São Carlos, v.8 n. 35 2006 - SET - USP
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São <strong>Carlos</strong>, <strong>v.8</strong> n. <strong>35</strong> <strong>2006</strong>
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO<br />
Reitor:<br />
Profa. Titular SUELY VILELA SAMPAIO<br />
Vice-Reitor:<br />
Prof. Titular FRANCO MARIA LAJOLO<br />
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS<br />
Diretor:<br />
Prof. Titular FRANCISCO ANTONIO ROCCO LAHR<br />
Vice-Diretor:<br />
Prof. Titular ARTHUR JOSÉ VIEIRA PORTO<br />
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS<br />
Chefe do Departamento:<br />
Prof. Titular CARLITO CALIL JUNIOR<br />
Suplente do Chefe do Departamento:<br />
Prof. Titular SÉRGIO PERSIVAL BARONCINI PROENÇA<br />
Coordenador de Pós-Graduação:<br />
Prof. Associado MARCIO ANTONIO RAMALHO<br />
Coordenadora de Publicações e Material Bibliográfico:<br />
MARIA NADIR MINATEL<br />
e-mail: minatel@sc.usp.br<br />
Editoração e Diagramação:<br />
FRANCISCO CARLOS GUETE DE BRITO<br />
MASAKI KAWABATA NETO<br />
MELINA BENATTI OSTINI<br />
TATIANE MALVESTIO SILVA
São <strong>Carlos</strong>, <strong>v.8</strong> n. <strong>35</strong> <strong>2006</strong>
Departamento de Engenharia de Estruturas<br />
Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – <strong>USP</strong><br />
Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro<br />
CEP: 1<strong>35</strong>66-590 – São <strong>Carlos</strong> – SP<br />
Fone: (16) 3373-9481 Fax: (16) 3373-9482<br />
site: http://www.set.eesc.usp.br
SUMÁRIO<br />
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos<br />
com acoplamento progressivo MEC/MEF<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda 1<br />
Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico<br />
com aplicação a estruturas do tipo viga<br />
Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier 29<br />
Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de<br />
estruturas de concreto pré-moldado<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai 47<br />
Análise teórica-experimental de pilares de concreto armado sob ação de força<br />
centrada<br />
Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo 75<br />
Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no<br />
desempenho de pilares reforçados com PRFC<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai 95<br />
Avaliação experimental do fator de distribuição de carga para pontes multicelulares de<br />
madeira protendida<br />
Jorge Luís Nunes Góes & Antonio Alves Dias 127
ISSN 1809-5860<br />
NOVAS METODOLOGIAS E FORMULAÇÕES PARA<br />
O TRATAMENTO DE PROBLEMAS INELÁSTICOS<br />
COM ACOPLAMENTO PROGRESSIVO MEC/MEF<br />
Arthur Dias Mesquita 1 & Humberto Breves Coda 2<br />
Resumo<br />
Novas formulações, técnicas e procedimentos são propostos para o tratamento de<br />
problemas inelásticos considerando-se acoplamento progressivo. O procedimento<br />
apresenta-se bastante adequado para a consideração de problemas de interação bi e<br />
tridimensionais que envolvam modificações na geometria e variações das condições de<br />
contorno ao longo do tempo. Este permite a inclusão e retirada de sub-regiões e a<br />
consideração de hipóteses especiais para o reforço, de maneira que o mesmo contribua<br />
adequadamente para o enrijecimento da estrutura. As formulações viscoelásticas e<br />
viscoplásticas são baseadas em uma nova metodologia e proporcionam com<br />
simplicidade e elegância resultados estáveis e bastante precisos. As representações<br />
viscosas para elementos de contorno são obtidas de duas formas, com o termo viscoso<br />
obtido através de integrais de domínio e de contorno. Esta última permite a análise<br />
viscoelástica de sólidos discretizando-se apenas o contorno do corpo, apresentando-se<br />
mais adequada para o tratamento de meios infinitos ou semi-infinitos. O<br />
comportamento plástico é levado em consideração através de algoritmos implícitos<br />
associativos e não-associativos, cujas expressões são obtidas de forma fechada,<br />
resultando em uma considerável economia computacional e uma melhor precisão na<br />
resposta não-linear.<br />
Palavras-chave: acoplamento; elemento finito; elemento de contorno; viscoelástico;<br />
viscoplástico; elastoplástico; implícito.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
A maioria dos problemas de engenharia apresentam interação entre partes<br />
diferentes do sistema, tais como: interação solo-estrutura, estrutura-estrutura e fluidoestrutura.<br />
As fundações das estruturas interagem diretamente com o solo, transmitindo<br />
as solicitações de maneira que a estrutura esteja em equilíbrio estático ou dinâmico.<br />
Fluidos, tais como: ar, água ou lubrificantes, podem estar interagindo com elementos<br />
1 Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, mesquita@sc.usp.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, hbcoda@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
2<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
estruturais como: edifícios, represas, estruturas offshore, componentes mecânicos, etc.<br />
Cada parte do sistema é representada por uma região física, sobre a qual pode-se aplicar<br />
uma solução numérica particular. Porém, em muitos casos práticos, por simplicidade, é<br />
possível desprezar a interação de uma parte do sistema com a outra. Um exemplo claro<br />
desse comportamento desacoplado, seria a atuação direta das forças do vento sobre um<br />
edifício suposto rígido. Neste caso, despreza-se a interação, analisando o problema com<br />
forças equivalentes atuando sobre a estrutura, na tentativa de simular a presença do<br />
fluido. Entretanto, em situações onde se deseja analisar o comportamento de todo o<br />
sistema ou mesmo modelar o problema de forma mais realista e coerente, devem-se<br />
utilizar técnicas numéricas específicas para cada parte do sistema. Uma maneira<br />
eficiente de representar todo o problema seria através do acoplamento de elementos de<br />
contorno com elementos finitos. Elementos de contorno são mais adequados para tratar<br />
problemas com domínio infinito ou semi-infinito e regiões de concentração de tensões e<br />
fluxo. Já elementos finitos são mais apropriados para problemas envolvendo materiais<br />
compósitos ou anisotrópicos. Uma aplicação adequada de ambos os métodos na<br />
simulação de um problema de iteração, torna o acoplamento uma ferramenta bastante<br />
atraente, possibilitando uma melhor representação de todo o problema, conduzindo à<br />
resultados mais precisos com um custo computacional menor.<br />
Para levar em consideração o comportamento viscoplástico optou-se por uma<br />
nova metodologia proposta pelos autores que apresenta importantes características. A<br />
maioria dos trabalhos desenvolvidos nesta área são baseados nos procedimentos<br />
inicialmente propostos por PERZYNA(1966), veja, por exemplo, ZIENKIEWICZ &<br />
CORMEAU(1974), ARGYRIS et al.(1979), OWEN & DAMJANIC(1982), TELLES &<br />
BREBBIA(1982) e MUNAIAR(1998). Estes são baseados no conceito de potencial<br />
plástico originado na teoria da plasticidade. Assim, as características viscosas são<br />
incorporadas na expressão da taxa de deformação viscoplástica por meio de funções<br />
dependentes do critério de plastificação e cujo embasamento reológico é bastante<br />
discutível. O processo recai em um problema incremental onde a análise é executada<br />
aplicando-se sucessivamente incrementos de força. Esta abordagem é baseada em<br />
procedimentos quase-estáticos onde a imposição de cargas externas com dependência<br />
temporal arbitrária e o ajuste do tempo real apresentam algumas dificuldades.<br />
A principal diferença entre o procedimento proposto e aqueles apresentados na<br />
literatura é a solução temporal. As abordagens clássicas assumem um comportamento<br />
conhecido (usualmente constante) das tensões totais durante um incremento de força. A<br />
partir desta suposição, resolve-se localmente as relações diferenciais temporais de<br />
tensão/deformação, encontrando a contribuição viscosa. Esta contribuição é aplicada<br />
nas equações de equilíbrio como um termo corretivo. Já a formulação proposta assume<br />
uma relação reológica viscoplástica que deve ser imposta no desenvolvimento das<br />
representações integrais. Desta relação encontra-se um sistema de equações diferencias<br />
temporal onde o comportamento plástico do corpo é levado em consideração através de<br />
um termo em tensão inicial. Este termo é obtido de forma usual pelos procedimentos<br />
elastoplásticos do MEC. Na presente formulação os incrementos são agora definidos<br />
como incrementos de tempo e não mais como incrementos de força, proporcionando um<br />
significado bem mais definido para o tempo nas análises viscoplásticas. A técnica<br />
permite impor, de forma simples e direta, condições de contorno (forças e<br />
deslocamentos) que variam com relação ao tempo, ampliando o seu campo de aplicação.<br />
Os algoritmos utilizados na atualização das tensões no problema viscoplástico podem<br />
ser os mesmos desenvolvidos para tratar os problemas elastoplástico, não havendo a<br />
necessidade de desenvolver novos procedimentos viscoplásticos, basta apenas<br />
introduzir na formulação viscosa aqueles já propostos pela plasticidade. Além disso,<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento...<br />
3<br />
como as integrais referentes ao comportamento viscoso são transformadas em integrais<br />
de contorno, para tratar o problema viscoplástico pelo MEC basta apenas discretizar o<br />
contorno do corpo e as regiões internas onde ocorrem plastificação, resultando em<br />
menor quantidade de dados de entrada e um menor custo computacional. Esta nova<br />
metodologia proporciona, com grande simplicidade, uma elevadíssima economia<br />
computacional e uma ótima precisão dos resultados.<br />
O trabalho completo do autor apresenta de forma mais detalhada as metodologias<br />
aqui apresentadas. Na realidade, devido a falta de espaço apenas a formulação<br />
viscoplástica com comportamento instantâneo será exposta. Porém, deve-se ressaltar<br />
que muito mais foi desenvolvido e proposto pelo autor com relação a formulações,<br />
elastoplásticas, viscoelásticas, viscoplásticas e algoritmos de retorno. Todas estas se<br />
encontram no texto final da tese de doutorado, estando algumas destas contribuições já<br />
publicadas em revistas de impacto internacional.<br />
2 MODELO VISCOELÁSTICO DE BOLTZMANN<br />
Este modelo é o empregado na formulação de elementos finitos. Considerou-se<br />
o comportamento na casca, elemento que em muitos casos simulará o reforço na<br />
estrutura, como possuindo um comportamento viscoelástico com comportamento<br />
instantâneo. O modelo de Boltzmann (fig.1) é representado pelo arranjo em série do<br />
modelo de Kelvin-Voigt com uma mola.<br />
Eve<br />
σ<br />
Ee<br />
η<br />
σ<br />
εe<br />
Figura 1 – Modelo viscoelástico de Boltzmann (representação uniaxial).<br />
εve<br />
Este modelo se diferencia do modelo de Kelvin pela capacidade de simular<br />
deformações elásticas instantâneas. Além do mais, este fica caracterizado pela<br />
igualdade das tensões nos dois trechos: elástico e viscoelástico.<br />
ij<br />
e<br />
ij<br />
ve<br />
ij<br />
σ = σ = σ<br />
(1)<br />
e ve<br />
onde σ ij , σ ij e σ ij são, respectivamente, as tensões totais, elásticas e viscoelásticas. Já<br />
as deformações totais são definidas pela soma das deformações elásticas da primeira<br />
mola e das deformações viscoelásticas referente ao conjunto mola-amortecedor.<br />
lm<br />
e<br />
lm<br />
ve<br />
lm<br />
ε = ε + ε<br />
(2)<br />
e<br />
Semelhantemente as deformações, ε lm , ε lm e ε ve<br />
lm são, respectivamente, as<br />
deformações totais, elásticas e viscoelásticas. Para se obter as equações integrais é<br />
necessário adotar como hipótese a igualdade dos coeficientes de Poisson de ambos os<br />
trechos. Esta simplificação é bastante razoável, pois na prática o coeficiente de Poisson<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
4<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
referente ao trecho viscoelástico pouco varia em relação ao do trecho elástico. Além do<br />
mais, aliado a isto, pode-se ressaltar o número limitado de trabalhos científicos que<br />
tratam do assunto e a dificuldade em se obter resultados experimentais razoavelmente<br />
precisos. Assim, levando em consideração esta simplificação, pode-se definir as tensões<br />
elásticas e viscosas através das seguintes relações:<br />
e<br />
ij<br />
lm e<br />
ij ε lm<br />
σ C = E C<br />
v<br />
ij<br />
e<br />
lm e<br />
ij ε lm<br />
= ~ (3a)<br />
el lm ve lm ve<br />
σ ij = C ˆ ij ε lm = EveCij<br />
ε lm<br />
(3b)<br />
σ = η & = γE C & ε<br />
(3b)<br />
lm ve<br />
ij ε lm<br />
ve<br />
lm ve<br />
ij lm<br />
el<br />
onde σ ij são as tensões elásticas referente a mola em paralelo com o amortecedor. Note<br />
que as tensões viscosas são proporcionais a velocidade de deformação, sendo E e e E ve ,<br />
respectivamente, o modulo de elasticidade referente aos trechos elástico e viscoelástico.<br />
O coeficiente γ é o parâmetro representativo da viscosidade do material. Este pode ser<br />
determinado através de resultado de testes de tração uniaxial e de cisalhamento<br />
LEMAITRE & CHABOCHE(1990) e MUNAIAR(1998) .O termo η lm<br />
ij representa a<br />
lm<br />
matriz viscosa e C ij a matriz constitutiva elástica, definida em uma forma indicial pela<br />
seguinte expressão:<br />
lm<br />
Cij<br />
= λδ δ + µ δ δ + δ δ )<br />
(4)<br />
ij<br />
lm<br />
( il jm im jl<br />
onde λ e µ são constantes escritas em função do coeficiente de Poisson da seguinte<br />
maneira:<br />
ν<br />
λ = ( 1 + ν )(1 − 2ν<br />
)<br />
;<br />
1<br />
µ = (5)<br />
2(1 + ν )<br />
ij<br />
Com relação ao trecho viscoelástico é possível escrever<br />
ve<br />
ij<br />
el<br />
ij<br />
v<br />
ij<br />
ve<br />
lm ve<br />
ij ε lm<br />
ve<br />
lm ve<br />
ij<br />
& ε lm<br />
σ = σ = σ + σ = E C + γE<br />
C<br />
(6)<br />
Semelhantemente a expressão (2), pode-se escreve uma relação entre as<br />
velocidades de deformação de ambos os trechos do modelo de Boltzmann.<br />
lm<br />
e<br />
lm<br />
ve<br />
lm<br />
& ε = & ε + & ε<br />
(7)<br />
e ve<br />
onde ε&<br />
lm , ε& lm e ε&<br />
lm são as velocidades de deformações totais, elásticas e viscoelásticas,<br />
respectivamente. Explicitando-se as deformações elásticas na equação (3a) e as<br />
deformações viscoelásticas na expressão (6), fazendo-se uso da relação (7), obtém-se:<br />
ε<br />
ε<br />
e<br />
lm<br />
ve<br />
lm<br />
1 ij −1<br />
Clm<br />
e<br />
= σ ij<br />
(8a)<br />
E<br />
1<br />
=<br />
E<br />
ve<br />
C<br />
ij −1 ve 1 ij −1<br />
lm<br />
σ ij − γε&<br />
lm = Clm<br />
Eve<br />
σ − γ<br />
ij<br />
e<br />
(&<br />
ε − & ε )<br />
lm<br />
lm<br />
(8b)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento...<br />
5<br />
Substituindo-se as expressões das deformações elásticas ε lm<br />
e e viscoelásticas ε lm<br />
ve<br />
apresentadas nas equações (8a) e (8b), respectivamente, na definição das deformações<br />
totais ε lm em (2), obtém se a relação reológica para este modelo.<br />
σ<br />
E<br />
E<br />
γE<br />
E<br />
γE<br />
e ve lm<br />
e ve lm<br />
ve<br />
ij = Cij<br />
ε lm + Cij<br />
& ε lm − & σ ij<br />
(9)<br />
Ee<br />
+ Eve<br />
Ee<br />
+ Eve<br />
Ee<br />
+ Eve<br />
sendo σ&<br />
ij a taxa de variação da tensão total com o tempo. Esta é a relação que deve ser<br />
imposta no desenvolvimento da equação integral para se obter a formulação<br />
viscoelástica do método dos elementos finitos específica para o modelo de Boltzmann.<br />
3 MODELO VISCOPLÁSTICO (com comportamento instantâneo)<br />
O modelo viscoplástico apresentado neste item (fig. 2) é baseado no modelo de<br />
Boltzmann descrito anteriormente e será empregado nas sub-regiões de elemenentos de<br />
contorno. Este se diferencia do modelo viscoplástico apresentado no item anterior pela<br />
capacidade de simular deformações elásticas instantâneas. O modelo é representado<br />
pelo arranjo em série de um conjunto em paralelo bloco/mola com a mola do trecho<br />
viscoelástico do modelo de Boltzmann.<br />
η<br />
σ<br />
σο<br />
Ee<br />
σ<br />
Eve<br />
εvp<br />
H<br />
εve<br />
εe<br />
εvep<br />
Figura 2 – Modelo viscoplástico (representação uniaxial).<br />
ε<br />
Para o modelo viscoplástico apresentado na figura 1 as deformações são<br />
relacionadas através da seguinte expressão:<br />
ε<br />
ij<br />
e<br />
ij<br />
ve<br />
ij<br />
vp<br />
ij<br />
ve<br />
ij<br />
ij<br />
e<br />
ij<br />
vp<br />
ij<br />
= ε + ε + ε ⇒ ε = ε − ε − ε<br />
(10)<br />
onde<br />
ε ij ,<br />
e<br />
ε ij ,<br />
ve<br />
ij<br />
ε e ε vp são, respectivamente, as deformações totais, elásticas<br />
ij<br />
(comportamento instantâneo), viscoelásticas e viscoplásticas. Já as tensões totais são<br />
definidas pela soma das tensões viscosas (no amortecedor) e das tensões elastoplásticas<br />
(no trecho elastoplástico), como:<br />
ij<br />
v<br />
ij<br />
ep<br />
ij<br />
σ = σ + σ<br />
(11)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
6<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
ep v<br />
Semelhantemente as deformações, σ ij , σ ij e σ ij são, respectivamente, as tensões<br />
totais, elástoplásticas e viscosas. Para se obter as equações integrais de contorno é<br />
necessário adotar como hipótese a igualdade dos coeficientes de Poisson de ambos os<br />
trechos. Esta simplificação é bastante razoável, pois na prática o coeficiente de Poisson<br />
referente ao trecho viscoelástico pouco varia em relação ao do trecho elástico. Além do<br />
mais, aliado a isto, pode-se ressaltar o número limitado de trabalhos científicos que<br />
tratam do assunto e a dificuldade em se obter resultados experimentais razoavelmente<br />
precisos. Assim, levando em consideração esta simplificação, pode-se definir as tensões<br />
através das seguintes relações:<br />
ep<br />
ij<br />
lm ve<br />
ij ε lm<br />
ve<br />
lm ve<br />
ij ε lm<br />
σ = C<br />
~ = E C<br />
(12a)<br />
e<br />
ij<br />
lm e<br />
ij ε lm<br />
lm e<br />
ij ε lm<br />
σ C = EeC<br />
v lm vep ~ lm vep<br />
σ = η & ε = γC<br />
& ε = γE<br />
ij<br />
= ˆ (12b)<br />
ij<br />
lm<br />
ij<br />
lm<br />
ve<br />
C<br />
lm vep<br />
ij<br />
& ε<br />
lm<br />
(12c)<br />
e<br />
onde σ ij são as tensões elásticas referente a mola em série com o amortecedor. Note que<br />
as tensões viscosas são proporcionais a velocidade de deformação, sendo H o módulo<br />
plástico, E e e E ve , respectivamente, o modulo de elasticidade referente aos trechos<br />
instantâneo e viscoplástico. O coeficiente γ é o parâmetro representativo da viscosidade<br />
do material. Este pode ser determinado através de resultado de testes de tração uniaxial<br />
e de cisalhamento LEMAITRE & CHABOCHE(1990) e MUNAIAR(1998).O termo<br />
lm<br />
lm<br />
η ij representa a matriz viscosa e a matriz C ij fica definida em uma forma indicial pela<br />
seguinte expressão:<br />
lm<br />
Cij<br />
~<br />
= λ δ δ +<br />
~ µ ( δ δ + δ δ )<br />
(13)<br />
ij<br />
lm<br />
il<br />
jm<br />
im<br />
jl<br />
onde λ ~ e µ ~ são constantes escritas em função do coeficiente de Poisson da seguinte<br />
maneira:<br />
~ ν<br />
λ = (1 + ν )(1 − 2ν<br />
)<br />
;<br />
~ µ =<br />
( 1+ ν )<br />
(14)<br />
2<br />
1<br />
Com relação ao trecho viscoplástico é possível escrever<br />
σ<br />
ij<br />
ep<br />
ij<br />
v<br />
ij<br />
ve<br />
lm ve<br />
ij ε lm<br />
ve<br />
lm vep<br />
ij<br />
& ε<br />
lm<br />
= σ + σ = E C + γE<br />
C<br />
(15)<br />
Semelhantemente a expressão (1), pode-se escreve uma relação entre as<br />
velocidades de deformação de ambos os trechos do modelo proposto.<br />
lm<br />
e<br />
lm<br />
ve<br />
lm<br />
vp<br />
lm<br />
e<br />
lm<br />
vep<br />
lm<br />
& ε = & ε + & ε + & ε = & ε + & ε<br />
(16)<br />
onde o ponto sobre os termos presentes na expressão (16) indica a respectiva derivada<br />
com relação ao tempo, ou seja, velocidade de deformação. Explicitando-se as<br />
deformações elásticas ε lm<br />
e na equação (12b) e as deformações viscoelásticas na<br />
expressão (15), fazendo-se uso da relação (16), obtém-se:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento...<br />
7<br />
ε<br />
ε<br />
e<br />
lm<br />
ve<br />
lm<br />
1 ij −1<br />
Clm<br />
e<br />
= σ ij<br />
(17a)<br />
E<br />
1<br />
=<br />
E<br />
ve<br />
C<br />
ij −1 vep 1 ij −1<br />
lm<br />
σ ij −γε&<br />
lm<br />
= Clm<br />
Eve<br />
σ −γ<br />
ij<br />
e<br />
(&<br />
ε − & ε )<br />
lm<br />
lm<br />
(17b)<br />
Substituindo-se as expressões das deformações elásticas ε lm<br />
e e viscoelásticas ε lm<br />
ve<br />
apresentadas nas equações (17a) e (17b), respectivamente, na definição das<br />
deformações totais ε lm em (10), obtém se a relação reológica para este modelo.<br />
σ<br />
ij<br />
Ee<br />
Eve<br />
lm<br />
γE<br />
= Cij<br />
lm lm<br />
&<br />
E + E<br />
E + E<br />
e<br />
ve<br />
ve<br />
e vp<br />
( ε + γε& ) − σ − σ<br />
(18)<br />
e<br />
ve<br />
ij<br />
E<br />
e<br />
E<br />
+ E<br />
ve<br />
ij<br />
sendo σ&<br />
ij a taxa de variação da tensão total com o tempo. Esta é a relação que deve ser<br />
imposta no desenvolvimento da equação integral de contorno para se obter a formulação<br />
viscoplástica do método dos elementos de contorno específica para o modelo aqui<br />
proposto. O termo σ é oriundo dos problemas de tensão inicial, sendo expresso por:<br />
vp<br />
ij<br />
vp<br />
ij<br />
ve<br />
lm vp<br />
ij ε<br />
lm<br />
σ = E C<br />
(19)<br />
Note que as expressões constitutivas serão consideradas em sua forma total e não<br />
na forma incremental como usualmente é feito nas formulações elastoplásticas. Sendo<br />
assim, todos os termos que aparecem com um ponto como sobrescrito referem-se<br />
literalmente a respectiva derivada no tempo (ou seja: x&<br />
= ∂x<br />
∂t<br />
) e não significam<br />
incrementos infinitesimais como usualmente encontrado nas literaturas que tratam da<br />
teoria da plasticidade.<br />
4 ELEMENTOS FINITOS<br />
A representação viscoelástica de um corpo em equilíbrio via MEF, pode ser<br />
obtida a partir da equação de equilíbrio estática.<br />
ij , j + i =<br />
σ b 0<br />
(20)<br />
onde b i são as componentes das forças de volume referente a direção i. Pode-se<br />
ponderar o erro produzido pela equação de equilíbrio (20), quando a solução exata for<br />
substituída por uma aproximada, utilizando-se como função ponderadora a função de<br />
deslocamento virtual δ ui<br />
. Sendo assim, a equação de ponderação sobre todo o domínio<br />
Ω pode ser escrita como:<br />
∫ Ω<br />
∫<br />
δ u ( , + b ) dΩ<br />
= 0<br />
(21)<br />
i σ ij j<br />
i<br />
Integrando-se por partes o primeiro termo da equação (21), obtém-se:<br />
∫<br />
∫<br />
δ u σ n dΓ<br />
− δu<br />
σ dΩ + δu b dΩ<br />
0<br />
(22)<br />
Γ<br />
i<br />
ij<br />
j<br />
Ω<br />
i, j ij<br />
i i =<br />
Ω<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
8<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
sendo Γ a variável que define o contorno do corpo e n j a componente j do versor<br />
normal a superfície. Sabendo-se que σ ijn j = pi<br />
e que δ ui, jσ<br />
ij = δε ijσ<br />
ij , onde δε ij são as<br />
componentes de deformações virtuais, a equação (22) fica<br />
∫<br />
Γ<br />
∫<br />
∫<br />
δ u p dΓ<br />
− δε σ dΩ + δu b dΩ = 0<br />
(23)<br />
i<br />
i<br />
Ω<br />
ij<br />
ij<br />
Ω<br />
i<br />
i<br />
A expressão (23) é o tão conhecido princípio dos trabalhos virtuais específico. A<br />
primeira e a terceira integrais representam, respectivamente, o trabalho das forças de<br />
superfície e volumétricas. A segunda integral refere-se ao trabalho das forças internas e<br />
dá origem a matriz de rigidez. A equação (23) é o ponto de partida para a obtenção da<br />
representação integral viscoelástica do MEF. Nela se impõe a relação reológica definida<br />
pela equação (9), de maneira que:<br />
∫<br />
∫<br />
∫<br />
∫<br />
Γ<br />
EeEve<br />
δ ui<br />
pidΓ<br />
−<br />
E + E<br />
Ω<br />
Ω<br />
Ω<br />
e<br />
ve<br />
∫<br />
Ω<br />
δε C<br />
ij<br />
lm<br />
ij<br />
γEeE<br />
εlmdΩ −<br />
E + E<br />
e<br />
ve<br />
ve<br />
∫<br />
Ω<br />
δε<br />
A quarta integral pode ser escrita como:<br />
∫<br />
lm<br />
ijηij<br />
γE<br />
&<br />
ve<br />
εlmdΩ +<br />
E + E<br />
e<br />
ve<br />
∫<br />
Ω<br />
δε & σ dΩ +<br />
ij<br />
ij<br />
∫<br />
Ω<br />
δu b dΩ = 0<br />
δε & σ d Ω = δu<br />
,<br />
& σ dΩ<br />
(25)<br />
ij<br />
ij<br />
Ω<br />
i j<br />
ij<br />
Integrando-se por partes a equação (25) encontra-se:<br />
∫<br />
∫<br />
δε & σ dΩ<br />
= δu<br />
& σ n dΓ − δu<br />
& σ dΩ<br />
(26)<br />
ij ij<br />
i ij j<br />
i ij,<br />
j<br />
Γ<br />
Ω<br />
Sabendo-se que & σ ijn<br />
j = p&<br />
i e & σ ij j = −b &<br />
, i a expressão (26) torna-se:<br />
∫<br />
∫<br />
δε & σ dΩ<br />
= δu<br />
p&<br />
dΓ + δu<br />
b&<br />
dΩ<br />
(27)<br />
ij<br />
ij<br />
Γ<br />
i<br />
i<br />
Ω<br />
i<br />
i<br />
Substituindo a expressão (27) na equação integral (24) obtém-se:<br />
i<br />
i<br />
(24)<br />
∫<br />
Γ<br />
EeEve<br />
δui<br />
pidΓ −<br />
E + E<br />
γEve<br />
E + E<br />
e<br />
ve<br />
⎡<br />
⎢⎣<br />
∫<br />
Γ<br />
e<br />
∫<br />
δu<br />
p&<br />
dΓ +<br />
i<br />
i<br />
ve<br />
Ω<br />
∫<br />
δε C<br />
Ω<br />
ij<br />
lm<br />
ij<br />
δu b&<br />
dΩ<br />
⎤<br />
i i +<br />
⎥⎦<br />
γEeE<br />
εlmdΩ −<br />
E + E<br />
∫<br />
Ω<br />
e<br />
∫<br />
Ω<br />
δu b dΩ = 0<br />
i<br />
i<br />
ve<br />
ve<br />
δε C<br />
ij<br />
lm<br />
ij<br />
& ε dΩ +<br />
lm<br />
(28)<br />
A expressão (28) é a representação integral viscoelástica que leva em<br />
consideração o modelo reológico de Boltzmann. Note que a 1 a , 2 a e 6 a integrais são as<br />
mesmas apresentadas na formulação elastostática e podem ser solucionadas seguindo o<br />
mesmo princípio. A terceira integral é responsável pelo comportamento viscoso. Já a<br />
quarta e a quinta integrais são responsáveis pelo comportamento instantâneo, podendo<br />
contribuir também para o comportamento viscoso caso ocorram variações das<br />
solicitações com o tempo. Em geral, como o peso próprio não varia com o tempo e já<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento...<br />
9<br />
existia antes da aplicação da cargas, pode-se considerara nestas situações b & i = 0 e<br />
conseqüentemente a quinta integral se anula.<br />
A equação integral definida anteriormente pode ser transformada em equação<br />
algébrica através do método dos elementos finitos. Assim, o domínio do corpo Ω é<br />
discretizado com n e elementos finitos Ω e , de tal sorte que as densidades do domínio<br />
sejam representadas adequadamente, resultando em:<br />
KU ( t)<br />
VU & ( t)<br />
= LP(<br />
t)<br />
+ Bb(<br />
t)<br />
+ LP&<br />
( t)<br />
+ Bb&<br />
( t)<br />
+ (29)<br />
onde t representa o tempo, K é a nova matriz de rigidez da estrutura, V a matriz viscosa,<br />
L e L são as matrizes “Lumping” referente respectivamente a forças de superfície e sua<br />
velocidade. Os termos B e B são matrizes referente as forças volumétricas e a sua<br />
respectiva velocidade. Estas matrizes ficam definidas como:<br />
K =<br />
V =<br />
L =<br />
n<br />
e<br />
∑<br />
e=<br />
1<br />
n<br />
e<br />
∑<br />
e=<br />
1<br />
n<br />
E<br />
E<br />
s<br />
∑∫<br />
s=<br />
1<br />
n<br />
B =<br />
e=<br />
1<br />
L =<br />
B =<br />
E<br />
e<br />
e<br />
e<br />
γE<br />
Γs<br />
e<br />
∑∫<br />
n<br />
s<br />
∑<br />
s=<br />
1<br />
n<br />
e<br />
∑<br />
e=<br />
1<br />
Ωe<br />
E<br />
E<br />
E<br />
ve<br />
+ E<br />
e<br />
E<br />
ve<br />
+ E<br />
ve<br />
ve<br />
~ β<br />
∫<br />
∫<br />
Ωe<br />
Ωe<br />
φ ,<br />
φ,<br />
α<br />
j<br />
α<br />
j<br />
C<br />
C<br />
lm<br />
ij<br />
lm<br />
ij<br />
φ,<br />
φ,<br />
β<br />
m<br />
β<br />
m<br />
dΩ<br />
dΩ<br />
e<br />
e<br />
φ α<br />
φ dΓ<br />
(30)<br />
φ<br />
e<br />
α φ β<br />
γE<br />
e<br />
ve<br />
+ E<br />
γE<br />
ve<br />
+ E<br />
d Ω<br />
ve<br />
ve<br />
∫<br />
s<br />
e b β<br />
i<br />
Γs<br />
∫<br />
Ωe<br />
~ β<br />
φ α φ dΓ<br />
φ<br />
α φ β<br />
dΩ<br />
e<br />
s<br />
Para resolver a equação temporal (30) faz-se uso de um adequado procedimento<br />
de integração no tempo. Para isto, pode-se fazer uso de técnicas de integração temporal,<br />
tais como Newmark β WARBURTON(1976), Houbolt CODA & VENTURINI(1998)<br />
ou Wilson θ BATHE(1996), que são usualmente empregadas em análises dinâmicas.<br />
Neste trabalho adotou-se uma simples e eficiente aproximação linear para definir as<br />
velocidades.<br />
&<br />
( U s+<br />
1 −U<br />
s )<br />
=<br />
(31a)<br />
U s+<br />
1<br />
∆t<br />
( P P )<br />
P& s+<br />
1 − s<br />
s+<br />
1 =<br />
(31b)<br />
∆t<br />
( b b )<br />
b& s+<br />
1 − s<br />
s+<br />
1 =<br />
(31c)<br />
∆t<br />
onde s+1 refere-se ao instante atual. Aplicando-se as expressões das velocidades<br />
definidas em (31) na expressão (29), encontra-se o seguinte sistema de equações:<br />
K U s F<br />
(32)<br />
+ 1 = s +1<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
10<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
onde<br />
[ ∆tK<br />
V ]<br />
K = +<br />
(33a)<br />
Fs+ 1 = [ ∆tL<br />
+ L ] Ps<br />
+ 1 + [ ∆tB<br />
+ B ] bs+<br />
1 + VU s − LPs<br />
− Bbs<br />
(33b)<br />
Esse é o sistema referente a sub-região de elementos finitos que deverá ser<br />
acoplado a outras sub-regiões do MEC e do MEF para resolver o problema do<br />
acoplamento progressivo.<br />
5 ELEMENTOS DE CONTORNO<br />
As representações integrais viscoplásticas de um corpo em equilíbrio via MEC,<br />
podem ser obtidas, semelhantemente a elementos de contorno, a partir da equação de<br />
equilíbrio.<br />
σ ij , j + b i = 0<br />
(34)<br />
onde b i representa as componentes das forças de volume. Pode-se ponderar o erro<br />
produzido pela equação de equilíbrio (34), quando a solução exata for substituída por<br />
uma aproximada, utilizando-se como função ponderadora a solução fundamental para o<br />
problema específico. Sendo assim a equação de ponderação sobre todo o domínio Ω<br />
pode ser escrita.<br />
∫ Ω<br />
∗<br />
uki ( σ ij, j + bi<br />
) dΩ<br />
= 0<br />
(<strong>35</strong>)<br />
∗<br />
onde u ki é denominado solução fundamental e representa fisicamente o efeito de uma<br />
carga concentrada unitária estática atuando em um ponto de um domínio infinito.<br />
Integrando-se por partes o primeiro termo da equação (<strong>35</strong>), obtém-se:<br />
∫<br />
Γ<br />
∫<br />
∫<br />
∗<br />
∗<br />
∗<br />
uki σ ij n j dΓ<br />
− uki, jσ<br />
ij dΩ<br />
+ ukibi<br />
dΩ<br />
= 0<br />
(36)<br />
Ω<br />
Ω<br />
sendo Γ a variável que define o contorno do corpo e n j a componente do versor normal<br />
∗<br />
∗<br />
a superfície. Sabendo-se que σ ijn j = pi<br />
e que uki, jσ<br />
ij = ε kijσ<br />
ij , onde ε ∗ kij é a solução<br />
fundamental em deformações, a equação (36) fica<br />
∫<br />
Γ<br />
∫<br />
∫<br />
∗<br />
∗<br />
∗<br />
uki pidΓ<br />
− ε kijσ<br />
ij dΩ<br />
+ ukibi<br />
dΩ<br />
= 0<br />
(37)<br />
Ω<br />
Ω<br />
A equação (37) é o ponto de partida para a obtenção das representações integrais<br />
viscoplásticas. Nela se impõe a relação reológica definida pela equação (18), de maneira<br />
que:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 11<br />
∫<br />
*<br />
uki<br />
Γ<br />
∫<br />
∗<br />
uki<br />
Ω<br />
Ee<br />
Eve<br />
pidΓ<br />
−<br />
E + E<br />
Ee<br />
bidΩ<br />
+<br />
E + E<br />
e<br />
e<br />
ve<br />
ve<br />
∫<br />
∗<br />
ε kij<br />
Ω<br />
∫<br />
Sabendo-se que<br />
∗<br />
ε kij<br />
Ω<br />
C<br />
lm<br />
ij<br />
vp<br />
ij<br />
γEe<br />
Eve<br />
ε lmdΩ<br />
−<br />
E + E<br />
σ dΩ<br />
= 0<br />
e<br />
ve<br />
∫<br />
∗<br />
ε kij<br />
Ω<br />
C<br />
lm<br />
ij<br />
γEve<br />
& ε lmdΩ<br />
+<br />
E + E<br />
e<br />
ve<br />
∫<br />
∗<br />
ε kij<br />
Ω<br />
& σ ij dΩ<br />
+<br />
(38)<br />
∗ lm ∗<br />
∗<br />
∗<br />
kij E eCij<br />
ε lm = σ klmε<br />
lm = σ klmul,<br />
m = σ kijui,<br />
j<br />
ε (39a)<br />
∗ lm ∗<br />
∗<br />
∗<br />
kij E eCij<br />
& ε lm = σ klm<br />
& ε lm = σ klmu&<br />
l, m = σ kiju&<br />
i,<br />
j<br />
ε (39b)<br />
ε<br />
∗ ∗<br />
kij<br />
& σ ij uki<br />
j<br />
& σ ij<br />
= , (39c)<br />
logo a equação (38) torna-se:<br />
∫<br />
*<br />
uki<br />
Γ<br />
∫<br />
∗<br />
uki<br />
Ω<br />
Eve<br />
pidΓ<br />
−<br />
E + E<br />
Ee<br />
bidΩ<br />
+<br />
E + E<br />
e<br />
e<br />
ve<br />
ve<br />
∫<br />
∫<br />
Ω<br />
σ<br />
∗<br />
kij<br />
∗<br />
ε kij<br />
Ω<br />
u<br />
i,<br />
j<br />
vp<br />
ij<br />
γEve<br />
dΩ<br />
−<br />
E + E<br />
σ dΩ<br />
= 0<br />
e<br />
ve<br />
∫<br />
Ω<br />
σ<br />
∗<br />
kij<br />
u&<br />
i,<br />
j<br />
γEve<br />
dΩ<br />
+<br />
E + E<br />
e<br />
ve<br />
∫<br />
∗<br />
uki,<br />
j ij<br />
Ω<br />
& σ dΩ<br />
+<br />
(40)<br />
Aplicando-se integração por partes na segunda, terceira e quarta integrais da<br />
equação (40), encontra-se:<br />
∫<br />
*<br />
uki<br />
Γ<br />
E<br />
γE<br />
e<br />
+ E<br />
Eve<br />
pidΓ<br />
−<br />
E + E<br />
ve<br />
ve<br />
⎡<br />
⎢⎣<br />
∫<br />
e<br />
∗<br />
uki<br />
ij<br />
Γ<br />
& σ n<br />
ve<br />
j<br />
⎡<br />
⎢⎣<br />
∫<br />
Γ<br />
dΓ<br />
−<br />
σ<br />
∫<br />
∗<br />
kij<br />
∗<br />
uki<br />
Ω<br />
& σ<br />
ij,<br />
j<br />
∫<br />
n u dΓ<br />
−<br />
j<br />
i<br />
Ω<br />
dΩ<br />
⎤<br />
+<br />
⎥⎦<br />
σ<br />
∫<br />
∗<br />
kij,<br />
j<br />
∗<br />
uki<br />
Ω<br />
⎤ γEve<br />
uidΩ<br />
−<br />
⎥⎦ E + E<br />
Ee<br />
bidΩ<br />
+<br />
E + E<br />
e<br />
e<br />
ve<br />
ve<br />
⎡<br />
⎢⎣<br />
∫<br />
∫<br />
Γ<br />
σ<br />
∗<br />
kij<br />
∗<br />
ε kij<br />
Ω<br />
∫<br />
n u&<br />
dΓ<br />
−<br />
j<br />
vp<br />
ij<br />
i<br />
σ dΩ<br />
= 0<br />
Ω<br />
σ<br />
∗<br />
kij,<br />
j<br />
u&<br />
dΩ<br />
⎤<br />
i +<br />
⎥⎦<br />
Fazendo-se uso, respectivamente, da equação de equilíbrio fundamental e da<br />
equação de equilíbrio do problema real escrita em forma de taxas, ambas expressas<br />
como:<br />
∗<br />
(42a)<br />
σ δ ( p,<br />
s)<br />
δ<br />
kij, j = −<br />
ij,<br />
j<br />
i<br />
ki<br />
& σ = −b &<br />
(42b)<br />
(41)<br />
onde b & i é a taxa de variação das componentes das forças volumétricas, δ ( p,<br />
s)<br />
é o<br />
conhecido delta de Dirac, s refere-se a uma posição do domínio do sólido e p representa<br />
a posição do ponto fonte. Aplicando-se a equação (42a) e (42b) em (41), levando-se em<br />
consideração as propriedades do delta de Dirac e os artifícios para integrais singulares,<br />
∗ ∗<br />
sabendo-se queσ kij n j = p ki e que & σ ijn<br />
j = p&<br />
i , encontra-se:<br />
Ee<br />
+ E<br />
Ckiui(<br />
p)<br />
=<br />
E<br />
γ ⎡<br />
⎢⎣<br />
∫<br />
Γ<br />
u<br />
∗<br />
ki<br />
p&<br />
dΓ<br />
+<br />
i<br />
ve<br />
∫<br />
Ω<br />
ve<br />
∫<br />
Γ<br />
u<br />
*<br />
ki<br />
p dΓ<br />
−<br />
i<br />
∫<br />
Γ<br />
∗ E E<br />
u b&<br />
e +<br />
ki idΩ<br />
⎤<br />
+<br />
⎥⎦ E<br />
ve<br />
∗<br />
ki<br />
p u dΓ<br />
−γ<br />
ve<br />
∫<br />
i<br />
Ω<br />
∫<br />
Γ<br />
∗<br />
ki<br />
∗ Ee<br />
ukibidΩ<br />
+<br />
E<br />
p u& dΓ<br />
−γC<br />
u&<br />
( p)<br />
+<br />
i<br />
ve<br />
∫<br />
Ω<br />
∗<br />
kij<br />
ki<br />
vp<br />
ij<br />
ε σ dΩ<br />
i<br />
(43)<br />
O termo ki C é o mesmo obtido nas formulações elastostáticas e sua expressão<br />
pode ser facilmente encontrada nas bibliografias usuais do método dos elementos de<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
12<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
contorno BREBBIA et al.(1984) e BREBBIA & DOMINGUEZ(1992).A equação (43) é<br />
a representação integral da formulação viscoplástica do MEC que leva em consideração<br />
o modelo definido na figura 2. A 1 a , 2 a e 6 a integrais são as mesmas apresentadas na<br />
formulação elastostática e podem ser solucionadas seguindo os mesmos princípios. Note<br />
