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São Carlos, v.7 n. 24 2005 - SET - USP

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São <strong>Carlos</strong>, <strong>v.7</strong> n. <strong>24</strong> <strong>2005</strong>


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO<br />

Reitor:<br />

Prof. Titular ADOLFO JOSÉ MELFI<br />

Vice-Reitor:<br />

Prof. Titular HÉLIO NOGUEIRA DA CRUZ<br />

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS<br />

Diretor:<br />

Prof. Titular FRANCISCO ANTONIO ROCCO LAHR<br />

Vice-Diretor:<br />

Prof. Titular RUY ALBERTO CORREA ALTAFIM<br />

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS<br />

Chefe do Departamento:<br />

Prof. Titular CARLITO CALIL JÚNIOR<br />

Suplente do Chefe do Departamento:<br />

Prof. Titular SÉRGIO PERSIVAL BARONCINI PROENÇA<br />

Coordenador de Pós-Graduação:<br />

Prof. Associado MÁRCIO ROBERTO SILVA CORRÊA<br />

Coordenadora de Publicações e Material Bibliográfico:<br />

MARIA NADIR MINATEL<br />

e-mail: minatel@sc.usp.br<br />

Editoração e Diagramação:<br />

FRANCISCO CARLOS GUETE DE BRITO<br />

MASAKI KAWABATA NETO<br />

MELINA BENATTI OSTINI<br />

TATIANE MALVESTIO SILVA


São <strong>Carlos</strong>, <strong>v.7</strong> n. <strong>24</strong> <strong>2005</strong>


Departamento de Engenharia de Estruturas<br />

Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – <strong>USP</strong><br />

Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro<br />

CEP: 13566-590 – São <strong>Carlos</strong> – SP<br />

Fone: (16) 3373-9481 Fax: (16) 3373-9482<br />

site: http://www.set.eesc.usp.br


SUMÁRIO<br />

Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/<br />

diâmetro e fundo plano<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior 1<br />

Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Junior 35<br />

Método dos elementos de contorno com reciprocidade dual para a análise<br />

transiente tridimensional da mecânica do fraturamento<br />

João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini 65<br />

Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />

Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato 91<br />

A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs 117


ISSN 1809-5860<br />

ESTUDO TEÓRICO E EXPERIMENTAL DAS<br />

PRESSÕES EM SILOS DE BAIXA RELAÇÃO<br />

ALTURA/DIÂMETRO E FUNDO PLANO<br />

Edna das Graças Assunção Freitas 1 & Carlito Calil Júnior 2<br />

Resumo<br />

A armazenagem em fazenda necessita ser expandida de modo a propiciar um melhor<br />

equilíbrio de fluxos e funções entre as etapas da rede armazenadora. No Brasil, embora<br />

não se disponha de números exatos, sabe-se que armazenagem na fazenda é mínima,<br />

sendo estimada em torno de 4% a 7%, dependendo da região. Em geral, os silos<br />

utilizados para a armazenagem em fazenda apresentam baixa relação entre a altura do<br />

silo e o seu diâmetro ou lado (0,75 a 1,5) e fundo plano. Podem ser construídos com os<br />

mais diversos materiais, como concreto, madeira, argamassa armada etc., mas a<br />

predominância é a utilização de silos metálicos em chapa de aço ondulada. Apesar da<br />

intensa utilização destas unidades em todo o mundo, e serem as mais produzidas pela<br />

indústria, a previsão das pressões devidas ao produto armazenado é ainda divergente<br />

entre os pesquisadores e normas existentes. Este trabalho foi realizado em duas etapas:<br />

teórica e experimental. Na parte teórica, deu-se ênfase à análise comparativa das<br />

principais teorias e normas internacionais. Na parte experimental, foram feitos ensaios<br />

diretos em um silo protótipo com relação h/d=0,98 e um silo piloto para relações<br />

h/d=0,98, 1,25 e 1,49, ambos de chapa de aço ondulada, para obtenção das pressões<br />

horizontais na parede e verticais no fundo plano. Com base nos resultados<br />

experimentais propõe-se modelos empíricos para a determinação das pressões<br />

horizontais e verticais no fundo plano do silo para esse tipo de unidade armazenadora.<br />

Palavras-chave: Silos de baixa relação altura/diâmetro; pressões.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O armazenamento em fazenda constitui prática de suma importância, tanto para<br />

complementar a estrutura armazenadora quanto para minimizar as perdas em quantidade<br />

e qualidade a que estão sujeitos os produtos colhidos.<br />

Em geral, os silos utilizados para a armazenagem em fazenda apresentam baixa<br />

1 Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFRRJ, ednario@bol.com.br<br />

2 Professor Titular do Departamento de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, calil@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


2<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

relação entre a altura do silo e o seu diâmetro ou lado (0,75 a 1,5) e fundo plano. Isto se<br />

justifica pelo grande aumento da capacidade do silo com o aumento do seu diâmetro e<br />

também porque a manipulação de silos baixos é mais fácil e de menor custo (CALIL<br />

JR., 1987).<br />

Podem ser construídos com os mais diversos materiais, como concreto , madeira,<br />

argamassa armada, etc., mas a predominância é a utilização de silos metálicos em chapa<br />

galvanizada corrugada. Segundo HAYNAL (1989), o silo fabricado em concreto<br />

armado torna-se muito oneroso para o agricultor, principalmente para o de porte médio.<br />

Segundo ele, o concreto armado é mais apropriado para armazéns graneleiros e só é<br />

viável economicamente a partir de uma capacidade de cinco mil toneladas. Com esse<br />

tamanho ou mais, seu custo passa a ser equivalente ao do silo metálico. O silo metálico<br />

serve a qualquer tipo de grão, tendo como vantagem mais destacada a possibilidade de<br />

se conseguir uma armazenagem livre de ratos e pragas, o que não ocorre com os<br />

armazéns convencionais que precisam de desinfecção tanto do ambiente quanto da<br />

sacaria.<br />

Apesar da intensa utilização destas unidades em todo o mundo, e serem as mais<br />

produzidas pela indústria, a previsão das pressões exercidas pelo produto armazenado é<br />

ainda divergente entre os pesquisadores e normas existentes.<br />

As diferentes contribuições em pesquisa e tecnologia, que todos os países têm<br />

realizado, geralmente chegaram ao conhecimento comum dos técnicos pelas diferentes<br />

normas de cálculo de silos elaboradas. Neste sentido é lamentável que o Brasil não<br />

disponha de norma própria, com exceção de duas referências a terminologias para silos<br />

de grãos vegetais TB-374 e TB-377.<br />

As recomendações das normas internacionais para a previsão das pressões devidas<br />

ao produto armazenado, de um modo geral, são baseadas em duas fontes: experimentos<br />

nos quais as pressões são medidas em silos reais ou em modelos de silos, e em modelos<br />

teóricos. Uma dificuldade imediata aparece devido ao limitado campo de aplicação dos<br />

experimentos disponíveis. Em particular, muito poucas observações experimentais são<br />

avaliáveis para silos de baixa relação altura/ diâmetro ou lado (CALIL JR., 1990), o<br />

que, de acordo com BROWN & NIELSEN (1998), atualmente é o tipo de unidade<br />

armazenadora que mais necessita de pesquisas tendo em vista sua tendência mundial de<br />

popularização.<br />

Com base no exposto este trabalho este trabalho tem por objetivo o estudo<br />

teórico e experimental das pressões em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro<br />

e fundo plano para armazenamento de produtos de fluxo livre com a finalidade de<br />

propor um modelo empírico para a previsão das pressões devidas ao produto<br />

armazenado nestas unidades.<br />

2 SILOS CILÍNDRICOS DE BAIXA RELAÇÃO ALTURA/DIÂMETRO<br />

A importância da classificação das estruturas de armazenamento de produtos a<br />

granel, segundo as suas dimensões, está no fato que, de um modo geral, a previsão das<br />

pressões estáticas ou dinâmicas estão baseadas segundo essa classificação. Embora<br />

algumas normas não façam essa classificação, na maioria das vezes prevêem pressões<br />

diferenciadas em função da relação h/d. A tabela 1 apresenta a classificação dos silos<br />

segundo as suas dimensões, de acordo com as principasi normas internacionais.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

3<br />

Tabela 1 – Classificação dos silos segundo a relação h/d<br />

Classificação<br />

Norma Baixo Medianamente esbelto Esbelto<br />

Australiana AS-1996 h/d3<br />

Eurocode(ENV)-1995<br />

ISO-1997 h/d2<br />

Alemã DIN-1987 * h/d5µ<br />

Inglesa BMHB-1985 h/d≤1,5 --- h/d>1,5<br />

* Não possui essa classificação.No cálculo teórico das pressões há diferenciação quando<br />

o silo tem a relação geométrica indicada.<br />

Analogamente aos silos altos, os silos cilíndricos de baixa relação<br />

altura/diâmetro podem ser construídos com os mais diversos materiais, mas a grande<br />

maioria deste tipo de silo, mesmo em termos mundiais, são metálicos, de chapa lisa ou<br />

corrugada. Podem ser descarregados através de fluxo por gravidade ou através de meios<br />

mecânicos. O fundo pode ser em forma de funil ou plano. A célula de fundo plano<br />

requer menos altura para um determinado volume de material armazenado. O seu custo<br />

inicial é baixo, comparado a outros tipos, e uma das razões pela qual a construção pode<br />

ser econômica é que o produto repousa sobre o solo, do qual ele é isolado apenas por<br />

uma laje impermeável. Isso significa que a fundação é limitada a um anel de concreto<br />

sob as paredes. O recalque do fundo plano resultante das pressões verticais exercidas<br />

pelo produto não é considerado problemático.<br />

2.1 Pressões em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro<br />

De um modo geral as normas internacionais adotam a teoria de Janssen e/ou de A<br />

& M Reimbert para a previsão das pressões estáticas, considerando coeficientes de<br />

sobrepressão para a obtenção das pressões dinâmicas, analogamente aos silos altos,<br />

como também apresentam algumas simplificações para o cálculo das pressões<br />

diferentemente dos silos altos.<br />

Na verdade, pouco é conhecido sobre a magnitude e a distribuição da pressão<br />

normal à parede em silos baixos. Do ponto de vista técnico, os silos de baixa relação<br />

altura/diâmetro apresentam menos problemas de estabilidade geral, mas maiores<br />

problemas de estabilidade local (CALIL JR., 1990). As pressões em silos de baixa<br />

relação altura/diâmetro são muito afetadas pela forma da superfície livre do produto<br />

armazenado, o que não tem a mesma influência em silos altos. De um modo geral, as<br />

normas não levam em conta as implicações desse fato, de modo a obter-se formulações<br />

mais precisas e econômicas (Brown & Nielsen, 1998).<br />

Para silos de baixa relação altura/diâmetro, muitos pesquisadores questionam a<br />

validade da solução de Janssen ou de Reimbert e propõem a solução de Rankine<br />

desenvolvida para uma parede de contenção de terra de extensão ilimitada (CALIL JR.,<br />

1987), ou a solução de Coulomb (WIJK, 1993). Isto é também reconhecido pela norma<br />

alemã DIN 1055 [10], que indica que as pressões na parede sejam obtidas pela teoria<br />

das pressões de terra para relações altura/diâmetro menores que 0,8.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


4<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

2.1.1 Teorias para silos de baixa relação altura/diâmetro<br />

Teoria de Rankine<br />

Nesta teoria, publicada em 1857, o pesquisador analisa o estado de tensão em um<br />

maciço granular, fofo, não coesivo e semi-infinito. Ela foi desenvolvida com a hipótese<br />

que a deformação no maciço produz um estado ativo ou passivo de pressões, conforme<br />

a pressão vertical seja a maior ou a menor pressão principal. Segundo Safarian e Harris<br />

(1985), este método não é muito preciso para silos de baixa relação altura/diâmetro,<br />

tendo em vista que ignora as condições de contorno deste tipo de unidade armazenadora<br />

e a força de força de atrito nas paredes é considerada nula. A figura 1 apresenta as<br />

pressões exercidas pelo produto e parâmetros envolvidos para silos de baixa relação<br />

altura/diâmetro e fundo plano, de acordo com a teoria de Rankine.<br />

Superfície livre do produto<br />

h<br />

↓<br />

φ r<br />

p v<br />

↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓<br />

d<br />

Figura 1 – Pressões exercidas pelo produto em silos de fundo plano, de acordo<br />

com a teoria de Rankine<br />

De acordo com as seguintes situações em relação à superfície livre do produto, as<br />

formulações para as pressões horizontais e verticais são:<br />

(a) Superfície de topo do produto armazenado é horizontal<br />

• Pressão horizontal estática na profundidade z:<br />

p h = Kγz (1)<br />

onde<br />

1−<br />

sen φr<br />

K =<br />

1+<br />

sen φr<br />

(2)<br />

• Pressão vertical estática na profundidade z, abaixo da superfície, é:<br />

p v = γz (3)<br />

(b) Superfície do produto armazenado com inclinação igual ao ângulo de repouso<br />

• Pressão horizontal estática na profundidade z é:<br />

p h = γzcos 2 φ r (4)<br />

• Pressão estática vertical na profundidade z é:<br />

p v = γ(z + a 0 tgφ r ) (5)<br />

CALIL JR. (1987) com base em experimentação em silos cilíndricos de baixa<br />

relação altura/diâmetro ou lado, propõe a modificação do valor de K da teoria de<br />

2<br />

1 − sen φ<br />

Rankine para a formulação de Hartmann ( K =<br />

i<br />

), para o caso de silos de<br />

2<br />

1 + sen φi<br />

chapa de aço corrugada. Esta proposta será denominada de teoria de Rankine-Calil e é<br />

valida para silos onde a superfície livre do produto é plana ou não. Nesse caso, a<br />

profundidade z é obtida a partir da superfície de referência, conforme a figura 2.<br />

p h<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

5<br />

Superfície livre do produto<br />

↓z<br />

h<br />

p v<br />

↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓<br />

d<br />

Figura 2 – Pressões exercidas pelo produto em silos de fundo plano,<br />

de acordo com a teoria de Rankine-Calil<br />

p h<br />

Teoria de Coulomb<br />

Na sua teoria publicada em 1776, Coulomb considerou a existência de atrito<br />

entre o material e a parede de contenção e, como na solução de Rankine e Janssen, é<br />

assumido que o maciço está em um estado ativo. A menor pressão horizontal possível é<br />

aquela do estado ativo e, nesse caso, as formulações obtidas para a pressão horizontal,<br />

de atrito, e a vertical são:<br />

2<br />

cos φ<br />

p<br />

i<br />

h = γz<br />

[ 1 sen ] 2<br />

(6)<br />

+ φi<br />

1+<br />

E<br />

Esenφicosφ<br />

p<br />

i<br />

w = γz<br />

(7)<br />

1+<br />

senφ<br />

1+<br />

E<br />

p<br />

E<br />

v<br />

[ ] 2<br />

2<br />

i<br />

[ 1 + senφ<br />

1 + E] 2<br />

i<br />

2<br />

1 + sen φi<br />

+ 2senφi<br />

1 − E<br />

= γz<br />

(8)<br />

tanφ<br />

ω<br />

= (9)<br />

tanφ<br />

i<br />

2.1.2 Pressões para silos de baixa relação altura/diâmetro e fundo plano segundo as<br />

principais normas internacionais<br />

As normas de um modo geral propõem formulações para as pressões exercidas<br />

pelos produtos armazenados nas paredes e fundo de silos de baixa relação<br />

altura/diâmetro diferenciada dos silos altos, bem como pressões adicionais para levar<br />

em conta o efeito de pressões assimétricas, inevitáveis mesmo em silos com<br />

carregamento concêntrico e de eixo simétrico, e que são dependentes das características<br />

do produto e imperfeições na geometria do silo construído.<br />

De um modo geral, a formulação básica para a previsão das pressões é obtida<br />

da teoria de Janssen, mas algumas normas propõem alterações na formulação original,<br />

como no caso da norma inglesa BMHB-1985 ou considerando uma região linearizada na<br />

parte superior do carregamento, como no caso das normas européias ENV-1995 e ISO-<br />

1997 e da australiana AS-1996. A norma DIN-1987 e a americana ACI-1991, para o<br />

caso das pressões horizontais e de atrito, não alteram a formulação de Janssen.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


6<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

3 MATERIAIS E MÉTODOS<br />

A pesquisa desenvolvida no presente trabalho é constituída de duas etapas<br />

principais:<br />

1 - medições diretas através de células de pressão, em um silo protótipo e em um silo<br />

piloto, ambos de chapa metálica ondulada, das pressões horizontais (p h ) ao longo da<br />

parede e verticais (p vf ) no fundo plano<br />

2 – cálculo teórico das pressões adotando-se a formulação de Janssen, de Airy, dos<br />

irmãos Reimbert, de Rankine-Calil, de Bischara e das principais normas internacionais,<br />

de modo a comparar os valores teóricos com os experimentais.<br />

O silo protótipo de baixa relação altura/diâmetro e fundo plano pertence a<br />

Cooperativa Agrícola Mista do Vale do Mogi-Guaçu, em Descalvado-SP, e o silo piloto<br />

foi doado pelo fabricante de silos metálicos Kepler Weber para realização dessa<br />

pesquisa. As características geométricas de ambos os silos são apresentadas nas figuras<br />

63 e 64 respectivamente.<br />

Os ensaios com o silo protótipo foram realizados na própria cooperativa,<br />

utilizando milho como produto armazenado. Foram realizados dois ciclos completos de<br />

carregamento-armazenamento-descarregamento com a capacidade máxima de<br />

armazenamento do silo. Nesse caso, h/d=0,98.<br />

Os ensaios com o silo piloto foram realizados no Laboratório de Madeiras e<br />

Estruturas de Madeira (LaMEM), da Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> da<br />

Universidade de São Paulo, e utilizou-se areia como produto armazenado. Com o silo<br />

piloto foram realizados um total de 12 ciclos completos de carga-armazenamentodescarga<br />

sendo 4 com a relação h/d = 0,98; 4 com h/d = 1,25 e 4 com h/d = 1,49.<br />

3.1 Caracterização das propriedades físicas dos produtos armazenados<br />

Os ensaios para determinação das propriedades físicas dos produtos armazenados<br />

nos silos ensaiados foram realizados no LAMEM/EESC-<strong>USP</strong> de acordo com a<br />

metodologia proposta em MILANI (1993), utilizando o aparelho de cisalhamento TSG<br />

70-140-AVT ("JENIKE Shear Cell").<br />

Os produtos caracterizados foram areia seca ao ar, utilizada nos ensaios com o<br />

silo piloto e o milho armazenado no silo protótipo da cooperativa.<br />

Foram realizados três ensaios e determinados o peso específico e o ângulo de atrito<br />

interno para sua aplicação no cálculo teórico das pressões através do software YLOCUS<br />

desenvolvido por CALIL JR. (1997). Tendo em vista que a parede de ambos os silos<br />

ensaiados serem de chapa metálica ondulada não foi determinado o ângulo de atrito com<br />

a parede, considerado igual ao ângulo de atrito interno. Com a areia foi também<br />

realizado o ensaio de granulometria de acordo com a norma NBR 7181 – Solo-Análise<br />

granulométrica e determinado o teor de umidade do milho.<br />

Os produtos armazenados foram classificados como de fluxo livre de acordo<br />

com a das dimensões do diâmetro de suas partículas, baseada nas considerações de<br />

CALIL JR. (1984).<br />

3.2 Ensaios com o silo protótipo<br />

Para a medição direta das pressões ao longo das paredes e no fundo plano do silo<br />

protótipo, foram utilizadas células de pressão do tipo hidráulica modelo EPC 3500-1-<br />

100, fabricadas pela GEOKON. A adoção dessas células deu-se pelo fato de já terem<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

7<br />

sido usadas com sucesso na medição direta das pressões nas paredes e na tremonha de<br />

um silo protótipo horizontal e em silo piloto horizontal por Gomes (2000) para sua tese<br />

de doutorado “Estudo Teórico e Experimental das Ações em Silos Horizontais”.<br />

As células foram calibradas adotando-se os procedimentos realizados por Gomes<br />

(2000) que utilizou o método proposto por BLIGHT et al (1996). Para esse fim os<br />

transdutores das células foram acoplados ao sistema de aquisição de dados da marca<br />

LINX modelo ADS-2000 que utiliza circuito integrado projetado para diversas<br />

aplicações. Este sistema é composto de uma placa controladora e placas<br />

condicionadoras de sinais conectada ao computador, nesse caso um notebook.<br />

O silo ensaiado tem 20 anos de utilização faz parte de um conjunto de 10 silos,<br />

todos iguais, com capacidade máxima de armazenamento de 300t de milho (figura 3(a)).<br />

É constituído de chapa ondulada de aço galvanizado de 1,5mm de espessura. O corpo do<br />

silo está fixado sobre um viga anel de concreto armado com 40cm de largura e 60cm de<br />

altura. A base do silo é constituída de uma laje plana de concreto armado sob a qual está<br />

situado o túnel de descarga. O produto é descarregado pelo fundo através de um orifício<br />

de 20cm de diâmetro situado no centro do fundo. O silo é carregado pelo topo<br />

centralmente. Para a realização das operações de carga e descarga são utilizados<br />

elevador de caçamba e correia transportadora. As células de pressão foram fixadas nos<br />

parafusos de ligação das chapas e para manter o posicionamento das células nas parede<br />

foi fixada em cada uma delas uma placa quadrada de compensado de 30cm de lado e<br />

18mm de espessura e entre a chapa de compensado e a face da célula, uma manta de<br />

borracha para melhor distribuição das pressões. Após essa etapa foram instaladas 12<br />

células de pressão sendo 6 distribuídas ao longo da parede e 6 no fundo do silo em<br />

contato direto com o produto armazenado. A figura 3(b) apresenta de forma<br />

esquemática o posicionamento das células de pressão na parede e no fundo do silo. Os<br />

terminais das células foram conectados ao sistema LINX de aquisição de dados e este ao<br />

notebook.<br />

Nível da superfície<br />

de referência<br />

Silo ensaiado<br />

h = 8,04<br />

0,79<br />

0,50<br />

1,65<br />

2,40<br />

0,80<br />

0,85<br />

1,05<br />

CP11<br />

CP10<br />

CP9<br />

CP8<br />

CP7<br />

CP6 CP5<br />

CP4 CP3<br />

CP2<br />

CP12<br />

CP1<br />

2,30<br />

0,15 1,85 1,85 0,50 1,85 1,85 0,15<br />

(a)<br />

d = 8,20<br />

(b)<br />

Figura 3 – Silo ensaiado e posicionamento das células de pressão<br />

Após a instalação das células de pressão procedeu-se a calibração “in loco” com<br />

as células ligadas ao sistema de aquisição de dados LINX. O sistema de aquisição de<br />

dados foi configurado para uma freqüência de 10 hertz com coleta de dados a cada 5<br />

segundos de modo a permitir monitoramento das pressões com melhor precisão do<br />

ensaio nas fases dinâmicas de carregamento e descarregamento do silo. O carregamento<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


8<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

foi realizado através de transilagem do milho de um outro silo para o que estava<br />

instrumentado. A transilagem foi realizada utilizando correia transportadora e elevador<br />

de caçamba. A vazão do sistema de transporte era de 40t/hora o que permitiu o<br />

carregamento total do silo em cerca de 8 horas. Foram realizados dois ciclos completos<br />

de carregamento-armazenamento-descarga e os dados coletados simultaneamente e<br />

continuamente em todas as células no decorrer do carregamento, em 16 horas de<br />

armazenamento e no período do descarregamento.<br />

3.3 Ensaios com o silo piloto<br />

Para a medição direta das pressões no silo piloto foram utilizadas as mesmas 12<br />

células de pressão usadas no silo protótipo, inclusive mantendo a mesma identificação<br />

de cada uma e o respectivo canal a que foi conectado no sistema de aquisição de dados<br />

LINX quando da realização dos ensaios no silo protótipo. As células foram<br />

posicionadas no silo piloto de tal forma que mantivesse a mesma posição relativa às<br />

dimensões do silo protótipo. Em função da proposta desse trabalho (silo de baixa<br />

relação altura efetiva/diâmetro < 1,5) foram medidas as pressões para 3 relações h/d de<br />

modo obter experimentalmente as pressões com relação h/d com a realizada com o silo<br />

protótipo e h/d


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

9<br />

0,28<br />

0,38<br />

CP11<br />

CP10<br />

Nível da superfície de referência<br />

h = 1,78<br />

0,51<br />

0,18<br />

0,20<br />

0,23<br />

CP9<br />

CP8<br />

CP7<br />

CP6 CP5<br />

CP4<br />

CP3<br />

CP2<br />

CP12<br />

CP1<br />

0,15 0,26 0,25 0,50 0,25 0,26 0,15<br />

d = 1,82<br />

0,52<br />

Figura 4 – Posicionamento das células de pressão na parede e no fundo do silo piloto para<br />

h/d=0,98<br />

As células foram dispostas aleatoriamente em todo o perímetro do silo,<br />

respeitando-se a distância do seu centro até o nível de referência, pois devido as<br />

dimensões das mesmas não era possível mantê-las em um mesmo alinhamento. Com as<br />

células fixadas na parede do silo procedeu-se a sua conexão com o sistema de aquisição<br />

de dados LINX. A figura 5 mostra a instalação das células. Para a realização do<br />

carregamento da areia no silo foi utilizado um carregador pneumático acionado por uma<br />

motor de 50 Âmperes. A capacidade de armazenamento do silo nessa fase de ensaio foi<br />

de 7,2t de areia. A cada uma hora de carregamento interrompia-se o mesmo por cerca de<br />

20 minutos para que o motor da bomba do pneumático esfriasse e também para dar uma<br />

pausa ao operador responsável pelo carregamento da areia no depósito pelo qual era<br />

sugada até o silo, tendo em vista que o depósito era carregado manualmente,<br />

despejando-se nele a areia ensacada. Em média o carregamento completo para a relação<br />

h/d=0,98 levou cerca de 2 horas e uma vazão média de 3,5 t/hora descontados os<br />

períodos de interrupção. Foram realizados 4 ciclos completos de carregamentoarmazenamento-descarga.<br />

O carregamento era sempre realizado na parte da tarde para<br />

que no dia seguinte, pela manhã, ocorresse o descarregamento. Em média o produto<br />

ficava armazenado cerca de 16 horas. O descarregamento do silo foi realizado por dois<br />

operadores, abrindo–se a válvula e posicionando-se um saco de aninhagem, um após<br />

outro, sob a válvula para recolher a areia. Esse procedimento era executado de forma<br />

contínua o que levou a um fluxo dinâmico e contínuo no descarregamento do produto.<br />

A areia ensacada no descarregamento era então posicionada próxima ao local de<br />

carregamento. Após cada carregamento a superfície do produto era nivelada. Nos dois<br />

primeiros carregamentos foi mantida a posição da célula de pressão CP7 e nos dois<br />

últimos ela foi colocada a 15cm do fundo do silo de modo a verificar a pressão<br />

horizontal no ponto mais próximo possível do fundo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


10<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

(a) Células do fundo<br />

(b) Células da parede<br />

(c) Células da parede<br />

(d) células da parede<br />

Figura 5 – Instalação das células depressão para h/d=0,98<br />

Para a realização dos ensaios para a relação h/d=1,25 e h/d=1,49 foi montada a<br />

terceira parte do corpo do silo e a cobertura cônica. As figuras 6(a) e 6(b) apresentam de<br />

forma esquemática o posicionamento das células em relação ao nível de referência das<br />

relações h/d=1,25 e h/d=1,49 respectivamente.<br />

h = 2,27<br />

0,57<br />

Nível da superfície de referência<br />

0,36<br />

0,48<br />

CP11<br />

CP10<br />

CP10<br />

0,66<br />

CP9<br />

0,28<br />

CP9<br />

0,22<br />

CP12<br />

CP8<br />

CP12<br />

CP8<br />

0,49<br />

0,40 CP7<br />

CP7<br />

0,15 CP6 CP5 CP4 CP3 CP2 CP1<br />

0,15 CP6 CP5 CP4 CP3 CP2 CP1<br />

0,15 0,25 0,26 0,50 0,26 0,25 0,15<br />

0,15 0,25 0,26 0,50 0,26 0,25 0,15<br />

d = 1,82<br />

d = 1,82<br />

(a) h/d=1,25<br />

0,66<br />

h = 2,71<br />

CP11<br />

Nível da superfície de referência<br />

Figura 6 – Posicionamento das células de pressão na parede e no fundo do silo<br />

piloto com h/d=1,25 e 1,49<br />

0,43<br />

(b) h/d=1,49<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

11<br />

Para cada uma das relações foram realizados 4 ciclos completos de<br />

carregamento-armazenagem-descarregamento. Para a relação h/d=1,25 foram<br />

armazenadas no silo cerca de 9,2t de areia enquanto para a relação h/d=1,49, 11t.<br />

Em todas as três relações h/d ensaiadas os dados foram registrados<br />

simultaneamente e continuamente por todas as células. Em média o carregamento<br />

completo para a relação h/d=1,25 levou cerca de 3 horas e para h/d=1,49,.4 horas,<br />

descontados os períodos de interrupção. Ao final de cada carregamento a superfície do<br />

produto era nivelada e o produto armazenado por cerca de 16 horas. De modo a agilizar<br />

o descarregamento foi colocada sob a válvula de descarga uma calha de modo que a<br />

mesma trouxesse a areia descarregada para fora da plataforma, de onde era recolhida em<br />

sacos de aninhagem da mesma forma que nos ensaios da relação h/d=0,98. No início de<br />

cada descarregamento a válvula de descarga era aberta com a máxima vazão para que<br />

fosse verificada a ocorrência de sobrepressões. A figura 7 detalhes de algumas etapas no<br />

carregamento e descarregamento do silo.<br />

(a) Silo em carga<br />

(b) Detalhe do carregamento do depósito e da<br />

ventoinha do carregador pneumático<br />

(c) Silo em descarga<br />

(d) Silo em descarga<br />

Figura 7 – Etapas dos ensaios com h/d=1,25 e h/d=1,49 no silo piloto<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


12<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

4.1 Propriedades físicas dos produtos armazenados<br />

De acordo com as recomendações das normas européias ISO 11697/95 e ENV<br />

1991-4/95, foram determinados o limite inferior e o limite superior das propriedades<br />

físicas dos produtos, de modo a obter-se a combinação mais desfavorável de<br />

carregamento na estrutura, considerando as possíveis mudanças das propriedades do<br />

produto com o tempo e as variações das amostras. O milho apresentou um teor de<br />

umidade de 13,9% e a areia foi classificada como grossa pelo ensaio de granulometria.<br />

A tabela 2 apresenta os valores encontrados para as propriedades físicas do<br />

milho e da areia através do ensaio de cisalhamento.<br />

Tabela 2 – Valores das propriedades físicas do milho e da areia obtidos no ensaio de<br />

cisalhamento<br />

Produto<br />

Propriedade Milho Areia<br />

φ i,m 32 0 35 0<br />

φ i,l 29 0 32 0<br />

φ i,u 37 0 40 0<br />

γ m 7,45kN/m 3 14,55kN/m 3<br />

γ u 8,57kN/m 3 16,73kN/m 3<br />

A tabela 3 apresenta os valores da relação entre as pressões, K, calculada com<br />

os valores do ângulo de atrito interno obtidos experimentalmente, para o milho e para a<br />

areia, adotando–se a formulação de Hartmann que é considerada de consenso entre os<br />

pesquisadores (CALIL JR, 1990) para silos metálicos de chapa de aço ondulada.<br />

Tabela 3 – Valores de K obtidos em função do ângulo de atrito interno determinado<br />

experimentalmente<br />

Valor da relação entre pressões, K<br />

Produto K m K l K u<br />

areia 0,50 0,42 0,56<br />

milho 0,56 0,47 0,62<br />

4.2 Ensaios do silo protótipo<br />

Os gráficos das figuras 8 a 10 apresentam os valores registrados pelas células de<br />

pressão, para as pressões verticais no fundo do silo, e o gráfico da figura 11, a pressão<br />

horizontal nas paredes em cada um dos ensaios realizados no silo protótipo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

13<br />

Carregamento<br />

Descarregamento<br />

Carregamento<br />

Descarregamento<br />

Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Período de repouso<br />

Região de sobrepressão<br />

Tempo - horas<br />

(a) Ensaio 1 – ciclo completo<br />

CP1<br />

CP6<br />

Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Período de repouso<br />

Região de sobrepressão<br />

CP1<br />

CP6<br />

Tempo - horas<br />

(b) Ensaio 2 – ciclo completo<br />

00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00<br />

Carregamento Descarregamento<br />

00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 <strong>24</strong>:00<br />

Carregamento Descarregamento<br />

Figura 8– Silo protótipo - Pressões dinâmicas nas células 1 e 6<br />

Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Período de repouso<br />

Região de sobrepressão<br />

CP2<br />

CP5<br />

Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Período de repouso<br />

Região de sobrepressão<br />

CP2<br />

CP5<br />

00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00<br />

Tempo - horas<br />

(a) Ensaio 1 – ciclo completo<br />

00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 <strong>24</strong>:0<br />

Tempo - horas<br />

(b) Ensaio 2 – ciclo completo<br />

Figura 9 – Silo protótipo - Pressões dinâmicas nas células 2 e 5<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


14<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

Carregamento Descarregamento Carregamento<br />

Descarregamento<br />

Pressão vertical no fundo do silo -<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Período de<br />

Região de sobrepressão<br />

CP3<br />

CP4<br />

Pressão vertical no fundo do silo -<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Período de repouso<br />

Região de<br />

CP3<br />

CP4<br />

00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00<br />

Tempo - horas<br />

(a) Ensaio 1 – ciclo completo<br />

00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 <strong>24</strong>:00<br />

Tempo - horas<br />

(b) Ensaio 2 – ciclo completo<br />

Figura 10 – Silo protótipo - Pressões dinâmicas nas células 3 e 4<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

15<br />

(a) Posicionamento das células de pressão na parede do silo<br />

7,25<br />

1,05 0,85 0,40 0,40 2,40 1,65 0,50<br />

CP 11<br />

CP10<br />

CP9<br />

CP12<br />

CP8<br />

CP7<br />

Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />

Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Carregamento<br />

Período de<br />

repouso<br />

00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 <strong>24</strong>:00<br />

Tempo - horas<br />

(b) Ensaio 1 – ciclo completo<br />

Carregamento<br />

Período de<br />

repouso<br />

Descarregamento<br />

Descarregamento<br />

CP9<br />

CP10<br />

CP11<br />

CP12<br />

00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 <strong>24</strong>:00<br />

CP9<br />

CP7<br />

CP10<br />

CP8<br />

CP11<br />

CP12<br />

CP9<br />

CP10<br />

Região de CP11<br />

sobrepressão CP12<br />

CP7<br />

CP8<br />

CP9<br />

CP10<br />

CP11<br />

CP12<br />

Região de<br />

sobrepressão<br />

Tempo - horas<br />

(c) Ensaio 2 – ciclo completo<br />

Figura 11 – Silo protótipo - Pressões dinâmicas nas células da parede<br />

De acordo com os gráficos 8 a 11, pode-se observar que, sem exceção, todas as<br />

células de pressão registraram aumentos de pressão durante o período de repouso do<br />

produto. No ensaio 1, as células do fundo do silo tiveram um acréscimo de pressão em<br />

média de 18% e as células da parede <strong>24</strong>%, durante o período de armazenamento. No<br />

ensaio 2, o acréscimo de pressão nas células do fundo do silo foi em média 8% e, nas<br />

células da parede, 26%. Observa-se, também, para as células do fundo do silo, que os<br />

valores medidos pelas células simétricas variaram durante as fases de carregamento e<br />

descarregamento, o que é justificado pela natureza aleatória das pressões em função da<br />

forma de carregamento e do produto armazenado.<br />

A tabela 4 apresenta os valores médios das pressões horizontais, na parede do silo,<br />

obtidas experimentalmente, após o período de repouso (≅ 16 horas).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


16<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

Tabela 4 – Valores médios das pressões horizontais obtidas experimentalmente na<br />

parede do silo protótipo- Carregamento<br />

Pressão<br />

Célula<br />

horizontal CP7 CP8 CP12 CP9 CP10 CP11<br />

kPa 29,08 23,40 21,50 19,60 12,02 5,69<br />

A tabela 5 apresenta os valores médios das pressões verticais no fundo do silo<br />

obtidos experimentalmente, após o período de repouso (≅ 16 horas).<br />

Tabela 5 – Pressões verticais obtidas experimentalmente no fundo do silo protótipo<br />

Pressão<br />

Célula<br />

vertical CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6<br />

kPa 42,36 63,87 34,15 38,57 54,38 38,57<br />

Dos gráficos da figuras 8 a 11, observa-se que algumas células registraram<br />

sobrepressão no início do descarregamento, mais notadamente nas paredes do silo. A<br />

tabela 6 apresenta os percentuais relativos ao acréscimo de pressão devido ao<br />

descarregamento em cada um dos ensaios realizados.<br />

Pressão<br />

horizontal<br />

kPa<br />

Tabela 6 – Variação percentual das pressões obtidas experimentalmente na fase de<br />

descarregamento<br />

Fundo<br />

Célula<br />

Parede<br />

CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6 CP7 CP8 CP12 CP9 CP10 CP11<br />

