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São Carlos, v.8 n. 35 2006 - SET - USP

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São <strong>Carlos</strong>, <strong>v.8</strong> n. <strong>35</strong> <strong>2006</strong>


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO<br />

Reitor:<br />

Profa. Titular SUELY VILELA SAMPAIO<br />

Vice-Reitor:<br />

Prof. Titular FRANCO MARIA LAJOLO<br />

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS<br />

Diretor:<br />

Prof. Titular FRANCISCO ANTONIO ROCCO LAHR<br />

Vice-Diretor:<br />

Prof. Titular ARTHUR JOSÉ VIEIRA PORTO<br />

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS<br />

Chefe do Departamento:<br />

Prof. Titular CARLITO CALIL JUNIOR<br />

Suplente do Chefe do Departamento:<br />

Prof. Titular SÉRGIO PERSIVAL BARONCINI PROENÇA<br />

Coordenador de Pós-Graduação:<br />

Prof. Associado MARCIO ANTONIO RAMALHO<br />

Coordenadora de Publicações e Material Bibliográfico:<br />

MARIA NADIR MINATEL<br />

e-mail: minatel@sc.usp.br<br />

Editoração e Diagramação:<br />

FRANCISCO CARLOS GUETE DE BRITO<br />

MASAKI KAWABATA NETO<br />

MELINA BENATTI OSTINI<br />

TATIANE MALVESTIO SILVA


São <strong>Carlos</strong>, <strong>v.8</strong> n. <strong>35</strong> <strong>2006</strong>


Departamento de Engenharia de Estruturas<br />

Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – <strong>USP</strong><br />

Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro<br />

CEP: 1<strong>35</strong>66-590 – São <strong>Carlos</strong> – SP<br />

Fone: (16) 3373-9481 Fax: (16) 3373-9482<br />

site: http://www.set.eesc.usp.br


SUMÁRIO<br />

Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos<br />

com acoplamento progressivo MEC/MEF<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda 1<br />

Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico<br />

com aplicação a estruturas do tipo viga<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier 29<br />

Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de<br />

estruturas de concreto pré-moldado<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai 47<br />

Análise teórica-experimental de pilares de concreto armado sob ação de força<br />

centrada<br />

Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo 75<br />

Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no<br />

desempenho de pilares reforçados com PRFC<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai 95<br />

Avaliação experimental do fator de distribuição de carga para pontes multicelulares de<br />

madeira protendida<br />

Jorge Luís Nunes Góes & Antonio Alves Dias 127


ISSN 1809-5860<br />

NOVAS METODOLOGIAS E FORMULAÇÕES PARA<br />

O TRATAMENTO DE PROBLEMAS INELÁSTICOS<br />

COM ACOPLAMENTO PROGRESSIVO MEC/MEF<br />

Arthur Dias Mesquita 1 & Humberto Breves Coda 2<br />

Resumo<br />

Novas formulações, técnicas e procedimentos são propostos para o tratamento de<br />

problemas inelásticos considerando-se acoplamento progressivo. O procedimento<br />

apresenta-se bastante adequado para a consideração de problemas de interação bi e<br />

tridimensionais que envolvam modificações na geometria e variações das condições de<br />

contorno ao longo do tempo. Este permite a inclusão e retirada de sub-regiões e a<br />

consideração de hipóteses especiais para o reforço, de maneira que o mesmo contribua<br />

adequadamente para o enrijecimento da estrutura. As formulações viscoelásticas e<br />

viscoplásticas são baseadas em uma nova metodologia e proporcionam com<br />

simplicidade e elegância resultados estáveis e bastante precisos. As representações<br />

viscosas para elementos de contorno são obtidas de duas formas, com o termo viscoso<br />

obtido através de integrais de domínio e de contorno. Esta última permite a análise<br />

viscoelástica de sólidos discretizando-se apenas o contorno do corpo, apresentando-se<br />

mais adequada para o tratamento de meios infinitos ou semi-infinitos. O<br />

comportamento plástico é levado em consideração através de algoritmos implícitos<br />

associativos e não-associativos, cujas expressões são obtidas de forma fechada,<br />

resultando em uma considerável economia computacional e uma melhor precisão na<br />

resposta não-linear.<br />

Palavras-chave: acoplamento; elemento finito; elemento de contorno; viscoelástico;<br />

viscoplástico; elastoplástico; implícito.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A maioria dos problemas de engenharia apresentam interação entre partes<br />

diferentes do sistema, tais como: interação solo-estrutura, estrutura-estrutura e fluidoestrutura.<br />

As fundações das estruturas interagem diretamente com o solo, transmitindo<br />

as solicitações de maneira que a estrutura esteja em equilíbrio estático ou dinâmico.<br />

Fluidos, tais como: ar, água ou lubrificantes, podem estar interagindo com elementos<br />

1 Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, mesquita@sc.usp.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, hbcoda@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


2<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

estruturais como: edifícios, represas, estruturas offshore, componentes mecânicos, etc.<br />

Cada parte do sistema é representada por uma região física, sobre a qual pode-se aplicar<br />

uma solução numérica particular. Porém, em muitos casos práticos, por simplicidade, é<br />

possível desprezar a interação de uma parte do sistema com a outra. Um exemplo claro<br />

desse comportamento desacoplado, seria a atuação direta das forças do vento sobre um<br />

edifício suposto rígido. Neste caso, despreza-se a interação, analisando o problema com<br />

forças equivalentes atuando sobre a estrutura, na tentativa de simular a presença do<br />

fluido. Entretanto, em situações onde se deseja analisar o comportamento de todo o<br />

sistema ou mesmo modelar o problema de forma mais realista e coerente, devem-se<br />

utilizar técnicas numéricas específicas para cada parte do sistema. Uma maneira<br />

eficiente de representar todo o problema seria através do acoplamento de elementos de<br />

contorno com elementos finitos. Elementos de contorno são mais adequados para tratar<br />

problemas com domínio infinito ou semi-infinito e regiões de concentração de tensões e<br />

fluxo. Já elementos finitos são mais apropriados para problemas envolvendo materiais<br />

compósitos ou anisotrópicos. Uma aplicação adequada de ambos os métodos na<br />

simulação de um problema de iteração, torna o acoplamento uma ferramenta bastante<br />

atraente, possibilitando uma melhor representação de todo o problema, conduzindo à<br />

resultados mais precisos com um custo computacional menor.<br />

Para levar em consideração o comportamento viscoplástico optou-se por uma<br />

nova metodologia proposta pelos autores que apresenta importantes características. A<br />

maioria dos trabalhos desenvolvidos nesta área são baseados nos procedimentos<br />

inicialmente propostos por PERZYNA(1966), veja, por exemplo, ZIENKIEWICZ &<br />

CORMEAU(1974), ARGYRIS et al.(1979), OWEN & DAMJANIC(1982), TELLES &<br />

BREBBIA(1982) e MUNAIAR(1998). Estes são baseados no conceito de potencial<br />

plástico originado na teoria da plasticidade. Assim, as características viscosas são<br />

incorporadas na expressão da taxa de deformação viscoplástica por meio de funções<br />

dependentes do critério de plastificação e cujo embasamento reológico é bastante<br />

discutível. O processo recai em um problema incremental onde a análise é executada<br />

aplicando-se sucessivamente incrementos de força. Esta abordagem é baseada em<br />

procedimentos quase-estáticos onde a imposição de cargas externas com dependência<br />

temporal arbitrária e o ajuste do tempo real apresentam algumas dificuldades.<br />

A principal diferença entre o procedimento proposto e aqueles apresentados na<br />

literatura é a solução temporal. As abordagens clássicas assumem um comportamento<br />

conhecido (usualmente constante) das tensões totais durante um incremento de força. A<br />

partir desta suposição, resolve-se localmente as relações diferenciais temporais de<br />

tensão/deformação, encontrando a contribuição viscosa. Esta contribuição é aplicada<br />

nas equações de equilíbrio como um termo corretivo. Já a formulação proposta assume<br />

uma relação reológica viscoplástica que deve ser imposta no desenvolvimento das<br />

representações integrais. Desta relação encontra-se um sistema de equações diferencias<br />

temporal onde o comportamento plástico do corpo é levado em consideração através de<br />

um termo em tensão inicial. Este termo é obtido de forma usual pelos procedimentos<br />

elastoplásticos do MEC. Na presente formulação os incrementos são agora definidos<br />

como incrementos de tempo e não mais como incrementos de força, proporcionando um<br />

significado bem mais definido para o tempo nas análises viscoplásticas. A técnica<br />

permite impor, de forma simples e direta, condições de contorno (forças e<br />

deslocamentos) que variam com relação ao tempo, ampliando o seu campo de aplicação.<br />

Os algoritmos utilizados na atualização das tensões no problema viscoplástico podem<br />

ser os mesmos desenvolvidos para tratar os problemas elastoplástico, não havendo a<br />

necessidade de desenvolver novos procedimentos viscoplásticos, basta apenas<br />

introduzir na formulação viscosa aqueles já propostos pela plasticidade. Além disso,<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento...<br />

3<br />

como as integrais referentes ao comportamento viscoso são transformadas em integrais<br />

de contorno, para tratar o problema viscoplástico pelo MEC basta apenas discretizar o<br />

contorno do corpo e as regiões internas onde ocorrem plastificação, resultando em<br />

menor quantidade de dados de entrada e um menor custo computacional. Esta nova<br />

metodologia proporciona, com grande simplicidade, uma elevadíssima economia<br />

computacional e uma ótima precisão dos resultados.<br />

O trabalho completo do autor apresenta de forma mais detalhada as metodologias<br />

aqui apresentadas. Na realidade, devido a falta de espaço apenas a formulação<br />

viscoplástica com comportamento instantâneo será exposta. Porém, deve-se ressaltar<br />

que muito mais foi desenvolvido e proposto pelo autor com relação a formulações,<br />

elastoplásticas, viscoelásticas, viscoplásticas e algoritmos de retorno. Todas estas se<br />

encontram no texto final da tese de doutorado, estando algumas destas contribuições já<br />

publicadas em revistas de impacto internacional.<br />

2 MODELO VISCOELÁSTICO DE BOLTZMANN<br />

Este modelo é o empregado na formulação de elementos finitos. Considerou-se<br />

o comportamento na casca, elemento que em muitos casos simulará o reforço na<br />

estrutura, como possuindo um comportamento viscoelástico com comportamento<br />

instantâneo. O modelo de Boltzmann (fig.1) é representado pelo arranjo em série do<br />

modelo de Kelvin-Voigt com uma mola.<br />

Eve<br />

σ<br />

Ee<br />

η<br />

σ<br />

εe<br />

Figura 1 – Modelo viscoelástico de Boltzmann (representação uniaxial).<br />

εve<br />

Este modelo se diferencia do modelo de Kelvin pela capacidade de simular<br />

deformações elásticas instantâneas. Além do mais, este fica caracterizado pela<br />

igualdade das tensões nos dois trechos: elástico e viscoelástico.<br />

ij<br />

e<br />

ij<br />

ve<br />

ij<br />

σ = σ = σ<br />

(1)<br />

e ve<br />

onde σ ij , σ ij e σ ij são, respectivamente, as tensões totais, elásticas e viscoelásticas. Já<br />

as deformações totais são definidas pela soma das deformações elásticas da primeira<br />

mola e das deformações viscoelásticas referente ao conjunto mola-amortecedor.<br />

lm<br />

e<br />

lm<br />

ve<br />

lm<br />

ε = ε + ε<br />

(2)<br />

e<br />

Semelhantemente as deformações, ε lm , ε lm e ε ve<br />

lm são, respectivamente, as<br />

deformações totais, elásticas e viscoelásticas. Para se obter as equações integrais é<br />

necessário adotar como hipótese a igualdade dos coeficientes de Poisson de ambos os<br />

trechos. Esta simplificação é bastante razoável, pois na prática o coeficiente de Poisson<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


4<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

referente ao trecho viscoelástico pouco varia em relação ao do trecho elástico. Além do<br />

mais, aliado a isto, pode-se ressaltar o número limitado de trabalhos científicos que<br />

tratam do assunto e a dificuldade em se obter resultados experimentais razoavelmente<br />

precisos. Assim, levando em consideração esta simplificação, pode-se definir as tensões<br />

elásticas e viscosas através das seguintes relações:<br />

e<br />

ij<br />

lm e<br />

ij ε lm<br />

σ C = E C<br />

v<br />

ij<br />

e<br />

lm e<br />

ij ε lm<br />

= ~ (3a)<br />

el lm ve lm ve<br />

σ ij = C ˆ ij ε lm = EveCij<br />

ε lm<br />

(3b)<br />

σ = η & = γE C & ε<br />

(3b)<br />

lm ve<br />

ij ε lm<br />

ve<br />

lm ve<br />

ij lm<br />

el<br />

onde σ ij são as tensões elásticas referente a mola em paralelo com o amortecedor. Note<br />

que as tensões viscosas são proporcionais a velocidade de deformação, sendo E e e E ve ,<br />

respectivamente, o modulo de elasticidade referente aos trechos elástico e viscoelástico.<br />

O coeficiente γ é o parâmetro representativo da viscosidade do material. Este pode ser<br />

determinado através de resultado de testes de tração uniaxial e de cisalhamento<br />

LEMAITRE & CHABOCHE(1990) e MUNAIAR(1998) .O termo η lm<br />

ij representa a<br />

lm<br />

matriz viscosa e C ij a matriz constitutiva elástica, definida em uma forma indicial pela<br />

seguinte expressão:<br />

lm<br />

Cij<br />

= λδ δ + µ δ δ + δ δ )<br />

(4)<br />

ij<br />

lm<br />

( il jm im jl<br />

onde λ e µ são constantes escritas em função do coeficiente de Poisson da seguinte<br />

maneira:<br />

ν<br />

λ = ( 1 + ν )(1 − 2ν<br />

)<br />

;<br />

1<br />

µ = (5)<br />

2(1 + ν )<br />

ij<br />

Com relação ao trecho viscoelástico é possível escrever<br />

ve<br />

ij<br />

el<br />

ij<br />

v<br />

ij<br />

ve<br />

lm ve<br />

ij ε lm<br />

ve<br />

lm ve<br />

ij<br />

& ε lm<br />

σ = σ = σ + σ = E C + γE<br />

C<br />

(6)<br />

Semelhantemente a expressão (2), pode-se escreve uma relação entre as<br />

velocidades de deformação de ambos os trechos do modelo de Boltzmann.<br />

lm<br />

e<br />

lm<br />

ve<br />

lm<br />

& ε = & ε + & ε<br />

(7)<br />

e ve<br />

onde ε&<br />

lm , ε& lm e ε&<br />

lm são as velocidades de deformações totais, elásticas e viscoelásticas,<br />

respectivamente. Explicitando-se as deformações elásticas na equação (3a) e as<br />

deformações viscoelásticas na expressão (6), fazendo-se uso da relação (7), obtém-se:<br />

ε<br />

ε<br />

e<br />

lm<br />

ve<br />

lm<br />

1 ij −1<br />

Clm<br />

e<br />

= σ ij<br />

(8a)<br />

E<br />

1<br />

=<br />

E<br />

ve<br />

C<br />

ij −1 ve 1 ij −1<br />

lm<br />

σ ij − γε&<br />

lm = Clm<br />

Eve<br />

σ − γ<br />

ij<br />

e<br />

(&<br />

ε − & ε )<br />

lm<br />

lm<br />

(8b)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento...<br />

5<br />

Substituindo-se as expressões das deformações elásticas ε lm<br />

e e viscoelásticas ε lm<br />

ve<br />

apresentadas nas equações (8a) e (8b), respectivamente, na definição das deformações<br />

totais ε lm em (2), obtém se a relação reológica para este modelo.<br />

σ<br />

E<br />

E<br />

γE<br />

E<br />

γE<br />

e ve lm<br />

e ve lm<br />

ve<br />

ij = Cij<br />

ε lm + Cij<br />

& ε lm − & σ ij<br />

(9)<br />

Ee<br />

+ Eve<br />

Ee<br />

+ Eve<br />

Ee<br />

+ Eve<br />

sendo σ&<br />

ij a taxa de variação da tensão total com o tempo. Esta é a relação que deve ser<br />

imposta no desenvolvimento da equação integral para se obter a formulação<br />

viscoelástica do método dos elementos finitos específica para o modelo de Boltzmann.<br />

3 MODELO VISCOPLÁSTICO (com comportamento instantâneo)<br />

O modelo viscoplástico apresentado neste item (fig. 2) é baseado no modelo de<br />

Boltzmann descrito anteriormente e será empregado nas sub-regiões de elemenentos de<br />

contorno. Este se diferencia do modelo viscoplástico apresentado no item anterior pela<br />

capacidade de simular deformações elásticas instantâneas. O modelo é representado<br />

pelo arranjo em série de um conjunto em paralelo bloco/mola com a mola do trecho<br />

viscoelástico do modelo de Boltzmann.<br />

η<br />

σ<br />

σο<br />

Ee<br />

σ<br />

Eve<br />

εvp<br />

H<br />

εve<br />

εe<br />

εvep<br />

Figura 2 – Modelo viscoplástico (representação uniaxial).<br />

ε<br />

Para o modelo viscoplástico apresentado na figura 1 as deformações são<br />

relacionadas através da seguinte expressão:<br />

ε<br />

ij<br />

e<br />

ij<br />

ve<br />

ij<br />

vp<br />

ij<br />

ve<br />

ij<br />

ij<br />

e<br />

ij<br />

vp<br />

ij<br />

= ε + ε + ε ⇒ ε = ε − ε − ε<br />

(10)<br />

onde<br />

ε ij ,<br />

e<br />

ε ij ,<br />

ve<br />

ij<br />

ε e ε vp são, respectivamente, as deformações totais, elásticas<br />

ij<br />

(comportamento instantâneo), viscoelásticas e viscoplásticas. Já as tensões totais são<br />

definidas pela soma das tensões viscosas (no amortecedor) e das tensões elastoplásticas<br />

(no trecho elastoplástico), como:<br />

ij<br />

v<br />

ij<br />

ep<br />

ij<br />

σ = σ + σ<br />

(11)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


6<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

ep v<br />

Semelhantemente as deformações, σ ij , σ ij e σ ij são, respectivamente, as tensões<br />

totais, elástoplásticas e viscosas. Para se obter as equações integrais de contorno é<br />

necessário adotar como hipótese a igualdade dos coeficientes de Poisson de ambos os<br />

trechos. Esta simplificação é bastante razoável, pois na prática o coeficiente de Poisson<br />

referente ao trecho viscoelástico pouco varia em relação ao do trecho elástico. Além do<br />

mais, aliado a isto, pode-se ressaltar o número limitado de trabalhos científicos que<br />

tratam do assunto e a dificuldade em se obter resultados experimentais razoavelmente<br />

precisos. Assim, levando em consideração esta simplificação, pode-se definir as tensões<br />

através das seguintes relações:<br />

ep<br />

ij<br />

lm ve<br />

ij ε lm<br />

ve<br />

lm ve<br />

ij ε lm<br />

σ = C<br />

~ = E C<br />

(12a)<br />

e<br />

ij<br />

lm e<br />

ij ε lm<br />

lm e<br />

ij ε lm<br />

σ C = EeC<br />

v lm vep ~ lm vep<br />

σ = η & ε = γC<br />

& ε = γE<br />

ij<br />

= ˆ (12b)<br />

ij<br />

lm<br />

ij<br />

lm<br />

ve<br />

C<br />

lm vep<br />

ij<br />

& ε<br />

lm<br />

(12c)<br />

e<br />

onde σ ij são as tensões elásticas referente a mola em série com o amortecedor. Note que<br />

as tensões viscosas são proporcionais a velocidade de deformação, sendo H o módulo<br />

plástico, E e e E ve , respectivamente, o modulo de elasticidade referente aos trechos<br />

instantâneo e viscoplástico. O coeficiente γ é o parâmetro representativo da viscosidade<br />

do material. Este pode ser determinado através de resultado de testes de tração uniaxial<br />

e de cisalhamento LEMAITRE & CHABOCHE(1990) e MUNAIAR(1998).O termo<br />

lm<br />

lm<br />

η ij representa a matriz viscosa e a matriz C ij fica definida em uma forma indicial pela<br />

seguinte expressão:<br />

lm<br />

Cij<br />

~<br />

= λ δ δ +<br />

~ µ ( δ δ + δ δ )<br />

(13)<br />

ij<br />

lm<br />

il<br />

jm<br />

im<br />

jl<br />

onde λ ~ e µ ~ são constantes escritas em função do coeficiente de Poisson da seguinte<br />

maneira:<br />

~ ν<br />

λ = (1 + ν )(1 − 2ν<br />

)<br />

;<br />

~ µ =<br />

( 1+ ν )<br />

(14)<br />

2<br />

1<br />

Com relação ao trecho viscoplástico é possível escrever<br />

σ<br />

ij<br />

ep<br />

ij<br />

v<br />

ij<br />

ve<br />

lm ve<br />

ij ε lm<br />

ve<br />

lm vep<br />

ij<br />

& ε<br />

lm<br />

= σ + σ = E C + γE<br />

C<br />

(15)<br />

Semelhantemente a expressão (1), pode-se escreve uma relação entre as<br />

velocidades de deformação de ambos os trechos do modelo proposto.<br />

lm<br />

e<br />

lm<br />

ve<br />

lm<br />

vp<br />

lm<br />

e<br />

lm<br />

vep<br />

lm<br />

& ε = & ε + & ε + & ε = & ε + & ε<br />

(16)<br />

onde o ponto sobre os termos presentes na expressão (16) indica a respectiva derivada<br />

com relação ao tempo, ou seja, velocidade de deformação. Explicitando-se as<br />

deformações elásticas ε lm<br />

e na equação (12b) e as deformações viscoelásticas na<br />

expressão (15), fazendo-se uso da relação (16), obtém-se:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento...<br />

7<br />

ε<br />

ε<br />

e<br />

lm<br />

ve<br />

lm<br />

1 ij −1<br />

Clm<br />

e<br />

= σ ij<br />

(17a)<br />

E<br />

1<br />

=<br />

E<br />

ve<br />

C<br />

ij −1 vep 1 ij −1<br />

lm<br />

σ ij −γε&<br />

lm<br />

= Clm<br />

Eve<br />

σ −γ<br />

ij<br />

e<br />

(&<br />

ε − & ε )<br />

lm<br />

lm<br />

(17b)<br />

Substituindo-se as expressões das deformações elásticas ε lm<br />

e e viscoelásticas ε lm<br />

ve<br />

apresentadas nas equações (17a) e (17b), respectivamente, na definição das<br />

deformações totais ε lm em (10), obtém se a relação reológica para este modelo.<br />

σ<br />

ij<br />

Ee<br />

Eve<br />

lm<br />

γE<br />

= Cij<br />

lm lm<br />

&<br />

E + E<br />

E + E<br />

e<br />

ve<br />

ve<br />

e vp<br />

( ε + γε& ) − σ − σ<br />

(18)<br />

e<br />

ve<br />

ij<br />

E<br />

e<br />

E<br />

+ E<br />

ve<br />

ij<br />

sendo σ&<br />

ij a taxa de variação da tensão total com o tempo. Esta é a relação que deve ser<br />

imposta no desenvolvimento da equação integral de contorno para se obter a formulação<br />

viscoplástica do método dos elementos de contorno específica para o modelo aqui<br />

proposto. O termo σ é oriundo dos problemas de tensão inicial, sendo expresso por:<br />

vp<br />

ij<br />

vp<br />

ij<br />

ve<br />

lm vp<br />

ij ε<br />

lm<br />

σ = E C<br />

(19)<br />

Note que as expressões constitutivas serão consideradas em sua forma total e não<br />

na forma incremental como usualmente é feito nas formulações elastoplásticas. Sendo<br />

assim, todos os termos que aparecem com um ponto como sobrescrito referem-se<br />

literalmente a respectiva derivada no tempo (ou seja: x&<br />

= ∂x<br />

∂t<br />

) e não significam<br />

incrementos infinitesimais como usualmente encontrado nas literaturas que tratam da<br />

teoria da plasticidade.<br />

4 ELEMENTOS FINITOS<br />

A representação viscoelástica de um corpo em equilíbrio via MEF, pode ser<br />

obtida a partir da equação de equilíbrio estática.<br />

ij , j + i =<br />

σ b 0<br />

(20)<br />

onde b i são as componentes das forças de volume referente a direção i. Pode-se<br />

ponderar o erro produzido pela equação de equilíbrio (20), quando a solução exata for<br />

substituída por uma aproximada, utilizando-se como função ponderadora a função de<br />

deslocamento virtual δ ui<br />

. Sendo assim, a equação de ponderação sobre todo o domínio<br />

Ω pode ser escrita como:<br />

∫ Ω<br />

∫<br />

δ u ( , + b ) dΩ<br />

= 0<br />

(21)<br />

i σ ij j<br />

i<br />

Integrando-se por partes o primeiro termo da equação (21), obtém-se:<br />

∫<br />

∫<br />

δ u σ n dΓ<br />

− δu<br />

σ dΩ + δu b dΩ<br />

0<br />

(22)<br />

Γ<br />

i<br />

ij<br />

j<br />

Ω<br />

i, j ij<br />

i i =<br />

Ω<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


8<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

sendo Γ a variável que define o contorno do corpo e n j a componente j do versor<br />

normal a superfície. Sabendo-se que σ ijn j = pi<br />

e que δ ui, jσ<br />

ij = δε ijσ<br />

ij , onde δε ij são as<br />

componentes de deformações virtuais, a equação (22) fica<br />

∫<br />

Γ<br />

∫<br />

∫<br />

δ u p dΓ<br />

− δε σ dΩ + δu b dΩ = 0<br />

(23)<br />

i<br />

i<br />

Ω<br />

ij<br />

ij<br />

Ω<br />

i<br />

i<br />

A expressão (23) é o tão conhecido princípio dos trabalhos virtuais específico. A<br />

primeira e a terceira integrais representam, respectivamente, o trabalho das forças de<br />

superfície e volumétricas. A segunda integral refere-se ao trabalho das forças internas e<br />

dá origem a matriz de rigidez. A equação (23) é o ponto de partida para a obtenção da<br />

representação integral viscoelástica do MEF. Nela se impõe a relação reológica definida<br />

pela equação (9), de maneira que:<br />

∫<br />

∫<br />

∫<br />

∫<br />

Γ<br />

EeEve<br />

δ ui<br />

pidΓ<br />

−<br />

E + E<br />

Ω<br />

Ω<br />

Ω<br />

e<br />

ve<br />

∫<br />

Ω<br />

δε C<br />

ij<br />

lm<br />

ij<br />

γEeE<br />

εlmdΩ −<br />

E + E<br />

e<br />

ve<br />

ve<br />

∫<br />

Ω<br />

δε<br />

A quarta integral pode ser escrita como:<br />

∫<br />

lm<br />

ijηij<br />

γE<br />

&<br />

ve<br />

εlmdΩ +<br />

E + E<br />

e<br />

ve<br />

∫<br />

Ω<br />

δε & σ dΩ +<br />

ij<br />

ij<br />

∫<br />

Ω<br />

δu b dΩ = 0<br />

δε & σ d Ω = δu<br />

,<br />

& σ dΩ<br />

(25)<br />

ij<br />

ij<br />

Ω<br />

i j<br />

ij<br />

Integrando-se por partes a equação (25) encontra-se:<br />

∫<br />

∫<br />

δε & σ dΩ<br />

= δu<br />

& σ n dΓ − δu<br />

& σ dΩ<br />

(26)<br />

ij ij<br />

i ij j<br />

i ij,<br />

j<br />

Γ<br />

Ω<br />

Sabendo-se que & σ ijn<br />

j = p&<br />

i e & σ ij j = −b &<br />

, i a expressão (26) torna-se:<br />

∫<br />

∫<br />

δε & σ dΩ<br />

= δu<br />

p&<br />

dΓ + δu<br />

b&<br />

dΩ<br />

(27)<br />

ij<br />

ij<br />

Γ<br />

i<br />

i<br />

Ω<br />

i<br />

i<br />

Substituindo a expressão (27) na equação integral (24) obtém-se:<br />

i<br />

i<br />

(24)<br />

∫<br />

Γ<br />

EeEve<br />

δui<br />

pidΓ −<br />

E + E<br />

γEve<br />

E + E<br />

e<br />

ve<br />

⎡<br />

⎢⎣<br />

∫<br />

Γ<br />

e<br />

∫<br />

δu<br />

p&<br />

dΓ +<br />

i<br />

i<br />

ve<br />

Ω<br />

∫<br />

δε C<br />

Ω<br />

ij<br />

lm<br />

ij<br />

δu b&<br />

dΩ<br />

⎤<br />

i i +<br />

⎥⎦<br />

γEeE<br />

εlmdΩ −<br />

E + E<br />

∫<br />

Ω<br />

e<br />

∫<br />

Ω<br />

δu b dΩ = 0<br />

i<br />

i<br />

ve<br />

ve<br />

δε C<br />

ij<br />

lm<br />

ij<br />

& ε dΩ +<br />

lm<br />

(28)<br />

A expressão (28) é a representação integral viscoelástica que leva em<br />

consideração o modelo reológico de Boltzmann. Note que a 1 a , 2 a e 6 a integrais são as<br />

mesmas apresentadas na formulação elastostática e podem ser solucionadas seguindo o<br />

mesmo princípio. A terceira integral é responsável pelo comportamento viscoso. Já a<br />

quarta e a quinta integrais são responsáveis pelo comportamento instantâneo, podendo<br />

contribuir também para o comportamento viscoso caso ocorram variações das<br />

solicitações com o tempo. Em geral, como o peso próprio não varia com o tempo e já<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento...<br />

9<br />

existia antes da aplicação da cargas, pode-se considerara nestas situações b & i = 0 e<br />

conseqüentemente a quinta integral se anula.<br />

A equação integral definida anteriormente pode ser transformada em equação<br />

algébrica através do método dos elementos finitos. Assim, o domínio do corpo Ω é<br />

discretizado com n e elementos finitos Ω e , de tal sorte que as densidades do domínio<br />

sejam representadas adequadamente, resultando em:<br />

KU ( t)<br />

VU & ( t)<br />

= LP(<br />

t)<br />

+ Bb(<br />

t)<br />

+ LP&<br />

( t)<br />

+ Bb&<br />

( t)<br />

+ (29)<br />

onde t representa o tempo, K é a nova matriz de rigidez da estrutura, V a matriz viscosa,<br />

L e L são as matrizes “Lumping” referente respectivamente a forças de superfície e sua<br />

velocidade. Os termos B e B são matrizes referente as forças volumétricas e a sua<br />

respectiva velocidade. Estas matrizes ficam definidas como:<br />

K =<br />

V =<br />

L =<br />

n<br />

e<br />

∑<br />

e=<br />

1<br />

n<br />

e<br />

∑<br />

e=<br />

1<br />

n<br />

E<br />

E<br />

s<br />

∑∫<br />

s=<br />

1<br />

n<br />

B =<br />

e=<br />

1<br />

L =<br />

B =<br />

E<br />

e<br />

e<br />

e<br />

γE<br />

Γs<br />

e<br />

∑∫<br />

n<br />

s<br />

∑<br />

s=<br />

1<br />

n<br />

e<br />

∑<br />

e=<br />

1<br />

Ωe<br />

E<br />

E<br />

E<br />

ve<br />

+ E<br />

e<br />

E<br />

ve<br />

+ E<br />

ve<br />

ve<br />

~ β<br />

∫<br />

∫<br />

Ωe<br />

Ωe<br />

φ ,<br />

φ,<br />

α<br />

j<br />

α<br />

j<br />

C<br />

C<br />

lm<br />

ij<br />

lm<br />

ij<br />

φ,<br />

φ,<br />

β<br />

m<br />

β<br />

m<br />

dΩ<br />

dΩ<br />

e<br />

e<br />

φ α<br />

φ dΓ<br />

(30)<br />

φ<br />

e<br />

α φ β<br />

γE<br />

e<br />

ve<br />

+ E<br />

γE<br />

ve<br />

+ E<br />

d Ω<br />

ve<br />

ve<br />

∫<br />

s<br />

e b β<br />

i<br />

Γs<br />

∫<br />

Ωe<br />

~ β<br />

φ α φ dΓ<br />

φ<br />

α φ β<br />

dΩ<br />

e<br />

s<br />

Para resolver a equação temporal (30) faz-se uso de um adequado procedimento<br />

de integração no tempo. Para isto, pode-se fazer uso de técnicas de integração temporal,<br />

tais como Newmark β WARBURTON(1976), Houbolt CODA & VENTURINI(1998)<br />

ou Wilson θ BATHE(1996), que são usualmente empregadas em análises dinâmicas.<br />

Neste trabalho adotou-se uma simples e eficiente aproximação linear para definir as<br />

velocidades.<br />

&<br />

( U s+<br />

1 −U<br />

s )<br />

=<br />

(31a)<br />

U s+<br />

1<br />

∆t<br />

( P P )<br />

P& s+<br />

1 − s<br />

s+<br />

1 =<br />

(31b)<br />

∆t<br />

( b b )<br />

b& s+<br />

1 − s<br />

s+<br />

1 =<br />

(31c)<br />

∆t<br />

onde s+1 refere-se ao instante atual. Aplicando-se as expressões das velocidades<br />

definidas em (31) na expressão (29), encontra-se o seguinte sistema de equações:<br />

K U s F<br />

(32)<br />

+ 1 = s +1<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


10<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

onde<br />

[ ∆tK<br />

V ]<br />

K = +<br />

(33a)<br />

Fs+ 1 = [ ∆tL<br />

+ L ] Ps<br />

+ 1 + [ ∆tB<br />

+ B ] bs+<br />

1 + VU s − LPs<br />

− Bbs<br />

(33b)<br />

Esse é o sistema referente a sub-região de elementos finitos que deverá ser<br />

acoplado a outras sub-regiões do MEC e do MEF para resolver o problema do<br />

acoplamento progressivo.<br />

5 ELEMENTOS DE CONTORNO<br />

As representações integrais viscoplásticas de um corpo em equilíbrio via MEC,<br />

podem ser obtidas, semelhantemente a elementos de contorno, a partir da equação de<br />

equilíbrio.<br />

σ ij , j + b i = 0<br />

(34)<br />

onde b i representa as componentes das forças de volume. Pode-se ponderar o erro<br />

produzido pela equação de equilíbrio (34), quando a solução exata for substituída por<br />

uma aproximada, utilizando-se como função ponderadora a solução fundamental para o<br />

problema específico. Sendo assim a equação de ponderação sobre todo o domínio Ω<br />

pode ser escrita.<br />

∫ Ω<br />

∗<br />

uki ( σ ij, j + bi<br />

) dΩ<br />

= 0<br />

(<strong>35</strong>)<br />

∗<br />

onde u ki é denominado solução fundamental e representa fisicamente o efeito de uma<br />

carga concentrada unitária estática atuando em um ponto de um domínio infinito.<br />

Integrando-se por partes o primeiro termo da equação (<strong>35</strong>), obtém-se:<br />

∫<br />

Γ<br />

∫<br />

∫<br />

∗<br />

∗<br />

∗<br />

uki σ ij n j dΓ<br />

− uki, jσ<br />

ij dΩ<br />

+ ukibi<br />

dΩ<br />

= 0<br />

(36)<br />

Ω<br />

Ω<br />

sendo Γ a variável que define o contorno do corpo e n j a componente do versor normal<br />

∗<br />

∗<br />

a superfície. Sabendo-se que σ ijn j = pi<br />

e que uki, jσ<br />

ij = ε kijσ<br />

ij , onde ε ∗ kij é a solução<br />

fundamental em deformações, a equação (36) fica<br />

∫<br />

Γ<br />

∫<br />

∫<br />

∗<br />

∗<br />

∗<br />

uki pidΓ<br />

− ε kijσ<br />

ij dΩ<br />

+ ukibi<br />

dΩ<br />

= 0<br />

(37)<br />

Ω<br />

Ω<br />

A equação (37) é o ponto de partida para a obtenção das representações integrais<br />

viscoplásticas. Nela se impõe a relação reológica definida pela equação (18), de maneira<br />

que:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 11<br />

∫<br />

*<br />

uki<br />

Γ<br />

∫<br />

∗<br />

uki<br />

Ω<br />

Ee<br />

Eve<br />

pidΓ<br />

−<br />

E + E<br />

Ee<br />

bidΩ<br />

+<br />

E + E<br />

e<br />

e<br />

ve<br />

ve<br />

∫<br />

∗<br />

ε kij<br />

Ω<br />

∫<br />

Sabendo-se que<br />

∗<br />

ε kij<br />

Ω<br />

C<br />

lm<br />

ij<br />

vp<br />

ij<br />

γEe<br />

Eve<br />

ε lmdΩ<br />

−<br />

E + E<br />

σ dΩ<br />

= 0<br />

e<br />

ve<br />

∫<br />

∗<br />

ε kij<br />

Ω<br />

C<br />

lm<br />

ij<br />

γEve<br />

& ε lmdΩ<br />

+<br />

E + E<br />

e<br />

ve<br />

∫<br />

∗<br />

ε kij<br />

Ω<br />

& σ ij dΩ<br />

+<br />

(38)<br />

∗ lm ∗<br />

∗<br />

∗<br />

kij E eCij<br />

ε lm = σ klmε<br />

lm = σ klmul,<br />

m = σ kijui,<br />

j<br />

ε (39a)<br />

∗ lm ∗<br />

∗<br />

∗<br />

kij E eCij<br />

& ε lm = σ klm<br />

& ε lm = σ klmu&<br />

l, m = σ kiju&<br />

i,<br />

j<br />

ε (39b)<br />

ε<br />

∗ ∗<br />

kij<br />

& σ ij uki<br />

j<br />

& σ ij<br />

= , (39c)<br />

logo a equação (38) torna-se:<br />

∫<br />

*<br />

uki<br />

Γ<br />

∫<br />

∗<br />

uki<br />

Ω<br />

Eve<br />

pidΓ<br />

−<br />

E + E<br />

Ee<br />

bidΩ<br />

+<br />

E + E<br />

e<br />

e<br />

ve<br />

ve<br />

∫<br />

∫<br />

Ω<br />

σ<br />

∗<br />

kij<br />

∗<br />

ε kij<br />

Ω<br />

u<br />

i,<br />

j<br />

vp<br />

ij<br />

γEve<br />

dΩ<br />

−<br />

E + E<br />

σ dΩ<br />

= 0<br />

e<br />

ve<br />

∫<br />

Ω<br />

σ<br />

∗<br />

kij<br />

u&<br />

i,<br />

j<br />

γEve<br />

dΩ<br />

+<br />

E + E<br />

e<br />

ve<br />

∫<br />

∗<br />

uki,<br />

j ij<br />

Ω<br />

& σ dΩ<br />

+<br />

(40)<br />

Aplicando-se integração por partes na segunda, terceira e quarta integrais da<br />

equação (40), encontra-se:<br />

∫<br />

*<br />

uki<br />

Γ<br />

E<br />

γE<br />

e<br />

+ E<br />

Eve<br />

pidΓ<br />

−<br />

E + E<br />

ve<br />

ve<br />

⎡<br />

⎢⎣<br />

∫<br />

e<br />

∗<br />

uki<br />

ij<br />

Γ<br />

& σ n<br />

ve<br />

j<br />

⎡<br />

⎢⎣<br />

∫<br />

Γ<br />

dΓ<br />

−<br />

σ<br />

∫<br />

∗<br />

kij<br />

∗<br />

uki<br />

Ω<br />

& σ<br />

ij,<br />

j<br />

∫<br />

n u dΓ<br />

−<br />

j<br />

i<br />

Ω<br />

dΩ<br />

⎤<br />

+<br />

⎥⎦<br />

σ<br />

∫<br />

∗<br />

kij,<br />

j<br />

∗<br />

uki<br />

Ω<br />

⎤ γEve<br />

uidΩ<br />

−<br />

⎥⎦ E + E<br />

Ee<br />

bidΩ<br />

+<br />

E + E<br />

e<br />

e<br />

ve<br />

ve<br />

⎡<br />

⎢⎣<br />

∫<br />

∫<br />

Γ<br />

σ<br />

∗<br />

kij<br />

∗<br />

ε kij<br />

Ω<br />

∫<br />

n u&<br />

dΓ<br />

−<br />

j<br />

vp<br />

ij<br />

i<br />

σ dΩ<br />

= 0<br />

Ω<br />

σ<br />

∗<br />

kij,<br />

j<br />

u&<br />

dΩ<br />

⎤<br />

i +<br />

⎥⎦<br />

Fazendo-se uso, respectivamente, da equação de equilíbrio fundamental e da<br />

equação de equilíbrio do problema real escrita em forma de taxas, ambas expressas<br />

como:<br />

∗<br />

(42a)<br />

σ δ ( p,<br />

s)<br />

δ<br />

kij, j = −<br />

ij,<br />

j<br />

i<br />

ki<br />

& σ = −b &<br />

(42b)<br />

(41)<br />

onde b & i é a taxa de variação das componentes das forças volumétricas, δ ( p,<br />

s)<br />

é o<br />

conhecido delta de Dirac, s refere-se a uma posição do domínio do sólido e p representa<br />

a posição do ponto fonte. Aplicando-se a equação (42a) e (42b) em (41), levando-se em<br />

consideração as propriedades do delta de Dirac e os artifícios para integrais singulares,<br />