que a quarta e a quinta integrais são responsáveis pelo comportamento instantâneo e<br />
podem contribuir para a resposta viscosa se houver variação das solicitações com o<br />
tempo. A terceira integral e o quarto termo do lado direito da equação integral (43) são<br />
responsáveis pelo comportamento viscoso. Note que a única diferença desta<br />
representação para a representação viscoelástica é a presença do último termo no lado<br />
direito da equação (43) responsável pelo comportamento plástico do corpo. Esta integral<br />
2<br />
apresenta singularidade do tipo 1 / r para o caso bidimensional e 1/<br />
r para o caso<br />
tridimensional e neste trabalho será tratada utilizando-se células (apenas nas regiões<br />
onde ocorrerão plastificação) e uma eficiente técnica de transformação de coordenadas.<br />
Ressalta-se ainda que a penúltima e a última integrais podem ser transformadas em<br />
integrais de contorno e assim é possível obter uma expressão mais elegante para o<br />
MEC. Considerando-se, por exemplo, a situação onde b i é uma função constante em<br />
todo o domínio do corpo e consequentemente b & i é constante em Ω. Nesta caso as<br />
equações de domínio em (43) podem ser transformadas utilizando-se coordenadas<br />
polares e integrando-se em r , da seguinte forma:<br />
Para 2D<br />
∫<br />
∗<br />
∗<br />
∗ ∂r<br />
∗<br />
u bi<br />
dΩ<br />
= bi<br />
∫<br />
ukidΩ<br />
= bi<br />
∫∫ukirdrdθ<br />
= bi∫∫u<br />
kidr<br />
dΓ<br />
= bi<br />
Ω<br />
θ Γ ∂ ∫<br />
BkidΓ<br />
r<br />
r n<br />
Γ<br />
(44a)<br />
∗<br />
∗<br />
∗<br />
∗ ∂r<br />
∗<br />
u kib<br />
&<br />
idΩ<br />
= b&<br />
i u Ω =<br />
θ =<br />
Γ = Γ<br />
∫ kid<br />
b&<br />
i u<br />
Ω ∫∫ kirdrd<br />
b&<br />
i u<br />
θ r ∫∫ kidr<br />
d b&<br />
i B<br />
Γ r ∂ ∫ kid<br />
n<br />
Γ<br />
(44b)<br />
∗<br />
ki<br />
Ω<br />
∫<br />
Ω<br />
Para 3D<br />
∫<br />
2 ∗ ∂r<br />
∗<br />
∫ ∫∫∫<br />
drdθdϕ<br />
= b<br />
∫∫<br />
dΓ<br />
= b<br />
Γ ∂ ∫<br />
u dr<br />
i BkidΓ<br />
r ki n<br />
Γ<br />
(44c)<br />
∗<br />
∗<br />
∗ ∂r<br />
∗<br />
b& dΩ<br />
= b&<br />
u dΩ<br />
= b&<br />
2<br />
i i<br />
u r θ drdθdϕ<br />
= b u dr dΓ<br />
= b B dΓ<br />
∫ ki i<br />
Ω ∫∫∫ ki cos( ) &<br />
&<br />
i<br />
ϕ θ<br />
∫∫ ki<br />
i<br />
Γ ∂n<br />
∫ ki<br />
r<br />
r<br />
Γ<br />
(44d)<br />
∗<br />
∗<br />
∗<br />
u = =<br />
Ω<br />
ki b i dΩ<br />
b i u dΩ<br />
b u r θ<br />
Ω<br />
ki i ϕ θ r ki cos( )<br />
∫<br />
∗<br />
uki<br />
Ω<br />
Assumindo a solução fundamental de Kelvin o termo<br />
∗<br />
B ki fica expresso por:<br />
Para 2D<br />
B<br />
∗<br />
ki<br />
r ⎡ ⎛ 1 ⎞<br />
=<br />
⎢(3<br />
− 4ν<br />
) ⎜ − ln( r)<br />
⎟δ<br />
ki + r,<br />
16π<br />
(1 −ν<br />
) G ⎣ ⎝ 2 ⎠<br />
1<br />
∂<br />
=<br />
(3 − 4ν<br />
) δ ki + r,<br />
k r,<br />
i<br />
32π<br />
(1 −ν<br />
) G<br />
∂<br />
∗<br />
r<br />
Para 3D B<br />
[ ] n<br />
ki<br />
k<br />
r,<br />
i<br />
⎤ ∂r<br />
⎥<br />
⎦ ∂n<br />
(45a)<br />
(45b)<br />
sendo r = r( p ou P,<br />
S)<br />
, onde as letras maiúsculas significam variáveis do contorno e as<br />
minúsculas do domínio. Logo a equação integral (43) pode ser escrita como:<br />
C u ( p)<br />
+ γC<br />
ki<br />
γ ⎡<br />
⎢⎣<br />
∫<br />
i<br />
∗<br />
uki<br />
i<br />
Γ<br />
ki<br />
p&<br />
dΓ<br />
+ b&<br />
E + E<br />
u&<br />
e<br />
i(<br />
p)<br />
=<br />
E<br />
i<br />
∫<br />
Γ<br />
ve<br />
ve<br />
∫<br />
Γ<br />
u<br />
∗ ⎤ Ee<br />
+ E<br />
BkidΓ<br />
+<br />
⎥⎦ E<br />
ve<br />
*<br />
ki<br />
p dΓ<br />
−<br />
ve<br />
i<br />
b<br />
i<br />
∫<br />
Γ<br />
∫<br />
Γ<br />
∗<br />
ki i<br />
p u dΓ<br />
− γ<br />
∗ Ee<br />
BkidΓ<br />
+<br />
E<br />
ve<br />
∫<br />
Ω<br />
∫<br />
Γ<br />
p u&<br />
dΓ<br />
+<br />
*<br />
kij<br />
∗<br />
ki i<br />
vp<br />
ij<br />
ε σ dΩ<br />
(46)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 13<br />
A equação integral definida anteriormente pode ser transformada em equação<br />
algébricas através do método dos elementos de contorno. Assim, o contorno do corpo Γ<br />
é discretizado com n e elementos de contorno Γ e e o domínio Ω , onde ocorrerá a<br />
plastificação, com n c células Ω c , de tal sorte que as densidades do contorno sejam<br />
representadas adequadamente. Dessa forma, as variáveis do problema podem ser<br />
aproximadas, parametrizando-as com relação aos seus valores nodais, fazendo-se uso de<br />
funções interpoladoras apropriadas, resultando em:<br />
Ee<br />
+ Eve<br />
Ee<br />
+ Eve<br />
Ee<br />
vp<br />
HU ( t)<br />
+ γ HU ( t)<br />
= GP(<br />
t)<br />
+ γGP&<br />
( t)<br />
+ γBb&<br />
( t)<br />
+ Bb(<br />
t)<br />
+ Qσ<br />
( t)<br />
E<br />
E<br />
E<br />
& (47)<br />
ve<br />
Similarmente ao MEF para se integrar no tempo a equação anterior deve-se fazer<br />
uso de um integrador temporal. Por simplicidade, adotou-se uma simples aproximação<br />
linear para definir as velocidades, de maneira que:<br />
ve<br />
ve<br />
U U<br />
U& s+<br />
1 − s<br />
s+<br />
1 = ;<br />
∆t<br />
P P<br />
P& s+<br />
1 − s<br />
s+<br />
1 = ;<br />
∆t<br />
b b<br />
b& s+<br />
1 − s<br />
s+<br />
1 = ;<br />
∆t<br />
σ s+<br />
1 −σ<br />
s<br />
& σ s+<br />
1 =<br />
(48)<br />
∆t<br />
Aplicando-se a expressão das velocidades apresentadas em (48) na equação (47),<br />
encontra-se o seguinte sistema de equações:<br />
H U +<br />
onde<br />
⎛<br />
H = ⎜<br />
⎝<br />
s+ 1 = GPs<br />
+ 1 Fs<br />
(49)<br />
γ ⎞<br />
+ ⎟H<br />
∆t<br />
⎠<br />
1 (50a)<br />
⎛ Ee<br />
+ E<br />
G = ⎜<br />
⎝ Eve<br />
⎛ E<br />
ve<br />
+ E<br />
γ ⎞<br />
+ ⎟G<br />
∆t<br />
⎠<br />
γ ⎞<br />
e ve<br />
e vp<br />
Fs<br />
= ⎜<br />
⎟<br />
+ Bbs+ 1 + HU s − GPs<br />
− Bbs<br />
+ Q<br />
s+<br />
1<br />
Eve<br />
t<br />
σ<br />
∆ ∆t<br />
∆t<br />
∆t<br />
Eve<br />
⎝<br />
⎠<br />
γ<br />
γ<br />
γ<br />
E<br />
(50b)<br />
(50c)<br />
6 ACOPLAMENTO USUAL<br />
O acoplamento entre as formulações descritas é baseado na técnica de sub-regiões<br />
CODA & VENTURINI(1999) e BEER & WATSON(1992). Veja, por exemplo a figura<br />
3, duas sub-regiões definidas por um domínio Ω i (elementos de contorno) e Ω j<br />
(elementos finitos) são acopladas através de uma interface Γ ij .<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Ω<br />
14<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
boundary<br />
element<br />
finite<br />
element<br />
Ω i<br />
Γ ij<br />
Ω j<br />
Figura 3 – Coupling between boundary and finite elements sub-regions.<br />
É possível escrever para ambas as sub-regiões um sistema de equações como<br />
aquele descrito na equação (49), escrito para o presente instante.<br />
H<br />
H<br />
i<br />
U<br />
j<br />
U<br />
i i i i<br />
t+ ∆ t G Pt<br />
+ ∆t<br />
+ Ft<br />
+ ∆t<br />
= (51a)<br />
j j j j<br />
t+ ∆ t<br />
G Pt<br />
+ ∆t<br />
+ Ft<br />
+ ∆t<br />
= (51b)<br />
As condições de compatibilidade e equilíbrio ao longo da interface Γ ij são escritas<br />
como:<br />
U<br />
P<br />
ij ji<br />
t ∆ t<br />
U<br />
t+<br />
∆t<br />
+<br />
= (52a)<br />
ij ji<br />
t+ ∆ t<br />
−Pt<br />
+ ∆t<br />
= (52b)<br />
onde os valores U<br />
ij t + ∆ t<br />
e P ij t + ∆ t<br />
são respectivamente, os deslocamentos e as forces de<br />
ie<br />
superfície ao longo da interface no presente instante. Já U t+<br />
∆t<br />
e Pt<br />
ie + ∆ t são valores de<br />
deslocamento e força de superfície que não pertencem a interface, respectivamente.<br />
Substituindo equação (52) dentro da eq.(51), resulta:<br />
⎡H<br />
⎢<br />
⎣ 0<br />
ie<br />
H<br />
H<br />
ij<br />
ji<br />
− G<br />
G<br />
ji<br />
ij<br />
H<br />
0<br />
je<br />
⎧U<br />
⎪<br />
⎤⎪U<br />
⎥⎨<br />
⎦⎪Pt<br />
⎪<br />
⎩U<br />
ie<br />
t+<br />
∆t<br />
ij<br />
t+<br />
∆t<br />
ji<br />
+ ∆t<br />
je<br />
t+<br />
∆t<br />
⎫<br />
⎪<br />
⎪ ⎡G<br />
⎬ = ⎢<br />
⎪<br />
⎣ 0<br />
⎪<br />
⎭<br />
ie<br />
G<br />
0<br />
ij<br />
G<br />
0<br />
je<br />
⎧P<br />
t<br />
⎪<br />
0 ⎤⎪Pt<br />
ji ⎥⎨<br />
G<br />
⎦⎪Pt<br />
⎪<br />
⎩Pt<br />
ie<br />
+ ∆t<br />
ij<br />
+ ∆t<br />
je<br />
+ ∆t<br />
ji<br />
+ ∆t<br />
⎫<br />
⎪<br />
⎪ ⎪⎧<br />
Ft<br />
⎬ + ⎨<br />
⎪ ⎪⎩ Ft<br />
⎪<br />
⎭<br />
i<br />
+ ∆t<br />
j<br />
+ ∆t<br />
⎪⎫<br />
⎬<br />
⎪⎭<br />
(53)<br />
ij<br />
onde P representa valores prescrito na superfície de contato. Esta expressão pode ser<br />
facilmente estendida para um arbitrário número de sub-regiões CODA et al.(1999).<br />
7 ACOPLAMENTO DO REFORÇO<br />
Esta abordagem é mais indicada para tratar problemas de acoplamento<br />
progressivo que envolve inserção de regiões no corpo em tempos pré-determinados, tais<br />
como os problemas de reforço estrutural e de escavações. O reforço é tratado como uma<br />
sub-região que será acoplada durante o processo numérico. A interface que receberá<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 15<br />
reforço, em geral, apresenta-se em uma forma deslocada. Executando-se o acoplamento<br />
como descrito no item anterior, mantendo as condições de compatibilidade e equilíbrio,<br />
implicitamente impõe-se que a interface do reforço que será acoplada possuirá<br />
deslocamentos e forças de superfícies prescritas iguais aos pontos da interface que<br />
recebe o reforço.<br />
P(t 0)<br />
P(t )<br />
1<br />
U i<br />
o<br />
i<br />
U ref<br />
U i est<br />
Figura 4 – Etapas de um reforço estrutural.<br />
Se o acoplamento for considerado desta forma e for empregado um reforço com as<br />
mesmas propriedades físicas do meio reforçado, ocorrerá que a estrutura recuperará a<br />
rigidez inicial de uma estrutura íntegra com a mesma geometria e propriedades físicas<br />
da estrutura reforçada, provocando uma descontinuidade na curva deslocamento x<br />
tempo, o que não é correto. Para se evitar este problema, é necessário fazer uma<br />
correção no sistema de equações, de maneira que as hipóteses do reforço sejam<br />
introduzidas corretamente. Esta correção pode ser melhor compreendida visualizandose<br />
a figura 4. A figura 4 apresenta as etapas de um problema de reforço. A estrutura a<br />
ser reforçada, inicialmente em repouso, é solicitada por uma força, originando uma nova<br />
configuração deslocada para a estrutura, até que, em um determinado instante, o reforço<br />
é acoplado. Note que as condições de compatibilidade e equilíbrio, para a interface de<br />
contato entre o reforço e a estrutura, considerando a hipótese de pequenos<br />
deslocamentos, são agora expressas como:<br />
i i i<br />
Condição de compatibilidade →U est = U ref + U o<br />
(54a)<br />
i i<br />
Condição de equilíbrio → P = −P<br />
(54b)<br />
ref<br />
i<br />
sendo U o o vetor de deslocamentos da interface que recebe o reforço no instante<br />
anterior ao acoplamento do reforço. Os subscritos ref e est indicam os termos<br />
relacionados, respectivamente, ao reforço e a estrutura a ser reforçada, ambos referentes<br />
ao instante atual. É importante observar que a condição de compatibilidade para o<br />
problema de reforço é diferente daquela apresentada na equação (52a). As equações do<br />
problema no instante em que o reforço é conectado são:<br />
est<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
16<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
Para<br />
Para<br />
⎧ ⎫<br />
0<br />
⎪⎩ ⎪⎭<br />
e<br />
e<br />
e i ⎪U<br />
est ⎪ i ⎧ ⎫ e i ⎪Pest<br />
⎪<br />
Ω est → [ H est H est ] ⎨ [ Gest<br />
]<br />
i<br />
[ Gest<br />
Gest<br />
] B<br />
i ⎬ = ⎨ ⎬ + ⎨ +<br />
i ⎬ est<br />
U<br />
P<br />
est<br />
⎩ est ⎭<br />
Pest<br />
⎧<br />
⎪⎩<br />
⎫<br />
0 (55a)<br />
⎧ ⎫<br />
0<br />
⎧ ⎫<br />
0 (55b)<br />
⎪⎩ ⎪⎭ ⎩ ⎭<br />
⎪⎩ ⎪⎭<br />
e<br />
e<br />
e i ⎪U<br />
ref ⎪ i<br />
⎧ ⎫<br />
e i ⎪Pref<br />
⎪<br />
Ω ref → [ H ref H ref ] ⎨ [ Gref<br />
] i [ Gref<br />
Gref<br />
] B<br />
i ⎬ = ⎨ ⎬ +<br />
⎨ +<br />
i ⎬ ref<br />
U<br />
P<br />
ref<br />
ref<br />
Pref<br />
Substituindo as condições de compatibilidade e equilíbrio, específicas para o<br />
problema de reforço, nas equações (55), encontra-se:<br />
⎪⎭<br />
⎡<br />
e<br />
H<br />
⎢<br />
⎢⎣<br />
0<br />
est<br />
⎧<br />
e<br />
⎫<br />
⎧<br />
e<br />
U<br />
⎫<br />
est<br />
Pest<br />
i i ⎪ ⎪<br />
⎪ ⎪<br />
⎤ e ⎡<br />
e<br />
i<br />
⎤<br />
e<br />
⎪ ⎪ ⎧ ⎫ ⎪⎧<br />
i i<br />
0 H est − Gest<br />
⎪U<br />
⎪⎫<br />
ref ⎪ Gest<br />
0 Gest<br />
0 Pref<br />
Best<br />
H estU<br />
o<br />
e i i ⎥⎨<br />
⎬ = ⎢<br />
⎥⎨<br />
⎬ + ⎨ ⎬ −<br />
i<br />
e<br />
i i<br />
⎨ ⎬<br />
H ref H ref Gref<br />
⎥⎦<br />
⎪U<br />
ref ⎪ ⎢⎣<br />
0 Gref<br />
0 Gref<br />
⎥⎦<br />
⎪Pest<br />
⎪ ⎩<br />
Bref<br />
⎭ ⎪⎩ 0 ⎪⎭<br />
⎪ i ⎪<br />
⎪ i ⎪<br />
⎩ Pest<br />
⎭<br />
⎩<br />
Pref<br />
⎭<br />
(56)<br />
No sistema de equações referente à sub-região que recebe o reforço, aparece um termo<br />
adicional, oriundo da equação de compatibilidade. Este termo é a correção que deve ser<br />
imposta ao sistema, para que as hipóteses do reforço sejam atendidas. Após a resolução<br />
do sistema de equações, obtém-se<br />
i<br />
est<br />
U e<br />
i<br />
P através das equações (54), encontrando<br />
assim todas as incógnitas e solucionando completamente o problema de reforço. Note<br />
que, em um problema viscoso, a correção deve ser imposta em todos os passos de<br />
tempo, a partir do instante da inserção do reforço.<br />
ref<br />
8 PROCEDIMENTO COM ACOPLAMENTO PROGRESSIVO<br />
Para problemas de progressão, onde partes de um sólido são extraídas e inseridas<br />
em tempos pré-determinados, tal como em problemas de escavações reforçadas em<br />
túneis, o procedimento de acoplamento das sub-regiões é exatamente o mesmo. As<br />
partes do corpo que serão fixas, aquelas que serão removidas e aquelas que serão<br />
introduzidas são representadas por sub-regiões, de maneira que em uma determinada<br />
etapa do problema de progressão seja possível executar a extração de partes do corpo e<br />
a inserção de outras. É indispensável adoção de um modelo viscoso para este tipo de<br />
problema, pois este possibilita executar a análise em função do tempo, permitindo<br />
determinar os tempos de extração e inclusão das sub-regiões. O procedimento é<br />
dividido em etapas. Em cada etapa é definida uma nova geometria do problema, ou seja,<br />
é de uma etapa para a outra que partes do corpo, caracterizadas por sub-regiões de<br />
elementos finitos ou elementos de contorno, são inseridas ou extraídas. As etapas são<br />
divididas em passos de tempo oriundos das formulações viscosas. O tempo, com um<br />
significado físico bem definido, permanece contínuo de uma etapa para outra. Se o<br />
problema considerado for viscoplástico, torna-se necessário um procedimento iterativo<br />
dentro de cada passo de tempo para se corrigir o erro de aproximação, de maneira que o<br />
equilíbrio seja novamente estabelecido. Uma descrição sistematizada de todo o<br />
procedimento com acoplamento progressivo pode ser vista nos passos a seguir.<br />
Passo 1 - Para cada etapa do problema monta-se o sistema de equações com as subregiões<br />
acopladas. As matrizes de todas as sub-regiões envolvidas no problema só<br />
precisam ser calculadas uma única vez. Estas devem ser armazenadas e lidas no instante<br />
da montagem do sistema total da etapa atual. Se o problema envolve variação das<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 17<br />
propriedades físicas com o tempo, como é o caso do concreto projetado nas idades<br />
iniciais, o sistema deve ser montado em todo passo de tempo, acarretando em maior<br />
custo computacional.<br />
H U ( t)<br />
= G P ( t)<br />
B ( t)<br />
(57)<br />
i i i i +<br />
i<br />
Note que é possível montar os sistemas de todas as formulações descritas na tese<br />
semelhantemente a equação (57). Assim, para cada sub-região i obtêm-se o vetor B i e<br />
as matrizes H i , G i com as condições de contorno já impostas pela forma padrão do<br />
MEC.<br />
Passo 2 - No início de cada passo de tempo calculam-se os valores prescritos no<br />
instante atual dos deslocamentos, forças nodais, forças de superfície e forças<br />
volumétricas, de maneira que:<br />
t<br />
P<br />
∆t<br />
i = Pi<br />
( t + ∆t)<br />
(58a)<br />
t<br />
B<br />
∆t<br />
= B ( t + ∆t)<br />
(58b)<br />
i<br />
i<br />
Os valores prescritos podem variar segundo qualquer função dependente do<br />
tempo, semelhantemente as clássicas formulações dinâmicas WARBURTON(1976) e<br />
CODA & VENTURINI(1995).<br />
Passo 3 – Montagem do sistema de equações total com a contribuição de todas as subregiões<br />
envolvidas na etapa.<br />
⎡<br />
e<br />
H1<br />
⎢<br />
⎢ ⋅<br />
⎢<br />
⎣<br />
0<br />
⋅⋅⋅<br />
⋅⋅⋅<br />
0<br />
& ⋅<br />
H<br />
e<br />
n<br />
⋅⋅⋅<br />
⋅⋅⋅<br />
H<br />
i<br />
1<br />
& ⋅<br />
H<br />
i<br />
n<br />
⋅⋅⋅<br />
⋅⋅⋅<br />
⎧<br />
e<br />
U ⎫<br />
1<br />
⎪ ⎪<br />
⎪ & ⋅ ⎪<br />
i<br />
⎤⎪<br />
e⎪<br />
⎡<br />
e<br />
− G1<br />
U G<br />
n 1<br />
⎥⎪<br />
⎪ ⎢<br />
& ⋅ ⎥⎨<br />
& ⋅ ⎬ = ⎢ & ⋅<br />
i ⎥⎪<br />
i<br />
G ⎪ ⎢<br />
n ⎦⎪<br />
U<br />
⎪ ⎣<br />
0<br />
⎪ & ⋅ ⎪<br />
⎪ i ⎪<br />
⎩ P<br />
⎭<br />
⋅⋅⋅<br />
⋅⋅⋅<br />
0<br />
& ⋅<br />
G<br />
e<br />
n<br />
⋅⋅⋅<br />
⋅⋅⋅<br />
G<br />
i<br />
1<br />
& ⋅<br />
0<br />
⋅⋅⋅<br />
⋅⋅⋅<br />
⎧<br />
e<br />
P ⎫<br />
1<br />
⎪ ⎪<br />
⎪ & ⋅ ⎪<br />
⎤⎪<br />
e ⎪ ⎧ ⎫ ⎧<br />
i<br />
0 P B<br />
n 1 H1U<br />
⎥⎪<br />
⎪ ⎪ ⎪ ⎪<br />
& ⋅ ⎥⎨<br />
& ⋅ ⎬ + ⎨ & ⋅ ⎬ − ⎨ & ⋅<br />
i ⎥⎪<br />
i ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ i<br />
Gn<br />
⎦⎪<br />
P<br />
⎪ ⎩Bn<br />
⎭ ⎩<br />
H nU<br />
1<br />
⎪ & ⋅ ⎪<br />
⎪ i ⎪<br />
⎩Pn<br />
⎭<br />
& (59)<br />
i<br />
Note que o vetor de deslocamentos U n ( o ) , referente aos graus de liberdade das<br />
interfaces da sub-região n conectados a sub-regiões de reforço, obtido no instante<br />
anterior ao acoplamento do respectivo reforço, deve ser lido antes da montagem do<br />
sistema para se efetuar o cálculo do vetor de correção. Este deve ser salvo e não mais<br />
alterados, pois seu valor será sempre necessário na montagem do sistema (59) em todos<br />
os instantes a partir da inserção do reforço.<br />
Passo 4 – Resolvendo o sistema de equações (59) soluciona-se o problema de contorno,<br />
encontrando todas as incógnitas referentes às interfaces por meio das equações (52),<br />
para acoplamento simples, ou das equações (54), para acoplamento com reforço. Para o<br />
caso mais geral, com m sub-regiões conectadas a uma interface, as condições de<br />
compatibilidade e equilíbrio ficam escritas como:<br />
i<br />
1( o)<br />
i<br />
n(<br />
o)<br />
⎫<br />
⎪<br />
⎬<br />
⎪<br />
⎭<br />
U<br />
i<br />
1<br />
i<br />
1<br />
P<br />
= ⋅⋅⋅ = U m<br />
i<br />
= −P<br />
− ⋅⋅⋅ −<br />
2<br />
i<br />
⎪⎫<br />
⎬<br />
i<br />
Pm<br />
⎪⎭<br />
sem reforço<br />
(60a)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
18<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
U<br />
i<br />
1<br />
i<br />
1<br />
P<br />
= ⋅⋅⋅ =<br />
i<br />
2<br />
= −P<br />
U<br />
i<br />
m<br />
− ⋅⋅⋅ −<br />
= U<br />
P<br />
i<br />
ref<br />
i<br />
m<br />
+ U<br />
i<br />
o<br />
⎪<br />
⎫<br />
⎬<br />
⎪⎭<br />
com reforço<br />
(60b)<br />
i<br />
sendo U o o mesmo definido no item 7. Obtidas todas as variáveis do problema de<br />
contorno, deve-se reordena-las para cada sub-região e salva-las em arquivos, para<br />
posteriormente serem utilizadas<br />
Passo 5 – Para cada sub-região executa-se a leitura do(s) respectivo(s) arquivo(s) com<br />
as variáveis do problema de contorno. Assim, encontram-se as tensões totais, elásticas e<br />
viscosas de acordo com tipo de sub-região (MEC ou MEF) e da formulação adotada.<br />
e v<br />
σ ( t),<br />
σ ( t),<br />
σ ( t)<br />
(61)<br />
Semelhantemente, estas devem ser salvas em arquivos para serem posteriormente<br />
utilizadas. Se o problema considerado for viscoelástico, o processo se encerra aqui e dáse<br />
início a um novo passo de tempo e/ou uma nova etapa retornando-se ao passo 2,. De<br />
outra forma, se a sub-região considerada for do tipo viscoplástica é necessário verificar<br />
se as tensões não violam o critério, caso contrário deve-se fazer uma correção através de<br />
um algoritmo elastoplástico. Devido a falta de espaços neste artigo, estes algoritmos não<br />
serão apresentados. Porém, uma visão detalhada deles pode ser encontrada no texto<br />
final da tese. Estes algoritmos são do tipo implícito com expressões fechadas, baseados<br />
em leis associativas e não-associativas.<br />
σ<br />
σ<br />
ep ep<br />
t+<br />
∆t<br />
ep<br />
t+<br />
∆t<br />
= σ t +<br />
∫<br />
dσ<br />
t<br />
(62)<br />
v<br />
ep<br />
t+<br />
∆t<br />
= σ t+<br />
∆t<br />
−σ<br />
t+<br />
∆t<br />
Determinadas as variáveis internas, verifica se a solução considerada é<br />
suficientemente precisa por meio de critérios de convergência. Verificada a<br />
convergência para todas as sub-regiões, atualizam-se todas as variáveis referentes ao<br />
instante “t+∆t”, armazenando-as nas variáveis referentes ao instante “t”. Após isto,<br />
retorna-se ao passo 1, dando início a um novo passo de tempo e/ou uma nova etapa.<br />
Caso contrário, atualizam-se as variáveis referentes ao instante “t+∆t” e retorna-se ao<br />
passo 2, calculando-se os valores incógnitos para o mesmo instante da última iteração,<br />
reaplicando-se o resíduo de força (ou tensão inicial) e fazendo-se uso da equação (59)<br />
para a obtenção das variáveis de contorno, caracterizando assim o processo iterativo.<br />
Obtida a convergência em todos os passos de tempo da etapa e para todas as subregiões,<br />
dá-se início a uma outra etapa identificando quais as sub-regiões que deverão<br />
ser inseridas ou aquelas que deverão ser extraídas. Monta-se novamente o sistema e<br />
repete-se todo o procedimento descrito anteriormente.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 19<br />
9 EXEMPLOS NUMÉRICOS<br />
9.1 Exemplo 01: Pórtico 2D sobre solos diferentes<br />
A estrutura analisada é um pórtico de dois pavimentos solicitado por cargas<br />
concentradas constantes no tempo, aplicadas nas extremidades do nível mais alto. O<br />
pórtico é simétrico e seus dois pilares estão conectados a sapatas que se encontram<br />
acopladas ao solo. As propriedades físicas dos solos conectados às sapatas são<br />
diferentes, de maneira que estas apresentarão recalques distintos. A análise foi<br />
executada com um incremento de tempo (∆t) de 0,1 mês e levou o tempo total de 48<br />
meses.<br />
Tabela 1: Propriedades físicas e geométricas<br />
PROPRIEDADES FÍSICAS E GEOMËTRICAS<br />
Solo1 Solo2 Pórtico<br />
E e = 2,1 GPa E e = 2,1 GPa E = 21,0 GPa<br />
E ve = 2,1 GPa E ve = 1,0 GPa A = 0,03 m 2<br />
ν = 0,4 ν = 0,4 I = 0,000225 m 4<br />
γ=10meses γ=5meses<br />
O pórtico, discretizado como uma sub-região em elementos finitos, é considerado<br />
elástico e as sub-regiões que caracterizam os solos são ambas discretizadas por<br />
elementos de contorno e consideradas como viscoelásticas segundo o modelo de<br />
Boltzmann. A geometria e a discretização do problema são apresentados na figura 5 e as<br />
propriedades físicas são expostas na tabela 1. Considerou-se um maciço rochoso<br />
indeformável, localizado a 24m abaixo da superfície, restringindo-se os graus de<br />
liberdade localizados nesta posição.<br />
6m<br />
P<br />
P<br />
h<br />
3m<br />
Ω1<br />
b<br />
A<br />
3m<br />
1<br />
y<br />
x<br />
2<br />
Ω2<br />
2m<br />
2m<br />
Ω3<br />
24m<br />
26m<br />
26m<br />
Figura 5 – Geometria e discretização.<br />
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20<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
O que se deseja é analisar o comportamento do pórtico solicitado acoplado aos<br />
solos com diferentes propriedades físicas e assim, verificar como as propriedades<br />
viscosas interferem no comportamento global da estrutura. A figura 6 apresenta os<br />
resultados do recalque com o tempo de ambas as sapatas.<br />
0,00<br />
Deslocamento (m)<br />
-0,01<br />
-0,02<br />
-0,03<br />
-0,04<br />
Sapata 1<br />
Sapata 2<br />
-0,05<br />
0 8 16 24 32 40 48<br />
Tempo (meses)<br />
Figura 6 – Recalque das sapatas.<br />
É possível verificar que as propriedades viscosas diferentes dos solos<br />
introduziram um recalque diferencial na estrutura, provocando uma redistribuição dos<br />
esforços no pórtico. Essa redistribuição de esforços pode ser visualizada na figura 7 que<br />
expõe resultados do momento presente na extremidade direita da barra horizontal do<br />
primeiro nível do pórtico (ponto A).<br />
3,00<br />
2,50<br />
Momento (kN/m)<br />
2,00<br />
1,50<br />
1,00<br />
0,50<br />
0,00<br />
Momento<br />
0 8 16 24 32 40 48<br />
Tempo (meses)<br />
Figura 7 – Momento no ponto A.<br />
Deve-se notar que, caso os solos tivessem as mesmas propriedades viscoelásticas,<br />
devido a simetria do problema, o recalque em ambas as sapatas seria o mesmo e<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 21<br />
cosequentemente não apareceria momento no ponto A. Porém, devido ao recalque<br />
diferencial, conseqüência das propriedades viscoelásticas diferentes dos solos, é<br />
possível verificar o aparecimento de esforços introduzidos na estrutura. O momento<br />
atinge um valor máximo e logo depois se estabiliza em um valor um pouco menor. Isto<br />
é devido aos diferentes valores dos coeficientes viscosos que induzem velocidades de<br />
deformação diferentes para os solos. Ou seja, no instante onde o momento atinge o seu<br />
máximo, o recalque diferencial entre as sapatas é máximo, porém, com o tempo a sapata<br />
1 desloca-se mais, atingindo o seu máximo deslocamento, diminuindo o valor do<br />
recalque diferencial e conseqüentemente do momento.<br />
9.2 Exemplo 02 – Reforço progressivo de túnel 2D<br />
Uma cavidade cilíndrica solicitada por uma pressão interna analisada para a<br />
situação de estado plano de tensão. As respostas foram obtidas, veja figura 8, para o<br />
túnel sem reforço e para o mesmo reforçado, sendo que neste último o reforço é inserido<br />
antes da aplicação da carga, no início do processo. A cavidade é solicitada sem nenhum<br />
reforço, até que em uma segunda etapa (após t=10dias) o reforço é inserido de duas<br />
maneiras. A primeira considerando o acoplamento com as hipóteses usuais de<br />
compatibilidade e equilíbrio. Já a segunda é realizada levando em consideração as<br />
hipóteses específicas para o reforço.<br />
solo<br />
1ª etapa<br />
(0 ≤ t ≤ 10 dias)<br />
y<br />
P<br />
r<br />
x<br />
2ª etapa<br />
Propriedades físicas<br />
(10 dias < t ≤ 90 dias) Solo (rocha branda) Suporte<br />
y<br />
E e = 10340,0 kgf/cm 2<br />
kgf/cm 2<br />
E e = 206800,0<br />
e E ve = 4500,0 kgf/cm 2 E ve = ∞<br />
solo<br />
ν = 0,15<br />
γ = 0,0 dia<br />
suporte<br />
γ = 7,14285 dias<br />
P<br />
x<br />
Geometria<br />
Pressão<br />
r = 254,0 cm P = 70,31kgf/cm 2<br />
r<br />
e = 30,0 cm<br />
Parâmetros da análise<br />
∆t = 0,5 dia<br />
N o de ∆t =180<br />
Figura 8 – Reforço de uma cavidade cilíndrica.<br />
Na figura 9, a resposta destas duas análises são plotadas juntamente com a<br />
resposta analítica do problema sem reforço, a resposta do MEC sem reforço e a resposta<br />
do MEC com o reforço a partir do instante inicial.<br />
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22<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
Deslocamento (cm)<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
Analítico<br />
MEC<br />
MEC/MEF<br />
Reforço sem hipótese<br />
Reforço com hipótese<br />
0 15 30 45 60 75 90<br />
Tempo (dias)<br />
Figura 9 – Deslocamento radial do túnel.<br />
É importante observar que a execução numérica do acoplamento sem as hipóteses<br />
do reforço faz com que a estrutura recupere sua rigidez inicial como se fosse uma<br />
estrutura integra, o que não ocorre na prática. A imposição das hipóteses do reforço no<br />
acoplamento permite simular coerentemente a contribuição deste no comportamento<br />
global da estrutura.<br />
9.3 Exemplo 03 – Reforço progressivo de um buraco esférico<br />
Uma cavidade esférica localizada em um meio infinito é analisado. A estrutura<br />
com 2m de raio é solicitado por uma pressão interna. O solo, considerado como um<br />
material viscoelástico, é reforçado por um suporte elástico acoplado no instante t =<br />
20dias. O meio infinito é discretizado com elementos de contorno triangulares de três<br />
nós e o suporte com o elemento finito de casca proposto em MESQUITA(1998). As<br />
etapas, a discretização utilizada para ambas as sub-regiões e os dados do problema são<br />
apresentados na figura 10.<br />
solo<br />
solo<br />
1ª etapa<br />
(0 ≤ t ≤ 20dias)<br />
y<br />
P<br />
x<br />
r<br />
2ª etapa<br />
(20 < t ≤ 80dias)<br />
y<br />
e<br />
suporte<br />
P<br />
x<br />
r<br />
Propriedades físicas<br />
Solo<br />
Suporte<br />
E e = 103000,0 kPa E e = 21000000,0<br />
kPa<br />
E ve = <strong>35</strong>000,0 kPa E ve = 21000000,0<br />
kPa<br />
ν = 0,3 ν = 0,3<br />
γ = 9,5 dias γ = 0,0<br />
Geometria<br />
r = 2,0 m<br />
e = 0,1 m<br />
Parâmetros da análise<br />
∆t = 0,5 dia<br />
N o de ∆t =160<br />
Pressão<br />
P = 2000,0 kPa<br />
Figura 10 – Dados do problema de reforço.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 23<br />
Resultados do deslocamento radial de um ponto localizado a 18m do centro da<br />
cavidade esférica são apresentados na figura 11. Os resultados foram obtidos<br />
considerando-se o acoplamento do suporte com e sem as hipóteses do reforço.<br />
Resultados da análise viscoelástica da cavidade esférica sem qualquer tipo de<br />
acoplamento são também plotados para melhor ilustrar a contribuição do reforço para o<br />
enrijecimento global.<br />
0,0015<br />
Deslocamento(m)<br />
0,0012<br />
0,0009<br />
0,0006<br />
0,0003<br />
Sem reforço<br />
Sem hipóteses<br />
Com hipóteses<br />
0<br />
0 20 40 60 80<br />
Tempo(dias)<br />
Figura 11 – Deslocamento radial da cavidade esférica.<br />
Semelhantemente, na figura 12 apresentam-se resultados das tensões σ r (total,<br />
elástica e viscosa) extraídas na mesma posição onde foram calculados os deslocamentos<br />
da figura 11 para a condição de reforço progressivo.<br />
0<br />
Tensão(kPa)<br />
-0,5<br />
-1<br />
-1,5<br />
-2<br />
-2,5<br />
Total<br />
Elástica<br />
Viscosa<br />
-3<br />
0 20 40 60 80<br />
Tempo(dias)<br />
Figura 12 – Tensões σ r (total, elástica e viscosa).<br />
Na figura 12 observa-se a redução dos níveis de tensão com a introdução do<br />
reforço. Note que a soma da tensão elástica e da tensão viscosa é sempre igual a tensão<br />
total, evidenciando a satisfação do modelo reológico.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
24<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
9.4 Exemplo 04 – Bloco 3D elastoplástico submetido ao peso próprio<br />
O exemplo foi proposto com o intuito de demonstrar uma aplicação do<br />
acoplamento progressivo viscoplástico. Um bloco paralepipédico submetido a ação do<br />
peso próprio é constituído por um material viscoplástico.<br />
1ª etapa<br />
(0 ≤ t ≤ 25h)<br />
2ª etapa<br />
(25h < t ≤ 100h)<br />
z<br />
40 cm<br />
20 cm<br />
20 cm<br />
y<br />
bx = 150 kgf/cm 3<br />
Propriedades físicas<br />
Bloco<br />
Anteparo<br />
E e = 2,1 10 5 kgf/cm 2 E e = 2,1 10 5<br />
kgf/cm 2<br />
E ve = 5,0 10 4 kgf/cm 2 E ve = 5,0 10 4<br />
kgf/cm 2<br />
ν = 0,0 ν = 0,0<br />
γ = 10,5 h γ = 0,0<br />
Peso próprio do bloco<br />
bx = 150,0 kgf/cm 3<br />
Parâmetros da análise<br />
∆t = 0,5 h<br />
N o de ∆t =200<br />
x<br />
Figura 13 – Dados do problema.<br />
O problema é analisado levando-se em consideração os critérios de von Mises e<br />
2<br />
Drucker-prager. Para a primeira situação adotou-se E t = 10000,0kgf<br />
/ cm e a tensão de<br />
2<br />
plastificação σ y = 1300,0kgf<br />
/ cm . O problema analisado com o modelo de Drucker a<br />
2<br />
coesão, o ângulo de atrito e módulo tangente plástico são adotados como: 0,703kgf / cm ,<br />
20 o 2<br />
, e E t = 10000,0kgf<br />
/ cm , respectivamente. O modelo viscoplástico utilizado foi aquele<br />
com comportamento instantâneo e o algoritmo para atualização das tensões empregada<br />
é aquele com lei de fluxo não-associativa. Os dados, a geometria e a discretização do<br />
problema são apresentados na figura 13. Resultados do deslocamento axial da face livre<br />
do bloco viscoplástico são apresentados na figura 14 para ambos os modelos de Druker-<br />
Prager(DP) e von Mises(VM).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 25<br />
Deslocamento(cm)<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
Viscoelástico<br />
Viscoplástico_VM<br />
Viscoplástico_DP<br />
0 25 50 75 100<br />
Tempo(h)<br />
Figura 14 – Deslocamento axial do nó central da face livre do bloco.<br />
A evolução da força de contato na interface de contato entre os dois blocos pode<br />
ser visualizada na figura 15.<br />
Força de Contato(kgf/cm 2 )<br />
0<br />
-200<br />
-400<br />
-600<br />
-800<br />
-1000<br />
-1200<br />
-1400<br />
-1600<br />
-1800<br />
Viscoelástico<br />
Viscoplást_VM<br />
Viscoplást_DP<br />
0 25 50 75 100<br />
Tempo(h)<br />
Figura 15 – Força de contato na interface de contato do bloco.<br />
Por fim, a resposta da tensão elástica σ e x , viscosa σ v x e total σ x extraídas no<br />
centróide do bloco são apresentadas na figura 16 para o critério de von Mises e na<br />
figura 17 para o modelo de Drucker, ambos considerando o acoplamento com as<br />
hipóteses do reforço.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
26<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
Tensão(kgf/cm 2 )<br />
<strong>35</strong>00<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
-500<br />
Total<br />
Elástica<br />
Viscosa<br />
0 25 50 75 100<br />
Tempo(h)<br />
Figura 16 – Tensões no centróide do bloco (von Mises).<br />
Tensão(kgf/cm 2 )<br />
<strong>35</strong>00<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
-500<br />
Total<br />
Elástica<br />
Viscosa<br />
0 25 50 75 100<br />
Tempo(h)<br />
Figura 17 – Tensões no centróide do bloco (Drucker-Prager).<br />
Algumas conclusões podem ser extraídas deste último exemplo. Semelhantemente<br />
ao problema viscoelástico, observe que, para análise com o modelo de von Mises, o<br />
valor da força de contato no instante t=100h (com a hipótese do reforço) é de<br />
1167,4kgf/cm 2 . Este valor deve ser igual a redução da tensão total no final da análise<br />
que é 1167,8kgf/cm 2 . Levando em consideração as complexidades envolvidas e que o<br />
problema é analisado de forma aproximada, pode-se dizer que estes valores estão bem<br />
próximos. Este resultado representa o estado de equilíbrio do corpo. Para o problema<br />
com o modelo de Drucker a força de contato em t=100h é 1710,8kgf/cm 2 já a redução<br />
da tensão total é 1793,9kgf/cm 2 .<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 27<br />
10 CONCLUSÕES<br />
O acoplamento se apresenta como uma ferramenta adequada para o tratamento de<br />
problemas de interação, tais como: solo-estrutura e estrutura-estrutura. Elementos de<br />
contorno são mais adequados para tratar problemas com domínio infinito ou semiinfinito<br />
e regiões de concentração de tensões e fluxo. Já elementos finitos são mais<br />
apropriados para problemas envolvendo materiais compósitos, anisotrópicos, estruturas<br />
em cascas e reticuladas. Consequentemente, a aplicação adequada de ambos os métodos<br />
na simulação de um problema de interação, possibilita uma melhor representação de<br />
todo o problema, tornando o acoplamento uma ferramenta bastante eficiente. As novas<br />
hipóteses adotadas para o acoplamento do reforço permitiram caracterizar de forma<br />
mais realista a contribuição deste para o enrijecimento global<br />
Os algoritmos empregados tanto na formulação elastoplástica quanto nas<br />
formulações viscoplásticas foram desenvolvidos seguindo a metodologia de algoritmos<br />
do tipo “return mapping”. Estes, além de possibilitar uma eficiente atualização das<br />
tensões, permitem a obtenção da matriz constitutiva elastoplástica consistente com o<br />
algoritmo de retorno, preservando a taxa de convergência quadrática do método de<br />
Newton-Raphson. As expressões do multiplicador plástico de todos os algoritmos<br />