Ensaio 1 4 0 0 0 5 10 5 6 12 7 0 0<br />

Ensaio 2 3 2 0 0 0 0 4 16 11 12 0 0<br />

Na tabela 6, verifica-se um acréscimo de até 10% na pressão vertical atuante no<br />

fundo do silo e de até 16% na pressão horizontal atuante na parede na fase de<br />

descarregamento. Observa-se, também, que a região crítica sujeita a sobrepressões na<br />

parede se situa entre as células 8 e 9 e corresponde, aproximadamente, ao terço inferior<br />

da parede.<br />

4.2.1 Pressão horizontal: análise e discussão<br />

Com os valores do coeficiente de atrito interno µ e os valores da relação entre<br />

pressões, K, determinados anteriormente, apresenta-se no gráfico da figura 12 os valores<br />

obtidos experimentalmente e os teóricos onde a pressão horizontal para cada um dos<br />

modelos estudados é obtida em duas hipóteses de cálculo: com os valores médios das<br />

propriedades físicas do milho (m) e a pressão máxima obtida com a combinação mais<br />

desfavorável dessas propriedades (s). Para as características geométricas do silo<br />

analisado, na situação de carregamento, as principais normas internacionais adotam o<br />

modelo de Janssen, com algumas alterações para o caso de relações h/d


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

17<br />

adoção também do modelo de Bischara para o cálculo teórico das pressões deu-se pelo<br />

fato deste modelo apresentar características diferentes do modelo de Janssen e ter sido<br />

obtido através do método de elementos finitos e de regressão não linear, com dados<br />

experimentais, como foi visto anteriormente. Foram também calculadas as pressões<br />

segundo o modelo de Coulomb, mas, tendo em vista que resultaram em pressões mais<br />

baixas que as do modelo de Airy, esse modelo não foi apresentado.<br />

0<br />

Nível da superfície de referência<br />

Profundidade - m<br />

0,79<br />

1,29<br />

2,94<br />

5,34<br />

5,74<br />

6,14<br />

6,99<br />

CP11<br />

CP10<br />

CP9<br />

CP12<br />

CP8<br />

CP7<br />

Legenda<br />

Janssen-m<br />

Janssen-s<br />

Reimbert-m<br />

Reimbert-s<br />

Rankine/Calil-m<br />

Rankine/Calil-s<br />

Airy-m<br />

Airy-s<br />

Bischara-m<br />

Bischara-s<br />

Valores experimentais<br />

Escala das pressões – 1:50<br />

Escala da profundidade – 1:100<br />

8,04<br />

0 5 10 15 20 25 30 35 40<br />

Pressão horizontal – kPa<br />

Figura 12– Pressões horizontais teóricas e experimentais - Carregamento<br />

No gráfico da figura 12, pode-se constatar que os valores obtidos<br />

experimentalmente não apresentaram comportamento assintótico em relação ao eixo da<br />

profundidade para a relação h/d ensaiada e ficaram relativamente próximos dos valores<br />

obtidos com o modelo linear de Rankine- Calil, com os valores médios das propriedades<br />

físicas do milho, propriedades essas que possuíam no momento do ensaio. Embora<br />

tenham também ficado relativamente próximos dos valores da curva limite superior de<br />

Janssen e também de Bischara, com exceção do valor obtido com a CP7, que ficou mais<br />

próximo da curva obtida com o modelo de A & M Reimbert, cumpre notar que a curva<br />

limite superior é aquela que irá produzir a situação mais desfavorável em relação às<br />

propriedades dos produtos, durante toda a vida útil do silo e para qual deverá ser<br />

projetado.<br />

A seguir, é feita uma análise comparativa entre os valores obtidos<br />

experimentalmente para as pressões horizontais estáticas com o silo protótipo e as<br />

principais normas internacionais e o modelo de Rankine-Calil. A figura 13 apresenta as<br />

pressões horizontais em duas hipóteses: com a combinação mais desfavorável das<br />

propriedades físicas do produto (limite superior) e com a combinação menos<br />

desfavorável (limite inferior), para a análise comparativa acima descrita. Para a norma<br />

americana foi adotada a formulação de Janssen.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


18<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

0<br />

Nível da superfície de referência<br />

Profundidade z - m<br />

0,79<br />

1,29<br />

CP11<br />

2,94<br />

5,34<br />

5,74<br />

6,14<br />

CP10<br />

CP9<br />

CP12<br />

CP8<br />

Legenda<br />

s Limite superior<br />

i Limite inferior<br />

ISO=ENV -i<br />

ISO=ENV-s<br />

DIN=AS-i<br />

DIN=AS-s<br />

ACI-i<br />

ACI-s<br />

Rankine/Calil-i<br />

Rankine/Calil-s<br />

BMHB-i<br />

BMHB-s<br />

Escala das pressões – 1:50<br />

Escala da profundidade – 1:100<br />

6,99<br />

CP7<br />

8,04<br />

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45<br />

Pressão horizontal – kPa<br />

Figura 13 – Valores experimentais x Normas e modelo Rankine-Calil<br />

Com exceção da norma inglesa BMHB, as demais normas constantes do gráfico<br />

13 adotam, para a previsão das pressões horizontais, o modelo de Janssen também para<br />

silos de baixa relação altura/diâmetro. Como, neste caso, as propriedades físicas dos<br />

produtos foram obtidas experimentalmente, o elemento diferenciador é o parâmetro K,<br />

proposto por cada uma das normas. As normas ENV e ISO adotam a mesma formulação<br />

para esse parâmetro; as normas DIN e AS, embora adotem formulações bastante<br />

diferenciadas, obtiveram valores iguais, pelo fato do ângulo de atrito interno do produto,<br />

φ i , ser igual ao ângulo de atrito com a parede, φ w . As formulações para o parâmetro K,<br />

propostas pelas normas ENV-ISO e DIN, diferenciam entre si de 10%, o que levou à<br />

pequena diferença verificada no gráfico da figura 13. Os baixos valores apresentados<br />

pela norma ACI são causados pelo fato da mesma adotar a formulação de Rankine-<br />

Koenen para o parâmetro K, que é a formulação que apresenta os menores valores para<br />

este parâmetro.<br />

O gráfico da figura 14 apresenta a regressão linear realizada com os valores das<br />

pressões horizontais na parede obtidas experimentalmente de modo a obter-se dados<br />

comparativos com o modelo de Rankine-Calil.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


0<br />

Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

19<br />

Nível da superfície de referência<br />

2<br />

4<br />

Profundidade z - m<br />

Valores experimenta<br />

Regressão linear<br />

Legenda<br />

Valores experimentais<br />

Regressão linear<br />

Rankine-Calil<br />

p h (z) = 3,87z R 2 = 0,99491 SD = 0,29488<br />

p h (z) = γ m K m z = 4,17z<br />

6<br />

Pressão horizontal - kPa<br />

8<br />

0 5 10 15 20 25 30<br />

Figura 14 – Regressão linear x Modelo Rankine-Calil<br />

Do gráfico da figura 14, pode-se observar que a regressão linear obtida com os<br />

valores experimentais apresenta uma boa correlação, o que indica que, para a relação<br />

h/d analisada (0,98), o modelo linear de Rankine-Calil pode ser adotado. A diferença<br />

percentual entre os valores obtidos com a regressão linear e o modelo de Rankine-Calil,<br />

nesse caso, é de 7,8%.<br />

4.2.2 Pressões Verticais no Fundo do Silo: Análise e Discussão<br />

A figura 15 apresenta os valores teóricos e os experimentais, para as pressões<br />

verticais no fundo do silo.<br />

90<br />

80<br />

Pressão vertical no fundo do silo -<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6<br />

820<br />

0,15 2,00 3,85 4,35 6,20<br />

8,05<br />

Cota - m<br />

Figura 15 – Pressões verticais teóricas e experimentais - Carregamento<br />

Legenda<br />

ENV<br />

ISO<br />

DIN<br />

AS<br />

ACI<br />

γ m .h<br />

γ u .h<br />

Valores<br />

experimentais<br />

Escala das pressões – 1:125<br />

Escala das cotas – 1:75<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


20<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

As baixas pressões verticais obtidas experimentalmente no centro do silo (CP3 e<br />

CP4), quando comparadas aos valores obtidos nos pontos quartos (CP2 e CP5), podem<br />

ser justificadas pelo posicionamento das mesma. Nos dois ensaios realizados, as células<br />

CP3 e CP4 ficaram posicionadas sobre a tela metálica relativamente flexível que cobria<br />

o túnel de descarga. JARRET et al citado por GOMES (2000) constataram que os<br />

resultados obtidos com a utilização de células de pressão em parede flexível foram bem<br />

menores que os previstos pelos modelos teóricos. Desta maneira não serão considerados<br />

os resultados experimentais registrados pelas células CP3 e CP4, para efeito de análise<br />

comparativa com os modelos teóricos. Levando-se em conta somente os resultados<br />

experimentais obtidos com as células CP1, CP2, CP5, CP6, observa-se, no gráfico da<br />

figura 10, que os modelos que melhor estimaram as pressões verticais na base do silo<br />

para efeito de projeto foram os da norma australiana AS, da norma alemã DIN, da<br />

norma européia ENV e o modelo γ u .h. A tabela 7 apresenta a diferença percentual entre<br />

a média dos valores das pressões verticais obtidos experimentalmente junto à parede<br />

(CP1, CP6) e nos pontos quartos (CP2, CP5) e os valores teóricos.<br />

Tabela 7 – Diferença percentual entre os valores das pressões verticais obtidos<br />

experimentalmente e os modelos teóricos – Silo protótipo<br />

Norma ou modelo<br />

Células ENV ISO DIN AS ACI γ m .h γ u .h<br />

CP1-CP6 +58 +42 +55 +34 +41 +48 +70<br />

CP2-CP5 +15 +2 +21 +30 -3 -1 +17<br />

4.2 Silo piloto<br />

A tabela 8 apresenta os valores médios das pressões obtidas experimentalmente na<br />

parede e no fundo do silo, nos 4 ensaios realizados em cada uma das relações h/d.<br />

Tabela 8 – Valores médios das pressões obtidas experimentalmente na parede (P)<br />

e no fundo (F) em cada relação h/d ensaiada no silo piloto – Carregamento (kPa)<br />

Relação h/d<br />

Célula 0,98 1,25 1,49<br />

CP1 F 22,13 27,18 33,20<br />

CP2 F 23,40 28,43 35,42<br />

CP3 F <strong>24</strong>,98 32,88 38,58<br />

CP4 F 25,29 32,56 39,52<br />

CP5 F 22,76 29,07 36,04<br />

CP6 F 21,81 28,75 33,20<br />

CP7 P 11,38 12,33 13,60<br />

CP8 P 9,17 10,75 11,38<br />

CP12 P 8,85 10,44 11,06<br />

CP9 P 8,20 9,80 10,44<br />

CP10 P 5,06 5,98 6,96<br />

CP11 P 1,90 2,84 3,78<br />

Todas as células de pressão, sem exceção, registraram aumento de pressão durante<br />

o período de repouso. Em média, nas três relações h/d ensaiadas, houve um aumento de<br />

15% nas células do fundo e de 25% nas células da parede. Observou-se, também, para<br />

as células do fundo do silo que os valores medidos pelas células simétricas variaram<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

21<br />

durante as fases de carregamento e descarregamento, mas não tão acentuadamente como<br />

no silo protótipo.<br />

Na fase de descarregamento dos ensaios das relações h/d=1,25 e h/d=1,49,<br />

observou-se a ocorrência de sobrepressões na parede do silo, o mesmo não acontecendo<br />

nos ensaios da relação h/d=0,98. Em nenhum dos ensaios se observou a ocorrência de<br />

sobrepressões na base do silo. Em ambas as relações, o percentual relativo à<br />

sobrepressão foi de aproximadamente 12% na CP8 e de 11% na CP12.<br />

4.2.1 Pressões horizontais: Análise e discussão<br />

As figuras 16, 17 e 18 apresentam, graficamente, os valores experimentais e<br />

teóricos das pressões horizontais para h/d=0,98, h/d=1,25 e h/d=1,49 respectivamente,<br />

na situação de carregamento.<br />

0<br />

Nível da superfície de referência<br />

Legenda<br />

Profundidade -<br />

0,28<br />

0,66<br />

1,17<br />

1,26<br />

1,35<br />

1,63<br />

CP11<br />

CP10<br />

CP9<br />

CP12<br />

CP8<br />

CP7<br />

Janssen-m<br />

Janssen-s<br />

Reimbert-m<br />

Reimbert-s<br />

Rankine/Calil-m<br />

Rankine/Calil-s<br />

Airy-m<br />

Airy-s<br />

Bischara-m<br />

Bischara-s<br />

Valores experimentais<br />

Escala das pressões – 1:20<br />

Escala da profundidade – 1:25<br />

1,78<br />

0 5 10 15<br />

Pressão horizontal – kPa<br />

Figura 16 – Pressões horizontais teóricas e experimentais - h/d=0,98 - Carregamento<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


22<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

0<br />

Nível da superfície de referência<br />

Profundidade -<br />

0,36<br />

0,84<br />

1,50<br />

1,61<br />

1,72<br />

CP11<br />

CP10<br />

CP9<br />

CP12<br />

CP8<br />

Janssen-m<br />

Janssen-s<br />

Reimbert-m<br />

Reimbert-s<br />

Rankine/Calil-m<br />

Rankine/Calil-s<br />

Airy-m<br />

Airy-s<br />

Bischara-m<br />

Bischara-s<br />

Valores experimentais<br />

Escala das pressões – 1:20<br />

Escala da profundidade – 1:25<br />

2,12<br />

2,27<br />

CP7<br />

0 5 10 15 20<br />

Pressão horizontal – kPa<br />

Figura 17– Pressões horizontais teóricas e experimentais - h/d=1,25 - Carregamento<br />

0<br />

Profundidade - m<br />

0,43<br />

1,00<br />

1,79<br />

1,93<br />

Nível da superfície de referência<br />

CP11<br />

CP10<br />

CP9<br />

CP12<br />

Legenda<br />

Janssen-m<br />

Janssen-s<br />

Reimbert-m<br />

Reimbert-s<br />

Rankine/Calil-m<br />

Rankine/Calil-s<br />

Airy-m<br />

Airy-s<br />

Bischara-m<br />

Bischara-s<br />

Valores experimentais<br />

Escala das pressões – 1:25<br />

Escala da profundidade – 1:25<br />

2,07<br />

CP8<br />

2,56<br />

CP7<br />

2,71<br />

Pressão horizontal – kPa<br />

0 5 10 15 20 25<br />

Figura 18 – Pressões horizontais teóricas e experimentais - h/d=1,49 - Carregamento<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

23<br />

A partir dos gráficos das figuras 16 a 18, pode-se observar que os modelos de<br />

Airy, Janssen e M &R Reimbert não se mostraram adequados aos valores obtidos<br />

experimentalmente para as pressões horizontais na parede do silo, na região<br />

correspondente, aproximadamente, ao último terço da altura (CP7, CP8, CP12, CP9).<br />

Os valores obtidos com o modelo linear de Rankine-Calil se afastam muito dos valores<br />

experimentais, à medida que aumentou a relação h/d. Considerando as curvas para<br />

relação h/d ensaiada, obtida com os valores médios das propriedades da areia, valores<br />

esses que possuíam no momento do ensaio, o modelo de Bischara mostrou-se bastante<br />

ajustado aos valores experimentais. Na relação h/d=0,98 (figura 16), analogamente ao<br />

ensaio com o silo protótipo, o modelo de Rankine-Calil mostrou-se bastante adequado<br />

para a previsão teórica das pressões para relações h/d


<strong>24</strong><br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

Profundidade z - m<br />

Nível da superfície de referência<br />

0,0<br />

0,5<br />

1,0<br />

1,5<br />

2,0<br />

Valores experimentais<br />

Ajuste linear<br />

Ajuste exponencial<br />

Rankine-Calil-m<br />

Bischara-m<br />

p h (z) = 5,93z + 0,59 R 2 = 0,99338 SD = 0,58591<br />

p h (z) = 36,31e -0,059(z-2,75) –23,16 R 2 = 0,99905 SD = 0,1753<br />

p h (z) = 7,27z<br />

0 5 10 15<br />

Pressão horizontal – kPa<br />

Figura 20 – Ajustes Estatísticos x Modelos Rankine-Calil e Bischara – h/d=1,25<br />

0,0<br />

Nível da superfície de referência<br />

Profundidade z - m<br />

0,5<br />

1,0<br />

1,5<br />

2,0<br />

2,5<br />

Valores experimentais<br />

Ajuste linear<br />

Ajuste exponencial<br />

Rankine-Calil-m<br />

Bischara-m<br />

p h (z) = 5,11z + 1,03 R 2 =0,99126 SD = 0,69992<br />

p h (z) = 42,5e -0,033(z-3,43) –28,18 R 2 = 0,9935 SD = 0,30506<br />

p h (z) =7,27z<br />

0 5 10 15 20<br />

Pressão horizontal – kPa<br />

Figura 21– Ajustes estatísticos x Modelos Rankine-Calil e Bischara – h/d=1,49<br />

No gráfico da figura 19, pode-se observar que o ajuste linear obtido com os<br />

valores experimentais das pressões horizontais na parede do silo, para a relação<br />

h/d=0,98, apresentou uma boa correlação, indicando que, para essa relação, um modelo<br />

linear como o de Rankine-Calil pode ser adotado para a previsão das pressões<br />

horizontais na parede do silo. A diferença percentual entre os valores obtidos com a<br />

regressão linear e o modelo de Rankine-Calil, nesse caso, é de -3,7%.<br />

Nos gráficos das figuras 20 e 21, relativos a h/d=1,25 e h/d=1,49<br />

respectivamente, observa-se que o ajuste linear obtido com os valores experimentais não<br />

apresentou o mesmo grau de correlação, como na relação h/d=0,98. O modelo linear<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

25<br />

como o de Rankine-Calil poderia ser ainda adotado, mas seria um modelo um tanto<br />

conservativo em relação às pressões horizontais correspondentes ao último terço da<br />

altura do silo. O ajuste exponencial apresentou uma boa correlação e indicou um<br />

comportamento levemente curvilíneo das pressões horizontais na parede para h/d>1,<br />

semelhante ao modelo de Janssen e Bischara, talvez, já pelo efeito do atrito do produto<br />

com a parede.<br />

A análise da forma obtida com o ajuste exponencial para os casos de h/d=1,25<br />

e h/d=1,49, do modelo de Bischara e de Janssen, permitiu a obtenção de uma<br />

formulação empírica para a previsão das pressões horizontais na parede, como a seguir:<br />

p<br />

h<br />

(z) =<br />

d<br />

2<br />

γ<br />

µ<br />

⎛<br />

⎜<br />

1 − e<br />

⎝<br />

−z<br />

d<br />

⎞<br />

⎟<br />

cosφ<br />

⎠<br />

i<br />

Adotando-se os valores de K, µ, γ e φ i de modo a obter-se a combinação mais<br />

desfavorável das propriedades físicas da areia (limite superior) e a menos desfavorável<br />

(limite inferior), tendo em vista a tendência mundial de dimensionamento das estruturas<br />

pelo método dos estados limites, a seguir, será feita uma análise comparativa entre os<br />

valores obtidos experimentalmente para as pressões horizontais estáticas, com o silo<br />

piloto, para as três relações h/d ensaiadas, com base nas principais normas<br />

internacionais, no modelo de Rankine-Calil e no modelo empírico proposto. As figuras<br />

22, 23 e <strong>24</strong> apresentam as pressões horizontais em duas hipóteses: com a combinação<br />

mais desfavorável das propriedades físicas do produto (limite superior) e com a<br />

combinação menos desfavorável (limite inferior), para a análise comparativa acima<br />

descrita. Para a norma americana foi adotada a formulação de Janssen.<br />

(10)<br />

Profundidade - m<br />

0<br />

0,28<br />

0,66<br />

CP9<br />

1,17<br />

1,26<br />

CP12<br />

1,35<br />

CP8<br />

1,63<br />

1,78<br />

Nível da superfície de referência<br />

CP1<br />

CP10<br />

CP7<br />

0 2 4 6 8 10 12 14 16<br />

Pressão horizontal – kPa<br />

Legenda<br />

s Limite superior<br />

i Limite inferior<br />

Valores experimentais<br />

Proposta-i<br />

Proposta-s<br />

ISO=ENV-i<br />

ISO=ENV-s<br />

DIN=AS-i<br />

DIN=AS-s<br />

ACI-i<br />

ACI-s<br />

Rankine/Calil-i<br />

Rankine-Calil-s<br />

BMHB-i<br />

BMHB-s<br />

Escala das pressões – 1:20<br />

Escala da profundidade – 1:25<br />

Figura 22 – Valores experimentais x Normas, modelo Rankine-Calil e formulação proposta<br />

para o silo piloto - h/d=0,98<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


26<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

Profundidade - m<br />

0<br />

0,36<br />

CP11<br />

CP10<br />

0,84<br />

CP9<br />

1,50<br />

CP12<br />

1,61<br />

1,72<br />

CP8<br />

CP7<br />

2,12<br />

2,27<br />

0<br />

Nível da superfície de referência<br />

Pressão horizontal – kPa<br />

s<br />

i<br />

Legenda<br />

Limite superior<br />

Limite inferior<br />

Proposta-i<br />

Proposta-s<br />

ISO=ENV-i<br />

ISO=ENV-s<br />

DIN=AS-i<br />

DIN=AS-s<br />

ACI-i<br />

ACI-s<br />

Rankine/Calil-i<br />

Rankine-Calil-s<br />

BMHB-i<br />

BMHB-s<br />

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20<br />

Escala das pressões – 1:20<br />

Escala da profundidade – 1:25<br />

Figura 23 – Valores experimentais x Normas, modelo Rankine-Calil e formulação proposta<br />

para o silo piloto - h/d=1,25<br />

0<br />

Nível da superfície de referência<br />

Profundidade - m<br />

0,43<br />

CP11<br />

1,00<br />

CP10<br />

1,79<br />

CP9<br />

CP12<br />

1,93<br />

2,07<br />

CP8<br />

Legenda<br />

s Limite superior<br />

i Limite inferior<br />

l<br />

Proposta-i<br />

Proposta-s<br />

ISO=ENV-i<br />

ISO=ENV-s<br />

DIN=AS-i<br />

DIN=AS-s<br />

ACI-i<br />

ACI-s<br />

Rankine/Calil-i<br />

Rankine-Calil-s<br />

BMHB-i<br />

BMHB-s<br />

Escala das pressões – 1:25<br />

Escala da profundidade – 1:25<br />

CP7<br />

2,56<br />

0 5 10 15 20 25<br />

2,71<br />

Pressão horizontal – kPa<br />

Figura <strong>24</strong> – Valores experimentais x Normas, modelo Rankine-Calil e<br />

formulação proposta para o silo piloto - h/d=1,49<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

27<br />

Tendo em vista os valores das pressões horizontais obtidos experimentalmente e<br />

considerando que as curvas constantes nos gráficos das figuras 22 a <strong>24</strong> foram obtidas<br />

com as propriedades do produto armazenado, de modo a propiciar a combinação mais<br />

desfavorável e a menos desfavorável em cada formulação, observa-se que,<br />

comparativamente às normas analisadas, a formulação proposta foi a que se mostrou<br />

mais adequada para a previsão das pressões horizontais em silos de baixa relação<br />

altura/diâmetro, com h/d>1; para relações h/d≤1,0, a formulação de Rankine-Calil é a<br />

que se apresenta mais indicada.<br />

4.2.2 Pressão vertical na base do silo piloto: Análise e discussão<br />

As figuras 25, 26 e 27 apresentam, graficamente, os valores experimentais e<br />

teóricos das pressões verticais na base do silo para h/d=0,98, h/d=1,25 e h/d=1,49,<br />

respectivamente.<br />

Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />

30<br />

20<br />

10<br />

Legenda<br />

Valores experimentais<br />

ENV ≅ DIN = γ u .h<br />

ISO<br />

AS<br />

ACI<br />

γ m .h<br />

Escala das pressões – 1:75<br />

Escala das cotas – 1:20<br />

CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6<br />

0 0 0,15 0,41 0,66 1,16 1,41 1,67 1,82<br />

Cota - m<br />

Figura 25 – Pressões verticais teóricas e experimentais no fundo do silo piloto - h/d=0,98<br />

Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6<br />

0,15<br />

0,41 0,66 1,16 1,41 1,67 1,82<br />

Cota - m<br />

Legenda<br />

Valores experimentais<br />

DIN = γ u .h<br />

AS<br />

ACI<br />

ENV<br />

ISO<br />

γDIN<br />

m .h<br />

Escala das pressões – 1:75<br />

Escala das cotas – 1:20<br />

Figura 26 – Pressões verticais teóricas e experimentais no fundo do silo piloto - h/d=1,25<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


28<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

Legenda<br />

Valores experimentais<br />

ENV<br />

IS O = A C I<br />

DIN<br />

AS<br />

γ m .h<br />

γ u .h<br />

Escala das pressões – 1:75<br />

Escala das cotas – 1:20<br />

CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6<br />

0 0 0,15 0,41 0,66 1,16 1,41 1,67 1,82<br />

Cota - m<br />

Figura 27 – Pressões verticais teóricas e experimentais no fundo do silo piloto - h/d=1,49<br />

Embora a superfície livre do produto, nas três relações h/d ensaiadas, fosse plana,<br />

observa-se, nos gráficos das figuras 25, 26 e 27, que as pressões verticais na região<br />

central do fundo do silo foram sempre maiores do que as pressões junto à parede, de<br />

certa forma semelhante aos valores obtidos com a formulação da norma australiana para<br />

silos de fundo plano. Observa-se, também, que as pressões obtidas experimentalmente<br />

na região central do silo ficaram relativamente próximas de γ m h, nas três relações h/d<br />

ensaiadas. No caso da relação h/d=0,98, a formulação da norma australiana e a<br />

formulação γ m h foram as que melhor estimaram as pressões verticais na base do silo.<br />

Para relações h/d>1, a norma australiana considera também uma variação parabólica das<br />

pressões verticais, mas, no centro, ela adota a formulação de Janssen multiplicada por<br />

1,25. Considerando que, com exceção da formulação γ m h, os valores teóricos foram<br />

obtidos com a combinação mais desfavorável das propriedades físicas da areia, a<br />

formulação que melhor estimou as pressões verticais na base do silo foi a formulação<br />

γ m h.<br />

A partir da análise dos valores obtidos experimentalmente e da formulação da<br />

norma australiana, é proposta a formulação empírica para a determinação das pressões<br />

verticais na base do silo, como a seguir:<br />

⎡<br />

2<br />

⎛ x ⎞<br />

⎤<br />

p v (z) = γh⎢1<br />

− 0,9⎜<br />

⎟ ⎥ onde x varia de –R a R (11)<br />

⎢⎣<br />

⎝ d ⎠ ⎥⎦<br />

x = 0 no centro do silo<br />

O gráfico da figura 28 apresenta os valores médios obtidos experimentalmente,<br />

o modelo empírico proposto, a formulação da norma australiana e as formulações γ m h e<br />

γ u h, para relação h/d=0,98. Os gráficos das figuras 29 e 30 apresentam os valores<br />

obtidos experimentalmente, o modelo empírico proposto e as formulações γ m h e γ u h,<br />

para relação h/d=1,25 e 1,49.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

29<br />

40<br />

Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

0<br />

CP3<br />

CP4<br />

0,25<br />

CP2<br />

CP5<br />

0,50 0,76 0,91<br />

Cota - m<br />

γ u .h<br />

γ m h<br />

AS<br />

Modelo empírico – s<br />

Modelo empírico - m<br />

Valores experimentais<br />

Escala das pressões – 1:75<br />

Escala das cotas – 1:20<br />

Figura 28 - Pressão vertical: Formulação empírica x teóricas e experimentais –<br />

h/d=0,98<br />

CP1<br />

CP6<br />

Legenda<br />

Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

0<br />

Cota - m<br />

CP3 CP2 CP1<br />

CP4 CP5 CP6<br />

0,25 0,50 0,76 0,91<br />

Legenda<br />

γ u .h<br />

γ m .h<br />

Modelo empírico - s<br />

Modelo empírico - m<br />

Valores experimentais<br />

Escala das pressões – 1:75<br />

Escala das cotas – 1:20<br />

Figura 29 – Pressão vertical: Formulação empírica x teóricas e experimentais –<br />

h/d=1,25<br />

Pressão vertical no fundo do silo -<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

CP4<br />

CP3<br />

0<br />

0<br />

CP2<br />

CP5<br />

CP1<br />

CP6<br />

Legenda<br />

γ u .h<br />

γ m .h<br />

Modelo empírico - s<br />

Modelo empírico - m<br />

Valores experimentais<br />

Escala das pressões – 1:75<br />

Escala das cotas – 1:20<br />

0,25 0,50 0,76 0,91<br />

Cota - m<br />

Figura 30 – Pressão vertical: Formulação empírica x teóricas e experimentais –<br />

h/d=1,49<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


30<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

A tabela 9 apresenta a diferença percentual entre os valores obtidos experimentalmente<br />

para as pressões verticais na base do silo e o modelo empírico proposto, para cada uma<br />

das hipóteses analisadas, e as formulações teóricas que melhor estimaram as pressões<br />

verticais, para cada relação h/d ensaiada.<br />

Tabela 9 – Diferença percentual entre os valores das pressões verticais obtidos<br />

experimentalmente e as teóricas para cada relação h/d ensaiada no silo piloto<br />

h/d=0,98 h/d=1,25 h/d=1,49<br />

Modelo<br />

parede centro parede centro parede centro<br />

γ u h +36 +19 +36 +16 +37 +16<br />

Modelo s +14 +<strong>24</strong> +14 +15 +15 +14<br />

empírico m ≅0 +1 ≅0 ≅0 ≅0 ≅0<br />

AS +22 +44 -- -- -- --<br />

Observa-se, nos gráficos das figuras 28 a 30 e na tabela 9, que o modelo<br />

empírico proposto, comparativamente ao conjunto dos valores experimentais, faz uma<br />

boa previsão das pressões verticais na base do silo.<br />

De modo a verificar o desempenho do modelo empírico proposto para as<br />

pressões verticais em silos que não tenham a superfície livre do produto nivelada e,<br />

também, com outro produto diferente da areia, a figura 31 apresenta o modelo empírico<br />

para o silo protótipo.<br />

Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

CP2 CP1<br />

CP5 CP6<br />

0 410<br />

0<br />

2,10 3,95<br />

Cota - m<br />

Figura 31– Pressões verticais: Modelo empírico x pressões verticais teóricas e<br />

experimentais para o silo protótipo<br />

Legenda<br />

DIN<br />

AS<br />

ENV<br />

γ u .h<br />

γ m .h<br />

Modelo empírico-m<br />

Modelo empírico -s<br />

Valores experimentais<br />

Escala das pressões – 1:125<br />

Escala das cotas – 1:75<br />

A tabela 10 apresenta a diferença percentual entre os valores obtidos<br />

experimentalmente para as pressões verticais na base do silo protótipo e os valores<br />

teóricos que melhor estimaram as pressões verticais.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

31<br />

Tabela 10 – Diferença percentual entre os valores das pressões verticais obtidos<br />

experimentalmente e os modelos teóricos e o empírico– Silo protótipo<br />

Células ENV DIN AS γ u .h Modelo empírico<br />

CP1-CP6 +58 +55 +34 +70 s +35<br />

m +17<br />

CP2-CP5 +15 +21 +30 +17 s +10<br />

m -5<br />

No gráfico da figura 31 e na tabela 10, observa-se que o modelo empírico proposto,<br />

comparativamente aos outros modelos, também apresenta uma boa estimativa das<br />

pressões verticais na base do silo protótipo.<br />

5 CONCLUSÕES<br />

Do estudo teórico e experimental realizado neste trabalho, pode-se concluir que:<br />

Em relação às pressões horizontais nas paredes<br />

• A análise comparativa realizada com as principais normas internacionais mostraram<br />

a existência de diferenças bastante significativas entre os valores obtidos,<br />

considerando a combinação mais desfavorável das propriedades dos produtos. Na<br />

condição estática, ocorreram diferenças de até 32% enquanto, na dinâmica, de até<br />

77%.<br />

• Os modelos de Airy, Janssen e M & A Reimbert não se mostraram adequados para a<br />

previsão das pressões horizontais na parede do silo na situação de carregamento,<br />

tanto no silo protótipo quanto em nenhuma das relações h/d ensaiadas no silo piloto.<br />

No silo protótipo, os valores experimentais chegaram a ser maiores que os obtidos<br />

com os modelos acima citados: 136, 70 e 48%, respectivamente. No silo piloto, os<br />

valores experimentais foram maiores que os modelos de Airy, Janssen e M & A<br />

Reimbert, em média, para as três relações h/d ensaiadas: 103, 67 e 54%,<br />

respectivamente.<br />

• A maioria das normas internacionais adota a teoria de Janssen para a determinação<br />

das pressões horizontais, mesmo para silos de baixa relação altura/diâmetro ou, como<br />

no caso da norma inglesa, que adota uma formulação semelhante a de M & A<br />

Reimbert, resultando que nenhuma delas se mostrou adequada para a previsão das<br />

pressões horizontais, sobretudo no terço inferior da parede do silo, tanto no silo<br />

protótipo quanto no silo piloto, nas três relações h/d ensaiadas. Considerando a<br />

combinação mais desfavorável das propriedades dos produtos, na profundidade<br />

máxima, os valores experimentais chegaram a ser maiores que os obtidos com as<br />

normas analisadas em até 110% no silo protótipo e, no silo piloto, de até 53%, na<br />

relação h/d=0,98; 43%, na relação h/d=1,25 e 46%, na relação h/d=1,49. As<br />

diferenças percentuais acima obtidas entre os valores teóricos e os experimentais é<br />

uma das razões do grande número de acidentes com silos de baixa relação<br />

altura/diâmetro que ocorrem em todo o mundo.<br />

• Tendo em vista os valores experimentais obtidos tanto no silo protótipo quanto no<br />

silo piloto para a relação h/d=0,98, recomenda-se a adoção do modelo linear de<br />

Rankine-Calil para silos com relações h/d≤1, isto é:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


32<br />

Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />

p h (z) = K.γ.z, com<br />

2<br />

1 − sen φ<br />

K =<br />

i<br />

.<br />

2<br />

1 + sen φ<br />

i<br />

• Para a determinação das pressões horizontais em silos 1


Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />

33<br />

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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construcción. v.46, n.436, p. 27-34, mar./abr.<br />

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de São Paulo.<br />

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34<br />

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Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />

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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>


ISSN 1809-5860<br />

ESTUDO TEÓRICO E EXPERIMENTAL DAS AÇÕES<br />

EM SILOS HORIZONTAIS<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes 1 & Carlito Calil Júnior 2<br />

Resumo<br />

O projeto seguro e econômico das estruturas de armazenamento é função das máximas<br />

ações impostas e da resistência destas estruturas de suportar tais ações, observadas as<br />

combinações mais desfavoráveis. Entre as ações consideradas nos cálculos dos silos<br />

horizontais (peso próprio, peso de equipamentos, vento, recalques diferenciais de<br />

apoios, impacto de veículos, explosões, etc), a de maior importância é a causada pelo<br />

empuxo dos produtos armazenados e que foi objeto de estudo nesta pesquisa. Este<br />

trabalho foi realizado em duas etapas, teórica e experimental, procurando avaliar estas<br />

ações com base em teorias e métodos de cálculo de diversos autores. Na tremonha do<br />

silo, as pressões foram avaliadas através do método de cálculo proposto por Safarian<br />

& Harris, da teoria de Walker e da Norma Australiana AS 3774. Nas paredes, foram<br />

avaliadas as pressões de acordo com as teorias de Airy, Reimbert & Reimbert,<br />

Coulomb e Rankine e da norma americana ANSI/96. Os modelos teóricos foram<br />

estudados e comparados com os resultados obtidos através de medições diretas das<br />

pressões em modelo piloto e silo horizontal em escala real com a determinação da<br />

relação entre as pressões verticais e horizontais (K). Dos resultados obtidos propõe-se<br />

um novo método de cálculo com base em um modelo empírico para a determinação das<br />

pressões horizontais nestas unidades.<br />

Palavras-chave: Silos horizontais; ações; pressões; produto armazenado.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A necessidade de ampliar a capacidade estática da rede armazenadora atendendo<br />

as exigências dos novos materiais de construção e das solicitações de projeto tornaram o<br />

estudo de silos bastante empolgante para os pesquisadores, projetistas e construtores.<br />

Dentre os temas desenvolvidos, o estudo do comportamento das pressões tem se<br />

destacado nas diversas áreas de pesquisa relacionada às estruturas de armazenamento.<br />

Nas últimas décadas muitos trabalhos foram desenvolvidos em relação à determinação<br />

das pressões nos silos, com ênfase às estruturas verticais. Pouco se conhece sobre as<br />

teorias empregadas no estudo dos silos horizontais e um número restrito de pesquisas<br />

retratam as dificuldades encontradas para a avaliação dessas estruturas.<br />

1 Professor da UFLA - Departamento de Engenharia, fcgomes@ufla.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, calil@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


36<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />

Atualmente, encontramos vários trabalhos desenvolvidos por pesquisadores<br />

brasileiros na área de silos. Entretanto, desenvolveu-se um vasto domínio sobre os silos<br />

verticais em detrimento aos silos horizontais, tão largamente difundidos e executados a<br />

partir do final da década de 70. Tais fatos, induziram à elaboração de um trabalho de<br />

pesquisa cujo resultado fosse um texto que abordasse com mais profundidade o<br />

comportamento das pressões, as aplicações mais freqüentes e os aspectos relacionados<br />

com os problemas dos silos horizontais, no universo das Engenharias Civil e Agrícola.<br />

Sendo um trabalho pioneiro para as unidades horizontais, os objetivos foram<br />

assim estabelecidos: 1- Comparação dos resultados teóricos com os experimentais,<br />

obtidos em modelo piloto e em um silo horizontal através de medições diretas das<br />

pressões. 2- Proposição de uma formulação empírica para a relação entre as pressões<br />

laterais e verticais, através do coeficiente K. 3- Definição de um coeficiente de<br />

sobrepressão de descarga para estas unidades.<br />

Em síntese, o estudo teórico e experimental das pressões objetiva balizar os<br />

métodos numéricos que venham a ser desenvolvidos, tornando as análises mais<br />

refinadas nos estudos futuros.<br />

2 DEFINIÇÕES<br />

2.1 Silos horizontais<br />

Devido a não existência de códigos normativos brasileiros, muitas denominações<br />

são dadas para este tipo de estrutura, existindo ainda algumas controvérsias sobre a<br />

terminologia a ser adotada. Em algumas regiões estas unidades são chamadas de<br />

armazéns graneleiros ou simplesmente graneleiros. A denominação armazém surgiu<br />

com a utilização das unidades destinadas para o armazenamento de café em sacarias.<br />

Algumas destas unidades foram adaptadas para estocar produtos a granel. WEBER<br />

