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iii ATUALIZAÇÃO EM CARDIOLOGIA INVASIVA

iii ATUALIZAÇÃO EM CARDIOLOGIA INVASIVA

iii ATUALIZAÇÃO EM CARDIOLOGIA INVASIVA

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Atualização em<br />

Cardiologia Invasiva<br />

Editor Convidado: Marco Antonio Perin<br />

Sumário<br />

Seções<br />

v<br />

vi<br />

vii<br />

v<strong>iii</strong><br />

Carta do Presidente da SOCESP<br />

Otávio Rizzi Coelho<br />

Carta do Editor Convidado<br />

Eventos<br />

Normas para Publicação<br />

341 Estado atual da oclusão percutânea<br />

do canal arterial, da comunicação<br />

interatrial tipo “ostium secundum” e<br />

da comunicação interventricular<br />

Current status of the percutaneous occlusion<br />

of the patent ductus arteriosus,<br />

secundum atrial septal defects and<br />

ventricular septal defects<br />

CARLOS A. C. PEDRA, SÉRGIO L. N.<br />

BRAGA, SIMONE F. PEDRA, CÉSAR A.<br />

ESTEVES, MARIA VIRGINIA T. SANTANA,<br />

VALMIR F. FONTES<br />

349 Atualização no tratamento percutâneo<br />

das cardiopatias congênitas obstrutivas:<br />

estenose valvar (pulmonar e aórtica) e<br />

coarctação da aorta<br />

Updating in the congenital obstructive heart<br />

diseases percutaneous treatment:<br />

valvular stenosis (pulmonary<br />

and aortic)<br />

and aorta coarctation<br />

LUIZ JUNYA KAJITA, ROGÉRIO DOS<br />

ANJOS MIRANDA, ANTÔNIO ESTEVES FILHO<br />

355 Resultados imediatos e tardios da<br />

valvotomia mitral percutânea com<br />

cateter-balão<br />

Immediate and long-term results after<br />

percutaneous balloon mitral<br />

valvotomy<br />

CÉSAR AUGUSTO ESTEVES<br />

362 Estado da arte em stents de aorta<br />

Endovascular treatment of aortic disease:<br />

state-of-the-art<br />

CLAUDIA MARIA RODRIGUES ALVES,<br />

JOSÉ AUGUSTO MARCONDES DE SOUZA<br />

Artigos de Atualização<br />

which and why to use it?<br />

PAULO ROGÉRIO SOARES<br />

369 Terapia adjunta farmacológica<br />

pré-intervenção: quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

Adjunctive pharmacological therapy before<br />

percutaneous coronary intervention:<br />

when,<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005<br />

383 Manejo clínico pós-procedimento<br />

percutâneo<br />

Clinical management after percutaneous<br />

coronary intervention<br />

MARINELLA CENT<strong>EM</strong>ERO, AMANDA G. M.<br />

R. SOUSA<br />

388 Ultra-som intracoronário: por que e<br />

quando indicar?<br />

Intravascular ultrasound: why and when to do?<br />

Andrea Sousa Abizaid, Alexandre<br />

Abizaid<br />

396 Intervenção percutânea das lesões de<br />

bifurcação coronária<br />

Coronary bifurcation lesion treatment –<br />

A review<br />

MARCO ANTÔNIO PERIN, BRENO<br />

OLIVEIRA ALMEIDA, FÁBIO SÂNDOLI DE<br />

BRITO Jr.<br />

406 Intervenções coronárias em lesões longas<br />

Long angiographic lesions intervention<br />

ANTONIO LUIZ SECCHES, LUIZ ANTONIO<br />

PECHIORI FINZI, JOSÉ ROBERTO COSTA<br />

MAROT<br />

409 Oclusão coronária crônica: técnicas e<br />

resultados atuais<br />

Chronic coronary occlusion: techniques and<br />

current results<br />

NILTON CARLOS SPINOLA MACHADO<br />

414 Intervenção percutânea em lesões de<br />

ponte de veia safena<br />

Percutaneous intervention for saphenous vein<br />

graft disease<br />

WILSON ALBINO PIMENTEL FILHO,<br />

MAÉVE DE BARROS CORREIA, EDSON<br />

ALCIDES BOCCHI, MILTON MACEDO<br />

SOARES NETO, STOESSEL FIGUEREDO<br />

<strong>iii</strong>


DE ASSIS, JORGE ROBERTO BÜCHLER,<br />

EGAS ARMELIN<br />

423 Intervenção percutânea coronária nos<br />

multiarteriais: análise crítica dos estudos<br />

randomizados<br />

Multivessel percutaneous coronary<br />

intervention: critical analysis<br />

of randomized<br />

trials<br />

CRISTIANA MARQUES DE ARAÚJO, MARIA<br />

FERNANDA ZULIANI MAURO, JOSÉ<br />

ARMANDO MANGIONE<br />

434 Stents farmacológicos – o estado atual<br />

Drug-eluting stents – the state of the art<br />

PEDRO A. L<strong>EM</strong>OS, EULÓGIO E.<br />

MARTINEZ, MARCO A. PERIN, EXPEDITO<br />

E. RIBEIRO<br />

448 Reestenose pós-implante de stent<br />

coronário não-farmacológico<br />

In-stent restenosis after bare metal stent<br />

EXPEDITO E. RIBEIRO, PEDRO A. L<strong>EM</strong>OS,<br />

MARCO A. PERIN, HENRIQUE B. RIBEIRO,<br />

ANDRÉ SPADARO, EULÓGIO E. MARTINEZ<br />

459 Perspectivas da Cardiologia<br />

Intervencionista para o tratamento<br />

da doença coronária<br />

Edição Anterior:<br />

Editor Convidado:<br />

Próxima Edição:<br />

Editor Convidado:<br />

Defesa Profissional<br />

Miguel Moretti<br />

Dislipidemias<br />

José Francisco Kerr Saraiva<br />

iv Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PEDRA CAC e cols.<br />

Estado atual da oclusão<br />

percutânea do canal<br />

arterial, da comunicação<br />

interatrial tipo<br />

“ostium secundum”<br />

e da comunicação<br />

interventricular<br />

ESTADO ATUAL DA OCLUSÃO PERCUTÂNEA<br />

DO CANAL ARTERIAL, DA COMUNICAÇÃO<br />

INTERATRIAL TIPO “OSTIUM SECUNDUM” E<br />

DA COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR<br />

CARLOS A. C. PEDRA, SÉRGIO L. N. BRAGA, SIMONE F. PEDRA,<br />

CÉSAR A. ESTEVES, MARIA VIRGINIA T. SANTANA, VALMIR F. FONTES<br />

Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia<br />

Endereço para correspondência: Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 –<br />

CEP 04012-180 – São Paulo – SP<br />

O cateterismo intervencionista pediátrico teve grande avanço nos últimos dez<br />

anos. Neste artigo os autores revisam os resultados do tratamento percutâneo das<br />

cardiopatias congênitas mais comuns com fluxo esquerdo-direito. Os casos de canal<br />

arterial e de comunicação interatrial do tipo “ostium secundum”, em sua maioria,<br />

são passíveis de serem tratados por via percutânea, com alta eficácia e baixa morbidade,<br />

substituindo o tratamento cirúrgico convencional com inequívocas vantagens,<br />

tornando-se o método de escolha na maioria dos grandes centros mundiais.<br />

Casos de comunicação interventricular dos tipos muscular e perimembranoso também<br />

são factíveis de serem tratados com dispositivos intracardíacos, com resultados<br />

iniciais animadores, demonstrando alta eficácia e baixa morbidade. Seguimento<br />

maior desses pacientes é necessário antes de conclusões definitivas.<br />

Palavras-chave: persistência do canal arterial, comunicação interatrial, comunicação<br />

interventricular, cateterismo intervencionista.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:341-8)<br />

RSCESP (72594)-1552<br />

INTRODUÇÃO<br />

O cateterismo intervencionista nas cardiopatias congênitas<br />

evoluiu muito nas duas últimas décadas, permitindo<br />

o tratamento paliativo ou definitivo de diversas<br />

enfermidades com alta segurança e eficácia. Neste artigo<br />

reveremos brevemente as indicações e os resultados<br />

da oclusão percutânea de alguns desses defeitos<br />

no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e no Hospital<br />

do Coração da Associação Sanatório Sírio.<br />

PERSISTÊNCIA DO CANAL ARTERIAL<br />

Como doença isolada, a persistência do canal<br />

arterial corresponde de 7% a 10% de todas as cardiopatias<br />

congênitas (1) . A classificação angiográfica<br />

mais usada é a de Krichenko e colaboradores<br />

(2) . São descritos cinco tipos principais: A, B,<br />

C, D e E. O tipo A é cônico, com ampola aórtica<br />

ampla e redução do diâmetro do lado pulmonar. O<br />

tipo B é curto, com menor diâmetro do lado aórtico,<br />

semelhante a uma janela aortopulmonar. O tipo<br />

C é tubular, sem pontos de estreitamentos no trajeto,<br />

que, em geral, tem grande calibre. O tipo D<br />

apresenta múltiplas constrições nos lados pulmonar<br />

e aórtico. O tipo E, de configuração bizarra,<br />

tem aparência cônica alongada, com constrição<br />

próxima à artéria pulmonar (Fig. 1).<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 341


PEDRA CAC e cols.<br />

Estado atual da oclusão<br />

percutânea do canal<br />

arterial, da comunicação<br />

interatrial tipo<br />

“ostium secundum”<br />

e da comunicação<br />

interventricular<br />

Figura 1. Tipos anatômicos<br />

de canal arterial à angiografia<br />

da aorta na incidência<br />

perfil esquerdo.<br />

Referir-se ao texto para<br />

definições.<br />

Por causa da possibilidade<br />

de terapêutica percutânea,<br />

indica-se a realização<br />

de cateterismo cardíaco em todos os pacientes com<br />

mais de 4 kg a 5 kg de peso, com diagnóstico ecocardiográfico<br />

de persistência do canal arterial com aumento<br />

do ventrículo esquerdo. Em neonatos e lactentes com<br />

peso inferior a 4 kg a 5 kg, os dados derivados da ecocardiografia<br />

são suficientes para a abordagem cirúrgica,<br />

que é o método terapêutico de eleição nesses casos.<br />

O fechamento percutâneo da persistência do canal<br />

arterial vem sendo realizado com diferentes próteses<br />

desde 1971 (3) . Essa modalidade terapêutica só tomou<br />

maior impulso a partir de 1992, quando Cambier<br />

introduziu as molas helicoidais de Gianturco-Wallace<br />

para oclusão de persistências do canal arterial de pequeno<br />

diâmetro (4) . Mais recentemente, em 1998, a introdução<br />

da prótese Amplatzer possibilitou a oclusão<br />

de canais de maior diâmetro e anatomia variada (5-7) . Hoje<br />

em dia, o fechamento percutâneo do canal arterial é a<br />

modalidade terapêutica de eleição em pacientes com<br />

peso superior a 4 kg a 5 kg. É um procedimento simples,<br />

seguro, altamente eficaz (quase 100% de oclusão)<br />

e pouco invasivo, podendo ser realizado em caráter<br />

ambulatorial.<br />

As molas de Gianturco de liberação não-controlada<br />

devem ser reservadas para oclusão de canais de até<br />

3,0 mm de diâmetro mínimo, com algum ponto de constrição<br />

em seu trajeto (tipos A, D e E) (8-10) (Fig. 2). Às<br />

vezes, mais de uma mola deve ser liberada para a oclusão<br />

completa do canal (11) . A vantagem dessa técnica é<br />

sua excelente relação custo-benefício, com taxas de<br />

oclusão de 97% a 98%. As molas de liberação controlada<br />

(Flipper ou Nit-Occlud) podem ser empregadas<br />

para oclusão de canais entre 3,0 mm e 5,0 mm de diâmetro<br />

mínimo, preferencialmente os com constrições<br />

no trajeto (12, 13) (Fig. 3). A prótese Amplatzer pode ser<br />

utilizada para canais de diâmetro mínimo superior a<br />

2,0 mm e de diversos tipos anatômicos (5-7) (Fig. 4). Apesar<br />

de apresentar índices de oclusão de quase 100%,<br />

seu custo é um fator limitante em nosso meio. As complicações<br />

relacionadas ao procedimento são raras (3-14) .<br />

No Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e no<br />

Hospital do Coração da Associação Sanatório Sírio a<br />

experiência consta de 398 casos, sendo 93 com a “umbrella”<br />

de Rashkind, 265 com molas de Gianturco e de<br />

liberação controlada, e 40 com a prótese Amplatzer. A<br />

“umbrella” de Rashkind desempenhou papel inicial<br />

muito importante, mas ficou fora do mercado em decorrência<br />

de taxas de “shunt” residual tardio em torno<br />

de 15% (15) . Nesses casos, o paciente retornava ao laboratório<br />

de cateterismo cerca de um ano após o procedimento<br />

inicial e o fluxo residual era ocluído com as<br />

molas de Gianturco (16, 17) . A média de idade dos 265<br />

pacientes submetidos à oclusão com molas foi de 5<br />

anos (8 meses a 60 anos). A média do diâmetro mínimo<br />

do canal foi de 2,3 mm + 1,1 mm, sendo 85% do<br />

Figura 2. Persistência do canal arterial do tipo A de 2<br />

mm de diâmetro mínimo ocluído com mola de Gianturco.<br />

342 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PEDRA CAC e cols.<br />

Estado atual da oclusão<br />

percutânea do canal<br />

arterial, da comunicação<br />

interatrial tipo<br />

“ostium secundum”<br />

e da comunicação<br />

interventricular<br />

Figura 3. Persistência do<br />

canal arterial do tipo A<br />

com 2,8 mm de diâmetro<br />

ocluído com mola de liberação<br />

controlada NitOcclud.<br />

tipo A. A taxa de insucesso<br />

foi de 2% e a de embolização,<br />

de 4%. Tais desfechos<br />

desfavoráveis foram observados na fase inicial<br />

da curva de aprendizagem e estiveram associados a<br />

canais de maior diâmetro e dos tipos B e C. O índice<br />

de oclusão tardia foi de 97%. A prótese Amplatzer foi<br />

utilizada em 40 pacientes com média de idade de 18<br />

meses. A média do diâmetro mínimo do canal foi de<br />

3,9 mm + 1,0 mm (2,5 a 7). A prótese foi implantada<br />

com sucesso em todos os pacientes e a taxa de oclusão<br />

no seguimento tardio foi de 100%.<br />

COMUNICAÇÃO INTERATRIAL<br />

A comunicação interatrial é uma anomalia freqüente,<br />

que corresponde de 7% a 10% de todas as cardiopatias<br />

congênitas. A do tipo “ostium secundum” (OS) é<br />

a mais comum (cerca de 75% dos casos), localizandose<br />

dentro das margens da fossa oval, sendo o único<br />

tipo passível de tratamento percutâneo. A ecocardiografia<br />

transesofágica tem papel fundamental para a<br />

definição diagnóstica nos casos de comunicação interatrial,<br />

detalhando de forma satisfatória a localização e<br />

a anatomia dos defeitos, devendo ser utilizada na seleção<br />

dos pacientes para tratamento percutâneo (18, 19) (Fig.<br />

5). O cateterismo diagnóstico deve ser reservado para<br />

os casos de dúvidas diagnósticas ou com suspeita de<br />

hipertensão pulmonar fixa. A indicação do tratamento<br />

percutâneo é a mesma que a do cirúrgico e deve se<br />

basear na sobrecarga volumétrica do ventrículo direito<br />

definida pela ecocardiografia, estando geralmente<br />

associada à presença Qp/Qs maior que 1,5:1<br />

no cateterismo. Tal conduta se aplica também para<br />

adultos assintomáticos, resultando em maior longevidade<br />

e melhor qualidade de vida dos pacientes<br />

tratados clinicamente.<br />

Cateterismo intervencionista<br />

Admite-se que cerca de 90% dos casos ou mais<br />

sejam candidatos à oclusão percutânea. Para isso,<br />

vários fatores devem ser avaliados: as dimensões<br />

do defeito e do paciente, as características das bordas<br />

e sua distância para outras estruturas intracardíacas,<br />

a localização e o número de defeitos, e a<br />

possível associação com aneurismas do septo interatrial<br />

(20-31) .<br />

As duas próteses mais utilizadas são a Amplatzer<br />

(AGA Medical Corporation, Golden Walley, MN, EUA) (20-28) e<br />

a Helex (Gore, Flagstaff, AZ, EUA). A primeira oclui<br />

defeitos com até 40 mm de diâmetro estirado (Fig. 5) e<br />

a segunda, com até 20 mm (29, 30) (Fig. 6). Outras próteses<br />

também estão disponíveis para uso (31, 32) . Nossa<br />

experiência com a prótese Amplatzer foi iniciada em<br />

outubro de 1997. Desde então, 140 candidatos foram<br />

selecionados e o sucesso foi alcançado em 138. A prótese<br />

Helex foi introduzida no ano de 2002, acumulando-se<br />

uma experiência de 30 casos, com 2 insucessos.<br />

O implante é simples e seguro, com baixíssimo<br />

índice de complicações. É guiado pela ecocardiografia<br />

transesofágica (18, 19) ou, mais recentemente, pela ecocardiografia<br />

intracardíaca, dispensando a necessida-<br />

Figura 4. Persistência do canal arterial do tipo A com 2,8<br />

mm de diâmetro ocluído com prótese Amplatzer.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 343


PEDRA CAC e cols.<br />

Estado atual da oclusão<br />

percutânea do canal<br />

arterial, da comunicação<br />

interatrial tipo<br />

“ostium secundum”<br />

e da comunicação<br />

interventricular<br />

Figura 5. Ecocardiograma transesofágico em corte longitudinal mostrando duas<br />

comunicações interatriais diferenciadas distantes cerca de 5 mm ocluídas com um<br />

único dispositivo Amplatzer.<br />

de de anestesia geral (33) . Considerando a experiência<br />

acumulada com as duas próteses, a taxa de fuga residual<br />

foi de 3%. Nesses casos, os “shunts” foram considerados<br />

pequenos, medindo de 1 mm a 4 mm.<br />

COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR<br />

mo ao ápex. Na maioria dos casos, o estudo ecocardiográfico<br />

é suficiente para estabelecimento do diagnóstico<br />

preciso. Quando há dúvidas diagnósticas, nos casos<br />

de comunicações interventriculares musculares<br />

múltiplas e de suspeita de HP fixa, o cateterismo diagnóstico<br />

deve ser realizado.<br />

A comunicação interventricular isolada é o defeito<br />

cardíaco congênito mais freqüente, correspondendo a<br />

20% de todas as cardiopatias congênitas. Os defeitos<br />

que podem ser abordados utilizando-se dispositivos intracardíacos<br />

são os perimembranosos e os musculares<br />

(34, 35) . Os primeiros correspondem a 80% dos casos,<br />

estando localizados na porção média da região mais<br />

superior do septo ventricular. Podem ter extensão ao<br />

septo muscular adjacente na porção trabecular, na via<br />

de entrada ou na via de saída. Estão sempre muito<br />

próximos da valva aórtica e permitem a contigüidade<br />

entre essa valva e a valva tricúspide. Os defeitos localizados<br />

exclusivamente na porção muscular do septo<br />

correspondem a 10% dos casos e apresentam-se como<br />

orifício isolado na parte média do septo (trabecular) ou<br />

como orifícios múltiplos na porção trabecular ou próxi-<br />

Figura 6. Ecocardiograma transesofágico mostrando balão medidor insuflado<br />

através do septo interatrial com diâmetro estirado da comunicação interatrial<br />

medindo 10 mm. O defeito foi ocluído com prótese Helex.<br />

Cateterismo intervencionista<br />

O tratamento cirúrgico das comunicações interventriculares<br />

vem sendo realizado desde a década de 1950,<br />

com baixas taxas de morbidade e de mortalidade e de<br />

fluxo residual (5% a 10%). Entretanto, podem ocorrer<br />

complicações como bloqueio atrioventricular definitivo,<br />

síndrome pós-pericardiotomia e alterações neurológicas<br />

a longo prazo em crianças com menos de um ano<br />

de idade. O tratamento percutâneo teve início em meados<br />

da década de 1980; entretanto, só recentemente<br />

tornou-se realidade com o advento de próteses especialmente<br />

desenhadas para oclusão da comunicação<br />

interventricular tanto muscular (36) como perimembranosa<br />

(37-39) . A experiência internacional em mais de 700<br />

casos de oclusão de defeitos perimembranosos apresenta<br />

resultados que parecem equivaler aos do tratamento<br />

cirúrgico, com grau de invasão<br />

incomparavelmente menor,<br />

contribuindo para a minimização<br />

de complicações (Fig. 7).<br />

Por apresentar maior eficácia e<br />

menor morbidade que a abordagem<br />

cirúrgica, a oclusão percutânea<br />

de defeitos musculares<br />

tornou-se preferível na maioria<br />

dos grandes centros mundiais<br />

(Fig. 8). A indicação do tratamento<br />

percutâneo é a mesma do cirúrgico,<br />

incluindo pacientes com<br />

sobrecarga das câmaras esquerdas<br />

definidas pela ecocar-<br />

344 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PEDRA CAC e cols.<br />

Estado atual da oclusão<br />

percutânea do canal<br />

arterial, da comunicação<br />

interatrial tipo<br />

“ostium secundum”<br />

e da comunicação<br />

interventricular<br />

diografia e com<br />

Qp/Qs > 1,5,<br />

excluindo-se<br />

casos com HP<br />

fixa. Entretanto,<br />

pela limitação<br />

do perfil<br />

dos cateteres,<br />

o tratamento<br />

percutâneo<br />

deve ser reservado<br />

para pacientes<br />

com peso superior a 8 kg.<br />

Nossa experiência com a oclusão da comunicação<br />

interventricular perimembranosa<br />

desde dezembro de 2002 é de 31 casos.<br />

A mediana de idade dos pacientes foi de 7<br />

anos e o diâmetro médio<br />

da comunicação interventricular<br />

foi de 7,6 +<br />

4,2. Em um paciente, o<br />

procedimento foi interrompido<br />

pelo aparecimento<br />

de bloqueio durante<br />

a passagem da bainha<br />

longa pelo defeito. Tal<br />

ocorrência foi transitória (<<br />

4 horas) e esse mesmo<br />

paciente retornou após<br />

um ano para uma segunda<br />

tentativa realizada com<br />

sucesso. O diâmetro mediano<br />

da prótese utilizada<br />

foi de 10 mm (4-18) . A taxa<br />

de oclusão no dia seguinte<br />

foi de 75% e durante o<br />

seguimento (mediana de<br />

12 meses), de 97%. Dois<br />

pacientes desenvolveram<br />

morfologia de bloqueio de<br />

ramo direito e outros dois, de ramo esquerdo. Não houve<br />

embolizações, aparecimento ou piora significativa de insuficiência<br />

aórtica ou tricúspide. Todos os pacientes encontram-se<br />

clinicamente bem e sem medicações. Nossa<br />

experiência com a oclusão da comunicação interventricular<br />

muscular é mais limitada. Foram realizados cinco<br />

procedimentos, quatro em crianças com comunica-<br />

Figura 7. Ventriculografia em projeção axial alongada mostrando<br />

comunicação interventricular perimembranosa de cerca de 8 mm<br />

de diâmetro associada a discreto prolapso do folheto coronariano<br />

direito. O defeito foi ocluído com prótese Amplatzer.<br />

Figura 8. Ventriculografia em projeção hepatoclavicular demonstrando comunicação<br />

interventricular muscular trabecular única com cerca de 5 mm de diâmetro, ocluída<br />

com prótese Amplatzer.<br />

ções interventriculares musculares congênitas e um<br />

em um adulto com comunicação interventricular muscular<br />

pós-trauma (projétil de arma de fogo). Em todos<br />

os casos as comunicações interventriculares<br />

eram únicas e encontravam-se na porção trabecular<br />

do septo. Houve oclusão do defeito em todos os pacientes.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 345


PEDRA CAC e cols.<br />

Estado atual da oclusão<br />

percutânea do canal<br />

arterial, da comunicação<br />

interatrial tipo<br />

“ostium secundum”<br />

e da comunicação<br />

interventricular<br />

CURRENT STATUS OF THE PERCUTANEOUS<br />

OCCLUSION OF THE PATENT DUCTUS ARTERIOSUS,<br />

SECUNDUM ATRIAL SEPTAL DEFECTS AND<br />

VENTRICULAR SEPTAL DEFECTS<br />

CARLOS A. C. PEDRA, SÉRGIO L. N. BRAGA, SIMONE F. PEDRA,<br />

CÉSAR A. ESTEVES, MARIA VIRGINIA T. SANTANA, VALMIR F. FONTES<br />

Pediatric interventional cardiology has evolved significantly in the last 10 years.<br />

In this paper the authors review the results of percutaneous treatment of the most<br />

common congenital heart diseases associated with left-to-right shunts. The vast<br />

majority of cases of patent ductus arteriosus and secundum atrial septal defects are<br />

amenable to percutaneous treatment with high efficacy and low morbidity rates, replacing<br />

the conventional surgical approach with unequivocal vantages and becoming<br />

the therapeutic method of choice in most of the centers in the world. Cases of<br />

muscular and perimembranous ventricular septal defects are also amenable to<br />

intracardiac device closure with encouraging initial results and high efficacy and<br />

low morbidity rates. A longer follow-up is warranted before definite conclusions<br />

are drawn.<br />

Key words: patent ductus arteriosus, atrial septal defetcs, ventricular septal defects,<br />

interventional cardiology.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:341-8)<br />

RSCESP (72594)-1552<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. Pedra CA, Esteves C, Braga SL, Kambara A, Fontes<br />

VF. Oclusão percutânea do canal arterial: Estado<br />

da Arte. Rev Bras Cardiol Inv. 1997;5(1):22-35.<br />

2. Krichenko A, Benson LN, Burrows P, Moes CA,<br />

McLaughlin P, Freedom RM. Angiographic classification<br />

of the isolated, persistently patent ductus arteriosus<br />

and implications for percutaneous catheter<br />

occlusion. Am J Cardiol. 1989;63(12):877-80.<br />

3. Grifka RG. Transcatheter closure of the patent ductus<br />

arteriosus. Catheter Cardiovasc Interv. 2004;61<br />

(4):554-70.<br />

4. Cambier PA, Kirby WC, Wortham DC, Moore JW.<br />

Percutaneous closure of the small (less than 2.5 mm)<br />

patent ductus arteriosus using coil embolization. Am<br />

J Cardiol. 1992;69(8):815-6.<br />

5. Simoes LC, Pedra CA, Esteves CA, Camargo R, Braga<br />

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346 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PEDRA CAC e cols.<br />

Estado atual da oclusão<br />

percutânea do canal<br />

arterial, da comunicação<br />

interatrial tipo<br />

“ostium secundum”<br />

e da comunicação<br />

interventricular<br />

10. Hijazi ZM, Geggel RL.<br />

Results of anterograde<br />

transcatheter closure of<br />

patent ductus arteriosus<br />

using single or multiple Gianturco<br />

coils. Am J Cardiol.<br />

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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 347


PEDRA CAC e cols.<br />

Estado atual da oclusão<br />

percutânea do canal<br />

arterial, da comunicação<br />

interatrial tipo<br />

“ostium secundum”<br />

e da comunicação<br />

interventricular<br />

33. Mullen MJ, Dias BF,<br />

Walker F, Siu SC, Benson<br />

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echocardiography<br />

guided device closure of<br />

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348 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


KAJITA LJ e cols.<br />

Atualização no<br />

tratamento percutâneo<br />

das cardiopatias<br />

congênitas obstrutivas:<br />

estenose valvar<br />

(pulmonar e aórtica) e<br />

coarctação da aorta<br />

ATUALIZAÇÃO NO TRATAMENTO PERCUTÂNEO<br />

DAS CARDIOPATIAS CONGÊNITAS OBSTRUTIVAS:<br />

ESTENOSE VALVAR (PULMONAR E AÓRTICA)<br />

E COARCTAÇÃO DA AORTA<br />

LUIZ JUNYA KAJITA, ROGÉRIO DOS ANJOS MIRANDA, ANTÔNIO ESTEVES FILHO<br />

Instituto do Coração (InCor) – HC-FMUSP<br />

Endereço para correspondência: Rua Dr. Alfredo Ellis, 301 – Bela Vista –<br />

CEP 01322-050 – São Paulo – SP<br />

Até o início da década de 1980, a cirurgia era a única forma efetiva de tratamento<br />

das cardiopatias congênitas obstrutivas. A partir de então, os crescentes avanços<br />

na abordagem percutânea vêm oferecendo tratamentos com resultados bastante<br />

animadores. Os autores revisaram livros textos consagrados e artigos originais sobre<br />

tratamento das principais cardiopatias congênitas obstrutivas (estenoses pulmonar<br />

e aórtica e coarctação da aorta) em banco de dados Medline. A dilatação<br />

percutânea por cateter-balão com ou sem o uso de stents oferece atualmente, e<br />

com algumas exceções, resultados imediatos excelentes e resultados tardios com<br />

aceitáveis freqüências de reintervenção. Constituem, portanto, procedimento seguro,<br />

efetivo, menos invasivo e com baixa incidência de complicações.<br />

Palavras-chave: valvuloplastia pulmonar, estenose aórtica, coarctação da aorta.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:349-54)<br />

RSCESP (72594)-1553<br />

ESTENOSE PULMONAR VALVAR<br />

A estenose pulmonar valvar é uma forma de cardiopatia<br />

congênita em geral acianótica, com fluxo pulmonar<br />

normal ou reduzido. O elemento obstrutivo manifesta-se<br />

por meio de típico componente valvar ou com<br />

displasia associada (1) . A valvoplastia pulmonar por cateter-balão<br />

constitui o tratamento de escolha para estenose<br />

pulmonar em todas as idades. Os primeiros estudos<br />

enfocavam aspectos concernentes à técnica e à<br />

eficácia do procedimento. Atualmente, aumentou a preocupação<br />

acerca da evolução a médio e longo prazos.<br />

Melhorias envolvendo os cateteres e as técnicas de<br />

dilatação têm aumentado a indicação e o sucesso da<br />

valvoplastia, inclusive nos recém-nascidos com estenose<br />

pulmonar crítica. Entretanto, aspectos como reestenose,<br />

insuficiência pulmonar e reintervenção são<br />

freqüentemente abordados na atualidade (2) .<br />

Considerações técnicas incluem a detecção inicial<br />

de estenose pulmonar valvar moderada a importante<br />

por meio de avaliação clínica e ecocardiografia, para a<br />

indicação do procedimento. No laboratório de hemodinâmica,<br />

são realizados cateterismo direito e esquerdo<br />

e cineangiocardiografia. Com relação ao cateter-balão,<br />

sua escolha adequada é importante não só para otimizar<br />

todo o potencial de dilatação, mas evitar ou minimizar<br />

complicações. O tipo de balão mais utilizado é um<br />

único, cilíndrico e posicionado na lesão com um suporte<br />

de guia. Mais de um balão também pode ser usado,<br />

dependendo da indicação ou da disponibilidade de<br />

balões com maior diâmetro. Após a mensuração do anel<br />

valvar, o diâmetro do balão deve ser 1,2 a 1,4 vez maior<br />

que o anel pulmonar. Gradiente residual maior que<br />

30 mmHg sugere posição incorreta do balão durante<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 349


KAJITA LJ e cols.<br />

Atualização no<br />

tratamento percutâneo<br />

das cardiopatias<br />

congênitas obstrutivas:<br />

estenose valvar<br />

(pulmonar e aórtica) e<br />

coarctação da aorta<br />

dilatação, tamanho insuficiente<br />

do mesmo ou displasia<br />

valvar. Recém-nascidos<br />

portadores de estenose<br />

pulmonar crítica podem<br />

necessitar de balões<br />

menores para dilatação<br />

inicial, em decorrência da<br />

grande restrição ao fluxo<br />

pulmonar imposta pela<br />

estenose (3) . O sucesso da<br />

valvoplastia é definido por<br />

redução do gradiente sistólico para limites aceitáveis<br />

(< 25 mmHg), assim como a redução das medidas pressóricas<br />

nas câmaras direitas, como conseqüência da<br />

diminuição da pós-carga imposta pela resistência ao<br />

fluxo valvar.<br />

A literatura é concordante com alta freqüência de<br />

sucesso em todas as idades (4, 5) . Em recém-nascidos<br />

com estenose pulmonar crítica, trabalhos relatam redução<br />

importante do gradiente sistólico e da relação<br />

ventrículo direito/ventrículo esquerdo, sendo um fator<br />

limitante o achado de displasia valvar (2, 5) . Outros fatores,<br />

como hipertrofia e reduzida complacência de ventrículo<br />

direito, também são elementos importantes no<br />

sucesso tanto hemodinâmico como clínico da estenose<br />

pulmonar crítica (2) .<br />

A evolução tardia dos pacientes submetidos a valvoplastia<br />

pulmonar depende fundamentalmente da sobrecarga<br />

pressórica resultante de estenose residual ou<br />

reestenose valvar e da sobrecarga de volume causada<br />

pela eventual presença de insuficiência pulmonar (2) .<br />

Fawzy e colaboradores (4) estudaram a evolução a médio<br />

e longo prazos de pacientes adultos submetidos a<br />

valvoplastia pulmonar. Estudos ecocardiográficos demonstraram<br />

resultados excelentes a longo prazo, com<br />

gradiente transvalvar médio de 26 mmHg + 11 mmHg<br />

e insuficiência pulmonar leve observada em 25%, além<br />

de reduzida incidência de insuficiência pulmonar moderada<br />

no seguimento, achado semelhante aos de outros<br />

autores (6) . Berman e colaboradores (7) demonstraram<br />

a presença de insuficiência pulmonar importante<br />

em 6 de 107 pacientes estudados. O referido autor atribuiu<br />

a idade mais jovem (3 dias vs. 11 meses) a maior<br />

grau de obstrução e ao uso de balões superdimensionados<br />

como fatores relacionados ao desenvolvimento<br />

de insuficiência pulmonar importante na evolução. Todavia,<br />

a significância estatística de seus resultados não<br />

foi mencionada. Em relação à necessidade de reintervenção<br />

(redilatação ou cirurgia), vale destacar o estudo<br />

de Rao e colaboradores (8) com 85 pacientes, média<br />

de 7 anos de idade. Mais de uma dilatação foi necessária<br />

em 11% e cirurgia para correção de estenose sub<br />

ou supravalvar, em 5%. Evolução livre de intervenção<br />

em um, dois, cinco e dez anos foi de 94%, 89%, 88% e<br />

84%, respectivamente. Insuficiência pulmonar foi observada<br />

em 70 dos 80 pacientes pesquisados tardiamente,<br />

embora a maioria de grau leve.<br />

Foi realizado levantamento de dados de 130 pacientes<br />

submetidos a valvoplastia pulmonar entre os anos<br />

de 1999 e 2003 no Instituto do Coração (InCor/HC-<br />

FMUSP). A média de idade foi de 6,24 + 10,4 anos,<br />

com 73 (57,9%) do sexo feminino. O gradiente sistólico<br />

médio pré e pós-procedimento foi de 60,1 mmHg + 27,5<br />

mmHg e de 13,1 mmHg + 8,59 mmHg (p = 0,00), respectivamente.<br />

Utilizando o gradiente sistólico de 25<br />

mmHg como ponto de corte, 119 (91,5%) obtiveram<br />

sucesso hemodinâmico, e nenhum paciente apresentou<br />

gradiente maior que 45 mmHg ao final. Não houve<br />

óbitos relacionados ao procedimento (9) .<br />

Em suma, a valvoplastia pulmonar por cateter-balão<br />

é um método eficaz e seguro no tratamento da estenose<br />

valvar em pacientes de todas as idades, com<br />

grande taxa de sucesso e baixa freqüência de complicações.<br />

COARCTAÇÃO DA AORTA<br />

Desde as primeiras descrições de tratamento percutâneo<br />

da coarctação com cateter-balão (10, 11) , vários foram<br />

os trabalhos demonstrando a eficácia tanto imediata como<br />

tardia desse método em pacientes com coarctação nativa<br />

e com reestenose após intervenção cirúrgica, com<br />

variável incidência de complicações, entre as quais formação<br />

de aneurismas e dissecções (12-15) .<br />

Após diagnóstico e avaliação do grau de coarctação<br />

e das repercussões hemodinâmicas advindas da<br />

hipertensão arterial sistêmica, os pacientes são submetidos<br />

a cateterismo cardíaco para fins principalmente<br />

terapêuticos. Para tratamento percutâneo, considerações<br />

técnicas incluem a realização de cateterismo direito<br />

e esquerdo em paciente sob anestesia geral. A<br />

determinação do gradiente sistólico na coarctação é<br />

fundamental para indicação de tratamento, e em geral<br />

considera-se valor acima de 20 mmHg para dilatação.<br />

Importante também são os achados de colaterais arteriais<br />

fornecidos pela angiografia, bem como a presença<br />

de hipoplasia de arco aórtico, tortuosidades e coarctação<br />

de aspecto tubular, influenciando decisivamente<br />

na indicação e no tipo de intervenção. Em seguida,<br />

são medidos os diâmetros pré e pós-coarctação (ao<br />

nível do diafragma) e no local do estreitamento, para<br />

escolha do balão e/ou do stent. Para coarctação nativa,<br />

recomenda-se inicialmente balão igual ao diâmetro<br />

do istmo e não excedendo o limite da aorta descendente<br />

ao nível do diafragma. Em geral o balão deve<br />

atingir de duas a três vezes o diâmetro da estenose.<br />

Para recoarctação, o balão não deve exceder o diâmetro<br />

da aorta descendente ao nível do diafragma (3, 12, 14) .<br />

Após dilatação, realiza-se nova medida de pressão e<br />

350 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


KAJITA LJ e cols.<br />

Atualização no<br />

tratamento percutâneo<br />

das cardiopatias<br />

congênitas obstrutivas:<br />

estenose valvar<br />

(pulmonar e aórtica) e<br />

coarctação da aorta<br />

angiografia para o diagnóstico<br />

de gradiente residual<br />

e áreas de rupturas<br />

ou dissecções. Na persistência<br />

de gradiente maior<br />

que 20 mmHg, um balão<br />

maior pode ser usado em<br />

um segundo estágio, não<br />

excedendo em 2 mm o diâmetro<br />

da aorta descendente,<br />

ou implanta-se um<br />

stent auto-expansível ou<br />

expansível por balão (3, 12) .<br />

Ainda que possa ser o tratamento de escolha em<br />

adultos, o implante primário de stent parece ter eficácia<br />

superior à do balão isolado nos casos de hipoplasia<br />

de arco aórtico, coarctação tubular e gradientes<br />

menores. A utilização de balões de maior tamanho para<br />

minimizar significativa retração elástica do vaso, gerando<br />

maior ruptura das camadas íntima e média, pode<br />

estar associada a maior risco de aneurismas e dissecções<br />

(16) , fato que ressalta o possível benefício da colocação<br />

de stent nos casos de gradiente residual importante<br />

após balão (17) . Pacientes adultos com recoarctação<br />

cirúrgica apresentam maior freqüência de reestenose<br />

após dilatação com balão (12, 15) , outra eventual indicação<br />

de tratamento primário com stent. Assim, a<br />

teórica vantagem do stent sobre o balão isolado é principalmente<br />

a redução da freqüência de reestenose.<br />

Contudo, essa técnica (stent) não tem sido recomendada<br />

rotineiramente nos pacientes pediátricos, pelo fato<br />

de a aorta ainda estar em desenvolvimento (16, 18) .<br />

Com relação aos resultados imediatos e tardios, Walhout<br />

e colaboradores (12) estudaram 85 pacientes com<br />

coarctação da aorta submetidos a aortoplastia com<br />

balão. Sucesso imediato foi igual (94%) nos pacientes<br />

adultos e crianças com coarctação da aorta nativa e<br />

nos pacientes menores de 16 anos com recoarctação.<br />

Dilatação foi inefetiva (gradiente sistólico maior que 20<br />

mmHg) em 2 dos 3 pacientes acima de 16 anos com<br />

recoarctação. Em seguimento médio de cinco anos,<br />

nenhum dos pacientes com mais de 16 anos de idade<br />

com coarctação nativa necessitou reintervenção e abaixo<br />

dos 16 anos, 18% tiveram recoarctação em seguimento<br />

médio de 2,5 anos. Fawzy e colaboradores (14)<br />

avaliaram os resultados de angioplastia por balão de<br />

49 pacientes com coarctação da aorta nativa com média<br />

de idade de 22 anos. Não houve óbitos na casuística.<br />

Houve redução do gradiente de pressão de 66<br />

mmHg + 23 mmHg para 10,8 mmHg + 7 mm e no seguimento<br />

de doze meses, gradiente residual de 6,2<br />

mmHg. Quatro pacientes (7,5%) evoluíram com recoarctação,<br />

sendo redilatados com sucesso, e 4 apresentaram<br />

aneurismas. Mann e colaboradores (15) analisaram<br />

retrospectivamente 71 pacientes submetidos a<br />

aortoplastia com balão para tratamento de recoarctação<br />

cirúrgica. Sucesso imediato foi alcançado em 71%<br />

e tardio, em 69%. A idade no momento do procedimento<br />

foi o principal determinante do sucesso imediato e o<br />

aumento de diâmetro no local da coarctação da aorta<br />

o principal preditor de sucesso tardio. Não houve casos<br />

de aneurismas na evolução. Patel e colaboradores<br />

(19) relataram recoarctação em 7 das 17 crianças<br />

portadoras de coarctação da aorta nativa tratadas com<br />

balão. Fatores envolvidos com insucesso foram hipoplasia<br />

de arco aórtico e idade inferior a um mês. Não<br />

houve óbitos ou complicações maiores. Desse modo,<br />

os resultados apresentados assim como os de outros<br />

autores (20-22) confirmam que a angioplastia por balão é<br />

um método seguro e com boa eficácia em pacientes<br />

portadores de coarctação da aorta nativa, com baixa<br />

freqüência de complicações e aceitável incidência de<br />

recoarctação na evolução tardia de crianças maiores e<br />

adultos. Resultados menos favoráveis estão relacionados<br />

à presença de hipoplasia de arco aórtico, coarctação<br />

da aorta nativa em idades mais jovens e pacientes<br />

adultos com recoarctação cirúrgica.<br />

O fenômeno de retração elástica e a presença de<br />

anatomia desfavorável (hipoplasia ístmica, coarctação<br />

da aorta tubular e tortuosidades) têm estimulado a colocação<br />

primária de stents para reduzir a incidência de<br />

reestenoses (23) . Atualmente, vários tipos de stents são<br />

utilizados com essa finalidade, cada um com vantagens<br />

e desvantagens relacionadas à rigidez, ao encurtamento,<br />

à força radial e à adaptação à anatomia do vaso (24) .<br />

Zabal e colaboradores (25) compararam os resultados de<br />

dilatação de coarctação da aorta nativa com e sem<br />

implante de stent de 54 pacientes. Nos casos de anatomia<br />

desfavorável, foi observado gradiente residual<br />

maior que 20 mmHg em 57% dos casos tratados com<br />

balão e em nenhum dos tratados com stent. Pacientes<br />

submetidos a aortoplastia por balão apresentando gradiente<br />

residual menor que 10 mmHg tiveram a mesma<br />

evolução dos tratados com stent, apontando para uma<br />

possível orientação de tratamento. Bons resultados de<br />

implante de stent em coarctação da aorta também têm<br />

sido demonstrados em outros centros (16, 17, 26, 27) , indicando<br />

ser uma tendência atual como método de primeira<br />

escolha em adolescentes e adultos. Estudos de<br />

evolução a longo prazo ainda são escassos.<br />

ESTENOSE AÓRTICA<br />

Há mais de uma década (28) a valvoplastia aórtica percutânea<br />

vem se tornando uma importante opção no<br />

tratamento de adultos, crianças e neonatos com estenose<br />

aórtica, com bons resultados imediatos e baixa<br />

mortalidade. Entretanto, pode ser considerada um procedimento<br />

paliativo em grande parcela dos pacientes,<br />

pela freqüente necessidade de reintervenção ou cirur-<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 351


KAJITA LJ e cols.<br />

Atualização no<br />

tratamento percutâneo<br />

das cardiopatias<br />

congênitas obstrutivas:<br />

estenose valvar<br />

(pulmonar e aórtica) e<br />

coarctação da aorta<br />

gia no seguimento tardio<br />

(29) .<br />

Após diagnóstico e<br />

descrição anatômica detalhada<br />

feita com o estudo<br />

ecocardiográfico, o paciente<br />

é submetido a cateterismo<br />

direito e esquerdo,<br />

habitualmente por meio de<br />

acesso femoral. É obtido<br />

gradiente sistólico entre<br />

ventrículo esquerdo e aorta,<br />

que quantifica a gravidade da estenose, muito embora<br />

possa estar subestimada pela disfunção ventricular.<br />

Ventriculografia esquerda, quando possível, fornece<br />

imagem para estudo de função e para medida do<br />

anel valvar aórtico. O acesso retrógrado para progressão<br />

do balão é o mais comum, principalmente via artéria<br />

femoral. O diâmetro do balão deve medir de 75% a<br />

90% da medida do anel valvar, obtida por ecocardiografia<br />

ou angiografia. Considera-se redução de mais<br />

de 50% e/ou gradiente menor que 50 mmHg para definição<br />

de sucesso. É importante a realização de aortografia<br />

ascendente para diagnóstico de insuficiência aórtica<br />

pós-dilatação. Nos casos de dilatação pouco efetiva<br />

com insuficiência aórtica ausente ou leve, está indicado o<br />

uso de balão com maior tamanho, aconselhando-se não<br />

ultrapassar relação anel/balão de 1, pelo maior risco de<br />

insuficiência aórtica moderada a importante e lesão da<br />

via de saída do ventrículo esquerdo (3, 29, 30) .<br />

Entre outras complicações do procedimento, a lesão<br />

vascular de artéria femoral decorrente do uso de<br />

introdutores de grande perfil estimulou o desenvolvimento<br />

de outras vias de acesso (30-32) . Nos neonatos, a<br />

artéria umbilical oferece acesso seguro, embora associada<br />

a manipulação mais difícil do cateter. Borghi e<br />

colaboradores (32) descreveram uma casuística de 29 crianças<br />

submetidas a dissecção de artéria carótida direita<br />

como via de acesso para valvoplastia aórtica.<br />

Complicações incluíram um caso de oclusão arterial<br />

sem sintomas e uma lesão ganglionar traumática. Seguimento<br />

com ultra-som Doppler identificou apenas um<br />

paciente com estenose leve no local. Peuster e colaboradores<br />

(31) demonstraram sua experiência com valvoplastia<br />

aórtica em 17 neonatos, por meio de acesso<br />

anterógrado, com redução significativa do gradiente<br />

sistólico sem lesão do aparato valvar mitral. Vantagens<br />

desse método são a dispensa do acesso arterial para<br />

o procedimento e a possibilidade de um trajeto mais<br />

adequado do guia através da valva aórtica, evitando<br />

assim perfuração ou ruptura importante das cúspides,<br />

substrato para insuficiência aórtica.<br />

O sucesso imediato da valvoplastia aórtica percutânea<br />

tem sido amplamente documentado. Considerações<br />

sobre evolução tardia e fatores associados ao desenvolvimento<br />

de reestenose e insuficiência aórtica<br />

ainda são debatidas. Jindal e colaboradores (33) em seu<br />

trabalho com 74 crianças e adolescentes identificaram<br />

20% de reestenose e 21% de insuficiência aórtica significativa<br />

em média de 5,5 anos de acompanhamento.<br />

Sobrevida livre de intervenção foi aos cinco, sete e doze<br />

anos de 92,9%, 84,8% e 60%, respectivamente, e mortalidade<br />

nula. Gradiente residual mais importante e insuficiência<br />

aórtica imediatamente após dilatação foram<br />

associados à necessidade de reintervenção. Outros<br />

autores também compartilharam resultados satisfatórios<br />

em crianças e adolescentes (34, 35) . Entretanto, pacientes<br />

com menor faixa etária, em geral, têm pior evolução,<br />

especialmente aqueles com estenose aórtica crítica,<br />

fato descrito por Latiff e colaboradores (36) ao estudar<br />

42 pacientes com menos de 6 meses. Sobrevida<br />

livre de intervenção foi de 70% e 21% em cinco e dez<br />

anos, respectivamente. Preditores de morte e pior evolução<br />

incluíram crianças menores de um mês, possivelmente<br />

por particularidades anatômicas, como fibroelastose,<br />

hipoplasia anular, espessamento e displasia<br />

valvar, entre outras. Por outro lado, maior chance de<br />

sobrevida foi associada a um anel valvar maior que 25<br />

mm/m 2 , independentemente da idade. Segundo Balmer<br />

e colaboradores (37) , maior incidência de insuficiência<br />

aórtica moderada a importante e menor sobrevida livre<br />

de intervenção foram também relatadas em crianças<br />

com menos de 3 meses de idade. A realização de valvoplastia<br />

aórtica em fetos com obstrução severa ainda<br />

carece de bons resultados, mas poderá futuramente<br />

melhorar a sobrevida desses pacientes, sabidamente,<br />

com elevadas chances de óbito após o nascimento (38) .<br />

A valvoplastia aórtica percutânea, portanto, é tratamento<br />

paliativo seguro, com bons resultados imediatos<br />

e satisfatórios resultados tardios em pacientes de<br />

maior idade. A principal vantagem é ser procedimento<br />

menos invasivo e de baixa mortalidade, podendo retardar<br />

uma eventual intervenção cirúrgica para troca<br />

valvar, com todos os seus riscos.<br />

352 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


KAJITA LJ e cols.<br />

Atualização no<br />

tratamento percutâneo<br />

das cardiopatias<br />

congênitas obstrutivas:<br />

estenose valvar<br />

(pulmonar e aórtica) e<br />

coarctação da aorta<br />

UPDATING IN THE CONGENITAL OBSTRUCTIVE<br />

HEART DISEASES PERCUTANEOUS TREATMENT:<br />

VALVULAR STENOSIS (PULMONARY AND AORTIC)<br />

AND AORTA COARCTATION<br />

LUIZ JUNYA KAJITA, ROGÉRIO DOS ANJOS MIRANDA, ANTÔNIO ESTEVES FILHO<br />

Until the beginning of the 80’ the surgery was the only effective way of treatment<br />

for congenital obstructive heart diseases. After then the improvement in percutaneous<br />

approach has offered treatment with very good results. The authors reviewed<br />

consecrated text books and original papers on treatment of the main congenital<br />

obstructive heart diseases (pulmonary and aortic stenosis and aorta coarctation) in<br />

Medline database. The percutaneous dilation by catheter balloon with or without the<br />

use of stents offers at the present time, and with some exceptions, excellent immediate<br />

results and late results with acceptable re-intervention frequencies. It constitutes,<br />

therefore, a safe, effective, less invasive procedure with low incidence of complications.<br />

Key words: pulmonary valvuloplasty, aortic estenosis, aorta coarctation.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:349-54)<br />

RSCESP (72594)-1553<br />

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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 353


KAJITA LJ e cols.<br />

Atualização no<br />

tratamento percutâneo<br />

das cardiopatias<br />

congênitas obstrutivas:<br />

estenose valvar<br />

(pulmonar e aórtica) e<br />

coarctação da aorta<br />

coarctation in different<br />

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354 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ESTEVES CA<br />

Resultados imediatos e<br />

tardios da valvotomia<br />

mitral percutânea com<br />

cateter-balão<br />

RESULTADOS IMEDIATOS E TARDIOS DA VALVOTOMIA<br />

MITRAL PERCUTÂNEA COM CATETER-BALÃO<br />

CÉSAR AUGUSTO ESTEVES<br />

Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia<br />

Endereço para correspondência: Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 – 14º andar –<br />

Ibirapuera – CEP 04012-180 – São Paulo – SP<br />

O autor faz um breve histórico da valvotomia mitral percutânea descrita pela primeira<br />

vez, em 1984, por Kenji Inoue.<br />

Descreve os resultados imediatos em 1.609 pacientes submetidos ao procedimento<br />

percutâneo de agosto de 1989 a fevereiro de 2005 no Instituto Dante Pazzanese<br />

de Cardiologia. Sucesso foi obtido em 91,0%, evidenciado pela queda significativa<br />

das pressões em câmaras direitas, diminuição dos gradientes diastólicos médio<br />

e máximo transvalvar mitral e aumento da área de abertura valvar. A principal complicação<br />

da valvotomia percutânea é a insuficiência mitral grave, que apresentou<br />

incidência de 3,5% logo após o procedimento. Os resultados tardios foram analisados<br />

em 805 pacientes submetidos a 850 procedimentos entre agosto de 1987 e<br />

junho de 2000. A reestenose foi observada em 183 (22,7%) pacientes no seguimento<br />

médio de oito anos. O tempo médio para seu diagnóstico (estudo ecocardiográfico)<br />

foi de 53,9 + 33,2 meses. A reestenose foi, em sua maioria, ecocardiográfica,<br />

uma vez que 115 (63,0%) desses pacientes foram mantidos em evolução clínica.<br />

Grupos especiais, como o de pacientes grávidas e os com idade < 18 anos e > 60<br />

anos, também tiveram os resultados tardios analisados separadamente.<br />

Palavras-chave: dilatação com balão, valva mitral, análise de resultados.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:355-61)<br />