apresentados foram obtidas de forma fechada, não havendo a necessidade de<br />
procedimentos iterativos para solucionar a condição de consistência<br />
As formulações viscoelásticas e viscoplásticas se apresentaram bastante<br />
eficientes, precisas e estáveis. Além do mais, estas possibilitam com simplicidade e<br />
elegância o acoplamento progressivo e a aplicação de condições de contorno (forças e<br />
deslocamentos) variando ao longo do tempo. Em particular, para elementos de<br />
contorno, esta nova abordagem permite analisar problemas viscoelástico discretizandose<br />
apenas o contorno do corpo resultando em uma baixíssimo custo computacional. Para<br />
o caso viscoplástico pelo MEC existe a necessidade de se discretizar, além do contorno,<br />
apenas as regiões onde ocorrerão plastificação, resultando ainda em economia<br />
computacional.<br />
11 AGRADECIMENTOS<br />
Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo -<br />
FAPESP pelo apoio financeiro concedido para o desenvolvimento deste trabalho.<br />
12 REFERÊNCIAS<br />
ARGYRIS, J. H.; DOLTSINIS, J. S. T.; WILLAM, K. J. (1979). New developments in<br />
the inelastic analysis of quasistatic and dynamic problems. Int. J. Num. Meth. Eng.,<br />
v.14, p.1813-1850.<br />
BATHE, K. J. (1996). Finite element procedure. Englewood Cliffs, USA: Prentice<br />
Hall.<br />
BEER, G.; WATSON, J. O. (1992). Introduction to Finite and Boundary Element<br />
Methods for Engineers. New York: John Wiley & Sons.<br />
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28<br />
Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />
BREBBIA, C. A.; DOMINGUEZ, J. (1992). Boundary elements: an introductory<br />
course. 2.ed. Great Britain: McGraw-Hill Book Company.<br />
BREBBIA, C. A.; TELLES, J. C. F.; WROBEL, L. C. (1984). Boudary element<br />
techniques: theory and applications in engineering. Berlin: Springer-Verlag.<br />
CODA. H. B.; VENTURINI, W. S. (1995). Three dimensional transient BEM analysis.<br />
Computer of Structures, Pergamon, v. 56, n. 5, p.751-768.<br />
CODA, H. B.; VENTURINI, W. S. (1998). Boundary Element Dynamic non-linear<br />
Stress Analysis by Mass Matrix Approach. In: BOUNDARY ELEMENTS, 20.,<br />
Computational Mechanics Publications, Southampton, p. 607-616.<br />
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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>
ISSN 1809-5860<br />
DETECÇÃO DE DANO A PARTIR DA RESPOSTA<br />
DINÂMICA DA ESTRUTURA: ESTUDO ANALÍTICO<br />
COM APLICAÇÃO A ESTRUTURAS DO TIPO VIGA<br />
Oscar Javier Begambre Carrillo 1 & José Elias Laier 2<br />
Resumo<br />
O objetivo deste trabalho é estudar métodos dinâmicos de detecção de dano em vigas,<br />
em especial os métodos baseados na variação da flexibilidade medida dinamicamente.<br />
Os métodos revisados formam parte das técnicas de Detecção de Dano Não Destrutivas<br />
(DDND). Nas técnicas DDND o dano é localizado por comparação entre o estado<br />
sadio e o danificado da estrutura. Neste trabalho, o problema de vibração inverso é<br />
apresentado e a matriz de flexibilidade estática da estrutura é determinada a partir de<br />
seus parâmetros modais. Com ajuda de um Modelo de Elementos Finitos (MEF) são<br />
mostrados os diferentes padrões de variação da matriz de flexibilidade produzidos pela<br />
presença do dano. Baseando-se nestes padrões é possível identificar a posição do dano<br />
dentro da estrutura, como indicado pelos diversos exemplos apresentados.<br />
Palavras-chave: detecção de dano; problema inverso de vibração; parâmetros modais;<br />
matriz de flexibilidade; dinâmica das estruturas.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
A necessidade por um método de detecção de dano global que possa ser<br />
aplicado a estruturas complexas tem conduzido ao desenvolvimento de métodos que<br />
examinam variações nas características de vibração da estrutura. Estes métodos<br />
formam parte das chamadas Técnicas de Detecção de Dano Não Destrutivas<br />
(DDND).<br />
A idéia básica da detecção de dano é a de que os parâmetros modais<br />
(freqüências, formas modais e amortecimento modal), são funções das propriedades<br />
físicas da estrutura (massa, amortecimento e rigidez), e, por tanto, qualquer mudança<br />
destas propriedades causará mudança nos parâmetros modais. Este fato permite a<br />
detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura.<br />
Em muitos dos métodos propostos, os dados medidos em um experimento são<br />
usados para refinar ou modificar o Modelo de Elementos Finitos (MEF) da estrutura,<br />
de forma tal, que o modelo faça predições acuradas do comportamento dinâmico<br />
observado da estrutura, possibilitando-se assim a determinação da posição do dano,<br />
segundo exposto em trabalhos clássicos (Ren et.al. 2003, teughels et.al 2002, Filho<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, begambre@sc.usp.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jelaier@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>
30<br />
Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />
et.al 2000, Friswell e Mothershead 1995). A anterior abordagem do problema é<br />
recomendável para estruturas complexas, porém, o uso de modos individuais no<br />
ajuste apresenta algumas dificuldades, tais como:<br />
Seleção dos modos a serem utilizados, ou seja, o analista deve escolher os<br />
modos e freqüências que serão usadas no algoritmo de detecção.<br />
Este tipo de método exige a redução do tamanho do modelo numérico<br />
empregado ou de expandir os dados modais medidos devido ao fato de que nem<br />
todos os graus de liberdade presentes no modelo numérico podem ser considerados<br />
nos ensaios experimentais (dificuldades de ordem prática).<br />
Uma outra dificuldade mencionada por Doebling, Peterson e Kenneth (1996) é<br />
o alto custo computacional de minimizar uma norma de erro não linear.<br />
Por estas razões, métodos de detecção que relacionem diretamente o dano<br />
com a resposta da estrutura estão sendo cada vez mais empregados na engenharia<br />
civil. Dentre estes métodos pode-se mencionar: Variações da matriz de flexibilidade e<br />
variações da curvatura da flexibilidade.<br />
A matriz de flexibilidade estrutural pode ser calculada usando-se só as<br />
freqüências e formas modais medidas (flexibilidade modal), com a grande vantagem<br />
que pode ser construída a partir de modos truncados sem perda de exatidão. Em<br />
situação limite, se todos os modos forem medidos, a matriz de flexibilidade calculada<br />
tenderá assintoticamente à matriz de flexibilidade estática da estrutura (que é a<br />
inversa da matriz de rigidez). A matriz de flexibilidade representa a resposta estática<br />
em deslocamento da estrutura redigida como um vetor de carregamento estático.<br />
Estas propriedades da matriz de flexibilidade a tornam uma ferramenta muito útil para<br />
a detecção de dano, como estabelecido por Lu, Ren e Zhao (2002) e Pandey e<br />
Biswas (1994, 1995)<br />
No presente trabalho, são comparados dois métodos de detecção de dano via<br />
análise da resposta dinâmica da estrutura, baseados nas variações da matriz de<br />
flexibilidade. A matriz de flexibilidade é obtida a partir das formas modais e das<br />
freqüências naturais da estrutura (métodos baseados na resposta da estrutura). Para<br />
isto é apresentado o problema inverso de vibração, uma vez que, ele inclui a<br />
derivação das relações entre a matriz de rigidez, a matriz de flexibilidade estrutural e<br />
os parâmetros modais da estrutura.<br />
2 MÉTODO DA VARIAÇÃO DA FLEXIBILIDADE OU MÉTODO DA<br />
DIFERENÇA DA FLEXIBILIDADE<br />
Neste método, a matriz de flexibilidade é definida como a inversa da matriz de<br />
rigidez estática. O dano é detectado por comparação da matriz de flexibilidade gerada<br />
a partir dos modos da estrutura danificada, com a matriz de flexibilidade, gerada a<br />
partir dos modos da estrutura sem dano. A matriz de flexibilidade medida<br />
dinamicamente é mais sensível a variações nas baixas freqüências da estrutura<br />
devido à sua relação inversa com o quadrado das freqüências modais.<br />
Como passo prévio do método é preciso normalizar as formas modais com<br />
relação à massa, para isto, pode usar-se a seguinte equação matricial, Equação (1):<br />
−1/ 2<br />
[ Φ] = [ ] ⋅ [ M ]<br />
q<br />
g<br />
(1)<br />
onde:<br />
[ q]=<br />
Matriz de formas modais do sistema (não normalizada).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>
Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />
31<br />
[ M<br />
g<br />
]= Matriz de massa generalizada (Matriz diagonal)<br />
[ Φ ]= Matriz de formas modais normalizadas com relação à massa.<br />
Agora, usando-se a propriedade de ortogonalidade das formas modais dada<br />
pela Equação (2):<br />
T<br />
[ ] [ M ][ Φ] = [ I ]<br />
Φ (2)<br />
e usando-se a matriz [ Φ ], pode-se obter expressões para a matriz de rigidez e<br />
de flexibilidade da estrutura em função dos parâmetros modais, conforme o exposto a<br />
seguir:<br />
O problema de auto-valor em termos de rigidez, para vibração livre, pode ser<br />
escrito como:<br />
[ ][ Φ] = [ M ][ Φ][ Ω]<br />
K (3)<br />
onde[ Ω ] é a matriz diagonal de autos-valores ω 2 . Pré-multiplicando-se a<br />
Equação (3) pela inversa da matriz de rigidez, que é a matriz de flexibilidade, ou<br />
K −1<br />
= f , e pós-multiplicando-a pela inversa da matriz de autos-valores, ou<br />
seja,[ ] [ ]<br />
seja, [ Ω ] −1<br />
, tem-se:<br />
−1<br />
[ Φ][ Ω] = [ f ][ M ][ Φ]<br />
(4)<br />
A Equação (4) representa o problema de auto-valor em termos da flexibilidade.<br />
Os autos vetores das Equações (3) e (4) são os mesmos, mas os respectivos autos<br />
valores são recíprocos (Berman e Flannelly, 1971). O modo dominante da Equação<br />
(3) é aquele com a maior freqüência e o modo dominante da Equação (4) é aquele<br />
com a menor freqüência.<br />
A Equação (2) pode ser escrita da seguinte forma:<br />
[ Φ] [ M ] = [ Φ] −1<br />
T (5)<br />
ou:<br />
[ ][ Φ] = [ Φ]<br />
T −1<br />
M (6)<br />
As Equações (5) e (6) podem ser escritas tendo-se em vista que a matriz de<br />
formas modais para um sistema com N graus de liberdade consiste de N vetores<br />
modais independentes, e por tanto, é uma matriz não singular e pode ser invertida.<br />
Agora, pós-multiplicando a Equação (3) por [ Φ ] −1<br />
e utilizando a propriedade<br />
dada pela Equação (5), tem-se:<br />
T<br />
[ K] [ M ][ Φ][ Ω][ Φ] [ M ]<br />
= (7)<br />
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32<br />
Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />
A Equação (7) é a expansão da matriz de rigidez em termos de seus autosvetores<br />
e autos- valores. Substituindo a Equação (6) na Equação (4) e pós-<br />
T<br />
Φ , tem-se:<br />
multiplicando-a por [ ]<br />
−1<br />
[ f ] = [ Φ][ Ω] [ Φ] T<br />
(8)<br />
A Equação (8) representa a expansão da matriz de flexibilidade em função de<br />
seus autos- valores e autos-vetores. Os resultados dados pelas Equações (7) e (8)<br />
podem ser escritos como somatórios das contribuições modais , ou seja (Berman e<br />
Flannelly, 1971) :<br />
N<br />
[ f ] = {}{} φ φ<br />
∑<br />
i=<br />
1<br />
1<br />
ω<br />
2<br />
i<br />
i<br />
T<br />
i<br />
(9)<br />
e<br />
⎛<br />
= ∑<br />
⎝<br />
N<br />
ω<br />
i i i<br />
(10)<br />
i=1<br />
2 T<br />
[ K] [ M ] ⋅⎜<br />
{}{} φ φ ⎟ ⋅[ M ]<br />
sendo que nas Equações (9) e (10), [ f ] é a matriz de flexibilidade do sistema<br />
e[ K ] é a matriz de rigidez do sistema (calculadas dinamicamente).[ M ] é a matriz de<br />
massa do sistema,{ φ } i<br />
é um vetor que contem a i-ésima forma modal normalizada<br />
com relação à massa, ω<br />
i<br />
é i-ésima freqüência modal e N é o número de graus de<br />
liberdade do sistema.<br />
Da Equação (10) pode-se notar que, a contribuição modal à matriz de rigidez<br />
aumenta à medida que aumenta a freqüência. Para se obter uma estimativa acurada<br />
da rigidez, todos os modos de vibração da estrutura devem ser medidos, ou no<br />
mínimo, os modos de freqüências altas. Isto representa uma restrição severa, do<br />
ponto de vista prático, para os métodos que utilizam a diferença entre matrizes de<br />
rigidez para detectar dano. Na prática, em estruturas complexas, só uns poucos<br />
modos de baixa freqüência podem ser medidos. Por outro lado, a Equação (9) mostra<br />
que a contribuição modal à matriz de flexibilidade diminui à medida que a freqüência<br />
aumenta, ou seja, que a matriz de flexibilidade converge rapidamente para valores<br />
crescentes de freqüência. Por tanto, a partir de poucos modos de baixa freqüência,<br />
pode ser feita uma boa estimativa da matriz de flexibilidade. Esta característica da<br />
matriz de flexibilidade e utilizada por Pandey e Biswas (1994, 1995) para localizar e<br />
quantificar dano em vigas. O raciocínio usado por eles pode ser resumido da seguinte<br />
forma: como a presença de uma fissura ou dano localizado dentro de uma estrutura,<br />
reduz sua rigidez e como a flexibilidade e a inversa da rigidez, uma redução de rigidez<br />
deve incrementar a flexibilidade do conjunto, tem-se, pois, a indicação da presença de<br />
dano.<br />
Para se detectar o dano numa estrutura com base no método da variação da<br />
flexibilidade medida dinamicamente, deve ser primeiramente calculados (experimental<br />
ou numericamente) os parâmetros modais do sistema. Usando-se a Equação (9),<br />
estima-se a matriz de flexibilidade para dois estados diferentes da estrutura, o<br />
f ou sem dano e o segundo como o<br />
primeiro e considerado como o estado intacto [ ]<br />
D<br />
estado danificado [ f ]<br />
⎞<br />
⎠<br />
. Com as matrizes de flexibilidade anteriores, calcula-se a<br />
matriz de variação de flexibilidade [ ∆ ] (Pandey e Biswas 1994):<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>
Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />
33<br />
D<br />
[ ] = [ f ] − [ f ]<br />
∆ (11)<br />
Para cada grau de liberdade j, define-se η<br />
j<br />
como o valor máximo absoluto<br />
dos elementos na coluna correspondente de [ ∆ ](Pandey e Biswas 1994):<br />
onde<br />
η<br />
η<br />
ij<br />
são elementos de [ ∆ ].<br />
j<br />
= maxηij<br />
i<br />
(12)<br />
Para detectar e localizar o dano pode ser feito um gráfico que apresente a<br />
variação de flexibilidade para cada ponto de medição (ou nó). O dano ficara localizado<br />
nos pontos onde a variação de flexibilidade apresente uma variação brusca, um valor<br />
máximo de variação, ou um valor máximo local, dependendo das condições de<br />
contorno.<br />
3 MÉTODO DA VARIAÇÃO DE CURVATURA DA FLEXIBILIDADE<br />
Este método pode ser resumido da seguinte forma: partindo-se do fato que,<br />
para uma estrutura sadia, o gráfico da curvatura possui uma forma suave, e que,<br />
portanto, um pico ou descontinuidade no gráfico indica uma variação anormal de<br />
flexibilidade/rigidez na posição onde esta a descontinuidade, o dano pode ser<br />
localizado utilizando esta informação[6]. A vantagem prática deste método reside no<br />
fato de que seu cálculo não depende da comparação entre dois estados diferentes da<br />
estrutura (não precisa de dados de referencia). A curvatura da flexibilidade pode ser<br />
calculada empregando-se o método da diferença central, como segue (Lu, Ren e<br />
Zhao 2002):<br />
F<br />
C<br />
i<br />
=<br />
( f − f + f )<br />
( i−<br />
, i−1) i,<br />
i ( i+<br />
1, i+<br />
1)<br />
1<br />
2<br />
∆h<br />
2<br />
i = 2,...,<br />
n −1<br />
Onde:<br />
C<br />
F<br />
i<br />
= i-ésimo elemento do vetor de curvatura da flexibilidade.<br />
f<br />
i , i<br />
= i-ésimo elemento diagonal da matriz de flexibilidade danificada (vide<br />
Equação (9)).<br />
∆h = Comprimento do elemento ou distancia entre pontos de medição.<br />
n = Número de graus de liberdade.<br />
(13)<br />
4 IMPLEMENTAÇÃO DAS SIMULAÇÕES<br />
O Método de Elementos Finitos (MEF) foi usado para realizar as simulações<br />
numéricas do estudo. O elemento finito dinâmico de viga utilizado (modelo de Euler –<br />
Bernoulli) tem dois graus de liberdade por nó (rotação e deslocamento vertical), com<br />
sua massa concentrada nos nós.<br />
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34<br />
Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />
Os parâmetros modais (formas modais e freqüências naturais) foram<br />
calculados a partir do problema do auto-valor generalizado para vibração livre não<br />
amortecida, ou seja:<br />
2<br />
[ K]{} q ω [ M ]{ q}<br />
= (14)<br />
onde:<br />
[ K ]= Matriz de rigidez global da estrutura.<br />
[ M ]= Matriz de massa global da estrutura.<br />
{}= q Auto-vetor ou forma modal do sistema.<br />
ω = Freqüência natural do sistema.<br />
A solução da Equação (14) foi feita com o emprego do método de Jacobi<br />
generalizado, segundo algoritmo proposto por Bathe (1996). Como a estrutura<br />
analisada neste trabalho (viga), foi modelada com elementos finitos unidimensionais<br />
(elemento de Euler –Bernoulli) e o dano na viga modelado como uma redução do<br />
modulo de elasticidade para um elemento específico (e não como um defeito<br />
geométrico, fissura), os resultados obtidos nas simulações são indicadores de dano,<br />
sendo o dano entendido (e simulado), como uma variação nas propriedades<br />
constitutivas do modelo de elementos finitos da estrutura, conforme indicado em<br />
vários trabalhos da literatura especializada (Ren et.al. 2003, Lu et. al. 2002, Pandey e<br />
biswas 1994 e 1995, Hjelmstad e Shen 1996, Fox 1992, Cawley e Adams 1979).<br />
Utilizando-se o método de redução das equações de freqüência proposto por Kidder<br />
(1973) foram calculados os deslocamentos verticais dos nós a partir da Equação (14).<br />
Estes deslocamentos correspondem aos deslocamentos medidos durante um ensaio<br />
real.<br />
5 SIMULAÇÕES NUMÉRICAS<br />
Nos exemplos apresentados a seguir estuda-se o comportamento dos<br />
métodos de detecção de dano em vigas baseados nas variações da flexibilidade. Para<br />
a viga proposta como exemplo, é realizado um estudo sobre o comportamento dos<br />
métodos na detecção de danos segundo suas características, ou seja: dano individual<br />
(um elemento afetado por perda de rigidez), dano múltiplo (elementos afetados por<br />
perda de rigidez em forma simultânea), influencia do nível de dano introduzido no<br />
desempenho do método (redução do módulo de elasticidade E), e, por último, o efeito<br />
do número de modos na localização do dano.<br />
A viga do exemplo em questão, conforme ilustrado na figura 1, foi dividida em<br />
32 elementos finitos iguais.<br />
1 4 8 12 16 20 24 28 32<br />
Figura 1 - Viga simplesmente apoiada (VS) para os exemplos numéricos.<br />
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Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />
<strong>35</strong><br />
As propriedades da viga da Figura 1 são apresentadas na Tabela 1:<br />
Tabela 1 – Propriedades da Viga<br />
Propriedade<br />
Valor<br />
Área 0.00304 m 2<br />
Inércia 4.29E-5 m 4<br />
Densidade ρ 7837.1 Kg/m 3<br />
Módulo de elasticidade E 199.95E9 N/m 2<br />
Coeficiente de Poisson υ 0.3<br />
Comprimento L<br />
2.44 m<br />
Em cada simulação foram calculadas as formas modais correspondentes aos<br />
deslocamentos verticais { q<br />
V<br />
} (deslocamentos medidos durante um ensaio real) e as<br />
freqüências modais do sistema, segundo o método de Kidder (1973).<br />
5.1 Viga simplesmente apoiada: dano individual<br />
Os danos introduzidos na viga compreendem perdas de rigidez entre 10% e<br />
90%. A perda de rigidez foi inserida nos elementos 4, 8, 12, 16, 20 e 28 da viga (vide<br />
Figura1), de forma individual, ou seja, foi danificado um elemento de cada vez. O<br />
resumo dos cenários de dano é apresentado na Tabela 2. Para os exemplos de viga<br />
simplesmente apoiada (VS) da Tabela 2, os resultados são apresentados nas Figuras<br />
2, 3, 4, 5, 6 e 7 e nas Tabelas 3 e 4.<br />
Tabela 2 – Exemplos Numéricos Dano Individual. Viga Simplesmente Apoiada (VS)<br />
Exemplo Elemento Modos usados Redução de E Resultado<br />
Método<br />
de Dano Danificado na detecção (%)<br />
Figura N o<br />
VS1 4, 8, 12, 16, 3 prim. 50 2<br />
VS2 20 1 o , 7 o – 1 o , o ,7 o 50 3<br />
VS3 20 3 prim. 90,70,50,30,10 4<br />
VS4 4,16,20,28 5 prim. 50 5<br />
VS5 20 1 o a 5 o 50 6<br />
VS6 20 3 prim. 90,50,30,10 7<br />
Variação da<br />
Flexibilidade<br />
Curvatura<br />
da<br />
Flexibilidade<br />
Tabela 3 – Freqüências Naturais Redução de 50% em E<br />
Exemplos VS1, VS4.<br />
Freqüências naturais (Hz).<br />
Modo Sem Dano D4 D8 D12 D16 D20 D28<br />
1 158,312 157,749 156,117 154,410 153,596 154,095 157,410<br />
2 633,249 625,346 614,910 622,274 633,005 625,786 621,681<br />
3 1424,804 1393,281 1399,372 1422,049 1385,362 1413,619 1385,883<br />
4 2532,955 2464,145 2529,327 2465,411 2529,260 2466,479 2467,541<br />
5 3957,642 3857,014 3926,018 3919,255 3858,139 3952,879 3892,908<br />
Das Tabelas 3 e 4, verifica-se com clareza que a presença de dano na<br />
estrutura modifica as freqüências naturais, mas, não fornece informação suficiente<br />
para localizá-lo. Para dano introduzido no elemento 4 e no elemento 28 (próximos dos<br />
extremos da viga), as maiores variações percentuais nas freqüências naturais (Tabela<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>
36<br />
Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />
4), apresentam-se nos modos três e quatro, indicando-se que o dano deve estar<br />
próximo dos locais de momento máximo para estes modos. Nesta situação, existem<br />
duas regiões que poderiam estar danificadas. Mesmo utilizando-se a informação<br />
qualitativa sobre as forma modais, a posição do dano fica indeterminada.<br />
Tabela 4 – Variação das Freqüências Naturais. Redução de 50% em E. Viga em Balanço<br />
Exemplos VS1, VS4.<br />
Variação de Freqüências (%).<br />
Modo D4 D8 D12 D16 D20 D28<br />
1 0,36 1,39 2,46 2,98 2,66 0,57<br />
2 1,25 2,90 1,73 0,04 1,18 1,83<br />
3 2,21 1,78 0,19 2,77 0,79 2,73<br />
4 2,72 0,14 2,67 0,15 2,62 2,58<br />
5 2,54 0,80 0,97 2,51 0,12 1,64<br />
Aplicando-se o método de variação da flexibilidade descrito anteriormente,<br />
obtiveram-se, para os exemplos VS1, VS2 e VS3, (vide Tabela 2), as seguintes<br />
curvas de detecção de dano, figuras 2, 3, 4 respectivamente:<br />
3,50E-09<br />
3,00E-09<br />
2,50E-09<br />
m/N<br />
2,00E-09<br />
1,50E-09<br />
1,00E-09<br />
5,00E-10<br />
0,00E+00<br />
1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />
Nó<br />
D4 D8 D12 D16<br />
Figura 2 – Variação da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada para os elementos 4,<br />
8,12,16danificados, um de cada vez. Redução de 50% em E. Três primeiros modos usados.<br />
Exemplo VS1.<br />
Para a viga simplesmente apoiada ilustrada na figura 2, a região (elemento)<br />
que apresenta a maior variação de flexibilidade indica a região danificada. O<br />
comportamento da variação é linear, tomando valores nulos nos extremos.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>
Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />
37<br />
3,00E-09<br />
2,50E-09<br />
2,00E-09<br />
m/N<br />
1,50E-09<br />
1,00E-09<br />
5,00E-10<br />
0,00E+00<br />
1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />
Nó<br />
7MODOS<br />
1MODO<br />
Figura 3 – Variação de Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada em função do número de<br />
modos usados. Elemento 20 danificado. 50% de redução em E. Exemplo VS2.<br />
Um exame do resultado apresentado na figura 3 deixa evidente que uma boa<br />
estimativa da variação de flexibilidade pode ser obtida usando-se apenas o primeiro<br />
modo. A posição do dano também é determinada com só a consideração do primeiro<br />
modo.<br />
3,00E-08<br />
2,50E-08<br />
2,00E-08<br />
m/N<br />
1,50E-08<br />
1,00E-08<br />
5,00E-09<br />
0,00E+00<br />
1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />
D20 90% D20 Nó70% D20 50%<br />
D20 30% D20 10% D20 5%<br />
Figura 4 – Variação da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada em função do aumento de<br />
dano. Elemento 20 danificado. Três primeiros modos usados. Exemplo VS3.<br />
Um exame dos resultados lançados na figura 4 indica que o método localiza<br />
com sucesso o dano quando a redução de rigidez é da ordem de 10%, e mais uma<br />
vez uma quantificação do dano pode ser feita a partir desta informação. Quanto maior<br />
a variação da flexibilidade maior a severidade do dano.<br />
Aplicando-se o método da variação da curvatura da flexibilidade aos exemplos<br />
VS4, VS5 eVS6 (vide tabela 2), tem-se as seguintes curvas, figuras 5, 6 e 7:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>
38<br />
Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />
1/m.N<br />
2,00E-07<br />
1,50E-07<br />
1,00E-07<br />
5,00E-08<br />
0,00E+00<br />
-5,00E-08<br />
-1,00E-07<br />
-1,50E-07<br />
-2,00E-07<br />
1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />
Nó<br />
D4 50% D16 50% D20 50%<br />
D28 50%<br />
Sem dano<br />
Figura 5 – Curvatura da flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada. Elementos 4, 16, 20 e 28<br />
danificados, um de cada vez. Redução de 50% em E. Cinco primeiros modos usados. Exemplo<br />
VS4.<br />
A figura 5 mostra que, para as condições de contorno de este exemplo, o<br />
método da curvatura da flexibilidade consegue identificar a posição dos elementos<br />
danificados, mostrando, neste caso, igual desempenho que o método da variação da<br />
flexibilidade.<br />
1/m.N<br />
2,00E-07<br />
1,50E-07<br />
1,00E-07<br />
5,00E-08<br />
0,00E+00<br />
-5,00E-08<br />
-1,00E-07<br />
-1,50E-07<br />
-2,00E-07<br />
1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />
Nó<br />
D20 50% 1 modo<br />
D20 50% 2 modos<br />
D20 50% 3 modos<br />
D20 50% 4 modos<br />
D20 50% 5 modos<br />
Figura 6 – Curvatura da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada em função do número de<br />
modos usados. Elemento 20 Danificado. Redução de 50% em E. Exemplo VS5.<br />
Da figura 6, conclui-se que a posição do dano pode-se obter usando-se só os<br />
dois primeiros modos de vibração. A posição do dano é indicada pela forte<br />
descontinuidade na curva, verificada no elemento 20.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>
Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />
39<br />
4,00E-07<br />
2,00E-07<br />
0,00E+00<br />
1/m.N<br />
-2,00E-07<br />
-4,00E-07<br />
-6,00E-07<br />
-8,00E-07<br />
1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />
Nó<br />
D20 90% D20 50% D20 30%<br />
D20 10% Sem Dano<br />
Figura 7 – Curvatura da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada em função do aumento de<br />
dano. Elemento 20 danificado. Exemplo VS6.<br />
A figura 7 mostra que o método da variação da curvatura da flexibilidade é<br />
sensível a danos de ate 30% de redução no módulo de elasticidade.<br />
5.2 Dano múltiplo: viga simplesmente apoiada<br />
Os danos introduzidos na viga, neste caso, compreendem perdas de rigidez<br />
entre 5% e 30%. A perda de rigidez foi inserida nos elementos 14, 16 e 18 e nos<br />
elementos 14 e 18 da viga (vide Figura1), de forma simultânea. O resumo dos<br />
cenários de dano é apresentado na Tabela 5. Os resultados da análise<br />
correspondentes aos exemplos da Tabela 5, utilizando-se o método de variação da<br />
flexibilidade, são apresentados nas Figuras 8 e 9.<br />
Tabela 5 – Exemplos Numéricos Dano Múltiplo. Viga Simplesmente Apoiada (Vs).<br />
Exemplo de Elemento Modos Redução Resultado<br />
Método<br />
Dano Danificado Usados de E (%) Figura N o<br />
Vs1 14,16,18 3 prim. 5,5,5<br />
Variação da<br />
Vs2 14,16,18 3 prim. 10,5,10 8<br />
Flexibilidade e<br />
Vs3 14,16,18 3 prim. 30,30,30<br />
Curvatura da<br />
Vs4 14 e 18 3 prim. 10 e 10<br />
9 Flexibilidade<br />
Vs5 14 e 18 3 prim. 30 e 30<br />
Vs1 14,16,18 3 prim. 5,5,5<br />
Vs2 14,16,18 3 prim. 10,5,10<br />
Vs3 14,16,18 3 prim. 30,30,30<br />
Vs4 14 e 18 3 prim. 10 e 10<br />
Vs5 14 e 18 3 prim. 30 e 30<br />
10<br />
11<br />
Variação da<br />
Curvatura da<br />
Flexibilidade<br />
O método da variação da flexibilidade não consegue distinguir, em nenhum<br />
dos três cenários de dano aqui estudados, quais os elementos individuais danificados,<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>
40<br />
Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />
sem importar a magnitude do dano introduzido (Figura 8). O método indica uma região<br />
danificada localizada em torno do elemento 17. Já na Figura 9 é possível identificar os<br />
dois elementos danificados (elementos 14 e 18).<br />
4,00E-09<br />
3,50E-09<br />
3,00E-09<br />
2,50E-09<br />
m/N<br />
2,00E-09<br />
1,50E-09<br />
1,00E-09<br />
5,00E-10<br />
0,00E+00<br />
1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />
Nó<br />
D14,D16, D18 (5%)<br />
D14,D16,D18 (10%, 5%, 10%)<br />
D14,D16,D18 (30% ,30%, 30%)<br />
Figura 8 – Variação da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada. Elementos 14, 16 e 18<br />
danificados simultaneamente.Três primeiros modos usados. Exemplos Vs1, Vs2 e Vs3.<br />
2,50E-09<br />
2,00E-09<br />
m/N<br />
1,50E-09<br />
1,00E-09<br />
5,00E-10<br />
0,00E+00<br />
1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />
No<br />
D14,D18 (30%, 30%) D14, D18 (10%, 10%)<br />
Figura 9 – Variação da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada. Elementos 14 e 18<br />
danificados simultaneamente. Três primeiros modos usados. Exemplo Vs4 e Vs5.<br />
Os resultados fornecidos pelo método da variação da curvatura da flexibilidade<br />
para os exemplos da Tabela 5 são apresentados nas Figuras 10 e 11. Para o caso de<br />
três elementos muito próximos danificados simultaneamente (elementos 14, 16 e 18),<br />
a detecção indicada pelo método é ambígua, fornecendo indícios sobre uma região<br />
danificada entre os elementos 14 e 18 (Figura 10). Com um refinamento da malha de<br />
elementos finitos seria possível identificar também como danificado o elemento 16.<br />
Para dois elementos danificados ao mesmo tempo, próximo um de outro (elementos<br />
14 e 18), o método consegue identificar os dois locais danificados para uma redução<br />
de 10% na rigidez dos elementos (Figura 11).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>
Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />
41<br />
2,00E-07<br />
1,50E-07<br />
1,00E-07<br />
1/m.N<br />
5,00E-08<br />
0,00E+00<br />
-5,00E-08<br />
-1,00E-07<br />
-1,50E-07<br />
1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />
Nó<br />
D14,D16, D18 (5%) D14,D16,D18 (10% 5% 10%)<br />
D14,D16,D18 (30% 30% 30%)<br />
Figura 10 – Curvatura da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada. Elementos 4, 16 e 18<br />
danificados simultaneamente. Exemplos Vs1, Vs2 e Vs3.<br />
2,00E-07<br />
1,50E-07<br />
1,00E-07<br />
1/m.N<br />
5,00E-08<br />
0,00E+00<br />
-5,00E-08<br />
-1,00E-07<br />
-1,50E-07<br />
1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />
Nó<br />
D14,D18 (30% 30%) D14,D18 (10% 10%)<br />
Figura 11 – Curvatura da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada. Elementos 14 e 18<br />
danificados simultaneamente. Três primeiros modos usados. Exemplo Vs4 e Vs5.<br />
6 DISCUSSÃO DE RESULTADOS E COMENTÁRIOS<br />
No trabalho de Pandey e Biswas (1994), a variação da flexibilidade máxima<br />
reportada, por exemplo, para a viga simplesmente apoiada, com elemento 16<br />
danificado (redução de 50% em E) é de 9E-6 (in/lb), enquanto que no presente<br />
estudo, o valor obtido para a variação da flexibilidade para a mesma condição é de<br />
5.583E-7 (in/lb). Este último valor foi obtido a partir de três análises diferentes. A<br />
primeira, utilizando-se o programa desenvolvido neste trabalho para detecção de<br />
danos em vigas, e a segunda, com uma simulação empregando-se os programas<br />
ANSYS e MATHCAD; e uma terceira, com um cálculo simples (método da carga<br />
unitária), cujas descrições são apresentadas a seguir.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>
42<br />
Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />
Utilizando o primeiro teorema de Castigliano, calcula-se o deslocamento do<br />
meio do vão para a viga sem dano e o mesmo deslocamento para a viga danificada<br />
(dano no elemento 16, 50% redução da rigidez). Com estes dados, utilizando-se a<br />
Equação (15), determina-se a variação da flexibilidade, ∆, para o centro da viga, ou<br />
seja:<br />
∆ = δ<br />
D<br />
− δ<br />
(15)<br />
onde δD e δ são o deslocamento no meio do vão da viga danificada e do<br />
centro da viga sadia, respectivamente. Os deslocamentos anteriores podem ser<br />
calculados de acordo com a equação clássica, ou seja:<br />
∂W<br />
δ =<br />
(16)<br />
∂P<br />
onde W é a energia de deformação para a viga. Neste caso, para a viga<br />
simplesmente apoiada sendo que P é um carregamento unitário, aplicado no lugar<br />
onde se quer determinar δ, ou seja, no nó 16. Para a viga da Figura 1, com as<br />
propriedades dadas na Tabela 1, tem-se:<br />
W<br />
D<br />
2 1.22<br />
2 2.44<br />
( Px) ( 1.14375P<br />
− 0.46675Px) ( 1.14375P<br />
− 0.46875Px)<br />
dx + ∫<br />
dx +<br />
1.14375<br />
= 1 ⎡ 0.53125<br />
⎢<br />
2<br />
∫<br />
∫<br />
⎣ EI<br />
EI<br />
0<br />
1.14375<br />
D<br />
1.22<br />
EI<br />
2<br />
⎤<br />
dx⎥<br />
⎦<br />
(17)<br />
W<br />
2<br />
( 0.53125Px) ( 1.14375P<br />
− 0.46875Px)<br />
⎡1.14375<br />
1<br />
= ⎢ ∫<br />
dx +<br />
2<br />
∫<br />
⎢⎣<br />
EI<br />
0<br />
EI<br />
2<br />
⎤<br />
dx⎥<br />
⎥⎦<br />
(18)<br />
onde WD e W são a energia de deformação para a viga danificada e para a<br />
viga sem dano.<br />
Utilizando-se a Equação (16) os deslocamentos resultam:<br />
δ<br />
D<br />
= 7.3096E<br />
− 8( m / N)<br />
e<br />
δ = 6.9908E<br />
− 8( m / N)<br />
A variação de flexibilidade, usando-se a Equação (15) é ∆ = 3.188E-9(m/N) ou<br />
em unidades do sistema inglês 5.583E-7(in/lb), que é o valor reportado na Figura 12b.<br />
Uma comparação entre o resultado reportado no artigo de Pandey e Biswas (1994) e<br />
o obtido neste estudo pode observar-se na Figura 12:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>
Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />
43<br />
6,00E-07<br />
Var. Flex. (in/lb)<br />
5,00E-07<br />
4,00E-07<br />
3,00E-07<br />
2,00E-07<br />
1,00E-07<br />
(a)<br />
(b)<br />
0,00E+00<br />
1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />
Nó<br />
Elem 4 Elem 8 Elem12 Elem 16<br />
Figura 12 – Comparação de resultados para a viga simplesmente apoiada: (a) resultado<br />
reportado por Pandey e Biswas (1994) e (b) resultado obtido com o presente trabalho.<br />
Como pode observar-se da Figura. 12, o comportamento das curvas é igual, e<br />
a detecção do dano é realizada com sucesso. Uma comparação entre freqüências<br />
para a viga simplesmente apoiada calculadas neste trabalho e as fornecidas no artigo<br />
de Pandey e Biswas(1994), apresenta-se na Tabela 6. Um exame dos resultados<br />
lançados na Tabela 6 deixa claro que as freqüências calculadas no presente estudo<br />
estão em completo acordo com as reportadas naquele artigo, estabelecendo-se,<br />
assim, a validade deste trabalho.<br />
Tabela 6 – Lista das Freqüências Naturais Viga Simplesmente Apoiada. Elemento 16<br />
danificado, 50% redução em E<br />
Freqüências viga D16,<br />
Freqüências viga sem dano (Hz)<br />
Freq.<br />
Teórica<br />
Freq. Artigo<br />
P. e B.<br />
(1994)<br />
Presente<br />
Trabalho<br />
Freq. Artigo<br />
P. e B.<br />
(1994)<br />
(Hz)<br />
Presente<br />
Trabalho<br />
%Diferença entre<br />
Freqüências<br />
Artigo./Trab.<br />
(Sem dano)<br />
Art./Trab.<br />
D16<br />
158,312 158,408 158,312 153,689 153,596 0,061 0,061<br />
633,250 633,632 633,249 633,388 633,005 0,060 0,061<br />
1424,812 1425,665 1424,804 1386,199 1385,362 0,060 0,060<br />
2532,999 2534,486 2532,955 2530,797 2529,26 0,060 0,061<br />
3957,.811 3960,033 3957,642 3860,47 3858,139 0,060 0,060<br />
5699,248 5702,174 5698,731 5684,753 5681,32 0,060 0,060<br />
7757,310 7760,654 7755,968 7587,754 7583,172 0,060 0,060<br />
7 CONCLUSÕES<br />
