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São Carlos, v.11 n. 51 2009


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO<br />

Reitora:<br />

Profa. Dra. SUELY VILELA<br />

Vice-Reitor:<br />

Prof. Dr. FRANCO M. LAJOLO<br />

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS<br />

Diretor:<br />

Profa. Dra. MARIA DO CARMO CALIJURI<br />

Vice-Diretor:<br />

Prof. Dr. EDUARDO MORGADO BELO<br />

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS<br />

Chefe do Departamento:<br />

Prof. Dr. SERGIO PERSIVAL BARONCINI PROENÇA<br />

Suplente do Chefe do Departamento:<br />

Prof. Dr. MOUNIR KHALIL EL DEBS<br />

Coordenador de Pós-Graduação:<br />

Prof. Dr. MARCIO ANTONIO RAMALHO<br />

Editor Responsável:<br />

Prof. Dr. MÁRCIO ROBERTO SILVA CORRÊA<br />

Coordenadora de Publicações e Material Bibliográfico:<br />

MARIA NADIR MINATEL<br />

e-mail: minatel@sc.usp.br<br />

Editoração e Diagramação:<br />

FRANCISCO CARLOS GUETE DE BRITO<br />

MARIA NADIR MINATEL<br />

MASAKI KAWABATA NETO<br />

MELINA BENATTI OSTINI<br />

RODRIGO RIBEIRO PACCOLA<br />

TATIANE MALVESTIO SILVA


São Carlos, v.11 n. 51 2009


Departamento de Engenharia de Estruturas<br />

Escola de Engenharia de São Carlos – <strong>USP</strong><br />

Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro<br />

CEP: 13566-590 – São Carlos – SP<br />

Fone: (16) 3373-9481 Fax: (16) 3373-9482<br />

site: http://www.set.eesc.usp.br<br />

e-mail: cadernos@sc.usp.br


SUMÁRIO<br />

Estudo do polietileno de alta densidade reciclado para uso em elementos<br />

estruturais<br />

Lívia Matheus Candian & Antônio Alves Dias 1<br />

Avaliação de formulações do MEC na mecânica da fratura linear e coesiva<br />

Daniane Franciesca Vicentini & Wilson Sergio Venturini 17<br />

Reforço à flexão de vigas de concreto armado com manta de Polímero<br />

Reforçado com Fibras de Carbono (PRFC) aderido a substrato de transição<br />

constituído por compósito cimentício de alto desempenho<br />

Vladimir José Ferrari & João Bento de Hanai 37<br />

Estudo de cálice de fundação com ênfase nos esforços nas paredes transversais<br />

do colarinho<br />

Vinicius César Pereira Nunes & Mounir Khalil El Debs 57<br />

Análise numérica da aderência em modelos de viga com concretos auto-adensáveis<br />

e concretos convencionais<br />

Fernando Menezes de Almeida Filho & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs 77<br />

Análise termo-estrutural de pilares de aço em situação de incêndio<br />

Érica Fernanda Aiko Kimura & Jorge Munaiar Neto 93<br />

Método dos Elementos Finitos Posicional aplicado à não linearidade geométrica<br />

de sólidos<br />

Daniel Nelson Maciel & Humberto Breves Coda 111<br />

Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença 131<br />

Estratégia baseada em domínio de falha composto aplicada para análise de<br />

confiabilidade em grelhas de concreto armado<br />

Rodrigo de Azevedo Neves & Wilson Sérgio Venturini 161


ISSN 1809-5860<br />

ESTUDO DO POLIETILENO DE ALTA DENSIDADE RECICLADO PARA USO<br />

EM ELEMENTOS ESTRUTURAIS<br />

Lívia Matheus Candian 1 & Antônio Alves Dias 2<br />

Resumo<br />

O alto consumo de energia para a produção de metais e de cimento, a pressão em relação à utilização de<br />

madeira tropical e a abundância de material plástico vêm contribuindo para o desenvolvimento de pesquisas e a<br />

aplicação dos termoplásticos na construção civil em elementos estruturais. Neste trabalho, foi feita a<br />

caracterização do polietileno de alta densidade (PEAD) reciclado, por ser um dos materiais poliméricos rígidos<br />

mais disponíveis para reciclagem. Foi determinada a composição de amostras do material polimérico (PEAD)<br />

reciclado, obtidas no mercado, por meio dos ensaios termoanalíticos: calorimetria exploratória diferencial e<br />

análise termogravimétrica. Os resultados mostraram que o material fornecido pela empresa de reciclagem é<br />

isento dos contaminantes comumente encontrados nos materiais reciclados e apresenta um grau de pureza<br />

bastante significativo. A determinação das propriedades mecânicas por meio dos ensaios de tração, de<br />

compressão, de flexão e de impacto Izod finalizou o estudo do material analisado. Nesses ensaios, a resistência<br />

obtida foi próxima dos valores encontrados na literatura, para o PEAD puro, e pouco inferior à do concreto e à<br />

da madeira. Entretanto, a rigidez do PEAD reciclado foi bem menor que a dos materiais de construção<br />

tradicionais, sendo essa sua maior deficiência. De acordo com os resultados, o PEAD reciclado pode ser<br />

aplicado como elemento estrutural, desde que sejam estudadas possíveis formas de controlar essa deficiência,<br />

como a incorporação de nervuras, a utilização de blendas poliméricas e adição de cargas minerais e de fibras de<br />

elevado módulo de elasticidade e resistência.<br />

Palavras-chave: Polímeros reciclados. Elementos estruturais. Polietileno de alta densidade reciclado.<br />

Resistência. Rigidez.<br />

RECYCLED HIGH DENSITY POLYETHYLENE CHARACTERIZATION FOR<br />

USE IN STRUCTURAL MEMBERS<br />

Abstract<br />

The use of thermoplastics in civil engineering has been increasing considerably in the last decades. The latter is<br />

due to large amount of plastic material and high cost on a production of metals and cement for reinforced<br />

concrete, besides the lack of wood. Recycled high density polyethylene (HDPE) was chosen due to the fact that it<br />

is one of the most rigid recycled polymers available on the recycling industry. In this study, recycled polymer has<br />

been characterized in order to determinate the recycled material composition available in the market. The<br />

characterization of recycled HDPE samples was made by thermo gravimetric analysis and differential scanning<br />

calorimetry. Consequently, mechanical properties were determinated by tensile test, compression test, flexural<br />

test and impact Izod. The results of thermal analysis showed that the recycled material is exempt from possible<br />

contaminants and has a significant pureness degree. Under tension, compression, bending and impact conditions,<br />

the strength was around the pure polymer and little smaller of the concrete and wood. In contrast, the stiffness<br />

was much lower in comparison to traditional materials, their worst characteristic. These problems could be<br />

overcome through the study of polymeric blends, adding high modulus and strength fibers and charges and<br />

adding ribs. Then the recycled polymer could be applied as a structural element.<br />

Keywords: Recycled polymers. Structural members. Recycled high density polyethylene. Strength. Stiffness.<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, lcandian@sc.usp.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, dias@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 1-16, 2009


2<br />

Lívia Matheus Candian & Antônio Alves Dias<br />

1 INTRODUÇÃO E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />

Atualmente, projetistas e engenheiros trabalham com os plásticos porque eles oferecem<br />

combinações de vantagens não encontradas em outros materiais, tais como baixo peso específico,<br />

resiliência, resistência à deterioração por decomposição e ataque de microorganismos, resistência à<br />

corrosão, resistência mecânica, transparência, facilidade de processamento e baixo custo de<br />

manutenção.<br />

A utilização dos polímeros na construção civil existe há bastante tempo, porém é mais usual em<br />

elementos não estruturais, como, por exemplo, nas tubulações de água e de esgoto, telhas plásticas,<br />

calhas, esquadrias, etc. Entretanto, o alto consumo de energia na produção de metais e de cimento, a<br />

pressão contra a utilização da madeira tropical e o baixo custo do plástico reciclado estimularam sua<br />

inserção na construção civil, em estruturas que antigamente eram constituídas apenas de madeira, de<br />

aço ou de concreto.<br />

Os plásticos mais utilizados para reciclagem são constituídos basicamente por termoplásticos,<br />

que por sua vez são os empregados na Engenharia. Segundo Spinacé et al. (2005), dentre os<br />

termoplásticos, o PEAD e o PP apresentaram um aumento significativo de volume e de taxa de<br />

crescimento, quando comparado com o aumento do PEBD e do PS, e em relação ao PVC, que<br />

apresentou uma diminuição nesses valores, no período de 1982 a 2002. O PE e o PP são os<br />

termoplásticos mais procurados pelas empresas que atuam nesse setor, elas reciclam de 20 a 50<br />

t/mês, em média.<br />

Por meio de ensaios específicos é possível determinar as propriedades, a composição e o<br />

desempenho dos materiais poliméricos. Com a diversificação dos plásticos em aplicações de<br />

engenharia, as técnicas para caracterização dos polímeros tiveram um grande avanço nos últimos 15<br />

anos.<br />

A calorimetria exploratória diferencial, DSC, também conhecida por calorimetria diferencial de<br />

varredura, é uma das técnicas de análise térmica que têm sido largamente empregadas na<br />

caracterização de diversos tipos de materiais.<br />

A análise termogravimétrica, TG, no campo de materiais poliméricos, vêm sendo largamente<br />

empregada desde a década de 60, no desenvolvimento de diversos tipos de estudos, relacionados à<br />

variação de massa, em função do tempo ou da temperatura (Canevarolo, 2004).<br />

O objetivo principal desta pesquisa foi determinar as propriedades mecânicas de resistência e<br />

de rigidez de um material polimérico reciclado, constituído basicamente de polietileno de alta<br />

densidade (PEAD).<br />

2 MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Para a realização dos ensaios, bem como confecção dos corpos de prova, foram utilizados os<br />

procedimentos da ASTM. Os ensaios foram realizados no Centro de Caracterização e<br />

Desenvolvimento de Materiais – CCDM, no Laboratório de Ensino da Área de Polímeros e no<br />

Laboratório de Análises Térmicas do Departamento de Engenharia de Materiais – DEMa, da<br />

Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, e no Laboratório do Departamento de Materiais,<br />

Aeronáutica e Automobilística – SMM, da EESC – <strong>USP</strong>.<br />

2.1 Materiais utilizados<br />

Para estudar o polietileno de alta densidade reciclado disponível no mercado, adquiriram-se<br />

quatro amostras de cores distintas de péletes de PEAD reciclado, provenientes de embalagens<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 1-16, 2009


Estudo do polietileno de alta densidade reciclado para uso em elementos estruturais<br />

3<br />

moldadas a sopro. As amostras foram ensaiadas quanto à presença de possíveis contaminantes<br />

(Ensaio de Beilstein e Ensaio de DSC). Com base no grau de cristalinidade, obtido no ensaio de DSC,<br />

foram escolhidas as amostras que mais se afastam do PEAD puro (branca e verde), para se ter uma<br />

idéia da composição dos materiais reciclados disponíveis no mercado.<br />

Figura 1 – Péletes de PEAD: vermelho, azul, branco, verde.<br />

2.2 Calorimetria exploratória diferencial<br />

Para determinar a temperatura e a entalpia de fusão e de cristalização, foram utilizadas, em<br />

conjunto, as seguintes normas da ASTM: D 3417 (99) Standard Test Method for Enthalpies of Fusion<br />

and Crystallization of Polymers by Differential Scanning Calorimetry (DSC) e D 3418 (99) Standard<br />

Test Method for Transition Temperatures of Polymers by Differential Scanning Calorimetry. Este ensaio<br />

foi realizado no DEMa.<br />

O equipamento utilizado para realização deste ensaio foi o Perkin-Elmer Modelo DSC 7, com<br />

faixa de temperatura de 150ºC, configuração de fluxo de calor. Os parâmetros utilizados para<br />

realização do ensaio de DSC estão listados na tabela 1.<br />

Tabela 1 – Característica das amostras<br />

Peso da<br />

Data do ensaio Amostra amostra<br />

(mg)<br />

19-05-2006 Branca 8,06<br />

18-05-2006 Azul 6,83<br />

19-05-2006 Vermelha 8,11<br />

19-05-2006 Marrom 7,55<br />

19-05-2006 Verde 7,67<br />

Taxa de<br />

Aquecimento<br />

Faixa de<br />

Temperatura (ºC)<br />

(ºC/min) Início Fim<br />

Vazão<br />

(N)<br />

10 25 280 15<br />

2.3 Termogravimetria<br />

As curvas termogravimétricas (TG) e termogravimétricas derivadas (DTG) foram obtidas em um<br />

módulo termogravimétrico Hi-RES TG 2950, acoplado a um analisador térmico TA2000. A massa da<br />

amostra, antes e durante a realização do ensaio, foi constantemente monitorada por uma<br />

termobalança. Este ensaio foi realizado no Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais,<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 1-16, 2009


4<br />

Lívia Matheus Candian & Antônio Alves Dias<br />

CCDM, da UFSCar. Os parâmetros utilizados para realização do ensaio de TG estão listados na<br />

Tabela 2.<br />

Tabela 2 – Característica da amostra verde, ensaio de TG<br />

Data do<br />

ensaio<br />

Amostra<br />

Peso da<br />

amostra<br />

(mg)<br />

07-06-2006 Verde 14,0940<br />

18-06-2007 Branco 10,9043<br />

Taxa de<br />

Aquecimento<br />

Faixa de<br />

Temperatura (ºC)<br />

(ºC/min) Início Fim<br />

Vazão<br />

(mL/min)<br />

10 25 600 50<br />

2.4 Ensaio mecânicos<br />

Para a fabricação dos corpos de prova, foi escolhida a extrusão. Após a extrusão, os corposde-prova<br />

foram usinados, para obter as dimensões prescritas pelos padrões da ASTM, procedimentos<br />

realizados com cuidado para não alterar as propriedades do material em estudo.<br />

2.4.1 Confecção dos corpos de prova<br />

Foi utilizada a extrusora monorrosca para termoplásticos reciclados, com capacidade de<br />

produção 120 kg/h. Foram confeccionados três matrizes de calibração e três calibradores, devido às<br />

dimensões dos corpos de prova. Para os corpos de prova de tração e de impacto, utilizou-se o mesmo<br />

perfil, pois eles possuem a mesma espessura.<br />

O equipamento utilizado para a usinagem do estreitamento da parte central do corpos de prova<br />

de tração foi a Frezadora Universal AZERF ASA/79 1.<br />

Os corpos de prova de impacto foram obtidos a partir dos corpos de prova de tração, reduzindo<br />

a largura com a mesma frezadora. Para a execução do entalhe, utilizou-se a fresa entalhadora para<br />

usinagem de corpos de prova de impacto do tipo Izod/Charpy, marca CEAST, modelo Notchvis. A<br />

entalhadora é motorizada, com entalhes padronizados segundo a norma ASTM D 256-04.<br />

2.4.2 Ensaio de tração<br />

O ensaio de tração foi realizado de acordo com o procedimento da ASTM D 638 (03) Standard<br />

Test Method for Tensile Properties of Plastics. As dimensões do corpos de prova, como mostrado na<br />

figura 2, estão de acordo com o tipo I da norma referida.<br />

Figura 2 – Corpo de prova tipo I (dimensões em mm). Fonte: ASTM D 638 – 03.<br />

Os ensaios de tração nos corpos de prova de PEAD foram realizados no Laboratório do Núcleo de<br />

Ensaios de Materiais e Análise de Falhas (NEMAT), SMM. O equipamento utilizado foi a máquina de ensaio<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 1-16, 2009


Estudo do polietileno de alta densidade reciclado para uso em elementos estruturais<br />

5<br />

universal EMIC, modelo DL 10000, com célula de carga com capacidade de 1000 N interligada ao software<br />

Tesc – versão 1.13, que registrava valores de deslocamento e de força.<br />

2.4.3 Ensaio de compressão<br />

O ensaio de compressão foi realizado de acordo com o procedimento da ASTM D 695 2(a)<br />

Standard Test Method for Compressive Properties of Rigid Plastics. O corpo de prova utilizado no<br />

ensaio de compressão possui seção cilíndrica, com altura equivalente ao dobro do diâmetro (figura 3).<br />

Figura 3 – Corpo de prova submetidos à compressão.<br />

O ensaio de compressão foi realizado no Laboratório do Núcleo de Ensaios de Materiais e<br />

Análise de Falhas (NEMAT) do SMM. O equipamento utilizado foi à máquina de ensaio universal<br />

EMIC, modelo DL 10000, com célula de carga com capacidade de 1000 N interligada ao software<br />

Tesc – versão 1.13, que registrava valores de deslocamento e de força.<br />

2.4.4 Ensaio de flexão<br />

O ensaio de flexão foi realizado de acordo com o procedimento da ASTM D 790 (03) Standard<br />

Test Method for Flexural Properties of Unreinforced and Reinforced Plastics and Electrical Insulating<br />

Materials.<br />

Para a realização deste ensaio, adotou-se o procedimento A, pois é o método utilizado quando<br />

se deseja obter propriedades de flexão, mesmo prevendo que o material suportaria grandes<br />

deslocamentos durante o ensaio, situação em que é mais indicado o procedimento B.<br />

De acordo com a tabela 3 da ASTM D 790 (03), foram definidos os seguintes parâmetros para o<br />

corpo-de-prova de flexão.<br />

Tabela 3 – Característica dos corpos de prova de flexão<br />

Altura<br />

6,4 mm<br />

Largura<br />

(mm)<br />

Comprimento<br />

(mm)<br />

L/d = 16<br />

Distância<br />

entre apoios<br />

(mm)<br />

Vão da carga<br />

(mm)<br />

12,7 127 102 51<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 1-16, 2009


6<br />

Lívia Matheus Candian & Antônio Alves Dias<br />

Figura 4 – Corpo de prova mais usual para o ensaio de flexão (dimensões em mm). Fonte: ASTM D 790 – 03.<br />

O ensaio de flexão foi realizado no Laboratório do Núcleo de Ensaios de Materiais e Análise de<br />

Falhas (NEMAT) do SMM. O equipamento utilizado foi à máquina de ensaio universal EMIC, modelo<br />

DL 10000, com célula de carga com capacidade de 1000 N interligada ao software Tesc – versão 1.13,<br />

que registrava valores de deslocamento e de força.<br />

2.4.5 Ensaio de impacto<br />

O ensaio de impacto Izod foi realizado de acordo com o procedimento da ASTM D 256-04<br />

Standard Test Method for Determining the Izod Pendulum Impact Resistence of Plastics, que se refere<br />

aos corpos de prova providos de entalhe. A energia de ruptura dos polímeros ao impacto pode ser<br />

quantificada em termos de joule por metro (J/m) e/ou kilojoule por metro quadrado (J/m 2 ).<br />

Figura 5 – Corpo de prova provido de entalhe (dimensões em mm). Fonte: ASTM D 256 – 04.<br />

Após 24 horas da execução do entalhe, tempo de condicionamento, foram realizados os ensaios de<br />

Impacto Izod nos corpos de prova de PEAD, no Laboratório do DEMa. O equipamento utilizado foi a<br />

máquina de impacto instrumentada, marca CEAST, modelo RESIL 25R, provida de um martelo que<br />

liberou uma energia de 2 J. A perda de energia do pêndulo por atrito corresponde a 0,024 J. O método<br />

de ensaio escolhido foi o tipo A da norma consultada.<br />

3 DESENVOLVIMENTO<br />

Primeiramente, realizou-se o ensaio de identificação de halogênio (Beilstein), para evitar<br />

possíveis danos aos equipamentos durante a realização dos ensaios termoanalíticos e detectar a<br />

possível contaminação com poli (cloreto de vinila). Ele foi complementado pelo ensaio termoanalítico<br />

DSC, a fim de verificar se havia a presença de possíveis contaminantes, nas amostras de PEAD<br />

reciclado. Logo após, foram escolhidas as amostras que mais se afastavam do polietileno de alta<br />

densidade puro, com base no grau de cristalinidade, e realizada a TG, para se ter uma idéia da<br />

composição dos materiais reciclados disponíveis no mercado. Para essas amostras, foram<br />

determinadas as propriedades mecânicas do PEAD reciclado, por meio dos ensaios de: tração,<br />

compressão, flexão estática e impacto.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 1-16, 2009


Estudo do polietileno de alta densidade reciclado para uso em elementos estruturais<br />

7<br />

3.1 Ensaios termoanalíticos<br />

No ensaio de DSC, as amostras foram submetidas a uma atmosfera de gás nitrogênio super<br />

seco, para manter constante a composição da atmosfera do forno. A vazão contínua foi mensurada por<br />

meio da pressão obtida por um manômetro, por isso ela foi fornecida em Newton (N), já que o<br />

equipamento utilizado não era provido de fluxômetro. Entretanto, na maioria dos equipamentos de<br />

DSC, a vazão varia entre 10 a 50mL/min.<br />

Os resultados dos ensaios: temperatura de fusão cristalina (TM), entalpia de fusão (ΔH),<br />

temperatura no início da fusão (Tonset) e grau de cristalinidade (χ), bem como as curvas de DSC,<br />

foram fornecidos por um software acoplado ao calorímetro diferencial de varredura.<br />

Antes de realizar o ensaio de TG, o equipamento foi calibrado com uma amostra de alumínio,<br />

como referência. A calibração do equipamento é feita por meio da temperatura correspondente ao<br />

início da fusão (Tonset), que é em torno de 645ºC, e é obtida pela tangente ao pico da temperatura de<br />

decomposição da curva DTG.<br />

3.2 Ensaios mecânicos<br />

Os ensaios mecânicos foram realizados em ambiente climatizado com temperatura em torno de<br />

23ºC e umidade de 50%, seguindo os padrões normativos. Foram ensaiados 10 corpos de prova, para<br />

cada tipo de ensaio, tração, compressão, flexão e impacto, e para cada tipo de coloração de pélete:<br />

verde e branco.<br />

3.2.1 Ensaio de tração<br />

Metade dos corpos de prova (cinco fabricados com o pélete verde e cinco com o branco) foram<br />

ensaiados com velocidade de deslocamento de 5 mm/min, apenas para medir o módulo de<br />

elasticidade. O deslocamento foi quantificado por meio de um extensômetro eletrônico EMIC, modelo<br />

EEPA, com base de medida de 50 mm, posicionado na região central do corpo de prova. O resultado<br />

obtido corresponde à tensão e à deformação nos pontos 0,05% e 0,25% de deformação, segundo a<br />

ISO 527-1.<br />

Os demais corpos de prova foram submetidos a uma velocidade de deslocamento de 50<br />

mm/min para determinação da tensão e da deformação no escoamento, tensão e deformação na<br />

ruptura e alongamento na ruptura. O deslocamento foi obtido com a utilização de um transdutor<br />

indutivo de deslocamento, acoplado á máquina. O ensaio foi conduzido dessa maneira, pois a ASTM D<br />

638 – 03 exige que o módulo seja obtido à velocidade de 5 mm/min, já para os demais parâmetros não<br />

há essa exigência, e sim que a duração dos ensaios esteja entre ½ e 5 minutos.<br />

3.2.2 Ensaio de compressão<br />

Todos os corpos de prova de PEAD, dez de coloração verde e dez de coloração branca, foram<br />

submetidos a uma velocidade de deslocamento de 1,3 mm/min. Os deslocamentos foram obtidos com<br />

a utilização de um transdutor de deslocamento acoplado à máquina de ensaio universal EMIC.<br />

Devido às dificuldades encontradas durante o processo de moldagem, obtiveram-se corpos de<br />

prova de compressão com seções transversais diferentes das dimensões prescritas pela ASTM D 695<br />

2(a), 12,7mm de diâmetro. Por esse motivo, utilizou-se um estéreo microscópio Carlzeiss, modelo<br />

Citoval II, acoplado a um aquisitor digital de imagem, para obter as seções transversais dos corpos de<br />

prova, que foram quantificadas com a utilização de um software de analisador de imagem digital,<br />

Image Pró Pluss – versão 4.5.<br />

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8<br />

Lívia Matheus Candian & Antônio Alves Dias<br />

3.2.3 Ensaio de flexão<br />

A velocidade de ensaio e o deslocamento máximo, para todos os corpos de prova de PEAD, dez de<br />

coloração verde e dez de coloração branca, foi 2,8 mm/min e 3,55 mm respectivamente. Esses<br />

parâmetros foram obtidos por meio das equações 1 e 2 da ASTM 790-03, admitindo a deformação máxima<br />

permitida de 5%, e a taxa de deformação de 0,01 mm/mm/min, na superfície oposta ao carregamento.<br />

O raio das superfícies em contato com o corpo de prova foi de 3,42 mm, dentro do limite<br />

permitido pela norma referida.<br />

O deslocamento máximo foi obtido com a utilização de um transdutor de deslocamento, acoplado à<br />

máquina de ensaio universal EMIC.<br />

3.2.4 Ensaio de impacto<br />

Foram ensaiados dez corpos de prova fabricados com o pélete de cor verde e dez fabricados<br />

com o pélete de cor branca. A energia de impacto, expressa em J/m e/ou kJ/m 2 , foi obtida por meio da<br />

energia utilizada para romper o corpo de prova. Ela foi registrada no mostrador eletrônico da máquina<br />

de impacto instrumentada CEAST.<br />

4 RESULTADOS OBTIDOS E ANÁLISE<br />

4.1 Ensaio de Beilstein<br />

O ensaio de Beilstein não detectou vestígio de contaminação com poli (cloreto de vinila) (PVC)<br />

em todas as amostras: branca, azul, vermelha, marrom e verde. Isto pode ser comprovado pela<br />

permanência da coloração amarela da chama.<br />

4.2 Calorimetria exploratória diferencial<br />

As curvas de DSC, obtidas para as cinco amostras de PEAD, estão ilustradas na Figura 6.<br />

A tabela 4 apresenta os resultados obtidos para todas as amostras, isto é, temperatura de<br />

fusão cristalina (T M ), entalpia de fusão (ΔH), temperatura no início da fusão (T onset ) e o grau de<br />

cristalinidade (χ).<br />

As curvas de DSC obtidas para todas as amostras apresentam apenas um pico de fusão, que<br />

varia entre 129,8 ºC (amostra marrom) e 135,5 ºC (amostra branca). A presença de um único pico de<br />

fusão na temperatura de fusão do PEAD, em torno de 137ºC Sichieri (1996 apud, Silva 2003),<br />

comprova a isenção de possíveis contaminantes, como PET e PP. O formato do pico de fusão está<br />

bem definido para todas as curvas de DSC, comprovando que o material fornecido pela Reciclagem<br />

Nova Ribeirão é bastante uniforme, mesmo apresentando variação na coloração.<br />

Devido à uniformidade das amostras, escolheu-se apenas o PEAD verde e o branco para<br />

determinar a composição por meio do TG e realizar os ensaios mecânicos. Esta escolha se deu por<br />

eles apresentarem um grau de cristalinidade mais distante do PEAD puro, entre 75 a 95 %<br />

(Canevarolo, 2004), isto é, foram utilizados os materiais reciclados de pior qualidade, com o intuito de<br />

não obter características de resistência superiores às dos materiais disponíveis no mercado.<br />

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Estudo do polietileno de alta densidade reciclado para uso em elementos estruturais<br />

9<br />

(a)<br />

(b)<br />

(c)<br />

(d)<br />

(e)<br />

Figura 6 – Curvas obtidas nos ensaios de DSC das amostras de PEAD das cores: (a) branca, (b) azul, (c)<br />

marrom, (d) verde e (e) vermelha.<br />

Tabela 4 – Resultados do ensaio de DSC<br />

Amostra T M (ºC) ΔH (J/g) T onset (ºC) χ (%)<br />

Branca 135,5 160,7 123,9 55<br />

Azul 130,9 182,4 122,4 62<br />

Vermelha 130,6 172,8 122,3 59<br />

Marrom 129,8 170,5 122,6 58<br />

Verde 131,4 148,2 123,5 51<br />

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10<br />

Lívia Matheus Candian & Antônio Alves Dias<br />

4.3 Termogravimetria<br />

O resultado desta análise térmica é mostrado sob a forma de um gráfico relacionando a massa<br />

residual com a temperatura, figura 7.<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 7 – Curvas TG (_ _ _) e DTG (_____): (a) amostra PEAD verde sob atmosfera dinâmica de N2. Massa da<br />

amostra 14,0940 mg, vazão de gás 50 ml/min, suporte da amostra de alumina, razão de aquecimento 10ºC/min;<br />

(b) amostra PEAD branca sob atmosfera dinâmica de N2. Massa da amostra 10,9043 mg, vazão de gás 50<br />

ml/min, suporte da amostra de alumina, razão de aquecimento 10ºC/min.<br />

As amostras de PEAD verde e branco apresentaram comportamentos semelhantes. Por isso,<br />

os resultados serão apresentados simultaneamente. A amostra verde (e a branca) não apresenta<br />

mudança em sua massa até a temperatura de 290ºC (e 320 ºC). A partir dessa temperatura, observase<br />

uma diminuição acentuada de sua massa inicial, até por volta de 510ºC (520ºC). Nesse intervalo de<br />

temperatura, a amostra perde 98,23% (97%) de sua massa inicial, devido à decomposição/degradação<br />

do polímero. A temperatura de decomposição do polímero, medida no pico da curva DTG, é de<br />

480,8ºC (481ºC). Entre 510ºC e 600ºC (520ºC e 600ºC), a curva TG exibe um patamar, onde não há<br />

perda significativa de massa. O teor de resíduos estáveis a 600ºC é de 1,77 % (3%), que equivale a<br />

0,25 mg (0,33mg) da amostra utilizada.<br />

Essa pequena porcentagem de resíduos, tanto na amostra de PEAD de coloração verde quanto<br />

na amostra de coloração branca, pode corresponder à pigmentação inorgânica ou a um aditivo<br />

lubrificante. Elas não são significativas, pois em uma resina virgem, sua pigmentação pode<br />

corresponder a até 3% da massa.<br />

4.4 Extrusão<br />

Os corpos de prova obtidos da extrusão apresentaram alguns defeitos como “rechupes” e<br />

bolhas. Esses defeitos ocorreram devido às dificuldades encontradas durante a extrusão do PEAD<br />

reciclado. Segundo Osorio 3 (2007), as principais dificuldades encontrada podem ter sido decorrentes<br />

de (informação verbal):<br />

• Utilização de polietileno não adequado. Foi empregado PEAD para moldagem a sopro, que é<br />

mais apropriado para a extrusão de perfis vazados com paredes finas ou perfis de pequena<br />

espessura, como no caso dos corpos de prova de tração.<br />

3 Informação fornecida por Luciano Souza Osorio, em São Carlos, em 2007.<br />

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Estudo do polietileno de alta densidade reciclado para uso em elementos estruturais<br />

11<br />

• A porosidade apresentada nas faces cortadas dos corpos de prova pode ser proveniente de<br />

umidade; provavelmente, este aspecto poderia ser melhorado aquecendo o material no<br />

aglutinador, antes de ser colocado no silo de alimentação;<br />

• A rosca utilizada não possui características propícias ao material empregado. Deveria possuir<br />

diâmetro menor, em torno de 30 mm, para se conseguir maior produção. O aumento da<br />

produção corresponde a um menor tempo de material no canhão, aquecendo menos e<br />

resfriando mais rápido, ao entrar no sistema de resfriamento;<br />

• Outra característica da rosca que dificultou a extrusão do polietileno foi o diâmetro interno<br />

constante, isto é, a taxa de compressão utilizada foi de 1 para 1. O ideal seria possuir taxa de<br />

compressão em torno de 3,5 para 1. Nesse caso, haveria maior compactação do material,<br />

diminuindo-se a porosidade, já que os gases gerados no aquecimento voltariam à entrada da<br />

extrusora, evitando a formação de bolhas.<br />

4.5 Ensaios mecânicos<br />

A Tabela 5 apresenta uma compilação de todos os resultados obtidos em ensaios mecânicos,<br />

tais como: tração, compressão, flexão em três pontos e impacto. Todos os valores médios com seus<br />

respectivos desvios padrões se referem a 10 corpos de provas ensaiados em sua respectiva condição.<br />

Tabela 5 – Propriedades mecânicas das amostras de PEAD branca e verde<br />

Parâmetros mecânicos<br />

PEAD - Branco<br />

Resultados<br />

PEAD - Verde<br />

TRAÇÃO<br />

Tensão no escoamento (MPa)* 21,85 ± 0,37 22,24 ± 0,66<br />

Deformação no escoamento (mm/mm) 0,168 ± 0,008 0,170 ± 0,009<br />

Tensão na ruptura (MPa) 14,15 ± 0,28 ** 15,36 ± 0,92<br />

Deformação na ruptura (mm/mm) > 6,54 ± 0,15 4,38 ± 2,95<br />

Alongamento na ruptura (%) > 654 ± 15 438 ± 295<br />

Módulo de elasticidade tangente (MPa) 598 ± 8 547 ± 11<br />

COMPRESSÃO<br />

Resistência (MPa)*** 26,20 ± 1,19 28,72 ± 2,72<br />

Tensão no escoamento (MPa) 14,11 ± 0,63 14,25 ± 0,87<br />

Deformação no escoamento (mm/mm) 0,041 ±0,003 0,049 ± 0,007<br />

Tensão de escoamento deslocada (MPa) 16,84 ± 0,52 16,69 ± 0,71<br />

Módulo de elasticidade (MPa) 300 ± 20 245 ± 34<br />

Resistência (MPa) 26,20 ± 1,19 28,72 ± 2,72<br />

FLEXÃO<br />

Força máxima correspondente a 5% de<br />

deformação (N)<br />

48 ± 2 72 ± 2<br />

Módulo de Elasticidade Tangente (MPa) 805 ± 25 719 ± 23<br />

Resistência correspondente a 5% de<br />

deformação (MPa)<br />

17,64 ± 0,35 18,73 ± 0,37<br />

IMPACTO<br />

Resistência (J/m) 137,3 8,3<br />

Resistência (kJ/m 2 ) 13,2 0,8<br />

* A tensão máxima ocorreu no escoamento.<br />

** Ensaio foi interrompido, pois foi atingido o final do cursor da máquina.<br />

*** Tensão máxima<br />

Em relação aos parâmetros obtidos nos ensaios de tração, ressalta-se que o PEAD reciclado<br />

possui um comportamento dúctil, devido aos valores elevados de deformação e/ou alongamento antes<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 1-16, 2009


12<br />

Lívia Matheus Candian & Antônio Alves Dias<br />

da ruptura dos corpos de prova. A estricção inicia-se quando é atingida a tensão máxima, e prolongase<br />

por toda a extensão do corpo de prova, com seção reduzida, pois o material apresenta<br />

comportamento de estiramento a frio. Segundo Agnelli (2005) no PEAD, geralmente a tensão na<br />

ruptura é superior à tensão no escoamento, proveniente de uma orientação molecular intensa,<br />

informação verbal. Esse comportamento evidencia que a orientação molecular não é tão intensa para o<br />

PEAD testado.<br />

Os corpos de prova de tração de PEAD branco apresentaram um comportamento bastante<br />

uniforme, pois atingiram o alongamento conforme a norma ASTM D638-03, deformando até o final do<br />

cursor da máquina universal de ensaios. Entretanto, os corpos de prova de coloração verde<br />

apresentaram valores de alongamento na ruptura bastante distintos, fato este corroborado pelo<br />

elevado valor do desvio padrão.<br />

Os resultados obtidos em ensaios de compressão apresentam que o módulo de elasticidade da<br />

amostra branca foi maior que o da verde, devido a primeira ter maior grau de cristalinidade.<br />

Os ensaios de flexão a 3 pontos foram concluídos para a deformação máxima de 5%, posto<br />

que a ruptura não ocorreu antes dessa deformação.<br />

Considerando o desvio padrão, o PEAD de coloração branca apresentou menor valor de<br />

energia de impacto, conforme esperado, pois a resistência de impacto diminui com o aumento do grau<br />

de cristalinidade, indicado na Tabela 4. O PEAD reciclado apresentou resistência ao impacto Izod<br />

muito próximo do valor encontrado para o PEAD puro comprovando que a resistência ao impacto não<br />

foi influenciada pelas inúmeras variáveis que geralmente interferem no ensaio de impacto como grau<br />

de cristalinidade, temperatura de moldagem, velocidade de ensaio, etc.<br />

Todos os corpos de prova ensaiados resultaram em ruptura completa. A resistência ao impacto<br />

Izod não deve ser considerada separadamente para quantificar a resistência mecânica do material,<br />

pois existem polímeros que são sensíveis ao entalhe, porém possuem elevadas propriedades<br />

mecânicas como, por exemplo, o nylon e o poliacetal, Dalfré (2007).<br />

Para comparação de propriedades do PEAD, foram escolhidos o concreto e a madeira (Tabela<br />

6). O primeiro por ser o material estrutural mais empregado na construção civil, e a madeira, por ser o<br />

material tradicionalmente usado em aplicações para as quais se pretende utilizar os polímeros<br />

reciclados, tais como mourões, cruzetas, dormentes, etc.<br />

Tabela 6 – Valores médios do PEAD, do concreto e da madeira<br />

Material<br />

Resistência à compressão<br />

(Mpa)<br />

Módulo de Elasticidade<br />

(MPa)<br />

PEAD virgem 17 (i) 1040 (ii)<br />

PEAD reciclado branco 26,20 805<br />

Concreto 32 (iii) 23800 (iv)<br />

Madeira Eucalyptus<br />

grandis<br />

40,3 12813 (v)<br />

(i) Fonte: www.planetaplastico.com.br/litera/prop_fisicas.<br />

(ii)<br />

Módulo de elasticidade à flexão. Fonte: http://www.ipq.com.br/index.php<br />

?secao=catalogo&resina=pead&processo= 9&produto=10.<br />

(iii) Concreto Classe C25 e desvio padrão de 4 MPa. Fonte: NBR 12655 (1996).<br />

(iv) Módulo de elasticidade secante (Ec = 0,85 x 5600 fck 1/2 ). Fonte: NBR 6118 (2003).<br />

(v) Módulo de elasticidade à compressão. Fonte: NBR 7190 (1997).<br />

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Estudo do polietileno de alta densidade reciclado para uso em elementos estruturais<br />

13<br />

Considerando que a resistência à compressão do PEAD reciclado corresponde a 82% do<br />

concreto e a 65% da madeira, uma possível aplicação do PEAD reciclado seria em elementos<br />

estruturais robustos submetidos à compressão, como coluna para marinas. Porém, em relação ao<br />

módulo de elasticidade, o PEAD reciclado representa uma porcentagem muito pequena com relação<br />

ao concreto e à madeira, e, portanto, sua rigidez precisa ser majorada.<br />

Nos materiais poliméricos, o módulo de elasticidade à compressão gira em torno de 1,1 vezes o<br />

módulo de elasticidade à flexão, (Nielsen, 1994). Utilizou-se o módulo de elasticidade à flexão do<br />

PEAD reciclado para comparar com o concreto e com a madeira, devido ao ensaio de compressão ter<br />

sido prejudicado pelas dimensões dos corpos de prova.<br />

Essa deficiência pode ser aprimorada pela adição de cargas minerais e fibras de elevado<br />

módulo e resistência mecânica ou com a utilização de blendas poliméricas. Conforme apresentado na<br />

Tabela 7, os materiais reforçados com fibras de vidro apresentam um módulo de elasticidade muito<br />

superior, quando comparados com os materiais sem reforço. Aumentando assim a rigidez e a<br />

resistência à tração e à compressão na ruptura, o PEAD pode ser equiparado com os materiais<br />

estruturais empregados na construção civil. Na Tabela 8, pode-se perceber também que a resistência<br />

à tração e à compressão é bastante maior para os materiais com reforço. Além disto, a incorporação<br />

de fibras poliméricas e cargas na matriz também promovem o aumento da estabilidade dimensional.<br />

Tabela 7 – Módulo de elasticidade típico (à temperatura ambiente) [7]<br />

Material<br />

Módulo de<br />

Elasticidade (GPa)<br />

Compostos grafite-epóxi 280<br />

Aço 210<br />

Alumínio 70<br />

Epóxi reforçado com fibra de vidro 40<br />

Poliéster reforçado com fibra de vidro 14<br />

Nylons reforçado com 30% de fibra de vidro 10<br />

Acrílicos 3,5<br />

Resinas epóxi 3,1<br />

Acetal copolímero 2,9<br />

Polietileno de alto peso molecular 0,7<br />

Tabela 8 – Valores médios de propriedades mecânicas de alguns materiais [3]<br />

Material<br />

Tensão à tração<br />

na ruptura (MPa)<br />

Tensão à<br />

compressão na<br />

ruptura (MPa)<br />

Aço para construção civil ≥ 370 370<br />

Concreto 1,5 – 3,5 20 – 40<br />

Plástico rígido não reforçado 10 – 150 7 – 200<br />

Plásticos reforçados 200 –1000 150 – 500<br />

A incorporação de nervuras ou costelas de reforço é uma alternativa que pode contribuir no<br />

aumento da rigidez e da resistência mecânica do PEAD, (Dalfré, 2007). Porém deve-se ter cuidado<br />

com as espessuras das costelas de reforço, pois, conforme discutido anteriormente, a extrusão do<br />

PEAD é indicada apenas para perfis de paredes finas, por ele ter baixa rigidez e um processo de<br />

resfriamento muito lento.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 1-16, 2009


14<br />

Lívia Matheus Candian & Antônio Alves Dias<br />

5 CONCLUSÕES<br />

Constatou-se que os materiais reciclados não diferem muito entre si, mesmo possuindo<br />

coloração bastante distinta, pois todas as amostras são isentas dos contaminantes comumente<br />

encontrados nos materiais reciclados, como PVC, PET e PP.<br />

Pode-se comprovar também, por meio do ensaio de TG, que o PEAD reciclado é praticamente<br />

puro. A porcentagem de resíduos inorgânicos, que não é significativa, pode corresponder à<br />

pigmentação inorgânica ou algum aditivo.<br />

As dificuldades encontradas no processamento do PEAD foram as principais responsáveis<br />

pelas diferenças das propriedades mecânicas entre o PEAD puro e o reciclado. Portanto, com material<br />

e equipamento apropriado, além de diminuir a porosidade, poderia ser utilizada menor temperatura<br />

durante o processamento dos corpos-de-prova, resfriando mais rápido e evitando a ocorrência de<br />

bolhas e “rechupes”, obtendo também maior produção.<br />

O PEAD reciclado possui um comportamento dúctil quando submetido à tração e à<br />

compressão. Devido a esse comportamento quando ensaiado à tração, ele apresenta características<br />

típicas do material virgem, baixo módulo de elasticidade, baixa tensão de escoamento, porém elevada<br />

elongação. Além disso, apresenta o comportamento de estiramento a frio. Porém a tensão à tração na<br />

ruptura do corpo de prova é inferior à tensão à tração no escoamento, devido a sua orientação<br />

molecular não ser intensa.<br />

Como o material não rompeu até a deformação máxima permitida, 5%, no ensaio de flexão, a<br />

resistência obtida corresponde a essa deformação.<br />

O PEAD reciclado apresentou resistência ao impacto Izod muito próximo ao valor obtido na<br />

referência, para o PEAD puro. Comprovando que a resistência ao impacto não foi influenciada pelas<br />

inúmeras variáveis que geralmente interferem no ensaio de impacto. Todos os corpos-de-prova<br />

ensaiados resultaram em ruptura completa.<br />

O módulo de elasticidade do PEAD branco foi maior que o verde, para os ensaios de tração, de<br />

compressão e de flexão, pois nesses ensaios o módulo aumenta com o grau de cristalinidade.<br />

Entretanto, a resistência ao impacto tem o comportamento oposto, por isso que o PEAD branco<br />

apresentou menor valor de energia de impacto quando comparado ao PEAD verde, considerando o<br />

desvio padrão.<br />

Conforme previsto para os materiais termoplásticos, o módulo de elasticidade de flexão foi<br />

maior que o módulo de elasticidade de tração. Entretanto, o módulo de elasticidade de compressão<br />

fugiu dos padrões, pois foi menor que o módulo de flexão e até mesmo que o módulo de tração.<br />