(1995), classifica estas unidades como armazéns granelizados.<br />

Com as inovações construtivas adaptadas aos projetos originais e a otimização<br />

das condições de armazenamento e processamento, estas unidades passaram a ter fundo<br />

inclinado no formato V, duplo V e triplo V e ainda semi-plano. Com a instalação de<br />

cabos de termometria para controle da aeração e umidade da massa de grãos estas<br />

estruturas passaram a ter “status” de silos. NEGRISOLI (1997), emprega a terminologia<br />

“silos horizontais” apenas para as unidades elevadas, enquanto que as demais são<br />

denominadas armazéns graneleiros ou simplesmente graneleiros.<br />

Neste trabalho são descritas as unidades de acordo com a terminologia proposta<br />

pela ABNT (1990), TB – 377. De acordo com esta terminologia o silo horizontal é uma<br />

“estrutura que se desenvolve segundo o eixo horizontal”.<br />

As características construtivas aqui descritas estão de acordo com os projetos<br />

desenvolvidos pelo Engenheiro Ari Negrisoli ( Engesilos – Consultoria e Projetos SC) e<br />

observações feitas pelo autor durante as visitas realizadas.<br />

2.1.1 Silos horizontais não elevados<br />

Estas estruturas de armazenamento apresentam seção transversal de acordo com<br />

o formato do piso (plano, semi - plano ou semi - V, V e duplo V), e ainda quanto à sua<br />

instalação em relação ao nível do terreno (térreos, enterrados, semi - enterrados),<br />

limitando-se a sua escolha a capacidade pretendida, topografia do terreno, limitações da<br />

área, tipo de terreno, nível do lençol freático e finalmente o tipo de produto a ser<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />

37<br />

armazenado. Detalhes das instalações com o fundo plano, fundo “V” e duplo “V”,<br />

podem ser vistos nas figuras 1 e 2.<br />

Paredes<br />

As paredes laterais e frontais são geralmente construídas com pilares e placas<br />

pré moldadas, formando uma estrutura articulada, ao longo de todo o perímetro,<br />

permitindo acomodações resultantes de possíveis recalques. Esta solução permite abrir<br />

mais frentes de trabalho, sobrepondo as atividades na obra, reduzindo os prazos e os<br />

custos das construções. A proteção contra a entrada de água de chuva é garantida por 3<br />

elementos (beiral do telhado, cordão de mastique ao longo dos três lados da placa e<br />

encaixes da placa com a viga baldrame.<br />

Fundo<br />

A execução do piso do silo depende da seção transversal e do tipo de terreno.<br />

Para os silos com fundo tipo “V”, o piso pode ser de concreto simples, sem nenhuma<br />

armadura. Para as unidades de fundo semi - “V”, deve-se construir o piso de dois tipos :<br />

nas partes inclinadas, o piso deve ser igual ao dos silos de fundo “V”, nas partes planas,<br />

deverá ser projetado para suportar o tráfego de veículos do tipo de pás carregadoras,<br />

pequenos tratores e até mesmo caminhões. Para os silos de fundo plano a armação do<br />

piso é sempre necessária.<br />

Sempre que possível adota-se o fundo “V” ou duplo “V”, para que a descarga<br />

seja feita por gravidade, reduzindo-se custos operacionais e conservando-se a<br />

integridade dos grãos. Os ângulos de inclinação do piso são adotados para que o<br />

escoamento dos produtos ocorra só pela ação da gravidade sendo que o plano dos pisos<br />

laterais deva ter um ângulo mínimo de 35 o com o plano horizontal. Nos oitões o ângulo<br />

deve ser maior ou igual a 45 0 , para que a aresta resultante da interseção deste piso com a<br />

lateral, permita ainda o escoamento do produto por gravidade.<br />

Fundação<br />

Os silos horizontais não elevados constituem o tipo de estrutura, que melhor<br />

permite aplicar as cargas diretamente sobre o terreno. Quanto maior, mais baixo o custo<br />

por tonelada armazenada. Mesmo para terrenos de baixa resistência , tem sido possível<br />

projetá-los com fundações diretas. Neste caso, ocorrerão recalques com variações,<br />

aproximadamente lineares. As estruturas deverão ser divididas em trechos, separados<br />

por juntas do tipo de dilatação. Se os recalques são pequenos, as juntas poderão ser mais<br />

distanciadas, caso contrário deverão ficar mais próximas, (NEGRISOLI,1995).<br />

A galeria subterrânea é projetada estaticamente, para resistir as cargas da coluna<br />

do cereal, do peso próprio e das pressões do terreno, sendo sua fundação, executadas<br />

por estacas, em certas situações.<br />

Cobertura<br />

A cobertura, a galeria superior e as estruturas da cobertura e de fechamento dos<br />

oitões são metálicas, projetadas para as ações devidas ao peso próprio, ventos<br />

transversal e longitudinal, carga da galeria superior, cargas de equipamentos e possíveis<br />

recalques das fundações. Geralmente a estrutura de cobertura é em arco treliçado biarticulado.<br />

Existem exemplos com grandes vãos em concreto, tais como o terminal de<br />

açúcar de Recife e o terminal de Sumaré e ainda estruturas em madeira laminada colada,<br />

bastante difundidas na Europa. As telhas, geralmente, são de alumínio ou de aço<br />

galvanizado.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


38<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />

Nas regiões produtoras de cereais, os terrenos são de menor custo, resultando<br />

uma preferência na utilização das unidades horizontais e de silos metálicos de altura<br />

máxima igual ao diâmetro. Em terrenos onde não é possível a escavação tipo “V”, optase<br />

pelo fundo duplo ou triplo “V”, aumentando o número de transportadores, mas em<br />

contrapartida aumentam a vazão de descarga do produto.<br />

Neste tipo de construção a estrutura metálica participa com 25 a 30% do custo<br />

total, em relação ao custo da escavação, concretagem do piso, paredes periféricas e<br />

impermeabilizações sendo a opção mais utilizada dentre os materiais de construção.<br />

3.5<br />

3.5<br />

27°<br />

35°<br />

2.0<br />

10.6 9.17<br />

3.15<br />

2.5<br />

35°<br />

9.0 9.0 9.0 9.0<br />

2.0<br />

4.3 9.17<br />

3.15<br />

2.5<br />

18 18<br />

36.0<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 01 - Silo horizontal - (a) fundo “V” - (b) Fundo “W”<br />

3.5<br />

27°<br />

35°<br />

2.0<br />

9.17<br />

4.3<br />

3.15<br />

2.5<br />

18 18<br />

36.0<br />

3.5<br />

9.17<br />

2.5<br />

2.0<br />

3.15<br />

9.0 18.0 9.0<br />

36.0<br />

Figura 02 - (a) Silo horizontal fundo semi-plano e plano. (b) – vista interna do silo<br />

2.1.2 Silos horizontais elevados<br />

A CEAGESP construiu duas unidades deste tipo com estruturas monolíticas em<br />

toda a sua execução (S.J. da Barra e Araraquara). Em outras duas unidades a estrutura<br />

de cobertura é composta por placas pré moldadas e formas trepantes nas paredes. O<br />

problema de infiltração de algumas unidades só foi resolvido com execução de<br />

cobertura com telhas de aço galvanizado sobre a laje. Duas grandes vantagens destas<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />

39<br />

instalações podem ser citadas : a primeira é que são herméticas; a segunda, por serem<br />

elevadas e de grande comprimento (100m), funcionam como silos de expedição<br />

rodoviária, numa lateral e ferroviária na outra, (figura 3).<br />

De acordo com BAIKOV (1978), estas estruturas são chamadas de “Bunker”.<br />

No dimensionamento, a altura das paredes deve ser menor que 1,5 da menor dimensão<br />

do silo. Para efeitos de cálculo o autor desconsidera o atrito do produto com as paredes<br />

e recomenda que o ângulo de inclinação das paredes da tremonha deva ser 5 a 10%<br />

maior que o ângulo de repouso do produto armazenado. Ainda recomenda que a menor<br />

dimensão da boca de saída deva ser 6 vezes maior que a dimensão do produto e que o<br />

cálculo da estrutura deve se basear no estado limite último, ou seja, considerando os<br />

tipos de ruptura possíveis de ocorrer.<br />

2300<br />

45<br />

177<br />

30°<br />

960<br />

450<br />

560 370 440 370 560<br />

1740<br />

20.15<br />

35°<br />

Argola p/ ancoragem dos<br />

cabos de termometria<br />

50x40<br />

522<br />

Furo 72x72 p/ porta de<br />

inspeção (1 por célula)<br />

72x72<br />

Enchimento<br />

p/ caimento<br />

1<br />

80<br />

29<br />

Dim. cm<br />

Figura 03 – Silo horizontal elevado<br />

3 MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Para o desenvolvimento do presente trabalho e atendimento dos objetivos<br />

propostos foram seguidas as atividades abaixo descritas, adotando-se a metodologia que<br />

foi dividida em duas etapas : - Teórica ; cálculo das pressões utilizando os modelos<br />

teóricos; - Experimental ; medições diretas de pressões através de células em modelo<br />

piloto e em silo real com a determinação da relação K (p h /p v ) das pressões horizontais e<br />

verticais.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


40<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />

3.1 Teorias<br />

As formulações teóricas empregadas nos cálculos para estimativa das pressões<br />

em silos horizontais são apresentadas no quadro 1. As teorias de Rankine, Coulomb,<br />

Airy e Reimbert & Reimbert, foram empregadas nos cálculos das pressões nas paredes<br />

do corpo do silo e a teoria de estimou as pressões no fundo do silo (tremonha).<br />

Quadro 01 – Teorias empregadas – cálculo das pressões horizontais.<br />

Rankine<br />

pa<br />

= K<br />

a<br />

pv<br />

= K<br />

aγz<br />

cosφr<br />

p = K p = K γz<br />

cosφ<br />

Coulomb<br />

Airy<br />

Reimbert & Reimbert<br />

Walker<br />

K<br />

K<br />

a<br />

_<br />

pVT<br />

a<br />

=<br />

p<br />

cos φ<br />

=<br />

cos φ<br />

cosφ<br />

w<br />

r<br />

r<br />

⎡<br />

⎢1<br />

+<br />

⎢⎣<br />

p<br />

−<br />

+<br />

v<br />

cos<br />

cos<br />

2<br />

2<br />

p<br />

φ<br />

φ<br />

r<br />

r<br />

r<br />

− cos<br />

− cos<br />

2<br />

2<br />

φ<br />

φ<br />

2<br />

cos φi<br />

sen( φi<br />

+ φw<br />

)sen( φi<br />

− φr<br />

) ⎤<br />

⎥<br />

cosφw<br />

cosφr<br />

⎥⎦<br />

⎛ 1 ⎞<br />

ph = γy⎜<br />

⎟<br />

⎜<br />

2<br />

( ')<br />

1 ⎟<br />

⎝ µ µ + µ + + µ ⎠<br />

2<br />

2<br />

γh<br />

⎛ π − 2φ<br />

r<br />

⎞ ⎞<br />

=<br />

⎜<br />

⎟ ⎜<br />

⎛ 2φ<br />

+ r<br />

ph<br />

1 ⎟<br />

2 ⎝ π + 2φ<br />

r ⎠ ⎝ π ⎠<br />

Dinâmica<br />

( n −1)<br />

γ H ⎡⎛<br />

z ⎞ ⎛ z ⎞ ⎤<br />

⎛<br />

= ⎢⎜<br />

⎟−⎜<br />

⎟ ⎥ + pvt⎜<br />

( n−1)<br />

H H<br />

⎝<br />

⎣⎢<br />

⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎥⎦<br />

Estática<br />

_<br />

p = γy<br />

+<br />

VT<br />

p<br />

vt<br />

i<br />

i<br />

2<br />

Z<br />

H<br />

2<br />

⎟<br />

⎠<br />

⎞<br />

n<br />

3.2 Determinação das propriedades físicas dos produtos armazenados<br />

Nos projetos de silos, a determinação das propriedades do produto armazenado é<br />

de grande importância para a definição das ações e fluxo devidas as características<br />

inerentes de cada produto. O objetivo deste ensaio foi determinar o ângulo de atrito<br />

interno, o ângulo de atrito do produto com a parede e o peso específico. Para a<br />

determinação das propriedades físicas dos produtos armazenados, foi empregada a<br />

metodologia proposta por MILANI (1993). Para isto foi utilizada a máquina de<br />

cisalhamento, disponível no LaMEM / EESC – <strong>USP</strong>. Os valores do peso específico,<br />

umidade e temperatura foram fornecidos pelo de Laboratório de propriedades da<br />

CEAGESP-Araraquara.<br />

Produtos<br />

Os produtos caracterizados foram areia seca ao ar e milho (U = 12,9%). A areia<br />

foi utilizada para os ensaios do modelo piloto, devido ao seu alto peso específico e para<br />

o ensaio do silo real foi utilizado o milho devido à sua grande disponibilidade por<br />

ocasião da realização do ensaio e ainda por apresentar um valor de peso específico<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />

41<br />

característico dos produtos agrícolas. Foram retiradas amostras aleatórias para os dois<br />

produtos, em diversos pontos da massa de grãos.<br />

Os produtos foram considerados granulares de fluxo livre de acordo com a<br />

classificação feita em função das dimensões do diâmetro de suas partículas, baseada nas<br />

considerações de CALIL JR. (1984):<br />

Tabela 01 – Classificação dos produtos de acordo com a granulometria<br />

D> 0,42 mm Granulares<br />

0,42 < D < 0,149 Pulverulentos coesivos<br />

0,149 < D< 0,079 Pulverulentos coesivos finos<br />

D < 0,079<br />

Pulverulentos coesivos extra – finos<br />

Fonte: Calil (1984)<br />

Máquina de Ensaio de cisalhamento<br />

A máquina de ensaio para a determinação das propriedades dos produtos foi a<br />

TSG 70-140 - AVT, construída com base no aparelho de cisalhamento de Jenike (Jenike<br />

Shear Cell). Para execução dos ensaios foram utilizados as seguintes referências :<br />

1 - Operating Instructions for Translational Shear tester TSG 70-140<br />

2 - Manual SSTT( Standart shear Testing Techinique). Trabalho desenvolvido pela<br />

Federação Européia de Engenharia Química WPMS – 1989.<br />

3 - MILANI (1993): Determinação das propriedades de produtos armazenados para o<br />

projeto de pressões e fluxo em silos.<br />

Método<br />

Neste ensaio os produtos passaram por dois estágios; no primeiro o sólido sofre<br />

rotação em células de cisalhamento sob pressão com a finalidade de uniformizar a<br />

amostra. No segundo estágio, chamado de pré-shear, uma camada do sólido é levada à<br />

deformação sob pressão e tensão cisalhante, até atingir um nível estável de<br />

cisalhamento.<br />

Foram realizados três carregamentos, para a obtenção do lugar geométrico<br />

instantâneo de deslizamento, através da pressão σ, no pré – cisalhamento (pré-shear),<br />

Wp = 100N, 70N e 50N e correspondentes a estes carregamentos, têm-se os<br />

carregamentos de cisalhamento, Ws, apresentados na tabela abaixo. De posse dos<br />

resultados dos ensaios com areia e milho, utilizou-se o software YOLCUS,<br />

desenvolvido por CALIL (1989), onde os resultados são mostrados no capítulo V.<br />

Tabela 02- Carregamentos - padrão (N), para determinação do lugar geométrico.<br />

Wp Ws Wp Ws Wp Ws<br />

100 70 70 50 50 35<br />

100 50 70 35 50 20<br />

100 35 70 20 50 10<br />

Material da parede<br />

Para os testes, dois tipos de materiais de parede foram utilizados, o primeiro foi<br />

o concreto (liso e rugoso), e o segundo a chapa de compensado com o objetivo de<br />

submeter o produto armazenado aos 3 tipos diferentes de superfície e avaliar o seu<br />

comportamento em condições reais.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


42<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />

Para a obtenção do IWYL (lugar geométrico instantâneo de deslizamento com a<br />

parede) de cada produto, foram utilizadas 6 cargas de consolidação de cisalhamento<br />

(shear) dadas por Ww (50, 40, 30, 20, 10,e 0 N). Nesta fase, utilizou-se a mesma célula<br />

de cisalhamento do IYL e três tipos de materiais de parede a ser testada; concreto liso e<br />

rugoso para o silo real e compensado para o modelo piloto.<br />

3.3 Determinação direta das pressões<br />

As medições de pressão em silos apresentaram grande avanço nos últimos anos<br />

através das medidas diretas obtidas pelo desenvolvimento das células de pressão e dos<br />

sistemas de aquisição de dados mais estáveis e rápidos. A utilização destes<br />

equipamentos tornou-se indispensável no estudo do comportamento dos meios<br />

granulares e pulverulentos, tais como solos e produtos diversos destinados ao<br />

armazenamento agrícola e industrial.<br />

A escolha do equipamento se baseou na análise das exigências mínimas<br />

impostas pelo fabricantes e das condições de ensaio. O tipo de célula de pressão, sua<br />

calibração, a posição das células nas paredes, as condições para se realizar as medições<br />

(sistemas de carregamento e descarga, tipo de fluxo) e o método de coleta de dados<br />

foram os requisitos considerados.<br />

Sistema de aquisição de dados<br />

O sistema de aquisição de dados utilizado foi o de marca LINX (ADS – 2000),<br />

composto por uma placa controladora e placas de condicionador de sinais, formando um<br />

sistema compacto e de fácil manuseio. O controlador do ADS-2000 utiliza um circuito<br />

integrado projetado para diversas aplicações que é conectado ao computador com<br />

interface paralela (usada para impressoras). A escolha pelo emprego deste sistema foi<br />

pela sua aplicabilidade em ensaios de carregamentos estáticos e dinâmicos, bem como a<br />

sua disponibilidade no LaMEM. As principais características são apresentadas a seguir:<br />

controlador ac-2120 : é o elemento principal do sistema, realizando todas as<br />

tarefas de comunicação com o computador, leitura e controle de placas condicionadoras.<br />

Condicionador de sinais AI–2160 : Apresenta as seguintes características gerais:<br />

- 16 canais de entrada<br />

- Entrada implementada com amplificador de instrumentação integrado. Ganhos<br />

pré-definidos: x1, x10, x50 e x600 (selecionáveis por jumpers).<br />

- Sensor de temperatura de junta fria para compensação de medida de<br />

temperatura.<br />

Alimentação de sensores : Para alimentação de sensores, o AI-2160 possui 4<br />

fontes com saída regulada configurável em tensão ou corrente. A tensão de saída pode<br />

ser selecionada entre 10 ; 7,5 ; 5,0 e 2,5 volts. Quando configurada, cada fonte serve a 4<br />

canais de entrada analógica.<br />

Células de pressão<br />

Para a medição das pressões na massa de grãos e nas paredes do modelo piloto<br />

foi utilizado o modelo de célula, do tipo hidráulica – EPC 3500-1-100 (GEOKON),<br />

figura 04. São montadas com duas placas circulares de aço inoxidável- 304, soldadas<br />

em seu contorno com diâmetro de 22,86cm e espessura de 6,35mm. Apresentam uma<br />

faixa de pressão que varia de 0 a 700kPa, com sensibilidade de 0,175kPa (700/4000)<br />

com duas faces ativas. Seguindo as curvas de calibração em anexo, as células<br />

apresentaram um fator gage de aproximadamente 7kPa/mV/V e precisão de +/- 0,5%. A<br />

resistência da ponte para o modelo é de 5000Ω, considerando que o sensor é aplicado<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />

43<br />

para baixas pressões. A faixa de temperatura para sua aplicação está entre os limites –<br />

40 a +150 0 C.<br />

Figura 04 – Célula de pressão hidráulica – Fonte -GEOKON<br />

3.4 Cálculo e ensaio do modelo piloto<br />

Seguindo o projeto de um silo horizontal elevado de fundo V, foi calculado e<br />

construído um modelo piloto. Este foi montado em chapa de compensado e a estrutura<br />

de sustentação em madeira maciça de ipê, com capacidade para 5 toneladas. Os<br />

trabalhos de montagem foram realizados pelo técnicos da marcenaria do LaMEM,<br />

seguindo as etapas de corte, furação, pré-montagem e fixação dos parafusos. Nos<br />

cálculos foi empregado o peso específico da areia seca (γ = 15,6kN/m 3 ), determinado no<br />

LaMEM.<br />

Instalação das células de pressão no modelo<br />

A instrumentação do modelo é mostrada no esquema da figura 5, indicando a<br />

posição das células para medição das pressões. Na primeira fase do ensaio foram<br />

instaladas 16 células de pressão do modelo EPC 3500-1-100. O esquema de instalação<br />

indica as células posicionadas nas paredes do silo e na tremonha, de forma simétrica.<br />

Duas células (11,12) foram instaladas dentro da massa do produto (areia) na posição<br />

vertical, direcionadas ortogonalmente, para medição das pressões horizontais e<br />

avaliação da variação do valor de K na seção transversal do modelo. Na segunda fase, a<br />

direção das células (1, 2, 7, 8, 9, 10, 13, 14, 11, 12) foi alterada para medição das<br />

pressões verticais. exceto as das células instaladas na parede da tremonha. Foram<br />

realizadas 2 repetições para cada fase de ensaio. Para a instalação das células, entre a<br />

face da célula e a parede foi colocada uma manta de borracha. Esta recomendação<br />

permite a melhor distribuição das tensões sobre a superfície da célula, devido às<br />

imperfeições de superfície, TAKEYA ♦ , (1999). A utilização da areia se justifica, pois<br />

este produto apresenta peso específico elevado, sendo de fácil obtenção, apresentando<br />

características de produto granular e melhor distribuição das pressões, o que é de grande<br />

vantagem para aplicação de ensaios em modelos.<br />

♦ TAKEYA – Comunicação Pessoal – Lab. Estruturas – <strong>SET</strong>/<strong>USP</strong><br />

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44<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />

Os terminais das células foram conectados ao sistema de aquisição de dados e<br />

este último ao notebook. O tratamento de dados foi feito pelo software AQD5 (LINX)<br />

para ambiente WINDOWS.<br />

Ensaio<br />

Com o objetivo de determinar as pressões estáticas no modelo piloto foram realizados<br />

três repetições de carregamento para medir as pressões normais às paredes e um<br />

carregamento para medição das pressões verticais. Os valores foram coletados no<br />

decorrer do carregamento e no período de <strong>24</strong> horas de armazenamento. Este<br />

procedimento teve como objetivo avaliar as pressões após o carregamento considerando<br />

os efeitos de consolidação do produto.<br />

10<br />

1<br />

14<br />

8<br />

WL<br />

2<br />

3<br />

WF<br />

9<br />

13<br />

11<br />

7<br />

6<br />

4<br />

T<br />

16<br />

12<br />

5<br />

15<br />

Figura 05- Disposição das células de pressão no modelo piloto<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />

45<br />

pilares<br />

chapa frontal superior<br />

chapa lateral<br />

sarrafos superiores<br />

sarrafos laterais<br />

chapa frontal inferior<br />

sarrafos inferiores<br />

chapa da tremonha<br />

sarrafos da tremonha<br />

tremonha<br />

sarrafos da tremonha<br />

cobrejunta<br />

cobrejunta<br />

vista frontal<br />

vista lateral<br />

Figura 06 – Esquema do modelo piloto<br />

3.5 Ensaio em silo horizontal elevado<br />

Algumas informações básicas devem ser fornecidas para melhor entendimento<br />

da montagem, instalação dos equipamentos e condução dos ensaios. É feita uma breve<br />

descrição da localização do silo, principais formas e dimensões, o material estrutural, a<br />

capacidade de armazenamento, o produto a ser armazenado e as formas de enchimento e<br />

esvaziamento do silo. No casos de silos industriais é interessante obter alguns dados<br />

históricos como: idade, tipos de produtos já armazenados, a ocorrência de algum<br />

problema estrutural são dados importantes para avaliação geral das condições de ensaio.<br />

As circunstâncias de ocorrência dos danos, sua localização bem como os métodos de<br />

reparação passam a ser fatores que devem ser considerados. Em silos de concreto a<br />

ocorrência de fissuras e imperfeições devem ser verificadas. As descontinuidades e<br />

rugosidades das paredes podem alterar a velocidade e o tipo de fluxo do produto e ainda<br />

influenciar as pressões nas paredes. Em silos multicelulares é importante informar sobre<br />

utilização das células vizinhas, forma de enchimento e esvaziamento durante os ensaios<br />

que estão sendo conduzidos. Informações sobre o tipo de fundação (dimensões,<br />

localização e número das estacas) e propriedades do solo também são importantes, pois<br />

formam a base da estrutura de reação durante a execução dos ensaios.<br />

Detalhes do silo<br />

Para avaliação direta das pressões um silo horizontal elevado de concreto<br />

armado instalado na CEAGESP – Araraquara/(SP), foi instrumentado. Esta unidade foi<br />

escolhida devido à proximidade e condições técnicas para execução do ensaio, sabendose<br />

que as características geométricas são comuns às unidades em estudo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


46<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />

Construída em 1977 e mantendo-se em operação até os dias atuais sua<br />

capacidade total é de 20.000t, divida em 10 células de 2.000t. A estrutura de sustentação<br />

é do tipo viga-parede, onde se apoia a tremonha. A obra foi executada utilizando o<br />

processo de formas trepantes, tornando a estrutura monolítica sendo o silo considerado<br />

hermético.<br />

O sistema de carregamento centrado é feito através de elevadores de canecas<br />

(sentido vertical) localizados na torre do silo e correias transportadoras (sentido<br />

horizontal), localizadas em sua parte superior com uma vazão de 180t/hora. A descarga<br />

é feita através de saídas múltiplas localizadas no vértice de uma tremonha em cunha,<br />

que conduzem o produto até uma correia transportadora, localizada no túnel sob a<br />

tremonha, retornando o produto até os elevadores de canecas. Outras saídas também são<br />

localizadas nas paredes das tremonhas. As dimensões externas da unidade são;<br />

comprimento total = 100m e largura = 23m. O fundo em tremonha apresenta paredes de<br />

35cm de espessura sendo as paredes laterais e das divisórias dos séptos de 20cm.<br />

Instrumentação<br />

Foram instaladas 16 células de pressão (EPC-3500-1-100/GEOKON) para<br />

avaliação das ações de carregamentos e descargas dos silos. As células foram fixadas<br />

nas paredes por meio de parafusos fixados sobre pressão. Entre a parede do silo e a face<br />

da célula foi colocada uma manta de borracha para permitir um contato perfeito de toda<br />

a superfície da célula e superfície da parede. Este detalhe de montagem permite que a<br />

distribuição das tensões seja uniforme em toda a área da célula. As células foram<br />

instaladas nas paredes e na tremonha do silo conforme a disposição mostrada na figura<br />

7. Quatro células foram instaladas nas paredes divisórias das células e duas foram<br />

instaladas na massa de grãos, fixadas ao cabo de termometria com dispositivo para<br />

garantir que a célula não mudasse sua orientação. As temperaturas foram monitoradas<br />

por cabos de termometria instalados no silo.<br />

Ensaio<br />

Os ensaios foram realizados in loco, sendo a estrutura de reação, a própria<br />

fundação. As ações foram aplicadas pelo carregamento do silo utilizando o produto<br />

milho para o armazenamento.<br />

O monitoramento das pressões ocorreu durante um ciclo completo<br />

correspondendo às fases de carregamento, armazenamento e descarga do silo, através do<br />

sistema de aquisição de dados analógico/digital de marca LINX, acoplado a um<br />

computador equipado com o software AQD5. Os dados experimentais foram<br />

confrontados com os valores teóricos estimados para os valores de pressão nas paredes e<br />

no fundo do silo (tremonha).<br />

Após a calibração das células ligadas ao sistema de aquisição LINX, iniciou-se a<br />

primeira etapa de carregamento do silo. O carregamento foi realizado através da<br />

transilagem do produto de uma célula para a que estava instrumentada. A transilagem<br />

foi realizada utilizando dois elevadores de canecas e quatro correias transportadoras,<br />

duas localizadas no túnel inferior e duas localizadas no túnel superior. A vazão do<br />

sistema de transporte era de 180ton/hora o que permitiu o carregamento total do silo em<br />

aproximadamente 11 horas.<br />

Foram realizados duas repetições para o ciclo completo – carregamento,<br />

armazenamento e descarga. O ensaio durante as três fases permitiu a coleta de dados,<br />

para as duas condições de carregamento, estático e dinâmico. Para a avaliação do<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />

47<br />

carregamento estático foram coletados dados durante 52 horas de armazenamento. Para<br />

averiguação do efeito da aeração da massa do produto, foram coletados dados de<br />

pressão durante 2 horas de insulflação de ar.<br />

A temperatura externa medida próxima à parede do silo foi de 26 o C e as<br />

temperaturas na massa de grãos variaram dentro de uma faixa de temperatura de 22 o a<br />

25 o C. De acordo com as curvas de calibração fornecidas pelo fabricante não houve<br />

necessidade de correção das leituras para este gradiente de temperatura observado. O<br />

sistema de aquisição foi configurado para uma freqüência de 10 hertz com coletas de<br />

dados a cada 5 segundos. Tal configuração permitiu monitorar o ensaio dinâmico para<br />

condição de carregamento e descarga aumentando a resposta do sistema.<br />

23.00<br />

45<br />

1.77<br />

30°<br />

12<br />

960<br />

5.10<br />

1<br />

2<br />

35°<br />

3<br />

4<br />

50x40<br />

11<br />

3.50 3.00<br />

15<br />

13<br />

3.50<br />

14<br />

16<br />

7<br />

8<br />

10<br />

450<br />

2.00<br />

9<br />

4.00<br />

1740<br />

20.15<br />

522<br />

5<br />

6<br />

5.00<br />

4.00<br />

Dim. cm<br />

Figura 07 – Disposição das células no silo horizontal<br />

1.00<br />

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

4.1 Propriedades dos produtos armazenados<br />

Como comentado anteriormente, a escolha dos produtos foi feita em função de<br />

suas propriedades para o ensaio do modelo e pela disponibilidade e quantidade<br />

necessárias para a execução do ensaio em escala real.<br />

A utilização da máquina de cisalhamento (TSG 70-140) é justificada pela sua<br />

aceitação no meio internacional e indicação das normas para a determinação das<br />

propriedades físicas dos produtos armazenados. Para cálculo e análise dos parâmetros<br />

utilizou-se o software YLOCUS, desenvolvido por CALIL(1994).<br />

Para os valores dos ângulos de atrito interno e de atrito com a parede foram<br />

definidos o valor superior e inferior a serem aplicados nos cálculos das pressões nas<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


48<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />

paredes do corpo e da tremonha do silo, de acordo com CALIL et al (1997). Os<br />

resultados são apresentados nas tabelas 03 e 04 a seguir.<br />

Tabela 03- Resultados obtidos nos ensaios de propriedades do milho<br />

Propriedades<br />

Peso específico (γ) 7,59 kN/m 3<br />

Ângulo de atrito interno (φ i ) 32 – 35 0<br />

Ângulo de atrito com a parede (φ w ) Liso Rugoso<br />

Concreto 25 0 29 0<br />

Teor de umidade 12,9%<br />

Tabela 04 – Resultados obtidos nos ensaios de propriedades da areia<br />

Propriedades<br />

Peso específico (γ) 15,6 kN/m 3<br />

Ângulo de atrito interno (φ i ) 36 0 – 39 0<br />

Ângulo de atrito com a parede (φ w )<br />

20 0 - 22 0<br />

(chapa de compensado)<br />

Os resultados das propriedade físicas dos produtos estão de acordo com os<br />

valores tabelados pelas normas internacionais. Estes parâmetros determinados<br />

inicialmente, na primeira fase experimental, foram aplicados nos cálculos das pressões,<br />

considerando-se os valores inferior e superior fornecidos em função da variabilidade das<br />

propriedades.<br />

4.2 Cálculo das pressões e do coeficiente K<br />

São apresentados e discutidos os valores obtidos no cálculo do coeficiente K e<br />

das pressões através das teorias citadas. O coeficiente K foi determinado de forma<br />

indireta levando em consideração o ângulo de atrito interno. As pressões horizontais<br />

foram calculadas na condição estática de carregamento para o modelo piloto, enquanto<br />

que para o silo horizontal foram analisadas sob as condições estática e dinâmica. Adotase<br />

a condição estática como aquela correspondente às pressões de carregamento. A<br />

condição dinâmica é considerada durante o escoamento do produto, quando são<br />

produzidas as máximas pressões. Normalmente esta condição ocorre na descarga, com<br />

início logo após a abertura da boca da tremonha.<br />

4.2.1 Determinação indireta do coeficiente K<br />

Os valores fornecidos pelas normas internacionais são mostrados na tabela 5. Os<br />

valores do ângulo de atrito interno são o menor e o maior valor observados entre as<br />

normas internacionais.<br />

Nas teorias das pressões a relação entre as pressões verticais e horizontais são<br />

consideradas constantes na seção transversal e ao longo da altura do silo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />

49<br />

Tabela 05 - Valores do coeficiente K fornecidos pelas normas internacionais.<br />

Coeficiente K<br />

φ i (graus) Milho φ i (graus) Areia<br />

28 0,361 0,640 25 0,406 0,697<br />

32 0,307 0,561 40 0,222 0,415<br />

Os valores de K, determinados indiretamente, são apresentados na tabela 6. Os<br />

limites inferior e superior foram calculados considerando as equações de Koenen e<br />

Ayuga, consideradas de consenso pelo pesquisadores para o cálculo das pressões para<br />

os estados limites ,(CALIL,1990).<br />

Tabela 06 – Limites de K em função do ângulo de atrito interno.<br />

Coeficiente K<br />

φ i (graus) Milho φ i (graus) Areia<br />

32 0,307 0,560 36 0,260 0,486<br />

35 0,271 0,505 39 0,227 0,433<br />

Como pode ser observado há grandes diferenças quanto a estimativa dos valores<br />

de K para um mesmo produto em função das variações do valor do ângulo de atrito<br />

interno. Ao compararmos com os valores tabelados pela norma ISO 1697, verificamos<br />

que o milho está na classe 1, com o valor de K = 0,3 e a areia na classe 5, com um valor<br />

de K= 0,75, superando as demais estimativas.<br />

Na tremonha, considerando a teoria de Walker e a norma Australiana, os valores<br />

de K foram estimados para a condição estática no modelo piloto e nas condições<br />

dinâmica e estática para o silo horizontal, em função dos produtos armazenados<br />

utilizados nos ensaios. Foram consideradas as características geométricas da tremonha e<br />

ainda o ângulo atrito interno.<br />

Em função dos valores propostos pelas normas internacionais e os valores<br />

calculados foi definido um intervalo para os valores limites de K; 0,706≤ K ≤ 0,7969.<br />

4.2.2 Determinação experimental do coeficiente K no modelo piloto<br />

Para a medição das pressões verticais foram instaladas células de pressão nas<br />

mesmas cotas das células instaladas nas paredes do modelo. As células foram fixadas na<br />

superfície de uma placa de compensado orientadas para a medição das pressões<br />

verticais, exceto nas posições das células instaladas nas paredes da tremonha<br />

Tabela 07 – Valores limites, médios, das pressões verticais, horizontais e de K.<br />

Célula 15,16 4,5 3,6 12 11 13,14 2,7 1,8 9,10<br />

PRESSÃO<br />

Pn 10,01 6,09 4,20 - - - - - -<br />

17,54 6,86 6,30<br />

Pv 8,30<br />

14,37<br />

4,99<br />

5,62<br />

3,44<br />

5,16<br />

10,50<br />

11,50<br />

7,50<br />

8,72<br />

10,05<br />

11,03<br />

8,60<br />

9,02<br />

3,87<br />

4,01<br />

4,55<br />

4,85<br />

Ph 5,74 3,49 2,41 7,84 4,23 2,80 1,96 1,05 1,05<br />

10,06<br />

K L 0,692<br />

K u 0,700<br />

3,93<br />

0,696<br />

0,699<br />

3,61<br />

0,698<br />

0,701<br />

8,47<br />

0,737<br />

0,747<br />

5,53<br />

0,564<br />

0,634<br />

4,06<br />

0,278<br />

0,368<br />

3,01<br />

0,227<br />

0,334<br />

1,47<br />

0,271<br />

0,367<br />

1,73<br />

0,236<br />

0,357<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


50<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />

Na seção transversal, considerando o plano definido pelas células 2, 7, 13 e 14,<br />

pode-se observar que o valor do coeficiente K, é maior na parte central. Os valores<br />

médios, inferior e superior, nas paredes é 0,253 e 0,351, respectivamente. Na seção das<br />

células 1, 8, 9, e 10 os valores médios, inferior e superior de K é 0,253 e 0,362.<br />

Observa-se valores de K elevados no centro, medidos pelas células 11 e 12; 0,564 e<br />

0,747 respectivamente. Os valores de K ao longo da altura do corpo do silo são<br />

crescentes e nas paredes da tremonha os valores inferior e superior, médios, são 0,695 e<br />

0,712.<br />

A figuras 8 e 9, ilustram as curvas das pressões horizontais nas paredes do<br />

modelo e as pressões normais às paredes da tremonha. Para efeito de análise são<br />

indicados os valores experimentais, obtidos no ensaio.<br />

Altura do produto (m)<br />

0,0<br />

0,2<br />

0,4<br />

Safarian & Harris<br />

Rankine<br />

Coulomb<br />

Airy<br />

Reimbert<br />

ANSI 96<br />

AS 3774<br />

valores experimentais<br />

valores experimentais<br />

valores experimentais<br />

valores experimentais<br />

0,6<br />

0,8<br />

0 2 4 6 8 10<br />

Pressão (kPa)<br />

Figura 08 – Gráfico - Pressões ativas nas paredes do modelo e valores experimentais<br />

Altura da tremonha (m)<br />

0,0<br />

0,1<br />

0,2<br />

0,3<br />

0,4<br />

0,5<br />

0,6<br />

Walker<br />

Safarian & Harris<br />

AS 3774<br />

valores experimentais<br />

valores experimentais<br />

0,7<br />

0,8<br />

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 <strong>24</strong> 26<br />

Pressões (kPa)<br />

Figura 09 – Gráfico - Pressões estáticas na tremonha do modelo e valores experimentais<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />

51<br />

A partir dos resultados obtidos, podemos afirmar que:<br />

1- A utilização das células de pressão nos permitiu avaliar o comportamento<br />

das pressões do produto nas paredes do modelo.<br />

2- Os valores obtidos pelas teorias de Coulomb, Rankine e AS 3774 foram os<br />

que mais se ajustaram aos valores de medições das pressões nas paredes do<br />

modelo. Isto pode ser constatado através dos valores obtidos nas células 1, 2,<br />

7, 8, 9, 10, 13 e 14. Considerando a altura de produto de 0,25m, no modelo, a<br />

pressão média horizontal foi de 1,4kPa, enquanto que para uma altura efetiva<br />

de 0,705m este valor foi de 3,3KPa. Nesta altura os dados se ajustaram à<br />

norma australiana.<br />

3- Na tremonha, comparando os valores teóricos com os valores experimentais<br />

podemos constatar que a Teoria de Walker e o modelo de Safarain & Harris<br />

apresentaram valores superiores aos medidos. Os valores experimentais<br />

médios das pressões normais na parede da tremonha variaram de 5,4 a 14<br />

kPa ao longo da altura. Estes dados podem ser observados através dos<br />

valores medidos pelas células 3, 4, 5, 6, 15 e 16. Na linha de transição as<br />

melhores estimativas são dadas pelo modelo de Safarian & Harris e pela<br />

norma Australiana para os valores inferiores de pressão, entretanto, ao longo<br />

da altura da tremonha, as pressões estáticas máximas são melhor estimadas<br />

pela teoria de Walker.<br />

5- A utilização das células de pressão inseridas na massa do produto nos<br />

permitiu avaliar o comportamento das pressões em uma seção do silo. Foram<br />

observadas diferenças significativas das pressões horizontais na seção<br />

transversal. Isto pode ser constatado através dos resultados obtidos no ensaio<br />

através dos valores medidos pelas células 11 e 12, o que para a condição<br />

estática são valores elevados.<br />

4.2.3 Determinação das pressões e de K no silo horizontal<br />

Os gráficos apresentados nas figuras 10 (a) e (b), ilustram o comportamento das<br />

pressões do silo horizontal. Em cada gráfico são ilustradas exemplos das curvas<br />

tempo(min) x pressão(kPa) horizontais às paredes e normal às paredes da tremonha do<br />

silo em células simetricamente posicionadas para as fases de carregamento e descarga<br />

do silo.<br />

A partir dos dados observados durante as medições das pressões diretas das<br />

pressões, normais na tremonha e horizontais na parede, os valores médios foram<br />

calculados. As tabelas 8 e 9 fornecem os valores inferiores e superiores das pressões<br />

normais horizontais e verticais e o valor de K nas fases de carregamento e descarga do<br />

silo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


52<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />

Tabela 08 – Valores de pressão de carregamento (kPa) e do coeficiente K.<br />

Células p nt p vt p h K<br />

Tremonha<br />

05/06 22,4 - 39,2 18,35 – 32,11 12,85 – 22,48 0,701 – 0,702<br />

04/07 40,6 - 56,0 33,26 – 45,87 23,28 – 32,12 0,699 - 0,702<br />

03/08 36,4 - 50,4 29,82 –41,28 21,00 – 28,91 0,701 – 0,703<br />

Paredes<br />

Pressões horizontais (p h )<br />

02/09 9,80 – 12,10<br />

01/10 8,40 – 11,20<br />

11/12 5,60 – 10,50<br />

13/14 18,90 – 25,90<br />

15/16 35,00 – 44,80<br />

Tabela 09 – Valores de pressão de descarga (kPa) e do coeficiente K.<br />

Células p nt p vt p h K<br />

Tremonha<br />

05/06 23,4 - 44,0 18,35 - 36,04 14,57 - 25,<strong>24</strong> 0,699 - 0,702<br />

04/07 44,1 - 63,0 36,12 - 51,60 25,29 - 36,14 0,698 - 0,703<br />

03/08 38,5 - 54,6 31,54 - 44,73 22,08 - 31,32 0,701 - 0,703<br />

Paredes<br />

Pressões horizontais (p h )<br />

02/09 11,20 – 13,40<br />

01/10 9,10 - 12,06<br />

11/12 4,30 - 14,70<br />

13/14 22,40 - 33,60<br />

15/16 35,00 - 60,90<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />

53<br />

70<br />

60<br />

célula 04<br />

célula 07<br />

Pressão (kPa)<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

Carregamento<br />

Região de sobrepressão<br />

Descarga<br />

0<br />

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800<br />

Tempo (min)<br />

(a) - Ciclo completo do ensaio 1<br />

60<br />

Célula 04<br />

Célula 07<br />

50<br />

Carregamento<br />

Descarga<br />

Pressão (kPa)<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

Região de sobrepressão<br />

0<br />

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600<br />

Tempo (min)<br />

(b) - Ciclo completo do ensaio 2<br />

Figura 10 - Pressões dinâmicas no silo horizontal.- Células 04 e 07.<br />

Após observarmos os gráficos ilustrados nas figuras 10 (a) e (b), verificamos a<br />

ocorrência de sobrepressões no início da descarga. As células 5, 6, 4, 7, 13, 14, 15 e 16<br />

indicaram picos de pressão mais notadamente superiores. Os valores máximos de<br />

sobrepressão de descarga observado foi de 13,5kPa para as células 13 e 14 e 20kPa para<br />

a célula15. O valor médio de pico de pressão na descarga nas células 4 e 7 foi de<br />

7,7kPa, nas células 13 e 14, de 9,65kPa e de18kPa para as células 15 e 16,<br />

representando um acréscimo de 12,5%, 31,5% e 30%, nos valores de pressão,<br />

respectivamente.<br />

Observou-se que os valores medidos pelas células simétricas também variaram<br />

durante as fases de carregamento e descarga. Isto pode ser explicado pela natureza<br />

aleatória das pressões, forma de carregamento e impacto do produto sobre as paredes.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


54<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />

As pressões de descarga foram sensivelmente maiores e como conseqüência não<br />

foram observados valores significativos de variação do coeficiente K entre as fases de<br />

carregamento e descarga. A relação entre as pressões horizontais e verticais na<br />

tremonha se mantiveram constantes para valores médios de K inferior igual a 0,698 e<br />

superior de 0,703.<br />

Na figura 11 são mostrados os valores de pressão horizontais máximas nas<br />

paredes do corpo e da tremonha do silo horizontal. À esquerda são mostradas as<br />

pressões de carregamento e à direita as pressões de descarga<br />

hs+hc<br />

11,2<br />

Carregamento<br />

Descarga<br />

12,1<br />

12,1<br />

13,4<br />

50,4<br />

ht<br />

54,6<br />

56,0<br />

63,0<br />

39,2<br />

44,0<br />

Figura 11 – Mapeamento das pressões máximas nas paredes e na tremonha durante o<br />

carregamento e descarga do silo horizontal.<br />

Na figura 12, são ilustradas as curvas para as pressões ativas, nas paredes dos<br />

silos horizontais, estimadas pelas teorias, métodos de cálculo e normas internacionais.<br />

Os valores experimentais também são mostrados, para efeito de comparação. Observase<br />

a grande variação dos resultados para os modelos teóricos propostos, destacando-se<br />

as curvas de Rankine e Reimbert.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />

55<br />

Altura efetiva do produto (m)<br />

0<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

Safarian & Harris<br />

Rankine<br />

Coulomb<br />

Airy<br />

Reimbert<br />

ANSI 96<br />

AS3774<br />

Linf<br />

Lsup<br />

7<br />

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70<br />

Pressão (kPa)<br />

Figura 12 – Gráfico das pressões ativas e valores experimentais na parede do silo horizontal.<br />

Considerando as pressões dinâmicas medidas nas paredes do silo o método que<br />

melhor estima as pressões é o da norma Australiana sendo os modelos de Reimbert &<br />

Reimbert e Rankine conservadores. O primeiro modelo teórico estima as pressões<br />

considerando a altura elevada ao quadrado e o segundo modelo desconsidera o atrito.<br />

As pressões estáticas, experimentais e teóricas, na tremonha são mostradas na<br />

figura 13(a). Pode ser observado que os valores observados foram compatíveis com a<br />

norma Australiana, configurando uma distribuição trapezoidal das pressões ao longo da<br />

altura da tremonha.<br />

Altura da tremonha (m)<br />

0<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

Walker<br />

Safarian & Harris<br />

AS 3774<br />

Linf<br />

Lsup<br />

8<br />

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120<br />

Pressão (kPa)<br />

Altura acima do vértice da tremonha (m)<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

Walker<br />

AS 3774<br />

Valores de ensaios<br />

0 10 20 30 40 50 60 70<br />

Pressão (kPa)<br />

Figura 13 (a) – Pressões estáticas normais. (b) – Pressões dinâmicas normais –<br />

Tremonha<br />

Para as pressões nas paredes da tremonha, na condição mais desfavorável que é<br />

a fase de descarga, a teoria de Walker e a norma Australiana forneceram boas<br />

estimativas. Na figura 13(b), observa-se os valores experimentais e que as maiores<br />

pressões foram medidas pelas células 4 e 7, instaladas a 5,2 metros da linha de transição<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


56<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />

entre o corpo do silo e a tremonha. Comparando com os valores de ensaios a estimativa<br />

das pressões na transição é mais compatível com o método da norma Australiana<br />

enquanto que para as pressões máximas o método de Walker apresenta maior<br />

compatibilidade com os valores experimentais.<br />

5 CONCLUSÕES<br />

As unidades horizontais são estruturas indispensáveis para a otimização e<br />

expansão da rede armazenadora em nosso país. Em função das vantagens que<br />

apresentam, podemos considerar o seu desempenho bastante satisfatório para a<br />

manutenção das condições de armazenamento de produtos agrícolas e industriais.<br />

Alguns cuidados devem ser tomados para que não haja comprometimento da estrutura.<br />

Um grande problema ainda a ser sanado é a aeração, que requer equipamentos de custo<br />

mais elevado que as unidades verticais e ainda os problemas de infiltração pelo lençol<br />

freático.<br />

Propõe-se que a notação “silos horizontais” seja empregada para as estruturas<br />

conhecidas como armazéns graneleiros em função das características construtivas, da<br />

finalidade a qual se destinam e da utilização de equipamentos empregados nestas<br />

estruturas de armazenamento como cabos de termometria o que permite um controle<br />

sobre a qualidade do produto armazenado. A utilização do fundo inclinado, ao contrário<br />

do silos de fundo plano, permite a fácil operação e como conseqüência a diminuição dos<br />

custos de processamento dos produtos. Considerando os silos horizontais elevados os<br />

custos de sua construção podem ser compensados pela facilidade de operação e<br />

processamento rápido, tornando-o bastante funcional. A grande vantagem da sua<br />

utilização reside no processamento de grandes volumes a baixos custos por tonelada<br />

estocada, e ainda a fácil expedição dos produtos. Tais características, permitem a sua<br />

utilização para armazenamento de produtos de fluxo livre, com características bem<br />

distintas, como os resíduos industriais, açúcar, e os granulares sem comprometimento<br />

da estrutura.<br />

Este trabalho, pioneiro no estudo dos silos horizontais corresponde<br />

principalmente à análise das pressões devidas ao produto armazenado, dando ênfase às<br />

teorias empregadas e aos procedimentos experimentais.<br />

A seguir são relatados alguns aspectos conclusivos considerados de relevância,<br />

quando analisados os métodos de cálculos das ações para as paredes do corpo do silo e<br />

da tremonha nas condições estáticas e dinâmicas.<br />

Com relação aos métodos teóricos empregados:<br />

1- As teorias aplicadas são conservadoras. Os métodos de Coulomb e Rankine e<br />

a norma Australiana, mostraram-se de boa compatibilidade com os<br />

conseqüentes resultados medidos no ensaio do modelo. Para o silo horizontal<br />

o método proposto pela norma Australiana é compatível com os valores<br />

experimentais. Os métodos de Reimbert & Reimbert e Rankine não foram<br />

adequados para o estudo em questão, vistos os resultados apresentados tanto<br />

nos ensaios do modelo piloto quanto para o silo horizontal.<br />

2- Na avaliação das ações na tremonha, na condição estática, o método<br />

proposto pela norma Australiana se mostrou compatível com os resultados<br />

obtidos nos ensaios do modelo piloto. O método de Walker se mostrou mais<br />

conservador em função da estimativa das pressões na linha de transição entre<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />

57<br />

o corpo do silo e a tremonha. Na condição dinâmica os dois métodos foram<br />

compatíveis com os resultados obtidos nos ensaios do silo horizontal.<br />

Com relação às propriedades físicas dos produtos armazenados:<br />

1- A estimativa das ações baseada nas determinações dessas propriedades nos<br />

fornecem resultados mais consistentes, comparados com os valores<br />

tabelados, fornecidos pelas diversas normas internacionais.<br />

2- As formulações teóricas devem levar em consideração a influência do atrito<br />

do produto com as paredes e a variabilidade do peso específico dos produtos<br />

armazenados. Com isto, para o estado limite de dimensionamento propõe-se<br />

o intervalo para o peso específico 0,75 ≤ γ ≤ 1,20.<br />

Com relação aos ensaios no modelo piloto:<br />

1- O modelo piloto (escala pouco reduzida) pode ser empregado com vantagens<br />

para avaliação das ações e do coeficiente K, pois os resultados obtidos,<br />

foram compatíveis com os obtidos no silo horizontal em escala real. A<br />

grande vantagem da utilização de modelos reside na praticidade e economia<br />

nos ensaios. O controle das variáveis envolvidas foi facilitado e permitiu a<br />

obtenção de resultados confiáveis.<br />

2- A utilização de produtos como areia, tendo como características, alto peso<br />

específico e fluxo livre, permitiu a avaliação das pressões e do valor de K<br />

considerando os limites máximos para o dimensionamento.<br />

Com relação às medições diretas das pressões:<br />

1- As determinações experimentais fornecem resultados sem a interferência do<br />

material estrutural. As células de pressão, empregadas na instrumentação<br />

geotécnica, mostraram-se de grande aplicabilidade, tanto no ensaio do<br />

modelo piloto quanto no ensaio no silo horizontal.<br />

2- A forma de instalação das células de pressão nas paredes não comprometeu a<br />

integridade do silo horizontal.<br />

3- Recomenda-se o emprego das células de pressão EPC-GEOKON para<br />

avaliação direta das pressões estáticas e dinâmicas nos silos, considerando a<br />

calibração precisa, sensibilidade e resposta rápida do equipamento.<br />

Com relação ao valor do coeficiente K:<br />

1- Para produtos granulares, de fluxo livre, os valores de K não variam em<br />

função da relação altura/lado do silo, pois os ângulos de atrito não variam<br />

com a compactação do produto. As variações ocorridas no modelo piloto<br />

para o valor de K medido na massa do produto se devem à influência do<br />

estado de pressões decorrentes da geometria e rugosidade das paredes da<br />

tremonha.<br />

2- Na descarga, o valor de K é maior, pois há um aumento das pressões<br />

horizontais e uma diminuição das pressões verticais.<br />

3- Pela análise geral dos resultados teóricos e experimentais obtidos, os valores<br />

propostos pela maioria das normas e pesquisadores são conservadores e que<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>


58<br />

Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />

a variabilidade natural dos valores exige uma análise estrutural pelo método<br />

dos estados limites de dimensionamento.<br />

4- Considerando os valores experimentais obtidos e a variabilidade encontrada<br />

para as propriedades dos produtos nas normas internacionais, recomenda-se<br />

os limites inferiores e superiores para o valor de K: 0,25 ≤ K ≤ 0,55 no corpo<br />

do silo e 0,60 ≤ K ≤ 0,80 para a tremonha. Estes intervalos abrangem<br />

também as sobrepressões devidas ao fluxo do produto durante a descarga.<br />

Com relação às pressões nas paredes laterais e na tremonha:<br />

1- Para as pressões nas paredes dos silos horizontais recomenda-se utilizar a<br />

expressão matemática : p h = γhK, com os valores de K definidos no item<br />

anterior a partir do modelo empírico.<br />

2- Para o cálculo das pressões estáticas e dinâmicas, na tremonha, recomendase<br />

o método de Walker em função dos valores máximos observados. Para a<br />

condição dinâmica deve-se considerar os valores máximos a uma altura h t /4<br />

do vértice da tremonha.<br />

6 BIBLIOGRAFIA<br />

AMERICAN CONCRETE INSTITUTE (1991). Recommended practice for design<br />

and construction of concrete bins, silos and bunkers for storing granular materials.<br />

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ISSN 1809-5860<br />

MÉTODO DOS ELEMENTOS DE CONTORNO COM A<br />

RECIPROCIDADE DUAL PARA A ANÁLISE<br />

TRANSIENTE TRIDIMENSIONAL DA MECÂNICA DO<br />

FRATURAMENTO<br />

João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato 1 & Wilson Sergio Venturini 2<br />

Resumo<br />

O presente trabalho desenvolve uma formulação do Método dos Elementos de Contorno<br />

para análise de problemas tridimensionais de fraturamento no regime transiente.<br />

Utilizam-se as soluções fundamentais da elastostática para obter a matriz de massa,<br />

empregando-se o Método da Reciprocidade Dual e a discretização do domínio por<br />

células tridimensionais. Para a integração no tempo são utilizados os algoritmos de<br />

Newmark e Houbolt. O fenômeno do fraturamento é abordado através da consideração<br />

de um campo de tensões iniciais, introduzindo-se o conceito de dipolos de tensão. Os<br />

tensores desenvolvidos que se relacionam aos dipolos, derivados das soluções<br />

fundamentais, são também apresentados. É utilizado o modelo de fratura coesiva. O<br />

contorno é discretizado utilizando-se elementos triangulares planos com aproximação<br />

linear, e elementos constantes para a superfície fictícia de fraturamento. São feitas<br />

várias aplicações cujos resultados obtidos confirmam a importância e a adequação da<br />

formulação apresentada para os problemas propostos.<br />

Palavras-chave: Método dos elementos de contorno; método da reciprocidade dual;<br />

fratura dinâmica.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O Método dos Elementos de Contorno, MEC, é o método numérico mais recente<br />

do ponto de vista de aplicações computacionais. Tem esta denominação a partir do<br />

trabalho de BREBBIA (1978). Desde então, sobretudo na última década, o MEC vem<br />

experimentando um desenvolvimento acelerado, com pesquisas nas mais variadas áreas<br />

da engenharia, dentre elas a elastodinâmica e a mecânica da fratura.<br />

O problema elastodinâmico vem sendo investigado através de equações integrais<br />

de contorno, base do MEC, desde o trabalho de FRIDMAN & SHAW (1962).<br />

A resolução de problemas da elastodinâmica transiente, através do MEC em sua<br />

formulação direta, foi apresentada pela primeira vez nos trabalhos de CRUSE & RIZZO<br />

(1968) e CRUSE (1968). Seguiram-se os trabalhos MANOLIS & BESKOS (1981),<br />

1 Professor do Departamento de Engenharia Estrutural - EES-CTEC-UFAL, jccb@ctec.ufal.br<br />

2 Professor Titular do Departamento de Engenharia de Estruturas, EESC-<strong>USP</strong>, venturin@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


66<br />

João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />

MANSUR & BREBBIA (1982), NARDINI & BREBBIA (1985), CODA &<br />

VENTURINI (1990) e CHIRINO (1994), dentre outros.<br />

Uma maneira de tratar o problema transiente é usando a formulação do MEC<br />

com a matriz de massa, como a apresentada por NARDINI & BREBBIA (1983) e<br />

denominada de Reciprocidade Dual. Os autores trataram o problema dinâmico como<br />

sendo estático, considerando forças de inércia como forças de domínio. O Método da<br />

Reciprocidade Dual (MRD) baseia-se na obtenção de um conjunto de funções que<br />

permitem a transformação da integral de domínio para o contorno. Vários são os<br />

trabalhos publicados sobre o assunto, destacando-se PARTRIDGE et al. (1992),<br />

VENTURINI (1994), LOEFLER (1994), dentre outros. Outra formulação do MEC com<br />

a matriz de massa é obtida a partir da discretização do domínio usando células<br />

tridimensionais, efetuando a integral sobre o domínio. Trabalhos publicados, CODA &<br />

VENTURINI (1990) dentre outros, atestam os seus bons resultados, mas essa técnica<br />

foge do objetivo básico do MEC de eliminar as integrais de domínio.<br />

Em particular para problemas de fratura mecânica, o método tem-se mostrado<br />

eficiente e confiável, apresentando um grande desenvolvimento sobretudo nas últimas<br />

duas décadas. Nesse caso, o acompanhamento da propagação da fratura requer pouco<br />

esforço computacional, evitando-se refazer a rede de elementos (VENTURINI, 1995).<br />

As aplicações do Método dos Elementos de Contorno na Mecânica da Fratura em<br />

três dimensões foram introduzidas por CRUSE & VAN BUREN (1971). Em SNYDER<br />

& CRUSE (1975) foi apresentada uma solução fundamental - uma função de Green -<br />

que inseria uma trinca linear sem cargas no meio infinito. Em CRUSE & MEYERS<br />

(1977) foram calculadas distribuições do fator de intensidade de tensão através do<br />

MEC, utilizando-se uma variação da taxa de energia de deformação de Griffith.<br />

CARTWRIGHT & ROOKE (1985) e ALIABADI & ROOKE (1991) mostraram<br />

bons resultados para problemas de fratura mecânica ao utilizarem o método da função<br />

peso, baseado na interpretação da integral J de Rice.<br />

Outra vertente na aplicação do MEC à Mecânica da Fratura é a que utiliza a<br />

técnica dos domínios múltiplos, conforme LACHAT & WATSON (1976). Já CROUCH<br />

& STARFIELD (1983) utilizaram o método da descontinuidade de deslocamento<br />

apresentando uma discussão extensiva sobre o assunto.<br />

Em BRADY & BRAY (1978) foram analisadas inclusões finas e<br />

descontinuidades em escavações de minas, utilizando-se a formulação indireta do MEC<br />

juntamente com forças fictícias chamadas “quadripólos”. Em ROCHA (1988) foram<br />

analisados problemas com inclusão de descontinuidades, utilizando-se a formulação<br />

direta do MEC juntamente com os dipólos. O assunto pode ser visto ainda em<br />

VENTURINI (1994 e 1995), LOPES Jr (1996), dentre outros. Nesses trabalhos, as<br />

formulações apresentadas destinavam-se à análise de problemas bi-dimensionais.<br />

BARBIRATO & VENTURINI (1998) apresentam uma formulação do MEC para<br />

análise de fratura mecânica em sólidos tridimensionais, utilizando o conceito de dipolos.<br />

Apresentam os tensores derivados da solução fundamental de Kelvin (para 3D) e<br />

verificam o potencial da formulação ao mostrar os resultados obtidos da aplicação<br />

processada.<br />

CARPINTERI (1989); ALLIABADI & ROOKE. (1991); ALIABADI &<br />

BREBBIA (1993) e ALIABADI et al. (1994) trazem formulações completas sobre<br />

aplicações do MEC à mecânica da fratura nas análises estática e dinâmica.<br />

O modelo de fratura coesiva tem sido empregado com eficiência para representar<br />

o comportamento do material do tipo "quasi-brittle" frente ao processo de fraturamento.<br />

Em HILLERBORG (1976), o modelo foi testado e modificado utilizando-se espécime<br />

de prova homogêneo e de área constante, solicitado até a ruptura, em ensaios<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />

67<br />

laboratoriais. Ficou definida uma zona de fratura (ou zona de processo) com largura<br />

limitada na direção da tensão, formada em algum lugar do modelo de prova. Esta zona<br />

de fratura perde gradualmente suas propriedades mecânicas à medida que o dano<br />

causado pelo surgimento de microfissuras aumenta e, portanto, tem-se um<br />

comportamento de material coesivo. Da mesma forma, em CARPITERI (1989) são<br />

encontrados novos experimentos e análise através de modelagem numérica,<br />

constituindo-se em uma referência importante sobre o assunto.<br />

No item 2 deste trabalho, são abordadas as formulações do MEC utilizando a<br />

matriz de massa, obtida através do MRD e da Integração Direta, para a análise do<br />

problema dinâmico transiente.<br />

No presente trabalho, em seu item 3, utiliza-se uma formulação do método dos<br />

elementos de contorno para a análise de fraturas coesivas, utilizando os conceitos<br />

apresentados em VENTURINI (1994 e 1995) e LOPES Jr. (1996) , estendidos para<br />

problemas tridimensionais (BARBIRATO, 1999). O modelo coesivo idealizado por<br />

HILLERBORG (1976) é incorporado à formulação.<br />

No item 4, utiliza-se uma formulação do método dos elementos de contorno para<br />

a análise de fraturas dinâmicas com o modelo coesivas, baseada nos conceitos<br />

apresentados no item 3, estendidos para problemas tridimensionais. O algoritmo de<br />

Houbolt é utilizado para a integração na variável tempo.<br />

2 ELASTODINÂMICA<br />

2.1 Equações básicas do MEC<br />

Considera-se o corpo elástico, homogêneo, isótropo e com distribuição contínua<br />

de matéria em seu domínio. A equação de equilíbrio para o problema é<br />

σij, j<br />

+ bi = ρ&&<br />

ui<br />

, (2.1)<br />

onde σ ij , j<br />

( x, t) representa a derivada do tensor das tensões; b i<br />

(x, t)<br />

as forças<br />

2<br />

∂ u<br />

i<br />

volumétricas; ρ( x ) a densidade de massa e & u<br />

i<br />

ou a aceleração em um ponto na<br />

2<br />

∂t<br />

direção x i<br />

.<br />

Aplicando-se o Teorema da Reciprocidade de Maxwell-Betti a dois estados<br />

independentes de deslocamento, tendo em vista (2.1) e desconsiderando-se o termo de<br />

forças volumétricas, chega-se a:<br />

*<br />

*<br />

*<br />

*<br />

∫ ( u σij,<br />

j<br />

− u<br />

iσij,<br />

j<br />

) dΩ = ∫ ( u<br />

i<br />

pi<br />

− u<br />

ipi<br />

) dΓ<br />

Ω<br />

i (2.2)<br />

Γ<br />

onde o “*” representa o problema fundamental, cujas variáveis são conhecidas; Ω<br />

corresponde ao domínio e Γ ao contorno do corpo.<br />

Desenvolvendo-se (2.2), chega-se à representação integral de deslocamento do<br />

MEC para o problema elastodinâmico, ou seja,<br />

c<br />

ki<br />

u<br />

i<br />

∫<br />

Γ<br />

∫<br />

Γ<br />

∫<br />

*<br />

*<br />

*<br />

+ p u dΓ = u p dΓ − ρ u &<br />

i<br />

kiu<br />

ki i<br />

ki<br />

idΩ<br />

(2.3)<br />

Ω<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


68<br />

João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />

* *<br />

onde p ki<br />

e u ki<br />

representam, respectivamente, as forças de superfície e deslocamentos do<br />

problema fundamental. Neste trabalho, utiliza-se o problema fundamental de MINDLIN<br />

(1936), onde o domínio Ω * é semi-infinito, elástico e homogêneo. Parte de seu contorno<br />

apresenta-se livre de trações, e o ponto de aplicação da força unitária é qualquer em<br />

todo o domínio. As expressões fundamentais para deslocamentos e tensões são<br />

apresentadas em LAETHEM et al. (1984) e BARBIRATO (1991)). Por serem extensas,<br />

não são aqui reportadas.<br />

2.2 Método da reciprocidade dual<br />

Neste trabalho, o Método Reciprocidade Dual (MRD) é utilizado para<br />

transformar o termo de domínio de (2.3), considerando as forças de inércia como forças<br />

volumétricas e tratando o problema dinâmico com as soluções fundamentais do<br />

problema estático. A partir disso, aplicando-se o Teorema da Reciprocidade na parcela<br />

de domínio, pela segunda vez na formulação do MEC (daí a denominação “dual”),<br />

chega-se a uma representação integral somente com termos de contorno. Vale dizer que,<br />

embora não se utilize a discretização do domínio em células, o MRD pode exigir a<br />

consideração de pontos internos, chamados “pólos”, na intenção de dar mais precisão<br />

aos resultados.<br />

Para a transformação do termo de domínio de (2.3) para o contorno, faz-se<br />

necessário definir uma aproximação para a densidade &&u i<br />

, incógnita do problema<br />

(NARDINI & BREBBIA, 1982 e 1985). O MRD sugere uma série de funções, tais que:<br />

& u<br />

= α&<br />

f<br />

(2.4)<br />

i<br />

n<br />

i<br />

n<br />

onde f<br />

n<br />

são funções linearmente independentes definidas sobre todo o domínio<br />

(escritas para pontos do contorno e do domínio) e α& & n i<br />

coeficientes a serem<br />

determinados. O termo de domínio de (2.3) passa a ser:<br />

ρ<br />

∫<br />

Ω<br />

u<br />

*<br />

ki<br />

⎛<br />

& u<br />

idΩ = ⎜<br />

ρ<br />

⎝<br />

∫<br />

Ω<br />

u<br />

*<br />

ki<br />

⎞<br />

f<br />

ndΩ⎟α&&<br />

⎠<br />

n<br />

i<br />

⎛<br />

= ⎜<br />

ρ<br />

⎝<br />

∫<br />

Ω<br />

u<br />

*<br />

ki<br />

δ<br />

l i<br />

⎞<br />

f<br />

ndΩ⎟α&<br />

⎠<br />

n<br />

l<br />

(2.5)<br />

Considerando-se o problema estático governado por<br />

n<br />

ˆ σ λ ,<br />

f = 0<br />

(2.6)<br />

m m<br />

+ δ l i n<br />

a última integral de (2.5) pode ser resolvida com os procedimentos utilizados para se<br />

obter a equação integral do MEC, o que resultaria em algo semelhante à (2.3). Assim, o<br />

termo de domínio de (2.5) transforma-se em integrais sobre o contorno, conforme a<br />

expressão a seguir:<br />

⎛<br />

*<br />

n * n<br />

ρ∫u<br />

&<br />

kiu<br />

idΩ = ρ⎜<br />

ckiû<br />

l i<br />

+ ∫pkiû<br />

lidΓ −∫<br />

Ω Γ Γ<br />

⎝<br />

u<br />

*<br />

ki<br />

pˆ<br />

n<br />

li<br />

⎞<br />

dΓ⎟α&<br />

⎠<br />

n<br />

l<br />

(2.7)<br />

n n<br />

onde o índice “n” representa somatória. As funções û l i<br />

e pˆ l i<br />

são soluções particulares<br />

do problema expresso em (2.6), cuja força f n<br />

é aplicada na direção l. Conhecidas as<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />

69<br />

n<br />

funções f n<br />

, os coeficientes &α &<br />

l<br />

são determinados tomando-se a forma inversa de (2.4).<br />

Escrevendo na forma matricial, tem-se<br />

&&α =<br />

−<br />

F 1 U&& (2.8)<br />

É interessante notar que, adotando a função aproximadora de u i<br />

e p i<br />

em (2.3), também<br />

n n<br />

para û l i<br />

e pˆ l i<br />

, são encontradas as mesmas matrizes H e G em (2.7). Assim, define-se a<br />

matriz de massa pelo MRD, representada por:<br />

1<br />

( HUˆ<br />

−<br />

− GP) F<br />

M = −ρ ˆ<br />

(2.9)<br />

Finalmente, substituindo o resultado da transformação realizada em (2.3), tem-se<br />

a representação matricial para o problema dinâmico tratado neste trabalho:<br />

2.3 Técnica da integração direta<br />

MU&& + HU = GP<br />

(2.10)<br />

O termo de domínio em (2.3) pode ser resolvido discretizando-se Ω em células<br />

tridimensionais, já bastante utilizadas no Método dos Elementos Finitos. Porém, esta<br />

solução não corresponde à idéia do MEC em resolver os problemas aplicando integrais<br />

de contorno. Uma alternativa viável para se contornar este problema, mas ainda<br />

utilizando células, é a de transformar a parcela integral de domínio para o contorno das<br />

células, rescrevendo (2.3) somente com termos de contorno. Como conseqüência, as<br />

células podem ter forma qualquer.<br />

A transformação do termo de domínio em (2.3) inicia-se com a aproximação de<br />

&&u i<br />

pelos valores nodais Um<br />

&& N utilizando-se uma função interpoladora φ im<br />

. Assim, escrevese<br />

&& u U&&<br />

N<br />

=φ e, como conseqüência, tem-se<br />

i im m<br />

* *<br />

N<br />

ρ∫uki&&<br />

uidΩ= ⎛ ρ∫ukiφimdΩ<br />

U&&<br />

m<br />

⎝ ⎜ ⎞<br />

⎟ (2.11)<br />

⎠<br />

Ω<br />

Adota-se o tensor T * ki<br />

que satisfaz a seguinte condição:<br />

Ω<br />

∇ 2 * *<br />

T = u<br />

(2.12)<br />

ki<br />

ki<br />

*<br />

Uma vez que os deslocamentos u ki<br />

da solução fundamental são conhecidos, não é difícil<br />

encontrar uma primitiva T * ki<br />

, conforme CRUSE (1975), DANSON (1981) e<br />

BARBIRATO (1999). O termo de domínio passa a ser representado como segue:<br />

∫<br />

* *<br />

ρ u φ dΩ<br />

= ρ ∇ 2 T φ dΩ<br />

(2.13)<br />

Ω<br />

ki im ki im<br />

Ω<br />

∫<br />

Integrando-se por partes duas vezes o segundo termo de (2.13), chega-se à (2.14), com a<br />

diminuição de um termo de domínio, eliminado aqui, pois a função aproximadora φ im<br />

adotada neste trabalho é linear:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


70<br />

João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />

∫<br />

( ,<br />

)<br />

* *<br />

,<br />

*<br />

N<br />

ρ uki&&<br />

uidΩ= ρ Tki lφim − Tkiφim l<br />

nldΓU&&<br />

m<br />

(2.14)<br />

Ω<br />

∫<br />

Γ<br />

Portanto, (2.14) representa a transformação do termo de domínio para o contorno.<br />

Ressalte-se que o domínio deve ser discretizado por células tridimensionais, de forma<br />

qualquer, cujo contorno é, por sua vez, discretizado por elementos bidimensionais.<br />

Escrevendo (2.14) para todas as células, chega-se na matriz de massa, M.<br />

Finalmente, levando o resultado da transformação realizada para (2.3), tem-se a<br />

representação matricial (2.10).<br />

2.4 Aspectos computacionais<br />

As equações apresentadas neste trabalho são implementadas utilizando-se o<br />

elemento triangular plano com aproximação linear. Para tratar a singularidade das forças<br />

de superfície, faz-se uso do elemento não conforme, deslizando o ponto fonte para o seu<br />

interior.<br />

As funções fn = 1 + r são adotadas para determinar as matrizes do MRD. São<br />

sempre independentes quando escritas para pólos diferentes. A distância r é a mesma<br />

utilizada na solução fundamental.<br />

O algoritmo de Newmark, descrito em WARBURTON (1976), é utilizado para a<br />

resolução de (2.10), tendo antes suas matrizes convenientemente arranjadas em duas<br />

partes: 1 identifica forças de superfícies prescritas; e 2 deslocamentos prescritos<br />

(nulos). Assim, (2.10) vem a ser:<br />

⎡M<br />

⎢<br />

⎣M<br />

M<br />

11 12<br />

M<br />

21 22<br />

⎤⎧U&&<br />

⎥⎨<br />

⎦⎩U&&<br />

1<br />

2<br />

⎫ H<br />

⎬<br />

⎭ + ⎡ ⎣ ⎢ H<br />

H<br />

11 12<br />

H<br />

21 22<br />

⎤⎧U<br />

⎥⎨<br />

⎦⎩U<br />

1<br />

2<br />

⎫ G<br />

⎬<br />

⎭ = ⎡ ⎣ ⎢ G<br />

G<br />

11 12<br />

G<br />

21 22<br />

1<br />

⎤⎧P<br />

⎫<br />

⎥⎨<br />

⎬<br />

2<br />

⎦⎩P<br />

⎭<br />

(2.15)<br />

Admitindo que as condições de contorno não se modificam ao longo do tempo, e<br />

partindo do repouso, chega-se na equação<br />

11<br />

M U&& 1 11 1 1<br />

+ H U = F<br />

(2.16)<br />

onde<br />

11 11 12 22 1 21<br />

M = M − G G M ,<br />

11 11 12 22 −1 21<br />

H = H − G G H e<br />

−<br />

( )<br />

F = G −G G G P<br />

1 11 12 22 1 21 1<br />

−<br />

(2.17a-c)<br />

2.5 Aplicação<br />

Para testar as formulações apresentadas neste trabalho, considera-se o exemplo<br />

de um sólido contido lateralmente e solicitado bruscamente na extremidade, conforme a<br />

figura 2.1. São adotados os seguintes valores: E = 110 x 5 3<br />

Pa, υ = 025 , , ρ=1kg / m e<br />

∆t=0,003s.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />

71<br />

Figura 2.1 - Características geométricas do sólido, condições de contorno e comportamento<br />

temporal da força f(t).<br />

A análise é feita tomando-se as duas discretizações do contorno apresentadas na figura<br />

2.2, seguindo o roteiro de casos da tabela 2.1. Os resultados são mostrados nas figuras<br />

2.3 e 2.4, para as discretizações (a) e (b), respectivamente. Os sentidos das reações de<br />

apoio e deslocamentos são relacionados ao sistema de eixos adotado.<br />

Figura 2.2 - Discretizações do contorno por elementos triangulares planos: (a) 40 elementos e<br />