Neste trabalho, as qualidades de dois métodos de detecção de dano baseados<br />
na medição dinâmica da flexibilidade foram comprovadas através de diferentes<br />
simulações de dano em vigas. O método proposto por Pandey e Biswas (1994) teve o<br />
igual desempenho que o método proposto por Lu, Ren e Zhao (2002) quanto à<br />
determinação da posição do dano individual nos casos estudados. Na detecção de<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>
44<br />
Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />
dano múltiplo, o método da variação da curvatura da flexibilidade mostrou melhor<br />
desempenho que o método da variação da flexibilidade. O anterior indica que uma<br />
combinação dos dois métodos é recomendável para casos práticos, onde não se<br />
conhece de antemão a posição do dano, nem o número de locais danificados.<br />
As técnicas baseadas nas variações das formas modais (e das freqüências<br />
naturais) estudadas neste trabalho precisam de malhas de sensores refinadas (muitos<br />
pontos de medição), e, felizmente, esta dificuldade esta sendo superada com o<br />
aparecimento de transdutores de baixo custo e maior precisão adaptados para este<br />
tipo de problema. Por outro lado, elas oferecem a vantagem de não depender de um<br />
modelo analítico para realizar a detecção do dano.<br />
8 AGRADECIMENTOS<br />
Agradecemos à CAPES pelo apoio financeiro, sem o qual esta pesquisa não<br />
poderia ter sido realizada.<br />
9 REFERÊNCIAS<br />
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TEUGHELS, A.; MAECK, J.; DE ROECK, G., (2002). Damage assessment by FE<br />
model updating using damage functions. Computers and structures, n.80, p.1869-<br />
1879.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>
ISSN 1809-5860<br />
AVALIAÇÃO DINÂMICA EXPERIMENTAL E<br />
NUMÉRICA DAS LIGAÇÕES DE BASE DE<br />
ESTRUTURAS DE CONCRETO PRÉ-MOLDADO<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega 1 & João Bento de Hanai 2<br />
Resumo<br />
Neste trabalho realiza-se um estudo do comportamento das ligações de base de<br />
estruturas pré-moldadas de concreto, por meio de ensaios experimentais e<br />
computacionais, sejam estáticos ou dinâmicos. Diferentes modelos físicos foram<br />
construídos, cada um possuindo uma particularidade estrutural (íntegro, com dano<br />
localizado, com dano generalizado e com vínculo pilar-viga semi-rígido). Investigou-se<br />
a condição real de vínculo e sua influência na alteração dos parâmetros modais<br />
(freqüências naturais, modos de vibração e fatores de amortecimento). Destaca-se a<br />
metodologia experimental dinâmica que avalia a rigidez da ligação pilar-fundação<br />
diretamente pelos sinais medidos, não apenas pela calibração do modelo numérico. As<br />
avaliações computacionais apresentadas neste trabalho empregam modelos de<br />
elementos finitos fundamentados na Teoria da Elasticidade e na Mecânica do Dano<br />
Contínuo, e os seus resultados são confrontados com os experimentais e com os obtidos<br />
por modelos analíticos. Demonstra-se uma boa correlação entre os diversos resultados,<br />
comprovando-se a viabilidade da utilização dos testes de vibração, não-destrutivos e<br />
precisos, para a determinação da rigidez das ligações, estimativa do dano provocado<br />
pela fissuração e alteração de condições estruturais diversas.<br />
Palavras-chave: dinâmica; concreto; pré-moldados; ligações semi-rígidas; análise<br />
modal.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Do ponto de vista do comportamento estrutural, a presença das ligações é o<br />
que diferencia basicamente uma estrutura de concreto pré-moldado de uma estrutura<br />
monolítica moldada no local. As ligações podem ser consideradas como regiões de<br />
descontinuidade na estrutura pré-moldada onde ocorrem concentrações de tensões,<br />
as quais podem, ou não, provocar deslocamentos e mobilizar e redistribuir esforços<br />
entre os elementos por elas conectados, com influência no comportamento de toda a<br />
estrutura.<br />
Por outro lado, é usual, na prática corrente de projeto de estruturas de<br />
concreto pré-moldado, considerar as ligações como articulações ou engastes. Na<br />
verdade, por elas serem executadas entre elementos pré-moldados, o seu<br />
comportamento real é semi-rígido (semi-flexível). A consideração das ligações com<br />
esse efeito recebe, na literatura, a denominação de ligações semi-rígidas, e seus<br />
1 Professor Adjunto do Departamento de Arquitetura da UFRN, e-mail nobrega@ufrnet.br<br />
2 Professor Titular do Departamento de Enga. de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, e-mail jbhanai@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
48<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />
efeitos influenciam: a redistribuição dos esforços ao longo dos elementos, os<br />
deslocamentos laterais da estrutura devido a ações horizontais, a estabilidade global<br />
do sistema, e os deslocamentos verticais das vigas. Levando-se em conta o efeito<br />
desta semi-rigidez, pode-se obter significante economia relacionada à redução da<br />
mão-de-obra e de material necessários, em comparação com as ligações rígidas, ou<br />
pode-se incorrer na redução do tamanho dos pilares, frente às ligações articuladas.<br />
A deformabilidade de uma ligação é ilustrada na Figura 1 e a sua forma usual<br />
de representação – o esquema de molas –, encontra-se na Figura 2.<br />
Deformabilidade<br />
ao momento fletor<br />
M<br />
M<br />
M<br />
φ<br />
Ligação<br />
indeformável<br />
Ligação<br />
deformável<br />
Deformabilidade<br />
à força normal<br />
N N N<br />
Figura 1a - Deformabilidade de uma ligação (adaptado de EL DEBS; 2000).<br />
δ<br />
K = M/ φ<br />
m<br />
K = N/ δ<br />
n<br />
Momento fletor<br />
Força normal<br />
Figura 1b - Representação usual da deformabilidade (adaptado de EL DEBS; 2000).<br />
A obtenção da flexibilidade (ou sua inversa, a rigidez) das ligações está entre<br />
as principais dificuldades técnicas para se obter um cálculo mais realista das<br />
estruturas pré-moldadas. Basicamente, ela pode ser obtida ou estimada por<br />
procedimentos experimentais e analíticos; mas o que se percebe, pesquisada a<br />
bibliografia disponível, é a existência de poucos modelos padronizados de cálculo de<br />
rigidez, frente ao extenso leque de tipos de ligações disponíveis.<br />
No contexto das ligações de estruturas pré-moldadas, os primeiros estudos<br />
enfocaram os assuntos da execução, da transmissão e da resistência aos esforços.<br />
Posteriormente, as pesquisas se estenderam a temas como ductilidade, rigidez e<br />
durabilidade. Uma retrospectiva sobre o tema é feita por STANTON et al. (1986),<br />
JOHAL et al. (1991), COST1 (1999) e COST1 (2000).<br />
Projetos de pesquisa internacionais recentes preocuparam-se com o estudo<br />
profundo das ligações, no contexto de toda a estrutura, não apenas sobre o elemento<br />
isolado. Cita-se o programa PRESSS (“Precast Seismic Structural Systems”),<br />
financiado pelo PCI (“Precast Concrete Institute”), como exemplo, onde se realizaram<br />
ensaios em pórticos planos e espaciais, com a inclusão até de lajes, em alguns casos,<br />
simulando-se pavimentos de várias alturas.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />
49<br />
Parece importante, todavia, que algumas questões sejam alvo de análise mais<br />
profunda. Dentre elas, destacam-se: a influência da ligação no comportamento<br />
dinâmico (na alteração das freqüências naturais, modos de vibração e amortecimento)<br />
e na resposta vibracional da estrutura (seja em relação aos estados limites últimos ou<br />
de serviço), e o desempenho da ligação semi-rígida frente a um processo crescente de<br />
fissuração (determinada a parcela relacionada à estrutura, e a correspondente à<br />
ligação). Entretanto, os aspectos focados dessas pesquisas continuam a ser a<br />
ductilidade, a fadiga e a resistência. NAKAKI et al. (1999) e PRIESTLEY et al. (1999)<br />
indicam que esses aspectos corresponderam aos objetivos no amplo projeto PRESSS,<br />
ainda que relacionado a edificações em áreas sísmicas (onde há um comportamento<br />
dinâmico por excelência).<br />
2 AVALIAÇÃO DA RIGIDEZ DAS LIGAÇÕES<br />
Embora a quantificação numérica da rigidez de uma ligação seja<br />
imprescindível para o seu estudo e para a análise estrutural, não é possível defini-la<br />
observando apenas o seu valor absoluto. A semi-rigidez de uma ligação deve ser<br />
entendida como um “conceito” e o seu valor deve ser também analisado à luz do<br />
conhecimento do elemento estrutural a ela conectado. Um exemplo simples ilustra<br />
este aspecto.<br />
Considerem-se duas vigas de diferentes seções transversais: VIGA 1 = (10 cm<br />
x 30 cm) e VIGA 2 = (20 cm x 60 cm); de mesmo material ( E = 30.000 MPa), que<br />
vencem o mesmo vão (L = 5 m) e submetidas a ação de uma mesma força ( F = 30<br />
kN, no meio do vão). A Tabela 1 ilustra as respostas em termos do deslocamento<br />
δ ) e momento nos apoios ( apoios<br />
central da viga ( L / 2<br />
M ), quando se considera os<br />
vínculos como articulados, engastados ou semi-rígidos (adotando-se, neste último<br />
caso,<br />
K m = 10.000 kN.m/rad).<br />
Tabela 1 - Influência da ligação semi-rígida em diferentes vigas<br />
TIPO DE VÍNCULO<br />
VIGA 1 (10 × 30) VIGA 2 (20 × 60)<br />
δ L/2 M apoios δ L/2 M apoios<br />
11,6 mm zero 0,7 mm zero<br />
2,9 mm 18,8 kN.m 0,2 mm 18,8 kN.m<br />
4,7 mm 14,8 kN.m 0,6 mm 3,5 kN.m<br />
INFLUÊNCIA DA LIG. SEMI-RÍG. ≅ RÍGIDA ≅ ARTICULADA<br />
Pela análise dos valores apresentados na Tabela 1, observa-se:<br />
A mesma ligação semi-rígida influencia as duas vigas de maneira muito diferente.<br />
Para a VIGA 1, ela comporta-se como um vínculo aproximadamente rígido; para a<br />
VIGA 2, como articulado;<br />
A observação anterior pode ser percebida facilmente comparando-se os valores dos<br />
deslocamentos e dos momentos nas ligações para os três casos simulados;<br />
Destaca-se a necessidade de avaliar e caracterizar a rigidez da ligação de forma<br />
qualitativa. Evidentemente, isto deve ser feito em função da rigidez do elemento<br />
estrutural conectado.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
50<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />
Existem diferentes sistemas, com limites próprios, para a classificação de uma<br />
ligação como articulada, semi-rígida ou rígida. EL DEBS (2000) apresenta um destes<br />
parâmetros, análogo ao constante no EUROCODE 3 (2000) (Tabela 2).<br />
Tabela 2 - Limites para a classificação das ligações (EUROCODE 3; 2000)<br />
REGIÃO<br />
LIMITES<br />
articulada<br />
0, 5EI<br />
K m ≤<br />
L<br />
semi-rígida<br />
0,5 EI 8EI<br />
< Km<br />
< (estrutura contraventada)<br />
L L<br />
0,5 EI 25EI<br />
< Km<br />
< (estrutura não-contraventada)<br />
rígida<br />
EI = rigidez à flexão da barra;<br />
L = vão da barra;<br />
L<br />
L<br />
8EI<br />
K m ≥ (estrutura contraventada)<br />
L<br />
25EI<br />
K m ≥ (estrutura não-contraventada)<br />
L<br />
articulada, e<br />
Outras referências consideram<br />
6EI<br />
L<br />
EI<br />
L<br />
como o limite superior para a ligação<br />
como a referência inferior para a ligação rígida, ou ainda outros<br />
limites (BJORHOVDE et al.; 1990 e NETHERCOT et al.; 1998).<br />
Todavia, o EUROCODE 3 (2000) refere-se especificamente às ligações<br />
metálicas. No caso das estruturas de concreto ainda não se dispõe de normalização<br />
que defina uma classificação própria. O próprio relatório técnico final da Comissão<br />
Européia, COST C1 (2000), formada por pesquisadores de diversos países<br />
encarregada de estudar o comportamento das ligações semi-rígidas durante diversos<br />
anos, não estabeleceu uma classificação unificada. Afirma-se explicitamente: “No<br />
attempt has been made to classify the connections in this work. The decision whether<br />
to attempt a semi-rigid design and promote what is otherwise a pinned jointed to a<br />
semi-rigid one is the responsibility of the frame analyst”.<br />
A bibliografia define um parâmetro γ , chamado fator de rigidez, que relaciona<br />
a rigidez da ligação K m com a rigidez do elemento estrutural a ela conectado, e que<br />
varia entre 0 e 1 (caracterizando uma rótula e um engaste, respectivamente). A<br />
expressão do fator de rigidez é dada por:<br />
3 ⎤<br />
⎢<br />
⎡ EI γ = 1 + ⎥<br />
⎣ Km<br />
L⎦<br />
−1<br />
(1)<br />
Utilizando o parâmetro γ, os limites classificatórios usuais correspondem a:<br />
Tabela 3 - Relação entre limites de<br />
K m<br />
0,5EI<br />
L<br />
EI<br />
L<br />
K m e o parâmetro γ<br />
2EI<br />
L<br />
6EI<br />
L<br />
8EI<br />
L<br />
25EI<br />
L<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />
51<br />
γ 0,14 0,25 0,40 0,67 0,73 0,89<br />
FERREIRA; EL DEBS; ELLIOTT (2002), mais recentemente, propõem um<br />
sistema de classificação das ligações semi-rígidas, dividido em 5 regiões (Figura 2).<br />
Tabela 4 - Limite para a classificação das ligações (FERREIRA; EL DEBS; ELLIOTT; 2002)<br />
REGIÃO<br />
LIMITES<br />
Zona I – ligação articulada 0 ≤ γ < 0, 14<br />
Zona II – ligação semi-rígida<br />
com baixa resistência à flexão<br />
0 ,14 < γ < 0,40<br />
Zona III – ligação semi-rígida<br />
com média resistência à flexão<br />
0 ,40 < γ < 0,67<br />
Zona IV – ligação semi-rígida<br />
com alta resistência à flexão<br />
0 ,67 < γ < 0,89<br />
Zona V – ligação rígida 0,89<br />
< γ ≤1<br />
Rigidez à Flexão da Ligação K φ<br />
Valores Normalizados<br />
1,5<br />
1,4<br />
1,3<br />
1,2<br />
1,1<br />
1,0<br />
0,9<br />
0,8<br />
0,7<br />
0,6<br />
0,5<br />
0,4<br />
0,3<br />
0,2<br />
0,1<br />
0,0<br />
0 .5EI<br />
L<br />
2 EI<br />
L<br />
6 EI<br />
L<br />
25EI<br />
L<br />
EC3<br />
M<br />
M<br />
MS<br />
R<br />
∂<br />
∂<br />
MS<br />
R<br />
⎡<br />
3<br />
−<br />
1.5<br />
γ<br />
⎤<br />
=<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎣ 2 + γ<br />
⎦<br />
M<br />
E<br />
⎡<br />
3<br />
γ<br />
⎤<br />
=<br />
M<br />
⎢<br />
⎥<br />
R ⎣2<br />
+ γ<br />
⎦<br />
⎡<br />
2<br />
−<br />
1.4<br />
γ<br />
⎤<br />
=<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎣ 2 + γ<br />
⎦<br />
φ<br />
E<br />
⎡<br />
3<br />
γ<br />
⎤<br />
=<br />
1<br />
−<br />
θ<br />
⎢<br />
⎥<br />
R ⎣2<br />
+ γ<br />
⎦<br />
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0<br />
Fator de Rigidez γ<br />
EC3<br />
Zona I Zona II Zona III Zona IV Zona V<br />
Figura 2 - Proposta de classificação para ligações semi-rígidas<br />
(FERREIRA; EL DEBS; ELLIOTT; 2002).<br />
Uma segunda discussão, exposta em seqüência, esclarecerá mais este<br />
conceito. Imagine-se uma viga de dimensões intermediárias, entre aquelas discutidas<br />
anteriormente, 15 cm x 45 cm, de material e vão iguais, submetida à ação de mesma<br />
força, e vinculada a ligações de rigidez ao momento fletor variável entre 1 a<br />
10.000.000 kN.m/rad. O fator de rigidez, associado a cada um destes valores, é dado<br />
pela Figura 3.<br />
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52<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />
fator de rigidez γ<br />
1,0<br />
0,9<br />
0,8<br />
0,7<br />
0,6<br />
0,5<br />
0,4<br />
0,3<br />
0,2<br />
0,1<br />
0,0<br />
1 10 100 1000 10000 100000 1000000 10000000<br />
rigidez da ligação Km (kN.m/rad)<br />
Figura 3 - Influência da ligação no fator de rigidez.<br />
Percebe-se que no trecho inicial da curva, 1 <<br />
da ligação tende para o articulado e, no final, 200.000 <<br />
K m < 5.000, o comportamento<br />
K m < 10.000.000, para o<br />
rígido. Há um trecho intermediário onde destaca-se a forte sensibilidade ao parâmetro<br />
γ, devido a mudanças na rigidez da ligação. Esse, efetivamente, pode ser considerado<br />
a zona de comportamento semi-rígido.<br />
A Figura 4 ilustra o deslocamento resultante no meio do vão, δ, pela aplicação<br />
da força. A curva apresentada é coerente com a Figura 3 compreendendo os trechos<br />
de comportamento articulado, semi-rígido e rígido. Verifica-se, assim, a influência da<br />
ligação na resposta estática da viga.<br />
deslocamento δ (cm)<br />
2,3<br />
2,1<br />
1,9<br />
1,7<br />
1,5<br />
1,3<br />
1,1<br />
0,9<br />
0,7<br />
0,5<br />
1 10 100 1000 10000 100000 1000000 10000000<br />
rigidez da ligação Km (kN.m/rad)<br />
Figura 4 - Influência da ligação na flecha da viga – análise estática.<br />
Em relação às propriedades dinâmicas, o efeito também deve ser investigado.<br />
A Figura 5 mostra o resultado para a primeira freqüência da viga, também considerada<br />
a variação da rigidez da ligação. Admite-se, adicionalmente, que a viga possui massa<br />
específica de 2500 kg/m 3 e coeficiente de Poisson igual a 0,2.<br />
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Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />
53<br />
freqüência f1 (Hz)<br />
64,0<br />
58,0<br />
52,0<br />
46,0<br />
40,0<br />
34,0<br />
28,0<br />
1 10 100 1000 10000 100000 1000000 10000000<br />
rigidez da ligação Km (kN.m/rad)<br />
Figura 5 - Influência da ligação na 1 a freqüência natural da viga – análise dinâmica.<br />
Neste gráfico, mais uma vez, destacam-se as diferentes zonas de<br />
comportamento da ligação. As Figuras 3, 4 e 5 transparecem equivalência qualitativa<br />
nos resultados.<br />
3 EXPRESSÃO ANALÍTICA DA LIGAÇÃO ESTUDADA<br />
A ligação escolhida para o presente estudo é do tipo “por meio de chapa de<br />
base”, de tamanho superior à seção transversal do pilar. A chapa de aço da base<br />
solda-se à armadura do pilar e os parafusos ancoram-se no elemento de fundação. O<br />
PCI (1988) e PCI (2001) apresentam a configuração e o detalhamento típicos para<br />
este tipo de ligação (Figura 6).<br />
Figura 6 - Ligação com chapa de base e armadura do pilar soldada.<br />
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54<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />
Esta ligação possui um modelo analítico que calcula a sua rotação em função<br />
do esforço imposto e de suas características geométricas e materiais. PCI (2001),<br />
baseado na formulação originalmente proposta por MARTIN (1980), apresenta as<br />
expressões que descrevem o comportamento desta ligação. FERREIRA (1993) leva<br />
em conta, além dos três mecanismos de deformação descritos por MARTIN (1980), o<br />
efeito do alongamento da armadura tracionada do pilar.<br />
Neste trabalho procede-se a uma readaptação da formulação de PCI (2001),<br />
acrescida do mecanismo idealizado por FERREIRA (1993), sendo esta tarefa descrita<br />
detalhadamente em NÓBREGA (2004). A rotação total da base tem seu esquema<br />
ilustrado na Figura 7 e a formulação de sua flexibilidade é dada pela eq.2.<br />
x1<br />
x2<br />
e<br />
P<br />
x + x 2<br />
1<br />
e<br />
P<br />
φ bp<br />
φ ab<br />
ponto de<br />
rotação<br />
L ab<br />
h<br />
T<br />
h + x 1<br />
h + 2x 1<br />
C<br />
centro de<br />
compressão<br />
φ f<br />
Figura 7 - Configurações indeformada e deformada da ligação.<br />
3<br />
( x1<br />
+ x2<br />
)<br />
L<br />
L<br />
+<br />
ab<br />
rb<br />
2<br />
2<br />
2<br />
I ( h + x ) A E ( h + x ) 0,85 E A<br />
γ b =<br />
+<br />
(2)<br />
3 Ebp<br />
bp 1 ab ab 1<br />
rb rb d<br />
Diversas simulações foram feitas, destacando-se os resultados principais para<br />
a rigidez da ligação K m e do fator de rigidez γ indicados na Tabela 5 e Figura 8.<br />
Segundo as expressões analíticas, a ligação pertence<br />
Tabela 5 - Avaliação da rigidez da ligação pilar-fundação – modelos analíticos<br />
CÁLCULO<br />
K m<br />
(kN.m/rad)<br />
γ ZONA PÓRTICO CARACTERÍSTICAS<br />
1 2.000 0,25 II 1 L rb = 50% do comprimento<br />
2 2.000 0,28 II 2, 3 e 4 de ancoragem<br />
3 3.000 0,33 II 1 Não considerando a<br />
4 3.000 0,36 II 2, 3 e 4 rotação devido ao<br />
alongamento da armadura<br />
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Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />
55<br />
1,5<br />
1,4<br />
1,3<br />
1,2<br />
1,1<br />
1,0<br />
0,9<br />
0,8<br />
0,7<br />
0,6<br />
0,5<br />
0,4<br />
0,3<br />
0,2<br />
0,1<br />
0,0<br />
0,0 0,1 0,2<br />
Zona I<br />
0,5 EI/L<br />
0,3<br />
Zona II<br />
2 EI/L<br />
6 EI/L 25 EI/L<br />
0,4 0,5 0,6 0,7 0,8<br />
Fator de Rigidez γ<br />
Zona III<br />
Zona IV<br />
0,9 1,0<br />
Zona V<br />
Figura 8 - Avaliação da rigidez da ligação pilar-fundação – modelos analíticos.<br />
4 PROGRAMA EXPERIMENTAL – DESCRIÇÃO DOS MODELOS FÍSICOS<br />
Idealizou-se a confecção de pórticos de concreto armado que possuíssem as<br />
seguintes dimensões básicas:<br />
PERSPECTIVA<br />
VISTA<br />
168<br />
66 18<br />
84<br />
VISTA<br />
150<br />
18 132 18<br />
SEÇÃO TRANSVERSAL<br />
(VIGA E PILARES)<br />
75<br />
8<br />
18<br />
Obs.:<br />
Dimensões em cm<br />
Figura 9 - Dimensões dos modelos de pórticos de concreto armado.<br />
Para se poder avaliar o comportamento da estrutura frente à influência de<br />
diversas condicionantes estruturais, foram construídos quatro diferentes pórticos<br />
(Figura 10).<br />
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56<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />
Pórtico 1 - Íntegro<br />
Pórtico 2 - Dano Localizado<br />
Modelo Básico<br />
Pórtico 3 - Dano Generalizado<br />
Pórtico 4 - Ligações Semi-rígidas<br />
Figura 10 - Esquemático dos modelos de pórtico.<br />
As bases metálicas são de chapa de aço SAE-1020 e nelas bases foram<br />
soldadas (solda do tipo “MIG”) as barras da armadura do pilar (φ 6,3 mm). A Figura 11<br />
ilustra o aspecto final.<br />
100<br />
60 180 60<br />
projeção do pilar<br />
furo<br />
φ = 16<br />
6 barras Ø 6,3 mm<br />
(soldadas na base)<br />
2 barras Ø 5,0 mm<br />
20<br />
<strong>35</strong> 25 180 25 <strong>35</strong><br />
espessura da chapa = 10<br />
dimensões em mm<br />
Figura 11 - Esquemático final da ligação com chapa de base.<br />
5 ENSAIOS ESTÁTICOS<br />
Os quatro pórticos foram ensaiados à flexão, pela aplicação de um<br />
carregamento crescente em um ponto situado no eixo da viga. Os objetivos dos<br />
experimentos consistiam, principalmente, em averiguar a rigidez dos apoios e a rigidez<br />
lateral das estruturas. A instrumentação dos pórticos foi feita através de cinco<br />
transdutores de deslocamento (Figura 12). O ensaio era interrompido quando a<br />
estrutura produzia alguns estalos, indicando que as soldas entre as barras dos pilares<br />
e a chapa metálica de base rompiam-se, e o aumento da força aplicada tornava-se<br />
impossível (os deslocamentos cresciam sem a equivalência da força). A Figura 13<br />
apresenta uma comparação geral entre os deslocamentos dos modelos (considerando<br />
o nó do eixo da viga – transdutor 1).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />
57<br />
Pistão<br />
T-1<br />
T-4<br />
T-2<br />
75<br />
18 39<br />
T-5<br />
T-3<br />
18 36.5<br />
75<br />
Obs.: Dimensões em cm<br />
Figura 12 - Esquemático da instrumentação dos ensaios de flexão.<br />
Força (kN)<br />
30,0<br />
25,0<br />
20,0<br />
15,0<br />
10,0<br />
5,0<br />
0,0<br />
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0<br />
P1-int P2-dano_loc P3-dano_gen P4-semi-ríg δ (mm)<br />
Figura 13 - Curvas dos deslocamentos dos pórticos.<br />
Para todas as estruturas também foram construídos modelos computacionais<br />
visando a simulação desses ensaios de flexão (utilizando-se como base o programa<br />
desenvolvido por PAULA; 2001). Os resultados, de cada qual, são expostos em<br />
seqüência, indicando a rigidez admitida para os apoios. Inicialmente é demonstrada a<br />
importância de se considerar o apoio como ligação semi-rígida. A partir do pórtico<br />
íntegro, calcularam-se os resultados admitido os apoios rígidos (Figura 14) e<br />
articulados (Figura 15). Nestas figuras também são incluídas as respostas lineares<br />
(seção homogeneizada).<br />
F (kN)<br />
30,0<br />
25,0<br />
20,0<br />
15,0<br />
10,0<br />
5,0<br />
0,0<br />
experim.<br />
Mazars<br />
Linear<br />
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0<br />
δ (mm)<br />
Figura 14 - Deslocamento do modelo íntegro considerando os apoios rígidos.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
58<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />
F (kN)<br />
30,0<br />
25,0<br />
20,0<br />
15,0<br />
10,0<br />
5,0<br />
0,0<br />
experim.<br />
Mazars<br />
Linear<br />
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0<br />
δ (mm)<br />
Figura 15 - Deslocamento do modelo íntegro considerando os apoios articulados.<br />
Percebe-se que considerar os apoios como rígidos é um erro pois a curva<br />
experimental apresenta-se bem mais flexível. Porém, admitir os apoios como<br />
articulados também não é adequado. Verifica-se que a curva do modelo de Mazars<br />
cresce para valores muitos altos (na figura ela foi truncada para F = 20 kN). O correto<br />
não é um extremo ou outro, mas simular as ligações de base como semi-rígidas.<br />
A Figura 16 mostra que a curva não é tão satisfatória quando se adota uma<br />
rigidez constante média ( K<br />
m<br />
= 700 kN.m/rad). As Figuras 17 e 18 ilustram os<br />
resultados para os modelos de Mazars e La Borderie, respectivamente, tendo em vista<br />
os apoios com rigidez variável (linearmente) entre os valores 1.050 e 500 kN.m/rad. A<br />
aderência entre os valores experimentais e computacionais é quase total.<br />
F (kN)<br />
30,0<br />
PÓRTICO ÍNTEGRO - Apoios Semi-Rígidos 700 kN.m/rad<br />
25,0<br />
20,0<br />
15,0<br />
10,0<br />
5,0<br />
0,0<br />
experim.<br />
Borderie<br />
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0<br />
δ (mm)<br />
Figura 16 - Simulação do ensaio de flexão do P1 (La Borderie) – rigidez constante.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />
59<br />
F (kN)<br />
30,0<br />
PÓRTICO ÍNTEGRO - Apoios Semi-Rígidos 1050-500 kN.m/rad<br />
25,0<br />
20,0<br />
15,0<br />
10,0<br />
5,0<br />
0,0<br />
experim.<br />
Mazars<br />
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0<br />
δ (mm)<br />
Figura 17 - Simulação do ensaio de flexão do P1 (Mazars).<br />
F (kN)<br />
30,0<br />
PÓRTICO ÍNTEGRO - Apoios Semi-Rígidos 1050-450 kN.m/rad<br />
25,0<br />
20,0<br />
15,0<br />
10,0<br />
5,0<br />
0,0<br />
experim.<br />
Borderie<br />
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0<br />
δ (mm)<br />
Figura 18 - Simulação do ensaio de flexão do P1 (La Borderie).<br />
Os ensaios computacionais dos outros pórticos indicaram resultados similares.<br />
Pode-se concluir, assim, que os modelos de Mazars e La Borderie simulam<br />
adequadamente os fenômenos de danificação dos pórticos, sendo imprescindível a<br />
consideração da ligação como semi-rígida, diferentemente das idealizações rígida ou<br />
articulada. De forma geral, o valor de rigidez determinado pelos ensaios estáticos<br />
corresponderam a 1050 kN.m/rad, na fase de menor solicitação, a aproximadamente<br />
450 kN.m/rad, para os valores mais altos de carga.<br />
A partir do cálculo do valor absoluto da rigidez da ligação, faz-se a sua<br />
avaliação em termos do fator de rigidez γ (Tabela 6 e Figura 19). A ligação pertence à<br />
Zona II, no início, passando para a Zona I, com o aumento da solicitação.<br />
Tabela 6 - Avaliação da rigidez da ligação pilar-fundação – ensaios estáticos<br />
K m<br />
(kN.m/rad)<br />
γ ZONA PÓRTICO<br />
1.050 0,15 II 1<br />
1.050 0,17 II 2, 3 e 4<br />
450 0,07 I 1<br />
450 0,08 I 2, 3 e 4<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
60<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />
1,5<br />
1,4<br />
1,3<br />
1,2<br />
1,1<br />
1,0<br />
0,9<br />
0,8<br />
0,7<br />
0,6<br />
0,5<br />
0,4<br />
0,3<br />
0,2<br />
0,1<br />
0,0<br />
0,0<br />
Zona I<br />
0,5 EI/L<br />
0,1 0,2 0,3<br />
Zona II<br />
2 EI/L<br />
0,4 0,5 0,6<br />
Fator de Rigidez γ<br />
Zona III<br />
6 EI/L 25 EI/L<br />
0,7<br />
Zona IV<br />
0,8 0,9 1,0<br />
Zona V<br />
Figura 19 - Avaliação da rigidez da ligação pilar-fundação – ensaios estáticos.<br />
6 ENSAIOS DINÂMICOS<br />
A Figura 20 ilustra o esquema do sistema de geração do sinal de excitação,<br />
aquisição e processamento de dados utilizado nos ensaios dinâmicos experimentais,<br />
sendo o centro das operações o analisador espectral. Nesta figura, “F” refere-se ao<br />
sinal da força aplicada, medida pelo transdutor; “A” significa o sinal da aceleração,<br />
medido pelos acelerômetros; e “V” o sinal da excitação a ser aplicada à estrutura. A<br />
Figura 21 retrata o sistema e a Figura 22 apresenta uma imagem dos ensaios.<br />
Figura 20 - Esquema do sistema de aquisição e processamento.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />
61<br />
Figura 21 - Sistema de aquisição e processamento de dados.<br />
Figura 22 - Ensaio dinâmico com excitador.<br />
Para o cálculo da rigidez da ligação, dois procedimentos distintos são<br />
empregados. O primeiro, chamado de “Método Indireto”, consiste na determinação<br />
desta rigidez pela calibração do modelo computacional, até que os parâmetros modais<br />
resultem similares aos medidos nos testes experimentais. Isto é feito empregando-se<br />
o código ADINA, ADINA (2003). O segundo procedimento, designado de “Método<br />
Direto”, baseia-se na leitura dos sinais do acelerômetro e transdutor de força, a partir<br />
da hipótese do desacoplamento dos modos no espaço modal.<br />
6.1 Ensaios experimentais<br />
Os resultados dos ensaios experimentais, gerados na forma de FRFs (um<br />
exemplo é exposto na Figura 23), possibilitam a determinação das freqüências<br />
naturais dos modelos. Na Tabela 7 indicam-se os valores obtidos para os pórticos<br />
íntegro e com dano generalizado.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
62<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />
Figura 22 - FRFs do Pórtico Íntegro medidas no nó 3 (A 32 ).<br />
Tabela 7 - Freqüências naturais dos pórticos íntegro e com dano generalizado<br />
PÓRTICO 3<br />
PÓRTICO 1<br />
(DANO<br />
(ÍNTEGRO)<br />
GENERALIZADO)<br />
MODO FREQ. (Hz) MODO FREQ. (Hz)<br />
1 16,9 1 10,6<br />
2 49,4 2 37,5<br />
3 82,5 3 66,2<br />
4 133,8 4 112,5<br />
5 210,6 5 180,4<br />
6 248,1 6 227,8<br />
7 263,1 7 250,8<br />
8 291,3 8 300,9<br />
9 342,0 9 331,6<br />
10 384,6<br />
11 434,8<br />
12 456,0<br />
6.2 Método direto<br />
Determinou-se as freqüências naturais e modos de vibração para todos os<br />
modelos, alterando-se as rigidezes das molas rotacionais na base e verificando-se as<br />
influências. Os valores adotados foram:<br />
K m Z ⇒ 900 kN.m/rad ≤ K m Z ≤ 3.000 kN.m/rad<br />
K m X ⇒ 550 kN.m/rad ≤ K m Z ≤ 700 kN.m/rad<br />
PÓRTICO 1 (ÍNTEGRO)<br />
A Tabela 8 indica os resultados experimentais obtidos na fase anterior (Tabela<br />
7a) e os computacionais. Nela há a indicação se o modo é no plano xy ou se é no<br />
plano transversal. Os valores adotados para a rigidez do apoio foram:<br />
K m Z = 2.500 kN.m/rad<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />
63<br />
K m X<br />
= 550 kN.m/rad<br />
Tabela 8 - Freqüências naturais do pórtico íntegro<br />
PÓRTICO 1 (ÍNTEGRO)<br />
EXPERIMENTAL COMPUTACIONAL<br />
MODO<br />
FREQÜÊNCIA<br />
FREQÜÊNCIA<br />
PLANO<br />
(Hz)<br />
(Hz)<br />
PLANO<br />
1 16,9 Z 21,3 Z<br />
2 49,4 Z 51,3 Z<br />
3 82,5 XY 82,7 XY<br />
4 133,8 Z 130,0 Z<br />
5 210,6 XY 214,5 XY<br />
6 248,1 Z 280,8 Z<br />
7 263,1 Z 291,4 Z<br />
8 291,3 Z 423,6 Z<br />
9 342,0 Z 530,3 Z<br />
10 554,6 XY<br />
PÓRTICO 3 (DANO GENERALIZADO)<br />
Para este modelo foram feitos dois conjuntos de ensaios. O primeiro, como o<br />
feito para os pórticos anteriores, alterando-se as rigidezes das molas rotacionais. O<br />
segundo, avaliando-se a minoração da rigidez EI provocada pela fissuração prévia.<br />
Basicamente, foram dois tipos de fatores de minoração adotados:<br />
1) Rigidez comum a todos os elementos (vigas e pilares):<br />
Neste caso, o mais relevante foi a adoção do valor 0,7<br />
⋅ E0<br />
⋅ I0<br />
, conforme dita a NBR<br />
6118 (2003).<br />
2) Rigidezes diferentes para a viga (elemento mais fissurado) e pilares (elemento<br />
menos fissurado):<br />
Foram adotados os valores individuais preconizados pela NBR 6118 (2003):<br />
0,4⋅ E0<br />
⋅ I0<br />
para a viga (quando A s ≠ As′<br />
'<br />
), ou 0,5<br />
⋅ E0<br />
⋅ I0<br />
(quando A s = A s ), e<br />
0,8<br />
⋅ E0<br />
⋅ I0<br />
para os pilares;<br />
diversas outras variações.<br />
Os resultados apresentados na Tabela 9, mais assemelhados aos valores<br />
experimentais, relacionam-se às rigidezes:<br />
0,6 E 0 I 0 = 19.126 MPa, para a viga<br />
0,8 E 0 I 0 = 25.501 MPa, para os pilares<br />
Para as rigidezes dos apoios:<br />
K = 2.500 kN.m/rad<br />
m Z<br />
K m X<br />
= 550 kN.m/rad<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
64<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />
Tabela 9 - Freqüências naturais do pórtico 3<br />
PÓRTICO 3 (DANO GENERALIZADO)<br />
EXPERIMENTAL COMPUTACIONAL<br />
MODO FREQ. (Hz) PLANO FREQ. (Hz) PLANO<br />
1 10,6 Z 19,7 Z<br />
2 37,5 Z 42,9 Z<br />
3 66,2 XY 70,1 XY<br />
4 112,5 Z 100,0 Z<br />
5 180,4 XY 164,1 XY<br />
6 227,8 Z 217,4 Z<br />
7 250,8 Z 240,6 Z<br />
8 300,9 ? 3<strong>35</strong>,5 Z<br />
9 331,6 ? 397,6 Z<br />
10 384,6 ? 425,5 XY<br />
11 434,8 ? 486,6 Z<br />
12 456,0 ? 524,4 XY<br />
Constata-se que as primeiras freqüências são coerentes com as<br />
experimentais, e que aparentemente existem mais modos computacionais que<br />
experimentais (algumas freqüências coincidem, mas estão em posições diferentes na<br />
ordem listada). Com a consideração das vibrações transversais, e a imposição de<br />
apoios semi-rígidos, as freqüências computacionais aproximam-se muito das<br />
experimentais, sendo ilustradas na Figura 23 e na Figura 24 os valores de f 1 xy e<br />
f 2 xy , respectivamente, para cada um dos modelos. Os resultados mais afinados<br />
com os ensaios experimentais correspondem a:<br />
kN.m/rad.<br />
K m Z = 2.500 kN.m/rad e K m X = 550<br />
freqüência f1xy<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Pórt.1 Pórt.2 Pórt.3 Pórt.4a Pórt.4b Pórt.4c<br />
Experimental Numérico<br />
Estrutura<br />
Figura 23 - Freqüências<br />
f 1 xy experimental e numérica para os diferentes modelos.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />
65<br />
freqüência f2xy<br />
220<br />
200<br />
180<br />
160<br />
140<br />
120<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
Pórt.1 Pórt.2 Pórt.3 Pórt.4a Pórt.4b Pórt.4c<br />
Experimental Numérico<br />
Estrutura<br />
Figura 24 - Freqüências<br />
f 2 xy experimental e numérica para os diferentes modelos.<br />
6.3 Método direto<br />
EWINS (2000) e MAIA et al. (1997) afirmam que uma das dificuldades da<br />
análise modal experimental é a medida da resposta ou da excitação rotacional.<br />
Segundo os autores, por muitos anos este problema foi tido como de solução nãotrivial.<br />
BREGANT; SANDERSON (2000) observam que a história das medidas e da<br />
excitação de graus de liberdade rotacionais é relativamente curta, quando comparadas<br />
aos graus de liberdade de translação, basicamente por dois motivos: a) eles não eram<br />
considerados importantes e não eram vistos como necessários na construção do<br />
modelo de resposta da estrutura; e b) porque são mais difíceis de medir, requerem<br />
mais esforço e possuem menos precisão. LOFRANO (2003) discute e aplica diversas<br />
técnicas experimentais para a determinação de FRFs angulares com aplicações em<br />
estruturas do tipo viga; procedimentos baseados em acelerômetros piezelétricos,<br />
vibrômetros a laser e sensores dedicados.<br />
Entre as diversas proposições de solução dos problemas, envolvendo<br />
transdutores ou excitadores especiais, há uma alternativa muito simples e baseada<br />
nos sensores e equipamentos convencionais. A técnica consiste em usar um par de<br />
acelerômetros uniaxiais colocados a uma pequena distância um do outro, fixados à<br />
estrutura, ou fixados a um acessório auxiliar na forma de “T”, que é solidarizado à<br />
estrutura. Neste caso, torna-se necessário um cuidado adicional em relação à<br />
flexibilidade das barras em balanço do acessório, com vistas a peça comportar-se<br />
como um corpo rígido e não influencie, pelo seu próprio movimento, a resposta dos<br />