Entretanto, ambos os módulos de elasticidade, à tração e à compressão, comparados com o módulo à<br />

flexão, estão distantes da referência bibliográfica (Nielsen; Landel, 1994). Entretanto, diferença do<br />

módulo à tração, quando comparado ao módulo à flexão, é muito pequena, em torno de 7% para os<br />

corpos-de-prova brancos. Já para os corpos-de-prova submetidos à compressão, essa diferença é<br />

significativa, fato que pode ter ocorrido devido às dimensões dos corpos-de-prova de compressão<br />

estarem distantes das prescrições normativas, além da presença de bolhas e de “rechupes”.<br />

A resistência à compressão do PEAD reciclado não é muito pequena, quando comparada com<br />

a resistência do concreto e da madeira. Por isso, uma possível aplicação do PEAD seria em elementos<br />

estruturais robustos, submetidos à compressão. Porém, em relação à rigidez, o PEAD reciclado<br />

apresenta resultados muito pequenos, quando comparados aos materiais estruturais geralmente<br />

empregados na construção civil. Essa deficiência pode ser minorada pela adição de cargas minerais e<br />

fibras de elevado módulo e resistência ou com a utilização de blendas poliméricas. Além de aumentar<br />

também a resistência à tração e à compressão.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 1-16, 2009


Estudo do polietileno de alta densidade reciclado para uso em elementos estruturais<br />

15<br />

6 AGRADECIMENTOS<br />

Ao CNPq, pela concessão da bolsa de Mestrado concedida à primeira autora, à FAPESP, pelo<br />

auxílio financeiro que propiciou o desenvolvimento da pesquisa, ao professor Libânio Miranda Pinheiro<br />

que junto com a empresa IPEX, de São Carlos, confeccionaram os corpos-de-prova e aos professores,<br />

José augusto Marcondes Agnelli e Dirceu Spinelli, que cederam os laboratórios, DEMa – UFSCar e<br />

SMM – EESC/<strong>USP</strong>, viabilizando a execução dos ensaios experimentais.<br />

7 REFERÊNCIAS<br />

AGNELLI, J. A. M. Introdução a materiais poliméricos. São Carlos: Engenharia de Materiais/ DEMa/<br />

UFSCar, 2005. (Notas de aula).<br />

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D5592-94: Standard guide for material<br />

properties needed in engineering design using plastics, 1994.<br />

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D3417-99: Standard Test Method for<br />

Enthalpies of Fusion and Crystallization of Polymers by Differential Scanning Calorimetry (DSC), 1999.<br />

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D3418-99: Standard Test Method for<br />

Transition Temperatures of Polymers by Differential Scanning Calorimetry, 1999.<br />

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D695-02a: Standard Test Method for<br />

Compressive Properties of Rigid Plastics, 2002.<br />

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D638-03: Standard Test Method for Tensile<br />

Properties of Plastics, 2003.<br />

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D790-03: Standard Test Methods for<br />

Flexural Properties of Unreinforced and Reinforced Plastics and Electrical Insulating Materials, 2003.<br />

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D256-04: Standard Test Methods for<br />

Determining the Izod Pendulum Impact Resistance of Plastics, 2004.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12655: Concreto – Preparo, controle e<br />

recebimento. Rio de Janeiro, 1996.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira.<br />

Rio de Janeiro, 1997.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NB 6118: Projeto de estruturas de concreto -<br />

Procedimento. Rio de Janeiro, 2003.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 1-16, 2009


16<br />

Lívia Matheus Candian & Antônio Alves Dias<br />

BERNAL, C.; BOLDARINI, A.; BREVIGLIERI, S. T.; CAVALHEIRO, E. T. G. Influência de alguns<br />

parâmetros experimentais nos resultados de análises calorimétricas diferenciais – DSC. Química<br />

Nova, v. 25, n. 5, p. 849-855, 2002. Disponível em:<br />

. Acesso em 16 mar 2006.<br />

CANDIAN, L. M. Estudo do polietileno de alta densidade reciclado para uso em elementos<br />

estruturais. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas) – Escola de Engenharia de São<br />

Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2007.<br />

CANEVAROLO JR., S. V. Técnicas de caracterização de polímeros. São Paulo: Editora Artliber<br />

ABPol, 2004.<br />

DALFRÉ, G. M. Cruzetas de polímeros reciclados: caracterização dos materiais, análise<br />

numérica e ensaios de modelos reduzidos. 2007. Dissertação (Mestrado em Engenharia de<br />

Estruturas) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2007.<br />

INCOMPLAST. Disponível em: . Acesso em 15 mar 2007.<br />

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 527-1 Test Standard. Plastics -<br />

Determination of tensile properties - Part 1: General principles.<br />

INSTITUTO AVANÇADO DO PLÁSTICO – IAP. Disponível em:<br />

. Acesso em 12 fev 2006.<br />

IPIRANGA PETROQUÍMICA. Disponível em:<br />

. Acesso<br />

em 26 set 2007.<br />

MARCZAK, R. J. Polímeros como materiais de engenharia. Porto Alegre: 2004.<br />

NIELSEN, L. E.; LANDEL, R. F. Mechanical properties of polymers and composites. 2. Ed., 1994.<br />

SILVA, J. F. R. Cruzetas para redes de distribuição de energia elétrica à base de polipropileno.<br />

Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade<br />

de São Paulo, São Carlos, 2003.<br />

SPINACÉ, M. A. S., PAOLI, M. A. A tecnologia da reciclagem de polímeros. Química Nova, v. 28, n. 1,<br />

jan./feb., 2005. Disponível em: . Acesso em 03 abr 2006.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 1-16, 2009


ISSN 1809-5860<br />

AVALIAÇÃO DE FORMULAÇÕES DO MEC NA MECÂNICA DA FRATURA<br />

LINEAR E COESIVA<br />

Daniane Franciesca Vicentini 1 & Wilson Sergio Venturini 2<br />

Resumo<br />

No contexto do método dos elementos de contorno, este trabalho apresenta comparativamente três formulações<br />

em distintos aspectos. Visando a análise de sólidos bidimensionais no campo da mecânica da fratura,<br />

primeiramente é estudada a equação singular ou em deslocamentos. Em seguida, a formulação hiper-singular ou<br />

em forças de superfície é avaliada. Por último, a formulação dual, que emprega ambas equações é analisada.<br />

Para esta análise, elementos contínuos e descontínuos são empregados, equações numéricas e analíticas com<br />

ponto fonte dentro e fora do contorno são testadas, usando aproximação linear. A formulação é inicialmente<br />

empregada a problemas da mecânica da fratura elástica linear e em seguida extendida a problemas não-lineares,<br />

especialmente o modelo coesivo. Exemplos numéricos diversos averiguam as formulações, comparando com<br />

resultados analíticos ou disponíveis na literatura.<br />

Palavras-chave: Fratura. Método dos Elementos de Contorno. Modelo dual. Mecânica da Fratura Elástica<br />

Linear. Modelo coesivo.<br />

BOUNDARY ELEMENT FORMULATIONS APPLIED TO FRACTURE<br />

MECHANICS<br />

Abstract<br />

In this work three boundary element formulations applied to fracture mechanics are studied. Aiming the analysis<br />

of two-dimensional solids with emphasis on the crack problem, the first considered method is the one based on<br />

using displacement equations only (singular formulation). The second scheme discussed in this work is a<br />

formulation based on the use of traction equations (hyper-singular formulation). Finally the dual boundary<br />

element method that uses singular and hyper-singular equations is considered. The numerical schemes have been<br />

implemented using continuous and discontinuous linear boundary and crack elements. The boundary and crack<br />

integral were all carried out by using analytical expressions, therefore increasing the accuracy of the algebraic<br />

system obtained for each one of the studied schemes. The developed numerical programs were applied initially to<br />

elastic fracture mechanics and then extended to analyze cohesive cracks. Several numerical examples were solved<br />

to verify the accuracy of each one of the studied models, comparing the results with the analytical solutions<br />

avaliable in the literature.<br />

Keywords: Fracture. Boundary Element Method. Dual boundary element method. Linear Elastic Fracture<br />

Mechanics. Cohesive crack model.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Na nossa história são mundialmente conhecidas algumas catástrofes, como a que ocorreu<br />

com o Titanic ou com os navios “Liberties”, da Segunda Guerra Mundial, ou ainda com o avião a jato<br />

britânico Comet, em 1954, entre outras. Estas impulsionaram o estudo do comportamento de materiais<br />

da indústria naval e bélica, melhorando o entendimento do comportamento de certos materiais, como<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, daniane@terra.com.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, venturin@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 17-36, 2009


18<br />

Daniane Franciesca Vicentini & Wilson Sergio Venturini<br />

o aço, que a baixas temperaturas assume um comportamento frágil. Os estudos avançaram nesse<br />

sentido, dando origem ao estudo da ciência hoje conhecida por Mecânica da Fratura.<br />

O Método dos Elementos de Contorno (MEC), ferramenta numérica alternativa ao Método dos<br />

Elementos Finitos (MEF), é bastante eficiente em problemas que apresentam concentrações de<br />

tensões. Especialmente no caso da fratura, o emprego de soluções singulares como ponderadora<br />

consegue simular a presença de singularidades na ponta da fissura com maior precisão.<br />

Visando o uso do MEC no estudo de sólidos bidimensionais em presença de fissura, estudouse<br />

possíveis formulações, com o objetivo de obter melhorias tanto na qualidade das representações<br />

obtidas, particularmente no caso de problemas não-lineares.<br />

2 METODOLOGIA<br />

Neste trabalho, buscou-se melhorar uma ferramenta numérica para o estudo de formação e<br />

crescimento de fissuras. Optou-se por utilizar o método da colocação onde a equação de equilíbrio em<br />

sua forma integral é escrita para um ponto. Essa formulação é mais simples que outras alternativas,<br />

que acabam necessitando de integração dupla para originar matrizes simétricas.<br />

No contexto dos métodos de colocação utilizaram-se representações integrais singulares e<br />

hiper-singulares, isto é, a representação dos deslocamentos, sua derivada e, posteriormente, se<br />

empregou estas equações numa mesma análise em problemas de fratura, constituindo o MECD<br />

(Método dos Elementos de Contorno Dual), buscando assim melhorar a precisão do sistema de<br />

equações principalmente em problemas não-lineares, e mais especificamente o da fratura coesiva.<br />

3 DESENVOLVIMENTO<br />

Objetivando um estudo das formulações do MEC para a análise do problema de fratura de<br />

meios contínuos planos, inicialmente implementou-se a formulação singular, hiper-singular e a dual do<br />

método (que emprega as equações singular e hiper-singular). Para a confrontação dos resultados e<br />

análise da eficiência de cada um desses procedimentos as equações algébricas dessas formulações<br />

foram obtidas com o emprego de integrações analíticas dos elementos da fissura. As formulações,<br />

inicialmente escritas para a Mecânica da Fratura Elástica Linear (MFEL) foram extendidas à análise<br />

com a inclusão do modelo coesivo (cohesive crack model).<br />

3.1 O Método dos Elementos de Contorno (MEC)<br />

A equação diferencial de um problema elástico definido no dominio Ω , com contorno Γ é<br />

representada pela equação de equilíbrio:<br />

σ + = (1)<br />

ij, j<br />

bi<br />

0<br />

onde σ<br />

ij<br />

representa a componente do tensor de tensões e b<br />

i<br />

as componentes de forças volumétricas.<br />

u<br />

No contorno Γ=Γ<br />

1+Γ 2<br />

tem-se os seguintes valores prescritos: em Γ 1<br />

os deslocamentos<br />

i<br />

= ui<br />

e em<br />

2<br />

Γ as forças de superfície pi = pi<br />

.<br />

A Equação (1) pode ser resolvida analiticamente para um domínio infinito e carga unitária em<br />

um ponto qualquer “s”. A solução em termos de deslocamento para esse caso calculada em um ponto<br />

“q” qualquer do domínio (solução fundamental) é:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 17-36, 2009


Avaliação de formulações do MEC na mecânica da fratura linear e coesiva<br />

19<br />

* 1<br />

u = ij ( 3 4ν) ln( r)<br />

δij r, ir,<br />

j<br />

8πG<br />

1 ν ⎡ ⎣ − − + ⎤ ⎦<br />

( − )<br />

(2)<br />

*<br />

σ<br />

ilk<br />

e<br />

*<br />

A partir dessa solução pode-se encontrar os demais valores fundamentais do problema: ε<br />

ilk<br />

,<br />

*<br />

p<br />

i<br />

(componentes de deformação, tensão e força de superfície relativa à superfície Γ ).<br />

A formulação das representações integrais para chegar-se ao MEC pode ser obtida<br />

diretamente do teorema da reciprocidade de Betti:<br />

∫σ ε dΩ= ∫ σ ε dΩ<br />

(3)<br />

Ω<br />

* *<br />

ilk lk ilk lk<br />

Ω<br />

onde os termos com (*) referem-se à solução fundamental e os demais representam um problema<br />

real.<br />

Integrando esta equação por partes e após várias operações, chega-se à representação<br />

integral dos deslocamentos:<br />

∫ ∫ ∫ (4)<br />

cu = u pdΓ− pudΓ+ ubdΩ<br />

* * *<br />

ik k ik k ik k ik k<br />

Γ Γ Ω<br />

onde c<br />

ik<br />

é um termo dependente apenas da geometria do contorno (para pontos internos por<br />

exemplo, cik<br />

= δik<br />

- delta de Kronecker, para pontos externos c<br />

ik<br />

= 0 , etc.)<br />

Essa equação integral pode ser utilizada para representar uma fissura. Para isto basta que o<br />

contorno Γ seja composto da parte externa Γ<br />

C<br />

mais a parte correspondente às faces da fratura. Γ<br />

F<br />

,<br />

com Γ=Γ<br />

C<br />

+Γ<br />

F<br />

.<br />

Diferenciando-se a Eq. (4), a fim de obter a representação das deformações, utilizando-se a lei<br />

de Hooke para a obtenção da equação em tensões, levando-se o ponto fonte para o contorno e<br />

aplicando-se a fórmula de Cauchy, chega-se à equação integral de forças de superfície para um ponto<br />

de contorno:<br />

1<br />

2<br />

∫ ∫ (5)<br />

p = n σ =−n S u dΓ+ n D p dΓ<br />

i j ij j kij k j kij k<br />

Γ<br />

Γ<br />

Discretizando-se as Eq. (4) ou Eq. (5), aproximando-se os valores do contorno e da fratura,<br />

chega-se ao seguinte sistema algébrico (as variáveis são nodais, tanto dos deslocamentos quanto das<br />

forças de superfície):<br />

⎡H H ⎤ ⎡G G ⎤<br />

⎢ ⎥ ⎢ ⎥<br />

⎢H H ⎥ ⎢G G ⎥<br />

⎢H H ⎥ ⎢G G ⎥<br />

⎣ ⎦ ⎣ ⎦<br />

U U U U<br />

CC CF CC CF<br />

U U ⎧UC⎫ U U ⎧PC⎫<br />

FC FF ⎨ ⎬=<br />

FC FF ⎨ ⎬<br />

U<br />

P P ⎩ F⎭ P<br />

P P ⎩ F⎭<br />

FC FF FC FF<br />

(6)<br />

onde o índice C é referente ao contorno e o F à fratura. O primeiro índice refere-se ao ponto de<br />

colocação e o segundo à variável.<br />

Tanto a equação singular em deslocamentos (que é a usual em elementos de contorno,<br />

aplicada em diversos problemas elásticos) – Eq. (4), quanto a equação em forças de superfície – Eq.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 17-36, 2009


20<br />

Daniane Franciesca Vicentini & Wilson Sergio Venturini<br />

(5), podem ser utilizadas separadamente para escrever as relações algébricas da Eq. (6), porém<br />

dentro de determinados limites. Por exemplo, se as faces da fissura estão muito próximas, ou seja, a<br />

abertura da fissura tendendo a zero, a equação integral escrita para pontos opostos das faces serão<br />

idênticas e, portanto o sistema de equações algébricas correspondentes é singular. Assim é<br />

necessário manter um espaçamento mínimo entre as faces da fratura.<br />

Uma maneira simples, porém limitada, para uso dessa equação é para o caso particular de<br />

fratura na linha de simetria. Esta utilização apresenta grandes limitações de uso, não sendo aplicável<br />

ao estudo de propagação.<br />

O modelo dual, Portela et al. (1993), propõe a utilização das Eq. (4) e Eq. (5)<br />

simultaneamente, cada uma aplicada aos pontos singulares de uma das faces da fissura. Nos pontos<br />

de colocação do contorno qualquer uma poderia ser utilizada.<br />

Entretanto em problemas usuais verifica-se que a Eq. (4) leva a melhores resultados.<br />

3.2 Mecânica da Fratura Elástica Linear (MFEL)<br />

A MFEL tem ampla aplicação em materiais de comportamento frágil, onde praticamente não<br />

ocorre deformação plástica antes e durante o processo de surgimento de fissuras.<br />

Um sólido com uma fratura pode apresentar um ou mais dos seguintes modos de deformação:<br />

Figura 1 – Modos de deformação.<br />

Quando o sólido apresenta um ou mais destes modos básicos, diz-se que apresenta modo<br />

misto de deformação.<br />

Considere a Figura 2 abaixo:<br />

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Avaliação de formulações do MEC na mecânica da fratura linear e coesiva<br />

21<br />

Figura 2 – Obtenção dos fatores de intensidade de tensão e do ângulo de propagação.<br />

A distribuição de tensões em um elemento infinitesimal próximo à ponta da fissura (Broek,<br />

1984) é dada por:<br />

K<br />

σ<br />

ij<br />

( r,<br />

θ ) = f<br />

ij<br />

( r,<br />

θ )<br />

2πr<br />

,<br />

i, j =1,2<br />

(7)<br />

onde r é a distância do elemento infinitesimal (distância muito pequena; esse é o primeiro termo da<br />

série de Taylor utilizada para a expansão da solução exata) à ponta da fissura e θ o ângulo indicado<br />

na Figura 2. f ij<br />

( r,<br />

θ ) são funções trigonométricas conhecidas e K é a constante conhecida por Fator<br />

de Intensidade de Tensão (FIT), e é obtida pela relação:<br />

K = yσ<br />

πa<br />

(8)<br />

onde y é uma função que depende da geometria do corpo, lugar da fissura e carregamento.<br />

Vários trabalhos propõem métodos para obtenção dos fatores de intensidade de tensão e<br />

ângulo de propagação da fratura. Para os fatores de intensidade de tensão, a integral J é um dos mais<br />

consolidados, consistindo na integração ao redor da fissura, quantificando a taxa de energia<br />

disponibilizada para o fraturamento. Anderson (1995), Blandford et al. (1981), Fett e Munz (1997),<br />

Martinez e Dominguez (1984) apresentam algumas das técnicas existentes para extração dos Fatores<br />

de Intensidade de Tensão.<br />

Por simplicidade, neste trabalho optou-se por utilizar os procedimentos que serão descritos<br />

nos próximos itens.<br />

3.2.1 Fator de intensidade de tensão<br />

De acordo com Aliabadi e Rooke (1992), o campo de deslocamentos nas superfícies da<br />

fissura pode ser representado por:<br />

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22<br />

Daniane Franciesca Vicentini & Wilson Sergio Venturini<br />

κ + 1 r<br />

COD = u<br />

2<br />

( θ = π ) − u<br />

2<br />

( θ = −π<br />

) = K<br />

(9)<br />

I<br />

G 2π<br />

O lado esquerdo desta equação é chamado COD (Crack Opening Displacement) e indicará a<br />

dimensão da abertura total equivalente ao modo I de abertura (Figura 2). Analogamente, há o termo<br />

que caracteriza o deslocamento das faces por modo II, quando ocorre o deslizamento ou cisalhamento<br />

entre as faces. Este termo é chamado CSD (Crack Sliding Displacement):<br />

onde<br />

( κ + 1 r<br />

CSD = u1 θ = π ) − u1(<br />

θ = −π<br />

) = K<br />

(10)<br />

II<br />

G 2π<br />

(3 −ν<br />

)<br />

κ =<br />

(1 + ν )<br />

e<br />

κ = ( 3 − 4ν<br />

)<br />

(11)<br />

para Estado Plano de Tensão (EPT) e de Deformação (EPD), respectivamente.<br />

Após algumas operações algébricas, é possível obter os fatores de intensidade de tensão, K I<br />

e K II . Para o EPT tem-se:<br />

K I<br />

E<br />

= COD<br />

8<br />

2π<br />

r<br />

e<br />

K II<br />

E 2π<br />

= CSD<br />

(12)<br />

8 r<br />

Enquanto que para o EPD tem-se:<br />

K I<br />

G<br />

= COD<br />

4(1<br />

−ν<br />

)<br />

2π<br />

r<br />

e<br />

K II<br />

= G 2π<br />

CSD<br />

4(1<br />

−ν<br />

) r<br />

(13)<br />

Estes valores podem ser calculados para um r coincidente com alguns nós da fissura.<br />

Outra técnica bastante simples, apresentada em París e Cañas (1997), baseada nas tensões<br />

em frente à fissura, foi também empregada. Neste trabalho será apresentado um procedimento<br />

análogo, mas para os COD obtidos nos nós ao longo da fissura. Partindo da Eq. (12), para o modo I, a<br />

técnica propõe a aplicação da função logarítmica a ambos os lados desta equação e o agrupamento<br />

dos valores constantes:<br />

⎛ 8 ⎞<br />

ln ln ⎜<br />

I ⎟ 0,5ln<br />

⎝E<br />

2π<br />

⎠<br />

( COD) = K + ( r)<br />

(14)<br />

Os valores de (COD), obtidos pelo MEC em diversos nós são plotados em um gráfico em<br />

função da distância (r) à ponta da fissura, onde se observa que nos pontos localizados muito próximos<br />

à ponta ocorre um erro numérico, devido à presença da singularidade.<br />

Fazendo um gráfico (ln COD) por (ln r), selecionou-se uma região com os pontos onde a<br />

resposta era admissível (comparada com a analítica).<br />

A Equação (14) pode assim ser reescrita:<br />

ln COD = b + mln<br />

r<br />

(15)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 17-36, 2009


Avaliação de formulações do MEC na mecânica da fratura linear e coesiva<br />

23<br />

Portanto, utilizando-se os valores obtidos para vários pontos pode-se determinar a reta que<br />

melhor representa a Eq. (15) e assim pode-se ajustar uma linha de tendência. O valor de m é obtido<br />

pela inclinação da reta e a partir dessa aproximação uma resposta estimada para o fator de<br />

intensidade de tensão pode ser obtida.<br />

3.2.2 Direção de propagação<br />

O Critério da Máxima Tensão Principal (CMTP), adotado neste trabalho, postula (Erdogan e<br />

Sih, 1963) que a propagação ocorrerá na direção perpendicular à máxima tensão principal. Desta<br />

forma, é gerado automaticamente um conjunto de pontos ao redor da fissura e a cada um destes é<br />

avaliado o estado tensional girado em seus respectivos ângulos, obtendo-se assim a tensão principal<br />

em cada um (equivalente à tensão circunferencial, em coordenadas polares), como mostra a Figura 2.<br />

Após este processo, a posição do ponto com a máxima tensão principal indicará a direção ou ângulo θ<br />

de propagação. O raio ( r ) será o tamanho do incremento ( Δ a ).<br />

Pela MFEL a propagação ocorrerá se o valor estimado de K<br />

I<br />

superar um valor crítico, K<br />

IC<br />

(EPD) e K<br />

C<br />

(EPT).<br />

Para o modelo coesivo a propagação ocorrerá se a tensão obtida pelo CMTP ultrapassar a<br />

tensão resistente do material em tração, f ' .<br />

t<br />

3.3 Modelo coesivo<br />

O modelo coesivo, que originou-se inicialmente dos clássicos trabalhos de Barenblatt (1962),<br />

Dugdale (1960) e Hillerborg et al. (1976) é um modelo não-linear de fraturamento que estabelece que<br />

a zona de processo de fratura pode ser modelada como um prolongamento adequado da fissura<br />

dentro da qual ocorrem forças coesivas ou fictícias que relacionam-se com a abertura da fratura<br />

através do amolecimento do material.<br />

Δu > Δu c<br />

f t '<br />

Forças<br />

coesivas<br />

Zona de<br />

fratura<br />

σ<br />

f t<br />

'<br />

Δu c<br />

Fissura<br />

real<br />

G c<br />

Δu > Δu c<br />

Δu c<br />

Δu<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 3 – Modelo de fissura fictícia (SALEH e ALIABADI; 1995).<br />

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24<br />

Daniane Franciesca Vicentini & Wilson Sergio Venturini<br />

Neste modelo, a fissura se propaga quando as tensões na ponta superaram a tensão crítica<br />

f<br />

t<br />

' . Imediatamente quando a fissura abre, a tensão na ponta não é igual a zero, mas sofre uma<br />

redução à medida que aumenta essa abertura até atingir seu valor crítico, Δ uc<br />

. Na parte onde<br />

Δ u


Avaliação de formulações do MEC na mecânica da fratura linear e coesiva<br />

25<br />

Figura 4 – Expansão das matrizes H e G.<br />

3.3.1.2 Modelo incremental<br />

Para melhor entendimento do processo incremental e iterativo, considere um problema<br />

elástico, em princípio íntegro, como o da Figura 5. São indicados pelo usuário (mas poderiam ser<br />

pesquisados, gerados automaticamente, etc.) os dois primeiros nós onde começará a fraturar, neste<br />

caso foram escolhidos os nós 14 e 15 (deverão obrigatoriamente ser duplos).<br />

12<br />

11<br />

10<br />

9<br />

σ y<br />

Nós duplos estabelecidos para<br />

início do fraturamento<br />

13<br />

14<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

8<br />

7<br />

6<br />

15<br />

y<br />

8<br />

3<br />

16<br />

1 2<br />

5<br />

x<br />

1 2 3 4<br />

σ y<br />

Figura 5 – Corpo íntegro com os pontos internos indicados.<br />

Ao redor dos pontos escolhidos, é gerada uma série de pontos internos, cujas tensões giradas<br />

serão calculadas (pontos representados em azul). Neste caso, qualquer tensão interna será igual a<br />

σ<br />

y<br />

, mas após rotacionar, será verificada qual delas possui a máxima tensão principal (em seu sistema<br />

local). Se superar o critério ( f<br />

t<br />

' ), o ponto de maior tensão principal será o primeiro Ponto Fonte (PF1)<br />

do elemento novo de fratura fictícia, e por esta razão também é calculada a tensão para um segundo<br />

ponto fonte (PF2), na mesma direção do primeiro, como indica a Figura 6.<br />

Essas tensões são as chamadas tensões elásticas, assim:<br />

e<br />

e<br />

σ1 = σ PF 1<br />

e σ2 = σ PF 2<br />

e<br />

Verifica-se o critério do modelo: se σ<br />

1<br />

> f t<br />

' , as tensões são extrapoladas para os extremos<br />

dos elementos, gerando novo elemento de fratura e começa o processo iterativo. Caso contrário,<br />

acrescenta-se novo incremento de carga ou deslocamento até ultrapassar (pois ainda está na fase<br />

elástica).<br />

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26<br />

Daniane Franciesca Vicentini & Wilson Sergio Venturini<br />

V<br />

Começa a iteração zerando as variáveis: Δ uk<br />

− 1<br />

= 0 , onde Δ u é a abertura da fratura e σ é a<br />

v<br />

⎛ 0 ⎞<br />

tensão verdadeira, dada por: σ<br />

k − 1<br />

= ft '1 ⎜ − ⎟=<br />

ft<br />

' no início do processo iterativo.<br />

⎝ Δuc<br />

⎠<br />

Elementos que serão gerados<br />

Nó 17 e 20<br />

Nó 18 e 19<br />

PF1<br />

PF2<br />

Δ a = L f<br />

L /4<br />

4<br />

L<br />

f<br />

Figura 6 – Geração dos PF.<br />

Em outras palavras, quando os esforços externos aplicados produzem uma tensão elástica<br />

local que supera o f<br />

t<br />

' do material, é introduzida uma descontinuidade ao problema, chamada fratura<br />

fictícia ou coesiva, que segue o comportamento da Figura 3.b e onde as forças aplicadas em sua<br />

superfície são destinadas a manter a coesão do material, representando um certo ligamento existente<br />

entre as partículas da região.<br />

P<br />

1<br />

P<br />

2<br />

Nó 17<br />

Nó 18<br />

(XS 17 ,YS 17 )<br />

Γ<br />

(XS 18 ,YS 18 )<br />

Nó 20<br />

(XS 20 ,YS 20 )<br />

Γ<br />

(XS 19 ,YS 19 )<br />

Nó 19<br />

P<br />

1<br />

P<br />

2<br />

Figura 7 – Forças de superfície aplicadas nas faces da fissura.<br />

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Avaliação de formulações do MEC na mecânica da fratura linear e coesiva<br />

27<br />

O processo iterativo é bastante simples, seguindo sempre os mesmos passos descritos na<br />

seqüência:<br />

v<br />

⎛ Δu<br />

⎞<br />

- Calcula-se a tensão verdadeira com a Lei Coesiva: σ = ft<br />

'1 ⎜ − ⎟<br />

⎝ Δuc<br />

⎠<br />

v<br />

(quando Δ u >Δ u , σ = 0 );<br />

c<br />

, onde Δ uc<br />

é a abertura crítica<br />

- Após transformar estas tensões para o sistema global, calculam-se as forças de superfície, usando a<br />

v<br />

v<br />

fórmula de Cauchy: p = τ n + σ n ;<br />

y xy x y<br />

- Aplicam-se estas forças como indicado na Figura 7.<br />

- Testa-se a convergência do processo: Se ( )<br />

( )<br />

k<br />

k−1<br />

Δu −Δ u > TOL, volta para nova iteração; se<br />

Δu −Δ u < TOL significa que convergiu e em seguida verifica se necessita a adição de novo<br />

incremento ou fratura. TOL é uma certa tolerância estipulada e os vetores acumulados durante o<br />

processo incremental são utilizados para o cálculo dos novos pontos internos.<br />

k<br />

k−1<br />

4 RESULTADOS NUMÉRICOS<br />

Para a análise dos exemplos de MFEL as três formulações do MEC (singular, hipersingular e<br />

MEC Dual - MECD) são utilizadas, todas com o ponto fonte pertencendo ao contorno e com integrais<br />

analíticas sobre os elementos de contorno e de fratura.<br />

Analisa-se um problema de fratura central, caracterizado pelo modo I e apresentado na Figura<br />

2<br />

2<br />

8a. Adotou-se W = 200cm, a = 5cm,<br />

p = σ = 10 KN cm , E = 3000 KN / cm , ν = 0 e EPT.<br />

Resolvendo este problema com a equação singular, a malha foi modelada usando simetria de<br />

14 do problema da Figura 8a. O problema foi discretizado usando 118 elementos no contorno e 20 na<br />

fratura, sem refinamento e 36 pontos internos.<br />

O FIT foi extraído com base no procedimento apresentado. Fazendo um gráfico ln r x<br />

ln COD (com o valor de r sendo dado pela distância entre o nó do elemento e a ponta da fissura e os<br />

COD obtidos com os deslocamentos nodais), pode-se determinar a reta que melhor ajusta a função e<br />

assim determinar uma linha de tendência. Os resultados obtidos no primeiro elemento (o da ponta) e<br />

os elementos mais distantes à ponta foram desprezados para a obtenção de um intervalo de dados<br />

aceitáveis, de acordo com a linha de tendência.<br />

32<br />

Assim, o valor obtido ( KI<br />

= 40,55 KN.<br />

cm − ) apresentou um erro de somente 2,4% com<br />

32<br />

relação à resposta analítica ( K = 39,6 KN.<br />

cm − ) para uma chapa infinita, dada por:<br />

I<br />

KI<br />

= σ π a<br />

(16)<br />

Resolvendo o mesmo problema com a equação hiper-singular, utilizando uma malha idêntica<br />

ao problema com a equação singular, mas somente com nós duplos, a resposta obtida apresentou um<br />

erro de 1,84% comparada com a solução analítica do problema.<br />

Para obtenção do intervalo de interesse, foram desprezadas as respostas obtidas para os dois<br />

elementos mais próximos à ponta, evidentemente os mais distantes também e assim o valor do FIT<br />

estimado foi:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 17-36, 2009


28<br />

Daniane Franciesca Vicentini & Wilson Sergio Venturini<br />

KI<br />

40,33 KN.<br />

cm −<br />

32<br />

= (17)<br />

Apesar da resposta aqui obtida ter sido melhor do que usando a equação singular, o intervalo<br />

de dados de interesse para o ajuste da linha de tendência foi menor.<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 8 – Problema em (a) modo puro I e (b) modo puro II.<br />

Usando o MECD, o problema foi discretizado com simetria de 12 da Figura 8a. Utilizou-se<br />

160 elementos de contorno e 44 na fissura, solução analítica para o contorno, numérica com subelementação<br />

para os pontos internos.<br />

Foi feito um pequeno refinamento da malha na região de interesse para aproximar melhor a<br />

resposta. Os resultados no primeiro elemento da ponta foram desprezados para a obtenção do<br />

intervalo de interesse.<br />

O valor obtido para K<br />

I<br />

neste caso, foi:<br />

KI<br />

39,24 KN.<br />

cm −<br />

32<br />

= (18)<br />

apresentando um erro de menos de 1% com a resposta analítica do problema.<br />

Considere agora uma chapa em modo puro II, também utilizando o MECD. Adotando-se<br />

h = 24 , a = h , E = 3000 , ν = 0,3, σ = 10 em unidades coerentes, foi utilizada uma malha de 8<br />

3<br />

elementos no contorno e 4 na fratura somente, com 12 pontos internos. A Figura 8b mostra o<br />

problema estudado.<br />

Neste exemplo foi feita somente a análise de propagação de uma fratura. Os resultados para<br />

o ângulo de propagação foram comparados à Figura 9, que apresenta um gráfico mostrando a relação<br />

do ângulo formado entre a inclinação da fissura e a direção de carregamento, em diferentes critérios<br />

de propagação.<br />

Na Figura 9, β é o ângulo formado entre a inclinação da fissura e a direção de aplicação do<br />

carregamento.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 17-36, 2009


Avaliação de formulações do MEC na mecânica da fratura linear e coesiva<br />

29<br />

Criterio da Máxima Tensão Principal<br />

Critério da Mínima Densidade de Energia<br />

de Deformação, 0< ν < 0,3<br />

Critério de Griffith<br />

Figura 9 – Direção de propagação (Carpinteri; 1986).<br />

Para este exemplo o ângulo β é zero e, de acordo com o gráfico, a direção de propagação<br />

será dada entre 70º e 90º (eixo local na ponta da fissura), dependendo do critério adotado. No modelo,<br />

o ângulo inicial de propagação obtido apresentou um erro de 2,85% de acordo com o CMTP. Está,<br />

portanto, na faixa aceitável pelo critério da mínima densidade de energia de deformação e um erro de<br />

20% com o critério de Griffith (Figura 9).<br />

Na Figura 10 ilustra-se uma representação com os ângulos de propagação obtidos,<br />

respectivamente para problemas de modo puro II e I:<br />

Figura 10 – Direção de propagação para (a) modo puro II e (b) modo puro I.<br />

Pela Figura 10 (a) nota-se que num primeiro instante atua o modo II puro, até que esta fissura<br />

esteja a aproximadamente 90º da original, onde começa a atuar (localmente) o modo puro I, fazendo<br />

com que a fissura prossiga nesta mesma direção até a ruptura total.<br />

No modo I, Figura 10 (b), a fissura propagará sempre no seu próprio eixo, perpendicularmente<br />

à máxima tensão principal.<br />

O procedimento de propagação é feito de maneira bastante simples, apenas adicionando os<br />

novos elementos gerados que formarão o prolongamento da fissura anterior.<br />

Ainda com o MECD, foi feito um exemplo de aplicação do Princípio da Superposição dos<br />

Efeitos (PSE), válido para a MFEL (Bažant e Planas; 1998), com o objetivo de averiguar as equações<br />

integrais. O PSE postula que o estado de tensões, deformações e deslocamentos (consequentemente<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 17-36, 2009


30<br />

Daniane Franciesca Vicentini & Wilson Sergio Venturini<br />

os FIT também) em um sólido pode ser decomposto na soma de outros estados, com aplicações em<br />

diversos tipos de problemas. Seja o problema da Figura 11:<br />

σ<br />

σ<br />

(a)<br />

(b)<br />

(c)<br />

=<br />

+<br />

σ<br />

σ<br />

σ<br />

σ<br />

Figura 11 – Princípio da Superposição dos Efeitos (PSE). (a) Problema inicial, obtido pela adição dos problemas<br />

(b) e (c).<br />

De acordo com o PSE, o problema a) pode ser obtido pela soma dos problemas b) e c). O<br />

primeiro, corpo íntegro elástico submetido a esforços no contorno de tração e o segundo, problema<br />

com fissura central e esforços aplicados nas faces da mesma.<br />

Este exemplo foi feito utilizando σ = p = 10 , uma chapa de dimensões 100x 50 e a fissura<br />

medindo 10 , em unidades coerentes. Valendo-se da simetria, os resultados obtidos no problema a)<br />

foram exatamente iguais aos resultados dos problemas b) e c) somados, para tensões internas e<br />

deslocamentos nos nós do contorno. Este problema ratifica a qualidade das integrais obtidas,<br />

comprovando sua precisão.<br />

Para o modelo coesivo proposto, considere o problema da Figura 12. Foi utilizada uma malha<br />

bastante simples, com somente 6 elementos no contorno e a fratura gerada automaticamente com<br />

dois elementos (um em cada face). O problema começa sem nenhuma fissura e a posição escolhida<br />

para o início do fraturamento está indicada. Adotou-se L = 1, E = 1, ν = 0 , Δ = 100000 , f ' = 0,333 ,<br />

Δ a = 0,0125 e o deslocamento aplicado δ = 1 dividido em 10 incrementos em unidades coerentes.<br />

u c<br />

δ<br />

t<br />

L<br />

2<br />

Posição escolhida para<br />

o início do fraturamento<br />

L<br />

δ<br />

Figura 12 – Chapa com deslocamento (δ ) aplicado.<br />

Com Δuc<br />

→∞, o exemplo escolhido em realidade é o modelo de Dugdale, sendo as forças<br />

aplicadas na fissura sempre constantes e iguais à f<br />

t<br />

' . As tensões internas e os deslocamentos<br />

podem ser facilmente averiguados pela solução elástica para este problema, ainda quando o sólido<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 17-36, 2009


Avaliação de formulações do MEC na mecânica da fratura linear e coesiva<br />

31<br />

está íntegro. Ao superar o f<br />

t<br />

' , a tensão verdadeira a ser calculada pelo critério<br />

⎡<br />

v<br />

⎛ Δu<br />

⎞⎤<br />

v<br />

⎢σ<br />

= ft<br />

'1 ⎜ − ⎟⎥<br />

será sempre σ = f t<br />

' . Devido a essas condições, a abertura da fissura final<br />

⎣ ⎝ Δuc<br />

→∞⎠⎦<br />

será constante e igual a 0,067 .<br />

Neste caso a fissura será toda coesiva, já que o programa não está preparado para continuar<br />

incrementando carga/deslocamento após a ponta da fissura ter atingido o contorno.<br />

Observando o comportamento do modelo apresentado na Figura 13, onde são plotados os<br />

valores das forças ( P ) x deslocamentos (δ ) nodais para o ponto no canto superior direito da Figura<br />

12, verifica-se que o modelo está coerente. As forças variam pouco à medida em que são gerados<br />

novos elementos de fratura, em seguida tendendo a permanecer na força equivalente à da tensão<br />

máxima de tração do material.<br />

Força x Deslocamento nodal<br />

Px<br />

0,25<br />

0,2<br />

0,15<br />

0,1<br />

0,05<br />

0<br />

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6<br />

Ux<br />

Figura 13 – Curva do comportamento da chapa.<br />

Na Figura 13 a linha contínua representa a resposta obtida através do algoritmo e a linha<br />

tracejada mostra o aumento do deslocamento do ponto para uma mesma força. Como o programa não<br />

permite que se continue adicionando carga/deslocamento após a ponta da fissura ter atingido o<br />

contorno (ainda não representando a ruptura total do material portanto, afinal o processo ainda se<br />

encontra na zona coesiva) a resposta só pôde ser obtida até a linha contínua apresentada.<br />

Na Figura 14 é apresentada a deformada final do problema, onde os pontos em azul são os<br />

nós do contorno e fratura. A zona coesiva, que ainda mantém um certo ligamento entre as partículas<br />

da região, é também representada nesta figura.<br />

Figura 14 – Deformada final do problema mostrando a zona coesiva.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 17-36, 2009


32<br />

Daniane Franciesca Vicentini & Wilson Sergio Venturini<br />

Suponhamos agora a viga bi-apoiada da Figura 15, submetida a esforços em 3 pontos:<br />

P,<br />

δ<br />

d = 2,5<br />

Posição escolhida para o<br />

início do fraturamento<br />

L = 10<br />

Figura 15 – Viga bi-apoiada com carga ou deslocamento central aplicado.<br />

As propriedades do material analisado são: E = 1386100,106 , ν = 0,15 , f ' = 230,<br />

Δ u c<br />

= 0,00276555, Δ a = 0,0625 e δ = 0,006 , de Lopes (1996). O número de incrementos foi variado,<br />

justamente para poder comparar as possibilidades entre si. A malha foi composta por 50 elementos de<br />

contorno.<br />

v<br />

A Figura 16 apresenta o diagrama tensão verdadeira σ por abertura da fissura Δ u , onde<br />

observa-se que obedece à lei do modelo coesivo, sendo que a tensão verdadeira para aberturas<br />

maiores que a crítica é zero.<br />

A curva obtida para este problema variando o número de incrementos na aplicação de<br />

carga/deslocamento, é apresentada na Figura 17. Observa-se que após superar o trecho elásticolinear<br />

o modelo proposto apresentou resposta mais rígida que a referência, na primeira parte do<br />

gráfico. Acredita-se que isto acontece devido à simplificação do modelo proposto, que apenas verifica<br />

a geração de novo elemento de fratura depois que a fratura anterior convergiu ou estabilizou.<br />

t<br />

Tensão Verdadeira x Abertura<br />

Sv<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

0 0,0005 0,001 0,0015 0,002 0,0025 0,003 0,0035 0,004<br />

Du<br />

Figura 16 – Modelo coesivo - Diagrama<br />

v<br />

σ x<br />

Δ u .<br />

Observa-se que utilizando somente 10 incrementos a resposta não apresentou-se adequada,<br />

já para incrementos de 50 até 500 a resposta apresentou ínfima variação. Isto se deve à robustez do<br />

método, que mesmo para discretizações pobres e poucos incrementos, é capaz de captar a curva do<br />

comportamento. Ainda nos incrementos entre 50 a 500, nota-se uma certa defasagem no ramo<br />

descendente com relação à curva de Lopes, o que é perfeitamente aceitável, tendo em vista que ao se<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 17-36, 2009


Avaliação de formulações do MEC na mecânica da fratura linear e coesiva<br />

33<br />

aproximar o momento da ruptura do material, praticamente não há tensão residual resistindo e a<br />

ruptura se dá abruptamente.<br />

Py<br />

Força x Deslocamento nodal<br />

180<br />

160<br />

140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

0 0,001 0,002 0,003 0,004 0,005 0,006 0,007<br />

Uy<br />

Lopes (1996)<br />

10 incr<br />

50 incr<br />

100 incr<br />

200 incr<br />

300 incr<br />

500 incr<br />

Figura 17 – Curva obtida com o modelo proposto.<br />

Manzoli e Venturini (2004) e outros autores (Saleh e Aliabadi; 1995), apresentam a resposta<br />

esperada do comportamento para um problema similar, viga bi-apoiada com deslocamento central<br />

aplicado, mas de espessura t = 5 e diferentes propriedades de material. Usando o MEC, MEF e<br />

análise experimental, o gráfico do comportamento que apresentam estes autores mostra um intervalo<br />

aceitável para a curva do modelo, conforme Figura 18.<br />

Figura 18 – Comportamento do modelo.<br />

Na Figura 19 visualiza-se a deformada para 8 elementos de fratura, no incremento 69,<br />

aumentada 100 vezes com a representação da zona coesiva:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 17-36, 2009