(b) 80 elementos.<br />

Tabela 2.1 - Casos processados.<br />

Caso Formulação Discretização “Pólos” Internos Células<br />

RD1<br />

RD2<br />

RD3<br />

Reciprocidade.<br />

Dual<br />

A<br />

A<br />

B<br />

0<br />

15<br />

15<br />

-<br />

CT1<br />

CT2<br />

Células<br />

Tridimensionais<br />

A<br />

B<br />

- 2<br />

2<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


72<br />

João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />

-6,70<br />

2<br />

Reação de Apoio (Pa)<br />

1<br />

0<br />

S.Analítica<br />

CT1<br />

RD1<br />

RD2<br />

-1<br />

0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10<br />

Tempo (s)<br />

Desloc. no Topo (x10^-5m)<br />

-3,35<br />

0,00<br />

S.Analítica<br />

CT1<br />

DR1<br />

DR2<br />

0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10<br />

Tempo (s)<br />

Figura 2.3 - Resultados para a discretização (a).<br />

-6,70<br />

2<br />

Reação de Apoio (Pa)<br />

1<br />

0<br />

S.Analítica<br />

CT2<br />

RD3<br />

Desloc. no Topo (x10^-5m)<br />

-3,35<br />

0,00<br />

S.Analítica<br />

CT2<br />

DR3<br />

-1<br />

0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10<br />

Tempo (s)<br />

0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10<br />

Tempo (s)<br />

Figura 2.4 - Resultados para a discretização (b).<br />

2.6 Conclusões<br />

O Método dos Elementos de Contorno se mostrou adequado à análise transiente<br />

de tridimensionais, formulado através da Reciprocidade Dual e da utilização de células,<br />

conforme os valores apresentados nas figuras 2.3 e 2.4. O uso do elemento triangular<br />

com aproximação linear, de fácil implementação, exige que a discretização seja mais<br />

refinada, na busca de melhores resultados. A integração temporal através do algoritmo<br />

de Newmark permitiu os resultados apresentados. Deve-se ter especial atenção com o<br />

passo de tempo ∆t adotado, uma vez que pode haver suavização da resposta ou<br />

divergência, de acordo com a escolha de valores maiores e menores, respectivamente.<br />

Os resultados obtidos através do MEC com a Reciprocidade Dual tendem para<br />

os valores da solução analítica, observando-se o mesmo para os obtidos com a<br />

utilização de células, estes últimos um pouco mais precisos. Já o tempo computacional<br />

gasto no processamento pelo MRD é bem maior, uma vez que a sua formulação exige a<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />

73<br />

inversão da matriz das funções f n . Entretanto, tal observação é irrelevante quando se<br />

analisa a evolução tecnológica dos computadores, cada vez mais velozes e disponíveis.<br />

3 FRATURA MECÂNICA<br />

3.1 Equações integrais<br />

A formulação desenvolvida baseia-se na representação integral de<br />

deslocamentos, considerando-se um corpo elástico de domínio Ω e contorno Γ,<br />

submetido a um campo de tensões iniciais σ o<br />

jk<br />

. Essa representação pode ser encontrada<br />

em BREBBIA et al. (1984), e, excluindo-se a parcela correspondente às forças<br />

volumétricas, tem a seguinte forma:<br />

c<br />

ik<br />

u<br />

k<br />

+ *<br />

*<br />

∫ p u dΓ = ∫ u p dΓ + ∫<br />

ik k<br />

ik k<br />

ε<br />

Γ<br />

Γ<br />

Ω<br />

c<br />

*<br />

ijk<br />

σ<br />

o<br />

jk<br />

dΩ<br />

(3.1)<br />

onde p * *<br />

ik<br />

, u ik<br />

*<br />

e ε ijk<br />

representam os valores da solução fundamental (utiliza-se Kelvin<br />

no presente trabalho) para forças de superfície, deslocamentos e deformações,<br />

respectivamente, e Ω c<br />

, a parte do domínio onde age o campo de tensões iniciais. Para<br />

um ponto p situado no domínio, c ik<br />

vale 1 e, para o contorno, 1/2. As três primeiras<br />

parcelas de (3.1) são as usualmente empregadas no MEC. Já a parcela correspondente às<br />

tensões iniciais merece consideração especial: pode ser escrita utilizando-se o tensor de<br />

deslocamento, resultando em:<br />

∫<br />

Ω<br />

c<br />

ε<br />

*<br />

ijk<br />

σ<br />

o<br />

jk<br />

*<br />

∂u<br />

ij o<br />

dΩ<br />

= ∫ σ<br />

jkdΩ<br />

(3.2)<br />

∂x<br />

Ω<br />

c<br />

Considere-se a parcela do domínio Ω c<br />

, onde há uma descontinuidade, conforme<br />

a figura 3.1, que representa a região onde tensões atuam em uma faixa estreita,<br />

definindo-se a descontinuidade que se pretende analisar. Note-se que o contorno da<br />

1<br />

descontinuidade, representado por Γ c<br />

, é aproximado pelos lados Γ c<br />

e Γ 2 c<br />

,<br />

desconsiderando-se os das extremidades, sendo a distância entre os lados igual a 2a<br />

(valor muito pequeno em relação ao seu comprimento). Portanto, todo o cálculo pode<br />

ser referido ao plano médio da região.<br />

k<br />

Figura 3.1 - Parte do domínio onde agem as tensões iniciais.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


74<br />

João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />

Na tentativa de transformar o termo de domínio de (3.2) para o contorno, efetuase<br />

a sua integração por partes, resultando em duas parcelas que, após algumas<br />

manipulações algébricas (tendo em vista a figura 3.1), confere-lhes a seguinte<br />

representação:<br />

*<br />

∂<br />

∫ ε u<br />

* o<br />

ij<br />

ijkσ<br />

jkdΩ = ∫ 2a p<br />

∂x<br />

Ω<br />

c<br />

Γ<br />

c<br />

l<br />

ol<br />

j<br />

dΓ<br />

(3.3)<br />

onde as variáveis cartesianas x l<br />

representam o sistema local de coordenadas na<br />

superfície da trinca, cuja normal está na direção x 3<br />

.<br />

Em (3.3) surgem novas grandezas, definidas como dipólos de forças,<br />

representadas por:<br />

q = 2<br />

(3.4)<br />

l ol<br />

j<br />

ap j<br />

As grandezas são dispostas em um ponto da trinca, conforme mostra a figura 3.2.<br />

Figura 3.2 - Componentes dos dipólos agindo nas superfícies da trinca (no sistema local de<br />

coordenadas).<br />

Portanto, pode-se escrever (3.2) apenas para termos sobre o contorno, utilizandose<br />

o conceito de dipólos, já devidamente transformados para o sistema global de<br />

coordenadas cartesianas, conforme (3.5).<br />

c<br />

ik<br />

u<br />

k<br />

+ *<br />

*<br />

∫ p u dΓ = ∫ u p dΓ + ∫<br />

ik k<br />

ik k<br />

G<br />

Γ<br />

Γ<br />

Γ<br />

c<br />

l<br />

ij<br />

l<br />

q dΓ<br />

j<br />

(3.5)<br />

O novo núcleo, hipersingular, que aparece na última parcela de (3.6) é obtido a<br />

partir da diferenciação da solução fundamental em deslocamento, dado pela seguinte<br />

expressão:<br />

{(3<br />

− 4ν)r<br />

δ − r δ − r δ 3r r r }<br />

l −1<br />

G<br />

ij<br />

=<br />

2<br />

, l ij , j l i ,i l j<br />

+<br />

,i , j , l<br />

(3.6)<br />

16π(1<br />

− ν)Gr<br />

Empregando-se (3.5) a dois pontos simétricos em relação à superfície média da<br />

trinca, verifica-se, após a determinação de alguns limites, que os deslocamentos<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />

75<br />

relativos das superfícies da trinca ficam caracterizados em função dos dipólos da,<br />

seguinte forma:<br />

⎡<br />

⎤<br />

3<br />

⎧∆w<br />

⎧ ⎫<br />

1 ⎫<br />

⎢1<br />

0 0 ⎥ q1<br />

⎪ ⎪<br />

p'' 1 ⎢<br />

⎥⎪<br />

3 ⎪<br />

w ⎨ 2 ⎬<br />

= 0 1 0<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎨q<br />

⎬<br />

(3.7)<br />

2<br />

⎪ ⎪<br />

G (1 − 2ν)<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎪ 3 ⎪<br />

⎩∆w<br />

3 ⎭<br />

0 0 ⎩q<br />

3 ⎭<br />

⎢⎣<br />

2(1 − ν)<br />

⎥⎦<br />

p'<br />

{ ∆ } = ∆w<br />

= { u} − { u}<br />

Outra equação necessária para a presente análise é a de tensão em pontos<br />

internos que é obtida da diferenciação da equação de deslocamentos (3.5), o que resulta<br />

em:<br />

σ<br />

im<br />

= −<br />

∫<br />

Γ<br />

S<br />

⎪⎧<br />

+ ⎨λδ<br />

⎪⎩<br />

imk<br />

im<br />

u dΓ +<br />

k<br />

∂<br />

∂X<br />

∫<br />

w Γc<br />

G<br />

∫<br />

Γ<br />

D<br />

l<br />

wj<br />

imk<br />

p dΓ +<br />

l<br />

q dΓ + G<br />

j<br />

k<br />

∂<br />

∂X<br />

∫<br />

m Γc<br />

l l<br />

G q dΓ +<br />

ij<br />

j<br />

∂<br />

∂X<br />

∫<br />

i Γc<br />

G<br />

l<br />

mj<br />

⎪⎫<br />

l<br />

q<br />

jdΓ⎬<br />

⎪⎭<br />

(3.8)<br />

Os núcleos S imk e D imk , em (3.8), são os já conhecidos da formulação clássica do<br />

MEC. Já os termos entre parênteses referem-se à trinca e, devido à presença de<br />

singularidade, devem ser analisados com o devido cuidado. Em VENTURINI (1982)<br />

são apresentados os procedimentos necessários para a devida análise desses termos que,<br />

aplicados aqui, resultam em:<br />

σ<br />

im<br />

= −<br />

∫<br />

Γ<br />

S<br />

imk<br />

u dΓ +<br />

k<br />

∫<br />

Γ<br />

D<br />

imk<br />

p dΓ +<br />

k<br />

∫<br />

Γc<br />

G<br />

ml<br />

ij<br />

l<br />

q dΓ + g<br />

j<br />

ml<br />

ij<br />

[ σ (p)]<br />

ml<br />

o<br />

onde g<br />

ij<br />

é um termo independente que vale 0 e σ im<br />

( p) para o cálculo de tensão<br />

plástica e elástica, respectivamente. O novo núcleo para tensões, hipersingular, é dado<br />

pela seguinte expressão:<br />

jl<br />

(3.9)<br />

G<br />

ml<br />

ij<br />

1<br />

=<br />

8π(1<br />

− ν)r<br />

3<br />

{(1<br />

− 2ν)<br />

( δ δ + δ δ − δ δ ) − 3(1 − 2ν)<br />

( δ r r + δ r r − δ r r )<br />

mj il<br />

ij lm<br />

mi lj<br />

+ 3<br />

( δ r r + δ r r + δ r r ) −15r<br />

r r r }<br />

lj<br />

,i ,m<br />

ml<br />

, j ,i<br />

mj ,i , l<br />

li<br />

,m , j<br />

ij ,m , l<br />

im , j , l<br />

,i , j , l ,m<br />

+<br />

(3.10)<br />

3.2 O modelo coesivo<br />

O modelo coesivo apresentado por HILLERBORG (1976) é considerado neste<br />

trabalho. É aplicado nos casos onde a zona plástica é delimitada para uma faixa muito<br />

estreita. Estabeleceu-se que a zona de fratura coesiva desenvolve-se quando a tensão<br />

principal máxima atinge seu valor limite, f t , conforme figura 3.3.a, e que o dano no<br />

material da zona de fratura é parcial, permitindo a perda gradual da resistência do<br />

material até que seja atingida uma abertura de fratura igual a w c (figuras 3.3.b e 3.3.c).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


76<br />

João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />

(a) (b) (c)<br />

Figura 3.3 - Leis constitutivas do material: (a) tensão x deformação; (b) tensão x abertura da<br />

fratura, modelo idealizado; (c) tensão x abertura da fratura, modelo simplificado.<br />

O modelo simplificado dá resultados satisfatórios para materiais do tipo "quasibrittle".<br />

É definido apenas por dois parâmetros, f t e w c , que podem ser obtidos de<br />

ensaios em laboratório.<br />

Utiliza-se aqui uma relação constitutiva do modelo coesivo escrita na forma<br />

clássica de um critério plástico, atribuída a CEN & MAIER (1992), representada por:<br />

Φ( σ)<br />

⎛ ⎞<br />

= σ−f<br />

⎜ − ⎟<br />

⎝<br />

1 w<br />

t<br />

w ⎠<br />

(3.11)<br />

onde σ é a tensão normal à fratura e w o afastamento normal entre as suas superfícies.<br />

As seguintes condições são observadas para o critério dado em (3.11):<br />

c<br />

w&<br />

≥ 0<br />

Φw&<br />

= 0<br />

(3.12a-b)<br />

3.3 Discretização<br />

Mostradas as expressões matemáticas da formulação, necessárias à análise do<br />

problema proposto, necessita-se, agora, transformá-las para uso em um algoritmo<br />

computacional para a análise automática do problema. Assim, são utilizados elementos<br />

planos triangulares descontínuos com aproximação linear (com três pontos de<br />

colocação) para a discretização do contorno do corpo. Para a fratura são utilizados os<br />

mesmos elementos com aproximação constante (um ponto de colocação). Elementos<br />

com outras aproximações poderiam ser utilizados sem nenhum prejuízo à formulação.<br />

Escrevendo-se (3.5) para os pontos de colocação definidos no contorno do corpo e nos<br />

elementos da fratura, obtém-se:<br />

HU = GP + KQ<br />

(3.13)<br />

onde as matrizes H e G são as já conhecidas do MEC. A matriz K é obtida a partir dos<br />

núcleos dados em (3.6), observando-se convenientemente as componentes necessárias e<br />

a relação entre elas (conforme figura 3.2). Fazendo a troca de colunas entre as matrizes<br />

H e G, do modo usual do MEC, a fim de estabelecer um vetor de incógnitas<br />

(deslocamentos e forças de superfície) e um vetor de valores prescritos, associando-se o<br />

coeficiente percentual α de incremento de força ou deslocamento, obtém-se o seguinte<br />

sistema de equações algébricas:<br />

X = α M+<br />

RQ<br />

(3.14)<br />

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Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />

77<br />

onde<br />

−1<br />

M = A F<br />

−1 (3.15a-b)<br />

R = A K<br />

Vê-se que, para cada passo incremental de força ou deslocamento, as incógnitas<br />

possuem uma parcela elástica e outra que a corrige, em virtude do fraturamento, através<br />

da aplicação dos dipólos, representados pelo vetor Q.<br />

A expressão integral para as tensões, (9), é transformada de forma semelhante à<br />

de deslocamentos, com as matrizes usuais do MEC H' e G', mais a matriz K' obtida<br />

com os núcleos dados por (3.10), conforme a seguir:<br />

' ' '<br />

σ =− HU+ GP+<br />

KQ<br />

(3.16)<br />

Da mesma forma que a expressão para deslocamentos, a de tensões pode ser escrita<br />

separando-se em duas parcelas, uma elástica e a outra que a corrige pelo emprego dos<br />

dipólos. Assim,<br />

onde<br />

3.4 Aspectos numéricos<br />

σ = αN<br />

+ SQ<br />

(3.17)<br />

' '<br />

N = F −A M<br />

' ' (3.18)<br />

S = K − A R<br />

O algoritmo empregado na solução das equações dadas no item anterior é do tipo<br />

incremental iterativo. Calculam-se as incógnitas, deslocamentos e forças de superfície e,<br />

eventualmente, tensões internas, com as parcelas elásticas das equações (3.14) e (3.17)<br />

para cada passo incremental. Verifica-se, então, se o critério de resistência foi atingido<br />

e, em caso afirmativo, entra-se em um processo iterativo. Os valores verdadeiros de<br />

deslocamentos, forças de superfície e tensões são obtidos corrigindo-se os valores<br />

elásticos através das parcelas relacionadas com os dipólos. Os valores dos dipólos<br />

devem ser estimados a partir do valor local das tensões de cada elemento de fratura ou<br />

nó, como se fossem campos independentes, já que o processo é não-linear. Portanto,<br />

com os valores residuais das tensões e das sub-matrizes de S, obtém-se de modo<br />

simplificado os valores parciais dos dipólos, que são posteriormente acumulados em Q.<br />

Obedecendo ao critério do modelo coesivo apresentado em (3.11), verifica-se o<br />

surgimento da abertura de fratura limite, w c , condição necessária para se afirmar que<br />

neste nó houve fraturamento.<br />

O emprego de elementos descontínuos na discretização do contorno é necessário<br />

para permitir o surgimento de fraturas.<br />

O procedimento descrito acima é similar a outros já empregados em conjunto<br />

com o MEC; e pode ser utilizado no estudo de sólidos quaisquer sujeitos ao surgimento<br />

de uma linha de fratura ou a multifraturamento.<br />

Nesta formulação apresentada, as matrizes G e H usuais do MEC sofrem<br />

inclusões de linhas e colunas à medida que novos elementos são exigidos para<br />

representar o crescimento da fratura. Portanto, não se trata de redefinir uma nova rede<br />

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78<br />

João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />

de elementos, e sim de aproveitar os valores das componentes dessas matrizes, já<br />

calculados, aumentando a economia de tempo computacional.<br />

Sendo hipersingulares os núcleos envolvidos nesta formulação, deve-se ter<br />

cuidado especial com os procedimentos de integração, principalmente se o ponto de<br />

colocação pertencer ao elemento integrado (utiliza-se o conceito de parte finita de<br />

Hadamard).<br />

3.5 Aplicação numérica<br />

Para testar a formulação apresentada neste trabalho, considera-se o exemplo de<br />

um sólido deslocado na sua extremidade, conforme a figura 3.4.a. São adotados os<br />

seguintes valores: E = 110 x<br />

5 , υ=00 , , f t<br />

= 10 , e w c<br />

= 0, 00004 .<br />

Figura 3.4 - (a) corpo para análise, com do deslocamento imposto na extremidade e a definição<br />

de quatro pontos para medições; (b) discretização do contorno; e (c) discretização da seção<br />

fraturada.<br />

Na figura 3.4.a são definidos quatro pontos: um na extremidade livre, outro<br />

próximo aos apoios e dois na metade do comprimento, um imediatamente acima da<br />

metade e outro abaixo. Para esses pontos são apresentados valores de deslocamentos<br />

para alguns passos de cálculo do algoritmo apresentado.<br />

A discretização do contorno do corpo é feita através de elementos triangulares<br />

planos com aproximação linear, conforme figura 3.4.b, e são descontínuos para permitir<br />

o surgimento de trincas ao longo do comprimento do corpo. A superfície fictícia de<br />

fraturamento é discretizada por elementos triangulares planos com aproximação<br />

constante (figura 3.4.c) e divide o corpo hipoteticamente em dois cubos.<br />

Os resultados obtidos do processamento são apresentados a seguir. A figura<br />

3.5.a mostra que ao ser atingida a tensão limite, inicia-se o processo de fraturamento,<br />

obedecendo-se ao critério adotado em (3.11) e verificando-se o deslocamento relativo<br />

entre os pontos 2' e 2'' (abertura da fratura). Na figura 3.5.b observa-se bem o trecho de<br />

deslocamentos elásticos, que são corrigidos no segundo trecho, moldando-se à nova<br />

situação de fraturamento.<br />

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Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />

79<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 3.5 - Gráficos dos resultados: (a) processo de fraturamento obedecendo ao critério<br />

adotado; e (b) forças de superfície por deslocamentos, no ponto 2''.<br />

Os valores de deslocamentos obtidos para os quatro pontos definidos na figura<br />

3.4 estão resumidos na tabela 3.1, dada a seguir:<br />

Tabela 3.1 - Valores de deslocamentos em alguns passos incrementais para os pontos<br />

selecionados<br />

Trecho Elástico<br />

Trecho c/ Fratura<br />

α=0 α=0,25 α=0,50 α=0,75 α=1,00 α=1,00 α=1,25<br />

1 0 0,000010 0,000020 0,000030 0,000040 0,000040 0,000050<br />

2' 0 0,000005 0,000010 0,000015 0,000020 0,000040 0,000050<br />

2'' 0 0,000005 0,000010 0,000015 0,000020 0,000000 0,000000<br />

3 0 0 0 0 0 0 0<br />

Os dados da tabela 3.1 revelam duas fases distintas do comportamento do corpo em<br />

questão. Na primeira, o corpo íntegro deforma-se elasticamente até que a tensão limite é<br />

atingida. A partir daí, já no processo iterativo, são determinados os dipólos que fazem a<br />

correção dos valores elásticos neste incremento, para os valores verdadeiros, já com o<br />

corpo fraturado. A segunda fase caracteriza-se pelo descolamento das duas partes do<br />

domínio, uma permanecendo imóvel e a outra tendo deslocamento de corpo livre. A<br />

configuração final do corpo, após o fraturamento, está apresentada na figura 3.6.<br />

Figura 3.6 - Configuração final do corpo fraturado.<br />

3.6 Conclusões<br />

A formulação apresentada neste trabalho mostrou-se adequada para solucionar o<br />

problema tridimensional de fratura coesiva. O algoritmo é convergente e bastante<br />

versátil. Após discretizado o contorno do corpo e encontradas as matrizes usuais do<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


80<br />

João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />

MEC, basta que se acrescente os elementos na superfície fictícia da fratura, gerando<br />

novas linhas e novas colunas, mantendo-se a rede de elementos do contorno. Isso traz<br />

uma economia de tempo computacional e dá ao método dos elementos de contorno uma<br />

formulação elegante para a análise do processo de fraturamento. Vale destacar que esta<br />

formulação é válida para quaisquer outros modelos que não o coesivo, inclusive o<br />

elástico.<br />

4 FRATURA DINÂMICA<br />

4.1 Equações integrais<br />

Considere-se um sólido elástico, homogêneo, isotrópico e com distribuição<br />

contínua de matéria em seu domínio Ω , submetido a um campo de tensões iniciais,<br />

conforme mostra a figura 4.1.<br />

Γ t<br />

Γ<br />

Ω<br />

t+ ∆t<br />

t<br />

Ωt+ ∆t<br />

. χ<br />

q( χ<br />

. q( ,t+ ∆t)<br />

,t)<br />

Ωc<br />

Ωc t t+ ∆t<br />

Figura 4.1 – Sólido em movimento com uma região de tensões iniciais<br />

Ω<br />

c<br />

.<br />

A formulação empregada baseia-se na clássica equação Somigliana (BREBBIA<br />

et al., 1984), acrescentando-se um novo termo correspondente a um campo de tensões<br />

iniciais aplicado no domínio, além da influência dinâmica dada pelo termo que contém a<br />

aceleração. Portanto, considerando-se as parcelas de forças dinâmicas e de tensões<br />

iniciais, a seguinte representação integral de deslocamentos pode ser escrita para pontos<br />

do domínio:<br />

u<br />

i<br />

*<br />

*<br />

*<br />

* o<br />

+ ∫ p u<br />

kdΓ<br />

= ∫ u p<br />

kdΓ<br />

−ρ<br />

∫ u & u<br />

kdΩ<br />

+ ∫ε<br />

ijkσ<br />

jkdΩ<br />

ik<br />

ik<br />

ik<br />

(4.1)<br />

Γ<br />

Γ<br />

Realizam-se as passagens algébricas pertinentes à formulação do MEC<br />

(BARBIRATO, 1999), e obtém-se a transformação da parcela integral de tensões<br />

iniciais para o contorno da sub-região. Assim, considerando-se o conceito de dipolo de<br />

tensões, encontra-se:<br />

c<br />

ik<br />

u<br />

k<br />

Ω<br />

*<br />

*<br />

*<br />

l l<br />

+ ∫ p u<br />

kdΓ<br />

= ∫ u p<br />

kdΓ<br />

−ρ<br />

∫ u &<br />

iku<br />

kdΩ<br />

+ ∫ G<br />

ijq<br />

jdΓ<br />

ik<br />

ik<br />

(4.2)<br />

Γ<br />

Γ<br />

Os tensores * *<br />

u<br />

ik<br />

e p<br />

ik<br />

são os de Kelvin utilizados na elastostática. Os<br />

coeficientes c<br />

ik<br />

permitem o emprego da equação integral de deslocamentos (4.2) para<br />

pontos no contorno, no domínio ou fora dele. O tensor correspondente ao dipolo é o<br />

mesmo apresentado em BARBIRATO & VENTURINI (1998), ou seja,<br />

Ω<br />

Ωc<br />

Γ c<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />

81<br />

G<br />

1<br />

=<br />

16π( 1−<br />

ν)<br />

Gr<br />

{ − 3− 4ν rlδ + r δl + r δl −3r r rl}<br />

( ) , , ,i ,i , , (4.3)<br />

l<br />

ij 2<br />

ij j i j j<br />

4.2 Emprego do método da reciprocidade dual<br />

Neste trabalho, o Método da Reciprocidade Dual (MRD) é utilizado para<br />

transformar o último termo de domínio de (4.2), considerando-se as forças de inércia<br />

como forças de volume e tratando o problema dinâmico com as soluções fundamentais<br />

do problema estático. A partir disso, aplicando-se o Teorema da Reciprocidade na<br />

referida parcela, pela segunda vez na formulação do Método dos Elementos de<br />

Contorno (MEC), chega-se a uma representação somente com termos de contorno. Na<br />

transformação do termo de domínio (4.2) para o contorno, faz-se necessário definir uma<br />

aproximação para a densidade & u&<br />

i<br />

, incógnita do problema. O MDR pode ser interpretado<br />

como sendo uma superposição de soluções particulares localizadas, e sugere uma série<br />

de funções, tais que:<br />

u (q, t) = α<br />

j<br />

& u<br />

(q, t) = α&&<br />

j<br />

m<br />

j<br />

m<br />

j<br />

(t)f<br />

(t)f<br />

m<br />

m<br />

(χ ,q)<br />

(χ ,q) ,<br />

e<br />

(4.4a-b)<br />

onde f<br />

m<br />

são funções globais linearmente independentes, que podem ser escritas para<br />

pontos do domínio e do contorno; α& & m j<br />

coeficientes a serem determinados, e m a<br />

somatória ( m = 1,2, L,<br />

M ).<br />

Considerando-se a aproximação (4.4) no termo de domínio de (4.2) e realizandose<br />

algumas operações algébricas, chega-se na representação integral de deslocamentos<br />

somente com parcelas no contorno:<br />

c (S)u (S, t) = −<br />

ij<br />

j<br />

⎛<br />

+ ρ ⎜<br />

c<br />

⎝<br />

−<br />

∫<br />

Γ<br />

∫<br />

Γ<br />

*<br />

p (S,Q)u (Q, t)dΓ + u<br />

u<br />

*<br />

ij<br />

ij<br />

ij<br />

(s)û<br />

m<br />

jk<br />

(s,q)pˆ<br />

(χ ) +<br />

m<br />

jk<br />

j<br />

∫<br />

Γ<br />

p<br />

*<br />

ij<br />

⎞<br />

(χ ,q)dΓ ⎟<br />

α&&<br />

⎠<br />

∫<br />

Γ<br />

(s,q)û<br />

m<br />

k<br />

*<br />

ij<br />

(S,Q)p (Q, t)dΓ +<br />

m<br />

jk<br />

(t) +<br />

(χ ,q)dΓ +<br />

m m<br />

onde o índice “m” representa somatória e as funções û l i<br />

e pˆ l i<br />

são soluções particulares<br />

de um problema estático adotado, cuja força f m<br />

é aplicada na direção k. Conhecidas as<br />

m<br />

funções f n<br />

, os coeficientes α& & k<br />

são determinados tomando-se a forma inversa de (4.3).<br />

A representação integral de tensões para pontos localizados no domínio é obtida<br />

utilizando-se o procedimento clássico baseado na lei de Hooke, substituindo-se<br />

convenientemente as derivadas da expressão (4.5) de deslocamentos. Assim,<br />

∫<br />

Γ c<br />

G<br />

l<br />

ij<br />

j<br />

q<br />

l<br />

j<br />

dΓ ,<br />

(4.5)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


82<br />

João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />

σ (s, t) = −<br />

ij<br />

onde<br />

S<br />

⎧<br />

+ ρ⎨Dˆ<br />

⎩<br />

+<br />

∫<br />

∫<br />

Γ<br />

Γc<br />

G<br />

*<br />

ijl<br />

jl<br />

ik<br />

(s,Q)u (Q, t)dΓ +<br />

k<br />

ijl<br />

(s,q) +<br />

(s,q)q<br />

l<br />

k<br />

j<br />

∫<br />

Γ<br />

S<br />

*<br />

ijl<br />

∫<br />

Γ<br />

(s,q)û<br />

(q, t)dΓ + g<br />

jl<br />

ik<br />

D<br />

m<br />

jk<br />

*<br />

ijl<br />

(s,Q)p (Q, t)dΓ +<br />

(s,q)dΓ −<br />

[ σ (p)]<br />

kl<br />

j<br />

∫<br />

Γ<br />

D<br />

*<br />

ijl<br />

(s,q)pˆ<br />

m<br />

jk<br />

⎫<br />

(s,q)dΓ⎬α&&<br />

⎭<br />

m<br />

k<br />

(t) +<br />

(4.6)<br />

⎧ 0<br />

j<br />

g l ik<br />

(p) = ⎨<br />

(4.7)<br />

o<br />

⎩σij<br />

* *<br />

para o cálculo da tensão plástica ou elástica, respectivamente, os tensores S ijk<br />

e D ijk<br />

são<br />

jl<br />

os da solução de Kelvin; Dˆ ijk<br />

é o tensor definido em (4.8) e G<br />

ik<br />

o tensor hipersingular<br />

dos coeficientes de influência dos dipolos para as tensões em pontos internos, exp. (4.9).<br />

Dˆ<br />

ijk<br />

(1 − 2ν)<br />

⎡(1<br />

+ 2ν)<br />

=<br />

r,k<br />

(3 2 )<br />

⎢ δ<br />

− ν ⎣(1<br />

− 2ν)<br />

+<br />

1<br />

<strong>24</strong>(1<br />

− ν)<br />

[(5<br />

− 6ν)<br />

( r δ + r δ ) − (1 − 6ν)r<br />

δ − r r r ] r<br />

2<br />

,i<br />

ij<br />

1<br />

+ δ<br />

2<br />

kj<br />

, j<br />

jk<br />

r<br />

ik<br />

,i<br />

1<br />

+ δ<br />

2<br />

⎤<br />

r ⎥ r +<br />

⎦<br />

ik , j<br />

,k<br />

ij<br />

,i , j ,k<br />

(4.8)<br />

G<br />

ml<br />

ij<br />

1<br />

=<br />

8π(1<br />

− ν)r<br />

+ δ<br />

r<br />

r<br />

ij ,m , l<br />

3<br />

{(1<br />

− 2ν)<br />

( δ δ + δ δ − δ δ ) + 3(1 − 2ν)<br />

(<br />

− δ<br />

r<br />

r<br />

im , j , l<br />

mj<br />

il<br />

) − 3( δ r r + δ r r + δ r r ) −15r<br />

r r r }.<br />

lj<br />

,i<br />

,m<br />

ij<br />

lm<br />

ml<br />

mi<br />

, j ,i<br />

lj<br />

li<br />

,m , j<br />

δ<br />

r<br />

r<br />

mj ,i , l<br />

+<br />

,i , j , l ,m<br />

(4.9)<br />

4.3 Discretizações<br />

As representações integrais (4.5) e (4.6) são discretizadas utilizando-se os<br />

elementos triangulares planos com aproximações linear para o contorno e constante para<br />

a superfície fictícia da fratura.<br />

Além dos “J” elementos de contorno, dos “N” pontos nodais (nós funcionais),<br />

deve-se considerar o número de pólos, “Np”, e os “ J c<br />

” elementos constantes utilizados<br />

na superfície fictícia da fratura.<br />

Considere-se a expressão integral para deslocamentos (4.5). Substituem-se os<br />

deslocamentos e forças de superfície (u j e p j ) pelo produto entre as funções<br />

aproximadoras e seus respectivos valores nodais. O mesmo é feito para os tensores dos<br />

deslocamentos e forças de superfície do problema particular ( û<br />

m<br />

jk<br />

e pˆ<br />

m<br />

jk<br />

). Adotando-se as<br />

mesmas funções aproximadoras, chega-se às mesmas matrizes H e G do contorno,<br />

também para o termo de domínio transformado-o para o contorno. Portanto, adotam-se:<br />

uˆ<br />

k<br />

T<br />

= φ Uˆ<br />

T<br />

ˆ ˆ n<br />

p<br />

k<br />

= φ Pm<br />

.<br />

A expressão (4.5), na sua forma discretizada, passa a ser:<br />

n<br />

m<br />

e<br />

(4.10a-b)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />

83<br />

c(S,<br />

t) u(S,<br />

t) = −<br />

+<br />

J+<br />

Jc<br />

∑ ⎢∫<br />

j= 1 Γj<br />

J+<br />

Jc<br />

∑ ⎢∫<br />

j= 1 Γj<br />

{<br />

+ ρ c(s)ˆ<br />

u<br />

−<br />

+<br />

J+<br />

Jc<br />

∑ ⎢∫<br />

j= 1 Γj<br />

Jc<br />

⎡<br />

⎢⎣<br />

⎡<br />

⎢⎣<br />

⎡<br />

∑ ⎢∫<br />

⎢⎣<br />

⎡<br />

⎢⎣<br />

j= 1 Γj<br />

*<br />

p (S,Q) φ<br />

*<br />

u (S,Q) φ<br />

m<br />

(s, t) +<br />

*<br />

u (s,q) φ<br />

T<br />

T<br />

T<br />

⎤<br />

(Q)dΓ⎥U<br />

⎥⎦<br />

⎤<br />

(Q)dΓ⎥<br />

P<br />

⎥⎦<br />

J+<br />

Jc<br />

∑ ⎢∫<br />

⎢⎣<br />

j= 1 Γj<br />

⎤<br />

(q)dΓ⎥<br />

P<br />

⎥⎦<br />

n<br />

m<br />

⎤<br />

*<br />

G (s,q)dΓ⎥<br />

Q(q,<br />

t).<br />

⎥⎦<br />

⎡<br />

n<br />

n<br />

*<br />

p (s,q) φ<br />

(Q, t) +<br />

(Q, t) +<br />

T<br />

⎪<br />

⎫<br />

(s,q) ⎬α&&<br />

⎪⎭<br />

⎤<br />

(q)dΓ⎥<br />

U<br />

⎥⎦<br />

m<br />

(t) +<br />

n<br />

m<br />

(s,q) +<br />

Efetuadas as integrais de (4.11) para todos os pontos de colocação, representada<br />

na forma matricial, tem-se:<br />

( cUˆ<br />

+ HU ˆ ˆ − GPˆ<br />

)&<br />

KQ<br />

(4.11)<br />

c U + HU ˆ = GP + ρ<br />

α& +<br />

(4.12)<br />

ou, ainda,<br />

HU = GP − MU&& + KQ<br />

(4.13)<br />

onde M é a matriz de massa definida por:<br />

−<br />

M =−ρ( HU$ −GP$ ) F<br />

1 . (4.14)<br />

Para o cálculo das tensões em pontos do domínio, utiliza-se o mesmo<br />

procedimento de discretização efetuado para a equação de deslocamentos, que aplicado<br />