∗ ∗<br />

sabendo-se queσ kij n j = p ki e que & σ ijn<br />

j = p&<br />

i , encontra-se:<br />

Ee<br />

+ E<br />

Ckiui(<br />

p)<br />

=<br />

E<br />

γ ⎡<br />

⎢⎣<br />

∫<br />

Γ<br />

u<br />

∗<br />

ki<br />

p&<br />

dΓ<br />

+<br />

i<br />

ve<br />

∫<br />

Ω<br />

ve<br />

∫<br />

Γ<br />

u<br />

*<br />

ki<br />

p dΓ<br />

−<br />

i<br />

∫<br />

Γ<br />

∗ E E<br />

u b&<br />

e +<br />

ki idΩ<br />

⎤<br />

+<br />

⎥⎦ E<br />

ve<br />

∗<br />

ki<br />

p u dΓ<br />

−γ<br />

ve<br />

∫<br />

i<br />

Ω<br />

∫<br />

Γ<br />

∗<br />

ki<br />

∗ Ee<br />

ukibidΩ<br />

+<br />

E<br />

p u& dΓ<br />

−γC<br />

u&<br />

( p)<br />

+<br />

i<br />

ve<br />

∫<br />

Ω<br />

∗<br />

kij<br />

ki<br />

vp<br />

ij<br />

ε σ dΩ<br />

i<br />

(43)<br />

O termo ki C é o mesmo obtido nas formulações elastostáticas e sua expressão<br />

pode ser facilmente encontrada nas bibliografias usuais do método dos elementos de<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


12<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

contorno BREBBIA et al.(1984) e BREBBIA & DOMINGUEZ(1992).A equação (43) é<br />

a representação integral da formulação viscoplástica do MEC que leva em consideração<br />

o modelo definido na figura 2. A 1 a , 2 a e 6 a integrais são as mesmas apresentadas na<br />

formulação elastostática e podem ser solucionadas seguindo os mesmos princípios. Note<br />

que a quarta e a quinta integrais são responsáveis pelo comportamento instantâneo e<br />

podem contribuir para a resposta viscosa se houver variação das solicitações com o<br />

tempo. A terceira integral e o quarto termo do lado direito da equação integral (43) são<br />

responsáveis pelo comportamento viscoso. Note que a única diferença desta<br />

representação para a representação viscoelástica é a presença do último termo no lado<br />

direito da equação (43) responsável pelo comportamento plástico do corpo. Esta integral<br />

2<br />

apresenta singularidade do tipo 1 / r para o caso bidimensional e 1/<br />

r para o caso<br />

tridimensional e neste trabalho será tratada utilizando-se células (apenas nas regiões<br />

onde ocorrerão plastificação) e uma eficiente técnica de transformação de coordenadas.<br />

Ressalta-se ainda que a penúltima e a última integrais podem ser transformadas em<br />

integrais de contorno e assim é possível obter uma expressão mais elegante para o<br />

MEC. Considerando-se, por exemplo, a situação onde b i é uma função constante em<br />

todo o domínio do corpo e consequentemente b & i é constante em Ω. Nesta caso as<br />

equações de domínio em (43) podem ser transformadas utilizando-se coordenadas<br />

polares e integrando-se em r , da seguinte forma:<br />

Para 2D<br />

∫<br />

∗<br />

∗<br />

∗ ∂r<br />

∗<br />

u bi<br />

dΩ<br />

= bi<br />

∫<br />

ukidΩ<br />

= bi<br />

∫∫ukirdrdθ<br />

= bi∫∫u<br />

kidr<br />

dΓ<br />

= bi<br />

Ω<br />

θ Γ ∂ ∫<br />

BkidΓ<br />

r<br />

r n<br />

Γ<br />

(44a)<br />

∗<br />

∗<br />

∗<br />

∗ ∂r<br />

∗<br />

u kib<br />

&<br />

idΩ<br />

= b&<br />

i u Ω =<br />

θ =<br />

Γ = Γ<br />

∫ kid<br />

b&<br />

i u<br />

Ω ∫∫ kirdrd<br />

b&<br />

i u<br />

θ r ∫∫ kidr<br />

d b&<br />

i B<br />

Γ r ∂ ∫ kid<br />

n<br />

Γ<br />

(44b)<br />

∗<br />

ki<br />

Ω<br />

∫<br />

Ω<br />

Para 3D<br />

∫<br />

2 ∗ ∂r<br />

∗<br />

∫ ∫∫∫<br />

drdθdϕ<br />

= b<br />

∫∫<br />

dΓ<br />

= b<br />

Γ ∂ ∫<br />

u dr<br />

i BkidΓ<br />

r ki n<br />

Γ<br />

(44c)<br />

∗<br />

∗<br />

∗ ∂r<br />

∗<br />

b& dΩ<br />

= b&<br />

u dΩ<br />

= b&<br />

2<br />

i i<br />

u r θ drdθdϕ<br />

= b u dr dΓ<br />

= b B dΓ<br />

∫ ki i<br />

Ω ∫∫∫ ki cos( ) &<br />

&<br />

i<br />

ϕ θ<br />

∫∫ ki<br />

i<br />

Γ ∂n<br />

∫ ki<br />

r<br />

r<br />

Γ<br />

(44d)<br />

∗<br />

∗<br />

∗<br />

u = =<br />

Ω<br />

ki b i dΩ<br />

b i u dΩ<br />

b u r θ<br />

Ω<br />

ki i ϕ θ r ki cos( )<br />

∫<br />

∗<br />

uki<br />

Ω<br />

Assumindo a solução fundamental de Kelvin o termo<br />

∗<br />

B ki fica expresso por:<br />

Para 2D<br />

B<br />

∗<br />

ki<br />

r ⎡ ⎛ 1 ⎞<br />

=<br />

⎢(3<br />

− 4ν<br />

) ⎜ − ln( r)<br />

⎟δ<br />

ki + r,<br />

16π<br />

(1 −ν<br />

) G ⎣ ⎝ 2 ⎠<br />

1<br />

∂<br />

=<br />

(3 − 4ν<br />

) δ ki + r,<br />

k r,<br />

i<br />

32π<br />

(1 −ν<br />

) G<br />

∂<br />

∗<br />

r<br />

Para 3D B<br />

[ ] n<br />

ki<br />

k<br />

r,<br />

i<br />

⎤ ∂r<br />

⎥<br />

⎦ ∂n<br />

(45a)<br />

(45b)<br />

sendo r = r( p ou P,<br />

S)<br />

, onde as letras maiúsculas significam variáveis do contorno e as<br />

minúsculas do domínio. Logo a equação integral (43) pode ser escrita como:<br />

C u ( p)<br />

+ γC<br />

ki<br />

γ ⎡<br />

⎢⎣<br />

∫<br />

i<br />

∗<br />

uki<br />

i<br />

Γ<br />

ki<br />

p&<br />

dΓ<br />

+ b&<br />

E + E<br />

u&<br />

e<br />

i(<br />

p)<br />

=<br />

E<br />

i<br />

∫<br />

Γ<br />

ve<br />

ve<br />

∫<br />

Γ<br />

u<br />

∗ ⎤ Ee<br />

+ E<br />

BkidΓ<br />

+<br />

⎥⎦ E<br />

ve<br />

*<br />

ki<br />

p dΓ<br />

−<br />

ve<br />

i<br />

b<br />

i<br />

∫<br />

Γ<br />

∫<br />

Γ<br />

∗<br />

ki i<br />

p u dΓ<br />

− γ<br />

∗ Ee<br />

BkidΓ<br />

+<br />

E<br />

ve<br />

∫<br />

Ω<br />

∫<br />

Γ<br />

p u&<br />

dΓ<br />

+<br />

*<br />

kij<br />

∗<br />

ki i<br />

vp<br />

ij<br />

ε σ dΩ<br />

(46)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 13<br />

A equação integral definida anteriormente pode ser transformada em equação<br />

algébricas através do método dos elementos de contorno. Assim, o contorno do corpo Γ<br />

é discretizado com n e elementos de contorno Γ e e o domínio Ω , onde ocorrerá a<br />

plastificação, com n c células Ω c , de tal sorte que as densidades do contorno sejam<br />

representadas adequadamente. Dessa forma, as variáveis do problema podem ser<br />

aproximadas, parametrizando-as com relação aos seus valores nodais, fazendo-se uso de<br />

funções interpoladoras apropriadas, resultando em:<br />

Ee<br />

+ Eve<br />

Ee<br />

+ Eve<br />

Ee<br />

vp<br />

HU ( t)<br />

+ γ HU ( t)<br />

= GP(<br />

t)<br />

+ γGP&<br />

( t)<br />

+ γBb&<br />

( t)<br />

+ Bb(<br />

t)<br />

+ Qσ<br />

( t)<br />

E<br />

E<br />

E<br />

& (47)<br />

ve<br />

Similarmente ao MEF para se integrar no tempo a equação anterior deve-se fazer<br />

uso de um integrador temporal. Por simplicidade, adotou-se uma simples aproximação<br />

linear para definir as velocidades, de maneira que:<br />

ve<br />

ve<br />

U U<br />

U& s+<br />

1 − s<br />

s+<br />

1 = ;<br />

∆t<br />

P P<br />

P& s+<br />

1 − s<br />

s+<br />

1 = ;<br />

∆t<br />

b b<br />

b& s+<br />

1 − s<br />

s+<br />

1 = ;<br />

∆t<br />

σ s+<br />

1 −σ<br />

s<br />

& σ s+<br />

1 =<br />

(48)<br />

∆t<br />

Aplicando-se a expressão das velocidades apresentadas em (48) na equação (47),<br />

encontra-se o seguinte sistema de equações:<br />

H U +<br />

onde<br />

⎛<br />

H = ⎜<br />

⎝<br />

s+ 1 = GPs<br />

+ 1 Fs<br />

(49)<br />

γ ⎞<br />

+ ⎟H<br />

∆t<br />

⎠<br />

1 (50a)<br />

⎛ Ee<br />

+ E<br />

G = ⎜<br />

⎝ Eve<br />

⎛ E<br />

ve<br />

+ E<br />

γ ⎞<br />

+ ⎟G<br />

∆t<br />

⎠<br />

γ ⎞<br />

e ve<br />

e vp<br />

Fs<br />

= ⎜<br />

⎟<br />

+ Bbs+ 1 + HU s − GPs<br />

− Bbs<br />

+ Q<br />

s+<br />

1<br />

Eve<br />

t<br />

σ<br />

∆ ∆t<br />

∆t<br />

∆t<br />

Eve<br />

⎝<br />

⎠<br />

γ<br />

γ<br />

γ<br />

E<br />

(50b)<br />

(50c)<br />

6 ACOPLAMENTO USUAL<br />

O acoplamento entre as formulações descritas é baseado na técnica de sub-regiões<br />

CODA & VENTURINI(1999) e BEER & WATSON(1992). Veja, por exemplo a figura<br />

3, duas sub-regiões definidas por um domínio Ω i (elementos de contorno) e Ω j<br />

(elementos finitos) são acopladas através de uma interface Γ ij .<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Ω<br />

14<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

boundary<br />

element<br />

finite<br />

element<br />

Ω i<br />

Γ ij<br />

Ω j<br />

Figura 3 – Coupling between boundary and finite elements sub-regions.<br />

É possível escrever para ambas as sub-regiões um sistema de equações como<br />

aquele descrito na equação (49), escrito para o presente instante.<br />

H<br />

H<br />

i<br />

U<br />

j<br />

U<br />

i i i i<br />

t+ ∆ t G Pt<br />

+ ∆t<br />

+ Ft<br />

+ ∆t<br />

= (51a)<br />

j j j j<br />

t+ ∆ t<br />

G Pt<br />

+ ∆t<br />

+ Ft<br />

+ ∆t<br />

= (51b)<br />

As condições de compatibilidade e equilíbrio ao longo da interface Γ ij são escritas<br />

como:<br />

U<br />

P<br />

ij ji<br />

t ∆ t<br />

U<br />

t+<br />

∆t<br />

+<br />

= (52a)<br />

ij ji<br />

t+ ∆ t<br />

−Pt<br />

+ ∆t<br />

= (52b)<br />

onde os valores U<br />

ij t + ∆ t<br />

e P ij t + ∆ t<br />

são respectivamente, os deslocamentos e as forces de<br />

ie<br />

superfície ao longo da interface no presente instante. Já U t+<br />

∆t<br />

e Pt<br />

ie + ∆ t são valores de<br />

deslocamento e força de superfície que não pertencem a interface, respectivamente.<br />

Substituindo equação (52) dentro da eq.(51), resulta:<br />

⎡H<br />

⎢<br />

⎣ 0<br />

ie<br />

H<br />

H<br />

ij<br />

ji<br />

− G<br />

G<br />

ji<br />

ij<br />

H<br />

0<br />

je<br />

⎧U<br />

⎪<br />

⎤⎪U<br />

⎥⎨<br />

⎦⎪Pt<br />

⎪<br />

⎩U<br />

ie<br />

t+<br />

∆t<br />

ij<br />

t+<br />

∆t<br />

ji<br />

+ ∆t<br />

je<br />

t+<br />

∆t<br />

⎫<br />

⎪<br />

⎪ ⎡G<br />

⎬ = ⎢<br />

⎪<br />

⎣ 0<br />

⎪<br />

⎭<br />

ie<br />

G<br />

0<br />

ij<br />

G<br />

0<br />

je<br />

⎧P<br />

t<br />

⎪<br />

0 ⎤⎪Pt<br />

ji ⎥⎨<br />

G<br />

⎦⎪Pt<br />

⎪<br />

⎩Pt<br />

ie<br />

+ ∆t<br />

ij<br />

+ ∆t<br />

je<br />

+ ∆t<br />

ji<br />

+ ∆t<br />

⎫<br />

⎪<br />

⎪ ⎪⎧<br />

Ft<br />

⎬ + ⎨<br />

⎪ ⎪⎩ Ft<br />

⎪<br />

⎭<br />

i<br />

+ ∆t<br />

j<br />

+ ∆t<br />

⎪⎫<br />

⎬<br />

⎪⎭<br />

(53)<br />

ij<br />

onde P representa valores prescrito na superfície de contato. Esta expressão pode ser<br />

facilmente estendida para um arbitrário número de sub-regiões CODA et al.(1999).<br />

7 ACOPLAMENTO DO REFORÇO<br />

Esta abordagem é mais indicada para tratar problemas de acoplamento<br />

progressivo que envolve inserção de regiões no corpo em tempos pré-determinados, tais<br />

como os problemas de reforço estrutural e de escavações. O reforço é tratado como uma<br />

sub-região que será acoplada durante o processo numérico. A interface que receberá<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 15<br />

reforço, em geral, apresenta-se em uma forma deslocada. Executando-se o acoplamento<br />

como descrito no item anterior, mantendo as condições de compatibilidade e equilíbrio,<br />

implicitamente impõe-se que a interface do reforço que será acoplada possuirá<br />

deslocamentos e forças de superfícies prescritas iguais aos pontos da interface que<br />

recebe o reforço.<br />

P(t 0)<br />

P(t )<br />

1<br />

U i<br />

o<br />

i<br />

U ref<br />

U i est<br />

Figura 4 – Etapas de um reforço estrutural.<br />

Se o acoplamento for considerado desta forma e for empregado um reforço com as<br />

mesmas propriedades físicas do meio reforçado, ocorrerá que a estrutura recuperará a<br />

rigidez inicial de uma estrutura íntegra com a mesma geometria e propriedades físicas<br />

da estrutura reforçada, provocando uma descontinuidade na curva deslocamento x<br />

tempo, o que não é correto. Para se evitar este problema, é necessário fazer uma<br />

correção no sistema de equações, de maneira que as hipóteses do reforço sejam<br />

introduzidas corretamente. Esta correção pode ser melhor compreendida visualizandose<br />

a figura 4. A figura 4 apresenta as etapas de um problema de reforço. A estrutura a<br />

ser reforçada, inicialmente em repouso, é solicitada por uma força, originando uma nova<br />

configuração deslocada para a estrutura, até que, em um determinado instante, o reforço<br />

é acoplado. Note que as condições de compatibilidade e equilíbrio, para a interface de<br />

contato entre o reforço e a estrutura, considerando a hipótese de pequenos<br />

deslocamentos, são agora expressas como:<br />

i i i<br />

Condição de compatibilidade →U est = U ref + U o<br />

(54a)<br />

i i<br />

Condição de equilíbrio → P = −P<br />

(54b)<br />

ref<br />

i<br />

sendo U o o vetor de deslocamentos da interface que recebe o reforço no instante<br />

anterior ao acoplamento do reforço. Os subscritos ref e est indicam os termos<br />

relacionados, respectivamente, ao reforço e a estrutura a ser reforçada, ambos referentes<br />

ao instante atual. É importante observar que a condição de compatibilidade para o<br />

problema de reforço é diferente daquela apresentada na equação (52a). As equações do<br />

problema no instante em que o reforço é conectado são:<br />

est<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


16<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

Para<br />

Para<br />

⎧ ⎫<br />

0<br />

⎪⎩ ⎪⎭<br />

e<br />

e<br />

e i ⎪U<br />

est ⎪ i ⎧ ⎫ e i ⎪Pest<br />

⎪<br />

Ω est → [ H est H est ] ⎨ [ Gest<br />

]<br />

i<br />

[ Gest<br />

Gest<br />

] B<br />

i ⎬ = ⎨ ⎬ + ⎨ +<br />

i ⎬ est<br />

U<br />

P<br />

est<br />

⎩ est ⎭<br />

Pest<br />

⎧<br />

⎪⎩<br />

⎫<br />

0 (55a)<br />

⎧ ⎫<br />

0<br />

⎧ ⎫<br />

0 (55b)<br />

⎪⎩ ⎪⎭ ⎩ ⎭<br />

⎪⎩ ⎪⎭<br />

e<br />

e<br />

e i ⎪U<br />

ref ⎪ i<br />

⎧ ⎫<br />

e i ⎪Pref<br />

⎪<br />

Ω ref → [ H ref H ref ] ⎨ [ Gref<br />

] i [ Gref<br />

Gref<br />

] B<br />

i ⎬ = ⎨ ⎬ +<br />

⎨ +<br />

i ⎬ ref<br />

U<br />

P<br />

ref<br />

ref<br />

Pref<br />

Substituindo as condições de compatibilidade e equilíbrio, específicas para o<br />

problema de reforço, nas equações (55), encontra-se:<br />

⎪⎭<br />

⎡<br />

e<br />

H<br />

⎢<br />

⎢⎣<br />

0<br />

est<br />

⎧<br />

e<br />

⎫<br />

⎧<br />

e<br />

U<br />

⎫<br />

est<br />

Pest<br />

i i ⎪ ⎪<br />

⎪ ⎪<br />

⎤ e ⎡<br />

e<br />

i<br />

⎤<br />

e<br />

⎪ ⎪ ⎧ ⎫ ⎪⎧<br />

i i<br />

0 H est − Gest<br />

⎪U<br />

⎪⎫<br />

ref ⎪ Gest<br />

0 Gest<br />

0 Pref<br />

Best<br />

H estU<br />

o<br />

e i i ⎥⎨<br />

⎬ = ⎢<br />

⎥⎨<br />

⎬ + ⎨ ⎬ −<br />

i<br />

e<br />

i i<br />

⎨ ⎬<br />

H ref H ref Gref<br />

⎥⎦<br />

⎪U<br />

ref ⎪ ⎢⎣<br />

0 Gref<br />

0 Gref<br />

⎥⎦<br />

⎪Pest<br />

⎪ ⎩<br />

Bref<br />

⎭ ⎪⎩ 0 ⎪⎭<br />

⎪ i ⎪<br />

⎪ i ⎪<br />

⎩ Pest<br />

⎭<br />

⎩<br />

Pref<br />

⎭<br />

(56)<br />

No sistema de equações referente à sub-região que recebe o reforço, aparece um termo<br />

adicional, oriundo da equação de compatibilidade. Este termo é a correção que deve ser<br />

imposta ao sistema, para que as hipóteses do reforço sejam atendidas. Após a resolução<br />

do sistema de equações, obtém-se<br />

i<br />

est<br />

U e<br />

i<br />

P através das equações (54), encontrando<br />

assim todas as incógnitas e solucionando completamente o problema de reforço. Note<br />

que, em um problema viscoso, a correção deve ser imposta em todos os passos de<br />

tempo, a partir do instante da inserção do reforço.<br />

ref<br />

8 PROCEDIMENTO COM ACOPLAMENTO PROGRESSIVO<br />

Para problemas de progressão, onde partes de um sólido são extraídas e inseridas<br />

em tempos pré-determinados, tal como em problemas de escavações reforçadas em<br />

túneis, o procedimento de acoplamento das sub-regiões é exatamente o mesmo. As<br />

partes do corpo que serão fixas, aquelas que serão removidas e aquelas que serão<br />

introduzidas são representadas por sub-regiões, de maneira que em uma determinada<br />

etapa do problema de progressão seja possível executar a extração de partes do corpo e<br />

a inserção de outras. É indispensável adoção de um modelo viscoso para este tipo de<br />

problema, pois este possibilita executar a análise em função do tempo, permitindo<br />

determinar os tempos de extração e inclusão das sub-regiões. O procedimento é<br />

dividido em etapas. Em cada etapa é definida uma nova geometria do problema, ou seja,<br />

é de uma etapa para a outra que partes do corpo, caracterizadas por sub-regiões de<br />

elementos finitos ou elementos de contorno, são inseridas ou extraídas. As etapas são<br />

divididas em passos de tempo oriundos das formulações viscosas. O tempo, com um<br />

significado físico bem definido, permanece contínuo de uma etapa para outra. Se o<br />

problema considerado for viscoplástico, torna-se necessário um procedimento iterativo<br />

dentro de cada passo de tempo para se corrigir o erro de aproximação, de maneira que o<br />

equilíbrio seja novamente estabelecido. Uma descrição sistematizada de todo o<br />

procedimento com acoplamento progressivo pode ser vista nos passos a seguir.<br />

Passo 1 - Para cada etapa do problema monta-se o sistema de equações com as subregiões<br />

acopladas. As matrizes de todas as sub-regiões envolvidas no problema só<br />

precisam ser calculadas uma única vez. Estas devem ser armazenadas e lidas no instante<br />

da montagem do sistema total da etapa atual. Se o problema envolve variação das<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 17<br />

propriedades físicas com o tempo, como é o caso do concreto projetado nas idades<br />

iniciais, o sistema deve ser montado em todo passo de tempo, acarretando em maior<br />

custo computacional.<br />

H U ( t)<br />

= G P ( t)<br />

B ( t)<br />

(57)<br />

i i i i +<br />

i<br />

Note que é possível montar os sistemas de todas as formulações descritas na tese<br />

semelhantemente a equação (57). Assim, para cada sub-região i obtêm-se o vetor B i e<br />

as matrizes H i , G i com as condições de contorno já impostas pela forma padrão do<br />

MEC.<br />

Passo 2 - No início de cada passo de tempo calculam-se os valores prescritos no<br />

instante atual dos deslocamentos, forças nodais, forças de superfície e forças<br />

volumétricas, de maneira que:<br />

t<br />

P<br />

∆t<br />

i = Pi<br />

( t + ∆t)<br />

(58a)<br />

t<br />

B<br />

∆t<br />

= B ( t + ∆t)<br />

(58b)<br />

i<br />

i<br />

Os valores prescritos podem variar segundo qualquer função dependente do<br />

tempo, semelhantemente as clássicas formulações dinâmicas WARBURTON(1976) e<br />

CODA & VENTURINI(1995).<br />

Passo 3 – Montagem do sistema de equações total com a contribuição de todas as subregiões<br />

envolvidas na etapa.<br />

⎡<br />

e<br />

H1<br />

⎢<br />

⎢ ⋅<br />

⎢<br />

⎣<br />

0<br />

⋅⋅⋅<br />

⋅⋅⋅<br />

0<br />

& ⋅<br />

H<br />

e<br />

n<br />

⋅⋅⋅<br />

⋅⋅⋅<br />

H<br />

i<br />

1<br />

& ⋅<br />

H<br />

i<br />

n<br />

⋅⋅⋅<br />

⋅⋅⋅<br />

⎧<br />

e<br />

U ⎫<br />

1<br />

⎪ ⎪<br />

⎪ & ⋅ ⎪<br />

i<br />

⎤⎪<br />

e⎪<br />

⎡<br />

e<br />

− G1<br />

U G<br />

n 1<br />

⎥⎪<br />

⎪ ⎢<br />

& ⋅ ⎥⎨<br />

& ⋅ ⎬ = ⎢ & ⋅<br />

i ⎥⎪<br />

i<br />

G ⎪ ⎢<br />

n ⎦⎪<br />

U<br />

⎪ ⎣<br />

0<br />

⎪ & ⋅ ⎪<br />

⎪ i ⎪<br />

⎩ P<br />

⎭<br />

⋅⋅⋅<br />

⋅⋅⋅<br />

0<br />

& ⋅<br />

G<br />

e<br />

n<br />

⋅⋅⋅<br />

⋅⋅⋅<br />

G<br />

i<br />

1<br />

& ⋅<br />

0<br />

⋅⋅⋅<br />

⋅⋅⋅<br />

⎧<br />

e<br />

P ⎫<br />

1<br />

⎪ ⎪<br />

⎪ & ⋅ ⎪<br />

⎤⎪<br />

e ⎪ ⎧ ⎫ ⎧<br />

i<br />

0 P B<br />

n 1 H1U<br />

⎥⎪<br />

⎪ ⎪ ⎪ ⎪<br />

& ⋅ ⎥⎨<br />

& ⋅ ⎬ + ⎨ & ⋅ ⎬ − ⎨ & ⋅<br />

i ⎥⎪<br />

i ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ i<br />

Gn<br />

⎦⎪<br />

P<br />

⎪ ⎩Bn<br />

⎭ ⎩<br />

H nU<br />

1<br />

⎪ & ⋅ ⎪<br />

⎪ i ⎪<br />

⎩Pn<br />

⎭<br />

& (59)<br />

i<br />

Note que o vetor de deslocamentos U n ( o ) , referente aos graus de liberdade das<br />

interfaces da sub-região n conectados a sub-regiões de reforço, obtido no instante<br />

anterior ao acoplamento do respectivo reforço, deve ser lido antes da montagem do<br />

sistema para se efetuar o cálculo do vetor de correção. Este deve ser salvo e não mais<br />

alterados, pois seu valor será sempre necessário na montagem do sistema (59) em todos<br />

os instantes a partir da inserção do reforço.<br />

Passo 4 – Resolvendo o sistema de equações (59) soluciona-se o problema de contorno,<br />

encontrando todas as incógnitas referentes às interfaces por meio das equações (52),<br />

para acoplamento simples, ou das equações (54), para acoplamento com reforço. Para o<br />

caso mais geral, com m sub-regiões conectadas a uma interface, as condições de<br />

compatibilidade e equilíbrio ficam escritas como:<br />

i<br />

1( o)<br />

i<br />

n(<br />

o)<br />

⎫<br />

⎪<br />

⎬<br />

⎪<br />

⎭<br />

U<br />

i<br />

1<br />

i<br />

1<br />

P<br />

= ⋅⋅⋅ = U m<br />

i<br />

= −P<br />

− ⋅⋅⋅ −<br />

2<br />

i<br />

⎪⎫<br />

⎬<br />

i<br />

Pm<br />

⎪⎭<br />

sem reforço<br />

(60a)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


18<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

U<br />

i<br />

1<br />

i<br />

1<br />

P<br />

= ⋅⋅⋅ =<br />

i<br />

2<br />

= −P<br />

U<br />

i<br />

m<br />

− ⋅⋅⋅ −<br />

= U<br />

P<br />

i<br />

ref<br />

i<br />

m<br />

+ U<br />

i<br />

o<br />

⎪<br />

⎫<br />

⎬<br />

⎪⎭<br />

com reforço<br />

(60b)<br />

i<br />

sendo U o o mesmo definido no item 7. Obtidas todas as variáveis do problema de<br />

contorno, deve-se reordena-las para cada sub-região e salva-las em arquivos, para<br />

posteriormente serem utilizadas<br />

Passo 5 – Para cada sub-região executa-se a leitura do(s) respectivo(s) arquivo(s) com<br />

as variáveis do problema de contorno. Assim, encontram-se as tensões totais, elásticas e<br />

viscosas de acordo com tipo de sub-região (MEC ou MEF) e da formulação adotada.<br />

e v<br />

σ ( t),<br />

σ ( t),<br />

σ ( t)<br />

(61)<br />

Semelhantemente, estas devem ser salvas em arquivos para serem posteriormente<br />

utilizadas. Se o problema considerado for viscoelástico, o processo se encerra aqui e dáse<br />

início a um novo passo de tempo e/ou uma nova etapa retornando-se ao passo 2,. De<br />

outra forma, se a sub-região considerada for do tipo viscoplástica é necessário verificar<br />

se as tensões não violam o critério, caso contrário deve-se fazer uma correção através de<br />

um algoritmo elastoplástico. Devido a falta de espaços neste artigo, estes algoritmos não<br />

serão apresentados. Porém, uma visão detalhada deles pode ser encontrada no texto<br />

final da tese. Estes algoritmos são do tipo implícito com expressões fechadas, baseados<br />

em leis associativas e não-associativas.<br />

σ<br />

σ<br />

ep ep<br />

t+<br />

∆t<br />

ep<br />

t+<br />

∆t<br />

= σ t +<br />

∫<br />

dσ<br />

t<br />

(62)<br />

v<br />

ep<br />

t+<br />

∆t<br />

= σ t+<br />

∆t<br />

−σ<br />

t+<br />

∆t<br />

Determinadas as variáveis internas, verifica se a solução considerada é<br />

suficientemente precisa por meio de critérios de convergência. Verificada a<br />

convergência para todas as sub-regiões, atualizam-se todas as variáveis referentes ao<br />

instante “t+∆t”, armazenando-as nas variáveis referentes ao instante “t”. Após isto,<br />

retorna-se ao passo 1, dando início a um novo passo de tempo e/ou uma nova etapa.<br />

Caso contrário, atualizam-se as variáveis referentes ao instante “t+∆t” e retorna-se ao<br />

passo 2, calculando-se os valores incógnitos para o mesmo instante da última iteração,<br />

reaplicando-se o resíduo de força (ou tensão inicial) e fazendo-se uso da equação (59)<br />

para a obtenção das variáveis de contorno, caracterizando assim o processo iterativo.<br />

Obtida a convergência em todos os passos de tempo da etapa e para todas as subregiões,<br />

dá-se início a uma outra etapa identificando quais as sub-regiões que deverão<br />

ser inseridas ou aquelas que deverão ser extraídas. Monta-se novamente o sistema e<br />

repete-se todo o procedimento descrito anteriormente.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 19<br />

9 EXEMPLOS NUMÉRICOS<br />

9.1 Exemplo 01: Pórtico 2D sobre solos diferentes<br />

A estrutura analisada é um pórtico de dois pavimentos solicitado por cargas<br />

concentradas constantes no tempo, aplicadas nas extremidades do nível mais alto. O<br />

pórtico é simétrico e seus dois pilares estão conectados a sapatas que se encontram<br />

acopladas ao solo. As propriedades físicas dos solos conectados às sapatas são<br />

diferentes, de maneira que estas apresentarão recalques distintos. A análise foi<br />

executada com um incremento de tempo (∆t) de 0,1 mês e levou o tempo total de 48<br />

meses.<br />

Tabela 1: Propriedades físicas e geométricas<br />

PROPRIEDADES FÍSICAS E GEOMËTRICAS<br />

Solo1 Solo2 Pórtico<br />

E e = 2,1 GPa E e = 2,1 GPa E = 21,0 GPa<br />

E ve = 2,1 GPa E ve = 1,0 GPa A = 0,03 m 2<br />

ν = 0,4 ν = 0,4 I = 0,000225 m 4<br />

γ=10meses γ=5meses<br />

O pórtico, discretizado como uma sub-região em elementos finitos, é considerado<br />

elástico e as sub-regiões que caracterizam os solos são ambas discretizadas por<br />

elementos de contorno e consideradas como viscoelásticas segundo o modelo de<br />

Boltzmann. A geometria e a discretização do problema são apresentados na figura 5 e as<br />

propriedades físicas são expostas na tabela 1. Considerou-se um maciço rochoso<br />

indeformável, localizado a 24m abaixo da superfície, restringindo-se os graus de<br />

liberdade localizados nesta posição.<br />

6m<br />

P<br />

P<br />

h<br />

3m<br />

Ω1<br />

b<br />

A<br />

3m<br />

1<br />

y<br />

x<br />

2<br />

Ω2<br />

2m<br />

2m<br />

Ω3<br />

24m<br />

26m<br />

26m<br />

Figura 5 – Geometria e discretização.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


20<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

O que se deseja é analisar o comportamento do pórtico solicitado acoplado aos<br />

solos com diferentes propriedades físicas e assim, verificar como as propriedades<br />

viscosas interferem no comportamento global da estrutura. A figura 6 apresenta os<br />

resultados do recalque com o tempo de ambas as sapatas.<br />

0,00<br />

Deslocamento (m)<br />

-0,01<br />

-0,02<br />

-0,03<br />

-0,04<br />

Sapata 1<br />

Sapata 2<br />

-0,05<br />

0 8 16 24 32 40 48<br />

Tempo (meses)<br />

Figura 6 – Recalque das sapatas.<br />

É possível verificar que as propriedades viscosas diferentes dos solos<br />

introduziram um recalque diferencial na estrutura, provocando uma redistribuição dos<br />

esforços no pórtico. Essa redistribuição de esforços pode ser visualizada na figura 7 que<br />

expõe resultados do momento presente na extremidade direita da barra horizontal do<br />

primeiro nível do pórtico (ponto A).<br />

3,00<br />

2,50<br />

Momento (kN/m)<br />

2,00<br />

1,50<br />

1,00<br />

0,50<br />

0,00<br />

Momento<br />

0 8 16 24 32 40 48<br />

Tempo (meses)<br />

Figura 7 – Momento no ponto A.<br />

Deve-se notar que, caso os solos tivessem as mesmas propriedades viscoelásticas,<br />

devido a simetria do problema, o recalque em ambas as sapatas seria o mesmo e<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 21<br />

cosequentemente não apareceria momento no ponto A. Porém, devido ao recalque<br />

diferencial, conseqüência das propriedades viscoelásticas diferentes dos solos, é<br />

possível verificar o aparecimento de esforços introduzidos na estrutura. O momento<br />

atinge um valor máximo e logo depois se estabiliza em um valor um pouco menor. Isto<br />

é devido aos diferentes valores dos coeficientes viscosos que induzem velocidades de<br />

deformação diferentes para os solos. Ou seja, no instante onde o momento atinge o seu<br />

máximo, o recalque diferencial entre as sapatas é máximo, porém, com o tempo a sapata<br />

1 desloca-se mais, atingindo o seu máximo deslocamento, diminuindo o valor do<br />

recalque diferencial e conseqüentemente do momento.<br />

9.2 Exemplo 02 – Reforço progressivo de túnel 2D<br />

Uma cavidade cilíndrica solicitada por uma pressão interna analisada para a<br />

situação de estado plano de tensão. As respostas foram obtidas, veja figura 8, para o<br />

túnel sem reforço e para o mesmo reforçado, sendo que neste último o reforço é inserido<br />

antes da aplicação da carga, no início do processo. A cavidade é solicitada sem nenhum<br />

reforço, até que em uma segunda etapa (após t=10dias) o reforço é inserido de duas<br />

maneiras. A primeira considerando o acoplamento com as hipóteses usuais de<br />

compatibilidade e equilíbrio. Já a segunda é realizada levando em consideração as<br />

hipóteses específicas para o reforço.<br />

solo<br />

1ª etapa<br />

(0 ≤ t ≤ 10 dias)<br />

y<br />

P<br />

r<br />

x<br />

2ª etapa<br />

Propriedades físicas<br />

(10 dias < t ≤ 90 dias) Solo (rocha branda) Suporte<br />

y<br />

E e = 10340,0 kgf/cm 2<br />

kgf/cm 2<br />

E e = 206800,0<br />

e E ve = 4500,0 kgf/cm 2 E ve = ∞<br />

solo<br />

ν = 0,15<br />

γ = 0,0 dia<br />

suporte<br />

γ = 7,14285 dias<br />

P<br />

x<br />

Geometria<br />

Pressão<br />

r = 254,0 cm P = 70,31kgf/cm 2<br />

r<br />

e = 30,0 cm<br />

Parâmetros da análise<br />

∆t = 0,5 dia<br />

N o de ∆t =180<br />

Figura 8 – Reforço de uma cavidade cilíndrica.<br />

Na figura 9, a resposta destas duas análises são plotadas juntamente com a<br />

resposta analítica do problema sem reforço, a resposta do MEC sem reforço e a resposta<br />

do MEC com o reforço a partir do instante inicial.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


22<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

Deslocamento (cm)<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

Analítico<br />

MEC<br />

MEC/MEF<br />

Reforço sem hipótese<br />

Reforço com hipótese<br />

0 15 30 45 60 75 90<br />

Tempo (dias)<br />

Figura 9 – Deslocamento radial do túnel.<br />

É importante observar que a execução numérica do acoplamento sem as hipóteses<br />

do reforço faz com que a estrutura recupere sua rigidez inicial como se fosse uma<br />

estrutura integra, o que não ocorre na prática. A imposição das hipóteses do reforço no<br />

acoplamento permite simular coerentemente a contribuição deste no comportamento<br />

global da estrutura.<br />

9.3 Exemplo 03 – Reforço progressivo de um buraco esférico<br />

Uma cavidade esférica localizada em um meio infinito é analisado. A estrutura<br />

com 2m de raio é solicitado por uma pressão interna. O solo, considerado como um<br />

material viscoelástico, é reforçado por um suporte elástico acoplado no instante t =<br />

20dias. O meio infinito é discretizado com elementos de contorno triangulares de três<br />

nós e o suporte com o elemento finito de casca proposto em MESQUITA(1998). As<br />

etapas, a discretização utilizada para ambas as sub-regiões e os dados do problema são<br />

apresentados na figura 10.<br />

solo<br />

solo<br />

1ª etapa<br />

(0 ≤ t ≤ 20dias)<br />

y<br />

P<br />

x<br />

r<br />

2ª etapa<br />

(20 < t ≤ 80dias)<br />

y<br />

e<br />

suporte<br />

P<br />

x<br />

r<br />

Propriedades físicas<br />

Solo<br />

Suporte<br />

E e = 103000,0 kPa E e = 21000000,0<br />

kPa<br />

E ve = <strong>35</strong>000,0 kPa E ve = 21000000,0<br />

kPa<br />

ν = 0,3 ν = 0,3<br />

γ = 9,5 dias γ = 0,0<br />

Geometria<br />

r = 2,0 m<br />

e = 0,1 m<br />

Parâmetros da análise<br />

∆t = 0,5 dia<br />

N o de ∆t =160<br />

Pressão<br />

P = 2000,0 kPa<br />

Figura 10 – Dados do problema de reforço.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 23<br />

Resultados do deslocamento radial de um ponto localizado a 18m do centro da<br />

cavidade esférica são apresentados na figura 11. Os resultados foram obtidos<br />

considerando-se o acoplamento do suporte com e sem as hipóteses do reforço.<br />