sensores. A Figura ilustra o esquema de construção do conjunto.<br />
S<br />
S<br />
ẍ A<br />
S<br />
ẍ<br />
P<br />
S<br />
ẍ B<br />
ẍ A ẍ P ẍ B<br />
¨θ P<br />
θ¨<br />
P<br />
P<br />
P<br />
Figura 25 - Arranjo para medição da resposta rotacional.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
66<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />
Assume-se, por fim, a hipótese de se calcular a translação e a rotação do<br />
ponto P da estrutura pelas expressões.<br />
&&<br />
xP<br />
&& xB<br />
+ && x<br />
= A<br />
(3)<br />
2<br />
&<br />
&& xB<br />
− && x<br />
θ<br />
A<br />
P =<br />
(4)<br />
2 s<br />
MAIA et al. (1997) advertem que um dos problemas associados a esta técnica<br />
relaciona-se ao fato de que a diferença de aceleração dada pela eq. (4) pode ser da<br />
mesma ordem de grandeza dos erros e ruídos inerentes à medição dos dados.<br />
EWINS (2000) pondera, adicionalmente, que um dos grandes problemas deste<br />
procedimento é que a amplitude do sinal devido aos movimentos de translação pode<br />
se sobrepor aos movimentos rotacionais. Por exemplo, a diferença de aceleração<br />
expressa na eq. (4), que corresponde usualmente de 1 a 2% dos valores individuais,<br />
podendo ser até inferior à sensibilidade transversal dos acelerômetros (sensibilidade<br />
cruzada), comprometendo a resposta que foi avaliada. Contudo, a despeito desta<br />
dificuldade, muitas aplicações de sucesso têm sido realizadas com esta metodologia.<br />
Baseado nas ponderações anteriores, planejou-se, neste trabalho, uma<br />
seqüência de procedimentos para a obtenção da rigidez da ligação da forma direta,<br />
constituída dos seguintes passos:<br />
Fixação de acelerômetros no pilar, um em cada lado, segundo as direções x e z ,<br />
alternadamente (Figura 26). Também foram postos os sensores na chapa de base<br />
(apenas na direção x ) a fim de constatar a diferença de resposta;<br />
Excitação da estrutura com um sinal senoidal, de freqüência determinada;<br />
Medição da excitação imposta (força) e das respostas dos acelerômetros (aceleração)<br />
no domínio do tempo;<br />
Cálculo das respostas dos sensores, em termos de deslocamento, no domínio do<br />
tempo. A expressão que relaciona a aceleração e o deslocamento de cada<br />
&&<br />
acelerômetro é dada por x = x , onde ω é a freqüência da excitação imposta (em<br />
2<br />
ω<br />
rad/s);<br />
∆x<br />
Cálculo do ângulo de rotação do pilar θ = , onde ∆ x é o deslocamento relativo<br />
2 s<br />
entre os dois acelerômetros, e 2 s a distância entre eles;<br />
Cálculo do momento M na base do pilar, diretamente proporcional à amplitude da<br />
força de excitação e do seu ponto de aplicação, e também considerando o fator de<br />
amplificação dinâmica ( D ) – função da freqüência natural, freqüência de excitação e<br />
do amortecimento estrutural;<br />
Cálculo da rigidez à flexão K pela expressão K = M , onde M é o momento aplicado<br />
θ<br />
na base do pilar, e θ é o ângulo de rotação calculado no passo anterior.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />
67<br />
acelerômetro<br />
Figura 26 - Posicionamento dos acelerômetros nas laterais do pilar.<br />
O pórtico fissurado será adotado como exemplo de cálculo, consideradas a<br />
excitação na direção x e as respostas na direção y . A Figura 27 mostra o sinal dos<br />
acelerômetros, em g , e a Figura 28 apresenta esta resposta convertida em<br />
&&<br />
deslocamento, na unidade de metros, através da expressão x = x . Ressalte-se que<br />
ω<br />
o intervalo de tempo apresentado nos gráficos corresponde a 0,1 s (1 a 1,1 s)<br />
meramente para facilitar a visualização das curvas, mas o período total de<br />
amostragem foi superior (cerca de 1,6 s e após realizada as diversas aquisições para<br />
o cálculo da média).<br />
No caso em questão, ω = 420,97 rad = 2π × 67 Hz.<br />
freqüência configurada para a geração do sinal senoidal pelo excitador.<br />
2<br />
f exc = 67 Hz foi a<br />
Figura 27 - Resposta dos acelerômetros (em g).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
68<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />
Figura 28 - Resposta dos acelerômetros (em m).<br />
Calcula-se o deslocamento relativo entre os acelerômetros pelos picos da<br />
curva apresentada na Figura 28 e determina-se a rotação em relação à posição<br />
original, considerando a distância 2 s entre eles.<br />
∆ x = 7,60 × 10 -6 m (tomando-se os valores médios de pico)<br />
2 s = 1,94 × 10 -1 m<br />
resulta: θ = 3,918 × 10 -5 rad<br />
A Figura 29 ilustra o sinal medido da força de excitação. Neste caso, f exc =<br />
67 Hz, sendo f 1 = 67,5 Hz, determinada pelo ensaio de varredura.<br />
Figura 29 - Excitação senoidal imposta.<br />
F = 33,4 N (amplitude máxima da força aplicada). Calcula-se, em seguida, o<br />
momento dinâmico na ligação:<br />
Pela análise estática da estrutura: F = 1 N ⇒ M = 0,1392 N.m, considerando<br />
molas nas ligações com K = 2.500 kN.m/rad e uma rigidez fração da bruta, em função<br />
da fissuração.<br />
Assim, tem-se: M = 4,65 N.m (momento na base do pilar)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />
69<br />
Levando em conta:<br />
f exc = 67 Hz<br />
f 1 = 67,5 Hz<br />
ξ = 2,30 % (determinado pelo método Multi-Modos de identificação dos<br />
parâmetros)<br />
chega-se a: D = 20,84 (fator de amplificação dinâmico)<br />
e daí: M din = 96,89 N.m (momento dinâmico na base do pilar = D ⋅ M )<br />
Com D = 20,84 e a Figura 29, obtém-se a curva de M din na base do pilar<br />
(Figura 30).<br />
Figura 30 - Momento<br />
M din na base do pilar.<br />
A partir dos valores do momento e da rotação, determina-se:<br />
K mZ = M din / θ<br />
−5<br />
K mZ = 96,89 / 3,918×<br />
10<br />
K mZ = 2.473 kN.m/rad<br />
Semelhante ao valor de rigidez encontrado no método indireto, via calibração<br />
do modelo de elementos finitos. Os demais valores de rigidez, para o outro pórtico e<br />
para a direção Z, além de suas correlações em relação ao fator de rigidez γ, são<br />
indicados nas Tabelas 10 e 11.<br />
Nas tabelas são adotados também diferentes valores para as taxas de<br />
amortecimento (ξ), calculadas pelo método do decremento logarítmico (DL) e pelo<br />
método multi-modos (MM). Lembra-se que as rigidezes encontradas pelo método<br />
indireto − calibração do modelo numérico − são:<br />
K m Z = 2.500 kN.m/rad<br />
K m X<br />
= 550 kN.m/rad<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
70<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />
Tabela 10 - Valores da rigidez K mZ determinados pelo método direto<br />
PÓRTICO<br />
ξ (em %)<br />
K mZ<br />
(DIREÇÃO)<br />
(MÉTODO) (kN.m/rad)<br />
γ<br />
ÍNTEGRO<br />
2,4 (MM) 1.817 0,23<br />
(XY) 1,75 (DL) 2.492 0,29<br />
FISSURADO<br />
2,3 (MM) 2.473 0,32<br />
(XY) 1,48 (DL) 3.609 0,41<br />
Obs. Referência K m Z = 2.500 kN.m/rad (ÍNTEGRO: γ = 0,30; FISSURADO: γ =<br />
0,32)<br />
Tabela 11 - Valores da rigidez KmX determinados pelo método direto<br />
PÓRTICO<br />
ξ (em %)<br />
K mX<br />
(DIREÇÃO)<br />
(MÉTODO) (kN.m/rad)<br />
γ<br />
ÍNTEGRO<br />
2,1 (MM) 421 0,26<br />
(Z) 1,75 (DL) 505 0,30<br />
FISSURADO<br />
1,8 (MM) 272 0,21<br />
(Z) 1,75 (DL) 330 0,24<br />
Obs. Referência K m Z = 550 kN.m/rad (ÍNTEGRO: γ = 0,30; FISSURADO: γ =<br />
0,33)<br />
Os valores da rigidez da ligação, calculados pelo método direto, apresentamse<br />
similares àqueles determinados pelo método indireto. Esta semelhança torna-se<br />
mais evidente quando se analisa o coeficiente de rigidez γ, o qual dá uma medida mais<br />
precisa do que o número absoluto. A Figura 31 indica o intervalo no qual recai a<br />
rigidez K m Z calculada.<br />
1,5<br />
1,4<br />
1,3<br />
1,2<br />
1,1<br />
1,0<br />
0,9<br />
0,8<br />
0,7<br />
0,6<br />
0,5<br />
0,4<br />
0,3<br />
0,2<br />
0,1<br />
0,0<br />
0,0<br />
0,5 EI/L<br />
0,1 0,2<br />
2 EI/L 6 EI/L 25 EI/L<br />
0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0<br />
Fator de Rigidez γ<br />
Zona I Zona II<br />
Zona III Zona IV Zona V<br />
Figura 31 - Região dos valores de<br />
K m Z .<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />
71<br />
7 CONCLUSÕES<br />
Os estudos e ensaios realizados indicaram, para a rigidez da ligação de base,<br />
os seguintes valores:<br />
1) Modelos analíticos<br />
K m Z = 2.000 a 3.000 kN.m/rad (γ = 0,25 a 0,36)<br />
2) Ensaios estáticos<br />
K m Z = 1.050 (a 500) kN.m/rad (γ = 0,17 a 0,08)<br />
3) Ensaios dinâmicos (processo indireto – calibração do modelo)<br />
K m Z = 2.500 kN.m/rad (γ = 0,32)<br />
K m X = 550 kN.m/rad (γ = 0,33)<br />
4) Ensaios dinâmicos (processo direto – avaliação dos sinais)<br />
K m Z = 1.800 a 3.600 kN.m/rad (γ = 0,23 a 0,41)<br />
K m X = 270 a 505 kN.m/rad (γ = 0,20 a 0,31)<br />
Os resultados dos ensaios dinâmicos, sejam pelo processo direto ou indireto,<br />
para a rigidez K m Z ou K m X , assemelham-se bastante. Tais diferenças podem se<br />
maximizadas ou minimizadas com a alteração dos parâmetros utilizados, destacandose<br />
uma forte sensibilidade no processo direto.<br />
Todavia, empregando-se o fator de rigidez γ, percebe-se que todos os cálculos<br />
e aquisições referenciam uma ligação essencialmente dentro da Zona II (semi-rígida<br />
com baixa resistência à flexão; 0,14<br />
≤ γ ≤ 0, 40 ). Ou seja: qualitativamente, a ligação<br />
possui a mesma característica, independentemente do seu valor absoluto ter<br />
apresentado significativas diferenças entre os diversos modelos e ensaios.<br />
Os modelos constitutivos de Mazars e La Borderie mostram-se adequados<br />
para a simulação de estruturas de concreto, submetidas a cargas estáticas e<br />
dinâmicas. Tão importante quanto a teoria empregada nos modelos, é a definição<br />
correta dos vínculos.<br />
Importa que os trabalhos futuros sobre as ligações semi-rígidas, ou os estudos<br />
sobre o estado de fissuração de elementos e/ou estruturas, contemplem os ensaios<br />
dinâmicos e a melhor definição do comportamento do material (especialmente se for o<br />
concreto). Relativamente às pesquisas já encerradas, pode-se empregar estas<br />
ferramentas, caso tenha-se a intenção de revisitá-las.<br />
Os ensaios numéricos, quando utilizados para a validação de resultados<br />
experimentais, não devem prescindir do estudo das condições de contorno e da<br />
correta caracterização do material com ensaios controlados. É necessário, assim, que<br />
os estudiosos desta linha de pesquisa enveredem também pela experimentação física.<br />
8 AGRADECIMENTOS<br />
Aos colegas Engs. Leopoldo Oliveira, Marcelo Ferreira e Francisco Adriano de<br />
Araújo, e Prof. Associado Paulo Sérgio Varoto, que muito ajudaram em diferentes<br />
etapas das análises experimentais e computacionais. A UFRN e CAPES, pelo<br />
sustento financeiro, sem o qual esta pesquisa não poderia ter sido realizada, e a<br />
FAPESP pela outorga de recursos do projeto de pesquisa aprovado.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
72<br />
Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />
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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>
ISSN 1809-5860<br />
ANÁLISE TEÓRICA E EXPERIMENTAL DE PILARES<br />
DE CONCRETO ARMADO SOB AÇÃO DE FORÇA<br />
CENTRADA<br />
Walter Luiz Andrade de Oliveira 1 & José Samuel Giongo 2<br />
Resumo<br />
O objetivo primordial da pesquisa foi obter informações a respeito do comportamento<br />
dúctil de pilares submetidos à compressão centrada moldados com concreto de<br />
resistência média à compressão de 40MPa. Os resultados obtidos experimentalmente<br />
foram confrontados com os da análise numérica e se mostraram satisfatórios. O modelo<br />
adotado para análise teórica considerou as equações de equilíbrio que regem a<br />
segurança da seção transversal e o comportamento do pilar confinado. Para o<br />
desenvolvimento da parte experimental foram ensaiados 16 modelos de concreto<br />
armado: quatro com dimensões da seção transversal de 200mm×200mm e altura de<br />
1200mm e doze com dimensões da seção transversal de 150mm×300mm e altura de<br />
900mm, que apresentaram melhora no comportamento dúctil diretamente influenciada<br />
pelo aumento da taxa de armadura transversal. Foi verificado que o comportamento de<br />
pilares torna-se frágil com o aumento da resistência à compressão, assim foi gerada<br />
uma superfície que mostra o comportamento dúctil de pilares em função da taxa de<br />
armadura transversal e da resistência à compressão do concreto. Moldaram-se<br />
também, oito modelos não armados para determinação do coeficiente k 2 , que leva em<br />
consideração a estimativa da resistência do concreto na estrutura, quando avaliada por<br />
meio de corpos-de-prova cilíndricos, e verificou-se que o valor desta variável diminui<br />
com o aumento da resistência à compressão do concreto, como sugere a norma<br />
Norueguesa. A utilização da variável k 2 em função da resistência do concreto torna<br />
possível o dimensionamento de pilares de concreto de alta resistência considerando-se<br />
a seção íntegra ao invés da seção do núcleo.<br />
Palavras-chave: pilares; concreto armado; compressão centrada.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Ao longo dos anos em que o concreto tem sido utilizado como material<br />
estrutural, em poucas oportunidades, visto a quantidade de estruturas construídas<br />
com concreto no mundo, sua resistência à compressão superou os 30MPa. Contudo<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, wluiz@sc.usp.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jsgiongo@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
76<br />
Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />
observa-se que, atualmente, há maior preocupação com a durabilidade das estruturas<br />
de concreto armado e existe a necessidade de que os edifícios tenham áreas livres<br />
maiores, portanto com pilares mais afastados e com ações de intensidades maiores e,<br />
com isto, a necessidade de adotar concretos com resistência de 30MPa a 50MPa<br />
intensificou-se.<br />
Por trabalharem submetidos preponderantemente a tensões de compressão,<br />
os pilares de edifícios têm seus comportamentos definidos pelas propriedades<br />
mecânicas do concreto, quais sejam resistência e deformação. Esse fato torna a<br />
ductilidade desses elementos estruturais sensível ao valor da resistência e ao<br />
comportamento do respectivo diagrama tensão-deformação. Observa-se que, quando<br />
concretos com maiores resistências são usados em pilares, a ductilidade desses<br />
elementos estruturais é reduzida e suas ruínas ficam definidas pela ruptura do<br />
concreto com pequenas deformações. Assim, a redistribuição de esforços solicitantes,<br />
capaz de evitar o colapso de uma edificação, quando da ruína do pilar, fica<br />
comprometida.<br />
O aumento da taxa de armadura transversal nos pilares não implica em<br />
ganho direto de resistência do elemento estrutural. A força de compressão axial<br />
atuante no pilar conduz à deformação transversal do elemento que, por sua vez,<br />
solicita a armadura transversal criando, como reação, pressão lateral sobre o núcleo<br />
de concreto, ductilizando o pilar.<br />
Deste modo, a maior quantidade de armadura transversal e o maior limite de<br />
escoamento desta armadura farão com que a pressão lateral exercida no núcleo de<br />
concreto aumente e, com isso, a resistência do pilar na direção axial cresça. O modo<br />
como a armadura transversal é solicitada, em pilares cintados, cria esforços que<br />
resultam no descolamento do cobrimento de concreto das armaduras (MÖRSCH,<br />
[14]).<br />
Para representar o comportamento do confinamento em pilares, para a<br />
resistência média à compressão do concreto de 40MPa, foi utilizado o modelo teórico<br />
desenvolvido por Cusson e Paultre [6], que foi modificado por Lima Júnior [11]. Foi<br />
realizada também uma análise computacional na qual utilizou-se programa<br />
desenvolvido pelos professores Ney Augusto Dumont e Giuseppe Barbosa<br />
Guimarães, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e que foi composto<br />
por dissertações de Mestrado dessa instituição, baseado no método dos elementos<br />
finitos que leva em consideração a não linearidade física do material, a não<br />
linearidade geométrica da estrutura e o efeito exercido pelo confinamento. A<br />
implementação do modelo teórico de confinamento, no programa citado, foi feita por<br />
Lima Júnior [11].<br />
2 O ESTUDO DO CONCRETO CONFINADO<br />
A armadura de confinamento é muito utilizada em pilares de concreto<br />
armado, com o objetivo de aumentar a capacidade resistente e melhorar o seu<br />
comportamento no tocante à ductilidade. Cusson e Paultre [4] explicam que isso<br />
acontece pelo fato de que a distribuição das tensões de confinamento<br />
longitudinalmente, entre os estribos, acontece em forma de arco. Desse modo, o<br />
espaçamento entre os estribos deixa um volume de concreto sem confinamento, que<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />
77<br />
pode desprender-se da peça durante o carregamento da estrutura por causa do<br />
gradiente interno de tensões.<br />
Claeson e Gyltoft [3] observaram por meio de ensaios de pilares de seção<br />
quadrada que, quanto menor for o espaçamento entre os estribos mais eficiente será<br />
o efeito do confinamento, melhorando a ductilidade dos pilares. Dessa forma, pode-se<br />
diminuir o diâmetro da barra do estribo e o espaçamento entre os mesmos, mantendo<br />
uma mesma taxa de armadura transversal, obtendo no final um pilar com<br />
comportamento mais dúctil.<br />
O ACI-441 [1] apresenta um diagrama do comportamento de pilares de<br />
concreto de alta resistência submetidos à compressão centrada (figura 1). Neste<br />
diagrama pode-se observar que o comportamento pós-pico dos pilares é diretamente<br />
influenciado pelo confinamento.<br />
F<br />
Força axial<br />
A<br />
B<br />
Baixo índice de<br />
confinamento<br />
Alto índice de<br />
confinamento<br />
Médio índice de<br />
confinamento<br />
Deformação axial<br />
ε c<br />
Figura 1 – Comportamento esquemático dos pilares de concreto de alta resistência sob<br />
compressão centrada. ACI-441 [1].<br />
O trecho ascendente do diagrama é praticamente linear até<br />
aproximadamente 90% da força máxima, correspondente ao ponto A. Segundo<br />
Cusson e Paultre [5], nesse trecho a armadura de confinamento praticamente não<br />
colabora, sendo exigida com 50% de sua tensão de escoamento. O ponto A<br />
corresponde ao descolamento do cobrimento, que ocasiona uma perda de resistência,<br />
levando o diagrama ao ponto B. A diferença entre as forças correspondentes aos<br />
pontos A e B é influenciada diretamente pela espessura do cobrimento e pela<br />
quantidade de armadura transversal, e varia, aproximadamente, entre 10% e 15%.<br />
Após o ponto B, a expansão do concreto atinge seu valor máximo e o comportamento<br />
do pilar torna-se função da quantidade de armadura de confinamento.<br />
O estudo da modelagem do concreto confinado teve início em 1955, quando<br />
Chan (apud Sheikh, [23]) propôs equações para avaliar a resistência do concreto<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
78<br />
Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />
confinado e sua deformação. Estudos posteriores levaram à formulação de modelos<br />
que procuravam descrever o comportamento de pilares de concreto armado<br />
submetidos à compressão simples. A maioria deles baseou-se em estudos<br />
experimentais com pilares de concreto de resistência normal, mas nos últimos anos<br />
houve uma intensificação nos estudos a respeito do comportamento do concreto de<br />
alta resistência. Alguns modelos conhecidos são os de Roy e Sozen (1964, apud<br />
Sheikh, [23]), Sargin et alli [22], Kent e Park [9], Park et alli [17], Sheikh e Uzumeri<br />
[24], Mander et alli [13], Saatcioglu e Razvi [21], Cusson e Paultre [6], Légeron e<br />
Paultre [10] e Lima Júnior [11].<br />
O programa computacional que foi utilizado baseia-se no modelo proposto<br />
por Cusson e Paultre [6], mostrado na figura 2, e que foi modificado por Lima Júnior<br />
[11]. O modelo original baseou-se num programa experimental no qual foram<br />
ensaiados 50 pilares, sendo que 30 foram ensaiados por Cusson e Paultre [5] e 20<br />
por Nagashima et alli [15]. O modelo original é limitado a pilares de seção quadrada.<br />
f c<br />
A<br />
0,5<br />
⋅<br />
0,5<br />
⋅<br />
f cc<br />
f co<br />
f cc<br />
f co<br />
a<br />
b<br />
Concreto não<br />
confinado<br />
Concreto<br />
confinado<br />
B<br />
C<br />
O<br />
E c<br />
ε co ε c50u<br />
εcc<br />
c<br />
ε c50 c<br />
ε<br />
Figura 2 – Modelo proposto por Cusson e Paultre [6].<br />
O trecho ascendente (OA) do diagrama tensão vs. deformação proposto por<br />
Cusson e Paultre [6], é descrito por uma equação proposta por Popovics [18] –<br />
equação 1.<br />
σ<br />
⎛ ε<br />
β ⋅<br />
⎜<br />
⎝ ε<br />
c<br />
ccf<br />
=<br />
β<br />
f ccf ⎛ εc<br />
⎞<br />
(1)<br />
( β −1)<br />
c<br />
+<br />
⎜<br />
⎝ ε<br />
⎞<br />
⎟<br />
⎠<br />
ccf<br />
⎟<br />
⎠<br />
na qual, ε c é a deformação em um ponto qualquer do diagrama, ε ccf é a deformação<br />
correspondente à tensão máxima e β é um coeficiente expresso pela equação 2.<br />
β =<br />
E<br />
c<br />
E<br />
c<br />
⎛ f<br />
−<br />
⎜<br />
⎝ ε<br />
ccf<br />
ccf<br />
⎞<br />
⎟<br />
⎠<br />
(2)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />
79<br />
Para o trecho descendente (ABC) utiliza-se uma equação proposta por Fafitis<br />
e Shah [7] – equação 3,<br />
σ<br />
f<br />
c<br />
ccf<br />
= exp k<br />
[ ( ) ]<br />
k 22<br />
11 ⋅ ε c − εccf<br />
na qual k 11 é o coeficiente responsável pela inclinação da curva, tendo sido ajustado<br />
para passar pelo ponto ( ε c50c, 0,5 ⋅ fcc<br />
) e k 22 é um coeficiente que foi obtido por análise<br />
de regressão e é responsável pela curvatura. Esses coeficientes são calculados pelas<br />
equações 4 e 5, a seguir:<br />
k<br />
11<br />
=<br />
ln( 0,5 )<br />
( ε − ε<br />
k<br />
) 22<br />
c50c<br />
cc<br />
(3)<br />
(4)<br />
k<br />
22<br />
⎛ f<br />
= 0,58 + 16 ⋅<br />
⎜<br />
⎝ f<br />
le<br />
c<br />
⎞<br />
⎟<br />
⎠<br />
1,4<br />
(5)<br />
Lima Júnior [11], modificou o modelo de Cusson e Paultre [6]. Para o modelo,<br />
a resistência do concreto nas estruturas pode ser calculada a partir da equação 6.<br />
f<br />
= k ⋅<br />
c f cj<br />
(6)<br />
na qual f cj é a resistência medida por meio de ensaio à compressão de corpos-deprova<br />
cilíndricos de 15cm×30cm e k é um coeficiente calculado de acordo com a<br />
equação 7,<br />
k = k<br />
1 ⋅k<br />
2 ⋅k<br />
3<br />
(7)<br />
sendo que k 1 leva em conta o acréscimo de resistência do concreto após 28 dias, k 2<br />
considera a estimativa da resistência do concreto na estrutura, quando avaliadas por<br />
meio dos corpos-de-prova cilíndricos, e k 3 considera a diminuição da resistência do<br />
concreto para ações de longa duração. Na falta de dados experimentais pode-se<br />
adotar k 1 =1,2, k 2 =0,95 e k 3 =0,75 (FUSCO, [8]). A norma Norueguesa – NS 3473 E [16]<br />
– não considera o valor de k 2 constante, ela apresenta a tabela 1 que compara os<br />
valores de resistência do concreto na estrutura com os valores obtidos por meio de<br />
ensaio de corpos-de-prova cilíndricos.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
80<br />
Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />
Tabela 1 – Resistência à compressão do concreto em MPa<br />
Concretos<br />
C15 C25 C<strong>35</strong> C45 C55 C65 C75 C85 C95 C105<br />
Resistência do corpo-deprova<br />
cilíndrico – f c,cp<br />
12 20 28 36 44 54 64 74 84 94<br />
Resistência do concreto<br />
11,2 16,8 22,4 28,0 33,6 39,2 44,8 50,4 56,0 61,6<br />
na estrutura – f cn<br />
fcn<br />
k 2 = 0,93 0,84 0,80 0,78 0,76 0,73 0,70 0,68 0,67 0,66<br />
f<br />
c,cp<br />
Fonte: NS 3473 E (1992) [16]<br />
Com esses dados, fez-se análise de regressão logarítmica e obteve-se a<br />
equação 8, que correlaciona o coeficiente k 2 com a resistência do concreto:<br />
k 2 = − 0,136074 ⋅ ln fcj<br />
+<br />
( ) 1, 34711<br />
(8)<br />
Para realizar as modificações no modelo de Cusson e Paultre [6] foi utilizada<br />
a equação 8. Para o modelo de Cusson e Paultre [6] foram realizados ensaios com<br />
pilares com altas taxas de confinamento e com isso foi obtida a equação 5. Para os<br />
modelos ensaiados por Lima Júnior [11] as taxas de armaduras transversais não<br />
ultrapassaram as utilizadas por Cusson e Paultre [6], e algumas delas são as mínimas<br />
permitidas pela NBR 6118:2003 [2].<br />
Assim, Lima Júnior [11], verificou uma incoerência no modelo de Cusson e<br />
Paultre [6], que calculam o coeficiente k 22 segundo a equação 5 e sugerem o valor de<br />
1,5 para o valor desse coeficiente quando o concreto não possuir confinamento, ou<br />
f<br />
seja a relação le f<br />
= 0 . Ao substituir le = 0 , encontra-se k 22 =0,58.<br />
fc<br />
fc<br />
Dessa maneira, acrescentando alguns pontos com baixas taxas de<br />
confinamento aos de Cusson e Paultre [6], e fazendo uma regressão polinomial de<br />
segundo grau, foi obtida a equação 9, com coeficiente de correlação, r 2 , de 92%,<br />
k<br />
2<br />
⎛ fle<br />
⎞ ⎛ fle<br />
⎞<br />
0,789<br />
22 = 1,344 − 8,864 ⋅<br />
⎜ + 41,455 ⋅ + 0,525 ⋅R<br />
f<br />
⎟<br />
⎜<br />
c<br />
f<br />
⎟<br />
c<br />
⎝<br />
⎠<br />
⎝<br />
⎠<br />
(9)<br />
na qual, R é o índice de reforço com a adição de fibras de aço. Neste trabalho<br />
considerou-se R=0.<br />
O diagrama tensão vs. deformação resultante das modificações feitas, é<br />
traçado seguindo os seguintes passos:<br />
1 - considerou-se a seção transversal resistente do pilar como sendo a seção<br />
íntegra, ignorando-se o efeito do confinamento;<br />
2 - considerou-se a seção transversal resistente do pilar como sendo apenas<br />
a seção do núcleo do pilar delimitada pelos ramos mais externos dos estribos, e a<br />
pressão lateral de confinamento deve ser calculada considerando a deformação da<br />
armadura transversal dada pela equação 10;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />
81<br />
3 - o diagrama resultante é formado pelas linhas externas dos dois diagramas<br />
obtidos nos procedimentos 1 e 2,<br />
ε<br />
tcc<br />
= ν ⋅ ε<br />
cc<br />
⎛ f<br />
− ⎜<br />
⎝<br />
le<br />
− ν ⋅<br />
E<br />
c,sec<br />
f<br />
le<br />
⎞<br />
⎟<br />
⎠<br />
(10)<br />
sendo que, ε tcc é a deformação na armadura de confinamento, ν é o coeficiente de<br />
Poisson do concreto confinado, no ponto correspondente à máxima tensão e que pode<br />
ser tomado como 0,5; E c,sec é o módulo de elasticidade secante do concreto no ponto<br />
de máxima tensão do concreto confinado; f le é a pressão efetiva de confinamento,<br />
dada pela equação 11;<br />
com,<br />
e,<br />
f<br />
= K<br />
⋅<br />
le<br />
e f l<br />
K<br />
e<br />
∑<br />
2<br />
⎛ w<br />
⎜<br />
i<br />
i<br />
⎜1−<br />
⎜ 6 ⋅ c x ⋅ c<br />
=<br />
⎝<br />
y<br />
⎞<br />
⎟ ⎛<br />
⎟ ⋅<br />
⎜1−<br />
⎟ ⎝ 2 ⋅ c<br />
⎠<br />
1− ρ<br />
( s − φ ) ⎞ ⎛ ( s − φ )<br />
l<br />
t<br />
x<br />
⎜<br />
⎟ ⋅ 1−<br />
⎠ ⎝<br />
2 ⋅ c<br />
y<br />
t<br />
⎞<br />
⎟<br />
⎠<br />
(11)<br />
(12)<br />
f f ⎛ A stx + A ⎞<br />
tcc<br />
sty<br />
= ⋅ ⎜ ⎟<br />
l<br />
s<br />
⎝<br />
c x + c y ⎠<br />
(13)<br />
sendo que, f tcc é a tensão na armadura transversal de confinamento; s é a distância de<br />
centro a centro entre estribos; A stx e A sty são as áreas da seção transversal das<br />
armaduras de confinamento, perpendiculares aos eixos x e y, respectivamente; c x e c y<br />
são as larguras do núcleo do pilar, nas direções x e y, respectivamente; w i são os<br />
espaços entre as armaduras longitudinais; φ t é o diâmetro dos estribos; e ρ l é a taxa de<br />
armadura longitudinal, em relação ao núcleo do pilar.<br />
O diagrama resultante é representado na figura 3.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
82<br />
Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />
f c<br />
Diagrama resultante<br />
Modelagem com a seção<br />
transversal do núcleo<br />
Modelagem com a seção<br />
transversal íntegra<br />
ε<br />
Figura 3 – Modificação do modelo de Cusson e Paultre por Lima Júnior .<br />
3 DESCRIÇÃO DOS ENSAIOS REALIZADOS<br />
Foram ensaiados 16 modelos: quatro com dimensões da seção transversal<br />
de 200mm×200mm e altura de 1200mm (série P1) e doze com dimensões da seção<br />
transversal de 150mm×300mm e altura de 900mm (séries P2, P3 e P4), como pode<br />
ser visto na tabela 2.<br />
Junto às extremidades dos pilares foram dispostas armaduras de fretagem<br />
compostas por 6 estribos de diâmetro 6,3mm espaçados de 2,5cm. O cobrimento do<br />
concreto foi de 1,5cm para todos os modelos.<br />
Na figura 4 são apresentados os arranjos de armadura transversal utilizados<br />
no programa experimental e uma vista lateral dos modelos de seção quadrada e<br />
retangular.<br />
A taxa de armadura transversal (ρ w ) foi calculada de acordo com a equação<br />
14, sugerida por Saatcioglu e Razvi [21].<br />
ρ<br />
w<br />
=<br />
s⋅<br />
∑ A s<br />
( b + b )<br />
cx<br />
cy<br />
na qual, A s é a área da seção transversal do estribo; s é o espaçamento entre estribos;<br />
b cx e b cy são as dimensões do núcleo do pilar, medidas de centro a centro dos estribos.<br />
Além desses modelos armados, foram analisados experimentalmente oito<br />
modelos não armados, quatro de seção quadrada e quatro de seção retangular, para<br />
verificar o valor da variável k 2 , que leva em consideração a estimativa da resistência<br />
do concreto nas estruturas, quando avaliadas por meio dos corpos-de-prova, e se o<br />
valor se aproxima de 0,95, como sugere Fusco [8].<br />
(14)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />
83<br />
Série P1<br />
Série P2<br />
Série P3<br />
150<br />
150<br />
200<br />
150<br />
145<br />
200<br />
15<br />
244<br />
300<br />
15<br />
50<br />
170<br />
170 50<br />
270<br />
Série P4<br />
120<br />
1200<br />
15<br />
25<br />
15<br />
150<br />
900<br />
75<br />
244<br />
300<br />
15<br />
244<br />
300<br />
15<br />
150<br />
50<br />
270<br />
50<br />
120<br />
120<br />
120<br />
50<br />
150<br />
120<br />
Dimensões em milímetros<br />
Figura 4 – Configuração das armaduras transversais e suas dimensões<br />
Tabela 2 – Propriedades geométricas dos modelos de pilares<br />
Modelo de Pilar<br />
Medidas da<br />
seção<br />
(mm×mm)<br />
Armadura transversal<br />
Φ t<br />
(mm)<br />
s<br />
(mm) ρ w (%)<br />
Armadura longitudinal<br />
Número de<br />
barras<br />
Φ l (mm) ρ l (%)<br />
P1 – 10,0-120 200×200 5,0 120 0,198 4 10,0 0,79<br />
P1 – 12,5-200 200×200 6,3 200 0,189 4 12,5 1,23<br />
P1 – 12,5-150 200×200 6,3 150 0,252 4 12,5 1,23<br />
P1 – 12,5-100 200×200 6,3 100 0,378 4 12,5 1,23<br />
P2 – 10,0-120 150×300 5,0 120 0,172 6 10,0 1,05<br />
P2 – 12,5-150 150×300 6,3 150 0,219 6 12,5 1,64<br />
P2 – 12,5-100 150×300 6,3 100 0,328 6 12,5 1,64<br />
P2 – 12,5-075 150×300 6,3 75 0,438 6 12,5 1,64<br />
P3 – 10,0-120 150×300 5,0 120 0,215 6 10,0 1,05<br />
P3 – 12,5-150 150×300 6,3 150 0,274 6 12,5 1,64<br />
P3 – 12,5-100 150×300 6,3 100 0,412 6 12,5 1,64<br />
P3 – 12,5-075 150×300 6,3 75 0,549 6 12,5 1,64<br />
P4 – 10,0-120 150×300 5,0 120 0,259 6 10,0 1,05<br />
P4 – 12,5-150 150×300 6,3 150 0,330 6 12,5 1,64<br />
P4 – 12,5-100 150×300 6,3 100 0,495 6 12,5 1,64<br />
P4 – 12,5-075 150×300 6,3 75 0,660 6 12,5 1,64<br />
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84<br />
Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />
Os modelos foram ensaiados com força estática controlada por deslocamento<br />
imposto. A taxa de deformação em todos os casos foi de 0,005mm/m⋅s no trecho<br />
ascendente do diagrama força vs. deformação, conforme especificação do RILEM TC<br />
148-CCS [20], e de 0,01mm/m⋅s no trecho descendente. O tempo de duração de cada<br />
ensaio foi de aproximadamente 25min. Dois colares metálicos foram dispostos nas<br />
extremidades dos modelos, figura 5, com a finalidade de suporte para a<br />
instrumentação e prevenção da ruína prematura dessa região. Foram dispostos 4<br />
LVDTs, junto ao colar, com 50mm de curso cada e sensibilidade de centésimos de<br />
milímetros, para medir as deformações longitudinais dos modelos.<br />
A figura 7 apresenta a fotografia do ensaio de um dos pilares de seção<br />
quadrada. A figura 8 apresenta a fotografia de um dos pilares de seção retangular. A<br />
figura 9 apresenta o ensaio de corpos-de-prova para determinação do módulo de<br />
elasticidade do concreto. A figura 10 apresenta o ensaio de um dos pilares não<br />
armados, que foi utilizado para determinar o valor da variável k 2 .<br />
Parafusos e<br />
porcas de<br />
alta<br />
resistência<br />
LVDT<br />
Figura 5 – Colar metálico e LVDTs.<br />
A instrumentação das armaduras foi feita como mostrado na figura 6.<br />
Detalhe<br />
Strain<br />
gage<br />
Figura 6 – Detalhe da instrumentação de um dos modelos da série P4<br />
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Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />
85<br />
Figura 7 – Ensaio do pilar P1-12,5-200<br />
Figura 8 – Ensaio do pilar P2-12,5-100<br />
Figura 9 – Ensaio para determinação do<br />
módulo de elasticidade do concreto<br />
Figura 10 – Ensaio de um pilar não armado<br />
4 RESULTADOS DOS ENSAIOS EXPERIMENTAIS E NUMÉRICOS<br />
4.1 Previsão da força última<br />
Os ensaios foram realizados no Laboratório de Estruturas do Departamento<br />
de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> da Universidade<br />
de São Paulo. O dispositivo utilizado foi a máquina com sistema hidráulico e controle<br />
eletrônico da marca INSTRON, que possibilitou a aquisição dos dados no trecho pós-<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
86<br />
Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />
pico para traçado do diagrama tensão vs. deformação, pois trabalha com taxa de<br />
deslocamento controlada.<br />
A força teórica resistente dos pilares foi calculada pela equação 15,<br />
F<br />
teo<br />
= A<br />
cc<br />
⋅ f<br />
c<br />
+ A<br />
s<br />
⋅ σ<br />
s<br />
(15)<br />
sendo que, A cc é a área da seção transversal de concreto (h x · h y ) subtraída a área de<br />
armadura longitudinal, f c é dado pela equação 6, As é a área de armadura longitudinal<br />
e σ s é a tensão na armadura no instante da ruptura do modelo determinado pela<br />
deformação nas barras da armadura do pilar e seu valor correspondente no diagrama<br />
tensão vs. deformação determinado nos ensaios das barras.<br />
O valor de f c é determinado pela resistência do concreto medida por meio de<br />
corpos-de-prova cilíndricos, multiplicado pelo coeficiente k, determinado pela equação<br />
7. Neste trabalho, os pilares foram ensaiados aos 14 dias de idade, portanto, os<br />
valores de k 1 e k 3 forão tomados iguais a 1. O valor de k 2 foi determinado pela relação<br />
entre a resistência medida em prismas de concreto e pela resistência medida por<br />
meio dos corpos-de-prova cilíndricos. A tabela 3 apresenta, entre outros dados, a<br />
previsão da força última nos pilares e os valores das forças últimas experimentais.<br />
Tabela 3 – Forças últimas teóricas e experimentais<br />
Modelo<br />
f cj<br />
(MPa)<br />
f c,prisma<br />
(MPa)<br />
h y<br />
(cm)<br />
h x<br />
(cm)<br />
A s<br />
(cm²)<br />
σ s<br />
(MPa)<br />
k 2<br />
F teo<br />
(kN)<br />
F exp<br />
(kN)<br />
P1-10,0-120 46,57 40,56 20 20 3,14 579,0 0,871 1791,42 1732,4 1,034<br />
P1-12,5-200 46,29 41,29 15 30 4,91 556,5 0,892 2110,73 1810,6 1,166<br />
P1-12,5-150 46,30 40,47 15 30 4,91 556,5 0,874 2074,46 1939,1 1,070<br />
P1-12,5-100 43,89 42,26 15 30 4,91 556,5 0,963 2154,13 1880,1 1,146<br />
P2-10,0-120 46,08 40,56 20 20 4,71 590,0 0,880 1881,20 2022,7 0,930<br />
P2-12,5-150 45,01 41,29 15 30 7,36 556,5 0,917 2237,18 23<strong>35</strong>,1 0,958<br />
P2-12,5-100 43,18 40,47 15 30 7,36 556,5 0,937 2201,11 1985,5 1,109<br />
P2-12,5-075 43,07 42,26 15 30 7,36 556,5 0,981 2280,34 2099,0 1,086<br />
P3-10,0-120 46,08 41,07 20 20 4,71 590,0 0,891 1901,48 2054,6 0,925<br />
