<br />
profissionais, aptos à execução destes procedimentos<br />
em nosso país. O quadro associativo exibe crescimento<br />
contínuo e ininterrupto, sendo estimado que, até o<br />
final de 2007 estejam integrados à SBHCI, aproximadamente,<br />
1.000 médicos cardiologistas intervencionistas.<br />
A evolução observada na prática da cardiologia<br />
intervencionista determinou a necessidade da ampliação<br />
dos conhecimentos teóricos e práticos para a<br />
formação dos profissionais da área. A Associação Médica<br />
Brasileira (AMB), o Conselho Federal de Medicina (CFM)<br />
e a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM)<br />
reconheceram a diferenciação de treinamento necessária<br />
para a prática da especialidade, estabelecendo o<br />
certificado de área de atuação em hemodinâmica e<br />
cardiologia intervencionista, a partir do ano de 2001,<br />
definindo-a como uma área de atuação da cardiologia.<br />
Contudo, as regras determinadas pela AMB/CFM/<br />
CNRM para certificação em hemodinâmica e cardiologia<br />
intervencionista, bem como as estabelecidas nos estatutos<br />
da SBHCI para formação de um membro titular,<br />
não contemplam os avanços e a complexidade crescente,<br />
relacionados à prática atual, justificando a necessidade<br />
de atualização.<br />
Este documento é o resultado de um consenso de<br />
seus editores. As diretrizes elaboradas têm por finalidade<br />
detalhar e atualizar critérios e fixar novas regras<br />
para a habilitação de Centros de Treinamento nesta<br />
área de atuação, assim como estabelecer critérios para<br />
formação de novos profissionais e para a obtenção do<br />
certificado de área de atuação em hemodinâmica e<br />
cardiologia intervencionista. As mesmas devem ser implementadas<br />
a partir das modificações que sejam necessárias<br />
nos estatutos da SBHCI.<br />
RECOMENDAÇÕES PARA HABILITAÇÃO DOS<br />
CENTROS DE TREINAMENTO EM HEMODINÂMICA<br />
E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA<br />
Até o final de 2002, 41 centros estavam habilitados<br />
pela SBHCI para o treinamento em hemodinâmica<br />
e cardiologia intervencionista. Os centros existentes e<br />
os novos interessados deverão atender aos critérios<br />
expostos a seguir, com a finalidade de requisitarem ou<br />
manterem o seu credenciamento como Centros de<br />
Formação junto à SBHCI.<br />
I. Recomendações para Habilitação de Centros<br />
de Treinamento<br />
1. Pertencer ou ser afiliado a um programa de<br />
residência médica em cardiologia, credenciado pela<br />
Comissão Nacional de Residência Médica ou outros<br />
programas avalizados pela SBHCI.<br />
2. Possuir ou ser associado a serviço de cirurgia<br />
cardíaca e vascular.<br />
3. Enviar para a Central Nacional de Intervenções<br />
Cardiovasculares (CENIC) o registro de todos os casos<br />
de intervenção cardiovascular percutânea realizados<br />
anualmente.<br />
4. Realizar cateterismos cardiovasculares diagnósticos,<br />
sendo, pelo menos, 1.000 cateterismos cardíacos<br />
anuais, comprovados por declaração assinada do chefe<br />
do serviço, referentes aos dois últimos anos de atividade.<br />
5. Realizar intervenções cardiovasculares percutâneas,<br />
incluindo intervenções coronarianas, vasculares, congênitas<br />
e valvulares, sendo, pelo menos, 400 intervenções<br />
coronarianas percutâneas, comprovadas por meio de<br />
relatório da CENIC, referentes aos dois últimos anos.<br />
6. Possuir, no mínimo, dois (2) preceptores, com<br />
certificado de área de atuação em Hemodinâmica e<br />
Cardiologia Intervencionista, membros titulares da SBHCI<br />
há pelo menos cinco (5) anos, em dia com suas obrigações<br />
associativas. Cada preceptor deverá comprovar a<br />
manutenção de proficiência, por meio dos registros da<br />
CENIC, demonstrando um mínimo de 75 intervenções<br />
cardiovasculares por ano, nos últimos dois anos.<br />
7. É recomendação desta Diretriz, que o número<br />
de vagas disponibilizadas por ano em um centro de<br />
formação esteja vinculado ao número de procedimentos<br />
anuais por centro e ao número de preceptores credenciados:<br />
para cada aluno, um preceptor e, no mínimo,<br />
250 procedimentos intervencionistas percutâneos realizados<br />
no ano anterior.<br />
8. Coordenador do Programa deverá ser um dos<br />
preceptores, que será o responsável, junto à SBHCI,<br />
pela observância destas recomendações.<br />
9. A SBHCI será a responsável pela avaliação dos<br />
centros e verificação do cumprimento destas determinações,<br />