Resultados da análise viscoelástica da cavidade esférica sem qualquer tipo de<br />

acoplamento são também plotados para melhor ilustrar a contribuição do reforço para o<br />

enrijecimento global.<br />

0,0015<br />

Deslocamento(m)<br />

0,0012<br />

0,0009<br />

0,0006<br />

0,0003<br />

Sem reforço<br />

Sem hipóteses<br />

Com hipóteses<br />

0<br />

0 20 40 60 80<br />

Tempo(dias)<br />

Figura 11 – Deslocamento radial da cavidade esférica.<br />

Semelhantemente, na figura 12 apresentam-se resultados das tensões σ r (total,<br />

elástica e viscosa) extraídas na mesma posição onde foram calculados os deslocamentos<br />

da figura 11 para a condição de reforço progressivo.<br />

0<br />

Tensão(kPa)<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

-2<br />

-2,5<br />

Total<br />

Elástica<br />

Viscosa<br />

-3<br />

0 20 40 60 80<br />

Tempo(dias)<br />

Figura 12 – Tensões σ r (total, elástica e viscosa).<br />

Na figura 12 observa-se a redução dos níveis de tensão com a introdução do<br />

reforço. Note que a soma da tensão elástica e da tensão viscosa é sempre igual a tensão<br />

total, evidenciando a satisfação do modelo reológico.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


24<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

9.4 Exemplo 04 – Bloco 3D elastoplástico submetido ao peso próprio<br />

O exemplo foi proposto com o intuito de demonstrar uma aplicação do<br />

acoplamento progressivo viscoplástico. Um bloco paralepipédico submetido a ação do<br />

peso próprio é constituído por um material viscoplástico.<br />

1ª etapa<br />

(0 ≤ t ≤ 25h)<br />

2ª etapa<br />

(25h < t ≤ 100h)<br />

z<br />

40 cm<br />

20 cm<br />

20 cm<br />

y<br />

bx = 150 kgf/cm 3<br />

Propriedades físicas<br />

Bloco<br />

Anteparo<br />

E e = 2,1 10 5 kgf/cm 2 E e = 2,1 10 5<br />

kgf/cm 2<br />

E ve = 5,0 10 4 kgf/cm 2 E ve = 5,0 10 4<br />

kgf/cm 2<br />

ν = 0,0 ν = 0,0<br />

γ = 10,5 h γ = 0,0<br />

Peso próprio do bloco<br />

bx = 150,0 kgf/cm 3<br />

Parâmetros da análise<br />

∆t = 0,5 h<br />

N o de ∆t =200<br />

x<br />

Figura 13 – Dados do problema.<br />

O problema é analisado levando-se em consideração os critérios de von Mises e<br />

2<br />

Drucker-prager. Para a primeira situação adotou-se E t = 10000,0kgf<br />

/ cm e a tensão de<br />

2<br />

plastificação σ y = 1300,0kgf<br />

/ cm . O problema analisado com o modelo de Drucker a<br />

2<br />

coesão, o ângulo de atrito e módulo tangente plástico são adotados como: 0,703kgf / cm ,<br />

20 o 2<br />

, e E t = 10000,0kgf<br />

/ cm , respectivamente. O modelo viscoplástico utilizado foi aquele<br />

com comportamento instantâneo e o algoritmo para atualização das tensões empregada<br />

é aquele com lei de fluxo não-associativa. Os dados, a geometria e a discretização do<br />

problema são apresentados na figura 13. Resultados do deslocamento axial da face livre<br />

do bloco viscoplástico são apresentados na figura 14 para ambos os modelos de Druker-<br />

Prager(DP) e von Mises(VM).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 25<br />

Deslocamento(cm)<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

Viscoelástico<br />

Viscoplástico_VM<br />

Viscoplástico_DP<br />

0 25 50 75 100<br />

Tempo(h)<br />

Figura 14 – Deslocamento axial do nó central da face livre do bloco.<br />

A evolução da força de contato na interface de contato entre os dois blocos pode<br />

ser visualizada na figura 15.<br />

Força de Contato(kgf/cm 2 )<br />

0<br />

-200<br />

-400<br />

-600<br />

-800<br />

-1000<br />

-1200<br />

-1400<br />

-1600<br />

-1800<br />

Viscoelástico<br />

Viscoplást_VM<br />

Viscoplást_DP<br />

0 25 50 75 100<br />

Tempo(h)<br />

Figura 15 – Força de contato na interface de contato do bloco.<br />

Por fim, a resposta da tensão elástica σ e x , viscosa σ v x e total σ x extraídas no<br />

centróide do bloco são apresentadas na figura 16 para o critério de von Mises e na<br />

figura 17 para o modelo de Drucker, ambos considerando o acoplamento com as<br />

hipóteses do reforço.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


26<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

Tensão(kgf/cm 2 )<br />

<strong>35</strong>00<br />

3000<br />

2500<br />

2000<br />

1500<br />

1000<br />

500<br />

0<br />

-500<br />

Total<br />

Elástica<br />

Viscosa<br />

0 25 50 75 100<br />

Tempo(h)<br />

Figura 16 – Tensões no centróide do bloco (von Mises).<br />

Tensão(kgf/cm 2 )<br />

<strong>35</strong>00<br />

3000<br />

2500<br />

2000<br />

1500<br />

1000<br />

500<br />

0<br />

-500<br />

Total<br />

Elástica<br />

Viscosa<br />

0 25 50 75 100<br />

Tempo(h)<br />

Figura 17 – Tensões no centróide do bloco (Drucker-Prager).<br />

Algumas conclusões podem ser extraídas deste último exemplo. Semelhantemente<br />

ao problema viscoelástico, observe que, para análise com o modelo de von Mises, o<br />

valor da força de contato no instante t=100h (com a hipótese do reforço) é de<br />

1167,4kgf/cm 2 . Este valor deve ser igual a redução da tensão total no final da análise<br />

que é 1167,8kgf/cm 2 . Levando em consideração as complexidades envolvidas e que o<br />

problema é analisado de forma aproximada, pode-se dizer que estes valores estão bem<br />

próximos. Este resultado representa o estado de equilíbrio do corpo. Para o problema<br />

com o modelo de Drucker a força de contato em t=100h é 1710,8kgf/cm 2 já a redução<br />

da tensão total é 1793,9kgf/cm 2 .<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


Novas metodologias e formulações para o tratamento de problemas inelásticos com acoplamento... 27<br />

10 CONCLUSÕES<br />

O acoplamento se apresenta como uma ferramenta adequada para o tratamento de<br />

problemas de interação, tais como: solo-estrutura e estrutura-estrutura. Elementos de<br />

contorno são mais adequados para tratar problemas com domínio infinito ou semiinfinito<br />

e regiões de concentração de tensões e fluxo. Já elementos finitos são mais<br />

apropriados para problemas envolvendo materiais compósitos, anisotrópicos, estruturas<br />

em cascas e reticuladas. Consequentemente, a aplicação adequada de ambos os métodos<br />

na simulação de um problema de interação, possibilita uma melhor representação de<br />

todo o problema, tornando o acoplamento uma ferramenta bastante eficiente. As novas<br />

hipóteses adotadas para o acoplamento do reforço permitiram caracterizar de forma<br />

mais realista a contribuição deste para o enrijecimento global<br />

Os algoritmos empregados tanto na formulação elastoplástica quanto nas<br />

formulações viscoplásticas foram desenvolvidos seguindo a metodologia de algoritmos<br />

do tipo “return mapping”. Estes, além de possibilitar uma eficiente atualização das<br />

tensões, permitem a obtenção da matriz constitutiva elastoplástica consistente com o<br />

algoritmo de retorno, preservando a taxa de convergência quadrática do método de<br />

Newton-Raphson. As expressões do multiplicador plástico de todos os algoritmos<br />

apresentados foram obtidas de forma fechada, não havendo a necessidade de<br />

procedimentos iterativos para solucionar a condição de consistência<br />

As formulações viscoelásticas e viscoplásticas se apresentaram bastante<br />

eficientes, precisas e estáveis. Além do mais, estas possibilitam com simplicidade e<br />

elegância o acoplamento progressivo e a aplicação de condições de contorno (forças e<br />

deslocamentos) variando ao longo do tempo. Em particular, para elementos de<br />

contorno, esta nova abordagem permite analisar problemas viscoelástico discretizandose<br />

apenas o contorno do corpo resultando em uma baixíssimo custo computacional. Para<br />

o caso viscoplástico pelo MEC existe a necessidade de se discretizar, além do contorno,<br />

apenas as regiões onde ocorrerão plastificação, resultando ainda em economia<br />

computacional.<br />

11 AGRADECIMENTOS<br />

Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo -<br />

FAPESP pelo apoio financeiro concedido para o desenvolvimento deste trabalho.<br />

12 REFERÊNCIAS<br />

ARGYRIS, J. H.; DOLTSINIS, J. S. T.; WILLAM, K. J. (1979). New developments in<br />

the inelastic analysis of quasistatic and dynamic problems. Int. J. Num. Meth. Eng.,<br />

v.14, p.1813-1850.<br />

BATHE, K. J. (1996). Finite element procedure. Englewood Cliffs, USA: Prentice<br />

Hall.<br />

BEER, G.; WATSON, J. O. (1992). Introduction to Finite and Boundary Element<br />

Methods for Engineers. New York: John Wiley & Sons.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


28<br />

Arthur Dias Mesquita & Humberto Breves Coda<br />

BREBBIA, C. A.; DOMINGUEZ, J. (1992). Boundary elements: an introductory<br />

course. 2.ed. Great Britain: McGraw-Hill Book Company.<br />

BREBBIA, C. A.; TELLES, J. C. F.; WROBEL, L. C. (1984). Boudary element<br />

techniques: theory and applications in engineering. Berlin: Springer-Verlag.<br />

CODA. H. B.; VENTURINI, W. S. (1995). Three dimensional transient BEM analysis.<br />

Computer of Structures, Pergamon, v. 56, n. 5, p.751-768.<br />

CODA, H. B.; VENTURINI, W. S. (1998). Boundary Element Dynamic non-linear<br />

Stress Analysis by Mass Matrix Approach. In: BOUNDARY ELEMENTS, 20.,<br />

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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 1-28, <strong>2006</strong>


ISSN 1809-5860<br />

DETECÇÃO DE DANO A PARTIR DA RESPOSTA<br />

DINÂMICA DA ESTRUTURA: ESTUDO ANALÍTICO<br />

COM APLICAÇÃO A ESTRUTURAS DO TIPO VIGA<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo 1 & José Elias Laier 2<br />

Resumo<br />

O objetivo deste trabalho é estudar métodos dinâmicos de detecção de dano em vigas,<br />

em especial os métodos baseados na variação da flexibilidade medida dinamicamente.<br />

Os métodos revisados formam parte das técnicas de Detecção de Dano Não Destrutivas<br />

(DDND). Nas técnicas DDND o dano é localizado por comparação entre o estado<br />

sadio e o danificado da estrutura. Neste trabalho, o problema de vibração inverso é<br />

apresentado e a matriz de flexibilidade estática da estrutura é determinada a partir de<br />

seus parâmetros modais. Com ajuda de um Modelo de Elementos Finitos (MEF) são<br />

mostrados os diferentes padrões de variação da matriz de flexibilidade produzidos pela<br />

presença do dano. Baseando-se nestes padrões é possível identificar a posição do dano<br />

dentro da estrutura, como indicado pelos diversos exemplos apresentados.<br />

Palavras-chave: detecção de dano; problema inverso de vibração; parâmetros modais;<br />

matriz de flexibilidade; dinâmica das estruturas.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A necessidade por um método de detecção de dano global que possa ser<br />

aplicado a estruturas complexas tem conduzido ao desenvolvimento de métodos que<br />

examinam variações nas características de vibração da estrutura. Estes métodos<br />

formam parte das chamadas Técnicas de Detecção de Dano Não Destrutivas<br />

(DDND).<br />

A idéia básica da detecção de dano é a de que os parâmetros modais<br />

(freqüências, formas modais e amortecimento modal), são funções das propriedades<br />

físicas da estrutura (massa, amortecimento e rigidez), e, por tanto, qualquer mudança<br />

destas propriedades causará mudança nos parâmetros modais. Este fato permite a<br />

detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura.<br />

Em muitos dos métodos propostos, os dados medidos em um experimento são<br />

usados para refinar ou modificar o Modelo de Elementos Finitos (MEF) da estrutura,<br />

de forma tal, que o modelo faça predições acuradas do comportamento dinâmico<br />

observado da estrutura, possibilitando-se assim a determinação da posição do dano,<br />

segundo exposto em trabalhos clássicos (Ren et.al. 2003, teughels et.al 2002, Filho<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, begambre@sc.usp.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jelaier@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>


30<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

et.al 2000, Friswell e Mothershead 1995). A anterior abordagem do problema é<br />

recomendável para estruturas complexas, porém, o uso de modos individuais no<br />

ajuste apresenta algumas dificuldades, tais como:<br />

Seleção dos modos a serem utilizados, ou seja, o analista deve escolher os<br />

modos e freqüências que serão usadas no algoritmo de detecção.<br />

Este tipo de método exige a redução do tamanho do modelo numérico<br />

empregado ou de expandir os dados modais medidos devido ao fato de que nem<br />

todos os graus de liberdade presentes no modelo numérico podem ser considerados<br />

nos ensaios experimentais (dificuldades de ordem prática).<br />

Uma outra dificuldade mencionada por Doebling, Peterson e Kenneth (1996) é<br />

o alto custo computacional de minimizar uma norma de erro não linear.<br />

Por estas razões, métodos de detecção que relacionem diretamente o dano<br />

com a resposta da estrutura estão sendo cada vez mais empregados na engenharia<br />

civil. Dentre estes métodos pode-se mencionar: Variações da matriz de flexibilidade e<br />

variações da curvatura da flexibilidade.<br />

A matriz de flexibilidade estrutural pode ser calculada usando-se só as<br />

freqüências e formas modais medidas (flexibilidade modal), com a grande vantagem<br />

que pode ser construída a partir de modos truncados sem perda de exatidão. Em<br />

situação limite, se todos os modos forem medidos, a matriz de flexibilidade calculada<br />

tenderá assintoticamente à matriz de flexibilidade estática da estrutura (que é a<br />

inversa da matriz de rigidez). A matriz de flexibilidade representa a resposta estática<br />

em deslocamento da estrutura redigida como um vetor de carregamento estático.<br />

Estas propriedades da matriz de flexibilidade a tornam uma ferramenta muito útil para<br />

a detecção de dano, como estabelecido por Lu, Ren e Zhao (2002) e Pandey e<br />

Biswas (1994, 1995)<br />

No presente trabalho, são comparados dois métodos de detecção de dano via<br />

análise da resposta dinâmica da estrutura, baseados nas variações da matriz de<br />

flexibilidade. A matriz de flexibilidade é obtida a partir das formas modais e das<br />

freqüências naturais da estrutura (métodos baseados na resposta da estrutura). Para<br />

isto é apresentado o problema inverso de vibração, uma vez que, ele inclui a<br />

derivação das relações entre a matriz de rigidez, a matriz de flexibilidade estrutural e<br />

os parâmetros modais da estrutura.<br />

2 MÉTODO DA VARIAÇÃO DA FLEXIBILIDADE OU MÉTODO DA<br />

DIFERENÇA DA FLEXIBILIDADE<br />

Neste método, a matriz de flexibilidade é definida como a inversa da matriz de<br />

rigidez estática. O dano é detectado por comparação da matriz de flexibilidade gerada<br />

a partir dos modos da estrutura danificada, com a matriz de flexibilidade, gerada a<br />

partir dos modos da estrutura sem dano. A matriz de flexibilidade medida<br />

dinamicamente é mais sensível a variações nas baixas freqüências da estrutura<br />

devido à sua relação inversa com o quadrado das freqüências modais.<br />

Como passo prévio do método é preciso normalizar as formas modais com<br />

relação à massa, para isto, pode usar-se a seguinte equação matricial, Equação (1):<br />

−1/ 2<br />

[ Φ] = [ ] ⋅ [ M ]<br />

q<br />

g<br />

(1)<br />

onde:<br />

[ q]=<br />

Matriz de formas modais do sistema (não normalizada).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>


Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />

31<br />

[ M<br />

g<br />

]= Matriz de massa generalizada (Matriz diagonal)<br />

[ Φ ]= Matriz de formas modais normalizadas com relação à massa.<br />

Agora, usando-se a propriedade de ortogonalidade das formas modais dada<br />

pela Equação (2):<br />

T<br />

[ ] [ M ][ Φ] = [ I ]<br />

Φ (2)<br />

e usando-se a matriz [ Φ ], pode-se obter expressões para a matriz de rigidez e<br />

de flexibilidade da estrutura em função dos parâmetros modais, conforme o exposto a<br />

seguir:<br />

O problema de auto-valor em termos de rigidez, para vibração livre, pode ser<br />

escrito como:<br />

[ ][ Φ] = [ M ][ Φ][ Ω]<br />

K (3)<br />

onde[ Ω ] é a matriz diagonal de autos-valores ω 2 . Pré-multiplicando-se a<br />

Equação (3) pela inversa da matriz de rigidez, que é a matriz de flexibilidade, ou<br />

K −1<br />

= f , e pós-multiplicando-a pela inversa da matriz de autos-valores, ou<br />

seja,[ ] [ ]<br />

seja, [ Ω ] −1<br />

, tem-se:<br />

−1<br />

[ Φ][ Ω] = [ f ][ M ][ Φ]<br />

(4)<br />

A Equação (4) representa o problema de auto-valor em termos da flexibilidade.<br />

Os autos vetores das Equações (3) e (4) são os mesmos, mas os respectivos autos<br />

valores são recíprocos (Berman e Flannelly, 1971). O modo dominante da Equação<br />

(3) é aquele com a maior freqüência e o modo dominante da Equação (4) é aquele<br />

com a menor freqüência.<br />

A Equação (2) pode ser escrita da seguinte forma:<br />

[ Φ] [ M ] = [ Φ] −1<br />

T (5)<br />

ou:<br />

[ ][ Φ] = [ Φ]<br />

T −1<br />

M (6)<br />

As Equações (5) e (6) podem ser escritas tendo-se em vista que a matriz de<br />

formas modais para um sistema com N graus de liberdade consiste de N vetores<br />

modais independentes, e por tanto, é uma matriz não singular e pode ser invertida.<br />

Agora, pós-multiplicando a Equação (3) por [ Φ ] −1<br />

e utilizando a propriedade<br />

dada pela Equação (5), tem-se:<br />

T<br />

[ K] [ M ][ Φ][ Ω][ Φ] [ M ]<br />

= (7)<br />

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32<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

A Equação (7) é a expansão da matriz de rigidez em termos de seus autosvetores<br />

e autos- valores. Substituindo a Equação (6) na Equação (4) e pós-<br />

T<br />

Φ , tem-se:<br />

multiplicando-a por [ ]<br />

−1<br />

[ f ] = [ Φ][ Ω] [ Φ] T<br />

(8)<br />

A Equação (8) representa a expansão da matriz de flexibilidade em função de<br />

seus autos- valores e autos-vetores. Os resultados dados pelas Equações (7) e (8)<br />

podem ser escritos como somatórios das contribuições modais , ou seja (Berman e<br />

Flannelly, 1971) :<br />

N<br />

[ f ] = {}{} φ φ<br />

∑<br />

i=<br />

1<br />

1<br />

ω<br />

2<br />

i<br />

i<br />

T<br />

i<br />

(9)<br />

e<br />

⎛<br />

= ∑<br />

⎝<br />

N<br />

ω<br />

i i i<br />

(10)<br />

i=1<br />

2 T<br />

[ K] [ M ] ⋅⎜<br />

{}{} φ φ ⎟ ⋅[ M ]<br />

sendo que nas Equações (9) e (10), [ f ] é a matriz de flexibilidade do sistema<br />

e[ K ] é a matriz de rigidez do sistema (calculadas dinamicamente).[ M ] é a matriz de<br />

massa do sistema,{ φ } i<br />

é um vetor que contem a i-ésima forma modal normalizada<br />

com relação à massa, ω<br />

i<br />

é i-ésima freqüência modal e N é o número de graus de<br />

liberdade do sistema.<br />

Da Equação (10) pode-se notar que, a contribuição modal à matriz de rigidez<br />

aumenta à medida que aumenta a freqüência. Para se obter uma estimativa acurada<br />

da rigidez, todos os modos de vibração da estrutura devem ser medidos, ou no<br />

mínimo, os modos de freqüências altas. Isto representa uma restrição severa, do<br />

ponto de vista prático, para os métodos que utilizam a diferença entre matrizes de<br />

rigidez para detectar dano. Na prática, em estruturas complexas, só uns poucos<br />

modos de baixa freqüência podem ser medidos. Por outro lado, a Equação (9) mostra<br />

que a contribuição modal à matriz de flexibilidade diminui à medida que a freqüência<br />

aumenta, ou seja, que a matriz de flexibilidade converge rapidamente para valores<br />

crescentes de freqüência. Por tanto, a partir de poucos modos de baixa freqüência,<br />

pode ser feita uma boa estimativa da matriz de flexibilidade. Esta característica da<br />

matriz de flexibilidade e utilizada por Pandey e Biswas (1994, 1995) para localizar e<br />

quantificar dano em vigas. O raciocínio usado por eles pode ser resumido da seguinte<br />

forma: como a presença de uma fissura ou dano localizado dentro de uma estrutura,<br />

reduz sua rigidez e como a flexibilidade e a inversa da rigidez, uma redução de rigidez<br />

deve incrementar a flexibilidade do conjunto, tem-se, pois, a indicação da presença de<br />

dano.<br />

Para se detectar o dano numa estrutura com base no método da variação da<br />

flexibilidade medida dinamicamente, deve ser primeiramente calculados (experimental<br />

ou numericamente) os parâmetros modais do sistema. Usando-se a Equação (9),<br />

estima-se a matriz de flexibilidade para dois estados diferentes da estrutura, o<br />

f ou sem dano e o segundo como o<br />

primeiro e considerado como o estado intacto [ ]<br />

D<br />

estado danificado [ f ]<br />

⎞<br />

⎠<br />

. Com as matrizes de flexibilidade anteriores, calcula-se a<br />

matriz de variação de flexibilidade [ ∆ ] (Pandey e Biswas 1994):<br />

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Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />

33<br />

D<br />

[ ] = [ f ] − [ f ]<br />

∆ (11)<br />

Para cada grau de liberdade j, define-se η<br />

j<br />

como o valor máximo absoluto<br />

dos elementos na coluna correspondente de [ ∆ ](Pandey e Biswas 1994):<br />

onde<br />

η<br />

η<br />

ij<br />

são elementos de [ ∆ ].<br />

j<br />

= maxηij<br />

i<br />

(12)<br />

Para detectar e localizar o dano pode ser feito um gráfico que apresente a<br />

variação de flexibilidade para cada ponto de medição (ou nó). O dano ficara localizado<br />

nos pontos onde a variação de flexibilidade apresente uma variação brusca, um valor<br />

máximo de variação, ou um valor máximo local, dependendo das condições de<br />

contorno.<br />

3 MÉTODO DA VARIAÇÃO DE CURVATURA DA FLEXIBILIDADE<br />

Este método pode ser resumido da seguinte forma: partindo-se do fato que,<br />

para uma estrutura sadia, o gráfico da curvatura possui uma forma suave, e que,<br />

portanto, um pico ou descontinuidade no gráfico indica uma variação anormal de<br />

flexibilidade/rigidez na posição onde esta a descontinuidade, o dano pode ser<br />

localizado utilizando esta informação[6]. A vantagem prática deste método reside no<br />

fato de que seu cálculo não depende da comparação entre dois estados diferentes da<br />

estrutura (não precisa de dados de referencia). A curvatura da flexibilidade pode ser<br />

calculada empregando-se o método da diferença central, como segue (Lu, Ren e<br />

Zhao 2002):<br />

F<br />

C<br />

i<br />

=<br />

( f − f + f )<br />

( i−<br />

, i−1) i,<br />

i ( i+<br />

1, i+<br />

1)<br />

1<br />

2<br />

∆h<br />

2<br />

i = 2,...,<br />

n −1<br />

Onde:<br />

C<br />

F<br />

i<br />

= i-ésimo elemento do vetor de curvatura da flexibilidade.<br />

f<br />

i , i<br />

= i-ésimo elemento diagonal da matriz de flexibilidade danificada (vide<br />

Equação (9)).<br />

∆h = Comprimento do elemento ou distancia entre pontos de medição.<br />

n = Número de graus de liberdade.<br />

(13)<br />

4 IMPLEMENTAÇÃO DAS SIMULAÇÕES<br />

O Método de Elementos Finitos (MEF) foi usado para realizar as simulações<br />

numéricas do estudo. O elemento finito dinâmico de viga utilizado (modelo de Euler –<br />

Bernoulli) tem dois graus de liberdade por nó (rotação e deslocamento vertical), com<br />

sua massa concentrada nos nós.<br />

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34<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

Os parâmetros modais (formas modais e freqüências naturais) foram<br />

calculados a partir do problema do auto-valor generalizado para vibração livre não<br />

amortecida, ou seja:<br />

2<br />

[ K]{} q ω [ M ]{ q}<br />

= (14)<br />

onde:<br />

[ K ]= Matriz de rigidez global da estrutura.<br />

[ M ]= Matriz de massa global da estrutura.<br />

{}= q Auto-vetor ou forma modal do sistema.<br />

ω = Freqüência natural do sistema.<br />

A solução da Equação (14) foi feita com o emprego do método de Jacobi<br />

generalizado, segundo algoritmo proposto por Bathe (1996). Como a estrutura<br />

analisada neste trabalho (viga), foi modelada com elementos finitos unidimensionais<br />

(elemento de Euler –Bernoulli) e o dano na viga modelado como uma redução do<br />

modulo de elasticidade para um elemento específico (e não como um defeito<br />

geométrico, fissura), os resultados obtidos nas simulações são indicadores de dano,<br />

sendo o dano entendido (e simulado), como uma variação nas propriedades<br />

constitutivas do modelo de elementos finitos da estrutura, conforme indicado em<br />

vários trabalhos da literatura especializada (Ren et.al. 2003, Lu et. al. 2002, Pandey e<br />

biswas 1994 e 1995, Hjelmstad e Shen 1996, Fox 1992, Cawley e Adams 1979).<br />

Utilizando-se o método de redução das equações de freqüência proposto por Kidder<br />

(1973) foram calculados os deslocamentos verticais dos nós a partir da Equação (14).<br />

Estes deslocamentos correspondem aos deslocamentos medidos durante um ensaio<br />

real.<br />

5 SIMULAÇÕES NUMÉRICAS<br />

Nos exemplos apresentados a seguir estuda-se o comportamento dos<br />

métodos de detecção de dano em vigas baseados nas variações da flexibilidade. Para<br />

a viga proposta como exemplo, é realizado um estudo sobre o comportamento dos<br />

métodos na detecção de danos segundo suas características, ou seja: dano individual<br />

(um elemento afetado por perda de rigidez), dano múltiplo (elementos afetados por<br />

perda de rigidez em forma simultânea), influencia do nível de dano introduzido no<br />

desempenho do método (redução do módulo de elasticidade E), e, por último, o efeito<br />

do número de modos na localização do dano.<br />

A viga do exemplo em questão, conforme ilustrado na figura 1, foi dividida em<br />

32 elementos finitos iguais.<br />

1 4 8 12 16 20 24 28 32<br />

Figura 1 - Viga simplesmente apoiada (VS) para os exemplos numéricos.<br />

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Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />

<strong>35</strong><br />

As propriedades da viga da Figura 1 são apresentadas na Tabela 1:<br />

Tabela 1 – Propriedades da Viga<br />

Propriedade<br />

Valor<br />

Área 0.00304 m 2<br />

Inércia 4.29E-5 m 4<br />

Densidade ρ 7837.1 Kg/m 3<br />

Módulo de elasticidade E 199.95E9 N/m 2<br />

Coeficiente de Poisson υ 0.3<br />

Comprimento L<br />

2.44 m<br />

Em cada simulação foram calculadas as formas modais correspondentes aos<br />

deslocamentos verticais { q<br />

V<br />

} (deslocamentos medidos durante um ensaio real) e as<br />

freqüências modais do sistema, segundo o método de Kidder (1973).<br />

5.1 Viga simplesmente apoiada: dano individual<br />

Os danos introduzidos na viga compreendem perdas de rigidez entre 10% e<br />

90%. A perda de rigidez foi inserida nos elementos 4, 8, 12, 16, 20 e 28 da viga (vide<br />

Figura1), de forma individual, ou seja, foi danificado um elemento de cada vez. O<br />

resumo dos cenários de dano é apresentado na Tabela 2. Para os exemplos de viga<br />

simplesmente apoiada (VS) da Tabela 2, os resultados são apresentados nas Figuras<br />

2, 3, 4, 5, 6 e 7 e nas Tabelas 3 e 4.<br />

Tabela 2 – Exemplos Numéricos Dano Individual. Viga Simplesmente Apoiada (VS)<br />

Exemplo Elemento Modos usados Redução de E Resultado<br />

Método<br />

de Dano Danificado na detecção (%)<br />

Figura N o<br />

VS1 4, 8, 12, 16, 3 prim. 50 2<br />

VS2 20 1 o , 7 o – 1 o , o ,7 o 50 3<br />

VS3 20 3 prim. 90,70,50,30,10 4<br />

VS4 4,16,20,28 5 prim. 50 5<br />

VS5 20 1 o a 5 o 50 6<br />

VS6 20 3 prim. 90,50,30,10 7<br />

Variação da<br />

Flexibilidade<br />

Curvatura<br />

da<br />

Flexibilidade<br />

Tabela 3 – Freqüências Naturais Redução de 50% em E<br />

Exemplos VS1, VS4.<br />

Freqüências naturais (Hz).<br />

Modo Sem Dano D4 D8 D12 D16 D20 D28<br />

1 158,312 157,749 156,117 154,410 153,596 154,095 157,410<br />

2 633,249 625,346 614,910 622,274 633,005 625,786 621,681<br />

3 1424,804 1393,281 1399,372 1422,049 1385,362 1413,619 1385,883<br />

4 2532,955 2464,145 2529,327 2465,411 2529,260 2466,479 2467,541<br />

5 3957,642 3857,014 3926,018 3919,255 3858,139 3952,879 3892,908<br />

Das Tabelas 3 e 4, verifica-se com clareza que a presença de dano na<br />

estrutura modifica as freqüências naturais, mas, não fornece informação suficiente<br />

para localizá-lo. Para dano introduzido no elemento 4 e no elemento 28 (próximos dos<br />

extremos da viga), as maiores variações percentuais nas freqüências naturais (Tabela<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>


36<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

4), apresentam-se nos modos três e quatro, indicando-se que o dano deve estar<br />

próximo dos locais de momento máximo para estes modos. Nesta situação, existem<br />

duas regiões que poderiam estar danificadas. Mesmo utilizando-se a informação<br />

qualitativa sobre as forma modais, a posição do dano fica indeterminada.<br />

Tabela 4 – Variação das Freqüências Naturais. Redução de 50% em E. Viga em Balanço<br />

Exemplos VS1, VS4.<br />

Variação de Freqüências (%).<br />

Modo D4 D8 D12 D16 D20 D28<br />

1 0,36 1,39 2,46 2,98 2,66 0,57<br />

2 1,25 2,90 1,73 0,04 1,18 1,83<br />

3 2,21 1,78 0,19 2,77 0,79 2,73<br />

4 2,72 0,14 2,67 0,15 2,62 2,58<br />

5 2,54 0,80 0,97 2,51 0,12 1,64<br />

Aplicando-se o método de variação da flexibilidade descrito anteriormente,<br />

obtiveram-se, para os exemplos VS1, VS2 e VS3, (vide Tabela 2), as seguintes<br />

curvas de detecção de dano, figuras 2, 3, 4 respectivamente:<br />

3,50E-09<br />

3,00E-09<br />

2,50E-09<br />

m/N<br />

2,00E-09<br />

1,50E-09<br />

1,00E-09<br />

5,00E-10<br />

0,00E+00<br />

1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />

Nó<br />

D4 D8 D12 D16<br />

Figura 2 – Variação da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada para os elementos 4,<br />

8,12,16danificados, um de cada vez. Redução de 50% em E. Três primeiros modos usados.<br />

Exemplo VS1.<br />

Para a viga simplesmente apoiada ilustrada na figura 2, a região (elemento)<br />

que apresenta a maior variação de flexibilidade indica a região danificada. O<br />

comportamento da variação é linear, tomando valores nulos nos extremos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>


Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />

37<br />

3,00E-09<br />

2,50E-09<br />

2,00E-09<br />

m/N<br />

1,50E-09<br />

1,00E-09<br />

5,00E-10<br />

0,00E+00<br />

1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />

Nó<br />

7MODOS<br />

1MODO<br />

Figura 3 – Variação de Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada em função do número de<br />

modos usados. Elemento 20 danificado. 50% de redução em E. Exemplo VS2.<br />

Um exame do resultado apresentado na figura 3 deixa evidente que uma boa<br />

estimativa da variação de flexibilidade pode ser obtida usando-se apenas o primeiro<br />

modo. A posição do dano também é determinada com só a consideração do primeiro<br />

modo.<br />

3,00E-08<br />

2,50E-08<br />

2,00E-08<br />

m/N<br />

1,50E-08<br />

1,00E-08<br />

5,00E-09<br />

0,00E+00<br />

1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />

D20 90% D20 Nó70% D20 50%<br />

D20 30% D20 10% D20 5%<br />

Figura 4 – Variação da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada em função do aumento de<br />

dano. Elemento 20 danificado. Três primeiros modos usados. Exemplo VS3.<br />

Um exame dos resultados lançados na figura 4 indica que o método localiza<br />

com sucesso o dano quando a redução de rigidez é da ordem de 10%, e mais uma<br />

vez uma quantificação do dano pode ser feita a partir desta informação. Quanto maior<br />

a variação da flexibilidade maior a severidade do dano.<br />

Aplicando-se o método da variação da curvatura da flexibilidade aos exemplos<br />

VS4, VS5 eVS6 (vide tabela 2), tem-se as seguintes curvas, figuras 5, 6 e 7:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>


38<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

1/m.N<br />

2,00E-07<br />

1,50E-07<br />

1,00E-07<br />

5,00E-08<br />

0,00E+00<br />

-5,00E-08<br />

-1,00E-07<br />

-1,50E-07<br />

-2,00E-07<br />

1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />

Nó<br />

D4 50% D16 50% D20 50%<br />

D28 50%<br />

Sem dano<br />

Figura 5 – Curvatura da flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada. Elementos 4, 16, 20 e 28<br />

danificados, um de cada vez. Redução de 50% em E. Cinco primeiros modos usados. Exemplo<br />

VS4.<br />

A figura 5 mostra que, para as condições de contorno de este exemplo, o<br />

método da curvatura da flexibilidade consegue identificar a posição dos elementos<br />

danificados, mostrando, neste caso, igual desempenho que o método da variação da<br />

flexibilidade.<br />

1/m.N<br />

2,00E-07<br />

1,50E-07<br />

1,00E-07<br />

5,00E-08<br />

0,00E+00<br />

-5,00E-08<br />

-1,00E-07<br />

-1,50E-07<br />

-2,00E-07<br />

1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />

Nó<br />

D20 50% 1 modo<br />

D20 50% 2 modos<br />

D20 50% 3 modos<br />

D20 50% 4 modos<br />

D20 50% 5 modos<br />

Figura 6 – Curvatura da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada em função do número de<br />

modos usados. Elemento 20 Danificado. Redução de 50% em E. Exemplo VS5.<br />

Da figura 6, conclui-se que a posição do dano pode-se obter usando-se só os<br />

dois primeiros modos de vibração. A posição do dano é indicada pela forte<br />

descontinuidade na curva, verificada no elemento 20.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>


Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />

39<br />

4,00E-07<br />

2,00E-07<br />

0,00E+00<br />

1/m.N<br />

-2,00E-07<br />

-4,00E-07<br />

-6,00E-07<br />

-8,00E-07<br />

1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />

Nó<br />

D20 90% D20 50% D20 30%<br />

D20 10% Sem Dano<br />

Figura 7 – Curvatura da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada em função do aumento de<br />

dano. Elemento 20 danificado. Exemplo VS6.<br />

A figura 7 mostra que o método da variação da curvatura da flexibilidade é<br />

sensível a danos de ate 30% de redução no módulo de elasticidade.<br />

5.2 Dano múltiplo: viga simplesmente apoiada<br />

Os danos introduzidos na viga, neste caso, compreendem perdas de rigidez<br />

entre 5% e 30%. A perda de rigidez foi inserida nos elementos 14, 16 e 18 e nos<br />

elementos 14 e 18 da viga (vide Figura1), de forma simultânea. O resumo dos<br />

cenários de dano é apresentado na Tabela 5. Os resultados da análise<br />

correspondentes aos exemplos da Tabela 5, utilizando-se o método de variação da<br />

flexibilidade, são apresentados nas Figuras 8 e 9.<br />

Tabela 5 – Exemplos Numéricos Dano Múltiplo. Viga Simplesmente Apoiada (Vs).<br />

Exemplo de Elemento Modos Redução Resultado<br />

Método<br />

Dano Danificado Usados de E (%) Figura N o<br />

Vs1 14,16,18 3 prim. 5,5,5<br />

Variação da<br />

Vs2 14,16,18 3 prim. 10,5,10 8<br />

Flexibilidade e<br />

Vs3 14,16,18 3 prim. 30,30,30<br />

Curvatura da<br />

Vs4 14 e 18 3 prim. 10 e 10<br />

9 Flexibilidade<br />

Vs5 14 e 18 3 prim. 30 e 30<br />

Vs1 14,16,18 3 prim. 5,5,5<br />

Vs2 14,16,18 3 prim. 10,5,10<br />

Vs3 14,16,18 3 prim. 30,30,30<br />

Vs4 14 e 18 3 prim. 10 e 10<br />

Vs5 14 e 18 3 prim. 30 e 30<br />

10<br />

11<br />

Variação da<br />

Curvatura da<br />

Flexibilidade<br />

O método da variação da flexibilidade não consegue distinguir, em nenhum<br />

dos três cenários de dano aqui estudados, quais os elementos individuais danificados,<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>


40<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

sem importar a magnitude do dano introduzido (Figura 8). O método indica uma região<br />

danificada localizada em torno do elemento 17. Já na Figura 9 é possível identificar os<br />

dois elementos danificados (elementos 14 e 18).<br />

4,00E-09<br />

3,50E-09<br />

3,00E-09<br />

2,50E-09<br />

m/N<br />

2,00E-09<br />

1,50E-09<br />

1,00E-09<br />

5,00E-10<br />

0,00E+00<br />

1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />

Nó<br />

D14,D16, D18 (5%)<br />

D14,D16,D18 (10%, 5%, 10%)<br />

D14,D16,D18 (30% ,30%, 30%)<br />

Figura 8 – Variação da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada. Elementos 14, 16 e 18<br />

danificados simultaneamente.Três primeiros modos usados. Exemplos Vs1, Vs2 e Vs3.<br />

2,50E-09<br />

2,00E-09<br />

m/N<br />

1,50E-09<br />

1,00E-09<br />

5,00E-10<br />

0,00E+00<br />

1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />

No<br />

D14,D18 (30%, 30%) D14, D18 (10%, 10%)<br />

Figura 9 – Variação da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada. Elementos 14 e 18<br />

danificados simultaneamente. Três primeiros modos usados. Exemplo Vs4 e Vs5.<br />

Os resultados fornecidos pelo método da variação da curvatura da flexibilidade<br />

para os exemplos da Tabela 5 são apresentados nas Figuras 10 e 11. Para o caso de<br />

três elementos muito próximos danificados simultaneamente (elementos 14, 16 e 18),<br />

a detecção indicada pelo método é ambígua, fornecendo indícios sobre uma região<br />

danificada entre os elementos 14 e 18 (Figura 10). Com um refinamento da malha de<br />

elementos finitos seria possível identificar também como danificado o elemento 16.<br />

Para dois elementos danificados ao mesmo tempo, próximo um de outro (elementos<br />

14 e 18), o método consegue identificar os dois locais danificados para uma redução<br />

de 10% na rigidez dos elementos (Figura 11).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>


Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />

41<br />

2,00E-07<br />

1,50E-07<br />

1,00E-07<br />

1/m.N<br />

5,00E-08<br />

0,00E+00<br />

-5,00E-08<br />

-1,00E-07<br />

-1,50E-07<br />

1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />

Nó<br />

D14,D16, D18 (5%) D14,D16,D18 (10% 5% 10%)<br />

D14,D16,D18 (30% 30% 30%)<br />

Figura 10 – Curvatura da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada. Elementos 4, 16 e 18<br />

danificados simultaneamente. Exemplos Vs1, Vs2 e Vs3.<br />

2,00E-07<br />

1,50E-07<br />

1,00E-07<br />

1/m.N<br />

5,00E-08<br />

0,00E+00<br />

-5,00E-08<br />

-1,00E-07<br />

-1,50E-07<br />

1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />

Nó<br />

D14,D18 (30% 30%) D14,D18 (10% 10%)<br />

Figura 11 – Curvatura da Flexibilidade Viga Simplesmente Apoiada. Elementos 14 e 18<br />

danificados simultaneamente. Três primeiros modos usados. Exemplo Vs4 e Vs5.<br />

