São Carlos, v.7 n. 24 2005 - SET - USP
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São <strong>Carlos</strong>, <strong>v.7</strong> n. <strong>24</strong> <strong>2005</strong>
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO<br />
Reitor:<br />
Prof. Titular ADOLFO JOSÉ MELFI<br />
Vice-Reitor:<br />
Prof. Titular HÉLIO NOGUEIRA DA CRUZ<br />
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS<br />
Diretor:<br />
Prof. Titular FRANCISCO ANTONIO ROCCO LAHR<br />
Vice-Diretor:<br />
Prof. Titular RUY ALBERTO CORREA ALTAFIM<br />
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS<br />
Chefe do Departamento:<br />
Prof. Titular CARLITO CALIL JÚNIOR<br />
Suplente do Chefe do Departamento:<br />
Prof. Titular SÉRGIO PERSIVAL BARONCINI PROENÇA<br />
Coordenador de Pós-Graduação:<br />
Prof. Associado MÁRCIO ROBERTO SILVA CORRÊA<br />
Coordenadora de Publicações e Material Bibliográfico:<br />
MARIA NADIR MINATEL<br />
e-mail: minatel@sc.usp.br<br />
Editoração e Diagramação:<br />
FRANCISCO CARLOS GUETE DE BRITO<br />
MASAKI KAWABATA NETO<br />
MELINA BENATTI OSTINI<br />
TATIANE MALVESTIO SILVA
São <strong>Carlos</strong>, <strong>v.7</strong> n. <strong>24</strong> <strong>2005</strong>
Departamento de Engenharia de Estruturas<br />
Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – <strong>USP</strong><br />
Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro<br />
CEP: 13566-590 – São <strong>Carlos</strong> – SP<br />
Fone: (16) 3373-9481 Fax: (16) 3373-9482<br />
site: http://www.set.eesc.usp.br
SUMÁRIO<br />
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/<br />
diâmetro e fundo plano<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior 1<br />
Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />
Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Junior 35<br />
Método dos elementos de contorno com reciprocidade dual para a análise<br />
transiente tridimensional da mecânica do fraturamento<br />
João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini 65<br />
Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />
Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato 91<br />
A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs 117
ISSN 1809-5860<br />
ESTUDO TEÓRICO E EXPERIMENTAL DAS<br />
PRESSÕES EM SILOS DE BAIXA RELAÇÃO<br />
ALTURA/DIÂMETRO E FUNDO PLANO<br />
Edna das Graças Assunção Freitas 1 & Carlito Calil Júnior 2<br />
Resumo<br />
A armazenagem em fazenda necessita ser expandida de modo a propiciar um melhor<br />
equilíbrio de fluxos e funções entre as etapas da rede armazenadora. No Brasil, embora<br />
não se disponha de números exatos, sabe-se que armazenagem na fazenda é mínima,<br />
sendo estimada em torno de 4% a 7%, dependendo da região. Em geral, os silos<br />
utilizados para a armazenagem em fazenda apresentam baixa relação entre a altura do<br />
silo e o seu diâmetro ou lado (0,75 a 1,5) e fundo plano. Podem ser construídos com os<br />
mais diversos materiais, como concreto, madeira, argamassa armada etc., mas a<br />
predominância é a utilização de silos metálicos em chapa de aço ondulada. Apesar da<br />
intensa utilização destas unidades em todo o mundo, e serem as mais produzidas pela<br />
indústria, a previsão das pressões devidas ao produto armazenado é ainda divergente<br />
entre os pesquisadores e normas existentes. Este trabalho foi realizado em duas etapas:<br />
teórica e experimental. Na parte teórica, deu-se ênfase à análise comparativa das<br />
principais teorias e normas internacionais. Na parte experimental, foram feitos ensaios<br />
diretos em um silo protótipo com relação h/d=0,98 e um silo piloto para relações<br />
h/d=0,98, 1,25 e 1,49, ambos de chapa de aço ondulada, para obtenção das pressões<br />
horizontais na parede e verticais no fundo plano. Com base nos resultados<br />
experimentais propõe-se modelos empíricos para a determinação das pressões<br />
horizontais e verticais no fundo plano do silo para esse tipo de unidade armazenadora.<br />
Palavras-chave: Silos de baixa relação altura/diâmetro; pressões.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
O armazenamento em fazenda constitui prática de suma importância, tanto para<br />
complementar a estrutura armazenadora quanto para minimizar as perdas em quantidade<br />
e qualidade a que estão sujeitos os produtos colhidos.<br />
Em geral, os silos utilizados para a armazenagem em fazenda apresentam baixa<br />
1 Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFRRJ, ednario@bol.com.br<br />
2 Professor Titular do Departamento de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, calil@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
2<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
relação entre a altura do silo e o seu diâmetro ou lado (0,75 a 1,5) e fundo plano. Isto se<br />
justifica pelo grande aumento da capacidade do silo com o aumento do seu diâmetro e<br />
também porque a manipulação de silos baixos é mais fácil e de menor custo (CALIL<br />
JR., 1987).<br />
Podem ser construídos com os mais diversos materiais, como concreto , madeira,<br />
argamassa armada, etc., mas a predominância é a utilização de silos metálicos em chapa<br />
galvanizada corrugada. Segundo HAYNAL (1989), o silo fabricado em concreto<br />
armado torna-se muito oneroso para o agricultor, principalmente para o de porte médio.<br />
Segundo ele, o concreto armado é mais apropriado para armazéns graneleiros e só é<br />
viável economicamente a partir de uma capacidade de cinco mil toneladas. Com esse<br />
tamanho ou mais, seu custo passa a ser equivalente ao do silo metálico. O silo metálico<br />
serve a qualquer tipo de grão, tendo como vantagem mais destacada a possibilidade de<br />
se conseguir uma armazenagem livre de ratos e pragas, o que não ocorre com os<br />
armazéns convencionais que precisam de desinfecção tanto do ambiente quanto da<br />
sacaria.<br />
Apesar da intensa utilização destas unidades em todo o mundo, e serem as mais<br />
produzidas pela indústria, a previsão das pressões exercidas pelo produto armazenado é<br />
ainda divergente entre os pesquisadores e normas existentes.<br />
As diferentes contribuições em pesquisa e tecnologia, que todos os países têm<br />
realizado, geralmente chegaram ao conhecimento comum dos técnicos pelas diferentes<br />
normas de cálculo de silos elaboradas. Neste sentido é lamentável que o Brasil não<br />
disponha de norma própria, com exceção de duas referências a terminologias para silos<br />
de grãos vegetais TB-374 e TB-377.<br />
As recomendações das normas internacionais para a previsão das pressões devidas<br />
ao produto armazenado, de um modo geral, são baseadas em duas fontes: experimentos<br />
nos quais as pressões são medidas em silos reais ou em modelos de silos, e em modelos<br />
teóricos. Uma dificuldade imediata aparece devido ao limitado campo de aplicação dos<br />
experimentos disponíveis. Em particular, muito poucas observações experimentais são<br />
avaliáveis para silos de baixa relação altura/ diâmetro ou lado (CALIL JR., 1990), o<br />
que, de acordo com BROWN & NIELSEN (1998), atualmente é o tipo de unidade<br />
armazenadora que mais necessita de pesquisas tendo em vista sua tendência mundial de<br />
popularização.<br />
Com base no exposto este trabalho este trabalho tem por objetivo o estudo<br />
teórico e experimental das pressões em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro<br />
e fundo plano para armazenamento de produtos de fluxo livre com a finalidade de<br />
propor um modelo empírico para a previsão das pressões devidas ao produto<br />
armazenado nestas unidades.<br />
2 SILOS CILÍNDRICOS DE BAIXA RELAÇÃO ALTURA/DIÂMETRO<br />
A importância da classificação das estruturas de armazenamento de produtos a<br />
granel, segundo as suas dimensões, está no fato que, de um modo geral, a previsão das<br />
pressões estáticas ou dinâmicas estão baseadas segundo essa classificação. Embora<br />
algumas normas não façam essa classificação, na maioria das vezes prevêem pressões<br />
diferenciadas em função da relação h/d. A tabela 1 apresenta a classificação dos silos<br />
segundo as suas dimensões, de acordo com as principasi normas internacionais.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
3<br />
Tabela 1 – Classificação dos silos segundo a relação h/d<br />
Classificação<br />
Norma Baixo Medianamente esbelto Esbelto<br />
Australiana AS-1996 h/d3<br />
Eurocode(ENV)-1995<br />
ISO-1997 h/d2<br />
Alemã DIN-1987 * h/d5µ<br />
Inglesa BMHB-1985 h/d≤1,5 --- h/d>1,5<br />
* Não possui essa classificação.No cálculo teórico das pressões há diferenciação quando<br />
o silo tem a relação geométrica indicada.<br />
Analogamente aos silos altos, os silos cilíndricos de baixa relação<br />
altura/diâmetro podem ser construídos com os mais diversos materiais, mas a grande<br />
maioria deste tipo de silo, mesmo em termos mundiais, são metálicos, de chapa lisa ou<br />
corrugada. Podem ser descarregados através de fluxo por gravidade ou através de meios<br />
mecânicos. O fundo pode ser em forma de funil ou plano. A célula de fundo plano<br />
requer menos altura para um determinado volume de material armazenado. O seu custo<br />
inicial é baixo, comparado a outros tipos, e uma das razões pela qual a construção pode<br />
ser econômica é que o produto repousa sobre o solo, do qual ele é isolado apenas por<br />
uma laje impermeável. Isso significa que a fundação é limitada a um anel de concreto<br />
sob as paredes. O recalque do fundo plano resultante das pressões verticais exercidas<br />
pelo produto não é considerado problemático.<br />
2.1 Pressões em silos cilíndricos de baixa relação altura/diâmetro<br />
De um modo geral as normas internacionais adotam a teoria de Janssen e/ou de A<br />
& M Reimbert para a previsão das pressões estáticas, considerando coeficientes de<br />
sobrepressão para a obtenção das pressões dinâmicas, analogamente aos silos altos,<br />
como também apresentam algumas simplificações para o cálculo das pressões<br />
diferentemente dos silos altos.<br />
Na verdade, pouco é conhecido sobre a magnitude e a distribuição da pressão<br />
normal à parede em silos baixos. Do ponto de vista técnico, os silos de baixa relação<br />
altura/diâmetro apresentam menos problemas de estabilidade geral, mas maiores<br />
problemas de estabilidade local (CALIL JR., 1990). As pressões em silos de baixa<br />
relação altura/diâmetro são muito afetadas pela forma da superfície livre do produto<br />
armazenado, o que não tem a mesma influência em silos altos. De um modo geral, as<br />
normas não levam em conta as implicações desse fato, de modo a obter-se formulações<br />
mais precisas e econômicas (Brown & Nielsen, 1998).<br />
Para silos de baixa relação altura/diâmetro, muitos pesquisadores questionam a<br />
validade da solução de Janssen ou de Reimbert e propõem a solução de Rankine<br />
desenvolvida para uma parede de contenção de terra de extensão ilimitada (CALIL JR.,<br />
1987), ou a solução de Coulomb (WIJK, 1993). Isto é também reconhecido pela norma<br />
alemã DIN 1055 [10], que indica que as pressões na parede sejam obtidas pela teoria<br />
das pressões de terra para relações altura/diâmetro menores que 0,8.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
4<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
2.1.1 Teorias para silos de baixa relação altura/diâmetro<br />
Teoria de Rankine<br />
Nesta teoria, publicada em 1857, o pesquisador analisa o estado de tensão em um<br />
maciço granular, fofo, não coesivo e semi-infinito. Ela foi desenvolvida com a hipótese<br />
que a deformação no maciço produz um estado ativo ou passivo de pressões, conforme<br />
a pressão vertical seja a maior ou a menor pressão principal. Segundo Safarian e Harris<br />
(1985), este método não é muito preciso para silos de baixa relação altura/diâmetro,<br />
tendo em vista que ignora as condições de contorno deste tipo de unidade armazenadora<br />
e a força de força de atrito nas paredes é considerada nula. A figura 1 apresenta as<br />
pressões exercidas pelo produto e parâmetros envolvidos para silos de baixa relação<br />
altura/diâmetro e fundo plano, de acordo com a teoria de Rankine.<br />
Superfície livre do produto<br />
h<br />
↓<br />
φ r<br />
p v<br />
↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓<br />
d<br />
Figura 1 – Pressões exercidas pelo produto em silos de fundo plano, de acordo<br />
com a teoria de Rankine<br />
De acordo com as seguintes situações em relação à superfície livre do produto, as<br />
formulações para as pressões horizontais e verticais são:<br />
(a) Superfície de topo do produto armazenado é horizontal<br />
• Pressão horizontal estática na profundidade z:<br />
p h = Kγz (1)<br />
onde<br />
1−<br />
sen φr<br />
K =<br />
1+<br />
sen φr<br />
(2)<br />
• Pressão vertical estática na profundidade z, abaixo da superfície, é:<br />
p v = γz (3)<br />
(b) Superfície do produto armazenado com inclinação igual ao ângulo de repouso<br />
• Pressão horizontal estática na profundidade z é:<br />
p h = γzcos 2 φ r (4)<br />
• Pressão estática vertical na profundidade z é:<br />
p v = γ(z + a 0 tgφ r ) (5)<br />
CALIL JR. (1987) com base em experimentação em silos cilíndricos de baixa<br />
relação altura/diâmetro ou lado, propõe a modificação do valor de K da teoria de<br />
2<br />
1 − sen φ<br />
Rankine para a formulação de Hartmann ( K =<br />
i<br />
), para o caso de silos de<br />
2<br />
1 + sen φi<br />
chapa de aço corrugada. Esta proposta será denominada de teoria de Rankine-Calil e é<br />
valida para silos onde a superfície livre do produto é plana ou não. Nesse caso, a<br />
profundidade z é obtida a partir da superfície de referência, conforme a figura 2.<br />
p h<br />
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Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
5<br />
Superfície livre do produto<br />
↓z<br />
h<br />
p v<br />
↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓<br />
d<br />
Figura 2 – Pressões exercidas pelo produto em silos de fundo plano,<br />
de acordo com a teoria de Rankine-Calil<br />
p h<br />
Teoria de Coulomb<br />
Na sua teoria publicada em 1776, Coulomb considerou a existência de atrito<br />
entre o material e a parede de contenção e, como na solução de Rankine e Janssen, é<br />
assumido que o maciço está em um estado ativo. A menor pressão horizontal possível é<br />
aquela do estado ativo e, nesse caso, as formulações obtidas para a pressão horizontal,<br />
de atrito, e a vertical são:<br />
2<br />
cos φ<br />
p<br />
i<br />
h = γz<br />
[ 1 sen ] 2<br />
(6)<br />
+ φi<br />
1+<br />
E<br />
Esenφicosφ<br />
p<br />
i<br />
w = γz<br />
(7)<br />
1+<br />
senφ<br />
1+<br />
E<br />
p<br />
E<br />
v<br />
[ ] 2<br />
2<br />
i<br />
[ 1 + senφ<br />
1 + E] 2<br />
i<br />
2<br />
1 + sen φi<br />
+ 2senφi<br />
1 − E<br />
= γz<br />
(8)<br />
tanφ<br />
ω<br />
= (9)<br />
tanφ<br />
i<br />
2.1.2 Pressões para silos de baixa relação altura/diâmetro e fundo plano segundo as<br />
principais normas internacionais<br />
As normas de um modo geral propõem formulações para as pressões exercidas<br />
pelos produtos armazenados nas paredes e fundo de silos de baixa relação<br />
altura/diâmetro diferenciada dos silos altos, bem como pressões adicionais para levar<br />
em conta o efeito de pressões assimétricas, inevitáveis mesmo em silos com<br />
carregamento concêntrico e de eixo simétrico, e que são dependentes das características<br />
do produto e imperfeições na geometria do silo construído.<br />
De um modo geral, a formulação básica para a previsão das pressões é obtida<br />
da teoria de Janssen, mas algumas normas propõem alterações na formulação original,<br />
como no caso da norma inglesa BMHB-1985 ou considerando uma região linearizada na<br />
parte superior do carregamento, como no caso das normas européias ENV-1995 e ISO-<br />
1997 e da australiana AS-1996. A norma DIN-1987 e a americana ACI-1991, para o<br />
caso das pressões horizontais e de atrito, não alteram a formulação de Janssen.<br />
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6<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
3 MATERIAIS E MÉTODOS<br />
A pesquisa desenvolvida no presente trabalho é constituída de duas etapas<br />
principais:<br />
1 - medições diretas através de células de pressão, em um silo protótipo e em um silo<br />
piloto, ambos de chapa metálica ondulada, das pressões horizontais (p h ) ao longo da<br />
parede e verticais (p vf ) no fundo plano<br />
2 – cálculo teórico das pressões adotando-se a formulação de Janssen, de Airy, dos<br />
irmãos Reimbert, de Rankine-Calil, de Bischara e das principais normas internacionais,<br />
de modo a comparar os valores teóricos com os experimentais.<br />
O silo protótipo de baixa relação altura/diâmetro e fundo plano pertence a<br />
Cooperativa Agrícola Mista do Vale do Mogi-Guaçu, em Descalvado-SP, e o silo piloto<br />
foi doado pelo fabricante de silos metálicos Kepler Weber para realização dessa<br />
pesquisa. As características geométricas de ambos os silos são apresentadas nas figuras<br />
63 e 64 respectivamente.<br />
Os ensaios com o silo protótipo foram realizados na própria cooperativa,<br />
utilizando milho como produto armazenado. Foram realizados dois ciclos completos de<br />
carregamento-armazenamento-descarregamento com a capacidade máxima de<br />
armazenamento do silo. Nesse caso, h/d=0,98.<br />
Os ensaios com o silo piloto foram realizados no Laboratório de Madeiras e<br />
Estruturas de Madeira (LaMEM), da Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> da<br />
Universidade de São Paulo, e utilizou-se areia como produto armazenado. Com o silo<br />
piloto foram realizados um total de 12 ciclos completos de carga-armazenamentodescarga<br />
sendo 4 com a relação h/d = 0,98; 4 com h/d = 1,25 e 4 com h/d = 1,49.<br />
3.1 Caracterização das propriedades físicas dos produtos armazenados<br />
Os ensaios para determinação das propriedades físicas dos produtos armazenados<br />
nos silos ensaiados foram realizados no LAMEM/EESC-<strong>USP</strong> de acordo com a<br />
metodologia proposta em MILANI (1993), utilizando o aparelho de cisalhamento TSG<br />
70-140-AVT ("JENIKE Shear Cell").<br />
Os produtos caracterizados foram areia seca ao ar, utilizada nos ensaios com o<br />
silo piloto e o milho armazenado no silo protótipo da cooperativa.<br />
Foram realizados três ensaios e determinados o peso específico e o ângulo de atrito<br />
interno para sua aplicação no cálculo teórico das pressões através do software YLOCUS<br />
desenvolvido por CALIL JR. (1997). Tendo em vista que a parede de ambos os silos<br />
ensaiados serem de chapa metálica ondulada não foi determinado o ângulo de atrito com<br />
a parede, considerado igual ao ângulo de atrito interno. Com a areia foi também<br />
realizado o ensaio de granulometria de acordo com a norma NBR 7181 – Solo-Análise<br />
granulométrica e determinado o teor de umidade do milho.<br />
Os produtos armazenados foram classificados como de fluxo livre de acordo<br />
com a das dimensões do diâmetro de suas partículas, baseada nas considerações de<br />
CALIL JR. (1984).<br />
3.2 Ensaios com o silo protótipo<br />
Para a medição direta das pressões ao longo das paredes e no fundo plano do silo<br />
protótipo, foram utilizadas células de pressão do tipo hidráulica modelo EPC 3500-1-<br />
100, fabricadas pela GEOKON. A adoção dessas células deu-se pelo fato de já terem<br />
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Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
7<br />
sido usadas com sucesso na medição direta das pressões nas paredes e na tremonha de<br />
um silo protótipo horizontal e em silo piloto horizontal por Gomes (2000) para sua tese<br />
de doutorado “Estudo Teórico e Experimental das Ações em Silos Horizontais”.<br />
As células foram calibradas adotando-se os procedimentos realizados por Gomes<br />
(2000) que utilizou o método proposto por BLIGHT et al (1996). Para esse fim os<br />
transdutores das células foram acoplados ao sistema de aquisição de dados da marca<br />
LINX modelo ADS-2000 que utiliza circuito integrado projetado para diversas<br />
aplicações. Este sistema é composto de uma placa controladora e placas<br />
condicionadoras de sinais conectada ao computador, nesse caso um notebook.<br />
O silo ensaiado tem 20 anos de utilização faz parte de um conjunto de 10 silos,<br />
todos iguais, com capacidade máxima de armazenamento de 300t de milho (figura 3(a)).<br />
É constituído de chapa ondulada de aço galvanizado de 1,5mm de espessura. O corpo do<br />
silo está fixado sobre um viga anel de concreto armado com 40cm de largura e 60cm de<br />
altura. A base do silo é constituída de uma laje plana de concreto armado sob a qual está<br />
situado o túnel de descarga. O produto é descarregado pelo fundo através de um orifício<br />
de 20cm de diâmetro situado no centro do fundo. O silo é carregado pelo topo<br />
centralmente. Para a realização das operações de carga e descarga são utilizados<br />
elevador de caçamba e correia transportadora. As células de pressão foram fixadas nos<br />
parafusos de ligação das chapas e para manter o posicionamento das células nas parede<br />
foi fixada em cada uma delas uma placa quadrada de compensado de 30cm de lado e<br />
18mm de espessura e entre a chapa de compensado e a face da célula, uma manta de<br />
borracha para melhor distribuição das pressões. Após essa etapa foram instaladas 12<br />
células de pressão sendo 6 distribuídas ao longo da parede e 6 no fundo do silo em<br />
contato direto com o produto armazenado. A figura 3(b) apresenta de forma<br />
esquemática o posicionamento das células de pressão na parede e no fundo do silo. Os<br />
terminais das células foram conectados ao sistema LINX de aquisição de dados e este ao<br />
notebook.<br />
Nível da superfície<br />
de referência<br />
Silo ensaiado<br />
h = 8,04<br />
0,79<br />
0,50<br />
1,65<br />
2,40<br />
0,80<br />
0,85<br />
1,05<br />
CP11<br />
CP10<br />
CP9<br />
CP8<br />
CP7<br />
CP6 CP5<br />
CP4 CP3<br />
CP2<br />
CP12<br />
CP1<br />
2,30<br />
0,15 1,85 1,85 0,50 1,85 1,85 0,15<br />
(a)<br />
d = 8,20<br />
(b)<br />
Figura 3 – Silo ensaiado e posicionamento das células de pressão<br />
Após a instalação das células de pressão procedeu-se a calibração “in loco” com<br />
as células ligadas ao sistema de aquisição de dados LINX. O sistema de aquisição de<br />
dados foi configurado para uma freqüência de 10 hertz com coleta de dados a cada 5<br />
segundos de modo a permitir monitoramento das pressões com melhor precisão do<br />
ensaio nas fases dinâmicas de carregamento e descarregamento do silo. O carregamento<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
8<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
foi realizado através de transilagem do milho de um outro silo para o que estava<br />
instrumentado. A transilagem foi realizada utilizando correia transportadora e elevador<br />
de caçamba. A vazão do sistema de transporte era de 40t/hora o que permitiu o<br />
carregamento total do silo em cerca de 8 horas. Foram realizados dois ciclos completos<br />
de carregamento-armazenamento-descarga e os dados coletados simultaneamente e<br />
continuamente em todas as células no decorrer do carregamento, em 16 horas de<br />
armazenamento e no período do descarregamento.<br />
3.3 Ensaios com o silo piloto<br />
Para a medição direta das pressões no silo piloto foram utilizadas as mesmas 12<br />
células de pressão usadas no silo protótipo, inclusive mantendo a mesma identificação<br />
de cada uma e o respectivo canal a que foi conectado no sistema de aquisição de dados<br />
LINX quando da realização dos ensaios no silo protótipo. As células foram<br />
posicionadas no silo piloto de tal forma que mantivesse a mesma posição relativa às<br />
dimensões do silo protótipo. Em função da proposta desse trabalho (silo de baixa<br />
relação altura efetiva/diâmetro < 1,5) foram medidas as pressões para 3 relações h/d de<br />
modo obter experimentalmente as pressões com relação h/d com a realizada com o silo<br />
protótipo e h/d
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
9<br />
0,28<br />
0,38<br />
CP11<br />
CP10<br />
Nível da superfície de referência<br />
h = 1,78<br />
0,51<br />
0,18<br />
0,20<br />
0,23<br />
CP9<br />
CP8<br />
CP7<br />
CP6 CP5<br />
CP4<br />
CP3<br />
CP2<br />
CP12<br />
CP1<br />
0,15 0,26 0,25 0,50 0,25 0,26 0,15<br />
d = 1,82<br />
0,52<br />
Figura 4 – Posicionamento das células de pressão na parede e no fundo do silo piloto para<br />
h/d=0,98<br />
As células foram dispostas aleatoriamente em todo o perímetro do silo,<br />
respeitando-se a distância do seu centro até o nível de referência, pois devido as<br />
dimensões das mesmas não era possível mantê-las em um mesmo alinhamento. Com as<br />
células fixadas na parede do silo procedeu-se a sua conexão com o sistema de aquisição<br />
de dados LINX. A figura 5 mostra a instalação das células. Para a realização do<br />
carregamento da areia no silo foi utilizado um carregador pneumático acionado por uma<br />
motor de 50 Âmperes. A capacidade de armazenamento do silo nessa fase de ensaio foi<br />
de 7,2t de areia. A cada uma hora de carregamento interrompia-se o mesmo por cerca de<br />
20 minutos para que o motor da bomba do pneumático esfriasse e também para dar uma<br />
pausa ao operador responsável pelo carregamento da areia no depósito pelo qual era<br />
sugada até o silo, tendo em vista que o depósito era carregado manualmente,<br />
despejando-se nele a areia ensacada. Em média o carregamento completo para a relação<br />
h/d=0,98 levou cerca de 2 horas e uma vazão média de 3,5 t/hora descontados os<br />
períodos de interrupção. Foram realizados 4 ciclos completos de carregamentoarmazenamento-descarga.<br />
O carregamento era sempre realizado na parte da tarde para<br />
que no dia seguinte, pela manhã, ocorresse o descarregamento. Em média o produto<br />
ficava armazenado cerca de 16 horas. O descarregamento do silo foi realizado por dois<br />
operadores, abrindo–se a válvula e posicionando-se um saco de aninhagem, um após<br />
outro, sob a válvula para recolher a areia. Esse procedimento era executado de forma<br />
contínua o que levou a um fluxo dinâmico e contínuo no descarregamento do produto.<br />
A areia ensacada no descarregamento era então posicionada próxima ao local de<br />
carregamento. Após cada carregamento a superfície do produto era nivelada. Nos dois<br />
primeiros carregamentos foi mantida a posição da célula de pressão CP7 e nos dois<br />
últimos ela foi colocada a 15cm do fundo do silo de modo a verificar a pressão<br />
horizontal no ponto mais próximo possível do fundo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
10<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
(a) Células do fundo<br />
(b) Células da parede<br />
(c) Células da parede<br />
(d) células da parede<br />
Figura 5 – Instalação das células depressão para h/d=0,98<br />
Para a realização dos ensaios para a relação h/d=1,25 e h/d=1,49 foi montada a<br />
terceira parte do corpo do silo e a cobertura cônica. As figuras 6(a) e 6(b) apresentam de<br />
forma esquemática o posicionamento das células em relação ao nível de referência das<br />
relações h/d=1,25 e h/d=1,49 respectivamente.<br />
h = 2,27<br />
0,57<br />
Nível da superfície de referência<br />
0,36<br />
0,48<br />
CP11<br />
CP10<br />
CP10<br />
0,66<br />
CP9<br />
0,28<br />
CP9<br />
0,22<br />
CP12<br />
CP8<br />
CP12<br />
CP8<br />
0,49<br />
0,40 CP7<br />
CP7<br />
0,15 CP6 CP5 CP4 CP3 CP2 CP1<br />
0,15 CP6 CP5 CP4 CP3 CP2 CP1<br />
0,15 0,25 0,26 0,50 0,26 0,25 0,15<br />
0,15 0,25 0,26 0,50 0,26 0,25 0,15<br />
d = 1,82<br />
d = 1,82<br />
(a) h/d=1,25<br />
0,66<br />
h = 2,71<br />
CP11<br />
Nível da superfície de referência<br />
Figura 6 – Posicionamento das células de pressão na parede e no fundo do silo<br />
piloto com h/d=1,25 e 1,49<br />
0,43<br />
(b) h/d=1,49<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
11<br />
Para cada uma das relações foram realizados 4 ciclos completos de<br />
carregamento-armazenagem-descarregamento. Para a relação h/d=1,25 foram<br />
armazenadas no silo cerca de 9,2t de areia enquanto para a relação h/d=1,49, 11t.<br />
Em todas as três relações h/d ensaiadas os dados foram registrados<br />
simultaneamente e continuamente por todas as células. Em média o carregamento<br />
completo para a relação h/d=1,25 levou cerca de 3 horas e para h/d=1,49,.4 horas,<br />
descontados os períodos de interrupção. Ao final de cada carregamento a superfície do<br />
produto era nivelada e o produto armazenado por cerca de 16 horas. De modo a agilizar<br />
o descarregamento foi colocada sob a válvula de descarga uma calha de modo que a<br />
mesma trouxesse a areia descarregada para fora da plataforma, de onde era recolhida em<br />
sacos de aninhagem da mesma forma que nos ensaios da relação h/d=0,98. No início de<br />
cada descarregamento a válvula de descarga era aberta com a máxima vazão para que<br />
fosse verificada a ocorrência de sobrepressões. A figura 7 detalhes de algumas etapas no<br />
carregamento e descarregamento do silo.<br />
(a) Silo em carga<br />
(b) Detalhe do carregamento do depósito e da<br />
ventoinha do carregador pneumático<br />
(c) Silo em descarga<br />
(d) Silo em descarga<br />
Figura 7 – Etapas dos ensaios com h/d=1,25 e h/d=1,49 no silo piloto<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
12<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
4.1 Propriedades físicas dos produtos armazenados<br />
De acordo com as recomendações das normas européias ISO 11697/95 e ENV<br />
1991-4/95, foram determinados o limite inferior e o limite superior das propriedades<br />
físicas dos produtos, de modo a obter-se a combinação mais desfavorável de<br />
carregamento na estrutura, considerando as possíveis mudanças das propriedades do<br />
produto com o tempo e as variações das amostras. O milho apresentou um teor de<br />
umidade de 13,9% e a areia foi classificada como grossa pelo ensaio de granulometria.<br />
A tabela 2 apresenta os valores encontrados para as propriedades físicas do<br />
milho e da areia através do ensaio de cisalhamento.<br />
Tabela 2 – Valores das propriedades físicas do milho e da areia obtidos no ensaio de<br />
cisalhamento<br />
Produto<br />
Propriedade Milho Areia<br />
φ i,m 32 0 35 0<br />
φ i,l 29 0 32 0<br />
φ i,u 37 0 40 0<br />
γ m 7,45kN/m 3 14,55kN/m 3<br />
γ u 8,57kN/m 3 16,73kN/m 3<br />
A tabela 3 apresenta os valores da relação entre as pressões, K, calculada com<br />
os valores do ângulo de atrito interno obtidos experimentalmente, para o milho e para a<br />
areia, adotando–se a formulação de Hartmann que é considerada de consenso entre os<br />
pesquisadores (CALIL JR, 1990) para silos metálicos de chapa de aço ondulada.<br />
Tabela 3 – Valores de K obtidos em função do ângulo de atrito interno determinado<br />
experimentalmente<br />
Valor da relação entre pressões, K<br />
Produto K m K l K u<br />
areia 0,50 0,42 0,56<br />
milho 0,56 0,47 0,62<br />
4.2 Ensaios do silo protótipo<br />
Os gráficos das figuras 8 a 10 apresentam os valores registrados pelas células de<br />
pressão, para as pressões verticais no fundo do silo, e o gráfico da figura 11, a pressão<br />
horizontal nas paredes em cada um dos ensaios realizados no silo protótipo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
13<br />
Carregamento<br />
Descarregamento<br />
Carregamento<br />
Descarregamento<br />
Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Período de repouso<br />
Região de sobrepressão<br />
Tempo - horas<br />
(a) Ensaio 1 – ciclo completo<br />
CP1<br />
CP6<br />
Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Período de repouso<br />
Região de sobrepressão<br />
CP1<br />
CP6<br />
Tempo - horas<br />
(b) Ensaio 2 – ciclo completo<br />
00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00<br />
Carregamento Descarregamento<br />
00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 <strong>24</strong>:00<br />
Carregamento Descarregamento<br />
Figura 8– Silo protótipo - Pressões dinâmicas nas células 1 e 6<br />
Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Período de repouso<br />
Região de sobrepressão<br />
CP2<br />
CP5<br />
Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Período de repouso<br />
Região de sobrepressão<br />
CP2<br />
CP5<br />
00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00<br />
Tempo - horas<br />
(a) Ensaio 1 – ciclo completo<br />
00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 <strong>24</strong>:0<br />
Tempo - horas<br />
(b) Ensaio 2 – ciclo completo<br />
Figura 9 – Silo protótipo - Pressões dinâmicas nas células 2 e 5<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
14<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
Carregamento Descarregamento Carregamento<br />
Descarregamento<br />
Pressão vertical no fundo do silo -<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Período de<br />
Região de sobrepressão<br />
CP3<br />
CP4<br />
Pressão vertical no fundo do silo -<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Período de repouso<br />
Região de<br />
CP3<br />
CP4<br />
00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00<br />
Tempo - horas<br />
(a) Ensaio 1 – ciclo completo<br />
00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 <strong>24</strong>:00<br />
Tempo - horas<br />
(b) Ensaio 2 – ciclo completo<br />
Figura 10 – Silo protótipo - Pressões dinâmicas nas células 3 e 4<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
15<br />
(a) Posicionamento das células de pressão na parede do silo<br />
7,25<br />
1,05 0,85 0,40 0,40 2,40 1,65 0,50<br />
CP 11<br />
CP10<br />
CP9<br />
CP12<br />
CP8<br />
CP7<br />
Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />
Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
Carregamento<br />
Período de<br />
repouso<br />
00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 <strong>24</strong>:00<br />
Tempo - horas<br />
(b) Ensaio 1 – ciclo completo<br />
Carregamento<br />
Período de<br />
repouso<br />
Descarregamento<br />
Descarregamento<br />
CP9<br />
CP10<br />
CP11<br />
CP12<br />
00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 <strong>24</strong>:00<br />
CP9<br />
CP7<br />
CP10<br />
CP8<br />
CP11<br />
CP12<br />
CP9<br />
CP10<br />
Região de CP11<br />
sobrepressão CP12<br />
CP7<br />
CP8<br />
CP9<br />
CP10<br />
CP11<br />
CP12<br />
Região de<br />
sobrepressão<br />
Tempo - horas<br />
(c) Ensaio 2 – ciclo completo<br />
Figura 11 – Silo protótipo - Pressões dinâmicas nas células da parede<br />
De acordo com os gráficos 8 a 11, pode-se observar que, sem exceção, todas as<br />
células de pressão registraram aumentos de pressão durante o período de repouso do<br />
produto. No ensaio 1, as células do fundo do silo tiveram um acréscimo de pressão em<br />
média de 18% e as células da parede <strong>24</strong>%, durante o período de armazenamento. No<br />
ensaio 2, o acréscimo de pressão nas células do fundo do silo foi em média 8% e, nas<br />
células da parede, 26%. Observa-se, também, para as células do fundo do silo, que os<br />
valores medidos pelas células simétricas variaram durante as fases de carregamento e<br />
descarregamento, o que é justificado pela natureza aleatória das pressões em função da<br />