tanto na renovação como no credenciamento<br />
de novos centros de treinamento.<br />
10. Os centros já habilitados terão um prazo, que<br />
será estipulado por uma comissão a ser constituída,<br />
para solicitarem seu recadastramento como Centros<br />
de Treinamento, a fim de manterem a sua habilitação.<br />
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Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 315-322.<br />
11. Serão realizadas verificações periódicas, visando<br />
conferir o cumprimento destas recomendações. Os<br />
centros que as descumprirem estarão sujeitos à perda<br />
da sua habilitação. O comunicado será feito por escrito<br />
ao coordenador do programa. Nesses casos, os centros<br />
terão 90 dias para solicitarem uma nova avaliação,<br />
após a devida correção. Mediante a evidência de ajustes<br />
apenas parciais das anormalidades observadas, um novo<br />
período de 45 dias será efetivado. A persistência das<br />
incorreções promove a perda da habilitação do centro.<br />
II. Recomendações e Obrigações do Centro<br />
de Treinamento<br />
O período de tempo determinado para o treinamento<br />
é de 24 meses consecutivos. Devem ser reservados<br />
30 dias anuais para férias, aprimoramento científico,<br />
ou participação em congressos e encontros da especialidade.<br />
Situações inusitadas, que requerem o afastamento<br />
prolongado do aluno (como doença ou gravidez),<br />
deverão ser contornadas com o cumprimento de tempo<br />
adicional, no próprio centro, até a completa efetivação<br />
do treinamento. Não serão aceitas interrupções<br />
superiores a 12 meses, e o prazo máximo para a<br />
duração do treinamento deverá ser de até 36 meses.<br />
O programa de treinamento deverá propiciar ao<br />
aluno formação completa com domínio de técnicas e<br />
conhecimentos relativos à intervenção cardiovascular.<br />
O 1º ano do programa deverá oferecer treinamento<br />
teórico-prático, fundamentalmente em noções básicas<br />
e procedimentos percutâneos diagnósticos. O 2º ano<br />
deverá ser direcionado para o treinamento em procedimentos<br />
percutâneos terapêuticos. A formação exclusiva<br />
em cardiologia intervencionista para o diagnóstico<br />
e tratamento das cardiopatias congênitas será permitida<br />
àqueles médicos que possuam título de especialista<br />
em cardiologia da SBC e certificado de área de atuação<br />
em cardiologia pediátrica.<br />
O programa de atividade teórica e prática, do<br />
qual o Coordenador deverá enviar cópia para a sede<br />
da SBHCI, deverá incluir:<br />
1. Participação direta, sob supervisão do preceptor,<br />
em cateterismos cardíacos e vasculares diagnósticos e<br />
em intervenções coronarianas e vasculares percutâneas.<br />
Durante o período de treinamento, recomenda-se que<br />
o aluno atue como primeiro operador sob supervisão<br />
em: a) 400 cateterismos cardíacos; b) 120 intervenções<br />
coronarianas percutâneas. Também é recomendada a<br />
participação ativa em angiografias diagnósticas e intervenções<br />
cardiovasculares percutâneas (vasculares, cardíacas<br />
congênitas e valvulares);<br />
2. Participação periódica em reuniões clínicas e<br />
científicas sobre cardiologia clínica e intervencionista<br />
cardiovascular, que propiciem a adequada formação<br />
do aluno, compreendendo o curriculum teórico básico<br />
descrito no Anexo 1.<br />
III. Pré-requisitos para Admissão de Alunos<br />
no Centro de Treinamento<br />
1. Inscrição no respectivo CRM.<br />
2. Conclusão de dois (2) anos de residência médica<br />
em cardiologia, credenciada pela Comissão Nacional<br />
de Residência Médica ou pela SBC, ou título de especialista<br />
em cardiologia pela AMB/SBC.<br />
RECOMENDAÇÕES PARA CERTIFICAÇÃO<br />
EM HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA<br />
INTERVENCIONISTA E AO COMITÊ DE<br />
PROVAS E CERTIFICAÇÃO DA SBHCI<br />
Os candidatos à obtenção de Certificação em Hemodinâmica<br />
e Cardiologia Intervencionista deverão preencher<br />
os seguintes requisitos: 1. ser médico inscrito<br />
em CRM; 2. possuir título de especialista em cardiologia<br />
pela AMB/ SBC; 3. conclusão do período de formação<br />
em Centro de Treinamento habilitado pela SBHCI; 4.<br />
aprovação nas provas teórica e prática realizadas pela<br />
SBHCI; 5. entrega dos devidos documentos e certificados<br />
na sede da SBHCI.<br />
Os candidatos à habilitação que efetivaram o seu<br />
treinamento no exterior deverão cumprir todos os critérios<br />
acima descritos, excetuando-se o item número<br />