à equação (4.6) resulta em:<br />

σ(s,<br />

t) = −<br />

+<br />

+ ρ<br />

−<br />

+<br />

J+<br />

Jc<br />

∑ ⎢∫<br />

j=<br />

1<br />

J+<br />

Jc<br />

j=<br />

1<br />

T<br />

n<br />

( s,Q) φ ( Q) dΓ⎥U<br />

( Q, t)<br />

T<br />

n<br />

( s,Q) φ ( Q) dΓ ⎥P<br />

( Q, t)<br />

J+<br />

Jc<br />

{ ˆ k<br />

* T<br />

( s,q) ( s,Q) ( Q) dΓ ˆ k<br />

D + ⎢ S φ ⎥U<br />

( s,q)<br />

J+<br />

Jc<br />

j=<br />

1<br />

Jc<br />

j=<br />

1<br />

⎡<br />

Γ j<br />

∑ ⎢∫<br />

⎢⎣<br />

Γ j<br />

⎡<br />

∑ ⎢∫<br />

⎢⎣<br />

⎡<br />

Γ j<br />

∑ ⎢∫<br />

⎢⎣<br />

⎡<br />

⎢⎣<br />

Γ j<br />

S<br />

D<br />

D<br />

G<br />

*<br />

*<br />

*<br />

*<br />

σ<br />

∑ ∫<br />

j=<br />

1<br />

⎡<br />

⎢⎣<br />

Γ j<br />

⎥⎦<br />

⎤<br />

⎥⎦<br />

⎤<br />

⎤<br />

T<br />

( ) ( ) ˆ k<br />

−1<br />

s,Q φ Q dΓ⎥P<br />

( s,q) F ( s,q)<br />

⎥⎦<br />

⎤<br />

(s,q)dΓ ⎥ Q(<br />

q,<br />

t),<br />

⎥⎦<br />

Escrevendo-se (4.15) de forma matricial, tem-se<br />

+<br />

⎪<br />

⎫<br />

⎬<br />

⎪⎭<br />

+<br />

⎤<br />

⎥⎦<br />

U&&<br />

k<br />

+<br />

(q, t) +<br />

(4.15)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


84<br />

João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />

onde:<br />

σ =− HU ′ + GP ′ − MU ′&& + KQ ′ , (4.16)<br />

( ˆ ˆ ˆ −1<br />

D + H′<br />

U − G′<br />

P) M ′ = −ρ<br />

F . (4.17)<br />

4.4 Solução das equações<br />

Considere-se a equação do movimento definida em (4.13). Utilizando-se a<br />

formulação do algoritmo de Houbolt (DOMINGUEZ, 1993), para um instante de tempo<br />

genérico, tem-se<br />

ou<br />

onde<br />

M U & + HU GP KQ<br />

(4.18)<br />

t+ ∆t<br />

t+∆t<br />

=<br />

t+∆t<br />

+<br />

t+ ∆t<br />

t+∆t<br />

+<br />

t+∆t<br />

+<br />

t+<br />

∆t<br />

t+<br />

∆t<br />

H U = GP F KQ , (4.19)<br />

⎡ 2 ⎤<br />

H = ⎢ M + H<br />

2<br />

⎣∆t<br />

⎥<br />

⎦<br />

⎡ 1<br />

⎤<br />

F<br />

t+ ∆t<br />

= M<br />

⎢<br />

( 5U<br />

t<br />

− 4U<br />

t−∆t<br />

+ U<br />

t−2∆t<br />

)<br />

2<br />

⎣∆t<br />

⎥⎦<br />

.<br />

(4.20a-b)<br />

Fazendo-se a troca de colunas entre as matrizes H e G, do modo usual do MEC,<br />

a fim de estabelecer o vetor de incógnitas (deslocamentos e forças de superfície) e o<br />

vetor de valores prescritos, obtém-se a seguinte solução:<br />

onde:<br />

X = RQ , (4.21)<br />

t+ ∆t<br />

M<br />

t+∆t<br />

+<br />

t+<br />

∆t<br />

X<br />

t +∆t<br />

= vetor misto de incógnitas<br />

−1<br />

M<br />

t+∆t<br />

= A ( GPt+∆<br />

t<br />

+ Ft<br />

+∆t<br />

)<br />

−1<br />

R = A K<br />

(4.22a-c)<br />

De maneira semelhante, pode-se modificar a equação das tensões (4.16)<br />

resultando em:<br />

onde:<br />

onde:<br />

t+ ∆t<br />

H′<br />

U<br />

t+∆t<br />

= G′<br />

P ′ ′<br />

t+∆t<br />

+ Ft<br />

+∆t<br />

+ K<br />

σ + Q<br />

(4.23)<br />

t+<br />

∆t<br />

⎡ 2 ⎤<br />

H′ = ⎢ M′<br />

+ H′<br />

2<br />

⎣∆t<br />

⎥ , e<br />

⎦<br />

⎡ 1<br />

⎤<br />

F ′ ′<br />

t+ ∆t<br />

= M ⎢<br />

( 5U<br />

t<br />

− 4U<br />

t−∆t<br />

+ U<br />

t−2∆t<br />

)<br />

2<br />

⎣∆t<br />

⎥⎦ .<br />

A expressão (4.23) pode ser ainda escrita na forma:<br />

t+ ∆t<br />

A′<br />

X<br />

′<br />

t+∆t<br />

= F′<br />

t+∆t<br />

+ K<br />

t+<br />

∆t<br />

(4.<strong>24</strong>a-b)<br />

σ + Q , (4.25)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />

85<br />

X<br />

F′<br />

t +∆t<br />

t+∆t<br />

= vetor misto de incógnitas<br />

= G′<br />

P<br />

t+∆t<br />

+ F′<br />

t+∆t<br />

Utilizando-se o vetor de incógnitas definido em (4.21), tem-se:<br />

t+ ∆t<br />

N<br />

t+∆t<br />

+<br />

t+<br />

∆t<br />

(4.26a-b)<br />

σ = SQ , (4.27)<br />

onde:<br />

N<br />

t+ ∆t<br />

= F′<br />

′<br />

t +∆t<br />

− A M<br />

(4.28a-b)<br />

t + ∆t<br />

S = K′<br />

− A′<br />

R .<br />

4.5 Aspectos computacionais<br />

O algoritmo empregado na solução das equações apresentadas é do tipo<br />

incremental iterativo (incremental no tempo – via Houbolt). Calculam-se as incógnitas,<br />

deslocamentos e forças de superfície e, eventualmente, tensões internas com as parcelas<br />

elásticas das equações (4.21) e (4.27) para cada passo incremental de tempo. Verificase,<br />

então, se o critério de resistência é atingido e, em caso afirmativo, entra-se em um<br />

processo iterativo. Os valores verdadeiros de deslocamentos, forças de superfície e<br />

tensões são obtidos corrigindo-se os valores elásticos através das parcelas relacionadas<br />

com os dipolos. Os valores dos dipolos devem ser estimados a partir do valor local das<br />

tensões de cada elemento de fratura ou nó, como se fossem campos independentes, já<br />

que o processo é não-linear. Portanto, com os valores residuais das tensões e das submatrizes<br />

de S, obtém-se de modo simplificado os valores parciais dos dipolos, que são<br />

posteriormente acumulados em Q. Obedecendo-se ao critério do modelo coesivo<br />

apresentado em (3.11), verifica-se o surgimento da abertura de fratura limite, w c ,<br />

condição necessária para se afirmar que neste nó houve fraturamento.<br />

É importante destacar que o emprego de elementos descontínuos na<br />

discretização do contorno é necessário para permitir o surgimento de fraturas.<br />

O procedimento descrito é similar a outros já empregados em conjunto com o<br />

MEC; e pode ser utilizado no estudo de sólidos quaisquer sujeitos ao surgimento de<br />

uma linha de fratura ou a multifraturamento.<br />

Sendo hipersingulares os núcleos envolvidos nesta formulação, deve-se ter<br />

cuidado especial com os procedimentos de integração, principalmente se o ponto de<br />

colocação pertence ao elemento integrado (utilizando-se o conceito de parte finita de<br />

Hadamard, conforme PORTELA, 1993).<br />

4.6 Aplicação<br />

O problema de uma chapa com uma fratura central e solicitada por tensões<br />

dinâmicas nas extremidades opostas foi resolvido em CHEN (1975) utilizando<br />

diferenças finitas. Constitui-se em um trabalho de referência para a avaliação de outras<br />

formulações sobre fratura dinâmica. Neste exemplo, para testar a formulação<br />

apresentada, tem-se a resolução desse problema (na forma tridimensional).<br />

Considere-se o problema de um sólido paralelepipédico solicitado por tensões de<br />

tração nas extremidades opostas, conforme mostra a figura 4.2. Define-se, ainda, uma<br />

descontinuidade em sua seção transversal média. Os parâmetros elastodinâmicos<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


86<br />

João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />

5<br />

adotados são: E = 2×<br />

10 GPa , ν = 0, 3 ,<br />

a largura da fratura 2 a = 4,8mm<br />

.<br />

3<br />

ρ = 500kg / m , t = 0,0004s<br />

∆ , f t<br />

= 100, 0Pa<br />

e<br />

Figura 4.2 – Definição do objeto de estudo: geometria do sólido, condições de contorno e<br />

comportamento temporal da força.<br />

O contorno do sólido é discretizado utilizando-se 80 elementos triangulares<br />

planos, conforme mostra a figura 4.3a. A descontinuidade na seção média do sólido é<br />

discretizada por elementos triangulares com aproximação constante (figura 4.3b).<br />

(a)<br />

Figura 4.3 – Discretizações: (a) contorno do sólido por elementos lineares e (b) superfície da<br />

trinca na seção central do sólido por elementos constantes.<br />

O exemplo é resolvido utilizando-se um algoritmo computacional incremental<br />

(no tempo) e iterativo. São medidas as tensões em pontos próximos da linha<br />

“extremidade da trinca” e apresentadas na forma de fatores de intensidade de tensão<br />

(relativos ao módulo I de fraturamento), a fim de comparar com a curva apresentada em<br />

CHEN (1975). Os resultados são mostrados na figura 4.4.<br />

(b)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>


Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />

87<br />

3,5<br />

Fator de Intens. de Tensão (modo I)<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

-0,5<br />

CHEN (1975)<br />

MEC<br />

-1,0<br />

0 2 4 6 8 10 12 14 16<br />

Tempo (µs)<br />

Figura 4.4 – Valores de<br />

K<br />

I<br />

(normalizado por<br />

σ<br />

π a ) ao longo do tempo.<br />

4.7 Conclusão<br />

A formulação do Método dos Elementos de Contorno apresentada para análise<br />

de fratura dinâmica, utilizando-se o conceito de dipolo e o Método da Reciprocidade<br />

Dual, mostrou-se adequada e constitui-se como uma alternativa importante na resolução<br />

deste tipo de problema. Cada área explorada no presente trabalho traz sua conclusão<br />

específica, cuja somatória permite afirmar a adequação das formulações apresentadas.<br />

5 AGRADECIMENTO<br />

À CAPES, pela concessão de bolsa de doutorado, que permitiu a realização<br />

deste trabalho.<br />

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ISSN 1809-5860<br />

PASSARELA PÊNSIL PROTENDIDA FORMADA POR<br />

ELEMENTOS PRÉ-MOLDADOS DE CONCRETO<br />

Luciano Maldonado Ferreira 1 & Roberto Luiz de Arruda Barbato 2<br />

Resumo<br />

Este trabalho aborda um tipo de passarela que está ganhando bastante notoriedade<br />

internacionalmente. Inúmeras obras vêm sendo construídas em diversos países, embora<br />

no Brasil ainda seja pouco conhecida. Basicamente, a estrutura é composta por cabos<br />

livremente suspensos, sobre os quais se apóia o tabuleiro formado por elementos prémoldados<br />

de concreto. A protensão é utilizada como forma de enrijecer o conjunto.<br />

Dentre suas principais características, estão a rapidez e a facilidade de execução, a<br />

estética bastante agradável e o custo competitivo. Pretende-se fornecer uma<br />

conceituação básica, descrever algumas obras já realizadas, estudar o comportamento<br />

estrutural e comentar os aspectos construtivos. Finalizando, é mostrada uma breve<br />

aplicação numérica.<br />

Palavras-chave: passarelas; pontes pênseis; concreto pré-moldado; concreto<br />

protendido.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A passarela pênsil mais primitiva é certamente aquela em que os próprios cabos<br />

funcionam como tabuleiro (v. figura 1). Apesar de bastante deslocáveis, essas estruturas<br />

foram utilizadas por diversas civilizações durante vários séculos.<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, lmf@sc.usp.br<br />

2 Professor associado, Departamento de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, barbato@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


92<br />

Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />

Figura 1 – Passarela pênsil primitiva. (DETAIL, 1999)<br />

Por volta de 1960, essa concepção estrutural foi aperfeiçoada e divulgada pelo<br />

engenheiro alemão Ulrich Finsterwalder, tornando-se desde então uma nova alternativa<br />

para os projetistas.<br />

Basicamente, a estrutura é composta por cabos livremente suspensos sobre os<br />

quais se apóiam os elementos pré-moldados de concreto que formam o tabuleiro. A<br />

protensão é utilizada como forma de enrijecer o conjunto. Esse sistema estrutural ficou<br />

conhecido internacionalmente como stress-ribbon, sendo ilustrado nas figuras 2 e 3. No<br />

Brasil, PFEIL (1980) chama essas estruturas de “lâminas protendidas”.<br />

Figura 2 – Passarela em Nymburk, República Tcheca. (STRASKY, 1999)<br />

Figura 3 – Passarela em Redding, EUA. (STRASKY, 1999)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />

93<br />

A princípio, o tabuleiro pode ser formado por elementos pré-moldados de<br />

concreto de seção completa ou parcial, ou ainda moldado totalmente no local. No<br />

entanto, é no uso da pré-moldagem que se nota algumas das principais vantagens desse<br />

sistema estrutural. Nesse caso, para a montagem da estrutura, os elementos deslizam um<br />

a um sobre os cabos de sustentação até atingir sua posição de projeto (v. figura 4),<br />

tornando a execução fácil e rápida.<br />

A protensão pode ser introduzida de duas formas. A primeira, mais comumente<br />

usada, é através de cabos adicionais aos de sustentação, ancorados na parte de trás dos<br />

blocos de fundação, de modo que seu único efeito são forças distribuídas verticais<br />

atuando num esquema de arco invertido, desde que os blocos de fundação sejam<br />

considerados indeslocáveis. A segunda forma de protensão produz o mesmo efeito, mas<br />

é conseguido com a colocação de uma sobrecarga (sacos de água, por exemplo) antes da<br />

concretagem das juntas. Após o concreto dessas juntas adquirir resistência suficiente, a<br />

sobrecarga é retirada e a estrutura tende a se deslocar para cima, ocorrendo o efeito de<br />

protensão desejado. A protensão através de sobrecarga já foi usada na cobertura pênsil<br />

do Estádio de Montevidéu, Uruguai. No Brasil, existem pelo menos duas obras que<br />

exibem esse tipo de protensão: a cobertura da Igreja Nossa Senhora das Graças, em<br />

Araraquara, e do ginásio esportivo de Rolândia. Maiores detalhes sobre essas coberturas<br />

podem ser encontrados em BARBATO (1975).<br />

Figura 4 – Elemento pré-moldado deslizando até sua posição. (STRASKY, 1999)<br />

Visando ao conforto dos usuários e ao acesso de deficientes físicos, a inclinação<br />

máxima deve ser pequena e assim os cabos ficam bastante esticados. Como<br />

consequência, surgem elevadas forças horizontais que devem ser ancoradas nos apoios,<br />

condicionando sua viabilidade técnica e econômica a condições favoráveis do subsolo.<br />

Mesmo com o custo relativamente elevado das fundações, a estrutura é<br />

competitiva economicamente, principalmente para grandes vãos e para estruturas de<br />

vãos múltiplos. A estética é bastante agradável, sendo a obra reconhecida como um<br />

marco na arquitetura local.<br />

São inúmeros os exemplos de estruturas construídas em diversos países, tais<br />

como, ex-Tchecoslováquia, Alemanha, Reino Unido, Suíça, Espanha, Uruguai, Estados<br />

Unidos e Japão. Apesar de ser possível a utilização desse sistema estrutural em pontes<br />

rodoviárias, a necessidade de flechas muito pequenas e as elevadas forças horizontais<br />

geradas tornam seu uso menos recomendável.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


94<br />

Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />

2 ALGUMAS APLICAÇÕES DO SISTEMA ESTRUTURAL<br />

Em FINSTERWALDER (1965) é descrita a proposta de uma ponte sobre o Lago<br />

Genebra. A parte central de 305 m do vão principal de 457 m seria pênsil, com apenas<br />

250 mm de espessura de concreto armado e taxa de armadura de 25%. Embora essa<br />

ponte e outras, como a Bosporus Bridge (v. figura 5) na Turquia, a Naruto Bridge no<br />

Japão e a Zoo-bridge na Alemanha, com vãos pênseis de 190 m, 336 m e 166 m<br />

respectivamente, não tenham sido executadas, elas marcam o início desse sistema<br />

estrutural como uma alternativa para os projetistas.<br />

Figura 5 – Esquema da Bosporus Bridge. (WITTFOHT, 1975)<br />

Talvez a primeira estrutura efetivamente construída seja a ponte sobre o rio<br />

Maldonado, no Uruguai (v. figura 6). O comprimento total é de 150 m, sendo que o vão<br />

principal mede cerca de 90 m. O tabuleiro é formado por aduelas de seção caixão com<br />

quatro células de 1,4 m de altura, que repousam sobre os cabos responsáveis pela<br />

sustentação. A largura total é de 9,6 m.<br />

Figura 6 – Ponte sobre o rio Maldonado, Uruguai.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />

95<br />

BUTLER (1977) descreve a primeira passarela desse tipo construída no Reino<br />

Unido. Devido a problemas de instalação dos tirantes no subsolo, foi construída uma<br />

escora de concreto armado com a função de diminuir os esforços a serem absorvidos<br />

pelas fundações (v. figura 7). Nota-se um ligeiro engrossamento da seção transversal na<br />

região próxima aos apoios, proporcionando uma transição suave entre o tabuleiro<br />

flexível e os apoios rígidos.<br />

A utilização de flechas maiores é uma alternativa para reduzir a magnitude das<br />

forças horizontais geradas. No entanto, essa possibilidade esbarra em limites máximos<br />

de declividade impostos pelo tráfego e na altura disponível abaixo da estrutura. Em<br />

passarelas, por exemplo, rampas muito íngremes podem inviabilizar o acesso de<br />

deficientes físicos. Esse inconveniente foi superado por MATSUSHITA & SATO<br />

(1979) através de um tabuleiro superior na Hayahi-No-Mine Bridge (v. figura 8),<br />

localizada na ilha de Kyushu, Japão.<br />

Vista lateral<br />

Furos para<br />

drenagem<br />

Escora<br />

Planta<br />

34 m<br />

Ancoragens<br />

Escora<br />

1,2m x 0,5m<br />

Escora 0,6m x 0,5m<br />

Seção<br />

longitudinal<br />

Figura 7 – Passarela em Derbyshire, Reino Unido. (BUTLER, 1977)<br />

54,48 m<br />

Figura 8 – Hayahi-No-Mine Bridge. (MATSUSHITA & SATO, 1979)<br />

Mais recentemente, ganha destaque as obras projetadas pelo engenheiro Jiri<br />

Strasky. Em STRASKY & PIRNER (1986) e STRASKY (1987), são descritas uma<br />

série de passarelas construídas na ex-Tchecoslováquia, sendo fornecidos inclusive<br />

alguns detalhes construtivos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


96<br />

Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />

REDFIELD et al (1992) descrevem a passarela sobre o rio Sacramento em<br />

Redding, California (v. figura 3). O vão livre é de 127,41 m e a largura total é de 3,96<br />

m. A flecha varia de 3,35 m (logo após a construção, máxima temperatura e máxima<br />

carga variável) para 2,44 m (tempo infinito e mínima temperatura). O tabuleiro tem uma<br />

espessura constante de 38,1 cm, com exceção dos trechos distantes 5,79 m dos apoios,<br />

que possuem altura variável. A variação de altura próxima aos apoios foi a solução<br />

encontrada para resistir às tensões devido aos elevados momentos fletores que surgem<br />

nessa região devido à protensão, queda de temperatura e retração do concreto.<br />

Duas outras obras que merecem destaque, pois exibem a potencialidade do<br />

sistema estrutural, são a Kikko Bridge (v. figura 9), no Japão e a passarela em<br />

Maidstone (v. figura 10), Reino Unido.<br />

Figura 9 – Kikko Bridge, Japão. (ARAI & OTA, 1997)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />

97<br />

Figura 10 – Passarela em Maidstone, Reino Unido. (STRASKY, 1999)<br />

3 TABULEIRO<br />

STRASKY (1987), ao descrever algumas passarelas construídas na ex-<br />

Tchecoslováquia, afirma que os elementos pré-moldados foram concretados de 6 a 12<br />

meses antes da montagem da estrutura, a fim de reduzir a fluência e a retração do<br />

concreto, cujos efeitos podem ser significativos no comportamento da estrutura. A<br />

tempo infinito, corre-se o risco do tabuleiro ficar tracionado devido às perdas de<br />

protensão. Foram usados nessas obras concretos com resistências da ordem de 40 MPa.<br />

Em STRASKY (1999) são fornecidas algumas formas possíveis para a seção<br />

transversal das passarelas (v. figura 11):<br />

a alternativa a corresponde a um elemento moldado “in situ”, com as fôrmas<br />

suspensas nos próprios cabos. Nesse caso, uma das principais vantagens do sistema<br />

estrutural aqui discutido, a rapidez na execução, é de certa forma perdida;<br />

nas situações b e c são mostradas as seções utilizadas nas primeiras estruturas<br />

construídas por Strasky. Os cabos de sustentação passam sobre os elementos prémoldados<br />

e depois da montagem, o tabuleiro é protendido por um segundo grupo de<br />

cabos. Os cabos de sustentação são protegidos com concreto moldado no local<br />

simultaneamente com a concretagem das juntas entre os elementos. A junta<br />

longitudinal entre os elementos pré-moldados e o concreto moldado no local deve<br />

ser coberta com camada impermeabilizante, já que podem ocorrer fissuras nessa<br />

interface;<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


98<br />

Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />

a)<br />

a)<br />

b)<br />

b)<br />

Cabo bearing de cable<br />

sustentação<br />

prestressing cable<br />

Cabo de protensão<br />

c)<br />

c)<br />

d)<br />

d)<br />

erection<br />

Cabo para<br />

cable<br />

montagem<br />

e)<br />

e)<br />

f)<br />

f)<br />

Figura 11 – Seções transversais. (STRASKY, 1999)<br />

os elementos também podem ser montados sobre cabos que serão removidos após a<br />

protensão do tabuleiro, conforme item d;<br />

no item f os elementos são sustentados e protendidos por cabos externos;<br />

em aplicações recentes conduzidas por Strasky, estão sendo usadas seções<br />

compostas (v. item e). Os elementos de concreto pré-moldado são suspensos e<br />

servem de fôrma para o concreto moldado no local. A concretagem é feita<br />

simultaneamente com a moldagem das juntas entre os elementos e a estrutura é<br />

protendida por cabos situados dentro do concreto moldado no local. O tabuleiro<br />

contínuo proporciona ótima proteção para os cabos e requer mínimos trabalhos de<br />

manutenção.<br />

Como já comentado anteriormente, o uso da pré-moldagem é bastante<br />

conveniente, garantindo uma execução em tempo bastante curto. As dimensões dos<br />

elementos variam de acordo com o projeto. O comprimento se situa em torno dos 3 m.<br />

A largura varia basicamente entre 3 m e 4 m. É possível se deixar furos no interior dos<br />

elementos visando a passagem de encanamentos e cabos elétricos de um lado a outro da<br />

estrutura.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />

99<br />

4 PROCEDIMENTO DE EXECUÇÃO<br />

A seguir, será fornecida a sequência de execução das passarelas pênseis<br />

formadas por elementos pré-moldados de concreto, protendidas por cabos adicionais aos<br />

de sustentação. Será abordado os casos de estruturas que possuem pilares<br />

intermediários, ou seja, de vãos múltiplos.<br />

a) Execução das fundações, blocos de ancoragem e pilares intermediários;<br />

b) Selas de aço (onde repousam os cabos) são colocadas nos apoios intermediários e os<br />

pilares são escorados temporariamente (v. figura 12);<br />

Figura 12 – Sela de aço e escora. (STRASKY & PIRNER,1986)<br />

c) Os cabos de sustentação são desenrolados das bobinas, cortados todos com o mesmo<br />

comprimento e dispostos no vão com o auxílio de cabos auxiliares. Em seguida, os<br />

cabos são tracionados de acordo com o projeto;<br />

d) Os segmentos são erguidos com o auxílio de guinchos e presos aos cabos com o<br />

auxílio de dispositivos que se instalam em furos previamente deixados nos<br />

elementos (v. figura 13). Em seguida, os elementos são ligados a cabos auxiliares e<br />

deslizam até sua posição de projeto. Nas juntas são colocados tubos de aço. Esse<br />

processo se repete até que toda a passarela seja montada;<br />

e) A fôrma das selas é segura nos elementos vizinhos, os cabos de protensão são<br />

colocados e a armação da região dos cabos de sustentação e das selas são dispostas.<br />

A seguir, as juntas, a região onde estão alojados os cabos de sustentação e as selas<br />

são concretadas ao mesmo tempo. Assim que possível, o tabuleiro protendido.<br />

f) Os furos onde estão instalados os cabos de protensão são concretados, é montado o<br />

corrimão e executado o pavimento. Em seguida, tem-se início a prova de carga (v.<br />

figura 14).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


100<br />

Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />

Figura 13 – Inserção de dispositivos para fixação do elemento aos cabos.<br />

(STRASKY & PIRNER, 1986)<br />

Figura 14 – Prova de carga. (STRASKY, 1999)<br />

5 COMPORTAMENTO ESTRUTURAL<br />

Devido às características peculiares da estrutura, diversos aspectos devem ser<br />

levados em consideração, principalmente o comportamento não-linear geométrico e as<br />

perdas de protensão.<br />

Durante a montagem, a estrutura é suportada pelos cabos de sustentação. Sua<br />

análise é feita com as equações de equilíbrio de um cabo livremente suspenso. O<br />

esquema da estrutura submetida ao peso próprio dos elementos pré-moldados é<br />

mostrado na figura 15.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />

101<br />

q 0<br />

x<br />

z 0<br />

0<br />

L<br />

f<br />

q 0<br />

H 0<br />

H0<br />

Q 0<br />

ds0<br />

Q + dQ0<br />

0<br />

Figura 15 – Esquema da estrutura após a disposição dos elementos pré-moldados.<br />

onde:<br />

q0<br />

z0 (x) = ⋅ x ⋅ ( L − x)<br />

2 ⋅ H0<br />

(1)<br />

2<br />

q0<br />

⋅ L<br />

H0<br />

=<br />

8⋅<br />

f0<br />

(2)<br />

Após a concretagem das juntas, a rigidez a flexão do tabuleiro deve constar nas<br />

equações de equilíbrio. Dessa forma, a estrutura se comporta como um cabo com<br />

pequena rigidez a flexão. Adicionando-se uma carga distribuída uniformemente q, cujo<br />

acréscimo de força horizontal será h, a estrutura se deforma e a nova geometria é<br />

mostrada na figura 16.<br />

M<br />

H +h<br />

0<br />

Q<br />

ds<br />

Q+dQ<br />

q+q 0<br />

M+dM<br />

H<br />

0+h<br />

w<br />

u<br />

dx<br />

dz0<br />

ds 0<br />

ds<br />

w+dw<br />

u+du<br />

Figura 16 – Configuração deformada da estrutura.<br />

Assumindo que a forma da passarela seja bastante abatida, são feitas as seguintes<br />

considerações, de acordo com DAWE (1971) e DEL ARCO & BENGOECHEA (1994):<br />

(z′ 2<br />

0 )


102<br />

Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />

(q0<br />

+ q) ⋅ L<br />

Q = (q0<br />

+ q) ⋅ x −<br />

(6)<br />

2<br />

Admitindo-se pequenas deformações, material elástico e a hipótese de que a<br />

seção plana permanece plana e perpendicular ao eixo do centro de gravidade após as<br />

deformações, o momento fletor ao longo da estrutura é dado por:<br />

M (x) = −E<br />

⋅ I ⋅ w′<br />

(7)<br />

onde:<br />

E ⋅ I – rigidez a flexão da estrutura.<br />

Substituindo-se (7) em (4), obtém-se:<br />

− ⋅ I ⋅ w′′′<br />

+ (H + h) ⋅ (z′<br />

+ w ′)<br />

+ Q 0<br />

(8)<br />

E 0 0 =<br />

A equação (8) é diferencial ordinária linear de terceira ordem e sua solução é<br />

dada pela soma da solução geral da equação homogênea com uma solução particular da<br />

equação não-homogênea. A solução geral de (8) é então dada pôr:<br />

2<br />

2<br />

γ⋅x<br />

−γ⋅x<br />

(q + q0<br />

) ⋅ x (q + q0<br />

) ⋅ L ⋅ x q0<br />

⋅ L ⋅ x q0<br />

⋅ x<br />

w (x) = c1<br />

⋅ e + c2<br />

⋅ e + c3<br />

−<br />

+<br />

− + +<br />

2 ⋅ (H0<br />

+ h) 2 ⋅ (H0<br />

+ h) 2 ⋅ H0<br />

2 ⋅ H0<br />

(q + q0<br />

) q0<br />

− +<br />

(9)<br />

2 2<br />

(H + h) ⋅ γ H ⋅ γ<br />

0<br />

0<br />

onde:<br />

( H0<br />

+ h)<br />

γ =<br />

(10)<br />

E ⋅ I<br />

Percebe-se que a equação (9) possui três constantes e assim são três as condições<br />

de contorno a serem impostas, dependendo se a estrutura está engastada ou<br />

simplesmente apoiada.<br />

O acréscimo de força horizontal é dado pôr (11), cuja integração entre dois<br />

apoios A e B, com a inclusão de uma variação de temperatura, leva a (12).<br />

h = E ⋅ A ⋅ (u′<br />

+ z′<br />

0 ⋅ w ′)<br />

(11)<br />

E ⋅ A<br />

q0<br />

h = ⋅ (u B − u A + w B ⋅ z′<br />

0B − w A ⋅ z′<br />

0A + ⋅ ∫ w ⋅ dx) − E ⋅ A ⋅ α ⋅ ∆T<br />

(12)<br />

L<br />

H<br />

0<br />

B<br />

A<br />

onde:<br />

E ⋅ A - rigidez axial da estrutura (cabos aderidos + concreto);<br />

u - deslocamento horizontal do apoio da esquerda;<br />

A<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />

103<br />

u B - deslocamento horizontal do apoio da direita;<br />

w A - recalque do apoio da esquerda;<br />

w B - recalque do apoio da direita;<br />

α - coeficiente de dilatação térmica;<br />

∆T<br />

- variação de temperatura.<br />

Para a resolução do problema, a equação dos deslocamentos (9) deve ser<br />

substituída em (12), com as constantes c 1 , c 2 e c 3 já definidas. Nesse momento, a<br />

equação (12) deve ser resolvida iterativamente e como resultado tem-se o valor do<br />

incremento de força horizontal h. Uma vez obtido h, os deslocamentos ao longo da<br />

estrutura são dados pela equação (9) e os momentos fletores pôr (7).<br />

Apesar da protensão dever estar sempre presente e ser introduzida antes mesmo<br />

de qualquer outro carregamento, decidiu-se, por facilidade, inseri-la nas equações<br />

apenas agora.<br />

Conforme já adiantado anteriormente, o efeito da protensão são forças<br />

distribuídas verticais atuando em um esquema de arco invertido (v. figura 17), desde<br />

que os apoios sejam considerados indeslocáveis.<br />

efeito da protensão<br />

Figura 17- Efeito da protensão na estrutura.<br />

Para a introdução da protensão, deve-se lembrar que a curvatura depende das<br />

condições iniciais e dos deslocamentos, ou seja, a curvatura é variável com os<br />

deslocamentos. Dessa forma, a protensão deve ser introduzida nas equações de maneira<br />

não-linear, pois conforme a estrutura vai se deslocando para cima, o efeito da protensão<br />

vai diminuindo. Numa situação hipotética, quando a estrutura se aproximasse da forma<br />

reta, o efeito da protensão tenderia para zero.<br />

A força distribuída vertical devido a protensão é dada pôr:<br />

= −P<br />

⋅ (z′′<br />

+ w′<br />

)<br />

(13)<br />

q prot 0 0 ′<br />

onde:<br />

P - força de protensão.<br />

0<br />

A integração da equação (13) leva a:<br />

= −∫ q dx = P ⋅ (z′<br />

+ w )<br />

(14)<br />

Qprot prot 0 0 ′<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


104<br />

Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />

Adicionando-se (14) a (8), tem-se:<br />

− ⋅ I ⋅ w′′′<br />

+ (H + h) ⋅ (z′<br />

+ w ′)<br />

+ Q + P ⋅ (z′<br />

+ w ′)<br />

0<br />

(15)<br />

E 0 0<br />

0 0 =<br />

Finalmente:<br />

− ⋅ I ⋅ w′′′<br />

+ (H + h + P ) ⋅ (z′<br />

+ w ′)<br />

+ Q 0<br />

(16)<br />

E 0 0 0 =<br />

A solução da equação (16) é idêntica à solução de (8), bastando fazer h = h + P0<br />

nas equações (9) e (10).<br />

As perdas de protensão fazem com que a estrutura tenha sua flecha reduzida e<br />

fique menos comprimida. Em princípio, essas perdas são causadas pela fluência e<br />

retração do concreto e pela relaxação do aço. O efeito da retração pode ser diminuído<br />

fazendo com que os elementos pré-moldados sejam produzidos com certo tempo antes<br />

da sua aplicação. A relaxação dos cabos de aço pode ser minimizada com o uso de aços<br />

de baixa relaxação (RB) e com a utilização de baixas tensões em serviço.<br />

O efeito da fluência do concreto pode ser analisado da seguinte maneira: sejam<br />

w 0 (x) , M 0 (x)<br />

e h 0 , respectivamente os deslocamentos, os momentos fletores e o<br />

incremento de força horizontal, após a introdução da protensão e da carga permanente<br />

(tempo t 0 ). Sejam ∆ w(x)<br />

e ∆ h , as variações dos deslocamentos e da força horizontal,<br />

provocados pela fluência. Vale destacar que a força horizontal atua em toda a seção,<br />

inclusive nos cabos de protensão, que nesse momento já estão aderidos ao concreto.<br />

A equação diferencial de equilíbrio no tempo t 0 é:<br />

+ M′<br />

+ (H + h + P ) ⋅ (z′<br />

+ w′<br />

) 0<br />

(17)<br />

Q 0 0 0 0 0 0 =<br />

No tempo t, cujo elemento infinitesimal é mostrado na figura 18, a equação<br />

diferencial é:<br />

+ M′<br />

+ (H + h + P + ∆h)<br />

⋅ (z′<br />

+ w′<br />

+ ∆w ′)<br />

0<br />

(18)<br />

Q f 0 0 0<br />

0 0 =<br />

Subtraindo-se (17) de (18), chega-se a:<br />

∆ ′ + ∆h<br />

⋅ (z′<br />

+ w′<br />

+ ∆w ′)<br />

+ ∆w′<br />

⋅ (H + h + P ) 0<br />

(19)<br />

M 0 0<br />

0 0 0 =<br />

H<br />

0+h 0+<br />

∆h<br />

M f<br />

q 0 +q<br />

M<br />

f+dMf<br />

Q H<br />

0+h 0+<br />

∆h<br />

Q+dQ<br />

Figura 18 – Elemento infinitesimal no tempo t.<br />

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Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />

105<br />

A equação (19) deve ser resolvida com as condições de contorno da passarela,<br />

fazendo uso das equações que relacionam esforços e deslocamentos. Adotando-se o<br />

modelo proposto pelo CEB (1990) e assumindo que o módulo de elasticidade inicial do<br />

concreto no instante de aplicação da carga (Ec ) seja igual ao módulo de elasticidade<br />

0<br />

inicial do concreto aos 28 dias (Ec<br />

) , a variação dos momentos fletores e da força<br />

28<br />

horizontal, são dados por:<br />

∆<br />

φ<br />

= −Ec ⋅ I ⋅ ∆w′′<br />

− M ⋅<br />

(20)<br />

aj<br />

1 + χ ⋅ φ<br />

M 0<br />

φ<br />

∆h<br />

= ∆h<br />

c + ∆h<br />

s = (E ⋅ Ac<br />

+ Es<br />

⋅ As<br />

) ⋅ ( z′<br />

0 ⋅ ∆w′<br />

+ ∆u′<br />

) − h ⋅<br />

(21)<br />

caj<br />

0c<br />

1 + χ ⋅ φ<br />

sendo<br />

Ec0<br />

Ec =<br />

aj 1 + χ ⋅ φ<br />

(22)<br />

E ⋅ A c0 c<br />

h 0 =<br />

c<br />

E ⋅ A + E ⋅ A<br />

⋅ h 0<br />

(23)<br />

c0<br />

c<br />

s<br />

s<br />

onde:<br />

φ - coeficiente de fluência;<br />

χ - coeficiente de envelhecimento;<br />

h - parcela da força normal que atua no concreto;<br />

0 c<br />

Ac<br />

- área de concreto;<br />

A - somatória da área de aço dos cabos de sustentação e de protensão.<br />

s<br />

A resolução da equação (19) é semelhante à resolução da equação (8).<br />

As equações que governam o comportamento da passarela pênsil são as mesmas<br />

obtidas pela análise de pontes pênseis pela deflection theory. O desenvolvimento da<br />

formulação mostrado acima foi baseado em DEL ARCO & BENGOECHEA (1994).<br />

Maiores detalhes podem ser encontrados em DEL ARCO & BENGOECHEA (1994) e<br />

FERREIRA (2001). Em DEL ARCO & BENGOECHEA (1996) as equações envolvidas<br />

no problema são adimensionalizadas, permitindo compreender certos aspectos do<br />

funcionamento da estrutura.<br />

STRASKY (1999) apresenta os diagramas de momentos fletores típicos para<br />

esse tipo de passarela pênsil, mostrados na figura 19. A situação b da figura 19<br />

corresponde à estrutura sem protensão e na situação c a protensão atua. Como a<br />

protensão deve estar sempre presente, o caso b tem caráter apenas conceitual. Como<br />

pode ser observado, momentos fletores elevados só ocorrem na região dos apoios. De<br />

acordo com STRASKY (1999), uma seção transversal típica não tem condições de<br />

suportar esses momentos. Como alternativas para solucionar o problema são<br />

apresentadas duas opções. A primeira maneira é fazer com que o tabuleiro possa se<br />

elevar após a protensão ou quando a temperatura cai (v. figura 20b). A segunda<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


106<br />

Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />

alternativa é incorporar à estrutura pequenos arcos de espessura variável moldados no<br />

local (v. figura 20c). Nesse caso, embora os momentos fletores sejam maiores em<br />

comparação com tabuleiros de espessuras constantes (v. figura 20a), as tensões<br />

resultantes são menores. Esses arcos são projetados como peças parcialmente<br />

protendidas e devem ser suficientemente armados com barras situadas nas suas fibras<br />

inferiores.<br />

Figura 19 – Diagramas esquemáticos de momentos fletores. (STRASKY, 1999)<br />

6 BREVE APLICAÇÃO NUMÉRICA<br />

Nesse item será realizada uma aplicação numérica de uma passarela pênsil<br />

protendida engastada em suas extremidades. Vale ressaltar que o exemplo aqui tratado<br />

não corresponde a nenhuma passarela construída.<br />

6.1 Descrição da estrutura estudada<br />

A passarela a ser analisada possui 40 m de vão, podendo ser vista na figura 21. A<br />

flecha inicial adotada é 1 m, ou seja, vão/40. Com a aplicação da protensão e o<br />

desenvolvimento da fluência, a flecha inicial e as inclinações ao longo da passarela<br />

terão seus valores reduzidos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />

107<br />

a)<br />

b)<br />

c)<br />

M<br />

2800<br />

tc00<br />

tc0<br />

1400<br />

ta00<br />

700<br />

ta0<br />

tb00<br />

tb0<br />

Figura 20 – Momentos fletores nos apoios devido à retração e à fluência do concreto.<br />

(STRASKY, 1999)<br />

z 0<br />

,w<br />

x<br />

f<br />

0<br />

=1m<br />

L=40m<br />

Figura 21 – Esquema longitudinal da estrutura.<br />

A seção transversal dos elementos pré-moldados deve ter espaço suficiente para<br />

alojar os cabos de sustentação e de protensão. Em se tratando de um prédimensionamento,<br />

adotou-se a seção mostrada na figura 22, sendo:<br />

Área = 0,88 m 2 ; Inércia = 0,0068 m 4<br />

10<br />

CG<br />

13,2<br />

30<br />

120 160<br />

120<br />

400 cm<br />

Figura 22 – Seção transversal para pré-dimensionamento.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