forma de carregamento e do produto armazenado.<br />
A tabela 4 apresenta os valores médios das pressões horizontais, na parede do silo,<br />
obtidas experimentalmente, após o período de repouso (≅ 16 horas).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
16<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
Tabela 4 – Valores médios das pressões horizontais obtidas experimentalmente na<br />
parede do silo protótipo- Carregamento<br />
Pressão<br />
Célula<br />
horizontal CP7 CP8 CP12 CP9 CP10 CP11<br />
kPa 29,08 23,40 21,50 19,60 12,02 5,69<br />
A tabela 5 apresenta os valores médios das pressões verticais no fundo do silo<br />
obtidos experimentalmente, após o período de repouso (≅ 16 horas).<br />
Tabela 5 – Pressões verticais obtidas experimentalmente no fundo do silo protótipo<br />
Pressão<br />
Célula<br />
vertical CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6<br />
kPa 42,36 63,87 34,15 38,57 54,38 38,57<br />
Dos gráficos da figuras 8 a 11, observa-se que algumas células registraram<br />
sobrepressão no início do descarregamento, mais notadamente nas paredes do silo. A<br />
tabela 6 apresenta os percentuais relativos ao acréscimo de pressão devido ao<br />
descarregamento em cada um dos ensaios realizados.<br />
Pressão<br />
horizontal<br />
kPa<br />
Tabela 6 – Variação percentual das pressões obtidas experimentalmente na fase de<br />
descarregamento<br />
Fundo<br />
Célula<br />
Parede<br />
CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6 CP7 CP8 CP12 CP9 CP10 CP11<br />
Ensaio 1 4 0 0 0 5 10 5 6 12 7 0 0<br />
Ensaio 2 3 2 0 0 0 0 4 16 11 12 0 0<br />
Na tabela 6, verifica-se um acréscimo de até 10% na pressão vertical atuante no<br />
fundo do silo e de até 16% na pressão horizontal atuante na parede na fase de<br />
descarregamento. Observa-se, também, que a região crítica sujeita a sobrepressões na<br />
parede se situa entre as células 8 e 9 e corresponde, aproximadamente, ao terço inferior<br />
da parede.<br />
4.2.1 Pressão horizontal: análise e discussão<br />
Com os valores do coeficiente de atrito interno µ e os valores da relação entre<br />
pressões, K, determinados anteriormente, apresenta-se no gráfico da figura 12 os valores<br />
obtidos experimentalmente e os teóricos onde a pressão horizontal para cada um dos<br />
modelos estudados é obtida em duas hipóteses de cálculo: com os valores médios das<br />
propriedades físicas do milho (m) e a pressão máxima obtida com a combinação mais<br />
desfavorável dessas propriedades (s). Para as características geométricas do silo<br />
analisado, na situação de carregamento, as principais normas internacionais adotam o<br />
modelo de Janssen, com algumas alterações para o caso de relações h/d
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
17<br />
adoção também do modelo de Bischara para o cálculo teórico das pressões deu-se pelo<br />
fato deste modelo apresentar características diferentes do modelo de Janssen e ter sido<br />
obtido através do método de elementos finitos e de regressão não linear, com dados<br />
experimentais, como foi visto anteriormente. Foram também calculadas as pressões<br />
segundo o modelo de Coulomb, mas, tendo em vista que resultaram em pressões mais<br />
baixas que as do modelo de Airy, esse modelo não foi apresentado.<br />
0<br />
Nível da superfície de referência<br />
Profundidade - m<br />
0,79<br />
1,29<br />
2,94<br />
5,34<br />
5,74<br />
6,14<br />
6,99<br />
CP11<br />
CP10<br />
CP9<br />
CP12<br />
CP8<br />
CP7<br />
Legenda<br />
Janssen-m<br />
Janssen-s<br />
Reimbert-m<br />
Reimbert-s<br />
Rankine/Calil-m<br />
Rankine/Calil-s<br />
Airy-m<br />
Airy-s<br />
Bischara-m<br />
Bischara-s<br />
Valores experimentais<br />
Escala das pressões – 1:50<br />
Escala da profundidade – 1:100<br />
8,04<br />
0 5 10 15 20 25 30 35 40<br />
Pressão horizontal – kPa<br />
Figura 12– Pressões horizontais teóricas e experimentais - Carregamento<br />
No gráfico da figura 12, pode-se constatar que os valores obtidos<br />
experimentalmente não apresentaram comportamento assintótico em relação ao eixo da<br />
profundidade para a relação h/d ensaiada e ficaram relativamente próximos dos valores<br />
obtidos com o modelo linear de Rankine- Calil, com os valores médios das propriedades<br />
físicas do milho, propriedades essas que possuíam no momento do ensaio. Embora<br />
tenham também ficado relativamente próximos dos valores da curva limite superior de<br />
Janssen e também de Bischara, com exceção do valor obtido com a CP7, que ficou mais<br />
próximo da curva obtida com o modelo de A & M Reimbert, cumpre notar que a curva<br />
limite superior é aquela que irá produzir a situação mais desfavorável em relação às<br />
propriedades dos produtos, durante toda a vida útil do silo e para qual deverá ser<br />
projetado.<br />
A seguir, é feita uma análise comparativa entre os valores obtidos<br />
experimentalmente para as pressões horizontais estáticas com o silo protótipo e as<br />
principais normas internacionais e o modelo de Rankine-Calil. A figura 13 apresenta as<br />
pressões horizontais em duas hipóteses: com a combinação mais desfavorável das<br />
propriedades físicas do produto (limite superior) e com a combinação menos<br />
desfavorável (limite inferior), para a análise comparativa acima descrita. Para a norma<br />
americana foi adotada a formulação de Janssen.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
18<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
0<br />
Nível da superfície de referência<br />
Profundidade z - m<br />
0,79<br />
1,29<br />
CP11<br />
2,94<br />
5,34<br />
5,74<br />
6,14<br />
CP10<br />
CP9<br />
CP12<br />
CP8<br />
Legenda<br />
s Limite superior<br />
i Limite inferior<br />
ISO=ENV -i<br />
ISO=ENV-s<br />
DIN=AS-i<br />
DIN=AS-s<br />
ACI-i<br />
ACI-s<br />
Rankine/Calil-i<br />
Rankine/Calil-s<br />
BMHB-i<br />
BMHB-s<br />
Escala das pressões – 1:50<br />
Escala da profundidade – 1:100<br />
6,99<br />
CP7<br />
8,04<br />
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45<br />
Pressão horizontal – kPa<br />
Figura 13 – Valores experimentais x Normas e modelo Rankine-Calil<br />
Com exceção da norma inglesa BMHB, as demais normas constantes do gráfico<br />
13 adotam, para a previsão das pressões horizontais, o modelo de Janssen também para<br />
silos de baixa relação altura/diâmetro. Como, neste caso, as propriedades físicas dos<br />
produtos foram obtidas experimentalmente, o elemento diferenciador é o parâmetro K,<br />
proposto por cada uma das normas. As normas ENV e ISO adotam a mesma formulação<br />
para esse parâmetro; as normas DIN e AS, embora adotem formulações bastante<br />
diferenciadas, obtiveram valores iguais, pelo fato do ângulo de atrito interno do produto,<br />
φ i , ser igual ao ângulo de atrito com a parede, φ w . As formulações para o parâmetro K,<br />
propostas pelas normas ENV-ISO e DIN, diferenciam entre si de 10%, o que levou à<br />
pequena diferença verificada no gráfico da figura 13. Os baixos valores apresentados<br />
pela norma ACI são causados pelo fato da mesma adotar a formulação de Rankine-<br />
Koenen para o parâmetro K, que é a formulação que apresenta os menores valores para<br />
este parâmetro.<br />
O gráfico da figura 14 apresenta a regressão linear realizada com os valores das<br />
pressões horizontais na parede obtidas experimentalmente de modo a obter-se dados<br />
comparativos com o modelo de Rankine-Calil.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
0<br />
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
19<br />
Nível da superfície de referência<br />
2<br />
4<br />
Profundidade z - m<br />
Valores experimenta<br />
Regressão linear<br />
Legenda<br />
Valores experimentais<br />
Regressão linear<br />
Rankine-Calil<br />
p h (z) = 3,87z R 2 = 0,99491 SD = 0,29488<br />
p h (z) = γ m K m z = 4,17z<br />
6<br />
Pressão horizontal - kPa<br />
8<br />
0 5 10 15 20 25 30<br />
Figura 14 – Regressão linear x Modelo Rankine-Calil<br />
Do gráfico da figura 14, pode-se observar que a regressão linear obtida com os<br />
valores experimentais apresenta uma boa correlação, o que indica que, para a relação<br />
h/d analisada (0,98), o modelo linear de Rankine-Calil pode ser adotado. A diferença<br />
percentual entre os valores obtidos com a regressão linear e o modelo de Rankine-Calil,<br />
nesse caso, é de 7,8%.<br />
4.2.2 Pressões Verticais no Fundo do Silo: Análise e Discussão<br />
A figura 15 apresenta os valores teóricos e os experimentais, para as pressões<br />
verticais no fundo do silo.<br />
90<br />
80<br />
Pressão vertical no fundo do silo -<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6<br />
820<br />
0,15 2,00 3,85 4,35 6,20<br />
8,05<br />
Cota - m<br />
Figura 15 – Pressões verticais teóricas e experimentais - Carregamento<br />
Legenda<br />
ENV<br />
ISO<br />
DIN<br />
AS<br />
ACI<br />
γ m .h<br />
γ u .h<br />
Valores<br />
experimentais<br />
Escala das pressões – 1:125<br />
Escala das cotas – 1:75<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
20<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
As baixas pressões verticais obtidas experimentalmente no centro do silo (CP3 e<br />
CP4), quando comparadas aos valores obtidos nos pontos quartos (CP2 e CP5), podem<br />
ser justificadas pelo posicionamento das mesma. Nos dois ensaios realizados, as células<br />
CP3 e CP4 ficaram posicionadas sobre a tela metálica relativamente flexível que cobria<br />
o túnel de descarga. JARRET et al citado por GOMES (2000) constataram que os<br />
resultados obtidos com a utilização de células de pressão em parede flexível foram bem<br />
menores que os previstos pelos modelos teóricos. Desta maneira não serão considerados<br />
os resultados experimentais registrados pelas células CP3 e CP4, para efeito de análise<br />
comparativa com os modelos teóricos. Levando-se em conta somente os resultados<br />
experimentais obtidos com as células CP1, CP2, CP5, CP6, observa-se, no gráfico da<br />
figura 10, que os modelos que melhor estimaram as pressões verticais na base do silo<br />
para efeito de projeto foram os da norma australiana AS, da norma alemã DIN, da<br />
norma européia ENV e o modelo γ u .h. A tabela 7 apresenta a diferença percentual entre<br />
a média dos valores das pressões verticais obtidos experimentalmente junto à parede<br />
(CP1, CP6) e nos pontos quartos (CP2, CP5) e os valores teóricos.<br />
Tabela 7 – Diferença percentual entre os valores das pressões verticais obtidos<br />
experimentalmente e os modelos teóricos – Silo protótipo<br />
Norma ou modelo<br />
Células ENV ISO DIN AS ACI γ m .h γ u .h<br />
CP1-CP6 +58 +42 +55 +34 +41 +48 +70<br />
CP2-CP5 +15 +2 +21 +30 -3 -1 +17<br />
4.2 Silo piloto<br />
A tabela 8 apresenta os valores médios das pressões obtidas experimentalmente na<br />
parede e no fundo do silo, nos 4 ensaios realizados em cada uma das relações h/d.<br />
Tabela 8 – Valores médios das pressões obtidas experimentalmente na parede (P)<br />
e no fundo (F) em cada relação h/d ensaiada no silo piloto – Carregamento (kPa)<br />
Relação h/d<br />
Célula 0,98 1,25 1,49<br />
CP1 F 22,13 27,18 33,20<br />
CP2 F 23,40 28,43 35,42<br />
CP3 F <strong>24</strong>,98 32,88 38,58<br />
CP4 F 25,29 32,56 39,52<br />
CP5 F 22,76 29,07 36,04<br />
CP6 F 21,81 28,75 33,20<br />
CP7 P 11,38 12,33 13,60<br />
CP8 P 9,17 10,75 11,38<br />
CP12 P 8,85 10,44 11,06<br />
CP9 P 8,20 9,80 10,44<br />
CP10 P 5,06 5,98 6,96<br />
CP11 P 1,90 2,84 3,78<br />
Todas as células de pressão, sem exceção, registraram aumento de pressão durante<br />
o período de repouso. Em média, nas três relações h/d ensaiadas, houve um aumento de<br />
15% nas células do fundo e de 25% nas células da parede. Observou-se, também, para<br />
as células do fundo do silo que os valores medidos pelas células simétricas variaram<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
21<br />
durante as fases de carregamento e descarregamento, mas não tão acentuadamente como<br />
no silo protótipo.<br />
Na fase de descarregamento dos ensaios das relações h/d=1,25 e h/d=1,49,<br />
observou-se a ocorrência de sobrepressões na parede do silo, o mesmo não acontecendo<br />
nos ensaios da relação h/d=0,98. Em nenhum dos ensaios se observou a ocorrência de<br />
sobrepressões na base do silo. Em ambas as relações, o percentual relativo à<br />
sobrepressão foi de aproximadamente 12% na CP8 e de 11% na CP12.<br />
4.2.1 Pressões horizontais: Análise e discussão<br />
As figuras 16, 17 e 18 apresentam, graficamente, os valores experimentais e<br />
teóricos das pressões horizontais para h/d=0,98, h/d=1,25 e h/d=1,49 respectivamente,<br />
na situação de carregamento.<br />
0<br />
Nível da superfície de referência<br />
Legenda<br />
Profundidade -<br />
0,28<br />
0,66<br />
1,17<br />
1,26<br />
1,35<br />
1,63<br />
CP11<br />
CP10<br />
CP9<br />
CP12<br />
CP8<br />
CP7<br />
Janssen-m<br />
Janssen-s<br />
Reimbert-m<br />
Reimbert-s<br />
Rankine/Calil-m<br />
Rankine/Calil-s<br />
Airy-m<br />
Airy-s<br />
Bischara-m<br />
Bischara-s<br />
Valores experimentais<br />
Escala das pressões – 1:20<br />
Escala da profundidade – 1:25<br />
1,78<br />
0 5 10 15<br />
Pressão horizontal – kPa<br />
Figura 16 – Pressões horizontais teóricas e experimentais - h/d=0,98 - Carregamento<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
22<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
0<br />
Nível da superfície de referência<br />
Profundidade -<br />
0,36<br />
0,84<br />
1,50<br />
1,61<br />
1,72<br />
CP11<br />
CP10<br />
CP9<br />
CP12<br />
CP8<br />
Janssen-m<br />
Janssen-s<br />
Reimbert-m<br />
Reimbert-s<br />
Rankine/Calil-m<br />
Rankine/Calil-s<br />
Airy-m<br />
Airy-s<br />
Bischara-m<br />
Bischara-s<br />
Valores experimentais<br />
Escala das pressões – 1:20<br />
Escala da profundidade – 1:25<br />
2,12<br />
2,27<br />
CP7<br />
0 5 10 15 20<br />
Pressão horizontal – kPa<br />
Figura 17– Pressões horizontais teóricas e experimentais - h/d=1,25 - Carregamento<br />
0<br />
Profundidade - m<br />
0,43<br />
1,00<br />
1,79<br />
1,93<br />
Nível da superfície de referência<br />
CP11<br />
CP10<br />
CP9<br />
CP12<br />
Legenda<br />
Janssen-m<br />
Janssen-s<br />
Reimbert-m<br />
Reimbert-s<br />
Rankine/Calil-m<br />
Rankine/Calil-s<br />
Airy-m<br />
Airy-s<br />
Bischara-m<br />
Bischara-s<br />
Valores experimentais<br />
Escala das pressões – 1:25<br />
Escala da profundidade – 1:25<br />
2,07<br />
CP8<br />
2,56<br />
CP7<br />
2,71<br />
Pressão horizontal – kPa<br />
0 5 10 15 20 25<br />
Figura 18 – Pressões horizontais teóricas e experimentais - h/d=1,49 - Carregamento<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
23<br />
A partir dos gráficos das figuras 16 a 18, pode-se observar que os modelos de<br />
Airy, Janssen e M &R Reimbert não se mostraram adequados aos valores obtidos<br />
experimentalmente para as pressões horizontais na parede do silo, na região<br />
correspondente, aproximadamente, ao último terço da altura (CP7, CP8, CP12, CP9).<br />
Os valores obtidos com o modelo linear de Rankine-Calil se afastam muito dos valores<br />
experimentais, à medida que aumentou a relação h/d. Considerando as curvas para<br />
relação h/d ensaiada, obtida com os valores médios das propriedades da areia, valores<br />
esses que possuíam no momento do ensaio, o modelo de Bischara mostrou-se bastante<br />
ajustado aos valores experimentais. Na relação h/d=0,98 (figura 16), analogamente ao<br />
ensaio com o silo protótipo, o modelo de Rankine-Calil mostrou-se bastante adequado<br />
para a previsão teórica das pressões para relações h/d
<strong>24</strong><br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
Profundidade z - m<br />
Nível da superfície de referência<br />
0,0<br />
0,5<br />
1,0<br />
1,5<br />
2,0<br />
Valores experimentais<br />
Ajuste linear<br />
Ajuste exponencial<br />
Rankine-Calil-m<br />
Bischara-m<br />
p h (z) = 5,93z + 0,59 R 2 = 0,99338 SD = 0,58591<br />
p h (z) = 36,31e -0,059(z-2,75) –23,16 R 2 = 0,99905 SD = 0,1753<br />
p h (z) = 7,27z<br />
0 5 10 15<br />
Pressão horizontal – kPa<br />
Figura 20 – Ajustes Estatísticos x Modelos Rankine-Calil e Bischara – h/d=1,25<br />
0,0<br />
Nível da superfície de referência<br />
Profundidade z - m<br />
0,5<br />
1,0<br />
1,5<br />
2,0<br />
2,5<br />
Valores experimentais<br />
Ajuste linear<br />
Ajuste exponencial<br />
Rankine-Calil-m<br />
Bischara-m<br />
p h (z) = 5,11z + 1,03 R 2 =0,99126 SD = 0,69992<br />
p h (z) = 42,5e -0,033(z-3,43) –28,18 R 2 = 0,9935 SD = 0,30506<br />
p h (z) =7,27z<br />
0 5 10 15 20<br />
Pressão horizontal – kPa<br />
Figura 21– Ajustes estatísticos x Modelos Rankine-Calil e Bischara – h/d=1,49<br />
No gráfico da figura 19, pode-se observar que o ajuste linear obtido com os<br />
valores experimentais das pressões horizontais na parede do silo, para a relação<br />
h/d=0,98, apresentou uma boa correlação, indicando que, para essa relação, um modelo<br />
linear como o de Rankine-Calil pode ser adotado para a previsão das pressões<br />
horizontais na parede do silo. A diferença percentual entre os valores obtidos com a<br />
regressão linear e o modelo de Rankine-Calil, nesse caso, é de -3,7%.<br />
Nos gráficos das figuras 20 e 21, relativos a h/d=1,25 e h/d=1,49<br />
respectivamente, observa-se que o ajuste linear obtido com os valores experimentais não<br />
apresentou o mesmo grau de correlação, como na relação h/d=0,98. O modelo linear<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
25<br />
como o de Rankine-Calil poderia ser ainda adotado, mas seria um modelo um tanto<br />
conservativo em relação às pressões horizontais correspondentes ao último terço da<br />
altura do silo. O ajuste exponencial apresentou uma boa correlação e indicou um<br />
comportamento levemente curvilíneo das pressões horizontais na parede para h/d>1,<br />
semelhante ao modelo de Janssen e Bischara, talvez, já pelo efeito do atrito do produto<br />
com a parede.<br />
A análise da forma obtida com o ajuste exponencial para os casos de h/d=1,25<br />
e h/d=1,49, do modelo de Bischara e de Janssen, permitiu a obtenção de uma<br />
formulação empírica para a previsão das pressões horizontais na parede, como a seguir:<br />
p<br />
h<br />
(z) =<br />
d<br />
2<br />
γ<br />
µ<br />
⎛<br />
⎜<br />
1 − e<br />
⎝<br />
−z<br />
d<br />
⎞<br />
⎟<br />
cosφ<br />
⎠<br />
i<br />
Adotando-se os valores de K, µ, γ e φ i de modo a obter-se a combinação mais<br />
desfavorável das propriedades físicas da areia (limite superior) e a menos desfavorável<br />
(limite inferior), tendo em vista a tendência mundial de dimensionamento das estruturas<br />
pelo método dos estados limites, a seguir, será feita uma análise comparativa entre os<br />
valores obtidos experimentalmente para as pressões horizontais estáticas, com o silo<br />
piloto, para as três relações h/d ensaiadas, com base nas principais normas<br />
internacionais, no modelo de Rankine-Calil e no modelo empírico proposto. As figuras<br />
22, 23 e <strong>24</strong> apresentam as pressões horizontais em duas hipóteses: com a combinação<br />
mais desfavorável das propriedades físicas do produto (limite superior) e com a<br />
combinação menos desfavorável (limite inferior), para a análise comparativa acima<br />
descrita. Para a norma americana foi adotada a formulação de Janssen.<br />
(10)<br />
Profundidade - m<br />
0<br />
0,28<br />
0,66<br />
CP9<br />
1,17<br />
1,26<br />
CP12<br />
1,35<br />
CP8<br />
1,63<br />
1,78<br />
Nível da superfície de referência<br />
CP1<br />
CP10<br />
CP7<br />
0 2 4 6 8 10 12 14 16<br />
Pressão horizontal – kPa<br />
Legenda<br />
s Limite superior<br />
i Limite inferior<br />
Valores experimentais<br />
Proposta-i<br />
Proposta-s<br />
ISO=ENV-i<br />
ISO=ENV-s<br />
DIN=AS-i<br />
DIN=AS-s<br />
ACI-i<br />
ACI-s<br />
Rankine/Calil-i<br />
Rankine-Calil-s<br />
BMHB-i<br />
BMHB-s<br />
Escala das pressões – 1:20<br />
Escala da profundidade – 1:25<br />
Figura 22 – Valores experimentais x Normas, modelo Rankine-Calil e formulação proposta<br />
para o silo piloto - h/d=0,98<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
26<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
Profundidade - m<br />
0<br />
0,36<br />
CP11<br />
CP10<br />
0,84<br />
CP9<br />
1,50<br />
CP12<br />
1,61<br />
1,72<br />
CP8<br />
CP7<br />
2,12<br />
2,27<br />
0<br />
Nível da superfície de referência<br />
Pressão horizontal – kPa<br />
s<br />
i<br />
Legenda<br />
Limite superior<br />
Limite inferior<br />
Proposta-i<br />
Proposta-s<br />
ISO=ENV-i<br />
ISO=ENV-s<br />
DIN=AS-i<br />
DIN=AS-s<br />
ACI-i<br />
ACI-s<br />
Rankine/Calil-i<br />
Rankine-Calil-s<br />
BMHB-i<br />
BMHB-s<br />
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20<br />
Escala das pressões – 1:20<br />
Escala da profundidade – 1:25<br />
Figura 23 – Valores experimentais x Normas, modelo Rankine-Calil e formulação proposta<br />
para o silo piloto - h/d=1,25<br />
0<br />
Nível da superfície de referência<br />
Profundidade - m<br />
0,43<br />
CP11<br />
1,00<br />
CP10<br />
1,79<br />
CP9<br />
CP12<br />
1,93<br />
2,07<br />
CP8<br />
Legenda<br />
s Limite superior<br />
i Limite inferior<br />
l<br />
Proposta-i<br />
Proposta-s<br />
ISO=ENV-i<br />
ISO=ENV-s<br />
DIN=AS-i<br />
DIN=AS-s<br />
ACI-i<br />
ACI-s<br />
Rankine/Calil-i<br />
Rankine-Calil-s<br />
BMHB-i<br />
BMHB-s<br />
Escala das pressões – 1:25<br />
Escala da profundidade – 1:25<br />
CP7<br />
2,56<br />
0 5 10 15 20 25<br />
2,71<br />
Pressão horizontal – kPa<br />
Figura <strong>24</strong> – Valores experimentais x Normas, modelo Rankine-Calil e<br />
formulação proposta para o silo piloto - h/d=1,49<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
27<br />
Tendo em vista os valores das pressões horizontais obtidos experimentalmente e<br />
considerando que as curvas constantes nos gráficos das figuras 22 a <strong>24</strong> foram obtidas<br />
com as propriedades do produto armazenado, de modo a propiciar a combinação mais<br />
desfavorável e a menos desfavorável em cada formulação, observa-se que,<br />
comparativamente às normas analisadas, a formulação proposta foi a que se mostrou<br />
mais adequada para a previsão das pressões horizontais em silos de baixa relação<br />
altura/diâmetro, com h/d>1; para relações h/d≤1,0, a formulação de Rankine-Calil é a<br />
que se apresenta mais indicada.<br />
4.2.2 Pressão vertical na base do silo piloto: Análise e discussão<br />
As figuras 25, 26 e 27 apresentam, graficamente, os valores experimentais e<br />
teóricos das pressões verticais na base do silo para h/d=0,98, h/d=1,25 e h/d=1,49,<br />
respectivamente.<br />
Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />
30<br />
20<br />
10<br />
Legenda<br />
Valores experimentais<br />
ENV ≅ DIN = γ u .h<br />
ISO<br />
AS<br />
ACI<br />
γ m .h<br />
Escala das pressões – 1:75<br />
Escala das cotas – 1:20<br />
CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6<br />
0 0 0,15 0,41 0,66 1,16 1,41 1,67 1,82<br />
Cota - m<br />
Figura 25 – Pressões verticais teóricas e experimentais no fundo do silo piloto - h/d=0,98<br />
Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6<br />
0,15<br />
0,41 0,66 1,16 1,41 1,67 1,82<br />
Cota - m<br />
Legenda<br />
Valores experimentais<br />
DIN = γ u .h<br />
AS<br />
ACI<br />
ENV<br />
ISO<br />
γDIN<br />
m .h<br />
Escala das pressões – 1:75<br />
Escala das cotas – 1:20<br />
Figura 26 – Pressões verticais teóricas e experimentais no fundo do silo piloto - h/d=1,25<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
28<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
Legenda<br />
Valores experimentais<br />
ENV<br />
IS O = A C I<br />
DIN<br />
AS<br />
γ m .h<br />
γ u .h<br />
Escala das pressões – 1:75<br />
Escala das cotas – 1:20<br />
CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 CP6<br />
0 0 0,15 0,41 0,66 1,16 1,41 1,67 1,82<br />
Cota - m<br />
Figura 27 – Pressões verticais teóricas e experimentais no fundo do silo piloto - h/d=1,49<br />
Embora a superfície livre do produto, nas três relações h/d ensaiadas, fosse plana,<br />
observa-se, nos gráficos das figuras 25, 26 e 27, que as pressões verticais na região<br />
central do fundo do silo foram sempre maiores do que as pressões junto à parede, de<br />
certa forma semelhante aos valores obtidos com a formulação da norma australiana para<br />
silos de fundo plano. Observa-se, também, que as pressões obtidas experimentalmente<br />
na região central do silo ficaram relativamente próximas de γ m h, nas três relações h/d<br />
ensaiadas. No caso da relação h/d=0,98, a formulação da norma australiana e a<br />
formulação γ m h foram as que melhor estimaram as pressões verticais na base do silo.<br />
Para relações h/d>1, a norma australiana considera também uma variação parabólica das<br />
pressões verticais, mas, no centro, ela adota a formulação de Janssen multiplicada por<br />
1,25. Considerando que, com exceção da formulação γ m h, os valores teóricos foram<br />
obtidos com a combinação mais desfavorável das propriedades físicas da areia, a<br />
formulação que melhor estimou as pressões verticais na base do silo foi a formulação<br />
γ m h.<br />
A partir da análise dos valores obtidos experimentalmente e da formulação da<br />
norma australiana, é proposta a formulação empírica para a determinação das pressões<br />
verticais na base do silo, como a seguir:<br />
⎡<br />
2<br />
⎛ x ⎞<br />
⎤<br />
p v (z) = γh⎢1<br />
− 0,9⎜<br />
⎟ ⎥ onde x varia de –R a R (11)<br />
⎢⎣<br />
⎝ d ⎠ ⎥⎦<br />
x = 0 no centro do silo<br />
O gráfico da figura 28 apresenta os valores médios obtidos experimentalmente,<br />
o modelo empírico proposto, a formulação da norma australiana e as formulações γ m h e<br />
γ u h, para relação h/d=0,98. Os gráficos das figuras 29 e 30 apresentam os valores<br />
obtidos experimentalmente, o modelo empírico proposto e as formulações γ m h e γ u h,<br />
para relação h/d=1,25 e 1,49.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
29<br />
40<br />
Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0<br />
CP3<br />
CP4<br />
0,25<br />
CP2<br />
CP5<br />
0,50 0,76 0,91<br />
Cota - m<br />
γ u .h<br />
γ m h<br />
AS<br />
Modelo empírico – s<br />
Modelo empírico - m<br />
Valores experimentais<br />
Escala das pressões – 1:75<br />
Escala das cotas – 1:20<br />
Figura 28 - Pressão vertical: Formulação empírica x teóricas e experimentais –<br />
h/d=0,98<br />
CP1<br />
CP6<br />
Legenda<br />
Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0<br />
Cota - m<br />
CP3 CP2 CP1<br />
CP4 CP5 CP6<br />
0,25 0,50 0,76 0,91<br />
Legenda<br />
γ u .h<br />
γ m .h<br />
Modelo empírico - s<br />
Modelo empírico - m<br />
Valores experimentais<br />
Escala das pressões – 1:75<br />
Escala das cotas – 1:20<br />
Figura 29 – Pressão vertical: Formulação empírica x teóricas e experimentais –<br />
h/d=1,25<br />
Pressão vertical no fundo do silo -<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
CP4<br />
CP3<br />
0<br />
0<br />
CP2<br />
CP5<br />
CP1<br />
CP6<br />
Legenda<br />
γ u .h<br />
γ m .h<br />
Modelo empírico - s<br />
Modelo empírico - m<br />
Valores experimentais<br />
Escala das pressões – 1:75<br />
Escala das cotas – 1:20<br />
0,25 0,50 0,76 0,91<br />
Cota - m<br />
Figura 30 – Pressão vertical: Formulação empírica x teóricas e experimentais –<br />
h/d=1,49<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
30<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
A tabela 9 apresenta a diferença percentual entre os valores obtidos experimentalmente<br />
para as pressões verticais na base do silo e o modelo empírico proposto, para cada uma<br />
das hipóteses analisadas, e as formulações teóricas que melhor estimaram as pressões<br />
verticais, para cada relação h/d ensaiada.<br />
Tabela 9 – Diferença percentual entre os valores das pressões verticais obtidos<br />
experimentalmente e as teóricas para cada relação h/d ensaiada no silo piloto<br />
h/d=0,98 h/d=1,25 h/d=1,49<br />
Modelo<br />
parede centro parede centro parede centro<br />
γ u h +36 +19 +36 +16 +37 +16<br />
Modelo s +14 +<strong>24</strong> +14 +15 +15 +14<br />
empírico m ≅0 +1 ≅0 ≅0 ≅0 ≅0<br />
AS +22 +44 -- -- -- --<br />
Observa-se, nos gráficos das figuras 28 a 30 e na tabela 9, que o modelo<br />
empírico proposto, comparativamente ao conjunto dos valores experimentais, faz uma<br />
boa previsão das pressões verticais na base do silo.<br />
De modo a verificar o desempenho do modelo empírico proposto para as<br />
pressões verticais em silos que não tenham a superfície livre do produto nivelada e,<br />
também, com outro produto diferente da areia, a figura 31 apresenta o modelo empírico<br />
para o silo protótipo.<br />
Pressão vertical no fundo do silo - kPa<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
CP2 CP1<br />
CP5 CP6<br />
0 410<br />
0<br />
2,10 3,95<br />
Cota - m<br />
Figura 31– Pressões verticais: Modelo empírico x pressões verticais teóricas e<br />
experimentais para o silo protótipo<br />
Legenda<br />
DIN<br />
AS<br />
ENV<br />
γ u .h<br />
γ m .h<br />
Modelo empírico-m<br />
Modelo empírico -s<br />
Valores experimentais<br />
Escala das pressões – 1:125<br />
Escala das cotas – 1:75<br />
A tabela 10 apresenta a diferença percentual entre os valores obtidos<br />
experimentalmente para as pressões verticais na base do silo protótipo e os valores<br />
teóricos que melhor estimaram as pressões verticais.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
31<br />
Tabela 10 – Diferença percentual entre os valores das pressões verticais obtidos<br />
experimentalmente e os modelos teóricos e o empírico– Silo protótipo<br />
Células ENV DIN AS γ u .h Modelo empírico<br />
CP1-CP6 +58 +55 +34 +70 s +35<br />
m +17<br />
CP2-CP5 +15 +21 +30 +17 s +10<br />
m -5<br />
No gráfico da figura 31 e na tabela 10, observa-se que o modelo empírico proposto,<br />
comparativamente aos outros modelos, também apresenta uma boa estimativa das<br />
pressões verticais na base do silo protótipo.<br />
5 CONCLUSÕES<br />
Do estudo teórico e experimental realizado neste trabalho, pode-se concluir que:<br />
Em relação às pressões horizontais nas paredes<br />
• A análise comparativa realizada com as principais normas internacionais mostraram<br />
a existência de diferenças bastante significativas entre os valores obtidos,<br />
considerando a combinação mais desfavorável das propriedades dos produtos. Na<br />
condição estática, ocorreram diferenças de até 32% enquanto, na dinâmica, de até<br />
77%.<br />
• Os modelos de Airy, Janssen e M & A Reimbert não se mostraram adequados para a<br />
previsão das pressões horizontais na parede do silo na situação de carregamento,<br />
tanto no silo protótipo quanto em nenhuma das relações h/d ensaiadas no silo piloto.<br />
No silo protótipo, os valores experimentais chegaram a ser maiores que os obtidos<br />
com os modelos acima citados: 136, 70 e 48%, respectivamente. No silo piloto, os<br />
valores experimentais foram maiores que os modelos de Airy, Janssen e M & A<br />
Reimbert, em média, para as três relações h/d ensaiadas: 103, 67 e 54%,<br />
respectivamente.<br />
• A maioria das normas internacionais adota a teoria de Janssen para a determinação<br />
das pressões horizontais, mesmo para silos de baixa relação altura/diâmetro ou, como<br />
no caso da norma inglesa, que adota uma formulação semelhante a de M & A<br />
Reimbert, resultando que nenhuma delas se mostrou adequada para a previsão das<br />
pressões horizontais, sobretudo no terço inferior da parede do silo, tanto no silo<br />
protótipo quanto no silo piloto, nas três relações h/d ensaiadas. Considerando a<br />
combinação mais desfavorável das propriedades dos produtos, na profundidade<br />
máxima, os valores experimentais chegaram a ser maiores que os obtidos com as<br />
normas analisadas em até 110% no silo protótipo e, no silo piloto, de até 53%, na<br />
relação h/d=0,98; 43%, na relação h/d=1,25 e 46%, na relação h/d=1,49. As<br />
diferenças percentuais acima obtidas entre os valores teóricos e os experimentais é<br />
uma das razões do grande número de acidentes com silos de baixa relação<br />
altura/diâmetro que ocorrem em todo o mundo.<br />
• Tendo em vista os valores experimentais obtidos tanto no silo protótipo quanto no<br />
silo piloto para a relação h/d=0,98, recomenda-se a adoção do modelo linear de<br />
Rankine-Calil para silos com relações h/d≤1, isto é:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
32<br />
Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
p h (z) = K.γ.z, com<br />
2<br />
1 − sen φ<br />
K =<br />
i<br />
.<br />
2<br />
1 + sen φ<br />
i<br />
• Para a determinação das pressões horizontais em silos 1
Estudo teórico e experimental das pressões em silos de baixa relação altura/ diâmetro e fundo...<br />
33<br />
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
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Edna das Graças Assunção Freitas & Carlito Calil Júnior<br />
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<strong>24</strong>1p. Tese (Doutorado) - Universiteit Twente - The Netherlands.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 1-34, <strong>2005</strong>
ISSN 1809-5860<br />
ESTUDO TEÓRICO E EXPERIMENTAL DAS AÇÕES<br />
EM SILOS HORIZONTAIS<br />
Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes 1 & Carlito Calil Júnior 2<br />
Resumo<br />
O projeto seguro e econômico das estruturas de armazenamento é função das máximas<br />
ações impostas e da resistência destas estruturas de suportar tais ações, observadas as<br />
combinações mais desfavoráveis. Entre as ações consideradas nos cálculos dos silos<br />
horizontais (peso próprio, peso de equipamentos, vento, recalques diferenciais de<br />
apoios, impacto de veículos, explosões, etc), a de maior importância é a causada pelo<br />
empuxo dos produtos armazenados e que foi objeto de estudo nesta pesquisa. Este<br />
trabalho foi realizado em duas etapas, teórica e experimental, procurando avaliar estas<br />
ações com base em teorias e métodos de cálculo de diversos autores. Na tremonha do<br />
silo, as pressões foram avaliadas através do método de cálculo proposto por Safarian<br />
& Harris, da teoria de Walker e da Norma Australiana AS 3774. Nas paredes, foram<br />
avaliadas as pressões de acordo com as teorias de Airy, Reimbert & Reimbert,<br />
Coulomb e Rankine e da norma americana ANSI/96. Os modelos teóricos foram<br />
estudados e comparados com os resultados obtidos através de medições diretas das<br />
pressões em modelo piloto e silo horizontal em escala real com a determinação da<br />
relação entre as pressões verticais e horizontais (K). Dos resultados obtidos propõe-se<br />
um novo método de cálculo com base em um modelo empírico para a determinação das<br />
pressões horizontais nestas unidades.<br />
Palavras-chave: Silos horizontais; ações; pressões; produto armazenado.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
A necessidade de ampliar a capacidade estática da rede armazenadora atendendo<br />
as exigências dos novos materiais de construção e das solicitações de projeto tornaram o<br />
estudo de silos bastante empolgante para os pesquisadores, projetistas e construtores.<br />
Dentre os temas desenvolvidos, o estudo do comportamento das pressões tem se<br />
destacado nas diversas áreas de pesquisa relacionada às estruturas de armazenamento.<br />
Nas últimas décadas muitos trabalhos foram desenvolvidos em relação à determinação<br />