3. A comprovação da realização do número de procedimentos<br />
será verificada mediante documento assinado<br />
pelo Chefe de Serviço do respectivo local de treinamento.<br />
A qualificação e a idoneidade do Centro de Formação<br />
não brasileiro é de jurisprudência da SBHCI. Não<br />
caberá recurso diante do seu resultado. A prova prática<br />
deverá ser realizada em um Centro de Treinamento<br />
brasileiro, sendo a escolha facultada ao candidato.<br />
I. Prova teórica: A prova teórica é realizada anualmente,<br />
conforme edital publicado pela SBHCI. É preparada<br />
pela Comissão Científica da SBHCI ou por comissão<br />
específica por ela delegada, sendo composta de<br />
perguntas com respostas objetivas e discussão de casos<br />
clínicos. A prova deverá avaliar o domínio de conhecimentos<br />
relativos a todos os tipos de intervenção cardiovascular,<br />
incluindo cardiopatias congênitas e adquiridas<br />
e doença coronariana e vascular. Uma prova<br />
teórica relacionada ao diagnóstico e ao tratamento<br />
percutâneo das cardiopatias congênitas será oferecida<br />
àqueles que realizaram treinamento dedicado à área.<br />
A nota necessária para aprovação é maior ou igual a<br />
sete (7,0). A avaliação de curriculum vitae também<br />
poderá ser realizada, conforme determinado pelo edital<br />
divulgado pela SBHCI.<br />
As exigências requeridas aos candidatos à realização<br />
da prova teórica são as seguintes: 1. inscrição<br />
definitiva no Conselho Regional de Medicina; 2. conclusão<br />
de dois (2) anos de residência médica em cardiologia<br />
clínica, credenciada pela Comissão Nacional de<br />
Residência Médica ou pela SBC, título de especialista<br />
em cardiologia pela AMB/SBC; 3. conclusão do primeiro<br />
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ANEXO 1<br />
Curriculum Teórico-Prático Básico<br />
Programa de Treinamento em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista<br />
O programa de treinamento em Cardiologia Intervencionista deverá incluir:<br />
01. Conhecimentos relativos a: a) fisiologia cardiovascular; b) mecanismos patológicos das doenças cardiovasculares,<br />
incluindo determinantes de aterosclerose e trombose; c) manifestações sistêmicas da aterosclerose e fatores de risco que<br />
contribuem para o seu desenvolvimento; d) diretrizes estabelecidas para modificação destes fatores de risco; e)<br />
fisiopatologia, manifestações clínicas, história natural, avaliação e manejo das doenças cardiovasculares; f) estados<br />
protrombóticos, incluindo distúrbios hereditários e adquiridos;<br />
02. Noções básicas de radiação ionizante, formação da imagem, proteção radiológica;<br />
03. Acessos vasculares – anatomia vascular; escolha e técnica de acesso arterial e venoso em múltiplos sítios (radial,<br />
braquial, femoral), técnicas para obtenção de hemostase e reconhecimento e tratamento de complicações de acesso<br />
vascular;<br />
04. Registros pressóricos e medida de débito cardíaco – avaliação crítica da qualidade dos registros e seu funcionamento;<br />
reconhecimento das curvas pressóricas nas diferentes cavidades na fisiologia normal e em situações patológicas;<br />
05. Contrastes iodados – tipos, dose, complicações e prevenção e tratamento de reações alérgicas e nefrotoxicidade a<br />
contraste;<br />
06. Conhecimentos da anatomia radiológica cardíaca, coronariana e vascular e as devidas projeções angiográficas para<br />
realização adequada dos procedimentos cardiovasculares;<br />
07. Interpretação de imagens e angiografia quantitativa;<br />
08. Medida do fluxo na circulação sistêmica e pulmonar; cálculo de shunts e resistências; cálculo de área valvar; monitorização<br />
das alterações hemodinâmicas em resposta a drogas;<br />
09. Fisiologia e fisiopatologia do fluxo coronariano – métodos de avaliação e interpretação de resultados (doppler-flow e<br />
pressure-wire);<br />
10. Ultra-som intravascular - técnica de execução e interpretação de imagens;<br />
11. Conhecimento técnico dos materiais utilizados para procedimentos diagnósticos e intervencionistas cardiovasculares;<br />
12. Reconhecimento e manejo de complicações de cateterismo cardíaco e angiografia cardiovascular diagnóstica terapêutica;<br />
<strong>13</strong>. Farmacologia aplicada a procedimentos percutâneos cardiovasculares – medicações utilizadas no atendimento das<br />
urgências (parada cardiorrespiratória e anafilaxia), manejo de choque cardiogênico, de espasmo vascular, uso de<br />
antiplaquetários, anticoagulantes, trombolíticos, anti-anginosos e anti-hipertensivos;<br />