6 DISCUSSÃO DE RESULTADOS E COMENTÁRIOS<br />

No trabalho de Pandey e Biswas (1994), a variação da flexibilidade máxima<br />

reportada, por exemplo, para a viga simplesmente apoiada, com elemento 16<br />

danificado (redução de 50% em E) é de 9E-6 (in/lb), enquanto que no presente<br />

estudo, o valor obtido para a variação da flexibilidade para a mesma condição é de<br />

5.583E-7 (in/lb). Este último valor foi obtido a partir de três análises diferentes. A<br />

primeira, utilizando-se o programa desenvolvido neste trabalho para detecção de<br />

danos em vigas, e a segunda, com uma simulação empregando-se os programas<br />

ANSYS e MATHCAD; e uma terceira, com um cálculo simples (método da carga<br />

unitária), cujas descrições são apresentadas a seguir.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>


42<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

Utilizando o primeiro teorema de Castigliano, calcula-se o deslocamento do<br />

meio do vão para a viga sem dano e o mesmo deslocamento para a viga danificada<br />

(dano no elemento 16, 50% redução da rigidez). Com estes dados, utilizando-se a<br />

Equação (15), determina-se a variação da flexibilidade, ∆, para o centro da viga, ou<br />

seja:<br />

∆ = δ<br />

D<br />

− δ<br />

(15)<br />

onde δD e δ são o deslocamento no meio do vão da viga danificada e do<br />

centro da viga sadia, respectivamente. Os deslocamentos anteriores podem ser<br />

calculados de acordo com a equação clássica, ou seja:<br />

∂W<br />

δ =<br />

(16)<br />

∂P<br />

onde W é a energia de deformação para a viga. Neste caso, para a viga<br />

simplesmente apoiada sendo que P é um carregamento unitário, aplicado no lugar<br />

onde se quer determinar δ, ou seja, no nó 16. Para a viga da Figura 1, com as<br />

propriedades dadas na Tabela 1, tem-se:<br />

W<br />

D<br />

2 1.22<br />

2 2.44<br />

( Px) ( 1.14375P<br />

− 0.46675Px) ( 1.14375P<br />

− 0.46875Px)<br />

dx + ∫<br />

dx +<br />

1.14375<br />

= 1 ⎡ 0.53125<br />

⎢<br />

2<br />

∫<br />

∫<br />

⎣ EI<br />

EI<br />

0<br />

1.14375<br />

D<br />

1.22<br />

EI<br />

2<br />

⎤<br />

dx⎥<br />

⎦<br />

(17)<br />

W<br />

2<br />

( 0.53125Px) ( 1.14375P<br />

− 0.46875Px)<br />

⎡1.14375<br />

1<br />

= ⎢ ∫<br />

dx +<br />

2<br />

∫<br />

⎢⎣<br />

EI<br />

0<br />

EI<br />

2<br />

⎤<br />

dx⎥<br />

⎥⎦<br />

(18)<br />

onde WD e W são a energia de deformação para a viga danificada e para a<br />

viga sem dano.<br />

Utilizando-se a Equação (16) os deslocamentos resultam:<br />

δ<br />

D<br />

= 7.3096E<br />

− 8( m / N)<br />

e<br />

δ = 6.9908E<br />

− 8( m / N)<br />

A variação de flexibilidade, usando-se a Equação (15) é ∆ = 3.188E-9(m/N) ou<br />

em unidades do sistema inglês 5.583E-7(in/lb), que é o valor reportado na Figura 12b.<br />

Uma comparação entre o resultado reportado no artigo de Pandey e Biswas (1994) e<br />

o obtido neste estudo pode observar-se na Figura 12:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>


Detecção de dano a partir da resposta dinâmica da estrutura: estudo analítico com...<br />

43<br />

6,00E-07<br />

Var. Flex. (in/lb)<br />

5,00E-07<br />

4,00E-07<br />

3,00E-07<br />

2,00E-07<br />

1,00E-07<br />

(a)<br />

(b)<br />

0,00E+00<br />

1 5 9 13 17 21 25 29 33<br />

Nó<br />

Elem 4 Elem 8 Elem12 Elem 16<br />

Figura 12 – Comparação de resultados para a viga simplesmente apoiada: (a) resultado<br />

reportado por Pandey e Biswas (1994) e (b) resultado obtido com o presente trabalho.<br />

Como pode observar-se da Figura. 12, o comportamento das curvas é igual, e<br />

a detecção do dano é realizada com sucesso. Uma comparação entre freqüências<br />

para a viga simplesmente apoiada calculadas neste trabalho e as fornecidas no artigo<br />

de Pandey e Biswas(1994), apresenta-se na Tabela 6. Um exame dos resultados<br />

lançados na Tabela 6 deixa claro que as freqüências calculadas no presente estudo<br />

estão em completo acordo com as reportadas naquele artigo, estabelecendo-se,<br />

assim, a validade deste trabalho.<br />

Tabela 6 – Lista das Freqüências Naturais Viga Simplesmente Apoiada. Elemento 16<br />

danificado, 50% redução em E<br />

Freqüências viga D16,<br />

Freqüências viga sem dano (Hz)<br />

Freq.<br />

Teórica<br />

Freq. Artigo<br />

P. e B.<br />

(1994)<br />

Presente<br />

Trabalho<br />

Freq. Artigo<br />

P. e B.<br />

(1994)<br />

(Hz)<br />

Presente<br />

Trabalho<br />

%Diferença entre<br />

Freqüências<br />

Artigo./Trab.<br />

(Sem dano)<br />

Art./Trab.<br />

D16<br />

158,312 158,408 158,312 153,689 153,596 0,061 0,061<br />

633,250 633,632 633,249 633,388 633,005 0,060 0,061<br />

1424,812 1425,665 1424,804 1386,199 1385,362 0,060 0,060<br />

2532,999 2534,486 2532,955 2530,797 2529,26 0,060 0,061<br />

3957,.811 3960,033 3957,642 3860,47 3858,139 0,060 0,060<br />

5699,248 5702,174 5698,731 5684,753 5681,32 0,060 0,060<br />

7757,310 7760,654 7755,968 7587,754 7583,172 0,060 0,060<br />

7 CONCLUSÕES<br />

Neste trabalho, as qualidades de dois métodos de detecção de dano baseados<br />

na medição dinâmica da flexibilidade foram comprovadas através de diferentes<br />

simulações de dano em vigas. O método proposto por Pandey e Biswas (1994) teve o<br />

igual desempenho que o método proposto por Lu, Ren e Zhao (2002) quanto à<br />

determinação da posição do dano individual nos casos estudados. Na detecção de<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>


44<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

dano múltiplo, o método da variação da curvatura da flexibilidade mostrou melhor<br />

desempenho que o método da variação da flexibilidade. O anterior indica que uma<br />

combinação dos dois métodos é recomendável para casos práticos, onde não se<br />

conhece de antemão a posição do dano, nem o número de locais danificados.<br />

As técnicas baseadas nas variações das formas modais (e das freqüências<br />

naturais) estudadas neste trabalho precisam de malhas de sensores refinadas (muitos<br />

pontos de medição), e, felizmente, esta dificuldade esta sendo superada com o<br />

aparecimento de transdutores de baixo custo e maior precisão adaptados para este<br />

tipo de problema. Por outro lado, elas oferecem a vantagem de não depender de um<br />

modelo analítico para realizar a detecção do dano.<br />

8 AGRADECIMENTOS<br />

Agradecemos à CAPES pelo apoio financeiro, sem o qual esta pesquisa não<br />

poderia ter sido realizada.<br />

9 REFERÊNCIAS<br />

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Proceedings… Feb., 2003, Kissimmee, Florida, USA.<br />

TEUGHELS, A.; MAECK, J.; DE ROECK, G., (2002). Damage assessment by FE<br />

model updating using damage functions. Computers and structures, n.80, p.1869-<br />

1879.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 29-45, <strong>2006</strong>


ISSN 1809-5860<br />

AVALIAÇÃO DINÂMICA EXPERIMENTAL E<br />

NUMÉRICA DAS LIGAÇÕES DE BASE DE<br />

ESTRUTURAS DE CONCRETO PRÉ-MOLDADO<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega 1 & João Bento de Hanai 2<br />

Resumo<br />

Neste trabalho realiza-se um estudo do comportamento das ligações de base de<br />

estruturas pré-moldadas de concreto, por meio de ensaios experimentais e<br />

computacionais, sejam estáticos ou dinâmicos. Diferentes modelos físicos foram<br />

construídos, cada um possuindo uma particularidade estrutural (íntegro, com dano<br />

localizado, com dano generalizado e com vínculo pilar-viga semi-rígido). Investigou-se<br />

a condição real de vínculo e sua influência na alteração dos parâmetros modais<br />

(freqüências naturais, modos de vibração e fatores de amortecimento). Destaca-se a<br />

metodologia experimental dinâmica que avalia a rigidez da ligação pilar-fundação<br />

diretamente pelos sinais medidos, não apenas pela calibração do modelo numérico. As<br />

avaliações computacionais apresentadas neste trabalho empregam modelos de<br />

elementos finitos fundamentados na Teoria da Elasticidade e na Mecânica do Dano<br />

Contínuo, e os seus resultados são confrontados com os experimentais e com os obtidos<br />

por modelos analíticos. Demonstra-se uma boa correlação entre os diversos resultados,<br />

comprovando-se a viabilidade da utilização dos testes de vibração, não-destrutivos e<br />

precisos, para a determinação da rigidez das ligações, estimativa do dano provocado<br />

pela fissuração e alteração de condições estruturais diversas.<br />

Palavras-chave: dinâmica; concreto; pré-moldados; ligações semi-rígidas; análise<br />

modal.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Do ponto de vista do comportamento estrutural, a presença das ligações é o<br />

que diferencia basicamente uma estrutura de concreto pré-moldado de uma estrutura<br />

monolítica moldada no local. As ligações podem ser consideradas como regiões de<br />

descontinuidade na estrutura pré-moldada onde ocorrem concentrações de tensões,<br />

as quais podem, ou não, provocar deslocamentos e mobilizar e redistribuir esforços<br />

entre os elementos por elas conectados, com influência no comportamento de toda a<br />

estrutura.<br />

Por outro lado, é usual, na prática corrente de projeto de estruturas de<br />

concreto pré-moldado, considerar as ligações como articulações ou engastes. Na<br />

verdade, por elas serem executadas entre elementos pré-moldados, o seu<br />

comportamento real é semi-rígido (semi-flexível). A consideração das ligações com<br />

esse efeito recebe, na literatura, a denominação de ligações semi-rígidas, e seus<br />

1 Professor Adjunto do Departamento de Arquitetura da UFRN, e-mail nobrega@ufrnet.br<br />

2 Professor Titular do Departamento de Enga. de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, e-mail jbhanai@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


48<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />

efeitos influenciam: a redistribuição dos esforços ao longo dos elementos, os<br />

deslocamentos laterais da estrutura devido a ações horizontais, a estabilidade global<br />

do sistema, e os deslocamentos verticais das vigas. Levando-se em conta o efeito<br />

desta semi-rigidez, pode-se obter significante economia relacionada à redução da<br />

mão-de-obra e de material necessários, em comparação com as ligações rígidas, ou<br />

pode-se incorrer na redução do tamanho dos pilares, frente às ligações articuladas.<br />

A deformabilidade de uma ligação é ilustrada na Figura 1 e a sua forma usual<br />

de representação – o esquema de molas –, encontra-se na Figura 2.<br />

Deformabilidade<br />

ao momento fletor<br />

M<br />

M<br />

M<br />

φ<br />

Ligação<br />

indeformável<br />

Ligação<br />

deformável<br />

Deformabilidade<br />

à força normal<br />

N N N<br />

Figura 1a - Deformabilidade de uma ligação (adaptado de EL DEBS; 2000).<br />

δ<br />

K = M/ φ<br />

m<br />

K = N/ δ<br />

n<br />

Momento fletor<br />

Força normal<br />

Figura 1b - Representação usual da deformabilidade (adaptado de EL DEBS; 2000).<br />

A obtenção da flexibilidade (ou sua inversa, a rigidez) das ligações está entre<br />

as principais dificuldades técnicas para se obter um cálculo mais realista das<br />

estruturas pré-moldadas. Basicamente, ela pode ser obtida ou estimada por<br />

procedimentos experimentais e analíticos; mas o que se percebe, pesquisada a<br />

bibliografia disponível, é a existência de poucos modelos padronizados de cálculo de<br />

rigidez, frente ao extenso leque de tipos de ligações disponíveis.<br />

No contexto das ligações de estruturas pré-moldadas, os primeiros estudos<br />

enfocaram os assuntos da execução, da transmissão e da resistência aos esforços.<br />

Posteriormente, as pesquisas se estenderam a temas como ductilidade, rigidez e<br />

durabilidade. Uma retrospectiva sobre o tema é feita por STANTON et al. (1986),<br />

JOHAL et al. (1991), COST1 (1999) e COST1 (2000).<br />

Projetos de pesquisa internacionais recentes preocuparam-se com o estudo<br />

profundo das ligações, no contexto de toda a estrutura, não apenas sobre o elemento<br />

isolado. Cita-se o programa PRESSS (“Precast Seismic Structural Systems”),<br />

financiado pelo PCI (“Precast Concrete Institute”), como exemplo, onde se realizaram<br />

ensaios em pórticos planos e espaciais, com a inclusão até de lajes, em alguns casos,<br />

simulando-se pavimentos de várias alturas.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />

49<br />

Parece importante, todavia, que algumas questões sejam alvo de análise mais<br />

profunda. Dentre elas, destacam-se: a influência da ligação no comportamento<br />

dinâmico (na alteração das freqüências naturais, modos de vibração e amortecimento)<br />

e na resposta vibracional da estrutura (seja em relação aos estados limites últimos ou<br />

de serviço), e o desempenho da ligação semi-rígida frente a um processo crescente de<br />

fissuração (determinada a parcela relacionada à estrutura, e a correspondente à<br />

ligação). Entretanto, os aspectos focados dessas pesquisas continuam a ser a<br />

ductilidade, a fadiga e a resistência. NAKAKI et al. (1999) e PRIESTLEY et al. (1999)<br />

indicam que esses aspectos corresponderam aos objetivos no amplo projeto PRESSS,<br />

ainda que relacionado a edificações em áreas sísmicas (onde há um comportamento<br />

dinâmico por excelência).<br />

2 AVALIAÇÃO DA RIGIDEZ DAS LIGAÇÕES<br />

Embora a quantificação numérica da rigidez de uma ligação seja<br />

imprescindível para o seu estudo e para a análise estrutural, não é possível defini-la<br />

observando apenas o seu valor absoluto. A semi-rigidez de uma ligação deve ser<br />

entendida como um “conceito” e o seu valor deve ser também analisado à luz do<br />

conhecimento do elemento estrutural a ela conectado. Um exemplo simples ilustra<br />

este aspecto.<br />

Considerem-se duas vigas de diferentes seções transversais: VIGA 1 = (10 cm<br />

x 30 cm) e VIGA 2 = (20 cm x 60 cm); de mesmo material ( E = 30.000 MPa), que<br />

vencem o mesmo vão (L = 5 m) e submetidas a ação de uma mesma força ( F = 30<br />

kN, no meio do vão). A Tabela 1 ilustra as respostas em termos do deslocamento<br />

δ ) e momento nos apoios ( apoios<br />

central da viga ( L / 2<br />

M ), quando se considera os<br />

vínculos como articulados, engastados ou semi-rígidos (adotando-se, neste último<br />

caso,<br />

K m = 10.000 kN.m/rad).<br />

Tabela 1 - Influência da ligação semi-rígida em diferentes vigas<br />

TIPO DE VÍNCULO<br />

VIGA 1 (10 × 30) VIGA 2 (20 × 60)<br />

δ L/2 M apoios δ L/2 M apoios<br />

11,6 mm zero 0,7 mm zero<br />

2,9 mm 18,8 kN.m 0,2 mm 18,8 kN.m<br />

4,7 mm 14,8 kN.m 0,6 mm 3,5 kN.m<br />

INFLUÊNCIA DA LIG. SEMI-RÍG. ≅ RÍGIDA ≅ ARTICULADA<br />

Pela análise dos valores apresentados na Tabela 1, observa-se:<br />

A mesma ligação semi-rígida influencia as duas vigas de maneira muito diferente.<br />

Para a VIGA 1, ela comporta-se como um vínculo aproximadamente rígido; para a<br />

VIGA 2, como articulado;<br />

A observação anterior pode ser percebida facilmente comparando-se os valores dos<br />

deslocamentos e dos momentos nas ligações para os três casos simulados;<br />

Destaca-se a necessidade de avaliar e caracterizar a rigidez da ligação de forma<br />

qualitativa. Evidentemente, isto deve ser feito em função da rigidez do elemento<br />

estrutural conectado.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


50<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />

Existem diferentes sistemas, com limites próprios, para a classificação de uma<br />

ligação como articulada, semi-rígida ou rígida. EL DEBS (2000) apresenta um destes<br />

parâmetros, análogo ao constante no EUROCODE 3 (2000) (Tabela 2).<br />

Tabela 2 - Limites para a classificação das ligações (EUROCODE 3; 2000)<br />

REGIÃO<br />

LIMITES<br />

articulada<br />

0, 5EI<br />

K m ≤<br />

L<br />

semi-rígida<br />

0,5 EI 8EI<br />

< Km<br />

< (estrutura contraventada)<br />

L L<br />

0,5 EI 25EI<br />

< Km<br />

< (estrutura não-contraventada)<br />

rígida<br />

EI = rigidez à flexão da barra;<br />

L = vão da barra;<br />

L<br />

L<br />

8EI<br />

K m ≥ (estrutura contraventada)<br />

L<br />

25EI<br />

K m ≥ (estrutura não-contraventada)<br />

L<br />

articulada, e<br />

Outras referências consideram<br />

6EI<br />

L<br />

EI<br />

L<br />

como o limite superior para a ligação<br />

como a referência inferior para a ligação rígida, ou ainda outros<br />

limites (BJORHOVDE et al.; 1990 e NETHERCOT et al.; 1998).<br />

Todavia, o EUROCODE 3 (2000) refere-se especificamente às ligações<br />

metálicas. No caso das estruturas de concreto ainda não se dispõe de normalização<br />

que defina uma classificação própria. O próprio relatório técnico final da Comissão<br />

Européia, COST C1 (2000), formada por pesquisadores de diversos países<br />

encarregada de estudar o comportamento das ligações semi-rígidas durante diversos<br />

anos, não estabeleceu uma classificação unificada. Afirma-se explicitamente: “No<br />

attempt has been made to classify the connections in this work. The decision whether<br />

to attempt a semi-rigid design and promote what is otherwise a pinned jointed to a<br />

semi-rigid one is the responsibility of the frame analyst”.<br />

A bibliografia define um parâmetro γ , chamado fator de rigidez, que relaciona<br />

a rigidez da ligação K m com a rigidez do elemento estrutural a ela conectado, e que<br />

varia entre 0 e 1 (caracterizando uma rótula e um engaste, respectivamente). A<br />

expressão do fator de rigidez é dada por:<br />

3 ⎤<br />

⎢<br />

⎡ EI γ = 1 + ⎥<br />

⎣ Km<br />

L⎦<br />

−1<br />

(1)<br />

Utilizando o parâmetro γ, os limites classificatórios usuais correspondem a:<br />

Tabela 3 - Relação entre limites de<br />

K m<br />

0,5EI<br />

L<br />

EI<br />

L<br />

K m e o parâmetro γ<br />

2EI<br />

L<br />

6EI<br />

L<br />

8EI<br />

L<br />

25EI<br />

L<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />

51<br />

γ 0,14 0,25 0,40 0,67 0,73 0,89<br />

FERREIRA; EL DEBS; ELLIOTT (2002), mais recentemente, propõem um<br />

sistema de classificação das ligações semi-rígidas, dividido em 5 regiões (Figura 2).<br />

Tabela 4 - Limite para a classificação das ligações (FERREIRA; EL DEBS; ELLIOTT; 2002)<br />

REGIÃO<br />

LIMITES<br />

Zona I – ligação articulada 0 ≤ γ < 0, 14<br />

Zona II – ligação semi-rígida<br />

com baixa resistência à flexão<br />

0 ,14 < γ < 0,40<br />

Zona III – ligação semi-rígida<br />

com média resistência à flexão<br />

0 ,40 < γ < 0,67<br />

Zona IV – ligação semi-rígida<br />

com alta resistência à flexão<br />

0 ,67 < γ < 0,89<br />

Zona V – ligação rígida 0,89<br />

< γ ≤1<br />

Rigidez à Flexão da Ligação K φ<br />

Valores Normalizados<br />

1,5<br />

1,4<br />

1,3<br />

1,2<br />

1,1<br />

1,0<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,0<br />

0 .5EI<br />

L<br />

2 EI<br />

L<br />

6 EI<br />

L<br />

25EI<br />

L<br />

EC3<br />

M<br />

M<br />

MS<br />

R<br />

∂<br />

∂<br />

MS<br />

R<br />

⎡<br />

3<br />

−<br />

1.5<br />

γ<br />

⎤<br />

=<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎣ 2 + γ<br />

⎦<br />

M<br />

E<br />

⎡<br />

3<br />

γ<br />

⎤<br />

=<br />

M<br />

⎢<br />

⎥<br />

R ⎣2<br />

+ γ<br />

⎦<br />

⎡<br />

2<br />

−<br />

1.4<br />

γ<br />

⎤<br />

=<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎣ 2 + γ<br />

⎦<br />

φ<br />

E<br />

⎡<br />

3<br />

γ<br />

⎤<br />

=<br />

1<br />

−<br />

θ<br />

⎢<br />

⎥<br />

R ⎣2<br />

+ γ<br />

⎦<br />

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0<br />

Fator de Rigidez γ<br />

EC3<br />

Zona I Zona II Zona III Zona IV Zona V<br />

Figura 2 - Proposta de classificação para ligações semi-rígidas<br />

(FERREIRA; EL DEBS; ELLIOTT; 2002).<br />

Uma segunda discussão, exposta em seqüência, esclarecerá mais este<br />

conceito. Imagine-se uma viga de dimensões intermediárias, entre aquelas discutidas<br />

anteriormente, 15 cm x 45 cm, de material e vão iguais, submetida à ação de mesma<br />

força, e vinculada a ligações de rigidez ao momento fletor variável entre 1 a<br />

10.000.000 kN.m/rad. O fator de rigidez, associado a cada um destes valores, é dado<br />

pela Figura 3.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


52<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />

fator de rigidez γ<br />

1,0<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,0<br />

1 10 100 1000 10000 100000 1000000 10000000<br />

rigidez da ligação Km (kN.m/rad)<br />

Figura 3 - Influência da ligação no fator de rigidez.<br />

Percebe-se que no trecho inicial da curva, 1 <<br />

da ligação tende para o articulado e, no final, 200.000 <<br />

K m < 5.000, o comportamento<br />

K m < 10.000.000, para o<br />

rígido. Há um trecho intermediário onde destaca-se a forte sensibilidade ao parâmetro<br />

γ, devido a mudanças na rigidez da ligação. Esse, efetivamente, pode ser considerado<br />

a zona de comportamento semi-rígido.<br />

A Figura 4 ilustra o deslocamento resultante no meio do vão, δ, pela aplicação<br />

da força. A curva apresentada é coerente com a Figura 3 compreendendo os trechos<br />

de comportamento articulado, semi-rígido e rígido. Verifica-se, assim, a influência da<br />

ligação na resposta estática da viga.<br />

deslocamento δ (cm)<br />

2,3<br />

2,1<br />

1,9<br />

1,7<br />

1,5<br />

1,3<br />

1,1<br />

0,9<br />

0,7<br />

0,5<br />

1 10 100 1000 10000 100000 1000000 10000000<br />

rigidez da ligação Km (kN.m/rad)<br />

Figura 4 - Influência da ligação na flecha da viga – análise estática.<br />

Em relação às propriedades dinâmicas, o efeito também deve ser investigado.<br />

A Figura 5 mostra o resultado para a primeira freqüência da viga, também considerada<br />

a variação da rigidez da ligação. Admite-se, adicionalmente, que a viga possui massa<br />

específica de 2500 kg/m 3 e coeficiente de Poisson igual a 0,2.<br />

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Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />

53<br />

freqüência f1 (Hz)<br />

64,0<br />

58,0<br />

52,0<br />

46,0<br />

40,0<br />

34,0<br />

28,0<br />

1 10 100 1000 10000 100000 1000000 10000000<br />

rigidez da ligação Km (kN.m/rad)<br />

Figura 5 - Influência da ligação na 1 a freqüência natural da viga – análise dinâmica.<br />

Neste gráfico, mais uma vez, destacam-se as diferentes zonas de<br />

comportamento da ligação. As Figuras 3, 4 e 5 transparecem equivalência qualitativa<br />

nos resultados.<br />

3 EXPRESSÃO ANALÍTICA DA LIGAÇÃO ESTUDADA<br />

A ligação escolhida para o presente estudo é do tipo “por meio de chapa de<br />

base”, de tamanho superior à seção transversal do pilar. A chapa de aço da base<br />

solda-se à armadura do pilar e os parafusos ancoram-se no elemento de fundação. O<br />

PCI (1988) e PCI (2001) apresentam a configuração e o detalhamento típicos para<br />

este tipo de ligação (Figura 6).<br />

Figura 6 - Ligação com chapa de base e armadura do pilar soldada.<br />

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54<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />

Esta ligação possui um modelo analítico que calcula a sua rotação em função<br />

do esforço imposto e de suas características geométricas e materiais. PCI (2001),<br />

baseado na formulação originalmente proposta por MARTIN (1980), apresenta as<br />

expressões que descrevem o comportamento desta ligação. FERREIRA (1993) leva<br />

em conta, além dos três mecanismos de deformação descritos por MARTIN (1980), o<br />

efeito do alongamento da armadura tracionada do pilar.<br />

Neste trabalho procede-se a uma readaptação da formulação de PCI (2001),<br />

acrescida do mecanismo idealizado por FERREIRA (1993), sendo esta tarefa descrita<br />

detalhadamente em NÓBREGA (2004). A rotação total da base tem seu esquema<br />

ilustrado na Figura 7 e a formulação de sua flexibilidade é dada pela eq.2.<br />

x1<br />

x2<br />

e<br />

P<br />

x + x 2<br />

1<br />

e<br />

P<br />

φ bp<br />

φ ab<br />

ponto de<br />

rotação<br />

L ab<br />

h<br />

T<br />

h + x 1<br />

h + 2x 1<br />

C<br />

centro de<br />

compressão<br />

φ f<br />

Figura 7 - Configurações indeformada e deformada da ligação.<br />

3<br />

( x1<br />

+ x2<br />

)<br />

L<br />

L<br />

+<br />

ab<br />

rb<br />

2<br />

2<br />

2<br />

I ( h + x ) A E ( h + x ) 0,85 E A<br />

γ b =<br />

+<br />

(2)<br />

3 Ebp<br />

bp 1 ab ab 1<br />

rb rb d<br />

Diversas simulações foram feitas, destacando-se os resultados principais para<br />

a rigidez da ligação K m e do fator de rigidez γ indicados na Tabela 5 e Figura 8.<br />

Segundo as expressões analíticas, a ligação pertence<br />

Tabela 5 - Avaliação da rigidez da ligação pilar-fundação – modelos analíticos<br />

CÁLCULO<br />

K m<br />

(kN.m/rad)<br />

γ ZONA PÓRTICO CARACTERÍSTICAS<br />

1 2.000 0,25 II 1 L rb = 50% do comprimento<br />

2 2.000 0,28 II 2, 3 e 4 de ancoragem<br />

3 3.000 0,33 II 1 Não considerando a<br />

4 3.000 0,36 II 2, 3 e 4 rotação devido ao<br />

alongamento da armadura<br />

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Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />

55<br />

1,5<br />

1,4<br />

1,3<br />

1,2<br />

1,1<br />

1,0<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,0<br />

0,0 0,1 0,2<br />

Zona I<br />

0,5 EI/L<br />

0,3<br />

Zona II<br />

2 EI/L<br />

6 EI/L 25 EI/L<br />

0,4 0,5 0,6 0,7 0,8<br />

Fator de Rigidez γ<br />

Zona III<br />

Zona IV<br />

0,9 1,0<br />

Zona V<br />

Figura 8 - Avaliação da rigidez da ligação pilar-fundação – modelos analíticos.<br />

4 PROGRAMA EXPERIMENTAL – DESCRIÇÃO DOS MODELOS FÍSICOS<br />

Idealizou-se a confecção de pórticos de concreto armado que possuíssem as<br />

seguintes dimensões básicas:<br />

PERSPECTIVA<br />

VISTA<br />

168<br />

66 18<br />

84<br />

VISTA<br />

150<br />

18 132 18<br />

SEÇÃO TRANSVERSAL<br />

(VIGA E PILARES)<br />

75<br />

8<br />

18<br />

Obs.:<br />

Dimensões em cm<br />

Figura 9 - Dimensões dos modelos de pórticos de concreto armado.<br />

Para se poder avaliar o comportamento da estrutura frente à influência de<br />

diversas condicionantes estruturais, foram construídos quatro diferentes pórticos<br />

(Figura 10).<br />

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56<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />

Pórtico 1 - Íntegro<br />

Pórtico 2 - Dano Localizado<br />

Modelo Básico<br />

Pórtico 3 - Dano Generalizado<br />

Pórtico 4 - Ligações Semi-rígidas<br />

Figura 10 - Esquemático dos modelos de pórtico.<br />

As bases metálicas são de chapa de aço SAE-1020 e nelas bases foram<br />

soldadas (solda do tipo “MIG”) as barras da armadura do pilar (φ 6,3 mm). A Figura 11<br />

ilustra o aspecto final.<br />

100<br />

60 180 60<br />

projeção do pilar<br />

furo<br />

φ = 16<br />

6 barras Ø 6,3 mm<br />

(soldadas na base)<br />

2 barras Ø 5,0 mm<br />

20<br />

<strong>35</strong> 25 180 25 <strong>35</strong><br />

espessura da chapa = 10<br />

dimensões em mm<br />

Figura 11 - Esquemático final da ligação com chapa de base.<br />

5 ENSAIOS ESTÁTICOS<br />

Os quatro pórticos foram ensaiados à flexão, pela aplicação de um<br />

carregamento crescente em um ponto situado no eixo da viga. Os objetivos dos<br />

experimentos consistiam, principalmente, em averiguar a rigidez dos apoios e a rigidez<br />

lateral das estruturas. A instrumentação dos pórticos foi feita através de cinco<br />

transdutores de deslocamento (Figura 12). O ensaio era interrompido quando a<br />

estrutura produzia alguns estalos, indicando que as soldas entre as barras dos pilares<br />

e a chapa metálica de base rompiam-se, e o aumento da força aplicada tornava-se<br />

impossível (os deslocamentos cresciam sem a equivalência da força). A Figura 13<br />

apresenta uma comparação geral entre os deslocamentos dos modelos (considerando<br />

o nó do eixo da viga – transdutor 1).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />

57<br />

Pistão<br />

T-1<br />

T-4<br />

T-2<br />

75<br />

18 39<br />

T-5<br />

T-3<br />

18 36.5<br />

75<br />

Obs.: Dimensões em cm<br />

Figura 12 - Esquemático da instrumentação dos ensaios de flexão.<br />

Força (kN)<br />

30,0<br />

25,0<br />

20,0<br />

15,0<br />

10,0<br />

5,0<br />

0,0<br />

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0<br />

P1-int P2-dano_loc P3-dano_gen P4-semi-ríg δ (mm)<br />

Figura 13 - Curvas dos deslocamentos dos pórticos.<br />

Para todas as estruturas também foram construídos modelos computacionais<br />

visando a simulação desses ensaios de flexão (utilizando-se como base o programa<br />

desenvolvido por PAULA; 2001). Os resultados, de cada qual, são expostos em<br />

seqüência, indicando a rigidez admitida para os apoios. Inicialmente é demonstrada a<br />

importância de se considerar o apoio como ligação semi-rígida. A partir do pórtico<br />

íntegro, calcularam-se os resultados admitido os apoios rígidos (Figura 14) e<br />

articulados (Figura 15). Nestas figuras também são incluídas as respostas lineares<br />

(seção homogeneizada).<br />

F (kN)<br />

30,0<br />

25,0<br />

20,0<br />

15,0<br />

10,0<br />

5,0<br />

0,0<br />

experim.<br />

Mazars<br />

Linear<br />

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0<br />

δ (mm)<br />

Figura 14 - Deslocamento do modelo íntegro considerando os apoios rígidos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


58<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />

F (kN)<br />

30,0<br />

25,0<br />

20,0<br />

15,0<br />

10,0<br />

5,0<br />

0,0<br />

experim.<br />

Mazars<br />

Linear<br />

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0<br />

δ (mm)<br />

Figura 15 - Deslocamento do modelo íntegro considerando os apoios articulados.<br />

Percebe-se que considerar os apoios como rígidos é um erro pois a curva<br />

experimental apresenta-se bem mais flexível. Porém, admitir os apoios como<br />

articulados também não é adequado. Verifica-se que a curva do modelo de Mazars<br />

cresce para valores muitos altos (na figura ela foi truncada para F = 20 kN). O correto<br />

não é um extremo ou outro, mas simular as ligações de base como semi-rígidas.<br />

A Figura 16 mostra que a curva não é tão satisfatória quando se adota uma<br />

rigidez constante média ( K<br />

m<br />

= 700 kN.m/rad). As Figuras 17 e 18 ilustram os<br />

resultados para os modelos de Mazars e La Borderie, respectivamente, tendo em vista<br />

os apoios com rigidez variável (linearmente) entre os valores 1.050 e 500 kN.m/rad. A<br />

aderência entre os valores experimentais e computacionais é quase total.<br />

F (kN)<br />

30,0<br />

PÓRTICO ÍNTEGRO - Apoios Semi-Rígidos 700 kN.m/rad<br />

25,0<br />

20,0<br />

15,0<br />

10,0<br />

5,0<br />

0,0<br />

experim.<br />

Borderie<br />

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0<br />

δ (mm)<br />

Figura 16 - Simulação do ensaio de flexão do P1 (La Borderie) – rigidez constante.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />

59<br />

F (kN)<br />

30,0<br />

PÓRTICO ÍNTEGRO - Apoios Semi-Rígidos 1050-500 kN.m/rad<br />

25,0<br />

20,0<br />

15,0<br />

10,0<br />

5,0<br />

0,0<br />

experim.<br />

Mazars<br />

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0<br />

δ (mm)<br />

Figura 17 - Simulação do ensaio de flexão do P1 (Mazars).<br />

F (kN)<br />

30,0<br />

PÓRTICO ÍNTEGRO - Apoios Semi-Rígidos 1050-450 kN.m/rad<br />

25,0<br />

20,0<br />

15,0<br />

10,0<br />

5,0<br />

0,0<br />

experim.<br />

Borderie<br />

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0<br />

δ (mm)<br />

Figura 18 - Simulação do ensaio de flexão do P1 (La Borderie).<br />

Os ensaios computacionais dos outros pórticos indicaram resultados similares.<br />

Pode-se concluir, assim, que os modelos de Mazars e La Borderie simulam<br />

adequadamente os fenômenos de danificação dos pórticos, sendo imprescindível a<br />

consideração da ligação como semi-rígida, diferentemente das idealizações rígida ou<br />

articulada. De forma geral, o valor de rigidez determinado pelos ensaios estáticos<br />

corresponderam a 1050 kN.m/rad, na fase de menor solicitação, a aproximadamente<br />

450 kN.m/rad, para os valores mais altos de carga.<br />

A partir do cálculo do valor absoluto da rigidez da ligação, faz-se a sua<br />

avaliação em termos do fator de rigidez γ (Tabela 6 e Figura 19). A ligação pertence à<br />

Zona II, no início, passando para a Zona I, com o aumento da solicitação.<br />

Tabela 6 - Avaliação da rigidez da ligação pilar-fundação – ensaios estáticos<br />

K m<br />

(kN.m/rad)<br />

γ ZONA PÓRTICO<br />

1.050 0,15 II 1<br />

1.050 0,17 II 2, 3 e 4<br />

450 0,07 I 1<br />

450 0,08 I 2, 3 e 4<br />

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60<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />

1,5<br />

1,4<br />

1,3<br />

1,2<br />

1,1<br />

1,0<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,0<br />

0,0<br />

Zona I<br />

0,5 EI/L<br />

0,1 0,2 0,3<br />

Zona II<br />

2 EI/L<br />

0,4 0,5 0,6<br />

Fator de Rigidez γ<br />

Zona III<br />

6 EI/L 25 EI/L<br />

0,7<br />

Zona IV<br />

0,8 0,9 1,0<br />

Zona V<br />

Figura 19 - Avaliação da rigidez da ligação pilar-fundação – ensaios estáticos.<br />

6 ENSAIOS DINÂMICOS<br />

A Figura 20 ilustra o esquema do sistema de geração do sinal de excitação,<br />

aquisição e processamento de dados utilizado nos ensaios dinâmicos experimentais,<br />

sendo o centro das operações o analisador espectral. Nesta figura, “F” refere-se ao<br />

sinal da força aplicada, medida pelo transdutor; “A” significa o sinal da aceleração,<br />

medido pelos acelerômetros; e “V” o sinal da excitação a ser aplicada à estrutura. A<br />

Figura 21 retrata o sistema e a Figura 22 apresenta uma imagem dos ensaios.<br />

Figura 20 - Esquema do sistema de aquisição e processamento.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />

61<br />

Figura 21 - Sistema de aquisição e processamento de dados.<br />

Figura 22 - Ensaio dinâmico com excitador.<br />

Para o cálculo da rigidez da ligação, dois procedimentos distintos são<br />

empregados. O primeiro, chamado de “Método Indireto”, consiste na determinação<br />

desta rigidez pela calibração do modelo computacional, até que os parâmetros modais<br />

resultem similares aos medidos nos testes experimentais. Isto é feito empregando-se<br />

o código ADINA, ADINA (2003). O segundo procedimento, designado de “Método<br />

Direto”, baseia-se na leitura dos sinais do acelerômetro e transdutor de força, a partir<br />

da hipótese do desacoplamento dos modos no espaço modal.<br />

6.1 Ensaios experimentais<br />

Os resultados dos ensaios experimentais, gerados na forma de FRFs (um<br />

exemplo é exposto na Figura 23), possibilitam a determinação das freqüências<br />

naturais dos modelos. Na Tabela 7 indicam-se os valores obtidos para os pórticos<br />

íntegro e com dano generalizado.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


62<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />

Figura 22 - FRFs do Pórtico Íntegro medidas no nó 3 (A 32 ).<br />

Tabela 7 - Freqüências naturais dos pórticos íntegro e com dano generalizado<br />

PÓRTICO 3<br />

PÓRTICO 1<br />

(DANO<br />

(ÍNTEGRO)<br />

GENERALIZADO)<br />

MODO FREQ. (Hz) MODO FREQ. (Hz)<br />

1 16,9 1 10,6<br />

2 49,4 2 37,5<br />

3 82,5 3 66,2<br />

4 133,8 4 112,5<br />

5 210,6 5 180,4<br />

6 248,1 6 227,8<br />

7 263,1 7 250,8<br />

8 291,3 8 300,9<br />

9 342,0 9 331,6<br />

10 384,6<br />

11 434,8<br />

12 456,0<br />

6.2 Método direto<br />

Determinou-se as freqüências naturais e modos de vibração para todos os<br />

modelos, alterando-se as rigidezes das molas rotacionais na base e verificando-se as<br />

influências. Os valores adotados foram:<br />

K m Z ⇒ 900 kN.m/rad ≤ K m Z ≤ 3.000 kN.m/rad<br />

K m X ⇒ 550 kN.m/rad ≤ K m Z ≤ 700 kN.m/rad<br />

PÓRTICO 1 (ÍNTEGRO)<br />

A Tabela 8 indica os resultados experimentais obtidos na fase anterior (Tabela<br />