das pressões nos silos, com ênfase às estruturas verticais. Pouco se conhece sobre as<br />
teorias empregadas no estudo dos silos horizontais e um número restrito de pesquisas<br />
retratam as dificuldades encontradas para a avaliação dessas estruturas.<br />
1 Professor da UFLA - Departamento de Engenharia, fcgomes@ufla.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, calil@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
36<br />
Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />
Atualmente, encontramos vários trabalhos desenvolvidos por pesquisadores<br />
brasileiros na área de silos. Entretanto, desenvolveu-se um vasto domínio sobre os silos<br />
verticais em detrimento aos silos horizontais, tão largamente difundidos e executados a<br />
partir do final da década de 70. Tais fatos, induziram à elaboração de um trabalho de<br />
pesquisa cujo resultado fosse um texto que abordasse com mais profundidade o<br />
comportamento das pressões, as aplicações mais freqüentes e os aspectos relacionados<br />
com os problemas dos silos horizontais, no universo das Engenharias Civil e Agrícola.<br />
Sendo um trabalho pioneiro para as unidades horizontais, os objetivos foram<br />
assim estabelecidos: 1- Comparação dos resultados teóricos com os experimentais,<br />
obtidos em modelo piloto e em um silo horizontal através de medições diretas das<br />
pressões. 2- Proposição de uma formulação empírica para a relação entre as pressões<br />
laterais e verticais, através do coeficiente K. 3- Definição de um coeficiente de<br />
sobrepressão de descarga para estas unidades.<br />
Em síntese, o estudo teórico e experimental das pressões objetiva balizar os<br />
métodos numéricos que venham a ser desenvolvidos, tornando as análises mais<br />
refinadas nos estudos futuros.<br />
2 DEFINIÇÕES<br />
2.1 Silos horizontais<br />
Devido a não existência de códigos normativos brasileiros, muitas denominações<br />
são dadas para este tipo de estrutura, existindo ainda algumas controvérsias sobre a<br />
terminologia a ser adotada. Em algumas regiões estas unidades são chamadas de<br />
armazéns graneleiros ou simplesmente graneleiros. A denominação armazém surgiu<br />
com a utilização das unidades destinadas para o armazenamento de café em sacarias.<br />
Algumas destas unidades foram adaptadas para estocar produtos a granel. WEBER<br />
(1995), classifica estas unidades como armazéns granelizados.<br />
Com as inovações construtivas adaptadas aos projetos originais e a otimização<br />
das condições de armazenamento e processamento, estas unidades passaram a ter fundo<br />
inclinado no formato V, duplo V e triplo V e ainda semi-plano. Com a instalação de<br />
cabos de termometria para controle da aeração e umidade da massa de grãos estas<br />
estruturas passaram a ter “status” de silos. NEGRISOLI (1997), emprega a terminologia<br />
“silos horizontais” apenas para as unidades elevadas, enquanto que as demais são<br />
denominadas armazéns graneleiros ou simplesmente graneleiros.<br />
Neste trabalho são descritas as unidades de acordo com a terminologia proposta<br />
pela ABNT (1990), TB – 377. De acordo com esta terminologia o silo horizontal é uma<br />
“estrutura que se desenvolve segundo o eixo horizontal”.<br />
As características construtivas aqui descritas estão de acordo com os projetos<br />
desenvolvidos pelo Engenheiro Ari Negrisoli ( Engesilos – Consultoria e Projetos SC) e<br />
observações feitas pelo autor durante as visitas realizadas.<br />
2.1.1 Silos horizontais não elevados<br />
Estas estruturas de armazenamento apresentam seção transversal de acordo com<br />
o formato do piso (plano, semi - plano ou semi - V, V e duplo V), e ainda quanto à sua<br />
instalação em relação ao nível do terreno (térreos, enterrados, semi - enterrados),<br />
limitando-se a sua escolha a capacidade pretendida, topografia do terreno, limitações da<br />
área, tipo de terreno, nível do lençol freático e finalmente o tipo de produto a ser<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />
37<br />
armazenado. Detalhes das instalações com o fundo plano, fundo “V” e duplo “V”,<br />
podem ser vistos nas figuras 1 e 2.<br />
Paredes<br />
As paredes laterais e frontais são geralmente construídas com pilares e placas<br />
pré moldadas, formando uma estrutura articulada, ao longo de todo o perímetro,<br />
permitindo acomodações resultantes de possíveis recalques. Esta solução permite abrir<br />
mais frentes de trabalho, sobrepondo as atividades na obra, reduzindo os prazos e os<br />
custos das construções. A proteção contra a entrada de água de chuva é garantida por 3<br />
elementos (beiral do telhado, cordão de mastique ao longo dos três lados da placa e<br />
encaixes da placa com a viga baldrame.<br />
Fundo<br />
A execução do piso do silo depende da seção transversal e do tipo de terreno.<br />
Para os silos com fundo tipo “V”, o piso pode ser de concreto simples, sem nenhuma<br />
armadura. Para as unidades de fundo semi - “V”, deve-se construir o piso de dois tipos :<br />
nas partes inclinadas, o piso deve ser igual ao dos silos de fundo “V”, nas partes planas,<br />
deverá ser projetado para suportar o tráfego de veículos do tipo de pás carregadoras,<br />
pequenos tratores e até mesmo caminhões. Para os silos de fundo plano a armação do<br />
piso é sempre necessária.<br />
Sempre que possível adota-se o fundo “V” ou duplo “V”, para que a descarga<br />
seja feita por gravidade, reduzindo-se custos operacionais e conservando-se a<br />
integridade dos grãos. Os ângulos de inclinação do piso são adotados para que o<br />
escoamento dos produtos ocorra só pela ação da gravidade sendo que o plano dos pisos<br />
laterais deva ter um ângulo mínimo de 35 o com o plano horizontal. Nos oitões o ângulo<br />
deve ser maior ou igual a 45 0 , para que a aresta resultante da interseção deste piso com a<br />
lateral, permita ainda o escoamento do produto por gravidade.<br />
Fundação<br />
Os silos horizontais não elevados constituem o tipo de estrutura, que melhor<br />
permite aplicar as cargas diretamente sobre o terreno. Quanto maior, mais baixo o custo<br />
por tonelada armazenada. Mesmo para terrenos de baixa resistência , tem sido possível<br />
projetá-los com fundações diretas. Neste caso, ocorrerão recalques com variações,<br />
aproximadamente lineares. As estruturas deverão ser divididas em trechos, separados<br />
por juntas do tipo de dilatação. Se os recalques são pequenos, as juntas poderão ser mais<br />
distanciadas, caso contrário deverão ficar mais próximas, (NEGRISOLI,1995).<br />
A galeria subterrânea é projetada estaticamente, para resistir as cargas da coluna<br />
do cereal, do peso próprio e das pressões do terreno, sendo sua fundação, executadas<br />
por estacas, em certas situações.<br />
Cobertura<br />
A cobertura, a galeria superior e as estruturas da cobertura e de fechamento dos<br />
oitões são metálicas, projetadas para as ações devidas ao peso próprio, ventos<br />
transversal e longitudinal, carga da galeria superior, cargas de equipamentos e possíveis<br />
recalques das fundações. Geralmente a estrutura de cobertura é em arco treliçado biarticulado.<br />
Existem exemplos com grandes vãos em concreto, tais como o terminal de<br />
açúcar de Recife e o terminal de Sumaré e ainda estruturas em madeira laminada colada,<br />
bastante difundidas na Europa. As telhas, geralmente, são de alumínio ou de aço<br />
galvanizado.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
38<br />
Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />
Nas regiões produtoras de cereais, os terrenos são de menor custo, resultando<br />
uma preferência na utilização das unidades horizontais e de silos metálicos de altura<br />
máxima igual ao diâmetro. Em terrenos onde não é possível a escavação tipo “V”, optase<br />
pelo fundo duplo ou triplo “V”, aumentando o número de transportadores, mas em<br />
contrapartida aumentam a vazão de descarga do produto.<br />
Neste tipo de construção a estrutura metálica participa com 25 a 30% do custo<br />
total, em relação ao custo da escavação, concretagem do piso, paredes periféricas e<br />
impermeabilizações sendo a opção mais utilizada dentre os materiais de construção.<br />
3.5<br />
3.5<br />
27°<br />
35°<br />
2.0<br />
10.6 9.17<br />
3.15<br />
2.5<br />
35°<br />
9.0 9.0 9.0 9.0<br />
2.0<br />
4.3 9.17<br />
3.15<br />
2.5<br />
18 18<br />
36.0<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 01 - Silo horizontal - (a) fundo “V” - (b) Fundo “W”<br />
3.5<br />
27°<br />
35°<br />
2.0<br />
9.17<br />
4.3<br />
3.15<br />
2.5<br />
18 18<br />
36.0<br />
3.5<br />
9.17<br />
2.5<br />
2.0<br />
3.15<br />
9.0 18.0 9.0<br />
36.0<br />
Figura 02 - (a) Silo horizontal fundo semi-plano e plano. (b) – vista interna do silo<br />
2.1.2 Silos horizontais elevados<br />
A CEAGESP construiu duas unidades deste tipo com estruturas monolíticas em<br />
toda a sua execução (S.J. da Barra e Araraquara). Em outras duas unidades a estrutura<br />
de cobertura é composta por placas pré moldadas e formas trepantes nas paredes. O<br />
problema de infiltração de algumas unidades só foi resolvido com execução de<br />
cobertura com telhas de aço galvanizado sobre a laje. Duas grandes vantagens destas<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />
39<br />
instalações podem ser citadas : a primeira é que são herméticas; a segunda, por serem<br />
elevadas e de grande comprimento (100m), funcionam como silos de expedição<br />
rodoviária, numa lateral e ferroviária na outra, (figura 3).<br />
De acordo com BAIKOV (1978), estas estruturas são chamadas de “Bunker”.<br />
No dimensionamento, a altura das paredes deve ser menor que 1,5 da menor dimensão<br />
do silo. Para efeitos de cálculo o autor desconsidera o atrito do produto com as paredes<br />
e recomenda que o ângulo de inclinação das paredes da tremonha deva ser 5 a 10%<br />
maior que o ângulo de repouso do produto armazenado. Ainda recomenda que a menor<br />
dimensão da boca de saída deva ser 6 vezes maior que a dimensão do produto e que o<br />
cálculo da estrutura deve se basear no estado limite último, ou seja, considerando os<br />
tipos de ruptura possíveis de ocorrer.<br />
2300<br />
45<br />
177<br />
30°<br />
960<br />
450<br />
560 370 440 370 560<br />
1740<br />
20.15<br />
35°<br />
Argola p/ ancoragem dos<br />
cabos de termometria<br />
50x40<br />
522<br />
Furo 72x72 p/ porta de<br />
inspeção (1 por célula)<br />
72x72<br />
Enchimento<br />
p/ caimento<br />
1<br />
80<br />
29<br />
Dim. cm<br />
Figura 03 – Silo horizontal elevado<br />
3 MATERIAIS E MÉTODOS<br />
Para o desenvolvimento do presente trabalho e atendimento dos objetivos<br />
propostos foram seguidas as atividades abaixo descritas, adotando-se a metodologia que<br />
foi dividida em duas etapas : - Teórica ; cálculo das pressões utilizando os modelos<br />
teóricos; - Experimental ; medições diretas de pressões através de células em modelo<br />
piloto e em silo real com a determinação da relação K (p h /p v ) das pressões horizontais e<br />
verticais.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
40<br />
Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />
3.1 Teorias<br />
As formulações teóricas empregadas nos cálculos para estimativa das pressões<br />
em silos horizontais são apresentadas no quadro 1. As teorias de Rankine, Coulomb,<br />
Airy e Reimbert & Reimbert, foram empregadas nos cálculos das pressões nas paredes<br />
do corpo do silo e a teoria de estimou as pressões no fundo do silo (tremonha).<br />
Quadro 01 – Teorias empregadas – cálculo das pressões horizontais.<br />
Rankine<br />
pa<br />
= K<br />
a<br />
pv<br />
= K<br />
aγz<br />
cosφr<br />
p = K p = K γz<br />
cosφ<br />
Coulomb<br />
Airy<br />
Reimbert & Reimbert<br />
Walker<br />
K<br />
K<br />
a<br />
_<br />
pVT<br />
a<br />
=<br />
p<br />
cos φ<br />
=<br />
cos φ<br />
cosφ<br />
w<br />
r<br />
r<br />
⎡<br />
⎢1<br />
+<br />
⎢⎣<br />
p<br />
−<br />
+<br />
v<br />
cos<br />
cos<br />
2<br />
2<br />
p<br />
φ<br />
φ<br />
r<br />
r<br />
r<br />
− cos<br />
− cos<br />
2<br />
2<br />
φ<br />
φ<br />
2<br />
cos φi<br />
sen( φi<br />
+ φw<br />
)sen( φi<br />
− φr<br />
) ⎤<br />
⎥<br />
cosφw<br />
cosφr<br />
⎥⎦<br />
⎛ 1 ⎞<br />
ph = γy⎜<br />
⎟<br />
⎜<br />
2<br />
( ')<br />
1 ⎟<br />
⎝ µ µ + µ + + µ ⎠<br />
2<br />
2<br />
γh<br />
⎛ π − 2φ<br />
r<br />
⎞ ⎞<br />
=<br />
⎜<br />
⎟ ⎜<br />
⎛ 2φ<br />
+ r<br />
ph<br />
1 ⎟<br />
2 ⎝ π + 2φ<br />
r ⎠ ⎝ π ⎠<br />
Dinâmica<br />
( n −1)<br />
γ H ⎡⎛<br />
z ⎞ ⎛ z ⎞ ⎤<br />
⎛<br />
= ⎢⎜<br />
⎟−⎜<br />
⎟ ⎥ + pvt⎜<br />
( n−1)<br />
H H<br />
⎝<br />
⎣⎢<br />
⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎥⎦<br />
Estática<br />
_<br />
p = γy<br />
+<br />
VT<br />
p<br />
vt<br />
i<br />
i<br />
2<br />
Z<br />
H<br />
2<br />
⎟<br />
⎠<br />
⎞<br />
n<br />
3.2 Determinação das propriedades físicas dos produtos armazenados<br />
Nos projetos de silos, a determinação das propriedades do produto armazenado é<br />
de grande importância para a definição das ações e fluxo devidas as características<br />
inerentes de cada produto. O objetivo deste ensaio foi determinar o ângulo de atrito<br />
interno, o ângulo de atrito do produto com a parede e o peso específico. Para a<br />
determinação das propriedades físicas dos produtos armazenados, foi empregada a<br />
metodologia proposta por MILANI (1993). Para isto foi utilizada a máquina de<br />
cisalhamento, disponível no LaMEM / EESC – <strong>USP</strong>. Os valores do peso específico,<br />
umidade e temperatura foram fornecidos pelo de Laboratório de propriedades da<br />
CEAGESP-Araraquara.<br />
Produtos<br />
Os produtos caracterizados foram areia seca ao ar e milho (U = 12,9%). A areia<br />
foi utilizada para os ensaios do modelo piloto, devido ao seu alto peso específico e para<br />
o ensaio do silo real foi utilizado o milho devido à sua grande disponibilidade por<br />
ocasião da realização do ensaio e ainda por apresentar um valor de peso específico<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />
41<br />
característico dos produtos agrícolas. Foram retiradas amostras aleatórias para os dois<br />
produtos, em diversos pontos da massa de grãos.<br />
Os produtos foram considerados granulares de fluxo livre de acordo com a<br />
classificação feita em função das dimensões do diâmetro de suas partículas, baseada nas<br />
considerações de CALIL JR. (1984):<br />
Tabela 01 – Classificação dos produtos de acordo com a granulometria<br />
D> 0,42 mm Granulares<br />
0,42 < D < 0,149 Pulverulentos coesivos<br />
0,149 < D< 0,079 Pulverulentos coesivos finos<br />
D < 0,079<br />
Pulverulentos coesivos extra – finos<br />
Fonte: Calil (1984)<br />
Máquina de Ensaio de cisalhamento<br />
A máquina de ensaio para a determinação das propriedades dos produtos foi a<br />
TSG 70-140 - AVT, construída com base no aparelho de cisalhamento de Jenike (Jenike<br />
Shear Cell). Para execução dos ensaios foram utilizados as seguintes referências :<br />
1 - Operating Instructions for Translational Shear tester TSG 70-140<br />
2 - Manual SSTT( Standart shear Testing Techinique). Trabalho desenvolvido pela<br />
Federação Européia de Engenharia Química WPMS – 1989.<br />
3 - MILANI (1993): Determinação das propriedades de produtos armazenados para o<br />
projeto de pressões e fluxo em silos.<br />
Método<br />
Neste ensaio os produtos passaram por dois estágios; no primeiro o sólido sofre<br />
rotação em células de cisalhamento sob pressão com a finalidade de uniformizar a<br />
amostra. No segundo estágio, chamado de pré-shear, uma camada do sólido é levada à<br />
deformação sob pressão e tensão cisalhante, até atingir um nível estável de<br />
cisalhamento.<br />
Foram realizados três carregamentos, para a obtenção do lugar geométrico<br />
instantâneo de deslizamento, através da pressão σ, no pré – cisalhamento (pré-shear),<br />
Wp = 100N, 70N e 50N e correspondentes a estes carregamentos, têm-se os<br />
carregamentos de cisalhamento, Ws, apresentados na tabela abaixo. De posse dos<br />
resultados dos ensaios com areia e milho, utilizou-se o software YOLCUS,<br />
desenvolvido por CALIL (1989), onde os resultados são mostrados no capítulo V.<br />
Tabela 02- Carregamentos - padrão (N), para determinação do lugar geométrico.<br />
Wp Ws Wp Ws Wp Ws<br />
100 70 70 50 50 35<br />
100 50 70 35 50 20<br />
100 35 70 20 50 10<br />
Material da parede<br />
Para os testes, dois tipos de materiais de parede foram utilizados, o primeiro foi<br />
o concreto (liso e rugoso), e o segundo a chapa de compensado com o objetivo de<br />
submeter o produto armazenado aos 3 tipos diferentes de superfície e avaliar o seu<br />
comportamento em condições reais.<br />
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Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />
Para a obtenção do IWYL (lugar geométrico instantâneo de deslizamento com a<br />
parede) de cada produto, foram utilizadas 6 cargas de consolidação de cisalhamento<br />
(shear) dadas por Ww (50, 40, 30, 20, 10,e 0 N). Nesta fase, utilizou-se a mesma célula<br />
de cisalhamento do IYL e três tipos de materiais de parede a ser testada; concreto liso e<br />
rugoso para o silo real e compensado para o modelo piloto.<br />
3.3 Determinação direta das pressões<br />
As medições de pressão em silos apresentaram grande avanço nos últimos anos<br />
através das medidas diretas obtidas pelo desenvolvimento das células de pressão e dos<br />
sistemas de aquisição de dados mais estáveis e rápidos. A utilização destes<br />
equipamentos tornou-se indispensável no estudo do comportamento dos meios<br />
granulares e pulverulentos, tais como solos e produtos diversos destinados ao<br />
armazenamento agrícola e industrial.<br />
A escolha do equipamento se baseou na análise das exigências mínimas<br />
impostas pelo fabricantes e das condições de ensaio. O tipo de célula de pressão, sua<br />
calibração, a posição das células nas paredes, as condições para se realizar as medições<br />
(sistemas de carregamento e descarga, tipo de fluxo) e o método de coleta de dados<br />
foram os requisitos considerados.<br />
Sistema de aquisição de dados<br />
O sistema de aquisição de dados utilizado foi o de marca LINX (ADS – 2000),<br />
composto por uma placa controladora e placas de condicionador de sinais, formando um<br />
sistema compacto e de fácil manuseio. O controlador do ADS-2000 utiliza um circuito<br />
integrado projetado para diversas aplicações que é conectado ao computador com<br />
interface paralela (usada para impressoras). A escolha pelo emprego deste sistema foi<br />
pela sua aplicabilidade em ensaios de carregamentos estáticos e dinâmicos, bem como a<br />
sua disponibilidade no LaMEM. As principais características são apresentadas a seguir:<br />
controlador ac-2120 : é o elemento principal do sistema, realizando todas as<br />
tarefas de comunicação com o computador, leitura e controle de placas condicionadoras.<br />
Condicionador de sinais AI–2160 : Apresenta as seguintes características gerais:<br />
- 16 canais de entrada<br />
- Entrada implementada com amplificador de instrumentação integrado. Ganhos<br />
pré-definidos: x1, x10, x50 e x600 (selecionáveis por jumpers).<br />
- Sensor de temperatura de junta fria para compensação de medida de<br />
temperatura.<br />
Alimentação de sensores : Para alimentação de sensores, o AI-2160 possui 4<br />
fontes com saída regulada configurável em tensão ou corrente. A tensão de saída pode<br />
ser selecionada entre 10 ; 7,5 ; 5,0 e 2,5 volts. Quando configurada, cada fonte serve a 4<br />
canais de entrada analógica.<br />
Células de pressão<br />
Para a medição das pressões na massa de grãos e nas paredes do modelo piloto<br />
foi utilizado o modelo de célula, do tipo hidráulica – EPC 3500-1-100 (GEOKON),<br />
figura 04. São montadas com duas placas circulares de aço inoxidável- 304, soldadas<br />
em seu contorno com diâmetro de 22,86cm e espessura de 6,35mm. Apresentam uma<br />
faixa de pressão que varia de 0 a 700kPa, com sensibilidade de 0,175kPa (700/4000)<br />
com duas faces ativas. Seguindo as curvas de calibração em anexo, as células<br />
apresentaram um fator gage de aproximadamente 7kPa/mV/V e precisão de +/- 0,5%. A<br />
resistência da ponte para o modelo é de 5000Ω, considerando que o sensor é aplicado<br />
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Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />
43<br />
para baixas pressões. A faixa de temperatura para sua aplicação está entre os limites –<br />
40 a +150 0 C.<br />
Figura 04 – Célula de pressão hidráulica – Fonte -GEOKON<br />
3.4 Cálculo e ensaio do modelo piloto<br />
Seguindo o projeto de um silo horizontal elevado de fundo V, foi calculado e<br />
construído um modelo piloto. Este foi montado em chapa de compensado e a estrutura<br />
de sustentação em madeira maciça de ipê, com capacidade para 5 toneladas. Os<br />
trabalhos de montagem foram realizados pelo técnicos da marcenaria do LaMEM,<br />
seguindo as etapas de corte, furação, pré-montagem e fixação dos parafusos. Nos<br />
cálculos foi empregado o peso específico da areia seca (γ = 15,6kN/m 3 ), determinado no<br />
LaMEM.<br />
Instalação das células de pressão no modelo<br />
A instrumentação do modelo é mostrada no esquema da figura 5, indicando a<br />
posição das células para medição das pressões. Na primeira fase do ensaio foram<br />
instaladas 16 células de pressão do modelo EPC 3500-1-100. O esquema de instalação<br />
indica as células posicionadas nas paredes do silo e na tremonha, de forma simétrica.<br />
Duas células (11,12) foram instaladas dentro da massa do produto (areia) na posição<br />
vertical, direcionadas ortogonalmente, para medição das pressões horizontais e<br />
avaliação da variação do valor de K na seção transversal do modelo. Na segunda fase, a<br />
direção das células (1, 2, 7, 8, 9, 10, 13, 14, 11, 12) foi alterada para medição das<br />
pressões verticais. exceto as das células instaladas na parede da tremonha. Foram<br />
realizadas 2 repetições para cada fase de ensaio. Para a instalação das células, entre a<br />
face da célula e a parede foi colocada uma manta de borracha. Esta recomendação<br />
permite a melhor distribuição das tensões sobre a superfície da célula, devido às<br />
imperfeições de superfície, TAKEYA ♦ , (1999). A utilização da areia se justifica, pois<br />
este produto apresenta peso específico elevado, sendo de fácil obtenção, apresentando<br />
características de produto granular e melhor distribuição das pressões, o que é de grande<br />
vantagem para aplicação de ensaios em modelos.<br />
♦ TAKEYA – Comunicação Pessoal – Lab. Estruturas – <strong>SET</strong>/<strong>USP</strong><br />
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Os terminais das células foram conectados ao sistema de aquisição de dados e<br />
este último ao notebook. O tratamento de dados foi feito pelo software AQD5 (LINX)<br />
para ambiente WINDOWS.<br />
Ensaio<br />
Com o objetivo de determinar as pressões estáticas no modelo piloto foram realizados<br />
três repetições de carregamento para medir as pressões normais às paredes e um<br />
carregamento para medição das pressões verticais. Os valores foram coletados no<br />
decorrer do carregamento e no período de <strong>24</strong> horas de armazenamento. Este<br />
procedimento teve como objetivo avaliar as pressões após o carregamento considerando<br />
os efeitos de consolidação do produto.<br />
10<br />
1<br />
14<br />
8<br />
WL<br />
2<br />
3<br />
WF<br />
9<br />
13<br />
11<br />
7<br />
6<br />
4<br />
T<br />
16<br />
12<br />
5<br />
15<br />
Figura 05- Disposição das células de pressão no modelo piloto<br />
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Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />
45<br />
pilares<br />
chapa frontal superior<br />
chapa lateral<br />
sarrafos superiores<br />
sarrafos laterais<br />
chapa frontal inferior<br />
sarrafos inferiores<br />
chapa da tremonha<br />
sarrafos da tremonha<br />
tremonha<br />
sarrafos da tremonha<br />
cobrejunta<br />
cobrejunta<br />
vista frontal<br />
vista lateral<br />
Figura 06 – Esquema do modelo piloto<br />
3.5 Ensaio em silo horizontal elevado<br />
Algumas informações básicas devem ser fornecidas para melhor entendimento<br />
da montagem, instalação dos equipamentos e condução dos ensaios. É feita uma breve<br />
descrição da localização do silo, principais formas e dimensões, o material estrutural, a<br />
capacidade de armazenamento, o produto a ser armazenado e as formas de enchimento e<br />
esvaziamento do silo. No casos de silos industriais é interessante obter alguns dados<br />
históricos como: idade, tipos de produtos já armazenados, a ocorrência de algum<br />
problema estrutural são dados importantes para avaliação geral das condições de ensaio.<br />
As circunstâncias de ocorrência dos danos, sua localização bem como os métodos de<br />
reparação passam a ser fatores que devem ser considerados. Em silos de concreto a<br />
ocorrência de fissuras e imperfeições devem ser verificadas. As descontinuidades e<br />
rugosidades das paredes podem alterar a velocidade e o tipo de fluxo do produto e ainda<br />
influenciar as pressões nas paredes. Em silos multicelulares é importante informar sobre<br />
utilização das células vizinhas, forma de enchimento e esvaziamento durante os ensaios<br />
que estão sendo conduzidos. Informações sobre o tipo de fundação (dimensões,<br />
localização e número das estacas) e propriedades do solo também são importantes, pois<br />
formam a base da estrutura de reação durante a execução dos ensaios.<br />
Detalhes do silo<br />
Para avaliação direta das pressões um silo horizontal elevado de concreto<br />
armado instalado na CEAGESP – Araraquara/(SP), foi instrumentado. Esta unidade foi<br />
escolhida devido à proximidade e condições técnicas para execução do ensaio, sabendose<br />
que as características geométricas são comuns às unidades em estudo.<br />
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Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />
Construída em 1977 e mantendo-se em operação até os dias atuais sua<br />
capacidade total é de 20.000t, divida em 10 células de 2.000t. A estrutura de sustentação<br />
é do tipo viga-parede, onde se apoia a tremonha. A obra foi executada utilizando o<br />
processo de formas trepantes, tornando a estrutura monolítica sendo o silo considerado<br />
hermético.<br />
O sistema de carregamento centrado é feito através de elevadores de canecas<br />
(sentido vertical) localizados na torre do silo e correias transportadoras (sentido<br />
horizontal), localizadas em sua parte superior com uma vazão de 180t/hora. A descarga<br />
é feita através de saídas múltiplas localizadas no vértice de uma tremonha em cunha,<br />
que conduzem o produto até uma correia transportadora, localizada no túnel sob a<br />
tremonha, retornando o produto até os elevadores de canecas. Outras saídas também são<br />
localizadas nas paredes das tremonhas. As dimensões externas da unidade são;<br />
comprimento total = 100m e largura = 23m. O fundo em tremonha apresenta paredes de<br />
35cm de espessura sendo as paredes laterais e das divisórias dos séptos de 20cm.<br />
Instrumentação<br />
Foram instaladas 16 células de pressão (EPC-3500-1-100/GEOKON) para<br />
avaliação das ações de carregamentos e descargas dos silos. As células foram fixadas<br />
nas paredes por meio de parafusos fixados sobre pressão. Entre a parede do silo e a face<br />
da célula foi colocada uma manta de borracha para permitir um contato perfeito de toda<br />
a superfície da célula e superfície da parede. Este detalhe de montagem permite que a<br />
distribuição das tensões seja uniforme em toda a área da célula. As células foram<br />
instaladas nas paredes e na tremonha do silo conforme a disposição mostrada na figura<br />
7. Quatro células foram instaladas nas paredes divisórias das células e duas foram<br />
instaladas na massa de grãos, fixadas ao cabo de termometria com dispositivo para<br />
garantir que a célula não mudasse sua orientação. As temperaturas foram monitoradas<br />
por cabos de termometria instalados no silo.<br />
Ensaio<br />
Os ensaios foram realizados in loco, sendo a estrutura de reação, a própria<br />
fundação. As ações foram aplicadas pelo carregamento do silo utilizando o produto<br />
milho para o armazenamento.<br />
O monitoramento das pressões ocorreu durante um ciclo completo<br />
correspondendo às fases de carregamento, armazenamento e descarga do silo, através do<br />
sistema de aquisição de dados analógico/digital de marca LINX, acoplado a um<br />
computador equipado com o software AQD5. Os dados experimentais foram<br />
confrontados com os valores teóricos estimados para os valores de pressão nas paredes e<br />
no fundo do silo (tremonha).<br />
Após a calibração das células ligadas ao sistema de aquisição LINX, iniciou-se a<br />
primeira etapa de carregamento do silo. O carregamento foi realizado através da<br />
transilagem do produto de uma célula para a que estava instrumentada. A transilagem<br />
foi realizada utilizando dois elevadores de canecas e quatro correias transportadoras,<br />
duas localizadas no túnel inferior e duas localizadas no túnel superior. A vazão do<br />
sistema de transporte era de 180ton/hora o que permitiu o carregamento total do silo em<br />
aproximadamente 11 horas.<br />
Foram realizados duas repetições para o ciclo completo – carregamento,<br />
armazenamento e descarga. O ensaio durante as três fases permitiu a coleta de dados,<br />
para as duas condições de carregamento, estático e dinâmico. Para a avaliação do<br />
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Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />
47<br />
carregamento estático foram coletados dados durante 52 horas de armazenamento. Para<br />
averiguação do efeito da aeração da massa do produto, foram coletados dados de<br />
pressão durante 2 horas de insulflação de ar.<br />
A temperatura externa medida próxima à parede do silo foi de 26 o C e as<br />
temperaturas na massa de grãos variaram dentro de uma faixa de temperatura de 22 o a<br />
25 o C. De acordo com as curvas de calibração fornecidas pelo fabricante não houve<br />
necessidade de correção das leituras para este gradiente de temperatura observado. O<br />
sistema de aquisição foi configurado para uma freqüência de 10 hertz com coletas de<br />
dados a cada 5 segundos. Tal configuração permitiu monitorar o ensaio dinâmico para<br />
condição de carregamento e descarga aumentando a resposta do sistema.<br />
23.00<br />
45<br />
1.77<br />
30°<br />
12<br />
960<br />
5.10<br />
1<br />
2<br />
35°<br />
3<br />
4<br />
50x40<br />
11<br />
3.50 3.00<br />
15<br />
13<br />
3.50<br />
14<br />
16<br />
7<br />
8<br />
10<br />
450<br />
2.00<br />
9<br />
4.00<br />
1740<br />
20.15<br />
522<br />
5<br />
6<br />
5.00<br />
4.00<br />
Dim. cm<br />
Figura 07 – Disposição das células no silo horizontal<br />
1.00<br />
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />
4.1 Propriedades dos produtos armazenados<br />
Como comentado anteriormente, a escolha dos produtos foi feita em função de<br />
suas propriedades para o ensaio do modelo e pela disponibilidade e quantidade<br />
necessárias para a execução do ensaio em escala real.<br />
A utilização da máquina de cisalhamento (TSG 70-140) é justificada pela sua<br />
aceitação no meio internacional e indicação das normas para a determinação das<br />
propriedades físicas dos produtos armazenados. Para cálculo e análise dos parâmetros<br />
utilizou-se o software YLOCUS, desenvolvido por CALIL(1994).<br />
Para os valores dos ângulos de atrito interno e de atrito com a parede foram<br />
definidos o valor superior e inferior a serem aplicados nos cálculos das pressões nas<br />
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48<br />
Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />
paredes do corpo e da tremonha do silo, de acordo com CALIL et al (1997). Os<br />
resultados são apresentados nas tabelas 03 e 04 a seguir.<br />
Tabela 03- Resultados obtidos nos ensaios de propriedades do milho<br />
Propriedades<br />
Peso específico (γ) 7,59 kN/m 3<br />
Ângulo de atrito interno (φ i ) 32 – 35 0<br />
Ângulo de atrito com a parede (φ w ) Liso Rugoso<br />
Concreto 25 0 29 0<br />
Teor de umidade 12,9%<br />
Tabela 04 – Resultados obtidos nos ensaios de propriedades da areia<br />
Propriedades<br />
Peso específico (γ) 15,6 kN/m 3<br />
Ângulo de atrito interno (φ i ) 36 0 – 39 0<br />
Ângulo de atrito com a parede (φ w )<br />
20 0 - 22 0<br />
(chapa de compensado)<br />
Os resultados das propriedade físicas dos produtos estão de acordo com os<br />
valores tabelados pelas normas internacionais. Estes parâmetros determinados<br />
inicialmente, na primeira fase experimental, foram aplicados nos cálculos das pressões,<br />
considerando-se os valores inferior e superior fornecidos em função da variabilidade das<br />
propriedades.<br />
4.2 Cálculo das pressões e do coeficiente K<br />
São apresentados e discutidos os valores obtidos no cálculo do coeficiente K e<br />
das pressões através das teorias citadas. O coeficiente K foi determinado de forma<br />
indireta levando em consideração o ângulo de atrito interno. As pressões horizontais<br />
foram calculadas na condição estática de carregamento para o modelo piloto, enquanto<br />
que para o silo horizontal foram analisadas sob as condições estática e dinâmica. Adotase<br />
a condição estática como aquela correspondente às pressões de carregamento. A<br />
condição dinâmica é considerada durante o escoamento do produto, quando são<br />
produzidas as máximas pressões. Normalmente esta condição ocorre na descarga, com<br />
início logo após a abertura da boca da tremonha.<br />
4.2.1 Determinação indireta do coeficiente K<br />
Os valores fornecidos pelas normas internacionais são mostrados na tabela 5. Os<br />
valores do ângulo de atrito interno são o menor e o maior valor observados entre as<br />
normas internacionais.<br />
Nas teorias das pressões a relação entre as pressões verticais e horizontais são<br />
consideradas constantes na seção transversal e ao longo da altura do silo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />
49<br />
Tabela 05 - Valores do coeficiente K fornecidos pelas normas internacionais.<br />
Coeficiente K<br />
φ i (graus) Milho φ i (graus) Areia<br />
28 0,361 0,640 25 0,406 0,697<br />
32 0,307 0,561 40 0,222 0,415<br />
Os valores de K, determinados indiretamente, são apresentados na tabela 6. Os<br />
limites inferior e superior foram calculados considerando as equações de Koenen e<br />
Ayuga, consideradas de consenso pelo pesquisadores para o cálculo das pressões para<br />
os estados limites ,(CALIL,1990).<br />
Tabela 06 – Limites de K em função do ângulo de atrito interno.<br />
Coeficiente K<br />
φ i (graus) Milho φ i (graus) Areia<br />
32 0,307 0,560 36 0,260 0,486<br />
35 0,271 0,505 39 0,227 0,433<br />
Como pode ser observado há grandes diferenças quanto a estimativa dos valores<br />
de K para um mesmo produto em função das variações do valor do ângulo de atrito<br />
interno. Ao compararmos com os valores tabelados pela norma ISO 1697, verificamos<br />
que o milho está na classe 1, com o valor de K = 0,3 e a areia na classe 5, com um valor<br />
de K= 0,75, superando as demais estimativas.<br />