14. Indicações e contra-indicações de cateterismo cardíaco e angiografia cardiovascular diagnóstica;<br />
15. Diagnóstico angiográfico das principais doenças cardiovasculares congênitas na criança e no adulto;<br />
16. Indicações, contra-indicações, técnica e limitações dos diversos procedimentos terapêuticos em Cardiologia Intervencionista,<br />
incluindo: a) intervenção coronária e vascular; b) utilização de dispositivos de proteção distal; c) valvoplastias;<br />
d) alcoolização e embolização de artérias coronárias; e) retirada de corpos estranhos intravasculares;<br />
17. Indicações, contra-indicações, técnica e limitações dos diversos procedimentos terapêuticos em Cardiologia Intervencionista<br />
congênita incluindo: a) septostomia atrial (as diversas técnicas) e valvoplastias; b) angioplastia das artérias<br />
pulmonares e outras artérias e veias; c) aortoplastia e stent aórtico; d) radiofreqüência para perfuração valvar; e) técnicas<br />
de oclusão: embolizações, dispositivos de oclusão de defeitos cardíacos;<br />
18. Aspectos técnicos peculiares de cada dispositivo de intervenção percutânea cardiovascular;<br />
19. Análise crítica dos estudos publicados (medicina baseada em evidências).<br />
ano de treinamento em Intervenção Cardiovascular<br />
em Centro de Treinamento credenciado pela SBHCI,<br />
conforme certificado do coordenador local; 4. certificado<br />
de área de atuação em cardiologia pediátrica,<br />
para os candidatos a prova teórica específica de cardiologia<br />
intervencionista congênita; 5. pagamento de<br />
taxa de inscrição estipulada pela SBHCI.<br />
II. Prova prática: As exigências requeridas aos<br />
candidatos para a realização da prova prática são as<br />
seguintes: 1. inscrição no CRM; 2. aprovação prévia<br />
na prova teórica da SBHCI; 3. comprovação de conclusão<br />
do Programa de treinamento em Centro habilitado pela<br />
SBHCI, conforme certificado emitido pelo coordenador<br />
do programa; 4. apresentação de certificado comprovando<br />
a participação direta como primeiro operador<br />
em 400 cateterismos cardíacos e angiografias diagnósticos;<br />
5. comprovação de participação como primeiro<br />
operador em 120 intervenções coronarianas percutâ-<br />
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Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 315-322.<br />
neas; 6. pagamento da taxa de inscrição estipulada<br />
pela SBHCI.<br />
IIa. Realização e julgamento da prova prática: A<br />
solicitação da prova prática deverá ser efetuada pelo<br />
aluno, por escrito, à secretaria da SBHCI. Após a solicitação<br />
e análise do cumprimento dos quesitos necessários,<br />
a SBHCI realizará a prova dentro de um período<br />
de até 60 dias.<br />
O aluno deve realizar, como primeiro operador<br />
independente, uma intervenção coronariana ou cardiovascular<br />
percutânea, de acordo com as seguintes<br />
normas: 1. A prova deverá ser realizada em um Centro<br />
de Treinamento credenciado pela SBHCI. O local e<br />
hora da prova serão divulgados pela SBHCI; 2. A banca<br />
examinadora será composta de três (3) membros titulares<br />
da SBHCI há, pelo menos, cinco (5) anos, em dia<br />
com suas obrigações associativas, sendo designada<br />
pela SBHCI. Em nenhuma hipótese, haverá recurso às<br />
decisões da banca examinadora; 3. Os membros da<br />
banca examinadora podem participar de até duas provas<br />
práticas, de alunos distintos, em um mesmo Centro de<br />
Treinamento, no mesmo dia; 4. Não será permitida a<br />
participação na banca examinadora de membros titulares<br />
pertencentes ao Centro de Treinamento do aluno; 5.<br />
Um dos preceptores que participou da formação do<br />
aluno deverá estar à disposição da banca examinadora<br />
para eventuais esclarecimentos; 6. A banca examinadora<br />
registrará em ata a realização da prova, que<br />
será encaminhada, sob sigilo, à SBHCI; 7. O resultado<br />
da prova é categórico, aprovado ou reprovado. O<br />
resultado será enviado por escrito, no prazo de até 30<br />
dias após sua realização, por meio de comunicado<br />
oficial da SBHCI; 8. Na evidência de reprovação: a) a<br />
SBHCI informará ao aluno, por escrito, as razões da<br />
reprovação, auxiliando nas correções e aprimoramentos<br />
das deficiências apresentadas; b) o aluno poderá repetir<br />
a prova, sendo sugerido um treinamento adicional<br />
em Centro de Treinamento habilitado pela SBHCI;<br />
9. As eventuais expensas relacionadas ao comparecimento<br />
dos membros da banca examinadora no Centro<br />