RSCESP (72594)-1554<br />

INTRODUÇÃO<br />

A valvotomia mitral percutânea foi descrita pela primeira<br />

vez, em 1984, por Inoue e colaboradores (1) , que<br />

idealizaram um balão único, desenhado especificamente<br />

para a dilatação da valva mitral. Em 1985, Lock e<br />

colaboradores (2) descreveram o procedimento em crianças<br />

e adultos jovens utilizando balão único (Mansfield<br />

® ) e dilatação do septo interatrial. Finalmente, em<br />

1986, Palacios e colaboradores (3) e McKay e colaboradores<br />

(4) descreveram a técnica do duplo-balão com<br />

punção transeptal única e dilatação do septo interatrial.<br />

Nenhuma novidade foi introduzida nesse campo até<br />

1995, quando o sistema Multi-Track (duplo-balão so-<br />

bre um único fio-guia) foi descrito por Bonhoeffer e colaboradores<br />

(5) , simplificando de forma significativa a<br />

técnica do duplo-balão convencional. Em 1996, Cribier<br />

e colaboradores (6) introduziram a técnica de dilatação<br />

valvar com o valvulótomo metálico. Esse instrumental<br />

tinha como objetivo, diferentemente das técnicas que<br />

empregam um ou dois balões, que por sua vez atuam<br />

com maior freqüência na fusão comissural ântero-superior,<br />

uma dilatação mais anatômica, com liberação<br />

bilateral das fusões comissurais.<br />

A valvotomia mitral percutânea, qualquer que seja<br />

a técnica empregada, não é procedimento simples, exigindo<br />

curva de aprendizado, que basicamente é a curva<br />

de aprendizado da punção transeptal. Em nossa instituição,<br />

só alcançamos 100% de sucesso nas dilata-<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 355


ESTEVES CA<br />

Resultados imediatos e<br />

tardios da valvotomia<br />

mitral percutânea com<br />

cateter-balão<br />

ções da valva mitral após<br />

cinco anos do início de seu<br />

emprego.<br />

DEFINIÇÕES<br />

Sucesso – considerou-se<br />

sucesso do procedimento<br />

o aumento da área valvar<br />

maior ou igual a 25% da<br />

área inicial, com área valvar<br />

mitral final > 1,5 cm 2 ,<br />

na ausência de insuficiência mitral grave (7-12) .<br />

Sucesso parcial ou resultado subótimo – considerouse<br />

sucesso parcial ou resultado subótimo área valvar<br />

mitral final < 1,5 cm 2 , na ausência de insuficiência mitral<br />

grave (7, 11) .<br />

Insucesso – considerou-se insucesso a interrupção do<br />

procedimento causado por problemas técnicos, pelo<br />

desenvolvimento de insuficiência mitral grave (3 ou 4+)<br />

após a insuflação do balão ou pela ocorrência de óbito.<br />

Classificou-se como problema técnico a punção transeptal<br />

não completada ou complicada por tamponamento<br />

cardíaco e a impossibilidade de ultrapassar a valva<br />

mitral estenótica com o cateter-balão (13) .<br />

Reestenose – considerou-se reestenose ecocardiográfica<br />

quando, no seguimento tardio, a área valvar mitral<br />

avaliada pela planimetria e/ou pelo tempo de meia-pressão<br />

for < 1,5 cm 2 , com perda > 50,0% do ganho inicial<br />

(8, 9, 12) .<br />

RESULTADOS<br />

Características da população atual de pacientes<br />

No Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, de<br />

agosto de 1987 a fevereiro de 2005 foram realizadas<br />

1.609 valvotomias mitrais percutâneas. A idade dos pacientes<br />

variou de 10 a 85 anos (média de 36,1 + 12,7<br />

anos). O sexo feminino e o ritmo sinusal estavam presentes<br />

em 1.400 (87,0%) pacientes. O ritmo de fibrilação<br />

atrial foi observado em 209 (13,0%) e a hipertensão<br />

arterial pulmonar grave (pressão sistólica de artéria<br />

pulmonar > 80 mmHg) em 132 (8,2%) pacientes,<br />

antes do procedimento. Comissurotomia cirúrgica prévia<br />

havia sido realizada em 104 (6,5%) pacientes uma<br />

única vez e em 4 pacientes por duas vezes. E 121<br />

(7,5%) pacientes foram submetidas a valvotomia percutânea<br />

durante a gravidez.<br />

Resultados imediatos<br />

Com qualquer das técnicas empregadas, o que se<br />

deseja como resultado imediato ideal é o aumento da<br />

área valvar mitral com subseqüente diminuição da pressão<br />

média do átrio esquerdo, das pressões em câmaras<br />

direitas (pressão sistólica do ventrículo direito e<br />

pressões sistólica e média da média da artéria pulmonar)<br />

e dos gradientes diastólicos máximo e médio entre<br />

o átrio e o ventrículo esquerdos (14) .<br />

A ecocardiografia transtorácica de controle deverá<br />

ser realizada pelo menos 48 horas após o procedimento<br />

percutâneo (para não ser avaliada de forma errônea a<br />

área valvar calculada pelo PHT em decorrência da alteração<br />

de complacência do ventrículo esquerdo), e<br />

deverá confirmar o aumento da área de abertura valvar<br />

mitral e a diminuição dos gradientes máximo e médio<br />

transvalvar.<br />

Em nossa casuística atual, em 1.609 procedimentos<br />

realizados, obtivemos sucesso em 91,1%, sucesso<br />

parcial em 3,2% e insucesso em 5,7%.<br />

A principal complicação do tratamento percutâneo<br />

é a insuficiência mitral. A experiência em nossa instituição<br />

demonstrou incidência total de regurgitação mitral<br />

em 26,0% dos casos, seja ela de 1 a 4+. Quando<br />

se avaliou a incidência de insuficiência mitral grave (3<br />

ou 4+), esta esteve presente em 3,5% dos procedimentos,<br />

o que está inteiramente de acordo com outras experiências<br />

descritas na literatura (9, 15-18) .<br />

Resultados tardios<br />

Foram analisados 1.050 procedimentos realizados<br />

com sucesso em 1.005 pacientes entre agosto de 1987<br />

e junho de 2000. As características dessa população<br />

de pacientes estão descritas na Tabela 1.<br />

Tabela 1. Caracterização da amostra.<br />

Variáveis<br />

%/Média + desvio padrão<br />

Idade<br />

35,3 + 12,6 anos<br />

Ritmo<br />

– sinusal 88,0%<br />

– fibrilação atrial 12,0%<br />

Sexo – feminino 92,0%<br />

Ecoescore (Wilkins) 8,6 + 1,3<br />

Comissurotomia<br />

cirúrgica prévia 9,1%<br />

Grávidas – tempo<br />

médio de<br />

gestação =<br />

25,3 + 6,7 semanas 7,2%<br />

Pressão sistólica artéria<br />

pulmonar > 80 mmHg 6,6%<br />

A técnica do duplo-balão (seja a convencional com<br />

dois fios-guia ou o sistema Multi-Track) foi empregada<br />

em 53,0% dos procedimentos; a de Inoue, em 39,4%;<br />

e a do valvulótomo metálico, em 7,6%.<br />

Houve perda do seguimento tardio em 200 (20,0%)<br />

356 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ESTEVES CA<br />

Resultados imediatos e<br />

tardios da valvotomia<br />

mitral percutânea com<br />

cateter-balão<br />

pacientes, o que consideramos<br />

incidência baixa,<br />

levando-se em conta o nível<br />

socioeconômico da<br />

maioria dos pacientes valvopatas<br />

e também o fato<br />

de elevado número deles<br />

residir fora de São Paulo,<br />

o que muitas vezes torna<br />

difícil o retorno à instituição.<br />

Nos 805 pacientes<br />

restantes, foram realizados<br />

850 procedimentos com sucesso. Dentre estes, 63<br />

(7,4%) apresentaram insuficiência mitral moderada (2+)<br />

logo após o procedimento pela ventriculografia esquerda.<br />

Destes, 30 (47,6%) permaneceram em seguimento<br />

clínico tardio. Os outros 33 (52,4%) pacientes foram<br />

encaminhados a cirurgia. Quando essa indicação se<br />

deu por regurgitação mitral moderada (26 pacientes),<br />

o tempo médio para indicação da troca valvar foi de 25<br />

meses. Os pacientes que apresentaram evolução do<br />

grau de insuficiência mitral de moderado para grave<br />

(os outros 7 pacientes) foram encaminhados a cirurgia<br />

num período médio de 15 dias.<br />

A probabilidade acumulada de reestenose em cinco<br />

anos foi de 14,9%, em sete anos foi de 18,4%, e em<br />

até dez anos foi de 21,9%, com proporção total de reestenose<br />

de 22,7%. O estudo ecocardiográfico que<br />

detectou reestenose em 183 pacientes foi realizado num<br />

período médio de 53,9 + 33,2 meses. Destes, 115<br />

(63,0%) pacientes continuaram em seguimento clínico,<br />

sem indicação para qualquer outra intervenção, por<br />

apresentarem-se em classe funcional I ou II. A redilatação<br />

com cateter-balão foi realizada em 40 (22,0%)<br />

pacientes e 28 (15,0%) foram encaminhados a cirurgia.<br />

Destes, 7 (25,0%) apresentavam dupla lesão mitral<br />

com predomínio da insuficiência (tempo médio de<br />

evolução até o encaminhamento cirúrgico = 49,0 + 34,2<br />

meses) e 21 (75,0%) exibiam escore ecocardiográfico<br />

desfavorável, sendo 15 após a primeira valvotomia percutânea<br />

(tempo de seguimento tardio até a cirurgia =<br />

64,6 + 30,9 meses) e 6 após a segunda intervenção<br />

percutânea (tempo de seguimento tardio até indicação<br />

cirúrgica = 82,2 + 36,7 meses).<br />

Todos os pacientes que permaneceram em seguimento<br />

clínico tardio no grupo das “reestenoses” se apresentavam<br />

assintomáticos ou oligossintomáticos, porém<br />

foram classificados como reestenose, por definição,<br />

pela ecocardiografia transtorácica a que todos foram<br />

submetidos em intervalos de seis meses, por ocasião<br />

de seu retorno à instituição. A reestenose foi ecocardiográfica<br />

e não clínica, portanto sem indicação para reintervenção<br />

de qualquer natureza em decorrência da<br />

classe funcional dos pacientes. Em nossa casuística,<br />

foram fatores preditores de reestenose o diâmetro do<br />

átrio esquerdo e a área valvar mitral pós-procedimento.<br />

A idade, a fibrilação atrial e a presença de calcificação<br />

no plano valvar (pela fluoroscopia), que, na maioria<br />

das experiências, são incluídas como fatores preditores<br />

de reestenose, não obtiveram significância estatística<br />

em nosso material. Isso se deve ao fato de a<br />

média das idades de nossos pacientes ser baixa, o que<br />

torna a incidência de fibrilação atrial reduzida, bem<br />

como a presença de calcificação do aparelho valvar ou<br />

subvalvar.<br />

A curva de Kaplan Meyer (Fig. 1) demonstra a freqüência<br />

de pacientes livres de reestenose com reintervenção,<br />

livres de eventos (redilatação, cirurgia e óbito)<br />

e livres de reestenose.<br />

Dois subgrupos de pacientes merecem ser analisados,<br />

porém o serão em separado por terem sido classificados<br />

de insucesso ou sucesso parcial, estando, portanto,<br />

fora da análise anterior que tratou apenas dos<br />

sucessos.<br />

Dos 60 insucessos que obtivemos, 26 (43,3%) foram<br />

por problemas técnicos e incluíram os pacientes<br />

da curva de aprendizado com o procedimento, principalmente<br />

com a punção transeptal. Todos foram encaminhados<br />

a cirurgia e nesse grupo tivemos 1 óbito por<br />

perfuração da ponta do ventrículo esquerdo com a técnica<br />

do duplo-balão convencional. Outros 34 (56,7%)<br />

pacientes apresentaram insuficiência mitral grave pósprocedimento,<br />

dos quais 32 (94,0%) foram encaminhados<br />

a cirurgia para troca valvar e 2 pacientes faleceram<br />

por apresentar regurgitação mitral grave e recusar<br />

o tratamento cirúrgico.<br />

É importante observar que, embora tenhamos encaminhado<br />

para tratamento cirúrgico todos os casos<br />

com problemas técnicos, atualmente, passado o tempo<br />

da curva de aprendizado inicial, sabemos que muitos<br />

deles (os que apresentaram hemopericárdio sem<br />

tamponamento) poderiam ser mantidos em observação<br />

clínica e monitorizados com ecocardiografias seriadas;<br />

caso não evoluíssem com tamponamento, deveriam<br />

ter o tratamento percutâneo indicado posteriormente.<br />

Dos 35 pacientes que apresentaram padrão de sucesso<br />

parcial pelo estudo ecocardiográfico pós-procedimento,<br />

18 (51,0%) permaneceram em seguimento clínico<br />

tardio em classe funcional I ou II. A redilatação<br />

percutânea foi indicada em 8 (23,0%) pacientes e 9<br />

(26,0%) foram encaminhados para tratamento cirúrgico.<br />

Certos subgrupos de pacientes submetidos a valvotomia<br />

mitral percutânea em nossa instituição foram<br />

também analisados separadamente. São eles os pacientes<br />

com idade < 18 anos e > 60 anos e as grávidas.<br />

O subgrupo de pacientes jovens apresentou elevada<br />

incidência de reestenose – 33,0% em curto período<br />

de tempo (43,7 + 31,8 meses). A análise de regressão<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 357


ESTEVES CA<br />

Resultados imediatos e<br />

tardios da valvotomia<br />

mitral percutânea com<br />

cateter-balão<br />

logística com as variáveis<br />

independentes sexo, idade,<br />

classe funcional III e IV,<br />

área valvar mitral pré-procedimento<br />

e escore ecocardiográfico<br />

revelou apenas<br />

a idade e a classe funcional<br />

IV como preditores<br />

de reestenose. Essa elevada<br />

incidência de reestenose<br />

em um intervalo de<br />

tempo relativamente curto<br />

sugere que outros fatores além da anatomia valvar estejam<br />

desempenhando papel importante na evolução<br />

natural dessa complicação. A probabilidade de atividade<br />

reumática subclínica e/ou de uma variante da doença<br />

reumática mais maligna, que exercesse poder inflamatório<br />

mais intenso sobre o aparelho valvar e subvalvar,<br />

determinando o aparecimento de sintomas tão precocemente<br />

e elevada incidência de reestenose, é hipótese<br />

que merece ser considerada.<br />

Dos 39 pacientes com média de idade de 67,5 + 6,8<br />

anos (variando de 60 a 85 anos), em 23 obteve-se seguimento<br />

tardio médio de 28,9 + 24,2 meses. A incidência<br />

de reestenose foi de 21,7% (tempo médio para<br />

diagnóstico = 45,8 + 31,6 meses). O ecoescore dos<br />

pacientes que apresentaram reestenose variou de 9 a<br />

11 (média de 9,2 + 1,4 pontos). Presença de cálcio no<br />

plano valvar pela fluoroscopia foi observada com intensidade<br />

de 2+ em 1 paciente e de 3+ em outro. A<br />

fibrilação atrial estava presente em 3 dos 5 (60,0%)<br />

pacientes com reestenose.<br />

No total, 71 pacientes grávidas (4 com gravidez gemelar)<br />

portadoras de estenose mitral grave submetidas<br />

a valvotomia percutânea na instituição foram acompanhadas<br />

por um intervalo de tempo que variou de 6 a<br />

104 meses (mediana de 48 meses). Com a devida proteção<br />

plúmbica abdominal materna durante a valvotomia,<br />

a dose de radiação aferida a que estiveram expostos<br />

alguns desses fetos foi menor que 1 mSv, considerada<br />

baixa.<br />

A incidência de reestenose foi de 13,9% no período<br />

médio de evolução de 64,8 + 27,4 meses (mediana de<br />

63 meses). A análise multivariada realizada tentando<br />

correlacionar área valvar mitral e gradientes diastólicos<br />

máximo e médio pré e pós-procedimento, escore<br />

Probabilidade - livre de eventos<br />

b<br />

a<br />

c<br />

a<br />

b<br />

c<br />

Figura 1. Curva de Kaplan Meyer demonstrando pacientes livres de reestenose com intervenção, livres de<br />

eventos e livres de reestenose.<br />

358 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ESTEVES CA<br />

Resultados imediatos e<br />

tardios da valvotomia<br />

mitral percutânea com<br />

cateter-balão<br />

de escolaridade compatível com a idade.<br />

ecocardiográfico e diâmetro<br />

do átrio esquerdo prévalvotomia<br />

com reestenose<br />

não mostrou significância<br />

estatística. Desse grupo<br />

nasceram 66 recémnascidos<br />

sadios, que no<br />

seguimento tardio médio<br />

de 44,1 + 30,8 meses (mediana<br />

de 48 meses) continuaram<br />

apresentando<br />

exame físico normal e grau<br />

Em nossa casuística, não houve diferença estatisticamente<br />

significativa quando se compararam os<br />

resultados imediatos e tardios empregando as técnicas<br />

do duplo-balão e do balão único de Inoue. Esses<br />

dados estão de acordo com os apresentados na literatura<br />

(9, 10, 19) .<br />

A comparação entre os resultados da valvotomia<br />

mitral percutânea e os da comissurotomia cirúrgica tanto<br />

a céu fechado quanto a céu aberto já foi publicada em<br />

diversos estudos, randomizados ou não. Atualmente,<br />

pode-se afirmar que, em casos selecionados, os resultados<br />

do procedimento percutâneo são superponíveis<br />

e até mesmo superiores aos resultados cirúrgicos (18-24) .<br />

IMMEDIATE AND LONG-TERM RESULTS AFTER<br />

PERCUTANEOUS BALLOON MITRAL VALVOTOMY<br />

CÉSAR AUGUSTO ESTEVES<br />

The author presented a summarized history of balloon mitral valvotomy first described<br />

by Kenji Inoue.<br />

The immediate results in 1,609 patients who underwent the procedure between<br />

august 1989 and february 2005 at the Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia<br />

were also analysed. The procedure was successful in 91.0% of patients. Success<br />

criteria were considered as a decrease in the right heart pressures, in the mean and<br />

peak-to-peak transmitral diastolic gradients and an increase in the final mitral valve<br />

area. Severe mitral regurgitation immediately after procedure was the main complication<br />

and observed in 3.5% of patients. Late results were analised in 805 patients<br />

who were submited to 850 procedures between august 1987 and june 2000. Restenosis<br />

as diagnosed by echocardiography was observed in 183 (22.7%) patients in a<br />

median follow-up of 8 years. Mean period to restenosis was 53.9 + 33.2 months.<br />

Despite that, most of the patients (115 out of 183) were in New York Heart Association<br />

functional class I or II at late follow-up. Three sub-groups of patients were analysed<br />

separately: pregnant patients, patients < 18 and > 60 years of age.<br />

Key words: balloon dilatation, mitral valve, analysis of the results.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:355-61)<br />

RSCESP (72594)-1554<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 359


ESTEVES CA<br />

Resultados imediatos e<br />

tardios da valvotomia<br />

mitral percutânea com<br />

cateter-balão<br />

REFERÊNCIAS<br />

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retrograde cardioangiography in acquired cardiac disease:<br />

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tardio. São Paulo, 2002. 99p. [Tese de Doutorado]<br />

Faculdade de Medicina, Universidade de São<br />

Paulo.<br />

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J Am Coll Cardiol. 1993;22:783-9.<br />

16. Leon MN, Harrell LC, Simosa HF, Mahdi NA, Pathan<br />

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patients with mitral stenosis in atrial fibrillation. J Am<br />

Coll Cardiol. 1999;34:1145-52.<br />

17. Sharma S, Loya YS, Desai DM, Pinto RJ. Percutaneous<br />

mitral valvotomy using Inoue and double balloon<br />

technique: comparison of clinical and hemodynamic<br />

short term results in 350 cases. Cathet Cardiovasc<br />

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prospective, randomized trial. Circulation.<br />

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19. Patel JJ, Shama D, Mitha AS, Blyth D, Hassen F, Le<br />

Roux BT, et al. Balloon valvuloplasty versus closed<br />

commissurotomy for pliable mitral stenosis: a prospective<br />

hemodynamic study. J Am Coll Cardiol.<br />

1991;18:1318-22.<br />

20. Reyes VP, Raju BS, Wynne J, Stephenson LW, Raju<br />

R, Fromm BS, et al. Percutaneous balloon valvuloplasty<br />

compared with open surgical commissurotomy<br />

for mitral stenosis. N Engl J Med. 1994;331:961-7.<br />

21. Turi ZG, Raju BS, Farias S, Raju PR, Farkas P, Kapoor<br />

S, et al. Percutaneous balloon mitral commissurotomy<br />

is superior to open surgical commissurotomy<br />

at long term follow-up. [Resumo] J Am Coll<br />

Cardiol. 1998;31 Suppl A:74.<br />

22. Ben Farhat M, Ayari M, Maatouk F, Betbout F, Gamra<br />

H, Jarrar M, et al. Percutaneous balloon versus<br />

surgical closed and open mitral commissurotomy. Seven<br />

year follow-up of a randomized trial. Circulation.<br />

1998;97:245-50.<br />

23. Raju BS, Turi ZG, Raju PR, Farkas S, Reddy K,<br />

McGinnity JG, et al. Percutaneous balloon versus<br />

surgical closed mitral commissurotomy: 10 year follow-up<br />

of a randomized trial. [Resumo] J Am Coll<br />

360 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ESTEVES CA<br />

Resultados imediatos e<br />

tardios da valvotomia<br />

mitral percutânea com<br />

cateter-balão<br />

Cardiol. 1999;33 Suppl<br />

A:555.<br />

24. Bueno RRL. Valvoplastia<br />

mitral percutânea com<br />

cateter-balão comparado<br />

com a cirurgia de comissurotomia mitral a céu aberto:<br />

estudo clínico randomizado com seguimentos de<br />

6 e 22 meses. Porto Alegre, 1995. 107p. [Tese de<br />

Doutorado] Universidade Federal do Rio Grande do<br />

Sul.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 361


ESTADO DA ARTE <strong>EM</strong> STENTS DE AORTA<br />

ALVES CMR e col.<br />

Estado da arte em<br />

stents de aorta<br />

CLAUDIA MARIA RODRIGUES ALVES, JOSÉ AUGUSTO MARCONDES DE SOUZA<br />

Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP-EPM<br />

Endereço para correspondência: Rua Borges Lagoa, 564 – cj. 94 –<br />

CEP 04038-001 – São Paulo – SP<br />

O tratamento das doenças da aorta ainda constituem desafio médico não só por<br />

sua complexidade como também pela complexidade da população por ela acometida.<br />

O tratamento cirúrgico dessas doenças, que se acompanha de altas taxas de<br />

mortalidade e de morbidade, fica reservado para os pacientes com dilatação aneurismática,<br />

com sinais de rotura ou rotura eminente e com isquemia em órgão-alvo.<br />

A introdução da terapia endovascular com implante de endopróteses surge como<br />

alternativa ao tratamento cirúrgico em casos selecionados e teria como um de seus<br />

principais objetivos diminuir as taxas de complicações associadas ao tratamento<br />

cirúrgico.<br />

A seleção de pacientes para as intervenções endovasculares segue critérios clínicos<br />

e anatômicos bem definidos. Os critérios clínicos são os mesmos de indicação<br />

da cirurgia clássica. Os critérios anatômicos estabelecem: que o processo patológico<br />

esteja restrito à aorta descendente; que existam colos proximais e distais para<br />

uma boa aterrissagem da endoprótese; e que haja uma via de acesso adequada<br />

para a progressão dos dispositivos, principalmente no que diz respeito ao sistema<br />

ilíaco-femoral.<br />

O procedimento pode ser realizado na sala de hemodinâmica e freqüentemente<br />

sob anestesia regional. As taxas de sucesso com esse procedimento estão em torno<br />

de 80% a 90%, com taxas de complicações aceitáveis.<br />

O seguimento dos pacientes com exames de imagem deve ser periódico, tendose<br />

em mente a natureza progressiva das doenças da aorta e o fato de essa modalidade<br />

terapêutica ainda não ter sua evolução completamente avaliada.<br />

Palavras-chave: aneurismas, doenças da aorta, dissecção da aorta, stents.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:362-8)<br />

RSCESP (72594)-1555<br />

INTRODUÇÃO<br />

As doenças da aorta ainda apresentam alta taxa de<br />

mortalidade e morbidade, tendo em vista que a maioria<br />

dos casos ocorre em pacientes idosos com co-morbidades,<br />

como doença isquêmica do coração, doença<br />

aórtica prévia, doença pulmonar crônica obstrutiva ou<br />

disfunção renal (1) . Em decorrência do alto risco dessa<br />

população, o tratamento cirúrgico tradicional apresenta<br />

taxas de complicações elevadas, especialmente<br />

quando reparamos a aorta em sua porção torácica. (2)<br />

As histórias naturais dessas doenças são bem conhecidas<br />

e o tratamento cirúrgico está reservado aos<br />

casos em que existe dilatação progressiva, sinais iminentes<br />

de ruptura ou de isquemia de algum órgão. A<br />

despeito dos grandes avanços referentes ao diagnóstico<br />

por imagem e ao desenvolvimento de novas técnicas<br />

cirúrgicas, a mortalidade pode ser de até 50%, especialmente<br />

quando os pacientes são operados de urgência<br />

(3-6) .<br />

A introdução dos stents na prática clínica por Parodi<br />

(7) , em 1991, como alternativa para o tratamento dos<br />

362 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ALVES CMR e col.<br />

Estado da arte em<br />

stents de aorta<br />

aneurismas da aorta abdominal,<br />

abriu perspectiva<br />

para o manuseio dos<br />

aneurismas e dissecções<br />

de outras localizações.<br />

Dake e colaboradores (8) ,<br />

em 1994, foram os primeiros<br />

a descrever essa nova<br />

forma de tratamento para<br />

doenças crônicas da aorta<br />

torácica. Desde então<br />

diferentes grupos têm relatado<br />

experiências de sucesso, em diversas doenças<br />

e com diferentes endopróteses, conseguindo redução<br />

das taxas de morbidade e de mortalidade. (9-11)<br />

SELEÇÃO DE PACIENTES<br />

Embora sejam bastante comentadas a dissecção<br />

aórtica tipo B clássica e os aneurismas verdadeiros, é<br />

preciso salientar que o tratamento endovascular é capaz<br />

de abordar qualquer etiologia de doença. Deve-se<br />

lembrar também das variantes da dissecção, o hematoma<br />

intramural e a úlcera penetrante da aorta, pois<br />

ainda são doenças pouco reconhecidas e de prognóstico<br />

comparável ao da dissecção clássica (Fig. 1). Pelo<br />

seu caráter localizado, representam grandes oportunidades<br />

de tratamento endovascular.<br />

A indicação do tratamento endovascular obedece a<br />

critérios clínicos e anatômicos.<br />

Critérios clínicos<br />

São em tudo semelhantes aos já historicamente utilizados<br />

para correção cirúrgica convencional, ou seja:<br />

1. Dissecção aórtica tipo B ou variantes da dissecção<br />

(úlcera penetrante da aorta ou hematoma intramural),<br />

aguda ou crônica, complicada por dor intratável, ruptura/ruptura<br />

iminente ou expansão. Para dissecção aórtica<br />

tipo B aceita-se, ainda, a presença de alto fluxo na<br />

falsa luz ou diâmetro total da aorta maior ou igual a 40<br />

mm como indicadores de mau prognóstico na evolução<br />

em médio prazo e, portanto, sua presença é também<br />

indicativa de tratamento na fase aguda (9) .<br />

2. Aneurismas verdadeiros da aorta descendente torácica<br />

com diâmetro de, pelo menos, 5,5 cm ou complicado<br />

por dor, ruptura ou expansão (com qualquer diâmetro).<br />

3. Ruptura traumática da aorta no segmento compreendido<br />

entre a artéria subclávia esquerda e a emergência<br />

do tronco celíaco.<br />

Como já dito, qualquer outra etiologia de doença<br />

pode ser abordada, incluindo pseudo-aneurismas e doenças<br />

inflamatórias ou infecciosas, porém com menor<br />

grau de evidência prática. O tratamento de pacientes<br />

com síndrome de Marfan é controverso e, em nossa<br />

experiência, não tem apresentado bons resultados,<br />

embora um número mínimo de pacientes tenha sido<br />

tratado por intervenção percutânea.<br />

Critérios anatômicos<br />

Ao analisar os critérios anatômicos de indicação<br />

para cada paciente e já para planejar o procedimento,<br />

devemos observar os seguintes pontos:<br />

– Quais os diâmetros proximal e distal que definirão a<br />

escolha do diâmetro da prótese?<br />

– É possível cobrir toda a extensão da lesão com uma<br />

ou mais próteses?<br />

– Existem, pelo menos, 2 cm de extensão de aorta<br />

normal nos colos proximal e distal para aterrissagem<br />

do stent?<br />

Dissecção da aorta tipo B<br />

A oclusão da fenda intimal principal e de todos os<br />

orifícios de reentrada é o objetivo primário do procedimento.<br />

Para tanto, considera-se que são adequados<br />

A<br />

Figura 1. A – Peça anatômica representativa de hematoma intramural da aorta. B – Aortografia demonstrando<br />

úlcera penetrante da aorta.<br />

B<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 363


ALVES CMR e col.<br />

Estado da arte em<br />

stents de aorta<br />

para o tratamento aqueles<br />

pacientes com orifícios na<br />

porção descendente, a<br />

partir da emergência da<br />

artéria subclávia esquerda<br />

e até a emergência do<br />

tronco celíaco. Em casos<br />

eletivos, considera-se que,<br />

idealmente, o orifício esteja<br />

de 1 cm a 2 cm após a<br />

artéria subclávia esquerda,<br />

permitindo sua oclusão<br />

com a aterrissagem da prótese sobre esta última.<br />

Entretanto, a oclusão intencional da artéria subclávia<br />

esquerda ou aterrissagem sobre a artéria carótida esquerda<br />

(“bare stent” proximal), expandindo a extensão<br />

do colo proximal, tem sido realizada por diversos grupos<br />

com sucesso, com mínimos efeitos sobre a circulação<br />

do membro superior esquerdo e do território vértebro-basilar<br />

esquerdo, ampliando o critério de indicação<br />

e o número de casos tratáveis em situação de urgência<br />

(5, 10-13) . Ainda é possível, para pacientes eletivos,<br />

a preparação cirúrgica do colo proximal, reimplantando-se<br />

a artéria subclávia esquerda ou mesmo a artéria<br />

carótida esquerda no tronco braquiocefálico (10, 14) ; entretanto,<br />

na dissecção aórtica tipo B esse procedimento<br />

tem sido raro. A análise dos diâmetros proximal e,<br />

especialmente, distal fica prejudicada pela freqüente<br />

compressão da luz verdadeira e o diâmetro da prótese<br />

deve ser estimado considerando-se o mais próximo<br />

diâmetro normal ou o esperado para o tamanho do<br />

paciente, evitando-se excessivo “oversizing”, que pode<br />

propiciar complicações tardias como dilatações, pseudo-aneurismas<br />

ou redissecções (15) . Algumas vezes,<br />

pudemos observar pacientes nos quais a extrema compressão<br />

da luz verdadeira, com conseqüências clínicas<br />

como hipertensão de difícil controle ou isquemia<br />

distal, pode ser totalmente aliviada com a colocação<br />

de stents e o posterior remodelamento aórtico.<br />

Aneurismas verdadeiros<br />

Geralmente apresentam diâmetros proximais e distais<br />

maiores, que podem exigir a confecção de próteses<br />

especiais, implicando aumento do diâmetro do dispositivo,<br />

o que pode dificultar sobremaneira o avanço<br />

do mesmo através do sistema ilíaco, que, nesses pacientes,<br />

pode ser bastante doente. Casos com lesão localizada<br />

no terço médio da aorta descendente são especialmente<br />

simples, porém a ocorrência de grandes<br />

aneurismas toracoabdominais deve obrigar o intervencionista<br />

a cuidadosa preparação e a manutenção de<br />

grande número de stents em reserva para tratamento<br />

de segmentos adicionais ou “reforço” de junções. Podem<br />

estar relacionados com a emergência dos vasos<br />

supra-aórticos e procedimentos de “by-pass” para preparação<br />

do colo podem ser exigidos.<br />

Pelo caráter difuso da doença aterosclerótica, o estudo<br />

do sistema ilíaco-femoral durante a preparação<br />

do caso pode ser interessante, evitando surpresas no<br />

momento da intervenção.<br />

Pacientes que não cumprem os critérios anatômicos<br />

têm sido tratados, em caráter excepcional, com sucesso<br />

pela inaceitável mortalidade cirúrgica em pacientes<br />

de alto risco (6) . Todavia, recomenda-se que tais<br />

pacientes sejam manipulados apenas após grande experiência,<br />

uma vez que representam grande desafio<br />

técnico, cursando com menores taxas de sucesso e<br />

maiores complicações.<br />

DESCRIÇÃO DA PRÓTESE<br />

As próteses freqüentemente utilizadas são compostas<br />

de uma estrutura metálica de aço inox ou nitinol em<br />

ziguezague (variação do tipo Z-Gianturco), formando<br />

uma série de gaiolas em seqüência, recoberta com<br />

poliéster ou PTFE de diâmetro e extensão variáveis.<br />

Tal estrutura é comprimida em um cateter de liberação<br />

de politetrafluoretileno, que, ao ser tracionado, permite<br />

a reexpansão da mesma (prótese auto-expansível) até<br />

seu formato original (Fig. 2). A prótese contém um lúmen<br />

central no cateter de liberação, permitindo a passagem<br />

de um fio-guia de até 35 polegadas (sistema<br />

“over-the-wire”). O calibre final do sistema de liberação<br />

varia de 20 a 24 French .<br />

A escolha da prótese é realizada a partir das medidas<br />

obtidas na avaliação das imagens diagnósticas (tomografia,<br />

ressonância nuclear magnética, angiografia<br />

ou ecocardiografia) e de sua confirmação na sala de<br />

hemodinâmica, no dia do procedimento. O diâmetro da<br />

prótese escolhida deve ser de 10% a 20% maior que o<br />

colo de liberação.<br />

O PROCEDIMENTO<br />

O procedimento pode ser realizado no laboratório<br />

de hemodinâmica ou no centro cirúrgico, sempre equipados<br />

com um bom sistema de imagens digitais.<br />

Habitualmente opta-se pela anestesia regional, exceto<br />

quando o procedimento for monitorizado pela ecocardiografia<br />

transesofágica ou quando o paciente se<br />

apresenta clinicamente instável. Nesses casos, optase<br />

pela anestesia geral.<br />

O acesso vascular para introdução da prótese é<br />

obtido por dissecção cirúrgica da artéria femoral e os<br />

acessos vasculares para controle angiográfico são obtidos<br />

por punção (técnica de Seldinger) ou dissecção<br />

com posterior colocação de introdutor para permitir<br />

ampla e segura manipulação de cateteres.<br />

O dispositivo é introduzido sobre um fio-guia extrarígido.<br />

Uma vez posicionado esse dispositivo, o paciente<br />

é submetido a hipotensão (pressão arterial média<br />

364 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ALVES CMR e col.<br />

Estado da arte em<br />

stents de aorta<br />

de 50 mmHg a 60 mmHg)<br />

induzida por nitroprussiato<br />

de sódio momentos antes<br />

de sua liberação.<br />

PERÍODO INTRA-<br />

HOSPITALAR –<br />

COMPLICAÇÕES<br />

Figura 2. Stent graft da Braile Biomédica.<br />

Trabalhando com uma<br />

população portadora de<br />

co-morbidades graves e idade avançada, o procedimento<br />

percutâneo apresenta complicações pertinentes a<br />

qualquer intervenção intravascular por cateter e complicações<br />

específicas, sendo estas últimas menos freqüentes.<br />

Dentre os grupos trabalhando com populações cuja<br />

etiologia da lesão incluía aneurismas verdadeiros e dissecções,<br />

a taxa de sucesso situa-se entre 80% e 90%<br />

e a de mortalidade, entre 9% e 10%, a qual geralmente<br />

é relacionada a complicações irreversíveis do aneurisma<br />

mais do que a ruptura ou a conseqüência direta do<br />

procedimento. Na série de Nienaber, envolvendo apenas<br />

pacientes com dissecção de aorta, a mortalidade<br />

intra-hospitalar foi igual a zero.<br />

A intensa manipulação de fios e cateteres de alto<br />

perfil na região da crossa da aorta faz supor incidência<br />

de acidentes vasculares cerebrais maior que a observada<br />

em outros cateterismos terapêuticos, que foram<br />

descritos em 7% dos pacientes da série da Universidade<br />

de Stanford. Esse mesmo alto perfil da prótese é<br />

responsável pela alta incidência de complicações vasculares<br />

(8%). A paraplegia é uma complicação possível,<br />

sua incidência situa-se ao redor de 6%, sendo, no<br />

entanto, inferior às taxas observadas com o tratamento<br />

cirúrgico clássico.<br />

A síndrome pós-implante, caracterizada por febre e<br />

leucocitose de causa indeterminada (sem infecção),<br />

com elevação dos marcadores séricos de resposta inflamatória,<br />

é observada em cerca de 15% dos pacientes<br />

e é facilmente controlada com antiinflamatórios nãohormonais.<br />

AVALIAÇÃO INTRA-HOSPITALAR E SEGUIMENTO<br />

AMBULATORIAL<br />

A aortografia realizada no laboratório de hemodinâmica,<br />

no momento do procedimento, é insuficiente<br />

para definição do resultado adequado. A tomografia<br />

computadorizada helicoidal é o exame de eleição e é,<br />

geralmente, realizada ainda no período intra-hospitalar<br />

ou nos primeiros dias subseqüentes (casos não complicados).<br />

O objetivo é a confirmação de completa exclusão<br />

da lesão (aneurisma ou falsa luz) do fluxo, constatada<br />

pela trombose local. Em casos de dissecção extensa,<br />

com orifício intimal abdominal, a presença de<br />

trombose da falsa luz torácica é adequada, mantendose<br />

a vigilância com exames de imagem, para detecção<br />

de aumento do diâmetro total torácico ou abdominal.<br />

Mínimos vazamentos do tipo I (colos de aterrissagem)<br />

detectados na tomografia inicial podem ser observados,<br />

pois com freqüência evoluem para trombose (16) ,<br />

porém qualquer vazamento de maior expressão deve<br />

sofrer intervenção complementar.<br />

O intervalo de realização dos demais exames é variável<br />

nos diferentes grupos, porém a maior vigilância<br />

no primeiro ano é constante. Intervalos de 3, 6 e 12<br />

meses e, a seguir, a cada ano são considerados adequados.<br />

Por motivos econômicos, podem ser intercalados<br />

com ecocardiografia transesofágica ou ressonância<br />

nuclear magnética em caso de disfunção renal.<br />

Além da observação dos bordos do stent, detectando<br />

vazamentos nos colos, a presença de contraste no<br />

segmento médio deve levantar a suspeita de disjunção<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 365


ALVES CMR e col.<br />

Estado da arte em<br />

stents de aorta<br />

sistêmica. Não se deve esquecer a possibilidade<br />

de novas lesões aórticas, distantes<br />

da lesão primária que recebeu o<br />

stent, devendo a vigilância estender-se a<br />

todos os segmentos aórticos.<br />

É também importante salientar que,<br />

pela complexidade do procedimento, a<br />

complementação de tratamento com intervenções<br />

percutâneas adicionais é natural,<br />

variando de 5% (17) a 23% (15) , sendo<br />

interessante a utilização, no “follow-up”,<br />

do conceito de sucesso secundário do<br />

procedimento, ou seja, considerando o<br />

número de pacientes vivos, sem vazamento<br />

e sem complicação aórtica, após<br />

intervenção primária ou secundária (15) .<br />

A redução de diâmetro total aórtico<br />

após intervenção é um fenômeno observado<br />

em diversas séries (18, 19) , facilmente<br />

constatada na tomografia (Fig. 3). A velocidade<br />

e a intensidade da regressão do<br />

hematoma são variáveis e os dados publicados<br />

não permitem conclusão adequada<br />

sobre o padrão de comportamento;<br />

porém, a redução tem sido, em nossa<br />

experiência, marcantemente mais notada<br />

nos casos tratados na fase aguda da<br />

dissecção aórtica tipo B, concomitantemente,<br />

observando-se contínua expansão<br />

do diâmetro da luz verdadeira.<br />

O paciente portador de doença da<br />

aorta é, via de regra, um doente de alta<br />

complexidade, no qual se somam hipertensão<br />

arterial, tabagismo, dislipidemia,<br />

etc. Seu acompanhamento, portanto,<br />

deve, ainda, cuidar de prevenir novas lesões,<br />

aórticas ou ateroscleróticas, usando<br />

os mais modernos recursos farmacológicos<br />

disponíveis de forma liberal, vigiando<br />

o desenvolvimento de complicações<br />

ou novas doenças com múltiplos testes,<br />

em um “follow-up” que, inevitavelmente,<br />

é bastante caro. De outra forma, a longo<br />

de unidades ou de falência<br />

estrutural, devendo ser<br />

prontamente tratada, uma<br />

vez que, em nossa experiência,<br />

vazamentos tardios<br />

são preditivos de ruptura,<br />

provavelmente em decorrência<br />

do enfraquecimento<br />

da parede que havia<br />

sido excluída da circulação,<br />

subitamente reexposta<br />

à pressão<br />

prazo, o bom resultado desse procedimento tão complexo<br />

pode ser de difícil comprovação por falta de rigor<br />

no tratamento clínico.<br />

CONCLUSÃO<br />

O sucesso inicial do tratamento com endopróteses<br />

de casos graves de doença da aorta torácica descendente<br />

antecipa um futuro promissor desse método mais<br />

simples, menos invasivo e de menor risco, podendo<br />

substituir a operação convencional, em casos selecio-<br />

Figura 3. Tomografia computadorizada de tórax imediatamente e<br />

seis meses após tratamento endovascular de dissecção aórtica tipo<br />

B mostrando regressão da falsa luz.<br />

366 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ALVES CMR e col.<br />

Estado da arte em<br />

stents de aorta<br />

nados, com redução significativa<br />

da morbidade e da<br />

mortalidade. O seguimento<br />

desses pacientes indicou<br />

que é possível a inserção<br />

de endopróteses no<br />

laboratório de hemodinâmica<br />

com baixas taxas de<br />

complicações imediatas. Entretanto, série maior de<br />

pacientes, com períodos maiores de seguimento, será<br />

necessária para a correta avaliação dessa modalidade<br />

terapêutica. Ao mesmo tempo o aperfeiçoamento<br />

desses dispositivos possibilitará a esse procedimento<br />

ser utilizado mais extensivamente e com maior<br />

segurança no tratamento dos pacientes com doenças<br />

da aorta.<br />

ENDOVASCULAR TREATMENT OF AORTIC DISEASE:<br />

STATE-OF-THE-ART<br />

CLAUDIA MARIA RODRIGUES ALVES, JOSÉ AUGUSTO MARCONDES DE SOUZA<br />

The surgical treatment of aortic diseases is still challenging. Endovascular approach<br />

is being considered as a potential alternative to the high mortality and morbidity<br />

associated to these diseases. Patients with clinical indication as aneurisms, signs<br />

of rupture or end-organ ischemia should be considered to an interventional approach<br />

and the decision to choose endovascular treatment depends on a suitable anatomical<br />

feature as: disease confined to thoracic descending aorta, good proximal and<br />

distal necks e an adequate vascular access for device progression.<br />

The success rates for this procedure ranges from 80% to 90% with an acceptable<br />

rate of complications. Close surveillance of these patients is mandatory as there is<br />

no long-term data and due to the progressive nature of the aortic pathologies.<br />

Key words: aneurisms, aortic diseases, aortic dissection, stents.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:362-8)<br />

RSCESP (72594)-1555<br />

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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 367


ALVES CMR e col.<br />

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368 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

TERAPIA ADJUNTA FARMACOLÓGICA<br />

PRÉ-INTERVENÇÃO: QUANDO, QUAL E<br />

POR QUE INDICAR?<br />

PAULO ROGÉRIO SOARES<br />

Serviço de Hemodinâmica – Instituto do Coração (InCor) – HC-FMUSP<br />

Endereço para correspondência: Av. Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 44 –<br />

3º andar – CEP 05403-900 – São Paulo – SP<br />

A intervenção coronariana percutânea melhorou nas últimas duas décadas e<br />

tornou-se importante alternativa para o tratamento da doença aterosclerótica coronariana.<br />

Esse procedimento gera ruptura da placa aterosclerótica, o que promove<br />

adesão, ativação e agregação plaquetária, com formação de trombos que podem<br />

levar ao infarto do miocárdio e à morte. A melhora dos resultados foi conseguida em<br />

parte pelo uso de novas drogas antiplaquetárias e antitrombóticas. Neste artigo vamos<br />

discutir essas drogas, a população-alvo e o momento mais propício para utilizálas,<br />

com o intuito de melhorar os resultados da intervenção coronariana percutânea.<br />

A maioria das informações analisadas aqui é baseada nos resultados de estudos<br />

específicos e randomizados.<br />

Palavras-chave: intervenção coronariana percutânea, drogas antiplaquetárias, drogas<br />

antitrombóticas.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:369-82)<br />

RSCESP (72594)-1556<br />

ASPIRINA<br />

A aspirina inibe, de forma irreversível, a enzima cicloxigenase-1<br />

das plaquetas, levando à diminuição da<br />

produção do tromboxano A2, substância que promove<br />

a agregação plaquetária bem como a vasoconstrição.<br />

Como a aspirina bloqueia apenas a produção de tromboxano<br />

A2, mantendo ainda outros agonistas ativos<br />

para promover a agregação plaquetária, é considerada<br />

uma droga antiplaquetária pouco potente. Como as<br />

plaquetas são estruturas anucleadas, não possuem a<br />

capacidade de sintetizar novamente essa enzima, portanto<br />

para recuperação de sua função é preciso que o<br />

“pool” de plaquetas seja renovado, e isso leva cerca de<br />

10 dias. No entanto, a cada dia cerca de 10% da atividade<br />

da cicloxigenase 1 é recuperada, e 20% dessa<br />

atividade já garante homeostase normal. (1) A aspirina<br />

é rapidamente absorvida no estômago e nas porções<br />

superiores do intestino; dessa forma, o pico do nível<br />

plasmático é obtido 30 minutos após a ingestão. A absorção<br />

e o início da atividade são acelerados se a droga<br />

for mastigada. Os estudos evidenciaram que mastigar<br />

e engolir 162 mg de aspirina garantem efeito antiplaquetário<br />

rápido, em aproximadamente 15 minutos. (2-4)<br />

O ideal é que o paciente esteja sob ação da aspirina<br />

antes de toda intervenção coronariana percutânea. A<br />

aspirina, portanto, deve ser iniciada pelo menos 30<br />

minutos antes do procedimento, na dose de 162 mg a<br />

325 mg, nos que não estavam em uso prévio da medicação,<br />

pois há redução de complicações isquêmicas,<br />

como trombose coronariana e infarto do miocárdio no<br />

período pós-procedimento. (5) A dose mínima para manutenção<br />

da aspirina pode ser de 30 mg por dia (1) , mas<br />

habitualmente mantemos a dose entre 75 mg e 162<br />

mg por dia indefinidamente.<br />

Sangramento ativo e alergia são condições clínicas<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 369