34<br />

Daniane Franciesca Vicentini & Wilson Sergio Venturini<br />

Figura 19 – Deformada da viga.<br />

Nesta representação pode-se verificar que a direção de propagação está correta e que nesta<br />

iteração e incremento de carga (100 incrementos) apenas o primeiro elemento de fratura abriu, sendo<br />

os demais pertencentes à zona coesiva.<br />

5 CONCLUSÕES<br />

Neste trabalho diversos aspectos da formulação do MEC na análise de problemas,<br />

especialmente de fratura puderam ser avaliados.<br />

Na literatura, não encontram-se facilmente modelos com integrais analíticas que tratem de<br />

problemas de fratura. Ainda que utilizando aproximação linear, pode-se afirmar que de maneira geral o<br />

MEC é uma excelente ferramenta numérica para analisar fratura e problemas envolvendo<br />

singularidades.<br />

Observa-se que o estudo da propagação pelo MECD é realmente bastante simples, sem a<br />

necessidade de remodelar a malha do contorno, e os resultados são confiáveis, mesmo com pouca<br />

discretização. Também neste caso, notou-se uma grande sensibilidade quanto à discretização da<br />

malha, havendo uma relação entre a malha do contorno e a da fissura. Refinar certa região de<br />

interesse, por exemplo, produz uma resposta muito melhor do que se utilizar elementos de tamanho<br />

constante. Nesse contexto, parece ser de fundamental importância um estudo de malha, tal como o<br />

modelo adaptativo, para a geração da malha do problema inicial, pois se verificou uma existência de<br />

certa relação entre a discretização do contorno (dimensão dos elementos, se constantes ou com<br />

refinamento) e da fissura, no cálculo do FIT.<br />

Para a propagação, entretanto, verificou-se que a discretização da malha é pouco afetada.<br />

Porém, observou-se também que a escolha do tamanho dos elementos de fratura gerados pode<br />

interferir na propagação, pois o CMTP identifica melhor a direção de propagação para pontos mais<br />

próximos à ponta, onde as tensões são infinitas. Com base neste estudo, recomenda-se portanto usar<br />

um comprimento de geração de pontos internos/tamanho da fissura de até 0,2.<br />

Tanto os modelos que utilizam apenas a equação singular ou a hiper-singular podem ser<br />

usados para análise de problemas de fratura. Apesar do modelo hiper-singular ter obtido melhor<br />

resultado, as respostas variaram muito durante sua análise, apresentando uma sensibilidade muito<br />

maior quando comparada à solução fornecida pela equação singular somente, que é mais estável.<br />

Portanto, fatores como geometria, refinamento, distância do ponto de colocação influem muito mais no<br />

modelo que utiliza a equação hiper-singular que no modelo que usa a singular. Ambas equações,<br />

quando usadas em uma mesma análise em problemas de fratura (MECD), mostraram-se muito<br />

eficientes.<br />

Para a análise do fraturamento não-linear com o modelo coesivo as respostas obtidas foram<br />

satisfatórias, ainda que a uma análise por enquanto restrita a problemas somente em modo I.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 17-36, 2009


Avaliação de formulações do MEC na mecânica da fratura linear e coesiva<br />

35<br />

Inicialmente, o corpo está íntegro e escolhe-se o ponto onde iniciará a fratura, mas este procedimento<br />

poderia ser otimizado, gerando automaticamente uma ou varias fissuras em pontos onde ocorresse a<br />

máxima tensão.<br />

O modelo aqui proposto para a fratura coesiva não se presta a captar a extensão ou tamanho<br />

da zona coesiva, uma das importantes respostas de interesse nesta área. Devido a que é gerado um<br />

novo elemento de fratura somente após o anterior ter convergido, nem sempre esta zona poderá ser<br />

prevista corretamente. Com esta simplificação não é possível portanto precisar a dimensão da zona<br />

coesiva, mas pretende-se corrigir este problema em desenvolvimentos futuros.<br />

O gráfico de comportamento para a viga bi-apoiada obtido, mostrou maior rigidez em seu<br />

trecho ascendente quando comparado com a referencia, no entanto esta resposta pode ser<br />

considerada satisfatória. O fato de o ramo descendente final da curva não seguir constante com o<br />

deslocamento crescente, deve-se à limitação que o programa apresenta de não permitir adição de<br />

cargas ou iterações ao atingir o contorno.<br />

O caminho de propagação poderia ter sido estabelecido desde o principio, como é<br />

apresentado na maioria da literatura; entretando preferiu-se testar o CMTP gerando automaticamente<br />

a fratura e o seu avanço para posteriormente ter maior liberdade de aplicação em problemas, inclusive<br />

em modos mistos de fraturamento, ou em problemas mais complexos, onde não se conhece a priori o<br />

caminho da propagação.<br />

De maneira geral, pode-se notar a potencialidade do MEC usado como ferramenta numérica<br />

na aplicação em problemas elásticos e da Mecânica da Fratura, seja linear ou não linear. As soluções<br />

são precisas mesmo usando pouca discretização, incrementos e com aproximação linear, confirmando<br />

a eficácia do método.<br />

6 AGRADECIMENTOS<br />

Os autores gostariam de expressar seus agradecimentos à CAPES, à FAPESP e ao programa<br />

ALFA - ELBENet pelo apoio financeiro, sem o qual esta pesquisa não poderia ter sido realizada.<br />

7 REFERÊNCIAS<br />

ALIABADI, M. H.; ROOKE, D. P. Numerical fracture mechanics. The Netherlands: Kluwer Academic<br />

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Daniane Franciesca Vicentini & Wilson Sergio Venturini<br />

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elementos de contorno. 1996. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos,<br />

Universidade de São Paulo, São Carlos, 1996.<br />

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MANZOLI, O. L.; VENTURINI, W. S. Uma formulação do MEC para a simulação numérica de<br />

descontinuidades fortes. Rev. Int. Mét. Num. Cálc. Dis. Ing., v. 20, 3, p. 215-234, 2004.<br />

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VICENTINI, D. F. Avaliação de formulações do MEC na mecânica da fratura linear e coesiva.<br />

2006. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São<br />

Carlos, 2006.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 17-36, 2009


ISSN 1809-5860<br />

REFORÇO À FLEXÃO DE VIGAS DE CONCRETO ARMADO COM MANTA DE<br />

POLÍMERO REFORÇADO COM FIBRAS DE CARBONO (PRFC) ADERIDO A<br />

SUBSTRATO DE TRANSIÇÃO CONSTITUÍDO POR COMPÓSITO<br />

CIMENTÍCIO DE ALTO DESEMPENHO<br />

Vladimir José Ferrari 1 & João Bento de Hanai 2<br />

Resumo<br />

A colagem de polímeros reforçados com fibras de carbono (PRFC) em elementos estruturais de concreto vem<br />

sendo aplicada com sucesso no reforço de estruturas. Assim, nesta pesquisa propõe-se uma inovação construtiva<br />

fundamentada no desenvolvimento de um compósito de alto desempenho à base de cimento Portland e fibras de<br />

aço (macro + microfibras), destinado a constituir o que está sendo preliminarmente chamado de “substrato de<br />

transição”. A finalidade desse substrato é controlar melhor a fissuração do concreto da viga e retardar o<br />

desprendimento prematuro do reforço. Foi realizado um estudo preliminar em vigotas moldadas com fibras de<br />

aço e reforçadas com manta de PRFC, pelo qual se verificou que a concepção do substrato de transição é válida.<br />

Partiu-se então para a realização de ensaios visando à obtenção de um compósito cimentício com características<br />

apropriadas para o substrato de transição. Os resultados mostram que foi possível desenvolver um material de<br />

elevado desempenho com significativos ganhos de resistência e tenacidade ao fraturamento. A aplicação do<br />

reforço sobre a superfície do substrato de transição, formado a partir da reconstituição do banzo tracionado da<br />

viga com o compósito cimentício, mostrou melhorar significativamente os níveis de desempenho da peça<br />

reforçada. Comprovou-se a eficiência da técnica de reforço proposta, além de reunir uma série de informações<br />

que podem ser exploradas para se tornarem úteis como critérios de projeto de estruturas recuperadas e<br />

reforçadas.<br />

Palavras-chave: Reforço. Fibras de carbono. Concreto com fibras de aço. Mecânica da Fratura. Reabilitação.<br />

FLEXURAL STRENGTHENING OF REINFORCED CONCRETE BEAMS WITH<br />

CARBON FIBERS REINFORCED POLYMER (CFRP) SHEET BONDED TO A<br />

TRANSITION LAYER OF HIGH PERFORMANCE CEMENT-BASED<br />

COMPOSITE<br />

Abstract<br />

The bond of the carbon fibers reinforced polymer (CFRP) in structural elements of concrete comes being applied<br />

successfully in the strengthening of structures. The objective of this research is to develop an innovate<br />

strengthening method for RC beams, based on a high performance cement-based composite of steel fibers (macro<br />

+ microfibers) to be applied in a transition layer. The purpose of this transition layer is to better control the<br />

cracking of concrete and to be late or until avoid the premature detachment of strengthening. Due to lack of<br />

similar research here the proposal, was carried through a preliminary study in short beams molded with steel<br />

fibers and strengthened with CFRP sheet, where if it verified that the conception of the transition layer is valid.<br />

Tests were developed to get a cement-based composite with characteristics to constitute the layer transition. The<br />

results shown that were possible to develop a material of high performance with a pseudo strain-hardening<br />

behavior, high strength and fracture toughness. The application of the strengthened about the layer transition<br />

surface showed significantly to improve the levels of performance of the strengthening beam. Of the carried<br />

through study it was possible to prove the efficiency of the new strengthened technique and describe various<br />

information that can be explored to become useful as criteria of project of repaired and strengthened structures.<br />

Keywords: Strengthened. Carbon fibers. Steel fibers concrete. Fracture Mechanic. Rehabilitation.<br />

1 Doutor em Engenharia de Estruturas – EESC-<strong>USP</strong>, vladimirjf@hotmail.com<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jbhanai@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


38<br />

Vladimir José Ferrari & João Bento de Hanai<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O reforço de vigas de concreto armado com manta de PRFC aumenta a rigidez e a capacidade<br />

resistente das peças. Entretanto, é susceptível ao surgimento de uma ruína frágil e extremamente<br />

indesejável, pois impossibilita o total aproveitamento das propriedades resistentes à tração do<br />

polímero. Trabalhos como os de Juvandes (1999), Ferrari (2002), Beber (2003), entre outros, alertam<br />

sobre a existência de modos de ruína frágeis da ligação reforço-concreto.<br />

Neste trabalho, é proposto o desenvolvimento de um compósito de alto desempenho à base de<br />

cimento Portland com fibras e microfibras de aço, destinado a constituir um substrato de transição<br />

(Figura 1). Imagina-se retirar uma parte do banzo tracionado das vigas a serem reforçadas –<br />

frequentemente danificado (Figura 2) - para reconstituí-lo com o compósito cimentício. Para tanto,<br />

supõe-se que a parte reconstituída do banzo venha a formar um substrato de transição, cujas<br />

características seriam mais apropriadas para aplicação do reforço polimérico.<br />

"substrato de transição" ligado<br />

ao concreto da viga e às armaduras<br />

longitudinal e transversal<br />

"bulbo de ancoragem"<br />

"substrato de transição" pode<br />

controlar fissuração<br />

reforço com PRFC<br />

colado ao substrato de transição<br />

Figura 1 – Esquema de reforço com manta de PRFC e substrato de transição.<br />

Figura 2 – Banzo tracionado de vigas danificado por ações mecânicas ou de corrosão.<br />

Reis (2003) analisou vigas reforçadas pela adição de armadura ao banzo tracionado, o qual foi<br />

reconstituído com argamassa reforçada com fibras de aço. Foi verificado que a argamassa com fibras<br />

agiu na transferência de esforços entre o substrato e a armadura de reforço. Pôde-se constatar então,<br />

que o uso de um compósito cimentício apropriado na reconstituição do banzo tracionado faz sentido.<br />

O mesmo conceito – com as devidas alterações – pode ser aplicado ao caso de reforço com<br />

manta de PRFC. Obviamente, os materiais utilizados e os mecanismos de transferência têm as suas<br />

diferenças. No entanto, a idéia geral do trabalho é propor, como uma inovação construtiva o<br />

desenvolvimento de uma técnica de reforço à flexão de vigas, a qual compreende um processo de<br />

prévia recuperação da estrutura pela aplicação de um compósito cimentício de alto desempenho,<br />

destinado a constituir o que está sendo chamado de substrato de transição.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


Reforço à flexão de vigas de concreto armado com manta de Polímero Reforçado com Fibras de Carbono (PRFC)<br />

39<br />

2 COMPÓSITO CIMENTÍCIO DE ALTO DESEMPENHO (CCAD)<br />

Como se sabe, as modificações decorrentes da adição de fibras de aço ao concreto, em taxa<br />

relativamente baixas (no máximo 2%), restringem-se apenas à fase de pós-pico do histórico de<br />

carregamento. Assim, com o objetivo de melhorar o comportamento do compósito cimentício na fase<br />

pré-pico de resistência, estuda-se o efeito da incorporação de microfibras de aço às fibras de aço<br />

convencionais, numa tentativa de modificar o compósito em sua microestrutura e consequentemente<br />

melhorar o processo de transferência de tensões da matriz para as fibras.<br />

2.1 Configuração do ensaio<br />

Para avaliar o comportamento à tração na flexão dos CCAD foram realizados ensaios de flexão<br />

em três pontos em corpos-de-prova prismáticos seguindo as recomendações da RILEM TC 162-TDF<br />

(2002a). Na Figura 3 é possível observar o aspecto geral da configuração do ensaio. Os ensaios foram<br />

conduzidos sob o controle dos deslocamentos de abertura da entrada do entalhe (CMOD), utilizandose<br />

para tanto um extensômetro elétrico do tipo clip gauge.<br />

"YOKE" fixado ao cp<br />

e alinhado ao cutelo<br />

P<br />

esfera de aço<br />

barra metálica<br />

P<br />

"YOKE"<br />

7,5<br />

15<br />

7,5<br />

transdutor<br />

cutelo<br />

2,5<br />

45<br />

clip gauge<br />

2,5<br />

15<br />

50<br />

Figura 3 – Configuração geral do ensaio.<br />

2.2 Compósitos analisados<br />

Foram analisados um conjunto de treze compósitos formados a partir da variação do volume e<br />

do tipo de fibras de aço. Eles foram divididos em grupos formados por três prismas (15x15x50 cm 3 )<br />

moldados com as mesmas características.<br />

Na Tabela 1 apresentam-se os diferentes compósitos analisados. Esses foram divididos em<br />

duas etapas conforme o tipo de matriz cimentícia utilizada. A fibra de aço aqui especificada<br />

simplesmente por “A”, tem nome comercial FS8-Wirand, foi fornecida pela empresa Maccaferri –<br />

América Latina, possui um comprimento de 25 mm com ganchos nas extremidades e um diâmetro de<br />

0,75 mm, o que resulta num fator de forma igual a 33. Já a fibra “C”, que foi fornecida pelo mesmo<br />

fabricante da fibra A, tem um comprimento de apenas 13mm, com ganchos nas extremidades e um<br />

diâmetro de 0,75mm.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


40<br />

Vladimir José Ferrari & João Bento de Hanai<br />

Tabela 1 – Compósitos analisados<br />

Etapa Grupo Compósitos Taxa de fibra Tipo fibra Material Idade<br />

1 CPA 0% - argamassa 29 dias<br />

2 CPA1A 1% A argamassa 29 dias<br />

3 CPA1.5A 1,5% A argamassa 29 dias<br />

I 4 CPA2A 2% A argamassa 29 dias<br />

5 CPA1.5A0.5C 1.5%+0,5% A+C argamassa 28 dias<br />

6 CPA1.5A1.5C 1.5%+1.5% A+C argamassa 28 dias<br />

7 CPA1.5A2.5C 1,5%+2.5% A+C argamassa 28 dias<br />

8 CPA1.5A3.5C 1.5%+3.5% A+C argamassa 28 dias<br />

Argamassa<br />

Microconcret<br />

o<br />

II<br />

9 CPM 0% - microconcreto 28 dias<br />

10 CPM1A 1% A microconcreto 28 dias<br />

11 CPM1A1C 1%+1% A+C microconcreto 28 dias<br />

12 CPM1A2C 1%+2% A+C microconcreto 28 dias<br />

13 CPM1A2.5C 1%+2.5% A+C microconcreto 28 dias<br />

2.3 Resultados dos ensaios de flexão em três pontos<br />

2.3.1 Forças e resistências<br />

A determinação da tenacidade flexional dos CCAD foi feita seguindo-se as recomendações<br />

prescritas pelo grupo de trabalho TC 162-TDF da RILEM. Na Tabela 2 apresentam-se os valores de<br />

forças e resistência calculados com base nas recomendações da RILEM.<br />

Tabela 2 – Forças e resistências conforme RILEM (2002a)<br />

Compósito<br />

Forças (kN)<br />

Resistências (MPa)<br />

F L F M F R,1 F R,4 f fct,L f eq,2 f eq,3 f R,1 f R,4<br />

CPA 8,00 8,00 1,26 - 2,33 - - 0,37 -<br />

CPA1A 13,41 13,41 12,46 5,22 3,87 3,31 2,58 3,60 1,51<br />

CPA1.5A 13,15 16,10 16,01 6,10 3,73 4,58 3,16 4,54 1,73<br />

CPA2A 14,50 17,59 17,35 7,59 4,56 5,53 4,20 5,45 2,38<br />

CPA1.5A0.5C 16,41 17,78 17,23 9,32 4,58 4,94 3,98 4,79 2,61<br />

CPA1.5A1.5C 16,01 20,95 20,91 9,42 4,79 6,46 4,80 6,25 2,81<br />

CPA1.5A2.5C 22,12 23,68 23,49 12,79 6,13 6,49 4,97 6,51 3,55<br />

CPA1.5A3.5C 20,03 21,42 20,79 6,08 5,52 5,66 3,75 5,73 1,68<br />

CPM 14,19 14,19 1,25 - 4,04 - - 0,36 -<br />

CPM1A 12,05 12,05 7,53 3,69 3,32 1,97 1,58 2,07 1,02<br />

CPM1A1C 17,63 18,53 16,92 7,47 5,17 5,06 3,73 4,96 2,19<br />

CPM1A2C 19,37 21,94 19,73 8,04 5,54 5,73 4,13 5,65 2,30<br />

CPM1A2.5C 10,03 10,03 6,34 2,26 2,95 1,54 1,07 1,86 0,66<br />

F L – força máxima de offset dentro do intervalo de deslocamento vertical (δ) igual a 0,05mm; F M – força máxima do<br />

compósito; F R,1 e F R,4 – forças residuais correspondentes aos deslocamentos δ R1 =0,46 mm e δ R4 =3,00 mm; f fct,L -<br />

tensão correspondente à F L ; f eq,2 e f eq,3 – resistências flexionais equivalentes; f R,1 e f R,4 – resistências residuais<br />

Para os CCAD de argamassa a adição de fibras sempre aumentou o valor da resistência (f fct,L )<br />

assim, pode-se dizer que para esses compósitos a contribuição da matriz em termos de resistência foi<br />

incrementada com a incorporação de fibras de aço. Os compósitos híbridos com adição de<br />

microfibras de aço do tipo C às fibras do tipo A, foram os que apresentaram maiores valores de<br />

resistência (f fct,L ) entre todos os CCAD de argamassa analisados.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


Reforço à flexão de vigas de concreto armado com manta de Polímero Reforçado com Fibras de Carbono (PRFC)<br />

41<br />

Para os CCAD de microconcreto o valor da resistência (f fct,L ) do compósito CPM1A diminuiu<br />

em relação ao compósito CPM. Isso mostra que a presença isolada da fibra A não melhorou a<br />

contribuição da matriz de microconcreto em termos dessa resistência. Entretanto, com a incorporação<br />

das microfibras de aço às fibras do tipo A, verificou-se aumento no valor da resistência f fct,L . Essa<br />

tendência foi verificada nos compósitos CPM1A1C e CPM1A2C, nos quais, a resistência foi<br />

respectivamente, de 28% e 37% maior do que a do CPM.<br />

Os valores das resistências f eq,2 e f eq,3 , caracterizam o comportamento dos compósitos em<br />

relação ao desempenho das fibras. Logo, destaca-se entre os CCAD de argamassa, o desempenho<br />

dos compósitos CPA1.5A, CPA2A, CPA1.5A0.5C, CPA1.5A1.5C e CPA1.5A2.5C e, entre os CCAD<br />

de microconcreto, somente o compósito CPM1A2C. Nesses compósitos, a ação das fibras de aço<br />

elevou o nível de resistência do material de forma que a resistência flexional equivalente (f eq,2 )<br />

superou o valor de resistência dado pela contribuição apenas da matriz (f fct,L ).<br />

2.3.2 Curvas P-CMOD<br />

Para representar o comportamento de cada compósito, selecionou-se dentre as três curvas<br />

obtidas por grupo, a curva “média”, que é aquela de comportamento intermediário que possa ser<br />

representativo das outras duas curvas do grupo.<br />

Nos compósitos CPA1.5A2.5C, CPA1.5A3.5C e CPM1A1C, por conta do desempenho distinto<br />

entre as três curvas de cada grupo, selecionou-se ao invés da curva “média”, a curva de “maior<br />

potencial” para representação desses compósitos. A curva “potencial” é aquela que representa o<br />

comportamento do exemplar do grupo que demonstrou maior ductilidade e resistência.<br />

Na Figura 4 reúnem-se as curvas “médias” P-CMOD dos CCAD de argamassa e de<br />

microconcreto, respectivamente.<br />

P (kN)<br />

24<br />

22<br />

20<br />

18<br />

16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

24<br />

22<br />

20<br />

18<br />

16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

CPA<br />

CPA1A<br />

8<br />

CPA1.5A<br />

6<br />

CPA2A<br />

CPA1.5A0.5C<br />

4<br />

CPA1.5A1.5C<br />

CPA1.5A2.5C<br />

2<br />

CPA1.5A3.5C 0<br />

0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1<br />

CMOD (mm)<br />

(a) CCAD de argamassa<br />

P (kN)<br />

0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1<br />

CMOD (mm)<br />

(b) CCAD de microconcreto<br />

Figura 4 – Curvas P-CMOD dos compósitos cimentícios.<br />

CPM<br />

CPM1A<br />

CPM1A1C<br />

CPM1A2C<br />

CPM1A2.5C<br />

2.3.3 Curvas de resistência ao fraturamento<br />

As curvas de resistência obtidas para os CCAD de argamassa CPA1.5A1.5C e CPA1.5A2.5C<br />

são comparadas com a do microconcreto CPM1A2C na Figura 5, onde K R é a resistência ao<br />

fraturamento e α é a profundidade da fissura (a) normalizada relativamente à altura (W) do corpo-deprova<br />

prismático, ou seja, α = a/W. Na figura são representadas também as curvas de resistência da<br />

matriz de argamassa e de microconcreto sem fibras juntamente com os históricos de carregamento<br />

ao longo do processo de ruptura.<br />

Como mostra a figura, a partir do ponto em que se inicia o processo de crescimento de<br />

fissuras na matriz dos compósitos CPA1.5A1.5C, CPA1.5A2.5C e CPM1A2C, observa-se um<br />

aumento eminente da resistência ao fraturamento desses materiais. Por exemplo, analisando-se a<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


42<br />

Vladimir José Ferrari & João Bento de Hanai<br />

ponta da fissura a 70% da altura da seção, infere-se que a resistência ao fraturamento alcança<br />

valores até quatro vezes superiores àqueles verificados à 1/3 da altura da seção.<br />

O extraordinário ganho de resistência desses três compósitos foram aproximadamente iguais,<br />

com ligeira superioridade para o compósito de argamassa CPA1.5A2.5C, seguido pelo de<br />

microconcreto CPM1A2C e pelo CPA1.5A1.5C.<br />

É importante destacar que a evolução do ganho de resistência ao fraturamento ocorreu para<br />

cada compósito segundo dois estágios bem definidos: o estágio inicial da fissuração (antes da linha<br />

tracejada em amarelo), onde se verificou um aumento de tenacidade ao fraturamento um pouco mais<br />

suave, e o estágio final do processo de fissuração (após a linha tracejada em amarelo), onde a<br />

resistência ao fraturamento aumentou de maneira mais acentuada.<br />

No estágio inicial é onde se inicia o processo de tracionamento das fibras e microfibras de aço<br />

e a transmissão de tensões entre as faces da fissura por meio dessas fibras. Nesse estágio, em que<br />

ocorre a formação das faces das fissuras, nota-se que uma característica é o fato da fissura mais<br />

evoluir do que o material ganhar resistência ao fraturamento.<br />

No estágio final do processo de fissuração é onde se verifica um aumento considerável da<br />

resistência ao fraturamento do compósito por conta do arrancamento das fibras, que se encontram<br />

ancoradas à matriz cimentícia. Nesse estágio, a eficiência das fibras em relação à contribuição para o<br />

acréscimo de tenacidade ao fraturamento é refletida notavelmente.<br />

600<br />

Curva P-α<br />

CPA1.5A2.5C<br />

K R<br />

(daN.cm ); P x 4 (daN)<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

Curva P- α<br />

CPM1A2C<br />

Curva P-α<br />

CPA1.5A1.5C<br />

crescimento da fissura<br />

CPA1.5A2.5C<br />

CPM1A2C<br />

CPA1.5A1.5C<br />

CPM<br />

CPA<br />

ponto A<br />

0<br />

0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7<br />

Figura 5 – Esquematização do desempenho dos compósitos.<br />

α<br />

3 RECONSTITUIÇÃO E REFORÇO DO BANZO TRACIONADO DE VIGAS DE<br />

CONCRETO ARMADO<br />

3.1 Características das vigas<br />

Foram confeccionadas três vigas de concreto armado de seção transversal retangular de 17x35<br />

cm 2 , comprimento total de 360 cm e vão livre de 320 cm. A armadura longitudinal inferior das vigas foi<br />

composta por duas barras de aço CA50, com 12,5 mm de diâmetro. A armadura superior foi composta<br />

por duas barras de aço CA50, com 6,3 mm de diâmetro. A armadura transversal foi formada por<br />

estribos com barras de aço CA50 de 6,3 mm de diâmetro, espaçados uniformemente a cada 12 cm. As<br />

características de cada viga estão descritas na Tabela 3.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


Reforço à flexão de vigas de concreto armado com manta de Polímero Reforçado com Fibras de Carbono (PRFC)<br />

43<br />

Tabela 3 – Características das vigas<br />

Vigas<br />

V1A<br />

V1C<br />

V2C<br />

Característica<br />

Viga de referência, sem reforço<br />

Viga reforçada com três camadas de manta de fibra de carbono<br />

Viga em que o banzo tracionado foi demolido e reconstituído integralmente<br />

com o compósito cimentício. Após a cura do compósito a viga foi reforçada<br />

com três camadas de manta de fibra de carbono<br />

A viga sem reforço V1A é a viga de referência para as demais que foram reforçadas. A partir da<br />

viga V1A foram estabelecidas considerações com relação ao incremento de resistência e rigidez<br />

proporcionadas pelo reforço. Essa viga foi dimensionada com reduzida taxa de armadura longitudinal<br />

de modo que o seu estado limite último fosse caracterizado pela deformação excessiva da armadura<br />

sem ruptura no concreto comprimido.<br />

A viga V1C foi reforçada pela aplicação de três camadas de manta de fibras de carbono. O<br />

reforço foi projetado para que fosse possível detectar o seu desprendimento prematuro. A viga V2C foi<br />

projetada para que o seu desempenho fosse comparado diretamente ao da viga de concreto armado<br />

reforçada. Tal comparação visa detectar contribuições do substrato de transição frente ao<br />

desprendimento e sobre o desempenho do reforço. Para tanto, o banzo tracionado da viga V2C foi<br />

demolido e em seguida reconstituído aplicando-se compósito cimentício de alto desempenho<br />

CPM1A2C (Figura 6).<br />

VIGA V2C<br />

P/2 P/2<br />

A<br />

A<br />

reforço com manta<br />

20 20 280 3 camadas 20 20<br />

Figura 6 – Viga V2C.<br />

substrato de transição<br />

compósito cimentício: CPM1A2C<br />

3.2 Reconstituição do banzo tracionado e reforço das vigas<br />

Os procedimentos para a retirada do concreto, reconstituição e reforço do banzo tracionado da<br />

viga V2C (Figura 7) foram iniciados quando o concreto tinha a idade de 23 dias. A remoção do<br />

concreto foi feita mecanicamente com martelete elétrico rompedor. A metodologia geral e os cuidados<br />

essenciais para a aplicação do reforço com mantas de fibras de carbono estão detalhados no trabalho<br />

de doutorado do presente autor. O adesivo epóxi utilizado foi o Sikadur 330 e a manta foi a SikaWrap<br />

300C, ambos, fornecidos pela Sika.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


44<br />

Vladimir José Ferrari & João Bento de Hanai<br />

Figura 7 – Remoldagem do banzo tracionado e aplicação do reforço externo.<br />

3.3 Configuração do ensaio e instrumentação<br />

As vigas de concreto armado foram solicitadas à flexão simples em quatro pontos, por meio de<br />

ensaio monotônico, ou seja, carregamento crescente até a ruína. O comportamento estrutural das<br />

vigas foi observado e monitorado durante todo o ensaio, registrando-se a força aplicada, os<br />

correspondentes deslocamentos verticais e as deformações do concreto, aço e reforço.<br />

O esquema de ensaio para cada viga foi montado na estrutura de reação do LE – Laboratório<br />

de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos, como ilustrado por meio da Figura 8. A força<br />

necessária para solicitar cada viga à flexão foi introduzida por meio de um atuador servo-hidráulico da<br />

marca Instron com capacidade nominal de 500 kN, capaz de controlar a intensidade e a velocidade de<br />

aplicação das forças e deslocamentos.<br />

Os ensaios foram conduzidos sob controle de deslocamento do pistão do atuador com a<br />

imposição de uma taxa de 0,007 mm/s. O atuador permaneceu preso a uma viga metálica de grande<br />

rigidez, parte de um pórtico de reação no centro da viga.<br />

Para o monitoramento das deformações específicas da armadura e do reforço foram utilizados<br />

extensômetros elétricos de resistência da marca Vishay Micro-Measurements com resistência de 120.0<br />

OHMS e 12 mm de comprimento. A nomenclatura e o esquema de posicionamento da instrumentação<br />

das vigas estão indicados na Figura 9.<br />

Figura 8 – Esquema geral do ensaio de flexão nas vigas.<br />

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Reforço à flexão de vigas de concreto armado com manta de Polímero Reforçado com Fibras de Carbono (PRFC)<br />

45<br />

transd.1<br />

transd.7<br />

ext.1 e 2<br />

ext.3 e 4<br />

ext.5<br />

ext.6<br />

apoio A<br />

apoio B<br />

transd.2<br />

transd.3 transd.4 transd.5<br />

transd.6<br />

ext.23<br />

ext.22<br />

ext.21<br />

ext.20<br />

ext.19<br />

ext.18<br />

ext.17<br />

16<br />

15 14 13 12 11 10 7<br />

98<br />

Posicionamento dos extensômetros:<br />

referência<br />

apoio A<br />

0,0 cm<br />

Extensômetros no concreto e armadura<br />

número do extensômetro<br />

1 2 3 4<br />

160 160 160 160<br />

5<br />

225<br />

6<br />

297<br />

transd. = transdutor<br />

ext. = extensômetro elétrico<br />

Extensômetros no reforço<br />

referência<br />

número do extensômetro<br />

apoio A 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21<br />

0,0 cm 297 293 289 285 277 269 261 249 237 225 203,4 181,8 160 160 160<br />

22 23<br />

95 35<br />

Figura 9 – Nomenclatura e posicionamento dos extensômetros e LVDT´S.<br />

4 VIGAS REFORÇADAS COM MANTA DE PRFC: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS<br />

RESULTADOS<br />

4.1 Modos de ruína<br />

Como se esperava, o modo de ruína da viga V1A foi de deformação excessiva da armadura<br />

longitudinal, seguida por deformações elevadas no concreto comprimido, configuração compatível com<br />

o domínio 2 de deformações para a qual a viga foi dimensionada.<br />

A ruína da viga V1C (Figura 10-a) deu-se a partir do surgimento de uma fissura na extremidade<br />

do reforço (P=117 kN). Essa fissura propagou-se na direção horizontal e culminou com o<br />

desprendimento do reforço juntamente com toda a camada de concreto do cobrimento da armadura ao<br />

longo do vão de cisalhamento.<br />

(a) Desprendimento do reforço da viga V1C<br />

(b) Ruína da viga V2C<br />

Figura 10 – Modo de ruína das vigas V1C e V2C.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


46<br />

Vladimir José Ferrari & João Bento de Hanai<br />

O modo de ruína da viga V2C (Figura 10-b) foi diferente do observado na viga V1C. Embora<br />

tenha surgido uma fissura na extremidade do reforço quando a força aplicada era de 141 kN, ela não<br />

se propagou na horizontal e o processo de desprendimento do reforço por ruptura da camada de<br />

concreto junto à armadura foi evitado.<br />

Na viga V2C a ruína teve origem numa seção localizada no vão de cisalhamento e próximo da<br />

aplicação da força concentrada. O surgimento de uma fissura de flexão/cisalhamento e a evolução de<br />

sua abertura com o acréscimo do carregamento, provocaram o destacamento do reforço através da<br />

interface do compósito cimentício com o adesivo epóxi até a sua extremidade mais próxima. Uma fina<br />

camada de microconcreto permaneceu aderida à manta.<br />

4.2 Forças<br />

Na Tabela 4 são reunidos os valores de força de fissuração (P f ), de escoamento da armadura<br />

longitudinal (P y ) e de ruína (P u ) das vigas. A presença do reforço aumentou a força de primeira fissura<br />

das vigas reforçadas. O acréscimo foi de 19,8% para a viga de concreto armado reforçada e de 66,2%<br />

na viga reconstituída e reforçada.entre 10,3% e 66,2%. Em relação à viga V1C, a força de fissuração<br />

da viga V2C foi incrementada em 38,8%.<br />

A presença do reforço também aumentou a força necessária para o escoamento da armadura<br />

longitudinal. Isso ocorre porque o reforço auxilia o aço a resistir aos esforços de tração. Na viga V1C o<br />

aumento foi de 48,4%. Já na viga o aumento chegou a 67,1%.<br />

Com relação à força última, destaca-se a resposta da viga V2C. Um incremento significativo de<br />

120% foi observado em relação à viga de referência, enquanto que, a viga V1C apresentou um<br />

incremento limitado a 65,1%. Em relação à própria viga de concreto armado reforçada, a capacidade<br />

resistente da viga V2C foi 33,2% superior.<br />

Tabela 4 – Forças e modos de ruína das vigas<br />

Vigas P f (kN) P y (kN) P u (kN) Modo de ruína<br />

V1A 21,01 79,80 89,27<br />

V1C 25,16 118,45 147,37<br />

V2C 34,92 133,37 196,35<br />

Deformação excessiva<br />

da armadura<br />

Desprendimento do<br />

reforço<br />

Destacamento na<br />

interface compósito<br />

cimentício-reforço<br />

Incrementos (%)<br />

P f P y P u<br />

- - -<br />

19,8 48,4 65,1<br />

66,2 67,1 120,0<br />

4.3 Deslocamentos verticais<br />

Na Figura 11 são comparados por meio das curvas P-δ os comportamentos das vigas V1A,<br />

V1C e V2C. Verifica-se que até a força de fissuração a resposta das vigas é semelhante. Após a<br />

fissuração do concreto, é nítido o aumento da rigidez nas vigas reforçadas em relação à viga sem<br />

reforço. Ressalta-se o efeito da presença do substrato de transição nas resposta da viga V2C –<br />

reconstituída e reforçada. Maior rigidez e capacidade de carga foram verificadas para essa viga em<br />

relação principalmente à viga de concreto armado V1C, reforçada com a mesma área de reforço.<br />

Na viga V1A observa-se que nenhum acréscimo de força após o escoamento da armadura<br />

longitudinal foi obtido. Já nas vigas reforçadas vê-se claramente que ocorre acréscimo de força após o<br />

escoamento da armadura longitudinal. Nesse sentido, a maior extensão do trecho final da curva da<br />

viga V2C indica que o reforço foi mais solicitado nessa viga do que na viga V1C.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


Reforço à flexão de vigas de concreto armado com manta de Polímero Reforçado com Fibras de Carbono (PRFC)<br />

47<br />

200<br />

180<br />

160<br />

Força P (kN)<br />

140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

Viga V1A<br />

Viga V1C<br />

Viga V2C<br />

20<br />

0<br />

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36<br />

Deslocamento δ (mm)<br />

Figura 11 – Curvas P-δ das vigas V1A, V1C e V2C.<br />

Na Tabela 5 apresenta-se uma comparação entre os deslocamentos verticais das vigas no<br />

meio do vão para um carregamento igual a 90% da força de ruína da viga V1A. Os valores mostram<br />

que as vigas reforçadas apresentaram-se mais rígidas do que a viga de referência. A flecha da viga<br />

V1A foi 47% maior do que a flecha da viga V1C. A viga V2C apresentou uma flecha ainda menos<br />

pronunciada do que a viga sem reforço. A flecha da viga V1A foi 67% superior à da viga V2C. Logo, a<br />

inovação proposta no presente trabalho, reconstituição e reforço do banzo tracionado da viga, não<br />

somente é eficaz em termos de capacidade de carga, como também em termos de rigidez.<br />

Tabela 5 – Comparativo das flechas das vigas no meio do vão<br />

Vigas Flecha (mm) Comparativo<br />

V1A 12,79 1,00<br />

V1C 8,73 1,47<br />

V2C 7,68 1,67<br />

4.4 Tensões e deformações do reforço<br />

A resposta do reforço frente à solicitação das vigas é aqui avaliada por meio da distribuição de<br />

deformações específicas ao longo de toda a sua extensão. Associando as propriedades geométricas e<br />

mecânicas do reforço aos valores de deformações é possível obter a distribuição de tensões<br />

longitudinais e tangenciais ao longo do reforço.<br />

De acordo com Beber (2003) e Leung (2006) é possível calcular as tensões tangenciais no<br />

reforço, entre os pontos instrumentados, fazendo-se uso da eq. (1).<br />

ε r(i+<br />

1) − ε r(i)<br />

τ r =<br />

⋅ E r ⋅ t r<br />

(1)<br />

s − s<br />

Em que:<br />

(i+<br />

1)<br />

(i)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


48<br />

Vladimir José Ferrari & João Bento de Hanai<br />

τ r = é a tensão tangencial;<br />

ε r = é a deformação específica no reforço;<br />

s i = posição relativa do extensômetro;<br />

E r = módulo de elasticidade do reforço;<br />

t r = espessura do reforço.<br />

Nas Figuras 12 e 13 são apresentados os perfis de tensões normais e tangenciais ao longo do<br />

reforço das vigas V1C e V2C para carregamentos referentes a 25%, 50%, 75% e 100% da força<br />

última. Da análise geral dessas figuras é possível constatar que os máximos valores das tensões<br />

normais foram registrados na região central das vigas. Nas vigas V1C e V2C o valor máximo das<br />

tensões normais ocorreu a 21,3 cm do meio do vão e foi registrado por meio do extensômetro 18.<br />

Já um exame geral das tensões tangenciais aponta que os valores máximos ocorreram na<br />

região do vão de cisalhamento. Com o aumento da força aplicada às vigas, verifica-se que os máximos<br />

valores das tensões tangenciais tendem a deslocar-se em direção à extremidade do reforço. Na viga<br />

V2C, até 50% da força de ruptura, o máximo valor da tensão tangencial localiza-se a 31 cm da<br />

extremidade do reforço. Para a viga V1C essa posição deu-se a 23 cm da extremidade do reforço.<br />

Para 100% da força aplicada às vigas, o valor máximo da tensão tangencial na viga V2C<br />

ocorreu a 23 cm da extremidade do reforço. Para a viga V1C esse tipo de análise ficou prejudicado<br />

devido a problemas na aquisição dos dados de extensometria dos pontos localizados na extremidade<br />

do reforço.<br />

A distribuição de tensões normais e tangenciais ao longo do reforço da viga V1C pode ser<br />

visualizada graficamente na Figura 12. A máxima tensão normal, 123,9kN/cm 2 , foi registrada por meio<br />

do extensômetro 18, ou seja, a 21,8 cm da seção do meio do vão. Esse valor de tensão equivale a<br />

uma deformação no reforço igual a 5,30‰. Do perfil de tensões verificam-se valores significativos de<br />

tensões normais (da ordem de 45 kN/cm 2 ) e a concentração dos maiores valores de tensões<br />

tangenciais na extremidade do reforço para 75% e 100% da força última.<br />

Tensões normais (kN/cm 2 )<br />

135<br />

120<br />

105<br />

90<br />

75<br />

60<br />

45<br />

30<br />

15<br />

0<br />

25%<br />

50%<br />

75%<br />

100%<br />

51,2<br />

104,1<br />

92,5 95,6<br />

83,7<br />

112,8<br />

123,9<br />

122,8<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Tensões tangenciais (kN/cm 2 )<br />

0,22<br />

0,20<br />

0,18<br />

0,16<br />

0,14<br />

0,12<br />

0,10<br />

0,08<br />

0,06<br />

0,04<br />

0,02<br />

0,00<br />

25%<br />

50%<br />

75%<br />

100%<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Distância a partir da extremidade (cm)<br />

Distância a partir da extremidade (cm)<br />

(a) Tensões normais<br />

(b) Tensões tangenciais<br />

Figura 12 – Distribuição de tensões normais e tangenciais na viga V1C.<br />

Na viga V2C a distribuição de tensões normais e tangenciais ao longo do reforço (Figura 13)<br />

indica valores máximos de 189,1 kN/cm 2 e 0,20 kN/cm 2 , respectivamente. A tensão normal máxima,<br />

que equivale a uma deformação do reforço de 8,08‰, foi registrada pelo extensômetro 18 e a tensão<br />

tangencial máxima foi dada pelo extensômetro 11.<br />

Para visualizar a interação entre as tensões normais e tangenciais no reforço das vigas V1C e<br />

V2C, na Figura 14 são mostrados os diagramas normalizados dessas tensões. Para a viga V2C, os<br />

valores de tensões nessa figura referem-se à força última, enquanto que para a viga V1C referem-se a<br />

75% da força última.<br />

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Reforço à flexão de vigas de concreto armado com manta de Polímero Reforçado com Fibras de Carbono (PRFC)<br />

49<br />

Pelas figuras observa-se que as tensões normais na ruína evoluem a partir da extremidade do<br />

reforço para o meio do vão, enquanto que os maiores valores das tensões tangenciais tendem a se<br />

localizar próximos à extremidade do reforço. É importante comentar que os valores de tensões<br />

tangenciais variam de acordo com a inclinação da reta que une dois pontos adjacentes de tensões<br />

normais. Os picos nas curvas de tensões tangenciais estão associados a maiores variações nas<br />

deformações específicas normais.<br />

Tensões normais (kN/cm 2 )<br />

210<br />

195<br />

180<br />

165<br />

150<br />

135<br />

120<br />

105<br />

90<br />

75<br />

60<br />

45<br />

30<br />

15<br />

0<br />

72,7<br />

48,6<br />

33,2<br />

25%<br />

50%<br />

75%<br />

100%<br />

104,7<br />

168,7<br />

129,7<br />

181,8<br />

158,1<br />

183,9<br />

189,1<br />

176,1<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Distância a partir da extremidade (cm)<br />