Na tremonha, considerando a teoria de Walker e a norma Australiana, os valores<br />
de K foram estimados para a condição estática no modelo piloto e nas condições<br />
dinâmica e estática para o silo horizontal, em função dos produtos armazenados<br />
utilizados nos ensaios. Foram consideradas as características geométricas da tremonha e<br />
ainda o ângulo atrito interno.<br />
Em função dos valores propostos pelas normas internacionais e os valores<br />
calculados foi definido um intervalo para os valores limites de K; 0,706≤ K ≤ 0,7969.<br />
4.2.2 Determinação experimental do coeficiente K no modelo piloto<br />
Para a medição das pressões verticais foram instaladas células de pressão nas<br />
mesmas cotas das células instaladas nas paredes do modelo. As células foram fixadas na<br />
superfície de uma placa de compensado orientadas para a medição das pressões<br />
verticais, exceto nas posições das células instaladas nas paredes da tremonha<br />
Tabela 07 – Valores limites, médios, das pressões verticais, horizontais e de K.<br />
Célula 15,16 4,5 3,6 12 11 13,14 2,7 1,8 9,10<br />
PRESSÃO<br />
Pn 10,01 6,09 4,20 - - - - - -<br />
17,54 6,86 6,30<br />
Pv 8,30<br />
14,37<br />
4,99<br />
5,62<br />
3,44<br />
5,16<br />
10,50<br />
11,50<br />
7,50<br />
8,72<br />
10,05<br />
11,03<br />
8,60<br />
9,02<br />
3,87<br />
4,01<br />
4,55<br />
4,85<br />
Ph 5,74 3,49 2,41 7,84 4,23 2,80 1,96 1,05 1,05<br />
10,06<br />
K L 0,692<br />
K u 0,700<br />
3,93<br />
0,696<br />
0,699<br />
3,61<br />
0,698<br />
0,701<br />
8,47<br />
0,737<br />
0,747<br />
5,53<br />
0,564<br />
0,634<br />
4,06<br />
0,278<br />
0,368<br />
3,01<br />
0,227<br />
0,334<br />
1,47<br />
0,271<br />
0,367<br />
1,73<br />
0,236<br />
0,357<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
50<br />
Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />
Na seção transversal, considerando o plano definido pelas células 2, 7, 13 e 14,<br />
pode-se observar que o valor do coeficiente K, é maior na parte central. Os valores<br />
médios, inferior e superior, nas paredes é 0,253 e 0,351, respectivamente. Na seção das<br />
células 1, 8, 9, e 10 os valores médios, inferior e superior de K é 0,253 e 0,362.<br />
Observa-se valores de K elevados no centro, medidos pelas células 11 e 12; 0,564 e<br />
0,747 respectivamente. Os valores de K ao longo da altura do corpo do silo são<br />
crescentes e nas paredes da tremonha os valores inferior e superior, médios, são 0,695 e<br />
0,712.<br />
A figuras 8 e 9, ilustram as curvas das pressões horizontais nas paredes do<br />
modelo e as pressões normais às paredes da tremonha. Para efeito de análise são<br />
indicados os valores experimentais, obtidos no ensaio.<br />
Altura do produto (m)<br />
0,0<br />
0,2<br />
0,4<br />
Safarian & Harris<br />
Rankine<br />
Coulomb<br />
Airy<br />
Reimbert<br />
ANSI 96<br />
AS 3774<br />
valores experimentais<br />
valores experimentais<br />
valores experimentais<br />
valores experimentais<br />
0,6<br />
0,8<br />
0 2 4 6 8 10<br />
Pressão (kPa)<br />
Figura 08 – Gráfico - Pressões ativas nas paredes do modelo e valores experimentais<br />
Altura da tremonha (m)<br />
0,0<br />
0,1<br />
0,2<br />
0,3<br />
0,4<br />
0,5<br />
0,6<br />
Walker<br />
Safarian & Harris<br />
AS 3774<br />
valores experimentais<br />
valores experimentais<br />
0,7<br />
0,8<br />
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 <strong>24</strong> 26<br />
Pressões (kPa)<br />
Figura 09 – Gráfico - Pressões estáticas na tremonha do modelo e valores experimentais<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />
51<br />
A partir dos resultados obtidos, podemos afirmar que:<br />
1- A utilização das células de pressão nos permitiu avaliar o comportamento<br />
das pressões do produto nas paredes do modelo.<br />
2- Os valores obtidos pelas teorias de Coulomb, Rankine e AS 3774 foram os<br />
que mais se ajustaram aos valores de medições das pressões nas paredes do<br />
modelo. Isto pode ser constatado através dos valores obtidos nas células 1, 2,<br />
7, 8, 9, 10, 13 e 14. Considerando a altura de produto de 0,25m, no modelo, a<br />
pressão média horizontal foi de 1,4kPa, enquanto que para uma altura efetiva<br />
de 0,705m este valor foi de 3,3KPa. Nesta altura os dados se ajustaram à<br />
norma australiana.<br />
3- Na tremonha, comparando os valores teóricos com os valores experimentais<br />
podemos constatar que a Teoria de Walker e o modelo de Safarain & Harris<br />
apresentaram valores superiores aos medidos. Os valores experimentais<br />
médios das pressões normais na parede da tremonha variaram de 5,4 a 14<br />
kPa ao longo da altura. Estes dados podem ser observados através dos<br />
valores medidos pelas células 3, 4, 5, 6, 15 e 16. Na linha de transição as<br />
melhores estimativas são dadas pelo modelo de Safarian & Harris e pela<br />
norma Australiana para os valores inferiores de pressão, entretanto, ao longo<br />
da altura da tremonha, as pressões estáticas máximas são melhor estimadas<br />
pela teoria de Walker.<br />
5- A utilização das células de pressão inseridas na massa do produto nos<br />
permitiu avaliar o comportamento das pressões em uma seção do silo. Foram<br />
observadas diferenças significativas das pressões horizontais na seção<br />
transversal. Isto pode ser constatado através dos resultados obtidos no ensaio<br />
através dos valores medidos pelas células 11 e 12, o que para a condição<br />
estática são valores elevados.<br />
4.2.3 Determinação das pressões e de K no silo horizontal<br />
Os gráficos apresentados nas figuras 10 (a) e (b), ilustram o comportamento das<br />
pressões do silo horizontal. Em cada gráfico são ilustradas exemplos das curvas<br />
tempo(min) x pressão(kPa) horizontais às paredes e normal às paredes da tremonha do<br />
silo em células simetricamente posicionadas para as fases de carregamento e descarga<br />
do silo.<br />
A partir dos dados observados durante as medições das pressões diretas das<br />
pressões, normais na tremonha e horizontais na parede, os valores médios foram<br />
calculados. As tabelas 8 e 9 fornecem os valores inferiores e superiores das pressões<br />
normais horizontais e verticais e o valor de K nas fases de carregamento e descarga do<br />
silo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
52<br />
Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />
Tabela 08 – Valores de pressão de carregamento (kPa) e do coeficiente K.<br />
Células p nt p vt p h K<br />
Tremonha<br />
05/06 22,4 - 39,2 18,35 – 32,11 12,85 – 22,48 0,701 – 0,702<br />
04/07 40,6 - 56,0 33,26 – 45,87 23,28 – 32,12 0,699 - 0,702<br />
03/08 36,4 - 50,4 29,82 –41,28 21,00 – 28,91 0,701 – 0,703<br />
Paredes<br />
Pressões horizontais (p h )<br />
02/09 9,80 – 12,10<br />
01/10 8,40 – 11,20<br />
11/12 5,60 – 10,50<br />
13/14 18,90 – 25,90<br />
15/16 35,00 – 44,80<br />
Tabela 09 – Valores de pressão de descarga (kPa) e do coeficiente K.<br />
Células p nt p vt p h K<br />
Tremonha<br />
05/06 23,4 - 44,0 18,35 - 36,04 14,57 - 25,<strong>24</strong> 0,699 - 0,702<br />
04/07 44,1 - 63,0 36,12 - 51,60 25,29 - 36,14 0,698 - 0,703<br />
03/08 38,5 - 54,6 31,54 - 44,73 22,08 - 31,32 0,701 - 0,703<br />
Paredes<br />
Pressões horizontais (p h )<br />
02/09 11,20 – 13,40<br />
01/10 9,10 - 12,06<br />
11/12 4,30 - 14,70<br />
13/14 22,40 - 33,60<br />
15/16 35,00 - 60,90<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />
53<br />
70<br />
60<br />
célula 04<br />
célula 07<br />
Pressão (kPa)<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
Carregamento<br />
Região de sobrepressão<br />
Descarga<br />
0<br />
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800<br />
Tempo (min)<br />
(a) - Ciclo completo do ensaio 1<br />
60<br />
Célula 04<br />
Célula 07<br />
50<br />
Carregamento<br />
Descarga<br />
Pressão (kPa)<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
Região de sobrepressão<br />
0<br />
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600<br />
Tempo (min)<br />
(b) - Ciclo completo do ensaio 2<br />
Figura 10 - Pressões dinâmicas no silo horizontal.- Células 04 e 07.<br />
Após observarmos os gráficos ilustrados nas figuras 10 (a) e (b), verificamos a<br />
ocorrência de sobrepressões no início da descarga. As células 5, 6, 4, 7, 13, 14, 15 e 16<br />
indicaram picos de pressão mais notadamente superiores. Os valores máximos de<br />
sobrepressão de descarga observado foi de 13,5kPa para as células 13 e 14 e 20kPa para<br />
a célula15. O valor médio de pico de pressão na descarga nas células 4 e 7 foi de<br />
7,7kPa, nas células 13 e 14, de 9,65kPa e de18kPa para as células 15 e 16,<br />
representando um acréscimo de 12,5%, 31,5% e 30%, nos valores de pressão,<br />
respectivamente.<br />
Observou-se que os valores medidos pelas células simétricas também variaram<br />
durante as fases de carregamento e descarga. Isto pode ser explicado pela natureza<br />
aleatória das pressões, forma de carregamento e impacto do produto sobre as paredes.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
54<br />
Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />
As pressões de descarga foram sensivelmente maiores e como conseqüência não<br />
foram observados valores significativos de variação do coeficiente K entre as fases de<br />
carregamento e descarga. A relação entre as pressões horizontais e verticais na<br />
tremonha se mantiveram constantes para valores médios de K inferior igual a 0,698 e<br />
superior de 0,703.<br />
Na figura 11 são mostrados os valores de pressão horizontais máximas nas<br />
paredes do corpo e da tremonha do silo horizontal. À esquerda são mostradas as<br />
pressões de carregamento e à direita as pressões de descarga<br />
hs+hc<br />
11,2<br />
Carregamento<br />
Descarga<br />
12,1<br />
12,1<br />
13,4<br />
50,4<br />
ht<br />
54,6<br />
56,0<br />
63,0<br />
39,2<br />
44,0<br />
Figura 11 – Mapeamento das pressões máximas nas paredes e na tremonha durante o<br />
carregamento e descarga do silo horizontal.<br />
Na figura 12, são ilustradas as curvas para as pressões ativas, nas paredes dos<br />
silos horizontais, estimadas pelas teorias, métodos de cálculo e normas internacionais.<br />
Os valores experimentais também são mostrados, para efeito de comparação. Observase<br />
a grande variação dos resultados para os modelos teóricos propostos, destacando-se<br />
as curvas de Rankine e Reimbert.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />
55<br />
Altura efetiva do produto (m)<br />
0<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
6<br />
Safarian & Harris<br />
Rankine<br />
Coulomb<br />
Airy<br />
Reimbert<br />
ANSI 96<br />
AS3774<br />
Linf<br />
Lsup<br />
7<br />
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70<br />
Pressão (kPa)<br />
Figura 12 – Gráfico das pressões ativas e valores experimentais na parede do silo horizontal.<br />
Considerando as pressões dinâmicas medidas nas paredes do silo o método que<br />
melhor estima as pressões é o da norma Australiana sendo os modelos de Reimbert &<br />
Reimbert e Rankine conservadores. O primeiro modelo teórico estima as pressões<br />
considerando a altura elevada ao quadrado e o segundo modelo desconsidera o atrito.<br />
As pressões estáticas, experimentais e teóricas, na tremonha são mostradas na<br />
figura 13(a). Pode ser observado que os valores observados foram compatíveis com a<br />
norma Australiana, configurando uma distribuição trapezoidal das pressões ao longo da<br />
altura da tremonha.<br />
Altura da tremonha (m)<br />
0<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
6<br />
7<br />
Walker<br />
Safarian & Harris<br />
AS 3774<br />
Linf<br />
Lsup<br />
8<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120<br />
Pressão (kPa)<br />
Altura acima do vértice da tremonha (m)<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
Walker<br />
AS 3774<br />
Valores de ensaios<br />
0 10 20 30 40 50 60 70<br />
Pressão (kPa)<br />
Figura 13 (a) – Pressões estáticas normais. (b) – Pressões dinâmicas normais –<br />
Tremonha<br />
Para as pressões nas paredes da tremonha, na condição mais desfavorável que é<br />
a fase de descarga, a teoria de Walker e a norma Australiana forneceram boas<br />
estimativas. Na figura 13(b), observa-se os valores experimentais e que as maiores<br />
pressões foram medidas pelas células 4 e 7, instaladas a 5,2 metros da linha de transição<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
56<br />
Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />
entre o corpo do silo e a tremonha. Comparando com os valores de ensaios a estimativa<br />
das pressões na transição é mais compatível com o método da norma Australiana<br />
enquanto que para as pressões máximas o método de Walker apresenta maior<br />
compatibilidade com os valores experimentais.<br />
5 CONCLUSÕES<br />
As unidades horizontais são estruturas indispensáveis para a otimização e<br />
expansão da rede armazenadora em nosso país. Em função das vantagens que<br />
apresentam, podemos considerar o seu desempenho bastante satisfatório para a<br />
manutenção das condições de armazenamento de produtos agrícolas e industriais.<br />
Alguns cuidados devem ser tomados para que não haja comprometimento da estrutura.<br />
Um grande problema ainda a ser sanado é a aeração, que requer equipamentos de custo<br />
mais elevado que as unidades verticais e ainda os problemas de infiltração pelo lençol<br />
freático.<br />
Propõe-se que a notação “silos horizontais” seja empregada para as estruturas<br />
conhecidas como armazéns graneleiros em função das características construtivas, da<br />
finalidade a qual se destinam e da utilização de equipamentos empregados nestas<br />
estruturas de armazenamento como cabos de termometria o que permite um controle<br />
sobre a qualidade do produto armazenado. A utilização do fundo inclinado, ao contrário<br />
do silos de fundo plano, permite a fácil operação e como conseqüência a diminuição dos<br />
custos de processamento dos produtos. Considerando os silos horizontais elevados os<br />
custos de sua construção podem ser compensados pela facilidade de operação e<br />
processamento rápido, tornando-o bastante funcional. A grande vantagem da sua<br />
utilização reside no processamento de grandes volumes a baixos custos por tonelada<br />
estocada, e ainda a fácil expedição dos produtos. Tais características, permitem a sua<br />
utilização para armazenamento de produtos de fluxo livre, com características bem<br />
distintas, como os resíduos industriais, açúcar, e os granulares sem comprometimento<br />
da estrutura.<br />
Este trabalho, pioneiro no estudo dos silos horizontais corresponde<br />
principalmente à análise das pressões devidas ao produto armazenado, dando ênfase às<br />
teorias empregadas e aos procedimentos experimentais.<br />
A seguir são relatados alguns aspectos conclusivos considerados de relevância,<br />
quando analisados os métodos de cálculos das ações para as paredes do corpo do silo e<br />
da tremonha nas condições estáticas e dinâmicas.<br />
Com relação aos métodos teóricos empregados:<br />
1- As teorias aplicadas são conservadoras. Os métodos de Coulomb e Rankine e<br />
a norma Australiana, mostraram-se de boa compatibilidade com os<br />
conseqüentes resultados medidos no ensaio do modelo. Para o silo horizontal<br />
o método proposto pela norma Australiana é compatível com os valores<br />
experimentais. Os métodos de Reimbert & Reimbert e Rankine não foram<br />
adequados para o estudo em questão, vistos os resultados apresentados tanto<br />
nos ensaios do modelo piloto quanto para o silo horizontal.<br />
2- Na avaliação das ações na tremonha, na condição estática, o método<br />
proposto pela norma Australiana se mostrou compatível com os resultados<br />
obtidos nos ensaios do modelo piloto. O método de Walker se mostrou mais<br />
conservador em função da estimativa das pressões na linha de transição entre<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
Estudo teórico e experimental das ações em silos horizontais<br />
57<br />
o corpo do silo e a tremonha. Na condição dinâmica os dois métodos foram<br />
compatíveis com os resultados obtidos nos ensaios do silo horizontal.<br />
Com relação às propriedades físicas dos produtos armazenados:<br />
1- A estimativa das ações baseada nas determinações dessas propriedades nos<br />
fornecem resultados mais consistentes, comparados com os valores<br />
tabelados, fornecidos pelas diversas normas internacionais.<br />
2- As formulações teóricas devem levar em consideração a influência do atrito<br />
do produto com as paredes e a variabilidade do peso específico dos produtos<br />
armazenados. Com isto, para o estado limite de dimensionamento propõe-se<br />
o intervalo para o peso específico 0,75 ≤ γ ≤ 1,20.<br />
Com relação aos ensaios no modelo piloto:<br />
1- O modelo piloto (escala pouco reduzida) pode ser empregado com vantagens<br />
para avaliação das ações e do coeficiente K, pois os resultados obtidos,<br />
foram compatíveis com os obtidos no silo horizontal em escala real. A<br />
grande vantagem da utilização de modelos reside na praticidade e economia<br />
nos ensaios. O controle das variáveis envolvidas foi facilitado e permitiu a<br />
obtenção de resultados confiáveis.<br />
2- A utilização de produtos como areia, tendo como características, alto peso<br />
específico e fluxo livre, permitiu a avaliação das pressões e do valor de K<br />
considerando os limites máximos para o dimensionamento.<br />
Com relação às medições diretas das pressões:<br />
1- As determinações experimentais fornecem resultados sem a interferência do<br />
material estrutural. As células de pressão, empregadas na instrumentação<br />
geotécnica, mostraram-se de grande aplicabilidade, tanto no ensaio do<br />
modelo piloto quanto no ensaio no silo horizontal.<br />
2- A forma de instalação das células de pressão nas paredes não comprometeu a<br />
integridade do silo horizontal.<br />
3- Recomenda-se o emprego das células de pressão EPC-GEOKON para<br />
avaliação direta das pressões estáticas e dinâmicas nos silos, considerando a<br />
calibração precisa, sensibilidade e resposta rápida do equipamento.<br />
Com relação ao valor do coeficiente K:<br />
1- Para produtos granulares, de fluxo livre, os valores de K não variam em<br />
função da relação altura/lado do silo, pois os ângulos de atrito não variam<br />
com a compactação do produto. As variações ocorridas no modelo piloto<br />
para o valor de K medido na massa do produto se devem à influência do<br />
estado de pressões decorrentes da geometria e rugosidade das paredes da<br />
tremonha.<br />
2- Na descarga, o valor de K é maior, pois há um aumento das pressões<br />
horizontais e uma diminuição das pressões verticais.<br />
3- Pela análise geral dos resultados teóricos e experimentais obtidos, os valores<br />
propostos pela maioria das normas e pesquisadores são conservadores e que<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 35-63, <strong>2005</strong>
58<br />
Francisco <strong>Carlos</strong> Gomes & Carlito Calil Júnior<br />
a variabilidade natural dos valores exige uma análise estrutural pelo método<br />
dos estados limites de dimensionamento.<br />
4- Considerando os valores experimentais obtidos e a variabilidade encontrada<br />
para as propriedades dos produtos nas normas internacionais, recomenda-se<br />
os limites inferiores e superiores para o valor de K: 0,25 ≤ K ≤ 0,55 no corpo<br />
do silo e 0,60 ≤ K ≤ 0,80 para a tremonha. Estes intervalos abrangem<br />
também as sobrepressões devidas ao fluxo do produto durante a descarga.<br />
Com relação às pressões nas paredes laterais e na tremonha:<br />
1- Para as pressões nas paredes dos silos horizontais recomenda-se utilizar a<br />
expressão matemática : p h = γhK, com os valores de K definidos no item<br />
anterior a partir do modelo empírico.<br />
2- Para o cálculo das pressões estáticas e dinâmicas, na tremonha, recomendase<br />
o método de Walker em função dos valores máximos observados. Para a<br />
condição dinâmica deve-se considerar os valores máximos a uma altura h t /4<br />
do vértice da tremonha.<br />
6 BIBLIOGRAFIA<br />
AMERICAN CONCRETE INSTITUTE (1991). Recommended practice for design<br />
and construction of concrete bins, silos and bunkers for storing granular materials.<br />
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ISSN 1809-5860<br />
MÉTODO DOS ELEMENTOS DE CONTORNO COM A<br />
RECIPROCIDADE DUAL PARA A ANÁLISE<br />
TRANSIENTE TRIDIMENSIONAL DA MECÂNICA DO<br />
FRATURAMENTO<br />
João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato 1 & Wilson Sergio Venturini 2<br />
Resumo<br />
O presente trabalho desenvolve uma formulação do Método dos Elementos de Contorno<br />
para análise de problemas tridimensionais de fraturamento no regime transiente.<br />
Utilizam-se as soluções fundamentais da elastostática para obter a matriz de massa,<br />
empregando-se o Método da Reciprocidade Dual e a discretização do domínio por<br />
células tridimensionais. Para a integração no tempo são utilizados os algoritmos de<br />
Newmark e Houbolt. O fenômeno do fraturamento é abordado através da consideração<br />
de um campo de tensões iniciais, introduzindo-se o conceito de dipolos de tensão. Os<br />
tensores desenvolvidos que se relacionam aos dipolos, derivados das soluções<br />
fundamentais, são também apresentados. É utilizado o modelo de fratura coesiva. O<br />
contorno é discretizado utilizando-se elementos triangulares planos com aproximação<br />
linear, e elementos constantes para a superfície fictícia de fraturamento. São feitas<br />
várias aplicações cujos resultados obtidos confirmam a importância e a adequação da<br />
formulação apresentada para os problemas propostos.<br />
Palavras-chave: Método dos elementos de contorno; método da reciprocidade dual;<br />
fratura dinâmica.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
O Método dos Elementos de Contorno, MEC, é o método numérico mais recente<br />
do ponto de vista de aplicações computacionais. Tem esta denominação a partir do<br />
trabalho de BREBBIA (1978). Desde então, sobretudo na última década, o MEC vem<br />
experimentando um desenvolvimento acelerado, com pesquisas nas mais variadas áreas<br />
da engenharia, dentre elas a elastodinâmica e a mecânica da fratura.<br />
O problema elastodinâmico vem sendo investigado através de equações integrais<br />
de contorno, base do MEC, desde o trabalho de FRIDMAN & SHAW (1962).<br />
A resolução de problemas da elastodinâmica transiente, através do MEC em sua<br />
formulação direta, foi apresentada pela primeira vez nos trabalhos de CRUSE & RIZZO<br />
(1968) e CRUSE (1968). Seguiram-se os trabalhos MANOLIS & BESKOS (1981),<br />
1 Professor do Departamento de Engenharia Estrutural - EES-CTEC-UFAL, jccb@ctec.ufal.br<br />
2 Professor Titular do Departamento de Engenharia de Estruturas, EESC-<strong>USP</strong>, venturin@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
66<br />
João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />
MANSUR & BREBBIA (1982), NARDINI & BREBBIA (1985), CODA &<br />
VENTURINI (1990) e CHIRINO (1994), dentre outros.<br />
Uma maneira de tratar o problema transiente é usando a formulação do MEC<br />
com a matriz de massa, como a apresentada por NARDINI & BREBBIA (1983) e<br />
denominada de Reciprocidade Dual. Os autores trataram o problema dinâmico como<br />
sendo estático, considerando forças de inércia como forças de domínio. O Método da<br />
Reciprocidade Dual (MRD) baseia-se na obtenção de um conjunto de funções que<br />
permitem a transformação da integral de domínio para o contorno. Vários são os<br />
trabalhos publicados sobre o assunto, destacando-se PARTRIDGE et al. (1992),<br />
VENTURINI (1994), LOEFLER (1994), dentre outros. Outra formulação do MEC com<br />
a matriz de massa é obtida a partir da discretização do domínio usando células<br />
tridimensionais, efetuando a integral sobre o domínio. Trabalhos publicados, CODA &<br />
VENTURINI (1990) dentre outros, atestam os seus bons resultados, mas essa técnica<br />
foge do objetivo básico do MEC de eliminar as integrais de domínio.<br />
Em particular para problemas de fratura mecânica, o método tem-se mostrado<br />
eficiente e confiável, apresentando um grande desenvolvimento sobretudo nas últimas<br />
duas décadas. Nesse caso, o acompanhamento da propagação da fratura requer pouco<br />
esforço computacional, evitando-se refazer a rede de elementos (VENTURINI, 1995).<br />
As aplicações do Método dos Elementos de Contorno na Mecânica da Fratura em<br />
três dimensões foram introduzidas por CRUSE & VAN BUREN (1971). Em SNYDER<br />
& CRUSE (1975) foi apresentada uma solução fundamental - uma função de Green -<br />
que inseria uma trinca linear sem cargas no meio infinito. Em CRUSE & MEYERS<br />
(1977) foram calculadas distribuições do fator de intensidade de tensão através do<br />
MEC, utilizando-se uma variação da taxa de energia de deformação de Griffith.<br />
CARTWRIGHT & ROOKE (1985) e ALIABADI & ROOKE (1991) mostraram<br />
bons resultados para problemas de fratura mecânica ao utilizarem o método da função<br />
peso, baseado na interpretação da integral J de Rice.<br />
Outra vertente na aplicação do MEC à Mecânica da Fratura é a que utiliza a<br />
técnica dos domínios múltiplos, conforme LACHAT & WATSON (1976). Já CROUCH<br />
& STARFIELD (1983) utilizaram o método da descontinuidade de deslocamento<br />
apresentando uma discussão extensiva sobre o assunto.<br />
Em BRADY & BRAY (1978) foram analisadas inclusões finas e<br />
descontinuidades em escavações de minas, utilizando-se a formulação indireta do MEC<br />
juntamente com forças fictícias chamadas “quadripólos”. Em ROCHA (1988) foram<br />
analisados problemas com inclusão de descontinuidades, utilizando-se a formulação<br />
direta do MEC juntamente com os dipólos. O assunto pode ser visto ainda em<br />
VENTURINI (1994 e 1995), LOPES Jr (1996), dentre outros. Nesses trabalhos, as<br />
formulações apresentadas destinavam-se à análise de problemas bi-dimensionais.<br />
BARBIRATO & VENTURINI (1998) apresentam uma formulação do MEC para<br />
análise de fratura mecânica em sólidos tridimensionais, utilizando o conceito de dipolos.<br />
Apresentam os tensores derivados da solução fundamental de Kelvin (para 3D) e<br />
verificam o potencial da formulação ao mostrar os resultados obtidos da aplicação<br />
processada.<br />
CARPINTERI (1989); ALLIABADI & ROOKE. (1991); ALIABADI &<br />
BREBBIA (1993) e ALIABADI et al. (1994) trazem formulações completas sobre<br />
aplicações do MEC à mecânica da fratura nas análises estática e dinâmica.<br />
O modelo de fratura coesiva tem sido empregado com eficiência para representar<br />
o comportamento do material do tipo "quasi-brittle" frente ao processo de fraturamento.<br />
Em HILLERBORG (1976), o modelo foi testado e modificado utilizando-se espécime<br />
de prova homogêneo e de área constante, solicitado até a ruptura, em ensaios<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />
67<br />
laboratoriais. Ficou definida uma zona de fratura (ou zona de processo) com largura<br />
limitada na direção da tensão, formada em algum lugar do modelo de prova. Esta zona<br />
de fratura perde gradualmente suas propriedades mecânicas à medida que o dano<br />
causado pelo surgimento de microfissuras aumenta e, portanto, tem-se um<br />
comportamento de material coesivo. Da mesma forma, em CARPITERI (1989) são<br />
encontrados novos experimentos e análise através de modelagem numérica,<br />
constituindo-se em uma referência importante sobre o assunto.<br />
No item 2 deste trabalho, são abordadas as formulações do MEC utilizando a<br />
matriz de massa, obtida através do MRD e da Integração Direta, para a análise do<br />
problema dinâmico transiente.<br />
No presente trabalho, em seu item 3, utiliza-se uma formulação do método dos<br />
elementos de contorno para a análise de fraturas coesivas, utilizando os conceitos<br />
apresentados em VENTURINI (1994 e 1995) e LOPES Jr. (1996) , estendidos para<br />
problemas tridimensionais (BARBIRATO, 1999). O modelo coesivo idealizado por<br />
HILLERBORG (1976) é incorporado à formulação.<br />
No item 4, utiliza-se uma formulação do método dos elementos de contorno para<br />
a análise de fraturas dinâmicas com o modelo coesivas, baseada nos conceitos<br />
apresentados no item 3, estendidos para problemas tridimensionais. O algoritmo de<br />
Houbolt é utilizado para a integração na variável tempo.<br />
2 ELASTODINÂMICA<br />
2.1 Equações básicas do MEC<br />
Considera-se o corpo elástico, homogêneo, isótropo e com distribuição contínua<br />
de matéria em seu domínio. A equação de equilíbrio para o problema é<br />
σij, j<br />
+ bi = ρ&&<br />
ui<br />
, (2.1)<br />
onde σ ij , j<br />
( x, t) representa a derivada do tensor das tensões; b i<br />
(x, t)<br />
as forças<br />
2<br />
∂ u<br />
i<br />
volumétricas; ρ( x ) a densidade de massa e & u<br />
i<br />
ou a aceleração em um ponto na<br />
2<br />
∂t<br />
direção x i<br />
.<br />
Aplicando-se o Teorema da Reciprocidade de Maxwell-Betti a dois estados<br />
independentes de deslocamento, tendo em vista (2.1) e desconsiderando-se o termo de<br />
forças volumétricas, chega-se a:<br />
*<br />
*<br />
*<br />
*<br />
∫ ( u σij,<br />
j<br />
− u<br />
iσij,<br />
j<br />
) dΩ = ∫ ( u<br />
i<br />
pi<br />
− u<br />
ipi<br />
) dΓ<br />
Ω<br />
i (2.2)<br />
Γ<br />
onde o “*” representa o problema fundamental, cujas variáveis são conhecidas; Ω<br />
corresponde ao domínio e Γ ao contorno do corpo.<br />
Desenvolvendo-se (2.2), chega-se à representação integral de deslocamento do<br />
MEC para o problema elastodinâmico, ou seja,<br />
c<br />
ki<br />
u<br />
i<br />
∫<br />
Γ<br />
∫<br />
Γ<br />
∫<br />
*<br />
*<br />
*<br />
+ p u dΓ = u p dΓ − ρ u &<br />
i<br />
kiu<br />
ki i<br />
ki<br />
idΩ<br />
(2.3)<br />
Ω<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
68<br />
João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />
* *<br />
onde p ki<br />
e u ki<br />
representam, respectivamente, as forças de superfície e deslocamentos do<br />
problema fundamental. Neste trabalho, utiliza-se o problema fundamental de MINDLIN<br />
(1936), onde o domínio Ω * é semi-infinito, elástico e homogêneo. Parte de seu contorno<br />
apresenta-se livre de trações, e o ponto de aplicação da força unitária é qualquer em<br />
todo o domínio. As expressões fundamentais para deslocamentos e tensões são<br />
apresentadas em LAETHEM et al. (1984) e BARBIRATO (1991)). Por serem extensas,<br />
não são aqui reportadas.<br />
2.2 Método da reciprocidade dual<br />
Neste trabalho, o Método Reciprocidade Dual (MRD) é utilizado para<br />
transformar o termo de domínio de (2.3), considerando as forças de inércia como forças<br />
volumétricas e tratando o problema dinâmico com as soluções fundamentais do<br />
problema estático. A partir disso, aplicando-se o Teorema da Reciprocidade na parcela<br />
de domínio, pela segunda vez na formulação do MEC (daí a denominação “dual”),<br />
chega-se a uma representação integral somente com termos de contorno. Vale dizer que,<br />
embora não se utilize a discretização do domínio em células, o MRD pode exigir a<br />
consideração de pontos internos, chamados “pólos”, na intenção de dar mais precisão<br />
aos resultados.<br />
Para a transformação do termo de domínio de (2.3) para o contorno, faz-se<br />
necessário definir uma aproximação para a densidade &&u i<br />
, incógnita do problema<br />
(NARDINI & BREBBIA, 1982 e 1985). O MRD sugere uma série de funções, tais que:<br />
& u<br />
= α&<br />
f<br />
(2.4)<br />
i<br />
n<br />
i<br />
n<br />
onde f<br />
n<br />
são funções linearmente independentes definidas sobre todo o domínio<br />
(escritas para pontos do contorno e do domínio) e α& & n i<br />
coeficientes a serem<br />
determinados. O termo de domínio de (2.3) passa a ser:<br />
ρ<br />
∫<br />
Ω<br />
u<br />
*<br />
ki<br />
⎛<br />
& u<br />
idΩ = ⎜<br />
ρ<br />
⎝<br />
∫<br />
Ω<br />
u<br />
*<br />
ki<br />
⎞<br />
f<br />
ndΩ⎟α&&<br />
⎠<br />
n<br />
i<br />
⎛<br />
= ⎜<br />
ρ<br />
⎝<br />
∫<br />
Ω<br />
u<br />
*<br />
ki<br />
δ<br />
l i<br />
⎞<br />
f<br />
ndΩ⎟α&<br />
⎠<br />
n<br />
l<br />
(2.5)<br />
Considerando-se o problema estático governado por<br />
n<br />
ˆ σ λ ,<br />
f = 0<br />
(2.6)<br />
m m<br />
+ δ l i n<br />
a última integral de (2.5) pode ser resolvida com os procedimentos utilizados para se<br />
obter a equação integral do MEC, o que resultaria em algo semelhante à (2.3). Assim, o<br />
termo de domínio de (2.5) transforma-se em integrais sobre o contorno, conforme a<br />
expressão a seguir:<br />
⎛<br />
*<br />
n * n<br />
ρ∫u<br />
&<br />
kiu<br />
idΩ = ρ⎜<br />
ckiû<br />
l i<br />
+ ∫pkiû<br />
lidΓ −∫<br />
Ω Γ Γ<br />
⎝<br />
u<br />
*<br />
ki<br />
pˆ<br />
n<br />
li<br />
⎞<br />
dΓ⎟α&<br />
⎠<br />
n<br />
l<br />
(2.7)<br />
n n<br />
onde o índice “n” representa somatória. As funções û l i<br />
e pˆ l i<br />
são soluções particulares<br />
do problema expresso em (2.6), cuja força f n<br />
é aplicada na direção l. Conhecidas as<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />
69<br />
n<br />
funções f n<br />
, os coeficientes &α &<br />
l<br />
são determinados tomando-se a forma inversa de (2.4).<br />
Escrevendo na forma matricial, tem-se<br />
&&α =<br />
−<br />
F 1 U&& (2.8)<br />
É interessante notar que, adotando a função aproximadora de u i<br />
e p i<br />
em (2.3), também<br />
n n<br />
para û l i<br />
e pˆ l i<br />
, são encontradas as mesmas matrizes H e G em (2.7). Assim, define-se a<br />
matriz de massa pelo MRD, representada por:<br />
1<br />
( HUˆ<br />
−<br />
− GP) F<br />
M = −ρ ˆ<br />
(2.9)<br />
Finalmente, substituindo o resultado da transformação realizada em (2.3), tem-se<br />
a representação matricial para o problema dinâmico tratado neste trabalho:<br />
2.3 Técnica da integração direta<br />
MU&& + HU = GP<br />
(2.10)<br />
O termo de domínio em (2.3) pode ser resolvido discretizando-se Ω em células<br />
tridimensionais, já bastante utilizadas no Método dos Elementos Finitos. Porém, esta<br />
solução não corresponde à idéia do MEC em resolver os problemas aplicando integrais<br />
de contorno. Uma alternativa viável para se contornar este problema, mas ainda<br />
utilizando células, é a de transformar a parcela integral de domínio para o contorno das<br />
células, rescrevendo (2.3) somente com termos de contorno. Como conseqüência, as<br />
células podem ter forma qualquer.<br />
A transformação do termo de domínio em (2.3) inicia-se com a aproximação de<br />
&&u i<br />
pelos valores nodais Um<br />
&& N utilizando-se uma função interpoladora φ im<br />
. Assim, escrevese<br />
&& u U&&<br />
N<br />
=φ e, como conseqüência, tem-se<br />
i im m<br />
* *<br />
N<br />
ρ∫uki&&<br />
uidΩ= ⎛ ρ∫ukiφimdΩ<br />
U&&<br />
m<br />
⎝ ⎜ ⎞<br />
⎟ (2.11)<br />
⎠<br />
Ω<br />
Adota-se o tensor T * ki<br />
que satisfaz a seguinte condição:<br />
Ω<br />
∇ 2 * *<br />
T = u<br />
(2.12)<br />
ki<br />
ki<br />
*<br />
Uma vez que os deslocamentos u ki<br />
da solução fundamental são conhecidos, não é difícil<br />
encontrar uma primitiva T * ki<br />
, conforme CRUSE (1975), DANSON (1981) e<br />
BARBIRATO (1999). O termo de domínio passa a ser representado como segue:<br />
∫<br />
* *<br />
ρ u φ dΩ<br />
= ρ ∇ 2 T φ dΩ<br />
(2.13)<br />
Ω<br />
ki im ki im<br />