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

em que se contra-indica o<br />

uso da aspirina. A cicloxigenase<br />

1 inibe a produção<br />

de prostaciclinas pelas células<br />

gástricas, substância<br />

que mantém a integridade<br />

da mucosa e protege contra<br />

o sangramento. Assim,<br />

o uso da aspirina diminui<br />

a produção de prostaciclinas<br />

e aumenta o risco de<br />

sangramento no trato digestivo,<br />

que é maior com doses progressivamente<br />

maiores de aspirina. Pacientes que já apresentaram<br />

sangramento em trato gastrointestinal pelo uso de aspirina<br />

ou outro antiinflamatório não-hormonal têm risco<br />

aumentado de novo evento hemorrágico. O que se<br />

preconiza nessa situação (bem como no caso de alergia<br />

à aspirina) é a substituição da aspirina por um tienopiridínico,<br />

clopidogrel ou ticlopidina. (6) Recentemente,<br />

um estudo demonstrou que pacientes com antecedentes<br />

de úlcera sangrante decorrente do uso de aspirina<br />

ou antiinflamatório não-hormonal, com lesões cicatrizadas<br />

e na ausência de Helicobacter pylori, foram<br />

randomizados para receber clopidogrel ou a associação<br />

de aspirina com inibidor da bomba de próton e foram<br />

acompanhados por 12 meses. Os resultados demonstraram<br />

redução significativa do risco de recorrência<br />

de sangramento digestivo para aqueles que receberam<br />

a associação de aspirina com inibidores da bomba<br />

de próton, comparativamente ao clopidogrel. (7) Esses<br />

dados, mesmo sendo de um único estudo, nos levam<br />

a questionar sobre a segurança de se substituir a<br />

aspirina por um tienopiridínico nos pacientes com antecedentes<br />

de sangramento em tubo digestivo. Demonstram<br />

também a possibilidade de se manter a aspirina<br />

nesse grupo, desde que associada a um inibidor da<br />

bomba de próton, tratamento esse com custos reduzidos<br />

em relação ao uso dos tienopiridínicos.<br />

Recomendações<br />

– Dose de ataque: 162 mg a 325 mg, pelo menos 30<br />

minutos antes da intervenção percutânea coronariana.<br />

– Dose de manutenção: 75 mg a 162 mg por dia, indefinidamente.<br />

Para pacientes em uso de outra droga<br />

antiplaquetária ou ainda anticoagulante oral, devem<br />

ser mantidas doses mais baixas de aspirina, entre<br />

75 mg e 100 mg por dia.<br />

TIENOPIRIDÍNICOS<br />

As duas drogas disponíveis da classe dos tienopiridínicos<br />

são o clopidogrel e a ticlopidina, que agem por<br />

meio da interação irreversível com receptores de adenosina<br />

na superfície das plaquetas, promovendo a inibição<br />

da agregação plaquetária (8) . Vários estudos demonstraram<br />

que a associação de tienopiridínicos e<br />

aspirina reduz de forma significativa o risco de trombose<br />

aguda e subaguda após implante de stents coronarianos<br />

em comparação com a associação de anticoagulantes<br />

orais e aspirina ou ainda com aspirina isolada.<br />

(9-11) Esses estudos foram realizados utilizando-se a<br />

ticlopidina. A equivalência da ticlopidina e do clopidogrel<br />

foi avaliada nos estudos CLASSICS e TOPPS, demonstrando<br />

que a eficácia do clopidogrel é semelhante<br />

à da ticlopidina na redução da trombose tanto aguda<br />

como subaguda após o implante de stent coronariano,<br />

com a vantagem de causar menos efeitos colaterais.<br />

(12, 13)<br />

A ticlopidina, em sua forma original, não é ativa, mas<br />

no fígado é metabolizada em elementos ativos, cujos<br />

níveis de pico são atingidos em 2 horas, porém leva<br />

cerca de 5 a 7 dias para que se obtenha o efeito antiplaquetário<br />

máximo. (14) Os efeitos colaterais dessa droga,<br />

como distúrbios gastrointestinais (náuseas e diarréia)<br />

e “rash” cutâneo, podem ocorrer em até 20% dos<br />

pacientes, em geral levando à descontinuidade da droga.<br />

Os mais temidos, porém raros, são neutropenia<br />

severa em 1,0% a 3,0% e púrpura trombocitopênica<br />

trombótica em 0,03%. (15) Essas alterações hematológicas<br />

em geral acontecem nos primeiros meses do uso<br />

dessa droga. Deve-se, portanto, realizar hemograma<br />

antes de dar início ao tratamento; se a droga for mantida<br />

por mais de 2 semanas, repetir a avaliação a cada 2<br />

semanas nos primeiros 3 meses.<br />

O clopidogrel também não é ativo, e seus metabólitos<br />

hepáticos são os responsáveis pela atividade da<br />

droga. Os níveis de pico são atingidos em 1 hora e leva<br />

cerca de 5 dias para se obter o efeito antiplaquetário<br />

máximo. Pode-se conseguir efeito antiplaquetário mais<br />

rápido quando se usa uma dose inicial maior (dose de<br />

ataque). Existem controvérsias na literatura médica com<br />

relação à dose e ao momento ideal para o início do<br />

clopidogrel. O estudo CREDO demonstrou que o ataque<br />

com 300 mg de clopidogrel com mais de 6 horas<br />

antes do procedimento diminuiu o risco da associação<br />

de morte, infarto e revascularização do vaso-alvo em<br />

28 dias. Quando o ataque foi realizado com menos de<br />

6 horas, não se observou diferença no risco de eventos<br />

adversos. (16) Alguns grupos observaram que com<br />

doses iniciais de 600 mg de clopidogrel pode-se obter<br />

efeito antiplaquetário máximo em 2 horas. (17) Apesar<br />

de esse dado não ser de consenso na literatura médica,<br />

sugere-se que seja realizado ataque com 600 mg<br />

para pacientes que serão submetidos a intervenção<br />

coronariana percutânea em menos de 6 horas e que<br />

não estavam em uso prévio de clopidogrel. Para aqueles<br />

que farão a intervenção após 6 horas da ingestão<br />

da droga, recomenda-se o ataque com 300 mg.<br />

370 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

O clopidogrel, portanto,<br />

deve ser utilizado antes de<br />

toda intervenção coronariana<br />

percutânea, mesmo<br />

quando não há intenção<br />

inicial de se implantar stent<br />

coronariano. Pode ser suspenso<br />

caso não se utilize<br />

stent, naqueles com insuficiência<br />

coronariana estável.<br />

Para os com síndrome<br />

coronariana aguda, mesmo<br />

não submetidos a implante de stent, deve-se manter<br />

a associação, pois o estudo CURE demonstrou benefício<br />

do uso de aspirina e clopidogrel para pacientes<br />

com síndrome coronariana instável, mesmo quando não<br />

submetidos a intervenção coronariana percutânea, para<br />

o tratamento clínico (18) . Essa associação não é recomendada<br />

para pacientes que poderão necessitar de<br />

cirurgia de revascularização do miocárdio, pois aumenta<br />

o risco de sangramento. Caso o paciente esteja recebendo<br />

clopidogrel e necessite ser submetido a procedimento<br />

cirúrgico, cardíaco ou não, recomenda-se suspender,<br />

se possível, pelo menos 5 dias antes do procedimento.<br />

Existem também controvérsias com relação ao tempo<br />

de manutenção da droga após a intervenção coronariana<br />

percutânea. Para pacientes submetidos a implante<br />

de stents não-farmacológicos, o uso da associação<br />

de aspirina e tienopiridínico no primeiro mês é<br />

um consenso e garante a redução significativa do risco<br />

de trombose tanto aguda como subaguda do stent.<br />

Quando são utilizados stents farmacológicos, pelo risco<br />

de trombose tardia, em função do atraso na endotelização<br />

do vaso, preconiza-se a dupla antiagregação<br />

plaquetária, aspirina e preferencialmente clopidogrel,<br />

por tempo prolongado, 3 meses para stents com sirolimus<br />

e 6 meses para stents com paclitaxel. Nos casos<br />

de lesões longas, uso de múltiplos stents, superposições<br />

de stents, lesões em bifurcações e diabéticos,<br />

pode-se manter o clopidogrel empiricamente por tempo<br />

mais prolongado (12 meses) e, em casos específicos,<br />

até indefinidamente. Caso o paciente tenha sido<br />

submetido a braquiterapia, recomenda-se essa associação<br />

por 12 meses.<br />

O uso prolongado da associação de clopidogrel com<br />

aspirina, após o primeiro mês, está relacionado à redução<br />

de eventos adversos como morte, infarto e acidente<br />

vascular cerebral. O estudo CURE demonstrou<br />

que pacientes submetidos a angioplastia com síndromes<br />

coronarianas sem supradesnivelamento do segmento<br />

ST têm benefício do uso de clopidogrel por 9 a<br />

12 meses por reduzir a taxa de eventos isquêmicos,<br />

porém com risco aumentado de sangramento menor. (18, 19) O<br />

estudo CREDO também demonstrou que a associação<br />

de clopidogrel e aspirina por 12 meses reduziu o<br />

risco da combinação de morte, infarto e acidente vascular<br />

cerebral para pacientes submetidos a intervenção<br />

coronariana percutânea eletiva. (16) Recomenda-se,<br />

portanto, o uso prolongado (9 a 12 meses) da associação<br />

de clopidogrel e aspirina para pacientes submetidos<br />

a intervenção coronariana percutânea. Deve-se<br />

levar em consideração que essa associação aumenta<br />

o risco de sangramento menor, e também os custos.<br />

Para pacientes uniarteriais com síndrome coronariana<br />

estável, submetidos a implante de stents não-farmacológicos,<br />

que têm baixo risco de complicações isquêmicas,<br />

o tempo de manutenção do clopidogrel pode ser<br />

reduzido para o primeiro mês.<br />

Para pacientes submetidos a angioplastia primária<br />

no infarto com supradesnivelamento do segmento ST,<br />

não temos informações de estudos randomizados, mas<br />

como os stents são utilizados na maioria dos pacientes,<br />

recomenda-se o ataque de clopidogrel com 600<br />

mg antes da intervenção. Com relação ao tempo de<br />

manutenção da associação clopidogrel e aspirina nessa<br />

situação, pela falta de dados provenientes de estudos<br />

específicos pode-se manter a associação de aspirina<br />

e clopidogrel por até 9 a 12 meses, como se faz<br />

nas síndromes coronarianas sem supradesnivelamento<br />

de ST.<br />

Resistência ao clopidogrel<br />

A resistência ao clopidogrel tem sido observada em<br />

4% a 30% dos pacientes. (20, 21) Esse fenômeno ainda<br />

não é bem conhecido e pode ser definido como uma<br />

falha do clopidogrel em atingir efeito antiplaquetário.<br />

Foi observada, em pacientes não-responsivos ao clopidogrel<br />

e submetidos a angioplastia primária, maior<br />

incidência de trombose subaguda do stent e recorrência<br />

de eventos isquêmicos. (22) Múltiplos mecanismos<br />

parecem estar relacionados, e entre eles podemos citar<br />

dose inadequada, dificuldade da absorção gástrica,<br />

polimorfismo do receptor de ADP, e, talvez o mais<br />

importante, falha na metabolização, pelo sistema do<br />

citocromo P450 hepático, da pró-droga em sua forma<br />

ativa. (23) A atorvastatina e o clopidogrel são metabolizados<br />

pelo mesmo sistema, o CYP3A4. Como o clopidogrel<br />

tem menor afinidade com o sítio de ligação e<br />

pelo fato de a atorvastatina ter meia-vida mais longa,<br />

acaba por inibir competitivamente a metabolização do<br />

clopidogrel. (24) Os estudos que avaliaram a interação<br />

das estatinas com clopidogrel têm resultados conflitantes;<br />

assim, por hora, essa associação pode ser realizada,<br />

mas devem ser utilizadas, preferencialmente,<br />

estatinas de metabolização não-hepática. (25, 26) São<br />

necessárias mais informações para melhor entendimento<br />

do fenômeno de resistência ao clopidogrel; por enquanto,<br />

é impossível pré-identificar os pacientes resistentes<br />

e não há terapia disponível para essa situação.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 371


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

O que pode ser feito para<br />

tentar evitar a resistência<br />

é utilizar doses de ataque<br />

de clopidogrel mais elevadas,<br />

favorecendo essa<br />

droga no caso de competição<br />

metabólica.<br />

Recomendações (27)<br />

1. Na intervenção coronariana<br />

percutânea deve-se<br />

associar à aspirina um tienopiridínico,<br />

preferencialmente o clopidogrel.<br />

2. O clopidogrel deve ser iniciado antes do procedimento<br />

com dose de ataque de 300 mg, se for programada<br />

para mais de 6 horas; caso seja realizada em menos<br />

de 6 horas, recomenda-se dar 600 mg. Se não for possível<br />

iniciar antes, dar a dose de ataque imediatamente<br />

após a intervenção.<br />

3. Manter o clopidogrel associado à aspirina nos pacientes<br />

submetidos a implante de stent coronariano por<br />

9 a 12 meses, principalmente nos pacientes com síndrome<br />

coronariana instável sem supradesnivelamento<br />

do segmento ST.<br />

4. Para os pacientes coronarianos de baixo risco (ver<br />

texto), pode-se manter a dupla antiagregação plaquetária<br />

por 30 dias. Naqueles em que se usar stent farmacológico,<br />

deixar a associação por 3 meses para sirolimus<br />

e 6 meses para paclitaxel.<br />

5. Caso se opte pelo uso de ticlopidina, manter essa<br />

droga por 2 semanas se foi utilizado stent convencional.<br />

Se houver indicação de manter por tempo prolongado,<br />

são necessárias avaliações hematológicas periódicas<br />

nos primeiros 3 meses (ver texto).<br />

INIBIDORES DA GLICOPROTEÍNA IIb/IIIa<br />

A exposição de tecido subendotelial durante a ruptura<br />

de uma placa, quer seja espontaneamente, como<br />

nas síndromes coronárias agudas, quer durante intervenção<br />

coronariana por meio de cateter, leva à adesão<br />

seguida pela ativação das plaquetas, que liberam substâncias<br />

que promovem a agregação plaquetária. Os<br />

receptores da glicoproteína IIb/IIIa tornam-se ativos, o<br />

que possibilita a formação de pontes entre as plaquetas<br />

por meio da ligação das moléculas de fibrinogênio.<br />

Os inibidores da glicoproteína IIb/IIIa, por agirem na<br />

via final comum, são considerados os mais potentes<br />

inibidores da agregação plaquetária.<br />

Existem três agentes disponíveis para uso parenteral (28) :<br />

1. Abciximab: Esse agente é um anticorpo monoclonal<br />

contra o receptor da glicoproteína IIb/IIIa, e, portanto,<br />

possui alta afinidade. A inibição completa da agregação<br />

plaquetária é obtida quando há ocupação de mais<br />

de 80% dos receptores. A ligação é reversível, mas a<br />

dissociação do anticorpo é lenta, fazendo com que a<br />

normalização da agregação plaquetária aconteça 24 a<br />

36 horas após o término da infusão do abciximab. O<br />

risco de sangramento é reduzido, ajustando-se a dose<br />

de heparina ao peso do paciente e retirando-se precocemente<br />

o introdutor. Se houver sangramento refratário<br />

na vigência de abciximab, suspender a droga e após<br />

30 minutos transfundir plaquetas. Não há contra-indicação<br />

absoluta para revascularização do miocárdio de<br />

urgência, mas em geral há maior necessidade de transfusão<br />

de plaquetas e de hemácias.<br />

Dose: Bolo de 0,25 mg/kg. Infusão: 0,125 mg/min/h, no<br />

máximo 10 mg/min por 12 horas. Diluir 4,5 ml de abciximab<br />

em 250 ml de solução fisiológica a 0,9% ou glicosada<br />

a 5%. Dose de heparina: O abciximab deve ser<br />

iniciado após infusão de heparina não-fracionada, estando<br />

o tempo de coagulação ativada entre 200 e 300<br />

segundos. Se o paciente não estava recebendo heparina,<br />

deve-se administrar 70 UI/kg, no máximo 7.000<br />

UI. Se o paciente já estava usando heparina, deve-se<br />

checar o tempo de coagulação ativada: se for menor<br />

que 150 segundos, dar 70 UI/kg de heparina; se estiver<br />

entre 150 e 199 segundos, dar 50 UI/kg de heparina;<br />

e se for maior que 200 segundos, não administrar<br />

heparina. Após a dose inicial de heparina, deve-se checar<br />

novamente o tempo de coagulação ativada e dar<br />

pequenos bolos de 20 UI/kg até obter tempo de coagulação<br />

ativada entre 200 e 300 segundos. Caso o procedimento<br />

se prolongue, deve-se reavaliar o tempo de<br />

coagulação ativada a cada 30 minutos e administrar<br />

pequenos bolos de 20 UI/kg de heparina, sempre com<br />

tempo de coagulação ativada-alvo entre 200 e 300 segundos.<br />

Não manter heparina após o procedimento e<br />

retirar o introdutor precocemente.<br />

2. Eptifibatide: Heptapeptídeo que contém a seqüência<br />

RGD, é isolado do veneno da cobra Sistrurus m. barbouri<br />

e é sintetizado por meio de engenharia genética.<br />

Apresenta alta especificidade para glicoproteína IIb/IIIa<br />

e é excretado pela urina; portanto, deve ser corrigida<br />

nos casos de insuficiência renal, principalmente nas<br />

terminais. Após 4 horas do término da infusão, cerca<br />

de 50% da capacidade de agregação plaquetária retorna<br />

ao valor pré-tratamento.<br />

Dose: Bolo de 180 mg/kg, duplo bolo separado por 10<br />

minutos. Infusão: 2,0 mg/kg/min por 18 horas.<br />

3. Tirofiban: É uma droga não-peptídea derivada da tirosina,<br />

que se liga na seqüência RGD e é altamente<br />

específico para os receptores da glicoproteína IIb/IIIa.<br />

Tem meia-vida plasmática de 2 horas com 65% da<br />

excreção por via renal e 25% pela bile. Cerca de 4 horas<br />

após o término da infusão da droga o tempo de<br />

sangramento se normaliza e a agregação plaquetária<br />

retorna em aproximadamente 80% de sua atividade.<br />

Pacientes com “clearance” de creatinina menor que 30<br />

ml/min têm 50% de diminuição do “clearance” plasmá-<br />

372 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

tico da droga, devendo,<br />

portanto, ter a dose corrigida.<br />

Dose: Bolo de 10 mg/kg.<br />

Infusão: 0,15 mg/kg/min<br />

por 24 a 36 horas. Devese<br />

administrar heparina<br />

corrigida pelo peso antes<br />

de iniciar o bolo do tirofiban<br />

(60 U/kg a 70 U/Kg,<br />

máximo de 6.000 UI a<br />

7.000 UI, tempo de coagulação<br />

ativada-alvo maior que 200 segundos). Deve-se<br />

também retirar o introdutor precocemente.<br />

Inibidores da glicoproteína IIb/IIIa nos pacientes<br />

com síndrome coronariana instável sem<br />

supradesnivelamento do segmento ST<br />

Nos pacientes com síndrome coronariana instável<br />

sem supradesnivelamento do segmento ST (angina instável<br />

ou infarto sem supradesnivelamento do segmento<br />

ST), o uso dos inibidores dos receptores da glicoproteína<br />

IIb/IIIa, eptifibatide ou tirofiban, no tratamento<br />

clínico reduz a incidência de infarto do miocárdio e a<br />

necessidade de revascularização. (29-31) Devem ser utilizados<br />

em pacientes de alto risco, como naqueles com<br />

elevação de troponina sérica e naqueles com alterações<br />

dinâmicas de segmento ST ou isquemia refratária<br />

para o tratamento clínico. No entanto, o maior benefício<br />

é observado em pacientes que recebem essas<br />

drogas e são submetidos a intervenção coronariana<br />

percutânea entre 1 e 2 dias da hospitalização. As drogas<br />

devem ser mantidas por um período de 48 a 72 horas<br />

ou 12 a 24 horas após a intervenção coronariana.<br />

O estudo GUSTO-IV comparou três grupos (um<br />

deles recebeu abciximab por 24 horas, o segundo recebeu<br />

essa droga por 48 horas, e o terceiro recebeu<br />

placebo) formados por pacientes com síndrome coronariana<br />

instável não submetidos a intervenção coronariana<br />

percutânea. Não se observou redução da taxa<br />

de eventos isquêmicos no grupo que recebeu o abciximab<br />

comparado com o placebo, em 7 dias e 30 dias, e<br />

ainda houve tendência a pior evolução naqueles que<br />

receberam abciximab por 48 horas, na análise de 30<br />

dias. (32) Assim, o abciximab não deve ser utilizado no<br />

tratamento clínico de pacientes com síndrome coronariana<br />

sem supradesnivelamento do segmento ST, quando<br />

não há intenção de submetê-los a intervenção coronariana<br />

percutânea. Pode ser utilizado na síndrome<br />

coronariana instável quando a anatomia é conhecida e<br />

se planeja fazer a angioplastia precocemente.<br />

Inibidores da glicoproteína IIb/IIIa como<br />

coadjuvante à intervenção coronariana percutânea<br />

Inicialmente faremos uma análise dos resultados dos<br />

principais estudos sobre o papel dos inibidores dos<br />

receptores da glicoproteína IIb/IIIa na intervenção coronariana<br />

percutânea para que possamos compreender<br />

as recomendações atuais do uso dessas drogas.<br />

O estudo EPIC foi o primeiro estudo a avaliar o papel<br />

da droga abciximab (em bolo e em infusão contínua)<br />

em pacientes de alto risco (infarto agudo ou recente,<br />

angina instável, lesões complexas) submetidos<br />

a angioplastia coronariana com dose de heparina habitual<br />

sem ajustar para o peso corpóreo. Os resultados<br />

demonstraram redução de 35% do risco combinado de<br />

morte, infarto não-fatal, necessidade de nova revascularização<br />

e falha no procedimento em 30 dias, porém<br />

com risco aumentado em duas vezes de sangramento<br />

maior, causado pela alta dose de heparina utilizada. (33)<br />

O benefício inicial foi observado na análise de 6 meses,<br />

com redução significativa da composição de eventos<br />

(morte, infarto e necessidade de qualquer revascularização)<br />

e também da necessidade de revascularização<br />

do vaso-alvo, e na análise de 3 anos, demonstrando<br />

redução significativa da composição de eventos. (34, 35) Pelo<br />

fato de o EPIC ter estudado pacientes de alto risco, o<br />

estudo EPILOG foi desenhado para explorar o potencial<br />

do abciximab numa população de mais baixo risco e<br />

também avaliar o papel da redução da dose de heparina<br />

na diminuição do risco de sangramento. Foram estudados<br />

três grupos, todos submetidos a intervenção<br />

coronariana percutânea: o primeiro recebeu placebo<br />

com dose de heparina habitual ajustada para o peso<br />

(100 UI/kg); o segundo, abciximab, em bolo e infusão<br />

por 12 horas com dose habitual de heparina ajustada<br />

para o peso (100 UI/kg); e o terceiro recebeu abciximab,<br />

em bolo e infusão por 12 horas com dose de heparina<br />

reduzida e ajustada para o peso (70 UI/kg) com<br />

tempo de coagulação ativada-alvo de 200 segundos.<br />

Comparada com placebo, a ocorrência da combinação<br />

de morte, infarto não-fatal e necessidade de revascularização<br />

de urgência em 30 dias foi significativamente<br />

menor naqueles que receberam abciximab, com dose<br />

de heparina habitual ou baixa, ajustada para o peso<br />

com relação ao grupo placebo. Aqueles que receberam<br />

menor dose de heparina tiveram menor necessidade<br />

de transfusão de hemoderivados. Com esses resultados,<br />

a dose baixa de heparina ajustada para o peso<br />

do paciente tornou-se a preconizada para o uso com o<br />

abciximab. A redução da taxa de eventos isquêmicos<br />

manteve-se nas análises de 6 meses e 12 meses. (36)<br />

Nesses dois estudos iniciais praticamente não foram<br />

utilizados stents e para avaliar o papel do abciximab<br />

em paciente que receberam stent foi realizado o estudo<br />

EPISTENT, que comparou três estratégias: stent com<br />

placebo, stent com abciximab e angioplastia com balão<br />

com abciximab. O risco combinado em 30 dias de<br />

morte, infarto e necessidade de nova revascularização<br />

foi menor no grupo que recebeu stent com abciximab,<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 373


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

sem diferenças em complicações<br />

hemorrágicas. (37) A<br />

eficácia tardia foi observada<br />

na análise de 6 meses<br />

com redução da taxa de<br />

combinação de morte e<br />

infarto do miocárdio no<br />

grupo que recebeu stent<br />

com abciximab. Na análise<br />

de 12 meses observouse<br />

redução significativa de<br />

mortalidade nos que foram<br />

randomizados para receber stent e abciximab, comparado<br />

com os outros grupos (stent + placebo = 2,4%;<br />

angioplastia com balão + abciximab = 2,1%; stent +<br />

abciximab = 1,0%; p = 0,037). (38)<br />

O estudo IMPACT-II realizado em pacientes submetidos<br />

a intervenção coronariana percutânea comparou<br />

três tratamentos: placebo, eptifibatide em doses de 135<br />

µg/kg em bolo e infusão por 20 a 24 horas de 0,5 µg/<br />

kg/min e eptifibatide em doses de 135 µg/kg em bolo e<br />

infusão por 20 a 24 horas de 0,75 µg/kg/min de eptifibatide.<br />

Não se observou redução do risco da combinação<br />

de eventos morte, infarto, cirurgia de revascularização<br />

do miocárdio não planejada, repetição de angioplastia<br />

e colocação de stent para oclusão abrupta para<br />

os grupos que receberam a droga com relação ao placebo.<br />

(39) No entanto, as doses de eptifibatide utilizadas<br />

nesse estudo foram insuficientes para promover inibição<br />

adequada dos receptores da glicoproteína IIb/IIIa.<br />

O estudo ESPRIT comparou, para pacientes submetidos<br />

a implante de stent em artéria nativa, o uso de<br />

placebo com duplo bolo de eptifibatide 180 µg/kg separados<br />

por 10 minutos e infusão por 18 a 24 horas de<br />

2,0 µg/kg/min. A composição de morte, infarto, necessidade<br />

de revascularização do vaso-alvo de urgência e<br />

necessidade do uso de urgência de inibidor da glicoproteína<br />

IIb/IIIa em 48 horas foi menor no grupo que<br />

recebeu eptifibatide. Essa redução também foi mantida<br />

nas análises de 30 dias e 1 ano. O risco de sangramento<br />

maior foi infreqüente, mas maior no grupo que<br />

(40, 41)<br />

recebeu eptifibatide.<br />

O estudo RESTORE comparou, para pacientes submetidos<br />

a angioplastia dentro de 72 horas do diagnóstico<br />

de síndrome coronariana aguda, o uso de tirofiban<br />

na dose de 10 µg/kg em bolo e infusão contínua de<br />

0,15 µg/kg/min por 36 horas com placebo. A combinação<br />

de morte, infarto, necessidade de cirurgia de revascularização<br />

do miocárdio, repetição de angioplastia<br />

por recorrência de isquemia ou colocação de stent<br />

para oclusão abrupta foi estatisticamente menor para<br />

o grupo que recebeu tirofiban em 48 horas e 7 dias<br />

após o procedimento. Em 30 dias a combinação de<br />

eventos foi 16% menor no grupo que recebeu tirofiban,<br />

mas não estatisticamente significativa e com risco aumentado<br />

de sangramento maior. (42)<br />

O estudo TARGET testou, em pacientes submetidos<br />

a implante de stent, a equivalência do uso de abciximab<br />

com tirofiban e mostrou que a composição de<br />

morte, infarto ou necessidade de revascularização do<br />

vaso-alvo em 30 dias aconteceu mais no grupo que<br />

recebeu tirofiban. (43) Após 6 meses não foram observadas<br />

diferenças na taxa de evento entre os dois grupos.<br />

Alguns estudos realizados posteriormente sugerem<br />

que a dose do bolo de tirofiban utilizada nos estudos<br />

RESTORE e TARGET foi inadequada. Com base nessas<br />

informações, doses maiores dessa droga têm sido<br />

testadas e parecem produzir inibição mais eficaz da<br />

agregação plaquetária. Esses dados, porém, ainda não<br />

foram confirmados em grandes estudos e, portanto, não<br />

se recomenda o uso de tirofiban como coadjuvante à<br />

intervenção coronariana percutânea, a não ser, como<br />

descrito anteriormente, quando angioplastia for realizada<br />

em pacientes com síndrome coronariana instável<br />

sem supradesnivelamento do segmento ST, que já estavam<br />

usando essa droga, que é uma das recomendadas<br />

para o tratamento clínico.<br />

Mais recentemente, no estudo ISAR-REACT, pacientes<br />

submetidos a intervenção coronariana percutânea,<br />

com doença coronariana de baixo risco (excluindo<br />

os com síndrome coronariana aguda, diabetes insulino-dependente<br />

e presença de trombo visível), foram<br />

randomizados para receber placebo ou abciximab.<br />

Todos os pacientes fizeram uso de 600 mg de clopidogrel<br />

iniciado no mínimo 2 horas antes do procedimento,<br />

e mantido por 30 dias. Os stents foram utilizados<br />

em cerca de 90% das lesões nos dois grupos e não<br />

houve diferença entre eles na incidência da composição<br />

de morte, infarto ou necessidade de revascularização<br />

do vaso-alvo em 30 dias. Também não houve<br />

diferença no risco de sangramento maior entre os dois<br />

grupos, porém o grupo do abciximab evoluiu com maior<br />

risco de trombocitopenia. (44) Esse estudo concluiu<br />

que para pacientes de baixo e intermediário riscos,<br />

submetidos a intervenção coronariana percutânea,<br />

quando pré-tratados com clopidogrel, o uso do abciximab<br />

não traz benefício adicional. Pacientes de alto risco<br />

foram excluídos; portanto, esses dados não podem<br />

ser aplicados a eles.<br />

O diabetes melito está associado a pior evolução<br />

da intervenção coronariana percutânea. (45) Vários estudos<br />

demonstraram que o uso dos inibidores dos receptores<br />

da glicoproteína IIb/IIIa, em diabéticos submetidos<br />

a angioplastia com balão ou com stent, promove<br />

a redução da ocorrência de eventos isquêmicos<br />

em 30 dias e da mortalidade tardia. (46) O estudo EPIS-<br />

TENT revelou que, para os diabéticos, o uso de stent<br />

com abciximab reduziu o risco de revascularização do<br />

vaso-alvo em 6 meses. No estudo ISAR-SWEET, pacientes<br />

diabéticos de baixo risco, submetidos a interven-<br />

374 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

ção coronariana percutânea,<br />

foram randomizados<br />

para receber placebo ou<br />

abciximab. Todos receberam<br />

600 mg de clopidogrel,<br />

no mínimo 2 horas<br />

antes do procedimento,<br />

que foi mantido por 30<br />

dias. Não se observou diferença,<br />

entre os dois grupos,<br />

na incidência da composição<br />

de morte e infarto<br />

em 1 ano. O grupo que recebeu abciximab, porém, teve<br />

menor taxa de reestenose angiográfica bem como de<br />

necessidade de revascularização da lesão-alvo. (47) Esses<br />

estudos demonstraram redução da taxa de revascularização<br />

do vaso-alvo nos diabéticos em que se utilizou<br />

stent não-farmacológico e que receberam abciximab,<br />

sugerindo diminuição do risco de reestenose. A<br />

redução farmacológica da reestenose pode ter papel<br />

relevante entre os diabéticos, mesmo na era dos stents<br />

farmacológicos, pois estes têm taxas de revascularização<br />

do vaso-alvo e reestenose mais elevadas, mesmo<br />

com o uso de stents farmacológicos. (48) Apesar de o<br />

estudo ISAR-SWEET não ter demonstrado benefício<br />

adicional do abciximab em diabéticos que receberam<br />

dose de ataque com 600 mg de clopidogrel, é difícil desconsiderar<br />

os resultados de estudos anteriores, que demonstraram<br />

redução dessa droga na mortalidade tardia.<br />

A utilização dos inibidores dos receptores da glicoproteína<br />

IIb/IIIa foi também avaliada em intervenção coronariana<br />

percutânea envolvendo os enxertos de veia<br />

safena. Nesse grupo, o abciximab não reduziu o risco<br />

de complicações isquêmicas; portanto, não se recomenda<br />

seu uso de rotina nessa condição. (49)<br />

Inibidores da glicoproteína IIb/IIIa no infarto<br />

do miocárdio com supradesnivelamento<br />

do segmento ST<br />

O uso dos inibidores dos receptores da glicoproteína<br />

IIb/IIIa no infarto com supradesnivelamento do segmento<br />

ST ainda é controverso. O tirofiban e o eptifibatide<br />

foram pouco avaliados em estudos controlados nos<br />

pacientes com essa condição clínica. Já o abciximab<br />

foi estudado como droga coadjuvante à angioplastia<br />

primária em cinco estudos randomizados com resultados<br />

heterogêneos. (50-54) Uma meta-análise recente demonstrou<br />

que o abciximab reduziu significativamente,<br />

em 6 meses, o risco de morte, revascularização do<br />

vaso-alvo e eventos cardíacos maiores. (55) O papel dos<br />

inibidores dos receptores da glicoproteína IIb/IIIa, portanto,<br />

necessita de mais investigação, principalmente<br />

com relação aos benefícios tardios. Assim sendo, a combinação<br />

dessas drogas, mais especificamente do abciximab,<br />

com a angioplastia primária pode ser utilizada, apesar<br />

de não ser consenso na literatura médica.<br />

Eficácia dos inibidores da glicoproteína IIb/IIIa<br />

na intervenção coronariana percutânea<br />

Eficácia precoce (30 dias) (56)<br />

A ocorrência da combinação dos eventos morte, infarto<br />

do miocárdio e necessidade de revascularização<br />

de urgência diminuiu nos diversos estudos em que se<br />

utilizaram inibidores dos receptores da glicoproteína IIb/<br />

IIIa na intervenção coronariana percutânea. A magnitude<br />

da redução variou de acordo com a droga utilizada.<br />

A redução da taxa de eventos em 30 dias é de cerca<br />

de 50% a 60% para o abciximab e de 15% a 25%<br />

para o tirofiban e o eptifibatide. Possivelmente diferenças<br />

na farmacodinâmica e/ou no mecanismo do bloqueio<br />

podem ser responsáveis por esses resultados.<br />

Com relação à mortalidade, nenhum estudo isoladamente<br />

demonstrou redução de mortalidade precoce;<br />

porém, em uma meta-análise de 12 estudos, observou-se<br />

redução estatisticamente significativa da mortalidade<br />

em 30 dias para os pacientes que receberam<br />

inibidores dos receptores da glicoproteína IIb/IIIa (p =<br />

0,024; placebo = 1,3%; inibidor da glicoproteína IIb/IIIa =<br />

0,9%) (57) . O infarto do miocárdio é o evento que mais se<br />

reduziu na análise precoce de 30 dias com uso dos<br />

inibidores da glicoproteína IIb/IIIa, principalmente grandes<br />

infartos não-Q, com elevação de mais de cinco<br />

vezes de CK-MB com relação ao valor normal. A redução<br />

da necessidade de revascularização do vaso-alvo<br />

de urgência nos primeiros 30 dias também foi observada<br />

nos diversos estudos, mas principalmente para os<br />

pacientes que não receberam stents de rotina.<br />

Eficácia tardia (56)<br />

A análise tardia de 6 meses para a maioria dos estudos<br />

e de 1 ano para muitos deles revelou redução da<br />

ocorrência da combinação dos eventos morte, infarto<br />

e revascularização do vaso-alvo.<br />

O estudo EPISTENT demonstrou redução da mortalidade<br />

de cerca de 60%, significativa no grupo que<br />

recebeu stent com abciximab comparado com outros<br />

dois grupos (stent com placebo e balão com abciximab)<br />

em 1 ano de acompanhamento. (58) Para os tratados<br />

com abciximab, a redução de mortalidade tardia é<br />

em torno de 25% a 30% (59) . Os benefícios são observados<br />

em todo subgrupo de pacientes testados, mas principalmente<br />

naqueles com síndromes coronarianas instáveis<br />

e diabéticos e também para qualquer técnica<br />

utilizada (balão, stents e aterectomia direcionada). Não<br />

se demonstrou redução significativa de mortalidade<br />

tardia com eptifibatide ou tirofiban. Uma meta-análide<br />

de 12 estudos demonstrou tendência de redução<br />

da mortalidade em 6 meses para os que receberam<br />

inibidores dos receptores da glicoproteína<br />

IIb/IIIa (p = 0,087; placebo = 2,4%; inibidor da glicoproteína<br />

IIb/IIIa = 1,9%). (57)<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 375


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

No estudo EPIC, a análise<br />

da necessidade de revascularização<br />

do vasoalvo<br />

tardia revelou, em 6<br />

meses, redução de 26%<br />

(22,3% x 16,5%; p = 0, 007).<br />

No estudo EPILOG, não<br />

foram observadas diferenças<br />

em 6 meses e 1 ano<br />

na taxa de revascularização<br />

do vaso-alvo. No estudo<br />

TARGET, não houve<br />

diferença na taxa de revascularização do vaso-alvo em<br />

6 meses e 1 ano entre tirofiban e abciximab. No estudo<br />

EPISTENT, na análise de 6 meses, a taxa de revascularização<br />

do vaso-alvo em diabéticos diminuiu de 16,6%<br />

(stent + placebo) para 8,1% (stent + abciximab), redução<br />

de 51%. (60)<br />

Recomendações para o uso de inibidores da<br />

glicoproteína IIb/IIIa (27)<br />

1. Devem ser utilizados nos pacientes que serão submetidos<br />

a intervenção coronariana percutânea de alto<br />

risco, como na síndrome coronariana aguda, na presença<br />

de trombos visíveis e no infarto do miocárdio<br />

recente, em associação com aspirina e clopidogrel. O<br />

abciximab ou o eptifibatide, dentre os inibidores da glicoproteína<br />

IIb/IIIa, são as drogas recomendadas nessas<br />

situações. Na angioplastia utilizada para tratamento<br />

do infarto com supradesnivelamento do segmento<br />

ST, recomenda-se o abciximab.<br />

2. Nos pacientes com síndrome coronariana aguda sem<br />

supradesnivelamento de segmento ST de alto risco, ou<br />

seja, com elevação de troponina sérica, com alterações<br />

dinâmicas de segmento ST e com isquemia refratária,<br />

em que não se planeja estratégia inicialmente invasiva,<br />

ou seja, sem angioplastia programada nas próximas<br />

horas, deve-se usar tirofiban ou eptifibatide para o<br />

tratamento clínico por 48 a 72 horas, sendo o benefício<br />

maior para aqueles que são submetidos, durante o<br />

período de infusão da droga, a intervenção coronariana<br />

percutânea. A droga deve ser mantida por 12 a 24<br />

horas após o procedimento. Nessa condição, em que a<br />

angioplastia não é programada, não se deve usar abciximab.<br />

3. Para pacientes com síndrome coronariana aguda sem<br />

supradesnivelamento de segmento ST, em que a estratégia<br />

invasiva é escolhida e, portanto, a angiografia<br />

coronariana é realizada precocemente com relação à<br />

chegada do paciente ao hospital, e se conclui que há<br />

necessidade de intervenção coronariana percutânea,<br />

a infusão de abciximab ou eptifibatide deve ser iniciada<br />

antes do procedimento e mantida após o procedimento<br />

por 12 horas no caso do abciximab e por 18 a<br />

24 horas para eptifibatide.<br />

4. Para os pacientes que serão submetidos a intervenção<br />

coronariana percutânea com baixo risco de complicações<br />

isquêmicas (síndrome coronariana estável,<br />

lesões não complexas, ausência de trombos), recomenda-se<br />

o uso apenas de aspirina e clopidogrel. Nesses<br />

pacientes, os inibidores da glicoproteína IIb/IIIa não<br />

promovem benefício adicional.<br />

HEPARINA NÃO-FRACIONADA<br />

Os instrumentos utilizados para a realização da intervenção<br />

coronariana percutânea promovem injúria da<br />

parede do vaso e, portanto, aumento do risco de fenômenos<br />

trombóticos. Eles próprios podem induzir a formação<br />

de trombos. Por esse motivo, a heparina nãofracionada<br />

vem sendo utilizada de rotina em toda intervenção<br />

coronariana percutânea. A forma de administração<br />

é em bolo imediatamente antes do procedimento.<br />

Pode-se utilizar o tempo de coagulação ativada para<br />

orientar qual a dose adequada de heparina para se<br />

obter a anticoagulação desejada. Na prática, utiliza-se<br />

o peso do paciente para o cálculo da dose. Preconizase,<br />

para pacientes que não farão uso de inibidores da<br />

glicoproteína IIb/IIIa, atingir um tempo de coagulação<br />

ativada entre 250 e 350 segundos antes do procedimento.<br />

Em geral esse nível de anticoagulação é conseguido<br />

com doses de heparina não-fracionada entre<br />

60 UI/kg e 100 UI/kg. Para aqueles que receberão inibidores<br />

da glicoproteína IIb/IIIa, o ideal é se manter o<br />

tempo de coagulação ativada entre 200 e 300 segundos,<br />

baseando-se no peso, e utilizar doses de heparina<br />

entre 50 UI/kg e 70 UI/kg. Em procedimentos prolongados,<br />

deve-se checar o tempo de coagulação ativada<br />

ou até mesmo fazer uso empiricamente de bolos<br />

adicionais de heparina. O introdutor deve ser retirado<br />

com tempo de coagulação ativada entre 150 e 180 segundos,<br />

em geral 4 a 6 horas após o bolo de heparina.<br />

Não se recomenda o uso de rotina da heparina nãofracionada<br />

após a intervenção coronariana percutânea,<br />

pois os estudos não evidenciam diminuição do risco<br />

de fenômenos isquêmicos no período pós-procedimento,<br />

nem redução do risco de reestenose, mas houve<br />

aumento do risco de sangramento, principalmente no<br />

sítio da punção. (61)<br />

Essa droga deve ser utilizada antes de todo tipo de<br />

intervenção coronariana por cateter e para qualquer<br />

forma de apresentação clínica: síndromes estáveis, instáveis,<br />

com e sem supradesnivelamento do segmento<br />

ST. Os pacientes que estavam em uso de heparina nãofracionada<br />

para o tratamento clínico devem ter a dose<br />

pré-procedimento ajustada com base no tempo de coagulação<br />

ativada.<br />

Recomendações<br />

1. Iniciar sempre antes da intervenção coronariana<br />

376 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

percutânea. Para pacientes<br />

que não farão uso de<br />

inibidores da glicoproteína<br />

IIb/IIIa, objetiva-se atingir<br />

tempo de coagulação ativada<br />

entre 250 e 350 segundos;<br />

se a base for o<br />

peso, administrar em bolo<br />

de 60 UI/kg a 100 UI/kg de<br />

heparina não-fracionada.<br />

Para aqueles que receberão<br />

inibidores da glicoproteína<br />

IIb/IIIa, objetiva-se manter o tempo de coagulação<br />

ativada entre 200 e 300 segundos; se a base for o<br />

peso, utilizar doses de heparina entre 50 UI/kg e 70 UI/<br />

kg.<br />

HEPARINA DE BAIXO PESO MOLECULAR<br />

A heparina de baixo peso molecular é formada por<br />

fragmentos de heparina não-fracionada obtida por meio<br />

do processo de despolimerização químico ou enzimático,<br />

gerando moléculas menores. O mecanismo de<br />

ação da heparina de baixo peso molecular é o mesmo<br />

que o da heparina não-fracionada, por meio da interação<br />

com antitrombina III, inibindo os fatores de coagulação<br />

como o Xa. A heparina de baixo peso molecular<br />

tem absorção mais homogênea por via subcutânea e é<br />

formada por moléculas menores que aderem menos<br />

às células endoteliais e plasmáticas, gerando, portanto,<br />

relação dose-resposta e efeito antitrombótico mais<br />

previsíveis com níveis plasmáticos mais estáveis, não<br />

necessitando, em geral, de monitorização laboratorial<br />

da anticoagulação. Nos pacientes com insuficiência<br />

renal, preconiza-se ou não utilizar essas drogas ou<br />

então corrigir a dose e realizar monitorização laboratorial.<br />

O uso da heparina de baixo peso molecular no tratamento<br />

das síndromes coronarianas sem supradesnivelamento<br />

do segmento ST, sem planejamento de intervenção<br />

coronariana percutânea, mostrou-se superior<br />

ao da heparina não-fracionada, promovendo redução<br />

de eventos isquêmicos. A enoxaparina na dose de<br />

1 mg/kg, duas vezes por dia, mostrou ser superior à<br />

heparina não-fracionada nos estudos ESSENCE e TIMI<br />

11B para pacientes com síndromes coronarianas sem<br />

supradesnivelamento do segmento ST, e uma metaanálise<br />

destes revelou redução de cerca de 20% do<br />

risco de morte e infarto do miocárdio. (62-64) No entanto,<br />

os benefícios desses estudos não podem ser aplicados<br />

para aqueles com síndrome coronariana instável,<br />

nos quais se preconiza a intervenção coronariana percutânea<br />

de rotina.<br />

Para essa situação, o estudo SYNERGY, recentemente<br />

publicado, comparou o uso de enoxaparina com<br />

heparina não-fracionada para pacientes com síndromes<br />

coronarianas sem supradesnivelamento do segmento<br />

ST de alto risco, com estratégia de tratamento<br />

invasivo percutâneo precoce. Não houve diferença entre<br />

a taxa de morte ou infarto em 30 dias, porém aqueles<br />

que receberam enoxaparina tiveram mais sangramento<br />

maior. (65)<br />

Dessa forma, com base nos resultados dos estudos<br />

anteriormente citados, preconiza-se preferencialmente<br />

o uso de heparina não-fracionada para pacientes<br />

com síndromes coronarianas sem supradesnivelamento<br />

do segmento ST de alto risco, para os quais se<br />

planeja estratégia invasiva inicial. Caso a estratégia<br />

invasiva não seja inicialmente programada, naqueles<br />

com síndromes coronarianas sem supradesnivelamento<br />

do segmento ST de alto risco a enoxaparina pode ser<br />

preferida para o tratamento clínico, por reduzir as complicações<br />

isquêmicas.<br />

Para pacientes com infarto com supradesnivelamento<br />

do segmento ST, não existem evidências de que a<br />

heparina de baixo peso seja superior à não-fracionada,<br />

como tratamento coadjuvante à angioplastia primária.<br />

Nessa situação, portanto, recomenda-se o uso de<br />

heparina não-fracionada.<br />

Apesar de ainda não existirem evidências concretas,<br />

a enoxaparina tem sido estudada como coadjuvante<br />

à intervenção coronariana percutânea em doses<br />

que variam de 0,5 mg/kg a 1,0 mg/kg, porém essa forma<br />

de uso ainda precisa ser comparada à heparina<br />

não-fracionada em estudos maiores e randomizados.<br />

Na situação em que o paciente está recebendo heparina<br />

de baixo peso para tratamento clínico e necessita<br />

ser submetido a intervenção coronariana, é necessário<br />

corrigir a dose de heparina pré-intervenção. Como<br />

a enoxaparina é a droga mais comumente utilizada<br />

nessas situações, existe um plano para sua administração.<br />

Caso a última dose de enoxaparina (1 mg/kg)<br />

tenha sido administrada com menos de 8 horas do início<br />

da angioplastia, não há necessidade de dose adicional.<br />

Quando a última dose de heparina foi dada entre<br />

8 e 12 horas antes da angioplastia, recomenda-se administrar<br />

0,3 mg/kg em bolo por via venosa de enoxaparina.<br />

Já quando a última dose de enoxaparina foi dada<br />

com tempo maior que 12 horas antes da angioplastia,<br />

preconiza-se utilizar a anticoagulação convencional.<br />

Não se recomenda o uso de heparina de baixo peso<br />

após a angioplastia, pois não previne eventos isquêmicos<br />

ou reestenose.<br />

INIBIDORES DA TROMBINA<br />

Essas drogas, ainda não disponíveis em nosso meio,<br />

ligam-se diretamente à trombina, formando um complexo<br />

irreversível. Têm sido avaliadas como uma alternativa<br />

para heparina no tratamento das síndromes coronarianas<br />

instáveis e durante a intervenção coronari-<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 377


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

ana percutânea. As principais<br />

drogas dessa classe<br />

são a hirudina, a bivalirudina<br />

e o argatroban.<br />

O estudo “The Bivalirudin<br />

Angioplasty Trial” comparou<br />

bivalirudina com heparina<br />

não-fracionada em<br />

pacientes com angina instável<br />

e angina pós-infarto<br />

submetidos a intervenção<br />

coronariana percutânea. A<br />

bivalirudina não diminuiu o risco de morte intra-hospitalar,<br />

de infarto com Q, de infarto não-Q ou de cirurgia<br />

de emergência, mas reduziu o risco de complicações<br />

hemorrágicas. (66)<br />

No estudo REPLACE-2, pacientes que se submeteram<br />

a intervenção coronariana percutânea foram randomizados<br />

para receber bivalirudina com inibidor da<br />

glicoproteína IIb/IIIa caso fosse considerado necessário<br />

ou heparina com inibidor da glicoproteína IIb/IIIa (abciximab<br />

ou eptifibatide) programado de rotina. Não houve<br />

diferença significativa no que se refere à ocorrência<br />

da combinação de morte, infarto, nova revascularização<br />

de urgência ou sangramento intra-hospitalar em<br />

30 dias, ocorreu em 9,2% no grupo da bivalirudina e<br />

em 10% nos que receberam heparina com inibidor da<br />

glicoproteína IIb/IIIa (p = 0,32). (67) Em geral os estudos<br />

revelam que a bivalirudina tem eficácia semelhante à<br />

heparina, com menor risco de sangramento. Dessa forma,<br />

recomenda-se o uso da bivalirudina (0,75 mg/kg<br />

em bolo seguida de infusão de 1,75 mg/kg/hora enquanto<br />

durar a angioplastia coronariana) em substituição<br />

à heparina para pacientes com risco elevado de<br />

sangramento como idosos, portadores de insuficiência<br />

renal. Também é uma alternativa para pacientes com<br />

trombocitopenia induzida por heparina. Não há evidências<br />

para o uso de inibidores diretos da trombina na<br />

angioplastia relacionada ao infarto do miocárdio com<br />

supradesnivelamento do segmento ST.<br />

ADJUNCTIVE PHARMACOLOGICAL THERAPY<br />

BEFORE PERCUTANEOUS CORONARY<br />

INTERVENTION: WHEN, WHICH AND WHY TO USE IT?<br />

PAULO ROGÉRIO SOARES<br />

The percutaneous coronary intervention has improved in the past two decades<br />

and is an important option for the treatment of coronary artery disease. This procedure<br />

causes rupture of the atherosclerotic coronary plaque which promotes platelet<br />

adhesion, activation and aggregation with thrombus formation, which may cause<br />

myocardial infarction and death. The improvement of the results was obtained in part<br />

because of the use of new antiplatelet and antithrombotic drugs. In this article we<br />

will discuss these drugs, the target population and the best moment to use them,<br />

with the intention to improve the results of the percutaneous coronary intervention.<br />

Most of the data analyzed here is based on specific randomized trials.<br />

Key words: percutaneous coronary intervention, antiplatelet drugs, antithrombotic<br />

drugs.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:369-82)<br />

RSCESP (72594)-1556<br />

378 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

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Patrignani P, Pugliese F,<br />

Filabozzi P, Catella F, et al.<br />

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ulcer bleeding. N Engl J Med. 2005;352:238-<br />

44.<br />

8. Sharis PJ, Cannon CP, Loscalzo J. The antiplatelet<br />

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1998;129(5):394-405. Review.<br />

9. Schomig A, Neumann FJ, Kastrati A, Schuhlen H,<br />

Blasini R, Hadamitzky M, et al. A randomized comparison<br />

of antiplatelet and anticoagulant therapy after<br />

the placement of coronary-artery stents. N Engl<br />

J Med. 1996;334(17):1084-9.<br />

10. Leon MB, Baim DS, Popma JJ, Gordon PC, Cutlip<br />

DE, Ho KK, et al. A clinical trial comparing three antithrombotic-drug<br />

regimens after coronary-artery<br />

stenting. Stent Anticoagulation Restenosis Study Investigators.<br />

N Engl J Med. 1998;339(23):1665-71.<br />

11. Bertrand ME, Legrand V, Boland J, Fleck E, Bonnier<br />

J, Emmanuelson H, et al. Randomized multicenter<br />

comparison of conventional anticoagulation versus<br />

antiplatelet therapy in unplanned and elective<br />

coronary stenting. The full anticoagulation versus<br />

aspirin and ticlopidine (fantastic) study. Circulation.<br />

1998;98(16):1597-603.<br />

12. Bertrand ME, Rupprecht HJ, Urban P, Gershlick AH,<br />

Investigators FT. Double-blind study of the safety of<br />

clopidogrel with and without a loading dose in combination<br />

with aspirin compared with ticlopidine in<br />

combination with aspirin after coronary stenting: the<br />

Clopidogrel Aspirin Stent International Cooperative<br />

Study (CLASSICS). Circulation. 2000;102(6):624-9.<br />

13. Taniuchi M, Kurz HI, Lasala JM. Randomized comparison<br />

of ticlopidine and clopidogrel after intracoronary<br />

stent implantation in a broad patient population.<br />

Circulation. 2001;104(5):539-43.<br />

14. Puri RN, Colman RW. ADP-induced platelet activation.<br />

Crit Rev Biochem Mol Biol. 1997;32(6):437-502.<br />

Review.<br />

15. Topol EJ. Acute Coronary Syndromes. ISBN: 0-8247-<br />

5795-5; 2005. p. 397-420.<br />

16. Steinhubl SR, Berger PB, Mann JT 3rd, Fry ET,<br />

DeLago A, Wilmer C, et al., CREDO Investigators.<br />

Clopidogrel for the Reduction of Events During Observation.<br />

Early and sustained dual oral antiplatelet<br />

therapy following percutaneous coronary intervention:<br />

a randomized controlled trial. JAMA.<br />

2002;288(19):2411-20. Erratum in: JAMA.<br />

2003;289(8):987.<br />

17. Pache J, Kastrati A, Mehilli J, Gawaz M, Neumann<br />

FJ, Seyfarth M, et al. Clopidogrel therapy in patients<br />

undergoing coronary stenting: value of a high-loading-dose<br />

regimen. Catheter Cardiovasc Interv.<br />

2002;55(4):436-41.<br />

18. Yusuf S, Zhao F, Mehta SR, Chrolavicius S, Tognoni<br />

G, Fox KK, Clopidogrel in Unstable Angina to Prevent<br />

Recurrent Events Trial Investigators. Effects of<br />

clopidogrel in addition to aspirin in patients with acute<br />

coronary syndromes without ST-segment elevation.<br />

N Engl J Med. 2001;16;345(7):494-502. Erratum in:<br />

N Engl J Med. 2001;345(23):1716. N Engl J Med.<br />

2001;345(20):1506.<br />

19. Mehta SR, Yusuf S, Peters RJ, Bertrand ME, Lewis<br />

BS, Natarajan MK, et al., Clopidogrel in Unstable<br />

angina to prevent Recurrent Events trial (CURE) Investigators.<br />

Effects of pretreatment with clopidogrel<br />

and aspirin followed by long-term therapy in patients<br />

undergoing percutaneous coronary interventi-<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 379