de Treinamento serão de responsabilidade da SBHCI<br />
(passagens e hospedagem).<br />
IIb. Recomendações para a banca examinadora<br />
da prova prática: O candidato, ao realizar uma intervenção<br />
percutânea coronariana ou cardiovascular de forma<br />
independente, como primeiro operador, deverá ser<br />
avaliado pela banca examinadora quanto a três quesitos:<br />
conhecimentos, habilidades e atitudes.<br />
1. Conhecimentos: a) definição da anatomia cardiovascular;<br />
b) indicações de procedimentos diagnósticos<br />
e terapêuticos; c) manejo clínico no período pré<br />
e pós-procedimento; d) escolha da via de acesso, agentes<br />
de contraste e instrumental mais adequado para a<br />
realização do procedimento; e) complicações potenciais<br />
e o seu tratamento; f) estimativa de sucesso e preditores<br />
de insucesso a curto e longo prazo para o procedimento.<br />
2. Habilidades: a) tempo de gasto de fluoroscopia<br />
para a realização do procedimento; b) rigor técnico; c)<br />
capacidade de contornar eventuais dificuldades; d)<br />
utilização adequada da farmacologia adjunta; e) conduta<br />
para finalização do procedimento e hemostasia da via<br />
de acesso; f) prescrição médica após o procedimento<br />
e recomendações para a alta hospitalar.<br />
3. Atitudes: a) pontualidade; b) relação médicopaciente;<br />
c) relação com enfermagem e auxiliares de<br />
sala.<br />
A banca examinadora registrará o resultado da<br />
prova em ata, indicando se o candidato foi aprovado<br />
ou reprovado. Em caso de reprovação, deverão ser<br />
indicados os quesitos em que o desempenho do candidato<br />
foi considerado insuficiente. Esta ata deverá, então,<br />
ser encaminhada, sob sigilo, à SBHCI.<br />
O Centro de Treinamento deve estar minimamente<br />
equipado (Anexo 2) para a realização de exames diagnósticos<br />
e terapêuticos em Intervenção Cardiovascular<br />
(Anexo3).<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
1. Hirshfeld Jr. JW, Ellis SG, Faxon DP, Block PC, Carver JR,<br />
Douglas JS et al. Recommendations for the assessment and<br />
maintenance of proficiency in coronary interventional procedures.<br />
Statement of the American College of Cardiology. J<br />
Am Coll Cardiol 1998,31:722-43.<br />
2. Ruiz CE, Mullins CE, Rochini AP, Radtke WA, Hijazi ZM,<br />
O’Laughlin MP et al. Core curriculum for the training of<br />
pediatric invasive/interventional cardiologists: report of the<br />
Society for Cardiac Angiography and Interventions Committee<br />
on Pediatric Cardiology Training Standards. Cathet Cardiovasc<br />
Diagn 1996;37:409-24.<br />
3. Hodgson JM, Tommaso CL, Watson RM, Weiner BH. Core<br />
curriculum for the training of adult invasive cardiologists:<br />
report of the Society for Cardiac Angiography and Interventions<br />
Committee on Training Standards. Cathet Cardiovasc Diagn<br />
1996;37:392-408.<br />
4. Beller GA, Bonow RO, Fuster V. Core Cardiology Training<br />
Symposium (COCATS). ACC revised recommendations for<br />
training in adult cardiovascular medicine. Core Cardiology<br />
Training II (COCATS 2). (Revision of the 1995 COCATS<br />
training statement). J Am Coll Cardiol 2002;39:1242-6. Disponível<br />
em: www.acc.org<br />
5. Jacobs AK, Faxon DP, Hirshfeld JW, Holmes DR. Core cardiology<br />
training in adult cardiovascular medicine (COCATS) –<br />
Task force 3: Training in diagnostic cardiac catheterization<br />
and interventional cardiology. American College of Cardiology;2002.<br />
Disponível em: www.acc.org<br />
6. Smith Jr. SC, Dove JT, Jacobs AK, Kennedy JW, Kereiakes D,<br />
Kern MJ et al. American College of Cardiology; American<br />
Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Committee<br />
to Revise the 1993 Guidelines for Percutaneous Transluminal<br />
Coronary Angioplasty. ACC/AHA guidelines of percutaneous<br />
coronary interventions (revision of the 1993 PTCA guidelines)—executive<br />
summary. A report of the American College<br />
of Cardiology/American Heart Association Task Force on<br />
Practice Guidelines (committee to revise the 1993 guidelines<br />
for percutaneous transluminal coronary angioplasty). J Am<br />
Coll Cardiol 2001;37:2215-39.<br />
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Diretrizes para Habilitação de Centros de Treinamento e para Obtenção de Certificação em Hemodinâmica e Cardiologia<br />
Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 315-322.<br />
ANEXO 2<br />
Equipamentos para Cateterismo Cardiovascular e Equipamentos Complementares<br />