(a) Tensões normais<br />

Tensões tangenciais (kN/cm 2 )<br />

0,22<br />

0,20<br />

0,18<br />

0,16<br />

0,14<br />

0,12<br />

0,10<br />

0,08<br />

0,06<br />

0,04<br />

0,02<br />

0,00<br />

25%<br />

50%<br />

75%<br />

100%<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Distância a partir da extremidade (cm)<br />

(b) Tensões tangenciais<br />

Figura 13 – Distribuição de tensões normais e tangenciais na viga V2C.<br />

Para 75% da força última, a resposta da viga V1C em termos de distribuição de tensões na<br />

extremidade do reforço, mostra um acentuado aumento da tensão tangencial e uma variação<br />

significativa das tensões normais nessa região. Esse nível de carregamento, que equivale a um P =<br />

110,5 kN é pouco inferior ao valor da força (117kN) na qual se observou o surgimento da fissura na<br />

extremidade do reforço.<br />

A concentração de tensões tangenciais e de valores não desprezíveis de tensões normais na<br />

extremidade do reforço, condiz com o modo de ruína observado na viga V1C, ou seja, surgimento e<br />

propagação de uma fissura na extremidade do reforço.<br />

Na ruína da viga V2C a distribuição de tensões foi diferente da constatada na viga V1C. De<br />

uma maneira geral, as tensões na extremidade do reforço na ruína da viga V2C foram menores do que<br />

as tensões observadas na ruína da viga V1C: as tensões normais atingiram valores de no máximo<br />

50% dos registrados na viga V1C e os maiores valores de tensões tangenciais deram-se um pouco<br />

mais afastados da extremidade do reforço.<br />

Nota-se então que, mesmo com o surgimento da fissura na extremidade do reforço da viga<br />

V2C, não se alterou a distribuição de tensões nessa região. Esse fato é totalmente diferente do<br />

constatado com a viga V1C e é uma conseqüência da presença do substrato de transição na viga V2C.<br />

Na Figura 15 distribuição de tensões normais ao longo do reforço das vigas é comparada para<br />

um mesmo nível de carregamento aplicado. Vê-se que até a força de 90 kN, a configuração de tensões<br />

no reforço das duas vigas é bem semelhante e nenhuma diferença significativa é notada.<br />

Para a força de 130 kN, as tensões no reforço da viga de concreto armado (extensômetros 17,<br />

18 e 19 – os três mais distantes da extremidade do reforço) passam a ser mais elevadas do que no<br />

reforço da viga que foi reconstituída e reforçada. Já para a força de 140 kN, a diferença nos valores<br />

das tensões é aumentada e prolongada agora até o extensômetro 13 (localizado na distância de 40<br />

cm). A comparação entre as tensões na extremidade do reforço ficou prejudicada, pois, a leitura de<br />

deformações no reforço da viga V1C a partir da força de 113 kN ficou prejudicada.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


50<br />

Vladimir José Ferrari & João Bento de Hanai<br />

Tensões normalizadas<br />

1,0<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,0<br />

Normais<br />

Tangenciais<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Distância a partir da extremidade (cm)<br />

Tensões normalizadas<br />

1,0<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,0<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Distância a partir da extremidade (cm)<br />

Normais<br />

Tangenciais<br />

(a) Viga V1C<br />

(b) Viga V2C<br />

Figura 14 – Comparativo entre tensões normalizadas.<br />

Como exposto, a diferença nos valores de tensões no reforço das vigas V1C e V2C aumenta<br />

com o aumento do carregamento. Tal fato mostra que, o efeito do substrato de transição é mais<br />

acentuado com o avanço da fissuração na viga reforçada.<br />

120<br />

Tensão normal (kN/cm 2 )<br />

105<br />

90<br />

75<br />

60<br />

45<br />

30<br />

15<br />

V1C<br />

V2C<br />

140kN<br />

130kN<br />

90kN<br />

50kN<br />

0<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Distância a partir da extremidade (cm)<br />

Figura 15 – Comparação da distribuição de tensões normais no reforço.<br />

4.5 Análise numérica<br />

4.6.1 Modelo numérico bidimensional não-linear<br />

Os comportamentos das vigas V1A, V1C e V2C foram simulados de maneira não-linear<br />

utilizando-se o programa computacional de elementos finitos Diana versão 9.1, o qual vem sendo<br />

desenvolvido por engenheiros civis da TNO Building and Construction Research, na Holanda, desde<br />

1972.<br />

Na Figura 16 apresenta-se a malha de elementos finitos bidimensional juntamente com a<br />

disposição das armaduras na discretização das vigas. A malha foi elaborada utilizando-se elementos<br />

quadráticos de oito nós do tipo CQ16M. As barras longitudinais e transversais da armadura das vigas<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


Reforço à flexão de vigas de concreto armado com manta de Polímero Reforçado com Fibras de Carbono (PRFC)<br />

51<br />

foram modeladas discretamente através de elementos especiais denominados embedded<br />

reinforcement.<br />

Na Figura 17 mostra-se a aplicação do carregamento, o apoio, a presença do reforço externo e<br />

a condição de simetria do modelo. A aderência entre a armadura e o concreto foi considerada perfeita,<br />

eliminando-se a possibilidade de ruptura por escorregamento das barras. Os nós dos elementos finitos<br />

representativos do reforço externo foram conectados aos nós adjacentes dos elementos de concreto<br />

simulando uma aderência perfeita entre os materiais. O carregamento foi estabelecido pela imposição<br />

de uma força concentrada do tipo displace.<br />

Figura 16 – Malha de elementos finitos e disposição das armaduras.<br />

apoio do 1ºgrau<br />

carregamento<br />

reforço<br />

seção central<br />

Figura 17 – Condições de contorno e força concentrada.<br />

Os parâmetros considerados no programa Diana e as propriedades mecânicas do concreto e<br />

da armadura inferior utilizadas na análise não-linear das vigas principais V1A, V1C e V2C estão<br />

representadas na Tabela 6.<br />

Tabela 6 – Materiais e parâmetros do modelo numérico das vigas V1A, V1C e V2C<br />

Concreto<br />

Aço<br />

Parâmetros<br />

Vigas<br />

V1A V1C V2C<br />

Módulo de elasticidade 30.034 MPa 26.553 MPa 29.380 MPa<br />

Coeficiente de Poisson 0,20 0,20 0,20<br />

Resistência à tração 2,04 MPa 1,93 MPa 2,06 MPa<br />

Energia de fratura 0,151 N/mm 0,123 N/mm 0,155 N/mm<br />

Largura da banda de fissuração 19,61 mm 20,12 mm 20,03 mm<br />

Resistência à compressão 37,84 MPa 33,95 MPa 38,68 MPa<br />

Comportamento à tração<br />

Modelo exponencial<br />

Módulo de elasticidade 210.921 MPa 199.677 MPa 210.921 MPa<br />

Tensão de escoamento 547,99 MPa 532,44 MPa 547,99 MPa<br />

Comportamento após escoamento Modelo de plasticidade sem encruamento<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


52<br />

Vladimir José Ferrari & João Bento de Hanai<br />

Os valores de resistência à tração (tensile strength) considerados para o concreto, foram os<br />

obtidos segundo o ACI 318M (89) por meio da equação: 0,332⋅(f c ) 1/2 . Os valores da largura da banda<br />

de fissuração (crack bandwidth) foram tomados considerando-se a raiz quadrada da área do elemento<br />

finito, conforme recomendação existente no manual do próprio Diana (Diana User`s Manual).<br />

A presença do substrato de transição na viga V2C foi estabelecida por meio de uma superfície<br />

plana localizada no banzo tracionado do modelo. A aderência entre o substrato de transição e a<br />

superfície representativa do concreto adjacente foi considerada perfeita. As propriedades mecânicas<br />

do substrato de transição da viga V2C foram tomadas a partir dos valores da caracterização do<br />

compósito cimentício e estão indicadas na Tabela 7.<br />

Tabela 7 – Materiais e parâmetros referentes ao substrato de transição da viga V2C<br />

Modelo numérico V2C - Compósito cimentício CPM1A2C<br />

Linear Elasticity:<br />

Isotropic, Young´s modulus = 28.700 MPa, Poisson´s ratio = 0,20<br />

Static Nonlinearity:<br />

Concrete and Brittle Materials, Total Strain Rotating Crack, Direct Input, Exponential<br />

Softening in Tension, Ideal in compression, Tensile strength = 2,24 MPa, Mode-I tensile<br />

fracture energy = 0,526 N.mm/mm 2 , Crack bandwidth = (área do elemento finito) 0,5 =<br />

20,03 mm, Compressive strength = 28,07 MPa.<br />

Os valores de Tensile strength aqui assumidos para a resistência à tração do compósito<br />

cimentício foram obtidos por meio da RILEM TC 162-TDF (2002b) através da equação: 0,6⋅f fct,L . O<br />

comportamento pós-pico do compósito cimentício foi representado por um diagrama do tipo<br />

Exponential softening in tension, tendo no elevado valor atribuído a energia de fraturamento, a<br />

indicação da presença das fibras e microfibras de aço. A energia de fratura foi calculada até um<br />

deslocamento vertical do corpo-de-prova prismático igual a δ = 2,65 mm.<br />

4.6.2 Resultados da análise numérica<br />

Na Figura 18 as curvas força versus deslocamento vertical no meio do vão, obtidas<br />

numericamente são comparadas com os resultados experimentais. Da Figura 19-a nota-se que na fase<br />

elástica, a curva numérica da viga de referência é idêntica à experimental e após a fissuração do<br />

concreto, a numérica mostra-se mais rígida. Já na fase de plastificação da armadura, ambas as curvas<br />

voltam a se aproximar.<br />

Para a viga de referência, a força de primeira fissura obtida via MEF é de 24,60kN, a qual é<br />

17% mais elevada do que a força de 21,01 kN, de primeira fissura, extraída dos resultados<br />

experimentais. Para a força de 85,3 kN ocorre o escoamento da armadura, representado pela queda<br />

acentuada da rigidez da curva numérica. Esse valor supera o obtido experimentalmente (79,80 kN) em<br />

apenas 6,89%.<br />

Da Figura 18-b observa-se que o comportamento das curvas, numérica e experimental, é bem<br />

semelhante. Após a fissuração do concreto e até a força de 75 kN, a curva numérica apresenta-se um<br />

pouco mais rígida do que a experimental. Após esse valor de força as curvas voltam a evoluir de<br />

maneira bem semelhante até aproximadamente 128,62 kN, a partir daí então, e até a ruína, a curva<br />

numérica evolui com uma rigidez menor do que a da curva experimental.<br />

A primeira fissura do concreto obtida via MEF ocorreu com P = 26,96 kN, sendo esse valor<br />

7,15% superior ao obtido experimentalmente. O escoamento da armadura de acordo com o modelo<br />

numérico deu-se para uma força de 122,4 kN, ou seja, apenas 3,33% acima do valor experimental que<br />

é de 118,45 kN. Já o valor da força correspondente a ruína apontada pelo modelo numérico é de<br />

134,34 kN, enquanto que a experimental é de 147,37 kN.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


Reforço à flexão de vigas de concreto armado com manta de Polímero Reforçado com Fibras de Carbono (PRFC)<br />

53<br />

Da Figura 18-c verifica-se que até o escoamento da armadura, a curva numérica mostra maior<br />

rigidez do que a curva experimental. Após o escoamento da armadura, a curva numérica passa a<br />

apresentar maiores valores de deslocamentos verticais do que a curva experimental, dentro de um<br />

mesmo nível de carregamento.<br />

O surgimento da primeira fissura de acordo com os resultados experimentais deu-se para uma<br />

força de 34,92 kN, enquanto que pelo modelo numéricos, deu-se para uma força de 32,16 kN. O<br />

escoamento da armadura conforme os resultados experimentais ocorreu para uma força de 133,37 kN,<br />

ao passo que o modelo numérico indicou escoamento para uma força de 129,64 kN. Esse valor é<br />

2,88% inferior ao obtido experimentalmente. Quanto à ruína da viga V2C, o modelo numérico indicou<br />

um valor de força de 182,9 kN, ao passo que o valor de força experimental foi de 196,35 kN.<br />

De um modo geral, as curvas numéricas de força versus deslocamento vertical no meio do vão<br />

da viga de referência e das vigas reforçadas apresentaram boa concordância com as curvas<br />

experimentais. Na fase elástica o comportamento das vigas foi praticamente idêntico, com exceção da<br />

curva do modelo V2C-Num, que se mostrou um pouco mais rígida que a curva experimental, mesmo<br />

nessa fase de carregamento.<br />

Até o escoamento da armadura as curvas numéricas mostraram-se mais rígidas que as curvas<br />

experimentais. Já após o escoamento da armadura, os deslocamentos verticais representados pelos<br />

modelos das vigas reforçadas foram mais acentuados do que os resultados experimentais.<br />

Força P (kN)<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

V1A - Exp<br />

V1A - Num<br />

0 5 10 15 20 25 30 35<br />

Deslocamento vertical (mm)<br />

(a) Viga V1A<br />

Força P (kN)<br />

150<br />

135<br />

120<br />

105<br />

90<br />

75<br />

60<br />

45<br />

30<br />

15<br />

0<br />

V1C - Exp<br />

V1C - Num<br />

0 5 10 15 20 25<br />

Deslocamento vertical (mm)<br />

(b) Viga V1C<br />

Força P (kN)<br />

210<br />

195<br />

180<br />

165<br />

150<br />

135<br />

V2C-Exp<br />

120<br />

V2C - Num<br />

105<br />

90<br />

75<br />

60<br />

45<br />

30<br />

15<br />

0<br />

0 5 10 15 20 25 30 35<br />

Deslocamento vertical (mm)<br />

(c) Viga V2C<br />

Figura 18 – Comparação entre curvas P-δ numéricas e experimentais.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


54<br />

Vladimir José Ferrari & João Bento de Hanai<br />

Na Figura 19 são estabelecidas comparações da evolução das deformações no reforço obtidas<br />

experimentalmente com os resultados extraídos da análise numérica. Os valores de deformações<br />

referem-se à seção central da viga.<br />

Para a viga V1C, os valores de deformações numéricas do reforço no meio do vão<br />

correlacionam-se muito bem com os valores experimentais. Mesmo após a fissuração do concreto e o<br />

escoamento da armadura, a evolução das deformações numéricas representa satisfatoriamente os<br />

valores experimentais. Nota-se que até o escoamento da armadura, a curva numérica apresenta-se<br />

ligeiramente mais inclinada do que as experimentais. Após o escoamento da armadura, as<br />

deformações numéricas do reforço evoluem mais pronunciadamente e a ruína ocorre logo em seguida.<br />

Da Figura 19-b, nota-se que o modelo numérico representa bem a evolução das deformações<br />

experimentais no reforço da viga V2C. Antes do escoamento da armadura, a curva numérica<br />

apresenta-se mais inclinada do que a curva experimental. Mesmo após o escoamento da armadura, a<br />

curva numérica evoluiu semelhantemente às deformações experimentais.<br />

Força P (kN)<br />

150<br />

135<br />

120<br />

105<br />

90<br />

75<br />

60<br />

45<br />

30<br />

15<br />

0<br />

ext19<br />

ext20<br />

ext21<br />

Numérico<br />

0 1 2 3 4 5 6<br />

Deformação (‰)<br />

(a) Viga V1C<br />

Força P (kN)<br />

200<br />

180<br />

160<br />

140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

ext.19<br />

ext.20<br />

Numérico<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8<br />

Deformação (‰)<br />

(b) Viga V2C<br />

Figura 19 – Deformações numéricas e experimentais no meio do reforço.<br />

5 CONCLUSÕES<br />

A pesquisa realizada teve como objetivo geral propor e examinar uma técnica construtiva<br />

inovadora para reforço à flexão de vigas de concreto armado. Essa técnica compreende um processo<br />

de prévia recuperação das vigas com um compósito de alto desempenho à base de cimento Portland e<br />

fibras curtas de aço, destinado a constituir o aqui chamado “substrato de transição”.<br />

Após a realização de diversas etapas de análise experimental e teórica, pode-se concluir que a<br />

técnica proposta – ainda que passível de novos aperfeiçoamentos, como qualquer outra técnica –<br />

mostra-se eficiente tanto na reconstituição do banzo tracionado de vigas de concreto armado como na<br />

melhoria do desempenho da viga como um todo, em particular na exploração mais eficaz das<br />

propriedades resistentes do reforço com mantas de PRFC.<br />

O desenvolvimento da pesquisa não se limitou ao simples teste e comparação de vigas<br />

reforçadas e não-reforçadas, mas procurou abranger diversos fundamentos e avaliações científicas<br />

que focalizaram o problema em questão. Da análise conjunta de todos os resultados obtidos, é que se<br />

pôde concluir que o objetivo pretendido foi alcançado. Por fim, destaca-se uma síntese das conclusões<br />

parciais e comentários complementares sobre cada estudo específico elaborado:<br />

• a adição das microfibras de aço às fibras convencionais, potencializa uma maior contribuição<br />

da matriz para a resistência do compósito e a melhoria do mecanismo de transferência de tensões da<br />

matriz para as fibras;<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


Reforço à flexão de vigas de concreto armado com manta de Polímero Reforçado com Fibras de Carbono (PRFC)<br />

55<br />

• com a fissuração da matriz, a transferência de tensões foi facilitada pelas microfibras de aço<br />

que, em grande quantidade na matriz, condicionaram o avanço das fissuras à elevação do nível de<br />

carregamento;<br />

• tanto compósitos de argamassa quanto de microconcreto podem ser dosados para obtenção<br />

de propriedades satisfatórias para reconstituição do banzo tracionado das vigas de concreto armado.<br />

No entanto, a presença de agregados graúdos, em geral, é uma característica vantajosa para o<br />

compósito de microconcreto em relação ao de argamassa. O agregado graúdo melhora a aderência<br />

da manta de PRFC ao substrato da viga;<br />

• o reforço à flexão de vigas por meio da colagem externa de manta de PRFC a um substrato<br />

de transição constitui uma estratégia eficiente e de aplicação prática na Engenharia;<br />

• apesar de se ter analisado, nas últimas etapas experimentais da pesquisa, um único caso<br />

(viga V2C), ficou demonstrado que a reconstituição prévia do banzo tracionado com um compósito<br />

cimentício de alto desempenho à base de macro e microfibras de aço evita a rápida propagação de<br />

fissura crítica na extremidade do reforço e retarda o desprendimento prematuro da manta. Com a<br />

presença de um material de maior resistência ao fraturamento no banzo tracionado da viga, as fissuras<br />

são mais distribuídas e de menor abertura ao longo da extensão do reforço;<br />

• além de expressivo incremento na resistência, a colagem da manta de PRFC a um substrato<br />

de transição leva a significativo aumento da rigidez da viga em relação a uma viga sem substrato de<br />

transição;<br />

6 AGRADECIMENTOS<br />

Agradecemos à FAPESP e à CAPES pelo apoio financeiro, sem o qual esta pesquisa não<br />

poderia ter sido realizada. Agradecemos também à Maccaferri – América Latina pela produção das<br />

microfibras de aço.<br />

7 REFERÊNCIAS<br />

BEBER, A. J. Comportamento estrutural de vigas de concreto armado reforçadas com<br />

compósitos de fibra de carbono. 2003. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do<br />

Sul, Porto Alegre, 2003.<br />

DIANA – Finite Element Analysis - User`s Manual release 9. Delft, The Netherlands.<br />

FERRARI, V. J. Reforço à flexão em vigas de concreto armado com manta de fibra de carbono:<br />

mecanismos de incremento de ancoragem. 2002. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de<br />

Santa Catarina, Florianópolis, 2002.<br />

JUVANDES, L. Reforço e reabilitação de estruturas de betão usando materiais compósitos de<br />

“CFRP”. 1999. Tese (Doutoramento) – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP),<br />

Departamento de Engenharia Civil, Porto, 1999.<br />

LEUNG, C.K.Y. FRP debonding from a concrete substrate: Some recent findings against conventional<br />

belief. Cement & Concrete Composites, v. 28, p. 742-748, June, 2006.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


56<br />

Vladimir José Ferrari & João Bento de Hanai<br />

REIS, A. P. A. Reforço de vigas de concreto armado submetidas a pré-carregamento e ações de<br />

longa duração com aplicação de concretos de alta resistência e concretos com fibras de aço.<br />

2003. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, 2003.<br />

RILEM TC 162-TDF. Test and design methods for steel fibre reinforced concrete. Bending test.<br />

Materials and Structures/Matériaux et Constructions, v. 35, p. 579-582, Nov., 2002a.<br />

RILEM TC 162-TDF. Test and design methods for steel fibre reinforced concrete. Design of steel fibre<br />

reinforced concrete using the σ-w method: principles and applications. Materials and<br />

Structures/Matériaux et Constructions, v. 35, p. 262-278, June, 2002b.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 37-56, 2009


ISSN 1809-5860<br />

ESTUDO DE CÁLICE DE FUNDAÇÃO COM ÊNFASE NOS ESFORÇOS NAS<br />

PAREDES TRANSVERSAIS DO COLARINHO<br />

Vinicius César Pereira Nunes 1 & Mounir Khalil El Debs 2<br />

Resumo<br />

Este trabalho apresenta uma análise da ligação pilar-fundação por meio de cálice em estruturas de concreto prémoldado,<br />

focando os esforços nas paredes transversais do colarinho. No programa experimental foram ensaiados<br />

dois protótipos submetidos à flexão com grande excentricidade: um com interface pilar-colarinho lisa e o outro<br />

com interface rugosa por meio de chaves de cisalhamento. Foi adotado um detalhamento diferenciado para as<br />

armaduras verticais principais concentrando as mesmas próximas aos cantos, bem como foi adotada, para o<br />

colarinho, uma espessura inferior à recomendada pela literatura técnica. Com os resultados experimentais foi<br />

possível analisar a resistência dos protótipos, as deformações das armaduras e os deslocamentos das paredes.<br />

Foi realizada uma análise dos resultados experimentais com um modelo de cálculo da literatura técnica, no que<br />

diz respeito às forças resultantes nas armaduras verticais principais e nas armaduras horizontais principais<br />

situadas nas paredes transversais do colarinho, considerando duas situações distintas de comportamento para as<br />

paredes transversais: flexo-tração e tração. Em função dos resultados foi verificado que as armaduras verticais<br />

situadas próximo aos cantos contribuíram efetivamente para a resistência do protótipo com interface lisa.<br />

Comprovou-se que as paredes transversais foram submetidas a uma flexo-tração e que o modelo teórico aplicado<br />

considerando 15% de flexão e 85% de tração apresenta os melhores resultados, se comparados com os valores<br />

obtidos experimentalmente.<br />

Palavras-chave: Concreto pré-moldado. Cálice de fundação. Colarinho. Paredes transversais. Chave de<br />

cisalhamento.<br />

STUDY OF THE SOCKET BASE FOUNDATION WITH EMPHASIS ON THE<br />

EFFORTS OF TRANSVERSE WALLS<br />

Abstract<br />

This research presents an analysis of socket base connections of precast concrete structures, with emphasis on the<br />

efforts of transverse walls. In the experimental program were tested two prototypes subjected to bending with<br />

great eccentricity: one with smooth interface, and other with rough interface through shear keys. It adopted a<br />

different detail for main vertical reinforcement, concentrating them around the corner, and was adopted for the<br />

socket, a thickness small than that recommended by the technical literature. Based on experimental results were<br />

performed the analysis of the strength of prototypes, the deformations of the reinforcement, and the deflection of<br />

the walls. It was performed an analysis of experimental results with a design model of the technical literature<br />

regarding to the forces resulting in main vertical and horizontal reinforcement located on the transverse walls of<br />

socket, considering two different situations of behavior to transverse walls: bending-tension and tension.<br />

Analyzing the results, it was verified that the vertical reinforcement located near the corners effectively<br />

contributed to the strength of the prototype with smooth interface. It has been proved that the walls were<br />

subjected to a bending tension and that the theoretical model applied with 15% of bending and 85% of tension<br />

gives the best results, when compared with the values obtained experimentally.<br />

Keywords: Precast concrete. Socket foundation. Pedestal walls. Transverse walls. Shear key.<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, vcesar@sc.usp.br, vinicius_civil@yahoo.com.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, mkdebs@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


58<br />

Vinicius César Pereira Nunes & Mounir Khalil El Debs<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Com o avanço da tecnologia, a busca pela otimização dos processos construtivos assume<br />

fundamental importância. O sistema estrutural em concreto pré-moldado é uma opção bastante<br />

interessante quando se busca racionalização da construção.<br />

Em relação ao comportamento estrutural, as ligações entre os elementos de concreto prémoldado<br />

são de fundamental importância para o bom funcionamento dessas estruturas, já que<br />

possuem grande influência na rigidez das mesmas.<br />

A ligação pilar fundação por meio de cálice é uma alternativa bastante utilizada no Brasil e em<br />

todo o mundo, pois apresenta uma série de vantagens, dentre as quais podemos destacar a facilidade<br />

e rapidez na montagem, boa capacidade de transmissão de esforços, entre outras.<br />

A ligação por meio de cálice é feita embutindo certo trecho do pilar em um nicho no elemento<br />

estrutural de fundação, que possibilite a acomodação do pilar. São utilizados dispositivos de<br />

centralização para possibilitar o correto posicionamento, em planta e em nível, do pilar. O prumo e a<br />

fixação temporária são garantidos utilizando cunhas de madeira, por exemplo.<br />

Posteriormente, a ligação é efetivada preenchendo-se o espaço vazio entre o pilar e o cálice<br />

com graute ou concreto. A seguir, na Figura 1, são apresentadas as variantes do cálice de fundação.<br />

Nesta pesquisa foi adotada a variante do cálice de fundação com colarinho externo sobre sapata.<br />

Figura 1 – Formas do cálice de fundação - EL DEBS (2000) - adaptada de CANHA(2004).<br />

O objetivo principal desta pesquisa consiste em dar continuidade ao estudo da ligação pilarfundação<br />

por meio de cálice, em estruturas de concreto pré-moldado, iniciado por Canha (2004) na<br />

Escola de Engenharia de São Carlos - EESC <strong>USP</strong>, avançando no conhecimento a respeito deste tipo<br />

de ligação. Para isto foram realizados ensaios em modelos físicos buscando analisar o<br />

comportamento experimental da ligação.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


Estudo de cálice de fundação com ênfase nos esforços nas paredes transversais do colarinho<br />

59<br />

Mais especificamente foi analisado o comportamento da ligação no que se refere às paredes<br />

transversais ao sentido da solicitação, bem como se avaliou o comportamento das armaduras verticais<br />

situadas nas proximidades da intersecção entre as paredes transversais e longitudinais.<br />

Confrontaram-se os resultados experimentais das resultantes nas armaduras verticais principais e<br />

horizontais principais com os valores calculados pelo modelo de projeto proposto por Canha (2004).<br />

Também foi realizada a análise da transmissão das tensões de compressão nas paredes transversais<br />

do cálice com interface pilar colarinho-rugosa.<br />

2 MODELOS ANALISADOS EXPERIMENTALMENTE<br />

Para este trabalho, optou-se por construir um modelo com interface pilar-colarinho lisa (IL5) e<br />

comprimento de embutimento igual a 2,0h, e outro com interface rugosa (IR4) e comprimento de<br />

embutimento igual a 1,6h. A mudança em termos de geometria do cálice, deveu-se à redução da<br />

espessura da parede do colarinho (h c = h int /3,5 = 15cm) ao contrário do valor mínimo recomendado por<br />

Leonhardt & Mönnig (1977) (h c = h int /3 = 17cm). A Tabela 1 e a Figura 2 apresentam, respectivamente,<br />

um resumo das características geométricas e a nomenclatura da geometria dos modelos físicos<br />

contemplados, inclusive os ensaiados por Canha (2004) e Jaguaribe Jr. (2005).<br />

Tabela 1 – Características geométricas dos modelos ensaiados<br />

Modelo<br />

Interface<br />

e<br />

(cm)<br />

l emb<br />

(cm)<br />

h c<br />

(cm)<br />

a ch<br />

(graus)<br />

h ch<br />

(cm)<br />

l ch<br />

(cm)<br />

e’ ch<br />

(cm)<br />

IL1 Lisa 185 80 17 - - -<br />

IL2 Lisa 185 80 17 - - -<br />

IL3 Lisa 120 80 17 - - -<br />

IL4 Lisa 120 64 17 - - -<br />

IL5 Lisa 120 80 15 - - -<br />

IR1 Rugosa 120 64 17 45 1 6 4<br />

IR2 Rugosa 120 64 17 45 1 3 1<br />

IR3 Rugosa 120 48 17 45 1 6 4<br />

IR4 Rugosa 120 64 15 45 1 6 4<br />

A geometria dos modelos foi definida a partir de um pilar de seção transversal quadrada, de<br />

seção 40x40 cm. Os comprimentos de embutimento adotados foram os mínimos recomendados pela<br />

NBR 9062 (1985); 2,0h para interface lisa e 1,6h para interface rugosa, bem como a espessura da<br />

parede do colarinho (h c ), foi adotada como sendo h c = h int /3,5 = 15cm. O dimensionamento das<br />

armaduras do colarinho foi realizado segundo recomendações de Leonhardt & Mönnig (1977) e NBR<br />

9062 (1985). Em relação à excentricidade, adotou-se o valor de 1,20 m nos modelos IL5 e IR4.<br />

Em relação à adesão na interface pilar colarinho, resolveu-se retirá-la, com a aplicação de<br />

desmoldante na face interna do colarinho e face externa do pilar, na região de embutimento. Esse<br />

procedimento é perfeitamente plausível, pois não se garante uma perfeita adesão entre os elementos<br />

estruturais no caso de uma situação real de projeto. Portanto, com a retirada da adesão, apenas a<br />

parcela do atrito é mobilizada na interface pilar-colarinho.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


60<br />

Vinicius César Pereira Nunes & Mounir Khalil El Debs<br />

Figura 2 – Nomenclatura das dimensões adotadas para os modelos físicos.<br />

As dimensões das chaves de cisalhamento do modelo rugoso foram adotadas como<br />

sendo as mínimas recomendadas pela NBR 9062 (1985) (1cm a cada 10cm de junta).<br />

2.1 Características dos protótipos analisados<br />

A seguir são apresentadas as principais propriedades dos modelos físicos ensaiados, bem<br />

como são destacadas as modificações em relação ao detalhamento e instrumentação dos mesmos.<br />

2.1.1 Dimensionamento das armaduras<br />

O dimensionamento das armaduras do colarinho dos protótipos foi realizado com base no<br />

modelo de Leonhardt & Mönnig (1977), que é o mais utilizado na prática atual de projetos, bem como<br />

seguiu-se as recomendações da NBR 9062 (1985) e El Debs (2000).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


Estudo de cálice de fundação com ênfase nos esforços nas paredes transversais do colarinho<br />

61<br />

Com o objetivo de analisar o comportamento da região dos vértices das paredes do colarinho,<br />

a armadura vertical secundária foi posicionada próximo a esta região, de maneira que a mesma<br />

funcione como armadura vertical principal.<br />

Com o objetivo de facilitar a montagem e instrumentação dos Modelos, utilizou-se o mesmo<br />

detalhamento das armaduras horizontais adotado por Jaguaribe Jr. (2005), no qual é disposta uma<br />

armadura perimetral externa, complementada por quatro barras internas em forma de “U”, por<br />

camada.<br />

As armaduras do pilar foram dimensionadas para uma solicitação à flexão normal composta,<br />

com grande excentricidade, considerando a máxima capacidade do atuador, e a excentricidade de<br />

1,85m. Portanto adotou-se o mesmo detalhamento e armaduras utilizados por Canha (2004).<br />

2.1.2 Instrumentação das armaduras<br />

Com o objetivo de analisar o comportamento do cálice do protótipo IL5, foram dispostos<br />

extensômetros apenas nas armaduras principais do colarinho. Portanto, dispuseram-se extensômetros<br />

nas armaduras verticais principais, na posição de ligação colarinho-base da fundação, de maneira a<br />

avaliar o funcionamento dessas armaduras. De modo a avaliar o comportamento das armaduras<br />

verticais secundárias, foram posicionados extensômetros na mesma posição referente às armaduras<br />

verticais principais, inclusive nas que se situam próximo aos vértices.<br />

Com relação às armaduras horizontais, foram instrumentadas tanto as armaduras situadas<br />

nas paredes transversais, para verificar a flexão dessas paredes, como as situadas nas paredes<br />

longitudinais do protótipo IL5, para obtenção da força máxima transmitida por esta armadura. Como na<br />

pesquisa realizada por Canha (2004), verificou-se a presença de esforços de flexo-tração significativos<br />

na parede transversal frontal, resolveu-se aumentar o número de pontos de instrumentação das<br />

armaduras horizontais principais. A mesma precaução foi tomada em relação às armaduras<br />

horizontais principais da parede transversal posterior, embora para os protótipos com interface lisa a<br />

flexão desta parede não seja significativa.<br />

Os transdutores de deslocamento foram posicionados de maneira a avaliar a deformabilidade<br />

dos protótipos como um todo. Utilizou-se a mesma quantidade em relação aos modelos analisados<br />

por Jaguaribe Jr. (2005), todavia o posicionamento da segunda camada foi alterado, passando a se<br />

localizar na metade do comprimento de embutimento.<br />

Com o objetivo de avaliar a forma de dissipação das tensões de compressão das paredes<br />

transversais do colarinho para a base da fundação do protótipos com interface rugosa, foram<br />

dispostos extensômetros em três níveis, nas armaduras verticais principais e nas armaduras verticais<br />

secundárias centrais das paredes transversais do colarinho. Devido à limitação de pontos de leitura do<br />

sistema de aquisição de dados (aproximadamente 70 pontos), foi possível apenas instrumentar a<br />

camada inferior da armadura vertical secundária de uma das paredes longitudinais do colarinho.<br />

Também por esse motivo, não objetivou-se analisar o comportamento das armaduras verticais<br />

secundárias, situadas próximo aos vértices do cálice.<br />

Com relação às armaduras horizontais do protótipo IR4, foi instrumentada apenas uma<br />

camada das armaduras horizontais principais, visto que na pesquisa realizada por Canha (2004),<br />

comprovou-se que as deformações nos níveis superior e inferior dessa armadura não variam<br />

significativamente. Com o objetivo de avaliar a flexão das paredes transversais nos níveis inferiores do<br />

comprimento de embutimento, foi instrumentada uma camada da armadura horizontal secundária.<br />

Como na pesquisa realizada por Canha (2004) verificou-se a presença de esforços de flexo-tração<br />

significativos nas duas paredes transversais, resolveu-se aumentar o número de pontos de<br />

instrumentação das armaduras horizontais principais.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


62<br />

Vinicius César Pereira Nunes & Mounir Khalil El Debs<br />

2.2 Dispositivos, equipamentos e instrumentos utilizados no ensaio dos protótipos<br />

Na Figura 3 apresenta-se o detalhamento do ensaio dos modelos físicos. Devido à limitação<br />

da altura de içamento, foi necessário tomar um cuidado especial quanto ao projeto das alças para içar<br />

os modelos no que diz respeito à altura desta, visto que, qualquer erro nesta altura poderia<br />

comprometer o posicionamento dos Modelos na base metálica de reação<br />

Figura 3 – Detalhamento do esquema de ensaio dos modelos físicos - Canha (2004).<br />

Na Tabela 2 são apresentadas as características dos equipamentos e extensômetros<br />

utilizados no ensaio dos Modelos. As especificações dos transdutores de deslocamento são<br />

apresentadas na Tabela 3.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


Estudo de cálice de fundação com ênfase nos esforços nas paredes transversais do colarinho<br />

63<br />

Tabela 2 – Especificações dos equipamentos e instrumentos utilizados<br />

Equipamento/<br />

instrumento<br />

Sistema de<br />

aquisição de dados<br />

de extensometria<br />

Máquina de ensaio<br />

servo-hidráulica<br />

Máquina hidráulica<br />

automática<br />

Extensômetros<br />

elétricos de<br />

resistência<br />

Extensômetro<br />

removível<br />

Marca Modelo Características Finalidade<br />

Vishay<br />

Measurements<br />

Group inc.<br />

INSTRON<br />

SYSTEM 500 - Aquisição automática de dados<br />

A1981Y-101<br />

INSTRON 8506<br />

Controle de<br />

deslocamento do<br />

pistão<br />

Controle de<br />

deslocamento do<br />

pistão<br />

ELE Autotest2000 Controle de força<br />

KYOWA<br />

Atuador servohidráulico<br />

KFG-5-120-<br />

C1-11<br />

MSI -<br />

GF=2,12<br />

Base de medida<br />

=20cm<br />

Aplicação do carregamento dos<br />

modelos<br />

Caracterização do concreto à<br />

compressão e das armaduras e<br />

chumbadores<br />

Caracterização do concreto à<br />

tração por comp. diametral e na<br />

flexão<br />

Medição das deformações do<br />

aço<br />

Medição do deslocamento do<br />

concreto para determinação do<br />

módulo de deformação<br />

Tabela 3 – Especificação dos transdutores de deslocamento utilizados<br />

Marca Finalidade Tipo<br />

KYOWA<br />

Medição dos<br />

deslocamentos<br />

DT10-D<br />

DT10-D<br />

DT10-D<br />

Base<br />

(mm)<br />

10<br />

20<br />

100<br />

Resolução<br />

(mm)<br />

0,003<br />

0,005<br />

0,02<br />

3 RESULTADOS EXPERIMENTAIS<br />

A seguir, são apresentados os resultados obtidos a partir da investigação experimental dos<br />

protótipos.<br />

3.1 Caracterização dos materiais<br />

Nas Tabelas 4 a 7 são apresentados os valores médios dos resultados obtidos nos ensaios de<br />

caracterização dos materiais utilizados nos protótipos. A idade do concreto refere-se ao tempo<br />

decorrido entre a moldagem do concreto e a data do ensaio. Vale salientar que os valores das<br />

propriedades mecânicas do concreto do pilar são referentes ao utilizado no protótipo IR4. A razão<br />

disso é o fato dos pilares terem sido moldados com o mesmo concreto, bem como os mesmos<br />

possuíam importância secundária nesta pesquisa.<br />

Tabela 4 – Propriedades mecânicas das armaduras<br />

F f ym (MPa) e ym (‰) f stm (MPa)<br />

6.3 592 2,82 719<br />

8.0 585 2,78 711<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


64<br />

Vinicius César Pereira Nunes & Mounir Khalil El Debs<br />

Tabela 5 – Propriedades mecânicas do concreto do cálice<br />

Protótipo<br />

f cm<br />

(MPa)<br />

f ctm<br />

(MPa)<br />

E cm<br />

(GPa)<br />

Idade<br />

(dias)<br />

IL5 35,5 3,13 30,02 118<br />

IR4 41,5 3,30 32,5 189<br />

Tabela 6 – Propriedades mecânicas do concreto da junta de preenchimento<br />

Protótipo<br />

f cm<br />

(MPa)<br />

f ctm<br />

(MPa)<br />

E cm<br />

(GPa)<br />

Idade<br />

(dias)<br />

IL5 59,9 4,10 39,1 118<br />

IR4 64,5 4,15 40,5 189<br />

Tabela 7 – Propriedades mecânicas do concreto do pilar<br />

Protótipo<br />

f cm<br />

(MPa)<br />

f ctm<br />

(MPa)<br />

E cm<br />

(GPa)<br />

Idade<br />

(dias)<br />

IR4 46,64 7,10 40,5 189<br />

3.2 Resultados dos ensaios dos protótipos<br />

Em relação à capacidade de transmissão de esforços, como o pilar foi dimensionado para a<br />

capacidade máxima do atuador (de tal maneira que a ruptura ocorresse no cálice), a resistência dos<br />

dois Modelos foi determinada pela força última absorvida pelo cálice de fundação, com predominância<br />

do escoamento das armaduras verticais principal e secundária, situadas na parede 2 e nas paredes<br />

longitudinais 3 e 4, como será explicitado mais adiante.<br />

3.2.1 Resistência e ruptura da ligação<br />

A Tabela 8 apresenta os resultados experimentais da força normal última e momento fletor<br />

último dos protótipos ensaiados. Como esperado, o Modelo IR4 apresentou uma maior capacidade<br />

resistente em relação ao Modelo IL5.<br />

Tabela 8 – Resistência experimental dos protótipos<br />

Modelo e (cm) N u (kN) M u (kN.m)<br />

IL5 1,2 287,6 345,1<br />

IR4 1,2 388,9 466,7<br />

As Figuras 4 e 5 apresentam, respectivamente, a curva força normal versus deformação<br />

média na primeira camada da armadura horizontal principal, situada no terço superior da parede<br />

transversal 1 e o descolamento da junta entre os elementos do Modelo IL5.<br />

Analisando as Figuras 4 e 5, constata-se que a ruptura do concreto da junta ocorreu com<br />

aproximadamente 70% do valor da força normal última alcançada(pois a partir desse instante ocorre<br />

mobilização significativa da armadura analisada), ao contrário do que se esperava, já que foi aplicado<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


Estudo de cálice de fundação com ênfase nos esforços nas paredes transversais do colarinho<br />

65<br />

desmoldante entre a junta e os elementos(cálice e pilar). Em relação ao Modelo IR4, a ruptura ocorreu<br />

com aproximadamente 77% do valor da força normal última alcançada.<br />

Figura 4 – Curva força aplicada versus deformação na primeira camada da armadura horizontal principal -<br />

Modelo IL5.<br />

3.2.2 Comportamento da armadura horizontal principal transversal<br />

Apresenta-se na Figura 6 a curva força aplicada versus deformação, para as armaduras<br />

horizontais principais situadas na região superior da parede transversal 1, do Modelo IL5.<br />

Figura 5 – Descolamento da junta entre os elementos constituintes da ligação do Modelo IL5.<br />

Como esperado, essas armaduras foram efetivamente solicitadas a partir do momento em que<br />

ocorreu uma pequena fissura na região da junta de preenchimento e conseqüentemente o<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


66<br />

Vinicius César Pereira Nunes & Mounir Khalil El Debs<br />

deslizamento do pilar na região de embutimento, caracterizando a ruptura da adesão existente entre<br />

os elementos.<br />

A partir deste momento ocorre a mobilização efetiva da resultante de pressões H sup no topo<br />

da parede transversal 1. Como esperado, os dois ramos das armaduras horizontais principais foram<br />

tracionados. Além disso, como pode ser observado, no momento em que ocorre o deslizamento do<br />

pilar na região de embutimento (força de aproximadamente 105kN), os extensômetros HST4 e HST11<br />

sofreram deformações negativas, indicando que a região interna da parede transversal 1 estava<br />

comprimida, caracterizando portanto uma flexo-tração dessa parede.<br />

Figura 6 – Curva força aplicada versus deformação na armadura horizontal principal transversal - Modelo IL5.<br />

Figura 7 – Curva força aplicada versus deformações medidas nas paredes transversais - Modelo IR4.<br />

Como mostrado anteriormente, ocorreu apenas um pequeno destacamento da interface pilarcolarinho,<br />

indicando que embora se tenha tentado retirar a adesão entre o concreto da junta e dos<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


Estudo de cálice de fundação com ênfase nos esforços nas paredes transversais do colarinho<br />

67<br />

elementos, a mesma contribuiu para que as deformações das armaduras horizontais principais fossem<br />

pequenas. Isso confirma a hipótese que a ligação apresenta um comportamento muito próximo do<br />

monolítico até o momento em que ocorre a perda de adesão entre o concreto da junta e dos<br />

elementos.<br />

Na Figura 7 apresenta-se a curva força aplicada versus deformação na armadura horizontal<br />

principal do Modelo IR4.<br />

Como esperado, essas armaduras foram pouco solicitadas na maior parte do ensaio, pois,<br />

com a presença das chaves de cisalhamento, a ligação apresenta um comportamento muito próximo<br />

ao de uma ligação monolítica.<br />

3.2.3 Comportamento das armaduras verticais principais e secundárias<br />

A Figura 8 apresenta a curva força aplicada versus deformação nas armaduras verticais<br />

principais e secundárias situadas nas paredes transversal 2 e longitudinais.<br />