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

on: the PCI-CURE study.<br />

Lancet. 2001;358(9281):<br />

527-33.<br />

20. Gurbel PA, Bliden KP,<br />

Hiatt BL, O’Connor CM.<br />

Clopidogrel for coronary<br />

stenting: response variability,<br />

drug resistance, and<br />

the effect of pretreatment<br />

platelet reactivity. Circulation.<br />

2003;107(23):2908-<br />

13.<br />

21. Muller I, Besta F, Schulz C, Massberg S, Schonig A,<br />

Gawaz M. Prevalence of clopidogrel non-responders<br />

among patients with stable angina pectoris scheduled<br />

for elective coronary stent placement. Thromb<br />

Haemost. 2003;89(5):783-7.<br />

22. Matetzky S, Shenkman B, Guetta V, Shechter M,<br />

Bienart R, Goldenberg I, et al. Clopidogrel resistance<br />

is associated with increased risk of recurrent atherothrombotic<br />

events in patients with acute myocardial<br />

infarction. Circulation. 2004;109(25):3171-5.<br />

23. Wiviott SD, Antman <strong>EM</strong>. Clopidogrel resistance: a<br />

new chapter in a fast-moving story. Circulation.<br />

2004;109(25):3064-7.<br />

24. Lau WC, Waskell LA, Watkins PB, Neer CJ, Horowitz<br />

K, Hopp AS, et al. Atorvastatin reduces the ability<br />

of clopidogrel to inhibit platelet aggregation: a<br />

new drug-drug interaction. Circulation.<br />

2003;107(1):32-7.<br />

25. Brophy J, Costa V, Babapulle M. A pharmaco-epidemiological<br />

study of the interaction between atorvastatin<br />

and clopidogrel following percutaneous coronary<br />

interventions. J Am Coll Cardiol. 2004;43:50A.<br />

Abstract.<br />

26. Saw J, Steinhubl SR, Berger PB, Kereiakes DJ,<br />

Serebruany VL, Brennan D, et al., Clopidogrel for<br />

the Reduction of Events During Observation Investigators.<br />

Lack of adverse clopidogrel-atorvastatin clinical<br />

interaction from secondary analysis of a randomized,<br />

placebo-controlled clopidogrel trial. Circulation.<br />

2003;108(8):921-4.<br />

27. Popma JJ, Berger P, Ohman <strong>EM</strong>, Harrington RA,<br />

Grines C, Weitz JI. Antithrombotic therapy during percutaneous<br />

coronary intervention: the Seventh ACCP<br />

Conference on Antithrombotic and Thrombolytic Therapy.<br />

Chest. 2004;126 Suppl:576S-599S. Review.<br />

28. Lincoff AM. Platelet Glycoprotein IIb/IIIa Inhibitors<br />

in Cardiovascular Disease. 2 nd ed. ISBN: 1-59259-<br />

376-3; 2003. p. 73-101.<br />

29. Boersma E, Harrington RA, Moliterno DJ, White H,<br />

Theroux P, Van de Werf F, et al. Platelet glycoprotein<br />

IIb/IIIa inhibitors in acute coronary syndromes: a<br />

meta-analysis of all major randomised clinical trials.<br />

Lancet. 2002;359(9302):189-98. Erratum in: Lancet.<br />

2002;359(9323):2120.<br />

30. The PURSUIT Trial Investigators. Inhibition of platelet<br />

glycoprotein IIb/IIIa with eptifibatide in patients<br />

with acute coronary syndromes. N Engl J Med.<br />

1998;339:436-43.<br />

31. The Platelet Receptor Inhibition in Ischemic Syndrome<br />

Management in Patients Limited by Unstable<br />

Signs and Symptoms (PRISM-PLUS) Study Investigators.<br />

Inhibition of the platelet glycoprotein IIb/IIIa<br />

receptor with tirofiban in unstable angina and non-<br />

Q-wave myocardial infarction. N Engl J Med.<br />

1998;338:1488-97.<br />

32. GUSTO IV-ACS Investigators. Effect of glycoprotein<br />

IIb/IIIa receptor blocker abciximab on outcome<br />

in patients with acute coronary syndromes without<br />

early coronary revascularization: the GUSTO IV-ACS<br />

randomised trial. Lancet. 2001;357(9272):1915-24.<br />

33. The EPIC Investigators. Use of monoclonal antibody<br />

directed against the platelet glycoprotein IIb/IIIa<br />

receptor in high risk coronary angioplasty. N Engl J<br />

Med. 1994;330:956-61.<br />

34. Topol EJ, Califf RM, Weisman HF, Ellis SG, Tcheng<br />

JE, Worley S, et al. Randomised trial of coronary<br />

intervention with antibody against platelet IIb/IIIa integrin<br />

for reduction of clinical restenosis: results at<br />

six months. The EPIC Investigators. Lancet.<br />

1994;343(8902):881-6.<br />

35. Topol EJ, Ferguson JJ, Weisman HF, Tcheng JE,<br />

Ellis SG, Kleiman NS, et al. Long-term protection<br />

from myocardial ischemic events in a randomized<br />

trial of brief integrin beta3 blockade with percutaneous<br />

coronary intervention. EPIC Investigator<br />

Group. Evaluation of Platelet IIb/IIIa Inhibition for<br />

Prevention of Ischemic Complication. JAMA.<br />

1997;278(6):479-84.<br />

36. The EPILOG Investigators. Platelet glycoprotein IIb/<br />

IIIa receptor blockade and low-dose heparin during<br />

percutaneous coronary revascularization. N Engl J<br />

Med. 1997;336:1689-96.<br />

37. The EPISTENT Investigators. Randomized placebo-controlled<br />

and balloon-angioplasty-controlled trial<br />

to assess safety of coronary stenting with use of platelet<br />

glycoprotein IIb/IIIa blockade. Lancet.<br />

1998;352:87-92.<br />

38. Topol EJ, Mark DB, Lincoff AM, Cohen E, Burton J,<br />

Kleiman N, et al. Outcomes at 1 year and economic<br />

implications of platelet glycoprotein IIb/IIIa blockade<br />

in patients undergoing coronary stenting: results<br />

from a multicentre randomised trial. EPISTENT Investigators.<br />

Evaluation of Platelet IIb/IIIa Inhibitor for<br />

Stenting. Lancet. 1999;354(9195):2019-24.<br />

39. The IMPACT-II Investigators. Randomised placebocontrolled<br />

trial of the effect of eptifibatide on complications<br />

of percutaneous coronary intervention: IM-<br />

PACT-II. Integrilin to Minimize Platelet Aggregation<br />

380 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

and Coronary Thrombosis-<br />

II. Lancet. 1997;349:1422-<br />

8.<br />

40. O’Shea JC, Hafley GE,<br />

Greenberg S, et al. Platelet<br />

glycoprotein IIb/IIIa integrin<br />

blockade with eptifibatide<br />

in coronary stent<br />

intervention: The ESPRIT<br />

trial: a randomized controlled<br />

trial. JAMA. 2001;285:<br />

2468-73.<br />

41. O’Shea JC, Buller CE, Cantor WJ, Chandler AB,<br />

Cohen EA, Cohen DJ, et al., and the ESPRIT Investigators.<br />

Long-term efficacy of platelet glycoprotein<br />

IIb/IIIa integrin blockade with eptifibatide in coronary<br />

stent intervention. JAMA. 2002;287(5):618-21<br />

42. The RESTORE Investigators. Effects of platelet<br />

glycoprotein IIb/IIIa blockade with tirofiban on adverse<br />

cardiac events in patients with unstable angina<br />

or acute myocardial infarction undergoing coronary<br />

angioplasty. Circulation. 1997;96:1445-53.<br />

43. Stone GW, Moliterno DJ, Bertrand M, Neumann F-<br />

J, Herrmann HC, Powers ER, et al. Impact of clinical<br />

syndrome acuity on the differential response to 2<br />

glycoprotein iib/<strong>iii</strong>a inhibitors in patients undergoing<br />

coronary stenting: The TARGET Trial. Circulation.<br />

2002;105:2347-54.<br />

44. Kastrati A, Mehilli J, Schuhlen H, Dirschinger J,<br />

Dotzer F, ten Berg JM, et al., and the Intracoronary<br />

Stenting and Antithrombotic Regimen-Rapid Early<br />

Action for Coronary Treatment Study Investigators.<br />

A clinical trial of abciximab in elective percutaneous<br />

coronary intervention after pretreatment with clopidogrel.<br />

N Engl J Med. 2004;350(3):232-8.<br />

45. Stein B, Weintraub WS, Gebhart SP, Cohen-Bernstein<br />

CL, Grosswald R, Liberman HA, et al. Influence<br />

of diabetes mellitus on early and late outcome after<br />

percutaneous transluminal coronary angioplasty. Circulation.<br />

1995;91(4):979-89.<br />

46. Bhatt DL, Marso SP, Lincoff AM, Wolski KE, Ellis<br />

SG, Topol EJ. Abciximab reduces mortality in diabetics<br />

following percutaneous coronary intervention. J<br />

Am Coll Cardiol. 2000;35(4):922-8.<br />

47. Mehilli J, Kastrati A, Schuhlen H, Dibra A, Dotzer F,<br />

von Beckerath N, et al., and the Intracoronary Stenting<br />

and Antithrombotic Regimen: Is Abciximab a<br />

Superior Way to Eliminate Elevated Thrombotic Risk<br />

in Diabetics (ISAR-SWEET) Study Investigators.<br />

Randomized clinical trial of abciximab in diabetic<br />

patients undergoing elective percutaneous coronary<br />

interventions after treatment with a high loading<br />

dose of clopidogrel. Circulation. 2004;110(24):3627-<br />

35.<br />

48. Scheen AJ, Warzee F. Diabetes is still a risk factor<br />

for restenosis after drug-eluting stent in coronary arteries.<br />

Diab Care. 2004;27:1840-1.<br />

49. Mathew V, Grill DE, Scott CG, Grantham JA, Ting<br />

HH, Garratt KN, et al. The influence of abciximab<br />

use on clinical outcome after aortocoronary vein graft<br />

interventions. J Am Coll Cardiol. 1999;34(4):1163-<br />

9.<br />

50. Brener SJ, Barr LA, Burchenal JE, Katz S, George<br />

BS, Jones AA, et al. Randomized, placebo-controlled<br />

trial of platelet glycoprotein IIb/IIIa blockade with<br />

primary angioplasty for acute myocardial infarction.<br />

ReoPro and Primary PTCA Organization and Randomized<br />

Trial (RAPPORT) Investigators. Circulation.<br />

1998;98(8):734-41.<br />

51. Neumann FJ, Kastrati A, Schmitt C, Blasini R, Hadamitzky<br />

M, Mehilli J, et al. Effect of glycoprotein<br />

IIb/IIIa receptor blockade with abciximab on clinical<br />

and angiographic restenosis rate after the placement<br />

of coronary stents following acute myocardial infarction.<br />

J Am Coll Cardiol. 2000;35(4):915-21.<br />

52. Stone GW, Grines CL, Cox DA, Garcia E, Tcheng<br />

JE, Griffin JJ, et al., and the Controlled Abciximab<br />

and Device Investigation to Lower Late Angioplasty<br />

Complications (CADILLAC) Investigators. Comparison<br />

of angioplasty with stenting, with or without abciximab,<br />

in acute myocardial infarction. N Engl J Med.<br />

2002;346(13):957-66.<br />

53. Montalescot G, Barragan P, Wittenberg O, Ecollan<br />

P, Elhadad S, Villain P, et al., and the ADMIRAL Investigators.<br />

Abciximab before direct angioplasty and<br />

stenting in myocardial infarction regarding acute and<br />

long-term follow-up. Platelet glycoprotein IIb/IIIa inhibition<br />

with coronary stenting for acute myocardial<br />

infarction. N Engl J Med. 2001;344(25):1895-903.<br />

54. Antoniucci D, Rodriguez A, Hempel A, Valenti R,<br />

Migliorini A, Vigo F, et al. A randomized trial comparing<br />

primary infarct artery stenting with or without<br />

abciximab in acute myocardial infarction. J Am Coll<br />

Cardiol. 2003;42(11):1879-85.<br />

55. De Queiroz Fernandes Araujo JO, Veloso HH, Braga<br />

de Paiva JM, Filho MW, Vincenzo De Paola AA.<br />

Efficacy and safety of abciximab on acute myocardial<br />

infarction treated with percutaneous coronary<br />

interventions: a meta-analysis of randomized, controlled<br />

trials. Am Heart J. 2004;148(6):937-43.<br />

56. Lincoff AM. Platelet Glycoprotein IIb/IIIa Inhibitors<br />

in Cardiovascular Disease. 2 nd ed. ISBN: 1-59259-<br />

376-3; 2003. p. 167-99.<br />

57. Kong DF, Hasselblad V, Harrington RA, White HD,<br />

Tcheng JE, Kandzari DE, et al. Meta-analysis of survival<br />

with platelet glycoprotein IIb/IIIa antagonists for<br />

percutaneous coronary interventions. Am J Cardiol.<br />

2003;92(6):651-5.<br />

58. Topol EJ, Mark DB, Lincoff AM, Cohen E, Burton J,<br />

Kleiman N, et al. Outcomes at 1 year and economic<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 381


SOARES PR<br />

Terapia adjunta<br />

farmacológica<br />

pré-intervenção:<br />

quando, qual e<br />

por que indicar?<br />

implications of platelet<br />

glycoprotein IIb/IIIa blockade<br />

in patients undergoing<br />

coronary stenting: results<br />

from a multicentre randomised<br />

trial. EPISTENT Investigators.<br />

Evaluation of<br />

Platelet IIb/IIIa Inhibitor for<br />

Stenting. Lancet. 1999;354<br />

(9195):2019-24. Erratum<br />

in: Lancet. 2000;355<br />

(9209):1104.<br />

59. Anderson KM, Califf RM, Stone GW, Neumann FJ,<br />

Montalescot G, Miller DP, et al. Long-term mortality<br />

benefit with abciximab in patients undergoing percutaneous<br />

coronary intervention. J Am Coll Cardiol.<br />

2001;37(8):2059-65.<br />

60. Marso SP, Lincoff AM, Ellis SG, Bhatt DL, Tanguay<br />

JF, Kleiman NS, et al. Optimizing the percutaneous<br />

interventional outcomes for patients with diabetes<br />

mellitus: results of the EPISTENT (Evaluation of Platelet<br />

IIb/IIIa Inhibitor for Stenting Trial) diabetic substudy.<br />

Circulation. 1999;100(25):2477-84.<br />

61. Ellis SG, Roubin GS, Wilentz J, Douglas JS Jr, King<br />

SB 3rd. Effect of 18- to 24-hour heparin administration<br />

for prevention of restenosis after uncomplicated<br />

coronary angioplasty. Am Heart J. 1989;117(4):<br />

777-82.<br />

62. Cohen M, Demers C, Gurfinkel EP, Turpie AG, Fromell<br />

GJ, Goodman S, et al. A comparison of lowmolecular-weight<br />

heparin with unfractionated heparin<br />

for unstable coronary artery disease. Efficacy and<br />

Safety of Subcutaneous Enoxaparin in Non-Q-Wave<br />

Coronary Events Study Group. N Engl J Med.<br />

1997;337(7):447-52.<br />

63. Antman <strong>EM</strong>, McCabe CH, Gurfinkel EP, Turpie AG,<br />

Bernink PJ, Salein D, et al. Enoxaparin prevents<br />

death and cardiac ischemic events in unstable angina/non-Q-wave<br />

myocardial infarction. Results of the<br />

Thrombolysis in Myocardial Infarction (TIMI) 11B trial.<br />

Circulation. 1999;100(15):1593-601.<br />

64. Antman <strong>EM</strong>, Cohen M, Radley D, McCabe C, Rush<br />

J, Premmereur J, et al. Assessment of the treatment<br />

effect of enoxaparin for unstable angina/non-Q-wave<br />

myocardial infarction. TIMI 11B-ESSENCE metaanalysis.<br />

Circulation. 1999;100(15):1602-8.<br />

65. Ferguson JJ, Califf RM, Antman <strong>EM</strong>, Cohen M, Grines<br />

CL, Goodman S, et al., and the SYNERGY Trial<br />

Investigators. Enoxaparin vs unfractionated heparin<br />

in high-risk patients with non-ST-segment elevation<br />

acute coronary syndromes managed with an intended<br />

early invasive strategy: primary results of the<br />

SYNERGY randomized trial. JAMA. 2004;7;292(1):<br />

45-54.<br />

66. Bittl JA, Strony J, Brinker JA, Ahmed WH, Meckel CR,<br />

Chaitman BR, Maraganore J, Deutsch E, Adelman B,<br />

et al. Treatment with bivalirudin (Hirulog) as compared<br />

with heparin during coronary angioplasty for unstable<br />

or postinfarction angina. Hirulog Angioplasty Study Investigators.<br />

N Engl J Med. 1995;333(12):764-9.<br />

67. Lincoff AM, Bittl JA, Harrington RA, Feit F, Kleiman<br />

NS, Jackman JD, et al., and the REPLACE-2 Investigators.<br />

Bivalirudin and provisional glycoprotein IIb/<br />

IIIa blockade compared with heparin and planned<br />

glycoprotein IIb/IIIa blockade during percutaneous<br />

coronary intervention: REPLACE-2 randomized trial.<br />

JAMA. 2003;289(7):853-63. Erratum in: JAMA.<br />

2003;289(13):1638.<br />

382 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


CENT<strong>EM</strong>ERO M e col.<br />

Manejo clínico pósprocedimento<br />

percutâneo<br />

MANEJO CLÍNICO PÓS-PROCEDIMENTO<br />

PERCUTÂNEO<br />

MARINELLA CENT<strong>EM</strong>ERO, AMANDA G. M. R. SOUSA<br />

Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia<br />

Endereço para correspondência: Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 – Ibirapuera –<br />

CEP 04012-180 – São Paulo – SP<br />

O manejo clínico pós-intervenção coronária percutânea envolve cuidados relativos<br />

a três fases: hospitalar, primeiros 12 meses e tardia. Em cada um deles, medidas<br />

gerais e específicas são necessárias para garantir os bons resultados da intervenção.<br />

O controle rigoroso dos fatores de risco, especialmente do diabetes melito,<br />

e a utilização de fármacos para a profilaxia secundária da doença são fundamentais<br />

no intuito de evitar a progressão da aterosclerose coronária, a ocorrência de eventos<br />

cardíacos maiores, assim como para reduzir os riscos da reestenose do vaso<br />

tratado nos primeiros 6 meses pós-revascularização. A recidiva da angina e suas<br />

causas potenciais guardam estreita relação com o tempo transcorrido desde o procedimento.<br />

Na primeira quinzena, o retorno abrupto de dor precordial em repouso e<br />

prolongada pode significar trombose subaguda do stent, que deve ser tratada imediatamente<br />

por meio de nova intervenção percutânea. Por outro lado, o surgimento de<br />

sintomas aos esforços nos primeiros 30 dias provavelmente relaciona-se à revascularização<br />

coronária incompleta, controlada pelo ajuste da medicação antiisquêmica.<br />

Ao redor do sexto mês, a recorrência de angina ou equivalente em geral associa-se<br />

à reestenose coronária, fenômeno que ocorre em 10% a 30% dos pacientes tratados<br />

com stents convencionais. Nesses casos, a abordagem terapêutica (farmacológica,<br />

nova intervenção percutânea ou cirurgia) dependerá da repercussão clínicofuncional,<br />

da gravidade da lesão e do padrão anatômico da obstrução. A progressão<br />

da doença ocorre freqüentemente após o primeiro ano, sendo diagnosticada pelo<br />

retorno dos sintomas anginosos, pelas alterações das provas funcionais ou pela<br />

ocorrência de morte e infarto.<br />

Palavras-chave: stent coronário, antiplaquetários, trombose subaguda, reestenose<br />

coronária, acompanhamento clínico.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:383-7)<br />

RSCESP (72594)-1557<br />

INTRODUÇÃO<br />

O tratamento da doença arterial coronária por meio<br />

das intervenções percutâneas experimentou crescimento<br />

formidável desde a introdução dessas técnicas há<br />

aproximadamente três décadas (1) . Atualmente, o emprego<br />

majoritário dos stents coronários e, mais recentemente,<br />

dos stents com liberação de fármacos com<br />

propriedades antiproliferativas permite sua aplicação<br />

em pacientes com perfil tanto clínico como angiográfico<br />

de alta complexidade, competindo com a cirurgia<br />

de revascularização miocárdica para o tratamento de<br />

um número crescente de portadores de aterosclerose<br />

(2, 3) . Em decorrência desse fato, torna-se fundamental<br />

o correto manejo clínico desses pacientes pós-procedimento,<br />

assegurando, dessa forma, os excelentes<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 383


CENT<strong>EM</strong>ERO M e col.<br />

Manejo clínico pósprocedimento<br />

percutâneo<br />

FASE PRECOCE<br />

resultados geralmente obtidos<br />

no laboratório de cateterismo<br />

cardíaco.<br />

Didaticamente podemos<br />

dividir o período pósrevascularização<br />

percutânea<br />

em três fases: precoce<br />

(hospitalar), intermediária<br />

(a partir da alta até o<br />

primeiro ano pós-intervenção)<br />

e tardia.<br />

melito (glicemia de jejum < 100 mg/dl ou hemoglobina<br />

glicosilada < 7%) e da dislipidemia (colesterol total <<br />

200 mg/dl e LDL < 100 mg/dl ou 70 mg/dl nos casos de<br />

risco elevado), abandono do tabagismo, incentivo à atividade<br />

física moderada (além de dieta hipocalórica, com<br />

baixos teores de gorduras), e controle do estresse.<br />

Ênfase especial deve ser dada à utilização de antiplaquetários,<br />

aspirina e tienopiridínicos, nas doses já mencionadas,<br />

por períodos que variam de 1 mês (stents<br />

não revestidos) a 3 ou 6 meses (stents com liberação<br />

(9, 10)<br />

de medicamentos).<br />

FASE INTERMEDIÁRIA<br />

Imediatamente após o procedimento, o paciente permanece<br />

em observação clínica hospitalar por cerca de<br />

24 horas, período no qual são realizadas eletrocardiografia<br />

e mensuração dos marcadores de lesão miocárdica.<br />

A terapêutica farmacológica prevê a utilização<br />

obrigatória de dois antiplaquetários, aspirina (200-325<br />

mg/dia) e um dos tienopiridínicos disponíveis (ticlopidina,<br />

500 mg/dia ou clopidogrel, 75 mg/dia), os quais já<br />

devem ter sido previamente utilizados no mínimo um<br />

dia pré-intervenção (4) .<br />

Outros fármacos empregados no tratamento da doença<br />

coronária e de seus fatores de risco incluem betabloqueadores,<br />

inibidores da enzima de conversão da<br />

angiotensina, estatinas, nitratos e antidiabéticos orais<br />

ou insulina, se necessário.<br />

Atenção especial também deve ser dada à função<br />

renal, pela possibilidade de desenvolvimento da nefropatia<br />

induzida pelo contraste, afecção cujo prognóstico<br />

é desfavorável e que pode acometer 5% a 50% dos<br />

pacientes, particularmente os idosos, os diabéticos e<br />

aqueles que já apresentam algum grau de comprometimento<br />

renal. Nesses casos, medidas preventivas como<br />

a hidratação endovenosa, com início 6 a 12 horas préintervenção<br />

e mantida por igual período após, associada<br />

ao emprego de medicamentos antioxidantes, como<br />

a N-acetilcisteína (600 mg a cada12 horas, 24 horas<br />

antes e mantida no dia do procedimento), e a utilização<br />

de contrastes de baixa osmolaridade, em quantidades<br />

reduzidas, têm demonstrado segurança e eficácia<br />

na prevenção desse problema. (5-7)<br />

Nos diabéticos que fazem uso da metformina sugere-se<br />

a descontinuação desse fármaco 1 a 2 dias prérevascularização,<br />

especialmente naqueles que apresentam<br />

disfunção renal, com o intuito de impedir o aparecimento<br />

da acidose lática, afecção rara porém letal<br />

em 50% dos casos (8) .<br />

No dia seguinte ao procedimento, após nova avaliação<br />

clínica e se a aferição dos marcadores de lesão<br />

miocárdica revelar-se normal, o paciente recebe alta.<br />

Nessa ocasião, as orientações dizem respeito ao controle<br />

dos fatores de risco, notadamente do diabetes<br />

Após a alta e nos primeiros 12 meses, o paciente<br />

retorna periodicamente em consultas ambulatoriais<br />

para avaliação de sua condição clínica (sintomas, nível<br />

de atividade física, etc.), realização de exames laboratoriais<br />

(controle dos fatores de risco) e provas funcionais<br />

detectoras de isquemia. Dentro do primeiro mês<br />

é recomendável a verificação do hemograma e da contagem<br />

de plaquetas, pois os tienopiridínicos podem,<br />

eventualmente, provocar distúrbios hematológicos (anemia,<br />

leucopenia, plaquetopenia e, raramente, púrpura<br />

trombocitopênica trombótica) no período compreendido<br />

entre a segunda e a quarta semanas de sua utilização<br />

(11) . Nos casos em que o emprego desses fármacos<br />

deva ser prolongado por 3 a 12 meses, sugerimos a<br />

monitoração desses exames a cada 3 meses.<br />

Nessa fase intermediária de acompanhamento é<br />

muito importante reiterar as recomendações a respeito<br />

da atividade física regular, da dieta, do controle rigoroso<br />

dos fatores de risco e do uso correto de medicações,<br />

que incluem: aspirina, betabloqueadores, inibidores<br />

da enzima de conversão, estatinas e antidiabéticos,<br />

fundamentais para a prevenção da progressão da<br />

doença e da ocorrência de eventos maiores, além de<br />

reduzir a possibilidade da reestenose do vaso.<br />

A recidiva dos sintomas no primeiro ano pós-procedimento<br />

pode ocorrer precocemente ou não e em geral<br />

está relacionada a condições específicas. A recorrência<br />

súbita de dor típica, nos primeiros 10 dias (geralmente<br />

entre o terceiro e o quinto dias), em repouso,<br />

prolongada, acompanhada de alterações agudas do<br />

eletrocardiograma (supra ou infradesnivelamento do<br />

ST), leva ao diagnóstico de trombose subaguda do<br />

stent, afecção rara, que ocorre em 0,5% a 1,0% dos<br />

casos, porém com graves conseqüências clínicas (12) .<br />

Seu tratamento deve ser imediato, por meio de nova<br />

intervenção percutânea, freqüentemente associada à<br />

utilização dos inibidores das glicoproteínas IIb/IIIa por<br />

via endovenosa. Raramente a cirurgia de emergência<br />

é necessária, estando suas indicações restritas aos<br />

casos de trombose refratária em vasos que envolvam<br />

grandes áreas de miocárdio em risco (13) .<br />

384 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


CENT<strong>EM</strong>ERO M e col.<br />

Manejo clínico pósprocedimento<br />

percutâneo<br />

Ainda no primeiro mês<br />

pós-intervenção, a recorrência<br />

de angina de esforço,<br />

quando o paciente retorna<br />

a suas atividades<br />

habituais, tem como origem<br />

a revascularização<br />

incompleta do leito coronário.<br />

Seu tratamento consiste<br />

na realização de<br />

nova revascularização, se<br />

possível, ou no ajuste da<br />

medicação antiisquêmica caso a anatomia coronária<br />

seja desfavorável ou as condições clínicas do paciente<br />

não o permitam.<br />

Após o primeiro mês, o retorno dos sintomas em geral<br />

relaciona-se à reestenose do vaso, que afeta 10% a 30%<br />

dos pacientes tratados com stents não revestidos e menos<br />

de 10% daqueles submetidos ao implante de stents<br />

com liberação de medicamentos, expondo-os novamente<br />

à isquemia e à necessidade de novos procedimentos<br />

de revascularização (14) . Sua manifestação clínica ocorre<br />

principalmente ao redor do sexto mês pós-revascularização,<br />

na forma de angina estável ou instável, sendo raros<br />

o infarto do miocárdio e a morte súbita (< 1%). Seu tratamento<br />

deve considerar três aspectos principais: a repercussão<br />

clínico-funcional, a gravidade da lesão e o padrão<br />

angiográfico da reobstrução. (15-17)<br />

Por sua vez, as estratégias de abordagem envolvem<br />

tratamento clínico, nova intervenção percutânea e<br />

revascularização cirúrgica. O tratamento clínico exclusivo<br />

é realizado em pacientes que não apresentam angina<br />

ou são pouco sintomáticos em suas atividades habituais<br />

e cujas provas funcionais demonstram nenhuma<br />

ou pequena área de isquemia miocárdica. Também<br />

sugerimos essa abordagem quando a angiografia determinada<br />

por protocolos de pesquisa detecta reobstruções<br />

moderadas (lesões entre 50% e 70%) na ausência<br />

de sintomas e/ou provas isquêmicas. Por fim,<br />

tal conduta deve ser encorajada quando o padrão angiográfico<br />

da reestenose é desfavorável (proliferativo<br />

ou oclusão) e o vaso acometido supre área de pequena<br />

ou moderada extensão, particularmente na presença<br />

de circulação colateral para esse território. (18)<br />

Nova intervenção percutânea está indicada na presença<br />

de sintomas limitantes associados a uma prova<br />

funcional claramente isquêmica ou à presença de lesão<br />

severa na angiografia (> 70%), desde que esta seja tecnicamente<br />

abordável. Tal conduta pressupõe que os resultados<br />

imediatos e a médio prazo sejam razoáveis, com<br />

sucesso elevado (> 90%) e baixa recorrência do fenômeno.<br />

Excetuando-se a reestenose do tipo focal, que apresenta<br />

bons resultados imediatos e tardios com a aplicação<br />

da angioplastia com o balão, os padrões mais complexos<br />

de reobstrução requerem outra abordagem percutânea<br />

(19) . Inicialmente, a braquiterapia (tratamento baseado<br />

na irradiação coronária utilizando raios gama ou<br />

beta) foi aplicada com sucesso nesses casos; entretanto,<br />

alguns problemas relacionados a essa técnica foram verificados<br />

(trombose tardia do vaso e reestenose nas bordas<br />

do stent) e ela foi progressivamente sendo abandonada<br />

(20, 21) . Atualmente, o implante de stents com liberação<br />

de fármacos antiproliferativos (sirolimus e paclitaxel)<br />

parece ser a melhor alternativa para o tratamento da reestenose<br />

recorrente, visto que alguns estudos demonstram<br />

excelentes resultados imediatos e tardios (sucesso<br />

> 95% e recorrência < 20%), que devem ser confirmados<br />

(22, 23)<br />

por ensaios clínicos em andamento.<br />

A revascularização cirúrgica para o tratamento da<br />

reestenose é aplicada nos casos de alta complexidade<br />

tanto clínica como angiográfica, como descrito a seguir:<br />

a) pacientes multiarterias, diabéticos ou não, que<br />

apresentam reestenose em mais de um vaso, com padrão<br />

anatômico desfavorável (difuso, proliferativo ou<br />

oclusão), particularmente se associada a disfunção<br />

ventricular esquerda; b) reestenose associada à progressão<br />

da doença coronária, envolvendo grandes áreas<br />

de miocárdio viável; c) reestenose e presença de<br />

afecções valvares com indicação cirúrgica; d) múltiplos<br />

episódios de reestenose, em curto período de tempo<br />

(< 4 meses), envolvendo artérias de grande calibre<br />

(> 3 mm) e que suprem áreas de moderada a grande<br />

extensão; e) associação entre reestenose do vaso-alvo<br />

e lesão > 50% em tronco de coronária esquerda. (14)<br />

FASE TARDIA<br />

Após o primeiro ano da intervenção percutânea, o retorno<br />

da angina, a presença de isquemia nas provas funcionais<br />

ou a ocorrência de morte e infarto estão relacionados<br />

à progressão da aterosclerose coronária, o que<br />

reforça a idéia do controle vigoroso dos fatores de risco e<br />

a utilização de medicamentos para a profilaxia secundária<br />

da doença. A realização de provas funcionais nesse<br />

período tem por objetivo investigar o retorno de sintomas<br />

típicos ou equivalentes, especialmente naqueles indivíduos<br />

com maior propensão ao desenvolvimento de eventos<br />

adversos maiores: diabéticos, multiarteriais, portadores<br />

de disfunção ventricular e aqueles com controle inadequado<br />

dos fatores predisponentes (tabagismo e dislipidemia)<br />

(24) . A realização da cinecoronariografia pode ser<br />

necessária se os sintomas e/ou as alterações dos testes<br />

não-invasivos (ergometria, cintilografia miocárdica ou ecocardiografia<br />

de estresse) indicarem presença de isquemia<br />

e, portanto, a reincidência da doença em outros territórios<br />

do leito arterial coronário. (24)<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 385


CENT<strong>EM</strong>ERO M e col.<br />

Manejo clínico pósprocedimento<br />

percutâneo<br />

CLINICAL MANAG<strong>EM</strong>ENT AFTER PERCUTANEOUS<br />

CORONARY INTERVENTION<br />

MARINELLA CENT<strong>EM</strong>ERO, AMANDA G. M. R. SOUSA<br />

The clinical management following percutaneous coronary intervention involves<br />

three different periods: in-hospital, mid-term (12 initial months) and late period. In<br />

each of them there is the need of general and particular measures in order to guarantee<br />

the maintenance of results obtained in the interventional lab. The strict control<br />

of the risk factors, particularly the diabetes, and the use of drugs to promote<br />

secondary prophylaxis of coronary artery disease are necessary to prevent the progression<br />

of the disease, major adverse cardiac events, and to limit target vessel<br />

failure in the 6 months following treatment. Angina recurrence and its potential causes<br />

keep close relation to the time frame from the intervention. In the first week the<br />

sudden onset of recurrent, prolonged chest pain at rest is often associated to stent<br />

thrombosis, which can usually be treated by a repeated intervention. On the other<br />

hand the presence of symptoms within the initial 30 days is probably related to incomplete<br />

coronary revascularization that can be addressed by medication adjustment.<br />

Around the sixth month angina return or the presence of anginal equivalent, is<br />

usually a manifestation of coronary restenosis that may affect 10% to 30% of the<br />

patients treated with bare metal stents. In such cases the treatment of choice (medical,<br />

repeated intervention, or surgery) will depend on the functional repercussion,<br />

on the severity of the lesion and on the anatomical appearance of the stenosis.<br />

Progression of disease is usually underlying the return of symptoms after the first<br />

year and may also be diagnosed by ischemia detecting tests or, more seldom, by the<br />

incidence of myocardial infarction or cardiac death.<br />

Key words: stent, antiplatelet agents, subacute thrombosis, restenosis, clinical follow-up.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:383-7)<br />

RSCESP (72594)-1557<br />

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386 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


vention of acute deterioration<br />

of renal function following<br />

elective coronary angiography<br />

and interventi-<br />

CENT<strong>EM</strong>ERO M e col.<br />

Manejo clínico pósprocedimento<br />

percutâneo JAMA. 2003;289:553-8.<br />

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the first clinical experience. J Am Coll Cardiol.<br />

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Cardiac Radionuclide Imaging — Executive Summary:<br />

A Report of the American College of Cardiology/<br />

American Heart Association Task Force on Practice<br />

Guidelines (ACC/AHA/ASNC Committee to Revise the<br />

1995 Guidelines for the clinical Use of Cardiac Radionuclide<br />

Imaging). Circulation. 2003;108:1404-18.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 387


ABIZAID AS e col.<br />

Ultra-som<br />

intracoronário:<br />

por que e quando<br />

indicar?<br />

ULTRA-SOM INTRACORONÁRIO: POR QUE E<br />

QUANDO INDICAR?<br />

ANDREA SOUSA ABIZAID, ALEXANDRE ABIZAID<br />

Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia<br />

Endereço para correspondência: Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 – Ibirapuera –<br />

CEP 04012-909 – São Paulo – SP<br />

O ultra-som intracoronário é uma modalidade invasiva, que tem por base a aquisição<br />

de imagens tomográficas a partir do interior da artéria coronária.<br />

É um método capaz de prover avaliações tomográficas bidimensionais das coronárias<br />

“in vivo” e em tempo real. Permite identificar os componentes das placas<br />

ateromatosas e da parede vascular, além de mensurar com alta precisão a luz arterial,<br />

promovendo informações anatômicas mais precisas quando comparado à angiografia.<br />

Dois sistemas são disponíveis para o registro das imagens: o primeiro deles é o<br />

eletrônico e o segundo é o mecânico. Ambos os sistemas geram imagens transeccionais<br />

a 360 graus, perpendiculares ao transdutor que se localiza na extremidade do<br />

cateter.<br />

O equipamento utilizado para se obter as imagens intracoronárias consta basicamente<br />

de um monitor, um teclado de comando, uma impressora e um vídeo de alta<br />

resolução.<br />

As principais indicações do uso do ultra-som intracoronário são: a) avaliação das<br />

lesões coronárias moderadas; b) avaliação das lesões duvidosas no tronco da coronária<br />

esquerda; c) detecção de placas instáveis; e d) método-guia no implante dos<br />

stents coronários (convencionais e/ou liberadores de medicamentos).<br />

Palavras-chave: ultra-som intracoronário, angioplastia coronária, stents coronários,<br />

doença arteria coronária.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:388-95)<br />

RSCESP (72594)-1558<br />

POR QUE INDICAR? DEFINIÇÃO E PRINCÍPIOS<br />

O ultra-som intracoronário é uma modalidade invasiva,<br />

que tem por base a aquisição de imagens tomográficas<br />

a partir do interior da artéria coronária, utilizando-se<br />

um cateter que tem incorporado na sua extremidade<br />

um único transdutor.<br />

É um método capaz de prover avaliações tomográficas<br />

bidimensionais das coronárias “in vivo”, permitindo<br />

identificar os componentes das placas ateromatosas<br />

e da parede vascular, além de mensurar com alta<br />

precisão a luz arterial (1-3) . Adicionalmente, o ultra-som<br />

intracoronário elimina as limitações observadas com o<br />

uso da angiografia. Possibilita a avaliação correta da<br />

área de secção transversal em todos os segmentos do<br />

vaso estudado, permitindo a identificação de placas de<br />

ateroma em diferentes estágios de sua evolução, além<br />

de tornar factível a identificação dos diversos componentes<br />

da placa.<br />

Dois sistemas são disponíveis para o registro das<br />

imagens: o primeiro deles é o eletrônico, no qual o ultra-som<br />

é produzido no console principal e transmitido<br />

para o interior das coronárias por meio de fibras ópticas.<br />

O segundo é o mecânico, no qual o ultra-som é<br />

388 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ABIZAID AS e col.<br />

Ultra-som<br />

intracoronário:<br />

por que e quando<br />

indicar?<br />

QUANDO INDICAR?<br />

gerado na extremidade do<br />

cateter, que é posicionado<br />

no interior dos vasos a serem<br />

estudados (4) .<br />

O equipamento utilizado<br />

para se obter as imagens<br />

intracoronárias consta<br />

basicamente de um<br />

monitor, um teclado de<br />

comando, uma impressora<br />

e um vídeo de alta resolução.<br />

Avaliação das lesões coronárias moderadas<br />

Alguns estudos foram idealizados na tentativa de<br />

se estabelecer critérios ultra-sonográficos que diferenciassem<br />

as lesões do ponto de vista prognóstico, somente<br />

em pacientes com obstruções moderadas à angiografia<br />

coronária (5-7) .<br />

Abizaid e colaboradores estudaram retrospectivamente<br />

300 pacientes com lesões angiograficamente<br />

moderadas, nos quais a intervenção não fora realizada,<br />

decisão esta baseada em critérios ultra-sonográficos<br />

(7) . Em um ano de acompanhamento clínico, ocorreram<br />

8% de eventos cardíacos maiores combinados. O<br />

único fator com valor prognóstico independente para<br />

eventos cardíacos, no seguimento tardio, foi a gravidade<br />

da estenose obtida pelo ultra-som, avaliada pela área<br />

mínima da luz (Fig. 1).<br />

Posteriormente, em uma investigação prospectiva,<br />

que avaliou 176 pacientes com estenoses coronárias<br />

angiograficamente moderadas, achou-se que, de acordo<br />

com o critério ultra-sonográfico de área mínima da<br />

luz, 43% desses pacientes apresentaram lesões não<br />

importantes e foram mantidos em acompanhamento clínico<br />

(área mínima da luz > 4,0 mm 2 ) e em 57% as lesões<br />

foram consideradas graves e tratadas por intervenção<br />

percutânea (área mínima da luz < 4,0 mm 2 ) (8) .<br />

O impacto clínico da tomada de decisão baseada nesse<br />

critério ultra-sonográfico foi muito favorável, verificando-se<br />

taxa global de 11% de eventos clínicos maiores<br />

em cerca de dois anos de evolução.<br />

Avaliação de lesões duvidosas no tronco da<br />

coronária esquerda<br />

Três fatores anatômicos comprometem a avaliação<br />

angiográfica do tronco da coronária esquerda:<br />

– a dificuldade de visualizar de maneira precisa o tronco<br />

da coronária esquerda por opacificação da cúspide<br />

aórtica;<br />

– a pequena extensão do tronco da coronária esquerda;<br />

– a presença de bifurcação ou trifurcação pode ocultar<br />

a parte distal do tronco da coronária esquerda.<br />

Não existe consenso na literatura com relação a parâmetros<br />

ultra-sonográficos para se intervir ou não em<br />

lesões duvidosas localizadas no tronco da coronária<br />

esquerda. A porcentagem de estenose > 50% (comparado<br />

com a área do lúmen de referência), o diâmetro<br />

mínimo da luz < 3 mm e/ou a área mínima absoluta da<br />

luz arterial < 6 mm 2 têm sido considerados critérios<br />

satisfatórios para indicação de intervenção cirúrgica ou<br />

percutânea (9, 10) .<br />

Detecção de placas instáveis<br />

Uma aplicação potencial do ultra-som intracoronário<br />

tem sido a identificação do ateroma com risco de<br />

rotura (11-15) . A histologia das placas instáveis usualmente<br />

revela ateroma rico em lipídios com capa fibrótica fina (16, 17) . O<br />

ultra-som também tem demonstrado a associação das<br />

placas ecoluscentes, ricas em lipídios, geralmente com<br />

a presença de lagos lipídicos e capa fibrótica delgada<br />

com síndromes coronarianas agudas (18-22) . Recentemente,<br />

outro dado ultra-sonográfico tem sido associado às<br />

síndromes instáveis, que é a presença do remodelamento<br />

arterial positivo (23-25) . Além disso, trombos intraluminais,<br />

fissuras ou rotura na placa são considerados<br />

marcadores da síndrome coronariana aguda (26-30) .<br />

Ultra-som como método-guia para implante de stent<br />

Stents não-recobertos<br />

O emprego do ultra-som intracoronário para monitorar<br />

o perfeito implante dos stents não é feito de maneira<br />

rotineira.<br />

Foram, assim, idealizados quatro estudos multicêntricos<br />

comparando o ultra-som à angiografia coronária<br />

quantitativa, com o objetivo de definir o método-guia<br />

superior para a obtenção do implante ótimo do stent.<br />

Esses estudos confirmaram o conceito de que quanto<br />

maior a área luminal final intra-stent menores os índices<br />

de reestenose (Fig. 2) (31) . Entretanto, os resultados<br />

finais não mostraram diferença significativa no que diz<br />

respeito à reestenose entre o grupo guiado pelo ultrasom<br />

e o guiado pela angiografia (32) (Tab. 1).<br />

Os critérios para decisão da qualidade do implante<br />

ótimo são os seguintes:<br />

– Aposição completa das hastes do stent: trata-se de<br />

um critério visual, segundo o qual todas as hastes<br />

do stent devem estar apostas à placa ou à parede<br />

do vaso, ou seja, não deve haver espaços entre<br />

quaisquer hastes e o limite interno da parede vascular<br />

ou a placa aterosclerótica.<br />

– Expansão ótima do stent: trata-se de critério quantitativo,<br />

segundo o qual a área mínima da luz intrastent<br />

deve atingir pelo menos 80% da média das<br />

áreas das luzes das referências proximal e distal do<br />

vaso-alvo ou a área mínima da luz intra-stent deve<br />

ser maior ou igual a 7,5 mm 2 (Fig. 3).<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 389


ABIZAID AS e col.<br />

Ultra-som<br />

intracoronário:<br />

por que e quando<br />

indicar?<br />

Stents farmacológicos<br />

Os stents farmacológicos<br />

reduziram de maneira<br />

dramática os índices<br />

de reestenose angiográfica<br />

e a necessidade de<br />

revascularização da lesão-alvo<br />

em pacientes<br />

selecionados (33-35) .<br />

A Figura 4 sumariza os<br />

índices de porcentual de hiperplasia neointimal entre<br />

os estudos que englobam os stents recobertos com<br />

sirolimus e derivados, os stents recobertos com paclitaxel<br />

e os stents não-recobertos.<br />

1. Expansão ótima dos stents farmacológicos<br />

No implante dos stents farmacológicos deve-se, a<br />

exemplo dos stents não-recobertos, buscar um resultado<br />

ótimo ao final do procedimento. Entretanto, o critério<br />

quantitativo de área mínima da luz intra-stent tornou-se<br />

um pouco menos rígido (área mínima da luz<br />

Figura 1. Em uma casuística de 300 pacientes com lesões intermediárias, seguidas por um ano, verificamos o<br />

que se observa nos gráficos acima. Em A, nota-se que a ocorrência de eventos cardíacos adversos (morte,<br />

infarto do miocárdio [IM] e necessidade de revascularização da lesão-alvo [RLA]) diminui à medida que a área<br />

mínima da luz avaliada pelo ultra-som aumentou. Em B, a decisão por revascularização da lesão-alvo [RLA] diminuiu<br />

com o aumento da área mínima da luz. Há uma nítida linha de corte entre valores maiores e menores que 4,0<br />

mm 2 , tanto para os eventos combinados como para a revascularização da lesão-alvo. n = número de pacientes.<br />

Figura 2. Incidência de revascularização da lesão-alvo em um ano, de acordo com a área mínima da luz intrastent<br />

(AML) ao final do procedimento em pacientes com e sem diabetes. n = número de pacientes; L = lesões.<br />

390 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ABIZAID AS e col.<br />

Ultra-som<br />

intracoronário:<br />

por que e quando<br />

indicar?<br />

Tabela 1. Sumário dos resultados observados nos estudos randomizados, que compararam<br />

o ultra-som e a angiografia coronária quantitativa como guia para o implante<br />

do stent coronário.<br />

Ultra-som intracoronário/Angiografia coronária quantitativa<br />

Estudo Ano Pacientes CINE Reestenose Nova RVA<br />

tardia<br />

RESIST 1998 79/76 Sim 22,5%/28,8% NR<br />

AVID 2000 394/406 Não — 8,4%/12,4 +<br />

SIPS 2000 121/148 Sim 29%/35% 17%/29%*<br />

CRUISE 2000 290/253 Não — 8,5%/15,3%*<br />

OPTICUS 2001 273/275 Sim 24,5%/22,8% 24%/23%<br />

+<br />

p = 0,08; * p < 0,05.<br />

CINE = cinecoronariografia; RVA = revascularização do vaso-alvo;<br />

NR = não reportado.<br />

RESIST = “Restenosis after IVUS-guided Stenting Trial”; AVID = “Angiography versus<br />

Intravascular Ultrasound-directed Stent Placement”; SIPS = “Strategy for ICUS-<br />

Guided PTCA and Stenting trial”; CRUISE = “Can Routine Ultrasound Influence Stent<br />

Expansion study”; OPTICUS = “Optimal Coronary Ultrasound trial”.<br />

intra-stent > 5,0 mm 2 ) ao final do procedimento. Isso se<br />

deve à marcante inibição da hiperplasia neointimal que<br />

esses stents oferecem no seguimento tardio.<br />

2. O problema do “efeito de bordas”<br />

No implante dos stents farmacológicos deve-se tomar<br />

cuidado na prevenção do chamado efeito de bordas.<br />

No estudo SIRIUS, o aumento dos índices de reestenose<br />

angiográfica de 3% (análise da lesão) para<br />

9% (análise do segmento) demonstra claramente o problema<br />

do efeito de bordas nesses pacientes, ocasionado<br />

provavelmente pela inclusão de pacientes mais<br />

complexos e por problemas relacionados à técnica dos<br />

procedimentos (35) .<br />

3. Vantagens da utilização do ultra-som intracoronário<br />

na era dos stents farmacológicos<br />

a. Pré-intervenção:<br />

– avaliação precisa da extensão da lesão;<br />

– avaliação precisa do tamanho do vaso;<br />

– melhor avaliação para implante do stent direto.<br />

b. Pós-intervenção:<br />

– avaliação precisa da aposição das hastes do stent;<br />

– evitar “gaps” (implante de > 2 stents);<br />

Área da luz da referência<br />

proximal = 8,5 mm 2<br />

Área mínima da luz<br />

intra-stent = 7,6 mm 2<br />

Área da luz da referência<br />

distal = 7,9 mm 2<br />

Figura 3. Exemplo de expansão adequada. A área mínima da luz intra-stent (AML) (B) atingiu mais de 80%<br />

(92%) da média aritmética das áreas de referência proximal (A) e distal (C) do vaso-alvo. Neste caso, o segundo<br />

critério ultra-sonográfico de expansão ótima também se verifica: AML > 7,5 mm 2 (valor encontrado: 7,9 mm 2 ).<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 391


ABIZAID AS e col.<br />

Ultra-som<br />

intracoronário:<br />

por que e quando<br />

indicar?<br />

– possibilidade de cobrir<br />

toda a extensão da lesão.<br />

4. Três cuidados fundamentais<br />

no implante dos<br />

stents farmacológicos<br />

– cobrir todo o segmento<br />

doente (evitar “spot stent”);<br />

– quando da necessidade de > 2 stents, nunca<br />

deixe “gaps” entre eles (faça sempre o “overlap”);<br />

– cuidado na pós-dilatação (o balão escolhido deve<br />

ser sempre menor que o stent).<br />

Figura 4. Comparação do porcentual (%) de hiperplasia neointimal medido por meio do ultra-som intracoronário<br />

entre os diversos stents recobertos (série Limus e Taxol) e os stents não-recobertos.<br />

392 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ABIZAID AS e col.<br />

Ultra-som<br />

intracoronário:<br />

por que e quando<br />

indicar?<br />

INTRAVASCULAR ULTRASOUND:<br />

WHY AND WHEN TO DO?<br />

ANDREA SOUSA ABIZAID, ALEXANDRE ABIZAID<br />

Intravascular ultrasound is an invasive modality that has the principle to acquire<br />

tomographic images from the interior of the coronary arteries.<br />

Intravascular ultrasound imaging provides, for the first time, a clinical method to<br />

directly visualize atherosclerosis and other pathology within the vessel wall of blood<br />

vessels, providing more precise anatomic information than angiography.<br />

Two systems are available for intravascular ultrasound images acquisition: the<br />

electronic system and the mechanical technology. Both types of system generate a<br />

360 degree, cross-sectional image plane which is perpendicular to the catheter tip.<br />

The equipment used to obtain the intravascular ultrasound intracoronary images<br />

is composed basically by a monitor, one board, a printer and a high-resolution video.<br />

The main indication for the use of intravascular ultrasound are: a) to evaluate<br />

intermediate lesions; b) to evaluate ambiguous coronary lesions at the left main<br />

coronary artery; c) to detect unstable lesions; and d) to monitor stent coronary implantation<br />

(bare metal and/or drug-eluting stents).<br />

Key words: intracoronary ultrasound, coronary angioplasty, coronary stents, coronary<br />

artery disease.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:388-95)<br />

RSCESP (72594)-1558<br />

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transluminal coronary angioplasty was not<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 393


ABIZAID AS e col.<br />

Ultra-som<br />

intracoronário:<br />

por que e quando<br />

indicar?<br />

performed based on intravascular<br />

ultrasound findings:<br />

importance of lumen<br />

dimensions. Circulation.<br />

1999;100:245-61.<br />

8. Abizaid AS. Impacto clínico<br />

tardio da aplicação de<br />

critérios ultra-sonográficos<br />

na tomada de decisão<br />

para o tratamento das lesões<br />

coronárias moderadas.<br />

São Paulo. [Tese de<br />

Doutorado] Faculdade de Medicina de São Paulo,<br />

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7.<br />

14. Kragel AH, Reddy SG, Witters AT, Roberts WC.<br />

Morphometric analysis of the composition of atherosclerotic<br />

plaques in the four epicardial coronary<br />

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impacto na reestenose clínica. São Paulo. [Tese<br />

de Doutorado] Faculdade Paulista de Medicina,<br />

2000.<br />

394 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ABIZAID AS e col.<br />

Ultra-som<br />

intracoronário:<br />

por que e quando<br />

indicar?<br />

31. Mudra H, Macaya C,<br />

Zahn R, et al. Interim analysis<br />

of the Optimization with<br />

IVUS to Reduce Stent Restenosis<br />

(OPTICUS) Trial.<br />

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Sustained suppression of<br />

neointimal proliferation by<br />

sirolimus-eluting stens.<br />

One-year angiographic and intravascular ultrasound<br />

follow-up. Circulation. 2001;104:2007-11.<br />

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intravascular ultrasound follow-up after implantation<br />

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native coronary artery stenoses. N Engl J Med.<br />

2003;349(14):1315-23.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 395


PERIN MA e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

das lesões de<br />

bifurcação coronária<br />

INTERVENÇÃO PERCUTÂNEA DAS LESÕES<br />

DE BIFURCAÇÃO CORONÁRIA<br />

MARCO ANTÔNIO PERIN, BRENO OLIVEIRA ALMEIDA,<br />

FÁBIO SÂNDOLI DE BRITO JR.<br />

Setor de Hemodinâmica – Hospital Israelita Albert Einstein<br />

Endereço para correspondência: Av. Albert Einstein, 653 – 4º andar –<br />

Morumbi – CEP 05651-901 – São Paulo – SP<br />

As lesões em bifurcação representam um grande desafio no tratamento percutâneo<br />

da insuficiência coronária. Os resultados imediatos e a médio prazo obtidos<br />

com a angioplastia convencional por balão mostraram-se desapontadores. O desenvolvimento<br />

de novos dispositivos, como aterectomia e stents, cateteres-guia, balões<br />

de baixo perfil e cordas-guia, e a associação de tienopiridínicos-aspirina trouxeram<br />

gradativa e substancial melhora nos resultados clínicos e angiográficos desses procedimentos.<br />

O implante de stents em bifurcação tornou-se o procedimento de escolha,<br />

com resultados seguros e previsíveis na maioria dos casos, embora a taxa de<br />

reestenose persistisse elevada. Os stents eluidores de medicamentos proporcionaram<br />

à cardiologia intervencionista a possibilidade de oferecer, em todos os subgrupos<br />

de pacientes com lesões obstrutivas coronarianas, substancial melhora do seguimento<br />

clínico, por redução da necessidade de nova revascularização da lesão<br />

tratada. Essa evolução propiciou o desenvolvimento de novas técnicas para tratamento<br />

das lesões que envolvem bifurcação, assim como abriu perspectiva de utilização<br />

de próteses estritamente dedicadas a esse segmento, que, em última análise,<br />

podem significar a resposta final a esse problema.<br />

Palavras-chave: coronariopatia, angioplastia transluminal percutânea coronária,<br />

reestenose coronária.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:396-405)<br />