7a) e os computacionais. Nela há a indicação se o modo é no plano xy ou se é no<br />

plano transversal. Os valores adotados para a rigidez do apoio foram:<br />

K m Z = 2.500 kN.m/rad<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />

63<br />

K m X<br />

= 550 kN.m/rad<br />

Tabela 8 - Freqüências naturais do pórtico íntegro<br />

PÓRTICO 1 (ÍNTEGRO)<br />

EXPERIMENTAL COMPUTACIONAL<br />

MODO<br />

FREQÜÊNCIA<br />

FREQÜÊNCIA<br />

PLANO<br />

(Hz)<br />

(Hz)<br />

PLANO<br />

1 16,9 Z 21,3 Z<br />

2 49,4 Z 51,3 Z<br />

3 82,5 XY 82,7 XY<br />

4 133,8 Z 130,0 Z<br />

5 210,6 XY 214,5 XY<br />

6 248,1 Z 280,8 Z<br />

7 263,1 Z 291,4 Z<br />

8 291,3 Z 423,6 Z<br />

9 342,0 Z 530,3 Z<br />

10 554,6 XY<br />

PÓRTICO 3 (DANO GENERALIZADO)<br />

Para este modelo foram feitos dois conjuntos de ensaios. O primeiro, como o<br />

feito para os pórticos anteriores, alterando-se as rigidezes das molas rotacionais. O<br />

segundo, avaliando-se a minoração da rigidez EI provocada pela fissuração prévia.<br />

Basicamente, foram dois tipos de fatores de minoração adotados:<br />

1) Rigidez comum a todos os elementos (vigas e pilares):<br />

Neste caso, o mais relevante foi a adoção do valor 0,7<br />

⋅ E0<br />

⋅ I0<br />

, conforme dita a NBR<br />

6118 (2003).<br />

2) Rigidezes diferentes para a viga (elemento mais fissurado) e pilares (elemento<br />

menos fissurado):<br />

Foram adotados os valores individuais preconizados pela NBR 6118 (2003):<br />

0,4⋅ E0<br />

⋅ I0<br />

para a viga (quando A s ≠ As′<br />

'<br />

), ou 0,5<br />

⋅ E0<br />

⋅ I0<br />

(quando A s = A s ), e<br />

0,8<br />

⋅ E0<br />

⋅ I0<br />

para os pilares;<br />

diversas outras variações.<br />

Os resultados apresentados na Tabela 9, mais assemelhados aos valores<br />

experimentais, relacionam-se às rigidezes:<br />

0,6 E 0 I 0 = 19.126 MPa, para a viga<br />

0,8 E 0 I 0 = 25.501 MPa, para os pilares<br />

Para as rigidezes dos apoios:<br />

K = 2.500 kN.m/rad<br />

m Z<br />

K m X<br />

= 550 kN.m/rad<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


64<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />

Tabela 9 - Freqüências naturais do pórtico 3<br />

PÓRTICO 3 (DANO GENERALIZADO)<br />

EXPERIMENTAL COMPUTACIONAL<br />

MODO FREQ. (Hz) PLANO FREQ. (Hz) PLANO<br />

1 10,6 Z 19,7 Z<br />

2 37,5 Z 42,9 Z<br />

3 66,2 XY 70,1 XY<br />

4 112,5 Z 100,0 Z<br />

5 180,4 XY 164,1 XY<br />

6 227,8 Z 217,4 Z<br />

7 250,8 Z 240,6 Z<br />

8 300,9 ? 3<strong>35</strong>,5 Z<br />

9 331,6 ? 397,6 Z<br />

10 384,6 ? 425,5 XY<br />

11 434,8 ? 486,6 Z<br />

12 456,0 ? 524,4 XY<br />

Constata-se que as primeiras freqüências são coerentes com as<br />

experimentais, e que aparentemente existem mais modos computacionais que<br />

experimentais (algumas freqüências coincidem, mas estão em posições diferentes na<br />

ordem listada). Com a consideração das vibrações transversais, e a imposição de<br />

apoios semi-rígidos, as freqüências computacionais aproximam-se muito das<br />

experimentais, sendo ilustradas na Figura 23 e na Figura 24 os valores de f 1 xy e<br />

f 2 xy , respectivamente, para cada um dos modelos. Os resultados mais afinados<br />

com os ensaios experimentais correspondem a:<br />

kN.m/rad.<br />

K m Z = 2.500 kN.m/rad e K m X = 550<br />

freqüência f1xy<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Pórt.1 Pórt.2 Pórt.3 Pórt.4a Pórt.4b Pórt.4c<br />

Experimental Numérico<br />

Estrutura<br />

Figura 23 - Freqüências<br />

f 1 xy experimental e numérica para os diferentes modelos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />

65<br />

freqüência f2xy<br />

220<br />

200<br />

180<br />

160<br />

140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

Pórt.1 Pórt.2 Pórt.3 Pórt.4a Pórt.4b Pórt.4c<br />

Experimental Numérico<br />

Estrutura<br />

Figura 24 - Freqüências<br />

f 2 xy experimental e numérica para os diferentes modelos.<br />

6.3 Método direto<br />

EWINS (2000) e MAIA et al. (1997) afirmam que uma das dificuldades da<br />

análise modal experimental é a medida da resposta ou da excitação rotacional.<br />

Segundo os autores, por muitos anos este problema foi tido como de solução nãotrivial.<br />

BREGANT; SANDERSON (2000) observam que a história das medidas e da<br />

excitação de graus de liberdade rotacionais é relativamente curta, quando comparadas<br />

aos graus de liberdade de translação, basicamente por dois motivos: a) eles não eram<br />

considerados importantes e não eram vistos como necessários na construção do<br />

modelo de resposta da estrutura; e b) porque são mais difíceis de medir, requerem<br />

mais esforço e possuem menos precisão. LOFRANO (2003) discute e aplica diversas<br />

técnicas experimentais para a determinação de FRFs angulares com aplicações em<br />

estruturas do tipo viga; procedimentos baseados em acelerômetros piezelétricos,<br />

vibrômetros a laser e sensores dedicados.<br />

Entre as diversas proposições de solução dos problemas, envolvendo<br />

transdutores ou excitadores especiais, há uma alternativa muito simples e baseada<br />

nos sensores e equipamentos convencionais. A técnica consiste em usar um par de<br />

acelerômetros uniaxiais colocados a uma pequena distância um do outro, fixados à<br />

estrutura, ou fixados a um acessório auxiliar na forma de “T”, que é solidarizado à<br />

estrutura. Neste caso, torna-se necessário um cuidado adicional em relação à<br />

flexibilidade das barras em balanço do acessório, com vistas a peça comportar-se<br />

como um corpo rígido e não influencie, pelo seu próprio movimento, a resposta dos<br />

sensores. A Figura ilustra o esquema de construção do conjunto.<br />

S<br />

S<br />

ẍ A<br />

S<br />

ẍ<br />

P<br />

S<br />

ẍ B<br />

ẍ A ẍ P ẍ B<br />

¨θ P<br />

θ¨<br />

P<br />

P<br />

P<br />

Figura 25 - Arranjo para medição da resposta rotacional.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


66<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />

Assume-se, por fim, a hipótese de se calcular a translação e a rotação do<br />

ponto P da estrutura pelas expressões.<br />

&&<br />

xP<br />

&& xB<br />

+ && x<br />

= A<br />

(3)<br />

2<br />

&<br />

&& xB<br />

− && x<br />

θ<br />

A<br />

P =<br />

(4)<br />

2 s<br />

MAIA et al. (1997) advertem que um dos problemas associados a esta técnica<br />

relaciona-se ao fato de que a diferença de aceleração dada pela eq. (4) pode ser da<br />

mesma ordem de grandeza dos erros e ruídos inerentes à medição dos dados.<br />

EWINS (2000) pondera, adicionalmente, que um dos grandes problemas deste<br />

procedimento é que a amplitude do sinal devido aos movimentos de translação pode<br />

se sobrepor aos movimentos rotacionais. Por exemplo, a diferença de aceleração<br />

expressa na eq. (4), que corresponde usualmente de 1 a 2% dos valores individuais,<br />

podendo ser até inferior à sensibilidade transversal dos acelerômetros (sensibilidade<br />

cruzada), comprometendo a resposta que foi avaliada. Contudo, a despeito desta<br />

dificuldade, muitas aplicações de sucesso têm sido realizadas com esta metodologia.<br />

Baseado nas ponderações anteriores, planejou-se, neste trabalho, uma<br />

seqüência de procedimentos para a obtenção da rigidez da ligação da forma direta,<br />

constituída dos seguintes passos:<br />

Fixação de acelerômetros no pilar, um em cada lado, segundo as direções x e z ,<br />

alternadamente (Figura 26). Também foram postos os sensores na chapa de base<br />

(apenas na direção x ) a fim de constatar a diferença de resposta;<br />

Excitação da estrutura com um sinal senoidal, de freqüência determinada;<br />

Medição da excitação imposta (força) e das respostas dos acelerômetros (aceleração)<br />

no domínio do tempo;<br />

Cálculo das respostas dos sensores, em termos de deslocamento, no domínio do<br />

tempo. A expressão que relaciona a aceleração e o deslocamento de cada<br />

&&<br />

acelerômetro é dada por x = x , onde ω é a freqüência da excitação imposta (em<br />

2<br />

ω<br />

rad/s);<br />

∆x<br />

Cálculo do ângulo de rotação do pilar θ = , onde ∆ x é o deslocamento relativo<br />

2 s<br />

entre os dois acelerômetros, e 2 s a distância entre eles;<br />

Cálculo do momento M na base do pilar, diretamente proporcional à amplitude da<br />

força de excitação e do seu ponto de aplicação, e também considerando o fator de<br />

amplificação dinâmica ( D ) – função da freqüência natural, freqüência de excitação e<br />

do amortecimento estrutural;<br />

Cálculo da rigidez à flexão K pela expressão K = M , onde M é o momento aplicado<br />

θ<br />

na base do pilar, e θ é o ângulo de rotação calculado no passo anterior.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />

67<br />

acelerômetro<br />

Figura 26 - Posicionamento dos acelerômetros nas laterais do pilar.<br />

O pórtico fissurado será adotado como exemplo de cálculo, consideradas a<br />

excitação na direção x e as respostas na direção y . A Figura 27 mostra o sinal dos<br />

acelerômetros, em g , e a Figura 28 apresenta esta resposta convertida em<br />

&&<br />

deslocamento, na unidade de metros, através da expressão x = x . Ressalte-se que<br />

ω<br />

o intervalo de tempo apresentado nos gráficos corresponde a 0,1 s (1 a 1,1 s)<br />

meramente para facilitar a visualização das curvas, mas o período total de<br />

amostragem foi superior (cerca de 1,6 s e após realizada as diversas aquisições para<br />

o cálculo da média).<br />

No caso em questão, ω = 420,97 rad = 2π × 67 Hz.<br />

freqüência configurada para a geração do sinal senoidal pelo excitador.<br />

2<br />

f exc = 67 Hz foi a<br />

Figura 27 - Resposta dos acelerômetros (em g).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


68<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />

Figura 28 - Resposta dos acelerômetros (em m).<br />

Calcula-se o deslocamento relativo entre os acelerômetros pelos picos da<br />

curva apresentada na Figura 28 e determina-se a rotação em relação à posição<br />

original, considerando a distância 2 s entre eles.<br />

∆ x = 7,60 × 10 -6 m (tomando-se os valores médios de pico)<br />

2 s = 1,94 × 10 -1 m<br />

resulta: θ = 3,918 × 10 -5 rad<br />

A Figura 29 ilustra o sinal medido da força de excitação. Neste caso, f exc =<br />

67 Hz, sendo f 1 = 67,5 Hz, determinada pelo ensaio de varredura.<br />

Figura 29 - Excitação senoidal imposta.<br />

F = 33,4 N (amplitude máxima da força aplicada). Calcula-se, em seguida, o<br />

momento dinâmico na ligação:<br />

Pela análise estática da estrutura: F = 1 N ⇒ M = 0,1392 N.m, considerando<br />

molas nas ligações com K = 2.500 kN.m/rad e uma rigidez fração da bruta, em função<br />

da fissuração.<br />

Assim, tem-se: M = 4,65 N.m (momento na base do pilar)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />

69<br />

Levando em conta:<br />

f exc = 67 Hz<br />

f 1 = 67,5 Hz<br />

ξ = 2,30 % (determinado pelo método Multi-Modos de identificação dos<br />

parâmetros)<br />

chega-se a: D = 20,84 (fator de amplificação dinâmico)<br />

e daí: M din = 96,89 N.m (momento dinâmico na base do pilar = D ⋅ M )<br />

Com D = 20,84 e a Figura 29, obtém-se a curva de M din na base do pilar<br />

(Figura 30).<br />

Figura 30 - Momento<br />

M din na base do pilar.<br />

A partir dos valores do momento e da rotação, determina-se:<br />

K mZ = M din / θ<br />

−5<br />

K mZ = 96,89 / 3,918×<br />

10<br />

K mZ = 2.473 kN.m/rad<br />

Semelhante ao valor de rigidez encontrado no método indireto, via calibração<br />

do modelo de elementos finitos. Os demais valores de rigidez, para o outro pórtico e<br />

para a direção Z, além de suas correlações em relação ao fator de rigidez γ, são<br />

indicados nas Tabelas 10 e 11.<br />

Nas tabelas são adotados também diferentes valores para as taxas de<br />

amortecimento (ξ), calculadas pelo método do decremento logarítmico (DL) e pelo<br />

método multi-modos (MM). Lembra-se que as rigidezes encontradas pelo método<br />

indireto − calibração do modelo numérico − são:<br />

K m Z = 2.500 kN.m/rad<br />

K m X<br />

= 550 kN.m/rad<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


70<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />

Tabela 10 - Valores da rigidez K mZ determinados pelo método direto<br />

PÓRTICO<br />

ξ (em %)<br />

K mZ<br />

(DIREÇÃO)<br />

(MÉTODO) (kN.m/rad)<br />

γ<br />

ÍNTEGRO<br />

2,4 (MM) 1.817 0,23<br />

(XY) 1,75 (DL) 2.492 0,29<br />

FISSURADO<br />

2,3 (MM) 2.473 0,32<br />

(XY) 1,48 (DL) 3.609 0,41<br />

Obs. Referência K m Z = 2.500 kN.m/rad (ÍNTEGRO: γ = 0,30; FISSURADO: γ =<br />

0,32)<br />

Tabela 11 - Valores da rigidez KmX determinados pelo método direto<br />

PÓRTICO<br />

ξ (em %)<br />

K mX<br />

(DIREÇÃO)<br />

(MÉTODO) (kN.m/rad)<br />

γ<br />

ÍNTEGRO<br />

2,1 (MM) 421 0,26<br />

(Z) 1,75 (DL) 505 0,30<br />

FISSURADO<br />

1,8 (MM) 272 0,21<br />

(Z) 1,75 (DL) 330 0,24<br />

Obs. Referência K m Z = 550 kN.m/rad (ÍNTEGRO: γ = 0,30; FISSURADO: γ =<br />

0,33)<br />

Os valores da rigidez da ligação, calculados pelo método direto, apresentamse<br />

similares àqueles determinados pelo método indireto. Esta semelhança torna-se<br />

mais evidente quando se analisa o coeficiente de rigidez γ, o qual dá uma medida mais<br />

precisa do que o número absoluto. A Figura 31 indica o intervalo no qual recai a<br />

rigidez K m Z calculada.<br />

1,5<br />

1,4<br />

1,3<br />

1,2<br />

1,1<br />

1,0<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,0<br />

0,0<br />

0,5 EI/L<br />

0,1 0,2<br />

2 EI/L 6 EI/L 25 EI/L<br />

0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0<br />

Fator de Rigidez γ<br />

Zona I Zona II<br />

Zona III Zona IV Zona V<br />

Figura 31 - Região dos valores de<br />

K m Z .<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


Avaliação dinâmica experimental e numérica das ligações de base de estruturas de concreto...<br />

71<br />

7 CONCLUSÕES<br />

Os estudos e ensaios realizados indicaram, para a rigidez da ligação de base,<br />

os seguintes valores:<br />

1) Modelos analíticos<br />

K m Z = 2.000 a 3.000 kN.m/rad (γ = 0,25 a 0,36)<br />

2) Ensaios estáticos<br />

K m Z = 1.050 (a 500) kN.m/rad (γ = 0,17 a 0,08)<br />

3) Ensaios dinâmicos (processo indireto – calibração do modelo)<br />

K m Z = 2.500 kN.m/rad (γ = 0,32)<br />

K m X = 550 kN.m/rad (γ = 0,33)<br />

4) Ensaios dinâmicos (processo direto – avaliação dos sinais)<br />

K m Z = 1.800 a 3.600 kN.m/rad (γ = 0,23 a 0,41)<br />

K m X = 270 a 505 kN.m/rad (γ = 0,20 a 0,31)<br />

Os resultados dos ensaios dinâmicos, sejam pelo processo direto ou indireto,<br />

para a rigidez K m Z ou K m X , assemelham-se bastante. Tais diferenças podem se<br />

maximizadas ou minimizadas com a alteração dos parâmetros utilizados, destacandose<br />

uma forte sensibilidade no processo direto.<br />

Todavia, empregando-se o fator de rigidez γ, percebe-se que todos os cálculos<br />

e aquisições referenciam uma ligação essencialmente dentro da Zona II (semi-rígida<br />

com baixa resistência à flexão; 0,14<br />

≤ γ ≤ 0, 40 ). Ou seja: qualitativamente, a ligação<br />

possui a mesma característica, independentemente do seu valor absoluto ter<br />

apresentado significativas diferenças entre os diversos modelos e ensaios.<br />

Os modelos constitutivos de Mazars e La Borderie mostram-se adequados<br />

para a simulação de estruturas de concreto, submetidas a cargas estáticas e<br />

dinâmicas. Tão importante quanto a teoria empregada nos modelos, é a definição<br />

correta dos vínculos.<br />

Importa que os trabalhos futuros sobre as ligações semi-rígidas, ou os estudos<br />

sobre o estado de fissuração de elementos e/ou estruturas, contemplem os ensaios<br />

dinâmicos e a melhor definição do comportamento do material (especialmente se for o<br />

concreto). Relativamente às pesquisas já encerradas, pode-se empregar estas<br />

ferramentas, caso tenha-se a intenção de revisitá-las.<br />

Os ensaios numéricos, quando utilizados para a validação de resultados<br />

experimentais, não devem prescindir do estudo das condições de contorno e da<br />

correta caracterização do material com ensaios controlados. É necessário, assim, que<br />

os estudiosos desta linha de pesquisa enveredem também pela experimentação física.<br />

8 AGRADECIMENTOS<br />

Aos colegas Engs. Leopoldo Oliveira, Marcelo Ferreira e Francisco Adriano de<br />

Araújo, e Prof. Associado Paulo Sérgio Varoto, que muito ajudaram em diferentes<br />

etapas das análises experimentais e computacionais. A UFRN e CAPES, pelo<br />

sustento financeiro, sem o qual esta pesquisa não poderia ter sido realizada, e a<br />

FAPESP pela outorga de recursos do projeto de pesquisa aprovado.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


72<br />

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega & João Bento de Hanai<br />

9 REFERÊNCIAS<br />

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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 47-73, <strong>2006</strong>


ISSN 1809-5860<br />

ANÁLISE TEÓRICA E EXPERIMENTAL DE PILARES<br />

DE CONCRETO ARMADO SOB AÇÃO DE FORÇA<br />

CENTRADA<br />

Walter Luiz Andrade de Oliveira 1 & José Samuel Giongo 2<br />

Resumo<br />

O objetivo primordial da pesquisa foi obter informações a respeito do comportamento<br />

dúctil de pilares submetidos à compressão centrada moldados com concreto de<br />

resistência média à compressão de 40MPa. Os resultados obtidos experimentalmente<br />

foram confrontados com os da análise numérica e se mostraram satisfatórios. O modelo<br />

adotado para análise teórica considerou as equações de equilíbrio que regem a<br />

segurança da seção transversal e o comportamento do pilar confinado. Para o<br />

desenvolvimento da parte experimental foram ensaiados 16 modelos de concreto<br />

armado: quatro com dimensões da seção transversal de 200mm×200mm e altura de<br />

1200mm e doze com dimensões da seção transversal de 150mm×300mm e altura de<br />

900mm, que apresentaram melhora no comportamento dúctil diretamente influenciada<br />

pelo aumento da taxa de armadura transversal. Foi verificado que o comportamento de<br />

pilares torna-se frágil com o aumento da resistência à compressão, assim foi gerada<br />

uma superfície que mostra o comportamento dúctil de pilares em função da taxa de<br />

armadura transversal e da resistência à compressão do concreto. Moldaram-se<br />

também, oito modelos não armados para determinação do coeficiente k 2 , que leva em<br />

consideração a estimativa da resistência do concreto na estrutura, quando avaliada por<br />

meio de corpos-de-prova cilíndricos, e verificou-se que o valor desta variável diminui<br />

com o aumento da resistência à compressão do concreto, como sugere a norma<br />

Norueguesa. A utilização da variável k 2 em função da resistência do concreto torna<br />

possível o dimensionamento de pilares de concreto de alta resistência considerando-se<br />

a seção íntegra ao invés da seção do núcleo.<br />

Palavras-chave: pilares; concreto armado; compressão centrada.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Ao longo dos anos em que o concreto tem sido utilizado como material<br />

estrutural, em poucas oportunidades, visto a quantidade de estruturas construídas<br />

com concreto no mundo, sua resistência à compressão superou os 30MPa. Contudo<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, wluiz@sc.usp.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jsgiongo@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


76<br />

Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />

observa-se que, atualmente, há maior preocupação com a durabilidade das estruturas<br />

de concreto armado e existe a necessidade de que os edifícios tenham áreas livres<br />

maiores, portanto com pilares mais afastados e com ações de intensidades maiores e,<br />

com isto, a necessidade de adotar concretos com resistência de 30MPa a 50MPa<br />

intensificou-se.<br />

Por trabalharem submetidos preponderantemente a tensões de compressão,<br />

os pilares de edifícios têm seus comportamentos definidos pelas propriedades<br />

mecânicas do concreto, quais sejam resistência e deformação. Esse fato torna a<br />

ductilidade desses elementos estruturais sensível ao valor da resistência e ao<br />

comportamento do respectivo diagrama tensão-deformação. Observa-se que, quando<br />

concretos com maiores resistências são usados em pilares, a ductilidade desses<br />

elementos estruturais é reduzida e suas ruínas ficam definidas pela ruptura do<br />

concreto com pequenas deformações. Assim, a redistribuição de esforços solicitantes,<br />

capaz de evitar o colapso de uma edificação, quando da ruína do pilar, fica<br />

comprometida.<br />

O aumento da taxa de armadura transversal nos pilares não implica em<br />

ganho direto de resistência do elemento estrutural. A força de compressão axial<br />

atuante no pilar conduz à deformação transversal do elemento que, por sua vez,<br />

solicita a armadura transversal criando, como reação, pressão lateral sobre o núcleo<br />

de concreto, ductilizando o pilar.<br />

Deste modo, a maior quantidade de armadura transversal e o maior limite de<br />

escoamento desta armadura farão com que a pressão lateral exercida no núcleo de<br />

concreto aumente e, com isso, a resistência do pilar na direção axial cresça. O modo<br />

como a armadura transversal é solicitada, em pilares cintados, cria esforços que<br />

resultam no descolamento do cobrimento de concreto das armaduras (MÖRSCH,<br />

[14]).<br />

Para representar o comportamento do confinamento em pilares, para a<br />

resistência média à compressão do concreto de 40MPa, foi utilizado o modelo teórico<br />

desenvolvido por Cusson e Paultre [6], que foi modificado por Lima Júnior [11]. Foi<br />

realizada também uma análise computacional na qual utilizou-se programa<br />

desenvolvido pelos professores Ney Augusto Dumont e Giuseppe Barbosa<br />

Guimarães, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e que foi composto<br />

por dissertações de Mestrado dessa instituição, baseado no método dos elementos<br />

finitos que leva em consideração a não linearidade física do material, a não<br />

linearidade geométrica da estrutura e o efeito exercido pelo confinamento. A<br />

implementação do modelo teórico de confinamento, no programa citado, foi feita por<br />

Lima Júnior [11].<br />

2 O ESTUDO DO CONCRETO CONFINADO<br />

A armadura de confinamento é muito utilizada em pilares de concreto<br />

armado, com o objetivo de aumentar a capacidade resistente e melhorar o seu<br />

comportamento no tocante à ductilidade. Cusson e Paultre [4] explicam que isso<br />

acontece pelo fato de que a distribuição das tensões de confinamento<br />

longitudinalmente, entre os estribos, acontece em forma de arco. Desse modo, o<br />

espaçamento entre os estribos deixa um volume de concreto sem confinamento, que<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />

77<br />

pode desprender-se da peça durante o carregamento da estrutura por causa do<br />

gradiente interno de tensões.<br />

Claeson e Gyltoft [3] observaram por meio de ensaios de pilares de seção<br />

quadrada que, quanto menor for o espaçamento entre os estribos mais eficiente será<br />

o efeito do confinamento, melhorando a ductilidade dos pilares. Dessa forma, pode-se<br />

diminuir o diâmetro da barra do estribo e o espaçamento entre os mesmos, mantendo<br />

uma mesma taxa de armadura transversal, obtendo no final um pilar com<br />

comportamento mais dúctil.<br />

O ACI-441 [1] apresenta um diagrama do comportamento de pilares de<br />

concreto de alta resistência submetidos à compressão centrada (figura 1). Neste<br />

diagrama pode-se observar que o comportamento pós-pico dos pilares é diretamente<br />

influenciado pelo confinamento.<br />

F<br />

Força axial<br />

A<br />

B<br />

Baixo índice de<br />

confinamento<br />

Alto índice de<br />

confinamento<br />

Médio índice de<br />

confinamento<br />

Deformação axial<br />

ε c<br />

Figura 1 – Comportamento esquemático dos pilares de concreto de alta resistência sob<br />

compressão centrada. ACI-441 [1].<br />

O trecho ascendente do diagrama é praticamente linear até<br />

aproximadamente 90% da força máxima, correspondente ao ponto A. Segundo<br />

Cusson e Paultre [5], nesse trecho a armadura de confinamento praticamente não<br />

colabora, sendo exigida com 50% de sua tensão de escoamento. O ponto A<br />

corresponde ao descolamento do cobrimento, que ocasiona uma perda de resistência,<br />

levando o diagrama ao ponto B. A diferença entre as forças correspondentes aos<br />

pontos A e B é influenciada diretamente pela espessura do cobrimento e pela<br />

quantidade de armadura transversal, e varia, aproximadamente, entre 10% e 15%.<br />

Após o ponto B, a expansão do concreto atinge seu valor máximo e o comportamento<br />

do pilar torna-se função da quantidade de armadura de confinamento.<br />

O estudo da modelagem do concreto confinado teve início em 1955, quando<br />

Chan (apud Sheikh, [23]) propôs equações para avaliar a resistência do concreto<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


78<br />

Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />

confinado e sua deformação. Estudos posteriores levaram à formulação de modelos<br />

que procuravam descrever o comportamento de pilares de concreto armado<br />

submetidos à compressão simples. A maioria deles baseou-se em estudos<br />

experimentais com pilares de concreto de resistência normal, mas nos últimos anos<br />

houve uma intensificação nos estudos a respeito do comportamento do concreto de<br />

alta resistência. Alguns modelos conhecidos são os de Roy e Sozen (1964, apud<br />

Sheikh, [23]), Sargin et alli [22], Kent e Park [9], Park et alli [17], Sheikh e Uzumeri<br />

[24], Mander et alli [13], Saatcioglu e Razvi [21], Cusson e Paultre [6], Légeron e<br />

Paultre [10] e Lima Júnior [11].<br />

O programa computacional que foi utilizado baseia-se no modelo proposto<br />

por Cusson e Paultre [6], mostrado na figura 2, e que foi modificado por Lima Júnior<br />

[11]. O modelo original baseou-se num programa experimental no qual foram<br />

ensaiados 50 pilares, sendo que 30 foram ensaiados por Cusson e Paultre [5] e 20<br />

por Nagashima et alli [15]. O modelo original é limitado a pilares de seção quadrada.<br />

f c<br />

A<br />

0,5<br />

⋅<br />

0,5<br />

⋅<br />

f cc<br />

f co<br />

f cc<br />

f co<br />

a<br />

b<br />

Concreto não<br />

confinado<br />

Concreto<br />

confinado<br />

B<br />

C<br />

O<br />

E c<br />

ε co ε c50u<br />

εcc<br />

c<br />

ε c50 c<br />

ε<br />

Figura 2 – Modelo proposto por Cusson e Paultre [6].<br />

O trecho ascendente (OA) do diagrama tensão vs. deformação proposto por<br />

Cusson e Paultre [6], é descrito por uma equação proposta por Popovics [18] –<br />

equação 1.<br />

σ<br />

⎛ ε<br />

β ⋅<br />

⎜<br />

⎝ ε<br />

c<br />

ccf<br />

=<br />

β<br />

f ccf ⎛ εc<br />

⎞<br />

(1)<br />

( β −1)<br />

c<br />

+<br />

⎜<br />

⎝ ε<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

ccf<br />

⎟<br />

⎠<br />

na qual, ε c é a deformação em um ponto qualquer do diagrama, ε ccf é a deformação<br />

correspondente à tensão máxima e β é um coeficiente expresso pela equação 2.<br />

β =<br />

E<br />

c<br />

E<br />

c<br />

⎛ f<br />

−<br />

⎜<br />

⎝ ε<br />

ccf<br />

ccf<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

(2)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />

79<br />

Para o trecho descendente (ABC) utiliza-se uma equação proposta por Fafitis<br />

e Shah [7] – equação 3,<br />

σ<br />

f<br />

c<br />

ccf<br />

= exp k<br />

[ ( ) ]<br />

k 22<br />

11 ⋅ ε c − εccf<br />

na qual k 11 é o coeficiente responsável pela inclinação da curva, tendo sido ajustado<br />

para passar pelo ponto ( ε c50c, 0,5 ⋅ fcc<br />

) e k 22 é um coeficiente que foi obtido por análise<br />

de regressão e é responsável pela curvatura. Esses coeficientes são calculados pelas<br />

equações 4 e 5, a seguir:<br />

k<br />

11<br />

=<br />

ln( 0,5 )<br />

( ε − ε<br />

k<br />

) 22<br />

c50c<br />

cc<br />

(3)<br />

(4)<br />

k<br />

22<br />

⎛ f<br />

= 0,58 + 16 ⋅<br />

⎜<br />

⎝ f<br />

le<br />

c<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

1,4<br />

(5)<br />

Lima Júnior [11], modificou o modelo de Cusson e Paultre [6]. Para o modelo,<br />

a resistência do concreto nas estruturas pode ser calculada a partir da equação 6.<br />

f<br />

= k ⋅<br />

c f cj<br />

(6)<br />

na qual f cj é a resistência medida por meio de ensaio à compressão de corpos-deprova<br />

cilíndricos de 15cm×30cm e k é um coeficiente calculado de acordo com a<br />

equação 7,<br />

k = k<br />

1 ⋅k<br />

2 ⋅k<br />

3<br />

(7)<br />

sendo que k 1 leva em conta o acréscimo de resistência do concreto após 28 dias, k 2<br />

considera a estimativa da resistência do concreto na estrutura, quando avaliadas por<br />

meio dos corpos-de-prova cilíndricos, e k 3 considera a diminuição da resistência do<br />

concreto para ações de longa duração. Na falta de dados experimentais pode-se<br />

adotar k 1 =1,2, k 2 =0,95 e k 3 =0,75 (FUSCO, [8]). A norma Norueguesa – NS 3473 E [16]<br />

– não considera o valor de k 2 constante, ela apresenta a tabela 1 que compara os<br />

valores de resistência do concreto na estrutura com os valores obtidos por meio de<br />

ensaio de corpos-de-prova cilíndricos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


80<br />

Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />

Tabela 1 – Resistência à compressão do concreto em MPa<br />

Concretos<br />

C15 C25 C<strong>35</strong> C45 C55 C65 C75 C85 C95 C105<br />

Resistência do corpo-deprova<br />

cilíndrico – f c,cp<br />

12 20 28 36 44 54 64 74 84 94<br />

Resistência do concreto<br />

11,2 16,8 22,4 28,0 33,6 39,2 44,8 50,4 56,0 61,6<br />

na estrutura – f cn<br />

fcn<br />

k 2 = 0,93 0,84 0,80 0,78 0,76 0,73 0,70 0,68 0,67 0,66<br />

f<br />

c,cp<br />

Fonte: NS 3473 E (1992) [16]<br />

Com esses dados, fez-se análise de regressão logarítmica e obteve-se a<br />

equação 8, que correlaciona o coeficiente k 2 com a resistência do concreto:<br />

k 2 = − 0,136074 ⋅ ln fcj<br />

+<br />

( ) 1, 34711<br />

(8)<br />

Para realizar as modificações no modelo de Cusson e Paultre [6] foi utilizada<br />

a equação 8. Para o modelo de Cusson e Paultre [6] foram realizados ensaios com<br />

pilares com altas taxas de confinamento e com isso foi obtida a equação 5. Para os<br />

modelos ensaiados por Lima Júnior [11] as taxas de armaduras transversais não<br />

ultrapassaram as utilizadas por Cusson e Paultre [6], e algumas delas são as mínimas<br />

permitidas pela NBR 6118:2003 [2].<br />

Assim, Lima Júnior [11], verificou uma incoerência no modelo de Cusson e<br />

Paultre [6], que calculam o coeficiente k 22 segundo a equação 5 e sugerem o valor de<br />

1,5 para o valor desse coeficiente quando o concreto não possuir confinamento, ou<br />

f<br />

seja a relação le f<br />

= 0 . Ao substituir le = 0 , encontra-se k 22 =0,58.<br />

fc<br />

fc<br />

Dessa maneira, acrescentando alguns pontos com baixas taxas de<br />

confinamento aos de Cusson e Paultre [6], e fazendo uma regressão polinomial de<br />

segundo grau, foi obtida a equação 9, com coeficiente de correlação, r 2 , de 92%,<br />

k<br />

2<br />

⎛ fle<br />

⎞ ⎛ fle<br />

⎞<br />

0,789<br />

22 = 1,344 − 8,864 ⋅<br />

⎜ + 41,455 ⋅ + 0,525 ⋅R<br />

f<br />

⎟<br />

⎜<br />

c<br />

f<br />

⎟<br />

c<br />

⎝<br />

⎠<br />

⎝<br />

⎠<br />

(9)<br />

na qual, R é o índice de reforço com a adição de fibras de aço. Neste trabalho<br />

considerou-se R=0.<br />

O diagrama tensão vs. deformação resultante das modificações feitas, é<br />

traçado seguindo os seguintes passos:<br />

1 - considerou-se a seção transversal resistente do pilar como sendo a seção<br />

íntegra, ignorando-se o efeito do confinamento;<br />

2 - considerou-se a seção transversal resistente do pilar como sendo apenas<br />

a seção do núcleo do pilar delimitada pelos ramos mais externos dos estribos, e a<br />

pressão lateral de confinamento deve ser calculada considerando a deformação da<br />

armadura transversal dada pela equação 10;<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />

81<br />

3 - o diagrama resultante é formado pelas linhas externas dos dois diagramas<br />

obtidos nos procedimentos 1 e 2,<br />

ε<br />

tcc<br />

= ν ⋅ ε<br />

cc<br />

⎛ f<br />

− ⎜<br />

⎝<br />

le<br />

− ν ⋅<br />

E<br />

c,sec<br />

f<br />

le<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

(10)<br />

sendo que, ε tcc é a deformação na armadura de confinamento, ν é o coeficiente de<br />

Poisson do concreto confinado, no ponto correspondente à máxima tensão e que pode<br />

ser tomado como 0,5; E c,sec é o módulo de elasticidade secante do concreto no ponto<br />

de máxima tensão do concreto confinado; f le é a pressão efetiva de confinamento,<br />

dada pela equação 11;<br />

com,<br />

e,<br />

f<br />

= K<br />

⋅<br />

le<br />

e f l<br />

K<br />

e<br />

∑<br />

2<br />

⎛ w<br />

⎜<br />

i<br />

i<br />

⎜1−<br />

⎜ 6 ⋅ c x ⋅ c<br />

=<br />

⎝<br />

y<br />

⎞<br />

⎟ ⎛<br />

⎟ ⋅<br />

⎜1−<br />

⎟ ⎝ 2 ⋅ c<br />

⎠<br />

1− ρ<br />

( s − φ ) ⎞ ⎛ ( s − φ )<br />

l<br />

t<br />

x<br />

⎜<br />

⎟ ⋅ 1−<br />

⎠ ⎝<br />

2 ⋅ c<br />

y<br />

t<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

(11)<br />

(12)<br />

f f ⎛ A stx + A ⎞<br />

tcc<br />

sty<br />

= ⋅ ⎜ ⎟<br />

l<br />

s<br />

⎝<br />

c x + c y ⎠<br />

(13)<br />

sendo que, f tcc é a tensão na armadura transversal de confinamento; s é a distância de<br />

centro a centro entre estribos; A stx e A sty são as áreas da seção transversal das<br />

armaduras de confinamento, perpendiculares aos eixos x e y, respectivamente; c x e c y<br />

são as larguras do núcleo do pilar, nas direções x e y, respectivamente; w i são os<br />

espaços entre as armaduras longitudinais; φ t é o diâmetro dos estribos; e ρ l é a taxa de<br />

armadura longitudinal, em relação ao núcleo do pilar.<br />

O diagrama resultante é representado na figura 3.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


82<br />

Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />

f c<br />

Diagrama resultante<br />

Modelagem com a seção<br />

transversal do núcleo<br />

Modelagem com a seção<br />

transversal íntegra<br />

ε<br />

Figura 3 – Modificação do modelo de Cusson e Paultre por Lima Júnior .<br />

3 DESCRIÇÃO DOS ENSAIOS REALIZADOS<br />

Foram ensaiados 16 modelos: quatro com dimensões da seção transversal<br />

de 200mm×200mm e altura de 1200mm (série P1) e doze com dimensões da seção<br />

transversal de 150mm×300mm e altura de 900mm (séries P2, P3 e P4), como pode<br />

ser visto na tabela 2.<br />

Junto às extremidades dos pilares foram dispostas armaduras de fretagem<br />

compostas por 6 estribos de diâmetro 6,3mm espaçados de 2,5cm. O cobrimento do<br />

concreto foi de 1,5cm para todos os modelos.<br />

Na figura 4 são apresentados os arranjos de armadura transversal utilizados<br />

no programa experimental e uma vista lateral dos modelos de seção quadrada e<br />

retangular.<br />

A taxa de armadura transversal (ρ w ) foi calculada de acordo com a equação<br />

14, sugerida por Saatcioglu e Razvi [21].<br />

ρ<br />

w<br />

=<br />

s⋅<br />

∑ A s<br />

( b + b )<br />

cx<br />

cy<br />

na qual, A s é a área da seção transversal do estribo; s é o espaçamento entre estribos;<br />

b cx e b cy são as dimensões do núcleo do pilar, medidas de centro a centro dos estribos.<br />