Verifica-se que ocorreu o escoamento de todos os ramos das armaduras verticais principais.<br />

Esse comportamento já havia sido observado por Canha (2004), entretanto como já dito<br />

anteriormente, para este trabalho utilizou-se um detalhamento diferente para as armaduras verticais.<br />

Esta diferença consiste na concentração das armaduras verticais secundárias próximo aos cantos,<br />

mais precisamente na união com as paredes 3 e 4. Analisando a Figura 8, observa-se que essas<br />

armaduras contribuíram para a resistência da ligação, inclusive os ramos presentes nas paredes<br />

longitudinais (T7 e T8).<br />

Figura 8 – Curva força aplicada versus deformação nas armaduras verticais principais e secundárias - Modelo<br />

IL5.<br />

A Figura 9 apresenta a curva força aplicada versus deformação nas armaduras verticais<br />

secundárias situadas nas paredes 2, 3 e 4. Observa-se que os ramos situados na parede transversal 2<br />

foram bastante solicitados, atingindo o escoamento e plastificação.<br />

Verifica-se que as armaduras verticais situadas nas paredes longitudinais 3 e 4 foram<br />

realmente mobilizadas no momento da ruptura da adesão existente entre a junta e os elementos.<br />

Observa-se que apenas um dos ramos dessa armadura atingiu o escoamento(CL2).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


68<br />

Vinicius César Pereira Nunes & Mounir Khalil El Debs<br />

Figura 9 – Curva força aplicada versus deformação nas armaduras verticais secundárias - Modelo IL5.<br />

Apresenta-se na Figura 10 a curva força aplicada versus deformação média nas armaduras<br />

verticais secundárias situadas nas paredes 2 e 4. Observa-se que as armaduras situadas na parede 2<br />

foram significativamente solicitadas, contribuindo para a resistência da ligação. As armaduras situadas<br />

nas paredes longitudinais 3 e 4 não foram efetivamente solicitadas até o momento em que houve o<br />

rompimento da adesão existente entre os elementos, onde a partir deste momento ocorreu uma<br />

redistribuição de esforços e conseqüentemente alteração da rigidez, atingindo uma deformação<br />

máxima de 2,5 ‰<br />

Figura 10 – Curva força aplicada versus deformação média nas armaduras verticais secundárias situadas nas<br />

paredes 2 e 4 - Modelo IL5.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


Estudo de cálice de fundação com ênfase nos esforços nas paredes transversais do colarinho<br />

69<br />

3.3 Análise das forças resultantes nas armaduras principais dos protótipos<br />

A seguir, são apresentados os resultados referentes as forças atuantes nas armaduras<br />

verticais principais e horizontais principais dos protótipos analisados experimentalmente.<br />

3.3.1 Obtenção das resultantes experimentais na armadura vertical principal e nas armaduras<br />

horizontais principais da parede transversal 1 - Modelo IL5<br />

As Tabelas 9 e 10 apresentam a comparação entre os resultados teóricos e experimentais<br />

considerando flexo-tração e tração, respectivamente, para os ramos interno e externo das armaduras<br />

horizontais principais situadas no topo da parede transversal 1 do Modelos IL5:<br />

Tabela 9 – Forças atuantes nos ramos externo e interno da armadura horizontal principal da parede 1 supondo<br />

um comportamento à flexo-tração - Modelo IL5<br />

Protótipo Modelo Ramo externo (kN) Ramo interno (kN)<br />

IL5 CANHA 86,9 21,5<br />

Experimental 86,4 14,7<br />

Tabela 10 – Forças atuantes nos ramos externo e interno da armadura horizontal principal da parede 1 supondo<br />

um comportamento à tração - Modelo IL5<br />

Protótipo Modelo Ramo externo (kN) Ramo interno (kN)<br />

IL5 CANHA 63,8 63,8<br />

Experimental 86,4 14,7<br />

Analisando a Tabela 9, constata-se uma aproximação razoável comparando os resultados<br />

experimentais com os obtidos teoricamente, ficando as diferenças em torno de 0,5% para o ramo<br />

externo e em torno de 49% para o ramo interno da armadura horizontal principal. Comparando os<br />

valores da Tabela 10 constata-se uma discrepância maior dos resultados, mostrando que o modelo de<br />

cálculo proposto por Canha (2004), considerando o comportamento à flexo-tração, é mais coerente<br />

com os resultados experimentais.<br />

3.3.2 Obtenção da resultante experimental de pressões no topo das paredes transversais -<br />

Modelo IR4<br />

A Tabela 11 apresenta os esforços obtidos experimentalmente nos ramos internos e externo<br />

da armadura horizontal principal situada no topo das paredes transversais 1 e 2 do protótipo IR4.<br />

Tabela 11 – Esforços atuantes no topo das paredes 1 e 2 - Modelo IR4 (esforços em kN)<br />

Parede 1 Parede 2<br />

R shmt1,e 54,43 R shmt2,e 54,43<br />

R shmt1,i 5,12 R shmt2,i 5,12<br />

H 1 915 H 2 915<br />

H top1 549 H top2 549<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


70<br />

Vinicius César Pereira Nunes & Mounir Khalil El Debs<br />

Com o objetivo de realizar uma análise comparativa entre resultados teóricos e experimentais,<br />

foi aplicado o modelo de Canha (2004) para obtenção das resultantes nos ramos interno e externo da<br />

armadura horizontal principal das paredes transversais 1 e 2 do Modelo IR4, considerando<br />

primeiramente um comportamento à flexo-tração e posteriormente um comportamento à tração para<br />

essas paredes.<br />

A Tabela 12 apresenta a comparação entre as forças atuantes nos ramos externo e interno da<br />

armadura horizontal principal da parede 1 do Modelo IR4, considerando um comportamento à flexotração<br />

para esta parede. A Tabela 13 apresenta a comparação entre as forças atuantes nos ramos<br />

externo e interno da armadura horizontal principal da parede 2 do Modelo IR4, considerando um<br />

comportamento à flexo-tração.<br />

Tabela 12 – Forças atuantes nos ramos externo e interno da armadura horizontal principal da parede 1, supondo<br />

um comportamento à flexo-tração - Modelo IR4<br />

Protótipo Modelo Ramo externo (kN) Ramo interno (kN)<br />

IR4 CANHA 187,1 46,3<br />

Experimental 54,4 5,12<br />

Tabela 13 – Forças atuantes nos ramos externo e interno da armadura horizontal principal da parede 2,supondo<br />

um comportamento à flexo-tração - Modelo IR4<br />

Protótipo Modelo Ramo externo (kN) Ramo interno (kN)<br />

IR4 CANHA 179,3 44,5<br />

Experimental 100,6 116,8<br />

De posse dos resultados experimentais, verifica-se que a parede 2 é mais solicitada, se<br />

comparada com a parede 1. Observa-se também que o modelo teórico fornece melhores resultados<br />

para os esforços atuantes na parede 2. Verifica-se que os ramos externos da armadura horizontal<br />

principal situada na parede 1, foram mais solicitados que os ramos internos. O mesmo não é válido<br />

para a parede 2, onde observa-se um maior valor para o ramo interno. Entretanto essa diferença não<br />

parece significativa, em virtude das condições de ensaio.<br />

Tabela 14 – Forças atuantes nos ramos externo e interno da armadura horizontal principal da parede 1 - Tração -<br />

Modelo IR4<br />

Protótipo Modelo Ramo externo (kN) Ramo interno (kN)<br />

IR4 CANHA 137,25 44,5<br />

Experimental 54,4 5,12<br />

Tabela 15 – Forças atuantes nos ramos externo e interno da armadura horizontal principal da parede 2 - Tração -<br />

Modelo IR4<br />

Protótipo Modelo Ramo externo (kN) Ramo interno (kN)<br />

IR4 CANHA 63,8 63,8<br />

Experimental 100,6 116,8<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


Estudo de cálice de fundação com ênfase nos esforços nas paredes transversais do colarinho<br />

71<br />

Nas Tabelas 14 e 15 são apresentados os esforços finais obtidos experimental e teoricamente<br />

para os ramos externo e interno das armaduras horizontais principais situadas nas paredes 1 e 2,<br />

respectivamente, considerando apenas esforços de tração para essas paredes.<br />

Observando as Tabelas 14 e 15, percebe-se uma incoerência nos resultados obtidos segundo<br />

o cálculo teórico, pois verifica-se que, como esperado a parede 2 apresentou uma maior intensidade<br />

de esforços de tração. De acordo com o modelo teórico, os esforços na parede 1 são mais intensos<br />

em relação aos que atuam na parede 2.<br />

Observa-se que ocorreu uma discrepância significativa dos resultados experimentais dos<br />

ramos interno e externo da parede transversal 1. Isso pode ser explicado como um provável problema<br />

com a aquisição dos dados. Observa-se também que os ramos internos da parede transversal 2 foram<br />

mais solicitados que os ramos externos, entretanto essa diferença não é significativa, dada a<br />

diversidade de variáveis existentes em ensaios experimentais.<br />

3.4 Análise da distribuição de tensões nas paredes transversais ao longo do<br />

comprimento de embutimento - Modelo IR4<br />

As Figuras 11 e 12 apresentam, respectivamente, as curvas força aplicada versus deformação<br />

nas armaduras verticais principais e secundárias situadas na parede transversal 1, ao longo do<br />

comprimento de embutimento, do Modelo IR4.<br />

Figura 11 – Curva força aplicada versus deformação nas armaduras verticais principais - Parede 1 - Modelo IR4.<br />

Observa-se que, com exceção do extensômetro T-4, os ramos das armaduras verticais<br />

principais foram pouco solicitados até o momento onde ocorreu a ruptura da junta, situada na interface<br />

entre o pilar e o colarinho. A partir deste momento ocorre uma mobilização das armaduras, indicando<br />

que a região mais comprimida desta parede situa-se na porção inferior do comprimento de<br />

embutimento. À medida que o ramo da armadura vertical se aproxima do topo do comprimento de<br />

embutimento, este vai sendo menos solicitado a compressão, indicando coerência na hipótese de que<br />

as bielas comprimidas possuem uma menor inclinação em relação à direção horizontal na região<br />

superior do colarinho.<br />

Analisando a Figura 12 observa-se que, com exceção do extensômetro CT-11, as armaduras<br />

verticais secundárias situadas na parede transversal 1 foram comprimidas, com tendência de<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


72<br />

Vinicius César Pereira Nunes & Mounir Khalil El Debs<br />

diminuição de intensidade á medida que os ramos se aproximam da região superior do comprimento<br />

de embutimento.<br />

Figura 12 – Curva força aplicada versus deformação nas armaduras verticais secundárias - Parede 1 - Modelo<br />

IR4.<br />

As Figuras 13 e 14 apresentam a curva força aplicada versus deformação nas armaduras<br />

verticais principais e secundárias situadas na parede transversal 2, ao longo do comprimento de<br />

embutimento, do Modelo IR4.<br />

Figura 13 – Curva força aplicada versus deformação nas armaduras verticais principais Parede 2 - Modelo IR4.<br />

Analisando as Figuras 13 e 14 verifica-se que a partir do momento onde há a ruptura da junta,<br />

ocorre uma mobilização das armaduras verticais, indicando que a região inferior da parede 2 é mais<br />

solicitada à tração. À medida que os ramos das armaduras verticais se aproximam do topo da parede<br />

transversal 2, os mesmos são menos solicitados, mostrando que ocorre uma tendência das bielas<br />

comprimidas, formadas pelas chaves de cisalhamento, terem uma menor inclinação em relação à<br />

direção horizontal no topo da parede 2 do colarinho.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


Estudo de cálice de fundação com ênfase nos esforços nas paredes transversais do colarinho<br />

73<br />

Figura 14 – Curva força aplicada versus deformação nas armaduras verticais secundárias - Parede 2 - Modelo<br />

IR4.<br />

Da análise da Figura 14, constata-se que a região inferior do ramo da armadura vertical<br />

secundária, situada na parede 2 do Modelo IR4, foi bastante tracionada, alcançando o escoamento. O<br />

mesmo não se observa á medida que o ramo se aproxima da região superior do comprimento de<br />

embutimento.<br />

4 CONCLUSÕES<br />

O Modelo IL5 apresentou um comportamento semelhante ao de uma ligação monolítica até o<br />

momento em que ocorreu a ruptura da adesão existente entre a junta e os elementos da ligação (pilar<br />

e cálice). A partir deste momento as armaduras horizontais principais foram efetivamente solicitadas,<br />

tracionando os ramos externo e interno desta armadura. Foi constatada a presença de valores<br />

negativos para as deformações dos ramos internos desta armadura, caracterizando um<br />

comportamento à flexo-tração para a região que compreende o terço superior do comprimento de<br />

embutimento, comprovando que a consideração desta região para o dimensionamento e detalhamento<br />

das armaduras horizontais principais é bastante coerente.<br />

Foi constatado o escoamento das armaduras verticais principais quando da ruptura da ligação.<br />

Este escoamento foi constatado tanto nas armaduras verticais situadas no encontro da parede 2 com<br />

as paredes longitudinais 3 e 4, quanto nas armaduras verticais situadas nas proximidades dos cantos,<br />

indicando que não apenas a região de intersecção, mas uma faixa que se estende para a parede 2 e<br />

para as paredes longitudinais, contribui para a resistência da ligação. Verificou-se também o<br />

escoamento da armadura vertical secundária situada no centro da parede transversal 2.<br />

Verificou-se que o modelo de cálculo proposto por CANHA (2004) forneceu bons resultados<br />

para o valor das resultantes de força atuantes nos ramos externo e interno da armadura horizontal<br />

principal situada no topo da parede transversal 1. As discrepâncias foram menores quando da<br />

consideração de um comportamento à flexo-tração, para essa parede, ficando as diferenças em torno<br />

de 0.5% e 49% para os ramos externo e interno, respectivamente.<br />

Para o Modelo IR4 também foi constatado um comportamento semelhante ao de uma ligação<br />

monolítica até o momento em que ocorreu a ruptura da adesão existente entre a junta e os elementos<br />

da ligação. A partir deste momento as armaduras horizontais principais foram efetivamente solicitadas,<br />

acarretando tração nos ramos externo e interno. Foi constatado que o topo da parede transversal 2 é<br />

mais solicitado se comparado com os resultados obtidos para a parede 1.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


74<br />

Vinicius César Pereira Nunes & Mounir Khalil El Debs<br />

Foi observado que o modelo teórico proposto por CANHA (2004) fornece resultados mais<br />

próximos aos experimentais para a parede 2. Constata-se que o modelo teórico aplicado na análise da<br />

parede transversal 2 apresentou resultados mais próximos aos experimentais supondo um<br />

comportamento à tração para esta parede, ficando as diferenças em torno de 57% e 83% para os<br />

ramos externo e interno, respectivamente.<br />

Constatou-se que os ramos das armaduras verticais principais da parede 1 foram pouco<br />

solicitados até o momento onde ocorre a ruptura da junta entre os elementos constituintes da ligação.<br />

A partir desse momento essas armaduras são efetivamente mobilizadas, ficando a região inferior do<br />

colarinho comprimida. À medida que o ramo da armadura vertical se aproxima da região superior do<br />

colarinho, este vai sendo menos solicitado à compressão, indicando coerência na hipótese de que na<br />

região superior do colarinho ocorre uma diminuição no ângulo formado entre as bielas e a direção<br />

horizontal. Este mesmo comportamento foi observado para as armaduras verticais secundárias.<br />

Para as armaduras verticais principais situadas na parede 2, foi constatado que a região<br />

inferior do colarinho foi mais solicitada à tração. À medida que o ramo da armadura vertical principal<br />

se aproxima da região superior do colarinho, essa vai sendo menos solicitada à tração, indicando<br />

coerência na hipótese de que as bielas diminuem de inclinação em relação à direção horizontal à<br />

medida que se aproximam da região superior do colarinho.<br />

5 AGRADECIMENTOS<br />

Agradecemos a CAPES e à FAPESP pelo apoio financeiro, sem o qual esta pesquisa não<br />

poderia ter sido realizada.<br />

6 REFERÊNCIAS<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9062: Projeto e execução de estruturas<br />

de concreto pré-moldado. Rio de Janeiro, 1985.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto.<br />

Rio de Janeiro, 2003.<br />

CANHA, R. M. F. et al. Analysis of the behaviour of transverse walls of socket base connections.<br />

Engineering Structures. 34p. 2004. (Artigo aguardando publicação).<br />

CANHA, R. M. F. et al. Behaviour of socket base connections emphasizing on pedestal walls. ACI<br />

Structural Journal. (Artigo submetido).<br />

CANHA, R. M. F. Estudo teórico-experimental da ligação pilar-fundação por meio de cálice em<br />

estruturas de concreto pré-moldado. 2004. 279p. Tese (Doutorado em Engenharia de Estruturas) –<br />

Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2004.<br />

CALIL JR., C.; CHEUNG, A. B. Silos: pressões, fluxo, recomendações para o projeto e exemplos de<br />

cálculo. São Carlos: EESC-<strong>USP</strong>, 2007. 240p. ISBN: 978-85-85205-71-3.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


Estudo de cálice de fundação com ênfase nos esforços nas paredes transversais do colarinho<br />

75<br />

EL DEBS, M. K. Concreto pré-moldado: fundamentos e aplicações. São Carlos: EESC-<strong>USP</strong>, 2000.<br />

441p. ISBN: 8585205350.<br />

LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto: Princípios básicos sobre armação de<br />

estruturas de concreto armado. Rio de Janeiro: Interciência, 1977-1979. v.3.<br />

NUNES, V. C. P. Estudo de cálice de fundação com ênfase nos esforços nas paredes<br />

transversais do colarinho. 2009. 132p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas) –<br />

Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2009.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 57-75, 2009


ISSN 1809-5860<br />

ANÁLISE NUMÉRICA DA ADERÊNCIA EM MODELOS DE VIGA COM<br />

CONCRETOS AUTO-ADENSÁVEIS E CONCRETOS CONVENCIONAIS<br />

Fernando Menezes de Almeida Filho 1 & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs 2<br />

Resumo<br />

O concreto auto-adensável surgiu da necessidade de se dispensar o difícil e oneroso trabalho de vibração do<br />

concreto, sendo definido como um material capaz de fluir dentro de uma fôrma, passando pelas armaduras e<br />

preenchendo a mesma, sem o uso de equipamentos de vibração. Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo<br />

numérico da aderência aço-concreto, utilizando concreto do tipo auto-adensável, mediante ensaios monotônicos<br />

de flexão em vigas seguindo o modelo padrão do Rilem-Ceb-Fip (1973). O estudo considerou como parâmetros<br />

fundamentais o tipo de concreto (auto-adensável e convencional) e o diâmetro da barra (10 e 16 mm). De acordo<br />

com os resultados, o comportamento dos modelos de viga, tanto numérico quanto experimental, para ambos os<br />

concretos foi similar, mostrando que o concreto auto-adensável possui características semelhantes ao concreto<br />

convencional, com as vantagens da trabalhabilidade no estado fresco. Ainda, a utilização de elementos de<br />

contato possibilitou uma boa aproximação do comportamento experimental mostrando a provável distribuição da<br />

tensão de aderência na superfície de contato, embora não se tenham dados experimentais para comprovar essa<br />

distribuição.<br />

Palavras-chave: Aderência. Concreto auto-adensável. Concreto convencional. Simulação numérica. Método dos<br />

Elementos Finitos. Vigas. Contato.<br />

Abstract<br />

The self-compacting concrete (SCC) appeared to release the difficult and onerous work of the concrete vibration,<br />

being defined as a material capable to flow inside of a formwork, going through the reinforcement and filling out<br />

the same, without the use of any vibration equipments. This research is characterized as a numeric study of the<br />

bond between steel and concrete, using SCC and conventional concrete (CC), in beam tests following the<br />

standard model of Rilem-Ceb-Fip (1973). The study considered as fundamental parameters the concrete type<br />

(SCC and CC) and the bar diameter (10 and 16 mm). According to the results, the behavior of the beam models,<br />

as the numeric as experimental, for both concretes it was similar, showing that the SCC possesses similar<br />

characteristics to the conventional concrete, with the advantages of the workability in fresh state. Still, the use of<br />

contact elements made possible a good approach of the experimental behavior showing a probable distribution of<br />

the bond stress in the contact surface was similar to the theoretical approach, although experimental data could<br />

not prove that distribution.<br />

Keywords: Bond. Self-compacting concrete. Conventional concrete. Numerical simulation. FEM. Beams. Contact.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Desde o início da utilização do concreto armado, a aderência entre aço e concreto tem sido<br />

objeto de estudo de diversos pesquisadores. Essa interação entre os materiais é o mecanismo que<br />

caracteriza o concreto armado, pois a condição de que haja aderência entre a superfície da barra de<br />

aço e o concreto adjacente define o comportamento das estruturas obtidas. A aderência depende,<br />

além das características da barra de aço, das propriedades do concreto e, portanto, seu estudo passa<br />

pelo conhecimento dos materiais envolvidos na sua produção.<br />

1 Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, ffilho@sc.usp.br<br />

2 Professora do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, analucia@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 77-92, 2009


78<br />

Fernando Menezes de Almeida Filho & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

Com o passar dos anos, houve um grande desenvolvimento tecnológico dos materiais<br />

empregados na construção civil, dando origem aos concretos de alto desempenho e do tipo autoadensável,<br />

que dispensa a etapa de vibração no canteiro de obras. No estudo da aderência,<br />

entretanto, pouco foi observado com relação ao comportamento dessa ligação com a utilização de<br />

concretos auto-adensáveis.<br />

Atualmente, o concreto auto-adensável, ou CAA, pode ser classificado como um material de<br />

construção avançado. Sua composição inclui materiais inorgânicos de granulação fina, oferecendo a<br />

possibilidade de se utilizar pó de agregado, extremamente fino, o qual é considerado rejeito, sem<br />

qualquer aplicação na indústria e que demanda custo para seu descarte. Este concreto teve origem no<br />

Japão onde surgiu da necessidade de se dispensar o difícil e oneroso trabalho de vibração do<br />

concreto lançado às fôrmas, o que mostra que as principais causas de sua origem foram a economia<br />

de mão-de-obra (insumo que gera altos gastos em uma obra) e a durabilidade das estruturas. De<br />

acordo com Okamura (1997), um adensamento adequado do concreto por operários treinados era<br />

importante para obter estruturas duráveis; entretanto, tais operários seriam extremamente<br />

dispendiosos, pois, fora o correto treinamento, ainda haveria o custo da utilização de tal serviço.<br />

Segundo Okamura (1997), o CAA é uma mistura que pode ser adensada em qualquer local na<br />

fôrma, apenas por meio da acomodação devida ao seu peso próprio e sem necessidade de vibração.<br />

Do mesmo modo, pode ser definido como um concreto capaz de fluir dentro de uma fôrma, passando<br />

pelas armaduras e preenchendo a mesma, sem o uso de equipamentos de vibração. Assim, o uso do<br />

CAA aumenta a produtividade, reduz a mão de obra exigida e melhora o ambiente de trabalho<br />

(Gomes, 2002).<br />

O objetivo principal desta pesquisa é buscar uma representação numérica do comportamento<br />

da aderência aço-concreto mediante ensaios de vigas submetidas à flexão, utilizando concreto autoadensável<br />

e convencional (vibrado mecanicamente).<br />

O estudo da aderência entre o aço e o concreto envolve uma grande quantidade de variáveis,<br />

sendo que algumas delas ainda não têm sua influência completamente estabelecida. Dentre algumas<br />

das demandas existentes, destacam-se a necessidade de maiores informações a respeito do<br />

comportamento da aderência em vigas submetidas à flexão, verificação do comportamento da<br />

aderência mediante utilização de modelos numéricos e, por haver ausência de dados a respeito, da<br />

tecnologia de concretos auto-adensáveis no país e de sua influência no comportamento da aderência<br />

aço-concreto.<br />

A busca dessas informações motivou este projeto, do qual se esperam subsídios à futura<br />

normatização de ensaios de flexão e para a utilização do concreto auto-adensável na construção civil.<br />

2 SIMULAÇÃO NUMÉRICA<br />

Na análise numérica da aderência, pode-se facilmente confundir o esgotamento dos diferentes<br />

mecanismos de aderência com outros tipos de ruptura. Assim, para que a aderência seja<br />

representada, o contato deve conter, pelo menos (Lundgren et al., 2002): atrito, habilidade de causar<br />

tensões normais no deslizamento, adesão e possibilidade de ruptura do concreto entre as nervuras.<br />

Segundo Kutsovos & Pavlovic (1995), a interação aço-concreto depende de dois aspectos,<br />

sendo eles a aderência e a rigidez na tração (tension stiffening).<br />

A aderência perfeita foi a primeira simplificação assumida com o objetivo de se estabelecer<br />

uma lei que representasse o comportamento da ligação aço-concreto. Porém, como essas leis se<br />

baseiam em resultados experimentais geralmente escassos, limitados e com resultados não muito<br />

confiáveis (Kutsovos & Pavlovic, 1995), sua aplicação é restrita.<br />

Quanto à hipótese de aderência perfeita em si, embora seja uma simplificação, é compatível<br />

com o modelo de fissura no cobrimento (smeared-crack model), sendo com isso evitada a descrição<br />

detalhada de efeitos locais. A perda de aderência entre o aço e o concreto próximo de uma fissura não<br />

contradiz a hipótese de aderência perfeita, desde que a fissura do cobrimento propague o efeito de<br />

fissuração como uma extensão dos pontos de integração nos elementos de barra.<br />

De acordo com Bangash (1989), existem duas aproximações para se determinar o<br />

deslizamento entre o aço e o concreto. A primeira utiliza um elemento de ligação para a aderência<br />

proposta por Ngo & Scordelis (1967), onde o elemento conecta um nó do elemento finito de concreto<br />

com outro nó do elemento finito do aço; desse modo, esse elemento não possui dimensão física, e os<br />

nós dos elementos de aço e concreto possuem as mesmas coordenadas. A segunda aproximação<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 77-92, 2009


Análise numérica da aderência em modelos de viga com concretos auto-adensáveis e concretos convencionais<br />

79<br />

considera uma zona de aderência proposta por Groot et al. (1981), onde o comportamento da<br />

superfície de contato entre o aço e o concreto, e o comportamento do concreto adjacente são<br />

descritos por uma lei constitutiva o qual considera propriedades especiais para a zona aderente.<br />

Segundo as observações do estudo dos referidos autores, o modelo proposto tem a possibilidade de<br />

considerar o efeito do deslizamento em elementos de viga. A solução não-linear baseada no equilíbrio<br />

de cada nó do aço e a compatibilidade entre o aço e o concreto é determinada em sua ligação. A<br />

eficiência e a confiabilidade do modelo proposto foram comprovadas através de correlações entre<br />

análises experimentais e analíticas.<br />

Para se avaliar a ruptura da interface aço-concreto, pode-se utilizar o modelo combinado da<br />

hipótese friccional de Coulomb com um limite para a tensão máxima (Figura 1), que pode resultar em<br />

dois modos de ruptura distintos, sendo eles a ruptura por deslizamento e a ruptura por separação<br />

(Nielsen, 1998). A ruptura por deslizamento é admitida quando em uma seção a tensão de<br />

cisalhamento excede a resistência ao deslizamento, que pode ser determinada por dois parâmetros,<br />

sendo eles a coesão (c) e o coeficiente de atrito (μ). A ruptura por separação ocorre quando, em uma<br />

seção, a tensão de tração excede a resistência à separação (f A ). Assim, esses dois modos de ruptura<br />

podem ser combinados em um e este pode ser chamado de Mohr-Coulomb Modificado.<br />

Material de Coulomb<br />

modificado<br />

Círculo de Mohr<br />

Ruptura por<br />

deslizamento<br />

c<br />

c<br />

σ 3<br />

σ 2<br />

σ 1<br />

ϕ<br />

ϕ<br />

Ruptura por<br />

separação<br />

σ<br />

Ruptura por<br />

deslizamento<br />

τ<br />

Figura 1 – Material de Mohr-Coulomb modificado (Nielsen, 1998).<br />

2.1 Materiais<br />

Para a simulação numérica da aderência aço-concreto muitas abordagens foram<br />

desenvolvidas, envolvendo sempre as leis constitutivas dos materiais, sejam experimentais ou<br />

numéricas. Estas leis sempre procuram representar o comportamento dos materiais separadamente.<br />

Neste caso em particular, pode-se dizer que a simulação numérica conta com a presença de três<br />

materiais, sendo eles: o concreto, o aço e a zona de contato.<br />

Em vista disso, foi realizada uma ampla investigação bibliográfica para se avaliar os modelos<br />

de materiais constitutivos aplicados nas simulações numéricas desenvolvidas hoje em dia e, fica claro<br />

que o desenvolvimento de elementos finitos (unidimensionais, bidimensionais e tridimensionais) que<br />

representam essa interface está cada vez mais eficaz (Désir et al., 1999; Kwak & Kim, 2001; Salari &<br />

Spacone, 2001; Kwak & Filippou, 1997; Yankelevsky, 1997; Neto & Assan, 2003; Girard & Bastien,<br />

2002; Kotsovos & Pavlovic, 1995; etc). Entretanto, ainda são necessárias maiores investigações, tanto<br />

experimentais quanto numéricas, para melhorar o entendimento deste assunto, uma vez que a<br />

quantidade de fatores que influenciam seu comportamento é elevada.<br />

A seguir, são mostradas sucintamente as considerações com relação aos materiais utilizados<br />

na simulação numérica desta pesquisa, que, no caso, envolvem o modelo de arrancamento do Rilem-<br />

Ceb-Fip (1973).<br />

2.1.1 Concreto<br />

A simulação numérica do concreto pode ser realizada considerando modelos uniaxiais,<br />

biaxiais e triaxiais.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 77-92, 2009


80<br />

Fernando Menezes de Almeida Filho & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

A resposta de uma estrutura submetida a um tipo de carregamento depende das relações<br />

tensão vs. deformação dos materiais constituintes e da magnitude da tensão. Desse modo, o concreto<br />

possui uma excelente característica de resistência à compressão, mas uma baixa resistência à tração,<br />

fazendo com que essa resistência à compressão seja o alvo primário para a utilização na construção<br />

civil. Com isso, diversos modelos matemáticos com o objetivo de simular o diagrama de tensão vs.<br />

deformação do concreto foram propostos, conforme o modelo de Scott et al. (1982). Esse modelo, de<br />

grande facilidade para uso computacional, apresenta para o comportamento monotônico o diagrama<br />

tensão vs. deformação do concreto submetido à compressão dividido em três regiões. Para o caso do<br />

concreto submetido à tração, esse modelo assume que o concreto apresenta comportamento linear<br />

elástico até o limite estabelecido para a resistência à tração do concreto (f t ’), com a inclinação igual a<br />

E b1 função do módulo de elasticidade longitudinal (E c ), e a inclinação E b2 , em função do módulo de<br />

elasticidade transversal (G).<br />

2.1.2 Aço<br />

A armadura de aço pode ser considerada com comportamento linear, para reduzir o custo<br />

computacional com a consideração do escoamento, visto que o comportamento de elementos<br />

estruturais de concreto armado é fortemente influenciado pelo escoamento da armadura (Kwak & Kim,<br />

2001).<br />

2.1.3 Interface aço-concreto<br />

A interface aço-concreto consiste de uma superfície descontínua de um corpo, composto de<br />

dois materiais, entre duas superfícies paralelas de materiais adjacentes que pode ser considerada<br />

infinitesimal, se levarmos em consideração o volume total do elemento estrutural. O comportamento<br />

da superfície depende dos materiais constituintes, que neste caso é composto de barra de aço com<br />

nervuras, agregados e argamassa (Désir et al., 1999); no caso da presente pesquisa, será<br />

considerada a barra lisa, conforme o esquema na Figur(b), com características adequadas para<br />

representar a barra real.<br />

Assim, diversas leis constitutivas para simular a interface aço-concreto têm sido desenvolvidas<br />

utilizando diagramas de comportamento bilinear ou trilinear associados a elementos uniaxiais, biaxiais<br />

e triaxiais (Désir et al., 1999; Kwak & Kim, 2001; Salari & Spacone, 2001; Kwak & Filippou, 1997;<br />

Yankelevsky, 1997; Bangash, 1989; Abrishami & Mitchell, 1996; Feenstra & De Borst, 1995).<br />

Foram realizadas pesquisas utilizando elementos de ligação do tipo mola para representar o<br />

deslizamento entre a barra de aço e o concreto adjacente, conforme a Figura 2. O modelo associado a<br />

esse elemento utiliza um processo minimizador de energia capaz de mostrar a influência da aderência<br />

na abertura de fissuras da interface (Chen & Baker, 2004).<br />

(a)<br />

Figura 2 – (a) Modelo de aderência na direção axial (Chen & Baker, 2004) e (b) Modelo de material de Mohr-<br />

Coulomb modificado adotado pelo software Ansys ® .<br />

(b)<br />

Para a presente pesquisa, a interface aço-concreto utilizou o modelo de Mohr-Coulomb<br />

modificado do software Ansys ® , representado na Figurb. Pode-se ver que, ao contrário dos demais<br />

modelos constitutivos (Kwak & Kim, 2001; Yankelevsky, 1997), este modelo adota um diagrama<br />

bilinear para representar o escorregamento ou separação dos materiais, onde o escorregamento da<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 77-92, 2009


Análise numérica da aderência em modelos de viga com concretos auto-adensáveis e concretos convencionais<br />

81<br />

barra ocorre depois que a tensão de coesão dos materiais seja ultrapassada. Depois de atingida a<br />

tensão de coesão, o escorregamento progride de acordo com o coeficiente de atrito, conforme<br />

ilustrado na Figurb. Quando a tensão atinge o valor referente à tensão TAUMAX, de acordo com os<br />

manuais do software, ocorre o descolamento ou separação dos materiais. No entanto, de acordo com<br />

alguns trabalhos publicados, é possível obter uma resposta numérica mais representativa do<br />

comportamento experimental utilizando leis constitutivas da interface que considerem a adesão<br />

(Girard & Bastien, 2002) e a perda progressiva de rigidez da interface antes de atingida a resistência<br />

da coesão entre os materiais (Kwak & Kim, 2001; Yankelevsky, 1997).<br />

2.2 Elementos utilizados<br />

Os elementos utilizados foram os disponibilizados pela biblioteca de elementos do software<br />

Ansys ® . Todos os elementos a seguir mostrados foram utilizados em ambos os modelos numéricos de<br />

arrancamento e de viga.<br />

O elemento finito SOLID65 é utilizado para a modelagem tridimensional de corpos sólidos<br />

como o concreto com ou sem armadura. Esse elemento permite fissuração na tração, esmagamento<br />

na compressão, deformação plástica e fluência. É definido por oito nós com três graus de liberdade<br />

cada um: translações nas direções x, y e z.<br />

O elemento finito SOLID45 é utilizado para a modelagem tridimensional de corpos sólidos. É<br />

definido por oito nós com três graus de liberdade cada um: translações nas direções x, y e z. Esse<br />

elemento permite plasticidade, fluência, dilatação térmica, rigidez à tração, grandes deslocamentos e<br />

deformações.<br />

O elemento finito TARGE170 é utilizado para representar o contato e o deslizamento entre a superfície<br />

“rígida” e a superfície deformável definida. Possui três graus de liberdade em cada nó,<br />

correspondendo às translações nas direções nodais x, y e z. As características geométricas desse<br />

elemento são as mesmas da face do elemento sólido ao qual está ligado.<br />

O elemento finito CONTA174 é utilizado para representar várias superfícies “rígidas”<br />

bidimensionais associadas com elementos de contato (CONTA174 ou CONTA173). Os elementos de<br />

contato revestem os elementos sólidos descrevendo o contorno do corpo deformável e estão<br />

potencialmente ligados à superfície “rígida”. Tal superfície é discretizada por uma série de elementos<br />

TARGE170, formando um par com a superfície de contato associada através de uma mesma<br />

constante. Este elemento possui três graus de liberdade em cada nó, correspondendo às translações<br />

nas direções nodais x, y e z. Vale salientar que as direções dos vetores normais às superfícies dos<br />

elementos TARGE170 e CONTA174 devem estar em sentido contrário.<br />

2.3 Geometria dos modelos<br />

A Tabela 1 ilustra a geometria do modelo viga e suas dimensões para cada diâmetro de barra.<br />

Tabela 1 – Geometria do modelo de viga<br />

Dimensão φ


82<br />

Fernando Menezes de Almeida Filho & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

A Figura 3 mostra a malha em elementos finitos utilizada. Por causa da simetria da viga de<br />

concreto, utilizou-se ¼ do modelo.<br />

Modelo de viga com barra de 10 mm<br />

(a) Seção transversal (b) Elementos de concreto (c) Modelo <strong>completo</strong><br />

Modelo de viga com barra de 16 mm<br />

(a) Seção transversal (b) Elementos de concreto (c) Modelo <strong>completo</strong><br />

Figura 3 – Malha em elementos finitos para os modelos de viga.<br />

Os elementos utilizados foram os mesmos adotados na simulação numérica dos modelos de<br />

arrancamento, que foram o Solid65, Solid45, Conta174 e Targe170 (Ansys, 2002). A quantidade de<br />

elementos por modelo de viga é visto na Tabela 2.<br />

Tabela 2 – Quantidade de elementos utilizados para cada modelo de viga<br />

Elemento Viga10 Viga16<br />

Solid65 14330 16315<br />

Solid45 2030 2390<br />

Conta174 80 128<br />

Targe170 80 128<br />

A Figura 4 mostra o layout do ensaio e as restrições do modelo numérico.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 77-92, 2009


Análise numérica da aderência em modelos de viga com concretos auto-adensáveis e concretos convencionais<br />

83<br />

LVDT<br />

Perfil metálico<br />

Viga<br />

Atuador<br />

Barra de aço<br />

Direção do carregamento<br />

LVDT<br />

Viga<br />

Layout do ensaio<br />

Modelo numérico<br />

Figura 4 – Layout do ensaio e modelo numérico.<br />

δ<br />

Rótula<br />

Barra<br />

de aço<br />

A aplicação do deslocamento no modelo foi correspondente ao deslocamento do pistão, para<br />

se validar os resultados de acordo com o ensaio de viga.<br />

A Figura 5 mostra o comportamento dos concretos e das barras de aço utilizados nos ensaios<br />

de viga.<br />

Resistência (MPa)<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Série 1<br />

E c<br />

(CAA) = 27,24 GPa<br />

E c<br />

(CC) = 27,87 GPa<br />

-5<br />

-1 0 1 2 3 4 5<br />

Deformação (‰)<br />

CC<br />

CAA<br />

Popovics (1973)<br />

Resistência (MPa)<br />

700<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

E s<br />

(10 mm) = 207,05 GPa<br />

E s<br />

(16 mm) = 209,18 GPa<br />

100<br />

Barra de 10 mm<br />

Barra de 16 mm<br />

0<br />

0 2 4 6 8 10<br />

Deformação (‰)<br />

Figura 5 – Comportamento do concreto (CAA e CC) e das barras de aço.<br />

A Tabela 3 mostra os valores obtidos dos ensaios de viga e adotados nas simulações<br />

numéricas e utilizados para comparação.<br />

Tabela 3 – Resultados dos ensaios dos modelos de viga<br />

Modelo<br />

P u δ τ u<br />

D<br />

FKN FKT<br />

(kN) (mm) (MPa) (mm)<br />

(mm)<br />

V-CAA-B10 32,66 3,97 13,00 0,398 3 1 12,0<br />

V-CAA-B16 61,99 6,59 11,57 0,938 40 1 18,0<br />

V-CC-B10 33,49 3,82 13,33 0,295 3 1 12,0<br />

V-CC-B16 70,77 7,32 13,20 0,758 40 1 18,0<br />

s u<br />

Onde, CAA e CC correspondem ao tipo de concreto utilizado e B10 e B16 correspondem ao<br />

diâmetro da barra de aço de 10 e de 16 mm, respectivamente.<br />

A Figura 6 mostra os resultados para a simulação numérica do modelo de viga utilizando o<br />

modelo Bonded com barra de 10 e de 16 mm.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 77-92, 2009


84<br />

Fernando Menezes de Almeida Filho & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

40<br />

40<br />

35<br />

35<br />

30<br />

30<br />

Força (kN)<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0 2 4 6 8 10 12 14<br />

Flecha (mm)<br />

V-CAA-B10<br />

V-CC-B10<br />

Numérico FKT = 1<br />

Força (kN)<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

V-CAA-B10<br />

V-CC-B10<br />

Numérico FKT = 1<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5<br />

Deslizamento (mm)<br />

80<br />

80<br />

70<br />

70<br />

60<br />

60<br />

Força (kN)<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

V-CAA-B16<br />

10<br />

V-CC-B16<br />

Numérico FKT = 1<br />

0<br />

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20<br />

Flecha (mm)<br />

Força (kN)<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

V-CAA-B16<br />

V-CC-B16<br />

Numérico FKT = 1<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5<br />

Deslizamento (mm)<br />

Figura 6 – Comparação entre o resultado numérico e o experimental para os modelos de viga em CAA e em CC<br />

para o com barra de 10 e 16 mm.<br />

De acordo com os modelos experimentais com barra de 10 mm, foi visto que o<br />

comportamento do modelo em CAA e em CC foi semelhante. Os modelos com barra de 16 mm foram<br />

bem representados, da mesma forma que no caso dos modelos com barra de 10 mm apenas para o<br />

comportamento força vs. flecha, não apresentando uma aproximação adequada para o deslizamento.<br />

3 ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />

O modelo numérico desenvolvido teve como parâmetros semelhantes o módulo de<br />

elasticidade e o carregamento aplicado e por isso, foi desenvolvido apenas um modelo numérico para<br />

cada diâmetro de barra.<br />

Viga<br />

δ<br />

5φ<br />

Pontos no concreto<br />

no comprimento de<br />

ancoragem para a:<br />

P P Barra de 10 mm<br />

P 1<br />

P 2<br />

P 3<br />

Pontos na<br />

P 1<br />

11<br />

P 17<br />

6<br />

P 9<br />

P 1<br />

Barra de 16 mm<br />

Barra de aço<br />

Figura 7 – Pontos de medição para os modelos de viga.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 77-92, 2009


Análise numérica da aderência em modelos de viga com concretos auto-adensáveis e concretos convencionais<br />

85<br />

Vale salientar que nos casos de verificação da superfície de contato, isto é, avaliação da<br />

distribuição e intensidade da resistência ao deslizamento do modelo numérico, tiveram como resultado<br />

para comparação o valor das deformações medidas no início e fim do comprimento de ancoragem e<br />

no meio da barra, ficando assim esses resultados como uma estimativa de como seria o<br />

comportamento da resistência ao deslizamento nessa superfície.<br />

A Figura 7 mostra os pontos de medição para cada modelo de viga, que serão adotados como<br />

pontos de verificação das tensões na barra de aço e de resistência de aderência.<br />