RSCESP (72594)-1559<br />

INTRODUÇÃO<br />

Nos últimos 25 anos, a despeito do grande avanço<br />

tecnológico dos equipamentos e dispositivos utilizados<br />

na cardiologia intervencionista e da grande experiência<br />

acumulada dos operadores, as lesões em bifurcação<br />

⎯ associadas a dificuldades de abordagem e técnicas<br />

⎯ ainda representam um grande desafio no tratamento<br />

percutâneo da insuficiência coronária. Até<br />

meados da década de 80, as lesões em bifurcação representavam<br />

contra-indicação à intervenção coronária<br />

percutânea, pelo elevado risco de complicações isquêmicas<br />

agudas e pelas altas taxas de reestenose. Os<br />

resultados imediatos e a médio prazo obtidos com a<br />

angioplastia por balão, mesmo após o refinamento técnico<br />

alcançado com a estratégia de “kissing balloon”<br />

(insuflação simultânea de dois balões nos ramos principal<br />

e lateral, respectivamente), mostraram-se desapontadores.<br />

Naquele cenário, os casos, em sua maioria,<br />

eram encaminhados primariamente para o tratamento<br />

cirúrgico de revascularização do miocárdio. No<br />

início dos anos 90, postulou-se que o emprego das técnicas<br />

ateroablativas (aterectomias rotacional e direcional)<br />

melhoraria notadamente o tratamento desse<br />

subgrupo de lesões. Todavia, os resultados angiográficos<br />

e a evolução clínica não se mostraram consisten-<br />

396 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PERIN MA e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

das lesões de<br />

bifurcação coronária<br />

tes e encorajadores.<br />

Nos últimos anos, por<br />

fim, o desenvolvimento de<br />

novos cateteres-guia, balões<br />

de baixo perfil, cordas-guia<br />

e novas gerações<br />

de stents e a associação<br />

de tienopiridínicosaspirina<br />

trouxeram gradativa<br />

e substancial melhora<br />

nos resultados clínicos e<br />

angiográficos desses procedimentos.<br />

Em última análise, o implante de stent em<br />

bifurcação, apesar de eventuais dificuldades no acesso<br />

ao ramo lateral após sua liberação, tornou-se o procedimento<br />

de escolha, com resultados seguros e previsíveis<br />

na maioria dos casos.<br />

As bifurcações arteriais são localizações anatômicas<br />

particularmente mais predispostas à aterosclerose,<br />

conseqüente à presença de fluxo turbulento e variações<br />

na força de cisalhamento (“shear stress”). Estima-se<br />

que em cerca de 20% das intervenções coronárias<br />

percutâneas haja envolvimento de ramos laterais<br />

com graus variados de acometimento, sendo de 4%<br />

a16% os casos de bifurcações verdadeiras. Essa incidência,<br />

apesar de relativamente alta, está subestimada<br />

por várias razões, entre as quais a presença de lesões<br />

em bifurcação “falsa” ou “não verdadeira” (lesão<br />

no ramo principal sem lesão significativa no ramo lateral),<br />

que se tornam bifurcação “verdadeira”, na maioria<br />

dos casos, após o implante de stent no ramo principal<br />

em decorrência do efeito de redistribuição longitudinal<br />

da placa.<br />

Essa variabilidade anatômica de lesões em bifurcação<br />

exige do cardiologista intervencionista o domínio<br />

das diferentes técnicas disponíveis para sua abordagem,<br />

assim como o conhecimento de seus resultados<br />

e a escolha mais apropriada dos dispositivos para cada<br />

caso.<br />

CLASSIFICAÇÃO<br />

As lesões em bifurcação podem ser classificadas<br />

de acordo com o ângulo observado entre os dois ramos<br />

envolvidos (forma) ou de acordo com a localização<br />

e a distribuição da placa aterosclerótica.<br />

Quanto à forma<br />

Bifurcação em “Y”<br />

O ângulo entre os ramos é inferior a 70 graus. Em<br />

geral, o acesso ao ramo lateral é fácil, porém observase<br />

maior deslocamento de placa para o ramo lateral<br />

(efeito “snow-plough”, que consiste no deslocamento<br />

ou na redistribuição longitudinal da placa ateromatosa<br />

após insuflação do balão ou implante do stent no ramo<br />

principal).<br />

Bifurcação em “T”<br />

O ângulo entre os ramos se aproxima de 90 graus,<br />

o que torna o acesso ao ramo lateral mais difícil; por<br />

outro lado, o efeito de redistribuição de placa é menos<br />

relevante.<br />

Quanto à localização das placas ateroscleróticas<br />

Diversas classificações foram propostas, sendo uma<br />

das mais utilizadas a do “Institut Cardiovasculaire Paris<br />

Sud” (Fig. 1), que divide as bifurcações em quatro<br />

categorias (1) , descritas a seguir.<br />

Tipo 1<br />

Esse tipo é denominado “bifurcação verdadeira”. A<br />

placa ateromatosa compromete as porções proximal e<br />

distal do ramo principal e o óstio do ramo lateral na<br />

altura da bifurcação.<br />

Tipo 2<br />

A lesão envolve o ramo principal no ponto da bifurcação,<br />

sem comprometer o óstio do ramo lateral. O fenômeno<br />

de “snow plough” é freqüente nessas lesões.<br />

Tipo 3<br />

A estenose no vaso principal localiza-se proximal à<br />

bifurcação; o óstio do ramo lateral está preservado.<br />

Tipo 4<br />

A estenose compromete apenas a porção distal da<br />

bifurcação; subdivide-se em 4a, quando há apenas lesão<br />

no vaso principal, e 4b, quando há lesão ostial isolada<br />

do ramo lateral.<br />

TÉCNICA E RESULTADOS<br />

No tratamento das lesões em bifurcação, as principais<br />

limitações técnicas, em maior ou menor grau, são:<br />

1. O uso de dois fios-guia – a presença de dois fiosguia<br />

exige atenção redobrada do operador e do auxiliar<br />

na relação entre os fios-guia, os ramos principal e<br />

lateral, e sua disposição na mesa de procedimento.<br />

2. Passagem do fio-guia no ramo lateral – dificuldade<br />

mais freqüente em bifurcações em “T”, vasos de fino<br />

calibre, tortuosidades proximais e lesões ostiais suboclusivas.<br />

3. Efeito “snow plough” – fenômeno freqüente nas bifurcações<br />

em “Y” e nas bifurcações “não verdadeiras”.<br />

A oclusão de um ramo lateral não protegido, nessas<br />

condições, pode significar sua inacessabilidade.<br />

4. Recruzamento do fio-guia, do balão ou de um segundo<br />

stent através das malhas do primeiro stent implantado<br />

no ramo principal. A impossibilidade de acesso<br />

ao ramo lateral impede a aplicação da técnica de<br />

“kissing balloon”, altamente recomendada como abordagem<br />

final nas lesões de bifurcações.<br />

Os principais preditores de oclusão do ramo lateral<br />

são: a) presença de estenose maior que 50% em seu<br />

óstio; b) origem do ramo lateral a partir da lesão no<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 397


PERIN MA e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

das lesões de<br />

bifurcação coronária<br />

Figura 1. Classificação das<br />

bifurcações segundo a localização<br />

da placa aterosclerótica.<br />

vaso principal; c) ramo lateral de fino calibre; d) dissecção<br />

do vaso principal; e) relação stent/artéria do vaso<br />

principal; e f) apresentação clínica de síndromes coronárias<br />

agudas.<br />

Nas condições em que o óstio do ramo lateral está<br />

livre de obstruções e não se origina contíguo à placa<br />

do vaso principal ⎯ mas será transitoriamente ocluído<br />

pela insuflação do balão ⎯, o risco de comprometimento<br />

é baixo (inferior a 1%) e não justifica sua proteção<br />

com cordas-guia. Em outro cenário, quando o óstio<br />

do ramo lateral está livre, mas o mesmo origina-se<br />

de placa no vaso principal, o risco de oclusão é moderado<br />

(até 10%). Nessa abordagem, mesmo havendo o<br />

comprometimento do óstio, sua acessabilidade é freqüentemente<br />

alcançada, recomendando-se, assim, a<br />

proteção de ramos laterais com diâmetro superior a<br />

2,0 mm. Finalmente, quando há lesão maior que 50%<br />

no óstio do ramo lateral (bifurcações verdadeiras), o<br />

risco de oclusão é alto (14% a 35%). Sua proteção é<br />

fortemente recomendada, já que dificuldades em acessá-lo<br />

após a oclusão é muito comum. Como regra geral,<br />

não é necessária a proteção de ramos laterais com<br />

Figura 2. Diferentes técnicas<br />

de tratamento de lesões<br />

de bifurcação: técnica de<br />

stent em “T” (A), técnica em<br />

“T” modificada (B), técnica<br />

em “culotte” (C) e técnica em<br />

“Y” (D).<br />

398 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PERIN MA e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

das lesões de<br />

bifurcação coronária<br />

diâmetro inferior a 1,5 mm<br />

e/ou que supram pequena<br />

quantidade de miocárdio<br />

em risco.<br />

Classificação de<br />

tratamentos<br />

Com o advento dos<br />

stents, inúmeras estratégias<br />

que combinam o uso do<br />

stent no ramo principal e<br />

angioplastia com balão no<br />

ramo lateral ou stents em ambos os ramos vêm sendo<br />

testadas. Foi então proposta uma classificação com<br />

quatro tipos de tratamento (1) , descritas a seguir e representadas<br />

graficamente na Figura 2.<br />

Tipo A<br />

Também denominada técnica em “T”, consiste no<br />

implante do stent no óstio do ramo lateral seguido por<br />

implante de outro stent no ramo principal, cobrindo o<br />

óstio do ramo lateral. Essa estratégia, teoricamente,<br />

permite a perfeita solução para o problema com o implante<br />

de stents nos dois ramos; entretanto, dependendo<br />

do ângulo de origem do ramo lateral (ângulos agudos),<br />

torna-se impossível a cobertura completa de seu<br />

óstio, transformando esse local particularmente vulnerável<br />

à reestenose.<br />

Tipo B<br />

Consiste no implante do primeiro stent no ramo principal<br />

seguido por implante de outro stent no ramo lateral,<br />

através da malha do primeiro stent, apenas se necessário.<br />

Após a liberação do stent no ramo principal,<br />

recomenda-se atenção especial para dificuldades de<br />

acesso ao ramo lateral. Nesses casos, o implante ótimo<br />

do segundo stent (quando necessário) no óstio do<br />

ramo lateral pode ser dificultoso. A maior limitação dessa<br />

abordagem é a extrusão de malhas do stent do ramo<br />

lateral em direção ao vaso principal. Para sua correção,<br />

faz-se necessária, ao final do procedimento, a realização<br />

da técnica de “kissing balloon”. O implante de<br />

stent no ramo lateral ficaria reservado para os casos<br />

de resultados pouco satisfatórios com a angioplastia<br />

convencional (stent provisional).<br />

Tipo C<br />

Também conhecida por técnica em “culotte” ou “trousers”,<br />

difere da técnica do tipo B porque, após o implante<br />

do primeiro stent no ramo principal, o segundo<br />

stent é liberado desde o ramo principal, através da<br />

malha do primeiro stent, até o óstio e porções proximais<br />

do ramo lateral. Embora assegure a cobertura plena<br />

do óstio do ramo lateral, a presença de dupla camada<br />

metálica no ramo principal predispõe a maior hiperplasia<br />

neointimal e a fenômenos trombóticos.<br />

Tipo D<br />

Compreende o posicionamento e a liberação simultânea<br />

de dois stents, um em cada óstio da bifurcação;<br />

um terceiro pode ser implantado proximalmente, se<br />

necessário.<br />

Embora os quatro tipos de estratégia sejam tecnicamente<br />

exeqüíveis, inexistem estudos randomizados<br />

com grande número de lesões que os comparem entre<br />

si. A maioria das informações disponíveis deriva de<br />

registros e dados retrospectivos. O sucesso do procedimento<br />

para todas as estratégias permanece em torno<br />

de 90% a 95%. O índice de reestenose e a necessidade<br />

de revascularização da lesão-alvo a médio prazo,<br />

contudo, podem ser diferentes para cada estratégia.<br />

Estudos clínicos: stents em ambos os ramos ou<br />

stent apenas no ramo principal e angioplastia por<br />

balão no ramo lateral?<br />

A maioria dos estudos não mostra vantagens no implante<br />

de stent em ambos os ramos. O registro “New<br />

Approaches to Coronary Interventions” (NACI) avaliou<br />

227 pacientes com lesões de bifurcação por um período<br />

de seis meses e encontrou taxas de reestenose e<br />

de revascularização da lesão-alvo maiores no grupo<br />

com implante de stents em ambos os ramos, comparativamente<br />

ao grupo com stent no ramo principal e balão<br />

no ramo lateral (57% vs. 21% e 43% vs. 8%, respectivamente).<br />

(2) Esses achados foram corroborados<br />

por Brunel e colaboradores (3) e por Yamashita e colaboradores<br />

(4) . No primeiro, um estudo multicêntrico francês,<br />

encontraram-se resultados similares nos 107 pacientes;<br />

no segundo, com 97 pacientes randomizados,<br />

a taxa de reestenose foi maior no subgrupo tratado com<br />

dois stents (62% vs. 48%). Outro registro multicêntrico,<br />

utilizando a técnica em “Y”, com stent Bard XT, confirma<br />

uma vez mais as altas taxas de revascularização<br />

da lesão-alvo (30%) e de reestenose (36%) na estratégia<br />

de implante sistemático de stents nos ramos principal<br />

e lateral. (5) O emprego da técnica em “culotte” também<br />

se associa a altas taxas de reestenose (56%) e<br />

de revascularização da lesão-alvo (24%), principalmente<br />

se não finalizada com “kissing balloon”. (6)<br />

Em conclusão, até o advento dos stents farmacológicos,<br />

a técnica mais recomendada na abordagem de<br />

lesões em bifurcação utiliza dois fios-guia (vaso principal<br />

e ramo lateral), implante de stent no ramo principal<br />

e angioplastia com balão no ramo lateral. Emprega-se<br />

o implante de um segundo stent no ramo lateral apenas<br />

de maneira provisional (dissecção ou lesão residual<br />

maior que 50%). Preconiza-se a finalização do<br />

procedimento com a técnica de “kissing balloon”.<br />

STENTS FARMACOLÓGICOS<br />

Dados acumulados na literatura têm repetidamente<br />

confirmado os benefícios angiográficos e clínicos do<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 399


PERIN MA e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

das lesões de<br />

bifurcação coronária<br />

+<br />

*<br />

+<br />

*<br />

+<br />

*<br />

+<br />

*<br />

* + * +<br />

Figura 3. Representação gráfica dos resultados do implante do stent Cypher ® em bifurcação, comparando com<br />

dados históricos e literatura utilizando stents convencionais. Apesar dos melhores resultados com os stents<br />

farmacológicos, a reestenose do ramo lateral ainda é uma limitação. St = stent.<br />

uso de stents farmacológicos<br />

no tratamento das lesões<br />

obstrutivas coronárias.<br />

Há poucos dados disponíveis<br />

na literatura acerca<br />

do tratamento das lesões<br />

de bifurcação com<br />

stents farmacológicos. Até<br />

o presente momento, apenas<br />

um único estudo multicêntrico randomizado, conduzido<br />

por Colombo e colaboradores (7) , utilizando<br />

stent Cypher ® (sirolimus-rapamicina, Cordis, Jonhson<br />

& Jonhson), avaliou o emprego de stents farmacológicos<br />

em lesão de bifurcação. Esse estudo, envolvendo<br />

86 pacientes, comparou o implante de stent apenas no<br />

ramo principal (grupo I) “versus” o implante de stents<br />

em ambos os ramos da bifurcação (grupo II). A análise<br />

dos dados foi parcialmente prejudicada pelo grande número<br />

de “crossover” do grupo I para o grupo II (51,2%)<br />

e também pelas diferentes técnicas empregadas. Não<br />

obstante, os autores concluem que: a) o emprego de<br />

stent farmacológico reduz a taxa de reestenose e reintervenção;<br />

e b) não há evidentes vantagens no uso sistemático<br />

de stents farmacológicos em ambos os ramos<br />

da bifurcação, devendo-se optar por stent provisional<br />

no ramo lateral (7) (Fig. 3).<br />

No “Research Registry”, com a utilização irrestrita<br />

do stent farmacológico Cypher ® , 65 lesões de bifurcação<br />

foram tratadas com implante de stents farmacológicos<br />

em ambos os ramos e comparadas com dados<br />

históricos de implante de stent convencional (“Thorax-<br />

Center Rotterdam” – Roterdã, Holanda). No seguimento<br />

de seis meses, a incidência de eventos cardíacos<br />

adversos maiores foi de 10,3% (1 óbito e 5 revascularizações<br />

da lesão-alvo). (5) Resultados semelhantes foram<br />

encontrados pelo grupo de Milão no tratamento de 120<br />

lesões de bifurcação, demonstrando a necessidade de<br />

revascularização da lesão-alvo em 12% dos casos. (8)<br />

Apesar de o uso de stents farmacológicos em bifurcações<br />

resultar em baixo índice de eventos clínicos,<br />

com marcada redução de nova revascularização do<br />

ramo principal, a reestenose do óstio do ramo lateral<br />

ainda é prevalente. Essa limitação estimulou o desenvolvimento<br />

de técnicas, como as de “crushing” e “kissing”<br />

(stents simultâneos), em que o óstio do ramo lateral<br />

é sempre recoberto por stents farmacológicos.<br />

TÉCNICA DE “CRUSHING”<br />

Nessa técnica (Figs. 4 e 5), dois stents farmacológicos<br />

são avançados até o local da lesão, um em cada<br />

ramo da bifurcação. A marca proximal do stent do ramo<br />

lateral deve ser posicionada 4 mm a 5 mm dentro do<br />

ramo proximal (proximal à carina). A seguir, o stent do<br />

ramo principal deve ser posicionado de forma a cobrir<br />

toda a bifurcação, incluindo os 4 mm a 5 mm proximais<br />

do ramo lateral. O stent do ramo lateral é primeiramente<br />

liberado seguido da retirada do balão e do fio-guia<br />

desse ramo. Posteriormente, o stent do ramo principal<br />

400 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PERIN MA e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

das lesões de<br />

bifurcação coronária<br />

é liberado, “esmagando”<br />

(“crushing”) parte do stent<br />

do ramo lateral localizado<br />

dentro do ramo principal.<br />

Ao final do procedimento,<br />

a estratégia de “kissing<br />

balloon” deve ser realizada<br />

em todos os pacientes.<br />

Colombo e colaboradores<br />

(9) reportaram os resultados<br />

do tratamento de 67<br />

lesões, utilizando a técnica<br />

de “crushing” com ou sem a realização do “kissing<br />

balloon”; o seguimento angiográfico aos seis meses demonstrou<br />

taxa de reestenose no ramo principal de 7,1%<br />

vs. 5,5% e no ramo lateral de 12,5% vs. 35% nos pacientes<br />

tratados com e sem “kissing balloon”, respectivamente.<br />

(9)<br />

TÉCNICA DE “KISSING” (STENTS SIMULTÂNEOS)<br />

Consiste no implante de dois stents farmacológicos,<br />

um em cada ramo da bifurcação, posicionados com<br />

suas respectivas marcas proximais alinhadas no segmento<br />

proximal do ramo principal, de modo a permitir<br />

a sobreposição dos stents nesse local. O segmento<br />

proximal do ramo principal deve ter diâmetro de aproximadamente<br />

dois terços da soma dos diâmetros dos<br />

stents, possibilitando acomodá-los expandidos. Uma<br />

vez bem posicionados, os stents são simultaneamente<br />

liberados, formando uma nova carina (Fig. 5).<br />

Sharma e colaboradores (10) compararam 100 lesões<br />

de bifurcação tratadas com a técnica de “kissing<br />

stent” simultâneo com 100 lesões de bifurcação<br />

tratadas com stent no ramo principal e stent provisional<br />

no ramo lateral. A incidência de revascularização<br />

da lesão-alvo foi de 5% no grupo que utilizou a<br />

técnica de “kissing stent” simultâneo e de 18% no<br />

grupo tratado com stent no ramo principal (p = 0,007).<br />

Apesar dos bons resultados com essas técnicas, estudos<br />

randomizados são necessários para demonstrar<br />

sua real eficácia. (10)<br />

A experiência do “ThoraxCenter Rotterdam”, que<br />

comparou série consecutiva de 280 lesões de bifurcações<br />

coronárias tratadas com stents eluídos com<br />

paclitaxel (n = 113) ou sirolimus (n = 167), utilizando<br />

as técnicas diversas contemporâneas, demonstrou<br />

que a sobrevida livre de eventos num seguimento de<br />

seis meses foi maior nos stents farmacológicos (sirolimus<br />

93,7% vs. paclitaxel 85,8%) se comparada à<br />

dos controles históricos de stents convencionais.<br />

Surpreendeu o achado de que os resultados foram<br />

independentes das técnicas de abordagem utilizadas,<br />

constituindo-se assim o stent farmacológico num fator<br />

equalizador. (11)<br />

STENTS DEDICADOS<br />

Os stents dedicados foram desenvolvidos recentemente,<br />

e seu implante tem sido proposto para permitir<br />

a completa e imediata cobertura da lesão de bifurcação,<br />

incluindo os ramos principal e lateral, com apenas<br />

um único stent. Isso minimizaria as dificuldades técnicas<br />

do procedimento, encontradas no implante de stents<br />

não-dedicados, por evitar o recruzamento da corda-guia<br />

através da malha do stent no acesso ao ramo lateral,<br />

por evitar deformidades no stent do ramo principal, e<br />

por diminuir o tempo de procedimento, a exposição à<br />

radiação e menor volume de contraste. Vários modelos<br />

de stents para bifurcação, incluindo stents com células<br />

(“struts”) com maior abertura e stents que garantam<br />

permanente acesso ao ramo lateral, foram desenvolvidos,<br />

sem demonstrar grandes benefícios.<br />

Atualmente, têm sido desenvolvidos stents combinados<br />

com sistema de liberação, reproduzindo o conceito<br />

de stent no ramo principal com cobertura do óstio<br />

do ramo lateral, utilizando-se apenas um stent (Guidant,<br />

AST, Invatec) (Fig. 6). Esses novos dispositivos<br />

estão sendo testados e os resultados desses estudos<br />

são aguardados para que possam ser incorporados<br />

na prática clínica diária. É bastante provável<br />

que o próximo passo seja o uso de stents dedicados<br />

farmacológicos. (12)<br />

ATERECTOMIA<br />

A proposta de abordagem por aterectomia nas lesões<br />

de bifurcação tem como princípio a diminuição da<br />

carga de placa ateromatosa, impedindo sua redistribuição<br />

longitudinal, proporcionando maior ganho luminal<br />

imediato e, conseqüentemente, resultando em maior<br />

diâmetro luminal final. Apesar de atrativo do ponto de<br />

vista teórico, os estudos CAVEAT–I (“Coronary Angioplasty<br />

versus Excisional Atherectomy Trial”) e CCAT<br />

(“Canadian Coronary Atherectomy Trial”), comparando<br />

a aterectomia “versus” a angioplastia com balão em<br />

lesões de bifurcação, demonstraram maiores índices<br />

de complicações nos pacientes tratados com aterectomia,<br />

resultando em alto índice de oclusão do ramo lateral<br />

e infarto agudo do miocárdio. (13)<br />

A técnica de “debulking” por aterectomia pré-implante<br />

de stent, por proporcionar otimização na expansão<br />

do stent, tem demonstrado benefícios em alguns poucos<br />

estudos. O estudo de Ghambhir e colaboradores (14)<br />

incluiu 67 lesões de bifurcação tratadas com aterectomia<br />

pré-implante de stent. No ramo principal foi implantado<br />

um stent precedido de tratamento com balão em<br />

74,6%, por aterectomia rotacional em 22,4%, e por aterectomia<br />

direcional em 3% dos casos. O ramo lateral<br />

foi tratado por aterectomia em 30 pacientes e com balão,<br />

em 37. A taxa de sucesso do procedimento foi de<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 401


PERIN MA e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

das lesões de<br />

bifurcação coronária<br />

Figura 4. Técnicas de “crushing” (A) e stent V ou “kissing stents” (B). Na técnica de<br />

“crushing”, após o posicionamento dos dois stents, libera-se o do ramo lateral e<br />

posteriormente o do vaso principal, “esmagando” parcialmente o stent do ramo lateral.<br />

Ao final, faz-se insuflação simultânea de dois balões (“kissing balloon”). Na técnica<br />

de “kissing stents”, faz-se a insuflação simultânea dos dois sistemas de liberação<br />

dos stents.<br />

Figura 5. Implante de dois stents Taxus w (Boston Scientific), utilizando a técnica de “cruhshing”.<br />

402 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PERIN MA e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

das lesões de<br />

bifurcação coronária<br />

Figura 6. Stent<br />

dedicado (Invatec).<br />

Possui a cobertura<br />

especialmente<br />

desenvolvida<br />

para o ramo<br />

lateral (setas).<br />

95,6% e a incidência de infarto agudo do miocárdio<br />

não-Q, de 1,5%. Aos nove meses de seguimento, a<br />

necessidade de revascularização da lesão-alvo foi<br />

menor no grupo submetido a aterectomia (10% vs.<br />

29,7%) (p = 0,045). (14)<br />

Em outra série, Karvouni e colaboradores (15) trataram<br />

62 lesões de bifurcação, divididas em dois grupos.<br />

No primeiro grupo, o uso da aterectomia direcional precedeu<br />

o implante de stent em pelo menos um dos ramos<br />

da bifurcação; no segundo grupo, houve implante<br />

de stent primário (sem aterectomia) em pelo menos<br />

um dos ramos da bifurcação. A taxa de sucesso primário<br />

foi maior no grupo de stent primário (100% vs.<br />

87,1%), pela maior incidência de infarto agudo do miocárdio<br />

não-Q no grupo tratado com aterectomia (12,9%<br />

vs. 0%); no entanto, no seguimento clínico de longo<br />

prazo, as taxas de reestenose e de eventos cardíacos<br />

maiores mostraram-se menores no grupo tratado com<br />

aterectomia (p = NS). (15)<br />

O estudo conduzido por Chieffo e colaboradores (16)<br />

comparou 58 lesões de bifurcação tratadas com aterectomia<br />

direcional a 322 lesões tratadas com implante<br />

de stent isoladamente. A taxa de reestenose<br />

angiográfica no reestudo foi significativamente menor<br />

no grupo tratado com aterectomia (16% vs. 41%;<br />

p = 0,02). (16)<br />

A ausência de estudos randomizados avaliando o<br />

emprego de técnicas ateroablativas precedendo o implante<br />

de stent não nos permite balizar o real benefício<br />

da aplicação desse procedimento para o tratamento<br />

das lesões de bifurcação. (17)<br />

CONCLUSÃO<br />

A intervenção coronária percutânea para o tratamento<br />

de lesões de bifurcação sempre foi um dos grandes<br />

desafios da cardiologia intervencionista. Nos últimos anos,<br />

no entanto, o emprego de novas técnicas combinadas a<br />

novos dispositivos, aliados a terapêutica antiagregante<br />

plaquetária otimizada, permitiu que o tratamento das lesões<br />

de bifurcação se tornasse mais seguro e definitivo.<br />

O emprego de stents farmacológicos tem definitivamente<br />

contribuído para esses bons resultados.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 403


PERIN MA e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

das lesões de<br />

bifurcação coronária<br />

CORONARY BIFURCATION LESION TREATMENT –<br />

A REVIEW<br />

MARCO ANTÔNIO PERIN, BRENO OLIVEIRA ALMEIDA,<br />

FÁBIO SÂNDOLI DE BRITO JR.<br />

Bifurcation lesions constitute a great challenge in the interventional cardiology<br />

field. Conventional balloon angioplasty was not able to give good immediate and<br />

long term results. The development of new devices, as atherectomy, guide-catheters,<br />

low-profile balloons and the association of thienopyridines and aspirin, contributed<br />

for the improvement of initial results. Bare metal stents became the first choice<br />

treatment because they promoted safe and predictable results. Drug eluting stents<br />

have reduced restenosis rate to a new standard, less than 10%. The benefit was<br />

observed in all subgroup of patients and lesions. This evolution leads to the development<br />

of new techniques in the treatment of bifurcation and promotes the development<br />

of bifurcation dedicated stents, and these arrange we hope will be the final<br />

solution to this problem.<br />

Key words: coronary disease, transluminal percutaneous coronary angioplasty,<br />

coronary restenosis.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:396-405)<br />

RSCESP (72594)-1559<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. Lefévre T, Louvard Y, Morice MC, et al. Stent of bifurcation<br />

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Catheter Cardiovasc Interv. 2000;49:274-83.<br />

2. Saucedo JF, Kennard ED. Long-term outcome of patients<br />

with true bifurcation lesions undergoing new<br />

devices angioplasty: insights from the new approaches<br />

to coronary intervention registry. Circulation.<br />

1998;Suppl I:I-149.<br />

3. Brunel P, Commeau P, Konig R, et al. Assessment of<br />

coronary bifurcation lesion treated with stent implantation<br />

on parent vessel and with balloon or stent in<br />

side branch. Circulation. 1998;Suppl I:I-639.<br />

4. Yamashita T, Nishida T, Adamian MG, et al. Bifurcation<br />

lesion: two stents versus one stent – immediate<br />

and follow-up results. J Am Coll Cardiol. 2000;35(5):<br />

1145-51.<br />

5. Maillard L, Guerin L, Drieu L, et al. Multicentre registry<br />

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lesions with Bard XT stents. Am J Cardiol. 1998;<br />

82:7A-50S.<br />

6. Chevalier B, Glatt B, Royer T, et al. Placement of coronary<br />

stents in bifurcation lesions by the culotte<br />

stent technique. Am J Cardiol. 1998;82:943-9.<br />

7. Colombo A, Moses JW, Morice MC, et al. Randomized<br />

study to evaluate sirolimus-eluting stents implanted<br />

at coronary bifurcation lesions. Circulation.<br />

2004;109(10):1244-9.<br />

8. Tanabe K, Hoye A, Lemos PA, et al. Restenosis rates<br />

following bifurcation stenting with sirolimus-eluting<br />

stents for de novo narrowings. Am J Cardiol. 2004;94<br />

(1):115-8.<br />

9. Colombo A, Stankovic G, Orlic D, et al.Modified T-<br />

stenting technique with crushing for bifurcation lesions:<br />

immediate results and 30-day outcome. Catheter<br />

Cardiovasc Interv. 2003;60(2):145-51.<br />

10. Sharma SK, Choudhury A, Lee J, et al.Simultaneous<br />

kissing stents (SKS) technique for treating bifurcation<br />

lesions in medium-to-large size coronary arteries.<br />

Am J Cardiol. 2004;94(7):913-7.<br />

11. Hoye A, van Mieghem CAG, Serrus PW, et al. Treatment<br />

of de novo bifurcation lesion: comparison of<br />

sirolimus and paclitaxel eluting stents. Eurointervention.<br />

2005;1(1):24-30.<br />

12. Melikian N, Di Mario C. Treatment of bifurcation co-<br />

404 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PERIN MA e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

das lesões de<br />

bifurcação coronária<br />

ronary lesions: a review of<br />

current techniques and outcome.<br />

J Interv Cardiol.<br />

2003;16:507-13.<br />

13. Topol E, Leya JF,<br />

Pinkerton C, et al. A comparison<br />

of directional atherectomy<br />

with coronary angioplasty<br />

in patients with<br />

coronary artery disease. N<br />

Engl J Med. 1993;329:221-<br />

7.<br />

14. Ghambhir DS, Singh S, Sinha SC, et al. Treatment<br />

of true bifurcation stenosis by elective stent implantation<br />

in parent vessel and non-stent dilatation of<br />

side branch: immediate and follow-up results. Indian<br />

Heart J. 2000;52:289-96.<br />

15. Karvouni E, Di Mario C, Nishida T, et al. Rectional<br />

atherectomy prior to stenting in bifurcation lesions:<br />

a matched comparison study with stenting alone. Catheter<br />

Cardiovasc Interv. 2001;53(1):12-20.<br />

16. Chieffo A, Stankovic G, Briguori C, et al. Acute and<br />

late outcome after directional atherectomy plus stenting<br />

vesus stenting alone in true bifurcation lesion.<br />

Am J Cardiol. 2002;90 Suppl 6A:44H.<br />

17. Bass TA. Atherectomy prior to stenting bifurcation<br />

lesions: fork in the road, which direction do we choose?<br />

Catheter Cardiovasc Interv. 2001;53(1):21-2.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 405


INTERVENÇÕES CORONÁRIAS <strong>EM</strong> LESÕES LONGAS<br />

SECCHES AL e cols.<br />

Intervenções coronárias<br />

em lesões longas<br />

ANTONIO LUIZ SECCHES, LUIZ ANTONIO PECHIORI FINZI,<br />

JOSÉ ROBERTO COSTA MAROT<br />

Serviço de Hemodinâmica – Hospital São Francisco – Ribeirão Preto – SP<br />

Endereço para correspondência: Rua Bernardino de Campos, 912 –<br />

CEP 14015-130 – Ribeirão Preto – SP<br />

Lesões longas angiográficas iguais ou maiores a 20 mm de extensão são responsáveis<br />

por resultados imediatos desfavoráveis com angioplastia convencional e<br />

atenuadas pelo uso do stent, porém com resultados tardios insatisfatórios (reestenose<br />

intra-stent).<br />

Morfologia do vaso, calibre diminuído, angulações e calcificações, além da presença<br />

de diabetes melito são fatores preditores de piores resultados.<br />

O uso dos stents liberadores de fármacos parece ser a opção atual de tratamento<br />

dessas lesões, inibindo a proliferação intimal responsável pela reestenose intrastent.<br />

Palavras-chave: stents liberadores de fármacos, reestenose intra-stent, lesões longas.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:406-8)<br />

RSCESP (72594)-1560<br />

INTRODUÇÃO<br />

O stent coronário reduz a taxa de reestenose, quando<br />

comparado a angioplastia convencional, para cifras<br />

ao redor de 26% (podendo ser inferior a 10% em lesões<br />

ideais-focais e em artérias de grande calibre). A<br />

manifestação, muito freqüentemente, caracteriza-se<br />

pelo retorno dos sintomas e pela necessidade de novos<br />

procedimentos invasivos. As taxas de reestenose<br />

são maiores nos pacientes diabéticos e em vasos menores<br />

de 3,0 mm, quando stents longos, múltiplos e<br />

em “overlap” são utilizados, e quando não se obtém<br />

resultado ótimo pós-procedimento. (1)<br />

A abordagem das lesões longas e, principalmente,<br />

em pacientes diabéticos tem sido um desafio, com respostas<br />

diferentes relacionadas diretamente com o diâmetro<br />

do vaso, a morfologia e a extensão da lesão. (2)<br />

Entende-se por lesões longas as que apresentam<br />

extensão igual ou superior a 20 mm, e, geralmente,<br />

cerceiam controversas quanto à melhor abordagem percutânea.<br />

Nesta atualização faremos uma amostragem<br />

dos resultados referentes a essas lesões.<br />

EXTENSÃO DA ESTENOSE-ALVO<br />

A extensão da lesão coronariana é um fator prognóstico<br />

independente para ocorrência de complicações<br />

imediatas durante a realização de angioplastia com<br />

balão. A reestenose coronariana é superior a 50% nesses<br />

casos, com taxas de complicações agudas elevadas.<br />

Os stents melhoram os resultados nesse subgrupo<br />

de estenoses, diminuindo a oclusão subaguda; contudo,<br />

as cifras de reestenose já publicadas variam de<br />

30% a 60%, com relação direta entre a extensão da<br />

estenose-alvo e a taxa de reobstrução do vaso tratado.<br />

(3)<br />

Kastrati e colaboradores (4) apresentaram uma série<br />

não-randomizada comparando a extensão da lesão com<br />

a taxa de reestenose intra-stent em 2.738 pacientes,<br />

sendo 575 pacientes com lesões longas e 2.163 pacientes<br />

com lesões curtas (< 15 mm). A taxa de reestenose<br />

foi de 36,9% vs. 27,9%, sendo a extensão da le-<br />

406 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


SECCHES AL e cols.<br />

Intervenções coronárias<br />

em lesões longas<br />

são importante preditor independente.<br />

(4)<br />

Apenas um estudo randomizado,<br />

até o momento,<br />

mereceu relevância clínica<br />

(ADVANCE). Nesse<br />

ensaio, 437 pacientes com<br />

estenoses longas (> 20<br />

mm até 50 mm, média de<br />

27 mm + 10 mm) foram<br />

selecionados para o implante<br />

de stent longo ou<br />

angioplastia ótima. Observou-se que 34% dos casos<br />

não lograram a randomização, por necessitarem de um<br />

stent imediato, por causa da não obtenção de um resultado<br />

ótimo com o balão.<br />

Apesar de os níveis de uma nova revascularização<br />

terem sido semelhantes (balão/stent: 14,7% vs. 17,9%),<br />

as taxas de reestenose foram menores com o implante<br />

de stents (27% vs. 42%; p = 0,022). Quando possível,<br />

sua indicação é superior à da angioplastia apenas com<br />

balão (classe IIa, nível de evidência B). (5)<br />

O uso de ultra-som intracoronário tem sido de grande<br />

valia no implante ótimo dos stents, quando pode<br />

ocorrer expansão subótima no segmento médio, favorecendo<br />

a ocorrência de oclusão subaguda e maior reestenose<br />

tardia. (6)<br />

No estudo C-CIRIUS, ensaio multicêntrico e randomizado,<br />

foram avaliados 100 pacientes, comparandose<br />

stent recoberto com sirolimus “versus” stent convencional<br />

locados em vasos finos e lesões longas. No<br />

seguimento de 270 dias, a reestenose intra-stent foi de<br />

2,3% vs. 52,3% no grupo controle (p < 0,01). Esses<br />

resultados demonstram que pacientes com lesões longas<br />

em vasos finos têm alto risco de reestenose e que<br />

o mecanismo único de reestenose intra-stent é a proliferação<br />

intimal exagerada, confirmada em estudos patológicos<br />

e ultra-som intracoronário. (7)<br />

Assim sendo, o alvo de investigação de reestenose<br />

está identificado, tendo resultado na associação de um<br />

recurso mecânico de abolição do remodelamento negativo<br />

com os stents e de um recurso farmacológico<br />

de inibição de hiperplasia intimal com drogas antiproliferativas<br />

incorporadas nos mesmos. (8)<br />

Os stents liberadores de fármacos responsáveis pela<br />

diminuição de proliferação intimal (rapamicina e paclitaxel)<br />

têm sua eficácia comprovada em vários estudos<br />

(7, 9, 10)<br />

randomizados (RAVEL, CIRIUS e TAXUS).<br />

CONCLUSÃO<br />

A extensão da lesão coronariana é fator prognóstico<br />

independente para a ocorrência de complicações<br />

imediatas e tardias na realização das intervenções coronárias.<br />

Apesar de resultados melhores que os observados<br />

com balões, os stents convencionais ainda apresentam<br />

efeitos não-desejáveis (reestenose intracoronária)<br />

em pacientes diabéticos, vasos finos, stents longos,<br />

múltiplos e em “overlap”.<br />

Os stents farmacológicos, nos estudos mencionados,<br />

revelaram ótimos resultados na diminuição da proliferação<br />

celular intra-stent nesse grupo de pacientes, sugerindo<br />

ser a abordagem terapêutica de escolha atualmente.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 407


LONG ANGIOGRAPHIC LESIONS INTERVENTION<br />

SECCHES AL e cols.<br />

Intervenções coronárias<br />

em lesões longas<br />

ANTONIO LUIZ SECCHES, LUIZ ANTONIO PECHIORI FINZI,<br />

JOSÉ ROBERTO COSTA MAROT<br />

Long angiographic lesions (20 mm or more) are responsible for poor imediate<br />

results with conventional angioplasty which are inproved with the use of stents, however,<br />

with unsatisfactory long term results (intrastents restenosis).<br />

Vessel morfology, small diameters, calcifications and angulations along with the<br />

presence of diabetes are predictors of poor results.<br />

The use of drug eluting stents seems to be an option for the treatment of these<br />

lesions, inhibiting the intimal proliferation responsible for intrastent restenosis.<br />

Key words: drug eluting stents, restenosis, long lesions.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:406-8)<br />

RSCESP (72594)-1560<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. Sousa JE, Ribeiro E, Mattos LA, et al. Diretriz de<br />

indicações e utilizações das intervenções percutâneas<br />

e stent intracoronariano na prática clínica. Arq<br />

Bras Cardiol. 2003;80 Supl 1.<br />

2. Kereiakes DJ, Young JJ. Percutaneous coronary revascularization<br />

of diabetic patients in the era of drugeluting<br />

stents. Rev Cardiovasc Med. 2005;6 Suppl<br />

1:548-58.<br />

3. Seabra-Gomes R, Farto e Abreu P, Marques AL,<br />

Pereira H, da Cunha JA, Carvalho H, et al. Use of<br />

stents for small coronary arteries. Rev Port Cardiol.<br />

2001;20(9):841-55.<br />

4. Kastrati A, Elezi S, Dirschinger J, et al. Influence of<br />

lesion length on restenosis after coronary stent placement.<br />

Am J Cardiol. 1999;83:1617-22.<br />

5. Serrùys PW, et al. J Am Coll Cardiol. 2002.<br />

6. Sonoda S, Morino Y, Ako J, Terashima M, Hassan<br />

AH, Bonneau HN, et al, SIRIUS Investigators. Impact<br />

of final stent dimensions on long-term results<br />

following sirolimus-eluting stent implantation: serial<br />

intravascular ultrasound analysis from the sirius trial.<br />

J Am Coll Cardiol. 2004;43(11):1959-63.<br />

7. Schampaert E, Cohen EA, Schuluter M, Reeves F,<br />

Traboulsi M, Title LM, et al., C-SIRIUS Investigators.<br />

The Canadian study of the sirolimus-eluting stent in<br />

the treatment of patients with long de novo lesions<br />

in small native coronary arteries (C-SIRIUS). J Am<br />

Coll Cardiol. 2004;43(6):1110-5.<br />

8. Ardissimo D, Cavallini C, Bramucci E, Indolfi C, Marzocchi<br />

A, Manari A, et al., SES-SMART Investigators.<br />

Sirolimus-eluting vs uncoated stents for prevention<br />

of restenosis in small coronary arteries randomized<br />

trial. JAMA. 2004;292(22):2727-34.<br />

9. Regar E, Serruys PW, Bode C, Holubarsch C, Guermonprez<br />

JL, Wijns W, et al., RAVEL Study Group.<br />

Angiographic findings of the multicenter randomized<br />

study with the sirolimus eluting Bx velocity balloon<br />

expandable stent (RAVEL). Circulation. 2002;106<br />

(15):1949-56.<br />

10. Stone GW, Ellis SG, Cox DA, Hermiller J, O’Shaughnessy<br />

C, Mann JT, et al., for the TAXUS IV Trial. The TAXUS IV<br />

Trial. Circulation. 2004;109(16):1942-7.<br />

408 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


MACHADO NCS<br />

Oclusão coronária<br />

crônica: técnicas e<br />

resultados atuais<br />

OCLUSÃO CORONÁRIA CRÔNICA: TÉCNICAS E<br />

RESULTADOS ATUAIS<br />

NILTON CARLOS SPINOLA MACHADO<br />

Serviço de Cardiologia Intervencionista –<br />

Instituto de Moléstias Cardiovasculares de São José do Rio Preto – IMC<br />

Endereço para correspondência: Rua Castelo D’Água, 3030 – Bairro Redentora –<br />

CEP 15015-210 – São José do Rio Preto – SP<br />

As oclusões coronárias crônicas são um grande desafio para a cardiologia intervencionista,<br />

pois seu tratamento geralmente é acompanhado de aumento das complicações,<br />

mesmo após vinte anos do desenvolvimento da técnica de angioplastia<br />

coronária transluminal percutânea. Durante esse período, muito se tem estudado e<br />

novas técnicas e materiais são testados na tentativa de minimizar tais complicações,<br />

entre elas a reestenose. Contudo, vários são os fatores determinantes do sucesso<br />

do tratamento, como escolha adequada do tipo de guia e balão, o stent a ser<br />

utilizado, o estado clínico geral do paciente, bem como a capacidade do operador.<br />

Palavras-chave: oclusão coronária crônica, técnicas, angioplastia coronária transluminal<br />

percutânea.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:409-13)<br />

RSCESP (72594)-1561<br />

INTRODUÇÃO<br />

As oclusões coronárias crônicas apresentam-se<br />

como um grande desafio para os cardiologistas de intervenção,<br />

sendo seu tratamento geralmente acompanhado<br />

de aumento das complicações. Ainda é um desafio<br />

técnico mesmo vinte anos depois da realização<br />

da primeira angioplastia coronária transluminal percutânea<br />

e pode representar de 5% a 15% dos cateterismos<br />

laboratoriais, mas essa taxa depende da seleção<br />

do paciente. A limitação técnica mais importante é a<br />

lesão cruzada usando fio-guia.<br />

As oclusões coronárias crônicas totais, anatomicamente<br />

formadas por extensa placa fibrosa e calcificada<br />

e dependente de sua duração, apresentam dificuldades<br />

técnicas que geralmente não são encontradas<br />

nas lesões mais recentes. Nessas circunstâncias, a taxa<br />

de complicações é maior durante o procedimento, podendo<br />

ser esperados piores resultados à distância.<br />

PATOLOGIA<br />

A parte ocluída do lúmem está associada a dois tipos<br />

de tecido: placa de ateroma e coágulos antigos. A<br />

resultado da soma desses itens é amplamente responsável<br />

pelo mecanismo de oclusão coronária crônica,<br />

podendo vir a engrossar sua classificação tanto quanto<br />

dois fenômenos: evolução tardia da oclusão aguda,<br />

com grande quantidade de coágulos antigos, decorrentes<br />

de ruptura da placa, comumente em pedaços<br />

da área mais estreita (Fig. 1A), e oclusão progressiva<br />

de longa duração com alto grau de estenose, com grande<br />

quantidade de placas e uma camada adicional de<br />

vários coágulos (Fig. 1B) (1) .<br />

O grau histológico da estenose freqüentemente difere<br />

daquele da maioria das angiografias, com alto grau<br />

de estenose na denominada oclusão coronária crônica.<br />

Não existe correlação entre a idade da oclusão e o<br />

tamanho residual do lúmen. A composição de tecidos<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 409


MACHADO NCS<br />

Oclusão coronária<br />

crônica: técnicas e<br />

resultados atuais<br />

A<br />

associa tecido fibroso e tecido misto a uma pequena<br />

quantidade de colesterol, a qual diminui<br />

com o tempo e é substituída por colágeno mais<br />

denso e cálcio. Células inflamatórias (linfócitos<br />

e monócitos) são mais freqüentemente notadas<br />

em oclusões mais jovens (2, 3) . O padrão da oclusão<br />

coronária crônica é rígido ou pode incluir<br />

novos canais, permitindo a repenetração com<br />

diâmetro médio de 200 micros. Tanto sua freqüência<br />

como sua importância aumentam com<br />

a idade da oclusão, estando presente em 85%<br />

das oclusões com mais de um ano (Fig. 2) (4) .<br />

TÉCNICAS E RESULTADOS<br />

A oclusão coronária crônica está presente<br />

no cenário da doença arterial e a indicação clínica<br />

é um importante compromisso, pela sua<br />

limitação funcional durante o tratamento médico,<br />

e a presença do clínico pode indicar alto porcentual<br />

de sucesso.<br />

Definir a indicação para a angioplastia de revascularização<br />

de uma oclusão coronária crônica<br />

é de suma importância, já que recentes estudos<br />

demonstram perda importante da existência<br />

de circulação colateral após a revascularização<br />

bem-sucedida de oclusão coronária crônica, podendo<br />

esse fenômeno ser traduzido como menor<br />

proteção para futuros eventos isquêmicos agudos<br />

(5) no local da irrigação colateral.<br />

A angioplastia com balão tem, em geral, baixo<br />

sucesso angiográfico e elevada taxa de reestenose<br />

(6, 7) . Em estudos recentes, os resultados do<br />

uso de guia “laser” não foram promissores (8) , não<br />

demonstrando superioridade na abordagem de<br />

lesões quando comparado ao guia mecânico. A<br />

angioplastia coronária transluminal percutânea<br />

com uso de stent representa a melhor opção para<br />

o tratamento das oclusões (9-11) , embora o tipo de<br />

stent e o número de vasos envolvidos também<br />

influenciem no prognóstico (12) .<br />

Estudo recente avaliou fatores determinantes<br />

do sucesso primário e a longo prazo da angio-<br />

B<br />

Figura 1. A – Evolução tardia da oclusão aguda. B – Oclusão<br />

progressiva de longa duração com alto grau de estenose.<br />

410 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


MACHADO NCS<br />

Oclusão coronária<br />

crônica: técnicas e<br />

resultados atuais<br />

plastia das oclusões crônicas<br />

totais com taxa de sucesso<br />

de 70%, demonstrando<br />

as dificuldades do tratamento<br />

percutâneo desse<br />

tipo de lesão (13) . Tais resultados<br />

levaram à busca de<br />

novos fios-guia e de outras<br />

técnicas de extração da placa,<br />

angioplastia com guias<br />

ativados e rotacional, na<br />

tentativa de melhorar o sucesso<br />

desse procedimento<br />

(14-16) . Com o desenvolvimento<br />

da nova técnica dos<br />

fios-guia, tornando-os capazes<br />

de atravessar mais facilmente<br />

esse tipo de lesão,<br />

aumentou também a possibilidade<br />

de eles seguirem<br />

falsos trajetos de menor resistência,<br />

com a subseqüente criação de falsos lúmens e<br />

complicações associadas. Além disso, outros resultados<br />

recentes também demonstram a presença de disfunção<br />

microvascular mesmo após a intervenção coronária percutânea<br />

bem-sucedida, em doentes com oclusões crônicas<br />

totais (17) . A razão para essa disfunção é assunto de<br />

debate, mas uma das razões para o benefício observado<br />

com os inibidores dos receptores das glicoproteínas IIb/<br />

IIIa, na cardiologia de intervenção, é um efeito de classe<br />

na disfunção microvascular (18) , se bem que mais definido<br />

quando se encontra um trombo agudo, como no infarto<br />

agudo do miocárdio.<br />

Tal como o comprimento da lesão determina a taxa<br />

de sucesso e a subseqüente taxa de reestenose, a definição<br />

correta do mesmo e do trajeto da oclusão torna-se<br />

possível antes da abordagem da oclusão. A abordagem<br />

otimizada para as oclusões coronárias crônicas pressupõe<br />

correta definição da localização e do comprimento<br />

da oclusão. A definição dos segmentos proximal e distal<br />

ao segmento ocluído pode ajudar na escolha dos tipos<br />

Figura 2. Novos canais na oclusão coronária crônica.<br />

de guia, do tipo de balão e do stents a serem utilizados, e<br />

ainda na detecção de eventuais complicações durante o<br />

procedimento (19) .<br />

A angioplastia da oclusão coronária crônica é um assunto<br />

de experiência e não existe nenhum outro campo<br />

para demonstrar esse saber, senão depois de milhares<br />

de procedimentos percutâneos. Apesar das melhorias<br />

médicas e técnicas, os resultados são ainda altamente<br />

dependentes do operador, como também da seleção dos<br />

pacientes. Por essas razões, é difícil comparar abordagens<br />

diferentes fora do cenário de testes randomizados.<br />

Novos fios têm nítido impacto no sucesso técnico com a<br />

capacidade para achar novamente o antigo lúmen. Entretanto,<br />

muito da oclusão escapa de nossa técnica e exige<br />

a invenção de novas técnicas seguras para criar um<br />

novo lúmen, sem danificar o vaso. Enquanto isso, técnicas<br />

de angiogênese, como, hoje, a revascularização percutânea<br />

do miocárdio ou, amanhã, a geneterapia do miocárdio<br />

(20) , podem ser úteis para melhorar a qualidade de<br />

vida desses pacientes<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 411


MACHADO NCS<br />

Oclusão coronária<br />

crônica: técnicas e<br />

resultados atuais<br />

CHRONIC CORONARY OCCLUSION:<br />

TECHNIQUES AND CURRENT RESULTS<br />

NILTON CARLOS SPINOLA MACHADO<br />

The chronic coronary occlusions are a great challenge for the interventional cardiology<br />

since its treatment is generally accompanied by an increase of the complications,<br />

even after 20 years of the development of percutaneous transluminal coronary<br />

angioplasty technique. During this period many studies have been carried out and<br />

new techniques and equipment were tried aiming to minimize such complications,<br />

among them the restenosis. However, there are several factors to establish the success<br />

of the treatment, as adequate choice of the kind of guide and balloon, what<br />

kind of balloon is going to be used, the general conditions of the patient, as well as<br />

the operator’s capacity.<br />

Key words: chronic coronary occlusion, technique, percutaneous transluminal coronary<br />

angioplasty.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:409-13)<br />

RSCESP (72594)-1561<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. Laarman GJ, Plante S, de Feyter PJ. PTCA chronically<br />

occluded coronary arteries. Am Heart J.<br />

1990;119(5):1153-60.<br />

2. Katsuragawa M, Fujiwara H, Muyamae M, Sasayama<br />

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comparison of tapering and abrupt types of occlusion<br />

and short and long occluded segments. J Am<br />

Coll Cardiol. 1993;21(3):604-11.<br />

3. Srivatsa SS, Edwards WD, Boos CM, Grill DE, Sangiorgi<br />

GM, Garratt KN, et al. Histological correlates<br />

of angiographic chronic toral coronary artery occlusions:<br />

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channel patterns and intimal composition. J Am<br />

Coll Cardiol. 1997;5:955-63.<br />

4. Petronio AS, Baglini R, Linbruno U, Mengozzi G,<br />

Amoroso G, Cantarelli A, et al. Coronary collateral<br />

circulation behavior and myocardial viability in chronic<br />

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Eur Heart J. 1998;19(11):1681-7.<br />

5. Werner GS, Richartz BM, Gastmann O, Ferrari M,<br />

Figulla HR. Immediate changes of collateral function<br />

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coronary occlusions. Circulation. 2000;102:2959-65.<br />

6. Ivanhoe RJ, Weintraub WS, Douglas JS, et al. Percutaneous<br />

transluminal coronary angioplasty of chronic<br />

total occlusions. Primary success, restenosis and<br />

long-term clinical follow-up. Circulation. 1992;85:106-<br />

15.<br />

7. Ruocco NA, Ring ME, Holubkov R, Jacobs AK, Detre<br />

KM, Faxon DP, and the Co-Investigators of the<br />

National Heart, Lung and Blood Institute Percutaneous<br />

Coronary Angioplasty Registry. Results of the<br />

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National Heart, Lung and Blood Institute 1985-1986<br />