P3-12,5-150 45,01 38,81 15 30 7,36 556,5 0,862 2127,63 2266,5 0,939<br />
P3-12,5-100 43,41 40,80 15 30 7,36 556,5 0,940 2215,72 2283,2 0,970<br />
P3-12,5-075 42,55 40,95 15 30 7,36 556,5 0,962 2222,36 2159,3 1,029<br />
P4-10,0-120 46,08 41,07 20 20 4,71 590,0 0,891 1901,48 1951,9 0,974<br />
P4-12,5-150 45,01 38,81 15 30 7,36 556,5 0,862 2127,63 2295,7 0,927<br />
P4-12,5-100 43,41 40,80 15 30 7,36 556,5 0,940 2215,72 2084,9 1,063<br />
P4-12,5-075 42,55 40,95 15 30 7,36 556,5 0,962 2222,36 2042,4 1,088<br />
F<br />
F<br />
teo<br />
exp<br />
0,91 1,026<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />
87<br />
4.2 Resultados numéricos<br />
Os valores das forças teóricas também foram calculados usando o modelo<br />
numérico (F num ) descrito anteriormente, considerando os dados da tabela 4. Os<br />
modelos numéricos foram simulados levando em conta a resistência medida nos<br />
corpos-de-prova cilíndricos, f cj , nos dias dos ensaios e os dados obtidos nos ensaios<br />
das barras de armadura utilizadas.<br />
Tabela 4 – Resumo dos resultados dos ensaios e do programa utilizado<br />
Modelo<br />
f cj<br />
(MPa)<br />
h y<br />
(cm)<br />
h x<br />
(cm)<br />
ρ w<br />
(%)<br />
A s<br />
(cm²)<br />
σ s<br />
(MPa)<br />
F num<br />
(kN)<br />
F exp<br />
(kN)<br />
P1-10,0-120 46,57 20 20 0,198 3,14 578,96 1683,83 1732,4 0,972<br />
P1-12,5-200 46,29 15 30 0,189 4,91 556,50 1771,41 1810,6 0,978<br />
P1-12,5-150 46,30 15 30 0,252 4,91 556,50 1767,91 1939,1 0,912<br />
P1-12,5-100 43,89 15 30 0,378 4,91 556,50 1699,36 1880,1 0,904<br />
P2-10,0-120 46,08 20 20 0,172 4,71 590,00 1936,66 2022,7 0,957<br />
P2-12,5-150 45,01 15 30 0,219 7,36 556,50 2043,04 23<strong>35</strong>,1 0,875<br />
P2-12,5-100 43,18 15 30 0,328 7,36 556,50 1984,24 1985,5 0,999<br />
P2-12,5-075 43,07 15 30 0,438 7,36 556,50 1980,70 2099,0 0,944<br />
P3-10,0-120 46,08 20 20 0,215 4,71 590,00 1936,66 2054,6 0,943<br />
P3-12,5-150 45,01 15 30 0,274 7,36 556,50 2043,04 2266,5 0,901<br />
P3-12,5-100 43,41 15 30 0,412 7,36 556,50 1991,55 2283,2 0,872<br />
P3-12,5-075 42,55 15 30 0,549 7,36 556,50 1963,91 2159,3 0,910<br />
P4-10,0-120 46,08 20 20 0,259 4,71 590,00 1936,66 1951,9 0,992<br />
P4-12,5-150 45,01 15 30 0,330 7,36 556,50 2043,04 2295,7 0,890<br />
P4-12,5-100 43,41 15 30 0,495 7,36 556,50 1991,55 2084,9 0,955<br />
P4-12,5-075 42,55 15 30 0,660 7,36 556,50 1963,91 2042,4 0,962<br />
F<br />
F<br />
num<br />
exp<br />
A diferença entre os valores das forças últimas calculadas pela equação 15<br />
(tabela 3) e numericamente (tabela 4) deve-se ao fato de a variável k 2 no modelo<br />
numérico ser determinada pela equação 8, e ser utilizado o método dos elementos<br />
finitos para discretização do problema.<br />
As figuras 11 a 14 apresentam os diagramas tensão vs. deformação dos<br />
pilares obtidos com os dados experimentais e numéricos.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
88<br />
Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />
-1800<br />
-1600<br />
-2200<br />
-2000<br />
-1400<br />
F experimental = 1732,4kN<br />
F numérico = 1683,83kN<br />
-1800<br />
-1600<br />
F experimental = 2099,0kN<br />
F numérico = 1980,7kN<br />
-1200<br />
-1400<br />
Força (kN)<br />
-1000<br />
-800<br />
Força (kN)<br />
-1200<br />
-1000<br />
-600<br />
-800<br />
-600<br />
-400<br />
-400<br />
-200<br />
-200<br />
0<br />
0<br />
0<br />
-1<br />
-2<br />
-3<br />
-4<br />
-5<br />
-6 -7 -8 -9<br />
Deformação (‰)<br />
-10<br />
-11<br />
-12<br />
-13<br />
-14<br />
-15<br />
0<br />
-1<br />
-2<br />
-3<br />
-4<br />
-5<br />
-6 -7 -8 -9<br />
Deformação (‰)<br />
-10<br />
-11<br />
-12<br />
-13<br />
-14<br />
-15<br />
Figura 11 – Curvas do pilar P1-10,0-120<br />
Figura 12 – Curvas do pilar P2-12,5-075<br />
-2400<br />
-2400<br />
-2200<br />
-2200<br />
-2000<br />
F experimental = 2266,5kN<br />
-2000<br />
F experimental = 2295,7kN<br />
-1800<br />
F numérico = 2043,04kN<br />
-1800<br />
F numérico = 2043,04kN<br />
-1600<br />
-1600<br />
Força (kN)<br />
-1400<br />
-1200<br />
-1000<br />
Força (kN)<br />
-1400<br />
-1200<br />
-1000<br />
-800<br />
-800<br />
-600<br />
-600<br />
-400<br />
-400<br />
-200<br />
-200<br />
0<br />
0<br />
0<br />
-1<br />
-2<br />
-3<br />
-4<br />
-5<br />
-6 -7 -8 -9<br />
Deformação (‰)<br />
-10<br />
-11<br />
-12<br />
-13<br />
-14<br />
-15<br />
0<br />
-1<br />
-2<br />
-3<br />
-4<br />
-5<br />
-6 -7 -8 -9<br />
Deformação (‰)<br />
-10<br />
-11<br />
-12<br />
-13<br />
-14<br />
-15<br />
Figura 13 – Curvas do pilar P3-12,5-150<br />
Figura 14 – Curvas do pilar P4-12,5-150<br />
5 DUCTILIDADE<br />
Ductilidade é a capacidade do material ou do elemento estrutural de se<br />
deformar inelasticamente sem perda brusca de resistência. Pesquisas têm apontado<br />
uma série de parâmetros que influenciam o comportamento de pilares com relação à<br />
ductilidade, sejam elas: taxa volumétrica de armadura transversal e sua resistência de<br />
escoamento e resistência à compressão do concreto.<br />
A quantificação da ductilidade foi feita seguindo a metodologia desenvolvida<br />
por Lima Júnior e Giongo [12], que calcula índices de ductilidade para os trechos<br />
ascendente e descendente do diagrama tensão vs. deformação. As equações são<br />
apresentadas a seguir:<br />
ID pré<br />
ε<br />
=<br />
ε<br />
p−pré<br />
máx<br />
(16)<br />
na qual,<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />
89<br />
ε<br />
p−pré<br />
2 ⋅<br />
=<br />
∫ ε<br />
0<br />
máx<br />
F<br />
f<br />
( ε )<br />
máx<br />
c<br />
dε<br />
c<br />
Fmáx<br />
−<br />
E ⋅ A<br />
c<br />
c<br />
(17)<br />
sendo, ε máx a deformação correspondente a força última; ε p-pré a deformação plástica<br />
de pré-pico; f(ε c ) o polinômio que representa a curva tensão vs. deformação<br />
experimental, obtido por meio de uma regressão polinomial; F máx a força última do<br />
elemento estrutural; A c a área da seção transversal do pilar; E c o módulo de<br />
elasticidade tangente na origem.<br />
ID pré varia de 0 (comportamento elástico-linear) a 2 (comportamento plásticoperfeito).<br />
ID<br />
c 2<br />
f<br />
máx<br />
pós = ∫ε ε<br />
εmáx<br />
( ε )<br />
c<br />
⋅F<br />
dε<br />
máx<br />
c<br />
(18)<br />
sendo, ε c2 igual a três vezes ε máx.<br />
ID PÓS varia de 0 (comportamento frágil-perfeito) a 2 (comportamento plásticoperfeito).<br />
A tabela 5 apresenta os índices de ductilidade calculados a partir dos dados<br />
experimentais e das equações propostas por Lima Júnior e Giongo [12].<br />
Tabela 5 – Índices de ductilidade<br />
Modelo ρ w (%) f cj (MPa) ID pré ID pós<br />
P1-10,0-120 0,198 46,57 1,341 0,640<br />
P1-12,5-200 0,189 46,29 1,313 0,593<br />
P1-12,5-150 0,252 46,30 1,316 0,666<br />
P1-12,5-100 0,378 43,89 1,282 0,962<br />
P2-10,0-120 0,172 46,08 1,328 0,801<br />
P2-12,5-150 0,219 45,01 1,233 0,844<br />
P2-12,5-100 0,328 43,18 1,336 0,995<br />
P2-12,5-075 0,438 43,07 1,421 1,049<br />
P3-10,0-120 0,215 46,08 1,267 0,691<br />
P3-12,5-150 0,274 45,01 1,318 1,008<br />
P3-12,5-100 0,412 43,41 1,300 1,166<br />
P3-12,5-075 0,549 42,55 1,372 1,323<br />
P4-10,0-120 0,259 46,08 1,269 0,955<br />
P4-12,5-150 0,330 45,01 1,307 0,870<br />
P4-12,5-100 0,495 43,41 1,309 1,516<br />
P4-12,5-075 0,660 42,55 1,310 1,6<strong>35</strong><br />
Aos dados experimentais deste trabalho foram acrescentados os resultados<br />
de pesquisas anteriores, para melhor definição da ductilidade pós pico em função da<br />
resistência do concreto e da taxa de armadura transversal. Foram tomados os dados<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
90<br />
Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />
das pesquisas de Lima Júnior [11], e Ramos [19] para o traçado de uma superfície<br />
(figura 15) que represente este parâmetro.<br />
ID pós<br />
ρ w<br />
(%)<br />
f cj (MPa)<br />
Figura 15 – Superfície que representa o índice de ductilidade em função da resistência do<br />
concreto e da taxa de armadura transversal.<br />
Essa superfície foi desenhada fazendo-se uma regressão polinomial<br />
considerando duas variáveis obtendo-se, assim, a equação 19, que apresenta uma<br />
correlação de 88,06% para os pontos fornecidos,<br />
ID<br />
pós<br />
= 1,91−<br />
0,052 ⋅ x + 2,49 ⋅ y + 0,0083 ⋅ x ⋅ y + 0,000338 ⋅ x<br />
2<br />
−1,7<br />
⋅ y<br />
2<br />
(19)<br />
sendo que, x representa a resistência do concreto f cj (MPa) e y a taxa de armadura<br />
transversal ρ w (%).<br />
Pode-se notar no gráfico que o índice de ductilidade é diretamente<br />
proporcional a taxa de armadura transversal e inversamente proporcional a resistência<br />
do concreto, assim, para que se tenha um comportamento dúctil em pilares de<br />
concreto de alta resistência, é necessária a utilização de uma maior taxa de armadura<br />
transversal para promover esse ganho de ductilidade.<br />
O ganho de ductilidade em virtude do aumento da taxa de armadura<br />
transversal, mantendo-se a resistência do concreto constante, pode ser observado<br />
nas figuras 16, 17, 18 e 19, para os pilares das séries P1, P2, P3 e P4,<br />
respectivamente, sendo que apenas os pilares com armadura longitudinal de 12,5mm<br />
de diâmetro foram analisados, para que não houvesse influência pela variação do<br />
diâmetro e pela taxa de armadura longitudinal. O que diferencia cada modelo em uma<br />
série é o espaçamento da armadura transversal.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />
91<br />
-2500<br />
-2500<br />
Modelos<br />
Modelos<br />
-2000<br />
P1-12.5-200<br />
P1-12.5-150<br />
P1-12.5-100<br />
-2000<br />
P2-12.5-150<br />
P2-12.5-100<br />
P2-12.5-075<br />
Força (kN)<br />
-1500<br />
-1000<br />
145<br />
200<br />
200<br />
15<br />
Força (kN)<br />
-1500<br />
-1000<br />
-500<br />
-500<br />
244<br />
300<br />
150<br />
15<br />
0<br />
0<br />
-1<br />
-2<br />
-3<br />
-4<br />
-5<br />
-6 -7 -8 -9<br />
Deformação (‰)<br />
-10<br />
-11<br />
-12<br />
-13<br />
-14<br />
-15<br />
0<br />
0<br />
-1<br />
-2<br />
-3<br />
-4<br />
-5<br />
-6 -7 -8 -9<br />
Deformação (‰)<br />
-10<br />
-11<br />
-12<br />
-13<br />
-14<br />
-15<br />
Figura 16 – Pilares da série P1<br />
Figura 17 – Pilares da série P2<br />
-2500<br />
-2500<br />
Modelos<br />
Modelos<br />
-2000<br />
P3-12.5-150<br />
P3-12.5-100<br />
-2000<br />
P4-12.5-150<br />
P4-12.5-100<br />
P3-12.5-075<br />
P4-12.5-075<br />
-1500<br />
-1500<br />
Força (kN)<br />
-1000<br />
Força (kN)<br />
-1000<br />
-500<br />
244<br />
300<br />
150<br />
15<br />
-500<br />
244<br />
300<br />
150<br />
15<br />
0<br />
0<br />
0<br />
-1<br />
-2<br />
-3<br />
-4<br />
-5<br />
-6 -7 -8 -9<br />
Deformação (‰)<br />
-10<br />
-11<br />
-12<br />
-13<br />
-14<br />
-15<br />
0<br />
-1<br />
-2<br />
-3<br />
-4<br />
-5<br />
-6 -7 -8 -9<br />
Deformação (‰)<br />
-10<br />
-11<br />
-12<br />
-13<br />
-14<br />
-15<br />
Figura 18 – Pilares da série P3<br />
Figura 19 – Pilares da série P4<br />
O pilar P1-12,5-200, que foi dimensionado fora das exigências da NBR<br />
6118:2003, apresentou o pior comportamento dentre todos os estudados. Com taxa<br />
de armadura transversal de 0,189%, apresentou índice de ductilidade pós pico igual a<br />
0,593, que caracteriza um comportamento frágil. Os outros pilares da série P1<br />
mostraram-se melhores, com índice de ductilidade de 0,962 para o P1-12,5-100.<br />
As diferenças entre as forças de pico para os pilares de uma mesma série<br />
devem-se ao fato que os mesmos foram moldados em dias diferentes. Apesar de ser<br />
usado o mesmo traço, as condições de temperatura e umidade influenciaram nas<br />
trabalhabilidades e, conseqüentemente, nas resistências finais dos modelos.<br />
Os pilares P4-12,5-100 e P4-12,5-075, com taxas de armaduras transversais<br />
iguais a 0,495% e 0,66%, respectivamente, apresentaram os melhores<br />
comportamentos no tocante a ductilidade. Seus índices de ductilidade superaram 1,5,<br />
indicando comportamento plástico quase perfeito. Esses pilares, após atingirem os<br />
seus picos de resistência, apresentaram acréscimo na capacidade resistente,<br />
deformando-se sem perder resistência até, aproximadamente, a deformação média de<br />
7‰, calculada com as deformações nas faces do pilar, como visto na figura 19.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
92<br />
Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />
6 CONCLUSÕES<br />
A consideração do coeficiente k 2 em função da resistência do concreto<br />
demonstrou ser a maneira mais correta quando se deseja prever a força última teórica<br />
em um pilar. As forças últimas teóricas avaliadas na tabela 3 apresentaram valores<br />
muito bons quando comparados com as forças experimentais, resultando em uma<br />
diferença de 2,6%, em média. O valor 0,95 é seguro quando se trabalha com<br />
concretos de resistências inferiores a 25MPa, para concretos com resistências<br />
superiores esse valor tende a ser menor como sugere a NS 3473 E [16].<br />
A utilização da variável k 2 em função da resistência do concreto torna<br />
possível o dimensionamento de pilares de concreto de alta resistência considerandose<br />
a seção íntegra ao invés da seção do núcleo, contudo são necessários mais<br />
estudos para uma melhor consideração desta variável.<br />
Os valores das forças teóricas obtidas com o programa computacional<br />
mostraram-se conservativos. Para todos os modelos os valores das forças últimas<br />
calculados pelo programa foram, em média, 6,5% inferiores aos das forças últimas<br />
experimentais. O modelo de Cusson e Paultre [6] modificado por Lima Júnior [11]<br />
conseguiu representar as curvas experimentais de modo razoável, como visto nas<br />
figuras 11 a 14.<br />
O critério para quantificação da ductilidade apresentou-se adequado à<br />
análise proposta. Os dados experimentais mostraram que a ductilidade é um fator<br />
ligado diretamente a taxa de armadura transversal e inversamente proporcional à<br />
resistência do concreto. Para uma mesma taxa de armadura transversal, o valor do<br />
índice de ductilidade pós pico em um pilar de concreto de resistência usual pode ser<br />
duas vezes maior do que em um pilar de concreto de alta resistência, assim é<br />
necessário que se utilize alta taxa de armadura transversal, maior em um pilar de<br />
concreto de alta resistência, para que esse apresente a mesma ductilidade do pilar de<br />
menor resistência. Considerando a equação 19, um concreto com resistência 30MPa<br />
e taxa de armadura transversal de 0,25% apresenta índice de ductilidade pós pico<br />
igual a 1,23. Para que um pilar moldado com concreto de resistência 60MPa<br />
apresente o mesmo valor para o índice de ductilidade, é necessário que ele possua<br />
uma taxa de armadura transversal de 0,65%.<br />
Para uma mesma resistência, variando apenas a taxa de armadura<br />
transversal, os índices de ductilidade pós-pico apresentaram diferenças em seus<br />
valores para os pilares de uma mesma série, como visto nas figuras 16 a 19 e<br />
disposto na tabela 5.<br />
7 AGRADECIMENTOS<br />
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES<br />
– pela bolsa de mestrado concedida que permitiu a realização do trabalho.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>
Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />
93<br />
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ISSN 1809-5860<br />
AVALIAÇÃO DO COEFICIENTE DE FORMA DA<br />
SEÇÃO TRANSVERSAL E SUAS IMPLICAÇÕES NO<br />
DESEMPENHO DE PILARES REFORÇADOS COM<br />
PRFC<br />
Alexandre Luis Sudano 1 & João Bento de Hanai 2<br />
Resumo<br />
Este trabalho tem como objetivo central o estudo de vários tipos de seção transversal<br />
com o intuito de avaliar a sua influência na eficiência do reforço e na ductilidade de<br />
pilares de concreto encamisados com polímeros reforçados com fibra de carbono<br />
(PRFC). Para tal, foram realizadas simulações experimentais com pilares de seção<br />
transversal circular, quadrada e retangular com os cantos arredondados, elíptica e<br />
uma seção composta por semicírculos. Os resultados demonstram que uma forma de<br />
seção transversal adequada é essencial para um bom desempenho do pilar reforçado.<br />
Palavras-chave: reforço de pilares - confinamento; reforço de pilares -<br />
encamisamento; fibra de carbono; ductilidade e tenacidade; forma da seção<br />
transversal.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Sabe-se que o efeito de confinamento do concreto em pilares submetidos à<br />
compressão axial e excêntrica traz diversos benefícios ao seu comportamento<br />
estrutural:<br />
• aumenta a resistência à compressão axial do concreto pela ação das pressões<br />
laterais;<br />
• melhora a ductilidade do elemento estrutural, especialmente importante no<br />
caso de aplicação de concreto de alta resistência;<br />
• favorece a contribuição efetiva do núcleo (seção do pilar de concreto préexistente)<br />
no caso de reforço por encamisamento com concreto armado ou<br />
compósitos de alto desempenho, como o de fibra de carbono;<br />
• favorece a redistribuição de tensões no conjunto concreto antigo/novo, que<br />
estão sujeitos aos efeitos de pré-carregamento e deformações do concreto<br />
dependentes do tempo.<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, alsudano@sc.usp.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jbhanai@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
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Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
Ilustra-se na Figura 1 algumas situações de confinamento no caso de pilares<br />
de seção transversal circular ou quadrada, sujeitos à compressão axial. Em cada um<br />
dos esquemas de seção transversal, as áreas hachuradas correspondem às partes da<br />
seção que estão sujeitas a pressões de confinamento dadas pela armadura ou<br />
membrana de compósito em seu contorno.<br />
(a) (b) (c) (d)<br />
Figura 1 - Ilustração de algumas situações de confinamento: (a) seção circular, núcleo<br />
confinado pela armadura transversal em espiral; (b) seção circular, núcleo confinado por<br />
compósito polimérico aplicado na superfície externa, contando-se ainda com o efeito adicional<br />
de confinamento dado pela armadura interna em espiral no núcleo mais interno; (c) seção<br />
quadrada, núcleo confinado por estribos e armadura longitudinal; (d) seção quadrada, núcleo<br />
confinado por compósito polimérico aplicado na superfície externa, contando-se ainda com o<br />
efeito adicional de confinamento dado pela armadura mais interna de estribos.<br />
No caso de pilares de seção transversal quadrada ou retangular, o reforço é<br />
particularmente dificultado em função da ocorrência de pressões não uniformes de<br />
confinamento no pilar original, sendo este o próprio núcleo confinado. Esta não<br />
uniformidade deve-se ao efeito de arqueamento, que provoca concentração de<br />
tensões nos cantos da seção transversal do pilar original. No caso do reforço com<br />
PRF este fato é extremamente importante, uma vez que a concentração de tensões<br />
em um determinado ponto causa a ruptura pré-matura da camisa de reforço,<br />
diminuindo assim a sua eficiência.<br />
Em pilares de seção circular a pressão de confinamento é uniformemente<br />
distribuída na seção transversal, já que nesta não existe o efeito de arqueamento.<br />
Não existindo concentração de tensões em pontos localizados, o reforço por<br />
encamisamento com PRF apresenta a sua maior eficiência. Sendo assim, quanto<br />
mais próxima da circular for a seção do pilar a ser reforçado, mais uniforme será a<br />
distribuição das pressões de confinamento e, conseqüentemente, maior será a<br />
eficiência do reforço.<br />
Para quantificar a proximidade entre a seção do pilar a ser reforçado e a<br />
circular, utiliza-se um coeficiente de forma que minora a pressão de confinamento<br />
para pilares de seção diferente da circular. Este coeficiente nada mais é do que a<br />
relação entre a área do núcleo efetivamente confinado e a área total da seção<br />
transversal. Quanto mais próximo da unidade for o coeficiente de forma, maior será<br />
uniformidade da pressão de confinamento.<br />
Vários autores propõem equações para o cálculo do coeficiente de forma,<br />
Mander et al. (1988), Razvi & Saatcioglu (1999), Teng & Lam (2002), Campione &<br />
Miraglia (2003), entre outros. A determinação deste coeficiente fica limitada pela<br />
dificuldade existente na quantificação da área do núcleo efetivamente confinado. Por<br />
causa desta dificuldade, todos os autores que propõem uma equação para a<br />
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Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
97<br />
determinação do coeficiente de forma, o fazem em função das características<br />
geométricas da seção transversal do pilar.<br />
A principal alternativa para aproximar o coeficiente de forma da unidade e<br />
conseqüentemente potencializar o efeito de confinamento no reforço de pilares de<br />
seção transversal quadrada ou retangular, é a mudança da forma de sua seção. Esta<br />
mudança é geralmente feita com o arredondamento dos cantos da seção transversal,<br />
diminuindo assim a concentração de tensão nestes pontos (Figura 2).<br />
Distribuição da pressão de confinamento<br />
Figura 2 - Distribuição da pressão de confinamento antes e depois do reforço com PRF e<br />
arredondamento dos cantos.<br />
Na tentativa de aumentar o coeficiente de forma e conseqüentemente a<br />
eficiência do reforço, pode-se melhorar ainda mais a distribuição da pressão de<br />
confinamento. Para isso, pode-se estudar mudanças mais apreciáveis na forma da<br />
seção transversal. Esta mudança pode ser, por exemplo, transformar a seção<br />
transversal retangular numa elíptica ou em qualquer outra forma geométrica que seja<br />
capaz de conduzir a pressões de confinamento mais próximas da uniforme.<br />
Considerando em particular, que as formas geométricas circulares e calotas<br />
esféricas são as mais adequadas para resistir por tração à pressão interna radial<br />
(efeito de membrana), procura-se neste trabalho estudar tais formas, além da elíptica,<br />
para verificar a sua eficiência na distribuição das pressões de confinamento, avaliada<br />
com base no coeficiente de forma.<br />
Ilustra-se na Figura 3, na forma de esquemas em perspectiva tridimensional,<br />
como poderiam ser as membranas de compósito da camisa de reforço.<br />
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98<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
(a)<br />
(b)<br />
(c)<br />
Figura 3 - Possíveis esquemas de arranjo de reforço transversal: a) seção transversal<br />
esquemática; b) pressões no reforço transversal; c) reforço transversal com curvatura simples.<br />
Portanto, neste trabalho foram estudados pilares de diversas seções<br />
transversais (Figura 4) com o objetivo de determinar a influência da forma da seção<br />
transversal no reforço de pilares de concreto encamisados com PRF, bem como fazer<br />
um estudo comparativo, baseado na tenacidade, ductilidade e eficiência do reforço,<br />
entre os pilares estudados.<br />
Figura 4 - Seções transversais dos pilares estudados.<br />
2 ASPECTOS TEÓRICOS<br />
A combinação de diferentes materiais para facilitar o uso e aumentar o<br />
desempenho, em relação a cada um de seus constituintes, tem sido uma estratégia<br />
de grande sucesso. Seguindo esta filosofia, surgiram os polímeros reforçados com<br />
fibras, PRF, que são filamentos fibrosos combinados com uma matriz de resina<br />
polimérica, inicialmente desenvolvidos para a indústria mecânica. Em função da<br />
facilidade de utilização e das elevadas resistências e módulo de elasticidade, este<br />
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Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
99<br />
material passou a ser utilizado também na construção civil, e conseqüentemente no<br />
reforço de pilares de concreto armado.<br />
Vários autores, Saadatmanesh & Ehsani (1994), Jones & Hanna (1997),<br />
Karbhari & Zhao (2000), Parvin & Wang (2000), citam as vantagens da utilização do<br />
PRF no reforço de pilares de concreto, entre elas destacam-se as altas relações<br />
resistência/peso e rigidez/peso, e a rapidez com que o reforço pode ser feito, se<br />
comparados com o reforço feito com a utilização do aço, por exemplo. Porém, existem<br />
também algumas desvantagens que devem ser mencionadas, como por exemplo, o<br />
alto custo inicial, a exposição ao fogo e vandalismo.<br />
Assim como no caso do reforço feito com aço, o reforço com PRF em pilares<br />
de seção transversal diferente da circular apresenta, sérios problemas de eficiência<br />
em função da concentração de tensões nos cantos, provocando a ruptura pré-matura<br />
do compósito, e da dificuldade de geração de pressões de confinamento semelhantes<br />
às que ocorrem no confinamento de pilares de seção circular. Para amenizar este<br />
problema promove-se uma mudança na forma da seção transversal por meio do<br />
arredondamento dos cantos ou transformado-a em uma forma mais próxima da<br />
circular.<br />
Para avaliar o desempenho de cada uma das formas utilizadas, são adotados<br />
como parâmetros de eficiência o coeficiente de forma, que quanto mais próximo da<br />
unidade for maior será a eficiência, e índices de tenacidade e ductilidade. A seguir são<br />
discutidos cada um destes parâmetros.<br />
2.1 Coeficiente de forma<br />
Conforme dito anteriormente, o coeficiente de forma é a relação entre a área<br />
efetivamente confinada e a área total da seção transversal. A dificuldade para o<br />
cálculo deste coeficiente está na determinação da área efetivamente confinada para<br />
as várias configurações da seção transversal. Em função desta dificuldade, as<br />
equações disponíveis para o cálculo deste coeficiente o fazem em função das<br />
propriedades geométricas da seção transversal do pilar a ser reforçado, sendo assim,<br />
esta equações são na sua maioria absoluta desenvolvidas para pilares de seção<br />
transversal quadrada e retangular com os cantos arredondados. Para que fosse<br />
possível uma comparação entre os vários tipos de seção transversal estudados neste<br />
trabalho, foi necessária a utilização de uma rotina de cálculo padronizada, para<br />
evidenciar apenas a influência da seção transversal no coeficiente de forma e<br />
conseqüentemente na eficiência do reforço.<br />
Teng & Lam (2002) propõem um método de previsão da capacidade<br />
resistente de pilares de concreto armado reforçados com PRF, inicialmente<br />
desenvolvido para a aplicação em pilares com seção transversal elíptica. Segundo os<br />
autores deste método de cálculo, a eficiência deste tipo de reforço depende da<br />
relação entre os semi-eixos maior (a) e menor (b) da elipse, quanto mais próximo da<br />
unidade for esta relação, maior será a eficiência do confinamento. Este fato justificase<br />
pela semelhança existente entre uma seção transversal elíptica com relação a/b<br />
próxima de 1 (um) e uma circular, onde as pressões laterais de confinamento são<br />
máximas.<br />
O comportamento tensão-deformação do pilar reforçado também é afetado<br />
pela relação a/b. Ensaios realizados por Teng & Lam (2002) revelam o<br />
comportamento bi-linear de pilares circulares e elípticos com relação a/b igual a 5/4, o<br />
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100<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
que já não foi observado para seções transversais elípticas com relação a/b maior, no<br />
caso da camisa de reforço ser formada por apenas uma camada de polímeros<br />
reforçado com fibra de carbono (PRFC). Quando o reforço foi feito com duas camadas<br />
de PRFC, o comportamento bi-linear do diagrama tensão-deformação também se<br />
estendeu aos pilares de seção transversal elíptica com relação a/b igual a 5/3.<br />
Aparentemente, para pilares elípticos com alta relação a/b e confinados com pequena<br />
quantidade de PRFC, a curva tensão-deformação não apresenta o segundo trecho<br />
linear, sendo este substituído por um trecho descendente, o que indica que o<br />
confinamento é limitado nestes pilares. Quanto à deformação axial na força de pico,<br />
os mesmos autores observaram que esta diminui à medida que a relação a/b<br />
aumenta.<br />
A distribuição das pressões de confinamento ao longo de seções transversais<br />
elípticas, ao contrário do que acontece com seções circulares, não é uniforme,<br />
portanto a eficiência do confinamento é reduzida se comparada com a que ocorre em<br />
pilares de seção transversal circular. Por este motivo, a pressão de confinamento<br />
utilizada na previsão da tensão axial máxima deve ser substituída por uma pressão de<br />
confinamento efetiva, obtendo-se assim a seguinte equação<br />
f = f + k<br />
(1)<br />
´<br />
cc<br />
c0<br />
´<br />
1. f<br />
l<br />
onde f´cc é a resistência do concreto confinado, f c0 é a resistência do concreto, K 1 é<br />
coeficiente de efetividade do confinamento e f´l´ é a pressão efetiva de confinamento,<br />
calculada por<br />
f ´ = K . f<br />
(2)<br />
l<br />
s<br />
l<br />
onde K s é o fator de forma e f l é a pressão de confinamento em um pilar de seção<br />
transversal circular equivalente. Para um pilar elíptico encamisado com PRF, o pilar<br />
de seção transversal circular equivalente é considerado como sendo um pilar com a<br />
mesma taxa volumétrica de PRF que na seção elíptica. Portanto a pressão de<br />
confinamento equivalente é calculada por<br />
f<br />
l<br />
ρ<br />
PRF<br />
. f<br />
PRF<br />
= (3)<br />
2<br />
onde f PRF é a resistência à tração do PRF, e ρ PRF é taxa volumétrica de PRF, que para<br />
a seção transversal elíptica é dada por<br />
[ 1,5.<br />
( a + b)<br />
− a.<br />
b]<br />
.<br />
t<br />
ρ<br />
PRF<br />
=<br />
(4)<br />
a.<br />
b<br />
sendo a e b os semi eixos maior e menor da elipse, respectivamente, e t é a<br />
espessura da camisa de reforço de PRF. Para o cálculo do fator de forma K s , Teng &<br />
Lam (2002) propõem a seguinte equação:<br />
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Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
101<br />
−2,30<br />
⎛ a ⎞<br />
K s<br />
= 1,06. ⎜ ⎟<br />
(5)<br />
⎝ b ⎠<br />
Com isso, a previsão da máxima tensão axial alcançada por pilares de seção<br />
transversal elíptica encamisado com PRF pode ser determinada.<br />
Embora este método de cálculo tenha sido inicialmente desenvolvido para a<br />
aplicação em pilares de seção transversal elíptica, ele se torna extremamente<br />
interessante para a análise dos resultados provenientes da simulação experimental<br />
realizada neste trabalho, uma vez que a pressão de confinamento é função apenas da<br />
taxa volumétrica e da resistência do PRF, independendo da forma da seção<br />
transversal do pilar. Sendo assim, torna-se possível a obtenção do coeficiente de<br />
forma, K s , para todas as configurações de seção transversal aqui apresentadas.<br />
2.2 Tenacidade e ductilidade<br />
As propriedades dos materiais utilizados no concreto armado melhoraram<br />
muito no que diz respeito à resistência, porém a baixa capacidade de deformação e a<br />
diminuição do alongamento sofrido pelo aço na ruptura acompanham este aumento<br />
de resistência. A ocorrência simultânea destes dois efeitos resulta na baixa ductilidade<br />
do concreto armado.<br />
A ductilidade é um atributo desejável em qualquer tipo de estrutura ou<br />
elemento estrutural, uma vez que ela representa a sua capacidade de deformação<br />
plástica antes da ruptura, sendo assim, uma estrutura ou elemento estrutural de<br />
pouca ou nenhuma ductilidade é qualificado como frágil. Já a tenacidade é uma<br />
medida da quantidade de energia que é absorvida por um material durante o processo<br />
de fraturamento. Um parâmetro indicativo da tenacidade é a área total sob a curva<br />
tensão-deformação do material, obtida em ensaio com deformação controlada,<br />
abrangendo as fases pré-pico e pós-pico de resistência.<br />
Segundo o FIP - CEB 242 (1998), a importância da ductilidade dos elementos<br />
de concreto armado é evidenciada pela possibilidade de:<br />
• advertência antes do colapso de estruturas estaticamente determinadas e<br />
indeterminadas, por grandes deflexões;<br />
• análise elástica - linear com redistribuição de momentos, quando se requer<br />
uma capacidade de rotação nas áreas plásticas para calcular o suposto grau<br />
de redistribuição;<br />
• análise elasto – plástica, quando é baseada na superposição da plasticidade<br />
indefinida de um elemento;<br />
• métodos de equilíbrio, válidos somente se a compatibilização dos<br />
deslocamentos for obtida. Para aplicar estes modelos, a armadura necessária<br />
deve ser suficientemente dúctil para permitir a mudança da distribuição<br />
elástica de tensões (particularmente na armadura de combate ao<br />
cisalhamento);<br />
• resistência contra deformações impostas, quando requer adaptabilidade<br />
plástica da estrutura para evitar tensões inaceitáveis, usualmente não<br />
calculadas;<br />
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102<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
• habilidade para resistir a impactos locais imprevistos e forças acidentais<br />
externas;<br />
• redistribuição das forças internas em estruturas estaticamente indeterminadas<br />
sob ataque de fogo, e;<br />
• energia dissipada em carregamento cíclico.<br />
Não existem normas específicas para, quantificar a ductilidade dos elementos<br />
de concreto armado. No entanto, existem alguns métodos que tentam quantificar a<br />
ductilidade, como por exemplo, o método de Ahmad (1992) e do encurtamento<br />
percentual. Quanto a tenacidade à compressão, a norma japonesa JSCE SF 5 (1984)<br />
apresenta uma formulação para o cálculo deste índice. A seguir são descritos cada<br />
um destes métodos de calculo.<br />
2.2.1 JSCE SF 5 (1984)<br />
A avaliação da ductilidade é feita em termos da tenacidade do concreto. Para<br />
isto, será utilizada a norma JSCE SF5 (1984). Esta norma é aplicável à avaliação da<br />
tenacidade do concreto submetido à compressão.<br />
A tenacidade à compressão é expressa pelo índice de tenacidade, calculado<br />
pela seguinte equação.<br />
σ<br />
c<br />
τ<br />
Aδ .<br />
c<br />
= (6)<br />
tc<br />
onde: σ<br />
c<br />
é o índice de tenacidade à compressão, τ c é a área sob a curva força x<br />
deslocamento, obtida através de ensaios com controle de deslocamento e com os<br />
deslocamentos medidos no meio do vão central, até o limite de deslocamento, δ tc é o<br />
deslocamento vertical (limite de deslocamento) correspondente a 0,75% de L/2, e; A é<br />
a área da seção transversal do corpo-de-prova..<br />
Se a ruína do elemento ocorrer antes que o deslocamento limite seja atingido,<br />
o valor de δ tc utilizado no cálculo de σ<br />
c<br />
, deve ser igual ao máximo deslocamento<br />
registrado.<br />
2.2.2 Método de Ahmad (1992)<br />
Ahmad (1992), analisa o trecho descendente do diagrama tensão-deformação<br />
obtido a partir de ensaios de compressão axial para a quantificação da ductilidade do<br />
concreto. Ahmad caracteriza a ductilidade do concreto pela relação:<br />
ID<br />
ε<br />
0,5<br />
1= (7)<br />
ε<br />
c,<br />
o<br />
onde ε<br />
0, 5<br />
é a deformação do concreto, no trecho descendente do diagrama tensão x<br />
deformação, correspondente a 0,5·f co , sendo f co e ε<br />
c0<br />
referentes ao pico da curva.<br />
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Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
103<br />
Pode-se também analisar a ductilidade pelo trecho ascendente, utilizando a<br />
relação:<br />
ε<br />
c<br />
ID 0<br />
ε<br />
2 = (8)<br />
e<br />
onde ε<br />
e<br />
é a deformação elástica equivalente à tensão máxima obtida com o módulo<br />
tangente à origem. Em ambas as formulações a ductilidade do concreto reduz-se com<br />
o aumento da resistência.<br />
2.2.3 Encurtamento percentual<br />
Uma vez que a ductilidade é a capacidade de deformação plástica antes da<br />
ruptura, o estudo da ductilidade de barras de aço pode ser feito baseando-se no seu<br />