Além desses modelos armados, foram analisados experimentalmente oito<br />

modelos não armados, quatro de seção quadrada e quatro de seção retangular, para<br />

verificar o valor da variável k 2 , que leva em consideração a estimativa da resistência<br />

do concreto nas estruturas, quando avaliadas por meio dos corpos-de-prova, e se o<br />

valor se aproxima de 0,95, como sugere Fusco [8].<br />

(14)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />

83<br />

Série P1<br />

Série P2<br />

Série P3<br />

150<br />

150<br />

200<br />

150<br />

145<br />

200<br />

15<br />

244<br />

300<br />

15<br />

50<br />

170<br />

170 50<br />

270<br />

Série P4<br />

120<br />

1200<br />

15<br />

25<br />

15<br />

150<br />

900<br />

75<br />

244<br />

300<br />

15<br />

244<br />

300<br />

15<br />

150<br />

50<br />

270<br />

50<br />

120<br />

120<br />

120<br />

50<br />

150<br />

120<br />

Dimensões em milímetros<br />

Figura 4 – Configuração das armaduras transversais e suas dimensões<br />

Tabela 2 – Propriedades geométricas dos modelos de pilares<br />

Modelo de Pilar<br />

Medidas da<br />

seção<br />

(mm×mm)<br />

Armadura transversal<br />

Φ t<br />

(mm)<br />

s<br />

(mm) ρ w (%)<br />

Armadura longitudinal<br />

Número de<br />

barras<br />

Φ l (mm) ρ l (%)<br />

P1 – 10,0-120 200×200 5,0 120 0,198 4 10,0 0,79<br />

P1 – 12,5-200 200×200 6,3 200 0,189 4 12,5 1,23<br />

P1 – 12,5-150 200×200 6,3 150 0,252 4 12,5 1,23<br />

P1 – 12,5-100 200×200 6,3 100 0,378 4 12,5 1,23<br />

P2 – 10,0-120 150×300 5,0 120 0,172 6 10,0 1,05<br />

P2 – 12,5-150 150×300 6,3 150 0,219 6 12,5 1,64<br />

P2 – 12,5-100 150×300 6,3 100 0,328 6 12,5 1,64<br />

P2 – 12,5-075 150×300 6,3 75 0,438 6 12,5 1,64<br />

P3 – 10,0-120 150×300 5,0 120 0,215 6 10,0 1,05<br />

P3 – 12,5-150 150×300 6,3 150 0,274 6 12,5 1,64<br />

P3 – 12,5-100 150×300 6,3 100 0,412 6 12,5 1,64<br />

P3 – 12,5-075 150×300 6,3 75 0,549 6 12,5 1,64<br />

P4 – 10,0-120 150×300 5,0 120 0,259 6 10,0 1,05<br />

P4 – 12,5-150 150×300 6,3 150 0,330 6 12,5 1,64<br />

P4 – 12,5-100 150×300 6,3 100 0,495 6 12,5 1,64<br />

P4 – 12,5-075 150×300 6,3 75 0,660 6 12,5 1,64<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


84<br />

Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />

Os modelos foram ensaiados com força estática controlada por deslocamento<br />

imposto. A taxa de deformação em todos os casos foi de 0,005mm/m⋅s no trecho<br />

ascendente do diagrama força vs. deformação, conforme especificação do RILEM TC<br />

148-CCS [20], e de 0,01mm/m⋅s no trecho descendente. O tempo de duração de cada<br />

ensaio foi de aproximadamente 25min. Dois colares metálicos foram dispostos nas<br />

extremidades dos modelos, figura 5, com a finalidade de suporte para a<br />

instrumentação e prevenção da ruína prematura dessa região. Foram dispostos 4<br />

LVDTs, junto ao colar, com 50mm de curso cada e sensibilidade de centésimos de<br />

milímetros, para medir as deformações longitudinais dos modelos.<br />

A figura 7 apresenta a fotografia do ensaio de um dos pilares de seção<br />

quadrada. A figura 8 apresenta a fotografia de um dos pilares de seção retangular. A<br />

figura 9 apresenta o ensaio de corpos-de-prova para determinação do módulo de<br />

elasticidade do concreto. A figura 10 apresenta o ensaio de um dos pilares não<br />

armados, que foi utilizado para determinar o valor da variável k 2 .<br />

Parafusos e<br />

porcas de<br />

alta<br />

resistência<br />

LVDT<br />

Figura 5 – Colar metálico e LVDTs.<br />

A instrumentação das armaduras foi feita como mostrado na figura 6.<br />

Detalhe<br />

Strain<br />

gage<br />

Figura 6 – Detalhe da instrumentação de um dos modelos da série P4<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />

85<br />

Figura 7 – Ensaio do pilar P1-12,5-200<br />

Figura 8 – Ensaio do pilar P2-12,5-100<br />

Figura 9 – Ensaio para determinação do<br />

módulo de elasticidade do concreto<br />

Figura 10 – Ensaio de um pilar não armado<br />

4 RESULTADOS DOS ENSAIOS EXPERIMENTAIS E NUMÉRICOS<br />

4.1 Previsão da força última<br />

Os ensaios foram realizados no Laboratório de Estruturas do Departamento<br />

de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> da Universidade<br />

de São Paulo. O dispositivo utilizado foi a máquina com sistema hidráulico e controle<br />

eletrônico da marca INSTRON, que possibilitou a aquisição dos dados no trecho pós-<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


86<br />

Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />

pico para traçado do diagrama tensão vs. deformação, pois trabalha com taxa de<br />

deslocamento controlada.<br />

A força teórica resistente dos pilares foi calculada pela equação 15,<br />

F<br />

teo<br />

= A<br />

cc<br />

⋅ f<br />

c<br />

+ A<br />

s<br />

⋅ σ<br />

s<br />

(15)<br />

sendo que, A cc é a área da seção transversal de concreto (h x · h y ) subtraída a área de<br />

armadura longitudinal, f c é dado pela equação 6, As é a área de armadura longitudinal<br />

e σ s é a tensão na armadura no instante da ruptura do modelo determinado pela<br />

deformação nas barras da armadura do pilar e seu valor correspondente no diagrama<br />

tensão vs. deformação determinado nos ensaios das barras.<br />

O valor de f c é determinado pela resistência do concreto medida por meio de<br />

corpos-de-prova cilíndricos, multiplicado pelo coeficiente k, determinado pela equação<br />

7. Neste trabalho, os pilares foram ensaiados aos 14 dias de idade, portanto, os<br />

valores de k 1 e k 3 forão tomados iguais a 1. O valor de k 2 foi determinado pela relação<br />

entre a resistência medida em prismas de concreto e pela resistência medida por<br />

meio dos corpos-de-prova cilíndricos. A tabela 3 apresenta, entre outros dados, a<br />

previsão da força última nos pilares e os valores das forças últimas experimentais.<br />

Tabela 3 – Forças últimas teóricas e experimentais<br />

Modelo<br />

f cj<br />

(MPa)<br />

f c,prisma<br />

(MPa)<br />

h y<br />

(cm)<br />

h x<br />

(cm)<br />

A s<br />

(cm²)<br />

σ s<br />

(MPa)<br />

k 2<br />

F teo<br />

(kN)<br />

F exp<br />

(kN)<br />

P1-10,0-120 46,57 40,56 20 20 3,14 579,0 0,871 1791,42 1732,4 1,034<br />

P1-12,5-200 46,29 41,29 15 30 4,91 556,5 0,892 2110,73 1810,6 1,166<br />

P1-12,5-150 46,30 40,47 15 30 4,91 556,5 0,874 2074,46 1939,1 1,070<br />

P1-12,5-100 43,89 42,26 15 30 4,91 556,5 0,963 2154,13 1880,1 1,146<br />

P2-10,0-120 46,08 40,56 20 20 4,71 590,0 0,880 1881,20 2022,7 0,930<br />

P2-12,5-150 45,01 41,29 15 30 7,36 556,5 0,917 2237,18 23<strong>35</strong>,1 0,958<br />

P2-12,5-100 43,18 40,47 15 30 7,36 556,5 0,937 2201,11 1985,5 1,109<br />

P2-12,5-075 43,07 42,26 15 30 7,36 556,5 0,981 2280,34 2099,0 1,086<br />

P3-10,0-120 46,08 41,07 20 20 4,71 590,0 0,891 1901,48 2054,6 0,925<br />

P3-12,5-150 45,01 38,81 15 30 7,36 556,5 0,862 2127,63 2266,5 0,939<br />

P3-12,5-100 43,41 40,80 15 30 7,36 556,5 0,940 2215,72 2283,2 0,970<br />

P3-12,5-075 42,55 40,95 15 30 7,36 556,5 0,962 2222,36 2159,3 1,029<br />

P4-10,0-120 46,08 41,07 20 20 4,71 590,0 0,891 1901,48 1951,9 0,974<br />

P4-12,5-150 45,01 38,81 15 30 7,36 556,5 0,862 2127,63 2295,7 0,927<br />

P4-12,5-100 43,41 40,80 15 30 7,36 556,5 0,940 2215,72 2084,9 1,063<br />

P4-12,5-075 42,55 40,95 15 30 7,36 556,5 0,962 2222,36 2042,4 1,088<br />

F<br />

F<br />

teo<br />

exp<br />

0,91 1,026<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />

87<br />

4.2 Resultados numéricos<br />

Os valores das forças teóricas também foram calculados usando o modelo<br />

numérico (F num ) descrito anteriormente, considerando os dados da tabela 4. Os<br />

modelos numéricos foram simulados levando em conta a resistência medida nos<br />

corpos-de-prova cilíndricos, f cj , nos dias dos ensaios e os dados obtidos nos ensaios<br />

das barras de armadura utilizadas.<br />

Tabela 4 – Resumo dos resultados dos ensaios e do programa utilizado<br />

Modelo<br />

f cj<br />

(MPa)<br />

h y<br />

(cm)<br />

h x<br />

(cm)<br />

ρ w<br />

(%)<br />

A s<br />

(cm²)<br />

σ s<br />

(MPa)<br />

F num<br />

(kN)<br />

F exp<br />

(kN)<br />

P1-10,0-120 46,57 20 20 0,198 3,14 578,96 1683,83 1732,4 0,972<br />

P1-12,5-200 46,29 15 30 0,189 4,91 556,50 1771,41 1810,6 0,978<br />

P1-12,5-150 46,30 15 30 0,252 4,91 556,50 1767,91 1939,1 0,912<br />

P1-12,5-100 43,89 15 30 0,378 4,91 556,50 1699,36 1880,1 0,904<br />

P2-10,0-120 46,08 20 20 0,172 4,71 590,00 1936,66 2022,7 0,957<br />

P2-12,5-150 45,01 15 30 0,219 7,36 556,50 2043,04 23<strong>35</strong>,1 0,875<br />

P2-12,5-100 43,18 15 30 0,328 7,36 556,50 1984,24 1985,5 0,999<br />

P2-12,5-075 43,07 15 30 0,438 7,36 556,50 1980,70 2099,0 0,944<br />

P3-10,0-120 46,08 20 20 0,215 4,71 590,00 1936,66 2054,6 0,943<br />

P3-12,5-150 45,01 15 30 0,274 7,36 556,50 2043,04 2266,5 0,901<br />

P3-12,5-100 43,41 15 30 0,412 7,36 556,50 1991,55 2283,2 0,872<br />

P3-12,5-075 42,55 15 30 0,549 7,36 556,50 1963,91 2159,3 0,910<br />

P4-10,0-120 46,08 20 20 0,259 4,71 590,00 1936,66 1951,9 0,992<br />

P4-12,5-150 45,01 15 30 0,330 7,36 556,50 2043,04 2295,7 0,890<br />

P4-12,5-100 43,41 15 30 0,495 7,36 556,50 1991,55 2084,9 0,955<br />

P4-12,5-075 42,55 15 30 0,660 7,36 556,50 1963,91 2042,4 0,962<br />

F<br />

F<br />

num<br />

exp<br />

A diferença entre os valores das forças últimas calculadas pela equação 15<br />

(tabela 3) e numericamente (tabela 4) deve-se ao fato de a variável k 2 no modelo<br />

numérico ser determinada pela equação 8, e ser utilizado o método dos elementos<br />

finitos para discretização do problema.<br />

As figuras 11 a 14 apresentam os diagramas tensão vs. deformação dos<br />

pilares obtidos com os dados experimentais e numéricos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


88<br />

Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />

-1800<br />

-1600<br />

-2200<br />

-2000<br />

-1400<br />

F experimental = 1732,4kN<br />

F numérico = 1683,83kN<br />

-1800<br />

-1600<br />

F experimental = 2099,0kN<br />

F numérico = 1980,7kN<br />

-1200<br />

-1400<br />

Força (kN)<br />

-1000<br />

-800<br />

Força (kN)<br />

-1200<br />

-1000<br />

-600<br />

-800<br />

-600<br />

-400<br />

-400<br />

-200<br />

-200<br />

0<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

-5<br />

-6 -7 -8 -9<br />

Deformação (‰)<br />

-10<br />

-11<br />

-12<br />

-13<br />

-14<br />

-15<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

-5<br />

-6 -7 -8 -9<br />

Deformação (‰)<br />

-10<br />

-11<br />

-12<br />

-13<br />

-14<br />

-15<br />

Figura 11 – Curvas do pilar P1-10,0-120<br />

Figura 12 – Curvas do pilar P2-12,5-075<br />

-2400<br />

-2400<br />

-2200<br />

-2200<br />

-2000<br />

F experimental = 2266,5kN<br />

-2000<br />

F experimental = 2295,7kN<br />

-1800<br />

F numérico = 2043,04kN<br />

-1800<br />

F numérico = 2043,04kN<br />

-1600<br />

-1600<br />

Força (kN)<br />

-1400<br />

-1200<br />

-1000<br />

Força (kN)<br />

-1400<br />

-1200<br />

-1000<br />

-800<br />

-800<br />

-600<br />

-600<br />

-400<br />

-400<br />

-200<br />

-200<br />

0<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

-5<br />

-6 -7 -8 -9<br />

Deformação (‰)<br />

-10<br />

-11<br />

-12<br />

-13<br />

-14<br />

-15<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

-5<br />

-6 -7 -8 -9<br />

Deformação (‰)<br />

-10<br />

-11<br />

-12<br />

-13<br />

-14<br />

-15<br />

Figura 13 – Curvas do pilar P3-12,5-150<br />

Figura 14 – Curvas do pilar P4-12,5-150<br />

5 DUCTILIDADE<br />

Ductilidade é a capacidade do material ou do elemento estrutural de se<br />

deformar inelasticamente sem perda brusca de resistência. Pesquisas têm apontado<br />

uma série de parâmetros que influenciam o comportamento de pilares com relação à<br />

ductilidade, sejam elas: taxa volumétrica de armadura transversal e sua resistência de<br />

escoamento e resistência à compressão do concreto.<br />

A quantificação da ductilidade foi feita seguindo a metodologia desenvolvida<br />

por Lima Júnior e Giongo [12], que calcula índices de ductilidade para os trechos<br />

ascendente e descendente do diagrama tensão vs. deformação. As equações são<br />

apresentadas a seguir:<br />

ID pré<br />

ε<br />

=<br />

ε<br />

p−pré<br />

máx<br />

(16)<br />

na qual,<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />

89<br />

ε<br />

p−pré<br />

2 ⋅<br />

=<br />

∫ ε<br />

0<br />

máx<br />

F<br />

f<br />

( ε )<br />

máx<br />

c<br />

dε<br />

c<br />

Fmáx<br />

−<br />

E ⋅ A<br />

c<br />

c<br />

(17)<br />

sendo, ε máx a deformação correspondente a força última; ε p-pré a deformação plástica<br />

de pré-pico; f(ε c ) o polinômio que representa a curva tensão vs. deformação<br />

experimental, obtido por meio de uma regressão polinomial; F máx a força última do<br />

elemento estrutural; A c a área da seção transversal do pilar; E c o módulo de<br />

elasticidade tangente na origem.<br />

ID pré varia de 0 (comportamento elástico-linear) a 2 (comportamento plásticoperfeito).<br />

ID<br />

c 2<br />

f<br />

máx<br />

pós = ∫ε ε<br />

εmáx<br />

( ε )<br />

c<br />

⋅F<br />

dε<br />

máx<br />

c<br />

(18)<br />

sendo, ε c2 igual a três vezes ε máx.<br />

ID PÓS varia de 0 (comportamento frágil-perfeito) a 2 (comportamento plásticoperfeito).<br />

A tabela 5 apresenta os índices de ductilidade calculados a partir dos dados<br />

experimentais e das equações propostas por Lima Júnior e Giongo [12].<br />

Tabela 5 – Índices de ductilidade<br />

Modelo ρ w (%) f cj (MPa) ID pré ID pós<br />

P1-10,0-120 0,198 46,57 1,341 0,640<br />

P1-12,5-200 0,189 46,29 1,313 0,593<br />

P1-12,5-150 0,252 46,30 1,316 0,666<br />

P1-12,5-100 0,378 43,89 1,282 0,962<br />

P2-10,0-120 0,172 46,08 1,328 0,801<br />

P2-12,5-150 0,219 45,01 1,233 0,844<br />

P2-12,5-100 0,328 43,18 1,336 0,995<br />

P2-12,5-075 0,438 43,07 1,421 1,049<br />

P3-10,0-120 0,215 46,08 1,267 0,691<br />

P3-12,5-150 0,274 45,01 1,318 1,008<br />

P3-12,5-100 0,412 43,41 1,300 1,166<br />

P3-12,5-075 0,549 42,55 1,372 1,323<br />

P4-10,0-120 0,259 46,08 1,269 0,955<br />

P4-12,5-150 0,330 45,01 1,307 0,870<br />

P4-12,5-100 0,495 43,41 1,309 1,516<br />

P4-12,5-075 0,660 42,55 1,310 1,6<strong>35</strong><br />

Aos dados experimentais deste trabalho foram acrescentados os resultados<br />

de pesquisas anteriores, para melhor definição da ductilidade pós pico em função da<br />

resistência do concreto e da taxa de armadura transversal. Foram tomados os dados<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


90<br />

Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />

das pesquisas de Lima Júnior [11], e Ramos [19] para o traçado de uma superfície<br />

(figura 15) que represente este parâmetro.<br />

ID pós<br />

ρ w<br />

(%)<br />

f cj (MPa)<br />

Figura 15 – Superfície que representa o índice de ductilidade em função da resistência do<br />

concreto e da taxa de armadura transversal.<br />

Essa superfície foi desenhada fazendo-se uma regressão polinomial<br />

considerando duas variáveis obtendo-se, assim, a equação 19, que apresenta uma<br />

correlação de 88,06% para os pontos fornecidos,<br />

ID<br />

pós<br />

= 1,91−<br />

0,052 ⋅ x + 2,49 ⋅ y + 0,0083 ⋅ x ⋅ y + 0,000338 ⋅ x<br />

2<br />

−1,7<br />

⋅ y<br />

2<br />

(19)<br />

sendo que, x representa a resistência do concreto f cj (MPa) e y a taxa de armadura<br />

transversal ρ w (%).<br />

Pode-se notar no gráfico que o índice de ductilidade é diretamente<br />

proporcional a taxa de armadura transversal e inversamente proporcional a resistência<br />

do concreto, assim, para que se tenha um comportamento dúctil em pilares de<br />

concreto de alta resistência, é necessária a utilização de uma maior taxa de armadura<br />

transversal para promover esse ganho de ductilidade.<br />

O ganho de ductilidade em virtude do aumento da taxa de armadura<br />

transversal, mantendo-se a resistência do concreto constante, pode ser observado<br />

nas figuras 16, 17, 18 e 19, para os pilares das séries P1, P2, P3 e P4,<br />

respectivamente, sendo que apenas os pilares com armadura longitudinal de 12,5mm<br />

de diâmetro foram analisados, para que não houvesse influência pela variação do<br />

diâmetro e pela taxa de armadura longitudinal. O que diferencia cada modelo em uma<br />

série é o espaçamento da armadura transversal.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />

91<br />

-2500<br />

-2500<br />

Modelos<br />

Modelos<br />

-2000<br />

P1-12.5-200<br />

P1-12.5-150<br />

P1-12.5-100<br />

-2000<br />

P2-12.5-150<br />

P2-12.5-100<br />

P2-12.5-075<br />

Força (kN)<br />

-1500<br />

-1000<br />

145<br />

200<br />

200<br />

15<br />

Força (kN)<br />

-1500<br />

-1000<br />

-500<br />

-500<br />

244<br />

300<br />

150<br />

15<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

-5<br />

-6 -7 -8 -9<br />

Deformação (‰)<br />

-10<br />

-11<br />

-12<br />

-13<br />

-14<br />

-15<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

-5<br />

-6 -7 -8 -9<br />

Deformação (‰)<br />

-10<br />

-11<br />

-12<br />

-13<br />

-14<br />

-15<br />

Figura 16 – Pilares da série P1<br />

Figura 17 – Pilares da série P2<br />

-2500<br />

-2500<br />

Modelos<br />

Modelos<br />

-2000<br />

P3-12.5-150<br />

P3-12.5-100<br />

-2000<br />

P4-12.5-150<br />

P4-12.5-100<br />

P3-12.5-075<br />

P4-12.5-075<br />

-1500<br />

-1500<br />

Força (kN)<br />

-1000<br />

Força (kN)<br />

-1000<br />

-500<br />

244<br />

300<br />

150<br />

15<br />

-500<br />

244<br />

300<br />

150<br />

15<br />

0<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

-5<br />

-6 -7 -8 -9<br />

Deformação (‰)<br />

-10<br />

-11<br />

-12<br />

-13<br />

-14<br />

-15<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

-5<br />

-6 -7 -8 -9<br />

Deformação (‰)<br />

-10<br />

-11<br />

-12<br />

-13<br />

-14<br />

-15<br />

Figura 18 – Pilares da série P3<br />

Figura 19 – Pilares da série P4<br />

O pilar P1-12,5-200, que foi dimensionado fora das exigências da NBR<br />

6118:2003, apresentou o pior comportamento dentre todos os estudados. Com taxa<br />

de armadura transversal de 0,189%, apresentou índice de ductilidade pós pico igual a<br />

0,593, que caracteriza um comportamento frágil. Os outros pilares da série P1<br />

mostraram-se melhores, com índice de ductilidade de 0,962 para o P1-12,5-100.<br />

As diferenças entre as forças de pico para os pilares de uma mesma série<br />

devem-se ao fato que os mesmos foram moldados em dias diferentes. Apesar de ser<br />

usado o mesmo traço, as condições de temperatura e umidade influenciaram nas<br />

trabalhabilidades e, conseqüentemente, nas resistências finais dos modelos.<br />

Os pilares P4-12,5-100 e P4-12,5-075, com taxas de armaduras transversais<br />

iguais a 0,495% e 0,66%, respectivamente, apresentaram os melhores<br />

comportamentos no tocante a ductilidade. Seus índices de ductilidade superaram 1,5,<br />

indicando comportamento plástico quase perfeito. Esses pilares, após atingirem os<br />

seus picos de resistência, apresentaram acréscimo na capacidade resistente,<br />

deformando-se sem perder resistência até, aproximadamente, a deformação média de<br />

7‰, calculada com as deformações nas faces do pilar, como visto na figura 19.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


92<br />

Walter Luiz Andrade de Oliveira & José Samuel Giongo<br />

6 CONCLUSÕES<br />

A consideração do coeficiente k 2 em função da resistência do concreto<br />

demonstrou ser a maneira mais correta quando se deseja prever a força última teórica<br />

em um pilar. As forças últimas teóricas avaliadas na tabela 3 apresentaram valores<br />

muito bons quando comparados com as forças experimentais, resultando em uma<br />

diferença de 2,6%, em média. O valor 0,95 é seguro quando se trabalha com<br />

concretos de resistências inferiores a 25MPa, para concretos com resistências<br />

superiores esse valor tende a ser menor como sugere a NS 3473 E [16].<br />

A utilização da variável k 2 em função da resistência do concreto torna<br />

possível o dimensionamento de pilares de concreto de alta resistência considerandose<br />

a seção íntegra ao invés da seção do núcleo, contudo são necessários mais<br />

estudos para uma melhor consideração desta variável.<br />

Os valores das forças teóricas obtidas com o programa computacional<br />

mostraram-se conservativos. Para todos os modelos os valores das forças últimas<br />

calculados pelo programa foram, em média, 6,5% inferiores aos das forças últimas<br />

experimentais. O modelo de Cusson e Paultre [6] modificado por Lima Júnior [11]<br />

conseguiu representar as curvas experimentais de modo razoável, como visto nas<br />

figuras 11 a 14.<br />

O critério para quantificação da ductilidade apresentou-se adequado à<br />

análise proposta. Os dados experimentais mostraram que a ductilidade é um fator<br />

ligado diretamente a taxa de armadura transversal e inversamente proporcional à<br />

resistência do concreto. Para uma mesma taxa de armadura transversal, o valor do<br />

índice de ductilidade pós pico em um pilar de concreto de resistência usual pode ser<br />

duas vezes maior do que em um pilar de concreto de alta resistência, assim é<br />

necessário que se utilize alta taxa de armadura transversal, maior em um pilar de<br />

concreto de alta resistência, para que esse apresente a mesma ductilidade do pilar de<br />

menor resistência. Considerando a equação 19, um concreto com resistência 30MPa<br />

e taxa de armadura transversal de 0,25% apresenta índice de ductilidade pós pico<br />

igual a 1,23. Para que um pilar moldado com concreto de resistência 60MPa<br />

apresente o mesmo valor para o índice de ductilidade, é necessário que ele possua<br />

uma taxa de armadura transversal de 0,65%.<br />

Para uma mesma resistência, variando apenas a taxa de armadura<br />

transversal, os índices de ductilidade pós-pico apresentaram diferenças em seus<br />

valores para os pilares de uma mesma série, como visto nas figuras 16 a 19 e<br />

disposto na tabela 5.<br />

7 AGRADECIMENTOS<br />

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES<br />

– pela bolsa de mestrado concedida que permitiu a realização do trabalho.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 75-94, <strong>2006</strong>


Análise teórica e experimental de pilares de concreto armado sob ação de força centrada<br />

93<br />

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ISSN 1809-5860<br />

AVALIAÇÃO DO COEFICIENTE DE FORMA DA<br />

SEÇÃO TRANSVERSAL E SUAS IMPLICAÇÕES NO<br />

DESEMPENHO DE PILARES REFORÇADOS COM<br />

PRFC<br />

Alexandre Luis Sudano 1 & João Bento de Hanai 2<br />

Resumo<br />

Este trabalho tem como objetivo central o estudo de vários tipos de seção transversal<br />

com o intuito de avaliar a sua influência na eficiência do reforço e na ductilidade de<br />

pilares de concreto encamisados com polímeros reforçados com fibra de carbono<br />

(PRFC). Para tal, foram realizadas simulações experimentais com pilares de seção<br />

transversal circular, quadrada e retangular com os cantos arredondados, elíptica e<br />

uma seção composta por semicírculos. Os resultados demonstram que uma forma de<br />

seção transversal adequada é essencial para um bom desempenho do pilar reforçado.<br />

Palavras-chave: reforço de pilares - confinamento; reforço de pilares -<br />

encamisamento; fibra de carbono; ductilidade e tenacidade; forma da seção<br />

transversal.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Sabe-se que o efeito de confinamento do concreto em pilares submetidos à<br />

compressão axial e excêntrica traz diversos benefícios ao seu comportamento<br />

estrutural:<br />

• aumenta a resistência à compressão axial do concreto pela ação das pressões<br />

laterais;<br />

• melhora a ductilidade do elemento estrutural, especialmente importante no<br />

caso de aplicação de concreto de alta resistência;<br />

• favorece a contribuição efetiva do núcleo (seção do pilar de concreto préexistente)<br />

no caso de reforço por encamisamento com concreto armado ou<br />

compósitos de alto desempenho, como o de fibra de carbono;<br />

• favorece a redistribuição de tensões no conjunto concreto antigo/novo, que<br />

estão sujeitos aos efeitos de pré-carregamento e deformações do concreto<br />

dependentes do tempo.<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, alsudano@sc.usp.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jbhanai@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


96<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

Ilustra-se na Figura 1 algumas situações de confinamento no caso de pilares<br />

de seção transversal circular ou quadrada, sujeitos à compressão axial. Em cada um<br />

dos esquemas de seção transversal, as áreas hachuradas correspondem às partes da<br />

seção que estão sujeitas a pressões de confinamento dadas pela armadura ou<br />

membrana de compósito em seu contorno.<br />

(a) (b) (c) (d)<br />

Figura 1 - Ilustração de algumas situações de confinamento: (a) seção circular, núcleo<br />

confinado pela armadura transversal em espiral; (b) seção circular, núcleo confinado por<br />

compósito polimérico aplicado na superfície externa, contando-se ainda com o efeito adicional<br />

de confinamento dado pela armadura interna em espiral no núcleo mais interno; (c) seção<br />

quadrada, núcleo confinado por estribos e armadura longitudinal; (d) seção quadrada, núcleo<br />

confinado por compósito polimérico aplicado na superfície externa, contando-se ainda com o<br />

efeito adicional de confinamento dado pela armadura mais interna de estribos.<br />

No caso de pilares de seção transversal quadrada ou retangular, o reforço é<br />

particularmente dificultado em função da ocorrência de pressões não uniformes de<br />

confinamento no pilar original, sendo este o próprio núcleo confinado. Esta não<br />

uniformidade deve-se ao efeito de arqueamento, que provoca concentração de<br />

tensões nos cantos da seção transversal do pilar original. No caso do reforço com<br />

PRF este fato é extremamente importante, uma vez que a concentração de tensões<br />

em um determinado ponto causa a ruptura pré-matura da camisa de reforço,<br />

diminuindo assim a sua eficiência.<br />

Em pilares de seção circular a pressão de confinamento é uniformemente<br />

distribuída na seção transversal, já que nesta não existe o efeito de arqueamento.<br />

Não existindo concentração de tensões em pontos localizados, o reforço por<br />

encamisamento com PRF apresenta a sua maior eficiência. Sendo assim, quanto<br />

mais próxima da circular for a seção do pilar a ser reforçado, mais uniforme será a<br />

distribuição das pressões de confinamento e, conseqüentemente, maior será a<br />

eficiência do reforço.<br />

Para quantificar a proximidade entre a seção do pilar a ser reforçado e a<br />

circular, utiliza-se um coeficiente de forma que minora a pressão de confinamento<br />

para pilares de seção diferente da circular. Este coeficiente nada mais é do que a<br />

relação entre a área do núcleo efetivamente confinado e a área total da seção<br />

transversal. Quanto mais próximo da unidade for o coeficiente de forma, maior será<br />

uniformidade da pressão de confinamento.<br />

Vários autores propõem equações para o cálculo do coeficiente de forma,<br />

Mander et al. (1988), Razvi & Saatcioglu (1999), Teng & Lam (2002), Campione &<br />

Miraglia (2003), entre outros. A determinação deste coeficiente fica limitada pela<br />

dificuldade existente na quantificação da área do núcleo efetivamente confinado. Por<br />

causa desta dificuldade, todos os autores que propõem uma equação para a<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

97<br />

determinação do coeficiente de forma, o fazem em função das características<br />

geométricas da seção transversal do pilar.<br />

A principal alternativa para aproximar o coeficiente de forma da unidade e<br />

conseqüentemente potencializar o efeito de confinamento no reforço de pilares de<br />

seção transversal quadrada ou retangular, é a mudança da forma de sua seção. Esta<br />

mudança é geralmente feita com o arredondamento dos cantos da seção transversal,<br />

diminuindo assim a concentração de tensão nestes pontos (Figura 2).<br />

Distribuição da pressão de confinamento<br />

Figura 2 - Distribuição da pressão de confinamento antes e depois do reforço com PRF e<br />

arredondamento dos cantos.<br />

Na tentativa de aumentar o coeficiente de forma e conseqüentemente a<br />

eficiência do reforço, pode-se melhorar ainda mais a distribuição da pressão de<br />

confinamento. Para isso, pode-se estudar mudanças mais apreciáveis na forma da<br />

seção transversal. Esta mudança pode ser, por exemplo, transformar a seção<br />

transversal retangular numa elíptica ou em qualquer outra forma geométrica que seja<br />

capaz de conduzir a pressões de confinamento mais próximas da uniforme.<br />

Considerando em particular, que as formas geométricas circulares e calotas<br />

esféricas são as mais adequadas para resistir por tração à pressão interna radial<br />

(efeito de membrana), procura-se neste trabalho estudar tais formas, além da elíptica,<br />

para verificar a sua eficiência na distribuição das pressões de confinamento, avaliada<br />

com base no coeficiente de forma.<br />

Ilustra-se na Figura 3, na forma de esquemas em perspectiva tridimensional,<br />

como poderiam ser as membranas de compósito da camisa de reforço.<br />

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98<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

(a)<br />

(b)<br />

(c)<br />

Figura 3 - Possíveis esquemas de arranjo de reforço transversal: a) seção transversal<br />

esquemática; b) pressões no reforço transversal; c) reforço transversal com curvatura simples.<br />

Portanto, neste trabalho foram estudados pilares de diversas seções<br />

transversais (Figura 4) com o objetivo de determinar a influência da forma da seção<br />

transversal no reforço de pilares de concreto encamisados com PRF, bem como fazer<br />

um estudo comparativo, baseado na tenacidade, ductilidade e eficiência do reforço,<br />

entre os pilares estudados.<br />

Figura 4 - Seções transversais dos pilares estudados.<br />

2 ASPECTOS TEÓRICOS<br />

A combinação de diferentes materiais para facilitar o uso e aumentar o<br />

desempenho, em relação a cada um de seus constituintes, tem sido uma estratégia<br />

de grande sucesso. Seguindo esta filosofia, surgiram os polímeros reforçados com<br />

fibras, PRF, que são filamentos fibrosos combinados com uma matriz de resina<br />

polimérica, inicialmente desenvolvidos para a indústria mecânica. Em função da<br />

facilidade de utilização e das elevadas resistências e módulo de elasticidade, este<br />

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Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

99<br />

material passou a ser utilizado também na construção civil, e conseqüentemente no<br />

reforço de pilares de concreto armado.<br />

Vários autores, Saadatmanesh & Ehsani (1994), Jones & Hanna (1997),<br />

Karbhari & Zhao (2000), Parvin & Wang (2000), citam as vantagens da utilização do<br />

PRF no reforço de pilares de concreto, entre elas destacam-se as altas relações<br />

resistência/peso e rigidez/peso, e a rapidez com que o reforço pode ser feito, se<br />

comparados com o reforço feito com a utilização do aço, por exemplo. Porém, existem<br />

também algumas desvantagens que devem ser mencionadas, como por exemplo, o<br />

alto custo inicial, a exposição ao fogo e vandalismo.<br />

Assim como no caso do reforço feito com aço, o reforço com PRF em pilares<br />

de seção transversal diferente da circular apresenta, sérios problemas de eficiência<br />

em função da concentração de tensões nos cantos, provocando a ruptura pré-matura<br />

do compósito, e da dificuldade de geração de pressões de confinamento semelhantes<br />

às que ocorrem no confinamento de pilares de seção circular. Para amenizar este<br />

problema promove-se uma mudança na forma da seção transversal por meio do<br />

arredondamento dos cantos ou transformado-a em uma forma mais próxima da<br />

circular.<br />

Para avaliar o desempenho de cada uma das formas utilizadas, são adotados<br />

como parâmetros de eficiência o coeficiente de forma, que quanto mais próximo da<br />

unidade for maior será a eficiência, e índices de tenacidade e ductilidade. A seguir são<br />

discutidos cada um destes parâmetros.<br />

2.1 Coeficiente de forma<br />

Conforme dito anteriormente, o coeficiente de forma é a relação entre a área<br />

efetivamente confinada e a área total da seção transversal. A dificuldade para o<br />

cálculo deste coeficiente está na determinação da área efetivamente confinada para<br />

as várias configurações da seção transversal. Em função desta dificuldade, as<br />

equações disponíveis para o cálculo deste coeficiente o fazem em função das<br />

propriedades geométricas da seção transversal do pilar a ser reforçado, sendo assim,<br />

esta equações são na sua maioria absoluta desenvolvidas para pilares de seção<br />

transversal quadrada e retangular com os cantos arredondados. Para que fosse<br />

possível uma comparação entre os vários tipos de seção transversal estudados neste<br />

trabalho, foi necessária a utilização de uma rotina de cálculo padronizada, para<br />

evidenciar apenas a influência da seção transversal no coeficiente de forma e<br />

conseqüentemente na eficiência do reforço.<br />

Teng & Lam (2002) propõem um método de previsão da capacidade<br />

resistente de pilares de concreto armado reforçados com PRF, inicialmente<br />

desenvolvido para a aplicação em pilares com seção transversal elíptica. Segundo os<br />

autores deste método de cálculo, a eficiência deste tipo de reforço depende da<br />

relação entre os semi-eixos maior (a) e menor (b) da elipse, quanto mais próximo da<br />

unidade for esta relação, maior será a eficiência do confinamento. Este fato justificase<br />

pela semelhança existente entre uma seção transversal elíptica com relação a/b<br />

próxima de 1 (um) e uma circular, onde as pressões laterais de confinamento são<br />

máximas.<br />

O comportamento tensão-deformação do pilar reforçado também é afetado<br />

pela relação a/b. Ensaios realizados por Teng & Lam (2002) revelam o<br />

comportamento bi-linear de pilares circulares e elípticos com relação a/b igual a 5/4, o<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


100<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

que já não foi observado para seções transversais elípticas com relação a/b maior, no<br />

caso da camisa de reforço ser formada por apenas uma camada de polímeros<br />

reforçado com fibra de carbono (PRFC). Quando o reforço foi feito com duas camadas<br />

de PRFC, o comportamento bi-linear do diagrama tensão-deformação também se<br />

estendeu aos pilares de seção transversal elíptica com relação a/b igual a 5/3.<br />

Aparentemente, para pilares elípticos com alta relação a/b e confinados com pequena<br />

quantidade de PRFC, a curva tensão-deformação não apresenta o segundo trecho<br />

linear, sendo este substituído por um trecho descendente, o que indica que o<br />

confinamento é limitado nestes pilares. Quanto à deformação axial na força de pico,<br />

os mesmos autores observaram que esta diminui à medida que a relação a/b<br />

aumenta.<br />

A distribuição das pressões de confinamento ao longo de seções transversais<br />

elípticas, ao contrário do que acontece com seções circulares, não é uniforme,<br />

portanto a eficiência do confinamento é reduzida se comparada com a que ocorre em<br />

pilares de seção transversal circular. Por este motivo, a pressão de confinamento<br />

utilizada na previsão da tensão axial máxima deve ser substituída por uma pressão de<br />

confinamento efetiva, obtendo-se assim a seguinte equação<br />

f = f + k<br />

(1)<br />

´<br />

cc<br />

c0<br />

´<br />

1. f<br />

l<br />

onde f´cc é a resistência do concreto confinado, f c0 é a resistência do concreto, K 1 é<br />

coeficiente de efetividade do confinamento e f´l´ é a pressão efetiva de confinamento,<br />

calculada por<br />

f ´ = K . f<br />

(2)<br />

l<br />

s<br />

l<br />

onde K s é o fator de forma e f l é a pressão de confinamento em um pilar de seção<br />

transversal circular equivalente. Para um pilar elíptico encamisado com PRF, o pilar<br />

de seção transversal circular equivalente é considerado como sendo um pilar com a<br />

mesma taxa volumétrica de PRF que na seção elíptica. Portanto a pressão de<br />

confinamento equivalente é calculada por<br />

f<br />

l<br />

ρ<br />

PRF<br />

. f<br />

PRF<br />

= (3)<br />

2<br />

onde f PRF é a resistência à tração do PRF, e ρ PRF é taxa volumétrica de PRF, que para<br />

a seção transversal elíptica é dada por<br />

[ 1,5.<br />

( a + b)<br />

− a.<br />

b]<br />

.<br />

t<br />

ρ<br />

PRF<br />

=<br />

(4)<br />

a.<br />

b<br />

sendo a e b os semi eixos maior e menor da elipse, respectivamente, e t é a<br />

espessura da camisa de reforço de PRF. Para o cálculo do fator de forma K s , Teng &<br />

Lam (2002) propõem a seguinte equação:<br />

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Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

101<br />

−2,30<br />

⎛ a ⎞<br />

K s<br />

= 1,06. ⎜ ⎟<br />

(5)<br />

⎝ b ⎠<br />

Com isso, a previsão da máxima tensão axial alcançada por pilares de seção<br />

transversal elíptica encamisado com PRF pode ser determinada.<br />

Embora este método de cálculo tenha sido inicialmente desenvolvido para a<br />

aplicação em pilares de seção transversal elíptica, ele se torna extremamente<br />

interessante para a análise dos resultados provenientes da simulação experimental<br />

realizada neste trabalho, uma vez que a pressão de confinamento é função apenas da<br />

taxa volumétrica e da resistência do PRF, independendo da forma da seção<br />

transversal do pilar. Sendo assim, torna-se possível a obtenção do coeficiente de<br />

forma, K s , para todas as configurações de seção transversal aqui apresentadas.<br />