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9. Suttorp MJ, Mast EG, Thijs Plokker HW, Kelder JC,<br />

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successful balloon angioplasty of chronic total<br />

occlusions: a single-center experience. Am Heart J.<br />

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10. Hoher M, Wohrle J, Grebe OC, et al. A randomized<br />

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of chronic total occlusions. J Am Coll Cardiol.<br />

412 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 413


PIMENTEL FILHO WA<br />

e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

em lesões de ponte<br />

de veia safena<br />

INTERVENÇÃO PERCUTÂNEA <strong>EM</strong> LESÕES DE<br />

PONTE DE VEIA SAFENA<br />

WILSON ALBINO PIMENTEL FILHO, MAÉVE DE BARROS CORREIA,<br />

EDSON ALCIDES BOCCHI, MILTON MACEDO SOARES NETO,<br />

STOESSEL FIGUEREDO DE ASSIS, JORGE ROBERTO BÜCHLER, EGAS ARMELIN<br />

Instituto do Coração de Campinas<br />

Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo<br />

Endereço para correspondência: Rua Inhambu, 917 – ap. 91 – Moema –<br />

CEP 04520-013 – São Paulo – SP<br />

As pontes de veia safena ainda são uma opção nas cirurgias de revascularização<br />

miocárdica, embora 15% delas estejam ocluídas em um ano e 50% em dez anos em<br />

decorrência de aterosclerose progressiva. A reoperação é associada a maior morbidade<br />

e a maior mortalidade. A intervenção percutânea também apresenta complicações<br />

imediatas graves e resultados tardios insatisfatórios pela inter-relação dos fenômenos:<br />

embolização, não-reaparecimento do fluxo (“no-reflow”), infarto do miocárdio<br />

transprocedimento e reestenose subseqüente. Diversas terapêuticas (farmacológicas<br />

e dispositivos especiais) foram introduzidas na revascularização percutânea<br />

para evitar essas complicações; no entanto, apenas o stent e a proteção distal<br />

mostraram benefícios. Os novos stents recobertos com fármacos antiproliferativos<br />

são promissores na redução da ocorrência de reestenose da ponte de veia safena.<br />

Neste artigo são revistas as opções atuais da intervenção percutânea para o tratamento<br />

da doença na ponte de veia safena.<br />

Palavras-chave: doença da ponte de veia safena, intervenção percutânea, revascularização<br />

percutânea.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:414-22)<br />

RSCESP (72594)-1562<br />

INTRODUÇÃO<br />

A patogênese da doença nas pontes de veia safena<br />

é composta de três fases: trombose (fase inicial, hiperplasia<br />

da íntima); fase intermediária; e aterosclerose<br />

(fase tardia). Apesar de essas fases serem temporalmente<br />

distintas, estão interligadas fisiopatologicamente<br />

no processo evolutivo (1) .<br />

A angioplastia com balão foi inicialmente proposta<br />

para tratar as estenoses nas pontes de veia safena;<br />

porém, os resultados tanto hospitalares como tardios<br />

foram insatisfatórios e associados a índices de reestenose<br />

inaceitáveis (1) .<br />

Assim, diversos dispositivos especiais foram empregados<br />

(aterectomia direcional, cateter de extração<br />

transluminal e “excimer laser”) com a finalidade<br />

de ampliar as indicações, minimizar as complicações<br />

e reduzir a reestenose, sem, no entanto, atingir esses<br />

objetivos (2-4) .<br />

A despeito dos alentados avanços tecnológicos, a<br />

intervenção percutânea ainda apresenta complicações<br />

imediatas graves e resultados tardios insatisfatórios pela<br />

inter-relação dos fenômenos: embolização, não-reaparecimento<br />

do fluxo (“no-reflow”), infarto do miocárdio<br />

transprocedimento e reestenose subseqüente (1) . Neste<br />

artigo são revistas as estratégias atuais da interven-<br />

414 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PIMENTEL FILHO WA<br />

e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

em lesões de ponte<br />

de veia safena<br />

ção percutânea para tratar<br />

a doença na ponte de veia<br />

safena.<br />

IMPACTO DOS STENTS<br />

O registro do “Washington<br />

Hospital Center” (5) ,<br />

constituído de 1.986 casos<br />

de doença aterosclerótica<br />

comprometendo ponte de<br />

veia safena, comparou os<br />

resultados da intervenção percutânea em dois períodos:<br />

de 1990 a 1994, em que as pontes foram tratadas<br />

por angioplastia com balão e/ou aterectomia ou “excimer<br />

laser”, e de 1995 a 1998, em que esses enxertos<br />

foram tratados com stent. Esse estudo evidenciou o<br />

impacto positivo nos pacientes que utilizaram essa<br />

endoprótese (Tab. 1).<br />

Tabela 1. Impacto do uso do stent na evolução clínica de um ano – “Washington Hospital Center” (5) .<br />

1990-1994 1995-1998<br />

Objetivos principais (n = 1.044) (n = 942) valor de p<br />

NRVA 23,6% 16,4% < 0,0001<br />

Óbito 11,3% 6,1% < 0,0001<br />

SLECM 59,1% 70,7% < 0,0001<br />

n = número de pacientes; NRVA = nova revascularização do vaso-alvo; SLECM = sobrevivência livre dos eventos<br />

cardiovasculares maiores.<br />

No SAVED (6) , o primeiro estudo prospectivo randomizado,<br />

comparou-se balão “versus” stent de Palmaz-<br />

Schatz na intervenção percutânea da ponte de veia<br />

safena, quando foram randomizados 220 pacientes sintomáticos,<br />

com evidência de isquemia e estenose significativa<br />

em apenas uma ponte de veia safena, para<br />

implante do stent ou angioplastia com balão (110 pacientes<br />

em cada grupo). No grupo do stent houve maior<br />

índice de sucesso (97% vs. 86%; p < 0,01), redução<br />

das complicações hospitalares (6% vs. 11%; p < 0,163)<br />

e taxas inferiores de eventos cardíacos maiores na<br />

evolução tardia. No entanto, verificou-se modesta redução<br />

da reestenose (36% vs. 47%; NS).<br />

“NO-REFLOW”<br />

O fenômeno de “no-reflow”, que ocorre durante a<br />

intervenção percutânea, é, na ausência de obstrução<br />

significativa, o impedimento do fluxo sanguíneo anterógrado<br />

através da microcirculação (1) . Por sua alta incidência<br />

durante a intervenção percutânea da ponte de<br />

veia safena degenerada é provável que ocorra uma macroembolização<br />

comprometendo essa microcirculação<br />

(7) . O “no-reflow” incide em mais de 15% das intervenções<br />

percutâneas nas pontes de veia safena, provocando<br />

complicações graves como infarto do miocárdio<br />

e óbito (1, 7) .<br />

Com a introdução dos inibidores das glicoproteínas<br />

IIb/IIIa na prática intervencionista coronária, esperavase<br />

importante interferência positiva na intervenção percutânea<br />

nas pontes de veia safena, dada a alta incidência<br />

de complicações, com particular referência ao<br />

“no-reflow”. Todavia, a análise conjunta (“pooled”) de<br />

cinco trabalhos randomizados utilizando abciximab ou<br />

eptifibatide “versus” placebo não mostrou o resultado<br />

esperado (8) .<br />

O emprego de stent recoberto com politetrafluoroetileno<br />

(PTFE) foi idealizado para cobrir segmentos da<br />

ponte de veia safena com degeneração, na tentativa<br />

de minimizar as embolias distais, o “no-reflow” e a reestenose;<br />

no entanto, não apresentou os resultados esperados<br />

(9) .<br />

Sem evidência científica consistente, diversos autores<br />

têm demonstrado os benefícios da administração<br />

intravascular de nitratos, do verapamil, da adenosina<br />

e do nitroprussiato, associados ou não, tanto na<br />

prevenção como no tratamento do fenômeno do “noreflow”<br />

quando do tratamento percutâneo da ponte de<br />

veia safena (10) .<br />

DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO DISTAL<br />

Existem dois tipos de protetores distais aprovados<br />

pela “Food and Drug Administration” (FDA, agência governamental<br />

americana que controla o setor de alimentos<br />

e remédios): o sistema de oclusão distal com balão<br />

denominado PercuSurge GuardWire ® e o de filtro denominado<br />

FilterWire ®(7) .<br />

O estudo “Saphenous Vein Graft Angioplasty Free<br />

of Emboli, Randomized” (SAFER) (11) foi o primeiro estudo<br />

prospectivo, multicêntrico e randomizado estrutu-<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 415


PIMENTEL FILHO WA<br />

e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

em lesões de ponte<br />

de veia safena<br />

rado para comparar a evolução<br />

clínica (óbito, infarto<br />

do miocárdio, cirurgia de<br />

emergência e nova revascularização<br />

da lesão do<br />

vaso-alvo) trinta dias após<br />

o implante do stent na<br />

ponte de veia safena. Os<br />

pacientes foram randomizados<br />

em dois grupos: os<br />

que utilizaram o PercuSurge<br />

® (406) e aqueles que<br />

usaram apenas a corda-guia convencional (395). O fluxo<br />

sanguíneo imediatamente ao final do procedimento<br />

apresentava-se com a velocidade normal (TIMI-3) em<br />

98% dos casos que utilizaram o PercuSurge ® “versus”<br />

95% do grupo controle (p = 0,04), e o fenômeno de<br />

“no-reflow” também foi reduzido (3,2% vs. 8,3%; p =<br />

0,001). Em trinta dias, no grupo do PercuSurge ® , houve<br />

diminuição significativa dos eventos clínicos maiores<br />

(9,6% vs. 16,5%; p = 0,004), sendo essa redução<br />

relativa de 42% reflexo da menor incidência do “noreflow”<br />

e do infarto do miocárdio. Na Tabela 2 pode-se<br />

ver o impacto desse dispositivo na prevenção do fenômeno<br />

do “no-reflow”.<br />

TIMI-3 e a incidência de complicações não diferiram<br />

entre os dois grupos, apesar de ter havido menor necessidade<br />

do uso dos inibidores das glicoproteínas IIb/<br />

IIIa para tratamento do “no-reflow” no braço do FilterWire<br />

® (0% vs. 1,5%; p = 0,03). Não se observou diferença<br />

significativa entre os grupos quanto aos eventos cardíacos<br />

maiores (óbito, infarto do miocárdio e necessidade<br />

de cirurgia de revascularização) aos trinta dias (9,9%<br />

nos pacientes que utilizaram o FilterWire ® e 11,6% nos<br />

que usaram o PercuSurge ® ). Na Tabela 3 são apresentadas<br />

as similaridades desses dispositivos.<br />

DOENÇA DA PONTE DE VEIA SAFENA E<br />

SÍNDROMES CORONÁRIAS AGUDAS<br />

Há a possibilidade de a ponte de veia safena ser o<br />

vaso culpado pelo infarto agudo do miocárdio em aproximadamente<br />

50% dos pacientes com cirurgia de revascularização<br />

prévia (1) .<br />

No estudo “Primary Angioplasty in acute Myocardial<br />

Infarction” (PAMI-2) (13) , foram incluídos 58 pacientes<br />

com cirurgia de revascularização prévia e em 32 deles<br />

o vaso culpado pelo infarto era a ponte de veia safena.<br />

A angioplastia primária foi realizada em 24 pacientes e<br />

apenas 70% obtiveram fluxo TIMI-3. A mortalidade foi<br />

Tabela 2. Resultados da fase hospitalar, em que se pode ver o impacto do uso do protetor distal (PercuSurge<br />

GuardWire ® ) no fenômeno de “no-reflow” (em destaque) durante o implante do stent nas ponte de veia safena.<br />

Dados do estudo SAFER (11) .<br />

PercuSurge ®<br />

Controle<br />

Objetivos principais (395 pacientes) (395 pacientes) valor de p<br />

TIMI-3 (final) 97,8% 95,1% 0,04<br />

“No-reflow” 3,2% 8,3% 0,001<br />

Embolia distal 2,2% 3,2% 0,40<br />

Perfuração 0,2% 1,5% 0,05<br />

Oclusão subaguda 1,7% 0,5% 0,18<br />

Dissecção 4% 1% 0,12<br />

Outro protetor, o filtro de proteção distal ou FilterWire<br />

® , é um dispositivo constituído por uma corda-guia<br />

com 0,014" de diâmetro, com filtro de poliuretano montado<br />

em um anel de nitinol na sua extremidade distal,<br />

de forma oval, e com poros de ≈ 100 µm.<br />

Com a finalidade de comparar os dois sistemas<br />

de proteção distal, foi realizado o estudo “FilterWire<br />

EX Randomized Evaluation” (FIRE) (12) . Foram incluídos,<br />

prospectivamente, 651 pacientes para a<br />

intervenção percutânea (682 pontes de veia safena)<br />

e randomizados em dois grupos: um grupo utilizou<br />

o sistema FilterWire ® e outro, o PercuSurge<br />

GuardWire ® .<br />

O sucesso do procedimento, a obtenção de fluxo<br />

maior nos doentes em que o vaso culpado era a ponte<br />

de veia safena comparativamente àqueles em que o<br />

evento era na artéria coronária (9,4% vs. 2,6%; p = 0,02).<br />

Aos seis meses, a mortalidade dos pacientes com oclusão<br />

da ponte de veia safena foi extremamente alta<br />

(22,6%). Com a finalidade de melhorar esses resultados<br />

nesse subgrupo de pacientes, foram desenvolvidos<br />

dispositivos que aspiram diretamente os trombos<br />

(angiojet RT system ® e X-SIZER dual lumen catheter ® )<br />

ou os desintegram pelo efeito do ultra-som (Acolysis ® ).<br />

No entanto, nenhum desses sistemas foi capaz de proporcionar<br />

impacto positivo nos pacientes com infarto<br />

agudo do miocárdio por oclusão da ponte de veia safena<br />

(14-16) .<br />

416 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PIMENTEL FILHO WA<br />

e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

em lesões de ponte<br />

de veia safena<br />

DESAFIO DA<br />

REESTENOSE<br />

ores foi de 87%. No “Study to Evaluate Carotid Ultrasound<br />

changes in patients treated with Ramipril and vitamin E”<br />

(SECURE) (19) , um subgrupo de 66 pacientes era portador<br />

de doença nos enxertos cirúrgicos. No total, 88 lesões<br />

foram tratadas com stent recoberto com sirolimus (EVS =<br />

60 e enxertos arteriais = 21), das quais 90,1% foram abordadas<br />

por reestenose intra-stent e 65,4% já tinham sido<br />

submetidas a braquiterapia. Quando comparados os dois<br />

grupos de pacientes, o grupo em que foram tratados os<br />

enxertos (venosos ou arteriais) “versus” o grupo daque-<br />

Tabela 3. Resultados aos trinta dias do estudo comparativo FIRE (12) . Não houve diferenças entre esses dois<br />

métodos de proteção distal durante a intervenção percutânea dos EVS nesse período de avaliação.<br />

FilterWire ® PercuSurge ®<br />

Objetivos principais (332 pacientes) (319 pacientes) valor de p<br />

Morte 0,9% 0,9% NS<br />

Infarto 9,0% 10% NS<br />

Infarto Q 0,9% 0,6% NS<br />

Infarto não-Q 8,1% 9,7% NS<br />

Nova revascularização 1,2% 1,9% NS<br />

Eventos cardíacos maiores 9,9% 11,6% NS<br />

NS = não significativo.<br />

Nos pacientes com doença<br />

na ponte de veia safena,<br />

o stent convencional<br />

falhou quando comparado<br />

ao balão pela modesta redução<br />

do índice de reestenose,<br />

a despeito do impacto<br />

nos eventos cardíacos maiores. Por outro lado, pelo<br />

caráter extremamente proliferativo da reestenose intrastent<br />

na ponte de veia safena, essa doença pode ser um<br />

modelo ideal para o uso dos stents recobertos com fármacos.<br />

O stent recoberto com sirolimus, macrolídeo que, além<br />

da atividade antibiótica e antifúngica, também possui potente<br />

propriedade antiproliferativa, imunossupressora e<br />

comprovadamente inibidora do ciclo de reprodução celular,<br />

assim como o recoberto com taxane-paclitaxel, quimioterápico<br />

que, em dose citostática, exibe potente poder<br />

antiproliferativo celular, têm-se mostrado com grande<br />

capacidade de reduzir a reestenose quando implantados<br />

nas artérias coronárias nativas (17) .<br />

Recentemente, o emprego do stent recoberto com sirolimus<br />

vem mostrando impacto positivo no tratamento<br />

de doentes com ponte de veia safena. Numa série de 19<br />

pacientes com doença na ponte de veia safena submetidos<br />

ao implante do stent recoberto com sirolimus, dos<br />

quais 68% encontravam-se com quadro isquêmico agudo,<br />

22 lesões foram tratadas com 35 stents recobertos<br />

com sirolimus (18) . A média de idade desses enxertos foi<br />

de dez anos e as complicações imediatas foram de 11%,<br />

correspondentes a 2 pacientes com infarto (enzimático)<br />

do miocárdio transprocedimento, e em ambos não se utilizou<br />

protetor distal. No período evolutivo médio de doze<br />

meses, apenas 1 paciente necessitou de nova revascularização<br />

e a sobrevivência livre de eventos cardíacos mailes<br />

cujas coronárias nativas foram tratadas, não houve<br />

diferença significativa seis meses depois no que diz respeito<br />

aos eventos cardíacos maiores (20% vs. 18,8%; NS),<br />

incluindo a necessidade de nova revascularização (16,7%<br />

vs. 17,3%; NS). O ultra-som intravascular, realizado em<br />

14 pontes de veia safena, mostrou ausência de hiperplasia<br />

intimal (< 1%) em 50% dos pacientes. A evolução clínica<br />

foi similar para aqueles com enxertos venosos e arteriais.<br />

Aguardamos os estudos exclusivamente direcionados<br />

às pontes de veia safena utilizando stents recobertos com<br />

paclitaxel ou outros fármacos.<br />

Nas Figuras 1 a 5 encontram-se exemplos de pacientes<br />

que se submeteram a revascularização percutânea<br />

com todos os dispositivos disponíveis em nosso meio. No<br />

primeiro caso, a finalidade principal foi tratar a lesão da<br />

ponte de veia safena; nos demais, também se complementou<br />

a revascularização em outros vasos, proporcionando,<br />

com isso, uma revascularização mais completa.<br />

Todos os pacientes foram pré-medicados com ácido acetilsalicílico<br />

e clopidogrel e durante o procedimento e 24<br />

horas após foi infundido inibidor de glicoproteína IIb/IIIa<br />

(tirofiban).<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Apesar do conhecimento dos aspectos negativos, a<br />

ponte de veia safena ainda é uma opção nas cirurgias<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 417


PIMENTEL FILHO WA<br />

e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

em lesões de ponte<br />

de veia safena<br />

de revascularização miocárdica,<br />

embora se observe<br />

preferência crescente<br />

pelos enxertos arteriais.<br />

Habitualmente, esse enxerto<br />

interfere na dinâmica<br />

da coronária à qual está<br />

anastomosado, submetendo<br />

sua total responsabilidade<br />

à perfusão miocárdica<br />

regional (1) . É pertinente<br />

referir que a literatura<br />

mostra oclusão total de 15% das pontes de veia<br />

safena no primeiro ano de evolução pós-operatória e<br />

que, dez anos depois, somente 60% se encontram permeáveis,<br />

sendo apenas 50% delas livres de estenoses<br />

significativas (20, 21) .<br />

Por outro lado, uma nova cirurgia de revascularização<br />

para corrigir o problema implica risco duas a quatro<br />

vezes maior que a inicial, com mortalidade cirúrgica<br />

em torno de 5% e infarto transoperatório de 8% (21) .<br />

Adicionalmente, a possibilidade de esses pacientes<br />

reoperados estarem livres de eventos cardíacos<br />

maiores é de apenas 50% no período evolutivo de cin-<br />

co anos (22) .<br />

A propósito, é evidente a evolução dos conhecimentos<br />

e da tecnologia para a aplicação da intervenção<br />

percutânea na doença das pontes de veia safena. No<br />

tocante aos dispositivos da intervenção percutânea com<br />

efeitos clínicos mais relevantes em relação aos demais,<br />

podemos citar, inicialmente, o stent convencional, posteriormente<br />

a proteção distal e, mais recentemente, o<br />

stent recoberto com sirolimus (aguardamos os resultados<br />

com o paclitaxel nas pontes de veia safena).<br />

Contudo, a despeito dos benefícios referidos, ainda<br />

não podemos considerar a revascularização percutânea<br />

como solução definitiva para o tratamento desse<br />

grave problema.<br />

Acreditamos que os aspectos negativos ainda vigentes<br />

na intervenção percutânea nos moldes em que<br />

é atualmente realizada possam decorrer de diversos<br />

fatores, como: a maioria dos estudos foi realizada em<br />

lesões focais excluindo os enxertos com degeneração<br />

mais acentuada; a inoperância dos inibidores da glicoproteína<br />

IIb/IIIa é, provavelmente, decorrente da macroembolização<br />

constituída de material predominantemente<br />

insensível a esses fármacos, requerendo, conseqüentemente,<br />

o desenvolvimento de outra medica-<br />

Fig. 1. Paciente de 78 anos, com angina instável. Operado há doze anos de mamária esquerda para a coronária<br />

descendente anterior e ponte de veia safena para a coronária circunflexa. A = As setas indicam duas lesões na<br />

ponte de veia safena, respectivamente em seu terço proximal (focal) e em seu terço médio (degenerada com<br />

trombo). B = Intervenção percutânea utilizando dois stents recobertos com paclitaxel, ambos com 4,0 mm x 20<br />

mm, respectivamente, em seu terço médio (seta 1) e em seu terço proximal (seta 3). Durante o procedimento foi<br />

realizada proteção distal com o filtro (seta 2). C = Resultado imediato evidenciando aspecto angiográfico satisfatório<br />

com eliminação da estenose (seta 1) e da degeneração (seta 2).<br />

418 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PIMENTEL FILHO WA<br />

e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

em lesões de ponte<br />

de veia safena<br />

Fig. 2. Paciente de 80<br />

anos, com angina instável.<br />

Operado há onze anos de<br />

artéria mamária esquerda<br />

para a coronária descendente<br />

anterior e ponte de<br />

veia safena para a artéria<br />

circunflexa e coronária direita.<br />

A = Lesão degenerada<br />

grave na ponte de veia<br />

safena para a artéria circunflexa.<br />

B = Stent com<br />

sirolimus 3,5 mm x 33 mm<br />

(seta 1) e filtro posicionado<br />

distalmente (seta 2). C =<br />

Resultado final.<br />

Fig. 3. O mesmo paciente<br />

da Figura 2, onde se vê: A<br />

= Três lesões na coronária<br />

direita (ponte de veia safena<br />

implantada na coronária<br />

direita há onze anos,<br />

ocluída). B = Realizado no<br />

mesmo procedimento, implante<br />

de dois stents com<br />

sirolimus (3,5 mm x 33 mm<br />

proximal e 3,0 mm x 18<br />

mm distal) na coronária<br />

direita, com resultado satisfatório.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 419


PIMENTEL FILHO WA<br />

e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

em lesões de ponte<br />

de veia safena<br />

ção mais específica; os<br />

resultados clínicos dos estudos<br />

com protetores distais<br />

foram avaliados em<br />

apenas trinta dias e ainda<br />

não foram reproduzidos<br />

satisfatoriamente em centros<br />

com controle independente<br />

dos resultados; e a<br />

avaliação dos stents recobertos<br />

com fármacos antiproliferativos no tratamento<br />

da estenose da ponte de veia safena provém de poucos<br />

estudos, contemplando uma população pequena<br />

de indivíduos. Adicionalmente, a aterosclerose do EVS<br />

caracteriza-se por seu caráter altamente progressivo,<br />

com aparecimento de novas lesões em locais independentes<br />

daqueles que receberam os stents.<br />

Assim, são de fundamental importância para os pacientes<br />

portadores de doença aterosclerótica nas pontes<br />

de veia safena, tratados com protetores distais e<br />

Fig. 4. Paciente de 75 anos com angina instável. Operado há oito anos com implante de artéria mamária esquerda<br />

para a coronária descendente anterior e ponte de veia safena para a artéria circunflexa. A = Lesão grave na<br />

ponte de veia safena para a artéria circunflexa. B = Stent com paclitaxel 4,0 mm x 20 mm (seta 1) e filtro posicionado<br />

distalmente (seta 2). C = Resultado final com imagem angiográfica satisfatória.<br />

Fig. 5. O mesmo paciente da Figura 4, onde se vê: A = Lesão ulcerada na artéria subclávia esquerda (seta 1)<br />

comprometendo a mamária esquerda (seta 2), que se encontra anastomosada na coronária descendente anterior.<br />

B = No mesmo procedimento, implantado stent 8,0 mm x 35 mm na artéria subclávia esquerda. C = Resultado<br />

final do procedimento com satisfatória imagem angiográfica.<br />

420 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PIMENTEL FILHO WA<br />

e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

em lesões de ponte<br />

de veia safena<br />

stents farmacológicos,<br />

tanto a análise de maior<br />

contingente de casos<br />

como a avaliação clínica (e<br />

angiográfica) por períodos<br />

mais prolongados.<br />

Por outro lado, a intervenção<br />

percutânea na doença da ponte de veia safena<br />

progressivamente crescerá e sua evolução estará diretamente<br />

relacionada ao potencial tecnológico e científico<br />

que está por vir. Assim, brevemente estaremos<br />

frente a novos e sofisticados dispositivos, que, associados<br />

ou não aos já existentes, melhorarão os resultados<br />

clínicos atuais.<br />

PERCUTANEOUS INTERVENTION FOR SAPHENOUS<br />

VEIN GRAFT DISEASE<br />

WILSON ALBINO PIMENTEL FILHO, MAÉVE DE BARROS CORREIA,<br />

EDSON ALCIDES BOCCHI, MILTON MACEDO SOARES NETO,<br />

STOESSEL FIGUEREDO DE ASSIS, JORGE ROBERTO BÜCHLER, EGAS ARMELIN<br />

Saphenous vein graft still is an option in the coronary artery bypass graft operations,<br />

although 15% will be occluded at one year and 50% will be occluded at 10<br />

years due to progressive graft atherosclerosis. Repeated operation is associated<br />

with high mortality and morbidity. Also, percutaneous revascularization is complicated<br />

by a high rate of procedural and long term complications due to the interrelated<br />

phenomenon of distal embolization, no-reflow, periprocedure myocardial infarction,<br />

and subsequent restenosis. Many pharmaceutical and device based approaches<br />

have been tested in order to avoid these complications, but few have shown benefit,<br />

such as the use of stent and distal protection device. The novel drug-eluting stents<br />

are promising in the reduction of the occurrence of restenosis. The present percutaneous<br />

intervention options for the saphenous vein graft disease are reviewed in this<br />

article.<br />

Key words: saphenous vein graft disease, percutaneous intervention, percutaneous<br />

revascularization.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:414-22)<br />

RSCESP (72594)-1562<br />

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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 421


PIMENTEL FILHO WA<br />

e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

em lesões de ponte<br />

de veia safena<br />

cutaneous saphenous vein<br />

graft treatment? A comparison<br />

of 1990 to 1994 and<br />

1995 to 1998 results. J Am<br />

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12. Stone GW, Rogers C, Hermiller J, et al. Randomized<br />

comparison of distal protection with a filter-based<br />

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system during percutaneous intervention of diseased<br />

saphenous vein aorto-coronary bypass grafts.<br />

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422 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ARAÚJO CM e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

coronária nos multiarteriais:<br />

análise crítica dos<br />

estudos randomizados<br />

INTERVENÇÃO PERCUTÂNEA CORONÁRIA NOS<br />

MULTIARTERIAIS: ANÁLISE CRÍTICA DOS<br />

ESTUDOS RANDOMIZADOS<br />

CRISTIANA MARQUES DE ARAÚJO, MARIA FERNANDA ZULIANI MAURO,<br />

JOSÉ ARMANDO MANGIONE<br />

Hemodinâmica – Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo<br />

Endereço para correspondência: Rua Maestro Cardim, 769 – Paraíso –<br />

CEP 01323-010 – São Paulo – SP<br />

Pacientes portadores de doença coronária multiarterial apresentam evolução clínica<br />

com maior risco de eventos cardíacos. Nessa população, o restabelecimento<br />

do fluxo coronário, além de melhorar os sintomas, possibilita aumento da sobrevida.<br />

Independentemente do tratamento escolhido, determinados fatores interferem com<br />

o prognóstico, como: idade, diabetes melito, disfunção de ventrículo esquerdo, extensão<br />

da doença arterial coronária, angina instável, isquemia em testes funcionais<br />

e revascularização incompleta em portadores de disfunção ventricular esquerda.<br />

Anteriormente, a única forma de tratamento invasivo era a revascularização cirúrgica;<br />

entretanto, com o desenvolvimento da angioplastia coronária transluminal,<br />

surgiu uma nova opção terapêutica.<br />

A intervenção coronária percutânea, inicialmente apenas com o uso do cateterbalão,<br />

pelo fato de ser menos invasiva, proporcionou menor tempo de internação e<br />

menor custo. No seguimento clínico, as taxas de óbito e infarto agudo do miocárdio<br />

foram similares às do grupo cirúrgico. Entretanto, verificou-se maior necessidade de<br />

nova revascularização no grupo percutâneo, em decorrência da reestenose coronária.<br />

A evolução do tratamento percutâneo verificada com os stents convencionais e,<br />

recentemente, com os farmacológicos proporcionou resultados progressivamente<br />

melhores, sendo hoje um método seguro e efetivo para o tratamento dos pacientes<br />

multiarteriais, inclusive no subgrupo de diabéticos.<br />

Futuros estudos randomizados com stents farmacológicos, como o FREEDOM,<br />

que pretende avaliar a ocorrência de desfechos primários (óbito, infarto agudo do<br />

miocárdio, acidente vascular cerebral) no seguimento clínico de três anos de pacientes<br />

diabéticos tratados com cirurgia ou intervenção coronária percutânea, e o<br />

SYNTAX, que irá randomizar pacientes multiarteriais ou com lesão em tronco de<br />

coronária esquerda, ou ambos, para tratamento com stents com paclitaxel ou revascularização<br />

cirúrgica, certamente trarão novos subsídios que auxiliarão na decisão<br />

terapêutica do paciente multiarterial.<br />

Palavras-chave: doença coronária multiarterial, angioplastia coronária, stent coronário.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:423-33)<br />

RSCESP (72594)-1563<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 423


ARAÚJO CM e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

coronária nos multiarteriais:<br />

análise crítica dos<br />

estudos randomizados<br />

INTRODUÇÃO<br />

A doença coronária<br />

multiarterial pode ser definida<br />

de três formas:<br />

a) presença de lesão obstrutiva<br />

> 70% em duas ou<br />

mais artérias coronárias;<br />

b) obstrução > 70% em um<br />

vaso e > 50% em outros;<br />

c) obstrução > 50% em<br />

duas ou mais coronárias<br />

(1-3) .<br />

Portadores de doença coronária multiarterial são<br />

mais suscetíveis às complicações decorrentes da aterosclerose,<br />

como óbito, infarto agudo do miocárdio,<br />

angina de peito, equivalente isquêmico, e à insuficiência<br />

cardíaca congestiva.<br />

O tratamento instituído deverá ter por objetivo melhorar<br />

a evolução clínica em relação à ocorrência desses<br />

eventos. Entretanto, ainda hoje, os pacientes multiarteriais<br />

são objeto de estudos quanto à melhor terapêutica<br />

a ser aplicada, considerando que as três formas<br />

de tratamento (medicamentoso, cirúrgico e percutâneo)<br />

apresentam vantagens e desvantagens.<br />

Deve-se salientar que vários fatores interferem com<br />

o prognóstico, independentemente do método escolhido.<br />

São de pior prognóstico: idade, diabetes melito, disfunção<br />

de ventrículo esquerdo, extensão da doença arterial<br />

coronária, angina instável, isquemia em testes<br />

funcionais e revascularização incompleta em portadores<br />

de disfunção ventricular esquerda (4, 5) . Sabe-se que<br />

na intervenção cirúrgica o uso de enxertos arteriais traz<br />

melhores resultados, enquanto na intervenção coronária<br />

percutânea o implante de stents amplia as indicações<br />

e diminui a taxa de reestenose.<br />

A revascularização completa é fator de grande importância,<br />

principalmente nos pacientes multiarteriais<br />

portadores de disfunção ventricular esquerda, pois reduz<br />

os sintomas anginosos e prolonga a sobrevida (5) . A<br />

definição de revascularização completa é controversa,<br />

podendo ser considerada como tratamento de todas<br />

as lesões > 70% ou ausência de lesão > 50% após o<br />

término do procedimento (6) . Define-se revascularização<br />

completa funcional como a abordagem apenas das lesões<br />

causadoras de isquemia, o que é particularmente<br />

importante nos casos de intervenção coronária percutânea,<br />

considerando-se o aumento da taxa de reestenose<br />

que pode ocorrer ao se tentar abordar todos os<br />

vasos acometidos.<br />

Os pacientes diabéticos constituem um grupo peculiar,<br />

pois apresentam determinadas características<br />

que elevam o risco de mortalidade após o tratamento<br />

invasivo, principalmente os dependentes de insulina,<br />

idosos ou com função cardíaca ou renal comprometida<br />

(7) .<br />

TRATAMENTO PERCUTÂNEO COM CATETER-<br />

BALÃO vs. REVASCULARIZAÇÃO CIRÚRGIA<br />

Os principais estudos randomizados que compararam<br />

o tratamento percutâneo com cateter-balão vs. revascularização<br />

cirúrgica em pacientes com doença coronária<br />

multiarterial encontram-se descritos na Tabela<br />

1 (8-13) . A maioria desses pacientes apresentava doença<br />

em duas artérias e função ventricular esquerda preservada.<br />

No período hospitalar, a intervenção coronária percutânea,<br />

pelo fato de ser menos invasiva, proporcionou<br />

menor tempo de internação, com retorno precoce<br />

às atividades habituais e menor custo. O tratamento<br />

cirúrgico, por outro lado, obteve taxas mais elevadas<br />

de revascularização completa; entretanto, observou-se<br />

maior incidência de infarto agudo do miocárdio peri-<br />

Tabela 1. Estudos comparando intervenção coronária percutânea com balão vs. revascularização cirúrgica miocárdica<br />

em multiarteriais.<br />

Número Lesão FE Mamária Sucesso<br />

n de vasos (%) (%) (%) da ATC<br />

RITA (8) 1.011 > 1* > 70 - 74 87<br />

ERACI (9) 127 > 2 > 70 61 77 92<br />

GABI (10) 359 > 2 > 70 56 37 88<br />

CABRI (11) 1.054 > 2 > 50 63 81 91<br />

EAST (12) 392 > 2 - 62 90 88<br />

BARI (13) 1.829 > 2 > 50 57 82 88<br />

n = número de pacientes; FE = fração de ejeção; ATC = angioplastia transluminal coronária.<br />

* 45% dos pacientes eram uniarteriais.<br />

424 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ARAÚJO CM e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

coronária nos multiarteriais:<br />

análise crítica dos<br />

estudos randomizados<br />

procedimento. Os resultados<br />

hospitalares estão<br />

apresentados na Tabela<br />

2 (8-13) .<br />

No seguimento clínico<br />

(Tab. 3), a evolução foi similar<br />

em relação às taxas<br />

de óbito e infarto agudo do<br />

miocárdio (8, 10-12, 14-20) . Entretanto,<br />

verificou-se maior<br />

or extensão da doença coronária, disfunção ventricular<br />

esquerda e padrão difuso de aterosclerose coronária,<br />

levando a maior probabilidade de revascularização<br />

incompleta. Além disso, a taxa de reestenose<br />

por proliferação neointimal exacerbada é maior nos<br />

diabéticos, assim como a progressão da doença é<br />

mais acelerada. A vantagem do tratamento cirúrgico<br />

esteve relacionada à utilização do enxerto da artéria<br />

mamária, principalmente para a revascularização da<br />

artéria descendente anterior, pela sua alta taxa de<br />

Tabela 2. Estudos comparando intervenção coronária percutânea com balão vs. revascularização cirúrgica miocárdica<br />

em multiarteriais – Fase Hospitalar.<br />

Óbito (%) IAM (%) AVC (%) RM urgente<br />

RITA (8) ATC 0,7 3,5 1,8 4,5<br />

RM 1,2 2,4 2,0 -<br />

ERACI (9) ATC 1,5 6,3 1,5 1,5<br />

RM 4,6 6,2 3,1 -<br />

GABI (10) ATC 1,1 2,3 0 2,8<br />

RM 2,5 8,1** 1,2 -<br />

CABRI (11) ATC 1,3 - - 3,3<br />

RM 1,3 - - -<br />

EAST (12) ATC 1,0 3 0,5 10,1<br />

RM 1,0 10,3** 1,5 -<br />

BARI (13) ATC 1,1 2,1 0,2 6,3<br />

RM 1,3 4,6** 0,8 0,1<br />

IAM = infarto agudo do miocárdio; AVC = acidente vascular cerebral; RM = revascularização cirúrgica miocárdica;<br />

ATC = angioplastia transluminal coronária.<br />

** p < 0,001.<br />

necessidade de nova revascularização no grupo percutâneo,<br />

em decorrência de reestenose coronária. Em<br />

relação ao custo-efetividade, a vantagem inicial da intervenção<br />

coronária percutânea foi atenuada aos cinco<br />

anos, pelo excesso de novos procedimentos e rehospitalizações.<br />

Houve também maior presença de<br />

angina recorrente e de necessidade de terapia antianginosa.<br />

Uma meta-análise de seis estudos (21) confirmou<br />

esses achados iniciais.<br />

No subgrupo de pacientes portadores de diabetes<br />

melito, verificou-se menor mortalidade a longo<br />

prazo com o tratamento cirúrgico. O estudo BARI (20) ,<br />

que incluiu 353 pacientes diabéticos, demonstrou, ao<br />

final de sete anos, taxa de sobrevida de 76,4% no<br />

grupo cirúrgico vs. 55,7% no grupo percutâneo (p =<br />

0,001). A dificuldade para o melhor controle desses<br />

pacientes com a intervenção coronária percutânea<br />

decorreu do fato de essa população apresentar maipermeabilidade<br />

a longo prazo. Os eventos cardíacos<br />

adversos maiores encontram-se descritos na Tabela<br />

4. Esses achados também foram observados em uma<br />

subanálise do estudo CABRI (22) .<br />

IMPLANTE DE STENT vs.<br />

REVASCULARIZAÇÃO CIRÚRGICA<br />

Os estudos iniciais com o implante de stents coronários<br />

comparados ao cateter-balão (STRESS (23) e BE-<br />

NESTENT (24) ) demonstraram resultados favoráveis, com<br />

redução da taxa de reestenose e conseqüentemente<br />

menor necessidade de nova revascularização. Ocorreu<br />

também ampliação das indicações do tratamento<br />

percutâneo, possibilitando a abordagem de lesões de<br />

maior complexidade e controle das principais complicações<br />

da angioplastia coronária como dissecção da<br />

artéria, oclusão aguda do vaso e eliminação do reco-<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 425


ARAÚJO CM e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

coronária nos multiarteriais:<br />

análise crítica dos<br />

estudos randomizados<br />

lhimento elástico.<br />

Esses achados levaram<br />

à realização de novos<br />

estudos, que compararam<br />

o implante de stents vs. revascularização<br />

cirúrgica<br />

nos pacientes multiarteriais.<br />

Os principais estudos<br />

randomizados encontramse<br />

descritos nas Tabela 5<br />

maior taxa de mortalidade (6,3% vs. 3,1%) e necessidade<br />

de revascularização (22,3% vs. 3,1%) no grupo<br />

percutâneo (30) . Em uma subanálise dos 208 diabéticos<br />

submetidos a intervenção coronária percutânea, houve<br />

maior mortalidade e eventos cardíacos adversos maiores<br />

nesse grupo comparado aos não-diabéticos submetidos<br />

à mesma forma de tratamento. No tratamento<br />

cirúrgico, os diabéticos apresentaram maior taxa de<br />

acidente vascular cerebral quando comparados aos<br />

não-diabéticos (31) .<br />

Tabela 3. Estudos comparando intervenção coronária percutânea com balão vs. revascularização cirúrgica miocárdica<br />

em multiarteriais – Seguimento Clínico.<br />

Seguimento<br />

(anos) Óbito (%) IAM (%) Nova RV (%)<br />

RITA (8) 2,5 ATC 3,1 6,7 37,1<br />

RM 3,6 5,2 4,0<br />

RITA (14) 6,5 ATC 7,6 10,8 53,0<br />

RM 9,0 7,4 12,0<br />

ERACI (15) 3 ATC 9,5 7,8 37<br />

RM 4,7 7,8 6,3*<br />

ERACI (16) 5 ATC 12,7 11,1 38<br />

RM 9,4 9,4 6,3<br />

GABI (10) 1 ATC 2,2 3,8 44<br />

RM 5,1 7,3 6,0*<br />

GABI (17) 3 ATC - - 37<br />

RM - - 3,2<br />

CABRI (11) 1 ATC 3,9 4,9 33,6<br />

RM 2,7 3,5 6,5<br />

EAST (12) 3 ATC 7,1 14,6 54<br />

RM 6,2 19,6 13*<br />

EAST (18) 8 ATC 21,7 - 65,3<br />

RM 17,3 - 26,5<br />

BARI (19) 5 ATC 13,7 21,3 54,5<br />

RM 10,7 19,6 8,0*<br />

BARI (20) 7,8 ATC 19,1* 7,4 59,7**<br />

RM 15,6 9,1 13,1<br />

IAM = infarto agudo do miocárdio; RV = revascularização; ATC = angioplastia transluminal coronária; RM =<br />

revascularização cirúrgica miocárdica.<br />

* p < 0,05; ** p < 0,001.<br />

e 6 (25-29) . A relação custo-efetividade analisada pelo estudo<br />

ARTS I (25) mostrou diferença significativamente<br />

favorável ao tratamento percutâneo ao final de um ano<br />

(p < 0,05).<br />

No subgrupo de pacientes diabéticos do ARTS I,<br />

houve maior incidência de acidente vascular cerebral<br />

com o tratamento cirúrgico no período hospitalar (4,2%<br />

vs. 0%; p = 0,041). Ao final de um ano, observou-se<br />

No seguimento clínico de três anos do ARTS (32) , observou-se<br />

evolução semelhante em relação à incidência<br />

de óbito, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular<br />

cerebral. A necessidade de nova revascularização<br />

foi mais freqüente na intervenção coronária percutânea<br />

(22% vs. 4,8%); no entanto, verificou-se expressiva<br />

redução quando comparada ao cateter-balão (54%,<br />

estudo BARI vs. 22%, ARTS I-3 anos).<br />

426 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ARAÚJO CM e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

coronária nos multiarteriais:<br />

análise crítica dos<br />

estudos randomizados<br />

STENT<br />

FARMACOLÓGICO vs.<br />

REVASCULARIZAÇÃO<br />

CIRÚRGICA<br />

Apesar dos benefícios<br />

do implante de stents comparados<br />

aos do uso do<br />

cateter-balão, a reestenose<br />

ainda representava<br />

stent farmacológico eluído com sirolimus vs. 26% no<br />

grupo controle com stent convencional (p < 0,001). O<br />

estudo SIRIUS (34) , que randomizou 1.053 pacientes em<br />

53 centros nos Estados Unidos com lesões de maior<br />

complexidade e maior incidência de pacientes diabéticos,<br />

apresentou taxa de reestenose de 8,9% (grupo<br />

stent farmacológico eluído com sirolimus) vs. 21% (grupo<br />

controle) (p < 0,001). Esses resultados favoráveis<br />

iniciais foram confirmados em estudos posteriores (35-<br />

37)<br />

.<br />

Tabela 4. Eventos cardíacos adversos maiores do estudo BARI em pacientes diabéticos.<br />

Seguimento<br />

Nova<br />

n (anos) Óbito (%) IAM (%) RV (%)<br />

BARI (20) 353 7,8 ATC 44,3 5,7 69,9<br />

RM 23,6* 9,2 11,1**<br />

n = número de pacientes; IAM = infarto agudo do miocárdio; RV = revascularização; ATC = angioplastia transluminal<br />

coronária; RM = revascularização cirúrgica miocárdica.<br />

* p = 0,0011; ** p = 0,0078.<br />

uma limitação da intervenção coronária percutânea.<br />

Grande avanço certamente ocorreu após os resultados<br />

de estudos com stents farmacológicos, em que foi<br />

observada redução significativa dessas taxas.<br />

O primeiro estudo randomizado que comparou a utilização<br />

do stent farmacológico eluído com sirolimus com<br />

o stent convencional em pacientes uniarteriais foi o RA-<br />

VEL (33) . Ao final de nove meses, o controle angiográfico<br />

demonstrou taxa de reestenose de 0% no grupo do<br />

Outro stent farmacológico que tem sido largamente<br />

utilizado é o eluído com paclitaxel. O estudo TAXUS<br />

IV (38) utilizando esse stent também demonstrou redução<br />

das taxas de reestenose, comparativamente ao<br />

grupo de stent convencional.<br />

A efetividade do emprego dos stents farmacológicos<br />

nos pacientes multiarteriais foi analisada no estudo<br />

ARTS II (39) , que selecionou 607 pacientes em 45 centros<br />

europeus para tratamento com o stent farmacoló-<br />

Tabela 5. Estudos comparando intervenção coronária percutânea com implante de stent vs. revascularização<br />

cirúrgica miocárdica em multiarteriais.<br />

Mamária/ Número de stents/<br />

n DM (%) stents (%) enxerto por paciente<br />

ARTS (25) ATC 600 19 89 2,6<br />

RM 605 16 95 2,6<br />

SOS (26) ATC 485 - 78 2,2<br />

RM 487 - - 2,8<br />

ERACI II (27) ATC 225 17,3 - 1,4<br />

RM 225 17,3 88,5 2,7<br />

MASS II (28) ATC 205 - 70 2,0<br />

RM 203 - 93 3,1<br />

Clínico 203 - - -<br />

n = número de pacientes; DM = diabetes melito; ATC = angioplastia transluminal coronária; RM = revascularização<br />

cirúrgica miocárdica.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 427


ARAÚJO CM e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

coronária nos multiarteriais:<br />

análise crítica dos<br />

estudos randomizados<br />

gico eluído com sirolimus.<br />

Esses pacientes foram<br />

comparados com o grupo<br />

cirúrgico e percutâneo do<br />

estudo ARTS I. Os resultados<br />

recentemente apresentados<br />

no Congresso do<br />

“American College of Cardiology”<br />

(2005) demonstraram<br />

que, pela primeira<br />

vez ao final de doze meses de seguimento clínico, a<br />

intervenção coronária percutânea apresentou sobrevida<br />

livre de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular<br />

cerebral superior à verificada no grupo cirúrgico<br />

do estudo ARTS I (96,9% vs. 92%; p < 0,001) (Fig. 1).<br />

Evidenciou-se também expressiva diminuição da necessidade<br />

de nova revascularização em relação ao grupo<br />

percutâneo do ARTS I (7,4% vs. 17%) (Tab. 7).<br />

Os stents farmacológicos demonstraram benefícios<br />

no subgrupo de pacientes diabéticos, pois a taxa de<br />

Tabela 6. Seguimento clínico dos estudos comparando intervenção coronária percutânea com implante de stent<br />

vs. revascularização cirúrgica miocárdica em multiarteriais.<br />

Seguimento<br />

Nova<br />

(anos) Óbito (%) IAM (%) AVC (%) RV (TLR) (%)<br />

ARTS I (25) 1 ATC 2,5 6,0 2,0 22,4<br />

RM 2,8 4,6 2,2 4,0**<br />

ARTS I (26) 3 ATC 3,7 7,3 3,3 29,2<br />

RM 4,6 5,7 3,3 7,3<br />

SOS (27) 1 ATC 2,5 - - 13<br />

RM 0,8 - - 4,8<br />

ERACI II (28) 1,5 ATC 3,1 2,3 0 16,8<br />

RM 7,5 6,3* 9 4,8*<br />

MASS II (29) 1 ATC 4,5 8 0 14<br />

RM 3,5 2 0 0<br />

Clínico 1,5 3 0 8<br />

IAM = infarto agudo do miocárdio; AVC = acidente vascular cerebral; RV = revascularização; TLR = taxa de<br />

revascularização da lesão-alvo (“target lesion revascularization”); ATC = angioplastia transluminal coronária; RM<br />

= revascularização cirúrgica miocárdica.<br />

** p < 0,001.<br />

Tabela 7. Seguimento de um ano do ARTS II comparado ao ARTS I.<br />

ARTS II ARTS I-RM ARTS I-ICP<br />

(n = 607) (n = 602) (n = 600)<br />

Óbito* 1,0% 2,7% 2,7%<br />

AVC* 0,8% 1,8% 1,8%<br />

IAM* 1,0% 3,5% 5,0%<br />

Nova RV 2,0% 0,7% 4,7%<br />

Nova ICP 5,4% 3,0% 12,3%<br />

Todos os ECAM 10,2% 11,6% 26,5%<br />

RM = revascularização cirúrgica do miocárdio; ICP = intervenção coronária percutânea; n = número de pacientes;<br />

AVC = acidente vascular cerebral; IAM = infarto agudo do miocárdio; RV = revascularização; ECAM = eventos<br />

cardíacos adversos maiores.<br />

* Óbito, AVC e IAM ARTS II vs. ARTS I-CABG (p < 0,001).<br />

428 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ARAÚJO CM e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

coronária nos multiarteriais:<br />

análise crítica dos<br />

estudos randomizados<br />

mortalidade e de eventos<br />

combinados ao final de um<br />

ano foi semelhante à do<br />

grupo cirúrgico do ARTS I.<br />

Esses resultados estão<br />

apresentados na Tabela 8.<br />

CONCLUSÃO<br />

Pacientes portadores<br />

de doença coronária multiarterial apresentam evolução<br />

clínica com maior risco de eventos cardíacos. Nessa<br />

população, o restabelecimento do fluxo coronário, além<br />

de melhorar os sintomas, possibilita aumento da sobrevida.<br />

Inicialmente, a única forma de tratamento invasivo<br />

era a revascularização cirúrgica; entretanto, com o desenvolvimento<br />

da angioplastia coronária transluminal<br />

por Andréas Gruentzig, em 1977, (40) surgiu uma nova<br />

forma terapêutica menos invasiva e com menor tempo<br />

b<br />

a<br />

c<br />

a-<br />

b -<br />

c -<br />

Figura 1. ARTS II: óbito, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral no seguimento de<br />

um ano (p < 0,001 entre ARTS II e ARTS I-RM).<br />

Tabela 8. Eventos cardíacos adversos maiores no subgrupo dos diabéticos.<br />

ARTS II ARTS I-RM ARTS I-ICP<br />

(n = 159) (n = 96) (n = 112)<br />

Óbito* 2,5% 3,1% 6,3%<br />

AVC* 0,0% 5,2% 1,8%<br />

IAM* 0,6% 2,1% 6,3%<br />

Nova RV 3,1% 1,0% 8,0%<br />

Nova ICP 9,4% 3,1% 14,3%<br />

Todos os ECAM 15,7% 14,6% 36,6%<br />

RM = revascularização cirúrgica do miocárdio; ICP = intervenção coronária percutânea; n = número de pacientes;<br />

AVC = acidente vascular cerebral; IAM = infarto agudo do miocárdio; RV = revascularização; ECAM = eventos<br />

cardíacos adversos maiores.<br />

* Não houve diferença estatística significativa nos ECAM entre o ARTS II e o ARTS I-RM (p = 0,86). Houve<br />

diferença estatística significativa nos ECAM entre o ARTS II e o ARTS I-ICP (p < 0,001).<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 429