alongamento percentual. Analogamente, podemos analisar o comportamento de<br />
pilares de concreto submetidos à compressão, pelo seu encurtamento percentual,<br />
dado por:<br />
E<br />
%<br />
l<br />
f<br />
−<br />
l<br />
0<br />
l<br />
0<br />
.100<br />
= (9)<br />
3 PROGRAMA EXPERIMENTAL<br />
O programa experimental foi inteiramente voltado para a determinação da<br />
influência da forma da seção transversal na resistência, ductilidade e tenacidade de<br />
pilares de concreto encamisados com polímeros reforçados com fibras de carbono.<br />
Sendo assim, foram feitos 20 ensaios, de compressão axial com controle de<br />
deslocamento, em modelos com diferentes tipos de seção transversal, sendo 4<br />
modelos com seção transversal circular, 4 de seção quadrada com os cantos<br />
arredondados, 4 de seção retangular com os cantos arredondados, 4 de seção<br />
elíptica e 4 de seção composta por semi-círculos. Para todos os tipos de seção<br />
transversal, 2 modelos foram ensaiados sem a camisa de reforço e 2 com duas<br />
camadas de polímero reforçado com fibra de carbono (PRFC). A Figura 5 e a<br />
Tabela 1 apresentam as propriedades geométricas dos modelos ensaiados.<br />
Figura 5 - Seção transversal dos modelos.<br />
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104<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
O concreto utilizado foi projetado para fornecer 30 MPa aos 14 dias, porém<br />
houve um atraso no cronograma de ensaios e a resistência do concreto na data de<br />
ensaio foi de aproximadamente 40 MPa. A dosagem utilizada é apresentada na<br />
Tabela 2. O tipo de fibra utilizado no PRF foi um tecido unidirecional de fibra de<br />
carbono (Figura 6) e a resina foi a epóxi.<br />
Analisando cuidadosamente o modelo de seção transversal composta,<br />
percebe-se que quando este for submetido à compressão axial, existirá a tendência<br />
de retificação dos lados maiores. Esta tendência surge em função da distribuição das<br />
pressões internas no trecho em vermelho da Figura 7.<br />
Para garantir que o modelo mantenha esta forma, faz-se necessário o uso de<br />
um dispositivo que impeça que o trecho em questão mude a sua forma. Tal dispositivo<br />
é composto por duas peças rígidas de aço com seção transversal inicialmente<br />
quadrada de 5 x 5 cm porém, para que haja um encaixe perfeito entre estas peças e o<br />
modelo, um dos lados da peça de aço deve apresentar a mesma curvatura do trecho<br />
em questão. Estas peças são presas ao modelo por meio de tirantes que o<br />
atravessam. Os tirantes devem ser espaçados ao longo da altura do modelo de<br />
maneira que o máximo esforço que estes suportem seja maior ou igual à pressão<br />
interna que irá atuar na sua área de influência.<br />
Tabela 1 - Propriedades geométricas dos modelos<br />
Tabela 2 - Dosagem do concreto<br />
Traço em<br />
massa<br />
Traço em<br />
volume<br />
Cimento 1,00 1,0<br />
Areia 2,95 3,51<br />
Brita 3,50 3,82<br />
Água 0,70 2,19<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
105<br />
Figura 6 - Tecido de fibra de carbono.<br />
Figura 7 - Tendência de retificação dos lados da seção transversal composta.<br />
Devido à complexidade envolvida na determinação da pressão interna que irá<br />
solicitar os tirantes, estes são dimensionados para resistir a um esforço igual à<br />
resistência última da camisa. Porém acredita-se que o modelo chegue ao colapso<br />
antes que a pressão interna seja igual à resistência última da camisa, portanto adotase<br />
uma cordoalha engraxada de 22,7 mm de diâmetro, com resistência última de 120<br />
KN, a cada 14,75 cm. Uma pequena força de protensão deve ser igualmente aplicada<br />
à todas as cordoalhas para garantir que elas empeçam a mudança na forma do<br />
modelo. O controle da força aplicada nas cordoalhas deve ser feito com células de<br />
carga instaladas em cada uma delas. Para que as barras laterais não colaborem na<br />
capacidade portante dos modelos, estas devem ser instaladas de maneira que fiquem<br />
cerca de 5 mm distantes das extremidades superior e inferior. Dessa maneira, o<br />
comprimento das barras deve ser de 59 cm. Apresenta-se na Figura 8 um desenho<br />
esquemático do dispositivo utilizado.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
106<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
5<br />
5<br />
R7,32<br />
60<br />
57<br />
14,75 14,75 14,75<br />
7,9<br />
Vista Transversal dos Perfis de aço<br />
Perfil de aço<br />
Cordoalha<br />
Engraxada<br />
Célula de carga<br />
Ancoragem<br />
Vista Longitudinal do Modelo<br />
Vista Transversal do Modelo<br />
Figura 8 - Dispositivo de contenção lateral do modelo de seção composta.<br />
A instrumentação dos modelos foi feita utilizando um sistema<br />
computadorizado de aquisição dos dados coletados por transdutores de<br />
deslocamento e extensômetros elétricos de resistência, além do deslocamento vertical<br />
do pistão do atuador hidráulico. Foram instalados quatro transdutores de<br />
deslocamento, sendo um em cada face dos modelos, localizados à meia altura. A<br />
distribuição dos extensômetros elétricos de resistência e dos transdutores de<br />
deslocamento é apresentada na Figura 9.<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T<br />
T T<br />
T<br />
Extensômetro elétrico de resistência<br />
T Transdutor de deslocamento<br />
Figura 9 - Localização dos extensômetros e transdutores.<br />
Na Figura 10 são apresentados os modelos prontos para serem ensaiados.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
107<br />
Figura 10 - Foto dos modelos prontos para serem ensaiados.<br />
3.1 Resultados dos ensaios<br />
3.1.1 Ensaios das amostras da camisa de PRFC<br />
Para a determinação das propriedades mecânicas de interesse, foram<br />
moldadas amostras da camisa de reforço segundo as especificações da ASTM D<br />
3039/ D 3039 M. As amostras possuem 2 camadas de tecido unidirecional de fibra de<br />
carbono e têm comprimento nominal de 24,5 cm e largura nominal de 1,5 cm. A<br />
orientação das fibras é de 0º em relação a direção de aplicação da carga. A<br />
moldagem das amostras foi realizada com o auxilio de chapas de aço para garantir<br />
que os corpos-de-prova fossem perfeitamente planos e sem bolhas de ar entre as<br />
camadas. Nas extremidades das amostras, por onde estas foram presas pela<br />
máquina de ensaio, foram adicionadas quatro camadas a mais, resultando em seis<br />
camadas de PRFC nestes locais.<br />
A norma que rege a realização dos ensaios determina que o ensaio de tração<br />
direta deve ser feito com controle de deslocamento. A taxa de deslocamento deve ser<br />
escolhida de maneira que a ruptura do corpo-de-prova ocorra no intervalo de um a<br />
dez minutos após o início do ensaio. Esta mesma norma sugere que seja adotada a<br />
taxa de 2 mm/min, sendo este um valor padrão. O equipamento utilizado nestes<br />
ensaios foi um atuador hidráulico com capacidade de aplicação de 160 KN, disponível<br />
no Laboratório de Madeiras e Estruturas de Madeira do Departamento de Engenharia<br />
de Estruturas da Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong>.<br />
Apresenta-se na Tabela 3 um resumo das propriedades, de interesse, das<br />
amostras da camisa de reforço. Na Figura 11 são apresentados os diagramas tensão<br />
x deformação das amostras ensaiadas. O diagrama referente ao corpo-de-prova CP 1<br />
apresenta um comportamento inesperado quanto às deformações longitudinal e<br />
transversal. Analisando o corpo-de-prova após o ensaio, percebe-se claramente que<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
108<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
uma fissura passa exatamente por cima do extensômetro, o que possivelmente<br />
causou esta anomalia na leitura das deformações, quanto a sua resistência última,<br />
esta condiz com os valores obtidos nas outras amostras, por isso no cálculo dos<br />
valores médios (Tabela 3) apenas as deformações últimas são desconsideradas.<br />
Tabela 3 - Resistências e deformações das amostras da camisa de reforço<br />
Corpo-deprova<br />
Força Tensão Módulo de Deformação (%)<br />
kN MPa Elasticidade (MPa) Longitudinal Transversal<br />
CP 1 10,70 681,6 31531 1,51 0,66<br />
CP 2 11,94 805,9 29276 2,66 0,95<br />
CP 3 11,56 768,1 33847 2,21 0,88<br />
Média 11,40 751,9 31551 2,43 0,92<br />
3.1.2 Ensaios dos modelos<br />
Os ensaios realizados nos modelos foram ensaios de compressão axial com<br />
controle de deslocamento. Esta etapa sofreu um atraso em função de problemas<br />
técnicos, e por isso os ensaios só puderam ser realizados com cerca de cinco meses<br />
de atraso. Como conseqüência, os modelos, que eram para serem ensaiados com 14<br />
dias, apresentaram resistência acima do esperado em função da maior hidratação do<br />
cimento.<br />
CP1-0º<br />
CP2-0º<br />
700<br />
800<br />
Tensão (MPa)<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
Deformação longitudinal<br />
0<br />
Deformação transversal<br />
-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0<br />
Deformação (%)<br />
Tensão (MPa)<br />
600<br />
400<br />
200<br />
CP3-0º<br />
Deformação longitudinal<br />
Deformação transversal<br />
0<br />
-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5<br />
Deformação (%)<br />
800<br />
600<br />
Tensão (MPa)<br />
400<br />
200<br />
Deformação longitudinal<br />
Deformação transversal<br />
0<br />
-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5<br />
Deformação (%)<br />
Figura 11 - Diagramas de tensão x deformação das amostras da camisa de reforço.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
109<br />
Em função da capacidade da betoneira utilizada, a concretagem dos modelos<br />
não se deu em uma única etapa. Para cada tipo de seção transversal foram moldados<br />
quatro modelos, dos quais dois foram posteriormente encamisados com duas<br />
camadas de PRFC, e seis corpos-de-prova cilíndricos, 10 cm x 20 cm, para a<br />
determinação da resistência à compressão, resistência à tração e do módulo de<br />
elasticidade do concreto utilizado.<br />
Para facilitar a identificação dos modelos, foi adotada a seguinte<br />
nomenclatura: Ci, Q, R, E e Co para os modelos de seção transversal circular,<br />
quadrada, retangular, elíptica e composta, respectivamente, seguidos do número Xn,<br />
onde X é o número de camadas de PRFC e n é o número do modelo.<br />
A seguir são apresentados os resultados dos ensaios de cada uma das séries<br />
dos modelos<br />
3.1.2.1 Modelos de seção transversal circular<br />
As propriedades mecânicas e idade do concreto utilizado nestes modelos são<br />
apresentadas na Tabela 4.<br />
Tabela 4 - Propriedades mecânicas do concreto<br />
Idade Resistência (Mpa) Módulo de<br />
dias Compressão (10 x 20 cm) Tração Elasticidade (Mpa)<br />
127 44,7 3,7 27414<br />
A Figura 12 apresenta os diagramas Tensão x Deformação axial dos modelos<br />
desta série sobrepostos. A velocidade de carregamento foi de 0,005 mm/seg e a<br />
aquisição de dados foi a cada 0,3 seg. Observa-se um comportamento não esperado<br />
dos modelos Ci 02 e Ci 21. No primeiro caso, a anomalia no comportamento do<br />
modelo deve-se a irregularidade das extremidades do modelo, o que causou uma<br />
concentração de tensões numa determinada seção do modelo. O fato que permite tal<br />
conclusão é o tipo de ruptura que este modelo apresentou, característica da<br />
concentração de carregamento em algum ponto. A Figura 13 apresenta uma<br />
comparação entre fotos de rupturas características de ensaios de compressão axial e<br />
a que ocorreu com este modelo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
110<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
Série Ci X n<br />
-70<br />
-60<br />
-50<br />
Tensão (MPa)<br />
-40<br />
-30<br />
-20<br />
Modelo Ci 01<br />
Modelo Ci 02<br />
-10<br />
Modelo Ci 21<br />
Modelo Ci 22<br />
0<br />
0,0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0 -1,2 -1,4 -1,6<br />
Deformação (%)<br />
Figura 12 - Diagrama Tensão x deformação axial da Série Ci Xn.<br />
Figura 13 - Ruptura característica e ocorrida com o modelo Ci 02.<br />
Já a curva do modelo Ci 21 apresenta um aparente ganho na rigidez do<br />
modelo instantes antes da ruptura. Na verdade este não é um ganho na rigidez e sim<br />
um reflexo da ruptura do modelo. Neste ensaio, a carga de ruptura foi de<br />
aproximadamente 2000 kN e como a ruptura da camisa de reforço é extremamente<br />
frágil, toda a energia envolvida no sistema modelo-atuador hidráulico, foi liberada de<br />
uma só vez. Isto fez com que a célula de carga do equipamento de ensaio fosse<br />
descalibrada. Como conseqüência, surgiu este aparente ganho de rigidez do modelo,<br />
mas que na verdade deve ser desprezado, sendo a carga de ruptura do modelo o<br />
maior valor antes deste trecho do diagrama. Em função da grande quantidade de<br />
energia acumulada, a ruptura deste modelo foi extremamente violenta e causou danos<br />
aos transdutores de deslocamento, rompeu cabos do sistema de aquisição de dados<br />
e os estilhaços do modelo poderiam ter causado ferimentos às pessoas próximas ao<br />
local de ensaio. Para evitar que isto se repetisse no ensaio do modelo Ci 22, este foi<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
111<br />
interrompido quando a carga era de 1750 kN. A Figura 14 apresenta fotos do ensaio<br />
Ci 21.<br />
(a) (b) (c) (d)<br />
Figura 14 -Fotos do ensaio do modelo Ci 21 (a - início do ensaio; b - maiores partes do modelo<br />
após a ruptura; c - detalhe da camisa de reforço rompida; d - o que sobrou do modelo após a<br />
ruptura.<br />
Com as leituras dos extensômetros e com os dados relativos ao deslocamento<br />
do atuador hidráulico, plota-se o gráfico de deformação lateral x deformação axial<br />
(Figura 15).<br />
São apresentadas na Tabela 5 a carga, deformações axial e lateral máximas<br />
de cada um dos modelos de seção transversal circular.<br />
Tabela 5 - Carregamento máximo e deformações neste ponto (Série Ci Xn)<br />
Modelo<br />
Força Tensão Deformação (%)<br />
kN MPa Axial Lateral<br />
Ci 01 1067,70 34,0 0,13 0,02<br />
Ci 02 572,96 18,2 0,08 0,02<br />
Ci 21 196,60 62,4 1,37 0,97<br />
Ci 22 1751,60 55,7 0,80 0,60<br />
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112<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
Série Ci X n<br />
1,2<br />
1,0<br />
Deformação Lateral (%)<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
Modelo Ci 01<br />
0,2<br />
Modelo Ci 02<br />
Modelo Ci 21<br />
Modelo Ci 22<br />
0,0<br />
0,0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0 -1,2 -1,4 -1,6<br />
Deformação Axial (%)<br />
Figura 15 - Deformação lateral x deformação axial da série Ci X n.<br />
3.1.2.2 Modelo de seção transversal quadrada<br />
Os modelos de seção transversal quadrada foram moldados com o mesmo<br />
concreto e ao mesmo tempo que os de seção transversal circular, por isso as<br />
propriedades mecânicas e idade do concreto utilizado nestes modelos são as<br />
mesmas apresentadas anteriormente (Tabela 4).<br />
Numa tentativa de minimizar as conseqüências da ruptura frágil, a velocidade<br />
de carregamento foi alterada para 0,003 mm/seg e a taxa de aquisição de dados foi<br />
mantida em 0,3 seg. Para evitar danos aos transdutores de deslocamento, estes<br />
foram retirados do modelo quando a força aplicada era de 1000 kN.<br />
Na Figura 16 são apresentados os diagramas Tensão x Deformação axial dos<br />
modelos de seção transversal quadrada com os cantos arredondados. Observa-se<br />
claramente que os ganhos de resistência nos modelos reforçados não foram muito<br />
significativos, porém houve um aumento considerável na ductilidade. Provavelmente o<br />
reduzido ganho de resistência tenha sido um reflexo da dificuldade do<br />
desenvolvimento de pressões de confinamento suficientemente grandes para produzir<br />
um ganho de resistência considerável. Esta dificuldade está diretamente relacionada<br />
com a relação entre o raio de arredondamento e o lado da seção transversal, r/b d ,<br />
aqui adotada com sendo 0,19. Quanto maior for esta relação, mais o modelo se<br />
aproxima da seção transversal circular, para a qual a pressão de confinamento é<br />
máxima. Sendo assim, para que o ganho de resistência seja maior, utilizando o<br />
mesmo número de camadas de PRFC, o raio de arredondamento dos cantos deve<br />
aumentar.<br />
Outro fato interessante no comportamento dos modelos reforçados é que<br />
após a resistência do concreto ser atingida, a resistência do modelo praticamente<br />
permanece inalterada durante algum tempo e depois começa a aumentar novamente.<br />
Isto provavelmente acontece porque neste intervalo a seção transversal do modelo<br />
está passando por uma mudança na sua forma, se aproximando da circular. Para<br />
caracterizar esta mudança na forma da seção transversal, Figura 17 apresenta o<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
113<br />
gráfico de deformação lateral x deformação axial. Fica claro que a deformação lateral<br />
no meio da face do modelo é maior que nos outros pontos, o que evidencia a<br />
tendência de mudança da forma da seção transversal.<br />
Série Q X n<br />
-40<br />
Tensão (MPa)<br />
-30<br />
-20<br />
Modelo Q 01<br />
-10<br />
Modelo Q 02<br />
Modelo Q 21<br />
Modelo Q 22<br />
0<br />
0,0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0 -1,2<br />
Deformação (%)<br />
Figura 16 - Diagramas Tensão x Deformação axial da série Q Xn.<br />
Um resumo da resistência e deformações máximas dos modelos de seção<br />
transversal quadrada com os cantos arredondados é apresentado na<br />
Tabela 6.<br />
Tabela 6 - Carregamento máximo e deformações neste ponto (Série Q Xn)<br />
Modelo<br />
Força Tensão Deformação Deformação Lateral (%)<br />
KN MPa Axial (%) Extremidade da face Meio da face Canto<br />
Q 01 1193,90 37,9 0,130 0,073 0,036 0,098<br />
Q 02 1146,60 36,4 0,120 0,067 0,049 0,280<br />
Q 21 1326,50 42,1 0,038 0,963 0,702 0,603<br />
Q 22 1304,00 41,4 0,856 0,702 0,779 0,687<br />
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114<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
0,7<br />
Modelo Q 22<br />
Deformação lateral x Deformação axial<br />
0,6<br />
Deformação Lateral (%)<br />
0,5<br />
0,4<br />
0,3<br />
0,2<br />
0,1<br />
Extremidade da face<br />
Meio da face<br />
Canto arredondado<br />
0,0<br />
0,0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4 -0,5 -0,6 -0,7<br />
Deformação Axial (%)<br />
Figura 17 - Deformação Lateral x Deformação axial do modelo Q 22.<br />
3.1.2.3 Modelos de seção transversal retangular<br />
As propriedades mecânicas e idade do concreto utilizado nestes modelos são<br />
apresentadas na Tabela 7. A exemplo do que aconteceu na série Q Xn, os ensaios<br />
dos modelos foram feitos com controle de deslocamento fixo em 0,003 mm/seg, a<br />
aquisição de dados foi feita a cada 0,3 seg e os transdutores de deslocamento foram<br />
retirados quando a força aplicada chegou a aproximadamente 1000 kN pelo mesmo<br />
processo descrito anteriormente.<br />
Tabela 7 - Características mecânicas e idade do concreto utilizado na série R Xn<br />
Idade Resistência (MPa) Módulo de<br />
Dias Compressão (10 x 20 cm) Tração Elasticidade (MPa)<br />
119 39,9 3,44 25495<br />
Durante o ensaio do modelo R 02 houve um problema com a aquisição de<br />
dados. Em função deste problema todas as leituras de carga, deformações e<br />
deslocamentos foram perdidos. O único dado deste ensaio que foi possível recuperar<br />
foi a carga de ruptura do modelo, que foi de 823,5 kN. Na Figura 18 são apresentados<br />
os diagramas tensão x deformação axial dos outros modelos desta série.<br />
Analisando a Figura 18 observa-se que a curva correspondente ao modelo R<br />
21 apresenta uma anomalia próximo a carga de pico. Esta anomalia aconteceu em<br />
virtude de uma mudança na velocidade de carregamento durante o ensaio. Até que o<br />
sistema operacional do equipamento de ensaio calibrasse a taxa de aplicação de<br />
carga, houve uma diminuição na carga que já estava aplicada conseqüentemente o<br />
diagrama tensão x deformação axial reproduz esta queda no carregamento. Quanto<br />
ao acréscimo de resistência ocorrido nos modelos, a exemplo do que aconteceu com<br />
a série Q Xn, não foi considerável. A explicação para este fato está na baixa relação<br />
r/b d . Nos modelos da série Q Xn esta relação foi de 0,19, já nos modelo de seção<br />
transversal retangular esta relação é de 0,12, portanto este baixo ganho de resistência<br />
já era esperado. Os diagramas tensão x deformação axial dos modelos reforçados da<br />
série Q Xn dão um indicativo da tendência de mudança da forma da seção<br />
transversal, o que já não ocorre nesta série. Para tentar observar esta tendência é<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
115<br />
preciso analisar o diagrama deformação lateral x deformação axial de um modelo<br />
reforçado desta série (Figura 19). Enquanto nos modelos de seção transversal<br />
quadrada a tendência era a transformação numa seção circular, neste a tendência é a<br />
transformação numa seção elíptica. Isto fica explicito porque as deformações da maior<br />
face é maior do que as da face menor e ambas são maiores que a deformação do<br />
canto arredondado.<br />
-40<br />
Série R X n<br />
-<strong>35</strong><br />
-30<br />
Tensão (MPa)<br />
-25<br />
-20<br />
-15<br />
-10<br />
-5<br />
Modelo R 01<br />
Modelo R 21<br />
Modelo R 22<br />
0<br />
0,0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4 -0,5 -0,6 -0,7 -0,8 -0,9 -1,0<br />
Deformação (%)<br />
Figura 18 - Diagramas Tensão x Deformação axial dos modelos da série R Xn.<br />
Série R21<br />
Deformação lateral x Deformação axial<br />
Deformação Lateral (%)<br />
0,25<br />
0,20<br />
0,15<br />
0,10<br />
0,05<br />
Extremidade da face maior<br />
Extremidade da face menor<br />
Meio da face maior<br />
Meio da face menor<br />
Canto arredondado<br />
0,00<br />
0,00 -0,05 -0,10 -0,15 -0,20 -0,25 -0,30 -0,<strong>35</strong> -0,40 -0,45<br />
Deformação Axial (%)<br />
Figura 19 - Deformação lateral x deformação axial do modelo R 21.<br />
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116<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
Tabela 8 - Carregamento máximo e deformações neste ponto (Série R Xn)<br />
Deformação Deformação Lateral (%)<br />
Força Tensão<br />
Axial Extremidade face Meio da Face<br />
Modelo<br />
kN MPa % Maior Menor Maior Menor Canto<br />
R 01 1052,10 33,7 0,129 0,055 0,049 0,079 0,009 0,078<br />
R 02 832,50 26,7 - - - - - -<br />
R 21 1107,60 <strong>35</strong>,5 0,196 0,099 0,089 0,072 0,074 0,082<br />
R 22 1146,70 36,7 0,271 0,188 0,145 0,259 0,164 0,140<br />
3.1.2.4 Modelos de seção transversal elíptica<br />
Os modelos de seção transversal elíptica foram moldados com o mesmo<br />
concreto e ao mesmo tempo que os de seção transversal retangular, por isso as<br />
propriedades mecânicas e idade do concreto utilizado nestes modelos são as<br />
mesmas apresentadas anteriormente (Tabela 7).<br />
Os ensaios desta série também foram feitos com controle de deslocamento<br />
fixo em 0,003 mm/seg, a aquisição de dados se deu a cada 0,3 seg e os transdutores<br />
de deslocamento foram retirados quando a força aplicada no modelo era de<br />
aproximadamente 1000 kN. A Figura 20 apresenta os diagramas tensão x deformação<br />
axial dos modelos de seção transversal elíptica. Fica claro que o ganho de resistência<br />
ocorrido nos modelos reforçados é considerável. É interessante observar que o<br />
comportamento dos modelos reforçados após a resistência do concreto ser atingida<br />
se aproxima de uma reta, que é uma característica do comportamento de modelos<br />
reforçados de seção transversal circular, onde a distribuição de pressões internas é<br />
uniforme. Este é um forte indício de que a distribuição das pressões de confinamento<br />
em pilares de seção transversal elíptica, com relação entre o semi-eixo maior e menor<br />
igual a 5/3, é bem próxima da uniforme. Porém, se analisarmos a Figura 21, fica claro<br />
que a distribuição de pressões de confinamento não é próxima da constante, uma vez<br />
que a deformação lateral da camisa, provocada pela pressão interna, no meio da<br />
maior face é maior que nos outros pontos instrumentados.<br />
-50<br />
Série E X n<br />
-40<br />
Tensão (MPa)<br />
-30<br />
-20<br />
-10<br />
Modelo E 01<br />
Modelo E 02<br />
Modelo E 21<br />
Modelo E 22<br />
0<br />
0,0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0<br />
Deformação (%)<br />
Figura 20 - Diagrama Tensão x Deformação axial dos modelos da série E Xn.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
117<br />
0,9<br />
Modelo E 21<br />
Deformação axial x Deformação lateral<br />
Deformação Lateral (%)<br />
0,8<br />
0,7<br />
0,6<br />
0,5<br />
0,4<br />
0,3<br />
0,2<br />
0,1<br />
Meio da face menor<br />
Meio da face maior<br />
Intermediário<br />
0,0<br />
0,0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4 -0,5 -0,6 -0,7 -0,8<br />
Deformação Axial (%)<br />
Figura 21 - Diagrama de deformação lateral x deformação axial do modelo E 21.<br />
A Tabela 9 apresenta as forças máximas atingidas em cada modelo desta série<br />
e as deformações correspondentes a estas forças.<br />
Tabela 9 - Força máxima e deformações correspondentes para a série E Xn<br />
Força Tensão Deformação Deformação Lateral (%)<br />
Modelo<br />
kN MPa Axial (%) Face menor Face maior Intermediário<br />
E 01 1070,00 34,3 0,140 0,058 0,025 0,038<br />
E 02 1066,20 34,2 0,100 0,061 0,042 0,028<br />
E 21 1507,90 48,3 0,851 0,638 0,964 0,638<br />
E 22 1505,80 48,3 0,837 0,696 0,515 0,723<br />
3.1.2.5 Modelos de seção transversal composta<br />
Em função do alto custo de produção das fôrmas metálicas utilizadas nestes<br />
modelos, foram feitas apenas duas, e por isso a moldagem dos quatro modelos desta<br />
série teve que ser feita em duas etapas. Em cada uma destas etapas foram moldados<br />
dois modelos, sendo que um deles foi posteriormente reforçado, e nove corpos-deprova<br />
10 x 20 cm para a determinação das propriedades mecânicas do concreto<br />
utilizado (Tabela 10).<br />
Tabela 10 - Idade e propriedades mecânicas dos concretos utilizados (série Co Xn)<br />
Idade Resistência (MPa) Módulo de<br />
Modelo<br />
dias Compressão (10 x 20 cm) Tração Elasticidade (MPa)<br />
Co X1 113 34,3 3,06 26065<br />
Co X2 112 42,7 2,73 25785<br />
Os ensaios dos modelos também foram feitos com controle de deslocamento<br />
fixo em 0,003 mm/seg, com aquisição de dados a cada 0,3 seg e com retirada dos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
118<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
transdutores de deslocamento quando a força aplicada era de aproximadamente 1000<br />
kN. A única diferença deste para os outros ensaios é que antes do início do ensaio, as<br />
cordoalhas que atravessam o modelo tiveram que ser protendidas. O intuito desta<br />
protensão é apenas fazer com que as barras laterais ficassem perfeitamente<br />
encostadas no modelo para que este mantivesse a mesma forma durante o ensaio e<br />
por isso, a força aplicada nas cordoalhas não precisa ser grande. Sendo assim, a<br />
protensão foi feita manualmente, alcançando uma força de aproximadamente 0,4 kN.<br />
Depois que protensão foi aplicada verificou-se que as barras laterais não ficaram<br />
perfeitamente encostadas no modelo (Figura 22) em função de imperfeições que<br />
estes apresentavam, e mesmo que fossem aplicadas grandes forças de protensão,<br />
dificilmente isso seria conseguido, portanto o ensaio foi feito desta maneira mesmo.<br />
Cada uma das cordoalhas possuía uma célula de carga para medir as forças que<br />
estavam sendo nelas aplicadas durante o ensaio. Tais forças foram em torno de 20<br />
kN.<br />
Figura 22 - Detalhe da interface entre a barra lateral e o modelo.<br />
A Figura 23 apresenta os diagramas tensão x deformação dos modelos de<br />
seção transversal composta. Analisando estes diagramas constata-se que houve um<br />
ganho considerável de resistência nos modelos reforçados, e, além disso, é<br />
interessante observar que o comportamento dos modelos reforçados se aproxima<br />
muito do comportamento de pilares de seção transversal circular, ou seja, um<br />
comportamento bi-linear. Este é um ótimo indicativo de que a distribuição das<br />
pressões de confinamento deve ser aproximadamente constante. Para idealizar a<br />
distribuição de pressões de confinamento, devemos analisar o diagrama deformação<br />
lateral x deformação axial de um modelo reforçado (Figura 24).<br />
Fica claro na Figura 24 que a deformação da camisa nos trechos onde a<br />
seção transversal é formada pelos maiores trechos de círculos é praticamente igual.<br />
Isso significa que a distribuição das pressões internas nestes trechos é constante. A<br />
deformação dos trechos côncavos da seção transversal, indicada pela deformação<br />
das cordoalhas, é praticamente nula, isso porque a rigidez introduzida pelas barras<br />
laterais ligadas pelas cordoalhas inibe a deformação deste trecho. Já os pontos<br />
localizados na inflexão da seção transversal têm um comportamento igual ao dos<br />
outros pontos até um determinado instante, provavelmente até que o espaço existente<br />
entre o modelo e a barra de contenção lateral seja eliminado. Neste instante, a<br />
deformação deste ponto passa a ser contrária à que era antes, ou seja, este ponto<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
119<br />
deixa de estar tracionado e passa a ser comprimido por algum tempo e logo depois,<br />
volta a ser tracionado. Esta compressão surge em função da expansão lateral do<br />
restante da seção transversal, e como as barras laterais impedem que esta expansão<br />
ocorra nestes pontos, surge ai uma flexão da camisa de PRFC que provoca a sua<br />
compressão. Após a resistência do concreto ter sido atingida, ocorre uma<br />
reacomodação interna, o que leva a uma mudança quase imperceptível na forma da<br />
seção transversal do modelo, mas suficiente para que camisa de reforço encontre<br />
uma configuração de “equilíbrio”, o que faz este ponto voltar a ser tracionado.<br />
Tensão (MPa)<br />
-45<br />
-40<br />
-<strong>35</strong><br />
-30<br />
-25<br />
-20<br />
-15<br />
-10<br />
-5<br />
Série Co X n<br />
Modelo Co 01<br />
Modelo Co 21<br />
Modelo Co 02<br />
Modelo Co 22<br />
0<br />
0,0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0 -1,2 -1,4 -1,6 -1,8<br />
Deformação (%)<br />
Figura 23 - Diagramas tensão x deformação axial (série Co Xn).<br />
Modelo Co 21<br />
Deformação axial x Deformação lateral<br />
Deformação Lateral (%)<br />
0,4<br />
0,3<br />
0,2<br />
0,1<br />
0,0<br />
-0,1<br />
Extremidade<br />
Próximo à inflexão<br />
Intermediário<br />
Cordoalha<br />
0,0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4 -0,5 -0,6<br />
Deformação Axial (%)<br />
Figura 24 - Diagrama de deformação lateral x deformação axial do modelo Co 21.<br />
Na Tabela 11 são apresentadas as cargas máximas e as deformações axial e<br />
lateral em cada uma das posições instrumentadas correspondentes a estas forças.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
120<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
Tabela 11 - Força máxima e deformações correspondentes da série Co Xn<br />
Força Tensão Deformação Deformação Lateral (%)<br />
Modelo<br />
kN MPa Axial (%) Extremidade Próx. Curva Intermediário Cordoalha<br />
Co 01 1052,30 33,1 0,140 0,0<strong>35</strong> 0,423 0,091 0,004<br />
Co 02 949,44 29,8 0,138 0,087 0,221 0,080 0,004<br />
Co 21 1396,50 43,9 0,722 0,555 0,189 0,484 0,036<br />
Co 22 1326,00 41,7 0,899 0,771 0,393 0,495 0,055<br />
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />
4.1 Tenacidade e ductilidade<br />
A norma japonesa determina que a ductilidade seja avaliada por meio do<br />
índice de tenacidade à compressão. Para o cálculo deste índice a norma determina<br />
que seja utilizada a equação 6. O valor de deslocamento limite, δ tc , para estes<br />
modelos é de 2,25 mm, calculado conforme as indicações da norma. Todos os<br />
modelos encamisados tiveram deslocamentos últimos maiores do que 2,25 mm,<br />
sendo assim o cálculo da área sob a curva força x deslocamento, τ c , foi feito até o<br />
deslocamento limite. O mesmo aconteceu para o modelo Q 02, sendo que nos outros<br />
modelos sem a camisa de reforço o deslocamento último foi inferior ao deslocamento<br />
limite. Vale salientar que houve problemas com a aquisição dos dados relativos ao<br />
ensaio dos modelos Ci 02 e R 02, por isso não foi possível calcular o índice de<br />
tenacidade à compressão relativo a estes modelos.<br />
Analisando a equação proposta pela norma japonesa percebe-se que o índice<br />
de tenacidade à compressão é calculado apenas até o limite de deslocamento,<br />
desprezando o comportamento do pilar após este limite. Para considerar todo o<br />
comportamento do pilar até a ruptura, propõe-se a adoção do limite de deslocamento<br />
como sendo o deslocamento para o qual ocorreu a ruptura do material,<br />
independentemente do seu valor. Sendo assim, o índice de tenacidade à compressão<br />
calculado desta maneira, passa a ser identificado por σ<br />
c<br />
, e não mais por<br />
Com o modelo de Ahmad (1992), foi analisada a ductilidade apenas pelo<br />
trecho ascendente do diagrama tensão x deformação (ID 2 ), uma vez que não são<br />
todos os modelos que possuem o trecho descendente até o limite estabelecido pelo<br />
autor. Vale salientar que o valor de ε<br />
e<br />
é obtido considerando o material como sendo<br />
elastoplástico perfeito, e ε<br />
c0<br />
é a deformação para a carga de pico, ou seja, esta<br />
formulação também não considera o comportamento do pilar até a ruptura. Já o<br />
conceito do encurtamento percentual (∆l/l) considera o comportamento do pilar até a<br />
sua ruptura.<br />
A Tabela 12 apresenta os valores dos índices de tenacidade e ductilidade<br />
calculados segundo os métodos descritos anteriormente.<br />
Fica claro nesta tabela, que, independentemente do critério de cálculo<br />
utilizado, o índice de tenacidade ou o de ductilidade aumenta para os pilares<br />
encamisados. Sendo assim, teoricamente, os modelos que possuem maior ductilidade<br />
são os modelos encamisados. Porém não se pode deixar que estes valores induzam<br />
a afirmar que pilares encamisados com PRFC apresentam ruptura lenta e gradual,<br />
muito pelo contrário, apresentam uma ruptura extremamente frágil. Esta<br />
σ<br />
c<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
121<br />
incompatibilidade entre o valor do índice de tenacidade à compressão e o tipo de<br />
ruptura do modelo é evidente em todos os modelos reforçados, ou seja, quanto maior<br />
for este valor, mais frágil é a ruptura do modelo. Isto acontece porque no cálculo do<br />
índice de tenacidade à compressão é considerada a área sob o gráfico força x<br />
deslocamento, até o limite de deslocamento. Nos modelos não encamisados<br />
ensaiados, quando o deslocamento limite é atingido, a curva força x deslocamento é<br />
descendente. Já nos modelos encamisados a curva é ascendente, assim a área sob o<br />
gráfico é maior que no caso anterior. Já no caso dos índices de ductilidade, a camisa<br />
de reforço possibilita maiores deslocamentos axiais, e conseqüentemente maiores<br />
deformações. Sendo assim, o encurtamento percentual e também o ID 2 devem ser<br />
maiores nestes modelos já que a deformação ε<br />
e<br />
é praticamente igual a dos modelos<br />
sem reforço.<br />
Tabela 12 - Índices de tenacidade e ductilidade<br />
Índice de Tenacidade<br />
Índice de Ductilidade<br />
Modelo<br />
σ c σ c méd σ c σ c méd ∆l/l ∆l/l méd ΙD 2 ID 2 méd<br />
MPa MPa MPa MPa % % - -<br />
Ci 01 22,79<br />
22,79<br />
24,48<br />
24,48<br />
0,13<br />
0,13<br />
1,95<br />
Ci 02 -<br />
-<br />
-<br />
-<br />
1,95<br />
Ci 21 <strong>35</strong>,33 47,57 1,18 8,54<br />
36,47<br />
46,16<br />
0,99<br />
Ci 22 37,61<br />
44,74<br />
0,80<br />
9,39<br />
8,96<br />
Q 01 27,39<br />
20,46<br />
34,53<br />
30,96<br />