108<br />

Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />

6.2 Materiais a serem empregados<br />

Os materiais empregados possuem as seguintes características:<br />

Aço: CP-190 RB 12,7 Concreto:<br />

A snom = 0,987 cm 2<br />

f ck = 35 MPa<br />

f ptk = 1900 MPa E c = 33130 MPa (Projeto de Revisão da NBR 6118)<br />

f pyk = 1710 MPa<br />

E s = 195000 MPa<br />

onde:<br />

A - área nominal de aço;<br />

Snom<br />

f - limite nominal de resistência à tração;<br />

ptk<br />

f - tensão nominal para alongamento de 1%;<br />

pyk<br />

E S - módulo de elasticidade do aço;<br />

f ck - resistência à compressão do concreto característica;<br />

E - módulo de elasticidade inicial do concreto;<br />

c<br />

6.3 Ações<br />

As ações que irão incidir na estrutura são:<br />

Peso próprio dos elementos pré-moldados:<br />

onde:<br />

γ - peso específico do concreto.<br />

c<br />

q0 = Ac<br />

⋅ γc<br />

= 0,88 ⋅ 25 =<br />

22 kN / m<br />

Peso próprio do corrimão e da pavimentação: q g = 5 kN / m<br />

Ação dos pedestres (carga uniformemente distribuída de intensidade 5 kN / m , não<br />

majorada pelo coeficiente de impacto, de acordo com a NBR 7188):<br />

q = 4 ⋅ 5 = 20 kN / m<br />

2<br />

Variação uniforme de temperatura:<br />

o<br />

∆ T = ± 15 C<br />

Nesse exemplo, não está sendo considerada a ação lateral do vento.<br />

6.4 Determinação das áreas dos cabos de aço<br />

A flecha inicial adotada ( 0 f ) tem influência direta na determinação das áreas dos<br />

cabos de sustentação e protensão. Flechas pequenas aumentam o conforto dos usuários,<br />

mas também aumentam a quantidade de aço consumida.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />

109<br />

Após a colocação de todos os elementos pré-moldados, a carga que age nos<br />

cabos de sustentação é seu peso próprio e o peso próprio dos elementos pré-moldados<br />

( q 0 ). O peso próprio dos cabos tem pequena magnitude em relação a q 0 e será<br />

desprezado. A posterior aplicação da protensão vai reduzir a força de tração nos cabos<br />

de sustentação e comprimir o concreto. Dessa forma, a situação crítica para<br />

dimensionamento dos cabos de sustentação é no instante inicial.<br />

A força H 0 , de valor constante ao longo do vão, é dada por:<br />

2<br />

q L<br />

2<br />

0 ⋅ 22 ⋅ 40<br />

H0 = = = 4400 kN<br />

8 ⋅ f0<br />

8 ⋅1,0<br />

A máxima força de tração ( T máx ) ocorre nos pontos de suspensão, cujo valor é:<br />

2<br />

2<br />

⎛ q0<br />

⋅ L ⎞<br />

⎛ 22 ⋅ 40 ⎞<br />

Tmáx = H0<br />

⋅ 1 +<br />

⎜ = 4400 ⋅ 1 + ⎜ ⎟ = 4421,95 kN<br />

2 H<br />

⎟<br />

⎝ ⋅ 0 ⎠<br />

⎝ 2 ⋅ 4400 ⎠<br />

O cálculo da área dos cabos de sustentação ( A s1) no estado limite último,<br />

fornece:<br />

γ f ⋅ Tmáx<br />

1,4 ⋅ 4421,95<br />

A s1<br />

= =<br />

= 37,47 cm<br />

f ptk 190<br />

γ 1,15<br />

s<br />

2<br />

onde:<br />

γ f - coeficiente de majoração das ações;<br />

γ - coeficiente de minoração da resistência do aço.<br />

s<br />

Em serviço, a fim de diminuir os efeitos da relaxação e fadiga do aço, DEL<br />

ARCO & BENGOECHEA (1996) recomendam limitar a tensão a 0,4<br />

⋅ f . Assim:<br />

ptk<br />

Tmáx<br />

4421,95<br />

A s1<br />

= = = 58,18 cm<br />

0,4 ⋅ f 0,4 ⋅190<br />

ptk<br />

2<br />

Adotam-se para os cabos de sustentação 6 cabos formados por 10 cordoalhas<br />

2<br />

φ12,7mm<br />

- A = 59,22 cm .<br />

s1<br />

Nessa aplicação numérica, a protensão será introduzida por cabos adicionais aos<br />

de sustentação. O mesmo efeito poderia ser conseguido com a utilização de uma<br />

sobrecarga antes da concretagem das juntas. Abaixo, as duas formas possíveis de<br />

protensão são comparadas:<br />

a) Protensão por cabos adicionais aos de sustentação: a medida que os cabos de<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


110<br />

Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />

protensão vão sendo tracionados, a estrutura formada pelo arco invertido de<br />

concreto começa a reagir. Assim, a força de tração a ser resistida pelas fundações é a<br />

força de tração nos cabos, menos a força de compressão proveniente do arco de<br />

concreto;<br />

b) Protensão através de sobrecarga: o arco de concreto começa a reagir somente após a<br />

concretagem das juntas e posterior retirada da sobrecarga. Antes disso, a força<br />

horizontal a ser resistida pelas fundações é simplesmente a soma do peso próprio<br />

dos elementos pré-moldados, mais a sobrecarga, resultando em esforços maiores a<br />

serem ancorados durante a fase de construção.<br />

De acordo com DEL ARCO & BENGOECHEA (1996), a força de protensão<br />

deve ser determinada de maneira que não ocorra tensões de tração no meio do vão sob<br />

nenhuma combinação de ações. A combinação crítica de ações para o aparecimento de<br />

tração é a atuação simultânea de peso próprio, protensão, ação de pedestres e variação<br />

negativa de temperatura, a tempo infinito. Nos cálculos não será admitido tensões de<br />

tração apenas na situação em serviço.<br />

Após algumas tentativas, chega-se à seguinte força de protensão para que não<br />

ocorra tração: P 0 = 13000 kN (após as perdas por escorregamento dos fios na ancoragem<br />

e acomodação da ancoragem; desprezado o atrito desenvolvido entre os cabos e as<br />

bainhas).<br />

A fim de diminuir a relaxação dos aços de protensão, será utilizada uma tensão<br />

de 0,6 f ptk . Assim:<br />

P0<br />

13000<br />

2<br />

A sp = = = 114,04 cm (área dos cabos de protensão)<br />

0,6 ⋅ f 0,6 ⋅190<br />

ptk<br />

Adotam-se para os cabos de protensão 6 cabos formados por 19 cordoalhas<br />

2<br />

φ12,7mm<br />

- A = 112,52 cm .<br />

sp<br />

6.5 Resultados da análise estrutural (logo após construção)<br />

Os resultados obtidos são mostrados na tabela 1 e nas figuras 23 e <strong>24</strong>, onde:<br />

h – incremento de força horizontal;<br />

h c - parcela do incremento de força horizontal que atua apenas na seção de concreto;<br />

M – momentos fletores;<br />

w – deslocamentos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />

111<br />

Tabela 1 – Resultados da análise estrutural, logo após a construção.<br />

TEMPO t 0<br />

Caso Ações h h c M(0) M(L/2) w(L/2)<br />

(kN) (kN) (kN.m) (kN.m) (m)<br />

1 q 0 +P 0 -11123,52 -10699,71 790,29 -256,85 -0,132<br />

2 q 0 +P 0 +q g -10158,48 -9771,44 742,26 -229,47 -0,120<br />

3 q 0 +P 0 +q g +∆T -10908,82 -10493,19 454,93 -146,18 -0,075<br />

4 q 0 +P 0 +q g -∆T -9335,61 -8979,92 1037,54 -308,10 -0,164<br />

5 q 0 +P 0 +q g +q -6514,83 -6266,61 522,17 -137,03 -0,076<br />

6 q 0 +P 0 +q g +q+∆T -7384,35<br />

-7103,01<br />

222,87 -60,63 -0,033<br />

7 q 0 +P 0 +q g +q-∆T -5572,84 -5360,51 828,37 -209,49 -0,117<br />

0 5 10 15 20 25 30 35 40<br />

-400.0<br />

Momentos Fletores (kN.m)<br />

-200.0<br />

0.0<br />

200.0<br />

400.0<br />

600.0<br />

800.0<br />

1000.0<br />

1200.0<br />

(m)<br />

Caso 1<br />

Caso 2<br />

Caso 3<br />

Caso 4<br />

Caso 5<br />

Caso 6<br />

Caso 7<br />

Figura 23 – Diagrama de momentos fletores.<br />

-0.200<br />

Deslocamento (m)<br />

-0.160<br />

-0.120<br />

-0.080<br />

-0.040<br />

0.000<br />

(m)<br />

0 10 20 30 40<br />

Figura <strong>24</strong> – Deslocamentos ao longo do vão.<br />

Caso 1<br />

Caso 2<br />

Caso 3<br />

Caso 4<br />

Caso 5<br />

Caso 6<br />

Caso 7<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


112<br />

Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />

6.6 Resultados da análise estrutural (a tempo infinito)<br />

A tempo infinito, serão repetidas as mesmas combinações de ações consideradas<br />

no item anterior, a menos do caso 1, que é uma situação transitória (pois logo após a<br />

protensão, assim que possível, é concretado o pavimento e executado o corrimão).<br />

Admitindo-se o coeficiente de fluência igual a 1,7 e o coeficiente de<br />

envelhecimento igual a 0,8, o resultado da análise para o caso 2 é mostrado na tabela 2.<br />

Tabela 2 – Esforços e deslocamentos finais para o caso 2.<br />

Caso 2 t )<br />

∆h = 1119,25 kN h f = -9039,23 kN<br />

∆h c = 2382,57 kN h cf = -7388,87 kN<br />

∆M(0) = 40,74 kN.m M f (0) = 783,00 kN.m<br />

∆M(L/2) = 137,67 kN.m M f (L/2) = -91,80 kN.m<br />

∆w(L/2) = -0,133 m w f (L/2) = -0,253 m<br />

Para avaliar o comportamento da estrutura após as perdas de protensão sob os<br />

demais carregamentos, é preciso fazer uma atualização de geometria, conforme sugerido<br />

por DEL ARCO & BENGOECHEA (1996). Nesse procedimento, o caso 2 torna-se<br />

referência para a continuação dos cálculos. Primeiramente, devem ser definidos novos<br />

valores de q 0 , H 0 , P 0 , da seguinte forma:<br />

q = q +<br />

( ∞<br />

0 0 ant<br />

qg<br />

H 0 = H0 ant<br />

+ P0ant<br />

+ h caso2 + ∆h<br />

caso2 = H0<br />

+ P0<br />

+ h f caso2<br />

P 0 = 0<br />

Assim:<br />

q 0 = 22 + 5 = 27 kN / m<br />

H 0 = 4400 + 13000 −10158,48<br />

+ 1119,25 = 4400 + 13000 − 9039,23 = 8360,77 kN<br />

P 0 = 0<br />

Agora, basta refazer os cálculos com as constantes acima, inserindo-se o<br />

carregamento desejado. Os resultados assim obtidos (tabela 3) devem ser somados com<br />

os valores do caso 2 (tabela 2) para se obter os resultados finais, mostrados na tabela 4.<br />

Devido à existência de momentos fletores, é preciso ressaltar que esse<br />

procedimento é aproximado.<br />

Tabela 3 – Resultado do acréscimo de carregamento.<br />

TEMPO t ∞<br />

Ações h h c M(0) M(L/2) w(L/2)<br />

(kN) (kN) (kN.m) (kN.m) (m)<br />

q 0 +∆T -1386,65 -1<strong>24</strong>3,78 -365,26 114,46 0,060<br />

q 0 -∆T 1587,96 14<strong>24</strong>,34 372,15 -101,52 -0,055<br />

q 0 +q 3993,10 3581,67 -477,34 118,34 0,067<br />

q 0 +q+∆T <strong>24</strong>64,90 2210,93 -848,27 223,15 0,123<br />

q 0 + q-∆T 5699,75 5112,48 -102,04 23,81 0,014<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />

113<br />

Tabela 4 – Resultados finais.<br />

TEMPO t ∞<br />

Caso h f h cf M f (0) M f (L/2) w f (L/2)<br />

(kN) (kN)<br />

(kN.m)<br />

(kN.m) (m)<br />

3 -10425,88 -8632,65 417,74 22,66 -0,193<br />

4 -7451,27 -5964,53 1155,15 -193,32 -0,308<br />

5 -5046,13 -3807,20 305,66 26,54 -0,186<br />

6 -6574,33 -5177,94 -65,27 131,35 -0,130<br />

7 -3339,48 -2276,39 680,96 -67,99 -0,239<br />

6.7 Considerações sobre os resultados da análise estrutural<br />

Conforme esperado, é na região dos apoios que aparecem os maiores esforços e<br />

portanto tal região merece atenção especial no projeto. Em geral, adota-se um ligeiro<br />

engrossamento da seção transversal nessa região. Devido à armação necessária, recorrese<br />

a concreto moldado no local. Dependendo da magnitude dos esforços, é possível<br />

ainda a utilização de elementos pré-moldados especiais, providos de furos por onde são<br />

colocadas barras de aço e que posteriormente são injetados com concreto. Também<br />

pode-se usar elementos pré-moldados de seção parcial, com posterior lançamento de<br />

concreto moldado no local.<br />

Os esforços que ocorrem no restante do vão, extraída a região dos apoios, não<br />

são significativos.<br />

6.8 Elementos pré-moldados<br />

Uma possível forma para os elementos pré-moldados é mostrada na figura 25.<br />

13<br />

10<br />

16 16 16<br />

10<br />

20<br />

30<br />

1515 40 55 15<br />

120 15 55 40 1515<br />

Figura 25 – Dimensões do elemento pré-moldado.<br />

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Apesar de pouco conhecida no Brasil, nota-se um crescente uso das passarelas<br />

pênseis em diversos países. Entre suas principais vantagens estão a estética bastante<br />

agradável, a rapidez e facilidade de montagem. Economicamente, a estrutura é<br />

competitiva, principalmente em duas situações:<br />

a) Uso de longos vãos: as fundações não representam uma parcela tão significativa em<br />

relação ao custo total da obra;<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


114<br />

Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />

b) Uso de estruturas de vãos múltiplos: considerando-se vãos, flechas e carregamentos<br />

iguais, a força horizontal corresponde apenas à de um vão, ou seja, o número de<br />

vãos pode ser aumentado tanto quanto se queira e a força horizontal continua a<br />

mesma. Conclui-se que o custo por metro quadrado de passarela diminui com o<br />

aumento no número de vãos.<br />

Caso as condições do subsolo sejam inadequadas, ainda é possível associar um<br />

arco de concreto à estrutura. Além de reduzir a flecha e as declividades, a grande<br />

vantagem aqui introduzida é a possibilidade de se utilizar uma escora ligando a<br />

extremidade do tabuleiro às fundações do arco. Dessa forma, a força horizontal nos<br />

cabos é balanceada contra a componente horizontal do arco (v. figura 26). Esta solução<br />

foi adotada na passarela sobre o rio Radbuza em Plzen, República Tcheca (v. figuras 26<br />

e 27).<br />

No que se refere ao comportamento estrutural, as regiões próximas aos apoios<br />

são aquelas que merecem maior atenção por parte do projetista. O uso de selas ou<br />

engastamento nos blocos de fundação são alternativas a se definir caso a caso.<br />

Atualmente, nota-se uma tendência para o uso do engastamento.<br />

33.0<br />

33.0<br />

33.0<br />

V<br />

H<br />

V<br />

H<br />

77.0<br />

Figura 26 - Passarela em Plzen – vista lateral. (STRASKY, 1999)<br />

Figura 27 - Passarela em Plzen – modelo arquitetônico. (STRASKY, 1999)<br />

Outra consideração de projeto é quanto ao grau de compressão que se deve<br />

deixar no meio do vão sob a pior combinação de ações a tempo infinito. Pode-se<br />

utilizar, para essa região, protensão completa ou mesmo protensão limitada. Na região<br />

dos apoios, adota-se protensão parcial, limitando-se a abertura de fissuras.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />

115<br />

Quanto à escolha da flecha, é possível mostrar que uma relação flecha/vão muito<br />

pequena pode se tornar inviável (FERREIRA, 2001). Relações flecha/vão inicial da<br />

ordem 1/40 são valores que conciliam o conforto dos pedestres e eficácia estrutural, haja<br />

visto que com o desenvolvimento da fluência do concreto a estrutura se torna mais<br />

abatida. O uso de relações flecha/vão inferiores a 1/50 implica em uma força de<br />

protensão muito elevada, tornando a estrutura mais onerosa e menos eficiente.<br />

As passarelas pênseis são bastante susceptíveis a ações dinâmicas devido a sua<br />

baixa rigidez a flexão, pequena massa, baixa freqüência natural e baixo amortecimento.<br />

Portanto, o comportamento dinâmico precisa ser verificado ainda em fase de projeto.<br />

De acordo com PIRNER & FISCHER (1998), experimentos recentes mostram<br />

que o comportamento dinâmico das passarelas é favorável. O perigo de vibrações<br />

devido ao vento pode ser evitado com procedimentos adequados de projeto, incluindo<br />

análise teórica e ensaios em túneis de vento. A passarela responde satisfatoriamente a<br />

ação de pedestres, desde que sua rigidez e seu amortecimento estejam dentro de limites<br />

pré-estabelecidos. A ação de vândalos, apesar de poder causar excesso de vibração, não<br />

danifica a estrutura.<br />

As passarelas pênseis são um exemplo nítido da conveniente associação entre<br />

cabos e concreto pré-moldado, tirando proveito das qualidades de ambos os materiais.<br />

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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>


ISSN 1809-5860<br />

A INFLUÊNCIA DAS AÇÕES REPETIDAS NA<br />

ADERÊNCIA AÇO-CONCRETO<br />

Rejane Martins Fernandes 1 & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs 2<br />

Resumo<br />

Uma forma clássica de se analisar o efeito das ações cíclicas tem sido através do estudo da<br />

fadiga. Entretanto, nos últimos anos, tem surgido uma nova abordagem para o problema,<br />

mediante o estudo da degradação da ligação aço-concreto. Este trabalho descreve o<br />

comportamento da aderência sob ações monotônicas e repetidas através da investigação<br />

experimental, utilizando-se o modelo do ensaio de arrancamento (Pull-Out Test)<br />

padronizado pela RILEM-FIP-CEB. Foi analisada a influência de alguns parâmetros na<br />

interface aço-concreto, como diâmetro da armadura nervurada, tipo e amplitude de<br />

carregamento. Os resultados dos ensaios monotônicos foram comparados com as<br />

recomendações do CEB-FIP MC 1990, EUROCODE 2 e NB-1/78. A resistência da ligação<br />

dos modelos submetidos a ações repetidas foi comparada com os valores monotônicos de<br />

referência. Também foi realizada a análise numérica da aderência monotônica por meio de<br />

elementos finitos. Considerou-se a barra lisa, elementos de contato entre o aço e concreto e<br />

comportamento elástico-linear dos materiais; pois a ruína experimental da ligação ocorreu<br />

pelo corte do concreto entre as nervuras. A resistência monotônica experimental da ligação<br />

ficou compreendida entre condições boas e ruins de aderência. Os resultados calculados de<br />

acordo com normas foram muito diferentes em relação aos valores experimentais, e<br />

apresentaram uma dispersão muito grande. Em relação à força repetida, a degradação da<br />

aderência ocorreu pelo crescimento progressivo dos deslizamentos. Os modelos numéricos<br />

não representaram o comportamento experimental, devido à resposta força-deslizamento<br />

não-linear.<br />

Palavras-chave: concreto-armado; aderência; força monotônica; força repetida;<br />

arrancamento; elementos finitos.<br />

1 Aluna do doutorado do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, rejane@sc.usp.br<br />

2 Professora do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, analucia@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


118<br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Atualmente, com o crescente avanço das técnicas de construção e dos conhecimentos<br />

científicos ligados à Engenharia, têm sido projetadas estruturas cada vez mais esbeltas. Para<br />

fazer isso com segurança, é preciso conhecer melhor o comportamento do material, que no<br />

caso do concreto armado, é de grande complexidade. Uma das causas dessa complexidade é<br />

que, mesmo em serviço, as estruturas de concreto armado apresentam não-linearidade física,<br />

ou seja, a seção do elemento estrutural trabalha fissurada.<br />

No caso de ações cíclicas, o problema se torna ainda mais complexo, pois outros<br />

parâmetros estão envolvidos, como a amplitude de força ou deslizamento, velocidade de<br />

carregamento, e essas ações podem tornar a estrutura mais frágil ou incapaz de atender às<br />

condições de utilização para a qual foi destinada.<br />

Além da perda da rigidez associada a uma maior propagação de fissuras, as estruturas<br />

sob carregamento cíclico também estão sujeitas a uma diminuição da aderência entre o aço e<br />

o concreto.<br />

De forma geral, pode-se dizer que as conseqüências da atuação dessas ações na<br />

estrutura são: a ruptura da aderência, associada à fadiga da ligação, a qual é caracterizada por<br />

um maior deslocamento relativo entre a armadura e o concreto; e o aumento das deformações<br />

nos elementos estruturais, devido à diminuição da rigidez e da aderência.<br />

Considerando-se a primeira influência, será apresentada uma análise crítica do<br />

comportamento da aderência sob ação monotônica e repetida através da investigação<br />

experimental, por meio de ensaio de arrancamento padronizado pela RILEM-FIP-CEB<br />

(1973). Alguns pontos característicos serão analisados, como: a forma de ruptura, a<br />

capacidade última da ligação, a influência do nível de solicitação da força repetida e do<br />

deslizamento residual na ruptura da ligação, para dois diâmetros de armadura. Em relação à<br />

força monotônica, será realizada uma comparação dos resultados experimentais com as<br />

normas CEB-FIP MC 1990, EUROCODE 2 e NB-1/78 (NBR 6118).<br />

Uma modelagem numérica do ensaio monotônico foi feita por meio de elementos<br />

finitos no programa Ansys 5.5, procurando-se analisar o comportamento do elemento de<br />

contato colocado entre os dois materiais.<br />

2 ESTADO-DA-ARTE<br />

Pode-se definir aderência como sendo o mecanismo de transferência de tensões que<br />

existe na interface entre a barra de aço da armadura e o concreto que a envolve. Esse<br />

fenômeno é tão importante, que a própria definição de concreto armado se condiciona à sua<br />

existência. A forma usual de consideração dessa ligação tem sido por meio da definição de<br />

uma “tensão de aderência”, e sua distribuição ao longo da interface tem sido exaustivamente<br />

investigada, já que seu conhecimento é essencial para a compreensão do comportamento de<br />

ancoragens retas, dos ganchos e das emendas.<br />

A aderência está associada a uma combinação das parcelas relativas à adesão, ao<br />

atrito e à ancoragem mecânica. Esta divisão, entretanto, é meramente didática, não sendo<br />

possível determinar-se cada componente isoladamente, devido à complexidade dos<br />

fenômenos envolvidos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />

119<br />

A adesão ou aderência química surge devido às ligações físico-químicas na interface<br />

durante as reações de pega do cimento. Essa parcela, caracterizada por uma resistência de<br />

adesão R b1 como indicada na figura 1, pode ser constatada através da separação de um bloco<br />

concretado sobre uma chapa metálica. Neste caso, verifica-se somente a existência da ligação<br />

por adesão. Geralmente, considera-se que a adesão seja destruída pelas ações de serviço ou<br />

retração do concreto e que as tensões de aderência próximas da ruptura sejam mobilizadas<br />

principalmente pela engrenagem mecânica das nervuras.<br />

Figura 1 - Aderência por adesão<br />

A parcela relativa ao atrito é decorrente da ação das forças de atrito existentes entre os<br />

dois materiais. Estas forças dependem do coeficiente de atrito entre o aço e o concreto, o qual<br />

é função da rugosidade superficial da barra. A aderência por atrito, a qual se manifesta<br />

devido à pressão transversal do concreto sobre a armadura como, por exemplo, a de retração<br />

ou de confinamento, pode ser determinada através de ensaios de arrancamento, que<br />

consistem na aplicação de uma força de tração R b2 na barra, conforme a figura 2. Neste caso,<br />

além da contribuição relativa ao atrito, existe uma parcela de aderência por adesão.<br />

Figura 2 - Aderência por atrito<br />

A componente R b3 relativa à aderência mecânica na figura 3 está associada a forças<br />

concentradas de compressão que surgem perpendiculares às faces das nervuras no momento<br />

em que a barra é tracionada e tende a deslizar. Estas forças provocam a micro-fissuração e o<br />

micro-esmagamento do concreto na região das nervuras. Mesmo em barras lisas, existe o<br />

efeito da aderência mecânica, devido às irregularidades superficiais decorrentes do processo<br />

de laminação.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


120<br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

Figura 3 - Aderência mecânica<br />

A eficiência dessa ligação pode ser convenientemente quantificada através da relação<br />

tensão de aderência versus deslizamento, a qual representa a variação da tensão que surge na<br />

interface do aço com o concreto, relacionada ao deslocamento relativo entre a barra da<br />

armadura e o concreto envolvente. Valores máximos desse deslizamento podem ser usados<br />

para definir a destruição da aderência, geralmente associados a um certo estado de<br />

deformações e fissuração.<br />

Existem dois tipos de rupturas da aderência para corpos-de-prova sob carregamento<br />

monotônico: ruptura por arrancamento direto da barra e fendilhamento do cobrimento do<br />

concreto.<br />

A primeira ocorre quando existe um confinamento suficiente da armadura, permitindo<br />

o corte do concreto entre as nervuras. Esse modo de ruptura está relacionado principalmente<br />

à resistência do concreto e ao tipo e à geometria das nervuras.<br />

Os diferentes modos de ruptura da aderência entre o concreto confinado e não<br />

confinado podem ser ilustrados na figura 4. O confinamento devido às barras de aço diminui<br />

a propagação e a abertura das fissuras, proporcionando o arrancamento da barra.<br />

CONCRETO NÃO CONFINADO<br />

concreto<br />

tensão de<br />

aderência<br />

fissura de<br />

fendilhamento<br />

barra<br />

deslizamento<br />

(a)<br />

CONCRETO CONFINADO<br />

armadura de<br />

confinamento<br />

tensão de<br />

aderência<br />

concreto confinado<br />

concreto não confinado<br />

deslizamento<br />

(b)<br />

Figura 4 - Ruptura da aderência por: (a) fissuração por fendilhamento em concreto não-confinado; (b)<br />

arrancamento em concreto confinado<br />

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A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />

121<br />

O fendilhamento do cobrimento pode ser definido como o efeito da tração<br />

circunferencial ocasionado pelas componentes radiais das tensões de compressão que<br />

transferem o esforço do aço para o concreto. Esse tipo de ruptura ocorre quando o<br />

confinamento é insuficiente para garantir o arrancamento completo da barra. As tensões<br />

radiais de tração oriundas das tensões diagonais de compressão ocasionam um pressão no<br />

concreto em torno da barra, tornando essa região microfissurada e sujeita ao fendilhamento<br />

paralelo ao eixo da armadura. As fissuras de fendilhamento geradas pelas tensões<br />

circunferenciais de tração tendem a se propagar em direção às bordas, resultando na perda do<br />

cobrimento e da aderência. O número de barras e sua configuração ao longo do elemento são<br />

os principais fatores que influenciam a orientação dessas fissuras.<br />

No caso de ação cíclica, o modo de ruptura devido ao carregamento com um número<br />

de ciclos relativamente pequeno (low-cycle) é muito semelhante ao do carregamento<br />

monotônico. Já para o caso de carregamento com um número de ciclos elevado (high-cycle),<br />

pode ocorrer ruína similar; entretanto, deve-se considerar também a possibilidade de ruptura<br />

por fadiga do aço e do concreto.<br />

O comportamento da aderência é fortemente afetado pelas forças às quais a peça está<br />

submetida.<br />

Existem dois tipos de carregamento nas estruturas: o estático, que atua<br />

permanentemente na estrutura, e o dinâmico, onde o seu tempo de atuação na estrutura varia.<br />

Em relação ao carregamento estático, existe o de longa duração, e o de curta duração ou<br />

monotônico, caracterizado por um parâmetro crescente, como deslocamento ou força. Dentro<br />

dos vários tipos de ações dinâmicas, estão situadas as ações cíclicas, caracterizadas por uma<br />

determinada amplitude de deslizamento ou tensão. As principais diferenças entre as ações<br />

cíclicas e monotônicas sob o ponto de vista da aderência são que nas cíclicas a adesão é<br />

perdida após o primeiro ciclo e a componente de atrito decresce com os ciclos.<br />

As ações cíclicas podem ser classificadas de acordo com o número de ciclos e com<br />

tipo de tensão aplicada.<br />

Na primeira classificação, os elementos estruturais podem estar submetidos a um<br />

número relativamente baixo de ciclos (low-cycle) com carregamento elevado ao nível do<br />

estado limite último, característico, por exemplo de terremotos ou vento, ou a um grande<br />

número de ciclos (high-cycle), sob nível de carregamento de serviço e cuja ação resulta na<br />

fadiga da estrutura. Para esta última categoria, podemos citar o exemplo das pontes,<br />

estruturas offshore e estruturas que sustentam máquinas.<br />

De acordo com o tipo de tensão aplicada, o carregamento cíclico pode ser repetido ou<br />

unidirecional (caso típico de carregamento de fadiga), ou alternado (característico de sismos).<br />

Uma das principais características do carregamento cíclico é a deterioração<br />

progressiva da aderência que pode ser observada como um incremento no deslizamento.<br />

Devido a este processo de dano na ligação aço-concreto, a estrutura pode atingir a ruptura<br />

com níveis de tensão mais baixos que a tensão última monotônica.<br />

3 INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL DA ADERÊNCIA<br />

A investigação experimental do comportamento da aderência foi feita por ensaios de<br />

arrancamento padronizados pela RILEM-FIP-CEB (1973) com adaptação do modelo cúbico<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


122<br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

Carregamento Repetido<br />

Número do carregamento<br />

Série<br />

padrão para um modelo cilíndrico, o qual apresenta um melhor comportamento.<br />

A influência de alguns parâmetros no comportamento da ligação foi analisada através<br />

dos ensaios, como: Diâmetro da armadura (φ = 10.0 mm e φ = 20.0 mm); tipo de<br />

carregamento (monotônico e repetido); amplitude do carregamento repetido (τ máx ).<br />

Os modelos estudados foram denominados de PT (Pull-Out Test) acompanhados por<br />

dois números, a letra M (monotônico) ou R (repetido), os quais indicam a série, o número e o<br />

tipo do carregamento, respectivamente, como o exemplo:<br />

PT10-1R<br />

A primeira série (número 10) constituiu ensaios para armadura de 10 mm e a segunda<br />

(número 20) para armadura de 20 mm. O número do carregamento pode ser 1 a 4 no caso de<br />

força repetida, conforme a tabela 1. Alguns modelos das séries foram ensaiados em duas<br />

amostras (a e b), de forma a se obter uma média dos resultados.<br />

Para a moldagem dos protótipos, utilizou-se barra nervurada tipo CA-50A e concreto<br />

de resistência média de 30 MPa aos 28 dias para o corpo-de-prova cilíndrico 10 cm x 20 cm.<br />

Nas tabelas 1 e 2, são apresentadas as características dos modelos e dos materiais utilizados<br />

no concreto, respectivamente. O consumo dos materiais utilizados na confecção do concreto<br />

com o respectivo traço em massa é apresentado na tabela 3.<br />

Tabela 1 - Características gerais dos modelos<br />

Modelo<br />

φ<br />

(mm)<br />

Número do<br />

carregament<br />

o<br />

Tipo de<br />

carregament<br />

o<br />

Número<br />

de ciclos<br />

Amplitude de<br />

carregamento<br />

PT10-Ma 10 ⎯ Monotônico ⎯ ⎯<br />

PT10-Mb 10 ⎯ Monotônico ⎯ ⎯<br />

PT10-1Ra 10 1 Repetido 30 60%τ bu<br />

PT10-1Rb 10 1 Repetido 30 60%τ bu<br />

PT10-2Ra 10 2 Repetido 30 80%τ bu<br />

PT10-2Rb 10 2 Repetido 30 80%τ bu<br />

PT20-Ma 20 ⎯ Monotônico ⎯ ⎯<br />

PT20-Mb 20 ⎯ Monotônico ⎯ ⎯<br />

PT20-1R 20 1 Repetido 30 60%τ bu<br />

PT20-2R 20 2 Repetido 30 80%τ bu<br />

PT20-3R 20 3 Repetido 130 80%τ bu<br />

PT20-4R 20 4 Repetido 50 90%τ bu<br />

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A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />

123<br />

Tabela 2 - Características dos materiais<br />

utilizados no concreto<br />

Material<br />

Areia fina<br />

Brita<br />

Cimento<br />

Características<br />

Módulo de finura: M.F. = 2,14<br />

Massa unitária: 1,497 g/cm 3<br />

Massa específica: 2,584 g/cm 3<br />

Módulo de finura: M.F. = 7,54<br />

Massa unitária: 1,388 g/cm 3<br />

Massa específica: 2,963 g/cm 3<br />

CPII F-32 ITAÚ<br />

Massa específica: 3,1 g/cm 3<br />

Tabela 3 - Consumo dos materiais<br />

utilizados na confecção do concreto<br />

Material<br />

Cimento CP II F-32<br />

Areia<br />

Brita<br />

Água<br />

Consumo por<br />

m 3 de concreto<br />

392 kg<br />

902 kg<br />

862 kg<br />

227 kg<br />

Traço em massa: 1:2,3:2,2:0,58<br />

O detalhe da fôrma do modelo cilíndrico adaptado do ensaio padrão de arrancamento<br />

segundo a RILEM-FIP-CEB (1973) pode ser visualizado na figura 5. Para evitar a influência<br />

das tensões de compressão ocasionadas pela placa de apoio, foi colocada uma mangueira de<br />

plástico no trecho não aderente e retirada durante a desfôrma do modelo. O sarrafo fixado no<br />

gabarito teve a finalidade de servir como um balizador da barra de aço.<br />

Tubo de PVC<br />

Gabarito de madeira<br />

com furo central<br />

Sarrafo de madeira<br />

com furo central<br />

A<br />

A<br />

H = 10φ<br />

5 cm<br />

5 φ 5φ<br />

Sarrafo de madeira<br />

com furo central<br />

Tubo de PVC<br />

Armadura<br />

Mangueira de plástico<br />

Forro de madeira<br />

com furo central<br />

D armadura ( = φ )<br />

VISTA DE TOPO<br />

Forro de madeira<br />

D mangueira com furo central<br />

Tubo de PVC<br />

D = 10φ<br />

CORTE A-A<br />

D interno do tubo<br />

VISTA DA BASE<br />

Figura 5 - Detalhe da fôrma dos modelos<br />

Os ensaios de arrancamento foram executados na máquina universal INSTRON,<br />

ilustrada na figura 6, com controle de deslocamento, permitindo assim analisar o ramo<br />

descendente após o modelo atingir a ruptura da ligação.<br />

O dispositivo de ensaio constituía de uma placa apoiando o concreto com um furo<br />

central onde a barra é inserida, sendo esta presa à garra da máquina INSTRON. A placa de<br />

apoio é presa por quatro hastes, as quais são rosqueadas na máquina. A aplicação da força de<br />

tração foi feita através do movimento da placa e das hastes juntamente com o pistão. A<br />

instrumentação utilizada nos ensaios foi um transdutor de deslocamento no topo da barra (a 5<br />

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1<strong>24</strong><br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

cm da extremidade do bloco) com a base no concreto. A figura 7 ilustra o dispositivo de<br />

ensaio e a instrumentação utilizada.<br />

Figura 7 - Detalhe do dispositivo e da instrumentação<br />

do ensaio<br />

Figura 6 - Máquina INSTRON<br />

Antes da realização dos ensaios, foi feita a aplicação de uma força de<br />

aproximadamente 10% da força última, com o objetivo de verificar o funcionamento dos<br />

instrumentos. Os ensaios da série 10 foram realizados com velocidade de deslocamento do<br />

pistão de 0,01 mm/s e os da série 20 com 0,02 mm/s, registrando-se os valores medidos<br />

discretamente em pequenos intervalos de tempo.<br />

Existem duas formas de execução do ensaio de arrancamento sob ação repetida: em<br />

uma, aplica-se a amplitude de força até o arrancamento total da barra; na outra, aplica-se um<br />

determinado número de ciclos e a partir daí, leva-se a armadura à ruptura monotônica. Como<br />

um dos objetivos desse trabalho é avaliar a redução da tensão última de aderência e devido ao<br />

tempo de ensaio relativamente grande para o arrancamento total da barra, optou-se pela<br />

segunda opção.<br />

4 ANÁLISE NUMÉRICA DA ADERÊNCIA<br />

Os problemas de contato envolvem não-linearidade física e geométrica, apresentando,<br />

portanto, algumas dificuldades para a sua resolução. Dependendo do carregamento, material,<br />

condições de contorno e outros fatores, determinadas regiões do modelo podem entrar ou sair<br />

do contato bruscamente. Além disso, a maioria desses problemas precisa considerar o atrito,<br />

o qual é calculado de acordo com algumas regras e modelos, todos não-lineares.<br />

A análise teórica da aderência monotônica foi realizada por meio de elementos finitos<br />

no programa Ansys 5.5. Para a escolha dos elementos de contato a serem utilizados, avaliouse<br />

a forma de ruptura da aderência. De acordo com os resultados experimentais, a destruição<br />

da ligação aço-concreto não ocorre no contato entre os dois materiais, mas sim pela ruptura<br />

do concreto ao cisalhamento entre as nervuras, como indica a figura 8. Portanto, na<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />

125<br />

simulação numérica, considerou-se barra lisa, comportamento elástico-linear dos dois<br />

materiais e elementos de contato na superfície de interface.<br />

Os elementos de contato superfície-superfície utilizados adotam o modelo de atrito de<br />

Coulomb, visualizado na figura 9, onde duas superfícies inicialmente em contato irão deslizar<br />

uma em relação à outra a partir do momento em que uma certa tensão cisalhante for atingida.<br />