ARAÚJO CM e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

coronária nos multiarteriais:<br />

análise crítica dos<br />

estudos randomizados<br />

de permanência hospitalar.<br />

A evolução do tratamento<br />

percutâneo verificada<br />

com os stents convencionais<br />

e, recentemente,<br />

com os farmacológicos<br />

proporcionou resultados<br />

progressivamente melhores,<br />

sendo hoje um método<br />

seguro e efetivo para o<br />

tratamento dos pacientes<br />

multiarteriais, inclusive no subgrupo de diabéticos.<br />

Estudos como o FREEDOM (41) , randomizado e multicêntrico,<br />

e que pretende avaliar o seguimento clínico<br />

de três anos de 2.400 pacientes diabéticos submetidos<br />

a revascularização cirúrgica ou intervenção coronária<br />

percutânea com stent farmacológico (sirolimus<br />

ou paclitaxel) quanto à ocorrência de desfechos primários<br />

(óbito, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular<br />

cerebral), auxiliarão na terapêutica desse subgrupo<br />

de pacientes.<br />

Outros estudos randomizados, como o SYNTAX (41) ,<br />

que pretende randomizar pacientes multiarteriais ou<br />

com lesão em tronco de coronária esquerda ou ambos<br />

para serem tratados com revascularização cirúrgica ou<br />

intervenção coronária percutânea com implante de stent<br />

eluído com paclitaxel, trarão seguramente novos subsídios,<br />

que auxiliarão na decisão terapêutica do paciente<br />

multiarterial.<br />

430 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ARAÚJO CM e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

coronária nos multiarteriais:<br />

análise crítica dos<br />

estudos randomizados<br />

MULTIVESSEL PERCUTANEOUS CORONARY<br />

INTERVENTION: CRITICAL ANALYSIS OF<br />

RANDOMIZED TRIALS<br />

CRISTIANA MARQUES DE ARAÚJO, MARIA FERNANDA ZULIANI MAURO,<br />

JOSÉ ARMANDO MANGIONE<br />

Patients with multivessel coronary disease present a worse clinical evolution with<br />

higher risk of cardiac events. In this population, the reestablishment of the coronary<br />

flow, besides improving the symptoms increase the rate of survival in the follow-up<br />

period. Some factors are predictors of the prognostic, independent of the type of<br />

treatment: age, diabetes mellitus, left ventricular dysfunction, extension of the coronary<br />

arterial disease, unstable angina, ischemia in functional tests and incomplete<br />

revascularization in patients with left ventricular dysfunction.<br />

Previously, surgical revascularization was the only option for invasive treatment,<br />

however, with the development of the transluminal coronary angioplasty, a new therapeutic<br />

approach has emerged.<br />

Initially percutaneous coronary intervention with the balloon-catheter, less invasive<br />

compared with surgical treatment, provided a reduction in the hospital stay and<br />

lower cost. In the follow-up period the rate of death and myocardial infarction were<br />

similar between groups. However, higher need for new revascularization procedure<br />

due to restenosis was found in the percutaneous group.<br />

The evolution of the percutaneous treatment with conventional stents and recently<br />

with drug eluting stents, provided better results, being today a safe and effective<br />

method for the treatment of patients with multivessel coronary disease, including<br />

diabetic patients.<br />

Future randomized studies with drug eluting stents, as FREEDOM that intends to<br />

evaluate the occurrence of major cardiac events (death, myocardial infarction, stroke),<br />

after 3 years in the diabetic population treated with surgery or percutaneous coronary<br />

intervention and the SYNTAX, that will randomize patients with coronary multivessel,<br />

left main disease, or both, to be treated with paclitaxel-eluting stents or cardiac<br />

surgery, certainly will bring new date for the treatment of multivessel coronary patients.<br />

Key words: multivessel coronary disease, coronary angioplasty, coronary stents.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:423-33)<br />

RSCESP (72594)-1563<br />

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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 431


ARAÚJO CM e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

coronária nos multiarteriais:<br />

análise crítica dos<br />

estudos randomizados<br />

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432 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


ARAÚJO CM e cols.<br />

Intervenção percutânea<br />

coronária nos multiarteriais:<br />

análise crítica dos<br />

estudos randomizados<br />

terial Revascularization<br />

Therapy Study (ARTS-3<br />

anos) Investigators. Three-<br />

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disease: rationale for the Arterial Revascularization<br />

Therapies Study part II (ARTS II). Heart.<br />

2004;90:995-8.<br />

40. Gruentzig AR, Senning A, Siegenthaler WE. Non<br />

operative dilatation of coronary artery stenosis: percutaneous<br />

transluminal coronary angioplasty. N Engl<br />

J Med. 1979;301:61-8.<br />

41. Disponível em e .<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 433


STENTS FARMACOLÓGICOS – O ESTADO ATUAL<br />

L<strong>EM</strong>OS PA e cols.<br />

Stents farmacológicos –<br />

o estado atual<br />

PEDRO A. L<strong>EM</strong>OS, EULÓGIO E. MARTINEZ, MARCO A. PERIN,<br />

EXPEDITO E. RIBEIRO<br />

Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista –<br />

Instituto do Coração (InCor) – HC-FMUSP<br />

Endereço para correspondência: Av. Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 44 –<br />

Bloco I – 3º andar – Cerqueira César – CEP 05403-900 – São Paulo – SP<br />

A reestenose intra-stent é a principal limitação da intervenção percutânea coronária.<br />

Os stents farmacológicos utilizam o próprio stent como plataforma carreadora<br />

de drogas com ação anti-reestenótica. Os stents recobertos com os agentes antiproliferativos<br />

têm apresentado desempenho significativamente favorável em comparação<br />

aos stents convencionais, como demonstrado em diversos estudos clínicos<br />

recentes. Além dessas vantagens, o presente artigo sumariza os resultados de avaliações<br />

que compararam os stents farmacológicos com outras técnicas de tratamento<br />

para pacientes com doença coronária (como, por exemplo, cirurgia de revascularização<br />

miocárdica).<br />

Palavras-chave: angioplastia, doença coronariana, aterosclerose, reestenose.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:434-47)<br />

RSCESP (72594)-1564<br />

INTRODUÇÃO<br />

A reestenose intra-stent é reconhecidamente a principal<br />

limitação da intervenção percutânea coronária,<br />

com taxas superiores a 40% sendo reportadas em<br />

subgrupos de maior complexidade. (1) Além disso, a reestenose<br />

intra-stent pode recorrer em até 80% dos<br />

casos de maior risco após o re-tratamento percutâneo<br />

com técnicas convencionais. (2) Apesar de a braquiterapia<br />

endovascular reduzir significativamente o risco de<br />

re-reestenose, a taxa de complicações tardias com essa<br />

técnica ainda é relativamente alta. Embora diversos<br />

“preditores” de reestenose já tenham sido descritos,<br />

sua principal aplicação limita-se à caracterização de<br />

populações de risco para a complicação. Infelizmente,<br />

os métodos de predição disponíveis atualmente são<br />

insatisfatórios para a avaliação do prognóstico do paciente<br />

individual. (3-6)<br />

Diversos estudos experimentais e clínicos demonstram<br />

que a reestenose intra-stent é quase exclusiva-<br />

mente relacionada à proliferação de tecido neointimal<br />

dentro do stent. Apesar de os processos fisiopatológicos<br />

envolvidos no crescimento neointimal e na reestenose<br />

serem relativamente bem conhecidos, diversos<br />

estudos clínicos utilizando agentes sistêmicos falharam<br />

em reduzir a incidência da complicação. (7) Entre outros<br />

motivos potenciais, é provável que as baixas concentrações<br />

do agente no local da dilatação (decorrente da<br />

limitação imposta pela toxicidade da administração por<br />

via sistêmica) possa justificar a falta da ação clínica<br />

anti-reestenose observada nesses estudos. De maneira<br />

semelhante, uma série de estratégias mecânicas<br />

destinadas a aumentar o lúmen vascular pós-intervenção,<br />

um dos maiores preditores de reestenose tardia,<br />

também falhou em reduzir as taxas de reestenose. (7)<br />

Mais recentemente, stents eluidores de agentes bioativos<br />

têm surgido como opção terapêutica para a profilaxia<br />

da reestenose. O conceito baseia-se em utilizar<br />

o próprio stent como plataforma carreadora, sobre a<br />

qual drogas com ação antiproliferativa são adiciona-<br />

434 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


L<strong>EM</strong>OS PA e cols.<br />

Stents farmacológicos –<br />

o estado atual<br />

das. Comumente, o fármaco<br />

é adicionado ao stent<br />

por meio de uma mistura<br />

química com filmes poliméricos<br />

que possibilitam à<br />

droga ser liberada de forma<br />

gradual e controlada<br />

ao longo de semanas.<br />

Dessa maneira, o complexo<br />

stent-(polímero)-droga<br />

permite que o agente ativo<br />

seja aplicado concomitantemente<br />

à dilatação mecânica, precisamente no local<br />

do tratamento, com altas concentrações teciduais,<br />

com pouco ou nenhum nível sistêmico circulante e com<br />

efeito local prolongado. Além disso, a combinação de<br />

um fármaco anti-reestenose ao stent possibilita que<br />

todas as características mecânicas benéficas dos stents<br />

sejam preservadas.<br />

STENTS FARMACOLÓGICOS: COMPARAÇÃO<br />

COM STENTS CONVENCIONAIS PARA O<br />

TRATAMENTO DE LESÕES “DE NOVO”<br />

O stent recoberto com sirolimus (Cypher ® , Cordis<br />

Corporation, Johnson & Johnson) foi o primeiro stent<br />

farmacológico a se mostrar eficaz em reduzir a reestenose.<br />

(8) Após a experiência do estudo “First-In-<br />

Man” (8) , que evidenciou “taxa zero” de reestenose em<br />

45 pacientes, diversos estudos randomizados demonstraram<br />

que esse dispositivo reduz significativamente<br />

a incidência de reestenose angiográfica e de<br />

re-intervenções, quando comparado a stents convencionais<br />

(Tab. 1). (9-13)<br />

Além de estudos randomizados (Tab. 1), a segurança<br />

e a eficácia do stent com sirolimus têm sido amplamente<br />

documentadas em estudos que incluem pacientes<br />

do chamado “mundo real”. Esses estudos são muito<br />

importantes por permitirem a inclusão de pacientes<br />

Tabela 1. Estudos randomizados comparando stents farmacológicos com stents convencionais para o tratamento<br />

de lesões “de novo”.<br />

Reestenose Reestenose<br />

Tempo de Necessidade binária binária<br />

seguimento de nova angiográfica angiográfica<br />

Estudo clínico revascularização intra-stent intra-segmento*<br />

RAVEL (n = 238)<br />

3 anos<br />

Sirolimus 4,2% 0% 0%<br />

Convencional 13,6% 26,6% 26,6%<br />

SIRIUS (n = 1.058)<br />

2 anos<br />

Sirolimus 6,3% 3,2% 8,9%<br />

Convencional 21,0% 35,4% 36,3%<br />

E-SIRIUS (n = 352)<br />

9 meses<br />

Sirolimus 4,0% 3,9% 5,9%<br />

Convencional 22,6% 41,7% 42,3%<br />

C-SIRIUS (n = 100)<br />

9 meses<br />

Sirolimus 4% 0% 2,3%<br />

Convencional 18,0% 45,5% 52,3%<br />

DIABETES (n = 160) 9 meses<br />

Sirolimus 7,5% 4,9% 7,7%<br />

Convencional 31,3% 31,0% 33,0%<br />

TAXUS I (n = 61)†<br />

2 anos<br />

Paclitaxel 3,3% 0% 0%<br />

Convencional 10,0% 10% 10%<br />

TAXUS II (n = 167)‡<br />

2 anos<br />

Paclitaxel 5,5% 2,3% 5,5%<br />

Convencional 15,5% 17,9% 20,1%<br />

TAXUS IV (n = 1.314) 2 anos<br />

Paclitaxel 5,6% 5,5% 7,9%<br />

Convencional 17,4% 24,4% 26,6%<br />

TAXUS V (n = 1.172) 9 meses<br />

Paclitaxel 12,1% 13,7% 18,9%<br />

Convencional 17,3% 31,9% 33,9%<br />

TAXUS VI (n = 446)<br />

9 meses<br />

Paclitaxel 9,1% 9,1% 12,4%<br />

Convencional 19,1% 32,9% 35,7%<br />

p < 0,05 para todas as comparações stent farmacológico vs. convencional (exceto estudo TAXUS I – ver †)<br />

* Análise quantitativa inclui o segmento com stent (intra-stent) e as bordas de 5 mm distal e proximal ao stent.<br />

† Estudo de segurança, sem poder estatístico (pequeno número de pacientes) para demonstrar diferença em eficácia.<br />

‡ Formulação “slow-release”.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 435


L<strong>EM</strong>OS PA e cols.<br />

Stents farmacológicos –<br />

o estado atual<br />

com perfil de risco consideravelmente<br />

maior que<br />

aqueles comumente admitidos<br />

em ensaios randomizados.<br />

O recente estudo<br />

RESEARCH (14) incluiu virtualmente<br />

todos os<br />

subgrupos de pacientes e<br />

lesões tratados no dia-adia.<br />

Nesse estudo, a utilização<br />

irrestrita de stents<br />

com sirolimus associou-se<br />

a significativa redução (redução de 38%, p < 0,01) do<br />

risco de óbito, infarto miocárdico ou re-intervenções. A<br />

redução do risco de eventos combinados deveu-se predominantemente<br />

à diminuição de 65% na incidência<br />

de novas intervenções (p < 0,01), implicando que pacientes<br />

tratados com stents convencionais no chamado<br />

“mundo real” apresentavam risco de mais de duas vezes<br />

de necessitar de novo tratamento. (14)<br />

O e-CYPHER, registro mundial com maior número<br />

de pacientes coletados, incluiu pacientes que receberam<br />

stent com sirolimus e foram catalogados via Internet<br />

em sua base de dados. Esse estudo é um registro<br />

de pós-comercialização, que objetiva avaliar a segurança<br />

e a eficácia do stent com sirolimus na prática<br />

clínica, em pacientes tratados no “mundo real”. Até<br />

setembro de 2004, mais de 15.500 pacientes já haviam<br />

sido incluídos no e-CYPHER, em sua maioria casos<br />

de alta complexidade. Resultados preliminares indicam<br />

que o stent com sirolimus está associado a baixos<br />

índices de complicações, compatíveis com os números<br />

observados em estudos randomizados e outros<br />

estudos observacionais. Aos seis meses de evolução,<br />

somente 3,2% dos pacientes incluídos no e-CYPHER<br />

apresentaram óbito, infarto miocárdico ou nova revascularização.<br />

O índice de nova intervenção aos seis<br />

meses nesse estudo foi de 1,2%.<br />

Após o stent com sirolimus, o stent recoberto com<br />

paclitaxel foi o segundo stent farmacológico a demonstrar<br />

redução significativa do índice de reestenose e a<br />

ser liberado para uso rotineiro (stent TAXUS ® revestido<br />

com paclitaxel e polímero, Boston Scientific). A Tabela<br />

1 sumariza os principais resultados dos estudos randomizados<br />

comparando o stent com paclitaxel com o<br />

stent convencional.<br />

De maneira semelhante ao stent revestido com sirolimus,<br />

o stent com paclitaxel tem sido testado em pacientes<br />

com alto perfil de complexidade, tratados no<br />

dia-a-dia da cardiologia intervencionista. O registro MI-<br />

LESTONE II, que incluiu 3.688 pacientes tratados em<br />

164 centros de 32 países, demonstra a baixa incidência<br />

de eventos tardios associados ao stent revestido<br />

com paclitaxel. Nesse registro, somente 3,1% dos pacientes<br />

necessitaram nova revascularização nos primeiros<br />

seis meses de seguimento.<br />

Oclusão trombótica de stent<br />

A oclusão trombótica é uma das mais graves complicações<br />

do implante de stent coronário. O uso de medicações<br />

antiplaquetárias combinadas (15) e o implante<br />

sistemático do stent com alta pressão (16) contribuíram<br />

para a redução da trombose dos stents convencionais.<br />

(17) No entanto, alguns autores têm manifestado<br />

preocupação de que os stents revestidos por drogas<br />

antiproliferativas possam apresentar maior potencial<br />

trombogênico que os stents convencionais.<br />

Recentemente, Moreno e colaboradores (18) conduziram<br />

uma meta-análise com dados de 10 estudos randomizados<br />

para investigar a ocorrência de trombose<br />

no primeiro ano após o procedimento, comparando<br />

stents convencionais com stents com sirolimus ou paclitaxel.<br />

A taxa de trombose no primeiro ano foi semelhante<br />

entre os stents com droga e stents convencionais<br />

(0,58% vs. 0,54%, respectivamente; OR: 1,05; IC<br />

95%: 0,51 a 2,15; p = 1,0), variando entre 0% e 2,0%.<br />

A taxa de trombose tardia (após um mês) também foi<br />

semelhante entre os grupos (0,23% vs. 0,25%, respectivamente;<br />

OR: 0,99; IC 95%: 0,35 a 2,84; p = 1,0). Após<br />

a exclusão de estudos que utilizaram stents revestidos<br />

com paclitaxel sem cobertura polimérica (stents não<br />

disponíveis para uso clínico), a incidência global de<br />

trombose em um ano também foi semelhante entre<br />

stents com droga e stents não-revestidos (0,65% vs.<br />

0,55%, respectivamente; OR: 1,19; IC 95%: 0,51 a 2,77;<br />

p = 0,8), assim como a incidência de trombose tardia<br />

(0,27% vs. 0,27%, respectivamente; OR: 0,99; IC 95%:<br />

0,29 a 3,43; p = 1,0). O número de stents e o comprimento<br />

final total de stent implantado associaram-se significativa<br />

e proporcionalmente à ocorrência de trombose.<br />

Estudos com pacientes de alta complexidade tratados<br />

no chamado mundo real apresentam resultados<br />

semelhantes do risco de trombose do stent, quando<br />

comparados àqueles observados em estudos randomizados.<br />

(14, 19, 20) Ong e colaboradores (20) recentemente<br />

analisaram 2.512 pacientes tratados com stent convencional,<br />

com sirolimus ou com paclitaxel (polimérico).<br />

A taxa de trombose subaguda do stent (primeiro<br />

mês) foi de 1,2%, 1,0% e 1,0%, respectivamente (p =<br />

0,9).<br />

UTILIZAÇÃO DE STENTS FARMACOLÓGICOS<br />

PARA SUBGRUPOS ESPECÍFICOS<br />

Avaliação geral de subgrupos de risco<br />

O benefício do uso dos stents recobertos com sirolimus<br />

ou com paclitaxel tem se mostrado curiosamente<br />

homogêneo em virtualmente todos os subgrupos clínicos<br />

e anatômicos incluídos em estudos clínicos. A Fi-<br />

436 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


L<strong>EM</strong>OS PA e cols.<br />

Stents farmacológicos –<br />

o estado atual<br />

gura 1 ilustra a redução do<br />

risco de revascularização<br />

da lesão-alvo em uma<br />

meta-análise com 2.074<br />

pacientes incluídos nos<br />

estudos SIRIUS, C-SI-<br />

RIUS, E-SIRIUS, DIRECT,<br />

SVELTE e RAVEL, comparando<br />

o stent com sirolimus<br />

“versus” stents convencionais<br />

(Comunicação<br />

pessoal, Cordis Corporation,<br />

uma companhia Johnson & Johnson, 2004). É fácil<br />

observar que o benefício do stent com essa droga<br />

estendeu-se quase homogeneamente, com redução do<br />

risco de nova revascularização da ordem de 60% a<br />

80%, ao longo das diversas categorias estudadas. É<br />

importante salientar que nessa análise combinada a<br />

taxa de reintervenção manteve-se abaixo de 10% para<br />

todas as categorias.<br />

Achados semelhantes foram observados em pacientes<br />

tratados com stent revestido com paclitaxel. A<br />

Figura 2 mostra os resultados de uma meta-análise com<br />

os 3.445 pacientes dos estudos TAXUS II, IV, V e VI. (21)<br />

O benefício desse stent foi também homogêneo entre<br />

as diversas categorias estudadas, com redução do risco<br />

de nova revascularização que variou entre 50% e<br />

70%. A taxa de reintervenção entre os pacientes tratados<br />

com stent revestido com paclitaxel foi reduzida significativamente,<br />

variando entre 5,3% e 10,3% para pacientes<br />

com lesões com comprimento < 18 mm e > 23<br />

mm, respectivamente, ou entre 3,4% e 8,3% para pacientes<br />

com vasos com calibre > 3,0 mm e < 2,5 mm,<br />

respectivamente (Fig. 2).<br />

Diabéticos<br />

O diabetes melito é um dos mais importantes preditores<br />

de reestenose após implante de stent convencional.<br />

(5) Mesmo em não-diabéticos, estudos prévios demonstram<br />

que o crescimento de tecido neointimal in-<br />

Figura 1. Incidência de nova revascularização da lesão-alvo em diversos subgrupos de uma meta-análise com<br />

2.074 pacientes incluídos nos estudos SIRIUS, C-SIRIUS, E-SIRIUS, DIRECT, SVELTE e RAVEL, comparando<br />

o stent com sirolimus “versus” stents convencionais (Comunicação pessoal, Cordis Corporation, uma companhia<br />

Johnson & Johnson, 2004).<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 437


L<strong>EM</strong>OS PA e cols.<br />

Stents farmacológicos –<br />

o estado atual<br />

tra-stent é significativamente<br />

associado a níveis<br />

de insulinemia e de glicemia<br />

induzidas por teste de<br />

tolerância oral à glicose. (22)<br />

A meta-análise que incluiu<br />

3.445 pacientes dos<br />

estudos TAXUS II, IV, V e<br />

VI (21) permitiu a avaliação<br />

do desempenho clínico do<br />

stent com paclitaxel em<br />

pacientes com diabetes. A<br />

redução do risco de reintervenção com o uso de stent<br />

com paclitaxel foi:<br />

1) pacientes sem diabetes: redução do risco de 61%<br />

(5,4% vs. 13,6%; p < 0,01);<br />

2) pacientes com diabetes não-insulino-dependente:<br />

redução do risco de 59% (7,9% vs. 19,4%; p < 0,01);<br />

3) pacientes com diabetes insulino-dependente: redução<br />

do risco de 66% (5,8% vs. 16,9%; p < 0,01).<br />

O estudo DIABETES (“DIABETes and sirolimus Eluting<br />

Stent trial”), recentemente apresentado, (13) é o único<br />

estudo randomizado já concluído que foi planejado<br />

com o objetivo de avaliar o desempenho de stent farmacológico<br />

para pacientes com diabetes. Esse estudo<br />

randomizou 160 pacientes diabéticos (221 lesões) para<br />

tratamento com stent convencional ou com stent recoberto<br />

com sirolimus. Além de incluir somente diabéti-<br />

Figura 2. Incidência de nova revascularização da lesão-alvo em diversos subgrupos de uma meta-análise com<br />

pacientes dos estudos TAXUS II, IV, V e VI (n = 3.445). (21) Os pacientes tratados com stent convencional ou com<br />

stent recoberto por paclitaxel foram divididos de acordo com o calibre do vaso tratado (acima) e o comprimento<br />

da lesão (abaixo). Os números nos retângulos acima dos gráficos indicam a redução do risco de nova revascularização,<br />

para cada categoria analisada, com o uso do stent com paclitaxel.<br />

438 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


L<strong>EM</strong>OS PA e cols.<br />

Stents farmacológicos –<br />

o estado atual<br />

cos, a população desse<br />

estudo apresentava alta<br />

freqüência de outros fatores<br />

de risco para reestenose:<br />

lesões longas (comprimento<br />

médio do stent<br />

23 mm), oclusão total<br />

(13%), e vasos pouco calibrosos<br />

(diâmetro de referência<br />

médio 2,34 mm).<br />

Após nove meses, quando<br />

comparado ao uso de<br />

stents convencionais, o implante de stent com sirolimus<br />

associou-se a dramática redução de 76% do risco<br />

de reestenose angiográfica (8% vs. 33%; p < 0,0001),<br />

a qual se traduziu em redução significativa da taxa de<br />

nova revascularização (7,5% vs. 31,3%; p < 0,0001).<br />

Reestenose intra-stent<br />

O tratamento da reestenose intra-stent com estratégias<br />

“mecânicas” (“rotablator”, balão, “laser” ou restent)<br />

apresenta resultados decepcionantes, (2, 23) especialmente<br />

em pacientes com lesões mais complexas.<br />

A braquiterapia endovascular, que inibe o componente<br />

biológico da re-reestenose, é atualmente considerada<br />

o tratamento padrão-ouro para pacientes com reestenose<br />

intra-stent. No entanto, restrições de ordem logística<br />

limitam de maneira importante a utilização de<br />

radioterapia no laboratório de cateterismo. Além disso,<br />

recorrência de reestenose (re-reestenose) ocorre em<br />

até um terço dos casos após braquiterapia. (24-28)<br />

O implante de stent com sirolimus foi inicialmente<br />

testado para o tratamento da reestenose intra-stent em<br />

duas séries de casos. (29, 30) O primeiro estudo incluiu 25<br />

pacientes com lesões não-complexas e apresentou, no<br />

seguimento tardio, taxa “zero” de recorrência da reestenose.<br />

(29) O segundo estudo incluiu 16 pacientes com<br />

maior perfil de complexidade, sendo a taxa de re-reestenose<br />

tardia de 20%. Mais recentemente, Saia e colaboradores<br />

avaliaram 44 pacientes consecutivos com<br />

53 lesões reestenóticas (sem braquiterapia prévia) tratados<br />

com stent com sirolimus. (31) Ao seis meses, a incidência<br />

de re-reestenose nesse grupo foi de 14,6%. Não<br />

houve re-reestenose para lesões não-complexas (lesões<br />

focais; 42% da série). Para lesões complexas, a<br />

taxa de reestenose variou entre 20% e 25%. Após um<br />

ano, 11,6% dos pacientes tiveram que ser novamente<br />

tratados por re-reestenose.<br />

Em um relato separado, não-randomizado, Saia e<br />

colaboradores compararam pacientes com reestenose<br />

intra-stent tratados com stent com sirolimus ou com<br />

braquiterapia endovascular. (32) Após nove meses de<br />

evolução, a sobrevida livre de óbito, infarto ou reintervenção<br />

foi semelhante entre os dois grupos (79,1%<br />

braquiterapia vs. 81,5% sirolimus; p = 0,8). Esses resultados<br />

sugerem que stent com sirolimus é pelo menos<br />

tão eficaz quanto braquiterapia para o tratamento<br />

de reestenose intra-stent.<br />

O estudo TAXUS III avaliou 28 pacientes com reestenose<br />

intra-stent tratados com stent revestido com paclitaxel.<br />

No total, 16% dos casos apresentaram reestenose<br />

binária angiográfica. (33) Os autores concluem que<br />

o stent com paclitaxel pode ser considerado seguro e<br />

potencialmente eficaz para o tratamento de reestenose<br />

intra-stent.<br />

Apesar dos resultados iniciais promissores com<br />

stents revestidos com sirolimus ou paclitaxel, não há<br />

até o momento nenhum estudo randomizado concluído<br />

comparando esses dispositivos com outras estratégias<br />

terapêuticas.<br />

Tronco da coronária esquerda<br />

A cirurgia de revascularização miocárdica é considerada<br />

tradicionalmente o tratamento de escolha para<br />

pacientes com estenose do tronco da coronária esquerda.<br />

No entanto, diversos autores têm relatado altos índices<br />

de sucesso com o uso de stents convencionais<br />

(34, 35)<br />

para pacientes selecionados com lesão de tronco.<br />

Apesar dos resultados promissores em centros de referência,<br />

o benefício do tratamento percutâneo de lesões<br />

de tronco ainda permanece controverso, especialmente<br />

em decorrência do risco de reestenose tardia.<br />

Diversos relatos de diferentes centros têm documentado<br />

que o uso de stents farmacológicos é provavelmente<br />

seguro e associado a melhor evolução de pacientes<br />

com lesão de tronco. (35-40) Chieffo e colaboradores<br />

compararam 85 pacientes tratados com stents farmacológicos<br />

(tanto sirolimus como paclitaxel) com 64<br />

pacientes tratados com stents convencionais. (39) Os pacientes<br />

tratados com stents farmacológicos apresentavam<br />

fração de ejeção significativamente menor (51%<br />

+ 11% vs. 57% ± 13%; p = 0,002), envolvimento mais<br />

freqüente da bifurcação distal do tronco esquerdo (81%<br />

vs. 58%; p = 0,003), vasos menos calibrosos (3,3 mm ±<br />

0,6 mm vs. 3,7 mm ± 0,7 mm; p = 0,0001) e tiveram<br />

mais lesões (2,9 ± 1,6 vs. 2,3 ± 1,3; p = 0,004) e vasos<br />

tratados (2,0 ± 0,7 vs. 1,8 ± 0,7; p = 0,05). Apesar do<br />

perfil de risco francamente menos favorável, os pacientes<br />

tratados com stents farmacológicos apresentaram<br />

aos seis meses incidência de eventos cardíacos<br />

maiores (óbito, infarto ou nova revascularização) significativamente<br />

menor que o grupo tratado com stents<br />

convencionais (20,0% vs. 35,9%; p = 0,039).<br />

Em outro relato, Valgimigli e colaboradores avaliaram<br />

a evolução de 95 pacientes consecutivos com lesão<br />

de tronco tratados com stents farmacológicos (sirolimus<br />

ou paclitaxel), os quais foram comparados a<br />

86 pacientes consecutivos tratados com stents convencionais<br />

no período imediatamente anterior. (38) Os dois<br />

grupos eram semelhantes com relação a suas carac-<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 439


L<strong>EM</strong>OS PA e cols.<br />

Stents farmacológicos –<br />

o estado atual<br />

terísticas basais. Após 503<br />

dias de evolução média, a<br />

incidência de eventos<br />

combinados foi significativamente<br />

menor no grupo<br />

tratado com stents farmacológicos<br />

(24% vs. 45%; p<br />

= 0,01). Apesar de a mortalidade<br />

global ter sido semelhante<br />

entre os grupos,<br />

os pacientes tratados com<br />

stents farmacológicos<br />

apresentaram taxas significativamente menores de infarto<br />

do miocárdio (4% vs. 12%; p = 0,006) e de nova<br />

revascularização (6% vs. 23%; p = 0,004).<br />

Park e colaboradores compararam 223 pacientes<br />

com lesão de tronco de coronária esquerda não protegido<br />

e função ventricular esquerda preservada. (35) Destes,<br />

102 foram tratados com stent farmacológico (sirolimus)<br />

e os restantes 121 com stents convencionais. O<br />

índice de sucesso do procedimento foi de 100%, sem<br />

complicações maiores durante a internação inicial em<br />

ambos os grupos. A taxa de reestenose angiográfica<br />

aos seis meses foi significativamente menor no grupo<br />

sirolimus quando comparado a pacientes tratados com<br />

stents não recobertos (7,0% vs. 30,3%; p < 0,001). Após<br />

doze meses, a incidência de óbito, infarto ou re-revascularização<br />

da lesão tratada foi de 2,0% no grupo sirolimus<br />

e de 18,6% no grupo tratado com stents convencionais<br />

(p = 0,0003).<br />

Lesões de bifurcação<br />

Lesões de bifurcação são uns dos principais grupos<br />

de risco para a ocorrência de reestenose tardia. O<br />

complexo anatômico ramo principal/ramo lateral geralmente<br />

está associado a grande volume de placa aterosclerótica<br />

local, sendo freqüentemente necessário<br />

realizar múltiplas dilatações nos vasos envolvidos para<br />

otimizar o resultado agudo do procedimento, sendo por<br />

vezes necessário o implante de vários stents no local<br />

tratado.<br />

Recentemente foi relatada a evolução de 58 pacientes<br />

consecutivos com 65 estenoses em bifurcações<br />

tratadas com stents recobertos com sirolimus. Todas<br />

as lesões foram tratadas com implante duplo de stent,<br />

ou seja, no ramo principal e no ramo lateral. Após seis<br />

meses, a incidência de eventos adversos maiores foi<br />

de 10,3%, sem episódios de infarto do miocárdio ou<br />

trombose do stent. (41) O índice de reestenose angiográfica<br />

no ramo principal foi de 9,1% e no ramo lateral,<br />

de 13,6%. Curiosamente, boa parte das reestenoses<br />

angiográficas nos ramos laterais (a maior parte sem<br />

repercussão clínica) ocorreu em associação à cobertura<br />

incompleta do óstio do ramo pelo stent farmacológico,<br />

quando utilizada a técnica de implante em “T”. (42)<br />

É lógico supor que avanços nas técnicas de implante<br />

de stent venham a melhorar ainda mais os resultados<br />

em séries posteriores.<br />

Com o intuito de explorar a melhor estratégia técnica<br />

de tratamento para bifurcações, recentemente 85<br />

pacientes com lesão em bifurcação foram randomizados<br />

para implante de stent com sirolimus somente no<br />

ramo principal (ramo lateral tratado com stent somente<br />

se necessário) ou para implante duplo de stent com<br />

sirolimus (ramos principal e lateral tratados com<br />

stents). (43) Ao término do estudo, mais lesões foram tratadas<br />

com 2 stents (n = 63) que com stent/balão (n =<br />

22). Houve 3 casos de trombose de stent (3,5%). A<br />

taxa de reestenose angiográfica global aos seis meses<br />

foi de 25,7%, sem diferença significativa entre os grupos<br />

duplo stent (28,0%) e stent único (18,7%). A maior<br />

parte das reestenoses foi focal e ocorreu no óstio do<br />

ramo lateral, sem maiores repercussões clínicas. Nova<br />

revascularização de pelo menos um dos ramos tratados<br />

foi necessária em 8,2% dos casos.<br />

Doença coronária multiarterial: comparação com<br />

cirurgia de revascularização miocárdica<br />

Em decorrência do risco global de reestenose associado<br />

ao tratamento percutâneo de várias lesões,<br />

pacientes com obstruções coronárias em múltiplos<br />

vasos são freqüentemente considerados para tratamento<br />

cirúrgico de revascularização miocárdica. No<br />

entanto, com a introdução dos stents com drogas e a<br />

redução significativa dos índices de reestenose, o<br />

tratamento percutâneo passa a ser uma estratégia<br />

promissora com potencial terapêutico para muitos<br />

(senão a maior parte) dos pacientes com doença<br />

coronária multiarterial.<br />

Em estudo recente, 99 pacientes com doença coronária<br />

bi- ou triarterial envolvendo o território da<br />

artéria descendente anterior foram tratados com<br />

múltiplos stents com sirolimus. (44) Além do território<br />

da artéria descendente anterior, 52% dos pacientes<br />

receberam stents no território da artéria circunflexa,<br />

32% no território da artéria direita e 16% em todos<br />

os três territórios coronários, com média de 3,5 stents<br />

± 1,5 stent implantados por paciente. Aos doze meses<br />

de seguimento, 85,6% dos pacientes permaneciam<br />

livres de complicações (óbito, infarto ou qualquer<br />

nova revascularização). É interessante notar que<br />

esses resultados são semelhantes àqueles observados<br />

no braço cirúrgico do estudo ARTS (taxa de eventos<br />

combinados de 10,3%), que randomizou pacientes<br />

multiarteriais para tratamento com cirurgia ou<br />

implante de stent convencional. (45)<br />

No estudo ARTS I, os tratamentos percutâneo e<br />

cirúrgico foram semelhantes com relação à incidência<br />

de óbito ou infarto. No entanto, as duas estratégias<br />

diferiram com relação à necessidade de nova re-<br />

440 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


L<strong>EM</strong>OS PA e cols.<br />

Stents farmacológicos –<br />

o estado atual<br />

vascularização subseqüente,<br />

significativamente<br />

maior no grupo tratado<br />

com stents convencionais<br />

em decorrência da incidência<br />

de reestenose tardia.<br />

(45) O estudo ARTS II<br />

é um registro que objetiva<br />

comparar 600 pacientes<br />

multiarteriais tratados<br />

com stents com sirolimus<br />

com o grupo histórico de<br />

605 pacientes incluídos no braço cirúrgico do estudo<br />

ARTS I. (46, 47) Os pacientes incluídos no ARTS II foram<br />

selecionados de modo a parear os pacientes<br />

previamente incluídos no ARTS I, obrigando a que<br />

pelo menos um terço dos pacientes no ARTS II apresente<br />

doença coronária triarterial. Os pacientes finalmente<br />

incluídos no ARTS II apresentaram perfil<br />

de risco significativamente maior que os pacientes<br />

do ARTS I, com maior número de pacientes com diabetes,<br />

hipertensão, hiperlipidemia, assim como maior<br />

número de lesões coronárias. Recentemente foram<br />

apresentados os resultados da evolução de doze<br />

meses do ARTS II em comparação com o ARTS I<br />

(Fig. 3). Quando comparados aos pacientes tratados<br />

com cirurgia no ARTS I, aqueles tratados com múltiplos<br />

stents com sirolimus no ARTS II não apresentaram<br />

diferenças significantes com relação à incidência<br />

combinada de óbito, acidente vascular cerebral,<br />

infarto ou nova intervenção (cirurgia = 11,5% e sirolimus<br />

= 10,5%; p = 0,5). No entanto, ao se decomporem<br />

os diversos eventos combinados, observou-se<br />

que ambas as estratégias terapêuticas apresentaram<br />

diferenças significativas entre si. Pacientes multiarteriais<br />

tratados com cirurgia tiveram significativamente<br />

mais óbito, acidente vascular cerebral ou infarto<br />

(cirurgia = 8,0% e sirolimus = 3,1%; p < 0,001). Por<br />

outro lado, a cirurgia associou-se a menor taxa de<br />

reintervenções (cirurgia = 4,1% e sirolimus = 8,5%; p<br />

= 0,003).<br />

Esses achados mostram que os resultados do tratamento<br />

de pacientes multiarteriais com stents com sirolimus<br />

aproximam-se (ou são melhores) daqueles observados<br />

com a estratégia cirúrgica, indicando o potencial<br />

desses dispositivos para o tratamento desse subgrupo<br />

de pacientes. No entanto, uma resposta mais definitiva deverá<br />

ainda aguardar o resultado de estudos randomizados,<br />

no momento em andamento, comparando cirurgia de revascularização<br />

miocárdica com implante multi-stent.<br />

Figura 3. Evolução de doze meses dos pacientes com doença coronária multiarterial incluídos nos estudos<br />

ARTS I (tratamento cirúrgico e tratamento com stent convencional) e ARTS II (stent com sirolimus).<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 441


L<strong>EM</strong>OS PA e cols.<br />

Stents farmacológicos –<br />

o estado atual<br />

STENT RECOBERTO<br />

COM SIROLIMUS vs.<br />

STENT RECOBERTO<br />

COM PACLITAXEL<br />

Há aproximadamente<br />

dois a três anos, os stents<br />

farmacológicos TAXUS ®<br />

(paclitaxel) e Cypher ® (sirolimus)<br />

têm sido disponibilizados<br />

para uso rotineiro na maior parte dos países.<br />

No fim do ano de 2004, o índice de utilização de stents<br />

farmacológicos foi de aproximadamente 80% de todas<br />

as intervenções percutâneas realizadas nos Estados<br />

Unidos. Ambos os stents farmacológicos têm eficácia<br />

comprovada, quando comparados a stents convencionais.<br />

No entanto, a crescente utilização desses dispositivos<br />

na prática diária tem naturalmente induzido à<br />

necessidade de que se compare de maneira mais direta<br />

o desempenho desses stents entre si. Nesse senti-<br />

Tabela 2. Estudos comparativos entre stents farmacológicos.<br />

Reestenose Perda Reinterintra-<br />

tardia intra- venção Trombose<br />

Estudo n Formato População segmento* segmento† (6-12 meses) (6-12 meses)<br />

REALITY (54) 1.386 Randomizado Diâmetro de<br />

referência entre<br />

2,25 mm e 3,0 mm,<br />

> 15 mm de<br />

comprimento, sem<br />

limite do número<br />

de stents<br />

implantados<br />

Cypher ® 9,6% 0,04 mm ‡ 5,0% 0,6%<br />

Taxus ® 11,1% 0,16 mm 5,4% 1,6%<br />

ISAR-<br />

DIABETES (55) 250 Randomizado Diabéticos<br />

Cypher ® 6,9% ‡ 0,43 mm ‡ 6,4% ND<br />

Taxus ® 16,5% 0,67 mm 12,2% ND<br />

SIRTAX (56) 1.005 Diâmetro de<br />

referência entre<br />

2,25 mm e 4,0 mm,<br />

sem limite com<br />

relação ao<br />

comprimento ou<br />

número de<br />

stents implantados<br />

Cypher ® 6,7% ‡ 0,19 mm ‡ 4,8% ‡ 2,0%<br />

Taxus ® 11,9% 0,32 mm 8,3% 1,6%<br />

ISAR-<br />

DESIRE (57) § 200 Randomizado Reestenose<br />

intra-stent<br />

Cypher ® 14,3% 0,21 mm ‡ 8,0% ‡ ND<br />

Taxus ® 21,7% 0,48 mm 19,0% ND<br />

TAXi (58)<br />

Sem critérios<br />

clínicos ou<br />

anatômicos de<br />

exclusão<br />

Cypher ® NR NR 3% 1%<br />

Taxus ® NR NR 1% 0%<br />

T- RESEARCH (59) 1.084 Não- Sem critérios<br />

randomizado<br />

clínicos ou<br />

anatômicos de<br />

exclusão<br />

Cypher ® NR NR 3,7% 0,4%<br />

Taxus ® NR NR 5,4% 1,4%<br />

ND = resultado não disponível; NR = controle angiográfico não realizado.<br />

* Análise quantitativa inclui o segmento com stent (intra-stent) e as bordas de 5 mm distal e proximal ao stent (reestenose = estenose em<br />

diâmetro > 50%).<br />

† Diâmetro mínimo ao término do procedimento – Diâmetro mínimo na angiografia de controle tardia.<br />

‡ p < 0,05 vs. stent com paclitaxel.<br />

§ Números referentes aos grupos sirolimus e paclitaxel.<br />

|| Números na tabela referentes aos achados da análise “intention to treat”. Quando se analisam os resultados de acordo com o tratamento<br />

realizado de fato (análise “per protocol”), houve diferença significativa de trombose entre os dois tipos de stents (sirolimus = 0,4% vs.<br />

paclitaxel = 1,8%; p = 0,02).<br />

442 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


L<strong>EM</strong>OS PA e cols.<br />

Stents farmacológicos –<br />

o estado atual<br />

do, diversos estudos randomizados<br />

e não-randomizados<br />

têm se dedicado à<br />

comparação “cabeça a<br />

cabeça” dos stents com<br />

sirolimus e com paclitaxel.<br />

A Tabela 2 sumariza os<br />

principais achados dos<br />

estudos comparativos entre<br />

Cypher ® e TAXUS ® finalizados<br />

até o momento.<br />

Os achados dos estudos<br />

incluídos na Tabela 2 não são uniformes. De modo geral,<br />

os resultados apontam para desempenho semelhante<br />

entre os dois tipos de stents ou para melhor<br />

desempenho do stent com sirolimus. É possível que<br />

conclusões mais definitivas sejam possíveis somente<br />

após novos estudos com maior número de pacientes<br />

ou por meio da análise combinada (meta-análise) dos<br />

diversos estudos randomizados.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Além dos stents com sirolimus e paclitaxel descritos<br />

anteriormente, diversos outros stents revestidos com<br />

substâncias bioativas, com ou sem recobrimento polimérico,<br />

já foram testados em humanos (dexametasona,<br />

ácido micofenólico, estradiol, actinomicina-D, batimastat,<br />

tacrolimus e doadores de óxido nítrico, entre<br />

outros). (48) É interessante notar que boa parte dos ensaios<br />

clínicos com stents farmacológicos não demonstrou<br />

benefício evidente, (48-52) o que ilustra a complexidade<br />

dos processos biotecnológicos envolvidos no desenvolvimento<br />

desses dispositivos. A interação entre a<br />

plataforma (stent em si), o agente carreador (freqüentemente<br />

um polímero, que deve ser bioinerte e mecanicamente<br />

resistente) e a droga (entre outras propriedades,<br />

é necessário saber as doses exatas, terapêuticas<br />

e tóxicas locais bem como a cinética de liberação) é<br />

complexa. Possivelmente pequenas variações em um dos<br />

componentes podem determinar o insucesso da capacidade<br />

anti-reestenótica do dispositivo como um todo. Além<br />

disso, pormenores relacionados com a resistência à esterilização<br />

e à estabilidade em armazenagem, entre outras,<br />

podem também influenciar na capacidade anti-reestenótica<br />

final do stent farmacológico.<br />

Apesar disso, gradualmente outros stents farmacológicos<br />

têm se mostrado, em ensaios clínicos, promissores<br />

para uso futuro. O estudo ENDEAVOR II, recentemente<br />

apresentado, (53) demonstrou que o stent recoberto<br />

com o análogo do sirolimus ABT-578 (Medtronic)<br />

reduziu significativamente a necessidade de nova revascularização<br />

(4,6% vs. 12,1% no grupo tratado com<br />

stent sem recobrimento; p < 0,01). Apesar do benefício<br />

clínico, no entanto, o stent ativo não se associou a resultados<br />

angiográficos tão exuberantes quanto os stents<br />

revestidos com paclitaxel ou sirolimus (a perda angiográfica<br />

tardia intra-stent no ENDEAVOR II foi de 0,62<br />

mm, sendo raramente maior que 0,3 mm para os stents<br />

com sirolimus ou paclitaxel). Estudos futuros deverão<br />

esclarecer melhor o papel dos novos stents farmacológicos<br />

no cenário da cardiologia intervencionista.<br />

Além do desenvolvimento de stents revestidos com<br />

novas drogas, tem sido observado o surgimento gradual<br />

de stents revestidos com paclitaxel e sirolimus,<br />

porém confeccionados por manufaturas diferentes daquelas<br />

proprietárias das marcas originais. Embora possuam<br />

o mesmo agente farmacológico, no entanto, esses<br />

novos dispositivos utilizam diferentes plataformas<br />

metálicas (stent) e diferentes construções do agente<br />

carreador (polímero). Dessa forma, cada complexo<br />

stent-polímero-droga apresenta características distintas.<br />

Faz-se necessário, portanto, que cada novo dispositivo<br />

apresentado para uso clínico seja testado “in vitro”,<br />

“in vivo” e “in anima nobilis” separadamente, com<br />

segurança e eficácia comprovadas para cada um dos<br />

stents farmacológicos. É pouco provável que, pelo<br />

menos no curto prazo, se possa estabelecer um padrão<br />

de comportamento de classe para stents farmacológicos,<br />

em que os resultados dos testes com um<br />

stent possam ser extrapoláveis para outro. Até o momento,<br />

ainda se faz necessário que cada dispositivo<br />

seja avaliado separadamente.<br />

O surgimento de novos stents farmacológicos (empregando<br />

drogas inéditas ou já utilizadas anteriormente)<br />

com segurança e eficácia clínica comprovadas deve<br />

favorecer a prática clínica da cardiologia intervencionista,<br />

especialmente no Brasil. O custo unitário desses<br />

dispositivos (assim como a falta de reembolso) é amplamente<br />

reconhecido como o principal limitante para<br />

o uso dos stents farmacológicos. (48) A diversificação dos<br />

stents farmacológicos por meio da inserção de novos<br />

produtos no cenário da cardiologia intervencionista<br />

poderá contribuir para a redução gradual dos custos<br />

do procedimento, o que deverá ampliar a disponibilidade<br />

da técnica para maior número de pacientes.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 443


DRUG-ELUTING STENTS – THE STATE OF THE ART<br />

L<strong>EM</strong>OS PA e cols.<br />

Stents farmacológicos –<br />

o estado atual<br />

PEDRO A. L<strong>EM</strong>OS, EULÓGIO E. MARTINEZ, MARCO A. PERIN,<br />

EXPEDITO E. RIBEIRO<br />

In-stent restenosis is the main limitation of percutaneous coronary intervention.<br />

Drug-eluting stents utilize the stent itself as the platform upon which anti-restenotic<br />

agents are added. These new devices have been associated with a significantly<br />

better clinical performance than conventional bare stents, as shown in several recent<br />

clinical trials analyzed in the present article. In addition, we also summarized<br />

the results of initial studies that compared drug-eluting stents with other therapeutic<br />

techniques for patients with coronary heart disease (e.g. coronary artery bypass<br />

surgery).<br />

Key words: angioplasty, coronary disease, atherosclerosis, restenosis.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:434-47)<br />

RSCESP (72594)-1564<br />

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study (BENESTENT) I, BENESTENT II Pilot, BE-<br />

NESTENT II and MUSIC trials. Multicenter Ultrasound<br />

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controlled trial (E-SIRIUS). Lancet.<br />

444 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


L<strong>EM</strong>OS PA e cols.<br />

Stents farmacológicos –<br />

o estado atual<br />

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446 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 447


RIBEIRO EE e cols.<br />

Reestenose pós-implante<br />

de stent coronário nãofarmacológico<br />

REESTENOSE PÓS-IMPLANTE DE STENT<br />

CORONÁRIO NÃO-FARMACOLÓGICO<br />

EXPEDITO E. RIBEIRO, PEDRO A. L<strong>EM</strong>OS, MARCO A. PERIN,<br />

HENRIQUE B. RIBEIRO, ANDRÉ SPADARO, EULÓGIO E. MARTINEZ<br />

Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista –<br />

Instituto do Coração (InCor) – HC-FMUSP<br />

Endereço para correspondência: Rua Volta Redonda, 757 – ap. 91 –<br />

CEP 04608-011 – São Paulo – SP<br />

O emprego dos stents coronários otimizou os resultados da angioplastia transluminal<br />

coronária com balão. A oclusão aguda, a necessidade de cirurgia de revascularização<br />

miocárdica e a reestenose foram muito diminuídas. Com isso, as intervenções<br />

percutâneas coronárias passaram a utilizar os stents em cerca de 90% dos<br />

casos. Todavia, a despeito da marcante redução pelos stents na reestenose em<br />

relação à angioplastia transluminal coronária com balão, a reestenose intra-stent<br />

ainda é um problema clínico importante, pois as indicações da intervenção coronária<br />

percutânea foram expandidas para lesões angiográficas e situações clínicas mais<br />

complexas. Nesse sentido, foram aplicadas diversas técnicas aqui descritas, com o<br />

intuito de tratar a reestenose intra-stent. No entanto, a melhor opção é sua prevenção<br />

com a utilização dos stents farmacológicos. Nenhuma das opções de tratamento<br />

fornece resultados ótimos. Das técnicas descritas ressalta-se a angioplastia transluminal<br />

coronária com balão, o implante de novo stent, os stents farmacológicos e a<br />

braquiterapia. Por outro lado, temos que as lesões focais podem ser tratadas com<br />

nova angioplastia transluminal coronária com balão convencional, as lesões do tipo<br />

difuso devem ser preferencialmente tratadas com stent farmacológico e a utilização<br />

de novo stent não-farmacológico deve ser reservada para lesões reestenóticas que<br />

envolvem a borda ou as margens do stent anteriormente colocado. Aguardam-se<br />

novos estudos randomizados, que estão em andamento, para a real definição do<br />

papel dos stents farmacológicos.<br />

Palavras-chave: angioplastia, stents coronários, reestenose.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:448-58)<br />

RSCESP (72594)-1565<br />

INTRODUÇÃO<br />

Em setembro de 1977, Grüentzig realizou, pela primeira<br />

vez, uma angioplastia transluminal coronária no<br />

Laboratório de Hemodinâmica do Hospital Universitário<br />

de Zurique. Essa técnica representou grande evolução<br />

no tratamento da doença aterosclerótica coronária<br />

e uma real opção à cirurgia de revascularização mio-<br />

cárdica. (1-4) Restritas inicialmente a casos simples, do<br />

ponto de vista angiográfico e clínico, os grandes avanços<br />

técnicos permitiram índices de sucesso maiores e<br />

diminuição das complicações, fazendo a angioplastia<br />

transluminal coronária ocupar progressivamente mais<br />

espaço no manuseio da doença aterosclerótica coronária.<br />

(5) Entretanto, a técnica de angioplastia transluminal<br />

coronária ainda exibia limitações, como a oclu-<br />

448 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


RIBEIRO EE e cols.<br />

Reestenose pós-implante<br />

de stent coronário nãofarmacológico<br />

são aguda pós-angioplastia<br />

transluminal coronária<br />

com balão e a reestenose<br />

coronária. Os stents coronários<br />

praticamente aboliram<br />

a oclusão aguda e a<br />

necessidade de cirurgia de<br />

urgência, assim como<br />

também reduziram a reestenose<br />

coronária.<br />

Apesar de os stents,<br />

em relação à angioplastia<br />

transluminal coronária com balão, terem reduzido a<br />

reestenose, ela ainda ocorre em aproximadamente 30%<br />

a 40% dos casos, de acordo com estudos analisados,<br />

pois com os stents novamente passaram a ser tratadas<br />

lesões mais complexas. (6, 7) Como resultado disso,<br />

a reestenose intra-stent tem-se mostrado um problema<br />

clínico significativo.<br />

O processo de reestenose tem como gatilho a injúria<br />

causada pela ação do balão na parede arterial, o<br />

que inicia uma cascata de fenômenos que envolvem o<br />

processo inflamatório, os mecanismos trombóticos, a<br />

hiperplasia intimal e as alterações geométricas agudas<br />

e/ou crônicas do vaso (8) (Fig. 1).<br />

Assim, o recuo elástico precoce que ocorre no primeiro<br />

dia pode mostrar que não dilatamos a lesão e<br />

sim que apenas distendemos a parede arterial. Esse<br />

elemento, quando ocorre, é importante preditor de reestenose<br />

tardia. (9)<br />

Outro elemento importante é a formação da trombose<br />

mural, um processo multifatorial e complexo, que<br />

envolve inicialmente o tamanho do balão utilizado, a<br />

pressão do balão e o tempo de insuflação, que são<br />

causadores de injúria arterial profunda, resultando em<br />

dissecção da íntima, estiramento do vaso e compressão<br />

da placa. A desnudação endotelial faz a parede<br />

arterial perder os fatores antitrombóticos derivados do<br />

Figura 1. Fisiopatologia da reestenose intra-stent.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 449