2.2 Tenacidade e ductilidade<br />

As propriedades dos materiais utilizados no concreto armado melhoraram<br />

muito no que diz respeito à resistência, porém a baixa capacidade de deformação e a<br />

diminuição do alongamento sofrido pelo aço na ruptura acompanham este aumento<br />

de resistência. A ocorrência simultânea destes dois efeitos resulta na baixa ductilidade<br />

do concreto armado.<br />

A ductilidade é um atributo desejável em qualquer tipo de estrutura ou<br />

elemento estrutural, uma vez que ela representa a sua capacidade de deformação<br />

plástica antes da ruptura, sendo assim, uma estrutura ou elemento estrutural de<br />

pouca ou nenhuma ductilidade é qualificado como frágil. Já a tenacidade é uma<br />

medida da quantidade de energia que é absorvida por um material durante o processo<br />

de fraturamento. Um parâmetro indicativo da tenacidade é a área total sob a curva<br />

tensão-deformação do material, obtida em ensaio com deformação controlada,<br />

abrangendo as fases pré-pico e pós-pico de resistência.<br />

Segundo o FIP - CEB 242 (1998), a importância da ductilidade dos elementos<br />

de concreto armado é evidenciada pela possibilidade de:<br />

• advertência antes do colapso de estruturas estaticamente determinadas e<br />

indeterminadas, por grandes deflexões;<br />

• análise elástica - linear com redistribuição de momentos, quando se requer<br />

uma capacidade de rotação nas áreas plásticas para calcular o suposto grau<br />

de redistribuição;<br />

• análise elasto – plástica, quando é baseada na superposição da plasticidade<br />

indefinida de um elemento;<br />

• métodos de equilíbrio, válidos somente se a compatibilização dos<br />

deslocamentos for obtida. Para aplicar estes modelos, a armadura necessária<br />

deve ser suficientemente dúctil para permitir a mudança da distribuição<br />

elástica de tensões (particularmente na armadura de combate ao<br />

cisalhamento);<br />

• resistência contra deformações impostas, quando requer adaptabilidade<br />

plástica da estrutura para evitar tensões inaceitáveis, usualmente não<br />

calculadas;<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


102<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

• habilidade para resistir a impactos locais imprevistos e forças acidentais<br />

externas;<br />

• redistribuição das forças internas em estruturas estaticamente indeterminadas<br />

sob ataque de fogo, e;<br />

• energia dissipada em carregamento cíclico.<br />

Não existem normas específicas para, quantificar a ductilidade dos elementos<br />

de concreto armado. No entanto, existem alguns métodos que tentam quantificar a<br />

ductilidade, como por exemplo, o método de Ahmad (1992) e do encurtamento<br />

percentual. Quanto a tenacidade à compressão, a norma japonesa JSCE SF 5 (1984)<br />

apresenta uma formulação para o cálculo deste índice. A seguir são descritos cada<br />

um destes métodos de calculo.<br />

2.2.1 JSCE SF 5 (1984)<br />

A avaliação da ductilidade é feita em termos da tenacidade do concreto. Para<br />

isto, será utilizada a norma JSCE SF5 (1984). Esta norma é aplicável à avaliação da<br />

tenacidade do concreto submetido à compressão.<br />

A tenacidade à compressão é expressa pelo índice de tenacidade, calculado<br />

pela seguinte equação.<br />

σ<br />

c<br />

τ<br />

Aδ .<br />

c<br />

= (6)<br />

tc<br />

onde: σ<br />

c<br />

é o índice de tenacidade à compressão, τ c é a área sob a curva força x<br />

deslocamento, obtida através de ensaios com controle de deslocamento e com os<br />

deslocamentos medidos no meio do vão central, até o limite de deslocamento, δ tc é o<br />

deslocamento vertical (limite de deslocamento) correspondente a 0,75% de L/2, e; A é<br />

a área da seção transversal do corpo-de-prova..<br />

Se a ruína do elemento ocorrer antes que o deslocamento limite seja atingido,<br />

o valor de δ tc utilizado no cálculo de σ<br />

c<br />

, deve ser igual ao máximo deslocamento<br />

registrado.<br />

2.2.2 Método de Ahmad (1992)<br />

Ahmad (1992), analisa o trecho descendente do diagrama tensão-deformação<br />

obtido a partir de ensaios de compressão axial para a quantificação da ductilidade do<br />

concreto. Ahmad caracteriza a ductilidade do concreto pela relação:<br />

ID<br />

ε<br />

0,5<br />

1= (7)<br />

ε<br />

c,<br />

o<br />

onde ε<br />

0, 5<br />

é a deformação do concreto, no trecho descendente do diagrama tensão x<br />

deformação, correspondente a 0,5·f co , sendo f co e ε<br />

c0<br />

referentes ao pico da curva.<br />

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Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

103<br />

Pode-se também analisar a ductilidade pelo trecho ascendente, utilizando a<br />

relação:<br />

ε<br />

c<br />

ID 0<br />

ε<br />

2 = (8)<br />

e<br />

onde ε<br />

e<br />

é a deformação elástica equivalente à tensão máxima obtida com o módulo<br />

tangente à origem. Em ambas as formulações a ductilidade do concreto reduz-se com<br />

o aumento da resistência.<br />

2.2.3 Encurtamento percentual<br />

Uma vez que a ductilidade é a capacidade de deformação plástica antes da<br />

ruptura, o estudo da ductilidade de barras de aço pode ser feito baseando-se no seu<br />

alongamento percentual. Analogamente, podemos analisar o comportamento de<br />

pilares de concreto submetidos à compressão, pelo seu encurtamento percentual,<br />

dado por:<br />

E<br />

%<br />

l<br />

f<br />

−<br />

l<br />

0<br />

l<br />

0<br />

.100<br />

= (9)<br />

3 PROGRAMA EXPERIMENTAL<br />

O programa experimental foi inteiramente voltado para a determinação da<br />

influência da forma da seção transversal na resistência, ductilidade e tenacidade de<br />

pilares de concreto encamisados com polímeros reforçados com fibras de carbono.<br />

Sendo assim, foram feitos 20 ensaios, de compressão axial com controle de<br />

deslocamento, em modelos com diferentes tipos de seção transversal, sendo 4<br />

modelos com seção transversal circular, 4 de seção quadrada com os cantos<br />

arredondados, 4 de seção retangular com os cantos arredondados, 4 de seção<br />

elíptica e 4 de seção composta por semi-círculos. Para todos os tipos de seção<br />

transversal, 2 modelos foram ensaiados sem a camisa de reforço e 2 com duas<br />

camadas de polímero reforçado com fibra de carbono (PRFC). A Figura 5 e a<br />

Tabela 1 apresentam as propriedades geométricas dos modelos ensaiados.<br />

Figura 5 - Seção transversal dos modelos.<br />

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104<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

O concreto utilizado foi projetado para fornecer 30 MPa aos 14 dias, porém<br />

houve um atraso no cronograma de ensaios e a resistência do concreto na data de<br />

ensaio foi de aproximadamente 40 MPa. A dosagem utilizada é apresentada na<br />

Tabela 2. O tipo de fibra utilizado no PRF foi um tecido unidirecional de fibra de<br />

carbono (Figura 6) e a resina foi a epóxi.<br />

Analisando cuidadosamente o modelo de seção transversal composta,<br />

percebe-se que quando este for submetido à compressão axial, existirá a tendência<br />

de retificação dos lados maiores. Esta tendência surge em função da distribuição das<br />

pressões internas no trecho em vermelho da Figura 7.<br />

Para garantir que o modelo mantenha esta forma, faz-se necessário o uso de<br />

um dispositivo que impeça que o trecho em questão mude a sua forma. Tal dispositivo<br />

é composto por duas peças rígidas de aço com seção transversal inicialmente<br />

quadrada de 5 x 5 cm porém, para que haja um encaixe perfeito entre estas peças e o<br />

modelo, um dos lados da peça de aço deve apresentar a mesma curvatura do trecho<br />

em questão. Estas peças são presas ao modelo por meio de tirantes que o<br />

atravessam. Os tirantes devem ser espaçados ao longo da altura do modelo de<br />

maneira que o máximo esforço que estes suportem seja maior ou igual à pressão<br />

interna que irá atuar na sua área de influência.<br />

Tabela 1 - Propriedades geométricas dos modelos<br />

Tabela 2 - Dosagem do concreto<br />

Traço em<br />

massa<br />

Traço em<br />

volume<br />

Cimento 1,00 1,0<br />

Areia 2,95 3,51<br />

Brita 3,50 3,82<br />

Água 0,70 2,19<br />

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Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

105<br />

Figura 6 - Tecido de fibra de carbono.<br />

Figura 7 - Tendência de retificação dos lados da seção transversal composta.<br />

Devido à complexidade envolvida na determinação da pressão interna que irá<br />

solicitar os tirantes, estes são dimensionados para resistir a um esforço igual à<br />

resistência última da camisa. Porém acredita-se que o modelo chegue ao colapso<br />

antes que a pressão interna seja igual à resistência última da camisa, portanto adotase<br />

uma cordoalha engraxada de 22,7 mm de diâmetro, com resistência última de 120<br />

KN, a cada 14,75 cm. Uma pequena força de protensão deve ser igualmente aplicada<br />

à todas as cordoalhas para garantir que elas empeçam a mudança na forma do<br />

modelo. O controle da força aplicada nas cordoalhas deve ser feito com células de<br />

carga instaladas em cada uma delas. Para que as barras laterais não colaborem na<br />

capacidade portante dos modelos, estas devem ser instaladas de maneira que fiquem<br />

cerca de 5 mm distantes das extremidades superior e inferior. Dessa maneira, o<br />

comprimento das barras deve ser de 59 cm. Apresenta-se na Figura 8 um desenho<br />

esquemático do dispositivo utilizado.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


106<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

5<br />

5<br />

R7,32<br />

60<br />

57<br />

14,75 14,75 14,75<br />

7,9<br />

Vista Transversal dos Perfis de aço<br />

Perfil de aço<br />

Cordoalha<br />

Engraxada<br />

Célula de carga<br />

Ancoragem<br />

Vista Longitudinal do Modelo<br />

Vista Transversal do Modelo<br />

Figura 8 - Dispositivo de contenção lateral do modelo de seção composta.<br />

A instrumentação dos modelos foi feita utilizando um sistema<br />

computadorizado de aquisição dos dados coletados por transdutores de<br />

deslocamento e extensômetros elétricos de resistência, além do deslocamento vertical<br />

do pistão do atuador hidráulico. Foram instalados quatro transdutores de<br />

deslocamento, sendo um em cada face dos modelos, localizados à meia altura. A<br />

distribuição dos extensômetros elétricos de resistência e dos transdutores de<br />

deslocamento é apresentada na Figura 9.<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T<br />

T T<br />

T<br />

Extensômetro elétrico de resistência<br />

T Transdutor de deslocamento<br />

Figura 9 - Localização dos extensômetros e transdutores.<br />

Na Figura 10 são apresentados os modelos prontos para serem ensaiados.<br />

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Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

107<br />

Figura 10 - Foto dos modelos prontos para serem ensaiados.<br />

3.1 Resultados dos ensaios<br />

3.1.1 Ensaios das amostras da camisa de PRFC<br />

Para a determinação das propriedades mecânicas de interesse, foram<br />

moldadas amostras da camisa de reforço segundo as especificações da ASTM D<br />

3039/ D 3039 M. As amostras possuem 2 camadas de tecido unidirecional de fibra de<br />

carbono e têm comprimento nominal de 24,5 cm e largura nominal de 1,5 cm. A<br />

orientação das fibras é de 0º em relação a direção de aplicação da carga. A<br />

moldagem das amostras foi realizada com o auxilio de chapas de aço para garantir<br />

que os corpos-de-prova fossem perfeitamente planos e sem bolhas de ar entre as<br />

camadas. Nas extremidades das amostras, por onde estas foram presas pela<br />

máquina de ensaio, foram adicionadas quatro camadas a mais, resultando em seis<br />

camadas de PRFC nestes locais.<br />

A norma que rege a realização dos ensaios determina que o ensaio de tração<br />

direta deve ser feito com controle de deslocamento. A taxa de deslocamento deve ser<br />

escolhida de maneira que a ruptura do corpo-de-prova ocorra no intervalo de um a<br />

dez minutos após o início do ensaio. Esta mesma norma sugere que seja adotada a<br />

taxa de 2 mm/min, sendo este um valor padrão. O equipamento utilizado nestes<br />

ensaios foi um atuador hidráulico com capacidade de aplicação de 160 KN, disponível<br />

no Laboratório de Madeiras e Estruturas de Madeira do Departamento de Engenharia<br />

de Estruturas da Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong>.<br />

Apresenta-se na Tabela 3 um resumo das propriedades, de interesse, das<br />

amostras da camisa de reforço. Na Figura 11 são apresentados os diagramas tensão<br />

x deformação das amostras ensaiadas. O diagrama referente ao corpo-de-prova CP 1<br />

apresenta um comportamento inesperado quanto às deformações longitudinal e<br />

transversal. Analisando o corpo-de-prova após o ensaio, percebe-se claramente que<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


108<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

uma fissura passa exatamente por cima do extensômetro, o que possivelmente<br />

causou esta anomalia na leitura das deformações, quanto a sua resistência última,<br />

esta condiz com os valores obtidos nas outras amostras, por isso no cálculo dos<br />

valores médios (Tabela 3) apenas as deformações últimas são desconsideradas.<br />

Tabela 3 - Resistências e deformações das amostras da camisa de reforço<br />

Corpo-deprova<br />

Força Tensão Módulo de Deformação (%)<br />

kN MPa Elasticidade (MPa) Longitudinal Transversal<br />

CP 1 10,70 681,6 31531 1,51 0,66<br />

CP 2 11,94 805,9 29276 2,66 0,95<br />

CP 3 11,56 768,1 33847 2,21 0,88<br />

Média 11,40 751,9 31551 2,43 0,92<br />

3.1.2 Ensaios dos modelos<br />

Os ensaios realizados nos modelos foram ensaios de compressão axial com<br />

controle de deslocamento. Esta etapa sofreu um atraso em função de problemas<br />

técnicos, e por isso os ensaios só puderam ser realizados com cerca de cinco meses<br />

de atraso. Como conseqüência, os modelos, que eram para serem ensaiados com 14<br />

dias, apresentaram resistência acima do esperado em função da maior hidratação do<br />

cimento.<br />

CP1-0º<br />

CP2-0º<br />

700<br />

800<br />

Tensão (MPa)<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

Deformação longitudinal<br />

0<br />

Deformação transversal<br />

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0<br />

Deformação (%)<br />

Tensão (MPa)<br />

600<br />

400<br />

200<br />

CP3-0º<br />

Deformação longitudinal<br />

Deformação transversal<br />

0<br />

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5<br />

Deformação (%)<br />

800<br />

600<br />

Tensão (MPa)<br />

400<br />

200<br />

Deformação longitudinal<br />

Deformação transversal<br />

0<br />

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5<br />

Deformação (%)<br />

Figura 11 - Diagramas de tensão x deformação das amostras da camisa de reforço.<br />

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Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

109<br />

Em função da capacidade da betoneira utilizada, a concretagem dos modelos<br />

não se deu em uma única etapa. Para cada tipo de seção transversal foram moldados<br />

quatro modelos, dos quais dois foram posteriormente encamisados com duas<br />

camadas de PRFC, e seis corpos-de-prova cilíndricos, 10 cm x 20 cm, para a<br />

determinação da resistência à compressão, resistência à tração e do módulo de<br />

elasticidade do concreto utilizado.<br />

Para facilitar a identificação dos modelos, foi adotada a seguinte<br />

nomenclatura: Ci, Q, R, E e Co para os modelos de seção transversal circular,<br />

quadrada, retangular, elíptica e composta, respectivamente, seguidos do número Xn,<br />

onde X é o número de camadas de PRFC e n é o número do modelo.<br />

A seguir são apresentados os resultados dos ensaios de cada uma das séries<br />

dos modelos<br />

3.1.2.1 Modelos de seção transversal circular<br />

As propriedades mecânicas e idade do concreto utilizado nestes modelos são<br />

apresentadas na Tabela 4.<br />

Tabela 4 - Propriedades mecânicas do concreto<br />

Idade Resistência (Mpa) Módulo de<br />

dias Compressão (10 x 20 cm) Tração Elasticidade (Mpa)<br />

127 44,7 3,7 27414<br />

A Figura 12 apresenta os diagramas Tensão x Deformação axial dos modelos<br />

desta série sobrepostos. A velocidade de carregamento foi de 0,005 mm/seg e a<br />

aquisição de dados foi a cada 0,3 seg. Observa-se um comportamento não esperado<br />

dos modelos Ci 02 e Ci 21. No primeiro caso, a anomalia no comportamento do<br />

modelo deve-se a irregularidade das extremidades do modelo, o que causou uma<br />

concentração de tensões numa determinada seção do modelo. O fato que permite tal<br />

conclusão é o tipo de ruptura que este modelo apresentou, característica da<br />

concentração de carregamento em algum ponto. A Figura 13 apresenta uma<br />

comparação entre fotos de rupturas características de ensaios de compressão axial e<br />

a que ocorreu com este modelo.<br />

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110<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

Série Ci X n<br />

-70<br />

-60<br />

-50<br />

Tensão (MPa)<br />

-40<br />

-30<br />

-20<br />

Modelo Ci 01<br />

Modelo Ci 02<br />

-10<br />

Modelo Ci 21<br />

Modelo Ci 22<br />

0<br />

0,0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0 -1,2 -1,4 -1,6<br />

Deformação (%)<br />

Figura 12 - Diagrama Tensão x deformação axial da Série Ci Xn.<br />

Figura 13 - Ruptura característica e ocorrida com o modelo Ci 02.<br />

Já a curva do modelo Ci 21 apresenta um aparente ganho na rigidez do<br />

modelo instantes antes da ruptura. Na verdade este não é um ganho na rigidez e sim<br />

um reflexo da ruptura do modelo. Neste ensaio, a carga de ruptura foi de<br />

aproximadamente 2000 kN e como a ruptura da camisa de reforço é extremamente<br />

frágil, toda a energia envolvida no sistema modelo-atuador hidráulico, foi liberada de<br />

uma só vez. Isto fez com que a célula de carga do equipamento de ensaio fosse<br />

descalibrada. Como conseqüência, surgiu este aparente ganho de rigidez do modelo,<br />

mas que na verdade deve ser desprezado, sendo a carga de ruptura do modelo o<br />

maior valor antes deste trecho do diagrama. Em função da grande quantidade de<br />

energia acumulada, a ruptura deste modelo foi extremamente violenta e causou danos<br />

aos transdutores de deslocamento, rompeu cabos do sistema de aquisição de dados<br />

e os estilhaços do modelo poderiam ter causado ferimentos às pessoas próximas ao<br />

local de ensaio. Para evitar que isto se repetisse no ensaio do modelo Ci 22, este foi<br />

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Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

111<br />

interrompido quando a carga era de 1750 kN. A Figura 14 apresenta fotos do ensaio<br />

Ci 21.<br />

(a) (b) (c) (d)<br />

Figura 14 -Fotos do ensaio do modelo Ci 21 (a - início do ensaio; b - maiores partes do modelo<br />

após a ruptura; c - detalhe da camisa de reforço rompida; d - o que sobrou do modelo após a<br />

ruptura.<br />

Com as leituras dos extensômetros e com os dados relativos ao deslocamento<br />

do atuador hidráulico, plota-se o gráfico de deformação lateral x deformação axial<br />

(Figura 15).<br />

São apresentadas na Tabela 5 a carga, deformações axial e lateral máximas<br />

de cada um dos modelos de seção transversal circular.<br />

Tabela 5 - Carregamento máximo e deformações neste ponto (Série Ci Xn)<br />

Modelo<br />

Força Tensão Deformação (%)<br />

kN MPa Axial Lateral<br />

Ci 01 1067,70 34,0 0,13 0,02<br />

Ci 02 572,96 18,2 0,08 0,02<br />

Ci 21 196,60 62,4 1,37 0,97<br />

Ci 22 1751,60 55,7 0,80 0,60<br />

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112<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

Série Ci X n<br />

1,2<br />

1,0<br />

Deformação Lateral (%)<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

Modelo Ci 01<br />

0,2<br />

Modelo Ci 02<br />

Modelo Ci 21<br />

Modelo Ci 22<br />

0,0<br />

0,0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0 -1,2 -1,4 -1,6<br />

Deformação Axial (%)<br />

Figura 15 - Deformação lateral x deformação axial da série Ci X n.<br />

3.1.2.2 Modelo de seção transversal quadrada<br />

Os modelos de seção transversal quadrada foram moldados com o mesmo<br />

concreto e ao mesmo tempo que os de seção transversal circular, por isso as<br />

propriedades mecânicas e idade do concreto utilizado nestes modelos são as<br />

mesmas apresentadas anteriormente (Tabela 4).<br />

Numa tentativa de minimizar as conseqüências da ruptura frágil, a velocidade<br />

de carregamento foi alterada para 0,003 mm/seg e a taxa de aquisição de dados foi<br />

mantida em 0,3 seg. Para evitar danos aos transdutores de deslocamento, estes<br />

foram retirados do modelo quando a força aplicada era de 1000 kN.<br />

Na Figura 16 são apresentados os diagramas Tensão x Deformação axial dos<br />

modelos de seção transversal quadrada com os cantos arredondados. Observa-se<br />

claramente que os ganhos de resistência nos modelos reforçados não foram muito<br />

significativos, porém houve um aumento considerável na ductilidade. Provavelmente o<br />

reduzido ganho de resistência tenha sido um reflexo da dificuldade do<br />

desenvolvimento de pressões de confinamento suficientemente grandes para produzir<br />

um ganho de resistência considerável. Esta dificuldade está diretamente relacionada<br />

com a relação entre o raio de arredondamento e o lado da seção transversal, r/b d ,<br />

aqui adotada com sendo 0,19. Quanto maior for esta relação, mais o modelo se<br />

aproxima da seção transversal circular, para a qual a pressão de confinamento é<br />

máxima. Sendo assim, para que o ganho de resistência seja maior, utilizando o<br />

mesmo número de camadas de PRFC, o raio de arredondamento dos cantos deve<br />

aumentar.<br />

Outro fato interessante no comportamento dos modelos reforçados é que<br />

após a resistência do concreto ser atingida, a resistência do modelo praticamente<br />

permanece inalterada durante algum tempo e depois começa a aumentar novamente.<br />

Isto provavelmente acontece porque neste intervalo a seção transversal do modelo<br />

está passando por uma mudança na sua forma, se aproximando da circular. Para<br />

caracterizar esta mudança na forma da seção transversal, Figura 17 apresenta o<br />

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Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

113<br />

gráfico de deformação lateral x deformação axial. Fica claro que a deformação lateral<br />

no meio da face do modelo é maior que nos outros pontos, o que evidencia a<br />

tendência de mudança da forma da seção transversal.<br />

Série Q X n<br />

-40<br />

Tensão (MPa)<br />

-30<br />

-20<br />

Modelo Q 01<br />

-10<br />

Modelo Q 02<br />

Modelo Q 21<br />

Modelo Q 22<br />

0<br />

0,0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0 -1,2<br />

Deformação (%)<br />

Figura 16 - Diagramas Tensão x Deformação axial da série Q Xn.<br />

Um resumo da resistência e deformações máximas dos modelos de seção<br />

transversal quadrada com os cantos arredondados é apresentado na<br />

Tabela 6.<br />

Tabela 6 - Carregamento máximo e deformações neste ponto (Série Q Xn)<br />

Modelo<br />

Força Tensão Deformação Deformação Lateral (%)<br />

KN MPa Axial (%) Extremidade da face Meio da face Canto<br />

Q 01 1193,90 37,9 0,130 0,073 0,036 0,098<br />

Q 02 1146,60 36,4 0,120 0,067 0,049 0,280<br />

Q 21 1326,50 42,1 0,038 0,963 0,702 0,603<br />

Q 22 1304,00 41,4 0,856 0,702 0,779 0,687<br />

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114<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

0,7<br />

Modelo Q 22<br />

Deformação lateral x Deformação axial<br />

0,6<br />

Deformação Lateral (%)<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

Extremidade da face<br />

Meio da face<br />

Canto arredondado<br />

0,0<br />

0,0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4 -0,5 -0,6 -0,7<br />

Deformação Axial (%)<br />

Figura 17 - Deformação Lateral x Deformação axial do modelo Q 22.<br />

3.1.2.3 Modelos de seção transversal retangular<br />

As propriedades mecânicas e idade do concreto utilizado nestes modelos são<br />

apresentadas na Tabela 7. A exemplo do que aconteceu na série Q Xn, os ensaios<br />

dos modelos foram feitos com controle de deslocamento fixo em 0,003 mm/seg, a<br />

aquisição de dados foi feita a cada 0,3 seg e os transdutores de deslocamento foram<br />

retirados quando a força aplicada chegou a aproximadamente 1000 kN pelo mesmo<br />

processo descrito anteriormente.<br />

Tabela 7 - Características mecânicas e idade do concreto utilizado na série R Xn<br />

Idade Resistência (MPa) Módulo de<br />

Dias Compressão (10 x 20 cm) Tração Elasticidade (MPa)<br />

119 39,9 3,44 25495<br />

Durante o ensaio do modelo R 02 houve um problema com a aquisição de<br />

dados. Em função deste problema todas as leituras de carga, deformações e<br />

deslocamentos foram perdidos. O único dado deste ensaio que foi possível recuperar<br />

foi a carga de ruptura do modelo, que foi de 823,5 kN. Na Figura 18 são apresentados<br />

os diagramas tensão x deformação axial dos outros modelos desta série.<br />

Analisando a Figura 18 observa-se que a curva correspondente ao modelo R<br />

21 apresenta uma anomalia próximo a carga de pico. Esta anomalia aconteceu em<br />

virtude de uma mudança na velocidade de carregamento durante o ensaio. Até que o<br />

sistema operacional do equipamento de ensaio calibrasse a taxa de aplicação de<br />

carga, houve uma diminuição na carga que já estava aplicada conseqüentemente o<br />

diagrama tensão x deformação axial reproduz esta queda no carregamento. Quanto<br />

ao acréscimo de resistência ocorrido nos modelos, a exemplo do que aconteceu com<br />

a série Q Xn, não foi considerável. A explicação para este fato está na baixa relação<br />

r/b d . Nos modelos da série Q Xn esta relação foi de 0,19, já nos modelo de seção<br />

transversal retangular esta relação é de 0,12, portanto este baixo ganho de resistência<br />

já era esperado. Os diagramas tensão x deformação axial dos modelos reforçados da<br />

série Q Xn dão um indicativo da tendência de mudança da forma da seção<br />

transversal, o que já não ocorre nesta série. Para tentar observar esta tendência é<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

115<br />

preciso analisar o diagrama deformação lateral x deformação axial de um modelo<br />

reforçado desta série (Figura 19). Enquanto nos modelos de seção transversal<br />

quadrada a tendência era a transformação numa seção circular, neste a tendência é a<br />

transformação numa seção elíptica. Isto fica explicito porque as deformações da maior<br />

face é maior do que as da face menor e ambas são maiores que a deformação do<br />

canto arredondado.<br />

-40<br />

Série R X n<br />

-<strong>35</strong><br />

-30<br />

Tensão (MPa)<br />

-25<br />

-20<br />

-15<br />

-10<br />

-5<br />

Modelo R 01<br />

Modelo R 21<br />

Modelo R 22<br />

0<br />

0,0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4 -0,5 -0,6 -0,7 -0,8 -0,9 -1,0<br />

Deformação (%)<br />

Figura 18 - Diagramas Tensão x Deformação axial dos modelos da série R Xn.<br />

Série R21<br />

Deformação lateral x Deformação axial<br />

Deformação Lateral (%)<br />

0,25<br />

0,20<br />

0,15<br />

0,10<br />

0,05<br />

Extremidade da face maior<br />

Extremidade da face menor<br />

Meio da face maior<br />

Meio da face menor<br />

Canto arredondado<br />

0,00<br />

0,00 -0,05 -0,10 -0,15 -0,20 -0,25 -0,30 -0,<strong>35</strong> -0,40 -0,45<br />

Deformação Axial (%)<br />

Figura 19 - Deformação lateral x deformação axial do modelo R 21.<br />

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116<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

Tabela 8 - Carregamento máximo e deformações neste ponto (Série R Xn)<br />

Deformação Deformação Lateral (%)<br />

Força Tensão<br />

Axial Extremidade face Meio da Face<br />

Modelo<br />

kN MPa % Maior Menor Maior Menor Canto<br />

R 01 1052,10 33,7 0,129 0,055 0,049 0,079 0,009 0,078<br />

R 02 832,50 26,7 - - - - - -<br />

R 21 1107,60 <strong>35</strong>,5 0,196 0,099 0,089 0,072 0,074 0,082<br />

R 22 1146,70 36,7 0,271 0,188 0,145 0,259 0,164 0,140<br />

3.1.2.4 Modelos de seção transversal elíptica<br />

Os modelos de seção transversal elíptica foram moldados com o mesmo<br />

concreto e ao mesmo tempo que os de seção transversal retangular, por isso as<br />

propriedades mecânicas e idade do concreto utilizado nestes modelos são as<br />

mesmas apresentadas anteriormente (Tabela 7).<br />

Os ensaios desta série também foram feitos com controle de deslocamento<br />

fixo em 0,003 mm/seg, a aquisição de dados se deu a cada 0,3 seg e os transdutores<br />

de deslocamento foram retirados quando a força aplicada no modelo era de<br />

aproximadamente 1000 kN. A Figura 20 apresenta os diagramas tensão x deformação<br />

axial dos modelos de seção transversal elíptica. Fica claro que o ganho de resistência<br />

ocorrido nos modelos reforçados é considerável. É interessante observar que o<br />

comportamento dos modelos reforçados após a resistência do concreto ser atingida<br />

se aproxima de uma reta, que é uma característica do comportamento de modelos<br />

reforçados de seção transversal circular, onde a distribuição de pressões internas é<br />

uniforme. Este é um forte indício de que a distribuição das pressões de confinamento<br />

em pilares de seção transversal elíptica, com relação entre o semi-eixo maior e menor<br />

igual a 5/3, é bem próxima da uniforme. Porém, se analisarmos a Figura 21, fica claro<br />

que a distribuição de pressões de confinamento não é próxima da constante, uma vez<br />

que a deformação lateral da camisa, provocada pela pressão interna, no meio da<br />

maior face é maior que nos outros pontos instrumentados.<br />

-50<br />

Série E X n<br />

-40<br />

Tensão (MPa)<br />

-30<br />

-20<br />

-10<br />

Modelo E 01<br />

Modelo E 02<br />

Modelo E 21<br />

Modelo E 22<br />

0<br />

0,0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0<br />

Deformação (%)<br />

Figura 20 - Diagrama Tensão x Deformação axial dos modelos da série E Xn.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

117<br />

0,9<br />

Modelo E 21<br />

Deformação axial x Deformação lateral<br />

Deformação Lateral (%)<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

Meio da face menor<br />

Meio da face maior<br />

Intermediário<br />

0,0<br />

0,0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4 -0,5 -0,6 -0,7 -0,8<br />

Deformação Axial (%)<br />

Figura 21 - Diagrama de deformação lateral x deformação axial do modelo E 21.<br />

A Tabela 9 apresenta as forças máximas atingidas em cada modelo desta série<br />

e as deformações correspondentes a estas forças.<br />

Tabela 9 - Força máxima e deformações correspondentes para a série E Xn<br />

Força Tensão Deformação Deformação Lateral (%)<br />

Modelo<br />

kN MPa Axial (%) Face menor Face maior Intermediário<br />

E 01 1070,00 34,3 0,140 0,058 0,025 0,038<br />

E 02 1066,20 34,2 0,100 0,061 0,042 0,028<br />

E 21 1507,90 48,3 0,851 0,638 0,964 0,638<br />

E 22 1505,80 48,3 0,837 0,696 0,515 0,723<br />

3.1.2.5 Modelos de seção transversal composta<br />

Em função do alto custo de produção das fôrmas metálicas utilizadas nestes<br />

modelos, foram feitas apenas duas, e por isso a moldagem dos quatro modelos desta<br />

série teve que ser feita em duas etapas. Em cada uma destas etapas foram moldados<br />

dois modelos, sendo que um deles foi posteriormente reforçado, e nove corpos-deprova<br />

10 x 20 cm para a determinação das propriedades mecânicas do concreto<br />

utilizado (Tabela 10).<br />

Tabela 10 - Idade e propriedades mecânicas dos concretos utilizados (série Co Xn)<br />

Idade Resistência (MPa) Módulo de<br />

Modelo<br />

dias Compressão (10 x 20 cm) Tração Elasticidade (MPa)<br />

Co X1 113 34,3 3,06 26065<br />

Co X2 112 42,7 2,73 25785<br />

Os ensaios dos modelos também foram feitos com controle de deslocamento<br />

fixo em 0,003 mm/seg, com aquisição de dados a cada 0,3 seg e com retirada dos<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


118<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

transdutores de deslocamento quando a força aplicada era de aproximadamente 1000<br />

kN. A única diferença deste para os outros ensaios é que antes do início do ensaio, as<br />

cordoalhas que atravessam o modelo tiveram que ser protendidas. O intuito desta<br />

protensão é apenas fazer com que as barras laterais ficassem perfeitamente<br />

encostadas no modelo para que este mantivesse a mesma forma durante o ensaio e<br />

por isso, a força aplicada nas cordoalhas não precisa ser grande. Sendo assim, a<br />

protensão foi feita manualmente, alcançando uma força de aproximadamente 0,4 kN.<br />

Depois que protensão foi aplicada verificou-se que as barras laterais não ficaram<br />

perfeitamente encostadas no modelo (Figura 22) em função de imperfeições que<br />

estes apresentavam, e mesmo que fossem aplicadas grandes forças de protensão,<br />

dificilmente isso seria conseguido, portanto o ensaio foi feito desta maneira mesmo.<br />

Cada uma das cordoalhas possuía uma célula de carga para medir as forças que<br />

estavam sendo nelas aplicadas durante o ensaio. Tais forças foram em torno de 20<br />

kN.<br />

Figura 22 - Detalhe da interface entre a barra lateral e o modelo.<br />

A Figura 23 apresenta os diagramas tensão x deformação dos modelos de<br />

seção transversal composta. Analisando estes diagramas constata-se que houve um<br />

ganho considerável de resistência nos modelos reforçados, e, além disso, é<br />

interessante observar que o comportamento dos modelos reforçados se aproxima<br />

muito do comportamento de pilares de seção transversal circular, ou seja, um<br />

comportamento bi-linear. Este é um ótimo indicativo de que a distribuição das<br />

pressões de confinamento deve ser aproximadamente constante. Para idealizar a<br />

distribuição de pressões de confinamento, devemos analisar o diagrama deformação<br />

lateral x deformação axial de um modelo reforçado (Figura 24).<br />

Fica claro na Figura 24 que a deformação da camisa nos trechos onde a<br />

seção transversal é formada pelos maiores trechos de círculos é praticamente igual.<br />

Isso significa que a distribuição das pressões internas nestes trechos é constante. A<br />

deformação dos trechos côncavos da seção transversal, indicada pela deformação<br />

das cordoalhas, é praticamente nula, isso porque a rigidez introduzida pelas barras<br />

laterais ligadas pelas cordoalhas inibe a deformação deste trecho. Já os pontos<br />

localizados na inflexão da seção transversal têm um comportamento igual ao dos<br />

outros pontos até um determinado instante, provavelmente até que o espaço existente<br />

entre o modelo e a barra de contenção lateral seja eliminado. Neste instante, a<br />

deformação deste ponto passa a ser contrária à que era antes, ou seja, este ponto<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

119<br />

deixa de estar tracionado e passa a ser comprimido por algum tempo e logo depois,<br />

volta a ser tracionado. Esta compressão surge em função da expansão lateral do<br />

restante da seção transversal, e como as barras laterais impedem que esta expansão<br />

ocorra nestes pontos, surge ai uma flexão da camisa de PRFC que provoca a sua<br />

compressão. Após a resistência do concreto ter sido atingida, ocorre uma<br />

reacomodação interna, o que leva a uma mudança quase imperceptível na forma da<br />

seção transversal do modelo, mas suficiente para que camisa de reforço encontre<br />

uma configuração de “equilíbrio”, o que faz este ponto voltar a ser tracionado.<br />

Tensão (MPa)<br />

-45<br />

-40<br />

-<strong>35</strong><br />

-30<br />

-25<br />

-20<br />

-15<br />

-10<br />

-5<br />

Série Co X n<br />

Modelo Co 01<br />

Modelo Co 21<br />

Modelo Co 02<br />

Modelo Co 22<br />

0<br />

0,0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0 -1,2 -1,4 -1,6 -1,8<br />

Deformação (%)<br />

Figura 23 - Diagramas tensão x deformação axial (série Co Xn).<br />

Modelo Co 21<br />

Deformação axial x Deformação lateral<br />

Deformação Lateral (%)<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,0<br />

-0,1<br />

Extremidade<br />

Próximo à inflexão<br />

Intermediário<br />

Cordoalha<br />

0,0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4 -0,5 -0,6<br />

Deformação Axial (%)<br />

Figura 24 - Diagrama de deformação lateral x deformação axial do modelo Co 21.<br />

Na Tabela 11 são apresentadas as cargas máximas e as deformações axial e<br />

lateral em cada uma das posições instrumentadas correspondentes a estas forças.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


120<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

Tabela 11 - Força máxima e deformações correspondentes da série Co Xn<br />

Força Tensão Deformação Deformação Lateral (%)<br />

Modelo<br />

kN MPa Axial (%) Extremidade Próx. Curva Intermediário Cordoalha<br />

Co 01 1052,30 33,1 0,140 0,0<strong>35</strong> 0,423 0,091 0,004<br />

Co 02 949,44 29,8 0,138 0,087 0,221 0,080 0,004<br />

Co 21 1396,50 43,9 0,722 0,555 0,189 0,484 0,036<br />

Co 22 1326,00 41,7 0,899 0,771 0,393 0,495 0,055<br />

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />

4.1 Tenacidade e ductilidade<br />

A norma japonesa determina que a ductilidade seja avaliada por meio do<br />

índice de tenacidade à compressão. Para o cálculo deste índice a norma determina<br />

que seja utilizada a equação 6. O valor de deslocamento limite, δ tc , para estes<br />

modelos é de 2,25 mm, calculado conforme as indicações da norma. Todos os<br />

modelos encamisados tiveram deslocamentos últimos maiores do que 2,25 mm,<br />

sendo assim o cálculo da área sob a curva força x deslocamento, τ c , foi feito até o<br />

deslocamento limite. O mesmo aconteceu para o modelo Q 02, sendo que nos outros<br />

modelos sem a camisa de reforço o deslocamento último foi inferior ao deslocamento<br />

limite. Vale salientar que houve problemas com a aquisição dos dados relativos ao<br />

ensaio dos modelos Ci 02 e R 02, por isso não foi possível calcular o índice de<br />

tenacidade à compressão relativo a estes modelos.<br />

Analisando a equação proposta pela norma japonesa percebe-se que o índice<br />

de tenacidade à compressão é calculado apenas até o limite de deslocamento,<br />

desprezando o comportamento do pilar após este limite. Para considerar todo o<br />

comportamento do pilar até a ruptura, propõe-se a adoção do limite de deslocamento<br />

como sendo o deslocamento para o qual ocorreu a ruptura do material,<br />

independentemente do seu valor. Sendo assim, o índice de tenacidade à compressão<br />

calculado desta maneira, passa a ser identificado por σ<br />

c<br />

, e não mais por<br />

Com o modelo de Ahmad (1992), foi analisada a ductilidade apenas pelo<br />

trecho ascendente do diagrama tensão x deformação (ID 2 ), uma vez que não são<br />

todos os modelos que possuem o trecho descendente até o limite estabelecido pelo<br />

autor. Vale salientar que o valor de ε<br />

e<br />

é obtido considerando o material como sendo<br />

elastoplástico perfeito, e ε<br />

c0<br />

é a deformação para a carga de pico, ou seja, esta<br />

formulação também não considera o comportamento do pilar até a ruptura. Já o<br />

conceito do encurtamento percentual (∆l/l) considera o comportamento do pilar até a<br />

sua ruptura.<br />

A Tabela 12 apresenta os valores dos índices de tenacidade e ductilidade<br />

calculados segundo os métodos descritos anteriormente.<br />

Fica claro nesta tabela, que, independentemente do critério de cálculo<br />

utilizado, o índice de tenacidade ou o de ductilidade aumenta para os pilares<br />

encamisados. Sendo assim, teoricamente, os modelos que possuem maior ductilidade<br />

são os modelos encamisados. Porém não se pode deixar que estes valores induzam<br />

a afirmar que pilares encamisados com PRFC apresentam ruptura lenta e gradual,<br />

muito pelo contrário, apresentam uma ruptura extremamente frágil. Esta<br />

σ<br />

c<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

121<br />

incompatibilidade entre o valor do índice de tenacidade à compressão e o tipo de<br />

ruptura do modelo é evidente em todos os modelos reforçados, ou seja, quanto maior<br />

for este valor, mais frágil é a ruptura do modelo. Isto acontece porque no cálculo do<br />