Ω<br />
∫<br />
Integrando-se por partes duas vezes o segundo termo de (2.13), chega-se à (2.14), com a<br />
diminuição de um termo de domínio, eliminado aqui, pois a função aproximadora φ im<br />
adotada neste trabalho é linear:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
70<br />
João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />
∫<br />
( ,<br />
)<br />
* *<br />
,<br />
*<br />
N<br />
ρ uki&&<br />
uidΩ= ρ Tki lφim − Tkiφim l<br />
nldΓU&&<br />
m<br />
(2.14)<br />
Ω<br />
∫<br />
Γ<br />
Portanto, (2.14) representa a transformação do termo de domínio para o contorno.<br />
Ressalte-se que o domínio deve ser discretizado por células tridimensionais, de forma<br />
qualquer, cujo contorno é, por sua vez, discretizado por elementos bidimensionais.<br />
Escrevendo (2.14) para todas as células, chega-se na matriz de massa, M.<br />
Finalmente, levando o resultado da transformação realizada para (2.3), tem-se a<br />
representação matricial (2.10).<br />
2.4 Aspectos computacionais<br />
As equações apresentadas neste trabalho são implementadas utilizando-se o<br />
elemento triangular plano com aproximação linear. Para tratar a singularidade das forças<br />
de superfície, faz-se uso do elemento não conforme, deslizando o ponto fonte para o seu<br />
interior.<br />
As funções fn = 1 + r são adotadas para determinar as matrizes do MRD. São<br />
sempre independentes quando escritas para pólos diferentes. A distância r é a mesma<br />
utilizada na solução fundamental.<br />
O algoritmo de Newmark, descrito em WARBURTON (1976), é utilizado para a<br />
resolução de (2.10), tendo antes suas matrizes convenientemente arranjadas em duas<br />
partes: 1 identifica forças de superfícies prescritas; e 2 deslocamentos prescritos<br />
(nulos). Assim, (2.10) vem a ser:<br />
⎡M<br />
⎢<br />
⎣M<br />
M<br />
11 12<br />
M<br />
21 22<br />
⎤⎧U&&<br />
⎥⎨<br />
⎦⎩U&&<br />
1<br />
2<br />
⎫ H<br />
⎬<br />
⎭ + ⎡ ⎣ ⎢ H<br />
H<br />
11 12<br />
H<br />
21 22<br />
⎤⎧U<br />
⎥⎨<br />
⎦⎩U<br />
1<br />
2<br />
⎫ G<br />
⎬<br />
⎭ = ⎡ ⎣ ⎢ G<br />
G<br />
11 12<br />
G<br />
21 22<br />
1<br />
⎤⎧P<br />
⎫<br />
⎥⎨<br />
⎬<br />
2<br />
⎦⎩P<br />
⎭<br />
(2.15)<br />
Admitindo que as condições de contorno não se modificam ao longo do tempo, e<br />
partindo do repouso, chega-se na equação<br />
11<br />
M U&& 1 11 1 1<br />
+ H U = F<br />
(2.16)<br />
onde<br />
11 11 12 22 1 21<br />
M = M − G G M ,<br />
11 11 12 22 −1 21<br />
H = H − G G H e<br />
−<br />
( )<br />
F = G −G G G P<br />
1 11 12 22 1 21 1<br />
−<br />
(2.17a-c)<br />
2.5 Aplicação<br />
Para testar as formulações apresentadas neste trabalho, considera-se o exemplo<br />
de um sólido contido lateralmente e solicitado bruscamente na extremidade, conforme a<br />
figura 2.1. São adotados os seguintes valores: E = 110 x 5 3<br />
Pa, υ = 025 , , ρ=1kg / m e<br />
∆t=0,003s.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />
71<br />
Figura 2.1 - Características geométricas do sólido, condições de contorno e comportamento<br />
temporal da força f(t).<br />
A análise é feita tomando-se as duas discretizações do contorno apresentadas na figura<br />
2.2, seguindo o roteiro de casos da tabela 2.1. Os resultados são mostrados nas figuras<br />
2.3 e 2.4, para as discretizações (a) e (b), respectivamente. Os sentidos das reações de<br />
apoio e deslocamentos são relacionados ao sistema de eixos adotado.<br />
Figura 2.2 - Discretizações do contorno por elementos triangulares planos: (a) 40 elementos e<br />
(b) 80 elementos.<br />
Tabela 2.1 - Casos processados.<br />
Caso Formulação Discretização “Pólos” Internos Células<br />
RD1<br />
RD2<br />
RD3<br />
Reciprocidade.<br />
Dual<br />
A<br />
A<br />
B<br />
0<br />
15<br />
15<br />
-<br />
CT1<br />
CT2<br />
Células<br />
Tridimensionais<br />
A<br />
B<br />
- 2<br />
2<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
72<br />
João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />
-6,70<br />
2<br />
Reação de Apoio (Pa)<br />
1<br />
0<br />
S.Analítica<br />
CT1<br />
RD1<br />
RD2<br />
-1<br />
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10<br />
Tempo (s)<br />
Desloc. no Topo (x10^-5m)<br />
-3,35<br />
0,00<br />
S.Analítica<br />
CT1<br />
DR1<br />
DR2<br />
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10<br />
Tempo (s)<br />
Figura 2.3 - Resultados para a discretização (a).<br />
-6,70<br />
2<br />
Reação de Apoio (Pa)<br />
1<br />
0<br />
S.Analítica<br />
CT2<br />
RD3<br />
Desloc. no Topo (x10^-5m)<br />
-3,35<br />
0,00<br />
S.Analítica<br />
CT2<br />
DR3<br />
-1<br />
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10<br />
Tempo (s)<br />
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10<br />
Tempo (s)<br />
Figura 2.4 - Resultados para a discretização (b).<br />
2.6 Conclusões<br />
O Método dos Elementos de Contorno se mostrou adequado à análise transiente<br />
de tridimensionais, formulado através da Reciprocidade Dual e da utilização de células,<br />
conforme os valores apresentados nas figuras 2.3 e 2.4. O uso do elemento triangular<br />
com aproximação linear, de fácil implementação, exige que a discretização seja mais<br />
refinada, na busca de melhores resultados. A integração temporal através do algoritmo<br />
de Newmark permitiu os resultados apresentados. Deve-se ter especial atenção com o<br />
passo de tempo ∆t adotado, uma vez que pode haver suavização da resposta ou<br />
divergência, de acordo com a escolha de valores maiores e menores, respectivamente.<br />
Os resultados obtidos através do MEC com a Reciprocidade Dual tendem para<br />
os valores da solução analítica, observando-se o mesmo para os obtidos com a<br />
utilização de células, estes últimos um pouco mais precisos. Já o tempo computacional<br />
gasto no processamento pelo MRD é bem maior, uma vez que a sua formulação exige a<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />
73<br />
inversão da matriz das funções f n . Entretanto, tal observação é irrelevante quando se<br />
analisa a evolução tecnológica dos computadores, cada vez mais velozes e disponíveis.<br />
3 FRATURA MECÂNICA<br />
3.1 Equações integrais<br />
A formulação desenvolvida baseia-se na representação integral de<br />
deslocamentos, considerando-se um corpo elástico de domínio Ω e contorno Γ,<br />
submetido a um campo de tensões iniciais σ o<br />
jk<br />
. Essa representação pode ser encontrada<br />
em BREBBIA et al. (1984), e, excluindo-se a parcela correspondente às forças<br />
volumétricas, tem a seguinte forma:<br />
c<br />
ik<br />
u<br />
k<br />
+ *<br />
*<br />
∫ p u dΓ = ∫ u p dΓ + ∫<br />
ik k<br />
ik k<br />
ε<br />
Γ<br />
Γ<br />
Ω<br />
c<br />
*<br />
ijk<br />
σ<br />
o<br />
jk<br />
dΩ<br />
(3.1)<br />
onde p * *<br />
ik<br />
, u ik<br />
*<br />
e ε ijk<br />
representam os valores da solução fundamental (utiliza-se Kelvin<br />
no presente trabalho) para forças de superfície, deslocamentos e deformações,<br />
respectivamente, e Ω c<br />
, a parte do domínio onde age o campo de tensões iniciais. Para<br />
um ponto p situado no domínio, c ik<br />
vale 1 e, para o contorno, 1/2. As três primeiras<br />
parcelas de (3.1) são as usualmente empregadas no MEC. Já a parcela correspondente às<br />
tensões iniciais merece consideração especial: pode ser escrita utilizando-se o tensor de<br />
deslocamento, resultando em:<br />
∫<br />
Ω<br />
c<br />
ε<br />
*<br />
ijk<br />
σ<br />
o<br />
jk<br />
*<br />
∂u<br />
ij o<br />
dΩ<br />
= ∫ σ<br />
jkdΩ<br />
(3.2)<br />
∂x<br />
Ω<br />
c<br />
Considere-se a parcela do domínio Ω c<br />
, onde há uma descontinuidade, conforme<br />
a figura 3.1, que representa a região onde tensões atuam em uma faixa estreita,<br />
definindo-se a descontinuidade que se pretende analisar. Note-se que o contorno da<br />
1<br />
descontinuidade, representado por Γ c<br />
, é aproximado pelos lados Γ c<br />
e Γ 2 c<br />
,<br />
desconsiderando-se os das extremidades, sendo a distância entre os lados igual a 2a<br />
(valor muito pequeno em relação ao seu comprimento). Portanto, todo o cálculo pode<br />
ser referido ao plano médio da região.<br />
k<br />
Figura 3.1 - Parte do domínio onde agem as tensões iniciais.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
74<br />
João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />
Na tentativa de transformar o termo de domínio de (3.2) para o contorno, efetuase<br />
a sua integração por partes, resultando em duas parcelas que, após algumas<br />
manipulações algébricas (tendo em vista a figura 3.1), confere-lhes a seguinte<br />
representação:<br />
*<br />
∂<br />
∫ ε u<br />
* o<br />
ij<br />
ijkσ<br />
jkdΩ = ∫ 2a p<br />
∂x<br />
Ω<br />
c<br />
Γ<br />
c<br />
l<br />
ol<br />
j<br />
dΓ<br />
(3.3)<br />
onde as variáveis cartesianas x l<br />
representam o sistema local de coordenadas na<br />
superfície da trinca, cuja normal está na direção x 3<br />
.<br />
Em (3.3) surgem novas grandezas, definidas como dipólos de forças,<br />
representadas por:<br />
q = 2<br />
(3.4)<br />
l ol<br />
j<br />
ap j<br />
As grandezas são dispostas em um ponto da trinca, conforme mostra a figura 3.2.<br />
Figura 3.2 - Componentes dos dipólos agindo nas superfícies da trinca (no sistema local de<br />
coordenadas).<br />
Portanto, pode-se escrever (3.2) apenas para termos sobre o contorno, utilizandose<br />
o conceito de dipólos, já devidamente transformados para o sistema global de<br />
coordenadas cartesianas, conforme (3.5).<br />
c<br />
ik<br />
u<br />
k<br />
+ *<br />
*<br />
∫ p u dΓ = ∫ u p dΓ + ∫<br />
ik k<br />
ik k<br />
G<br />
Γ<br />
Γ<br />
Γ<br />
c<br />
l<br />
ij<br />
l<br />
q dΓ<br />
j<br />
(3.5)<br />
O novo núcleo, hipersingular, que aparece na última parcela de (3.6) é obtido a<br />
partir da diferenciação da solução fundamental em deslocamento, dado pela seguinte<br />
expressão:<br />
{(3<br />
− 4ν)r<br />
δ − r δ − r δ 3r r r }<br />
l −1<br />
G<br />
ij<br />
=<br />
2<br />
, l ij , j l i ,i l j<br />
+<br />
,i , j , l<br />
(3.6)<br />
16π(1<br />
− ν)Gr<br />
Empregando-se (3.5) a dois pontos simétricos em relação à superfície média da<br />
trinca, verifica-se, após a determinação de alguns limites, que os deslocamentos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />
75<br />
relativos das superfícies da trinca ficam caracterizados em função dos dipólos da,<br />
seguinte forma:<br />
⎡<br />
⎤<br />
3<br />
⎧∆w<br />
⎧ ⎫<br />
1 ⎫<br />
⎢1<br />
0 0 ⎥ q1<br />
⎪ ⎪<br />
p'' 1 ⎢<br />
⎥⎪<br />
3 ⎪<br />
w ⎨ 2 ⎬<br />
= 0 1 0<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎨q<br />
⎬<br />
(3.7)<br />
2<br />
⎪ ⎪<br />
G (1 − 2ν)<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎪ 3 ⎪<br />
⎩∆w<br />
3 ⎭<br />
0 0 ⎩q<br />
3 ⎭<br />
⎢⎣<br />
2(1 − ν)<br />
⎥⎦<br />
p'<br />
{ ∆ } = ∆w<br />
= { u} − { u}<br />
Outra equação necessária para a presente análise é a de tensão em pontos<br />
internos que é obtida da diferenciação da equação de deslocamentos (3.5), o que resulta<br />
em:<br />
σ<br />
im<br />
= −<br />
∫<br />
Γ<br />
S<br />
⎪⎧<br />
+ ⎨λδ<br />
⎪⎩<br />
imk<br />
im<br />
u dΓ +<br />
k<br />
∂<br />
∂X<br />
∫<br />
w Γc<br />
G<br />
∫<br />
Γ<br />
D<br />
l<br />
wj<br />
imk<br />
p dΓ +<br />
l<br />
q dΓ + G<br />
j<br />
k<br />
∂<br />
∂X<br />
∫<br />
m Γc<br />
l l<br />
G q dΓ +<br />
ij<br />
j<br />
∂<br />
∂X<br />
∫<br />
i Γc<br />
G<br />
l<br />
mj<br />
⎪⎫<br />
l<br />
q<br />
jdΓ⎬<br />
⎪⎭<br />
(3.8)<br />
Os núcleos S imk e D imk , em (3.8), são os já conhecidos da formulação clássica do<br />
MEC. Já os termos entre parênteses referem-se à trinca e, devido à presença de<br />
singularidade, devem ser analisados com o devido cuidado. Em VENTURINI (1982)<br />
são apresentados os procedimentos necessários para a devida análise desses termos que,<br />
aplicados aqui, resultam em:<br />
σ<br />
im<br />
= −<br />
∫<br />
Γ<br />
S<br />
imk<br />
u dΓ +<br />
k<br />
∫<br />
Γ<br />
D<br />
imk<br />
p dΓ +<br />
k<br />
∫<br />
Γc<br />
G<br />
ml<br />
ij<br />
l<br />
q dΓ + g<br />
j<br />
ml<br />
ij<br />
[ σ (p)]<br />
ml<br />
o<br />
onde g<br />
ij<br />
é um termo independente que vale 0 e σ im<br />
( p) para o cálculo de tensão<br />
plástica e elástica, respectivamente. O novo núcleo para tensões, hipersingular, é dado<br />
pela seguinte expressão:<br />
jl<br />
(3.9)<br />
G<br />
ml<br />
ij<br />
1<br />
=<br />
8π(1<br />
− ν)r<br />
3<br />
{(1<br />
− 2ν)<br />
( δ δ + δ δ − δ δ ) − 3(1 − 2ν)<br />
( δ r r + δ r r − δ r r )<br />
mj il<br />
ij lm<br />
mi lj<br />
+ 3<br />
( δ r r + δ r r + δ r r ) −15r<br />
r r r }<br />
lj<br />
,i ,m<br />
ml<br />
, j ,i<br />
mj ,i , l<br />
li<br />
,m , j<br />
ij ,m , l<br />
im , j , l<br />
,i , j , l ,m<br />
+<br />
(3.10)<br />
3.2 O modelo coesivo<br />
O modelo coesivo apresentado por HILLERBORG (1976) é considerado neste<br />
trabalho. É aplicado nos casos onde a zona plástica é delimitada para uma faixa muito<br />
estreita. Estabeleceu-se que a zona de fratura coesiva desenvolve-se quando a tensão<br />
principal máxima atinge seu valor limite, f t , conforme figura 3.3.a, e que o dano no<br />
material da zona de fratura é parcial, permitindo a perda gradual da resistência do<br />
material até que seja atingida uma abertura de fratura igual a w c (figuras 3.3.b e 3.3.c).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
76<br />
João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />
(a) (b) (c)<br />
Figura 3.3 - Leis constitutivas do material: (a) tensão x deformação; (b) tensão x abertura da<br />
fratura, modelo idealizado; (c) tensão x abertura da fratura, modelo simplificado.<br />
O modelo simplificado dá resultados satisfatórios para materiais do tipo "quasibrittle".<br />
É definido apenas por dois parâmetros, f t e w c , que podem ser obtidos de<br />
ensaios em laboratório.<br />
Utiliza-se aqui uma relação constitutiva do modelo coesivo escrita na forma<br />
clássica de um critério plástico, atribuída a CEN & MAIER (1992), representada por:<br />
Φ( σ)<br />
⎛ ⎞<br />
= σ−f<br />
⎜ − ⎟<br />
⎝<br />
1 w<br />
t<br />
w ⎠<br />
(3.11)<br />
onde σ é a tensão normal à fratura e w o afastamento normal entre as suas superfícies.<br />
As seguintes condições são observadas para o critério dado em (3.11):<br />
c<br />
w&<br />
≥ 0<br />
Φw&<br />
= 0<br />
(3.12a-b)<br />
3.3 Discretização<br />
Mostradas as expressões matemáticas da formulação, necessárias à análise do<br />
problema proposto, necessita-se, agora, transformá-las para uso em um algoritmo<br />
computacional para a análise automática do problema. Assim, são utilizados elementos<br />
planos triangulares descontínuos com aproximação linear (com três pontos de<br />
colocação) para a discretização do contorno do corpo. Para a fratura são utilizados os<br />
mesmos elementos com aproximação constante (um ponto de colocação). Elementos<br />
com outras aproximações poderiam ser utilizados sem nenhum prejuízo à formulação.<br />
Escrevendo-se (3.5) para os pontos de colocação definidos no contorno do corpo e nos<br />
elementos da fratura, obtém-se:<br />
HU = GP + KQ<br />
(3.13)<br />
onde as matrizes H e G são as já conhecidas do MEC. A matriz K é obtida a partir dos<br />
núcleos dados em (3.6), observando-se convenientemente as componentes necessárias e<br />
a relação entre elas (conforme figura 3.2). Fazendo a troca de colunas entre as matrizes<br />
H e G, do modo usual do MEC, a fim de estabelecer um vetor de incógnitas<br />
(deslocamentos e forças de superfície) e um vetor de valores prescritos, associando-se o<br />
coeficiente percentual α de incremento de força ou deslocamento, obtém-se o seguinte<br />
sistema de equações algébricas:<br />
X = α M+<br />
RQ<br />
(3.14)<br />
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Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />
77<br />
onde<br />
−1<br />
M = A F<br />
−1 (3.15a-b)<br />
R = A K<br />
Vê-se que, para cada passo incremental de força ou deslocamento, as incógnitas<br />
possuem uma parcela elástica e outra que a corrige, em virtude do fraturamento, através<br />
da aplicação dos dipólos, representados pelo vetor Q.<br />
A expressão integral para as tensões, (9), é transformada de forma semelhante à<br />
de deslocamentos, com as matrizes usuais do MEC H' e G', mais a matriz K' obtida<br />
com os núcleos dados por (3.10), conforme a seguir:<br />
' ' '<br />
σ =− HU+ GP+<br />
KQ<br />
(3.16)<br />
Da mesma forma que a expressão para deslocamentos, a de tensões pode ser escrita<br />
separando-se em duas parcelas, uma elástica e a outra que a corrige pelo emprego dos<br />
dipólos. Assim,<br />
onde<br />
3.4 Aspectos numéricos<br />
σ = αN<br />
+ SQ<br />
(3.17)<br />
' '<br />
N = F −A M<br />
' ' (3.18)<br />
S = K − A R<br />
O algoritmo empregado na solução das equações dadas no item anterior é do tipo<br />
incremental iterativo. Calculam-se as incógnitas, deslocamentos e forças de superfície e,<br />
eventualmente, tensões internas, com as parcelas elásticas das equações (3.14) e (3.17)<br />
para cada passo incremental. Verifica-se, então, se o critério de resistência foi atingido<br />
e, em caso afirmativo, entra-se em um processo iterativo. Os valores verdadeiros de<br />
deslocamentos, forças de superfície e tensões são obtidos corrigindo-se os valores<br />
elásticos através das parcelas relacionadas com os dipólos. Os valores dos dipólos<br />
devem ser estimados a partir do valor local das tensões de cada elemento de fratura ou<br />
nó, como se fossem campos independentes, já que o processo é não-linear. Portanto,<br />
com os valores residuais das tensões e das sub-matrizes de S, obtém-se de modo<br />
simplificado os valores parciais dos dipólos, que são posteriormente acumulados em Q.<br />
Obedecendo ao critério do modelo coesivo apresentado em (3.11), verifica-se o<br />
surgimento da abertura de fratura limite, w c , condição necessária para se afirmar que<br />
neste nó houve fraturamento.<br />
O emprego de elementos descontínuos na discretização do contorno é necessário<br />
para permitir o surgimento de fraturas.<br />
O procedimento descrito acima é similar a outros já empregados em conjunto<br />
com o MEC; e pode ser utilizado no estudo de sólidos quaisquer sujeitos ao surgimento<br />
de uma linha de fratura ou a multifraturamento.<br />
Nesta formulação apresentada, as matrizes G e H usuais do MEC sofrem<br />
inclusões de linhas e colunas à medida que novos elementos são exigidos para<br />
representar o crescimento da fratura. Portanto, não se trata de redefinir uma nova rede<br />
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78<br />
João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />
de elementos, e sim de aproveitar os valores das componentes dessas matrizes, já<br />
calculados, aumentando a economia de tempo computacional.<br />
Sendo hipersingulares os núcleos envolvidos nesta formulação, deve-se ter<br />
cuidado especial com os procedimentos de integração, principalmente se o ponto de<br />
colocação pertencer ao elemento integrado (utiliza-se o conceito de parte finita de<br />
Hadamard).<br />
3.5 Aplicação numérica<br />
Para testar a formulação apresentada neste trabalho, considera-se o exemplo de<br />
um sólido deslocado na sua extremidade, conforme a figura 3.4.a. São adotados os<br />
seguintes valores: E = 110 x<br />
5 , υ=00 , , f t<br />
= 10 , e w c<br />
= 0, 00004 .<br />
Figura 3.4 - (a) corpo para análise, com do deslocamento imposto na extremidade e a definição<br />
de quatro pontos para medições; (b) discretização do contorno; e (c) discretização da seção<br />
fraturada.<br />
Na figura 3.4.a são definidos quatro pontos: um na extremidade livre, outro<br />
próximo aos apoios e dois na metade do comprimento, um imediatamente acima da<br />
metade e outro abaixo. Para esses pontos são apresentados valores de deslocamentos<br />
para alguns passos de cálculo do algoritmo apresentado.<br />
A discretização do contorno do corpo é feita através de elementos triangulares<br />
planos com aproximação linear, conforme figura 3.4.b, e são descontínuos para permitir<br />
o surgimento de trincas ao longo do comprimento do corpo. A superfície fictícia de<br />
fraturamento é discretizada por elementos triangulares planos com aproximação<br />
constante (figura 3.4.c) e divide o corpo hipoteticamente em dois cubos.<br />
Os resultados obtidos do processamento são apresentados a seguir. A figura<br />
3.5.a mostra que ao ser atingida a tensão limite, inicia-se o processo de fraturamento,<br />
obedecendo-se ao critério adotado em (3.11) e verificando-se o deslocamento relativo<br />
entre os pontos 2' e 2'' (abertura da fratura). Na figura 3.5.b observa-se bem o trecho de<br />
deslocamentos elásticos, que são corrigidos no segundo trecho, moldando-se à nova<br />
situação de fraturamento.<br />
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Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />
79<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 3.5 - Gráficos dos resultados: (a) processo de fraturamento obedecendo ao critério<br />
adotado; e (b) forças de superfície por deslocamentos, no ponto 2''.<br />
Os valores de deslocamentos obtidos para os quatro pontos definidos na figura<br />
3.4 estão resumidos na tabela 3.1, dada a seguir:<br />
Tabela 3.1 - Valores de deslocamentos em alguns passos incrementais para os pontos<br />
selecionados<br />
Trecho Elástico<br />
Trecho c/ Fratura<br />
α=0 α=0,25 α=0,50 α=0,75 α=1,00 α=1,00 α=1,25<br />
1 0 0,000010 0,000020 0,000030 0,000040 0,000040 0,000050<br />
2' 0 0,000005 0,000010 0,000015 0,000020 0,000040 0,000050<br />
2'' 0 0,000005 0,000010 0,000015 0,000020 0,000000 0,000000<br />
3 0 0 0 0 0 0 0<br />
Os dados da tabela 3.1 revelam duas fases distintas do comportamento do corpo em<br />
questão. Na primeira, o corpo íntegro deforma-se elasticamente até que a tensão limite é<br />
atingida. A partir daí, já no processo iterativo, são determinados os dipólos que fazem a<br />
correção dos valores elásticos neste incremento, para os valores verdadeiros, já com o<br />
corpo fraturado. A segunda fase caracteriza-se pelo descolamento das duas partes do<br />
domínio, uma permanecendo imóvel e a outra tendo deslocamento de corpo livre. A<br />
configuração final do corpo, após o fraturamento, está apresentada na figura 3.6.<br />
Figura 3.6 - Configuração final do corpo fraturado.<br />
3.6 Conclusões<br />
A formulação apresentada neste trabalho mostrou-se adequada para solucionar o<br />
problema tridimensional de fratura coesiva. O algoritmo é convergente e bastante<br />
versátil. Após discretizado o contorno do corpo e encontradas as matrizes usuais do<br />
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80<br />
João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />
MEC, basta que se acrescente os elementos na superfície fictícia da fratura, gerando<br />
novas linhas e novas colunas, mantendo-se a rede de elementos do contorno. Isso traz<br />
uma economia de tempo computacional e dá ao método dos elementos de contorno uma<br />
formulação elegante para a análise do processo de fraturamento. Vale destacar que esta<br />
formulação é válida para quaisquer outros modelos que não o coesivo, inclusive o<br />
elástico.<br />
4 FRATURA DINÂMICA<br />
4.1 Equações integrais<br />
Considere-se um sólido elástico, homogêneo, isotrópico e com distribuição<br />
contínua de matéria em seu domínio Ω , submetido a um campo de tensões iniciais,<br />
conforme mostra a figura 4.1.<br />
Γ t<br />
Γ<br />
Ω<br />
t+ ∆t<br />
t<br />
Ωt+ ∆t<br />
. χ<br />
q( χ<br />
. q( ,t+ ∆t)<br />
,t)<br />
Ωc<br />
Ωc t t+ ∆t<br />
Figura 4.1 – Sólido em movimento com uma região de tensões iniciais<br />
Ω<br />
c<br />
.<br />
A formulação empregada baseia-se na clássica equação Somigliana (BREBBIA<br />
et al., 1984), acrescentando-se um novo termo correspondente a um campo de tensões<br />
iniciais aplicado no domínio, além da influência dinâmica dada pelo termo que contém a<br />
aceleração. Portanto, considerando-se as parcelas de forças dinâmicas e de tensões<br />
iniciais, a seguinte representação integral de deslocamentos pode ser escrita para pontos<br />
do domínio:<br />
u<br />
i<br />
*<br />
*<br />
*<br />
* o<br />
+ ∫ p u<br />
kdΓ<br />
= ∫ u p<br />
kdΓ<br />
−ρ<br />
∫ u & u<br />
kdΩ<br />
+ ∫ε<br />
ijkσ<br />
jkdΩ<br />
ik<br />
ik<br />
ik<br />
(4.1)<br />
Γ<br />
Γ<br />
Realizam-se as passagens algébricas pertinentes à formulação do MEC<br />
(BARBIRATO, 1999), e obtém-se a transformação da parcela integral de tensões<br />
iniciais para o contorno da sub-região. Assim, considerando-se o conceito de dipolo de<br />
tensões, encontra-se:<br />
c<br />
ik<br />
u<br />
k<br />
Ω<br />
*<br />
*<br />
*<br />
l l<br />
+ ∫ p u<br />
kdΓ<br />
= ∫ u p<br />
kdΓ<br />
−ρ<br />
∫ u &<br />
iku<br />
kdΩ<br />
+ ∫ G<br />
ijq<br />
jdΓ<br />
ik<br />
ik<br />
(4.2)<br />
Γ<br />
Γ<br />
Os tensores * *<br />
u<br />
ik<br />
e p<br />
ik<br />
são os de Kelvin utilizados na elastostática. Os<br />
coeficientes c<br />
ik<br />
permitem o emprego da equação integral de deslocamentos (4.2) para<br />
pontos no contorno, no domínio ou fora dele. O tensor correspondente ao dipolo é o<br />
mesmo apresentado em BARBIRATO & VENTURINI (1998), ou seja,<br />
Ω<br />
Ωc<br />
Γ c<br />
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Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />
81<br />
G<br />
1<br />
=<br />
16π( 1−<br />
ν)<br />
Gr<br />
{ − 3− 4ν rlδ + r δl + r δl −3r r rl}<br />
( ) , , ,i ,i , , (4.3)<br />
l<br />
ij 2<br />
ij j i j j<br />
4.2 Emprego do método da reciprocidade dual<br />
Neste trabalho, o Método da Reciprocidade Dual (MRD) é utilizado para<br />
transformar o último termo de domínio de (4.2), considerando-se as forças de inércia<br />
como forças de volume e tratando o problema dinâmico com as soluções fundamentais<br />
do problema estático. A partir disso, aplicando-se o Teorema da Reciprocidade na<br />
referida parcela, pela segunda vez na formulação do Método dos Elementos de<br />
Contorno (MEC), chega-se a uma representação somente com termos de contorno. Na<br />
transformação do termo de domínio (4.2) para o contorno, faz-se necessário definir uma<br />
aproximação para a densidade & u&<br />
i<br />
, incógnita do problema. O MDR pode ser interpretado<br />
como sendo uma superposição de soluções particulares localizadas, e sugere uma série<br />
de funções, tais que:<br />
u (q, t) = α<br />
j<br />
& u<br />
(q, t) = α&&<br />
j<br />
m<br />
j<br />
m<br />
j<br />
(t)f<br />
(t)f<br />
m<br />
m<br />
(χ ,q)<br />
(χ ,q) ,<br />
e<br />
(4.4a-b)<br />
onde f<br />
m<br />
são funções globais linearmente independentes, que podem ser escritas para<br />
pontos do domínio e do contorno; α& & m j<br />
coeficientes a serem determinados, e m a<br />
somatória ( m = 1,2, L,<br />
M ).<br />
Considerando-se a aproximação (4.4) no termo de domínio de (4.2) e realizandose<br />
algumas operações algébricas, chega-se na representação integral de deslocamentos<br />
somente com parcelas no contorno:<br />
c (S)u (S, t) = −<br />
ij<br />
j<br />
⎛<br />
+ ρ ⎜<br />
c<br />
⎝<br />
−<br />
∫<br />
Γ<br />
∫<br />
Γ<br />
*<br />
p (S,Q)u (Q, t)dΓ + u<br />
u<br />
*<br />
ij<br />
ij<br />
ij<br />
(s)û<br />
m<br />
jk<br />
(s,q)pˆ<br />
(χ ) +<br />
m<br />
jk<br />
j<br />
∫<br />
Γ<br />
p<br />
*<br />
ij<br />
⎞<br />
(χ ,q)dΓ ⎟<br />
α&&<br />
⎠<br />
∫<br />
Γ<br />
(s,q)û<br />
m<br />
k<br />
*<br />
ij<br />
(S,Q)p (Q, t)dΓ +<br />
m<br />
jk<br />
(t) +<br />
(χ ,q)dΓ +<br />
m m<br />
onde o índice “m” representa somatória e as funções û l i<br />
e pˆ l i<br />
são soluções particulares<br />
de um problema estático adotado, cuja força f m<br />
é aplicada na direção k. Conhecidas as<br />
m<br />
funções f n<br />
, os coeficientes α& & k<br />
são determinados tomando-se a forma inversa de (4.3).<br />
A representação integral de tensões para pontos localizados no domínio é obtida<br />
utilizando-se o procedimento clássico baseado na lei de Hooke, substituindo-se<br />
convenientemente as derivadas da expressão (4.5) de deslocamentos. Assim,<br />
∫<br />
Γ c<br />
G<br />
l<br />
ij<br />
j<br />
q<br />
l<br />
j<br />
dΓ ,<br />
(4.5)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
82<br />
João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />
σ (s, t) = −<br />
ij<br />
onde<br />
S<br />
⎧<br />
+ ρ⎨Dˆ<br />
⎩<br />
+<br />
∫<br />
∫<br />
Γ<br />
Γc<br />
G<br />
*<br />
ijl<br />
jl<br />
ik<br />
(s,Q)u (Q, t)dΓ +<br />
k<br />
ijl<br />
(s,q) +<br />
(s,q)q<br />
l<br />
k<br />
j<br />
∫<br />
Γ<br />
S<br />
*<br />
ijl<br />
∫<br />
Γ<br />
(s,q)û<br />
(q, t)dΓ + g<br />
jl<br />
ik<br />
D<br />
m<br />
jk<br />
*<br />
ijl<br />
(s,Q)p (Q, t)dΓ +<br />
(s,q)dΓ −<br />
[ σ (p)]<br />
kl<br />
j<br />
∫<br />
Γ<br />
D<br />
*<br />
ijl<br />
(s,q)pˆ<br />
m<br />
jk<br />
⎫<br />
(s,q)dΓ⎬α&&<br />
⎭<br />
m<br />
k<br />
(t) +<br />
(4.6)<br />
⎧ 0<br />
j<br />
g l ik<br />
(p) = ⎨<br />
(4.7)<br />
o<br />
⎩σij<br />
* *<br />
para o cálculo da tensão plástica ou elástica, respectivamente, os tensores S ijk<br />
e D ijk<br />
são<br />
jl<br />
os da solução de Kelvin; Dˆ ijk<br />
é o tensor definido em (4.8) e G<br />
ik<br />
o tensor hipersingular<br />
dos coeficientes de influência dos dipolos para as tensões em pontos internos, exp. (4.9).<br />
Dˆ<br />
ijk<br />
(1 − 2ν)<br />
⎡(1<br />
+ 2ν)<br />
=<br />
r,k<br />
(3 2 )<br />
⎢ δ<br />
− ν ⎣(1<br />
− 2ν)<br />
+<br />
1<br />
<strong>24</strong>(1<br />
− ν)<br />
[(5<br />
− 6ν)<br />
( r δ + r δ ) − (1 − 6ν)r<br />
δ − r r r ] r<br />
2<br />
,i<br />
ij<br />
1<br />
+ δ<br />
2<br />
kj<br />
, j<br />
jk<br />
r<br />
ik<br />
,i<br />
1<br />
+ δ<br />
2<br />
⎤<br />
r ⎥ r +<br />
⎦<br />
ik , j<br />
,k<br />
ij<br />
,i , j ,k<br />
(4.8)<br />
G<br />
ml<br />
ij<br />
1<br />
=<br />
8π(1<br />
− ν)r<br />
+ δ<br />
r<br />
r<br />
ij ,m , l<br />
3<br />
{(1<br />
− 2ν)<br />
( δ δ + δ δ − δ δ ) + 3(1 − 2ν)<br />
(<br />
− δ<br />
r<br />
r<br />
im , j , l<br />
mj<br />
il<br />
) − 3( δ r r + δ r r + δ r r ) −15r<br />
r r r }.<br />
lj<br />
,i<br />
,m<br />
ij<br />
lm<br />
ml<br />
mi<br />
, j ,i<br />
lj<br />
li<br />
,m , j<br />
δ<br />
r<br />
r<br />
mj ,i , l<br />
+<br />
,i , j , l ,m<br />
(4.9)<br />
4.3 Discretizações<br />
As representações integrais (4.5) e (4.6) são discretizadas utilizando-se os<br />
elementos triangulares planos com aproximações linear para o contorno e constante para<br />
a superfície fictícia da fratura.<br />
Além dos “J” elementos de contorno, dos “N” pontos nodais (nós funcionais),<br />
deve-se considerar o número de pólos, “Np”, e os “ J c<br />
” elementos constantes utilizados<br />
na superfície fictícia da fratura.<br />
Considere-se a expressão integral para deslocamentos (4.5). Substituem-se os<br />
deslocamentos e forças de superfície (u j e p j ) pelo produto entre as funções<br />
aproximadoras e seus respectivos valores nodais. O mesmo é feito para os tensores dos<br />
deslocamentos e forças de superfície do problema particular ( û<br />
m<br />
jk<br />
e pˆ<br />
m<br />
jk<br />
). Adotando-se as<br />
mesmas funções aproximadoras, chega-se às mesmas matrizes H e G do contorno,<br />
também para o termo de domínio transformado-o para o contorno. Portanto, adotam-se:<br />
uˆ<br />
k<br />
T<br />
= φ Uˆ<br />
T<br />
ˆ ˆ n<br />
p<br />
k<br />
= φ Pm<br />
.<br />
A expressão (4.5), na sua forma discretizada, passa a ser:<br />
n<br />
m<br />
e<br />
(4.10a-b)<br />
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Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />
83<br />
c(S,<br />
t) u(S,<br />
t) = −<br />
+<br />
J+<br />
Jc<br />
∑ ⎢∫<br />
j= 1 Γj<br />
J+<br />
Jc<br />
∑ ⎢∫<br />
j= 1 Γj<br />
{<br />
+ ρ c(s)ˆ<br />
u<br />
−<br />
+<br />
J+<br />
Jc<br />
∑ ⎢∫<br />
j= 1 Γj<br />
Jc<br />
⎡<br />
⎢⎣<br />
⎡<br />
⎢⎣<br />
⎡<br />
∑ ⎢∫<br />
⎢⎣<br />
⎡<br />
⎢⎣<br />
j= 1 Γj<br />
*<br />
p (S,Q) φ<br />
*<br />
u (S,Q) φ<br />
m<br />
(s, t) +<br />
*<br />
u (s,q) φ<br />
T<br />
T<br />
T<br />
⎤<br />
(Q)dΓ⎥U<br />
⎥⎦<br />
⎤<br />
(Q)dΓ⎥<br />
P<br />
⎥⎦<br />
J+<br />
Jc<br />
∑ ⎢∫<br />
⎢⎣<br />
j= 1 Γj<br />
⎤<br />
(q)dΓ⎥<br />
P<br />
⎥⎦<br />
n<br />
m<br />
⎤<br />
*<br />
G (s,q)dΓ⎥<br />
Q(q,<br />
t).<br />
⎥⎦<br />
⎡<br />
n<br />
n<br />
*<br />
p (s,q) φ<br />
(Q, t) +<br />
(Q, t) +<br />
T<br />
⎪<br />
⎫<br />
(s,q) ⎬α&&<br />
⎪⎭<br />
⎤<br />
(q)dΓ⎥<br />
U<br />
⎥⎦<br />
m<br />
(t) +<br />
n<br />
m<br />
(s,q) +<br />
Efetuadas as integrais de (4.11) para todos os pontos de colocação, representada<br />
na forma matricial, tem-se:<br />
( cUˆ<br />
+ HU ˆ ˆ − GPˆ<br />
)&<br />
KQ<br />
(4.11)<br />
c U + HU ˆ = GP + ρ<br />
α& +<br />
(4.12)<br />
ou, ainda,<br />
HU = GP − MU&& + KQ<br />
(4.13)<br />
onde M é a matriz de massa definida por:<br />
−<br />
M =−ρ( HU$ −GP$ ) F<br />
1 . (4.14)<br />
Para o cálculo das tensões em pontos do domínio, utiliza-se o mesmo<br />
procedimento de discretização efetuado para a equação de deslocamentos, que aplicado<br />
à equação (4.6) resulta em:<br />
σ(s,<br />
t) = −<br />
+<br />
+ ρ<br />
−<br />
+<br />
J+<br />
Jc<br />
∑ ⎢∫<br />
j=<br />
1<br />
J+<br />
Jc<br />
j=<br />
1<br />
T<br />
n<br />
( s,Q) φ ( Q) dΓ⎥U<br />
( Q, t)<br />
T<br />
n<br />
( s,Q) φ ( Q) dΓ ⎥P<br />
( Q, t)<br />
J+<br />
Jc<br />
{ ˆ k<br />
* T<br />
( s,q) ( s,Q) ( Q) dΓ ˆ k<br />
D + ⎢ S φ ⎥U<br />
( s,q)<br />
J+<br />
Jc<br />
j=<br />
1<br />
Jc<br />
j=<br />
1<br />
⎡<br />
Γ j<br />
∑ ⎢∫<br />
⎢⎣<br />
Γ j<br />
⎡<br />
∑ ⎢∫<br />
⎢⎣<br />
⎡<br />
Γ j<br />
∑ ⎢∫<br />
⎢⎣<br />
⎡<br />
⎢⎣<br />
Γ j<br />
S<br />
D<br />
D<br />
G<br />
*<br />
*<br />
*<br />
*<br />
σ<br />
∑ ∫<br />
j=<br />
1<br />
⎡<br />
⎢⎣<br />
Γ j<br />
⎥⎦<br />
⎤<br />
⎥⎦<br />
⎤<br />
⎤<br />
T<br />
( ) ( ) ˆ k<br />
−1<br />
s,Q φ Q dΓ⎥P<br />
( s,q) F ( s,q)<br />
⎥⎦<br />
⎤<br />
(s,q)dΓ ⎥ Q(<br />
q,<br />
t),<br />
⎥⎦<br />
Escrevendo-se (4.15) de forma matricial, tem-se<br />
+<br />
⎪<br />
⎫<br />
⎬<br />
⎪⎭<br />
+<br />
⎤<br />
⎥⎦<br />
U&&<br />
k<br />
+<br />
(q, t) +<br />
(4.15)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
84<br />
João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />
onde:<br />
σ =− HU ′ + GP ′ − MU ′&& + KQ ′ , (4.16)<br />
( ˆ ˆ ˆ −1<br />
D + H′<br />
U − G′<br />
P) M ′ = −ρ<br />
F . (4.17)<br />
4.4 Solução das equações<br />
Considere-se a equação do movimento definida em (4.13). Utilizando-se a<br />
formulação do algoritmo de Houbolt (DOMINGUEZ, 1993), para um instante de tempo<br />
genérico, tem-se<br />
ou<br />
onde<br />
M U & + HU GP KQ<br />
(4.18)<br />
t+ ∆t<br />
t+∆t<br />
=<br />
t+∆t<br />
+<br />
t+ ∆t<br />
t+∆t<br />
+<br />
t+∆t<br />
+<br />
t+<br />
∆t<br />
t+<br />
∆t<br />
H U = GP F KQ , (4.19)<br />
⎡ 2 ⎤<br />
H = ⎢ M + H<br />
2<br />
⎣∆t<br />
⎥<br />
⎦<br />
⎡ 1<br />
⎤<br />
F<br />
t+ ∆t<br />
= M<br />
⎢<br />
( 5U<br />
t<br />
− 4U<br />
t−∆t<br />
+ U<br />
t−2∆t<br />
)<br />
2<br />
⎣∆t<br />
⎥⎦<br />
.<br />
(4.20a-b)<br />
Fazendo-se a troca de colunas entre as matrizes H e G, do modo usual do MEC,<br />
a fim de estabelecer o vetor de incógnitas (deslocamentos e forças de superfície) e o<br />
vetor de valores prescritos, obtém-se a seguinte solução:<br />
onde:<br />
X = RQ , (4.21)<br />
t+ ∆t<br />
M<br />
t+∆t<br />
+<br />
t+<br />
∆t<br />
X<br />
t +∆t<br />