RIBEIRO EE e cols.<br />

Reestenose pós-implante<br />

de stent coronário nãofarmacológico<br />

endotélio, como, por<br />

exemplo, fator relaxante<br />

derivado do endotélio,<br />

prostaglandinas I 2<br />

e ativador<br />

tecidual do plasminogênio,<br />

entre outros, o que<br />

permite a adesão e a agregação<br />

plaquetária. As plaquetas<br />

posteriormente se<br />

degranulam. O mecanismo<br />

final da agregação plaquetária<br />

envolve as ligações<br />

dos receptores IIb/IIIa ao fibrinogênio, fator de von<br />

Willebrand e fibronectina.<br />

As plaquetas degranuladas, por sua vez, liberam<br />

uma série de substâncias procoagulantes, vasoconstritoras<br />

e mitogênicas, tais como trombina, fator de crescimento<br />

derivado das plaquetas, tromboxano A 2<br />

, serotonina,<br />

fator de von Willebrand, adenosina difosfato, fibronectina,<br />

fator V e fibrinogênio, que irão levar à formação<br />

de trombose mural profunda (10) , e que é inacessível<br />

à ação da heparina.<br />

O trombo mural parece funcionar como substrato<br />

para migração de células musculares lisas e sua proliferação.<br />

Essa função pode ser mediada especificamente<br />

por trombina, plaquetas, monócitos, macrófagos e<br />

neutrófilos, que também são atraídos localmente. Assim,<br />

a organização da trombose mural envolve a proliferação<br />

de células musculares lisas e a síntese da<br />

matriz extracelular.<br />

A proliferação neointimal que representa essa fase<br />

do processo é predominantemente caracterizada por<br />

proliferação de células musculares lisas e síntese de<br />

matriz extracelular no local da injúria. Primeiramente<br />

as células musculares lisas são ativadas em associação<br />

com a trombose mural e por fatores de crescimento,<br />

como o fator de crescimento dos fibroblastos, que é<br />

o mais potente estimulante da proliferação de células<br />

musculares lisas. Em seguida, demonstrou-se que o<br />

fator de crescimento derivado das plaquetas (também<br />

expresso por macrófagos e células musculares lisas)<br />

induz migração das células musculares lisas da média<br />

para a íntima. Na íntima, as células musculares lisas<br />

aparecem proliferativas e fenotipicamente diferentes e,<br />

sob ação de vários fatores, como fator de crescimento<br />

básico dos fibroblastos, fator de crescimento similar à<br />

insulina, fator de crescimento epidérmico, fator de crescimento<br />

transformador tipo β, além de outros fatores e<br />

citocinas. (11, 12) Vários modelos estudados em animais<br />

confirmam a importância do fator de crescimento derivado<br />

das plaquetas-ββ (secretada pelas plaquetas)<br />

como elemento central à migração das células musculares<br />

lisas. (13)<br />

Como conseqüência desse processo, ocorre a proliferação<br />

intimal das células musculares lisas, que diminui<br />

após duas a quatro semanas. Durante a evolução<br />

do processo, algum eventual estreitamento da luz<br />

arterial coronária deve-se à produção de matriz extracelular.<br />

Esta é produzida por células musculares lisas<br />

com fenótipo proliferativo sintético e provavelmente por<br />

efeito do fator de crescimento transformador tipo β. A<br />

matriz extracelular na reestenose é diferente do processo<br />

aterosclerótico convencional. Há aumento do<br />

volume da “neoíntima”, que, em adição ao colágeno,<br />

pode contribuir para o encolhimento tardio do vaso no<br />

local da injúria inicial, muito semelhante a uma retração<br />

cicatricial convencional. O processo completa-se<br />

praticamente por volta do quarto mês.<br />

As alterações geométricas na parede arterial em<br />

resposta à injúria são o quarto elemento mais importante<br />

determinante da maior ou menor chance de reestenose.<br />

Foi desenvolvido para melhor compreensão<br />

dessas alterações o conceito de remodelamento arterial<br />

tanto positivo como negativo, que ocorre como resposta<br />

arterial ao desenvolvimento de uma placa aterosclerótica<br />

ou na reestenose coronária pós-dilatação<br />

com balão.<br />

Glagov e colaboradores (14) descreveram a capacidade<br />

arterial de “esconder” a placa aterosclerótica, criando<br />

um alongamento arterial e mantendo a luz arterial<br />

semelhante à de regiões próximas, e, com isso, não<br />

dificultar o fluxo sanguíneo coronário.<br />

Na angioplastia transluminal coronária temos, inicialmente,<br />

o recuo elástico da parede arterial, mas tardiamente<br />

teríamos o encolhimento da luz arterial, que<br />

poderia ser responsável por até 60% (5) da reestenose<br />

ocorrida na artéria coronária submetida a angioplastia.<br />

Seria, portanto, um remodelamento negativo, fator<br />

importante no mecanismo da reestenose. O entendimento<br />

completo desse processo só foi possível com o<br />

desenvolvimento do ultra-som intracoronário.<br />

A reestenose é, desse modo, um grande limitante<br />

da angioplastia. Foram feitas várias tentativas com a<br />

utilização de medicamentos por via oral com o intuito<br />

de tentar diminuir a chance de reestenose, mas os resultados<br />

foram desanimadores. (15-17)<br />

Os esforços buscando otimizar os resultados da angioplastia<br />

com a diminuição da reestenose coronária<br />

caminharam no sentido das endopróteses coronárias.<br />

As endopróteses coronárias, os stents, foram os grandes<br />

otimizadores dos resultados da angioplastia.<br />

A idéia de montar a endoprótese metálica, o stent,<br />

em cateter-balão para simultaneamente dilatar e liberar<br />

o stent foi introduzida por Palmaz e colaboradores. (18)<br />

Em 1985, esses autores descreveram resultados preliminares<br />

da implantação de stents de aço inoxidável,<br />

montados em balão nas artérias periféricas de cães.<br />

Desde o início verificou-se a importância do adequado<br />

tratamento tanto antitrombótico como antiplaquetário.<br />

A possibilidade do uso dos stents nas coronárias, em<br />

450 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


RIBEIRO EE e cols.<br />

Reestenose pós-implante<br />

de stent coronário nãofarmacológico<br />

cães, foi descrita por Roubin<br />

e colaboradores (19)<br />

com stent tipo “coil” e, posteriormente,<br />

por Schatz e<br />

colaboradores (20) .<br />

A primeira implantação<br />

de stents em humanos foi<br />

realizada por Puel e colaboradores<br />

(21) , em 1986, e<br />

em seguida Sigwart e colaboradores<br />

(22) publicaram<br />

sua experiência inicial com<br />

os resultados dos primeiros 24 pacientes que receberam<br />

a implantação do “wallstent” (uma rede metálica<br />

de aço inoxidável expandida sem utilizar balão de angioplastia).<br />

Os resultados iniciais foram promissores,<br />

mas ocorreu trombose do stent em 2 pacientes (11%)<br />

e não ocorreram reestenoses nos segmentos que receberam<br />

stent entre nove semanas e nove meses pósimplante.<br />

Os estudos iniciais com stent tipo “coil” de Gianturco-Roubin<br />

visavam a tratar a oclusão aguda já desenvolvida<br />

ou iminente, pós-angioplastia convencional, e<br />

os resultados foram animadores. (23)<br />

O stent de Palmaz-Schatz teve sua utilização direcionada<br />

para implantes eletivos, visando a tratar a reestenose.<br />

Em dezembro de 1987, no Instituto Dante<br />

Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo, o Dr. J.<br />

Eduardo Sousa realizou o primeiro implante desse stent.<br />

Posteriormente, foram implantados com sucesso 229<br />

stents em 213 pacientes, em estudo multicêntrico, com<br />

sucesso de 93%. (24) Os problemas iniciais da trombose<br />

dos stents foram equacionados com a utilização da<br />

associação dos antiplaquetários aspirina e ticlopidina,<br />

e também com o conceito de liberação ótima guiado<br />

por ultra-som intracoronário desenvolvido por Colombo<br />

e colaboradores (25) .<br />

A eficácia dos stents coronários em reduzir a reestenose<br />

coronária foi comprovada em dois estudos iniciais<br />

randomizados, o STRESS (7) e o BENESTENT-I (6) ,<br />

que mostraram importante impacto de redução da reestenose<br />

em lesões curtas, em vasos com diâmetro ><br />

3,0 mm e artérias nativas. No estudo STRESS, a reestenose<br />

angiográfica foi reduzida de 42,1% para 31,6%<br />

(p = 0,046) com os stents, e no BENESTENT-I a reestenose<br />

foi reduzida de 32% para 22% (p = 0,02). Esses<br />

resultados foram convincentes e isso levou a “Food and<br />

Drug Administration” (FDA, agência governamental<br />

americana que controla o setor de alimentos e remédios)<br />

a aprovar os stents para uso rotineiro com o objetivo<br />

de diminuir a reestenose coronária.<br />

Os stents passaram a ser utilizados em situações<br />

clínicas e angiográficas mais complexas e com resultados<br />

positivos. O nível de sua utilização foi crescendo<br />

progressivamente e hoje, por exemplo, no Instituto do<br />

Coração (InCor/HC-FMUSP), temos, no banco de dados,<br />

mais de 10 mil pacientes tratados percutaneamente,<br />

com utilização próxima de 90% dos stents coronários.<br />

Os stents, portanto, diminuem a reestenose, porque<br />

impedem o chamado recuo elástico do primeiro<br />

dia e o remodelamento geométrico negativo da parede<br />

do vaso coronário, embora aumentem a hiperplasia<br />

neointimal. Esses fatos, portanto, permitiram a ampliação<br />

do uso dos stents, não somente para as lesões<br />

consideradas “simples” mas também para as lesões<br />

com características mais complexas à angiografia.<br />

Ao se analisar a reestenose no cotidiano da Cardiologia<br />

Intervencionista, observa-se que a reestenose<br />

será seguramente maior ao que os estudos mencionados<br />

mostram, pois nos estudos randomizados são analisadas<br />

lesões curtas, vasos calibrosos e lesões ditas<br />

“de novo” (lesões não tratadas com angioplastia transluminal<br />

coronária com balão).<br />

Analisando diversas séries, observamos que as lesões<br />

do tipo STRESS/BENESTENT (lesões curtas <<br />

10 mm e vasos com diâmetro > 3,0 mm) representam<br />

aproximadamente 20% das casuísticas importantes.<br />

Sawada e colaboradores (26) demonstraram que as lesões<br />

tipo STRESS/BENESTENT incidiram em 20% de<br />

700 pacientes tratados com reestenose média de 11%,<br />

mas nas lesões longas a reestenose foi de 32%, nos<br />

vasos pequenos foi de 30%, nas lesões ostiais foi de<br />

40% e em vasos com oclusões totais crônicas foi de<br />

40%.<br />

Estudos recentes (27, 28) demonstraram que a presença<br />

de diabetes melito, a colocação de múltiplos stents<br />

e o diâmetro luminal mínimo imediatamente pós-implante<br />

do stent são importantes preditores de reestenose.<br />

No caso do diâmetro luminal mínimo, a relação é inversa;<br />

porém, quando o diâmetro luminal mínimo pós-stent<br />

é inferior a 3,0 mm, a chance de reestenose é de 22,7%.<br />

Caso associemos diâmetro luminal mínimo < 3,0 mm,<br />

múltiplos stents por lesões longas e diabetes a reestenose<br />

sobe para 42,9%.<br />

Os padrões de reestenose intra-stent haviam sido<br />

descritos previamente como sendo de caráter difuso<br />

(quando o comprimento era maior que 10 mm) ou focal<br />

(lesões menores que 10 mm em comprimento). Essa<br />

classificação tem importância prática, pois a evolução<br />

e os resultados dos tratamentos são diferentes. Mehran<br />

e colaboradores (29) publicaram uma classificação que<br />

utiliza não apenas a extensão da lesão, mas também<br />

incorpora conceitos oriundos do ultra-som intracoronário<br />

e também de evolução tardia (Fig. 2), como descrito<br />

a seguir:<br />

– Tipo I: focal, comprimento < 10mm (IA, focal na articulação<br />

ou no espaço entre stents; IB, nas margens;<br />

IC, focal no corpo do stent; e ID, multifocal).<br />

– Tipo II: difuso (> 10 mm) e intra-stent, quando confinado<br />

entre as margens do stent;<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 451


RIBEIRO EE e cols.<br />

Reestenose pós-implante<br />

de stent coronário nãofarmacológico<br />

– Tipo III: difuso e proliferativo<br />

(> 10 mm), estendese<br />

além das margens do<br />

stent.<br />

– Tipo IV: difuso e com<br />

oclusão total com fluxo<br />

TIMI O.<br />

Foram estudados 245<br />

pacientes e os padrões<br />

descritos foram observados<br />

nas seguintes proporções:<br />

tipo I, 42%; tipo II,<br />

21%; tipo III, 30%; e tipo IV, 7%. É importante salientar,<br />

nesse estudo, que a presença de diabetes foi progressiva,<br />

de acordo com a maior severidade da reestenose<br />

intra-stent (I, 28%; II, 32%; III, 39%; e IV, 48%), bem<br />

como da reestenose prévia (9%, 20%, 34% e 50%, respectivamente),<br />

e ambas com valores de p < 0,001 por<br />

teste estatístico ANOVA.<br />

Fica claro que a reestenose intra-stent é um proble-<br />

ma real e vamos agora discutir as possibilidades de<br />

seu tratamento, embora a melhor opção seja a prevenção<br />

com a utilização dos stents farmacológicos.<br />

ESTRATÉGIAS PARA O TRATAMENTO DA<br />

REESTENOSE INTRA-STENT<br />

As estratégias possíveis para tratamento da reestenose<br />

intra-stent são as seguintes:<br />

a) angioplastia convencional ou com “cutting balloon”;<br />

b) técnicas de ablação (“rotablator”, aterectomia direcional,<br />

“excimer laser”);<br />

c) liberação de novo stent;<br />

d) braquiterapia;<br />

e) stents farmacológicos.<br />

Angioplastia convencional ou com<br />

“cutting balloon”<br />

A idéia de se utilizar essa técnica foi relatada inicialmente<br />

por Baim e colaboradores (30) e por Mehran e<br />

Figura 2. Classificação dos padrões de reestenose intra-stent (REIS) (29) .<br />

452 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


RIBEIRO EE e cols.<br />

Reestenose pós-implante<br />

de stent coronário nãofarmacológico<br />

colaboradores (31) . O bom<br />

resultado obtido com a angioplastia<br />

resulta basicamente<br />

da maior expansão<br />

do stent, com pouca modificação<br />

na hiperplasia<br />

intimal.<br />

Eltchaninoff e colaboradores<br />

(32) demonstraram<br />

que os resultados da angioplastia<br />

convencional<br />

não são bons no tratamento<br />

da reestenose intra-stent, mas são melhores quando<br />

esta é focal. Esses resultados foram semelhantes<br />

aos verificados por Bossi e colaboradores. (33)<br />

Em vista dos resultados conseguidos com as outras<br />

técnicas aqui descritas, o balão tem mostrado resultados<br />

interessantes e é uma opção válida.<br />

Existe a possibilidade de utilizar o ultra-som intracoronário<br />

para otimizar os resultados do tratamento da<br />

reestenose intra-stent; assim estudamos pacientes<br />

prospectivamente tratados com angioplastia convencional<br />

guiada por ultra-som intracoronário. Fundamentase<br />

nossa idéia no conceito de que o ultra-som intracoronário<br />

pode informar melhor sobre os parâmetros luminais<br />

do vaso e, conseqüentemente, sobre o diâmetro<br />

do balão a ser utilizado e se a angioplastia ficou<br />

realmente satisfatória ou não. (34)<br />

É importante salientar que nosso estudo confirma<br />

os dados da literatura quanto aos elevados índices de<br />

sucesso obtidos com angioplastia convencional, com<br />

complicações baixas. (30-32) Em nossa casuística, o sucesso<br />

angiográfico foi de 100% e não houve complicações<br />

maiores. No acompanhamento clínico avaliamos<br />

a reestenose clínica. Tivemos o cuidado de avaliar os<br />

pacientes inicialmente assintomáticos, cujos testes para<br />

isquemia foram positivos e nos quais a reestenose havia<br />

sido confirmada por reestudo angiográfico. Agora<br />

novamente assintomáticos, tiveram testes detectores<br />

de isquemia completamente negativos. Nesse período<br />

de 19,5 + 14,3 meses de seguimento clínico, encontramos<br />

5 pacientes com reestenose clínica (Grupo A) e<br />

16 pacientes sem reestenose (Grupo B). Quando analisamos<br />

os parâmetros do ultra-som intracoronário,<br />

pudemos observar que a área luminal conseguida foi<br />

significativamente maior pós-balão naqueles que evoluíram<br />

sem reestenose clínica quando comparados com<br />

aqueles com reestenose (5,98 + 1,4 vs. 7,95 + 1,9; p <<br />

0,05). Em resumo, podemos dizer que a angioplastia<br />

transluminal coronária convencional é uma opção válida<br />

no tratamento da reestenose intra-stent, principalmente<br />

nas lesões focais, e que a utilização do ultrasom<br />

intracoronário pode ajudar na otimização dos resultados.<br />

A utilização do “cutting balloon” é outra opção de<br />

tratamento da reestenose intra-stent, visto que, além<br />

do efeito do balão, existe o efeito adicional das pequenas<br />

lâminas, o que facilitaria a ampliação do lúmen.<br />

Mizobe e colaboradores (35) , em um pequeno estudo randomizado,<br />

demonstraram que o “cutting balloon” é eficaz,<br />

com reestenose menor, quando comparado à angioplastia<br />

convencional. Entretanto, o maior estudo randomizado<br />

foi o estudo RESCUT (36) , publicado recentemente,<br />

envolvendo 428 pacientes, com todos os tipos<br />

de reestenose intra-stent. Os pacientes foram tratados<br />

com “cutting balloon” comparado com balão convencional<br />

e os resultados demonstraram que a reestenose<br />

binária foi de 29,8% para os pacientes tratados com<br />

“cutting balloon” e de 31,4% para a angioplastia transluminal<br />

coronária com balão convencional (p = 0,82). A<br />

vantagem oferecida pelo “cutting balloon” foi apenas<br />

de menor número de balões necessários para o tratamento<br />

e também de menor chance de deslizamento<br />

do balão durante o procedimento (6,5% vs. 25%; p <<br />

0,01). A utilização do “cutting balloon” foi sendo progressivamente<br />

reduzida, pois sua eficácia não foi superior<br />

à da angioplastia transluminal coronária com<br />

balão convencional, além de ter custo mais elevado.<br />

Técnicas de ablação<br />

“Rotablator”<br />

Visto que o principal elemento encontrado nos pacientes<br />

com reestenose intra-stent é a proliferação intimal,<br />

a idéia de se utilizar o “rotablator” ganhou espaço<br />

no tratamento desses pacientes, principalmente aqueles<br />

com padrão de reestenose difusa. Sharma e colaboradores<br />

(37) publicaram os resultados iniciais em 100<br />

pacientes e demonstraram a segurança e os baixos<br />

índices de complicações do uso do “rotablator” no tratamento<br />

da reestenose intra-stent. O estudo ARTIST (38) ,<br />

entretanto, foi o primeiro que randomizou 298 pacientes<br />

com reestenose intra-stent difusa para “rotablator”<br />

+ angioplastia convencional vs. angioplastia convencional.<br />

A reestenose angiográfica ao final de seis meses<br />

foi de 65% para os pacientes tratados com “rotablator”<br />

com balão vs. 51% para os pacientes tratados com<br />

balão isoladamente (p = 0,039). Outro estudo randomizado<br />

foi o ROSTER (39) , que randomizou 200 pacientes<br />

com reestenose intra-stent difusa para “rotablator” vs.<br />

angioplastia convencional e os resultados de nova intervenção<br />

foram de 32% vs. 45%, respectivamente (p<br />

= 0,042). Diante desses resultados não completamente<br />

convincentes, sua utilização também tem sido progressivamente<br />

reduzida.<br />

Aterectomia direcional<br />

A experiência é pequena, mas Mahdi e colaboradores<br />

(40) demonstraram que é possível tecnicamente o tratamento<br />

da reestenose intra-stent com aterectomia direcional.<br />

A revascularização da lesão-alvo foi de 28,3%<br />

em um ano de evolução pós-tratamento de 45 pacien-<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 453


RIBEIRO EE e cols.<br />

Reestenose pós-implante<br />

de stent coronário nãofarmacológico<br />

tes tratados pela aterectomia.<br />

Muitos investigadores<br />

ainda mantêm restrições a<br />

essa opção técnica pela<br />

possibilidade de se fragmentar<br />

a estrutura metálica<br />

do stent. Nesse sentido,<br />

diante desse fato aliado<br />

à falta de evidências na<br />

literatura, o tratamento da<br />

reestenose intra-stent com<br />

aterectomia é muito pouco<br />

utilizado.<br />

“Excimer laser”<br />

Os trabalhos iniciais de Mehran e colaboradores (41)<br />

demonstraram resultados interessantes com o “laser”<br />

e superiores à angioplastia convencional. Entretanto,<br />

na evolução dos estudos, sua utilização também foi sendo<br />

abolida.<br />

Liberação de novo stent<br />

Existe essa possibilidade quando o processo de reestenose<br />

atinge pontos da artéria não recobertos pelo<br />

stent prévio, como, por exemplo, as bordas ou as eventuais<br />

junções entre os stents. Os estudos iniciais tipo<br />

registro demonstraram resultados interessantes dessa<br />

técnica. O grande estudo randomizado utilizando essa<br />

opção foi o espanhol RIBS (42) , que randomizou 450 pacientes<br />

para implante de novo stent “versus” angioplastia<br />

transluminal coronária convencional. Os resultados<br />

foram decepcionantes com reestenose angiográfica<br />

binária de 38% para o grupo stent “versus” 39% para o<br />

grupo balão. Entretanto, quando se analisam os resultados<br />

separadamente dos pacientes com vasos de diâmetro<br />

de 3 mm ou maiores, os resultados para novo<br />

stent são melhores que os registrados com balão, com<br />

reestenose de 27% vs. 49% (p = 0,002). Apesar de não<br />

totalmente definitivo, o implante de novo stent nos parece<br />

ser uma opção interessante quando a reestenose<br />

ultrapassa as bordas ou margens do primeiro stent<br />

implantado.<br />

Braquiterapia<br />

Outra possibilidade seria a braquiterapia, quer com<br />

radiação beta quer com radiação gama, com o intuito<br />

de inibir o componente biológico da nova re-reestenose.<br />

Os dados iniciais foram animadores, mas os custos<br />

elevados e a logística complicada reduziram o ímpeto<br />

com essa técnica. Além disso, a descrição de redução<br />

do benefício tardio aliada à ocorrência de tromboses<br />

tardias dos stents também diminuíram sua utilização.<br />

A recorrência de reestenose (re-reestenose) ocorre em<br />

até um terço dos casos após braquiterapia. (43-45) É atualmente<br />

considerada uma opção de tratamento real<br />

para pacientes com reestenose intra-stent em vários<br />

países. Hoje, no Brasil, não existe serviço utilizando<br />

essa técnica.<br />

Stents farmacológicos<br />

Os stents farmacológicos no tratamento da reestenose<br />

intra-stent podem ser divididos em stents com sirolimus<br />

e stents com paclitaxel.<br />

Stents com sirolimus<br />

O implante de stent com sirolimus foi inicialmente<br />

testado para o tratamento da reestenose intra-stent em<br />

duas séries de casos. (46, 47) O primeiro estudo incluiu 25<br />

pacientes com lesões não-complexas e apresentou no<br />

seguimento tardio taxa “zero” de recorrência da reestenose.<br />

O segundo estudo incluiu 16 pacientes com<br />

maior perfil de complexidade, sendo a taxa de re-reestenose<br />

tardia de 20%.<br />

Mais recentemente, Saia e colaboradores (48) avaliaram<br />

44 pacientes consecutivos com 53 lesões reestenóticas<br />

(sem braquiterapia prévia) tratados com stent<br />

com sirolimus. Aos seis meses, a incidência de nova<br />

reestenose nesse grupo foi de 14,6%. Não houve nova<br />

reestenose para lesões não-complexas (lesões focais,<br />

42% da série). Para lesões complexas, a taxa de reestenose<br />

variou entre 20% e 25%. Após um ano, 11,6%<br />

dos pacientes tiveram que ser novamente tratados por<br />

re-reestenose.<br />

Em outro estudo pequeno, não-randomizado, Saia<br />

e colaboradores (49) compararam pacientes com reestenose<br />

intra-stent tratados com stent com sirolimus ou<br />

com braquiterapia endovascular. Após nove meses de<br />

evolução, a sobrevida livre de óbito, infarto ou re-intervenção<br />

foi semelhante entre os dois grupos (79,1%<br />

braquiterapia vs. 81,5% sirolimus; p = 0,8). Esses resultados<br />

sugerem que stent com sirolimus é pelo menos<br />

tão eficaz quanto braquiterapia para o tratamento<br />

de reestenose intra-stent.<br />

Outro estudo tipo registro, ainda não publicado, apresentado<br />

no curso EURO-PCR 2004, é o TROPICAL,<br />

no qual foram estudados 162 pacientes, comparados a<br />

outros 256 pacientes dos estudos GAMMA I/II tratados<br />

com braquiterapia tipo gama. Nesse estudo evidenciouse<br />

que a necessidade de reintervenção por sintomas<br />

clínicos foi de 2,6% vs. 14% (p < 0,001), favorecendo o<br />

stent farmacológico. A perda luminal tardia também foi<br />

muito inferior no grupo sirolimus (0,08 mm vs. 0,68 mm;<br />

p < 0,0001). Finalmente, o principal registro nesse tópico<br />

é o E-CYPHER, com mais de 14 mil pacientes<br />

envolvidos em 282 centros em todo o mundo e que<br />

vem avaliando clinicamente 1.751 pacientes tratados<br />

com sirolimus por reestenose intra-stent. Os resultados<br />

preliminares de seis meses evidenciam trombose<br />

de stent de 1,0%, mortalidade de 1,14%, eventos clínicos<br />

combinados de 4%, e reintervenção por sintomas<br />

de < 3%. Parece-nos, portanto, uma opção realmente<br />

promissora.<br />

454 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


RIBEIRO EE e cols.<br />

Reestenose pós-implante<br />

de stent coronário nãofarmacológico<br />

Stents com paclitaxel<br />

O estudo TAXUS III (50)<br />

avaliou 28 pacientes com<br />

reestenose intra-stent tratados<br />

com stent revestido<br />

com paclitaxel. No total,<br />

16% dos casos apresentaram<br />

reestenose binária<br />

angiográfica. (33) Os autores<br />

concluem que o stent<br />

com paclitaxel pode ser<br />

considerado seguro e potencialmente<br />

eficaz para o tratamento de reestenose<br />

intra-stent, mas não existem maiores registros nesse<br />

tópico.<br />

Comparações entre stents com sirolimus e paclitaxel<br />

Um estudo randomizado muito importante é o ISAR-<br />

DESIRE, publicado recentemente por Kastrati e colaboradores<br />

(51) Esse estudo comparou o tratamento de<br />

300 pacientes, sem seleção prévia, com reestenose<br />

intra-stent para stents farmacológicos com sirolimus ou<br />

com paclitaxel ou para angioplastia convencional. Os<br />

resultados foram de reestenose angiográfica de 14,3%<br />

para sirolimus, de 21,7% para paclitaxel e de 44,6%<br />

para balão (p < 0,001 sirolimus vs. balão; p = 0,001<br />

paclitaxel vs. balão; e p = 0,19 quando comparados os<br />

dois stents farmacológicos). A incidência de reintervenção<br />

foi de 8% para o grupo sirolimus, de 19% para o<br />

grupo paclitaxel, e de 33% para o grupo balão (p <<br />

0,001 sirolimus vs. balão; p = 0,02 paclitaxel vs. balão;<br />

e p = 0,02 quando comparados os dois stents farmacológicos,<br />

favorecendo o sirolimus). Em conclusão, podemos<br />

dizer que o stent farmacológico é superior ao<br />

balão no tratamento da reestenose intra-stent e que o<br />

stent farmacológico com sirolimus parece ser superior<br />

ao stent com paclitaxel.<br />

Estudos randomizados em andamento<br />

Os dois estudos randomizados em andamento e que<br />

realmente irão definir o papel dos stents farmacológicos<br />

no tratamento dessa situação clínica são os estudos SISR,<br />

que vai randomizar 400 pacientes para stent com sirolimus<br />

“versus” braquiterapia beta ou gama, e TAXUS V-<br />

ISRE, que vai randomizar 488 pacientes para stent com<br />

paclitaxel “versus” braquiterapia com radiação beta.<br />

CONCLUSÃO<br />

A reestenose intra-stent é uma situação clínica complexa<br />

e cujo tratamento tem progredido bastante nos<br />

últimos dois anos. Nenhuma das modalidades intervencionistas<br />

fornece resultados ótimos. A variedade de<br />

possibilidades terapêuticas pode ser exemplificada em<br />

nosso mundo real, por meio do banco de dados do Instituto<br />

do Coração (InCor/HC-FMUSP), em que dos mais<br />

de 10 mil pacientes tratados com intervenção coronária<br />

percutânea analisamos 153 com reestenose intrastent<br />

tratados no último ano. Nesses pacientes, realizamos<br />

angioplastia transluminal coronária com balão<br />

em 44% desses pacientes, implantamos novo stent nãofarmacológico<br />

em 36% e stent farmacológico em 20%<br />

desses pacientes, fato que mostra as opções disponíveis<br />

em nossa realidade.<br />

Das técnicas descritas na literatura e levando-se em<br />

conta os problemas de custo inerentes aos stents farmacológicos,<br />

podemos dizer que as lesões focais podem<br />

ser tratadas com nova angioplastia transluminal<br />

coronária com balão convencional, as lesões do tipo<br />

difuso devem ser preferencialmente tratadas com stent<br />

farmacológico, e a utilização de novo stent não-farmacológico<br />

deve ser reservada para lesões reestenóticas<br />

que envolvam a borda ou as margens do stent anteriormente<br />

colocado.<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 455


IN-STENT RESTENOSIS AFTER BARE METAL STENT<br />

RIBEIRO EE e cols.<br />

Reestenose pós-implante<br />

de stent coronário nãofarmacológico<br />

EXPEDITO E. RIBEIRO, PEDRO A. L<strong>EM</strong>OS, MARCO A. PERIN,<br />

HENRIQUE B. RIBEIRO, ANDRÉ SPADARO, EULÓGIO E. MARTINEZ<br />

The use of coronary stents improved the results of conventional balloon angioplasty.<br />

Acute vessel closure, the need for urgent coronary artery bypass surgery and<br />

restenosis were significantly reduced. Therefore, the percutaneous coronary interventions<br />

involve the implantation of stents in approximately 90% of interventions.<br />

Nonetheless, despite marked reduction in restenosis by coronary stenting compared<br />

to balloon angioplasty, in-stent restenosis remains an important clinical challenge,<br />

since the indications of percutaneous coronary interventions were expanded to<br />

more complex clinical scenario and lesions subsets. Therefore, numerous techniques<br />

described in this article were developed to treat in-stent restenosis. However,<br />

the best option seems to be its prevention by the use of drug eluting stents. None of<br />

the treatment options bring optimal results. Of the described techniques, we emphasize<br />

the balloon angioplasty, the implantation of another bare metal stent, brachytherapy<br />

and drug eluting stents. As a general rule, focal restenotic lesions can be treated<br />

by balloon angioplasty, the diffuse lesions are preferentially treated with drug<br />

eluting stents and the utilization of another bare metal stent can be reserved for the<br />

restenotic lesions that involve the edges of a previously implanted stent. The results<br />

of ongoing randomized trials are expected to define the real role of the drug eluting<br />

stents.<br />

Key words: angioplasty, coronary stent, restenosis.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:448-58)<br />

RSCESP (72594)-1565<br />

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456 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


RIBEIRO EE e cols.<br />

Reestenose pós-implante<br />

de stent coronário nãofarmacológico<br />

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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 457


RIBEIRO EE e cols.<br />

Reestenose pós-implante<br />

de stent coronário nãofarmacológico<br />

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evaluation trial (RESCUT).<br />

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of diffuse in-stent restenosis:<br />

insights from the randomized<br />

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angioplasty for prevention of recurrences in patients<br />

with coronary in-stent restenosis: a randomized<br />

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458 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


SOUSA JE e cols.<br />

Perspectivas da<br />

Cardiologia<br />

Intervencionista para o<br />

tratamento da doença<br />

coronária<br />

PERSPECTIVAS DA <strong>CARDIOLOGIA</strong><br />

INTERVENCIONISTA PARA O TRATAMENTO<br />

DA DOENÇA CORONÁRIA<br />

J. EDUARDO SOUSA, AMANDA SOUSA, ALEXANDRE ABIZAID, FAUSTO FERES<br />

Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia<br />

Endereço para correspondência: Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 – Ibirapuera –<br />

CEP 04012-909 – São Paulo – SP<br />

A próxima década da Cardiologia Intervencionista será caracterizada por avanços<br />

contínuos na área dos materiais e instrumentais e pela atenuação das barreiras<br />

entre as disciplinas médicas, que serão marcadas por intensa interação, incluindo a<br />

Medicina Vascular e a Genética. Avanços contínuos na técnica de imageamento<br />

aumentarão a capacidade de detectar a doença aterosclerótica subclínica, mas de<br />

alto risco. São esperados, para os anos vindouros, a expansão das indicações da<br />

intervenção coronária percutânea, assim como o desenvolvimento de novas modalidades<br />

terapêuticas.<br />

Palavras-chave: stents com eluição de medicamentos, sirolimus, paclitaxel, reestenose,<br />

ultra-som intracoronário.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:459-64)<br />

RSCESP (72594)-1566<br />

INTRODUÇÃO<br />

Os estudos STRESS e BENESTENT, que demonstraram,<br />

pela primeira vez, e de forma convincente, a<br />

superioridade do stent de Palmaz-Schatz sobre os<br />

balões, deram início à chamada “era dos stents”, no<br />

âmbito da revascularização coronária (1, 2) . A reestenose<br />

intra-stent, no entanto, persistia até recentemente<br />

como uma limitação desses instrumentais. A incidência<br />

de reestenose após o uso dos stents não-recobertos<br />

varia de 10% a 50% em seis meses de evolução,<br />

dependendo da presença de fatores de risco<br />

clínicos e anatômicos. Surge então a nova técnica<br />

dos stents com eluição de medicamentos, cujo termo<br />

deriva da habilidade dessas próteses metálicas<br />

de liberar agentes bioativos no tecido circunjacente.<br />

Uma revisão pormenorizada desses instrumentais e<br />

os estudos clínicos relacionados a eles foram publicados<br />

recentemente (3, 4) .<br />

RESULTADOS CLÍNICOS COM O USO DE STENTS<br />

COM ELUIÇÃO DE MEDICAMENTOS<br />

A sustentabilidade tardia dos resultados angiográficos<br />

e clínicos tem sido demonstrada recentemente<br />

para os stents com liberação de sirolimus e de paclitaxel<br />

(estudos FIM e RAVEL, programas SIRIUS e<br />

TAXUS), já disponíveis para o uso clínico no Brasil,<br />

desde 2002 e 2003, respectivamente.<br />

A perda tardia no segmento (stent e margens),<br />

até nove meses de evolução, variou de 0,05 mm a<br />

0,15 mm com a liberação de sirolimus e de 0,30 mm<br />

a 0,40 mm com a de paclitaxel, comparativamente<br />

às perdas tardias entre 0,80 mm e 1,20 mm com os<br />

stents não-recobertos. Esses achados traduziram-se,<br />

em geral, em taxas de revascularização do vaso-alvo<br />

abaixo de 8%, que representam a metade daquela<br />

observada com os stents não-revestidos.<br />

Em acréscimo, respeitadas as recomendações<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 459


SOUSA JE e cols.<br />

Perspectivas da<br />

Cardiologia<br />

Intervencionista para o<br />

tratamento da doença<br />

coronária<br />

técnicas, obtidos os resultados<br />

angiográficos<br />

apropriados e obedecido<br />

o protocolo terapêutico<br />

preconizado, a trombose<br />

protética situa-se abaixo<br />

de 1,0% (nos primeiros<br />

seis meses), taxa superponível<br />

à das séries históricas<br />

com os stents<br />

não-recobertos.<br />

Ainda na área de investigação,<br />

alguns stents com eluição de medicamentos<br />

mostraram resultados menos entusiasmantes,<br />

como ocorreu com os stents liberadores de<br />

dexametasona (estudo DELIVER), actinomicina<br />

(ACTION), ácido micofenólico (IMPACT), tracolimus<br />

(PRESENT), estradiol (EASTER) e óxido nítrico<br />

(NOBLESSE).<br />

Por outro lado, vários estudos-piloto com os análogos<br />

do sirolimus têm demonstrado achados de grande<br />

interesse e parecem ser muito promissores. É o<br />

caso do everolimus, do biolimus A-9 e do ABT-578. À<br />

semelhança da rapamicina, esses agentes ligam-se<br />

ao FKBP12 e inibem a proteína regulatória do ciclo<br />

celular mTOR.<br />

Outras opções, com pesquisas em andamento,<br />

são também interessantes, como stents cobertos com<br />

anticorpos anti-CD34, stents liberadores de estatinas,<br />

trapidil, citocalasina D e metotrexate ou a combinação<br />

de múltiplos agentes, que deverão ser avaliados<br />

clinicamente num futuro bem próximo.<br />

As plataformas desses stents liberadores de medicamentos<br />

também têm sido motivo de aprimoramentos<br />

e os stents de cromo-cobalto, com hastes<br />

mais finas que as dos de aço inoxidável em uso, podem<br />

trazer contribuição favorável em termos de capacidade<br />

de liberação. Além disso, os stents biodegradáveis,<br />

que se “dissolvem” lentamente após o implante,<br />

poderiam constituir-se numa opção ideal. Teoricamente,<br />

estes últimos promoveriam suporte inicial<br />

à parede do vaso para prevenir o remodelamento<br />

negativo, sem o trauma vascular contínuo e indesejável<br />

causado pela presença permanente de um<br />

corpo estranho rígido na parede do vaso. O stent de<br />

Igaki-Tamai, entre outros, tem sido avaliado clinicamente<br />

(5) .<br />

Uma outra concepção muito engenhosa é a do<br />

Conor MedSystems MedStent (6) , constituído de pequeninos<br />

reservatórios, que podem ser preenchidos<br />

com um ou mais fármacos, com liberação uni ou bidirecional<br />

e cinética de liberação controlada. Investigações<br />

com esse instrumental encontram-se também<br />

em andamento, com resultados iniciais entusiasmantes.<br />

MUDANÇAS NA <strong>CARDIOLOGIA</strong><br />

INTERVENCIONISTA COM O USO DOS<br />

STENTS COM ELUIÇÃO DE MEDICAMENTOS<br />

Dois desses stents, o com liberação de sirolimus<br />

(Cypher ® , Cordis) e o de paclitaxel (Taxus ® , Boston<br />

Scientific), foram aprovados para uso clínico e têm sido<br />

amplamente avaliados no cenário dito “do mundo real”.<br />

Alguns registros têm documentado o profundo impacto<br />

que a nova técnica tem proporcionado no campo da<br />

revascularização miocárdica. É o caso do registro RE-<br />

SEARCH, conduzido no Thoraxcenter em Roterdã, na<br />

Holanda (7) . Com um ano de evolução, os eventos cardíacos<br />

maiores foram reduzidos em 38% com os stents<br />

Cypher ® , comparados àqueles encontrados com os<br />

stents não-revestidos (9,7% vs. 14,8%; p < 0,01), redução<br />

essa decorrente principalmente da queda de 65%<br />

no risco de reintervenções no seguimento (3,7% vs.<br />

10,9%; p < 0,01). Interessante ressaltar que, entre os<br />

pacientes tratados com stent liberador de sirolimus,<br />

somente 2 (0,4%) apresentaram trombose subaguda<br />

no primeiro mês de evolução “versus” 1,6% no grupo<br />

com stents não-recobertos. A segunda fase desse registro,<br />

em andamento, testa agora o stent Taxus ® com<br />

paclitaxel (registro T-SEARCH). Os resultados tardios<br />

estão ainda pendentes.<br />

Também em andamento encontra-se o Registro e-<br />

Cypher, o maior envolvendo essa técnica. Foram incluídos<br />

mais de 15 mil pacientes, até julho de 2004, em<br />

275 centros, em todo o mundo. Proximamente, os resultados<br />

de um ano de evolução deverão completarse.<br />

Contudo, achados preliminares confirmaram o excepcional<br />

efeito desses stents com sirolimus, também<br />

no amplo espectro de situações clínicas e anatômicas<br />

do dia-a-dia, assemelhando-se aos resultados obtidos<br />

com os estudos clínicos randomizados.<br />

O Registro WISDOM igualmente avalia as inclusões<br />

“do mundo real”, agora com o stent Taxus ® . Cerca de<br />

mil pacientes foram recrutados, em 26 centros, nos diversos<br />

continentes e os resultados a longo prazo devem<br />

ser anunciados em futuro próximo.<br />

O impacto dessa nova técnica em termos de mudança<br />

da prática, entretanto, só poderá ser apreciado,<br />

em toda sua extensão, nos próximos anos. Limitações<br />

econômicas e de suprimento mais amplo desses materiais<br />

ainda representam barreiras para a adoção universal<br />

dos stents com eluição de medicamentos, que<br />

provavelmente substituirão os stents não-recobertos,<br />

na rotina do laboratório de cateterismo cardíaco. Essa<br />

tendência pôde bem ser apreciada nos registros e-<br />

Cypher e WISDOM. Observa-se que os operadores,<br />

em todo o mundo, se sentiram confiantes e encorajados<br />

em tratar situações mais complexas, do ponto de<br />

vista tanto clínico como anatômico, não ainda amplamente<br />

exploradas nos estudos randomizados. Diver-<br />

460 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


SOUSA JE e cols.<br />

Perspectivas da<br />

Cardiologia<br />

Intervencionista para o<br />

tratamento da doença<br />

coronária<br />

sas lesões desafiantes,<br />

incluindo aquelas no tronco<br />

da coronária esquerda<br />

(2%),as oclusões crônicas<br />

(9,4%), as em bifurcações<br />

(8,6%), as lesões longas ><br />

30 mm (12,2%), as lesões<br />

restenóticas (14,5%) e as<br />

em ponte de safena<br />

(2,1%), foram tratadas no<br />

estudo e-Cypher. Uma população<br />

de alto risco e de<br />

perfil semelhante também foi incluída no WISDOM. Logicamente<br />

que, antes de mudarem radicalmente as indicações<br />

clínicas, os cardiologistas devem ser algo cautelosos<br />

com os casos de alta complexidade, aguardando<br />

os resultados em andamento, para a adoção irrestrita.<br />

NOVAS MODALIDADES DIAGNÓSTICAS<br />

Expansões adicionais das intervenções coronárias<br />

percutâneas ocorrerão somente após o desenvolvimento<br />

e a aplicação de novas modalidades de diagnóstico,<br />

capazes de detectar doença aterosclerótica de alto risco,<br />

ainda que subclínica. A técnica em uso atualmente,<br />

em particular a angiografia, é incapaz de prever a probabilidade<br />

de evento clínico trombótico, porque ela não<br />

oferece informações sobre as estruturas da parede<br />

vascular, incluindo informações sobre a própria placa<br />

de ateroma.<br />

A ruptura da placa, que desencadeia o evento agudo,<br />

freqüentemente ocorre em ateromas que não são<br />

gravemente estenóticos e que podem ser indetectáveis<br />

pela angiografia coronária, em decorrência do remodelamento<br />

positivo (8) . A transição de uma placa quiescente<br />

para uma placa rota é caracterizada pela presença<br />

de processo inflamatório ativo (infiltração de<br />

monócitos/macrófagos), capa fibrinótica fina (< 80 µm),<br />

desenvolvimento de grande lago lipídico necrótico, desnudação<br />

endotelial superficial e hemorragia intraplaca<br />

(9) . Outro mecanismo de desencadeamento do processo<br />

agudo, que em muitos aspectos permanece um<br />

enigma, é a erosão da placa, menos freqüentemente<br />

observada nas autópsias que a ruptura e que parece<br />

estar associada à maioria dos eventos em mulheres,<br />

no período pré-menopausa. Os achados histológicos<br />

nessa situação envolvem grande quantidade de células<br />

musculares lisas e proteoglicanos, com pequeno<br />

ou nenhum núcleo lipídico (10) .<br />

Não está claro se a instabilidade da placa é um fenômeno<br />

sistêmico ou apenas focal. A combinação de<br />

ambas as hipóteses (processo sistêmico com manifestação<br />

focal ou multifocal) parece ser a mais provável.<br />

Fatores locais, como forças de cizalhamento e alta tensão<br />

mecânica, podem explicar por que a ruptura da<br />

placa está freqüentemente confinada a regiões específicas<br />

da circulação e não distribuída em todo o leito<br />

arterial. De qualquer sorte, desafios ao conceito de placa<br />

vulnerável estão associados também às estratégias<br />

propostas para prever os eventos trombóticos (11, 12) . No<br />

entanto, várias técnicas funcionais e de imagem têm<br />

sido sugeridas para detectar as placas vulneráveis,<br />

como: ultra-som intravascular, histologia virtual, elastografia,<br />

termografia, espectroscopia infravermelha,<br />

tomografia de coerência óptica e ressonância magnética<br />

intravascular (13-18) .<br />

O método ideal para triagem da doença aterosclerótica<br />

subclínica, da placa potencialmente vulnerável e<br />

do paciente vulnerável deve ser não-invasivo, aplicável<br />

a casos assintomáticos, e deve fornecer avaliação de<br />

múltiplos leitos vasculares. Associadamente, para a<br />

detecção de doença obstrutiva coronária, uma resolução<br />

espacial tridimensional de pelo menos 1 mm é obrigatória.<br />

Resoluções muito mais altas, não ainda disponíveis,<br />

são necessárias para a caracterização de placa.<br />

Além disso, o processamento da imagem deve ser<br />

rápido e independente do operador; o procedimento<br />

diagnóstico não deve impor riscos ao paciente, portanto<br />

deve ser independente de radiação e de contraste e,<br />

idealmente, deve ser um método de baixo custo. Infelizmente,<br />

nenhuma das técnicas disponíveis preenche<br />

todos esses critérios e não é de se esperar, para um<br />

futuro próximo, tal técnica ideal de triagem.<br />

A despeito de todo o entusiasmo gerado nesse campo,<br />

resta intensa investigação à frente: precisamos identificar<br />

melhor os mecanismos subjacentes ao evento<br />

agudo e a história natural do modelo ora em voga. O<br />

debate sobre a estratégia terapêutica mais apropriada<br />

para a placa considerada vulnerável está em pauta e<br />

ainda a solução está longe de ser consensual.<br />

ANGIOGÊNESE E MIOGÊNESE<br />

A despeito da – e talvez em decorrência da – queda<br />

da mortalidade associada ao infarto do miocárdio, durante<br />

as duas últimas décadas, a morbidade e a mortalidade<br />

decorrentes da insuficiência cardíaca congestiva continuam<br />

a aumentar. Além do mais, os avanços recentes<br />

nas terapêuticas farmacológicas e não-farmacológicas,<br />

incluindo cardiomioplastia, transplante cardíaco, marcapasso<br />

biventricular, desfibrilador implantável e técnicas<br />

de assistência ao ventrículo esquerdo, não demonstraram<br />

produzir benefício de maior sobrevivência para pacientes<br />

com insuficiência cardíaca congestiva.<br />

Recentemente, a angiogênese – relacionada à formação<br />

de novas arteríolas de vasos preexistentes – foi<br />

proposta como tratamento alternativo para casos com<br />

insuficiência cardíaca congestiva e que, por razões clínicas,<br />

não forem bons candidatos às estratégias de<br />

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 461


SOUSA JE e cols.<br />

Perspectivas da<br />

Cardiologia<br />

Intervencionista para o<br />

tratamento da doença<br />

coronária<br />

revascularização. Além<br />

disso, a angiogênese poderia<br />

tornar-se uma estratégia<br />

adjunta a outras de<br />

revascularização, como a<br />

intervenção coronária percutânea<br />

ou a cirurgia, em<br />

pacientes com doença coronária<br />

grave.<br />

Os maiores estímulos<br />

fisiológicos à angiogênese<br />

incluem a hipoxia tecidual<br />

e a inflamação. Tentativas iniciais para promover a angiogênese<br />

usaram o “laser” e outros meios mecânicos<br />

para criar pequenos orifícios no endocárdio (19) .<br />

O uso de fatores de crescimento (como o fator de<br />

crescimento do endotélio vascular e o de fibroplastos)<br />

ou de genes codificadores dessas proteínas que promovem<br />

angiogênese estão sob intensa investigação na<br />

última década (20-22) . O transplante de células também<br />

tem sido proposto como estratégia para promover tanto<br />

a neovascularização como a reposição de tecido (23-<br />

31)<br />

. A totipotência das células-tronco tem reunido grande<br />

expectativa de que a insuficiência cardíaca congestiva<br />

possa ter outra perspectiva com o transplante dessas<br />

células (32) , que poderiam melhorar a perfusão e a<br />

função contrátil do miocárdio isquêmico. Contudo, a<br />

transdiferenciação dessas células ainda permanece<br />

controversa (33) .<br />

A despeito de nosso conhecimento limitado de vários<br />

aspectos envolvendo a angiogênese, acumulam-se<br />

dados sobre o transplante de células de medula óssea<br />

autólogas, mioblastos esqueléticos e células progenitoras<br />

do endotélio. O microambiente miocárdico oferece<br />

sinais apropriados para a diferenciação cardiomiogênica<br />

das células transplantadas, por meio de mecanismos<br />

ainda não totalmente definidos, que talvez envolvam<br />

a repopulação miocárdica, a revascularização<br />

ou ambas. As células transplantadas podem também<br />

estimular os miócitos residentes no sentido de melhora<br />

de sua contratilidade, por meio da liberação de citocinas<br />

e do aumento do fluxo sanguíneo.<br />

Indicações clínicas distintas provavelmente requererão<br />

linhagens celulares específicas (34) . Injeções intramiocárdicas<br />

de mioblastos esqueléticos autólogos demonstraram<br />

melhora da função ventricular, na evolução<br />

tardia pós-infarto do miocárdio; entretanto, dados<br />

recentes sugerem um potencial arritmogênico dessas<br />

células esqueléticas transplantadas, razão pela qual estudos<br />

recentes testando essa terapêutica têm recomendado<br />

o uso profilático de desfibriladores implantáveis.<br />

As células de medula óssea compreendem múltiplas<br />

linhagens celulares e são caracterizadas por considerável<br />

pasticidade funcional. Perin e colaboradores<br />

testaram a injeção intramiocárdica guiada pelo NOGA<br />

de células de medula óssea autólogas, em pacientes<br />

com grave doença isquêmica do coração e que não<br />

tinham mais indicação de revascularização (26) . Observaram<br />

aumento da perfusão e da fração de ejeção, aos<br />

quatro meses de seguimento, e nenhum caso desenvolveu<br />

arritmia. Como resultado, foi iniciado o primeiro<br />

estudo americano testando a factibilidade da injeção<br />

intramiocárdica de células de medula óssea em pacientes<br />

com insuficiência cardíaca congestiva, no “Texas<br />

Heart Institute”, em Houston, Estados Unidos. Os<br />

pacientes serão avaliados, no período evolutivo, pela<br />

ressonância magnética para avaliar-se a repercussão<br />

em termos de função contrátil.<br />

Outros candidatos para promover angiogênese são<br />

as células progenitoras endoteliais, que expressem<br />

CD34 e CD133, pois têm o potencial de se diferenciar<br />

em células endoteliais vasculares e em células sanguíneas<br />

além de promover, em última análise, a vasculogênese,<br />

um fenômeno ainda não demonstrado em<br />

corações adultos.<br />

Toda essa técnica, contudo, ainda requer forte quantidade<br />

de investigação para a solução de inúmeros desafios<br />

(35-37) que a façam definitiva e comprovadamente<br />

bem-sucedida, porém é fato que as perspectivas que<br />

ela encerra são extraordinariamente promissoras.<br />

462 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005


PERSPECTIVES IN INTERVENTIONAL CARDIOLOGY<br />

SOUSA JE e cols.<br />

Perspectivas da<br />

Cardiologia<br />

Intervencionista para o<br />

tratamento da doença<br />

coronária<br />

J. EDUARDO SOUSA, AMANDA SOUSA, ALEXANDRE ABIZAID, FAUSTO FERES<br />

The coming decade in interventional cardiology will be characterized by continued<br />

advances and interplay between structural and biomaterials, as well as erosion<br />

of the barriers between medical disciplines including vascular medicine, heart<br />

failure and genetics. Advances in imaging technology are on the verge of a clinical<br />

debut, which will enhance our screening capabilities to detect subclinical yet hazardous<br />

atherosclerosis disease. An expansion of indications for percutaneous coronary<br />

intervention as well as the development and establishment of new therapeutic<br />

modalities are also expected for the coming years.<br />

Key words: drug eluting stents, sirolimus, paclitaxel, restenosis, intravascular ultrasound.<br />

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;5:459-64)<br />

RSCESP (72594)-1566<br />

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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005 463


SOUSA JE e cols.<br />

Perspectivas da<br />

Cardiologia<br />

Intervencionista para o<br />

tratamento da doença<br />

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464 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 5 — Setembro/Outubro de 2005

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