O Centro de Treinamento deve estar de acordo com os seguintes critérios:<br />
1. Equipamento de cateterismo cardiovascular:<br />
O equipamento de cateterismo deve contemplar vários requisitos como confiabilidade, testes na fábrica de segurança e<br />
qualidade, assistência técnica especializada e permanente, garantia do fabricante e qualidade de imagem, dentre outros.<br />
Com relação às especificações técnicas, o equipamento:<br />
• Deve possuir um arco fixo, preferencialmente com sistema de proteção contra colisão com o corpo do paciente, cujo<br />
sistema interrompe o movimento com o contato físico entre as partes;<br />
• Deve possuir uma arquitetura que permita projeções craniais/caudais de 45 graus e oblíquas mínimas de 120 graus de<br />
angulação, para obter imagens em qualquer ângulo desejado;<br />
• A velocidade de movimentação de rotação do arco deve, preferencialmente, ser de no mínimo de 25 graus por<br />
segundo, para tornar mais ágil a realização dos procedimentos;<br />
• A mesa de exame deve possuir suporte fixo e movimento deslizante e com capacidade para suportar no mínimo um<br />
paciente com 160 kg, adicionado a mais 100 kg para manobras de ressuscitação, garantindo a segurança em situações<br />
de emergência;<br />
• O gerador de raios-X de alta tensão deve ter a potência mínima de 100 KW. O gerador deverá possuir a capacidade de<br />
proporcionar ao tubo de raios-X uma emissão de radiação rápida e de potência suficiente para a obtenção de contraste<br />
na imagem, permitindo nesta condição a operação dentro dos limites de segurança de radiação para o paciente e<br />
operador. Para a realização de exames e, principalmente, para implante de stents, é necessário que o médico possa<br />
visualizar com absoluta clareza e com detalhes finos, que só podem ser obtidos com quantidade adequada de raios-X;<br />
• O tubo de raios-X deve ter a capacidade térmica de, no mínimo, 1.700.000 HU, o que atesta a sua qualidade. A<br />
capacidade de um tubo de absorver calor é que determina se um equipamento pode realizar dois procedimentos na<br />
seqüência, sem que haja paralisação do sistema para resfriar o tubo. É imprescindível que um equipamento possa<br />
atender um paciente de emergência logo após a realização de um procedimento de rotina;<br />
• A fluoroscopia pulsada deve possuir taxas de pelo menos 30/15 e 7.5 pulsos por segundo. A fluoroscopia pulsada<br />
reduz a exposição à radiação para os médicos e pacientes, portanto, quanto menor for a taxa de pulsação, menor será<br />
a exposição;<br />
• O intensificador de imagem deve possuir o maior “fator conversor” possível, o que permitirá aumentar a contrastação<br />
e reduzir o fator de distorção geométrica, fatores estes determinantes de uma alta qualidade da imagem;<br />
• Escudo de proteção de raios-X móvel, de teto ou de chão. Essa proteção diminui a radiação secundária para os<br />
operadores. Os escudos devem ter no mínimo 0,5mm de espessura;<br />
• Aventais plumbíferos de 0,5mm de espessura para proteção radiológica dos operadores, anestesistas, enfermagem e<br />
outros médicos durante os procedimentos. Inclui protetor de tiróide e óculos plumbíferos;<br />
• A videocâmera de alta resolução é considerada um importante componente dos modernos equipamentos de cateterismo<br />
cardíaco, responsável pela alta qualidade das imagens de fluoroscopia. Promove, também, como um dos seus principais<br />
recursos, a transformação do sinal análogo em sistema de angiografia digital;<br />
• A angiografia digital tornou-se, nos últimos anos, a mudança mais significativa nos laboratórios de cateterismo cardíaco.<br />
O equipamento deve ser dotado de imagem digital de alta qualidade, com aquisição em tempo real (no mínimo matrix<br />
512x512x8 - bites a 30 quadros por segundos), condição essencial para o julgamento diagnóstico adequado, bem<br />
como para otimização do resultado da intervenção. A angiografia digital também marcou definitivamente a transferência<br />
do sistema de registro com filmes de 35mm para o sistema CD digital, assim como o desenvolvimento do sistema<br />
DICOM, que permite a leitura universal das informações e um sistema de armazenamento compactado e seguro.<br />
2. Equipamentos Complementares<br />
• Polígrafo de, no mínimo, 3 derivações de ECG e 2 canais de pressão, com possibilidade de registro simultâneo;<br />
• Bomba injetora de contraste de alta precisão;<br />
• Aparelho de coagulação por TCA; um por sala;<br />
• Oxímetro de pulso;<br />
• Monitor de pressão invasiva de dois canais, um por sala;<br />