= vetor misto de incógnitas<br />
−1<br />
M<br />
t+∆t<br />
= A ( GPt+∆<br />
t<br />
+ Ft<br />
+∆t<br />
)<br />
−1<br />
R = A K<br />
(4.22a-c)<br />
De maneira semelhante, pode-se modificar a equação das tensões (4.16)<br />
resultando em:<br />
onde:<br />
onde:<br />
t+ ∆t<br />
H′<br />
U<br />
t+∆t<br />
= G′<br />
P ′ ′<br />
t+∆t<br />
+ Ft<br />
+∆t<br />
+ K<br />
σ + Q<br />
(4.23)<br />
t+<br />
∆t<br />
⎡ 2 ⎤<br />
H′ = ⎢ M′<br />
+ H′<br />
2<br />
⎣∆t<br />
⎥ , e<br />
⎦<br />
⎡ 1<br />
⎤<br />
F ′ ′<br />
t+ ∆t<br />
= M ⎢<br />
( 5U<br />
t<br />
− 4U<br />
t−∆t<br />
+ U<br />
t−2∆t<br />
)<br />
2<br />
⎣∆t<br />
⎥⎦ .<br />
A expressão (4.23) pode ser ainda escrita na forma:<br />
t+ ∆t<br />
A′<br />
X<br />
′<br />
t+∆t<br />
= F′<br />
t+∆t<br />
+ K<br />
t+<br />
∆t<br />
(4.<strong>24</strong>a-b)<br />
σ + Q , (4.25)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />
85<br />
X<br />
F′<br />
t +∆t<br />
t+∆t<br />
= vetor misto de incógnitas<br />
= G′<br />
P<br />
t+∆t<br />
+ F′<br />
t+∆t<br />
Utilizando-se o vetor de incógnitas definido em (4.21), tem-se:<br />
t+ ∆t<br />
N<br />
t+∆t<br />
+<br />
t+<br />
∆t<br />
(4.26a-b)<br />
σ = SQ , (4.27)<br />
onde:<br />
N<br />
t+ ∆t<br />
= F′<br />
′<br />
t +∆t<br />
− A M<br />
(4.28a-b)<br />
t + ∆t<br />
S = K′<br />
− A′<br />
R .<br />
4.5 Aspectos computacionais<br />
O algoritmo empregado na solução das equações apresentadas é do tipo<br />
incremental iterativo (incremental no tempo – via Houbolt). Calculam-se as incógnitas,<br />
deslocamentos e forças de superfície e, eventualmente, tensões internas com as parcelas<br />
elásticas das equações (4.21) e (4.27) para cada passo incremental de tempo. Verificase,<br />
então, se o critério de resistência é atingido e, em caso afirmativo, entra-se em um<br />
processo iterativo. Os valores verdadeiros de deslocamentos, forças de superfície e<br />
tensões são obtidos corrigindo-se os valores elásticos através das parcelas relacionadas<br />
com os dipolos. Os valores dos dipolos devem ser estimados a partir do valor local das<br />
tensões de cada elemento de fratura ou nó, como se fossem campos independentes, já<br />
que o processo é não-linear. Portanto, com os valores residuais das tensões e das submatrizes<br />
de S, obtém-se de modo simplificado os valores parciais dos dipolos, que são<br />
posteriormente acumulados em Q. Obedecendo-se ao critério do modelo coesivo<br />
apresentado em (3.11), verifica-se o surgimento da abertura de fratura limite, w c ,<br />
condição necessária para se afirmar que neste nó houve fraturamento.<br />
É importante destacar que o emprego de elementos descontínuos na<br />
discretização do contorno é necessário para permitir o surgimento de fraturas.<br />
O procedimento descrito é similar a outros já empregados em conjunto com o<br />
MEC; e pode ser utilizado no estudo de sólidos quaisquer sujeitos ao surgimento de<br />
uma linha de fratura ou a multifraturamento.<br />
Sendo hipersingulares os núcleos envolvidos nesta formulação, deve-se ter<br />
cuidado especial com os procedimentos de integração, principalmente se o ponto de<br />
colocação pertence ao elemento integrado (utilizando-se o conceito de parte finita de<br />
Hadamard, conforme PORTELA, 1993).<br />
4.6 Aplicação<br />
O problema de uma chapa com uma fratura central e solicitada por tensões<br />
dinâmicas nas extremidades opostas foi resolvido em CHEN (1975) utilizando<br />
diferenças finitas. Constitui-se em um trabalho de referência para a avaliação de outras<br />
formulações sobre fratura dinâmica. Neste exemplo, para testar a formulação<br />
apresentada, tem-se a resolução desse problema (na forma tridimensional).<br />
Considere-se o problema de um sólido paralelepipédico solicitado por tensões de<br />
tração nas extremidades opostas, conforme mostra a figura 4.2. Define-se, ainda, uma<br />
descontinuidade em sua seção transversal média. Os parâmetros elastodinâmicos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
86<br />
João <strong>Carlos</strong> Cordeiro Barbirato & Wilson Sergio Venturini<br />
5<br />
adotados são: E = 2×<br />
10 GPa , ν = 0, 3 ,<br />
a largura da fratura 2 a = 4,8mm<br />
.<br />
3<br />
ρ = 500kg / m , t = 0,0004s<br />
∆ , f t<br />
= 100, 0Pa<br />
e<br />
Figura 4.2 – Definição do objeto de estudo: geometria do sólido, condições de contorno e<br />
comportamento temporal da força.<br />
O contorno do sólido é discretizado utilizando-se 80 elementos triangulares<br />
planos, conforme mostra a figura 4.3a. A descontinuidade na seção média do sólido é<br />
discretizada por elementos triangulares com aproximação constante (figura 4.3b).<br />
(a)<br />
Figura 4.3 – Discretizações: (a) contorno do sólido por elementos lineares e (b) superfície da<br />
trinca na seção central do sólido por elementos constantes.<br />
O exemplo é resolvido utilizando-se um algoritmo computacional incremental<br />
(no tempo) e iterativo. São medidas as tensões em pontos próximos da linha<br />
“extremidade da trinca” e apresentadas na forma de fatores de intensidade de tensão<br />
(relativos ao módulo I de fraturamento), a fim de comparar com a curva apresentada em<br />
CHEN (1975). Os resultados são mostrados na figura 4.4.<br />
(b)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p. 65-90, <strong>2005</strong>
Método dos elementos de contorno com a reciprocidade dual para a análise transiente...<br />
87<br />
3,5<br />
Fator de Intens. de Tensão (modo I)<br />
3,0<br />
2,5<br />
2,0<br />
1,5<br />
1,0<br />
0,5<br />
0,0<br />
-0,5<br />
CHEN (1975)<br />
MEC<br />
-1,0<br />
0 2 4 6 8 10 12 14 16<br />
Tempo (µs)<br />
Figura 4.4 – Valores de<br />
K<br />
I<br />
(normalizado por<br />
σ<br />
π a ) ao longo do tempo.<br />
4.7 Conclusão<br />
A formulação do Método dos Elementos de Contorno apresentada para análise<br />
de fratura dinâmica, utilizando-se o conceito de dipolo e o Método da Reciprocidade<br />
Dual, mostrou-se adequada e constitui-se como uma alternativa importante na resolução<br />
deste tipo de problema. Cada área explorada no presente trabalho traz sua conclusão<br />
específica, cuja somatória permite afirmar a adequação das formulações apresentadas.<br />
5 AGRADECIMENTO<br />
À CAPES, pela concessão de bolsa de doutorado, que permitiu a realização<br />
deste trabalho.<br />
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ISSN 1809-5860<br />
PASSARELA PÊNSIL PROTENDIDA FORMADA POR<br />
ELEMENTOS PRÉ-MOLDADOS DE CONCRETO<br />
Luciano Maldonado Ferreira 1 & Roberto Luiz de Arruda Barbato 2<br />
Resumo<br />
Este trabalho aborda um tipo de passarela que está ganhando bastante notoriedade<br />
internacionalmente. Inúmeras obras vêm sendo construídas em diversos países, embora<br />
no Brasil ainda seja pouco conhecida. Basicamente, a estrutura é composta por cabos<br />
livremente suspensos, sobre os quais se apóia o tabuleiro formado por elementos prémoldados<br />
de concreto. A protensão é utilizada como forma de enrijecer o conjunto.<br />
Dentre suas principais características, estão a rapidez e a facilidade de execução, a<br />
estética bastante agradável e o custo competitivo. Pretende-se fornecer uma<br />
conceituação básica, descrever algumas obras já realizadas, estudar o comportamento<br />
estrutural e comentar os aspectos construtivos. Finalizando, é mostrada uma breve<br />
aplicação numérica.<br />
Palavras-chave: passarelas; pontes pênseis; concreto pré-moldado; concreto<br />
protendido.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
A passarela pênsil mais primitiva é certamente aquela em que os próprios cabos<br />
funcionam como tabuleiro (v. figura 1). Apesar de bastante deslocáveis, essas estruturas<br />
foram utilizadas por diversas civilizações durante vários séculos.<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, lmf@sc.usp.br<br />
2 Professor associado, Departamento de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, barbato@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
92<br />
Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />
Figura 1 – Passarela pênsil primitiva. (DETAIL, 1999)<br />
Por volta de 1960, essa concepção estrutural foi aperfeiçoada e divulgada pelo<br />
engenheiro alemão Ulrich Finsterwalder, tornando-se desde então uma nova alternativa<br />
para os projetistas.<br />
Basicamente, a estrutura é composta por cabos livremente suspensos sobre os<br />
quais se apóiam os elementos pré-moldados de concreto que formam o tabuleiro. A<br />
protensão é utilizada como forma de enrijecer o conjunto. Esse sistema estrutural ficou<br />
conhecido internacionalmente como stress-ribbon, sendo ilustrado nas figuras 2 e 3. No<br />
Brasil, PFEIL (1980) chama essas estruturas de “lâminas protendidas”.<br />
Figura 2 – Passarela em Nymburk, República Tcheca. (STRASKY, 1999)<br />
Figura 3 – Passarela em Redding, EUA. (STRASKY, 1999)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />
93<br />
A princípio, o tabuleiro pode ser formado por elementos pré-moldados de<br />
concreto de seção completa ou parcial, ou ainda moldado totalmente no local. No<br />
entanto, é no uso da pré-moldagem que se nota algumas das principais vantagens desse<br />
sistema estrutural. Nesse caso, para a montagem da estrutura, os elementos deslizam um<br />
a um sobre os cabos de sustentação até atingir sua posição de projeto (v. figura 4),<br />
tornando a execução fácil e rápida.<br />
A protensão pode ser introduzida de duas formas. A primeira, mais comumente<br />
usada, é através de cabos adicionais aos de sustentação, ancorados na parte de trás dos<br />
blocos de fundação, de modo que seu único efeito são forças distribuídas verticais<br />
atuando num esquema de arco invertido, desde que os blocos de fundação sejam<br />
considerados indeslocáveis. A segunda forma de protensão produz o mesmo efeito, mas<br />
é conseguido com a colocação de uma sobrecarga (sacos de água, por exemplo) antes da<br />
concretagem das juntas. Após o concreto dessas juntas adquirir resistência suficiente, a<br />
sobrecarga é retirada e a estrutura tende a se deslocar para cima, ocorrendo o efeito de<br />
protensão desejado. A protensão através de sobrecarga já foi usada na cobertura pênsil<br />
do Estádio de Montevidéu, Uruguai. No Brasil, existem pelo menos duas obras que<br />
exibem esse tipo de protensão: a cobertura da Igreja Nossa Senhora das Graças, em<br />
Araraquara, e do ginásio esportivo de Rolândia. Maiores detalhes sobre essas coberturas<br />
podem ser encontrados em BARBATO (1975).<br />
Figura 4 – Elemento pré-moldado deslizando até sua posição. (STRASKY, 1999)<br />
Visando ao conforto dos usuários e ao acesso de deficientes físicos, a inclinação<br />
máxima deve ser pequena e assim os cabos ficam bastante esticados. Como<br />
consequência, surgem elevadas forças horizontais que devem ser ancoradas nos apoios,<br />
condicionando sua viabilidade técnica e econômica a condições favoráveis do subsolo.<br />
Mesmo com o custo relativamente elevado das fundações, a estrutura é<br />
competitiva economicamente, principalmente para grandes vãos e para estruturas de<br />
vãos múltiplos. A estética é bastante agradável, sendo a obra reconhecida como um<br />
marco na arquitetura local.<br />
São inúmeros os exemplos de estruturas construídas em diversos países, tais<br />
como, ex-Tchecoslováquia, Alemanha, Reino Unido, Suíça, Espanha, Uruguai, Estados<br />
Unidos e Japão. Apesar de ser possível a utilização desse sistema estrutural em pontes<br />
rodoviárias, a necessidade de flechas muito pequenas e as elevadas forças horizontais<br />
geradas tornam seu uso menos recomendável.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
94<br />
Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />
2 ALGUMAS APLICAÇÕES DO SISTEMA ESTRUTURAL<br />
Em FINSTERWALDER (1965) é descrita a proposta de uma ponte sobre o Lago<br />
Genebra. A parte central de 305 m do vão principal de 457 m seria pênsil, com apenas<br />
250 mm de espessura de concreto armado e taxa de armadura de 25%. Embora essa<br />
ponte e outras, como a Bosporus Bridge (v. figura 5) na Turquia, a Naruto Bridge no<br />
Japão e a Zoo-bridge na Alemanha, com vãos pênseis de 190 m, 336 m e 166 m<br />
respectivamente, não tenham sido executadas, elas marcam o início desse sistema<br />
estrutural como uma alternativa para os projetistas.<br />
Figura 5 – Esquema da Bosporus Bridge. (WITTFOHT, 1975)<br />
Talvez a primeira estrutura efetivamente construída seja a ponte sobre o rio<br />
Maldonado, no Uruguai (v. figura 6). O comprimento total é de 150 m, sendo que o vão<br />
principal mede cerca de 90 m. O tabuleiro é formado por aduelas de seção caixão com<br />
quatro células de 1,4 m de altura, que repousam sobre os cabos responsáveis pela<br />
sustentação. A largura total é de 9,6 m.<br />
Figura 6 – Ponte sobre o rio Maldonado, Uruguai.<br />
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Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />
95<br />
BUTLER (1977) descreve a primeira passarela desse tipo construída no Reino<br />
Unido. Devido a problemas de instalação dos tirantes no subsolo, foi construída uma<br />
escora de concreto armado com a função de diminuir os esforços a serem absorvidos<br />
pelas fundações (v. figura 7). Nota-se um ligeiro engrossamento da seção transversal na<br />
região próxima aos apoios, proporcionando uma transição suave entre o tabuleiro<br />
flexível e os apoios rígidos.<br />
A utilização de flechas maiores é uma alternativa para reduzir a magnitude das<br />
forças horizontais geradas. No entanto, essa possibilidade esbarra em limites máximos<br />
de declividade impostos pelo tráfego e na altura disponível abaixo da estrutura. Em<br />
passarelas, por exemplo, rampas muito íngremes podem inviabilizar o acesso de<br />
deficientes físicos. Esse inconveniente foi superado por MATSUSHITA & SATO<br />
(1979) através de um tabuleiro superior na Hayahi-No-Mine Bridge (v. figura 8),<br />
localizada na ilha de Kyushu, Japão.<br />
Vista lateral<br />
Furos para<br />
drenagem<br />
Escora<br />
Planta<br />
34 m<br />
Ancoragens<br />
Escora<br />
1,2m x 0,5m<br />
Escora 0,6m x 0,5m<br />
Seção<br />
longitudinal<br />
Figura 7 – Passarela em Derbyshire, Reino Unido. (BUTLER, 1977)<br />
54,48 m<br />
Figura 8 – Hayahi-No-Mine Bridge. (MATSUSHITA & SATO, 1979)<br />
Mais recentemente, ganha destaque as obras projetadas pelo engenheiro Jiri<br />
Strasky. Em STRASKY & PIRNER (1986) e STRASKY (1987), são descritas uma<br />
série de passarelas construídas na ex-Tchecoslováquia, sendo fornecidos inclusive<br />
alguns detalhes construtivos.<br />
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96<br />
Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />
REDFIELD et al (1992) descrevem a passarela sobre o rio Sacramento em<br />
Redding, California (v. figura 3). O vão livre é de 127,41 m e a largura total é de 3,96<br />
m. A flecha varia de 3,35 m (logo após a construção, máxima temperatura e máxima<br />
carga variável) para 2,44 m (tempo infinito e mínima temperatura). O tabuleiro tem uma<br />
espessura constante de 38,1 cm, com exceção dos trechos distantes 5,79 m dos apoios,<br />
que possuem altura variável. A variação de altura próxima aos apoios foi a solução<br />
encontrada para resistir às tensões devido aos elevados momentos fletores que surgem<br />
nessa região devido à protensão, queda de temperatura e retração do concreto.<br />
Duas outras obras que merecem destaque, pois exibem a potencialidade do<br />
sistema estrutural, são a Kikko Bridge (v. figura 9), no Japão e a passarela em<br />
Maidstone (v. figura 10), Reino Unido.<br />
Figura 9 – Kikko Bridge, Japão. (ARAI & OTA, 1997)<br />
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Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />
97<br />
Figura 10 – Passarela em Maidstone, Reino Unido. (STRASKY, 1999)<br />
3 TABULEIRO<br />
STRASKY (1987), ao descrever algumas passarelas construídas na ex-<br />
Tchecoslováquia, afirma que os elementos pré-moldados foram concretados de 6 a 12<br />
meses antes da montagem da estrutura, a fim de reduzir a fluência e a retração do<br />
concreto, cujos efeitos podem ser significativos no comportamento da estrutura. A<br />
tempo infinito, corre-se o risco do tabuleiro ficar tracionado devido às perdas de<br />
protensão. Foram usados nessas obras concretos com resistências da ordem de 40 MPa.<br />
Em STRASKY (1999) são fornecidas algumas formas possíveis para a seção<br />
transversal das passarelas (v. figura 11):<br />
a alternativa a corresponde a um elemento moldado “in situ”, com as fôrmas<br />
suspensas nos próprios cabos. Nesse caso, uma das principais vantagens do sistema<br />
estrutural aqui discutido, a rapidez na execução, é de certa forma perdida;<br />
nas situações b e c são mostradas as seções utilizadas nas primeiras estruturas<br />
construídas por Strasky. Os cabos de sustentação passam sobre os elementos prémoldados<br />
e depois da montagem, o tabuleiro é protendido por um segundo grupo de<br />
cabos. Os cabos de sustentação são protegidos com concreto moldado no local<br />
simultaneamente com a concretagem das juntas entre os elementos. A junta<br />
longitudinal entre os elementos pré-moldados e o concreto moldado no local deve<br />
ser coberta com camada impermeabilizante, já que podem ocorrer fissuras nessa<br />
interface;<br />
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98<br />
Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />
a)<br />
a)<br />
b)<br />
b)<br />
Cabo bearing de cable<br />
sustentação<br />
prestressing cable<br />
Cabo de protensão<br />
c)<br />
c)<br />
d)<br />
d)<br />
erection<br />
Cabo para<br />
cable<br />
montagem<br />
e)<br />
e)<br />
f)<br />
f)<br />
Figura 11 – Seções transversais. (STRASKY, 1999)<br />
os elementos também podem ser montados sobre cabos que serão removidos após a<br />
protensão do tabuleiro, conforme item d;<br />
no item f os elementos são sustentados e protendidos por cabos externos;<br />
em aplicações recentes conduzidas por Strasky, estão sendo usadas seções<br />
compostas (v. item e). Os elementos de concreto pré-moldado são suspensos e<br />
servem de fôrma para o concreto moldado no local. A concretagem é feita<br />
simultaneamente com a moldagem das juntas entre os elementos e a estrutura é<br />
protendida por cabos situados dentro do concreto moldado no local. O tabuleiro<br />
contínuo proporciona ótima proteção para os cabos e requer mínimos trabalhos de<br />
manutenção.<br />
Como já comentado anteriormente, o uso da pré-moldagem é bastante<br />
conveniente, garantindo uma execução em tempo bastante curto. As dimensões dos<br />
elementos variam de acordo com o projeto. O comprimento se situa em torno dos 3 m.<br />
A largura varia basicamente entre 3 m e 4 m. É possível se deixar furos no interior dos<br />
elementos visando a passagem de encanamentos e cabos elétricos de um lado a outro da<br />
estrutura.<br />
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Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />
99<br />
4 PROCEDIMENTO DE EXECUÇÃO<br />
A seguir, será fornecida a sequência de execução das passarelas pênseis<br />
formadas por elementos pré-moldados de concreto, protendidas por cabos adicionais aos<br />
de sustentação. Será abordado os casos de estruturas que possuem pilares<br />
intermediários, ou seja, de vãos múltiplos.<br />
a) Execução das fundações, blocos de ancoragem e pilares intermediários;<br />
b) Selas de aço (onde repousam os cabos) são colocadas nos apoios intermediários e os<br />
pilares são escorados temporariamente (v. figura 12);<br />
Figura 12 – Sela de aço e escora. (STRASKY & PIRNER,1986)<br />
c) Os cabos de sustentação são desenrolados das bobinas, cortados todos com o mesmo<br />
comprimento e dispostos no vão com o auxílio de cabos auxiliares. Em seguida, os<br />
cabos são tracionados de acordo com o projeto;<br />
d) Os segmentos são erguidos com o auxílio de guinchos e presos aos cabos com o<br />
auxílio de dispositivos que se instalam em furos previamente deixados nos<br />
elementos (v. figura 13). Em seguida, os elementos são ligados a cabos auxiliares e<br />
deslizam até sua posição de projeto. Nas juntas são colocados tubos de aço. Esse<br />
processo se repete até que toda a passarela seja montada;<br />
e) A fôrma das selas é segura nos elementos vizinhos, os cabos de protensão são<br />
colocados e a armação da região dos cabos de sustentação e das selas são dispostas.<br />
A seguir, as juntas, a região onde estão alojados os cabos de sustentação e as selas<br />
são concretadas ao mesmo tempo. Assim que possível, o tabuleiro protendido.<br />
f) Os furos onde estão instalados os cabos de protensão são concretados, é montado o<br />
corrimão e executado o pavimento. Em seguida, tem-se início a prova de carga (v.<br />
figura 14).<br />
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100<br />
Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />
Figura 13 – Inserção de dispositivos para fixação do elemento aos cabos.<br />
(STRASKY & PIRNER, 1986)<br />
Figura 14 – Prova de carga. (STRASKY, 1999)<br />
5 COMPORTAMENTO ESTRUTURAL<br />
Devido às características peculiares da estrutura, diversos aspectos devem ser<br />
levados em consideração, principalmente o comportamento não-linear geométrico e as<br />
perdas de protensão.<br />
Durante a montagem, a estrutura é suportada pelos cabos de sustentação. Sua<br />
análise é feita com as equações de equilíbrio de um cabo livremente suspenso. O<br />
esquema da estrutura submetida ao peso próprio dos elementos pré-moldados é<br />
mostrado na figura 15.<br />
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Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />
101<br />
q 0<br />
x<br />
z 0<br />
0<br />
L<br />
f<br />
q 0<br />
H 0<br />
H0<br />
Q 0<br />
ds0<br />
Q + dQ0<br />
0<br />
Figura 15 – Esquema da estrutura após a disposição dos elementos pré-moldados.<br />
onde:<br />
q0<br />
z0 (x) = ⋅ x ⋅ ( L − x)<br />
2 ⋅ H0<br />
(1)<br />
2<br />
q0<br />
⋅ L<br />
H0<br />
=<br />
8⋅<br />
f0<br />
(2)<br />
Após a concretagem das juntas, a rigidez a flexão do tabuleiro deve constar nas<br />
equações de equilíbrio. Dessa forma, a estrutura se comporta como um cabo com<br />
pequena rigidez a flexão. Adicionando-se uma carga distribuída uniformemente q, cujo<br />
acréscimo de força horizontal será h, a estrutura se deforma e a nova geometria é<br />
mostrada na figura 16.<br />
M<br />
H +h<br />
0<br />
Q<br />
ds<br />
Q+dQ<br />
q+q 0<br />
M+dM<br />
H<br />
0+h<br />
w<br />
u<br />
dx<br />
dz0<br />
ds 0<br />
ds<br />
w+dw<br />
u+du<br />
Figura 16 – Configuração deformada da estrutura.<br />
Assumindo que a forma da passarela seja bastante abatida, são feitas as seguintes<br />
considerações, de acordo com DAWE (1971) e DEL ARCO & BENGOECHEA (1994):<br />
(z′ 2<br />
0 )
102<br />
Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />
(q0<br />
+ q) ⋅ L<br />
Q = (q0<br />
+ q) ⋅ x −<br />
(6)<br />
2<br />
Admitindo-se pequenas deformações, material elástico e a hipótese de que a<br />
seção plana permanece plana e perpendicular ao eixo do centro de gravidade após as<br />
deformações, o momento fletor ao longo da estrutura é dado por:<br />
M (x) = −E<br />
⋅ I ⋅ w′<br />
(7)<br />
onde:<br />
E ⋅ I – rigidez a flexão da estrutura.<br />
Substituindo-se (7) em (4), obtém-se:<br />
− ⋅ I ⋅ w′′′<br />
+ (H + h) ⋅ (z′<br />
+ w ′)<br />
+ Q 0<br />
(8)<br />
E 0 0 =<br />
A equação (8) é diferencial ordinária linear de terceira ordem e sua solução é<br />
dada pela soma da solução geral da equação homogênea com uma solução particular da<br />
equação não-homogênea. A solução geral de (8) é então dada pôr:<br />
2<br />
2<br />
γ⋅x<br />
−γ⋅x<br />
(q + q0<br />
) ⋅ x (q + q0<br />
) ⋅ L ⋅ x q0<br />
⋅ L ⋅ x q0<br />
⋅ x<br />
w (x) = c1<br />
⋅ e + c2<br />
⋅ e + c3<br />
−<br />
+<br />
− + +<br />
2 ⋅ (H0<br />
+ h) 2 ⋅ (H0<br />
+ h) 2 ⋅ H0<br />
2 ⋅ H0<br />
(q + q0<br />
) q0<br />
− +<br />
(9)<br />
2 2<br />
(H + h) ⋅ γ H ⋅ γ<br />
0<br />
0<br />
onde:<br />
( H0<br />
+ h)<br />
γ =<br />
(10)<br />
E ⋅ I<br />
Percebe-se que a equação (9) possui três constantes e assim são três as condições<br />
de contorno a serem impostas, dependendo se a estrutura está engastada ou<br />
simplesmente apoiada.<br />
O acréscimo de força horizontal é dado pôr (11), cuja integração entre dois<br />
apoios A e B, com a inclusão de uma variação de temperatura, leva a (12).<br />
h = E ⋅ A ⋅ (u′<br />
+ z′<br />
0 ⋅ w ′)<br />
(11)<br />
E ⋅ A<br />
q0<br />
h = ⋅ (u B − u A + w B ⋅ z′<br />
0B − w A ⋅ z′<br />
0A + ⋅ ∫ w ⋅ dx) − E ⋅ A ⋅ α ⋅ ∆T<br />
(12)<br />
L<br />
H<br />
0<br />
B<br />
A<br />
onde:<br />
E ⋅ A - rigidez axial da estrutura (cabos aderidos + concreto);<br />
u - deslocamento horizontal do apoio da esquerda;<br />
A<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />
103<br />
u B - deslocamento horizontal do apoio da direita;<br />
w A - recalque do apoio da esquerda;<br />
w B - recalque do apoio da direita;<br />
α - coeficiente de dilatação térmica;<br />
∆T<br />
- variação de temperatura.<br />
Para a resolução do problema, a equação dos deslocamentos (9) deve ser<br />
substituída em (12), com as constantes c 1 , c 2 e c 3 já definidas. Nesse momento, a<br />
equação (12) deve ser resolvida iterativamente e como resultado tem-se o valor do<br />
incremento de força horizontal h. Uma vez obtido h, os deslocamentos ao longo da<br />
estrutura são dados pela equação (9) e os momentos fletores pôr (7).<br />
Apesar da protensão dever estar sempre presente e ser introduzida antes mesmo<br />
de qualquer outro carregamento, decidiu-se, por facilidade, inseri-la nas equações<br />
apenas agora.<br />
Conforme já adiantado anteriormente, o efeito da protensão são forças<br />
distribuídas verticais atuando em um esquema de arco invertido (v. figura 17), desde<br />
que os apoios sejam considerados indeslocáveis.<br />
efeito da protensão<br />
Figura 17- Efeito da protensão na estrutura.<br />
Para a introdução da protensão, deve-se lembrar que a curvatura depende das<br />
condições iniciais e dos deslocamentos, ou seja, a curvatura é variável com os<br />
deslocamentos. Dessa forma, a protensão deve ser introduzida nas equações de maneira<br />
não-linear, pois conforme a estrutura vai se deslocando para cima, o efeito da protensão<br />
vai diminuindo. Numa situação hipotética, quando a estrutura se aproximasse da forma<br />
reta, o efeito da protensão tenderia para zero.<br />
A força distribuída vertical devido a protensão é dada pôr:<br />
= −P<br />
⋅ (z′′<br />
+ w′<br />
)<br />
(13)<br />
q prot 0 0 ′<br />
onde:<br />
P - força de protensão.<br />
0<br />
A integração da equação (13) leva a:<br />
= −∫ q dx = P ⋅ (z′<br />
+ w )<br />
(14)<br />
Qprot prot 0 0 ′<br />
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104<br />
Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />
Adicionando-se (14) a (8), tem-se:<br />
− ⋅ I ⋅ w′′′<br />
+ (H + h) ⋅ (z′<br />
+ w ′)<br />
+ Q + P ⋅ (z′<br />
+ w ′)<br />
0<br />
(15)<br />
E 0 0<br />
0 0 =<br />
Finalmente:<br />
− ⋅ I ⋅ w′′′<br />
+ (H + h + P ) ⋅ (z′<br />
+ w ′)<br />
+ Q 0<br />
(16)<br />
E 0 0 0 =<br />
A solução da equação (16) é idêntica à solução de (8), bastando fazer h = h + P0<br />
nas equações (9) e (10).<br />
As perdas de protensão fazem com que a estrutura tenha sua flecha reduzida e<br />
fique menos comprimida. Em princípio, essas perdas são causadas pela fluência e<br />
retração do concreto e pela relaxação do aço. O efeito da retração pode ser diminuído<br />
fazendo com que os elementos pré-moldados sejam produzidos com certo tempo antes<br />
da sua aplicação. A relaxação dos cabos de aço pode ser minimizada com o uso de aços<br />
de baixa relaxação (RB) e com a utilização de baixas tensões em serviço.<br />
O efeito da fluência do concreto pode ser analisado da seguinte maneira: sejam<br />
w 0 (x) , M 0 (x)<br />
e h 0 , respectivamente os deslocamentos, os momentos fletores e o<br />
incremento de força horizontal, após a introdução da protensão e da carga permanente<br />
(tempo t 0 ). Sejam ∆ w(x)<br />
e ∆ h , as variações dos deslocamentos e da força horizontal,<br />
provocados pela fluência. Vale destacar que a força horizontal atua em toda a seção,<br />
inclusive nos cabos de protensão, que nesse momento já estão aderidos ao concreto.<br />
A equação diferencial de equilíbrio no tempo t 0 é:<br />
+ M′<br />
+ (H + h + P ) ⋅ (z′<br />
+ w′<br />
) 0<br />
(17)<br />
Q 0 0 0 0 0 0 =<br />
No tempo t, cujo elemento infinitesimal é mostrado na figura 18, a equação<br />
diferencial é:<br />
+ M′<br />
+ (H + h + P + ∆h)<br />
⋅ (z′<br />
+ w′<br />
+ ∆w ′)<br />
0<br />
(18)<br />
Q f 0 0 0<br />
0 0 =<br />
Subtraindo-se (17) de (18), chega-se a:<br />
∆ ′ + ∆h<br />
⋅ (z′<br />
+ w′<br />
+ ∆w ′)<br />
+ ∆w′<br />
⋅ (H + h + P ) 0<br />
(19)<br />
M 0 0<br />
0 0 0 =<br />
H<br />
0+h 0+<br />
∆h<br />
M f<br />
q 0 +q<br />
M<br />
f+dMf<br />
Q H<br />
0+h 0+<br />
∆h<br />
Q+dQ<br />
Figura 18 – Elemento infinitesimal no tempo t.<br />
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Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />
105<br />
A equação (19) deve ser resolvida com as condições de contorno da passarela,<br />
fazendo uso das equações que relacionam esforços e deslocamentos. Adotando-se o<br />
modelo proposto pelo CEB (1990) e assumindo que o módulo de elasticidade inicial do<br />
concreto no instante de aplicação da carga (Ec ) seja igual ao módulo de elasticidade<br />
0<br />
inicial do concreto aos 28 dias (Ec<br />
) , a variação dos momentos fletores e da força<br />
28<br />
horizontal, são dados por:<br />
∆<br />
φ<br />
= −Ec ⋅ I ⋅ ∆w′′<br />
− M ⋅<br />
(20)<br />
aj<br />
1 + χ ⋅ φ<br />
M 0<br />
φ<br />
∆h<br />
= ∆h<br />
c + ∆h<br />
s = (E ⋅ Ac<br />
+ Es<br />
⋅ As<br />
) ⋅ ( z′<br />
0 ⋅ ∆w′<br />
+ ∆u′<br />
) − h ⋅<br />
(21)<br />
caj<br />
0c<br />
1 + χ ⋅ φ<br />
sendo<br />
Ec0<br />
Ec =<br />
aj 1 + χ ⋅ φ<br />
(22)<br />
E ⋅ A c0 c<br />
h 0 =<br />
c<br />
E ⋅ A + E ⋅ A<br />
⋅ h 0<br />
(23)<br />
c0<br />
c<br />
s<br />
s<br />
onde:<br />
φ - coeficiente de fluência;<br />
χ - coeficiente de envelhecimento;<br />
h - parcela da força normal que atua no concreto;<br />
0 c<br />
Ac<br />
- área de concreto;<br />
A - somatória da área de aço dos cabos de sustentação e de protensão.<br />
s<br />
A resolução da equação (19) é semelhante à resolução da equação (8).<br />
As equações que governam o comportamento da passarela pênsil são as mesmas<br />
obtidas pela análise de pontes pênseis pela deflection theory. O desenvolvimento da<br />
formulação mostrado acima foi baseado em DEL ARCO & BENGOECHEA (1994).<br />
Maiores detalhes podem ser encontrados em DEL ARCO & BENGOECHEA (1994) e<br />
FERREIRA (2001). Em DEL ARCO & BENGOECHEA (1996) as equações envolvidas<br />
no problema são adimensionalizadas, permitindo compreender certos aspectos do<br />
funcionamento da estrutura.<br />
STRASKY (1999) apresenta os diagramas de momentos fletores típicos para<br />
esse tipo de passarela pênsil, mostrados na figura 19. A situação b da figura 19<br />
corresponde à estrutura sem protensão e na situação c a protensão atua. Como a<br />
protensão deve estar sempre presente, o caso b tem caráter apenas conceitual. Como<br />
pode ser observado, momentos fletores elevados só ocorrem na região dos apoios. De<br />
acordo com STRASKY (1999), uma seção transversal típica não tem condições de<br />
suportar esses momentos. Como alternativas para solucionar o problema são<br />
apresentadas duas opções. A primeira maneira é fazer com que o tabuleiro possa se<br />
elevar após a protensão ou quando a temperatura cai (v. figura 20b). A segunda<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
106<br />
Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />
alternativa é incorporar à estrutura pequenos arcos de espessura variável moldados no<br />
local (v. figura 20c). Nesse caso, embora os momentos fletores sejam maiores em<br />
comparação com tabuleiros de espessuras constantes (v. figura 20a), as tensões<br />
resultantes são menores. Esses arcos são projetados como peças parcialmente<br />
protendidas e devem ser suficientemente armados com barras situadas nas suas fibras<br />
inferiores.<br />
Figura 19 – Diagramas esquemáticos de momentos fletores. (STRASKY, 1999)<br />
6 BREVE APLICAÇÃO NUMÉRICA<br />
Nesse item será realizada uma aplicação numérica de uma passarela pênsil<br />
protendida engastada em suas extremidades. Vale ressaltar que o exemplo aqui tratado<br />
não corresponde a nenhuma passarela construída.<br />
6.1 Descrição da estrutura estudada<br />
A passarela a ser analisada possui 40 m de vão, podendo ser vista na figura 21. A<br />
flecha inicial adotada é 1 m, ou seja, vão/40. Com a aplicação da protensão e o<br />
desenvolvimento da fluência, a flecha inicial e as inclinações ao longo da passarela<br />
terão seus valores reduzidos.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />
107<br />
a)<br />
b)<br />
c)<br />
M<br />
2800<br />
tc00<br />
tc0<br />
1400<br />
ta00<br />
700<br />
ta0<br />
tb00<br />
tb0<br />
Figura 20 – Momentos fletores nos apoios devido à retração e à fluência do concreto.<br />
(STRASKY, 1999)<br />
z 0<br />
,w<br />
x<br />
f<br />
0<br />
=1m<br />
L=40m<br />
Figura 21 – Esquema longitudinal da estrutura.<br />
A seção transversal dos elementos pré-moldados deve ter espaço suficiente para<br />
alojar os cabos de sustentação e de protensão. Em se tratando de um prédimensionamento,<br />
adotou-se a seção mostrada na figura 22, sendo:<br />
Área = 0,88 m 2 ; Inércia = 0,0068 m 4<br />
10<br />
CG<br />
13,2<br />
30<br />
120 160<br />
120<br />
400 cm<br />
Figura 22 – Seção transversal para pré-dimensionamento.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
108<br />
Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />
6.2 Materiais a serem empregados<br />
Os materiais empregados possuem as seguintes características:<br />
Aço: CP-190 RB 12,7 Concreto:<br />
A snom = 0,987 cm 2<br />
f ck = 35 MPa<br />
f ptk = 1900 MPa E c = 33130 MPa (Projeto de Revisão da NBR 6118)<br />
f pyk = 1710 MPa<br />
E s = 195000 MPa<br />
onde:<br />
A - área nominal de aço;<br />
Snom<br />
f - limite nominal de resistência à tração;<br />
ptk<br />
f - tensão nominal para alongamento de 1%;<br />
pyk<br />
E S - módulo de elasticidade do aço;<br />
f ck - resistência à compressão do concreto característica;<br />
E - módulo de elasticidade inicial do concreto;<br />
c<br />
6.3 Ações<br />
As ações que irão incidir na estrutura são:<br />
Peso próprio dos elementos pré-moldados:<br />
onde:<br />
γ - peso específico do concreto.<br />
c<br />
q0 = Ac<br />
⋅ γc<br />
= 0,88 ⋅ 25 =<br />
22 kN / m<br />
Peso próprio do corrimão e da pavimentação: q g = 5 kN / m<br />
Ação dos pedestres (carga uniformemente distribuída de intensidade 5 kN / m , não<br />
majorada pelo coeficiente de impacto, de acordo com a NBR 7188):<br />
q = 4 ⋅ 5 = 20 kN / m<br />
2<br />
Variação uniforme de temperatura:<br />
o<br />
∆ T = ± 15 C<br />
Nesse exemplo, não está sendo considerada a ação lateral do vento.<br />
6.4 Determinação das áreas dos cabos de aço<br />
A flecha inicial adotada ( 0 f ) tem influência direta na determinação das áreas dos<br />
cabos de sustentação e protensão. Flechas pequenas aumentam o conforto dos usuários,<br />