A Figura 8 ilustra a variação da resistência na superfície de contato durante o passo de carga<br />

da maior força de ruptura do modelo com barra de 10 mm.<br />

0<br />

0<br />

Tensão (concreto) (MPa)<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

-20<br />

-25<br />

Elementos de concreto<br />

-25<br />

Elementos de contato<br />

-30<br />

-30<br />

0 2 4 6 8 10 12<br />

Pontos de medição<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

-20<br />

Tensão (contato) (MPa)<br />

Figura 8 – Tensão na superfície de contato para os modelos de viga com barra de 10 mm no passo de carga de<br />

força máxima aplicada.<br />

Pode-se ver na Figura 8, que as tensões existentes em ambos os elementos (concreto e<br />

contato) são de tração, ao contrário do modelo de arrancamento que possuía elementos de concreto<br />

comprimidos. A distribuição das tensões foi satisfatória, denotando a maior resistência ao<br />

deslizamento nos pontos iniciais com uma redução da resistência a partir do ponto 6 (centro do trecho<br />

aderente).<br />

Tensão (MPa)<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

-20<br />

-25<br />

-30<br />

Elementos de concreto<br />

-35<br />

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4<br />

Deslizamento (mm)<br />

Ponto 1<br />

Ponto 9<br />

Ponto 17<br />

Tensão (MPa)<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

-20<br />

-25<br />

-30<br />

Elementos de contato<br />

Ponto 1<br />

Ponto 9<br />

Ponto 17<br />

-35<br />

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4<br />

Deslizamento (mm)<br />

Figura 9 – Variação das tensões nos elementos de concreto e elementos de contato.<br />

A Figura 9 mostra a variação das tensões na superfície de contato e no concreto adjacente à<br />

barra de aço, no passo de carga de maior força de ruptura.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 77-92, 2009


86<br />

Fernando Menezes de Almeida Filho & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

Direção Z – Completo<br />

Direção Y – Completo<br />

Direção X – Completo<br />

Figura 10 – Tensões principais quando se atinge o passo de carga correspondente a força máxima de viga.<br />

A Figura 10 ilustra as tensões principais dos modelos numéricos de viga com barra de 10 mm<br />

quando do passo de carga correspondente à força de ruptura do modelo.<br />

Tensão (MPa)<br />

700<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

Ponto 1 - V-CAA-B10<br />

200<br />

Ponto 2 - V-CAA-B10<br />

Ponto 3 - V-CAA-B10<br />

Ponto 1 - Numérico<br />

100<br />

Ponto 2 - Numérico<br />

Ponto 3 - Numérico<br />

0<br />

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5<br />

Deformação (‰)<br />

Tensão (MPa)<br />

700<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

Ponto 1 - V-CC-B10<br />

200<br />

Ponto 2 - V-CC-B10<br />

Ponto 3 - V-CC-B10<br />

Ponto 1 - Numérico<br />

100<br />

Ponto 2 - Numérico<br />

Ponto 3 - Numérico<br />

0<br />

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5<br />

Deformação (‰)<br />

Figura 11 – Tensões principais quando se atinge o passo de carga correspondente a força máxima de viga.<br />

De acordo com a Figura 9, pode-se ver que o comportamento das tensões nos elementos de<br />

concreto e de contato foi semelhante, pois ambos permaneceram submetidos à tração. Ainda, os<br />

pontos 1 e 6 apresentaram comportamento similar enquanto o ponto 11 apresentou uma diferença<br />

significativa em seu comportamento, mostrando que os elementos de concreto possuem uma<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 77-92, 2009


Análise numérica da aderência em modelos de viga com concretos auto-adensáveis e concretos convencionais<br />

87<br />

transferência gradual para as tensões, pois as tensões do ponto 6 são maiores que as do ponto 11. Já<br />

os elementos de contato apresentaram um comportamento diferente, pois as tensões no ponto 11<br />

foram iguais à zero, e, portanto, inferiores as tensões do ponto 6.<br />

A Figura 11 ilustra a comparação entre as tensões provenientes dos resultados das<br />

deformações dos extensômetros elétricos de resistência do modelo experimental e as tensões do<br />

modelo numérico.<br />

A Figura 12 mostra a diferença entre os resultados obtidos para tensão na barra de aço.<br />

2,5<br />

Fator Bias (λ)<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

Ponto 1 - V-CC-B10<br />

Ponto 2 - V-CC-B10<br />

Ponto 3 - V-CC-B10<br />

Ponto 1 - V-CAA-B10<br />

Ponto 2 - V-CAA-B10<br />

Ponto 3 - V-CAA-B10<br />

0,0<br />

Figura 12 – Diferença entre as tensões na barra de aço do modelo experimental e numérico.<br />

De acordo com a Figura 12, pode-se ver que o modelo numérico foi menos rígido que o<br />

modelo experimental, apresentando um comportamento satisfatório na representação das tensões nos<br />

pontos 2 e 3. Já a deformação no ponto 1 apresentou muita diferença uma vez que no modelo<br />

numérico houve pouca transferência de esforços para esta região da barra (σy máximo do ensaio no<br />

ponto 1 foi de 24,5 MPa, para o modelo em CAA e 98,66 MPa para o modelo em CC) e por isso, se<br />

encontram fora de escala, conforme a Figura 12.<br />

Com relação aos modelos com barra de 16 mm, a Figura 13 ilustra a variação da resistência<br />

na superfície de contato durante o passo de carga da maior força de ruptura.<br />

-5<br />

-5<br />

Tensão (concreto) (MPa)<br />

-10<br />

-15<br />

-20<br />

-25<br />

-30<br />

Elementos de concreto<br />

Elementos de contato<br />

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18<br />

Pontos de medição<br />

-10<br />

-15<br />

-20<br />

-25<br />

-30<br />

Tensão (contato) (MPa)<br />

Figura 13 – Tensão na superfície de contato para os modelos de viga com barra de 16 mm no passo de carga de<br />

força máxima aplicada.<br />

Pode-se ver na Figura 13, que as tensões existentes em ambos os elementos (concreto e<br />

contato) são de tração, ao contrário do modelo de arrancamento que possuía elementos de contato<br />

comprimidos. A distribuição das tensões foi satisfatória, denotando a maior resistência ao<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 77-92, 2009


88<br />

Fernando Menezes de Almeida Filho & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

deslizamento nos pontos iniciais com uma redução da resistência a partir do ponto 8 (centro do trecho<br />

aderente).<br />

A Figura 14 mostra a variação das tensões na superfície de contato e no concreto adjacente à<br />

barra de aço.<br />

Tensão (MPa)<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

-20<br />

Elementos de concreto<br />

-25<br />

Ponto 1<br />

-30<br />

Ponto 9<br />

Ponto 17<br />

-35<br />

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4<br />

Deslizamento (mm)<br />

Tensão (MPa)<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

-20<br />

-25<br />

-30<br />

Elementos de contato<br />

-35<br />

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4<br />

Deslizamento (mm)<br />

Ponto 1<br />

Ponto 9<br />

Ponto 17<br />

Figura 14 – Variação das tensões nos elementos de concreto e elementos de contato.<br />

A Figura 15 ilustra as tensões principais dos modelos numéricos de viga com barra de 16 mm<br />

quando do passo de carga correspondente à força de ruptura do modelo.<br />

Direção Z – Completo<br />

Direção Y – Completo<br />

Direção X – Completo<br />

Figura 15 – Tensões principais quando se atinge o passo de carga correspondente a força máxima de viga.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 77-92, 2009


Análise numérica da aderência em modelos de viga com concretos auto-adensáveis e concretos convencionais<br />

89<br />

De acordo com a Figura 15, pode-se ver que o comportamento das tensões nos elementos de<br />

concreto e de contato foi semelhante, pois ambos permaneceram submetidos à tração. Ainda, o ponto<br />

1 apresentou comportamento similar enquanto os pontos 9 e 17 apresentaram uma diferença<br />

significativa em seu comportamento, mostrando que os elementos de concreto possuem uma<br />

transferência gradual para as tensões, pois as tensões do ponto 8 são maiores que as do ponto 17. Já<br />

os elementos de contato apresentaram um comportamento diferente, pois as tensões no ponto 17<br />

foram maiores que as do ponto 8.<br />

A Figura 16 ilustra a comparação entre as tensões provenientes dos resultados das<br />

deformações dos extensômetros elétricos de resistência do modelo experimental e as tensões do<br />

modelo numérico.<br />

Tensão (MPa)<br />

700<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

Ponto 1 - V-CAA-B16<br />

200<br />

Ponto 2 - V-CAA-B16<br />

Ponto 3 - V-CAA-B16<br />

Ponto 1 - Numérico<br />

100<br />

Ponto 2 - Numérico<br />

Ponto 3 - Numérico<br />

0<br />

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5<br />

Deformação (‰)<br />

Tensão (MPa)<br />

700<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

Ponto 1 - V-CC-B16<br />

200<br />

Ponto 2 - V-CC-B16<br />

Ponto 3 - V-CC-B16<br />

Ponto 1 - Numérico<br />

100<br />

Ponto 2 - Numérico<br />

Ponto 3 - Numérico<br />

0<br />

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5<br />

Deformação (‰)<br />

Figura 16 – Tensões principais quando se atinge o passo de carga correspondente a força máxima de viga.<br />

A Figura 17 mostra a diferença entre os resultados obtidos para tensão na barra de aço.<br />

2,5<br />

Fator Bias (λ)<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

Ponto 1 - V-CAA-B16<br />

Ponto 2 - V-CAA-B16<br />

Ponto 3 - V-CAA-B16<br />

Ponto 1 - V-CC-B16<br />

Ponto 2 - V-CC-B16<br />

Ponto 3 - V-CC-B16<br />

0,0<br />

Figura 17 – Diferença entre as tensões na barra de aço do modelo experimental e numérico.<br />

De acordo com a Figura 17, pode-se ver que o modelo numérico foi mais deformável que o<br />

modelo experimental, entretanto o comportamento foi satisfatório na representação das tensões no<br />

ponto 2, pois foi possível se estimar as tensões na barra de aço com uma diferença máxima de 17%<br />

para o modelo em CAA, e em 0,7% para o modelo em CC, entretanto o ponto 3 se mostrou muito<br />

deformável e a aproximação do modelo em CAA ficou em 28% e a aproximação para o modelo em CC<br />

ficou em 39%. A deformação no ponto 1 apresentou muita diferença uma vez que no modelo numérico<br />

houve pouca transferência de esforços para esta região da barra (σy máximo do ensaio no ponto 1 foi<br />

de 30 MPa) e por isso, se encontram fora de escala na Figura 17.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 77-92, 2009


90<br />

Fernando Menezes de Almeida Filho & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

4 CONCLUSÕES<br />

Neste trabalho o objetivo principal foi a de propor um modelo numérico consistente para a<br />

representação dos ensaios estudados, de forma a permitir uma análise paramétrica mais abrangente<br />

do fenômeno estudado.<br />

De acordo com os resultados da simulação numérica, pode-se concluir que:<br />

i. Os resultados das simulações apresentaram uma previsão satisfatória da força de ruptura do<br />

ensaio.<br />

ii. Os modelos com barra de 16 mm apresentaram comportamentos satisfatórios, entretanto, a<br />

aproximação destes modelos foi menor que os modelos com barra de 10 mm. Isso pode ser explicado<br />

pelo tamanho da superfície de contato existente, que provavelmente, necessitaria uma maior<br />

discretização para uma melhor aproximação dos resultados.<br />

iii. Foi verificado que, à medida que se aumenta o diâmetro da barra de aço, o comportamento do<br />

modelo numérico tendia para o linear. Isso significa que, são necessárias mais investigações com<br />

relação ao nível de discretização da malha do contato e com relação aos parâmetros que influenciam<br />

o comportamento da interface, para uma melhor representação da tensão de aderência quando da<br />

utilização de barras de diâmetro de 16 mm.<br />

iv. Com relação à representação da tensão de aderência e das tensões nas barras de aço,<br />

embora não existissem dados para corroborar os resultados numéricos, a representação da superfície<br />

de contato pode dar uma idéia do comportamento e da variação da tensão de aderência; já as tensões<br />

nas barras de aço apresentaram uma aproximação satisfatória mostrando que os pontos de maior<br />

concentração de tensões foram bem representados e, somente o ponto 1, que representa o ponto<br />

após o comprimento de ancoragem, que possuía pouca transferência de tensões, se mostrou muito<br />

flexível em relação ao modelo experimental.<br />

Assim, o modelo numérico proposto se mostrou adequado para representar a força de ruptura<br />

e a flecha do ensaio, bem como uma boa aproximação do deslizamento existente na barra. Entretanto,<br />

os modelos de viga com barra de 16 mm necessitam uma melhor discretização de modo a ser<br />

aumentar sua aproximação com o resultado experimental.<br />

5 NOTAÇÃO<br />

P u<br />

δ<br />

s u<br />

τ u<br />

D<br />

FKN<br />

FKT<br />

Força de ruptura do modelo de viga, em kN;<br />

Flecha do ensaio no instante da força de ruptura, em mm;<br />

Deslizamento no instante da força de ruptura P u , em mm;<br />

Tensão de aderência no instante da força de ruptura P u , em MPa;<br />

Deslizamento aplicado pelo pistão da máquina de ensaios no modelo de viga, em mm;<br />

Fator de resistência normal ao deslizamento (normal contact stiffness factor), adimensional;<br />

Fator de resistência tangente ao deslizamento (tangent contact stiffness factor), adimensional;<br />

6 AGRADECIMENTOS<br />

Os autores gostariam de expressar seu profundo agradecimento ao CNPq e a CAPES pelo<br />

apoio financeiro, sem o qual esta pesquisa não poderia ter sido realizada. A FAPESP (Fundação de<br />

Amparo à Pesquisa de São Paulo) pelo auxílio financeiro para os ensaios, às empresas Holdercim,<br />

Brasil Minas S.A., Elken e Grace Brasil pela doação de material para a pesquisa e aos técnicos do<br />

Laboratório de Estruturas.<br />

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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 77-92, 2009


ISSN 1809-5860<br />

ANÁLISE TERMO-ESTRUTURAL DE PILARES DE AÇO EM SITUAÇÃO DE<br />

INCÊNDIO<br />

Érica Fernanda Aiko Kimura 1 & Jorge Munaiar Neto 2<br />

Resumo<br />

O presente trabalho tem como objetivo analisar numericamente o comportamento de pilares de aço em situação<br />

de incêndio, considerando condições de compartimentação do ambiente em chamas. A investigação utiliza o<br />

código ANSYS v9.0 por meio de análise transiente do gradiente térmico nos elementos estruturais. Foram<br />

elaborados modelos tridimensionais para obtenção do gradiente de temperatura e para a análise termoestrutural,<br />

que levam em conta as não-linearidades do material e geométrica. Os resultados foram comparados aos métodos<br />

propostos pela ABNT NBR 14323:1999 e EC3-1.2, nas quais se utilizam o parâmetro chamado fator de<br />

massividade (F), para a determinação da temperatura máxima do elemento estrutural e, conseqüentemente, para<br />

o dimensionamento em temperaturas elevadas. De acordo com os resultados apresentados, para as situações em<br />

que ocorra distribuição não-uniforme da temperatura, o fator de massividade pode conduzir a valores de<br />

temperatura que não condizem satisfatoriamente com a real situação de interesse na análise.<br />

Palavras-chave: Estruturas de aço. Incêndio. Análise térmica. Análise termoestrutural.<br />

COUPLED THERMAL AND STRUCTURAL ANALYSIS OF STEEL COLUMNS<br />

UNDER FIRE CONDITION<br />

Abstract<br />

The objective of the presented work is to develop steel columns numerical analysis considering its behavior under<br />

fire situation, including compartment condition of the room. The thermal and coupled thermal structural<br />

numerical analyses were carried out using the computational code ANSYS v9.0. Three-dimensional models taking<br />

account coupled thermal and structural analysis, considering material and geometric non-linearity were showed.<br />

The results were compared with method proposed by standard ABNT NBR: 14323-1999 and EC3-1.2, in which<br />

are used the section factor in order to determine the maximum structural element temperature and, consequently,<br />

the design in elevated temperature with respect to the collapse load. As the numerical results shows, for situations<br />

where non-uniform heating conditions occurs, the section factor (F), can carry out to an unsatisfactory response<br />

if compared with a real fire situation.<br />

Keywords: Steel structures. Steel columns. Fire condition. Thermal. Structural analysis.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O objetivo do presente estudo se voltou para a análise, em caráter puramente numérico, do<br />

comportamento de pilares de aço constituídos de perfis pesados (soldados ou laminados) em situação<br />

de incêndio, com ênfase a compartimentação do ambiente proporcionado pela interação desses com<br />

paredes de alvenaria. Neste trabalho, também foi considerada a influência das imperfeições<br />

geométricas iniciais do modo global sobre o tempo de resistência ao fogo (TRF).<br />

O método simplificado de cálculo adotado por algumas normas nacionais, como a ABNT NBR<br />

14323:1999 [1], utiliza o parâmetro denominado fator de massividade para determinar a temperatura<br />

máxima do elemento exposto à ação térmica com base numa curva de incêndio (padronizada por<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, ekimura@sc.usp.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jmunaiar@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


94<br />

Érica Fernanda Aiko Kimura & Jorge Munaiar Neto<br />

normas técnicas) após um determinado tempo. Para barras prismáticas, o fator de massividade é<br />

dado pela relação entre o perímetro exposto ao fogo (u) e a área total da seção transversal (A g ).<br />

A aplicação do fator de massividade por meio do método simplificado foi proposta para<br />

situações em que o aquecimento seja simétrico e uniforme. Nas situações em que não haja simetria<br />

ou uniformidade na propagação do calor no elemento estrutural, este método pode conduzir a<br />

resultados que podem não estar em concordância com aqueles que de fato venham a ocorrer na<br />

prática.<br />

No contexto deste trabalho, para a análise acoplada termo-estrutural, foram elaborados<br />

modelos tridimensionais, inicialmente para fins de obtenção e validação do campo térmico.<br />

Posteriormente, foram construídos modelos estruturais 3-D compatíveis com os térmicos para os<br />

quais foram transferidos os campos térmicos com distribuição não-uniforme de temperatura. Nos<br />

mesmos elementos também é aplicado um carregamento estático juntamente com a consideração de<br />

imperfeição geométrica global, obtida por meio de “análise de autovalor” com vistas a determinar os<br />

esforços resistentes de pilares de aço submetidos à ação térmica em ambientes compartimentados.<br />

As análises numéricas foram realizadas com base nas seguintes simplificações:<br />

● a força de compressão é aplicada de forma centrada;<br />

● o gradiente de temperatura é uniforme ao longo do comprimento;<br />

● as vinculações em ambas as extremidades são do tipo apoio fixo na base e apoio móvel no topo.<br />

2 ANÁLISE PURAMENTE TÉRMICA<br />

A temperatura dos gases aquecidos variou conforme a curva de incêndio-padrão proposta<br />

pela norma internacional ISO 834 [2]. Essa curva de temperatura dos gases é adotada tanto pela<br />

ABNT NBR14323:1999 como pelo EC3-1.2 [3] e, de acordo com sua formulação, a temperatura média<br />

do forno deverá ser monitorada e controlada de acordo com a equação 1.<br />

g<br />

( )<br />

θ (t)=345log 8t+1 +20 (1)<br />

A ação térmica na estrutura é descrita pelo fluxo de calor provocado pela diferença de<br />

temperatura entre os gases quentes do ambiente e os componentes da estrutura. O aumento da<br />

temperatura nos elementos estruturais, em conseqüência da ação térmica, causa redução da<br />

resistência, da rigidez e o aparecimento dos esforços solicitantes adicionais nas estruturas<br />

hiperestáticas. Na maioria das vezes, pode haver um colapso prematuro de um dado elemento<br />

estrutural (ou mesmo da estrutura), o que pode não garantir a desocupação total da edificação com o<br />

mínimo de segurança.<br />

A análise térmica realizada é do tipo transiente, a qual, por definição, é aquela que determina<br />

temperatura e outras grandezas térmicas em função do tempo, conforme citado em Regobello (2007)<br />

[4]. As propriedades térmicas fornecidas na estratégia numérica elaborada utilizando o código<br />

computacional ANSYS v9.0 e seus respectivos valores são citados:<br />

● Constante de Stefan-Boltzmann: σ = 5,67 x 10 -8 W/(m 2 K 4 )<br />

● Emissividade: ε = 5,67·10 -8<br />

● Coeficiente de transferência de calor por convecção: α c = 25W/m 2 K (valor adotado pelo EC3-1.2 e<br />

pela ABNT-NBR 14323:1999). O valor de α c pode variar dependendo de fatores como a geometria e<br />

rugosidade da superfície, além da natureza do fluxo.<br />

● Condutividade térmica: segue a variação em função da temperatura descrita pela equação 2.<br />

a<br />

λ<br />

a=54- 300<br />

λ =27,3<br />

a<br />

θ<br />

para<br />

20°C ≤θ 800°C<br />

a<br />

800°C ≤θ 1200°C<br />

a<br />

(2)<br />

● Alongamento térmico: valores conforme conjunto de equações 3.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


Análise termo-estrutural de pilares de aço em situação de incêndio<br />

95<br />

Δ l = 1,2.10 θ + 0,4.10 . θ − 2,416.10<br />

l<br />

Δ l =<br />

−2<br />

1,1.10<br />

l<br />

Δ l =<br />

−5 θ −<br />

−3<br />

2.10<br />

a<br />

6,2.10<br />

l<br />

−5 −8 −4<br />

a<br />

a<br />

para<br />

● Calor específico: valores conforme conjunto de equações 4.<br />

c = 425 + 0,773θ −1,69.10 θ + 2,22.10 θ<br />

−3 2 −6 −3<br />

a a a a<br />

13002<br />

ca<br />

= 666 + 738 −θ<br />

17820<br />

ca<br />

= 545 + θ − 731<br />

c = 650<br />

a<br />

● Densidade do aço: ρ: 7850kg/m 3 .<br />

a<br />

a<br />

para<br />

20°C< θ ≤750°C<br />

a<br />

750°C< θ ≤860°C<br />

a<br />

860°C< θ ≤1200°C<br />

a<br />

20° C ≤θ ≤ 600°<br />

C<br />

a<br />

600° C


96<br />

Érica Fernanda Aiko Kimura & Jorge Munaiar Neto<br />

valores obtidos via código SuperTempCalc (STC), cujos resultados foram gentilmente cedidos por<br />

Valdir Pignatta e Silva, atualmente professor da Escola Politécnica da <strong>USP</strong>. Outro exemplo é tomado<br />

com base na edificação pertencente ao Instituto Fábrica do Milênio – EESC/<strong>USP</strong>. As tabelas 1 e 2,<br />

bem como as figuras 1, 2 e 3 descrevem as configurações aqui analisadas.<br />

Tabela 2 – Nomenclatura adotada para o exemplo ilustrado na figura 3<br />

Perfis analisados com base no Instituto Fábrica do Milênio:<br />

Pilar externo de canto submetido ao aquecimento pelo lado mais exposto à<br />

P – W310 x 38,7 L3811 mm<br />

ação térmica;<br />

y<br />

z<br />

X<br />

X<br />

(a)<br />

Figura 2 – Nomenclaturas adotadas para os exemplos de pilares analisados: (a) P - UC 203 x 203 x 46 – A, (b) P<br />

- UC 203 x 203 x 46 – M_[+e] e (c) P - UC 203 x 203 x 46 – M_[-e].<br />

Z<br />

Y<br />

(b)<br />

Z<br />

Y<br />

(c)<br />

Figura 3 – Nomenclaturas adotadas para os exemplos de pilares analisados: P – W310 x 38,7 L3811 mm.<br />

(a)<br />

Figura 4 – Campo térmico (em o C) do perfil UC 203 x 203 x 46 –I: (a) via SuperTempcalc e (b) via ANSYS, para<br />

um TRF igual a 60 minutos.<br />

(b)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


Análise termo-estrutural de pilares de aço em situação de incêndio<br />

97<br />

As figuras 4, 5, 6, 7 e 8 ilustram situações de campos térmicos obtidos para as configurações<br />

aqui analisadas.<br />

Figura 5 – Campo térmico (em o C) do perfil P - UC 203 x 203 x 46 – C, para um TRF igual a 60 minutos obtido:<br />

(a) via SuperTempcalc e (b) via ANSYS.<br />

(a)<br />

(b)<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 6 – Campo térmico (em o C) do perfil P - UC 203 x 203 x 46 – A, para um TRF de 60 minutos, via: (a)<br />

SuperTempcalc e (b) via ANSYS.<br />

(a)<br />

Figura 7 – Campo térmico (em o C) do perfil P - UC 203 x 203 x 46 – M obtido: (a) via STC e (b) via ANSYS para<br />

um TRF igual a 60 minutos.<br />

(b)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


98<br />

Érica Fernanda Aiko Kimura & Jorge Munaiar Neto<br />

Figura 8 – Campo térmico (em o C) do perfil P – W310 x 38,7-L3811 mm obtido pelo código ANSYS para um TRF<br />

igual a 60 minutos.<br />

3 ANÁLISE ESTRUTURAL EM TEMPERATURA AMBIENTE<br />

Para o desenvolvimento da análise estrutural em temperatura ambiente, já visando o<br />

acoplamento com o modelo térmico para análise termo-estrutural, optou-se pela modelagem utilizando<br />

o elemento finito SOLID45. A barra (pilar de aço) é inicialmente considerada com imperfeição<br />

geométrica inicial do tipo global. A configuração deslocada é obtida a partir de uma perturbação na<br />

sua geometria introduzida por meio de uma análise de flambagem por autovalor, como descrito em<br />

Almeida (2007) [5]. Por definição, essa analise prevê a resistência teórica à flambagem (o ponto de<br />

bifurcação) de uma estrutura, considerando a fase elástica linear.<br />

3.1 Relação constitutiva<br />

O perfil de aço segue o critério de plastificação de von Mises para materiais isotrópicos elastoplásticos<br />

com encruamento, representada por uma curva multilinear. A figura 9 informa o valor da<br />

resistência de escoamento dos exemplos em questão, bem como as relações constitutivas do aço<br />

utilizadas pelo EUROCODE 3-1.2 e introduzida como dado de entrada na análise numérica via<br />

ANSYS. A figura 10 ilustra a redução das propriedades do material, expressas como a relação entre a<br />

resistência e a rigidez a uma determinada temperatura θ e em temperatura ambiente, respectivamente<br />

para o módulo de elasticidade, tensão de escoamento e tensão de plastificação, em função da<br />

temperatura.<br />

Pilar f y [kN/cm 2 ]<br />

UC 203 x 203 x 46<br />

L=3170 mm<br />

W 310 x 38,1<br />

L=3811 mm<br />

27,5<br />

25<br />

(a)<br />

Figura 9 – (a) Tensão de escoamento dos exemplos analisados e (b) a relação constitutiva do aço-carbono em<br />

função da temperatura θ, fornecida ao ANSYS com base no EC3-1.2.<br />

(b)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


Análise termo-estrutural de pilares de aço em situação de incêndio<br />

99<br />

1<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

kE,θ = Eθ/ Ea<br />

ky,θ = fy,θ/fy<br />

kp,θ = fp,θ/fy<br />

Fator de redução<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200<br />

Temperatura<br />

Figura 10 – Redução das propriedades mecânicas do aço, em função da temperatura (em o C).<br />

3.2 Condições de contorno<br />

As condições de contorno nas extremidades adotaram o modelo de rotula cilíndrica, fixo na<br />

base e móvel no topo, com as restrições impostas na linha paralela ao eixo y (de menor inércia). Para<br />

evitar o deslocamento relativo entre os nós pertencentes a essa linha na direção axial, estes foram<br />

acoplados em relação à mesma direção.<br />

3.3 Aplicação do carregamento estático<br />

O método de resolução seguiu a estratégia incremental-iterativa ou estratégia de Newton-<br />

Raphson. No caso da análise estrutural em temperatura ambiente, optou-se por controlar o tamanho<br />

do deslocamento incremental, o qual é aplicado no nó de menor numeração entre os nós acoplados.<br />

A máxima reação de apoio (em módulo), fornecida pela curva reação x deslocamento,<br />

corresponde à força de colapso do pilar a ser considerada como valor de referência para fins de<br />

comparação com aquelas a serem obtidas quando das análises termo-estruturais. A tabela 3 ilustra os<br />

valores de força nominal obtidas pela análise numérica e por meio dos procedimentos normativos da<br />

ABNT NBR 8800:2008 [6], ANSI/AISC:2005 [7]e EC3-1.1 [8], bem como os valores de cálculo obtidos<br />

pelas mesmas normas.<br />

Tabela 3 – Força máxima obtidas pela análise numérica e pelos códigos normativos, em kN<br />

Pilar<br />

Análise numérica<br />

ABNT-NBR 8800:2008 /<br />

ANSI/AISC:2005<br />

Eurocode 3 part 1<br />

UC 203 x 203 x 46 -<br />

L=3170 mm<br />

W 310 x 38,1 -<br />

L=3811 mm<br />

W 310 x 38,1 -<br />

L=3890 mm<br />

1215 1292 1255<br />

675 734 738<br />

661 718 718<br />

4 ANÁLISE ACOPLADA TERMO-ESTRUTURAL<br />

Na análise termo-estrutural, além da influência da disposição de paredes na determinação do<br />

campo térmico, procurou-se observar o sentido da imperfeição geométrica inicial em relação à<br />

localização da fonte de calor. A aplicação dos esforços solicitantes tomou a seguinte ordem:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


100<br />

Érica Fernanda Aiko Kimura & Jorge Munaiar Neto<br />

● Inicialmente são aplicadas forças estáticas nodais em todos os nós no topo da alma, para obter as<br />

respostas estruturais. Sobre cada exemplo, foram realizadas nove análises acopladas termoestruturais,<br />

em que os níveis de carregamento aplicados respeitaram o intervalo de 10% a 90% da<br />

força de colapso do pilar, considerando múltiplos de 10;<br />

● Em seguida, já processada a parte estrutural, é aplicada a ação térmica de forma transiente, por<br />

meio do acoplamento com o modelo térmico. Para isso, faz-se a chamada do arquivo de respostas da<br />

análise térmica. As respostas finais têm influência da parcela estrutural inicialmente imposta e da parte<br />

térmica.<br />

A chapa de topo (extremidades) não recebe ação térmica. A ela são atribuídas apenas as<br />

propriedades físicas em regime elástico e em temperatura ambiente. Para os pilares com menor<br />

superfície em contato com o campo térmico, o tempo crítico (TRF) ultrapassava 150 minutos.<br />

4.1 Influência do sentido da imperfeição geométrica global<br />

No presente trabalho foi observado se o sentido do deslocamento inicial interfere no tempo<br />

crítico do pilar exposto ao incêndio, para situações de gradiente térmico assimétrico. O estudo sobre<br />

os exemplos apresentados mostrou que, situações onde o campo térmico atua no sentido oposto do<br />

deslocamento inicial apresentaram ligeira vantagem no TRF (tempo de resistência ao fogo), em razão<br />

de o lado do pilar exposto à situação de incêndio apresentar deformação de compressão no mesmo<br />

lado, em decorrência da força de compressão aplicada e do sentido do deslocamento inicial.<br />

Na presença da ação térmica, esse lado tende a apresentar deformações provocadas pela<br />

dilatação térmica no sentido oposto ao da compressão. A deformação axial decorrente da dilatação<br />

térmica é inicialmente nula e cresce com o aumento da temperatura. Em uma determinada<br />

temperatura, a deformação por dilatação anulará e, posteriormente, superará a deformação por<br />

compressão.<br />

Quando o pilar se encontra com imperfeição global e em situação de incêndio no mesmo<br />

sentido, este já tem o lado com deformação de tração em contato com a ação térmica. Logo, a<br />

deformação por dilatação térmica será somada a essa deformação de tração ocasionada pelo<br />

deslocamento inicial. Assim sendo, o TRF tende a ser mais baixo quando comparado a ambos atuando<br />

em sentidos opostos. O pilar se deforma por efeito da ação térmica até que este apresente uma<br />

temperatura tal que suas propriedades de rigidez e resistência não sejam mais suficientes para<br />

suportar o carregamento estático imposto.<br />

Na seqüência, são apresentados os gráficos relativos aos deslocamentos axial e lateral para<br />

os níveis de força externa aplicada entre 10% e 90% daquela força de colapso obtida em temperatura<br />

ambiente. Por último, é apresentado o fator de redução em função do tempo (N fi /N), definido pela<br />

relação entre o carregamento imposto na análise em situação de incêndio e o carregamento máximo<br />

alcançado pela estrutura em temperatura ambiente.<br />

● Exemplo 1: P - UC 203 x 203 x 46 – I<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 11 – Deslocamento (a) axial e (b) lateral em situação de incêndio para uma força aplicada igual 727,7 kN,<br />

para TRF igual a 8 minutos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


Análise termo-estrutural de pilares de aço em situação de incêndio<br />

101<br />

35<br />

30<br />

30<br />

25<br />

25<br />

Deslocamento axial [mm]<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

0 5 10 15 20 25 30<br />

Tempo [minuto]<br />

121 kN 243 kN 364 kN<br />

488 kN 603 kN 728 kN<br />

850 kN 973 kN 1093 kN<br />

Tempo [minutos]<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

124,490 kN<br />

242,890 kN<br />

364,400 kN<br />

488,421 kN<br />

603,303 kN<br />

727,720 kN<br />

850,180 kN<br />

972,560 kN<br />

1093,300 kN<br />

0 2 4 6 8 10 12 14 16<br />

Deslocamento lateral [mm]<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 12 – Deslocamentos (a) axial e (b) lateral para os níveis de força aplicados correspondentes de 0,1·N a<br />

0,9·N.<br />

1<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

y<br />

0,6<br />

z<br />

N fi /N<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60<br />

Tempo [minutos]<br />

TCD ANSYS NBR14323 EC 3 - 2<br />

Figura 13 – Fator de redução para a força axial de plastificação em relação ao TRF, obtido pelo ANSYS, TCD e<br />

pelos métodos simplificados da ANBT NBR 14323 e do EC3-1.2.<br />

●Exemplo 2: P - UC 203 x 203 x 46 – C_[+e]<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 14 – Deslocamentos (a) axial e (b) lateral do pilar submetido a força axial de 728 kN, para um TRF igual a<br />

42 minutos, considerando imperfeição global no sentido em que foi aplicada a ação térmica.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


102<br />

Érica Fernanda Aiko Kimura & Jorge Munaiar Neto<br />

20<br />

50<br />

40<br />

15<br />

30<br />

Deslocamento axial [mm]<br />

10<br />

5<br />

Deslocamento lateral da alma [mm]<br />

20<br />

10<br />

0<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

-10<br />

-20<br />

0<br />

-30<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

-40<br />

-5<br />

Tempo [minuto]<br />

121 kN 243 kN 364 kN 488 kN 603 kN 728 kN 850 kN 973 kN<br />

(a)<br />

-50<br />

Tempo [minutos]<br />

121 kN 243 kN 364 kN 488 kN 603 kN 728 kN 850 kN 973 kN 1093 kN<br />

Figura 15 – Deslocamentos (a) axial e (b) lateral do pilar para níveis força aplicados entre 0,1·N e 0,9·N, com<br />

múltiplos de 0,1.<br />

(b)<br />

1<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

Z<br />

X<br />

N fi /N<br />

0,5<br />

0,4<br />

Y<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Tempo [minuto]<br />

TCD ANSYS NBR 14323 EC 3 - 1.2<br />

Figura 16 – Fator de redução para a força axial de plastificação em relação ao TRF, obtido pelo ANSYS, TCD e<br />

pelos métodos simplificados da ANBT-NBR14323 e do EC3-1.2.<br />

● Exemplo 3: P - UC 203 x 203 x 46 – C_[-e]<br />

(a)<br />

Figura 17 – Configuração deformada (a) axial e (b) lateral para força aplicada igual a 728 kN, considerando<br />

imperfeição global no mesmo sentido em que foi aplicada a ação térmica.<br />

(b)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


Análise termo-estrutural de pilares de aço em situação de incêndio<br />

103<br />

20<br />

5<br />

Deslocamento axial [mm]<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Deslocamento lateral da alma [mm]<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

-5<br />

-15<br />

-25<br />

-35<br />

-45<br />

-5<br />

Tempo [minutos]<br />

-55<br />

Tempo [minuto]<br />

121 kN 243 kN 364 kN 488 kN 603 kN 728 kN 850 kN 973 kN 1093 kN<br />

(a)<br />

243 kN 364 kN 488 kN 728 kN 850 kN 973 kN 1093 kN<br />

Figura 18 – Deslocamentos (a) axial e (b) lateral do pilar obtido para níveis de força aplicada variando entre 0,1N<br />

e 0,9N, com múltiplos de 0,1.<br />

(b)<br />

1<br />

0,9<br />

0,8<br />

N fi,pl /N pl<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

Z<br />

X<br />

Y<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Tempo [minuto]<br />

TCD ANSYS NBR 14323 EC 3 - 1.2<br />

Figura 19 – Comparação entre o TCD, o ANSYS e os métodos simplificados da ABNT NBR14323:1999 e EC3-<br />

1.2, relativo ao fator de redução da força em relação ao TRF.<br />

Para o pilar de canto, considerando forças aplicadas variando entre 0,2·N e 0,5·N, o tempo<br />

obtido com campo térmico e imperfeição global aplicados no mesmo sentido resultou num TRF menor<br />

se comparado a imperfeição no lado oposto. O inverso aconteceu para forças aplicadas<br />

correspondentes a 0,6·N e 0,7·N.<br />

● Exemplo 4: P - UC 203 x 203 x 46 – A<br />

(a)<br />

Figura 20 – Deslocamentos (a) axial e (b) do pilar submetido à força de compressão igual a 728 kN para TRF<br />

igual a 14 minutos, correspondente ao tempo critico.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009<br />

(b)


104<br />

Érica Fernanda Aiko Kimura & Jorge Munaiar Neto<br />

20<br />

60<br />

15<br />

50<br />

Deslocamento axial [mm]<br />

10<br />

5<br />

Deslocamento latral na alma [mm]<br />

40<br />

30<br />

20<br />

0<br />

10<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

-5<br />

Tempo [minuto]<br />

0<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Tempo [minuto]<br />

121 kN 243 kN 364 kN 488 kN 603 kN 728 kN 850 kN 973 kN 1093 kN<br />

121 kN 243 kN 364 kN 488 kN 603 kN 728 kN 850 kN 973 kN 1093 kN<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 21 – Deslocamento (a) axial e (b) lateral do pilar para os nove níveis de força aplicados.<br />

1<br />

0,9<br />

y<br />

0,8<br />

z<br />

0,7<br />

0,6<br />

N fi /N<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Tempo [minuto]<br />

TCD ANSYS NBR14323 EC3 - 1.2<br />

Figura 22 – Fator de redução para a força axial de plastificação em relação ao TRF, obtido pelo ANSYS, TCD e<br />

pelos métodos simplificados da ANBT NBR14323 e do EC3-1.2.<br />

● Exemplo 5: P - UC 203 x 203 x 46 – M_[+e]<br />

(a)<br />

Figura 23 – Configuração deformada (a) axial e (b) lateral para uma força aplicada equivalente a 0,5N, ou seja,<br />

603 kN e TRF igual a 16 minutos.<br />

(b)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


Análise termo-estrutural de pilares de aço em situação de incêndio<br />

105<br />

30<br />

10<br />

25<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60 70<br />

20<br />

-10<br />

Deslocamento axial [mm]<br />

15<br />

10<br />

5<br />

Deslocamento lateral [mm]<br />

-20<br />

-30<br />

-40<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60 70<br />

-50<br />

-5<br />

-60<br />

Tempo [minuto]<br />

Tempo [minuto]<br />

121 kN 243 kN 364 kN 488 kN 603 kN 728 kN 850 kN 972 kN 1093 kN<br />

121 kN 243 kN 364 kN 488 kN 603 kN 728 kN 850 kN 972 kN 1093 kN<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 24 – Deslocamentos (a) axial e (b) do pilar para os nove níveis de força aplicados.<br />

1<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

N fi /N<br />

0,5<br />

Z<br />

X<br />

0,4<br />

Y<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Tempo [minutos]<br />

TCD ANSYS NBR 14323 EC3 - 1.2<br />

Figura 25 – Comparação entre o TCD, ANSYS e os métodos simplificados da ABNT NBR14323:1999 e EC3-1.2<br />

relativo ao fator de redução da força em relação ao TRF.<br />

● Exemplo 6: P - UC 203 x 203 x 46 – M_[-e]<br />

(a)<br />

Figura 26 – Configuração deformada (a) axial e (b) lateral para uma força aplicada equivalente a 0,5·N, ou seja,<br />

603kN e TRF igual a 14 minutos.<br />

(b)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


106<br />

Érica Fernanda Aiko Kimura & Jorge Munaiar Neto<br />

30<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60 70<br />

25<br />

-10<br />

Deslocamento axial [mm]<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

Deslocamento lateral da alma [mm]<br />

-20<br />

-30<br />

-40<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60 70<br />

-50<br />

-60<br />

-5<br />

Tempo [minuto]<br />

Tempo [minuto]<br />

603 kN 121,5 kN 242,3 kN 364,4 kN 488,4 kN 603,3 kN 727,7 kN 850,2 kN 927,7 kN 1093,3 kN<br />

121 kN 243 kN 364 kN 488 kN 728 kN 850 kN 972 kN 1093 kN<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 27 – Deslocamentos (a) axial e (b) lateral do pilar para os nove níveis de força aplicados.<br />

1<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

Nfi/N<br />

0,5<br />

0,4<br />

X<br />

0,3<br />

Z<br />

0,2<br />

Y<br />

0,1<br />

0<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Tempo [minuto]<br />

ANSYS TCD NBR 14323 EC 3 - 1.2<br />

Figura 28 – Comparação entre o TCD, ANSYS e métodos simplificados da ABNT NBR14323:1999 e EC3-1.2,<br />

relativo ao fator de redução da força em relação ao TRF.<br />

Para os pilares mais expostos ao campo térmico, como no presente caso, com paredes de<br />

alvenaria em contato com a mesa do perfil, para níveis mais baixos de força aplicada (entre 10% e<br />

20% de N) e pequenos valores de deslocamento lateral, não foi registrada diferença significativa no<br />

valor do tempo crítico para ambas as configurações.<br />

A partir de valores de compressão aplicada equivalentes a 0,3·N até 0,9·N, o pilar submetido ao<br />

campo térmico e imperfeição global inicial no mesmo sentido apresenta TRF mais baixo.<br />

● Exemplo 7: P – W310 x 38,7 L3811 mm<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009<br />

(a)<br />

Figura 29 – Configuração deformada (a) axial e (b) lateral para uma força aplicada equivalente a 0,5N, ou seja,<br />

337kN e TRF igual a 7,5.<br />

(b)


Análise termo-estrutural de pilares de aço em situação de incêndio<br />

107<br />

40<br />

30<br />

35<br />

20<br />

30<br />

10<br />

Deslocamento axial [mm]<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

Deslocamento lateral [mm]<br />

0<br />

0 5 10 15 20 25 30 35 40<br />

-10<br />

-20<br />

-30<br />

5<br />

-40<br />

0<br />

-50<br />

0 5 10 15 20 25 30 35 40<br />

-5<br />

-60<br />

Tempo[minutos]<br />

Tempo [minuto]<br />

68 kN 135 kN 203 kN 270 kN 338 kN 403 kN 473 kN 540 kN 608 kN<br />

68 kN 135 kN 203 kN 270 kN 338 kN 402 kN 473 kN 540 kN 608 kN<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 30 – Deslocamentos (a) axial e (b) lateral do pilar para os nove níveis de força aplicados.<br />

1<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

N fi/N<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60<br />

Tempo [minuto]<br />

ANSYS TCD EC 3 -1.2 NBR 14323<br />

Figura 31 – Comparação entre o fator de redução obtido via ANSYS, SuperTempcalc, métodos simplificados do<br />

Eurocode 3-2 e da ABNT-NBR14323:1999.<br />

Os gráficos das figuras 32 e 33 comparam as curvas dos fatores de redução obtidas para cada<br />

exemplo analisado, por meio das análises numéricas e dos métodos simplificados propostos pelos<br />

códigos normativos considerados.<br />

1<br />

1<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – I<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – C_+e<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – C_-e<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – A<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – M_+e<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – M_-e<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – I<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – C<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – A<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – M<br />