• Equipamento para cálculo de débito cardíaco;<br />
• Material para reanimação cardiorrespiratória e desfibrilador externo;<br />
• Gerador e eletrodo de marca-passo temporário transvenoso um por sala;<br />
• Eletrodos de marca-passo transcutâneo (opcional);<br />
• Ultra-som intravascular (recomendável e não obrigatório);<br />
• Balão de contrapulsação intra-aórtica (obrigatório no hospital e opcional do laboratório de hemodinâmica).<br />
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Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 315-322.<br />
ANEXO 3<br />
Procedimentos Diagnósticos e Terapêuticos em Intervenção Cardiovascular<br />
O Centro de Treinamento deve estar apto a realizar os seguintes procedimentos:<br />
(O Treinamento em procedimentos não cardíacos e em crianças portadoras de cardiopatia congênita pode ser realizado em<br />
serviços conveniados, caso não disponibilizado no centro de treinamento).<br />
1. Procedimentos diagnósticos<br />
a. Cateterismo de cavidades cardíacas e grandes vasos (estudo de valvopatias e cardiopatias congênitas);<br />
b. Cálculo de fluxos e resistências sistêmica e pulmonar, determinação e quantificação de shunts intracardíacos;<br />
c. Biópsia endomiocárdica;<br />
d. Cinecoronariografia seletiva, estudos de anastomoses de enxertos aorto-coronários e de artéria torácica interna (mamária);<br />
e. Avaliação de lesões coronárias e do resultado das intervenções percutâneas pelo uso do ultra-som intracoronário;<br />
f. Avaliação de lesões coronárias e do resultado de intervenções percutâneas pelo uso do angioscopia intracoronária;<br />
g. Avaliação fisiológica de fluxo coronário, doppler flow-wire e pressure-wire;<br />
h. Arteriografia pulmonar para diagnóstico de tromboembolismo pulmonar e outras doenças vasculares pulmonares;<br />
i. Arteriografia dos vasos extracardíacos para avaliação de aterosclerose e outras doenças vasculares;<br />
j. Angiografia digital quantitativa;<br />
k. Arteriografia para investigação de isquemia cerebral;<br />
l. Arteriografia para investigação de doença aterosclerótica, renal, aorto-ilíaca e distal.<br />
2. Procedimentos terapêuticos<br />
Adultos:<br />
a. Angioplastia coronária com cateter-balão;<br />
b. Aterectomia coronária direcionada (técnica de Simpson);<br />
c. Aterectomia coronária rotacional (Rotablator);<br />
d. Aterectomia coronária extracional (TEC);<br />
e. Aterectomia coronária por uso de laser (excimer laser);<br />
f. Implante de próteses coronárias (stents);<br />
g. Dilatações de valvas cardíacas (valvoplastia pulmonar, mitral, tricúspide e aórtica);<br />
h. Dilatações com cateter-balão, aterectomia e implante de stents em obstruções vasculares periféricas em território pulmonar;<br />
i. Embolizações de fístulas e mal-formação arteriovenosas;<br />
j. Retirada de corpo estranho em sistema cardiovascular por técnicas hemodinâmicas;<br />
k. Angioplastia em enxertos coronarianos;<br />
l. Angioplastia em enxertos coronariano com implante de prótese;<br />
m. Angioplastia coronariana primária (incluso cateterismo);<br />
n. Infusão de células-tronco em miocardiopatias;<br />
o. Angiogênese;<br />
p. Ablação septal transluminal percutânea;<br />
q. Implantes percutâneos de valvas cardíacas;<br />
r. Trombólises intravasculares;<br />
s. Trombectomia intravasculares;<br />
t. Implante de marca-passos provisórios;<br />
u. Angioplastia vascular extracoronariana com cateter-balão;<br />
v. Angioplastia com stent em territórios não coronarianos;<br />
w. Implante de endopróteses para tratamento de aneurismas e dissecções;<br />
x. Angioplastia intraluminal de vasos das extremidades, com ou sem stent;<br />
y. Angioplastia intraluminal de vasos viscerais ou renais, com ou sem stent;<br />
z. Colocação percutânea de filtro de veia cava na trombose venosa periférica e embolia pulmonar;<br />
aa. Angioplastia intraluminal da aorta, veia cava ou vasos ilíacos, com ou sem stent;<br />
bb.Angioplastia intraluminal dos vasos do pescoço ou troncos supra-aórticos, com ou sem stent;<br />
cc. Correção endovascular de aneurisma ou dissecção da aorta torácica, abdominal e ilíacas com endoprótese.<br />
Congênitos:<br />
a. Dilatações de estenoses valvares congênitas (pulmonar e aórtica);<br />
b. Dilatações de membranas sub e supra-aórtica;<br />
c. Dilatação e implante de stents para coarctação de aorta;<br />
d. Atriosseptostomia por cateter-balão e por lâmina;<br />
e. Dilatação e implante de stents de ramos pulmonares estenóticos;<br />
f. Fechamento de canal arterial e comunicações interatriais e interventriculares (implante de próteses e coils);<br />