A tensão cisalhante equivalente τ é definida como uma parcela da pressão de contato p, onde<br />

a constante de relação entre esses dois fatores é o coeficiente de atrito µ.<br />

Foram realizados dois tipos de modelagens: uma bidimensional no estado plano de<br />

tensões (PT10-2D), e outra tridimensional (PT10-3D). O modelo analisado foi o da série 10.<br />

τ<br />

Ruptura ao cisalhamento do<br />

concreto entre as nervuras<br />

Deslizamento entre<br />

superfícies<br />

τ máx<br />

µ<br />

F<br />

ar<br />

Superfícies<br />

em contato<br />

Figura 8 – Ruptura ao cisalhamento do concreto<br />

entre as nervuras<br />

Figura 9 - Modelo de atrito para o contato<br />

superfície-superfície<br />

p<br />

Os resultados obtidos na investigação experimental foram utilizados como parâmetros<br />

de avaliação e calibragem do modelo numérico.<br />

Os parâmetros do material utilizados relativos à série 10, são listados a seguir:<br />

• Concreto: • Aço: • Contato:<br />

E cm = 25678 MPa; E sm = 207167 MPa;<br />

µ = 0,4<br />

ν c = 0,2;<br />

ν s = 0,3;<br />

No modelo numérico, aplicou-se a força última experimental média (F u ) da série 10<br />

de 19,46 kN uniformemente distribuída na base dos elementos de concreto em 20<br />

incrementos de carregamento.<br />

Para a calibragem dos resultados experimentais, foi necessário ajustar a constante real<br />

FKN, a qual define a rigidez de contato, de modo que o deslizamento último (s u ) fosse 1,25<br />

mm. A constante real TAUMAX foi considerada igual ao valor da resistência de aderência<br />

convencional τ 1R = 4,23 MPa.<br />

Na figura 10, são ilustradas a discretização e as condições de contorno adotadas para<br />

o modelo PT10-2D, onde a armadura permanece fixa em uma extremidade representando a<br />

garra da máquina, e a força é aplicada uniformemente distribuída na base do concreto,<br />

representando a placa de apoio que a empurra no ensaio. Para esse modelo, foram colocadas<br />

restrições horizontais nos nós laterais do concreto, com o objetivo de evitar a rotação do<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


126<br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

concreto. Foram utilizados os seguintes elementos em PT10-2D: PLANE42 2-D Structural<br />

Solid, para o aço e o concreto; CONTA171 2-D Surface-to-Surface Contact Element para a<br />

área de contato do concreto; e TARGE169 3-D Target Segment para a área de contato do aço.<br />

Para a construção do modelo PT10-3D, procurou-se adotar uma discretização que não<br />

interferisse na convergência e não tivesse um custo computacional muito grande. As<br />

condições de contorno foram semelhantes à da modelagem bidimensional. A figura 11 ilustra<br />

o modelo PT10-3D, para o qual foram utilizados quatros tipos de elementos finitos:<br />

SOLID65 3-D Reinforced Concrete Solid para representar o concreto; SOLID45 3-D<br />

Structural Solid para representar a barra de aço; CONTA173 3-D Surface-to-Surface Contact<br />

Element para representar a área de contato do concreto; TARGE170 3-D Target Segment<br />

para representar a área de contato do aço.<br />

Vista de topo<br />

Figura 10 – Modelo PT10-2D<br />

Vista frontal<br />

Figura 11 – Modelo PT10-3D<br />

5 RESULTADOS EXPERIMENTAIS<br />

5.1 Ruptura dos modelos<br />

Todos os modelos ensaiados apresentaram ruptura por arrancamento da barra, com<br />

degradação do concreto entre as nervuras, conforme indica a figura 12. Como já foi<br />

mencionado anteriormente, este tipo de ruptura está relacionado com o confinamento da<br />

barra ocasionado pelo concreto, evitando assim, o fendilhamento do cobrimento. Na figura<br />

13, pode ser visualizado o corte de um dos modelos, ilustrando o orifício perfeito causado<br />

pelo arrancamento da barra. Pode ser observado que não ocorreu nenhuma fissura de<br />

fendilhamento, comprovando que todos os modelos estavam sob a ação do confinamento do<br />

concreto.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />

127<br />

Figura 12 - Ruptura por<br />

arrancamento de um modelo<br />

Figura 13 - Corte de um modelo<br />

5.2 Caracterização do concreto e do aço<br />

Para avaliação dos resultados, foi necessário antes se fazer a caracterização do<br />

concreto e do aço, cujas informações constam nas tabelas 4 e 5, respectivamente.<br />

Tabela 4 - Caracterização do concreto<br />

Modelos slump (cm) f c (MPa) f cm (MPa) f t (MPa) f tm (MPa) E c<br />

(MPa)<br />

Série 10 15,7 30,52 27,47 2,51 2,13 25678<br />

Série 20 19,5 31,10 27,99 3,21 2,73 30447<br />

Diâmetro<br />

Tabela 5 - Caracterização do aço<br />

E s<br />

(MPa)<br />

f y (MPa)<br />

σ t (MPa)<br />

φ = 10 mm 207167 696 852<br />

φ = 20 mm 206533 621 727<br />

O comportamento tensão-deformação do concreto e do aço é ilustrado nas figuras 14<br />

e 15, respectivamente. O diagrama relativo ao aço é aproximado, considerando-se o patamar<br />

de escoamento horizontal, apesar de no ensaio, este ter apresentado uma inclinação<br />

desprezível.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


128<br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

-35<br />

-30<br />

-25<br />

Tensão (MPa)<br />

-20<br />

-15<br />

Ec = 30447 MPa<br />

Ec = 25678 MPa<br />

Série 10<br />

Série 20<br />

-10<br />

-5<br />

0<br />

0<br />

-0,0005<br />

-0,001<br />

-0,0015<br />

-0,002<br />

Deformação<br />

Figura 14 - Diagrama tensão-deformação do concreto<br />

-0,0025<br />

800<br />

700<br />

Es =207167 ; fy = 696 MPa<br />

Tensão (MPa)<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

Es =206533 ; fy = 621 MPa<br />

Barra - 10 mm<br />

Barra - 20 mm<br />

200<br />

100<br />

0<br />

0 0,002 0,004 0,006 0,008 0,01 0,012<br />

Deformação<br />

Figura 15 - Diagrama tensão-deformação do aço<br />

A tensão de aderência foi calculada como um valor médio, considerando-se a<br />

distribuição uniforme da força aplicada ao longo da área de contato aço-concreto, a qual é<br />

função do diâmetro nominal da armadura e do comprimento do trecho aderente.<br />

O comportamento da ligação dos modelos monotônicos das séries 10 e 20, ilustrado<br />

na figuras 16 e 17, respectivamente, constitui de três fases:<br />

• 0 ≤ s ≤ 0,1mm<br />

: aderência inicial devido à adesão, até a ruptura convencional da ligação<br />

(τ 1R ), correspondente ao deslizamento de 0,1 mm. Neste trecho elástico linear, as<br />

deformações dos dois materiais são admitidas iguais e não há formação de fissuras;<br />

• 0,1mm<br />

≤ s ≤ su<br />

: mobilização da aderência por atrito e a mecânica, até atingir a ruptura<br />

efetiva da ligação (τ bu ). As fissuras “cisalhantes” formadas pelo esmagamento do concreto<br />

próximo às nervuras se propagam ao longo de um comprimento considerável ocasionando o<br />

corte parcial do concreto entre as nervuras.<br />

• su<br />

≤ s ≤ s<br />

lim<br />

: processo desencadeado pelo atrito concreto-concreto e travamento entre o<br />

concreto e as nervuras, que só foi possível devido às condições de ensaio de deslocamento<br />

controlado. Nesta fase, ocorre um decréscimo brusco da curva, a qual finaliza no<br />

deslizamento limite medido pelo transdutor de deslocamento (s lim ), caracterizando o<br />

arrancamento total da barra. A tensão residual, quando a curva se torna praticamente<br />

horizontal, não foi possível de ser capturada, devido ao término da medição do transdutor de<br />

deslocamento.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />

129<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

16<br />

15<br />

14<br />

13<br />

12<br />

11<br />

10<br />

9<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

τbu = 13,07 MPa<br />

su = 1,27 mm<br />

τbu = 11,71 MPa<br />

su = 1,22 mm<br />

τ1R = 3,50 MPa<br />

τ1R = 4,96 MPa<br />

τ1R = 4,23 MPa<br />

Modelos PT10-Ma e PT10-Mb<br />

τbu = 12,39 MPa<br />

su = 1,25 mm<br />

PT10-Ma<br />

PT10-Mb<br />

Média experimental<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />

Deslizamento (mm)<br />

Figura 16 - Curva monotônica tensão de aderência-deslizamento dos modelos PT10-Ma e PT10-Mb<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

14<br />

13<br />

12<br />

11<br />

10<br />

9<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

τbu = 10,47 MPa<br />

su = 1,39 mm<br />

τbu = 8,94 MPa<br />

su = 1,32 mm<br />

τ1R = 2,73 MPa<br />

τ1R = 3,12 MPa<br />

τ1R = 2,93 MPa<br />

Modelos PT20-Ma e PT20-Mb<br />

τbu = 9,70 MPa<br />

su = 1,36 mm<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />

Deslizamento (mm)<br />

PT20-Ma<br />

PT20-Mb<br />

Média experimental<br />

Figura 17 - Curva monotônica tensão de aderência-deslizamento dos modelos PT20-Ma e PT20-Mb<br />

Essas três fases do processo da aderência podem ser melhor visualizadas na figura 18.<br />

τ<br />

τ bu<br />

τ 1R<br />

τr<br />

O<br />

0,1mm s u s lim<br />

s<br />

1ª fase 2ª fase 3ª fase<br />

Figura 18 - Digrama representativo das fases do comportamento da aderência dos ensaios<br />

monotônicos<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


130<br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

Observando-se as duas curvas médias da figura 19, os modelos da série 10<br />

apresentaram um melhor comportamento de aderência que os modelos da série 20, tanto em<br />

relação à resistência convencional da ligação (τ 1R ) como em relação à tensão última de<br />

aderência (τ bu ), apesar da força de arrancamento ter sido menor. Já em relação ao ramo<br />

descendente da curva, os modelos da série 20 tiveram um comportamento melhor através da<br />

inclinação menor da curva, sendo, portanto, mais dúcteis.<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

Série 10 e 20<br />

14<br />

13<br />

τbu = 12,39 MPa<br />

12<br />

su = 1,25 mm<br />

11<br />

10<br />

Série 10<br />

9<br />

τbu = 9,70 MPa<br />

Série 20<br />

8 su = 1,36 mm<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

τ1R = 4,23 MPa<br />

3<br />

τ1R = 2,93 MPa<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />

Deslizamento (mm)<br />

Figura 19 - Curva média dos modelos da série 10 e 20<br />

5.3 Comparação do comportamento experimental da aderência monotônica com as<br />

recomendações das normas<br />

Diante da falta de uma relação tensão de aderência versus deslizamento, com exceção<br />

do CEB-FIP MC 1990, foi calculada para as outras normas apenas a resistência de aderência<br />

equivalente ao deslizamento de 0,1 mm. Os valores foram calculados para condições de<br />

aderência boas (situação 1) e ruins (situação 2).<br />

A resistência convencional de ligação (τ 1R ), a resistência de aderência efetiva (τ bu )<br />

com seu respectivo deslizamento (s u ), relativas aos ensaios e aos valores das normas para as<br />

situações 1 e 2 são mostrados na figura 20. Nas figuras 21 e 22, é apresentada a comparação<br />

do comportamento global do ensaio com a curva do CEB-FIP MC90.<br />

Da figura 20, podem ser observados os seguintes fatos:<br />

• Em relação à resistência de aderência convencional (τ 1R ):<br />

Na série 10, a NB-1/78 se mostrou a favor da segurança, nas situações 1 e 2. Já o<br />

CEB-FIP MC90 e o EUROCODE 2 ficaram contra a segurança na situação 1 e a favor da<br />

segurança na situação 2.<br />

Já para a série 20, apenas o CEB-FIP MC90 e a NB-1/78 se apresentaram a favor da<br />

segurança na situação 2.<br />

• Em relação à resistência de aderência efetiva (τ bu ):<br />

O CEB-FIP MC90, na série 10, apresentou uma tensão última de aderência bastante<br />

próxima do valor experimental na situação 1, com uma diferença de 5,73% contra a<br />

segurança. Já na situação 2, o CEB-FIP MC90 se mostrou bastante conservador em relação<br />

ao resultado experimental, com uma diferença de 43,17%.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />

131<br />

Na série 20, as diferenças entre o CEB-FIP MC90 nas situações 1 e 2 e os valores<br />

experimentais foram bem parecidas, sendo um resultado a favor da segurança e outro contra.<br />

• Em relação ao deslizamento último (s u ):<br />

Como já foi comprovado em resultados experimentais anteriores, o deslizamento<br />

último é maior que 1 mm, proposto pelo CEB-FIP MC90. Entretanto, como a ordem de<br />

grandeza desse deslocamento relativo é muito pequena, não se pode afirmar que o ensaio teve<br />

um comportamento mais dúctil que o do CEB-FIP MC90.<br />

Valores de τ1R - Série 10<br />

Valores de τ1R - Série 20<br />

6<br />

7<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

5,22<br />

4,79<br />

4,23 4,23<br />

3,82<br />

Experimental<br />

CEB-FIP MC90<br />

EUROCODE 2<br />

NB-1/78<br />

3,35<br />

2,61 2,55<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

6,14<br />

5,27<br />

3,87<br />

2,93 2,93<br />

Experimental<br />

CEB-FIP MC90<br />

EUROCODE 2<br />

NB-1/78<br />

4,30<br />

2,63 2,58<br />

1<br />

1<br />

0<br />

Situação 1 Situação 2<br />

(a)<br />

0<br />

Situação 1 Situação 2<br />

(b)<br />

Valores de τbu<br />

Valores de su<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

12,39<br />

Experimental<br />

13,1<br />

CEB-FIP MC90 (sit. 1) 13,23<br />

CEB-FIP MC90 (sit. 2)<br />

9,7<br />

6,55 6,61<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

1,6<br />

1,4<br />

1,2<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

1,25<br />

Experimental<br />

1,36<br />

CEB-FIP MC90<br />

1 1<br />

2<br />

0,2<br />

0<br />

Série 10 Série 20<br />

(c)<br />

0<br />

Série 10 Série 20<br />

(d)<br />

Figura 20 – Comparação dos valores de τ 1R , τ bu e s u experimentais com os propostos pelas normas<br />

Do comportamento global na figura 21, pode-se observar, na série 10, que a curva<br />

ascendente média experimental está bem próxima da proposta do CEB-FIP MC90 na situação<br />

1; entretanto, o trecho pós-ruptura da aderência das duas curvas estão bastante distantes,<br />

devido à presença de um patamar de escoamento, inclinação da segunda parte e tensão<br />

residual maiores na curva do CEB-FIP MC90. O diagrama experimental ficou bastante acima<br />

ao do CEB-FIP MC90 na situação 2. Na série 20 ilustrada na figura 22, a curva experimental<br />

está praticamente eqüidistante dos diagramas do CEB-FIP MC90 nas situações 1 e 2.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


132<br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

Tensão de aderência (Mpa) .<br />

16<br />

15<br />

14<br />

13<br />

12<br />

11<br />

10<br />

Modelos PT10-Ma e PT10-Mb com o CEB-FIP MC90<br />

9<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

Série 10<br />

CEB-FIP MC90 (sit. 1)<br />

CEB-FIP MC90 (sit. 2)<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />

Deslizamento (mm)<br />

Figura 21 - Comparação da série 10 com o CEB-FIP MC90<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

Modelos PT20-Ma e PT20-Mb com o CEB-FIP MC90<br />

14<br />

13<br />

Série 20<br />

12<br />

CEB-FIP MC90 (sit. 1)<br />

11<br />

CEB-FIP MC90 (sit. 2)<br />

10<br />

9<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />

Deslizamento (mm)<br />

Figura 22 - Comparação da série 20 com o CEB-FIP MC90<br />

5.4 Comportamento da aderência sob carregamento repetido<br />

O comportamento da aderência dos modelos PT10-2Ra e PT10-3R é apresentado nas<br />

figuras 23 e <strong>24</strong>. Alguns aspectos característicos foram observados durante a aplicação da<br />

ação repetida.<br />

Uma diferença crucial entre a aderência monotônica e cíclica é que a adesão (τ 1R ) é<br />

perdida logo no primeiro ciclo. Esse fato é comprovado nas figura 23(a) a <strong>24</strong>(a), onde a<br />

tensão máxima no meio ciclo inicial é superior à resistência de aderência equivalente ao<br />

deslizamento de 0,1 mm. Isso só ocorre devido aos valores relativamente altos das tensões<br />

cíclicas que geralmente atuam na estrutura. Para solicitações muito baixas, portanto, o<br />

concreto permanece perfeitamente ligado à barra.<br />

A fadiga da aderência pode ser dividida em três fases: a velocidade de deslizamento<br />

cresce mais rapidamente nos primeiros ciclos; depois, torna-se constante, com a tendência de<br />

estabilização do deslizamento em um valor final; após ser atingido o deslizamento<br />

monotônico último, com alguns ciclos adicionais, a velocidade torna-se crescente novamente,<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />

133<br />

induzindo à ruptura por arrancamento da barra. Essa última fase, não pôde ser observada nos<br />

modelos, devido ao tempo de ensaio relativamente grande. As duas primeiras fases podem<br />

ser vistas nas figuras 23(a e b) e <strong>24</strong>(a e b), onde nas últimas, ilustra-se a redução da tangente<br />

à curva nos primeiros ciclos e depois tornando-se constante. A primeira fase nos ensaios<br />

termina em aproximadamente 10 ciclos, onde a velocidade do deslizamento é muito grande; a<br />

partir daí, o acréscimo diminui, tornando-se constante depois. Após o deslizamento<br />

monotônico último s u , como foi observado no modelo PT20-3R, a velocidade ainda<br />

permanece constante com o decorrer de um número de ciclos razoável sem atingir a ruptura.<br />

Portanto, s u pode ser considerado como um critério seguro para análise da ruptura por fadiga<br />

da aderência.<br />

Uma vez atingido um determinado deslizamento, este torna-se quase que totalmente<br />

residual; ou seja, a rigidez ou a inclinação da tangente à curva é muito elevada. Pelas figuras<br />

23(d) e <strong>24</strong>(d) que indicam a oscilação do deslizamento a cada meio ciclo, fica comprovada a<br />

recuperação insignificante do deslizamento na tensão máxima quando do descarregamento.<br />

No momento do recarregamento, o comportamento da aderência assume a mesma rigidez do<br />

descarregamento anterior até um nível de tensão um pouco abaixo da máxima (τ d-r ); a partir<br />

daí, a rigidez começa a diminuir com o aumento do deslizamento até o topo. Quando a<br />

estrutura é descarregada, a rigidez cresce até a tensão (τ d-r ), depois tornando-se constante e<br />

igual ao do ciclo anterior.<br />

Na tabela 6, são apresentados todos os resultados dos modelos, para efeitos de<br />

comparação.<br />

Modelo<br />

F máx<br />

(kN)<br />

Tabela 6 – Valores experimentais dos modelos<br />

τ máx (MPa) n τ 1R (MPa) s r<br />

(mm)<br />

τ bu (MPa) s u (mm)<br />

PT10-M - - - 4,23 - 12,39 1,25<br />

PT10-1Ra 12 8 30 2,20 0,98 9,57 1,18<br />

PT10-1Rb 12 8 30 2,28 0,94 9,62 1,26<br />

PT10-2Ra 16 10 30 4,61 0,67 13,02 0,91<br />

PT10-2Rb 16 10 30 3,01 1,00 12,19 1,16<br />

PT20-M - - - 2,93 - 9,70 1,36<br />

PT20-1R 37 6 30 2,44 0,60 9,73 1,40<br />

PT20-2R 49 8 30 4,22 0,94 9,96 1,15<br />

PT20-3R 49 8 130 3,01 1,45 9,75 1,57<br />

PT20-4R 55 9 50 2,31 2,05 9,73 2,23<br />

Os modelos tiveram o comportamento global da aderência semelhante, com algumas<br />

diferenças nos valores de τ 1R e s r .<br />

Apesar da resistência média τ 1R de PT10-1Ra e PT-101Rb ter sido menor que a<br />

correspondente a PT10-2Ra e PT10-2Rb, da ordem de aproximadamente 0,6 vezes, essa não<br />

foi a razão para a redução de τ bu dos primeiros em relação aos segundos, pois para os<br />

modelos da série 20, a variação de τ 1R foi grande também e os valores de τ bu foram muito<br />

próximos. Quando as barras de PT10-1Ra e PT-101Rb foram arrancadas, pôde-se observar<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


134<br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

pequenos buracos no concreto entre as nervuras ocasionadas por falha da vibração,<br />

justificando, portanto, essa redução na aderência. Esses modelos, portanto, não foram<br />

incluídos para as análises dos resultados.<br />

Modelo PT10-2Ra<br />

12<br />

11<br />

10<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

9<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7<br />

Deslizamento (mm)<br />

(a)<br />

0,7<br />

0,6<br />

Deslizamento (mm) .<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

0 5 10 15 20 25 30<br />

Número de ciclos<br />

0,7<br />

(b)<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

10<br />

0<br />

0 30<br />

Número de ciclos<br />

(c)<br />

Deslizamento (mm) .<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0 5 10 15 20 25 30<br />

Número de ciclos<br />

(d)<br />

F máx ≅ 16 kN; τ máx ≅ 10 MPa; n = 30; τ 1R = 4,61 MPa; s r = 0,67 mm<br />

Figura 23 - Modelo PT10-2Ra: (a) Curva tensão de aderência-deslizamento; (b) Curva deslizamentonúmero<br />

de ciclos; (c) História do carregamento; (d) Oscilação do deslizamento a cada meio ciclo;<br />

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A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />

135<br />

Modelo PT20-3R<br />

10<br />

9<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5<br />

Deslizamento (mm)<br />

(a)<br />

Deslizamento (mm) .<br />

1,5<br />

1,4<br />

1,3<br />

1,2<br />

1,1<br />

1<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130<br />

Número de ciclos<br />

(b)<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

8<br />

0<br />

0<br />

Número de ciclos<br />

(c)<br />

130<br />

Deslizamento (mm) .<br />

1,5<br />

1,4<br />

1,3<br />

1,2<br />

1,1<br />

1<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130<br />

Número de ciclos<br />

(d)<br />

F máx ≅ 49 kN; τ máx ≅ 8 MPa; n = 130; τ 1R = 3,01 MPa; s r = 1,45 mm<br />

Figura <strong>24</strong> - Modelo PT20-3R: (a) Curva tensão de aderência-deslizamento; (b) Curva deslizamentonúmero<br />

de ciclos; (c) História do carregamento; (d) Oscilação do deslizamento a cada meio ciclo;<br />

O carregamento monotônico dos modelos repetidos teve a mesma rigidez dos ciclos<br />

anteriores até um pouco antes da ruptura da ligação, apresentando uma pequena redução até a<br />

tensão última, com exceção de PT20-1R que, quando atingiu a curva monotônica,<br />

acompanhou-a até o final do ensaio. Esse modelo, portanto, teve uma diminuição maior na<br />

rigidez antes de alcançar a tensão última.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


136<br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

Fazendo-se uma comparação da ruptura monotônica de PT10-2Ra e PT10-2Rb com a<br />

média de PT10-Ma e PT10-Mb, nota-se que a aplicação de poucos ciclos da ordem de 80%<br />

da resistência última monotônica não interfere no comportamento último da ligação, pois os<br />

valores da tensão última de aderência dos modelos repetidos foram bem próximos aos<br />

referentes aos modelos monotônicos, como indica a figura 25.<br />

Para verificar se existia ou não a redução na resistência da ligação, na série 20,<br />

variou-se, então, a força em 3 níveis e o número de ciclos em 3. Comparando-se o modelo<br />

PT20-1R com o PT20-2R, percebe-se que o crescimento do nível de carregamento de 60%<br />

para 80% aumentou o deslizamento residual s r em 56%. A diferença de 100 ciclos entre<br />

PT20-3R e PT20-2R, aumentou s r em 54%. Com apenas 16 ciclos, o modelo PT20-4R<br />

atingiu o deslizamento residual do modelo PT20-3R, ou seja, com um acréscimo de 10% em<br />

relação à força de 80%, diminuiu a quantidade de ciclos de 130 para 16. Entretanto,<br />

independente da diferença entre o número de ciclos, a amplitude do carregamento e<br />

deslizamento residual atingido, a tensão última de aderência não foi reduzida, como indica a<br />

figura 26. Isso foi válido mesmo para a força máxima bem próxima da monotônica última<br />

(PT20-2R, PT20-3R e PT20-4R) e para deslizamentos residuais superiores ao deslizamento<br />

último monotônico s u (PT20-3R e PT20-4R).<br />

Após a ruptura da ligação, o ramo descendente da curva de todos os modelos ficou<br />

bem próximo do correspondente à curva monotônica de referência.<br />

Modelos PT10-1Ra, PT10-1Rb, PT10-2Ra, PT10-2Rb com média (PT10-Ma e PT10-Mb)<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

16<br />

15<br />

14<br />

PT10-1Ra<br />

13<br />

12<br />

PT10-1Rb<br />

11<br />

PT10-2Ra<br />

10<br />

PT10-2Rb<br />

9<br />

PT10-M (a e b)<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />

Deslizamento (mm)<br />

Figura 25 - Curva monotônica tensão de aderência-deslizamento dos modelos repetidos com a média<br />

dos modelos monotônicos de referência da Série 10<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />

137<br />

Modelos PT20-1R, PT20-2R, PT20-3R, PT20-4R com média (PT20-Ma e PT20-Mb)<br />

Tensão de aderência (MPa) .<br />

14<br />

13<br />

12<br />

11<br />

10<br />

9<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />

Deslizamento (mm)<br />

PT20-1R<br />

PT20-2R<br />

PT20-3R<br />

PT20-4R<br />

PT20-M (a e b)<br />

Figura 26 - Curva monotônica tensão de aderência-deslizamento dos modelos repetidos com a média<br />

dos modelos monotônicos de referência da Série 20<br />

Na figura 27, pode ser visualizado o resumo do comportamento da aderência dos<br />

ensaios, e com a continuação a partir de s r observada em resultados da literatura.<br />

τ<br />

τ máx<br />

τ 1R<br />

s<br />

O<br />

arrancamento<br />

1ª fase 2ª fase 3ª fase<br />

(a)<br />

τ<br />

τ bu<br />

bu<br />

bu<br />

s<br />

s r<br />

O<br />

1ª fase 2ª fase 3ª fase<br />

(b)<br />

n<br />

Figura 27 - Digrama representativo do comportamento da aderência dos ensaios repetidos<br />

O<br />

s r<br />

su<br />

s r<br />

(c)<br />

s<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


138<br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

6 RESULTADOS NUMÉRICOS DA ADERÊNCIA MONOTÔNICA<br />

6.1 Modelo PT10-2D<br />

Apesar das aproximações um pouco grosseiras desse modelo, alguns aspectos do<br />

comportamento do contato entre os dois materiais pôde ser observado. Em relação aos<br />

ensaios, foram feitas poucas comparações, como a deformada e a evolução dos deslizamentos<br />

com a força, devido à falta de outras medidas experimentais.<br />

A evolução dos deslocamentos com a força foi linear, como apresenta a figura 28,<br />

portanto, os elementos de contato não consideraram a adesão entre os dois materiais.<br />

22<br />

Média (PT10-Ma e PT10-Mb) e PT10-2D<br />

20<br />

18<br />

16<br />

PT10-M (a e b)<br />

PT10-2D<br />

Força (kN) .<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9<br />

Deslizamento (mm)<br />

Figura 28 - Curva força-deslizamento da média (PT10-Ma e PT10Mb) e PT10-2D<br />

A deformada da estrutura foi bastante semelhante a constatada experimentalmente,<br />

com uma pequena diferença na inclinação do concreto na região próxima à barra, como<br />

ilustra a figura 29.<br />

Figura 29 - Deformada - PT10-2D<br />

Figura 30 - Deslizamento - PT10-2D<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />

139<br />

Pela figura 30, pode-se constatar que o modelo apresentou uma diferença de 0,456<br />

mm entre o deslizamento da base e do topo da barra aderente, como espera-se teoricamente.<br />

Nos ensaios, essa diferença não pôde ser visualizada, devido os deslocamentos terem sido<br />

medidos do topo da barra em relação ao concreto.<br />

6.2 Modelo PT10-3D<br />

Apesar desse modelo aparentemente fornecer resultados mais próximos da realidade<br />

que o anterior, também não foi possível realizar muitas comparações pela escassez de outras<br />

medidas experimentais.<br />

Similarmente ao modelo PT10-2D, esse apresentou uma relação força-deslocamento<br />

linear, como ilustra a figura 31. Os elementos de contato utilizados, portanto, não<br />

consideraram a adesão e a pressão de confinamento na barra.<br />

22<br />

20<br />

18<br />

16<br />

PT10-M (a e b)<br />

PT10-3D<br />

Força (kN) .<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9<br />

Deslizamento (mm)<br />

Figura 31 - Curva força-deslizamento da média (PT10-Ma e PT10Mb) e PT10-3D<br />

Esse modelo representou melhor o ensaio, devido à consideração do seu<br />

comportamento tridimensional. Não foi necessário impor restrições radiais nos nós da face<br />

cilíndrica do concreto para evitar o giro do modelo, como indica a deformada na figura 32,<br />

semelhante à do protótipo experimental.<br />

Figura 32 - Deformada - PT10-3D<br />

Figura 33 - Deslizamento - PT10-3D<br />

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140<br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

Através da figura 33, percebe-se que o deslizamento não foi constante ao longo do<br />

contato, com uma variação de 1,28239 na base a 1,<strong>24</strong>561 no topo, considerada como a<br />

diferença entre os deslocamentos dos elementos CONTA173 e TARGE170. Essas variações<br />

no deslizamento não puderam ser medidas experimentalmente, impossibilitando a<br />

comparação.<br />

A modelagem numérica, apesar de não ter representado o ensaio corretamente, devido<br />

à sua relação linear força-deslizamento, serviram para uma análise primária do<br />

comportamento do contato no bloco de arrancamento. Modelos mais refinados, considerando<br />

as nervuras e a não linearidade dos materiais, poderão representar a verdadeira resposta da<br />

estrutura.<br />

7 CONCLUSÕES<br />

Todos os modelos ensaiados apresentaram o corte do concreto entre as nervuras,<br />

ocasionando a ruptura por arrancamento perfeito da armadura, típica de concreto confinado.<br />

Analisando-se os modelos monotônicos, foram observadas três fases no<br />

comportamento da interface aço-concreto. Na primeira, a qual corresponde à aderência<br />

química, os deslocamentos relativos são extremamente pequenos e as deformações dos dois<br />

materiais são admitidas iguais. Após a ruptura da adesão (τ 1R ), ocorre a mobilização da<br />

aderência por atrito e a engrenagem mecânica entre nervuras, equivalentes à segunda fase.<br />

Atingindo-se a ruptura efetiva da ligação (τ bu ), dá-se início à terceira fase, originada pelo<br />

atrito concreto-concreto e travamento entre o concreto e as nervuras. O ramo da curva tensão<br />

de aderência-deslizamento, o qual só é capturado em regime de deslocamento controlado,<br />

decresce bruscamente e torna-se horizontal até a ruptura total por arrancamento da barra.<br />

Devido ao término do curso do transdutor de deslocamento, entretanto, os ensaios foram<br />

finalizados, antes de alcançar a tensão residual. O aumento da força, após o início do<br />

deslizamento, é pequeno para as barras lisas, que não foram ensaiadas nesse trabalho, e muito<br />

maior para as barras nervuradas, da ordem de aproximadamente 3 vezes, devido à<br />

mobilização da aderência mecânica.<br />

Os modelos monotônicos da série 20 em relação aos da série 10 apresentaram um<br />

comportamento mais frágil da ligação, apesar da força última ter sido maior, e um trecho pósruptura<br />

mais dúctil. Uma justificativa para o primeiro fato, é que as barras de 20 mm<br />

possuem nervuras bem mais espessas que as de 10 mm, fazendo com que a tensão não possa<br />

ser simplesmente considerada como um valor médio. Outra explicação possível é que a<br />

superfície relativa das nervuras (f r ) da barra de 20 mm pode ser menor que a referente à barra<br />

de 10 mm. Seria necessária, portanto, a obtenção desse valor para uma comparação entre as<br />

duas séries. Em relação ao segundo fato, os modelos da série 20 estiveram sob à ação de um<br />

concreto mais bem confinado e o travamento entre o concreto e as nervuras foi maior, devido<br />

à altura da nervura ser superior que a da série 10.<br />

Comparou-se os resultados experimentais com os oriundos das normas CEB-FIP<br />

MC90, EUROCODE 2 e NB-1/78. Devido à pouca quantidade de modelos, entretanto, pôdese<br />

tirar poucas conclusões. Observou-se que o ensaio de arrancamento ficou situado entre as<br />

condições de aderência boa e ruim, apesar da barra estar na posição vertical em relação à<br />

concretagem. Contudo, a série 10 se aproximou bastante da situação de boa aderência. Os<br />

valores da resistência convencional e efetiva da ligação entre as normas apresentaram<br />

dispersões muito grandes, como foi o caso da diferença de 67% de τ 1R do EUROCODE 2 em<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />

141<br />

relação à NB-1/78. O deslizamento equivalente à ruptura da ligação foi maior que o valor de<br />

1 mm proposto pelo CEB-FIP MC90, comprovado já em experimentos anteriores.<br />

Em relação ao carregamento repetido, observou-se que a resistência por adesão foi<br />

ultrapassada logo no primeiro ciclo, por causa do valor muito maior da força máxima.<br />

O processo da fadiga de aderência é dividido em três fases: na primeira, a velocidade<br />

de deslizamento é decrescente, caracterizada pela diminuição da inclinação da tangente à<br />

curva deslizamento-número de ciclos (s-n); na segunda, essa velocidade torna-se constante,<br />

onde a inclinação da tangente é linear; e na terceira, a velocidade cresce muito rapidamente<br />

até a ruptura por arrancamento da barra, ou seja, a inclinação aumenta até tornar-se<br />

praticamente vertical. A aplicação dos ciclos dos ensaios finalizou-se na segunda fase e, após<br />

o deslizamento residual (s r ), foram levados à ruptura monotônica. A primeira fase pode ser<br />

definida como uma acomodação da estrutura ao carregamento repetido, onde ocorre a maior<br />

parcela do esmagamento local do concreto próximo das nervuras. A partir daí, a região de<br />

concreto a ser esmagada é muito pequena, caracterizando a estabilização do crescimento dos<br />

deslizamentos. A ruptura por arrancamento ocorre após a terceira fase, a qual se inicia muito<br />

depois do deslizamento último monotônico (s u ). Conseqüentemente, as estruturas não<br />

precisam ser ensaiadas para um número de ciclos muito grande, se o deslizamento<br />

equivalente à resistência de aderência monotônica for conhecido. A determinação do número<br />

máximo de ciclos pode ser obtida por extrapolação linear da segunda parte linear da curva até<br />

s u .<br />

Para os diferentes níveis de solicitação, notou-se que quanto maior a força máxima<br />

repetida, maior a acomodação inicial do modelo e o deslizamento residual. As rigidezes ou as<br />

inclinações da tangente à curva para os trechos de descarregamento são praticamente iguais e<br />

muito acentuadas, indicando uma recuperação desprezível do deslizamento na força máxima.<br />

A resistência estática da ligação dos modelos repetidos não foi alterada com um<br />

número de ciclos maior, uma força máxima repetida próxima da força última monotônica de<br />

referência e um deslizamento residual maior que s u . Logo, as forças repetidas podem ser<br />

consideradas como um mecanismo de acomodação desses modelos em relação à resistência,<br />

com influência na degradação da aderência apenas pelo aumento progressivo dos<br />

deslizamentos.<br />

Da análise numérica da aderência monotônica no Ansys, foram tiradas poucas<br />

conclusões, devido o modelo numérico não ter representado a verdadeira resposta da<br />

estrutura. Tanto o modelo bidimensional (PT10-2D) como o tridimensional (PT10-3D)<br />

apresentaram uma relação força-deslizamento linear, ou seja, a adesão entre os dois materiais<br />

e a pressão de confinamento, no caso de PT10-3D, foram desprezadas. A deformada dos dois<br />

modelos foi semelhante à experimental, adotando-se, entretanto, algumas aproximações na<br />

modelagem bidimensional. Os deslizamentos ao longo do contato foram diferentes, com um<br />

crescimento praticamente linear do topo do contato para a base. Essa evolução, não pôde ser<br />

constatada experimentalmente.<br />

Devido à variabilidade do concreto e à pouca quantidade de modelos, seria<br />

necessário, portanto, um certo cuidado na extensão dessas conclusões parciais aos casos<br />

gerais.<br />

Como já foi exposto anteriormente, o problema da aderência sob carregamento<br />

repetido envolve um conjunto de variáveis de grande complexidade: a não-linearidade dos<br />

materiais, o mecanismo de transferência de forças, a micro-estrutura interna dos materiais, a<br />

propagação do dano, a não-linearidade do contato, a resposta força-deslizamento não linear,<br />

as deformações residuais, entre outras. Devido à dificuldade de visualização e abrangência de<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>


142<br />

Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

todos esses pontos no comportamento tanto do modelo experimental como numérico, nesse<br />

trabalho, a análise do fenômeno foi particularizada, de maneira a melhor solucionar<br />

determinadas questões sobre o assunto. Dessa forma, nesse campo de pesquisa, ainda<br />

precisam ser feitos muitos estudos englobando todas essas particularidades.<br />

8 AGRADECIMENTOS<br />

À CAPES, pelo apoio financeiro.<br />

9 BIBLIOGRAFIA<br />

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BALÁZS, G. L. (1991). Fatigue of bond. ACI Materials Journal, v.88, n.6, p.620-629,<br />

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144

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