mas também aumentam a quantidade de aço consumida.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />
109<br />
Após a colocação de todos os elementos pré-moldados, a carga que age nos<br />
cabos de sustentação é seu peso próprio e o peso próprio dos elementos pré-moldados<br />
( q 0 ). O peso próprio dos cabos tem pequena magnitude em relação a q 0 e será<br />
desprezado. A posterior aplicação da protensão vai reduzir a força de tração nos cabos<br />
de sustentação e comprimir o concreto. Dessa forma, a situação crítica para<br />
dimensionamento dos cabos de sustentação é no instante inicial.<br />
A força H 0 , de valor constante ao longo do vão, é dada por:<br />
2<br />
q L<br />
2<br />
0 ⋅ 22 ⋅ 40<br />
H0 = = = 4400 kN<br />
8 ⋅ f0<br />
8 ⋅1,0<br />
A máxima força de tração ( T máx ) ocorre nos pontos de suspensão, cujo valor é:<br />
2<br />
2<br />
⎛ q0<br />
⋅ L ⎞<br />
⎛ 22 ⋅ 40 ⎞<br />
Tmáx = H0<br />
⋅ 1 +<br />
⎜ = 4400 ⋅ 1 + ⎜ ⎟ = 4421,95 kN<br />
2 H<br />
⎟<br />
⎝ ⋅ 0 ⎠<br />
⎝ 2 ⋅ 4400 ⎠<br />
O cálculo da área dos cabos de sustentação ( A s1) no estado limite último,<br />
fornece:<br />
γ f ⋅ Tmáx<br />
1,4 ⋅ 4421,95<br />
A s1<br />
= =<br />
= 37,47 cm<br />
f ptk 190<br />
γ 1,15<br />
s<br />
2<br />
onde:<br />
γ f - coeficiente de majoração das ações;<br />
γ - coeficiente de minoração da resistência do aço.<br />
s<br />
Em serviço, a fim de diminuir os efeitos da relaxação e fadiga do aço, DEL<br />
ARCO & BENGOECHEA (1996) recomendam limitar a tensão a 0,4<br />
⋅ f . Assim:<br />
ptk<br />
Tmáx<br />
4421,95<br />
A s1<br />
= = = 58,18 cm<br />
0,4 ⋅ f 0,4 ⋅190<br />
ptk<br />
2<br />
Adotam-se para os cabos de sustentação 6 cabos formados por 10 cordoalhas<br />
2<br />
φ12,7mm<br />
- A = 59,22 cm .<br />
s1<br />
Nessa aplicação numérica, a protensão será introduzida por cabos adicionais aos<br />
de sustentação. O mesmo efeito poderia ser conseguido com a utilização de uma<br />
sobrecarga antes da concretagem das juntas. Abaixo, as duas formas possíveis de<br />
protensão são comparadas:<br />
a) Protensão por cabos adicionais aos de sustentação: a medida que os cabos de<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
110<br />
Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />
protensão vão sendo tracionados, a estrutura formada pelo arco invertido de<br />
concreto começa a reagir. Assim, a força de tração a ser resistida pelas fundações é a<br />
força de tração nos cabos, menos a força de compressão proveniente do arco de<br />
concreto;<br />
b) Protensão através de sobrecarga: o arco de concreto começa a reagir somente após a<br />
concretagem das juntas e posterior retirada da sobrecarga. Antes disso, a força<br />
horizontal a ser resistida pelas fundações é simplesmente a soma do peso próprio<br />
dos elementos pré-moldados, mais a sobrecarga, resultando em esforços maiores a<br />
serem ancorados durante a fase de construção.<br />
De acordo com DEL ARCO & BENGOECHEA (1996), a força de protensão<br />
deve ser determinada de maneira que não ocorra tensões de tração no meio do vão sob<br />
nenhuma combinação de ações. A combinação crítica de ações para o aparecimento de<br />
tração é a atuação simultânea de peso próprio, protensão, ação de pedestres e variação<br />
negativa de temperatura, a tempo infinito. Nos cálculos não será admitido tensões de<br />
tração apenas na situação em serviço.<br />
Após algumas tentativas, chega-se à seguinte força de protensão para que não<br />
ocorra tração: P 0 = 13000 kN (após as perdas por escorregamento dos fios na ancoragem<br />
e acomodação da ancoragem; desprezado o atrito desenvolvido entre os cabos e as<br />
bainhas).<br />
A fim de diminuir a relaxação dos aços de protensão, será utilizada uma tensão<br />
de 0,6 f ptk . Assim:<br />
P0<br />
13000<br />
2<br />
A sp = = = 114,04 cm (área dos cabos de protensão)<br />
0,6 ⋅ f 0,6 ⋅190<br />
ptk<br />
Adotam-se para os cabos de protensão 6 cabos formados por 19 cordoalhas<br />
2<br />
φ12,7mm<br />
- A = 112,52 cm .<br />
sp<br />
6.5 Resultados da análise estrutural (logo após construção)<br />
Os resultados obtidos são mostrados na tabela 1 e nas figuras 23 e <strong>24</strong>, onde:<br />
h – incremento de força horizontal;<br />
h c - parcela do incremento de força horizontal que atua apenas na seção de concreto;<br />
M – momentos fletores;<br />
w – deslocamentos.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />
111<br />
Tabela 1 – Resultados da análise estrutural, logo após a construção.<br />
TEMPO t 0<br />
Caso Ações h h c M(0) M(L/2) w(L/2)<br />
(kN) (kN) (kN.m) (kN.m) (m)<br />
1 q 0 +P 0 -11123,52 -10699,71 790,29 -256,85 -0,132<br />
2 q 0 +P 0 +q g -10158,48 -9771,44 742,26 -229,47 -0,120<br />
3 q 0 +P 0 +q g +∆T -10908,82 -10493,19 454,93 -146,18 -0,075<br />
4 q 0 +P 0 +q g -∆T -9335,61 -8979,92 1037,54 -308,10 -0,164<br />
5 q 0 +P 0 +q g +q -6514,83 -6266,61 522,17 -137,03 -0,076<br />
6 q 0 +P 0 +q g +q+∆T -7384,35<br />
-7103,01<br />
222,87 -60,63 -0,033<br />
7 q 0 +P 0 +q g +q-∆T -5572,84 -5360,51 828,37 -209,49 -0,117<br />
0 5 10 15 20 25 30 35 40<br />
-400.0<br />
Momentos Fletores (kN.m)<br />
-200.0<br />
0.0<br />
200.0<br />
400.0<br />
600.0<br />
800.0<br />
1000.0<br />
1200.0<br />
(m)<br />
Caso 1<br />
Caso 2<br />
Caso 3<br />
Caso 4<br />
Caso 5<br />
Caso 6<br />
Caso 7<br />
Figura 23 – Diagrama de momentos fletores.<br />
-0.200<br />
Deslocamento (m)<br />
-0.160<br />
-0.120<br />
-0.080<br />
-0.040<br />
0.000<br />
(m)<br />
0 10 20 30 40<br />
Figura <strong>24</strong> – Deslocamentos ao longo do vão.<br />
Caso 1<br />
Caso 2<br />
Caso 3<br />
Caso 4<br />
Caso 5<br />
Caso 6<br />
Caso 7<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
112<br />
Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />
6.6 Resultados da análise estrutural (a tempo infinito)<br />
A tempo infinito, serão repetidas as mesmas combinações de ações consideradas<br />
no item anterior, a menos do caso 1, que é uma situação transitória (pois logo após a<br />
protensão, assim que possível, é concretado o pavimento e executado o corrimão).<br />
Admitindo-se o coeficiente de fluência igual a 1,7 e o coeficiente de<br />
envelhecimento igual a 0,8, o resultado da análise para o caso 2 é mostrado na tabela 2.<br />
Tabela 2 – Esforços e deslocamentos finais para o caso 2.<br />
Caso 2 t )<br />
∆h = 1119,25 kN h f = -9039,23 kN<br />
∆h c = 2382,57 kN h cf = -7388,87 kN<br />
∆M(0) = 40,74 kN.m M f (0) = 783,00 kN.m<br />
∆M(L/2) = 137,67 kN.m M f (L/2) = -91,80 kN.m<br />
∆w(L/2) = -0,133 m w f (L/2) = -0,253 m<br />
Para avaliar o comportamento da estrutura após as perdas de protensão sob os<br />
demais carregamentos, é preciso fazer uma atualização de geometria, conforme sugerido<br />
por DEL ARCO & BENGOECHEA (1996). Nesse procedimento, o caso 2 torna-se<br />
referência para a continuação dos cálculos. Primeiramente, devem ser definidos novos<br />
valores de q 0 , H 0 , P 0 , da seguinte forma:<br />
q = q +<br />
( ∞<br />
0 0 ant<br />
qg<br />
H 0 = H0 ant<br />
+ P0ant<br />
+ h caso2 + ∆h<br />
caso2 = H0<br />
+ P0<br />
+ h f caso2<br />
P 0 = 0<br />
Assim:<br />
q 0 = 22 + 5 = 27 kN / m<br />
H 0 = 4400 + 13000 −10158,48<br />
+ 1119,25 = 4400 + 13000 − 9039,23 = 8360,77 kN<br />
P 0 = 0<br />
Agora, basta refazer os cálculos com as constantes acima, inserindo-se o<br />
carregamento desejado. Os resultados assim obtidos (tabela 3) devem ser somados com<br />
os valores do caso 2 (tabela 2) para se obter os resultados finais, mostrados na tabela 4.<br />
Devido à existência de momentos fletores, é preciso ressaltar que esse<br />
procedimento é aproximado.<br />
Tabela 3 – Resultado do acréscimo de carregamento.<br />
TEMPO t ∞<br />
Ações h h c M(0) M(L/2) w(L/2)<br />
(kN) (kN) (kN.m) (kN.m) (m)<br />
q 0 +∆T -1386,65 -1<strong>24</strong>3,78 -365,26 114,46 0,060<br />
q 0 -∆T 1587,96 14<strong>24</strong>,34 372,15 -101,52 -0,055<br />
q 0 +q 3993,10 3581,67 -477,34 118,34 0,067<br />
q 0 +q+∆T <strong>24</strong>64,90 2210,93 -848,27 223,15 0,123<br />
q 0 + q-∆T 5699,75 5112,48 -102,04 23,81 0,014<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />
113<br />
Tabela 4 – Resultados finais.<br />
TEMPO t ∞<br />
Caso h f h cf M f (0) M f (L/2) w f (L/2)<br />
(kN) (kN)<br />
(kN.m)<br />
(kN.m) (m)<br />
3 -10425,88 -8632,65 417,74 22,66 -0,193<br />
4 -7451,27 -5964,53 1155,15 -193,32 -0,308<br />
5 -5046,13 -3807,20 305,66 26,54 -0,186<br />
6 -6574,33 -5177,94 -65,27 131,35 -0,130<br />
7 -3339,48 -2276,39 680,96 -67,99 -0,239<br />
6.7 Considerações sobre os resultados da análise estrutural<br />
Conforme esperado, é na região dos apoios que aparecem os maiores esforços e<br />
portanto tal região merece atenção especial no projeto. Em geral, adota-se um ligeiro<br />
engrossamento da seção transversal nessa região. Devido à armação necessária, recorrese<br />
a concreto moldado no local. Dependendo da magnitude dos esforços, é possível<br />
ainda a utilização de elementos pré-moldados especiais, providos de furos por onde são<br />
colocadas barras de aço e que posteriormente são injetados com concreto. Também<br />
pode-se usar elementos pré-moldados de seção parcial, com posterior lançamento de<br />
concreto moldado no local.<br />
Os esforços que ocorrem no restante do vão, extraída a região dos apoios, não<br />
são significativos.<br />
6.8 Elementos pré-moldados<br />
Uma possível forma para os elementos pré-moldados é mostrada na figura 25.<br />
13<br />
10<br />
16 16 16<br />
10<br />
20<br />
30<br />
1515 40 55 15<br />
120 15 55 40 1515<br />
Figura 25 – Dimensões do elemento pré-moldado.<br />
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Apesar de pouco conhecida no Brasil, nota-se um crescente uso das passarelas<br />
pênseis em diversos países. Entre suas principais vantagens estão a estética bastante<br />
agradável, a rapidez e facilidade de montagem. Economicamente, a estrutura é<br />
competitiva, principalmente em duas situações:<br />
a) Uso de longos vãos: as fundações não representam uma parcela tão significativa em<br />
relação ao custo total da obra;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
114<br />
Luciano Maldonado Ferreira & Roberto Luiz de Arruda Barbato<br />
b) Uso de estruturas de vãos múltiplos: considerando-se vãos, flechas e carregamentos<br />
iguais, a força horizontal corresponde apenas à de um vão, ou seja, o número de<br />
vãos pode ser aumentado tanto quanto se queira e a força horizontal continua a<br />
mesma. Conclui-se que o custo por metro quadrado de passarela diminui com o<br />
aumento no número de vãos.<br />
Caso as condições do subsolo sejam inadequadas, ainda é possível associar um<br />
arco de concreto à estrutura. Além de reduzir a flecha e as declividades, a grande<br />
vantagem aqui introduzida é a possibilidade de se utilizar uma escora ligando a<br />
extremidade do tabuleiro às fundações do arco. Dessa forma, a força horizontal nos<br />
cabos é balanceada contra a componente horizontal do arco (v. figura 26). Esta solução<br />
foi adotada na passarela sobre o rio Radbuza em Plzen, República Tcheca (v. figuras 26<br />
e 27).<br />
No que se refere ao comportamento estrutural, as regiões próximas aos apoios<br />
são aquelas que merecem maior atenção por parte do projetista. O uso de selas ou<br />
engastamento nos blocos de fundação são alternativas a se definir caso a caso.<br />
Atualmente, nota-se uma tendência para o uso do engastamento.<br />
33.0<br />
33.0<br />
33.0<br />
V<br />
H<br />
V<br />
H<br />
77.0<br />
Figura 26 - Passarela em Plzen – vista lateral. (STRASKY, 1999)<br />
Figura 27 - Passarela em Plzen – modelo arquitetônico. (STRASKY, 1999)<br />
Outra consideração de projeto é quanto ao grau de compressão que se deve<br />
deixar no meio do vão sob a pior combinação de ações a tempo infinito. Pode-se<br />
utilizar, para essa região, protensão completa ou mesmo protensão limitada. Na região<br />
dos apoios, adota-se protensão parcial, limitando-se a abertura de fissuras.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
Passarela pênsil protendida formada por elementos pré-moldados de concreto<br />
115<br />
Quanto à escolha da flecha, é possível mostrar que uma relação flecha/vão muito<br />
pequena pode se tornar inviável (FERREIRA, 2001). Relações flecha/vão inicial da<br />
ordem 1/40 são valores que conciliam o conforto dos pedestres e eficácia estrutural, haja<br />
visto que com o desenvolvimento da fluência do concreto a estrutura se torna mais<br />
abatida. O uso de relações flecha/vão inferiores a 1/50 implica em uma força de<br />
protensão muito elevada, tornando a estrutura mais onerosa e menos eficiente.<br />
As passarelas pênseis são bastante susceptíveis a ações dinâmicas devido a sua<br />
baixa rigidez a flexão, pequena massa, baixa freqüência natural e baixo amortecimento.<br />
Portanto, o comportamento dinâmico precisa ser verificado ainda em fase de projeto.<br />
De acordo com PIRNER & FISCHER (1998), experimentos recentes mostram<br />
que o comportamento dinâmico das passarelas é favorável. O perigo de vibrações<br />
devido ao vento pode ser evitado com procedimentos adequados de projeto, incluindo<br />
análise teórica e ensaios em túneis de vento. A passarela responde satisfatoriamente a<br />
ação de pedestres, desde que sua rigidez e seu amortecimento estejam dentro de limites<br />
pré-estabelecidos. A ação de vândalos, apesar de poder causar excesso de vibração, não<br />
danifica a estrutura.<br />
As passarelas pênseis são um exemplo nítido da conveniente associação entre<br />
cabos e concreto pré-moldado, tirando proveito das qualidades de ambos os materiais.<br />
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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n.<strong>24</strong>, p.91-116, <strong>2005</strong>
ISSN 1809-5860<br />
A INFLUÊNCIA DAS AÇÕES REPETIDAS NA<br />
ADERÊNCIA AÇO-CONCRETO<br />
Rejane Martins Fernandes 1 & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs 2<br />
Resumo<br />
Uma forma clássica de se analisar o efeito das ações cíclicas tem sido através do estudo da<br />
fadiga. Entretanto, nos últimos anos, tem surgido uma nova abordagem para o problema,<br />
mediante o estudo da degradação da ligação aço-concreto. Este trabalho descreve o<br />
comportamento da aderência sob ações monotônicas e repetidas através da investigação<br />
experimental, utilizando-se o modelo do ensaio de arrancamento (Pull-Out Test)<br />
padronizado pela RILEM-FIP-CEB. Foi analisada a influência de alguns parâmetros na<br />
interface aço-concreto, como diâmetro da armadura nervurada, tipo e amplitude de<br />
carregamento. Os resultados dos ensaios monotônicos foram comparados com as<br />
recomendações do CEB-FIP MC 1990, EUROCODE 2 e NB-1/78. A resistência da ligação<br />
dos modelos submetidos a ações repetidas foi comparada com os valores monotônicos de<br />
referência. Também foi realizada a análise numérica da aderência monotônica por meio de<br />
elementos finitos. Considerou-se a barra lisa, elementos de contato entre o aço e concreto e<br />
comportamento elástico-linear dos materiais; pois a ruína experimental da ligação ocorreu<br />
pelo corte do concreto entre as nervuras. A resistência monotônica experimental da ligação<br />
ficou compreendida entre condições boas e ruins de aderência. Os resultados calculados de<br />
acordo com normas foram muito diferentes em relação aos valores experimentais, e<br />
apresentaram uma dispersão muito grande. Em relação à força repetida, a degradação da<br />
aderência ocorreu pelo crescimento progressivo dos deslizamentos. Os modelos numéricos<br />
não representaram o comportamento experimental, devido à resposta força-deslizamento<br />
não-linear.<br />
Palavras-chave: concreto-armado; aderência; força monotônica; força repetida;<br />
arrancamento; elementos finitos.<br />
1 Aluna do doutorado do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, rejane@sc.usp.br<br />
2 Professora do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, analucia@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
118<br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Atualmente, com o crescente avanço das técnicas de construção e dos conhecimentos<br />
científicos ligados à Engenharia, têm sido projetadas estruturas cada vez mais esbeltas. Para<br />
fazer isso com segurança, é preciso conhecer melhor o comportamento do material, que no<br />
caso do concreto armado, é de grande complexidade. Uma das causas dessa complexidade é<br />
que, mesmo em serviço, as estruturas de concreto armado apresentam não-linearidade física,<br />
ou seja, a seção do elemento estrutural trabalha fissurada.<br />
No caso de ações cíclicas, o problema se torna ainda mais complexo, pois outros<br />
parâmetros estão envolvidos, como a amplitude de força ou deslizamento, velocidade de<br />
carregamento, e essas ações podem tornar a estrutura mais frágil ou incapaz de atender às<br />
condições de utilização para a qual foi destinada.<br />
Além da perda da rigidez associada a uma maior propagação de fissuras, as estruturas<br />
sob carregamento cíclico também estão sujeitas a uma diminuição da aderência entre o aço e<br />
o concreto.<br />
De forma geral, pode-se dizer que as conseqüências da atuação dessas ações na<br />
estrutura são: a ruptura da aderência, associada à fadiga da ligação, a qual é caracterizada por<br />
um maior deslocamento relativo entre a armadura e o concreto; e o aumento das deformações<br />
nos elementos estruturais, devido à diminuição da rigidez e da aderência.<br />
Considerando-se a primeira influência, será apresentada uma análise crítica do<br />
comportamento da aderência sob ação monotônica e repetida através da investigação<br />
experimental, por meio de ensaio de arrancamento padronizado pela RILEM-FIP-CEB<br />
(1973). Alguns pontos característicos serão analisados, como: a forma de ruptura, a<br />
capacidade última da ligação, a influência do nível de solicitação da força repetida e do<br />
deslizamento residual na ruptura da ligação, para dois diâmetros de armadura. Em relação à<br />
força monotônica, será realizada uma comparação dos resultados experimentais com as<br />
normas CEB-FIP MC 1990, EUROCODE 2 e NB-1/78 (NBR 6118).<br />
Uma modelagem numérica do ensaio monotônico foi feita por meio de elementos<br />
finitos no programa Ansys 5.5, procurando-se analisar o comportamento do elemento de<br />
contato colocado entre os dois materiais.<br />
2 ESTADO-DA-ARTE<br />
Pode-se definir aderência como sendo o mecanismo de transferência de tensões que<br />
existe na interface entre a barra de aço da armadura e o concreto que a envolve. Esse<br />
fenômeno é tão importante, que a própria definição de concreto armado se condiciona à sua<br />
existência. A forma usual de consideração dessa ligação tem sido por meio da definição de<br />
uma “tensão de aderência”, e sua distribuição ao longo da interface tem sido exaustivamente<br />
investigada, já que seu conhecimento é essencial para a compreensão do comportamento de<br />
ancoragens retas, dos ganchos e das emendas.<br />
A aderência está associada a uma combinação das parcelas relativas à adesão, ao<br />
atrito e à ancoragem mecânica. Esta divisão, entretanto, é meramente didática, não sendo<br />
possível determinar-se cada componente isoladamente, devido à complexidade dos<br />
fenômenos envolvidos.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />
119<br />
A adesão ou aderência química surge devido às ligações físico-químicas na interface<br />
durante as reações de pega do cimento. Essa parcela, caracterizada por uma resistência de<br />
adesão R b1 como indicada na figura 1, pode ser constatada através da separação de um bloco<br />
concretado sobre uma chapa metálica. Neste caso, verifica-se somente a existência da ligação<br />
por adesão. Geralmente, considera-se que a adesão seja destruída pelas ações de serviço ou<br />
retração do concreto e que as tensões de aderência próximas da ruptura sejam mobilizadas<br />
principalmente pela engrenagem mecânica das nervuras.<br />
Figura 1 - Aderência por adesão<br />
A parcela relativa ao atrito é decorrente da ação das forças de atrito existentes entre os<br />
dois materiais. Estas forças dependem do coeficiente de atrito entre o aço e o concreto, o qual<br />
é função da rugosidade superficial da barra. A aderência por atrito, a qual se manifesta<br />
devido à pressão transversal do concreto sobre a armadura como, por exemplo, a de retração<br />
ou de confinamento, pode ser determinada através de ensaios de arrancamento, que<br />
consistem na aplicação de uma força de tração R b2 na barra, conforme a figura 2. Neste caso,<br />
além da contribuição relativa ao atrito, existe uma parcela de aderência por adesão.<br />
Figura 2 - Aderência por atrito<br />
A componente R b3 relativa à aderência mecânica na figura 3 está associada a forças<br />
concentradas de compressão que surgem perpendiculares às faces das nervuras no momento<br />
em que a barra é tracionada e tende a deslizar. Estas forças provocam a micro-fissuração e o<br />
micro-esmagamento do concreto na região das nervuras. Mesmo em barras lisas, existe o<br />
efeito da aderência mecânica, devido às irregularidades superficiais decorrentes do processo<br />
de laminação.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
120<br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
Figura 3 - Aderência mecânica<br />
A eficiência dessa ligação pode ser convenientemente quantificada através da relação<br />
tensão de aderência versus deslizamento, a qual representa a variação da tensão que surge na<br />
interface do aço com o concreto, relacionada ao deslocamento relativo entre a barra da<br />
armadura e o concreto envolvente. Valores máximos desse deslizamento podem ser usados<br />
para definir a destruição da aderência, geralmente associados a um certo estado de<br />
deformações e fissuração.<br />
Existem dois tipos de rupturas da aderência para corpos-de-prova sob carregamento<br />
monotônico: ruptura por arrancamento direto da barra e fendilhamento do cobrimento do<br />
concreto.<br />
A primeira ocorre quando existe um confinamento suficiente da armadura, permitindo<br />
o corte do concreto entre as nervuras. Esse modo de ruptura está relacionado principalmente<br />
à resistência do concreto e ao tipo e à geometria das nervuras.<br />
Os diferentes modos de ruptura da aderência entre o concreto confinado e não<br />
confinado podem ser ilustrados na figura 4. O confinamento devido às barras de aço diminui<br />
a propagação e a abertura das fissuras, proporcionando o arrancamento da barra.<br />
CONCRETO NÃO CONFINADO<br />
concreto<br />
tensão de<br />
aderência<br />
fissura de<br />
fendilhamento<br />
barra<br />
deslizamento<br />
(a)<br />
CONCRETO CONFINADO<br />
armadura de<br />
confinamento<br />
tensão de<br />
aderência<br />
concreto confinado<br />
concreto não confinado<br />
deslizamento<br />
(b)<br />
Figura 4 - Ruptura da aderência por: (a) fissuração por fendilhamento em concreto não-confinado; (b)<br />
arrancamento em concreto confinado<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />
121<br />
O fendilhamento do cobrimento pode ser definido como o efeito da tração<br />
circunferencial ocasionado pelas componentes radiais das tensões de compressão que<br />
transferem o esforço do aço para o concreto. Esse tipo de ruptura ocorre quando o<br />
confinamento é insuficiente para garantir o arrancamento completo da barra. As tensões<br />
radiais de tração oriundas das tensões diagonais de compressão ocasionam um pressão no<br />
concreto em torno da barra, tornando essa região microfissurada e sujeita ao fendilhamento<br />
paralelo ao eixo da armadura. As fissuras de fendilhamento geradas pelas tensões<br />
circunferenciais de tração tendem a se propagar em direção às bordas, resultando na perda do<br />
cobrimento e da aderência. O número de barras e sua configuração ao longo do elemento são<br />
os principais fatores que influenciam a orientação dessas fissuras.<br />
No caso de ação cíclica, o modo de ruptura devido ao carregamento com um número<br />
de ciclos relativamente pequeno (low-cycle) é muito semelhante ao do carregamento<br />
monotônico. Já para o caso de carregamento com um número de ciclos elevado (high-cycle),<br />
pode ocorrer ruína similar; entretanto, deve-se considerar também a possibilidade de ruptura<br />
por fadiga do aço e do concreto.<br />
O comportamento da aderência é fortemente afetado pelas forças às quais a peça está<br />
submetida.<br />
Existem dois tipos de carregamento nas estruturas: o estático, que atua<br />
permanentemente na estrutura, e o dinâmico, onde o seu tempo de atuação na estrutura varia.<br />
Em relação ao carregamento estático, existe o de longa duração, e o de curta duração ou<br />
monotônico, caracterizado por um parâmetro crescente, como deslocamento ou força. Dentro<br />
dos vários tipos de ações dinâmicas, estão situadas as ações cíclicas, caracterizadas por uma<br />
determinada amplitude de deslizamento ou tensão. As principais diferenças entre as ações<br />
cíclicas e monotônicas sob o ponto de vista da aderência são que nas cíclicas a adesão é<br />
perdida após o primeiro ciclo e a componente de atrito decresce com os ciclos.<br />
As ações cíclicas podem ser classificadas de acordo com o número de ciclos e com<br />
tipo de tensão aplicada.<br />
Na primeira classificação, os elementos estruturais podem estar submetidos a um<br />
número relativamente baixo de ciclos (low-cycle) com carregamento elevado ao nível do<br />
estado limite último, característico, por exemplo de terremotos ou vento, ou a um grande<br />
número de ciclos (high-cycle), sob nível de carregamento de serviço e cuja ação resulta na<br />
fadiga da estrutura. Para esta última categoria, podemos citar o exemplo das pontes,<br />
estruturas offshore e estruturas que sustentam máquinas.<br />
De acordo com o tipo de tensão aplicada, o carregamento cíclico pode ser repetido ou<br />
unidirecional (caso típico de carregamento de fadiga), ou alternado (característico de sismos).<br />
Uma das principais características do carregamento cíclico é a deterioração<br />
progressiva da aderência que pode ser observada como um incremento no deslizamento.<br />
Devido a este processo de dano na ligação aço-concreto, a estrutura pode atingir a ruptura<br />
com níveis de tensão mais baixos que a tensão última monotônica.<br />
3 INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL DA ADERÊNCIA<br />
A investigação experimental do comportamento da aderência foi feita por ensaios de<br />
arrancamento padronizados pela RILEM-FIP-CEB (1973) com adaptação do modelo cúbico<br />
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122<br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
Carregamento Repetido<br />
Número do carregamento<br />
Série<br />
padrão para um modelo cilíndrico, o qual apresenta um melhor comportamento.<br />
A influência de alguns parâmetros no comportamento da ligação foi analisada através<br />
dos ensaios, como: Diâmetro da armadura (φ = 10.0 mm e φ = 20.0 mm); tipo de<br />
carregamento (monotônico e repetido); amplitude do carregamento repetido (τ máx ).<br />
Os modelos estudados foram denominados de PT (Pull-Out Test) acompanhados por<br />
dois números, a letra M (monotônico) ou R (repetido), os quais indicam a série, o número e o<br />
tipo do carregamento, respectivamente, como o exemplo:<br />
PT10-1R<br />
A primeira série (número 10) constituiu ensaios para armadura de 10 mm e a segunda<br />
(número 20) para armadura de 20 mm. O número do carregamento pode ser 1 a 4 no caso de<br />
força repetida, conforme a tabela 1. Alguns modelos das séries foram ensaiados em duas<br />
amostras (a e b), de forma a se obter uma média dos resultados.<br />
Para a moldagem dos protótipos, utilizou-se barra nervurada tipo CA-50A e concreto<br />
de resistência média de 30 MPa aos 28 dias para o corpo-de-prova cilíndrico 10 cm x 20 cm.<br />
Nas tabelas 1 e 2, são apresentadas as características dos modelos e dos materiais utilizados<br />
no concreto, respectivamente. O consumo dos materiais utilizados na confecção do concreto<br />
com o respectivo traço em massa é apresentado na tabela 3.<br />
Tabela 1 - Características gerais dos modelos<br />
Modelo<br />
φ<br />
(mm)<br />
Número do<br />
carregament<br />
o<br />
Tipo de<br />
carregament<br />
o<br />
Número<br />
de ciclos<br />
Amplitude de<br />
carregamento<br />
PT10-Ma 10 ⎯ Monotônico ⎯ ⎯<br />
PT10-Mb 10 ⎯ Monotônico ⎯ ⎯<br />
PT10-1Ra 10 1 Repetido 30 60%τ bu<br />
PT10-1Rb 10 1 Repetido 30 60%τ bu<br />
PT10-2Ra 10 2 Repetido 30 80%τ bu<br />
PT10-2Rb 10 2 Repetido 30 80%τ bu<br />
PT20-Ma 20 ⎯ Monotônico ⎯ ⎯<br />
PT20-Mb 20 ⎯ Monotônico ⎯ ⎯<br />
PT20-1R 20 1 Repetido 30 60%τ bu<br />
PT20-2R 20 2 Repetido 30 80%τ bu<br />
PT20-3R 20 3 Repetido 130 80%τ bu<br />
PT20-4R 20 4 Repetido 50 90%τ bu<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />
123<br />
Tabela 2 - Características dos materiais<br />
utilizados no concreto<br />
Material<br />
Areia fina<br />
Brita<br />
Cimento<br />
Características<br />
Módulo de finura: M.F. = 2,14<br />
Massa unitária: 1,497 g/cm 3<br />
Massa específica: 2,584 g/cm 3<br />
Módulo de finura: M.F. = 7,54<br />
Massa unitária: 1,388 g/cm 3<br />
Massa específica: 2,963 g/cm 3<br />
CPII F-32 ITAÚ<br />
Massa específica: 3,1 g/cm 3<br />
Tabela 3 - Consumo dos materiais<br />
utilizados na confecção do concreto<br />
Material<br />
Cimento CP II F-32<br />
Areia<br />
Brita<br />
Água<br />
Consumo por<br />
m 3 de concreto<br />
392 kg<br />
902 kg<br />
862 kg<br />
227 kg<br />
Traço em massa: 1:2,3:2,2:0,58<br />
O detalhe da fôrma do modelo cilíndrico adaptado do ensaio padrão de arrancamento<br />
segundo a RILEM-FIP-CEB (1973) pode ser visualizado na figura 5. Para evitar a influência<br />
das tensões de compressão ocasionadas pela placa de apoio, foi colocada uma mangueira de<br />
plástico no trecho não aderente e retirada durante a desfôrma do modelo. O sarrafo fixado no<br />
gabarito teve a finalidade de servir como um balizador da barra de aço.<br />
Tubo de PVC<br />
Gabarito de madeira<br />
com furo central<br />
Sarrafo de madeira<br />
com furo central<br />
A<br />
A<br />
H = 10φ<br />
5 cm<br />
5 φ 5φ<br />
Sarrafo de madeira<br />
com furo central<br />
Tubo de PVC<br />
Armadura<br />
Mangueira de plástico<br />
Forro de madeira<br />
com furo central<br />
D armadura ( = φ )<br />
VISTA DE TOPO<br />
Forro de madeira<br />
D mangueira com furo central<br />
Tubo de PVC<br />
D = 10φ<br />
CORTE A-A<br />
D interno do tubo<br />
VISTA DA BASE<br />
Figura 5 - Detalhe da fôrma dos modelos<br />
Os ensaios de arrancamento foram executados na máquina universal INSTRON,<br />
ilustrada na figura 6, com controle de deslocamento, permitindo assim analisar o ramo<br />
descendente após o modelo atingir a ruptura da ligação.<br />
O dispositivo de ensaio constituía de uma placa apoiando o concreto com um furo<br />
central onde a barra é inserida, sendo esta presa à garra da máquina INSTRON. A placa de<br />
apoio é presa por quatro hastes, as quais são rosqueadas na máquina. A aplicação da força de<br />
tração foi feita através do movimento da placa e das hastes juntamente com o pistão. A<br />
instrumentação utilizada nos ensaios foi um transdutor de deslocamento no topo da barra (a 5<br />
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1<strong>24</strong><br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
cm da extremidade do bloco) com a base no concreto. A figura 7 ilustra o dispositivo de<br />
ensaio e a instrumentação utilizada.<br />
Figura 7 - Detalhe do dispositivo e da instrumentação<br />
do ensaio<br />
Figura 6 - Máquina INSTRON<br />
Antes da realização dos ensaios, foi feita a aplicação de uma força de<br />
aproximadamente 10% da força última, com o objetivo de verificar o funcionamento dos<br />
instrumentos. Os ensaios da série 10 foram realizados com velocidade de deslocamento do<br />
pistão de 0,01 mm/s e os da série 20 com 0,02 mm/s, registrando-se os valores medidos<br />
discretamente em pequenos intervalos de tempo.<br />
Existem duas formas de execução do ensaio de arrancamento sob ação repetida: em<br />
uma, aplica-se a amplitude de força até o arrancamento total da barra; na outra, aplica-se um<br />
determinado número de ciclos e a partir daí, leva-se a armadura à ruptura monotônica. Como<br />
um dos objetivos desse trabalho é avaliar a redução da tensão última de aderência e devido ao<br />
tempo de ensaio relativamente grande para o arrancamento total da barra, optou-se pela<br />
segunda opção.<br />
4 ANÁLISE NUMÉRICA DA ADERÊNCIA<br />
Os problemas de contato envolvem não-linearidade física e geométrica, apresentando,<br />
portanto, algumas dificuldades para a sua resolução. Dependendo do carregamento, material,<br />
condições de contorno e outros fatores, determinadas regiões do modelo podem entrar ou sair<br />
do contato bruscamente. Além disso, a maioria desses problemas precisa considerar o atrito,<br />
o qual é calculado de acordo com algumas regras e modelos, todos não-lineares.<br />
A análise teórica da aderência monotônica foi realizada por meio de elementos finitos<br />
no programa Ansys 5.5. Para a escolha dos elementos de contato a serem utilizados, avaliouse<br />
a forma de ruptura da aderência. De acordo com os resultados experimentais, a destruição<br />
da ligação aço-concreto não ocorre no contato entre os dois materiais, mas sim pela ruptura<br />
do concreto ao cisalhamento entre as nervuras, como indica a figura 8. Portanto, na<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />
125<br />
simulação numérica, considerou-se barra lisa, comportamento elástico-linear dos dois<br />
materiais e elementos de contato na superfície de interface.<br />
Os elementos de contato superfície-superfície utilizados adotam o modelo de atrito de<br />
Coulomb, visualizado na figura 9, onde duas superfícies inicialmente em contato irão deslizar<br />
uma em relação à outra a partir do momento em que uma certa tensão cisalhante for atingida.<br />
A tensão cisalhante equivalente τ é definida como uma parcela da pressão de contato p, onde<br />
a constante de relação entre esses dois fatores é o coeficiente de atrito µ.<br />
Foram realizados dois tipos de modelagens: uma bidimensional no estado plano de<br />
tensões (PT10-2D), e outra tridimensional (PT10-3D). O modelo analisado foi o da série 10.<br />
τ<br />
Ruptura ao cisalhamento do<br />
concreto entre as nervuras<br />
Deslizamento entre<br />
superfícies<br />
τ máx<br />
µ<br />
F<br />
ar<br />
Superfícies<br />
em contato<br />
Figura 8 – Ruptura ao cisalhamento do concreto<br />
entre as nervuras<br />
Figura 9 - Modelo de atrito para o contato<br />
superfície-superfície<br />
p<br />
Os resultados obtidos na investigação experimental foram utilizados como parâmetros<br />
de avaliação e calibragem do modelo numérico.<br />
Os parâmetros do material utilizados relativos à série 10, são listados a seguir:<br />
• Concreto: • Aço: • Contato:<br />
E cm = 25678 MPa; E sm = 207167 MPa;<br />
µ = 0,4<br />
ν c = 0,2;<br />
ν s = 0,3;<br />
No modelo numérico, aplicou-se a força última experimental média (F u ) da série 10<br />
de 19,46 kN uniformemente distribuída na base dos elementos de concreto em 20<br />
incrementos de carregamento.<br />