0,13<br />
0,16<br />
1,55<br />
Q02 13,52<br />
27,39<br />
0,19<br />
1,40<br />
1,47<br />
Q 21 34,18 38,21 1,04 12,09<br />
34,53<br />
38,14<br />
0,95<br />
Q 22 34,87<br />
38,07<br />
0,86<br />
10,67<br />
11,38<br />
R 01 26,62<br />
26,62<br />
26,57<br />
26,57<br />
0,21<br />
0,21<br />
1,82<br />
R 02 -<br />
-<br />
-<br />
-<br />
1,82<br />
R 21 31,43 31,50 0,40 2,96<br />
31,37<br />
31,05<br />
0,64<br />
R 22 31,31<br />
30,61<br />
0,88<br />
3,56<br />
3,26<br />
E 01 25,18<br />
25,12<br />
25,21<br />
25,17<br />
0,16<br />
0,14<br />
1,95<br />
E 02 25,07<br />
25,13<br />
0,13<br />
1,59<br />
1,77<br />
E 21 36,11 42,65 0,96 9,57<br />
<strong>35</strong>,77<br />
42,40<br />
0,95<br />
E 22 <strong>35</strong>,43<br />
42,15<br />
0,93<br />
8,16<br />
8,86<br />
Co 01 25,32<br />
25,68<br />
25,30<br />
25,67<br />
0,<strong>35</strong><br />
0,32<br />
1,99<br />
Co 02 26,04<br />
26,04<br />
0,29<br />
2,22<br />
2,10<br />
Co 21 33,12 33,87 1,69 7,07<br />
31,34<br />
33,04<br />
1,64<br />
Co 22 29,56<br />
32,21<br />
1,59<br />
10,36<br />
8,72<br />
4.2 Coeficiente de forma<br />
A avaliação do coeficiente de forma da seção transversal é feita por meio da<br />
utilização dos dados experimentais e do método de cálculo proposto por Teng & Lam<br />
(2002).<br />
O primeiro passo para a aplicação deste modelo de cálculo é a determinação<br />
do coeficiente K 1 da equação 1. Os autores desta formulação sugerem que seja<br />
adotado o valor de 3,71. Porém, com os dados dos ensaios dos pilares de seção<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
122<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
transversal circular, é possível a determinação deste coeficiente para as condições<br />
específicas desta simulação experimental, uma vez que para tais pilares a pressão<br />
lateral é uniforme e facilmente determinada pela própria equação proposta por Teng &<br />
Lam (2002). Procedendo-se desta maneira, o coeficiente K 1 determinado com dados<br />
experimentais é de 3,53, cerca de 5 % inferior ao proposto pelos autores deste<br />
modelo de cálculo.<br />
Tendo-se o valor do coeficiente K 1 , passa-se a determinação do coeficiente de<br />
forma, K s , dos modelos de seção transversal diferente da circular. Vale ressaltar que<br />
K s =1 para o caso de pilares de seção transversal circular, isso porque a distribuição<br />
das pressões internas é constante. Sendo assim, quanto mais próximo da unidade for<br />
este coeficiente, mais próxima da uniforme será a distribuição da pressão interna ao<br />
longo de toda a seção transversal do pilar.<br />
Para o cálculo do coeficiente K s , procedeu-se da seguinte maneira.<br />
Inicialmente calcula-se a taxa volumétrica de PRF existente no pilar original; com este<br />
valor, determina-se a pressão de confinamento do pilar de seção transversal<br />
equivalente (equação 3); o valor da pressão efetiva de confinamento, f l´ da equação 2,<br />
fica expresso em função do coeficiente de forma K s ; com os valores experimentais da<br />
resistência do pilar confinado, resistência do concreto e coeficiente K 1 , determina-se o<br />
valor do coeficiente K s . A Tabela 13 apresenta os valores utilizados nos cálculos e o<br />
valor do coeficiente de forma.<br />
Tabela 13 - Determinação do coeficiente K s<br />
Seção<br />
transversal<br />
f cc<br />
(MPa)<br />
f co<br />
(MPa)<br />
ρ PRF<br />
(-)<br />
f l<br />
(MPa)<br />
K s<br />
(-)<br />
Circular 62,41 33,97 0,021 7,97 1,000<br />
Quadrada 41,75 37,15 0,022 8,51 0,153<br />
Retangular 36,11 33,70 0,024 9,10 0,075<br />
Elíptica 48,29 34,23 0,022 8,39 0,470<br />
Composta 42,79 31,46 0,023 8,66 0,370<br />
Como já era de se esperar, o modelo que apresentou a pior distribuição de<br />
pressão de confinamento é o de seção retangular, e o que apresenta a melhor<br />
distribuição, depois do circular, é o de seção transversal elíptica.<br />
Se analisarmos cuidadosamente a expressão que determina a pressão de<br />
confinamento do pilar de seção transversal circular equivalente, percebe-se que o<br />
valor da resistência da camisa de PRFC é o valor obtido em ensaios de tração direta.<br />
Porém, o comportamento do PRFC em ensaios de tração direta é diferente daquele<br />
em serviço na camisa de reforço, e as causas desta diferença, para o caso de pilares<br />
de seção transversal circular, já foram detalhadas por Lam & Teng (2003) e Pessiki et<br />
al. (2001). Para evidenciar esta diferença, constrói-se a Tabela 14 onde são<br />
mostrados os valores da deformação da camisa na direção das fibras do PRFC para o<br />
maior valor da carga aplicada nos modelos, com exceção do caso do modelo de<br />
seção retangular, e da amostra ensaiada à tração direta. No caso do modelo de seção<br />
transversal retangular, a deformação que está sendo apresentada é a deformação<br />
última, uma vez que o máximo carregamento foi obtido antes da ruptura da camisa.<br />
Para os modelos de seção transversal circular e elíptica, as explicações para<br />
esta diferença são as mesmas apontadas por Lam & Teng (2003), ou seja, (a) a<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
123<br />
deformação localizada nas fissuras do concreto provoca elevados esforços de tração<br />
neste ponto, (b) o efeito da curvatura do PRFC na resistência à tração do material, (c)<br />
e também o fato de o mecanismo de solicitação da camisa ser na realidade bi-axial,<br />
uma vez que a aderência entre esta e o modelo faz a transferência de esforços ao<br />
longo do comprimento. Já nos modelos de seção transversal, quadrada, retangular e<br />
composta, além dos motivos citados anteriormente, ocorre o efeito da flexão da<br />
camisa. Embora esta flexão também ocorra nos modelos de seção transversal circular<br />
e elíptica, ela é praticamente desprezível se comparada com a que ocorre nestes<br />
outros modelos. A Figura 25 apresenta os principais pontos onde o efeito da flexão da<br />
camisa de PRFC é mais pronunciado.<br />
Tabela 14 - Deformações da camisa em serviço e em ensaios de tração direta<br />
Seção<br />
transversal<br />
Deformação da<br />
camisa (%)<br />
Deformação das<br />
amostras (%)<br />
Circular 0,970<br />
Quadrada 0,871<br />
Retangular 0,842<br />
2,43<br />
Elíptica 0,844<br />
Composta 0,663<br />
Posição da "deformada", onde ocorre a flexão<br />
Figura 25 - Principais pontos onde ocorre flexão da camisa de reforço.<br />
Uma vez que a deformação da camisa é diferente da deformação última no<br />
ensaio de tração direta, a resistência da camisa de reforço também será. Portanto o<br />
valor da resistência da camisa na equação que calcula a pressão de confinamento<br />
para o pilar de seção transversal circular equivalente deve ser minorado por um<br />
coeficiente de deformação K ε que leve em consideração esta diferença. Como na<br />
formulação proposta por Teng & Lam (2002) este coeficiente de minoração não é<br />
utilizado, o coeficiente de forma, K s , não reflete apenas a distribuição de pressões de<br />
confinamento na camisa de reforço, mas também a diferença entre a resistência do<br />
PRF na camisa de reforço e no ensaio de tração direta.<br />
Para a determinação do coeficiente de deformação, K ε , divide-se a<br />
deformação da camisa de reforço ocorrida quando a máxima carga é atingida, pela<br />
deformação de ruptura obtida no ensaio de tração direta. Com este valor, minora-se a<br />
resistência da camisa, obtida em ensaio de tração direta, e calcula-se um novo valor<br />
para a pressão de confinamento que atua no modelo de seção transversal circular.<br />
Com os dados dos ensaios deste modelo, com o novo valor da pressão de<br />
confinamento e com a equação 1, calcula-se um novo valor para o coeficiente K 1 ,<br />
obtendo-se assim K 1 = 9,03, 143 % maior do que o proposto por Teng & Lam (2002).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
124<br />
Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />
A Tabela 15 apresenta os valores do coeficiente K ε e os novos valores da pressão de<br />
confinamento, fl, e do coeficiente de forma efetivo K s´.<br />
Tabela 15 - Valores de K ε , f l e K s´<br />
Seção<br />
transversal<br />
K ε<br />
( - )<br />
f l<br />
(MPa)<br />
K s´<br />
( - )<br />
K s´/ K s<br />
( - )<br />
Circular 0,399 3,15 1,000 1,000<br />
Quadrada 0,<strong>35</strong>8 3,046 0,167 1,09<br />
Retangular 0,347 3,160 0,085 1,13<br />
Elíptica 0,347 2,911 0,5<strong>35</strong> 1,14<br />
Composta 0,273 2,364 0,531 1,44<br />
Analisando os valores de K s´, percebe-se que continuam sendo coerentes,<br />
porém, conclui-se que a influência da forma da seção transversal é um pouco menor<br />
do que a retratada pelo modelo de Teng & Lam (2002), uma vez que no fator de forma<br />
está embutido o coeficiente de deformação K ε . Sendo assim, a distribuição da pressão<br />
de confinamento em seções transversais diferentes da circular é um pouco menos<br />
distante da distribuição uniforme, característica de pilares encamisados de seção<br />
transversal circular.<br />
É interessante notar na Tabela 15 que, com exceção da seção composta,<br />
todos os valores de K ε são relativamente próximos, o que sugere que a influência da<br />
forma da seção transversal do pilar no desempenho da camisa de reforço não é muito<br />
significativo, no máximo 15 % de diferença quando comparamos a seção circular com<br />
a retangular ou elíptica. Já no caso da seção composta, a existência das barras<br />
laterais de contenção faz com que a camisa não sofra expansão lateral nestes pontos,<br />
o que causa uma grande concentração de tensão na camisa, fazendo com que ela<br />
rompa prematuramente.<br />
5 CONCLUSÕES<br />
5.1 Tenacidade e ductilidade<br />
Após a realização dos ensaios e análise dos resultados, ficou claro que tanto<br />
a ductilidade quanto a tenacidade dos modelos reforçados aumentou com a adoção<br />
de seções transversais com formas mais adequadas à potencialização do efeito de<br />
confinamento. Porém, não houve concordância entre os valores dos índices<br />
calculados. A única coisa que se pode afirmar é que o comportamento dos modelos<br />
encamisados foi tenaz, uma vez que foram capazes de absorver grande quantidade<br />
de energia, e apresentaram grande capacidade de deformação antes da ruptura. Por<br />
outro lado, apresentaram uma ruptura extremamente frágil.<br />
Já os resultados dos modelos não encamisados foram muito dispersos, e por<br />
isso não permitem concluir se a forma da seção transversal tem alguma influência na<br />
ductilidade e na tenacidade.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />
125<br />
5.2 Coeficiente de forma<br />
O objetivo desta análise não foi o de propor alguma alteração nos métodos de<br />
cálculo existentes, mas sim a de verificar qual é a real influência da forma da seção<br />
transversal no reforço de pilares com PRFC.<br />
Os resultados das análises realizadas permitem concluir que a forma da seção<br />
transversal tem grande influência na distribuição da pressão de confinamento. Porém,<br />
não foi possível, com as análises realizadas, quantificar com exatidão essa influência.<br />
Os valores do coeficiente de forma obtidos nesta pesquisa, não devem ser<br />
assumidos como absolutamente verdadeiros. Para que isso fosse possível, seriam<br />
necessárias análises teóricas mais aprofundadas, inclusive com simulações<br />
numéricas, o que não fazia parte dos objetivos deste trabalho. Porém, estes<br />
resultados apresentam-se como bons indicativos da real influência da forma da seção<br />
transversal na eficiência do reforço de pilares de concreto com PRFC.<br />
6 AGRADECIMENTOS<br />
Agradecemos à FAPESP e ao CNPq pelo apoio financeiro, sem o qual esta<br />
pesquisa não poderia ter sido realizada.<br />
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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>
ISSN 1809-5860<br />
AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DO FATOR DE<br />
DISTRIBUIÇÃO DE CARGA PARA PONTES<br />
MULTICELULARES DE MADEIRA PROTENDIDA<br />
Jorge Luís Nunes de Góes 1 & Antonio Alves Dias 2<br />
Resumo<br />
As pontes protendidas de madeira com tabuleiro multicelular são sistemas tipicamente<br />
ortotrópicos e necessitam de modelos analíticos sofisticados para estimar seu<br />
comportamento estrutural sob carregamentos de projeto. Existem vários modelos de<br />
cálculo que podem ser empregados para o dimensionamento deste tipo de estrutura. A<br />
forma mais prática e simples de se considerar uma ponte em placa é fazendo uma<br />
analogia à viga (Modelo de Viga Equivalente). Nesse trabalho é avaliado<br />
experimentalmente o Fator de Distribuição de Carga empregado. São realizados<br />
ensaios de flexão em protótipo de ponte em escala 1:3, sujeito a vários arranjos de<br />
carregamentos concentrados, simétricos e assimétricos, com três níveis de protensão<br />
distintos. Os resultados indicam que o Fator de Distribuição de Carga empregado,<br />
para alguns carregamentos, resulta em situações contra a segurança.<br />
Palavras-chave: pontes; madeira protendida; experimentação.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
De suma importância para o desenvolvimento do país, do ponto de vista<br />
econômico e social, as estradas vicinais devem assegurar a entrada de insumos nas<br />
propriedades agrícolas, o escoamento da produção e o livre deslocamento das<br />
populações do meio rural.<br />
Nota-se, entretanto, que o lastimável estado em que se encontram as<br />
estradas e pontes vicinais, dificultam o trânsito causando desconforto e insegurança<br />
aos usuários, além de elevar o custo do transporte para os produtores e os custos de<br />
manutenção para as prefeituras.<br />
A maioria das pontes de madeira no Brasil não é projetada e construída por<br />
técnicos e construtores especializados em madeiras. Isto resulta em estruturas com<br />
alto custo, inseguras e de baixa durabilidade. O estado atual de degradação destas<br />
pontes reflete um quadro negativo no uso da madeira como um material estrutural.<br />
1 Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, jgoes@sc.usp.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, dias@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 127-140, <strong>2006</strong>
128<br />
Jorge Luis Nunes Góes & Antonio Alves Dias<br />
Assim, constata-se a urgente necessidade de se implantar nas estradas<br />
municipais e estaduais os avanços tecnológicos atuais para a construção e<br />
recuperação das pontes de madeira do país.<br />
Dentre as mais recentes tecnologias empregadas na construção das<br />
modernas pontes de madeira a que mais se destaca é a da madeira laminada<br />
protendida transversalmente. Este sistema consiste de uma série de lâminas de<br />
madeira serrada dispostas lado a lado e comprimidas transversalmente por meio de<br />
barras de protensão de alta resistência, fazendo com que surjam propriedades de<br />
resistência e elasticidade na direção transversal.<br />
Este conceito, originado no Canadá, despertou o interesse dos Estados<br />
Unidos, que investiu em pesquisas para o desenvolvimento do sistema. Devido ao<br />
grande sucesso no seu emprego, a tecnologia das pontes protendidas se estendeu a<br />
outros países como Austrália, Japão e alguns países europeus, onde técnicas foram<br />
desenvolvidas para a realidade de cada região.<br />
Figura 1 – Ilustração de ponte de madeira com tabuleiro multicelular protendido.<br />
No Brasil, estudos do sistema protendido vêm sendo realizados desde o início<br />
da década de 90. Determinação dos efeitos de perda de protensão e avaliação do<br />
comportamento das placas protendidas de madeira são alguns dos estudos realizados<br />
no país. Porém atualmente ainda não há registro de estudos no país sobre este<br />
sistema com tabuleiro multicelular.<br />
Dentro deste contexto, pesquisas são necessárias para se avaliar o<br />
comportamento estrutural e a análise estrutural das pontes de madeira com tabuleiro<br />
multicelular protendido.<br />
O objetivo deste trabalho é o estudo experimental do comportamento<br />
estrutural de tabuleiros multicelulares protendidos, por meio de ensaios em laboratório<br />
de modelos reduzidos, com a finalidade de avaliar o Fator de Distribuição de Carga<br />
para este tipo de estrutura.<br />
2 COMPORTAMENTO ESTRUTURAL<br />
A Madeira Laminada Protendida consiste de uma série de lâminas de madeira<br />
serrada dispostas lado a lado e comprimidas transversalmente por barras de<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 127-140, <strong>2006</strong>
Avaliação experimental do fator de distribuição de carga para pontes multicelulares de...<br />
129<br />
protensão de alta resistência. A força de compressão transversal aplicada pelas<br />
barras de protensão atua solidarizando as lâminas, figura 2.<br />
Figura 2 – Arranjo básico das placas protendidas de madeira.<br />
Este elemento estrutural é capaz de resistir à flexão transversal e também<br />
transferir esforços de cisalhamento por meio do atrito entre as lâminas.<br />
Na figura 3 pode-se observar o comportamento da Madeira Laminada<br />
Protendida quando solicitada. A flexão transversal produz uma tendência de<br />
afastamento das lâminas na parte inferior da placa e, o cisalhamento produz uma<br />
tendência de escorregamento vertical entre as lâminas. Em ambos os casos, esses<br />
efeitos não irão ocorrer se a placa tiver um nível de protensão suficiente. Como<br />
conseqüência, a manutenção de um adequado nível de protensão é o aspecto mais<br />
importante para construções em Madeira Laminada Protendida.<br />
Figura 3 – Mecanismos resistentes da madeira laminada protendida. CREWS (2000).<br />
Em função da capacidade de transferência de esforços nas duas direções<br />
preferenciais (longitudinal e transversal), a Madeira Laminada Protendida pode ser<br />
representada por uma placa ortotrópica com diferentes propriedades mecânicas nas<br />
duas direções.<br />
As propriedades mecânicas da placa são fortemente influenciadas por fatores<br />
como: espécie da madeira, teor de umidade da madeira, geometria da placa,<br />
freqüência de juntas de topo e nível de protensão.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 127-140, <strong>2006</strong>
130<br />
Jorge Luis Nunes Góes & Antonio Alves Dias<br />
O sistema em tabuleiro multicelular protendido, consiste de duas placas de<br />
Madeira Laminada Protendida, formando a mesa superior e inferior, ligadas às<br />
nervuras. A geometria otimizada da seção transversal aumenta significativamente a<br />
rigidez à flexão longitudinal e a rigidez à torção, tornando este tipo de estrutura uma<br />
excelente opção para vãos de 12 a 25 metros, GANGARAO & LATHEEF (1991).<br />
Quando é submetido a um carregamento concentrado qualquer, um tabuleiro<br />
multicelular sofre deformação, como indicado na figura 4a.<br />
O’BRIEN & KEOGH (1999) indicam a existência de quatro formas principais<br />
de deformação associadas aos tabuleiros com tabuleiro multicelular. O primeiro modo<br />
de deformação é o de flexão longitudinal, figura 4b. A rigidez à flexão longitudinal total<br />
do tabuleiro pode ser considerada aplicando-se os conceitos básicos da Resistência<br />
dos Materiais, desde que haja monolitismo no conjunto e possa ser assumida a<br />
ausência de deformação cisalhante no plano horizontal do tabuleiro (Shear Lag).<br />
No caso da deformação devido à flexão transversal, figura 4c, de modo geral<br />
pode-se desprezar a contribuição das almas, considerando apenas a rigidez das<br />
mesas.<br />
O terceiro modo é a torção do tabuleiro, como indicado na figura 4d. Para<br />
tabuleiros multicelulares contendo cinco ou mais células, a rigidez a torção total do<br />
tabuleiro pode ser tomada considerando apenas a seção externa como se fosse<br />
somente uma seção caixão. Esta consideração é justificada pelo fato de que em<br />
tabuleiros multicelulares, o fluxo de cisalhamento nas almas interiores é muito<br />
pequeno, e somente o fluxo em torno das mesas e almas externas é significante.<br />
Figura 4 – Comportamento estrutural do sistema com tabuleiro multicelular.<br />
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Avaliação experimental do fator de distribuição de carga para pontes multicelulares de...<br />
131<br />
E por fim, o quarto modo de deformação, que caracteriza as estruturas com<br />
tabuleiro multicelular, chamado de distorção, figura 4e. A distorção é causada pela<br />
flexão localizada das almas e flanges das células individuais. O comportamento é<br />
similar ao observado nas vigas Vierendeel. Os principais fatores que afetam a<br />
distorção são as dimensões das células em relação à altura total da seção e a rigidez<br />
individual das almas e mesas. Segundo WEST (1973), apud CUSENS & PAMA<br />
(1975), o efeito da distorção deve ser considerado quando a área vazia das células<br />
exceder 60% da seção transversal total. Para os casos usuais de pontes protendidas<br />
com tabuleiro multicelular esta relação raramente excede os 50%.<br />
3 MODELO SIMPLIFICADO DE CÁLCULO<br />
As pontes protendidas de madeira com tabuleiro multicelular são sistemas<br />
tipicamente ortotrópicos e necessitam de modelos analíticos sofisticados para estimar<br />
seu comportamento estrutural sob carregamentos de projeto. Existem vários modelos<br />
de cálculo que podem ser empregados para o dimensionamento deste tipo de<br />
estrutura. Como exemplo, podem ser citados os modelos de placa ortotrópica<br />
equivalente, elementos finitos, grelha, viga equivalente, entre outros.<br />
As análises via elementos finitos e de placa ortotrópica são precisas para<br />
predizer o comportamento em serviço dessas pontes. Todavia, a complexidade destes<br />
modelos pode ser limitante se não houver um computador disponível, e o<br />
desenvolvimento de procedimentos simplificados de cálculo torna-se indispensável.<br />
A forma mais prática e simples de se considerar uma ponte em placa é<br />
fazendo uma analogia à viga. Este método é chamado de Modelo de Viga<br />
Equivalente. Nesse modelo, a complexidade do tabuleiro da ponte é reduzida para<br />
uma viga simplesmente apoiada com determinada largura efetiva, figura 5.<br />
Figura 5 – Viga transformada seção I.<br />
A largura da aba da seção da viga equivalente é determinada por uma<br />
equação desenvolvida a partir da análise de placas ortotrópicas, equação 1.<br />
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132<br />
Jorge Luis Nunes Góes & Antonio Alves Dias<br />
⎛<br />
2 ⎞<br />
⎜ ⎛ S ⎞ ⎟<br />
⎜<br />
1+<br />
υxy⎜<br />
⎟<br />
S ⎝ L ⎟<br />
b<br />
⎠<br />
m = ⋅⎜<br />
⎟<br />
(1)<br />
2<br />
2<br />
⎜ Ex<br />
⎛ S ⎞ ⎟<br />
⎜1+<br />
⎜ ⎟ ⎟<br />
⎝<br />
G xy ⎝ L ⎠ ⎠<br />
Onde:<br />
b m = largura da aba;<br />
S = distância livre entre as nervuras,<br />
L = vão da ponte;<br />
ν xy = coeficiente de Poisson;<br />
E x = módulo de elasticidade na direção longitudinal<br />
G xy = módulo de elasticidade à torção<br />
A direção “x” corresponde à direção longitudinal (orientação do tráfego) da<br />
ponte e a direção “y” corresponde à direção transversal.<br />
A equação 1 foi então modificada para considerar o comportamento altamente<br />
ortotrópico das pontes de Madeira Laminada Protendida, tornando o coeficiente de<br />
Poisson nulo e introduzindo o parâmetro “Shear Lag” (K).<br />
b<br />
m<br />
S<br />
= 2<br />
(2)<br />
2<br />
⎛ S ⎞<br />
1+<br />
⎜K<br />
⎟<br />
⎝ 2L ⎠<br />
Onde,<br />
Ex<br />
K = 2 (parâmetro “Shear Lag”) (3)<br />
G<br />
xy<br />
Baseado em testes realizados na West Virginia University e no FPL, TAYLOR<br />
et. al. (2000) sugerem E x /G xy =60, ou seja, K=15,5. Este valor é válido para tabuleiros<br />
de madeira serrada.<br />
TAYLOR et. al. (2000) indicam que, a partir da largura da aba (b m ), a largura<br />
efetiva ou largura da mesa da viga interna equivalente de seção I pode ser estimada<br />
como sendo:<br />
b e = 2bm<br />
+ bw<br />
(4)<br />
Para vigas externas, a largura efetiva ou largura da mesa é dada por:<br />
b e = bm<br />
+ bw<br />
(5)<br />
Com b w = largura da nervura.<br />
Os efeitos da distorção podem ser desprezados se obedecidos certos limites<br />
geométricos. Segundo CREWS (2002), pesquisadores da WVU estudaram os efeitos<br />
da distorção e indicam os seguintes limites para as relações entre espaçamento entre<br />
vigas, largura e espessura dos tabuleiros.<br />
S<br />
≤ 2,5 e S ≤ 127 cm<br />
(6)<br />
2⋅<br />
h<br />
f<br />
S + b<br />
h<br />
f<br />
w ≤<br />
6,0<br />
e<br />
S + b 152 cm<br />
(7)<br />
w ≤<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 127-140, <strong>2006</strong>
Avaliação experimental do fator de distribuição de carga para pontes multicelulares de...<br />
133<br />
Seguindo os limites descritos acima pode-se afirmar que a largura da aba<br />
contribuinte para tabuleiros de seção caixão é:<br />
b m ≥ 0,34⋅S<br />
(8)<br />
O valor máximo do Fator de Distribuição de Carga é apresentado na equação<br />
9. Segundo CREWS (2002), esta equação foi obtida teoricamente, a partir de Séries<br />
de Fourier para placas.<br />
1+<br />
Ce<br />
WL<br />
= (9)<br />
⎛ 2 ⎞ 2<br />
⎜ + Ce<br />
⎟ ⋅ Nb<br />
−<br />
⎝ π ⎠ π<br />
Onde:<br />
W L = Fator de Distribuição de Carga;<br />
N b = número total de vigas ao longo da seção transversal;<br />
C e = coeficiente de deslocamento da borda.<br />
δe<br />
Ce<br />
= (10)<br />
δ − δe<br />
Onde:<br />
δ e = flecha da viga da borda;<br />
δ = flecha máxima do tabuleiro.<br />
Logicamente, quanto maior for a rigidez transversal do tabuleiro, maior será o<br />
valor de C e . Da mesma forma o coeficiente C e é proporcional à rigidez à torção do<br />
tabuleiro. Como já observado anteriormente, o sistema protendido com tabuleiro<br />
multicelular possui elevada rigidez à torção. Portanto, nesse caso, os valores de C e<br />
são relativamente maiores que os de outros sistemas.<br />
Para as pontes protendidas com tabuleiro multicelular, foi adotado o valor C e =<br />
2. Apesar dos resultados experimentais em campo demonstrarem grande variação,<br />
este valor foi adotado como padrão, pois os erros envolvidos pareceram não ser<br />
significantes, CREWS (2002).<br />
Considerando as simplificações acima descritas, o valor do Fator de<br />
Distribuição de Carga pode ser expresso da seguinte forma:<br />
3NL<br />
WL<br />
= (11)<br />
2,64Nb<br />
− 0,64<br />
Onde:<br />
N L = número de faixas de tráfego,<br />
N b = número de vigas ao longo da seção transversal.<br />
A equação 11, descrita anteriormente, desenvolvida teoricamente a partir de<br />
Séries de Fourier para placas e ajustada com resultados experimentais em campo,<br />
indica o maior valor que o Fator de Distribuição de Carga pode assumir.<br />
Como pode-se observar, a eficiência do Modelo de Viga Equivalente depende<br />
diretamente do real valor do Fator de Distribuição de Carga.<br />
Com o objetivo de avaliar o Fator de Distribuição de Carga, GÓES (2005)<br />
realizou uma investigação experimental em modelo pouco reduzido em escala 1:3 de<br />
um tabuleiro multicelular protendido. A descrição dos ensaios, bem como os<br />
resultados e conclusões do trabalho, são descritas a seguir.<br />
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134<br />
Jorge Luis Nunes Góes & Antonio Alves Dias<br />
4 EXPERIMENTAÇÃO NO TABULEIRO MULTICELULAR PROTENDIDO<br />
O modelo reduzido ensaiado foi todo construído em madeira da espécie<br />
Cedrinho. As nervuras foram reproduzidas por vigas maciças, com dimensões<br />
nominais 4 x 20 x 400cm e as lâminas de madeira do tabuleiro, por sarrafos de 1,7 x 5<br />
x 400cm. A figura 6 ilustra a configuração da seção transversal do modelo com 16<br />
nervuras.<br />
Figura 6 – Seção transversal do modelo reduzido.<br />
Na fase preliminar, todas as peças de madeira já serradas, foram furadas uma<br />
a uma para a passagem das barras de protensão. O diâmetro dos furos é de ½”, e o<br />
espaçamento é de 25 cm entre eixos, conforme projeto do modelo (figura 6). A figura<br />
7 mostra a realização dos furos nas peças de madeira.<br />
Figura 7 – Vista lateral do modelo e o espaçamento entre as barras de protensão.<br />
Figura 8 – Furação das peças de madeira.<br />
Após a fase preliminar, todas as peças de madeira utilizadas no modelo foram<br />
caracterizadas por ensaios não destrutivos de flexão estática. Os ensaios consistem<br />
em aplicar o carregamento com duas forças concentradas espaçadas de 50cm no<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 127-140, <strong>2006</strong>
Avaliação experimental do fator de distribuição de carga para pontes multicelulares de...<br />
1<strong>35</strong><br />
centro do vão sobre a peça bi-apoiada, medindo a flecha máxima a cada novo<br />
incremento de carregamento Esta configuração do ensaio de flexão tem justificativa<br />
no fato de que o modelo reduzido é ensaiado como mesmo espaçamento entre as<br />
cagas concentradas. Desses ensaios foi obtido o módulo de elasticidade à flexão de<br />
cada peça (figura 9)<br />
Figura 9 – Configuração do ensaio flexão estática das nervuras.<br />
Em seguida, o modelo foi montado sobre apoios contínuos, compostos por<br />
barra de aço redondo sobre viga de aço rígida. Foram utilizadas barras roscadas<br />
(M10) com 10 mm de diâmetro para simular as barras de protensão. A figura 10<br />
mostra a montagem do modelo reduzido.<br />
Figura 10 – Montagem do tabuleiro multicelular protendido.<br />
O modelo foi instrumentado com transdutores de deslocamento na face<br />
inferior de cada nervura no centro do vão, bem como célula de carga para registro da<br />
carga aplicada no modelo.<br />
O modelo reduzido foi ensaiado com vários arranjos de carregamentos<br />
diferentes, simétricos e assimétricos, com a finalidade de determinar o Fator de<br />
Distribuição de Carga Experimental para cada nível de protensão distinto.<br />
Para cada um dos três níveis de protensão estudados (700 kPa, 550 kPa e<br />
<strong>35</strong>0 kPa), era realizada uma bateria de ensaios, com os vários arranjos de<br />
carregamento. Os carregamentos concentrados foram aplicados com peças de<br />
madeira de alta densidade sob perfis metálicos.<br />
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Jorge Luis Nunes Góes & Antonio Alves Dias<br />
As dimensões das cargas concentradas usadas no modelo eram 6,7cm de<br />
comprimento (sentido longitudinal) e 16,7cm de largura. Essas medidas<br />
correspondem às dimensões reais da área de contato das rodas do Veículo tipo<br />
Classe 45 (20 x 50cm), conforme NBR 7188.<br />
As figuras 11 e 12 ilustram a geometria e o posicionamento dos<br />
carregamentos concentrados aplicados no modelo, bem como seu arranjo.<br />
Figura 11 – Posicionamento dos carregamentos concentrados.<br />
Figura 12 – Arranjo dos carregamentos concentrados.<br />
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />
O Fator de Distribuição de Carga representa a parcela do montante total de<br />
carga aplicada, pela qual cada viga de seção I é solicitada. Admitindo-se que todas as<br />
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Avaliação experimental do fator de distribuição de carga para pontes multicelulares de...<br />
137<br />
vigas de seção I que compõem o tabuleiro tenham a mesma rigidez à flexão<br />
longitudinal (EI), pode-se estimar o Fator de Distribuição de Carga através dos<br />
deslocamentos de caga viga relacionados com a soma dos deslocamentos de todas<br />
vigas (equação 87).<br />
W<br />
L<br />
δi<br />
= *100<br />
(12)<br />
n<br />
∑ δ<br />
i<br />
i=<br />
1<br />
Onde:<br />
δ i = deslocamento vertical medido no ensaio no ponto i;<br />
W L = Fator de Distribuição de Carga no ponto i.<br />
É necessário ressaltar, que o Fator de Distribuição de Carga, obtido dos<br />
ensaios realizados é correspondente ao tipo de carregamento empregado. No caso<br />
foram utilizadas quatro cargas concentradas distanciadas de 66,7 cm na direção<br />
transversal e 50 cm na direção longitudinal, que em escala real correspondem a 200<br />
cm e 150 cm, respectivamente.<br />
Os gráficos das figuras 13 a 15 mostram a distribuição de carga ao longo da<br />
seção transversal do modelo ensaiado com as duas configurações de tabuleiro.<br />
Figura 13 – Fator de Distribuição de Carga do ensaio P1-700/X.<br />
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Jorge Luis Nunes Góes & Antonio Alves Dias<br />
Figura 14 – Fator de Distribuição de Carga do ensaio P1-550/X.<br />
Figura 15 – Fator de Distribuição de Carga do ensaio P1-<strong>35</strong>0/X.<br />
Observando os gráficos de distribuição de carga pode ser notado que quanto<br />
maior o nível de protensão, menor é o Fator de Distribuição de Carga. Isto ocorre<br />
devido ao acréscimo de rigidez transversal do tabuleiro, provocado pelo maior nível de<br />
protensão.<br />
Também pode ser observado que o maior valor de Fator de Distribuição de<br />
Carga é de 18% e ocorre no ensaio com carregamento posicionado na lateral e <strong>35</strong>0<br />
kPa de tensão de protensão.<br />
O Fator de Distribuição de Carga teórico obtido pela equação 11, para o<br />
tabuleiro em questão é:<br />
3NL<br />
3⋅<br />
2<br />
WL = =<br />
= 0,14<br />
(13)<br />
2,64N − 0,64 2,64⋅16<br />
− 0,64<br />
b<br />
Fazendo-se a comparação do valor obtido da experimentação com o obtido<br />
pela equação 11, pode-se verificar uma diferença considerável – experimental (18%)<br />
e teórico (14%).<br />
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Os resultados desta análise experimental indicam que o Fator de Distribuição<br />
de Carga teórico obtido com o uso da equação 11 pode ser, em alguns casos, contra<br />
a segurança, dependendo do posicionamento do carregamento.<br />
6 CONCLUSÕES<br />
O Modelo de Viga Equivalente é um modelo simplificado de cálculo que vem<br />
sendo utilizado há algum tempo, principalmente nos Estados Unidos, para o<br />
dimensionamento de tabuleiros multicelulares de madeira protendida. O Modelo é<br />
simples e depende diretamente do Fator de Distribuição de Carga. A eficiência do<br />
Modelo de Viga Equivalente depende diretamente do real valor do Fator de<br />
Distribuição de Carga.<br />
Entretanto, na análise experimental conduzida neste trabalho, o valor teórico<br />
do Fator de Distribuição de Carga não apresentou boa concordância, indicando<br />
valores contra a segurança.<br />
Para a determinação do correto valor deste Fator, são necessárias várias<br />
simulações numéricas e ensaios experimentais, com variações da geometria e<br />
número de nervuras, em tabuleiros multicelulares protendidos.<br />
Após estas várias simulações e ensaios poderá ser apresentada uma nova<br />
equação para o Fator de Distribuição de Carga que represente as condições<br />
nacionais de solicitação.<br />
7 AGRADECIMENTOS<br />
Os autores expressam seus agradecimentos à FAPESP – “Fundação de<br />
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo”, pela concessão da bolsa de estudos e<br />
suporte financeiro para o desenvolvimento da pesquisa.<br />
8 REFERÊNCIAS<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT (1984). NBR 7188 –<br />
Cargas Móveis em Pontes Rodoviárias e Passarelas de Pedestres. Rio de Janeiro.<br />
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Engineering – University of Technology.<br />
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RECORDS 1275, TRB, National Research Council, Washington D.C., v2, p.293-305.<br />
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GÓES, J. L. N. (2002). Análise de vigas de madeira pregadas com seção<br />
composta. São <strong>Carlos</strong>. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São<br />
<strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />
GÓES, J. L. N. (2005). Estudo de Pontes de Madeira com Tabuleiro Multicelular<br />
Protendido. São <strong>Carlos</strong>. 184p. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São<br />
<strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />
O’BRIEN, E. J.; KEOGH, D. K. (1999). Bridge Deck Analysis. London and New York.<br />
E & FN SPON – Taylor & Francis Group.<br />
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