P – W310 x 38,7 L3811 mm<br />

N fi/N<br />

0,5<br />

P – W310 x 38,7 L3811 mm<br />

N fi/N<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,1<br />

0<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Tempo [minuto]<br />

0<br />

0 20 40 60 80 100 120 140<br />

Tempo [minuto]<br />

(a)<br />

Figura 32 – Fatores de redução dos exemplos estudados obtidos por meio do código computacional (a) ANSYS<br />

v9.0 e (b) TCD.<br />

(b)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


108<br />

Érica Fernanda Aiko Kimura & Jorge Munaiar Neto<br />

1<br />

1<br />

0,9<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – I<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – C<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – A<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – M<br />

P – W310 x 38,7 L3811 mm<br />

0,9<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – I<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – C<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – A<br />

P - UC 203 x 203 x 46 – M<br />

P – W310 x 38,7 L3811 mm<br />

N fi/N<br />

0,5<br />

N fi/N<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,1<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60<br />

Tempo [minuto]<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60<br />

Tempo [minuto]<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 33 – Fatores de redução obtidos por meio do método simplificado (a) ABNT-NBR14323:1999 e (b)<br />

Eurocode 3-1.2.<br />

5 CONCLUSÕES<br />

Com relação às análises puramente térmicas aqui realizadas, a semelhança dos resultados do<br />

ANSYS quando comparados àqueles obtidos pelo TCD, tanto para perfis isolados como para aqueles<br />

em contato com as paredes, comprovam a eficiência da estratégia apresentada no presente trabalho,<br />

possibilitando o acoplamento com o modelo estrutural em análises posteriores.<br />

As características relacionadas às imperfeições geométricas iniciais mostraram ter influência na<br />

determinação do tempo crítico de resistência ao fogo (TRF). Em condições assimétricas ou<br />

monossimétricas em que ambos, ação térmica e imperfeição global, respeitam o mesmo eixo de<br />

simetria, a imperfeição global na mesma direção e sentido em que ocorre o incêndio pode resultar num<br />

valor diferente de TRF quando comparado a ambos atuando em sentidos opostos.<br />

Nos pilares de canto dos exemplos 2 e 3, com exposição ao incêndio e imperfeição global<br />

inicial segundo o mesmo eixo de simetria, para os níveis mais baixos de compressão aplicada, o<br />

deslocamento inicial na mesma direção e sentido em que está aplicada a ação térmica resultou em<br />

menores valores de TRF quando comparado a ambos aplicados em sentidos opostos. No entanto,<br />

para os valores de força aplicada mais altos, houve uma inversão e essa configuração resultou em<br />

maior TRF.<br />

Os mesmos exemplos sugerem que, para um nível de força mais baixo, o pilar tende a<br />

apresentar maior deformação por dilatação antes que a redução da resistência e rigidez, proveniente<br />

do aumento de temperatura, seja suficiente para que ocorra o colapso. Dessa forma, pilares que<br />

apresentam imperfeição inicial global no mesmo sentido onde ocorre a ação térmica têm somado ao<br />

deslocamento inicial, aquele provocado pela dilatação. Em contrapartida, quando a compressão<br />

aplicada é de maior magnitude, o pilar pode atingir o colapso, devido a redução de f y e E, para baixos<br />

valores de deformação térmica.<br />

Nos exemplos 5 e 6 (paredes em contato com ambas as mesas), pode-se concluir que a<br />

configuração menos favorável é aquela em que a face tracionada se encontra em contato com a ação<br />

térmica de incêndio, pois resultou em menor TRF. Observa-se que o caso apresentado nos exemplos<br />

5 e 6 apresenta superfície exposta a ação térmica maior que aquela dos exemplos 2 e 3.<br />

A comparação entre a magnitude dos TRFs resultantes das duas configurações implica em<br />

conhecer o carregamento externo imposto e o gradiente de temperatura que ocorre no pilar. Os<br />

resultados apresentados deixam clara a necessidade de se explorar de maneira mais aprofundada a<br />

questão das imperfeições geométrica iniciais, tanto locais quanto globais, em magnitude e sentido, em<br />

estruturas onde se tem somado o fator temperatura.<br />

Para as análises apresentadas, foram obtidas também a curva de redução “N fi /N x tempo” e<br />

comparadas com as curvas obtidas pelo pacote computacional SupertempCalc (STC), e com os<br />

métodos simplificados da NBR14323:1999 e EC3-1.2. Embora a análise numérica do ANSYS indique<br />

diferentes valores de TRF para os exemplos P - UC 203 x 203 x 46 – A e P - UC 203 x 203 x 46 – M, o<br />

resultado obtido por meio dos métodos simplificados tanto do EC3-1.2 e NBR14323:1999 não mostra<br />

distinção entre ambas as configurações na resposta estrutural. Isso se deve ao fato de ambas<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


Análise termo-estrutural de pilares de aço em situação de incêndio<br />

109<br />

apresentarem o mesmo valor de fator de massividade. Nestes métodos não são considerados fatores<br />

a exemplo da forma de incidência da ação térmica sobre o elemento.<br />

Exceto para o exemplo P - UC 203 x 203 x 46 – I, os fatores de redução obtidos pelo ANSYS<br />

resultaram menores que aqueles obtidos via SupertempCalc, e bem diferentes das curvas obtidas por<br />

meio dos procedimentos simplificados nos códigos normativos. Tal fato está relacionado à maior<br />

precisão do ANSYS, que permite levar em conta as condições de vinculação, bem como os modos e<br />

amplitudes de imperfeições geométricas iniciais.<br />

6 AGRADECIMENTOS<br />

Ao CNPq, à FAPESP e ao Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de<br />

Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo.<br />

7 REFERÊNCIAS<br />

ALMEIDA, S. J. C. Análise numérica de perfis de aço formados a frio comprimidos considerando<br />

as imperfeições geométricas iniciais. 2007. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São<br />

Carlos – Universidade de São Paulo. 2007.<br />

AMERICAN INSTITUTE OF STEEL CONSTRUCTION. ANSI/AISC 360-05 – Specifications for<br />

structural steel buildings. Chicago, 2005.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT-NBR 8800 – Projeto e execução de<br />

estruturas de aço de edifícios. Rio de Janeiro, 2008.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT-NBR 14323 – Dimensionamento de<br />

estruturas de aço de edifícios em situação de incêndio – Procedimento. Rio de Janeiro, 1999.<br />

EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. EN 1993-1-2:2005 Eurocode 3 – Design of<br />

Steel Structures. Part 1-2: General rules – Structural Fire Design. Brussels, 2005.<br />

EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. EN 1993-1-1:2005 Eurocode 3 – Design of<br />

steel structures. Part 1-1: General rules and rules for buildings. Stage 34 draft. Brussels, 2005.<br />

INTERNATIONAL STANDARD. Fire-resistance tests — Elements of building construction — Part 1:<br />

General requirements. ISO 834-1:1999. 1999.<br />

KIMURA, E. F. A. Análise termo-estrutural de pilares de aço em situação de incêndio. 2009.<br />

Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas) – Escola de Engenharia de São Carlos –<br />

Universidade de São Paulo. 2009.<br />

REGOBELLO, R. Análise numérica de seções transversais e de elementos estruturais de aço e<br />

mistos de aço e concreto em situação de incêndio. 2007. Dissertação (Mestrado em Engenharia de<br />

Estruturas) – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo. 2007.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 93-109, 2009


110


ISSN 1809-5860<br />

MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS POSICIONAL APLICADO À NÃO<br />

LINEARIDADE GEOMÉTRICA DE SÓLIDOS<br />

Daniel Nelson Maciel 1 & Humberto Breves Coda 2<br />

Resumo<br />

Neste trabalho uma formulação não linear geométrica alternativa do método dos elementos finitos é apresentada.<br />

É chamada de elementos finitos posicional por conta que as variáveis nodais são posições, ao invés de<br />

deslocamentos. Outra novidade da formulação proposta é a aplicação da medida de deformação de engenharia,<br />

facilitando a compreensão do problema não linear em face das aplicações na engenharia. Elementos tetraédricos<br />

isoparamétricos de ordem cúbica são empregados evitando assim o fenômeno de travamento. Vários exemplos<br />

são mostrados a fim de se validar a formulação aqui proposta.<br />

Palavras-chave: Não linearidade geométrica. Sólidos. Elementos finitos.<br />

POSITIONAL FINITE ELEMENT METHOD APPLIED TO GEOMETRIC<br />

NONLINEAR TRIDIMENSIONAL PROBLEMS<br />

Abstract<br />

An alternative nonlinear finite element approach is presented herein in this work. It called positional finite<br />

element method because it is considered nodal positions as variables of the non linear system instead of<br />

displacements. Moreover, the proposed approach applies the engineering strain measure which turns the<br />

nonlinear problem familiar with linear engineering problems. Isoparametric tetrahedral finite elements with<br />

cubic polynomial interpolation of positions and stresses are applied in order to avoid locking. Many examples are<br />

shown and compared with results obtained in the specialized literature.<br />

Keywords: Nonlinear geometric. Solids. Finite Elements.<br />

1 INTRODUCTION<br />

The good numerical representation of solids exhibiting large displacement and large strain is a<br />

continuous activity of a considerable number of research works. It is well known (SIMO & ARMERO,<br />

1992) that a lot off effort has been invested in the development of low order finite elements to obtain<br />

robust and non-locking three and two-dimensional elements to solve geometrically and physically nonlinear<br />

problems of solid mechanics. To solve the so called locking, related to low order finite elements,<br />

strategies based on mixed stress and strain formulations have been proposed as one can see in SIMO<br />

et al (1985), SIMO & TAYLOR (1985), SUSSMAN & BATHE (1987), BRINK & STEIN (1996),<br />

ZIENKIEWICZ & TAYLOR (2000) and SANSOUR & KOLLMANN (2000) for example.<br />

Hopefully, works as the ones proposed by DÜSTER et al (2003) and RANK et al (2003) revels<br />

that high order finite elements are locking free and less sensible to mesh geometry distortion, desirable<br />

properties for geometrically non-linear and large strain analysis. As mentioned by these authors, SURI<br />

(1996) and SZABOO & BABUSKA (1991) have shown that, for small strains, high order elements are<br />

locking free. High order polynomials elements have been successfully used for hyper-elastic material<br />

modeling in the works of DÜSTER et al (2003) and RANK et al (2002).<br />

1 Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, dnmaciel@sc.usp.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, hbcoda@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 111-130, 2009


112<br />

Daniel Nelson Maciel & Humberto Breves Coda<br />

This study intends to contribute with the overall research effort dedicated to geometrically nonlinear<br />

analysis investigating the use of the non-linear engineering strain measure as in CODA &<br />

GRECO (2004) to simulate three-dimensional solids subjected to large displacements. A constitutive<br />

relation for compressive materials is proposed for the engineering strain measure. Moderated high<br />

order finite elements are used avoiding locking and taking advantage of mesh generation packages.<br />

For three-dimensional problems an isoperimetric tetrahedron with cubic approximation element is<br />

adopted. The positional formulation i.e., nodal parameters are positions instead of displacements, will<br />

be proposed here for solid analysis.<br />

To solve large systems of equations the MA27 solver is used, resulting in a robust method able<br />

to consider thin solids and to solve complicated geometries by using any structured or non-structured<br />

mesh generation for hexahedral finite elements. Some examples are explored to show the versatility<br />

and accuracy of the proposed procedure.<br />

2 STRAIN MEASURE<br />

In this section both vector and index notations are used. The first is used to clarify the<br />

illustrations and the second is preferred to be used in computational implementations.<br />

The strain measure to be adopted in this study is called engineering strain due to its relation with<br />

the so called "strain gates" used at laboratory to study deformed specimen. This strain measure is the<br />

first object of study of almost all structural engineering courses. It is important to mention that the strain<br />

measure adopted in text books of linear elasticity is not the engineering strain, but its primary<br />

description. At undergraduate curses for example, before the linear simplifications, it is exactly the<br />

engineering strain concept, see HIGDON et al (1978), for instance. However, the primary concept is not<br />

enough to develop the proposed formulation. In order to do so its mathematical description, given for<br />

example in OGDEN (1984), should be resumed.<br />

<br />

Figure 1 describes two infinitesimal vectors dx and dy fixed in the initial and actual continuum<br />

<br />

configurations, respectively. Vector dx can be written as a function of its modulus and direction, called<br />

u , as follows:<br />

<br />

dx = u dx = udx<br />

(1a)<br />

or for index notation:<br />

dxi = ui dx<br />

jdx j<br />

= uidx<br />

(1b)<br />

<br />

The same can be done for dy , as:<br />

<br />

dy = v dy = vdy<br />

(2a)<br />

dyi = vi dy<br />

jdy j<br />

= vidy<br />

(2b)<br />

where v is a unit vector.<br />

e 3<br />

BR<br />

Δ x<br />

x<br />

B 0<br />

B 1<br />

f ( x )<br />

y<br />

Δy<br />

y 0<br />

e 2<br />

x 0<br />

B<br />

e 1<br />

Figure 1 – Engineering strain definition.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 111-130, 2009


Método dos Elementos Finitos Posicional aplicado à não linearidade geométrica de sólidos<br />

113<br />

<br />

The vector dy is the vector dx after the configuration change, represented by the vector<br />

<br />

function f . This change of configuration is usually called deformation function; this name is avoided<br />

here due to misunderstandings generated among Latin speakers. As it can be seen at figure 1 letter x<br />

is used to represent coordinates of initial configuration and letter y to represent coordinates of actual<br />

configuration. Relation among these infinitesimal vectors is done directly by the gradient of the change<br />

of configuration function, represented by letter A, given as follows:<br />

<br />

A = Grad( f )<br />

(3a)<br />

∂fi<br />

Aij<br />

= (3b)<br />

dp<br />

j<br />

Where capital letter indicates Lagrangean operation.<br />

<br />

dy = Adx<br />

(4a)<br />

dyi = Aijdx<br />

j<br />

(4b)<br />

substituting equations (1) and (2) into equation (4) one writes:<br />

<br />

dyv = dxAu<br />

(5a)<br />

dyvi = dxAiju<br />

j<br />

(5b)<br />

Making the internal product of equation (5) by itself, one writes:<br />

<br />

2 2 t t<br />

dy = dx u A Au<br />

(6a)<br />

2 2<br />

dy = dx ukAkiA iju<br />

j<br />

(6b)<br />

t<br />

where the index t means transpose. It should be mentioned that C = A A is usually called the right<br />

Cauchy-Green stretch tensor and it is positive definite.<br />

From equation (6) one achieves the stretch at any point of any fiber following a general direction u in<br />

the initial configuration, as:<br />

dy <br />

{ } t t<br />

λ (u) = = u A Au<br />

1/ 2<br />

(7a)<br />

dx<br />

dy<br />

λ ( u) = = { u } 1/ 2<br />

kAkiAijuj<br />

(7b)<br />

dx<br />

It is important to remember that expression (7) does not mean derivative, but the relation<br />

between two infinitesimal lengths, and that λ (u) is a strictly positive quantity. For more detailed<br />

description one can see OGDEN (1984).<br />

The Lagrangean longitudinal engineering strain at a point, following direction u , is defined as:<br />

dy − dx <br />

t t<br />

ε(u) = = { u A Au} 1/2<br />

− 1 = λ(u) −1<br />

(8a)<br />

dx<br />

dy − dx<br />

1/ 2<br />

ε( u) = = { ukAkiAijuj} − 1= λ( u)<br />

− 1<br />

(8b)<br />

dx<br />

For the sake of completeness, one can make the same for an Eulerian representation:<br />

<br />

−1<br />

dx = A dy<br />

(9a)<br />

t<br />

dxi = B<br />

ijdy<br />

j<br />

(9b)<br />

<br />

2 2 t −1t −1<br />

dx = dy v A A v<br />

(10a)<br />

2 2 −1t<br />

dx = dy vkAki Aijv<br />

j<br />

(10b)<br />

dx <br />

t −1t −1<br />

{ } 1/ 2 1<br />

λ′ (v) = = v A A v =<br />

(11a)<br />

dy<br />

λ<br />

dx<br />

λ′ ( v) = = { v } 1/ 2<br />

kBkiBjivj<br />

(11b)<br />

dy<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 111-130, 2009


114<br />

Daniel Nelson Maciel & Humberto Breves Coda<br />

Where λ′ (v) is the stretch of a fiber initially in direction u and finally in direction v , related to the final<br />

t<br />

position, i.e., Eulerian stretch. In equations (9) and (11) the tensor B is the inverse of A .<br />

The Eulerian engineering strain is therefore:<br />

dy − dx<br />

1<br />

ε′ (v) = = 1 −λ′<br />

(v) = 1−<br />

(12)<br />

dy<br />

λ ( u )<br />

To complete the engineering strain components it is necessary to define distortion. The<br />

Lagrangean engineering distortion is the difference between the final angle defined by two fibers θ and<br />

the initial angle defined by them, π /2, see figure 2.<br />

π<br />

γu<br />

(1) u<br />

= θ −<br />

(2)<br />

2<br />

(13)<br />

Figure 2 – Definition of distortion.<br />

The angle θ is easily calculated by the internal product of the final vectors, as:<br />

cos( θ ) = v (1)<br />

v<br />

(2)<br />

(14a)<br />

cos( θ ) = v(1)i<br />

v(2)i<br />

(14b)<br />

Using equation (5), these final vectors are given by:<br />

<br />

<br />

Au(1)<br />

Au(2)<br />

v(1)<br />

= ; v(2)<br />

= <br />

λ(u<br />

(1)<br />

) λ(u<br />

(2))<br />

(15a)<br />

Au<br />

ij ( 1 ) j<br />

Au<br />

ij ( 2 ) j<br />

v(1)i<br />

= ; v(2)i<br />

= <br />

λ(u<br />

(1)<br />

) λ(u<br />

(2))<br />

(15b)<br />

From equations (14) and (15) one achieves:<br />

t<br />

t <br />

⎛ u A Au ⎞<br />

2 1 π<br />

γ <br />

u 1 u 2<br />

= a cos⎜<br />

⎟<br />

−<br />

λ( u1<br />

) λ( u2<br />

)<br />

(16a)<br />

⎝<br />

⎠ 2<br />

⎛ u(2)kAkiAij u ⎞<br />

(1)j π<br />

γ <br />

u(1) u<br />

= acos<br />

−<br />

(2) ⎜ λ(u (1)<br />

) λ(u (2)<br />

) ⎟<br />

⎝<br />

⎠ 2<br />

(16b)<br />

It is simple to write a similar expression for Eulerian distortion, however the relation among<br />

nominal stress and true stress (Cauchy) will be done following the principal directions (polar<br />

decomposition theorem) avoiding this calculation.<br />

For a three dimensional representation one needs six independent strain components to<br />

<br />

complete its physical representation. They are calculated choosing u1 = e1<br />

, u2 = e2<br />

and u3 = e3<br />

, where<br />

<br />

( e,e,e<br />

1 2 3)<br />

γ<br />

12 21<br />

is the orthonormal Cartesian base. From these considerations one finds ε 1<br />

, ε<br />

2<br />

, ε<br />

3<br />

,<br />

= γ , γ<br />

13<br />

= γ<br />

31<br />

and γ<br />

32<br />

= γ<br />

23<br />

.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 111-130, 2009


Método dos Elementos Finitos Posicional aplicado à não linearidade geométrica de sólidos<br />

115<br />

For the sake of completeness it is necessary to recall that<br />

C<br />

t<br />

= A A or Ckj Aki Aij<br />

= is the right<br />

Cauchy-Green stretch tensor. It is positive definite, symmetric and has six independent values, OGDEN<br />

(1984). Any strain measure written as a function of the Cauchy-Green stretch is objective, i.e., invariant<br />

regarding rotations and translations and complete, see CAMPELLO et al (2003) and GREEN &<br />

NAGHDI (1979) for instance.<br />

To simplify notation, in the next developments, it is interesting to call distortion ( γ<br />

ij<br />

) for i ≠ j and<br />

longitudinal strain, for i = j, simply by ε ij<br />

. It is important to mention that ε ij<br />

does not respect usual<br />

tensor rotation; it is necessary to apply it over the Cauchy-Green stretch and, after that, calculates<br />

expressions (8) and (16). The value ε<br />

ij<br />

is then called pseudo-tensor of engineering strain.<br />

3 THE SPECIFIC STRAIN ENERGY AND NOMINAL STRESS<br />

From this section to the end of the paper, only index notation will be employed. As described by<br />

various references like OGDEN (1984), MALVERN (1969), CIARLET (1993) etc., a general hyperelastic<br />

material can be fully described by a specific strain energy potential u e<br />

written as a function of<br />

any objective strain measure. A classical strain energy potential for hyperelastic material will be<br />

discussed in the appropriate section. In our case we choose the engineering strain and write the<br />

specific energy potential as follows.<br />

1<br />

2 2<br />

2 3<br />

u<br />

e( ε ) = εkl C( a )klijεij + bεkl C( b )klij ( εij ) + c( εkl ) C( c )klij ( εij ) + d εkl C<br />

( d )klij ( εij<br />

) + .... (17)<br />

2<br />

The letters (a), (b), (c), (d),… are coefficients that can be calculated via inverse analyses to adequate<br />

the specific energy strain to the physical behavior of the body. The values C α<br />

are second order tensors<br />

that establish the interdependence of strains for a specific material. As it will be seen later, C ( α )<br />

establishes the relation between nominal stress and engineering strain. The simplest material, the one<br />

to be implemented here, is the linear elastic one and, as a consequence, equation (17) reduces to:<br />

1<br />

u(<br />

e<br />

ε ) = εkl C( a )klijεij<br />

(20)<br />

2<br />

where C<br />

(a)<br />

is the simple Hokes' Law tensor for isotropic materials given by:<br />

⎡K(1 −ν ) Kν Kν<br />

0 0 0 ⎤<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢ Kν K(1 −ν ) Kν<br />

0 0 0⎥<br />

⎢ Kν Kν K(1 −ν<br />

) 0 0 0⎥<br />

Ca<br />

= ⎢ ⎥<br />

(21)<br />

⎢ 0 0 0 G 0 0⎥<br />

⎢ 0 0 0 0 G 0⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢⎣<br />

0 0 0 0 0 G⎥⎦<br />

where ν is the Poisson ratio and the other constants are given by,<br />

E<br />

G =<br />

(22)<br />

2( 1 + ν )<br />

E<br />

K =<br />

(23)<br />

(1 + ν )(1 − 2 ν )<br />

with E being the well known Young modulus. The bulk modulus is then achieved by K = ν K .<br />

It is easy to observe that the proposed strain measure has much more meaning to the ones<br />

accustomed to linear elasticity than any other proposed in literature to solve non-linear problems.<br />

To find the energy conjugate stress of the engineering strain measure, i.e., the nominal stress,<br />

one needs only to differentiate equation (20) regarding each strain component, i.e.:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 111-130, 2009


116<br />

Daniel Nelson Maciel & Humberto Breves Coda<br />

σ<br />

kl<br />

= C( a )klijεij<br />

(24)<br />

The pseudo-tensor σ<br />

kl<br />

is called nominal engineering stress.<br />

By a simple comparison between equation (24) and the Hokes' Law for linear elasticity one<br />

concludes that each component of the nominal engineering stress has exactly the same physical<br />

meaning of the True Stress, Cauchy Stress, but referred to the initial configuration. This is the reason it<br />

is called nominal engineering stress. This stress measure and the engineering strain are physical<br />

quantities that can be easily evaluated at any laboratory of material characterization.<br />

4 POLAR DECOMPOSITION THEOREM AND TRUE STRESS<br />

If u 1 , u 2 and u <br />

3 are the principal directions of the Cauchy-Green stretch at the initial<br />

configuration, then, from equation (16), one concludes that γ<br />

12<br />

= γ13 = γ23 = 0 . By the Polar<br />

Decomposition Theorem one knows that the corresponding directions for u 1<br />

, u 2<br />

and u 3<br />

in the actual<br />

<br />

configuration ( v,v,v<br />

1 2 3)<br />

are also orthogonal and are the principal directions of true strain and true<br />

stress, see for example OGDEN (1984).<br />

The relation between the principal nominal stress and the principal true stress is captured<br />

directly by the initial and final areas relation, i.e.:<br />

true σ<br />

i<br />

σ<br />

i<br />

= (25)<br />

λ<br />

jλk<br />

where i,j,k follow cyclic permutation rule. Expression (25) informs that the area initially orthogonal to a<br />

principal direction at initial configuration remains orthogonal to the 'new' principal direction at the actual<br />

configuration. It also informs that the ratio between nominal principal stress and principal true stress is<br />

the inverse to the ratio between initial and actual principal areas.<br />

This is an important property of the nominal stress and it brings an easy physical meaning to this<br />

Lagrangean quantity.<br />

To confirm the assumed relation one writes the strain energy for initial and final configurations<br />

as a function of principal stress and strain as follows:<br />

⎧<br />

0 ⎪ ε1 ε2 ε ⎫<br />

3 ⎪<br />

Ue = ⎨∫∫ σ<br />

0<br />

1dε1dV0 + ∫∫ σ<br />

0<br />

2dε2dV0 + ∫∫ σ<br />

0<br />

3dε3dV0⎬<br />

(26)<br />

⎪⎩V0 V0 V0<br />

⎪⎭<br />

true true true<br />

⎧<br />

true ⎪ 1 true true 1 true true 1<br />

U ε true true<br />

e 1<br />

d<br />

1<br />

dV ε 2<br />

d<br />

2<br />

dV ε<br />

⎫⎪<br />

= ⎨∫∫ σ ε + σ ε σ3 dε3<br />

dV<br />

0 ∫∫ +<br />

0 ∫∫ ⎬<br />

(27)<br />

0<br />

⎪⎩V V V<br />

⎪⎭<br />

0<br />

where U<br />

e<br />

and U true<br />

e<br />

are, respectively, the strain energy written for Lagrangian and Eulerian<br />

descriptions.<br />

For the principal axes the Jacobian of the change of configuration is easily written, resulting<br />

dV = JdV0 = λ1λλ<br />

2 3dV0<br />

(29)<br />

For any conservative mechanical system, the elastic energy should be the same despite the<br />

adopted material description, so:<br />

0 true<br />

Ue<br />

= Ue<br />

(30)<br />

Considering that the strain energy is arbitrary, using equations (25) trough (30) one achieves the<br />

differential relation among principal engineering and true strain, i.e:<br />

true dεi<br />

dεi<br />

= (31)<br />

λ(i)<br />

true<br />

For a Lagrangian referential one can integrate equation (31) achieving εi<br />

= ln( λi<br />

) .<br />

This expression corresponds exactly to the true longitudinal strain definition mentioned, for<br />

example, in OGDEN (1984) and CRISFIELD (1991).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 111-130, 2009


Método dos Elementos Finitos Posicional aplicado à não linearidade geométrica de sólidos<br />

117<br />

5 KINEMATICAL APPROXIMATION AND POSITIONAL MAPPING<br />

To build the positional finite element method the engineering strain should be calculated for<br />

approximated configurations. Lets' define a general solid finite element. For initial configuration any<br />

point position belonging to this element can be calculated by the following usual mapping, see figure 3.<br />

0<br />

fi = x(<br />

i<br />

ξ1, ξ2, ξ3,X i<br />

) = φ ( ξ1, ξ2, ξ3 )X<br />

(40)<br />

i<br />

where x<br />

i<br />

is the ith coordinate of the desired point, X i<br />

is the ith coordinate of node , φ <br />

is the shape<br />

function associated with node and ( ξ1, ξ2, ξ3<br />

) are non-dimensional Gauss coordinates. The vector<br />

<br />

0<br />

function f can be understood as a fictitious change of configuration from the non-dimensional space<br />

to the initial one.<br />

For actual configuration a similar expression is written, changing x by y, i.e.:<br />

1<br />

fi = y(<br />

i<br />

ξ1, ξ2, ξ3,X i<br />

) = φ ( ξ1, ξ2, ξ3 )Y<br />

(41)<br />

i<br />

<br />

1<br />

The vector function f can be understood as a fictitious change of configuration from the nondimensional<br />

space to the actual one.<br />

B 0<br />

A0<br />

ξ 2<br />

A1<br />

B 1<br />

ξ 1<br />

Figure 3 – Positional mapping.<br />

<br />

The real mapping ( f ), from initial configuration to the actual one is given by:<br />

<br />

1 0 1<br />

f = f ( f ) −<br />

(42)<br />

<br />

<br />

1<br />

0 1<br />

where the symbol means that function f is applied over the image of (f ) − . The domain of the<br />

total function is B 0<br />

and its image is B 1<br />

. Function f is the change of configuration described in the<br />

previous section, applied here to the adopted FEM approximation. Its gradient is easily computed as<br />

follows.<br />

1 0 1<br />

A= A (A ) −<br />

(43)<br />

where<br />

j j j<br />

⎡∂f1 ∂f1 ∂f<br />

⎤<br />

1<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢<br />

∂ξ1 ∂ξ2 ∂ξ3⎥<br />

⎢ j j j j<br />

j ∂f2 ∂f2 ∂f<br />

⎥<br />

2<br />

∂fi<br />

j<br />

Aik<br />

= ⎢<br />

⎥ = = fi,k<br />

(44)<br />

⎢∂ξ1 ∂ξ2 ∂ξ3⎥<br />

∂ξk<br />

⎢ j j j<br />

f3 f3 f<br />

⎥<br />

⎢<br />

∂ ∂ ∂<br />

3 ⎥<br />

⎢⎣∂ξ1 ∂ξ2 ∂ξ3⎥⎦<br />

In equation (44) j means initial or actual (0 or 1) i means direction, k means one of the nondimensional<br />

variables and comma means partial differentiation. Equation (44) can be written from<br />

equations (40) and (41) as follows:<br />

0 0<br />

A = f = φ <br />

( ξ , ξ , ξ )X <br />

(45)<br />

ik i,k ,k 1 2 3 i<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 111-130, 2009


118<br />

Daniel Nelson Maciel & Humberto Breves Coda<br />

A = f = φ <br />

( ξ , ξ , ξ )Y <br />

(46)<br />

1 1<br />

ik i,k ,k 1 2 3 i<br />

It is important to mention that equation (43) is calculated numerically for each Gauss station. As<br />

a consequence, it is possible to calculate trials (for arbitrary actual positions) for the engineering strain<br />

components using equations (8) and (16).<br />

6 THE NUMERICAL POSITIONAL PROCEDURE<br />

In this section the simplicity of the technique will become clear, as no additional considerations<br />

regarding kinematics needs to be done to solve the geometrical non-linear problem. The principle of<br />

minimum potential energy can be written, for a conservative elastostatic problem, using position<br />

considerations (not displacements) as follows:<br />

Π = U e<br />

− Ρ<br />

(47)<br />

Where Π is the total potential energy, U e is the strain energy and Ρ is the potential energy of<br />

the applied forces.<br />

Figure 4 – Total potential energy written for a body in two different positions.<br />

Adopting linear constitutive relation for elastic materials, the specific strain energy is the one<br />

shown in equation (20) and, as it is a Lagrangean quantity, the whole strain energy stored in the body is<br />

written for the reference volume V 0 as:<br />

1<br />

U = e ∫uedV = 0 ∫ kl<br />

C( a )klij ijdV0<br />

2 ε ε<br />

(48)<br />

V<br />

V<br />

0 0<br />

The potential energy of conservative applied forces is written as<br />

P= Y F<br />

(49)<br />

k<br />

k<br />

In equation (41) Y k<br />

is the actual position occupied by all points of the body, and F k<br />

is its<br />

corresponding force. It is interesting to note that the potential energy of the applied forces may not be<br />

zero in the reference configuration. The total potential energy is written as<br />

1<br />

Π = ∫ εkl C( a )klijεijdV0 −FY<br />

k k<br />

(50)<br />

2<br />

V0<br />

From equations (45), (46), (8) and (16) it is possible to write equation (50) as a function of actual<br />

positions and applied external forces. From this reasoning the problem of achieving the equilibrium of<br />

the elastic system is the determination of the minimum of total potential energy regarding positions. It is<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 111-130, 2009


Método dos Elementos Finitos Posicional aplicado à não linearidade geométrica de sólidos<br />

119<br />

done by deriving equation (50) regarding positions and making it equal to zero. These steps are done<br />

as follows,<br />

∂Π<br />

1 ∂<br />

g<br />

j<br />

= = ( εkl C( a )k limεim ) dV0 −Fj<br />

∂Y ∫ (51)<br />

j<br />

2 ∂Y<br />

V0<br />

j<br />

In equation (51) g i is a vector which for an exact situation assume null value. Splitting the<br />

derivative of the specific strain energy, one writes:<br />

1 ∂<br />

1 ∂<br />

∂εαβ ∂εαβ ∂εαβ<br />

( εklCk limεim ) = ( εklCk limεim ) = Cαβimεim<br />

= σαβ<br />

(52)<br />

2 ∂Yj 2 ∂εαβ<br />

∂Yj ∂Yj ∂Yj<br />

Substituting equation (52) into equation (51), results<br />

∂εαβ<br />

int<br />

g<br />

j<br />

= ∫ Cαβimεim dV0 − Fj = Fj − Fj<br />

= 0<br />

(53)<br />

∂Y<br />

V0<br />

j<br />

int<br />

where F j is the first gradient vector of the strain energy potential, understood as internal force.<br />

Equation (53) means that if the internal force vector is equal to the applied one the solid is at<br />

equilibrium. If not, vector g can be understood as the unbalanced force of the mechanical system.<br />

j<br />

It is important to remember that in this study the applied forces are conservative. Nonconservative<br />

forces can be introduced directly in equation (53) if desired. As mentioned before the<br />

actual position is the unknown of the problem, so it is necessary to solve equation (53). As the vector<br />

function g(<br />

j<br />

εαβ<br />

(Y))<br />

<br />

is non-linear regarding nodal parameters it is necessary to expand it from an<br />

0<br />

initial trial solution, called here Y <br />

, as follows:<br />

∂g<br />

g ( Y) = g ( Y ) + Δ Y + O = 0<br />

(54)<br />

0 j<br />

2<br />

j j k j<br />

∂Yk<br />

0<br />

( Y<br />

)<br />

Remembering that forces are conservative one concludes that<br />

∂g<br />

∂Y<br />

j<br />

k<br />

( Y<br />

∂Fj<br />

=<br />

0 ∂Y<br />

<br />

)<br />

int<br />

k<br />

( Y<br />

0<br />

<br />

)<br />

=<br />

∫<br />

V0<br />

∂<br />

∂Y<br />

k<br />

⎛ ∂ε<br />

⎞<br />

C ε dV = H<br />

⎜<br />

⎝<br />

αβ<br />

0<br />

αβim im 0 kj<br />

∂Y<br />

⎟<br />

j ⎠ 0<br />

Y<br />

(55)<br />

where the matrix<br />

0<br />

H<br />

kj<br />

is the Hessian matrix of the total potential energy.<br />

The derivative inside the integral term of equation (55) is written as:<br />

2<br />

∂ ⎛ ∂εαβ ε ε<br />

im<br />

αβ<br />

εαβ<br />

Cαβ imε<br />

⎞ ⎛ ∂ ∂ ∂<br />

im = Cαβim + εimC<br />

⎞<br />

αβim<br />

∂Y ⎜<br />

k<br />

Y ⎟ ⎜<br />

j<br />

Yk Yj Yj Y ⎟<br />

⎝ ∂ ⎠ ⎝ ∂ ∂ ∂ ∂<br />

k ⎠<br />

(56)<br />

Neglecting higher order errors ( O ) equation (54) is rewritten as:<br />

0 −1<br />

0 0 −1<br />

int 0<br />

( H ) g (Y ) = ( H ) ( F − F (Y ))<br />

2<br />

i<br />

Δ Y = −<br />

(57)<br />

k<br />

kj<br />

j<br />

<br />

kj<br />

j<br />

resulting into the Newton-Rapson procedure to solve non-linear system of equations.<br />

j<br />

<br />

The Newton-Rapson procedure is summarized as: One chooses a trial position Y 0<br />

and<br />

0<br />

calculates the unbalanced force vector g j(Y ) according to equation (51). By applying equation (57)<br />

0<br />

one finds the variation of position Δ Yk<br />

to correct Y . With this new position vector, one repeats the<br />

0<br />

procedure until Δ Yk<br />

or g j(Y ) becomes small. The error, that is, the final unbalanced force<br />

(residuum) is applied into the next load step if the analyzed problem is divided into load steps, if not the<br />

problem is solved.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 111-130, 2009


120<br />

Daniel Nelson Maciel & Humberto Breves Coda<br />

To finalize the technique description the derivative of strain regarding actual nodal positions<br />

should be done. To be short it will be shown the derivative of the Cauchy-Green stretch tensor and the<br />

rest of arithmetic operations are left for the reader.<br />

Recalling that the Cauchy-Green stretch tensor is given by:<br />

t<br />

C = A A<br />

(58)<br />

and omitting, for simplicity, extra indices, one applies the positional FEM mapping and writes:<br />

0 t −1 1 t 1 0 −1<br />

C = [(A ) ] (A )(Y<br />

i<br />

)A(Y<br />

i<br />

)(A )<br />

(59)<br />

Remembering that A 0 is constant regarding the actual position, the desired derivative is performed as:<br />

1 t 1<br />

∂C 0 t 1 (A )(Y<br />

i<br />

) 1 1 0 t 1 1 t A(Y<br />

i<br />

)<br />

[( A ) ]<br />

− ∂ A (Y<br />

0 1<br />

i )( A<br />

0 )<br />

− [( A ) ]<br />

− ∂ ( A ) (Y<br />

i ) ( A )<br />

−<br />

= +<br />

(60)<br />

∂Yj ∂Yj ∂Yj<br />

and, from equation (46), one has:<br />

∂A<br />

∂<br />

∂Y<br />

∂Y<br />

1 i<br />

= ( φ ,k<br />

( ξ1,<br />

ξ2<br />

, ξ3<br />

)Y i<br />

) = φ,k<br />

( ξ1<br />

, ξ2<br />

, ξ3<br />

) = φ,k<br />

( ξ1<br />

, ξ2<br />

, ξ3<br />

)<br />

j ∂Y<br />

j<br />

∂Y<br />

j<br />

δ ( i ) j<br />

where the Kronecker delta assumes one if the global degree of freedom j is equal to the local (to<br />

the finite element) degree of freedom i and zero otherwise. The variable is the element node and<br />

i is the degree of freedom. It is important to mention that the present technique can be applied to any<br />

strain measure that is based on the Cauchy-Green stretch.<br />

Equation (61) indicates that the proposed procedure can be operated by means of creating<br />

Hessian matrix and internal forces for finite elements and composing the global matrix and internal<br />

force vector by summation of coincident degrees of freedom, as it is done for usual FEM procedures.<br />

One should remember that all operations are done in the global system of equation avoiding the use of<br />

rotations.<br />

δ<br />

( i<br />

) j<br />

(61)<br />

7 NUMERICAL EXAMPLES<br />

The proposed formulation is tested mainly regarding its ability of representing large<br />

displacement situations, using the engineering strain measure together with the positional mapping.<br />

One example is also provided to show the possibilities of the technique regarding hyperelastic<br />

materials.<br />

7.1 Cantilever beam subject to a transversal load applied at free end<br />

The structure is discretized into 48 finite elements, totalizing 319 nodes or 957 degrees of<br />

freedom. The analytical solution achieved by reference MATTIASSON (1981) is used to compare<br />

results at figure 4. In the numerical analysis the load is divided into 100 steps, in order to show the<br />

results at different load levels. This example is similar to the one proposed by SURI (1996) and solved<br />

using high order finite elements by DÜSTER et al (2003). The beam has a square cross section of<br />

7<br />

1x1m and a length of 10m. The adopted Young modulus is E = 1.27x10<br />

Pa and Poison Ratio ν = 0.0 .<br />

Following the convention of Fig. 5, in Fig. 6 and 7 the responses UX, UY are compared with the<br />

analytical solution. In Fig. 7 two deformed shapes for selected load levels are presented.<br />

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Método dos Elementos Finitos Posicional aplicado à não linearidade geométrica de sólidos<br />

121<br />

Figure 5 – Loading, discretization and convention.<br />

0.8<br />

Tip Displacement U y<br />

/L<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

Numerical Result<br />

Mattiasson<br />

0.0<br />

0 2 4 6 8 10<br />

Load Parameter PL 2 /EI<br />

Figure 6 – Comparison of results for vertical displacements.<br />

0.6<br />

0.5<br />

Numerical Result<br />

Mattiasson<br />

Tip Displacement U x<br />

/L<br />

0.4<br />

0.3<br />

0.2<br />

0.1<br />

0.0<br />

0 2 4 6 8 10<br />

Load Parameter PL 2 /EI<br />

Figure 7 – Comparison of results for horizontal displacements.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 111-130, 2009


122<br />

Daniel Nelson Maciel & Humberto Breves Coda<br />

As one can see the results are in perfect agreement, showing that the formulation is able to<br />

describe large displacements for this simple structure. It is interesting to mention that the adopted<br />

constitutive relation is the linear engineering one, (expression (20)).<br />

2 4 6 10<br />

Figure 8 – Some selected configurations for reference load PL<br />

2 / EI (no scaling).<br />

7.2 Clamped column<br />

This example is introduced to show the ability of the proposed formulation to capture instability<br />

configuration and its corresponding critical load. A clamped column subjected to a growing compressive<br />

load is analyzed, see figure 9. The adopted discretization uses sixty tetrahedral finite elements, as<br />

depicted in figure 10. The length of the column is L= 2m. The cross section is square with sides<br />

a = 0.13m. An initial lateral eccentricity of L/100 is assumed at the top of the column. The adopted<br />

material properties are: E = 210GPa and ν = 0 .<br />

P<br />

2 m<br />

Figure 9 – Analyzed column.<br />

Figure 10 – Finite element discretization.<br />

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Método dos Elementos Finitos Posicional aplicado à não linearidade geométrica de sólidos<br />

123<br />

The lateral displacements for the loaded point is depicted in figure 11 and compared with results<br />

obtained using 10 cubic frame elements based on Reissner kinematics.<br />

40000<br />

35000<br />

30000<br />

FEM 3D<br />

Reissner Kinematics<br />

Pcr - First Mode<br />

25000<br />

P (kN) 20000<br />

15000<br />

10000<br />

5000<br />

0<br />

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8<br />

Lateral displacement (m)<br />

Figure 11 – Lateral displacement versus applied load.<br />

From figure 11 it is possible to identify the larger flexibility of the 3D model when compared with<br />

the 2D Reissner kinematics formulation. The first critical load is depicted in figure 11 and shows the<br />

accuracy of the proposed technique in capturing the instability of the system. At figure 12, for<br />

completeness, some configurations for specific load steps are depicted.<br />

Figure 12 – Some deformed configurations (no scaling).<br />

7.3 Lateral instability of a clamped beam<br />

This example shows the ability of the formulation on reproducing coupled instability modes. In<br />

this example the lateral instability of a clamped beam is studied, see figure 13. The critical load for this<br />

2<br />

problem has analytical solution ( Pcr<br />

= 4.013 EIGJ / L ), given by TIMOSHENKO & GERE (1961). It is<br />

3<br />

3<br />

important to mention that I = bh / 12 and J = hb / 3. For this example it has been<br />

adopted: E = 100000 , G = 50000 , L= 100, b= 1 and h= 10, where b and h are, respectively, the<br />

thickness and the height of the beam. Applying the analytical solution one achieves P cr<br />

= 47.3 . This<br />

value is depicted in figure 14 as a reference value for the numerical response. To run this problem 74<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 111-130, 2009


124<br />

Daniel Nelson Maciel & Humberto Breves Coda<br />

finite elements (543 nodes) are employed and an initial defect for torsion angle,<br />

adopted.<br />

ϕ = 0.16rad<br />

, is<br />

Figure 13 – geometry of the analyzed problem.<br />

The z direction is along the beam axis and y direction is the vertical one. As it can be seen, the<br />

discretized structure behaves as expected passing trough the critical load region with more flexibility.<br />

100<br />

80<br />

-U Y<br />

-U Z<br />

U X<br />

P CR<br />

60<br />

Load<br />

40<br />

20<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50<br />

Displacement<br />

Figure 14 – Displacements versus applied force for the free end of the bar.<br />