Para a calibragem dos resultados experimentais, foi necessário ajustar a constante real<br />
FKN, a qual define a rigidez de contato, de modo que o deslizamento último (s u ) fosse 1,25<br />
mm. A constante real TAUMAX foi considerada igual ao valor da resistência de aderência<br />
convencional τ 1R = 4,23 MPa.<br />
Na figura 10, são ilustradas a discretização e as condições de contorno adotadas para<br />
o modelo PT10-2D, onde a armadura permanece fixa em uma extremidade representando a<br />
garra da máquina, e a força é aplicada uniformemente distribuída na base do concreto,<br />
representando a placa de apoio que a empurra no ensaio. Para esse modelo, foram colocadas<br />
restrições horizontais nos nós laterais do concreto, com o objetivo de evitar a rotação do<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
126<br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
concreto. Foram utilizados os seguintes elementos em PT10-2D: PLANE42 2-D Structural<br />
Solid, para o aço e o concreto; CONTA171 2-D Surface-to-Surface Contact Element para a<br />
área de contato do concreto; e TARGE169 3-D Target Segment para a área de contato do aço.<br />
Para a construção do modelo PT10-3D, procurou-se adotar uma discretização que não<br />
interferisse na convergência e não tivesse um custo computacional muito grande. As<br />
condições de contorno foram semelhantes à da modelagem bidimensional. A figura 11 ilustra<br />
o modelo PT10-3D, para o qual foram utilizados quatros tipos de elementos finitos:<br />
SOLID65 3-D Reinforced Concrete Solid para representar o concreto; SOLID45 3-D<br />
Structural Solid para representar a barra de aço; CONTA173 3-D Surface-to-Surface Contact<br />
Element para representar a área de contato do concreto; TARGE170 3-D Target Segment<br />
para representar a área de contato do aço.<br />
Vista de topo<br />
Figura 10 – Modelo PT10-2D<br />
Vista frontal<br />
Figura 11 – Modelo PT10-3D<br />
5 RESULTADOS EXPERIMENTAIS<br />
5.1 Ruptura dos modelos<br />
Todos os modelos ensaiados apresentaram ruptura por arrancamento da barra, com<br />
degradação do concreto entre as nervuras, conforme indica a figura 12. Como já foi<br />
mencionado anteriormente, este tipo de ruptura está relacionado com o confinamento da<br />
barra ocasionado pelo concreto, evitando assim, o fendilhamento do cobrimento. Na figura<br />
13, pode ser visualizado o corte de um dos modelos, ilustrando o orifício perfeito causado<br />
pelo arrancamento da barra. Pode ser observado que não ocorreu nenhuma fissura de<br />
fendilhamento, comprovando que todos os modelos estavam sob a ação do confinamento do<br />
concreto.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />
127<br />
Figura 12 - Ruptura por<br />
arrancamento de um modelo<br />
Figura 13 - Corte de um modelo<br />
5.2 Caracterização do concreto e do aço<br />
Para avaliação dos resultados, foi necessário antes se fazer a caracterização do<br />
concreto e do aço, cujas informações constam nas tabelas 4 e 5, respectivamente.<br />
Tabela 4 - Caracterização do concreto<br />
Modelos slump (cm) f c (MPa) f cm (MPa) f t (MPa) f tm (MPa) E c<br />
(MPa)<br />
Série 10 15,7 30,52 27,47 2,51 2,13 25678<br />
Série 20 19,5 31,10 27,99 3,21 2,73 30447<br />
Diâmetro<br />
Tabela 5 - Caracterização do aço<br />
E s<br />
(MPa)<br />
f y (MPa)<br />
σ t (MPa)<br />
φ = 10 mm 207167 696 852<br />
φ = 20 mm 206533 621 727<br />
O comportamento tensão-deformação do concreto e do aço é ilustrado nas figuras 14<br />
e 15, respectivamente. O diagrama relativo ao aço é aproximado, considerando-se o patamar<br />
de escoamento horizontal, apesar de no ensaio, este ter apresentado uma inclinação<br />
desprezível.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
128<br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
-35<br />
-30<br />
-25<br />
Tensão (MPa)<br />
-20<br />
-15<br />
Ec = 30447 MPa<br />
Ec = 25678 MPa<br />
Série 10<br />
Série 20<br />
-10<br />
-5<br />
0<br />
0<br />
-0,0005<br />
-0,001<br />
-0,0015<br />
-0,002<br />
Deformação<br />
Figura 14 - Diagrama tensão-deformação do concreto<br />
-0,0025<br />
800<br />
700<br />
Es =207167 ; fy = 696 MPa<br />
Tensão (MPa)<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
Es =206533 ; fy = 621 MPa<br />
Barra - 10 mm<br />
Barra - 20 mm<br />
200<br />
100<br />
0<br />
0 0,002 0,004 0,006 0,008 0,01 0,012<br />
Deformação<br />
Figura 15 - Diagrama tensão-deformação do aço<br />
A tensão de aderência foi calculada como um valor médio, considerando-se a<br />
distribuição uniforme da força aplicada ao longo da área de contato aço-concreto, a qual é<br />
função do diâmetro nominal da armadura e do comprimento do trecho aderente.<br />
O comportamento da ligação dos modelos monotônicos das séries 10 e 20, ilustrado<br />
na figuras 16 e 17, respectivamente, constitui de três fases:<br />
• 0 ≤ s ≤ 0,1mm<br />
: aderência inicial devido à adesão, até a ruptura convencional da ligação<br />
(τ 1R ), correspondente ao deslizamento de 0,1 mm. Neste trecho elástico linear, as<br />
deformações dos dois materiais são admitidas iguais e não há formação de fissuras;<br />
• 0,1mm<br />
≤ s ≤ su<br />
: mobilização da aderência por atrito e a mecânica, até atingir a ruptura<br />
efetiva da ligação (τ bu ). As fissuras “cisalhantes” formadas pelo esmagamento do concreto<br />
próximo às nervuras se propagam ao longo de um comprimento considerável ocasionando o<br />
corte parcial do concreto entre as nervuras.<br />
• su<br />
≤ s ≤ s<br />
lim<br />
: processo desencadeado pelo atrito concreto-concreto e travamento entre o<br />
concreto e as nervuras, que só foi possível devido às condições de ensaio de deslocamento<br />
controlado. Nesta fase, ocorre um decréscimo brusco da curva, a qual finaliza no<br />
deslizamento limite medido pelo transdutor de deslocamento (s lim ), caracterizando o<br />
arrancamento total da barra. A tensão residual, quando a curva se torna praticamente<br />
horizontal, não foi possível de ser capturada, devido ao término da medição do transdutor de<br />
deslocamento.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />
129<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
16<br />
15<br />
14<br />
13<br />
12<br />
11<br />
10<br />
9<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
τbu = 13,07 MPa<br />
su = 1,27 mm<br />
τbu = 11,71 MPa<br />
su = 1,22 mm<br />
τ1R = 3,50 MPa<br />
τ1R = 4,96 MPa<br />
τ1R = 4,23 MPa<br />
Modelos PT10-Ma e PT10-Mb<br />
τbu = 12,39 MPa<br />
su = 1,25 mm<br />
PT10-Ma<br />
PT10-Mb<br />
Média experimental<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
Deslizamento (mm)<br />
Figura 16 - Curva monotônica tensão de aderência-deslizamento dos modelos PT10-Ma e PT10-Mb<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
14<br />
13<br />
12<br />
11<br />
10<br />
9<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
τbu = 10,47 MPa<br />
su = 1,39 mm<br />
τbu = 8,94 MPa<br />
su = 1,32 mm<br />
τ1R = 2,73 MPa<br />
τ1R = 3,12 MPa<br />
τ1R = 2,93 MPa<br />
Modelos PT20-Ma e PT20-Mb<br />
τbu = 9,70 MPa<br />
su = 1,36 mm<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
Deslizamento (mm)<br />
PT20-Ma<br />
PT20-Mb<br />
Média experimental<br />
Figura 17 - Curva monotônica tensão de aderência-deslizamento dos modelos PT20-Ma e PT20-Mb<br />
Essas três fases do processo da aderência podem ser melhor visualizadas na figura 18.<br />
τ<br />
τ bu<br />
τ 1R<br />
τr<br />
O<br />
0,1mm s u s lim<br />
s<br />
1ª fase 2ª fase 3ª fase<br />
Figura 18 - Digrama representativo das fases do comportamento da aderência dos ensaios<br />
monotônicos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
130<br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
Observando-se as duas curvas médias da figura 19, os modelos da série 10<br />
apresentaram um melhor comportamento de aderência que os modelos da série 20, tanto em<br />
relação à resistência convencional da ligação (τ 1R ) como em relação à tensão última de<br />
aderência (τ bu ), apesar da força de arrancamento ter sido menor. Já em relação ao ramo<br />
descendente da curva, os modelos da série 20 tiveram um comportamento melhor através da<br />
inclinação menor da curva, sendo, portanto, mais dúcteis.<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
Série 10 e 20<br />
14<br />
13<br />
τbu = 12,39 MPa<br />
12<br />
su = 1,25 mm<br />
11<br />
10<br />
Série 10<br />
9<br />
τbu = 9,70 MPa<br />
Série 20<br />
8 su = 1,36 mm<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
τ1R = 4,23 MPa<br />
3<br />
τ1R = 2,93 MPa<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
Deslizamento (mm)<br />
Figura 19 - Curva média dos modelos da série 10 e 20<br />
5.3 Comparação do comportamento experimental da aderência monotônica com as<br />
recomendações das normas<br />
Diante da falta de uma relação tensão de aderência versus deslizamento, com exceção<br />
do CEB-FIP MC 1990, foi calculada para as outras normas apenas a resistência de aderência<br />
equivalente ao deslizamento de 0,1 mm. Os valores foram calculados para condições de<br />
aderência boas (situação 1) e ruins (situação 2).<br />
A resistência convencional de ligação (τ 1R ), a resistência de aderência efetiva (τ bu )<br />
com seu respectivo deslizamento (s u ), relativas aos ensaios e aos valores das normas para as<br />
situações 1 e 2 são mostrados na figura 20. Nas figuras 21 e 22, é apresentada a comparação<br />
do comportamento global do ensaio com a curva do CEB-FIP MC90.<br />
Da figura 20, podem ser observados os seguintes fatos:<br />
• Em relação à resistência de aderência convencional (τ 1R ):<br />
Na série 10, a NB-1/78 se mostrou a favor da segurança, nas situações 1 e 2. Já o<br />
CEB-FIP MC90 e o EUROCODE 2 ficaram contra a segurança na situação 1 e a favor da<br />
segurança na situação 2.<br />
Já para a série 20, apenas o CEB-FIP MC90 e a NB-1/78 se apresentaram a favor da<br />
segurança na situação 2.<br />
• Em relação à resistência de aderência efetiva (τ bu ):<br />
O CEB-FIP MC90, na série 10, apresentou uma tensão última de aderência bastante<br />
próxima do valor experimental na situação 1, com uma diferença de 5,73% contra a<br />
segurança. Já na situação 2, o CEB-FIP MC90 se mostrou bastante conservador em relação<br />
ao resultado experimental, com uma diferença de 43,17%.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />
131<br />
Na série 20, as diferenças entre o CEB-FIP MC90 nas situações 1 e 2 e os valores<br />
experimentais foram bem parecidas, sendo um resultado a favor da segurança e outro contra.<br />
• Em relação ao deslizamento último (s u ):<br />
Como já foi comprovado em resultados experimentais anteriores, o deslizamento<br />
último é maior que 1 mm, proposto pelo CEB-FIP MC90. Entretanto, como a ordem de<br />
grandeza desse deslocamento relativo é muito pequena, não se pode afirmar que o ensaio teve<br />
um comportamento mais dúctil que o do CEB-FIP MC90.<br />
Valores de τ1R - Série 10<br />
Valores de τ1R - Série 20<br />
6<br />
7<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
5,22<br />
4,79<br />
4,23 4,23<br />
3,82<br />
Experimental<br />
CEB-FIP MC90<br />
EUROCODE 2<br />
NB-1/78<br />
3,35<br />
2,61 2,55<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
6,14<br />
5,27<br />
3,87<br />
2,93 2,93<br />
Experimental<br />
CEB-FIP MC90<br />
EUROCODE 2<br />
NB-1/78<br />
4,30<br />
2,63 2,58<br />
1<br />
1<br />
0<br />
Situação 1 Situação 2<br />
(a)<br />
0<br />
Situação 1 Situação 2<br />
(b)<br />
Valores de τbu<br />
Valores de su<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
16<br />
14<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
12,39<br />
Experimental<br />
13,1<br />
CEB-FIP MC90 (sit. 1) 13,23<br />
CEB-FIP MC90 (sit. 2)<br />
9,7<br />
6,55 6,61<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
1,6<br />
1,4<br />
1,2<br />
1<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
1,25<br />
Experimental<br />
1,36<br />
CEB-FIP MC90<br />
1 1<br />
2<br />
0,2<br />
0<br />
Série 10 Série 20<br />
(c)<br />
0<br />
Série 10 Série 20<br />
(d)<br />
Figura 20 – Comparação dos valores de τ 1R , τ bu e s u experimentais com os propostos pelas normas<br />
Do comportamento global na figura 21, pode-se observar, na série 10, que a curva<br />
ascendente média experimental está bem próxima da proposta do CEB-FIP MC90 na situação<br />
1; entretanto, o trecho pós-ruptura da aderência das duas curvas estão bastante distantes,<br />
devido à presença de um patamar de escoamento, inclinação da segunda parte e tensão<br />
residual maiores na curva do CEB-FIP MC90. O diagrama experimental ficou bastante acima<br />
ao do CEB-FIP MC90 na situação 2. Na série 20 ilustrada na figura 22, a curva experimental<br />
está praticamente eqüidistante dos diagramas do CEB-FIP MC90 nas situações 1 e 2.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
132<br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
Tensão de aderência (Mpa) .<br />
16<br />
15<br />
14<br />
13<br />
12<br />
11<br />
10<br />
Modelos PT10-Ma e PT10-Mb com o CEB-FIP MC90<br />
9<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
Série 10<br />
CEB-FIP MC90 (sit. 1)<br />
CEB-FIP MC90 (sit. 2)<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
Deslizamento (mm)<br />
Figura 21 - Comparação da série 10 com o CEB-FIP MC90<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
Modelos PT20-Ma e PT20-Mb com o CEB-FIP MC90<br />
14<br />
13<br />
Série 20<br />
12<br />
CEB-FIP MC90 (sit. 1)<br />
11<br />
CEB-FIP MC90 (sit. 2)<br />
10<br />
9<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
Deslizamento (mm)<br />
Figura 22 - Comparação da série 20 com o CEB-FIP MC90<br />
5.4 Comportamento da aderência sob carregamento repetido<br />
O comportamento da aderência dos modelos PT10-2Ra e PT10-3R é apresentado nas<br />
figuras 23 e <strong>24</strong>. Alguns aspectos característicos foram observados durante a aplicação da<br />
ação repetida.<br />
Uma diferença crucial entre a aderência monotônica e cíclica é que a adesão (τ 1R ) é<br />
perdida logo no primeiro ciclo. Esse fato é comprovado nas figura 23(a) a <strong>24</strong>(a), onde a<br />
tensão máxima no meio ciclo inicial é superior à resistência de aderência equivalente ao<br />
deslizamento de 0,1 mm. Isso só ocorre devido aos valores relativamente altos das tensões<br />
cíclicas que geralmente atuam na estrutura. Para solicitações muito baixas, portanto, o<br />
concreto permanece perfeitamente ligado à barra.<br />
A fadiga da aderência pode ser dividida em três fases: a velocidade de deslizamento<br />
cresce mais rapidamente nos primeiros ciclos; depois, torna-se constante, com a tendência de<br />
estabilização do deslizamento em um valor final; após ser atingido o deslizamento<br />
monotônico último, com alguns ciclos adicionais, a velocidade torna-se crescente novamente,<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />
133<br />
induzindo à ruptura por arrancamento da barra. Essa última fase, não pôde ser observada nos<br />
modelos, devido ao tempo de ensaio relativamente grande. As duas primeiras fases podem<br />
ser vistas nas figuras 23(a e b) e <strong>24</strong>(a e b), onde nas últimas, ilustra-se a redução da tangente<br />
à curva nos primeiros ciclos e depois tornando-se constante. A primeira fase nos ensaios<br />
termina em aproximadamente 10 ciclos, onde a velocidade do deslizamento é muito grande; a<br />
partir daí, o acréscimo diminui, tornando-se constante depois. Após o deslizamento<br />
monotônico último s u , como foi observado no modelo PT20-3R, a velocidade ainda<br />
permanece constante com o decorrer de um número de ciclos razoável sem atingir a ruptura.<br />
Portanto, s u pode ser considerado como um critério seguro para análise da ruptura por fadiga<br />
da aderência.<br />
Uma vez atingido um determinado deslizamento, este torna-se quase que totalmente<br />
residual; ou seja, a rigidez ou a inclinação da tangente à curva é muito elevada. Pelas figuras<br />
23(d) e <strong>24</strong>(d) que indicam a oscilação do deslizamento a cada meio ciclo, fica comprovada a<br />
recuperação insignificante do deslizamento na tensão máxima quando do descarregamento.<br />
No momento do recarregamento, o comportamento da aderência assume a mesma rigidez do<br />
descarregamento anterior até um nível de tensão um pouco abaixo da máxima (τ d-r ); a partir<br />
daí, a rigidez começa a diminuir com o aumento do deslizamento até o topo. Quando a<br />
estrutura é descarregada, a rigidez cresce até a tensão (τ d-r ), depois tornando-se constante e<br />
igual ao do ciclo anterior.<br />
Na tabela 6, são apresentados todos os resultados dos modelos, para efeitos de<br />
comparação.<br />
Modelo<br />
F máx<br />
(kN)<br />
Tabela 6 – Valores experimentais dos modelos<br />
τ máx (MPa) n τ 1R (MPa) s r<br />
(mm)<br />
τ bu (MPa) s u (mm)<br />
PT10-M - - - 4,23 - 12,39 1,25<br />
PT10-1Ra 12 8 30 2,20 0,98 9,57 1,18<br />
PT10-1Rb 12 8 30 2,28 0,94 9,62 1,26<br />
PT10-2Ra 16 10 30 4,61 0,67 13,02 0,91<br />
PT10-2Rb 16 10 30 3,01 1,00 12,19 1,16<br />
PT20-M - - - 2,93 - 9,70 1,36<br />
PT20-1R 37 6 30 2,44 0,60 9,73 1,40<br />
PT20-2R 49 8 30 4,22 0,94 9,96 1,15<br />
PT20-3R 49 8 130 3,01 1,45 9,75 1,57<br />
PT20-4R 55 9 50 2,31 2,05 9,73 2,23<br />
Os modelos tiveram o comportamento global da aderência semelhante, com algumas<br />
diferenças nos valores de τ 1R e s r .<br />
Apesar da resistência média τ 1R de PT10-1Ra e PT-101Rb ter sido menor que a<br />
correspondente a PT10-2Ra e PT10-2Rb, da ordem de aproximadamente 0,6 vezes, essa não<br />
foi a razão para a redução de τ bu dos primeiros em relação aos segundos, pois para os<br />
modelos da série 20, a variação de τ 1R foi grande também e os valores de τ bu foram muito<br />
próximos. Quando as barras de PT10-1Ra e PT-101Rb foram arrancadas, pôde-se observar<br />
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134<br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
pequenos buracos no concreto entre as nervuras ocasionadas por falha da vibração,<br />
justificando, portanto, essa redução na aderência. Esses modelos, portanto, não foram<br />
incluídos para as análises dos resultados.<br />
Modelo PT10-2Ra<br />
12<br />
11<br />
10<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
9<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7<br />
Deslizamento (mm)<br />
(a)<br />
0,7<br />
0,6<br />
Deslizamento (mm) .<br />
0,5<br />
0,4<br />
0,3<br />
0,2<br />
0,1<br />
0<br />
0 5 10 15 20 25 30<br />
Número de ciclos<br />
0,7<br />
(b)<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
10<br />
0<br />
0 30<br />
Número de ciclos<br />
(c)<br />
Deslizamento (mm) .<br />
0,6<br />
0,5<br />
0,4<br />
0 5 10 15 20 25 30<br />
Número de ciclos<br />
(d)<br />
F máx ≅ 16 kN; τ máx ≅ 10 MPa; n = 30; τ 1R = 4,61 MPa; s r = 0,67 mm<br />
Figura 23 - Modelo PT10-2Ra: (a) Curva tensão de aderência-deslizamento; (b) Curva deslizamentonúmero<br />
de ciclos; (c) História do carregamento; (d) Oscilação do deslizamento a cada meio ciclo;<br />
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A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />
135<br />
Modelo PT20-3R<br />
10<br />
9<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5<br />
Deslizamento (mm)<br />
(a)<br />
Deslizamento (mm) .<br />
1,5<br />
1,4<br />
1,3<br />
1,2<br />
1,1<br />
1<br />
0,9<br />
0,8<br />
0,7<br />
0,6<br />
0,5<br />
0,4<br />
0,3<br />
0,2<br />
0,1<br />
0<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130<br />
Número de ciclos<br />
(b)<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
8<br />
0<br />
0<br />
Número de ciclos<br />
(c)<br />
130<br />
Deslizamento (mm) .<br />
1,5<br />
1,4<br />
1,3<br />
1,2<br />
1,1<br />
1<br />
0,9<br />
0,8<br />
0,7<br />
0,6<br />
0,5<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130<br />
Número de ciclos<br />
(d)<br />
F máx ≅ 49 kN; τ máx ≅ 8 MPa; n = 130; τ 1R = 3,01 MPa; s r = 1,45 mm<br />
Figura <strong>24</strong> - Modelo PT20-3R: (a) Curva tensão de aderência-deslizamento; (b) Curva deslizamentonúmero<br />
de ciclos; (c) História do carregamento; (d) Oscilação do deslizamento a cada meio ciclo;<br />
O carregamento monotônico dos modelos repetidos teve a mesma rigidez dos ciclos<br />
anteriores até um pouco antes da ruptura da ligação, apresentando uma pequena redução até a<br />
tensão última, com exceção de PT20-1R que, quando atingiu a curva monotônica,<br />
acompanhou-a até o final do ensaio. Esse modelo, portanto, teve uma diminuição maior na<br />
rigidez antes de alcançar a tensão última.<br />
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136<br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
Fazendo-se uma comparação da ruptura monotônica de PT10-2Ra e PT10-2Rb com a<br />
média de PT10-Ma e PT10-Mb, nota-se que a aplicação de poucos ciclos da ordem de 80%<br />
da resistência última monotônica não interfere no comportamento último da ligação, pois os<br />
valores da tensão última de aderência dos modelos repetidos foram bem próximos aos<br />
referentes aos modelos monotônicos, como indica a figura 25.<br />
Para verificar se existia ou não a redução na resistência da ligação, na série 20,<br />
variou-se, então, a força em 3 níveis e o número de ciclos em 3. Comparando-se o modelo<br />
PT20-1R com o PT20-2R, percebe-se que o crescimento do nível de carregamento de 60%<br />
para 80% aumentou o deslizamento residual s r em 56%. A diferença de 100 ciclos entre<br />
PT20-3R e PT20-2R, aumentou s r em 54%. Com apenas 16 ciclos, o modelo PT20-4R<br />
atingiu o deslizamento residual do modelo PT20-3R, ou seja, com um acréscimo de 10% em<br />
relação à força de 80%, diminuiu a quantidade de ciclos de 130 para 16. Entretanto,<br />
independente da diferença entre o número de ciclos, a amplitude do carregamento e<br />
deslizamento residual atingido, a tensão última de aderência não foi reduzida, como indica a<br />
figura 26. Isso foi válido mesmo para a força máxima bem próxima da monotônica última<br />
(PT20-2R, PT20-3R e PT20-4R) e para deslizamentos residuais superiores ao deslizamento<br />
último monotônico s u (PT20-3R e PT20-4R).<br />
Após a ruptura da ligação, o ramo descendente da curva de todos os modelos ficou<br />
bem próximo do correspondente à curva monotônica de referência.<br />
Modelos PT10-1Ra, PT10-1Rb, PT10-2Ra, PT10-2Rb com média (PT10-Ma e PT10-Mb)<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
16<br />
15<br />
14<br />
PT10-1Ra<br />
13<br />
12<br />
PT10-1Rb<br />
11<br />
PT10-2Ra<br />
10<br />
PT10-2Rb<br />
9<br />
PT10-M (a e b)<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
Deslizamento (mm)<br />
Figura 25 - Curva monotônica tensão de aderência-deslizamento dos modelos repetidos com a média<br />
dos modelos monotônicos de referência da Série 10<br />
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A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />
137<br />
Modelos PT20-1R, PT20-2R, PT20-3R, PT20-4R com média (PT20-Ma e PT20-Mb)<br />
Tensão de aderência (MPa) .<br />
14<br />
13<br />
12<br />
11<br />
10<br />
9<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
Deslizamento (mm)<br />
PT20-1R<br />
PT20-2R<br />
PT20-3R<br />
PT20-4R<br />
PT20-M (a e b)<br />
Figura 26 - Curva monotônica tensão de aderência-deslizamento dos modelos repetidos com a média<br />
dos modelos monotônicos de referência da Série 20<br />
Na figura 27, pode ser visualizado o resumo do comportamento da aderência dos<br />
ensaios, e com a continuação a partir de s r observada em resultados da literatura.<br />
τ<br />
τ máx<br />
τ 1R<br />
s<br />
O<br />
arrancamento<br />
1ª fase 2ª fase 3ª fase<br />
(a)<br />
τ<br />
τ bu<br />
bu<br />
bu<br />
s<br />
s r<br />
O<br />
1ª fase 2ª fase 3ª fase<br />
(b)<br />
n<br />
Figura 27 - Digrama representativo do comportamento da aderência dos ensaios repetidos<br />
O<br />
s r<br />
su<br />
s r<br />
(c)<br />
s<br />
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138<br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
6 RESULTADOS NUMÉRICOS DA ADERÊNCIA MONOTÔNICA<br />
6.1 Modelo PT10-2D<br />
Apesar das aproximações um pouco grosseiras desse modelo, alguns aspectos do<br />
comportamento do contato entre os dois materiais pôde ser observado. Em relação aos<br />
ensaios, foram feitas poucas comparações, como a deformada e a evolução dos deslizamentos<br />
com a força, devido à falta de outras medidas experimentais.<br />
A evolução dos deslocamentos com a força foi linear, como apresenta a figura 28,<br />
portanto, os elementos de contato não consideraram a adesão entre os dois materiais.<br />
22<br />
Média (PT10-Ma e PT10-Mb) e PT10-2D<br />
20<br />
18<br />
16<br />
PT10-M (a e b)<br />
PT10-2D<br />
Força (kN) .<br />
14<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9<br />
Deslizamento (mm)<br />
Figura 28 - Curva força-deslizamento da média (PT10-Ma e PT10Mb) e PT10-2D<br />
A deformada da estrutura foi bastante semelhante a constatada experimentalmente,<br />
com uma pequena diferença na inclinação do concreto na região próxima à barra, como<br />
ilustra a figura 29.<br />
Figura 29 - Deformada - PT10-2D<br />
Figura 30 - Deslizamento - PT10-2D<br />
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A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />
139<br />
Pela figura 30, pode-se constatar que o modelo apresentou uma diferença de 0,456<br />
mm entre o deslizamento da base e do topo da barra aderente, como espera-se teoricamente.<br />
Nos ensaios, essa diferença não pôde ser visualizada, devido os deslocamentos terem sido<br />
medidos do topo da barra em relação ao concreto.<br />
6.2 Modelo PT10-3D<br />
Apesar desse modelo aparentemente fornecer resultados mais próximos da realidade<br />
que o anterior, também não foi possível realizar muitas comparações pela escassez de outras<br />
medidas experimentais.<br />
Similarmente ao modelo PT10-2D, esse apresentou uma relação força-deslocamento<br />
linear, como ilustra a figura 31. Os elementos de contato utilizados, portanto, não<br />
consideraram a adesão e a pressão de confinamento na barra.<br />
22<br />
20<br />
18<br />
16<br />
PT10-M (a e b)<br />
PT10-3D<br />
Força (kN) .<br />
14<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9<br />
Deslizamento (mm)<br />
Figura 31 - Curva força-deslizamento da média (PT10-Ma e PT10Mb) e PT10-3D<br />
Esse modelo representou melhor o ensaio, devido à consideração do seu<br />
comportamento tridimensional. Não foi necessário impor restrições radiais nos nós da face<br />
cilíndrica do concreto para evitar o giro do modelo, como indica a deformada na figura 32,<br />
semelhante à do protótipo experimental.<br />
Figura 32 - Deformada - PT10-3D<br />
Figura 33 - Deslizamento - PT10-3D<br />
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140<br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
Através da figura 33, percebe-se que o deslizamento não foi constante ao longo do<br />
contato, com uma variação de 1,28239 na base a 1,<strong>24</strong>561 no topo, considerada como a<br />
diferença entre os deslocamentos dos elementos CONTA173 e TARGE170. Essas variações<br />
no deslizamento não puderam ser medidas experimentalmente, impossibilitando a<br />
comparação.<br />
A modelagem numérica, apesar de não ter representado o ensaio corretamente, devido<br />
à sua relação linear força-deslizamento, serviram para uma análise primária do<br />
comportamento do contato no bloco de arrancamento. Modelos mais refinados, considerando<br />
as nervuras e a não linearidade dos materiais, poderão representar a verdadeira resposta da<br />
estrutura.<br />
7 CONCLUSÕES<br />
Todos os modelos ensaiados apresentaram o corte do concreto entre as nervuras,<br />
ocasionando a ruptura por arrancamento perfeito da armadura, típica de concreto confinado.<br />
Analisando-se os modelos monotônicos, foram observadas três fases no<br />
comportamento da interface aço-concreto. Na primeira, a qual corresponde à aderência<br />
química, os deslocamentos relativos são extremamente pequenos e as deformações dos dois<br />
materiais são admitidas iguais. Após a ruptura da adesão (τ 1R ), ocorre a mobilização da<br />
aderência por atrito e a engrenagem mecânica entre nervuras, equivalentes à segunda fase.<br />
Atingindo-se a ruptura efetiva da ligação (τ bu ), dá-se início à terceira fase, originada pelo<br />
atrito concreto-concreto e travamento entre o concreto e as nervuras. O ramo da curva tensão<br />
de aderência-deslizamento, o qual só é capturado em regime de deslocamento controlado,<br />
decresce bruscamente e torna-se horizontal até a ruptura total por arrancamento da barra.<br />
Devido ao término do curso do transdutor de deslocamento, entretanto, os ensaios foram<br />
finalizados, antes de alcançar a tensão residual. O aumento da força, após o início do<br />
deslizamento, é pequeno para as barras lisas, que não foram ensaiadas nesse trabalho, e muito<br />
maior para as barras nervuradas, da ordem de aproximadamente 3 vezes, devido à<br />
mobilização da aderência mecânica.<br />
Os modelos monotônicos da série 20 em relação aos da série 10 apresentaram um<br />
comportamento mais frágil da ligação, apesar da força última ter sido maior, e um trecho pósruptura<br />
mais dúctil. Uma justificativa para o primeiro fato, é que as barras de 20 mm<br />
possuem nervuras bem mais espessas que as de 10 mm, fazendo com que a tensão não possa<br />
ser simplesmente considerada como um valor médio. Outra explicação possível é que a<br />
superfície relativa das nervuras (f r ) da barra de 20 mm pode ser menor que a referente à barra<br />
de 10 mm. Seria necessária, portanto, a obtenção desse valor para uma comparação entre as<br />
duas séries. Em relação ao segundo fato, os modelos da série 20 estiveram sob à ação de um<br />
concreto mais bem confinado e o travamento entre o concreto e as nervuras foi maior, devido<br />
à altura da nervura ser superior que a da série 10.<br />
Comparou-se os resultados experimentais com os oriundos das normas CEB-FIP<br />
MC90, EUROCODE 2 e NB-1/78. Devido à pouca quantidade de modelos, entretanto, pôdese<br />
tirar poucas conclusões. Observou-se que o ensaio de arrancamento ficou situado entre as<br />
condições de aderência boa e ruim, apesar da barra estar na posição vertical em relação à<br />
concretagem. Contudo, a série 10 se aproximou bastante da situação de boa aderência. Os<br />
valores da resistência convencional e efetiva da ligação entre as normas apresentaram<br />
dispersões muito grandes, como foi o caso da diferença de 67% de τ 1R do EUROCODE 2 em<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
A influência das ações repetidas na aderência aço-concreto<br />
141<br />
relação à NB-1/78. O deslizamento equivalente à ruptura da ligação foi maior que o valor de<br />
1 mm proposto pelo CEB-FIP MC90, comprovado já em experimentos anteriores.<br />
Em relação ao carregamento repetido, observou-se que a resistência por adesão foi<br />
ultrapassada logo no primeiro ciclo, por causa do valor muito maior da força máxima.<br />
O processo da fadiga de aderência é dividido em três fases: na primeira, a velocidade<br />
de deslizamento é decrescente, caracterizada pela diminuição da inclinação da tangente à<br />
curva deslizamento-número de ciclos (s-n); na segunda, essa velocidade torna-se constante,<br />
onde a inclinação da tangente é linear; e na terceira, a velocidade cresce muito rapidamente<br />
até a ruptura por arrancamento da barra, ou seja, a inclinação aumenta até tornar-se<br />
praticamente vertical. A aplicação dos ciclos dos ensaios finalizou-se na segunda fase e, após<br />
o deslizamento residual (s r ), foram levados à ruptura monotônica. A primeira fase pode ser<br />
definida como uma acomodação da estrutura ao carregamento repetido, onde ocorre a maior<br />
parcela do esmagamento local do concreto próximo das nervuras. A partir daí, a região de<br />
concreto a ser esmagada é muito pequena, caracterizando a estabilização do crescimento dos<br />
deslizamentos. A ruptura por arrancamento ocorre após a terceira fase, a qual se inicia muito<br />
depois do deslizamento último monotônico (s u ). Conseqüentemente, as estruturas não<br />
precisam ser ensaiadas para um número de ciclos muito grande, se o deslizamento<br />
equivalente à resistência de aderência monotônica for conhecido. A determinação do número<br />
máximo de ciclos pode ser obtida por extrapolação linear da segunda parte linear da curva até<br />
s u .<br />
Para os diferentes níveis de solicitação, notou-se que quanto maior a força máxima<br />
repetida, maior a acomodação inicial do modelo e o deslizamento residual. As rigidezes ou as<br />
inclinações da tangente à curva para os trechos de descarregamento são praticamente iguais e<br />
muito acentuadas, indicando uma recuperação desprezível do deslizamento na força máxima.<br />
A resistência estática da ligação dos modelos repetidos não foi alterada com um<br />
número de ciclos maior, uma força máxima repetida próxima da força última monotônica de<br />
referência e um deslizamento residual maior que s u . Logo, as forças repetidas podem ser<br />
consideradas como um mecanismo de acomodação desses modelos em relação à resistência,<br />
com influência na degradação da aderência apenas pelo aumento progressivo dos<br />
deslizamentos.<br />
Da análise numérica da aderência monotônica no Ansys, foram tiradas poucas<br />
conclusões, devido o modelo numérico não ter representado a verdadeira resposta da<br />
estrutura. Tanto o modelo bidimensional (PT10-2D) como o tridimensional (PT10-3D)<br />
apresentaram uma relação força-deslizamento linear, ou seja, a adesão entre os dois materiais<br />
e a pressão de confinamento, no caso de PT10-3D, foram desprezadas. A deformada dos dois<br />
modelos foi semelhante à experimental, adotando-se, entretanto, algumas aproximações na<br />
modelagem bidimensional. Os deslizamentos ao longo do contato foram diferentes, com um<br />
crescimento praticamente linear do topo do contato para a base. Essa evolução, não pôde ser<br />
constatada experimentalmente.<br />
Devido à variabilidade do concreto e à pouca quantidade de modelos, seria<br />
necessário, portanto, um certo cuidado na extensão dessas conclusões parciais aos casos<br />
gerais.<br />
Como já foi exposto anteriormente, o problema da aderência sob carregamento<br />
repetido envolve um conjunto de variáveis de grande complexidade: a não-linearidade dos<br />
materiais, o mecanismo de transferência de forças, a micro-estrutura interna dos materiais, a<br />
propagação do dano, a não-linearidade do contato, a resposta força-deslizamento não linear,<br />
as deformações residuais, entre outras. Devido à dificuldade de visualização e abrangência de<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>24</strong>, p. 117-143, <strong>2005</strong>
142<br />
Rejane Martins Fernandes & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
todos esses pontos no comportamento tanto do modelo experimental como numérico, nesse<br />
trabalho, a análise do fenômeno foi particularizada, de maneira a melhor solucionar<br />
determinadas questões sobre o assunto. Dessa forma, nesse campo de pesquisa, ainda<br />
precisam ser feitos muitos estudos englobando todas essas particularidades.<br />
8 AGRADECIMENTOS<br />
À CAPES, pelo apoio financeiro.<br />
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