g. Implante de prótese vasculares (stents) em território cardíaco e pulmonar;<br />
h. Abertura de válvulas cardíacas atrésicas por meio de radiofreqüência;<br />
i. Embolizações de fístulas arteriovenosas.<br />
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Diretrizes para Habilitação de Centros de Treinamento e para Obtenção de Certificação em Hemodinâmica e Cardiologia<br />
Intervencionista. Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4): 315-322.<br />
7. Hirshfeld Jr. JW, Banas Jr. JS, Cowley M, Dehmer GJ, Ellis<br />
SG, Ewy GA et al. American College of Cardiology training<br />
statement on recommendations for the structure of an optimal<br />
adult interventional cardiology training program: a report of the<br />
American College of Cardiology task force on clinical expert<br />
consensus documents. J Am Coll Cardiol 1999;34:2141-7.<br />
8. Spittell Jr JA, Nanda NC, Creager MA, Ochsner JL, Dorros G,<br />
Wexler L et al. Recommendations for peripheral transluminal<br />
angioplasty: training and facilities. American College of Cardiology<br />
Peripheral Vascular Disease Committee. J Am Coll Cardiol<br />
1993;21:546-8.<br />
9. Eisenberg MJ, St Claire Jr. DA, Mak KH, Ellis SG. Importance<br />
of case mix during training in interventional cardiology. Am<br />
J Cardiol 1996;77:1010-3.<br />
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Rev Bras Cardiol Invas <strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4).<br />
Mandil A, et al. Angiotomografia Pré e Pós-Tratamento Endovascular do Aneurisma da Aorta Abdominal. Rev Bras Cardiol Invas<br />
<strong>2005</strong>; <strong>13</strong>(4).<br />
Imagem & Intervenção Cardiovascular<br />
Angiotomografia Pré e Pós-Tratamento Endovascular<br />
do Aneurisma da Aorta Abdominal<br />
Ari Mandil 1,2 , Daniel Mendes Pinto 1,2,3 , José Carlos Faria Garcia 1,4<br />
Paciente do sexo masculino, 69 anos, apresenta<br />
aneurisma de aorta infra-renal assintomático diagnosticado<br />
por ultra-sonografia abdominal. Submetido<br />
previamente a cirurgia para ressecção de tumor<br />
de laringe, há 7 anos, apresenta-se com traqueostomia<br />
definitiva. Aneurisma de aorta infra-renal com extensão<br />
para artéria ilíaca comum direita com 4,6 mm de diâmetro<br />
máximo. Diâmetro do colo proximal: 22 mm,<br />
extensão do colo proximal: 2,0 cm, diâmetro da artéria<br />
ilíaca comum direita: 16 mm e diâmetro da artéria<br />
ilíaca comum esquerda: 14 mm. Extensão da artéria<br />
renal mais baixa até as artérias ilíacas internas: à direita<br />
– 16,0 cm e à esquerda – 16,5 cm. Realizado<br />
tratamento endovascular com implante de endoprótese<br />
Talent Medtronic ® , com seguintes tamanhos: corpo principal<br />
(pelo lado direito): 26x16x155 mm e ramo contralateral<br />
esquerdo: 70x16 mm. O paciente apresentou<br />
boa evolução pós-operatória. Angiotomografia de controle,<br />
com 40 dias, mostra redução do tamanho do<br />
aneurisma e ausência de vazamentos.<br />
avaliação da redução do tamanho do aneurisma, bem<br />
como para o correto posicionamento da endoprótese.<br />
A reconstrução 3D (Figura 1) nos dá uma noção<br />
global do aspecto anatômico, porém as medidas corretas<br />
são avaliadas nos cortes axiais.<br />
A angiotomografia da aorta abdominal tem sido<br />
valiosa, tanto no pré quanto no pós-procedimento<br />
(atualmente, realizamos a aortografia apenas durante o<br />
procedimento de tratamento percutâneo do aneurisma<br />
da aorta abdominal por implante de endoprótese).<br />
São avaliados o colo proximal, a distância das<br />
artérias renais para o início do aneurisma, a tortuosidade,<br />
os diâmetros e a extensão do aneurisma. São importantes,<br />
também, os achados anatômicos, como calcificação,<br />
presença de trombos e acometimento das artérias ilíacas.<br />
Este método diagnóstico também é fundamental<br />
para o acompanhamento no pós-operatório imediato<br />
e tardio, na procura de vazamentos (endoleak) e na<br />
Figura 1 - Figuras na parte superior: pré-procedimento.<br />
Figuras na parte inferior: controle pós-procedimento.<br />
1<br />
Hospital Lifecenter, Belo Horizonte, MG.<br />
2<br />
Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte, MG.<br />
3<br />
Hospital Mater Dei, Belo Horizonte, MG.<br />
4<br />
Instituto de Hemodinâmica de Betim, MG<br />
Correspondência: Ari Mandil. Rua Boa Esperança, 525/200. Belo<br />
Horizonte, MG, Brasil. CEP 30310-730 • E-mail: amandil@uol.com.br<br />
Recebido em: 11/04/2006 • Aceito em: 28/04/2006<br />
1