índice de tenacidade à compressão é considerada a área sob o gráfico força x<br />

deslocamento, até o limite de deslocamento. Nos modelos não encamisados<br />

ensaiados, quando o deslocamento limite é atingido, a curva força x deslocamento é<br />

descendente. Já nos modelos encamisados a curva é ascendente, assim a área sob o<br />

gráfico é maior que no caso anterior. Já no caso dos índices de ductilidade, a camisa<br />

de reforço possibilita maiores deslocamentos axiais, e conseqüentemente maiores<br />

deformações. Sendo assim, o encurtamento percentual e também o ID 2 devem ser<br />

maiores nestes modelos já que a deformação ε<br />

e<br />

é praticamente igual a dos modelos<br />

sem reforço.<br />

Tabela 12 - Índices de tenacidade e ductilidade<br />

Índice de Tenacidade<br />

Índice de Ductilidade<br />

Modelo<br />

σ c σ c méd σ c σ c méd ∆l/l ∆l/l méd ΙD 2 ID 2 méd<br />

MPa MPa MPa MPa % % - -<br />

Ci 01 22,79<br />

22,79<br />

24,48<br />

24,48<br />

0,13<br />

0,13<br />

1,95<br />

Ci 02 -<br />

-<br />

-<br />

-<br />

1,95<br />

Ci 21 <strong>35</strong>,33 47,57 1,18 8,54<br />

36,47<br />

46,16<br />

0,99<br />

Ci 22 37,61<br />

44,74<br />

0,80<br />

9,39<br />

8,96<br />

Q 01 27,39<br />

20,46<br />

34,53<br />

30,96<br />

0,13<br />

0,16<br />

1,55<br />

Q02 13,52<br />

27,39<br />

0,19<br />

1,40<br />

1,47<br />

Q 21 34,18 38,21 1,04 12,09<br />

34,53<br />

38,14<br />

0,95<br />

Q 22 34,87<br />

38,07<br />

0,86<br />

10,67<br />

11,38<br />

R 01 26,62<br />

26,62<br />

26,57<br />

26,57<br />

0,21<br />

0,21<br />

1,82<br />

R 02 -<br />

-<br />

-<br />

-<br />

1,82<br />

R 21 31,43 31,50 0,40 2,96<br />

31,37<br />

31,05<br />

0,64<br />

R 22 31,31<br />

30,61<br />

0,88<br />

3,56<br />

3,26<br />

E 01 25,18<br />

25,12<br />

25,21<br />

25,17<br />

0,16<br />

0,14<br />

1,95<br />

E 02 25,07<br />

25,13<br />

0,13<br />

1,59<br />

1,77<br />

E 21 36,11 42,65 0,96 9,57<br />

<strong>35</strong>,77<br />

42,40<br />

0,95<br />

E 22 <strong>35</strong>,43<br />

42,15<br />

0,93<br />

8,16<br />

8,86<br />

Co 01 25,32<br />

25,68<br />

25,30<br />

25,67<br />

0,<strong>35</strong><br />

0,32<br />

1,99<br />

Co 02 26,04<br />

26,04<br />

0,29<br />

2,22<br />

2,10<br />

Co 21 33,12 33,87 1,69 7,07<br />

31,34<br />

33,04<br />

1,64<br />

Co 22 29,56<br />

32,21<br />

1,59<br />

10,36<br />

8,72<br />

4.2 Coeficiente de forma<br />

A avaliação do coeficiente de forma da seção transversal é feita por meio da<br />

utilização dos dados experimentais e do método de cálculo proposto por Teng & Lam<br />

(2002).<br />

O primeiro passo para a aplicação deste modelo de cálculo é a determinação<br />

do coeficiente K 1 da equação 1. Os autores desta formulação sugerem que seja<br />

adotado o valor de 3,71. Porém, com os dados dos ensaios dos pilares de seção<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


122<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

transversal circular, é possível a determinação deste coeficiente para as condições<br />

específicas desta simulação experimental, uma vez que para tais pilares a pressão<br />

lateral é uniforme e facilmente determinada pela própria equação proposta por Teng &<br />

Lam (2002). Procedendo-se desta maneira, o coeficiente K 1 determinado com dados<br />

experimentais é de 3,53, cerca de 5 % inferior ao proposto pelos autores deste<br />

modelo de cálculo.<br />

Tendo-se o valor do coeficiente K 1 , passa-se a determinação do coeficiente de<br />

forma, K s , dos modelos de seção transversal diferente da circular. Vale ressaltar que<br />

K s =1 para o caso de pilares de seção transversal circular, isso porque a distribuição<br />

das pressões internas é constante. Sendo assim, quanto mais próximo da unidade for<br />

este coeficiente, mais próxima da uniforme será a distribuição da pressão interna ao<br />

longo de toda a seção transversal do pilar.<br />

Para o cálculo do coeficiente K s , procedeu-se da seguinte maneira.<br />

Inicialmente calcula-se a taxa volumétrica de PRF existente no pilar original; com este<br />

valor, determina-se a pressão de confinamento do pilar de seção transversal<br />

equivalente (equação 3); o valor da pressão efetiva de confinamento, f l´ da equação 2,<br />

fica expresso em função do coeficiente de forma K s ; com os valores experimentais da<br />

resistência do pilar confinado, resistência do concreto e coeficiente K 1 , determina-se o<br />

valor do coeficiente K s . A Tabela 13 apresenta os valores utilizados nos cálculos e o<br />

valor do coeficiente de forma.<br />

Tabela 13 - Determinação do coeficiente K s<br />

Seção<br />

transversal<br />

f cc<br />

(MPa)<br />

f co<br />

(MPa)<br />

ρ PRF<br />

(-)<br />

f l<br />

(MPa)<br />

K s<br />

(-)<br />

Circular 62,41 33,97 0,021 7,97 1,000<br />

Quadrada 41,75 37,15 0,022 8,51 0,153<br />

Retangular 36,11 33,70 0,024 9,10 0,075<br />

Elíptica 48,29 34,23 0,022 8,39 0,470<br />

Composta 42,79 31,46 0,023 8,66 0,370<br />

Como já era de se esperar, o modelo que apresentou a pior distribuição de<br />

pressão de confinamento é o de seção retangular, e o que apresenta a melhor<br />

distribuição, depois do circular, é o de seção transversal elíptica.<br />

Se analisarmos cuidadosamente a expressão que determina a pressão de<br />

confinamento do pilar de seção transversal circular equivalente, percebe-se que o<br />

valor da resistência da camisa de PRFC é o valor obtido em ensaios de tração direta.<br />

Porém, o comportamento do PRFC em ensaios de tração direta é diferente daquele<br />

em serviço na camisa de reforço, e as causas desta diferença, para o caso de pilares<br />

de seção transversal circular, já foram detalhadas por Lam & Teng (2003) e Pessiki et<br />

al. (2001). Para evidenciar esta diferença, constrói-se a Tabela 14 onde são<br />

mostrados os valores da deformação da camisa na direção das fibras do PRFC para o<br />

maior valor da carga aplicada nos modelos, com exceção do caso do modelo de<br />

seção retangular, e da amostra ensaiada à tração direta. No caso do modelo de seção<br />

transversal retangular, a deformação que está sendo apresentada é a deformação<br />

última, uma vez que o máximo carregamento foi obtido antes da ruptura da camisa.<br />

Para os modelos de seção transversal circular e elíptica, as explicações para<br />

esta diferença são as mesmas apontadas por Lam & Teng (2003), ou seja, (a) a<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

123<br />

deformação localizada nas fissuras do concreto provoca elevados esforços de tração<br />

neste ponto, (b) o efeito da curvatura do PRFC na resistência à tração do material, (c)<br />

e também o fato de o mecanismo de solicitação da camisa ser na realidade bi-axial,<br />

uma vez que a aderência entre esta e o modelo faz a transferência de esforços ao<br />

longo do comprimento. Já nos modelos de seção transversal, quadrada, retangular e<br />

composta, além dos motivos citados anteriormente, ocorre o efeito da flexão da<br />

camisa. Embora esta flexão também ocorra nos modelos de seção transversal circular<br />

e elíptica, ela é praticamente desprezível se comparada com a que ocorre nestes<br />

outros modelos. A Figura 25 apresenta os principais pontos onde o efeito da flexão da<br />

camisa de PRFC é mais pronunciado.<br />

Tabela 14 - Deformações da camisa em serviço e em ensaios de tração direta<br />

Seção<br />

transversal<br />

Deformação da<br />

camisa (%)<br />

Deformação das<br />

amostras (%)<br />

Circular 0,970<br />

Quadrada 0,871<br />

Retangular 0,842<br />

2,43<br />

Elíptica 0,844<br />

Composta 0,663<br />

Posição da "deformada", onde ocorre a flexão<br />

Figura 25 - Principais pontos onde ocorre flexão da camisa de reforço.<br />

Uma vez que a deformação da camisa é diferente da deformação última no<br />

ensaio de tração direta, a resistência da camisa de reforço também será. Portanto o<br />

valor da resistência da camisa na equação que calcula a pressão de confinamento<br />

para o pilar de seção transversal circular equivalente deve ser minorado por um<br />

coeficiente de deformação K ε que leve em consideração esta diferença. Como na<br />

formulação proposta por Teng & Lam (2002) este coeficiente de minoração não é<br />

utilizado, o coeficiente de forma, K s , não reflete apenas a distribuição de pressões de<br />

confinamento na camisa de reforço, mas também a diferença entre a resistência do<br />

PRF na camisa de reforço e no ensaio de tração direta.<br />

Para a determinação do coeficiente de deformação, K ε , divide-se a<br />

deformação da camisa de reforço ocorrida quando a máxima carga é atingida, pela<br />

deformação de ruptura obtida no ensaio de tração direta. Com este valor, minora-se a<br />

resistência da camisa, obtida em ensaio de tração direta, e calcula-se um novo valor<br />

para a pressão de confinamento que atua no modelo de seção transversal circular.<br />

Com os dados dos ensaios deste modelo, com o novo valor da pressão de<br />

confinamento e com a equação 1, calcula-se um novo valor para o coeficiente K 1 ,<br />

obtendo-se assim K 1 = 9,03, 143 % maior do que o proposto por Teng & Lam (2002).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


124<br />

Alexandre Luis Sudano & João Bento de Hanai<br />

A Tabela 15 apresenta os valores do coeficiente K ε e os novos valores da pressão de<br />

confinamento, fl, e do coeficiente de forma efetivo K s´.<br />

Tabela 15 - Valores de K ε , f l e K s´<br />

Seção<br />

transversal<br />

K ε<br />

( - )<br />

f l<br />

(MPa)<br />

K s´<br />

( - )<br />

K s´/ K s<br />

( - )<br />

Circular 0,399 3,15 1,000 1,000<br />

Quadrada 0,<strong>35</strong>8 3,046 0,167 1,09<br />

Retangular 0,347 3,160 0,085 1,13<br />

Elíptica 0,347 2,911 0,5<strong>35</strong> 1,14<br />

Composta 0,273 2,364 0,531 1,44<br />

Analisando os valores de K s´, percebe-se que continuam sendo coerentes,<br />

porém, conclui-se que a influência da forma da seção transversal é um pouco menor<br />

do que a retratada pelo modelo de Teng & Lam (2002), uma vez que no fator de forma<br />

está embutido o coeficiente de deformação K ε . Sendo assim, a distribuição da pressão<br />

de confinamento em seções transversais diferentes da circular é um pouco menos<br />

distante da distribuição uniforme, característica de pilares encamisados de seção<br />

transversal circular.<br />

É interessante notar na Tabela 15 que, com exceção da seção composta,<br />

todos os valores de K ε são relativamente próximos, o que sugere que a influência da<br />

forma da seção transversal do pilar no desempenho da camisa de reforço não é muito<br />

significativo, no máximo 15 % de diferença quando comparamos a seção circular com<br />

a retangular ou elíptica. Já no caso da seção composta, a existência das barras<br />

laterais de contenção faz com que a camisa não sofra expansão lateral nestes pontos,<br />

o que causa uma grande concentração de tensão na camisa, fazendo com que ela<br />

rompa prematuramente.<br />

5 CONCLUSÕES<br />

5.1 Tenacidade e ductilidade<br />

Após a realização dos ensaios e análise dos resultados, ficou claro que tanto<br />

a ductilidade quanto a tenacidade dos modelos reforçados aumentou com a adoção<br />

de seções transversais com formas mais adequadas à potencialização do efeito de<br />

confinamento. Porém, não houve concordância entre os valores dos índices<br />

calculados. A única coisa que se pode afirmar é que o comportamento dos modelos<br />

encamisados foi tenaz, uma vez que foram capazes de absorver grande quantidade<br />

de energia, e apresentaram grande capacidade de deformação antes da ruptura. Por<br />

outro lado, apresentaram uma ruptura extremamente frágil.<br />

Já os resultados dos modelos não encamisados foram muito dispersos, e por<br />

isso não permitem concluir se a forma da seção transversal tem alguma influência na<br />

ductilidade e na tenacidade.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 95-126, <strong>2006</strong>


Avaliação do coeficiente de forma da seção transversal e suas implicações no desempenho...<br />

125<br />

5.2 Coeficiente de forma<br />

O objetivo desta análise não foi o de propor alguma alteração nos métodos de<br />

cálculo existentes, mas sim a de verificar qual é a real influência da forma da seção<br />

transversal no reforço de pilares com PRFC.<br />

Os resultados das análises realizadas permitem concluir que a forma da seção<br />

transversal tem grande influência na distribuição da pressão de confinamento. Porém,<br />

não foi possível, com as análises realizadas, quantificar com exatidão essa influência.<br />

Os valores do coeficiente de forma obtidos nesta pesquisa, não devem ser<br />

assumidos como absolutamente verdadeiros. Para que isso fosse possível, seriam<br />

necessárias análises teóricas mais aprofundadas, inclusive com simulações<br />

numéricas, o que não fazia parte dos objetivos deste trabalho. Porém, estes<br />

resultados apresentam-se como bons indicativos da real influência da forma da seção<br />

transversal na eficiência do reforço de pilares de concreto com PRFC.<br />

6 AGRADECIMENTOS<br />

Agradecemos à FAPESP e ao CNPq pelo apoio financeiro, sem o qual esta<br />

pesquisa não poderia ter sido realizada.<br />

7 REFERÊNCIAS<br />

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ISSN 1809-5860<br />

AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DO FATOR DE<br />

DISTRIBUIÇÃO DE CARGA PARA PONTES<br />

MULTICELULARES DE MADEIRA PROTENDIDA<br />

Jorge Luís Nunes de Góes 1 & Antonio Alves Dias 2<br />

Resumo<br />

As pontes protendidas de madeira com tabuleiro multicelular são sistemas tipicamente<br />

ortotrópicos e necessitam de modelos analíticos sofisticados para estimar seu<br />

comportamento estrutural sob carregamentos de projeto. Existem vários modelos de<br />

cálculo que podem ser empregados para o dimensionamento deste tipo de estrutura. A<br />

forma mais prática e simples de se considerar uma ponte em placa é fazendo uma<br />

analogia à viga (Modelo de Viga Equivalente). Nesse trabalho é avaliado<br />

experimentalmente o Fator de Distribuição de Carga empregado. São realizados<br />

ensaios de flexão em protótipo de ponte em escala 1:3, sujeito a vários arranjos de<br />

carregamentos concentrados, simétricos e assimétricos, com três níveis de protensão<br />

distintos. Os resultados indicam que o Fator de Distribuição de Carga empregado,<br />

para alguns carregamentos, resulta em situações contra a segurança.<br />

Palavras-chave: pontes; madeira protendida; experimentação.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

De suma importância para o desenvolvimento do país, do ponto de vista<br />

econômico e social, as estradas vicinais devem assegurar a entrada de insumos nas<br />

propriedades agrícolas, o escoamento da produção e o livre deslocamento das<br />

populações do meio rural.<br />

Nota-se, entretanto, que o lastimável estado em que se encontram as<br />

estradas e pontes vicinais, dificultam o trânsito causando desconforto e insegurança<br />

aos usuários, além de elevar o custo do transporte para os produtores e os custos de<br />

manutenção para as prefeituras.<br />

A maioria das pontes de madeira no Brasil não é projetada e construída por<br />

técnicos e construtores especializados em madeiras. Isto resulta em estruturas com<br />

alto custo, inseguras e de baixa durabilidade. O estado atual de degradação destas<br />

pontes reflete um quadro negativo no uso da madeira como um material estrutural.<br />

1 Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, jgoes@sc.usp.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, dias@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 127-140, <strong>2006</strong>


128<br />

Jorge Luis Nunes Góes & Antonio Alves Dias<br />

Assim, constata-se a urgente necessidade de se implantar nas estradas<br />

municipais e estaduais os avanços tecnológicos atuais para a construção e<br />

recuperação das pontes de madeira do país.<br />

Dentre as mais recentes tecnologias empregadas na construção das<br />

modernas pontes de madeira a que mais se destaca é a da madeira laminada<br />

protendida transversalmente. Este sistema consiste de uma série de lâminas de<br />

madeira serrada dispostas lado a lado e comprimidas transversalmente por meio de<br />

barras de protensão de alta resistência, fazendo com que surjam propriedades de<br />

resistência e elasticidade na direção transversal.<br />

Este conceito, originado no Canadá, despertou o interesse dos Estados<br />

Unidos, que investiu em pesquisas para o desenvolvimento do sistema. Devido ao<br />

grande sucesso no seu emprego, a tecnologia das pontes protendidas se estendeu a<br />

outros países como Austrália, Japão e alguns países europeus, onde técnicas foram<br />

desenvolvidas para a realidade de cada região.<br />

Figura 1 – Ilustração de ponte de madeira com tabuleiro multicelular protendido.<br />

No Brasil, estudos do sistema protendido vêm sendo realizados desde o início<br />

da década de 90. Determinação dos efeitos de perda de protensão e avaliação do<br />

comportamento das placas protendidas de madeira são alguns dos estudos realizados<br />

no país. Porém atualmente ainda não há registro de estudos no país sobre este<br />

sistema com tabuleiro multicelular.<br />

Dentro deste contexto, pesquisas são necessárias para se avaliar o<br />

comportamento estrutural e a análise estrutural das pontes de madeira com tabuleiro<br />

multicelular protendido.<br />

O objetivo deste trabalho é o estudo experimental do comportamento<br />

estrutural de tabuleiros multicelulares protendidos, por meio de ensaios em laboratório<br />

de modelos reduzidos, com a finalidade de avaliar o Fator de Distribuição de Carga<br />

para este tipo de estrutura.<br />

2 COMPORTAMENTO ESTRUTURAL<br />

A Madeira Laminada Protendida consiste de uma série de lâminas de madeira<br />

serrada dispostas lado a lado e comprimidas transversalmente por barras de<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 127-140, <strong>2006</strong>


Avaliação experimental do fator de distribuição de carga para pontes multicelulares de...<br />

129<br />

protensão de alta resistência. A força de compressão transversal aplicada pelas<br />

barras de protensão atua solidarizando as lâminas, figura 2.<br />

Figura 2 – Arranjo básico das placas protendidas de madeira.<br />

Este elemento estrutural é capaz de resistir à flexão transversal e também<br />

transferir esforços de cisalhamento por meio do atrito entre as lâminas.<br />

Na figura 3 pode-se observar o comportamento da Madeira Laminada<br />

Protendida quando solicitada. A flexão transversal produz uma tendência de<br />

afastamento das lâminas na parte inferior da placa e, o cisalhamento produz uma<br />

tendência de escorregamento vertical entre as lâminas. Em ambos os casos, esses<br />

efeitos não irão ocorrer se a placa tiver um nível de protensão suficiente. Como<br />

conseqüência, a manutenção de um adequado nível de protensão é o aspecto mais<br />

importante para construções em Madeira Laminada Protendida.<br />

Figura 3 – Mecanismos resistentes da madeira laminada protendida. CREWS (2000).<br />

Em função da capacidade de transferência de esforços nas duas direções<br />

preferenciais (longitudinal e transversal), a Madeira Laminada Protendida pode ser<br />

representada por uma placa ortotrópica com diferentes propriedades mecânicas nas<br />

duas direções.<br />

As propriedades mecânicas da placa são fortemente influenciadas por fatores<br />

como: espécie da madeira, teor de umidade da madeira, geometria da placa,<br />

freqüência de juntas de topo e nível de protensão.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 127-140, <strong>2006</strong>


130<br />

Jorge Luis Nunes Góes & Antonio Alves Dias<br />

O sistema em tabuleiro multicelular protendido, consiste de duas placas de<br />

Madeira Laminada Protendida, formando a mesa superior e inferior, ligadas às<br />

nervuras. A geometria otimizada da seção transversal aumenta significativamente a<br />

rigidez à flexão longitudinal e a rigidez à torção, tornando este tipo de estrutura uma<br />

excelente opção para vãos de 12 a 25 metros, GANGARAO & LATHEEF (1991).<br />

Quando é submetido a um carregamento concentrado qualquer, um tabuleiro<br />

multicelular sofre deformação, como indicado na figura 4a.<br />

O’BRIEN & KEOGH (1999) indicam a existência de quatro formas principais<br />

de deformação associadas aos tabuleiros com tabuleiro multicelular. O primeiro modo<br />

de deformação é o de flexão longitudinal, figura 4b. A rigidez à flexão longitudinal total<br />

do tabuleiro pode ser considerada aplicando-se os conceitos básicos da Resistência<br />

dos Materiais, desde que haja monolitismo no conjunto e possa ser assumida a<br />

ausência de deformação cisalhante no plano horizontal do tabuleiro (Shear Lag).<br />

No caso da deformação devido à flexão transversal, figura 4c, de modo geral<br />

pode-se desprezar a contribuição das almas, considerando apenas a rigidez das<br />

mesas.<br />

O terceiro modo é a torção do tabuleiro, como indicado na figura 4d. Para<br />

tabuleiros multicelulares contendo cinco ou mais células, a rigidez a torção total do<br />

tabuleiro pode ser tomada considerando apenas a seção externa como se fosse<br />

somente uma seção caixão. Esta consideração é justificada pelo fato de que em<br />

tabuleiros multicelulares, o fluxo de cisalhamento nas almas interiores é muito<br />

pequeno, e somente o fluxo em torno das mesas e almas externas é significante.<br />

Figura 4 – Comportamento estrutural do sistema com tabuleiro multicelular.<br />

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Avaliação experimental do fator de distribuição de carga para pontes multicelulares de...<br />

131<br />

E por fim, o quarto modo de deformação, que caracteriza as estruturas com<br />

tabuleiro multicelular, chamado de distorção, figura 4e. A distorção é causada pela<br />

flexão localizada das almas e flanges das células individuais. O comportamento é<br />

similar ao observado nas vigas Vierendeel. Os principais fatores que afetam a<br />

distorção são as dimensões das células em relação à altura total da seção e a rigidez<br />

individual das almas e mesas. Segundo WEST (1973), apud CUSENS & PAMA<br />

(1975), o efeito da distorção deve ser considerado quando a área vazia das células<br />

exceder 60% da seção transversal total. Para os casos usuais de pontes protendidas<br />

com tabuleiro multicelular esta relação raramente excede os 50%.<br />

3 MODELO SIMPLIFICADO DE CÁLCULO<br />

As pontes protendidas de madeira com tabuleiro multicelular são sistemas<br />

tipicamente ortotrópicos e necessitam de modelos analíticos sofisticados para estimar<br />

seu comportamento estrutural sob carregamentos de projeto. Existem vários modelos<br />

de cálculo que podem ser empregados para o dimensionamento deste tipo de<br />

estrutura. Como exemplo, podem ser citados os modelos de placa ortotrópica<br />

equivalente, elementos finitos, grelha, viga equivalente, entre outros.<br />

As análises via elementos finitos e de placa ortotrópica são precisas para<br />

predizer o comportamento em serviço dessas pontes. Todavia, a complexidade destes<br />

modelos pode ser limitante se não houver um computador disponível, e o<br />

desenvolvimento de procedimentos simplificados de cálculo torna-se indispensável.<br />

A forma mais prática e simples de se considerar uma ponte em placa é<br />

fazendo uma analogia à viga. Este método é chamado de Modelo de Viga<br />

Equivalente. Nesse modelo, a complexidade do tabuleiro da ponte é reduzida para<br />

uma viga simplesmente apoiada com determinada largura efetiva, figura 5.<br />

Figura 5 – Viga transformada seção I.<br />

A largura da aba da seção da viga equivalente é determinada por uma<br />

equação desenvolvida a partir da análise de placas ortotrópicas, equação 1.<br />

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132<br />

Jorge Luis Nunes Góes & Antonio Alves Dias<br />

⎛<br />

2 ⎞<br />

⎜ ⎛ S ⎞ ⎟<br />

⎜<br />

1+<br />

υxy⎜<br />

⎟<br />

S ⎝ L ⎟<br />

b<br />

⎠<br />

m = ⋅⎜<br />

⎟<br />

(1)<br />

2<br />

2<br />

⎜ Ex<br />

⎛ S ⎞ ⎟<br />

⎜1+<br />

⎜ ⎟ ⎟<br />

⎝<br />

G xy ⎝ L ⎠ ⎠<br />

Onde:<br />

b m = largura da aba;<br />

S = distância livre entre as nervuras,<br />

L = vão da ponte;<br />

ν xy = coeficiente de Poisson;<br />

E x = módulo de elasticidade na direção longitudinal<br />

G xy = módulo de elasticidade à torção<br />

A direção “x” corresponde à direção longitudinal (orientação do tráfego) da<br />

ponte e a direção “y” corresponde à direção transversal.<br />

A equação 1 foi então modificada para considerar o comportamento altamente<br />

ortotrópico das pontes de Madeira Laminada Protendida, tornando o coeficiente de<br />

Poisson nulo e introduzindo o parâmetro “Shear Lag” (K).<br />

b<br />

m<br />

S<br />

= 2<br />

(2)<br />

2<br />

⎛ S ⎞<br />

1+<br />

⎜K<br />

⎟<br />

⎝ 2L ⎠<br />

Onde,<br />

Ex<br />

K = 2 (parâmetro “Shear Lag”) (3)<br />

G<br />

xy<br />

Baseado em testes realizados na West Virginia University e no FPL, TAYLOR<br />

et. al. (2000) sugerem E x /G xy =60, ou seja, K=15,5. Este valor é válido para tabuleiros<br />

de madeira serrada.<br />

TAYLOR et. al. (2000) indicam que, a partir da largura da aba (b m ), a largura<br />

efetiva ou largura da mesa da viga interna equivalente de seção I pode ser estimada<br />

como sendo:<br />

b e = 2bm<br />

+ bw<br />

(4)<br />

Para vigas externas, a largura efetiva ou largura da mesa é dada por:<br />

b e = bm<br />

+ bw<br />

(5)<br />

Com b w = largura da nervura.<br />

Os efeitos da distorção podem ser desprezados se obedecidos certos limites<br />

geométricos. Segundo CREWS (2002), pesquisadores da WVU estudaram os efeitos<br />

da distorção e indicam os seguintes limites para as relações entre espaçamento entre<br />

vigas, largura e espessura dos tabuleiros.<br />

S<br />

≤ 2,5 e S ≤ 127 cm<br />

(6)<br />

2⋅<br />

h<br />

f<br />

S + b<br />

h<br />

f<br />

w ≤<br />

6,0<br />

e<br />

S + b 152 cm<br />

(7)<br />

w ≤<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 127-140, <strong>2006</strong>


Avaliação experimental do fator de distribuição de carga para pontes multicelulares de...<br />

133<br />

Seguindo os limites descritos acima pode-se afirmar que a largura da aba<br />

contribuinte para tabuleiros de seção caixão é:<br />

b m ≥ 0,34⋅S<br />

(8)<br />

O valor máximo do Fator de Distribuição de Carga é apresentado na equação<br />

9. Segundo CREWS (2002), esta equação foi obtida teoricamente, a partir de Séries<br />

de Fourier para placas.<br />

1+<br />

Ce<br />

WL<br />

= (9)<br />

⎛ 2 ⎞ 2<br />

⎜ + Ce<br />

⎟ ⋅ Nb<br />

−<br />

⎝ π ⎠ π<br />

Onde:<br />

W L = Fator de Distribuição de Carga;<br />

N b = número total de vigas ao longo da seção transversal;<br />

C e = coeficiente de deslocamento da borda.<br />

δe<br />

Ce<br />

= (10)<br />

δ − δe<br />

Onde:<br />

δ e = flecha da viga da borda;<br />

δ = flecha máxima do tabuleiro.<br />

Logicamente, quanto maior for a rigidez transversal do tabuleiro, maior será o<br />

valor de C e . Da mesma forma o coeficiente C e é proporcional à rigidez à torção do<br />

tabuleiro. Como já observado anteriormente, o sistema protendido com tabuleiro<br />

multicelular possui elevada rigidez à torção. Portanto, nesse caso, os valores de C e<br />

são relativamente maiores que os de outros sistemas.<br />

Para as pontes protendidas com tabuleiro multicelular, foi adotado o valor C e =<br />

2. Apesar dos resultados experimentais em campo demonstrarem grande variação,<br />

este valor foi adotado como padrão, pois os erros envolvidos pareceram não ser<br />

significantes, CREWS (2002).<br />

Considerando as simplificações acima descritas, o valor do Fator de<br />

Distribuição de Carga pode ser expresso da seguinte forma:<br />

3NL<br />

WL<br />

= (11)<br />

2,64Nb<br />

− 0,64<br />

Onde:<br />

N L = número de faixas de tráfego,<br />

N b = número de vigas ao longo da seção transversal.<br />

A equação 11, descrita anteriormente, desenvolvida teoricamente a partir de<br />

Séries de Fourier para placas e ajustada com resultados experimentais em campo,<br />

indica o maior valor que o Fator de Distribuição de Carga pode assumir.<br />

Como pode-se observar, a eficiência do Modelo de Viga Equivalente depende<br />

diretamente do real valor do Fator de Distribuição de Carga.<br />

Com o objetivo de avaliar o Fator de Distribuição de Carga, GÓES (2005)<br />

realizou uma investigação experimental em modelo pouco reduzido em escala 1:3 de<br />

um tabuleiro multicelular protendido. A descrição dos ensaios, bem como os<br />

resultados e conclusões do trabalho, são descritas a seguir.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 127-140, <strong>2006</strong>


134<br />

Jorge Luis Nunes Góes & Antonio Alves Dias<br />

4 EXPERIMENTAÇÃO NO TABULEIRO MULTICELULAR PROTENDIDO<br />

O modelo reduzido ensaiado foi todo construído em madeira da espécie<br />

Cedrinho. As nervuras foram reproduzidas por vigas maciças, com dimensões<br />

nominais 4 x 20 x 400cm e as lâminas de madeira do tabuleiro, por sarrafos de 1,7 x 5<br />

x 400cm. A figura 6 ilustra a configuração da seção transversal do modelo com 16<br />

nervuras.<br />

Figura 6 – Seção transversal do modelo reduzido.<br />

Na fase preliminar, todas as peças de madeira já serradas, foram furadas uma<br />

a uma para a passagem das barras de protensão. O diâmetro dos furos é de ½”, e o<br />

espaçamento é de 25 cm entre eixos, conforme projeto do modelo (figura 6). A figura<br />

7 mostra a realização dos furos nas peças de madeira.<br />

Figura 7 – Vista lateral do modelo e o espaçamento entre as barras de protensão.<br />

Figura 8 – Furação das peças de madeira.<br />

Após a fase preliminar, todas as peças de madeira utilizadas no modelo foram<br />

caracterizadas por ensaios não destrutivos de flexão estática. Os ensaios consistem<br />

em aplicar o carregamento com duas forças concentradas espaçadas de 50cm no<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 127-140, <strong>2006</strong>


Avaliação experimental do fator de distribuição de carga para pontes multicelulares de...<br />

1<strong>35</strong><br />

centro do vão sobre a peça bi-apoiada, medindo a flecha máxima a cada novo<br />

incremento de carregamento Esta configuração do ensaio de flexão tem justificativa<br />

no fato de que o modelo reduzido é ensaiado como mesmo espaçamento entre as<br />

cagas concentradas. Desses ensaios foi obtido o módulo de elasticidade à flexão de<br />

cada peça (figura 9)<br />

Figura 9 – Configuração do ensaio flexão estática das nervuras.<br />

Em seguida, o modelo foi montado sobre apoios contínuos, compostos por<br />

barra de aço redondo sobre viga de aço rígida. Foram utilizadas barras roscadas<br />

(M10) com 10 mm de diâmetro para simular as barras de protensão. A figura 10<br />

mostra a montagem do modelo reduzido.<br />

Figura 10 – Montagem do tabuleiro multicelular protendido.<br />

O modelo foi instrumentado com transdutores de deslocamento na face<br />

inferior de cada nervura no centro do vão, bem como célula de carga para registro da<br />

carga aplicada no modelo.<br />

O modelo reduzido foi ensaiado com vários arranjos de carregamentos<br />

diferentes, simétricos e assimétricos, com a finalidade de determinar o Fator de<br />

Distribuição de Carga Experimental para cada nível de protensão distinto.<br />

Para cada um dos três níveis de protensão estudados (700 kPa, 550 kPa e<br />

<strong>35</strong>0 kPa), era realizada uma bateria de ensaios, com os vários arranjos de<br />

carregamento. Os carregamentos concentrados foram aplicados com peças de<br />

madeira de alta densidade sob perfis metálicos.<br />

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Jorge Luis Nunes Góes & Antonio Alves Dias<br />

As dimensões das cargas concentradas usadas no modelo eram 6,7cm de<br />

comprimento (sentido longitudinal) e 16,7cm de largura. Essas medidas<br />

correspondem às dimensões reais da área de contato das rodas do Veículo tipo<br />

Classe 45 (20 x 50cm), conforme NBR 7188.<br />

As figuras 11 e 12 ilustram a geometria e o posicionamento dos<br />

carregamentos concentrados aplicados no modelo, bem como seu arranjo.<br />

Figura 11 – Posicionamento dos carregamentos concentrados.<br />

Figura 12 – Arranjo dos carregamentos concentrados.<br />

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

O Fator de Distribuição de Carga representa a parcela do montante total de<br />

carga aplicada, pela qual cada viga de seção I é solicitada. Admitindo-se que todas as<br />

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Avaliação experimental do fator de distribuição de carga para pontes multicelulares de...<br />

137<br />

vigas de seção I que compõem o tabuleiro tenham a mesma rigidez à flexão<br />

longitudinal (EI), pode-se estimar o Fator de Distribuição de Carga através dos<br />

deslocamentos de caga viga relacionados com a soma dos deslocamentos de todas<br />

vigas (equação 87).<br />

W<br />

L<br />

δi<br />

= *100<br />

(12)<br />

n<br />

∑ δ<br />

i<br />

i=<br />

1<br />

Onde:<br />

δ i = deslocamento vertical medido no ensaio no ponto i;<br />

W L = Fator de Distribuição de Carga no ponto i.<br />

É necessário ressaltar, que o Fator de Distribuição de Carga, obtido dos<br />

ensaios realizados é correspondente ao tipo de carregamento empregado. No caso<br />

foram utilizadas quatro cargas concentradas distanciadas de 66,7 cm na direção<br />

transversal e 50 cm na direção longitudinal, que em escala real correspondem a 200<br />

cm e 150 cm, respectivamente.<br />

Os gráficos das figuras 13 a 15 mostram a distribuição de carga ao longo da<br />

seção transversal do modelo ensaiado com as duas configurações de tabuleiro.<br />

Figura 13 – Fator de Distribuição de Carga do ensaio P1-700/X.<br />

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Jorge Luis Nunes Góes & Antonio Alves Dias<br />

Figura 14 – Fator de Distribuição de Carga do ensaio P1-550/X.<br />

Figura 15 – Fator de Distribuição de Carga do ensaio P1-<strong>35</strong>0/X.<br />

Observando os gráficos de distribuição de carga pode ser notado que quanto<br />

maior o nível de protensão, menor é o Fator de Distribuição de Carga. Isto ocorre<br />

devido ao acréscimo de rigidez transversal do tabuleiro, provocado pelo maior nível de<br />

protensão.<br />

Também pode ser observado que o maior valor de Fator de Distribuição de<br />

Carga é de 18% e ocorre no ensaio com carregamento posicionado na lateral e <strong>35</strong>0<br />

kPa de tensão de protensão.<br />

O Fator de Distribuição de Carga teórico obtido pela equação 11, para o<br />

tabuleiro em questão é:<br />

3NL<br />

3⋅<br />

2<br />

WL = =<br />

= 0,14<br />

(13)<br />

2,64N − 0,64 2,64⋅16<br />

− 0,64<br />

b<br />

Fazendo-se a comparação do valor obtido da experimentação com o obtido<br />

pela equação 11, pode-se verificar uma diferença considerável – experimental (18%)<br />

e teórico (14%).<br />

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Avaliação experimental do fator de distribuição de carga para pontes multicelulares de...<br />

139<br />

Os resultados desta análise experimental indicam que o Fator de Distribuição<br />

de Carga teórico obtido com o uso da equação 11 pode ser, em alguns casos, contra<br />

a segurança, dependendo do posicionamento do carregamento.<br />

6 CONCLUSÕES<br />

O Modelo de Viga Equivalente é um modelo simplificado de cálculo que vem<br />

sendo utilizado há algum tempo, principalmente nos Estados Unidos, para o<br />

dimensionamento de tabuleiros multicelulares de madeira protendida. O Modelo é<br />

simples e depende diretamente do Fator de Distribuição de Carga. A eficiência do<br />

Modelo de Viga Equivalente depende diretamente do real valor do Fator de<br />

Distribuição de Carga.<br />

Entretanto, na análise experimental conduzida neste trabalho, o valor teórico<br />

do Fator de Distribuição de Carga não apresentou boa concordância, indicando<br />

valores contra a segurança.<br />

Para a determinação do correto valor deste Fator, são necessárias várias<br />

simulações numéricas e ensaios experimentais, com variações da geometria e<br />

número de nervuras, em tabuleiros multicelulares protendidos.<br />

Após estas várias simulações e ensaios poderá ser apresentada uma nova<br />

equação para o Fator de Distribuição de Carga que represente as condições<br />

nacionais de solicitação.<br />

7 AGRADECIMENTOS<br />

Os autores expressam seus agradecimentos à FAPESP – “Fundação de<br />

Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo”, pela concessão da bolsa de estudos e<br />

suporte financeiro para o desenvolvimento da pesquisa.<br />

8 REFERÊNCIAS<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT (1984). NBR 7188 –<br />

Cargas Móveis em Pontes Rodoviárias e Passarelas de Pedestres. Rio de Janeiro.<br />

CUSENS, A. R.; PAMA, R. P. (1975). Bridge Deck Analysis. London: Editora John<br />

Wiley Sons.<br />

CREWS, K. I. (2000). Development of Limit States Design (LRFE) Methods for<br />

Stress Laminated Timber “Celluler” Bridge Decks. In: WORLD CONFERENCE ON<br />

TIMBER ENGINEERING, 6., Aug. 2000, Whistler, Canada. Proceedings… 1 CD-<br />

ROM.<br />

CREWS, K. I. (2002). Behaviour and Critical Limit States of Transversely<br />

Laminated Timber Cellular Bridge Decks. Sydney. 252p. PhD Thesis – Faculty of<br />

Engineering – University of Technology.<br />

GANGARAO, H. V. S.; LATHEEF, I. (1991). System Innovation and Experimental<br />

Evaluation of Stressed-timber Bridges. In: TRANSPORTATION RESEARCH<br />

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140<br />

Jorge Luis Nunes Góes & Antonio Alves Dias<br />

RECORDS 1275, TRB, National Research Council, Washington D.C., v2, p.293-305.<br />

Proceedings of the fifth international conference on low-volume roads.<br />

GÓES, J. L. N. (2002). Análise de vigas de madeira pregadas com seção<br />

composta. São <strong>Carlos</strong>. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São<br />

<strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />

GÓES, J. L. N. (2005). Estudo de Pontes de Madeira com Tabuleiro Multicelular<br />

Protendido. São <strong>Carlos</strong>. 184p. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São<br />

<strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />

O’BRIEN, E. J.; KEOGH, D. K. (1999). Bridge Deck Analysis. London and New York.<br />

E & FN SPON – Taylor & Francis Group.<br />

TAYLOR, S. E. et. al. (2000). Evaluation of Stress-Laminated Wood T-beam and<br />

Box-beam Bridge Superestrutures. Project 96-RJVA-2821, Joint Venture Project<br />

between Auburn University, University of Alabama and Forest Products Laboratory,<br />

Madison, WI (Final Draft Report – 104p.).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 8, n. <strong>35</strong>, p. 127-140, <strong>2006</strong>

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