At figure 15 one can see some one selected configuration for the analyzed problem.<br />

y<br />

x<br />

z<br />

Figure 15 – Selected deformed configuration (no scaling)<br />

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Método dos Elementos Finitos Posicional aplicado à não linearidade geométrica de sólidos<br />

125<br />

7.4 Ringed-plate<br />

This example is introduced to test the formulation regarding locking when leading with thin<br />

structures. This benchmark is used by PETCHSASITHON & GOSLING (2005) and other cited therein<br />

to investigate the performance of finite rotation formulations for shell structures. The ring plate is<br />

clamped at one edge and loaded at the other, where these edges are divided by cutting (or splitting) a<br />

circular (doughnut) plate (e.g. along the line AB in figure 16). The geometry, loading and material<br />

properties of the plate are also given in figure 16. The adopted discretization is depicted in figure 17<br />

and the deformed shape of the ringed plate subjected to a load factor of 80 is illustrated in figure 18.<br />

The number of finite elements and nodes are: 420 and 2803, respectively. The relationship between the<br />

incremented load (load factor) and de displacement at points A, B and C (defined in figure 15) are<br />

plotted and compared with those obtained by PETCHSASITHON & GOSLING (2005) at Fig. 19. From<br />

solutions, it is inferred that the proposed formulation is more flexible than the presented by<br />

PETCHSASITHON & GOSLING (2005) revealing the absence of locking for this example.<br />

Figure 16 – Geometry, physical parameters and loading [33].<br />

Figure 17 – Discretization.<br />

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126<br />

Daniel Nelson Maciel & Humberto Breves Coda<br />

Figure 18 – Deformed configuration for load factor 80 (no scaling).<br />

Vertical Displacement<br />

2.0<br />

1.8<br />

1.6<br />

1.4<br />

1.2<br />

1.0<br />

0.8<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

0.0<br />

-0.2<br />

Present Work:<br />

Point A<br />

Point B<br />

Point C<br />

Reference No.[23]:<br />

Point A<br />

Point B<br />

Point C<br />

0 20 40 60 80<br />

Load Factor<br />

Figure 19 – Displacement versus load factor.<br />

7.5 Pinched cylinder with rigid diaphragms<br />

A more complex thin shell is solved this time. A cylinder with rigid diaphragms is pinched by<br />

concentrated loads at two opposite points at its top and bottom, see figure 20. Two discretizations are<br />

employed to run this problem (figure 20). Taking advantage of symmetry only an octant of the cylinder<br />

4<br />

is discretized. The adopted constants are: R = 100 , h= 1,<br />

E = 3x10 , L = 200 and υ = 0 . At figure 21<br />

the results are compared with reference SANSOUR & KOLLMANN (2000) that employed an enhanced<br />

strain based shell finite element.<br />

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Método dos Elementos Finitos Posicional aplicado à não linearidade geométrica de sólidos<br />

127<br />

Figure 20 – Pinched cylinder geometry, loading and discretizations for 7092 DOF and 19893 DOF respectively.<br />

For completeness, at figure 22 two deformed configurations are depicted.<br />

12000<br />

10000<br />

8000<br />

Present Work:<br />

Node A (7092 DOF)<br />

Node B (7072 DOF)<br />

Node A (19893 DOF)<br />

Node B (19893 DOF)<br />

Reference [32]:<br />

Node A<br />

Node B<br />

Load<br />

6000<br />

4000<br />

2000<br />

0<br />

-20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90<br />

Displacement<br />

Figure 21 – Displacements for points A and B.<br />

Figure 22 – Selected configurations (Intermediates and Final Load) no scaling.<br />

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128<br />

Daniel Nelson Maciel & Humberto Breves Coda<br />

From the results one understands that a more fine mesh is required and also a better<br />

distribution of it, especially by refining where big curvatures occur during deformation.<br />

8 CONCLUSIONS<br />

The positional FEM for geometrical non-linear analysis of solids has been presented and<br />

successfully implemented. The theory is simple and consistent. The engineering strain measure, based<br />

on the Cauchy Stretch Tensor, is objective and complete. The nominal stress measure is the conjugate<br />

of the proposed engineering strain, it is symmetric and posses an understandable physical meaning.<br />

Six examples demonstrate the good behavior of the formulation. In particular, the ringed plate example<br />

demonstrates the ability of the formulation on treating thin solids. However, the pinched cylinder case<br />

presents a result that, even being better than expected, shows the limitation of using solids to simulate<br />

shells exhibiting complicated deformations. Very good convergence for the iterative process has been<br />

achieved and the stress profile is reliable. Some interesting features of the formulation should be<br />

detached. As it is a strain based formulation it can be directly used for non-linear constitutive relations.<br />

The adopted stress-strain conjugate is precisely the one used at engineering laboratories, making easy<br />

the necessary calibration of constitutive relations for any material. A rubber-like constitutive relation has<br />

been implemented to demonstrate the possibilities of the formulation for future applications. Further<br />

developments as position control and arch length control are required to achieve good solutions at<br />

unstable bifurcations, snaps troughs and snap backs. The positional formulation deserves further<br />

studies and developments to incorporate shell elements.<br />

9 AKNOWLEDGEMENTS<br />

The Authors would like to thank CAPES and CNPq for the financial support.<br />

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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 111-130, 2009


ISSN 1809-5860<br />

ELEMENTOS FINITOS HÍBRIDOS E HÍBRIDO-MISTOS DE TENSÃO COM<br />

ENRIQUECIMENTO NODAL<br />

Wesley Góis 1 & Sergio Persival Baroncini Proença 2<br />

Resumo<br />

Trata-se do desenvolvimento de variantes não-convencionais do Método dos Elementos Finitos (MEF), para a<br />

elasticidade plana, tendo-se como base a combinação das Formulações Híbrida (FHT) e Híbrida-Mista de<br />

Tensão (FHMT) com a técnica de enriquecimento nodal de partições da unidade. Elementos planos<br />

quadrilaterais de quatro nós e triangulares de três nós foram implementados para avaliação numérica destas<br />

duas variantes formuladas. Ainda entre os desenvolvimentos realizados, destaca-se o estudo das condições<br />

necessárias e suficientes para convergência de soluções aproximadas para a classe de problemas lineares<br />

considerada. Finalmente, alguns exemplos numéricos são apresentados para ilustrar o desempenho de ambas as<br />

abordagens, especialmente quando a técnica de enriquecimento nodal é aplicada.<br />

Palavras-chave: Método dos Elementos Finitos. Método dos Elementos Finitos Generalizado. Formulação<br />

híbrida de tensão. Formulação híbrido-mista de tensão. Estabilidade do Método dos Elementos Finitos.<br />

STRESS HYBRID AND HYBRID-MIXED FINITE ELEMENTS WITH NODAL<br />

ENRICHMENT<br />

Abstract<br />

This work address the development of non-conventional variants of the finite element method for plane elasticity<br />

based on the combination of Stress Hybrid Formulation (SHF) and Stress Hybrid-Mixed Formulation (SHMF)<br />

with the technique of nodal enrichment of a partition of unity. Plane four-node quadrilateral and triangular threenode<br />

elements were implemented aiming numerical evaluation of the two variants formulated. Also among the<br />

developments conduced, a study on the necessary and sufficient conditions for the convergence of the<br />

approximate solutions to the class of linear problems considered is highlighted. Finally, some numerical<br />

examples are presented to illustrate the performance of both approaches, especially when the nodal enrichment<br />

technique is explored.<br />

Keywords: Finite Element Method. Generalized Finite Element Method. Stress hybrid formulation. Stress hybridmixed<br />

formulation. Finite Element Method Stability.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O trabalho proposto tem por objetivo oferecer contribuições para o desenvolvimento e<br />

implementação computacional de duas formulações não-convencionais do Método dos Elementos<br />

Finitos (MEF), denominadas de Formulação Híbrida de Tensão (FHT) e Formulação Híbrido-Mista de<br />

Tensão.<br />

O tema tem origem na idéia de aplicação da técnica de enriquecimento nodal de<br />

aproximações para a formulação Híbrido-mista de Tensão (FHMT), proposto em Pimenta, Proença e<br />

Freitas (2002) e Góis (2004). Os estudos incluindo a FHT com enriquecimento nodal tiveram<br />

continuidade em Góis e Proença (2005, 2006a, 2006b, 2007a, 2007b, 2007c).<br />

1 Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, wesley@sc.usp.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, persival@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


132<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

Vale ressaltar que na FHMT, três campos são aproximados de forma independente: tensões e<br />

deslocamentos no domínio e deslocamentos no contorno. Já para a FHT, dois campos são<br />

independentemente aproximados: as tensões no domínio e os deslocamentos no contorno.<br />

O enriquecimento nodal pode ser definido como a ampliação das bases aproximativas<br />

envolvidas, sem a necessidade de introduzir novos nós na discretização. Essa estratégia difere,<br />

portanto, do processo p-adaptativo do MEF clássico, onde, para certa classe de elementos finitos,<br />

exige-se a inserção de pontos nodais extras nos elementos em correspondência ao aumento do grau<br />

de interpolação, Duarte e Oden (1995, 1996).<br />

A análise numérica da FHMT e FHT com enriquecimento nodal foi desenvolvida utilizando-se<br />

dois elementos planos: o elemento quadrilateral de quatro nós e o triangular de três nós. Nas<br />

aproximações envolvidas na FHMT, aplica-se o conceito da partição da unidade (PU), para garantir<br />

continuidade em todos os campos da FHMT. O conceito da PU também é aplicado aos deslocamentos<br />

no contorno da FHT para, igualmente aos elementos da FHMT, garantir continuidade dos<br />

deslocamentos entre elementos do contorno. As aproximações das tensões no domínio da FHT não<br />

estão atreladas a nós e não contemplam o conceito da PU.<br />

Para enriquecer nodalmente as aproximações envolvidas na FHMT foram utilizadas funções<br />

polinomiais. Como as aproximações das tensões no domínio para a FHT não estão vinculadas aos<br />

nós do domínio, desenvolveu-se uma metodologia original que possibilita o enriquecimento nodal das<br />

aproximações das tensões no domínio da FHT que originalmente não estão atreladas a nós. Na FHT<br />

ambos os campos foram também enriquecidos com funções polinomiais.<br />

Mas um questionamento pode ser levantado no tocante à aplicação dessas formas nãoconvencionais<br />

do MEF: elas sempre possibilitarão soluções convergentes?<br />

Assim, o estudo detalhado das condições necessárias e suficientes para convergência das<br />

soluções obtidas com as FHT e FHMT com enriquecimento nodal é um aspecto complementar<br />

abordado neste trabalho.<br />

Dessa forma, a análise dos aspectos matemáticos relacionados às condições necessárias e<br />

suficientes para estabilidade e convergência das soluções obtidas para a FHT e FHMT com<br />

enriquecimento nodal, fundamenta-se na implementação numérica da condição de Babuška-Brezzi<br />

(Babuška,1971,1973; Brezzi, 1974).<br />

2 FORMULAÇÃO HÍBRIDA E HÍBRIDO-MISTA DE TENSÃO PARA ELASTICIDADE<br />

Baseando-se em Freitas, Almeida e Pereira (1996), com oportuna escolha de funções peso,<br />

realizam-se as seguintes ponderações de Galerkin das equações de compatibilidade, equilíbrio e da<br />

condição de contorno de Neumann:<br />

T<br />

( )<br />

∫ (1)<br />

T<br />

δσ Lu − fσ dΩ = 0<br />

Ω<br />

( )<br />

∫ (2)<br />

T<br />

δu Lσ + b dΩ = 0<br />

Ω<br />

( )<br />

T<br />

∫ δu<br />

Γ<br />

Γ<br />

t − Nσ dΓ = 0<br />

(3)<br />

t<br />

t<br />

Nas Eq. (1), (2) e (3) Ω é um domínio de contorno Γ e<br />

impostas as forças de superfícies.<br />

Γ<br />

t<br />

é a parte do contorno Γ onde são<br />

Da Eq.(1), com u− u= 0, em Γ u<br />

(parte do Γ onde são impostos os deslocamentos) e com o<br />

auxílio do teorema do Divergente, vem:<br />

T<br />

T<br />

T<br />

∫ δσ fσdΩ + ∫ ( Lδσ) udΩ − ∫ ( Nδσ)<br />

udΓ = 0<br />

(4)<br />

Ω Ω Γ<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

133<br />

O contorno Γ para as formas híbridas é por definição Γ = Γi + Γu + Γt<br />

e considerando a<br />

nulidade dos deslocamentos prescritos no contorno Γ<br />

u<br />

, a Eq.(4) assume a seguinte forma:<br />

T T T<br />

T<br />

∫ δσ fσdΩ + ∫ ( Lδσ) udΩ −∫ ( Nδσ) udΓ<br />

Γ<br />

− ( Nδσ)<br />

udΓ<br />

t ∫ Γ<br />

= 0<br />

(5)<br />

i<br />

Ω Ω Γ Γ<br />

t<br />

onde Γ<br />

e<br />

= Γu + Γt<br />

é o contorno externo e Γ<br />

i<br />

é definido como contorno interno entre elementos, quando<br />

se introduz uma discretização do domínio Ω em elementos finitos.<br />

Aqui será admitida a continuidade dos deslocamentos u<br />

Γ i<br />

entre as fronteiras Γ i<br />

, e assim,<br />

estas serão interpretadas como fronteiras estáticas.<br />

Dessa forma, é necessário estender a ponderação de Galerkin da equação de equilíbrio Eq.(3)<br />

para incluir a fronteira Γ<br />

i<br />

. Com a consideração que não existem forças de superfícies t aplicadas no<br />

T<br />

contorno interno Γ<br />

i<br />

, soma-se à eq.(3) a parcela ∫ δuΓ<br />

( Nσ)<br />

dΓ referente ao equilíbrio na fronteira Γ<br />

i<br />

i<br />

,<br />

assim:<br />

Γ<br />

i<br />

T T T<br />

∫ δuΓ ( Nσ) dΓ + ( ) ( )<br />

t ∫ δuΓ Nσ dΓ− δu<br />

i ∫ Γ<br />

t dΓ = 0<br />

(6)<br />

t<br />

Γ Γ Γ<br />

t i t<br />

As Eq.(2), (5) e (6) governam o Modelo Híbrido-Misto de Tensão e envolvem três campos<br />

independentes: as tensões σ e deslocamentos u incompatíveis definidas no domínio Ω e os<br />

deslocamentos u<br />

Γ t<br />

e u<br />

Γ i<br />

sobre o contorno. Nas Eq.(2), (5) e (6) assume-se que: N é a matriz<br />

constituída com as componentes do vetor normal tanto para o contorno interno Γ i<br />

quanto para o<br />

contorno externo Γ<br />

e<br />

, f representa a matriz de flexibilidade para materiais elásticos lineares isótropos,<br />

t é o vetor de forças superficiais aplicadas na parte Γ t<br />

do contorno externo e b é o vetor de forças<br />

volúmicas. Ainda nas Eq.(2), (5) e (6), por simplificação, admite-se a seguinte consideração:<br />

deslocamentos no contorno Γ<br />

u<br />

prescritos com valor nulo.<br />

As seguintes aproximações para os campos de tensão σ e deslocamento u no domínio Ω e<br />

deslocamentos u e u nos contornos Γ<br />

t<br />

e Γ<br />

i<br />

, respectivamente, podem ser introduzidas:<br />

Γ t<br />

Γ i<br />

σ%<br />

= Ss<br />

(7)<br />

Ω<br />

Ω<br />

i<br />

u% = U q<br />

(8)<br />

Ω<br />

Ω<br />

u% = U q<br />

(9)<br />

Γt Γt Γt<br />

u% = U q<br />

(10)<br />

Γi Γi Γi<br />

Onde<br />

S<br />

Ω<br />

,<br />

U<br />

Ω<br />

,<br />

U<br />

Γ t<br />

e<br />

U<br />

Γ i<br />

são, respectivamente, matrizes que guardam aproximações das<br />

tensões e deslocamentos no domínio, deslocamentos no contorno de Neumann e interno. Já s<br />

Ω<br />

, q<br />

Ω<br />

,<br />

q<br />

Γ t<br />

e qΓ i<br />

são, respectivamente, vetores que guardam os pesos das aproximações das tensões e<br />

deslocamentos no domínio, deslocamentos no contorno de Neumann e interno.<br />

Vale ressaltar que todas as aproximações envolvidas na FHMT são construídas pela técnica<br />

do MEF e consequentemente estão atreladas a nós, no caso da utilização de uma malha de cobertura<br />

em elementos finitos.<br />

Aplicando-se as aproximações das Eq. (7) a (10) nas Eq.(2), (5) e (6), gera-se o sistema de<br />

equações lineares que governa a FHMT:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


134<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

⎡ F AΩ −AΓ −A t Γ ⎤⎧s i Ω ⎫ ⎧ 0 ⎫<br />

⎢ ⎥⎪<br />

A 0 0 0 q<br />

⎪<br />

− −Q<br />

⎢<br />

⎪ ⎪ ⎪ ⎪<br />

⎢ ⎥ −<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

⎪ ⎪ ⎪ ⎪<br />

⎣ ⎦⎩ ⎭<br />

T<br />

Ω<br />

⎥ Ω<br />

Ω<br />

T<br />

⎨<br />

q<br />

⎬=<br />

⎨ ⎬<br />

−AΓ<br />

0 0 0 Γ Q<br />

t<br />

⎪ t ⎪ ⎪ Γt<br />

⎪<br />

T<br />

−A q<br />

Γ<br />

0 0 0 ⎥<br />

Γ 0<br />

i<br />

i ⎩ ⎭<br />

(11)<br />

Na Eq.(11) foram introduzidas as seguintes matrizes:<br />

F= ∫ S fS<br />

(12)<br />

Ω<br />

T<br />

Ω<br />

Ω<br />

( ) T<br />

A = ∫ LS U dΩ<br />

(13)<br />

Ω<br />

Ω<br />

Ω Ω<br />

( )<br />

T<br />

A = ∫ NS U dΓ<br />

(14)<br />

Γt<br />

Γ<br />

Ω Γt<br />

t<br />

i<br />

( )<br />

T<br />

A = ∫ NS U dΓ<br />

(15)<br />

Γi<br />

Γ<br />

Ω Γi<br />

Q<br />

Ω<br />

Ω<br />

T<br />

= ∫ U bdΩ<br />

(16)<br />

Ω<br />

Q<br />

Γt<br />

= ∫ U tdΓ<br />

(17)<br />

Γt<br />

T<br />

Γt<br />

Especificamente para a FHT, as funções aproximativas das tensões no domínio S<br />

Ω<br />

devem<br />

satisfazer localmente a equação de equilíbrio, ou seja, as aproximações das tensões são autoequilibradas.<br />

Considerando-se que a equação de equilíbrio correspondente é identicamente satisfeita<br />

na hipótese de forças volúmicas nulas, tem-se:<br />

LSΩ<br />

= 0<br />

(18)<br />

Nessa condição, as matrizes<br />

seguinte forma:<br />

A Ω<br />

e<br />

Q Ω<br />

se anulam e a Eq.(11) se simplifica e assume a<br />

⎡ F −AΓ −A ⎤⎧<br />

t Γ s ⎫ ⎧<br />

i Ω<br />

0 ⎫<br />

⎢ ⎥⎪⎪<br />

⎪ ⎪ ⎪<br />

⎢− A 0 0 ⎥⎨q ⎬= ⎨−Q<br />

⎬<br />

T<br />

Γ Γ Γ<br />

t t t<br />

⎢ T<br />

⎥⎪ ⎪ ⎪ ⎪<br />

⎣⎢− AΓ<br />

0 0 q<br />

i<br />

⎥⎪ ⎦⎩ Γ<br />

0<br />

i⎭⎪<br />

⎩ ⎭<br />

(19)<br />

3 ELEMENTOS FINITOS HÍBRIDOS E HÍBRIDO-MISTOS DE TENSÃO COM<br />

ENRIQUECIMENTO NODAL<br />

Como na FHMT e FHT há aproximações definidas no domínio e contorno dos elementos, para<br />

aplicação do Método dos Elementos Finitos Generalizados (MEFG) definem-se suportes ou nuvens<br />

associadas tanto ao domínio quanto ao contorno do elemento. Assim, considere-se uma malha de<br />

elementos finitos como apresenta a Figura 1.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

135<br />

Figura 1 – Nuvens de influência para as malhas de cobertura: domínio (bidimensional) e contorno<br />

(unidimensional).<br />

A malha de cobertura é utilizada para definir as nuvens de domínio ω<br />

j<br />

e as nuvens de<br />

contorno ω<br />

j Γ<br />

. As nuvens de domínio e contorno em destaque na Figura 1 são formadas,<br />

respectivamente, por elementos<br />

Ωe<br />

e Γ<br />

i<br />

que possuem nós em comum de domínio<br />

x<br />

j<br />

e contorno<br />

Nesta pesquisa os elementos quadrilaterais de quatro nós (ver Figura 2) e os triangulares de<br />

três nós (ver Figura 3) são os elementos utilizados para composição das nuvens de domínio da FHT e<br />

da FHMT. Os elementos das nuvens de contorno são definidos nos lados de cada um dos<br />

elementos quadrilaterais e triangulares de domínio.<br />

Em ambas as formulações a geometria do elemento quadrilateral (ver Figura 2) é construída<br />

com a utilização de funções bilineares Lagrangianas convencionais, definidas nas Eq.(20) a Eq.(23).<br />

x<br />

j Γ<br />

.<br />

Figura 2 – Elemento quadrilateral de quatro nós.<br />

1<br />

φ1<br />

= ( ξ−1)( η − 1)<br />

(20)<br />

4<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


136<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

1<br />

φ2<br />

=− ( ξ+ 1)( η − 1)<br />

(21)<br />

4<br />

1<br />

φ3<br />

= ( ξ+ 1)( η + 1)<br />

(22)<br />

4<br />

1<br />

φ4<br />

=− ( ξ− 1)( η + 1)<br />

(23)<br />

4<br />

onde ξ e η são as coordenadas adimensionais entre -1 e 1.<br />

Para a construção da geometria do elemento triangular (ver Figura 3) é comum a utilização<br />

das coordenadas triangulares normalizadas, como mostram as Eq.(24) a Eq.(26).<br />

Figura 3 – Elemento triangular de três nós.<br />

ξ<br />

A<br />

1<br />

1<br />

= (24)<br />

Ae<br />

ξ<br />

ξ<br />

2<br />

3<br />

A<br />

A<br />

2<br />

= (25)<br />

A<br />

A<br />

e<br />

3<br />

= (26)<br />

e<br />

onde A<br />

1, A<br />

2<br />

e A<br />

3<br />

são as áreas identificadas na Figura 3 e<br />

mesma figura.<br />

A<br />

e<br />

é a área total do triângulo desta<br />

A geometria dos elementos de contorno da FHT/FHMT é desenvolvida com as funções<br />

lineares Lagrangianas clássicas. Para os elementos do contorno nos lados dos elementos<br />

quadrilaterais, escreve-se:<br />

1<br />

ψ1<br />

=− ( ξ− 1)<br />

(27)<br />

2<br />

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Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

137<br />

1<br />

ψ2<br />

= ( ξ+ 1)<br />

(28)<br />

2<br />

Já para os elementos do contorno nos lados dos elementos triangulares, tem-se:<br />

1<br />

( )<br />

ψ = 1− ξ<br />

(29)<br />

ψ2<br />

= ξ<br />

(30)<br />

onde ξ para as Eq.(27) e (28) varia entre -1 e 1 e nas Eq.(29) e (30) varia entre 0 e 1.<br />

Para aproximações das variáveis de tensão e deslocamentos no domínio e deslocamentos no<br />

contorno dos elementos quadrilateral e triangular da FHMT serão adotadas as mesmas funções<br />

utilizadas na aproximação da geometria destes elementos, Eq.(20) a Eq.(30). Assim, as matrizes<br />

aproximativas definidas nas Eq.(12) a Eq.(17), são agora tomadas para os domínios Ω<br />

e<br />

e contorno Γ<br />

( Γ ou ) dos elementos.<br />

t eΓt<br />

Γ<br />

i eΓi<br />

O enriquecimento dos campos de domínio Ω da FHMT, que estão atreladas aos nós de uma<br />

malha de cobertura, pode ser conduzido com auxílio de funções polinomiais h , j = 1,...,N e<br />

ne<br />

= 1,...,I()<br />

j . Aqui Né o número total de nós no domínio Ω e ( )<br />

I j é o contador para o número de<br />

funções adicionadas a cada nó de índice j . Assim, escreve-se a família de funções típicas do MEFG<br />

para as tensões no domínio:<br />

N<br />

N<br />

{ S } { S h } : j 1,...,N;n 1,...,I()<br />

j<br />

j j e<br />

}<br />

j= 1 j=<br />

1<br />

I = ∪ = = (31)<br />

2<br />

N Ω Ω jn e<br />

utilizada para construir a seguinte aproximação:<br />

N<br />

ne<br />

⎧<br />

⎫<br />

ˆσ = SΩ ⎨s j Ω<br />

+ h<br />

j jibji<br />

⎬<br />

j= 1 ⎩ i=<br />

1 ⎭<br />

∑ ∑ (32)<br />

jn e<br />

onde<br />

S<br />

Ω j<br />

são as aproximações das tensões atreladas ao nó j ,<br />

s<br />

Ω j<br />

são os graus de liberdade de<br />

tensões associadas às funções de forma originais e b<br />

ji<br />

são os novos parâmetros nodais<br />

correspondentes a cada uma das parcelas de enriquecimento.<br />

No que diz respeito ao enriquecimento dos campos de deslocamentos no domínio e contorno,<br />

aplica-se um procedimento análogo ao enriquecimento das tensões no domínio.<br />

Assim, considerando especificamente o elemento quadrilateral de quatro nós, as matrizes de<br />

aproximação das tensões e deslocamentos no domínio são representadas, respectivamente, da<br />

seguinte forma:<br />

[ ]<br />

S = φΔ φΔ φΔ φΔ<br />

(33)<br />

Ωe<br />

1 1 2 2 3 3 4 4<br />

[ ]<br />

U = φΔ φΔ φΔ φΔ<br />

(34)<br />

Ωe<br />

1 1 2 2 3 3 4 4<br />

onde φ<br />

j, j = 1,...,4 são as funções bilineares Lagrangianas clássicas atrelada ao nó j de domínio. A<br />

matriz de interpolação dos deslocamentos no contorno Γ<br />

t<br />

e Γ<br />

i<br />

é dada por:<br />

U ou U = ⎡ψΔ ψΔ ⎤<br />

⎣ ⎦<br />

(35)<br />

Γi Γt 1 Γ1 2 Γ2<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


138<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

onde ψ<br />

j<br />

,j<br />

Γ Γ<br />

= 1,2 são as funções lineares Lagrangianas clássicas atrelada ao nó j Γ<br />

da malha de<br />

contorno.<br />

Nas Eq.(33) a (35), Δ j<br />

e são as matrizes de enriquecimento polinomial atreladas,<br />

ΔΓ jΓ<br />

respectivamente, ao nó de domínio j e ao nó de contorno j Γ<br />

.<br />

Considere-se agora que as matrizes de enriquecimento polinomial sejam dadas por:<br />

Δ<br />

j<br />

= ⎡I3 h113 I hjkI3 hjn I ⎤<br />

⎣<br />

K K<br />

e 3 ⎦<br />

(36)<br />

quando do enriquecimento do campo de tensões no domínio;<br />

Δ<br />

j<br />

= ⎡I2 h112 I hjkI2 hjn I ⎤<br />

⎣<br />

K K<br />

e 2 ⎦<br />

(37)<br />

quando do enriquecimento do campo de deslocamentos no domínio; e<br />

Δ = ⎡I h I K h I K h I ⎤<br />

(38)<br />

Γ j 2 112 j Γ ⎣ Γ k 2 j Γ n e 2 Γ ⎦<br />

quando do enriquecimento do campo de deslocamentos no contorno.<br />

Nas Eq.(36) a (38), I 2<br />

e I 3<br />

são as matrizes identidades de segunda e terceira ordem<br />

respectivamente, uma vez que em cada nó são definidos três graus de liberdade de tensão no<br />

domínio e dois de deslocamentos de domínio e contorno.<br />

Claramente, se as funções hjn e<br />

e hjn eΓ<br />

são nulas, preserva-se, com as matrizes I 2<br />

e I 3<br />

, a<br />

estrutura convencional do MEF.<br />

Formas habituais para as funções bolhas hjn e<br />

e h<br />

jn eΓ<br />

(expressas em coordenadas naturais)<br />

são:<br />

• x<br />

• y<br />

( ) ( )<br />

h ξ,η = φ x + φ x + φ x + φ x − x<br />

(39)<br />

jne<br />

1 1 2 2 3 3 4 4 j<br />

• xy<br />

( ) ( )<br />

h ξ,η = φ y + φ y + φ y + φ y − y<br />

(40)<br />

jne<br />

1 1 2 2 3 3 4 4 j<br />

2<br />

• x<br />

2<br />

• y<br />

( ) ( ) ( )<br />

hjn ξ,η = ⎡<br />

e ⎣ φ1x1+ φ2x2 + φ3x3 + φ4x4 − x ⎤⎡<br />

j⎦⎣ φ1y1+ φ2y2 + φ3y3 + φ4y4 −y<br />

⎤<br />

j⎦ (41)<br />

( ) ⎡( )<br />

hjn ξ,η =<br />

e ⎣ φ1x1 + φ2x2 + φ3x3 + φ4x4 −x<br />

⎤<br />

j ⎦ (42)<br />

2<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

139<br />

• x<br />

• y<br />

( ) ⎡( )<br />

hjn ξ,η =<br />

e ⎣ φ1y1 + φ2y2 + φ3y3 + φ4y4 −y<br />

⎤<br />

j ⎦ (43)<br />

eΓ<br />

( ) ( )<br />

h ξ,η = ψ x + ψ x − x<br />

(44)<br />

jn 1 1 2 2 j<br />

( ) ( )<br />

jne<br />

1 1 2 2 j<br />

Γ<br />

Γ<br />

Γ<br />

h ξ,η = ψ y + ψ y − y<br />

(45)<br />

2<br />

Considerando agora o elemento triangular de três nós, as matrizes que guardam as<br />

aproximações dos campos da FHMT podem ser escritas da seguinte forma:<br />

[ ]<br />

S = ξΔ ξΔ ξΔ<br />

(46)<br />

Ωe<br />

1 1 2 2 3 3<br />

[ ]<br />

U = ξΔ ξΔ ξΔ<br />

(47)<br />

Ωe<br />

1 1 2 2 3 3<br />

U ou U = ⎡ψΔ ψΔ ⎤<br />

⎣ ⎦<br />

(48)<br />

Γi Γt 1 Γ1 2 Γ2<br />

onde ξ<br />

j<br />

, j<br />

Γ Γ<br />

= 1,...,3 e ψ<br />

j<br />

,j<br />

Γ Γ<br />

= 1,2 são as funções lineares atreladas, respectivamente, ao nó j da<br />

malha de domínio e ao nó j Γ<br />

da malha de contorno.<br />

Como já pontuado, as aproximações do campo de tensões para a FHT devem ser autoequilibradas.<br />

No trabalho são utilizadas funções polinomiais para aproximação dos campos de tensões<br />

nos elementos planos quadrilaterais e triangulares que compõem as nuvens de domínio.<br />

Para garantir que o conjunto de funções polinomiais empregadas são auto-equilibradas, foram<br />

A x,y . Dessa forma, podem-se definir vários níveis de<br />

( )<br />

adotadas convenientes funções de Airy ( )<br />

aproximações das tensões<br />

SΩ e<br />

nos elementos triangulares e quadrilaterais, como por exemplo:<br />

Aproximação constante no elemento<br />

⎡1 0 0⎤<br />

SΩ e<br />

=<br />

⎢<br />

0 1 0<br />

⎥<br />

⎢ ⎥<br />

⎢⎣0 0 1⎥⎦<br />

(49)<br />

Aproximação linear no elemento<br />

⎡1 0 0 M y −x 0 0⎤<br />

S<br />

⎢<br />

Ω e<br />

0 1 0 0 0 y x<br />

⎥<br />

= ⎢<br />

M −<br />

⎥<br />

⎢⎣0 0 1 M 0 y x 0⎥⎦<br />

(50)<br />

Aproximação quadrática no elemento<br />

2 2<br />

⎡1 0 0 M y −x 0 0 M y −2xy x 0 0 ⎤<br />

⎢<br />

2 2⎥<br />

SΩ<br />

0 1 0 0 0 y x 0 0 y 2xy x<br />

e = ⎢ M − M<br />

− ⎥<br />

⎢<br />

2 2<br />

0 0 1 0 y x 0 0 y −2xy x 0 ⎥<br />

⎣<br />

M<br />

M<br />

⎦<br />

(51)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


140<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

é dada por:<br />

A matriz de interpolação do campo de deslocamentos no contorno dos elementos ( Γ<br />

[ ψ12 I ψ22<br />

I ]<br />

(52)<br />

onde ψ<br />

γ, γ = 1, 2 são Partições da Unidade (PU) lineares apresentadas nas Eq.(27) a (30) e I 2<br />

é a<br />

matriz de identidade de segunda ordem, uma vez que em cada nó definem-se dois graus de<br />

liberdade de deslocamento.<br />

Diferentemente das funções aproximativas para o campo de deslocamentos no contorno<br />

que estão atreladas a nós, as aproximações das tensões na FHT não estão atrelados a pontos<br />

nodais. Então, como aplicar a técnica de enriquecimento nodal às aproximações do campo de<br />

tensão, se elas não são interpoladas nodalmente?<br />

Seja a função de Airy dada por:<br />

A<br />

3<br />

= gh<br />

(53)<br />

onde gx,y ( ) tem suporte compacto dado pela malha de elementos finitos da malha de cobertura e<br />

h é uma função enriquecedora polinomial ou não. Assim:<br />

t eΓt<br />

ou<br />

Γ<br />

i eΓi<br />

)<br />

⎡<br />

⎤<br />

σ 3gh 2⎜<br />

⎟ g 6g g<br />

∂y ⎢ ⎝∂y⎠<br />

∂y ⎥ ∂y ∂y ∂y<br />

⎣<br />

⎦<br />

2<br />

2<br />

2 2<br />

∂ A ⎛∂g⎞<br />

∂ g 2 ∂g∂h 3 ∂ h<br />

x<br />

= = ⎢ + ⎥+ +<br />

2 2 2<br />

(54)<br />

⎡<br />

⎤<br />

σ 3gh 2 g 6g g<br />

∂x ⎜<br />

x<br />

⎟<br />

⎢⎣<br />

⎝∂ ⎠ ∂x ⎥⎦<br />

∂x ∂x ∂x<br />

2 2 2 2<br />

∂ A ⎛∂g⎞<br />

∂ g 2 ∂g ∂h 3 ∂ h<br />

y<br />

= =<br />

2<br />

⎢ + + +<br />

2⎥<br />

2<br />

(55)<br />

2 2 2<br />

∂ A ⎡ ⎛∂g ∂g⎞ ∂ g ⎤<br />

2⎛∂g ∂h ∂g ∂h⎞<br />

3 ∂ h<br />

τxy<br />

=− =− 3gh ⎢2⎜ ⎟+ g ⎥− 3g ⎜ + ⎟−g<br />

∂∂ xy ⎣ ⎝∂x∂y⎠ ∂∂ xy⎦<br />

⎝∂x∂y ∂y∂x⎠<br />

∂∂ xy<br />

(56)<br />

Como no trabalho as força volúmicas foram consideradas nulas, logo<br />

3 3<br />

⎡∂σ ∂τ<br />

x xy ⎤ ⎡ ∂ A ∂ A ⎤<br />

⎢ + ⎥ ⎢ −<br />

2 2 ⎥<br />

⎢<br />

∂x ∂y ⎥<br />

∂∂ xy ∂∂ xy ⎡0⎤<br />

= ⎢ ⎥ =<br />

⎢ 3 3<br />

∂τxy<br />

∂σ ⎥ ⎢ ⎢<br />

y A A 0 ⎥<br />

∂ ∂ ⎥ ⎣ ⎦<br />

⎢ + ⎥ ⎢− +<br />

2 2 ⎥<br />

⎣ ∂x<br />

∂y<br />

⎦ ⎣ ∂x ∂y ∂x ∂y⎦<br />

(57)<br />

SΩ e<br />

Assim, os diferentes níveis de aproximações do campo de tensões nos elementos finitos<br />

dadas pelas Eq.(49) a (51) podem ser ampliadas da seguinte forma:<br />

∗<br />

S = ⎡S Σ Σ Σ Σ ⎤<br />

⎣ ⎦<br />

, para o elemento quadrilateral (58)<br />

Ωe<br />

Ωe<br />

1 2 3 4<br />

ou<br />

∗<br />

S = ⎡S Σ Σ Σ ⎤<br />

⎣ ⎦<br />

, para o elemento triangular (59)<br />

Ωe<br />

Ωe<br />

1 2 3<br />

onde<br />

S ∗<br />

Ω e<br />

é a matriz de interpolação das tensões enriquecidas e<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


( α=<br />

1,...,4)<br />

Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

2<br />

⎡<br />

⎡<br />

2 2<br />

⎛∂gα ⎞ ∂ g ⎤<br />

α 2 ∂gα ∂hα 3 ∂ h ⎤<br />

α<br />

⎢ 3gαhα ⎢2⎜<br />

⎟ + gα ⎥+ 6g<br />

2 α<br />

+ g<br />

⎥<br />

α 2<br />

⎢<br />

⎢ ∂y ∂y ∂y ∂y ∂y<br />

⎣ ⎝ ⎠ ⎥⎦<br />

⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

2<br />

⎢<br />

⎡<br />

2 2<br />

⎛∂gα ⎞ ∂ g ⎤<br />

α 2 ∂gα ∂hα 3 ∂ h ⎥<br />

α<br />

Σα = ⎢ 3gαhα ⎢2⎜<br />

+ gα 6g<br />

2<br />

⎥+ α<br />

+ gα<br />

2<br />

∂x ⎟<br />

⎥<br />

⎢<br />

⎢⎣<br />

⎝ ⎠ ∂x ⎥⎦<br />

∂x ∂x ∂x<br />

⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

2<br />

∂gα ∂hα ⎞ 3 ∂ hα<br />

⎥<br />

⎢ ⎢ ⎜ ⎟ ⎥ ⎜ + ⎟−gα<br />

⎣ ⎝ ∂x ∂y ⎠ ∂x∂y⎦<br />

∂x<br />

∂y ∂y ∂x ∂x∂y⎥<br />

⎢<br />

⎝<br />

⎠<br />

⎣<br />

⎥⎦<br />

ou<br />

( α=<br />

1,...,3)<br />

2<br />

⎢ ⎡ ⎛∂gα ∂gα ⎞ ∂ g ⎤<br />

α 2 ⎛∂gα ∂hα<br />

− 3gαhα 2 + gα −3gα<br />

141<br />

(60)<br />

reúne as interpolações de suporte compacto com x,y centrados nos nós α (( α = 1,...4)<br />

- para o<br />

elemento quadrilateral e ( α = 1,...3)<br />

- para o elemento triangular) da malha de elementos finitos<br />

triangulares ou quadrilaterais. Nota-se que<br />

S ∗<br />

Ω e<br />

também é auto-equilibrada.<br />

4 ESTUDO DAS CONDIÇÕES DE CONVERGÊNCIA DA FHT E FHMT COM<br />

ENRIQUECIMENTO NODAL<br />

Neste item a ênfase é inicialmente dada à solvabilidade dos sistemas de equações lineares,<br />

representados nas Eq.(11) e (19), como condição necessária para a convergência de soluções da<br />

FHT e FHMT com enriquecimento nodal. Essencialmente, adapta-se a técnica definida no trabalho de<br />

Zienkiewicz et al. (1986) que propõe condição algébrica simples para garantir a solvibilidade dos<br />

sistemas de equações de formulações mistas convencionais. Em seguida, um estudo numérico é<br />

proposto para avaliação da condição de Babuška-Brezzi (inf-sup), que se caracteriza como condição<br />

suficiente para a convergência de soluções numéricas.<br />

4.1 O ‘Teste por Inspeção’ aplicado à FHMT e FHT com enriquecimento nodal<br />

Para aplicar os conceitos fundamentais do trabalho de Zienkiewicz et al. (1986) à FHT e<br />

FHMT sem enriquecimento nodal, considere-se o sistema de equações dado pelas Eq.(11) - FHMT e<br />

(19) - FHT. Assim, definem-se as seguintes condições algébricas necessárias para existência de uma<br />

solução numérica.<br />

s<br />

Ω<br />

≥ q<br />

(61)<br />

Ω<br />

s<br />

≥ q ou<br />

Ω Γ t<br />

s<br />

≥ q<br />

(62)<br />

Ω Γ i<br />

As Eq.(61) e (62) são aplicadas a FHMT e para a FHT só a Eq.(62) faz sentido.<br />

Quando se considera o enriquecimento dos campos de tensão e deslocamento no domínio e<br />

contorno do elemento, respectivamente, o ‘Teste por Inspeção’ é ampliado pela inclusão dos novos<br />

parâmetros de tensões no domínio b ji<br />

(FHMT) e b j<br />

(FHT), deslocamentos no domínio c ji<br />

(FHMT) e<br />

deslocamentos no contorno d<br />

ji<br />

(FHMT) e d<br />

jl<br />

(FHT).<br />

Assim as Eq.(61) e (62) passam a ser escritas da seguinte forma:<br />

sΩ + bij ≥ qΩ + cji<br />

, para a FHMT (63)<br />

s + b ≥ q + d ou<br />

Ω ij Γt<br />

ji<br />

s + b ≥ q + d , para a FHMT (64)<br />

Ω ij Γi<br />

ji<br />

s + b ≥ q + d ou<br />

Ω j Γt<br />

jl<br />

s + b ≥ q + d , para a FHT (65)<br />

Ω j Γi<br />

jl<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


142<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

Deste modo, escolhidas as discretizações do problema, investigam-se as condições dadas<br />

nas Eq.(63) a (65) para essas malhas de elementos finitos. Vale ressaltar que esse teste é uma<br />

condição necessária, mas não suficiente para garantia da solvibilidade das Eq.(11) e (19). A condição<br />

suficiente para solvibilidade do sistema discreto da FHT e FHMT com enriquecimento é observada<br />

pela análise do significado físico dos autovalores da matriz dos coeficientes das Eq.(11) e (19).<br />

4.2 Estudo da condição de Babuška-Brezzi (inf-sup) aplicada à FHT e FHMT<br />

A condição de Babuška-Brezzi ou inf-sup, Babuška (1971, 1973) e Brezzi (1974), é condição<br />

necessária e suficiente para garantir convergência de aproximações numéricas, obtida com o MEF, de<br />

toda uma classe de problemas caracterizada por certo operador linear. Baseado em Babuška (1996)<br />

and Chapelle e Bathe (1993), desenvolve-se uma avaliação numérica desta condição aplicada a FHT<br />

e FHMT com enriquecimento nodal.<br />

A condição de Babuška-Brezzi (inf-sup)<br />

Seja um problema variacional geral caracterizado por uma forma bilinear B( φ,ψ)<br />

definida em<br />

W× W , onde W é um espaço de Hilbert (um espaço vetorial, munido de um produto interno, e<br />

<strong>completo</strong> em relação à norma definida com esse produto interno, Bathe (1996), Schwab (1998) e<br />

Brezzi e Fortin (1991)).<br />

O primeiro argumento da forma bilinear B ( ⋅,<br />

⋅ ) é denominado função admissível ou solução e o<br />

segundo função peso ou teste.<br />

Além disso, admita-se que para a classe de problemas a ser considerada, defina-se o espaço<br />

de Hilbert como:<br />

⎧⎪<br />

∂u<br />

( ) ( )<br />

2 2<br />

W = ⎨uu∈L Ω ; ∈ L Ω ,j= 1,2,3;u = 0 emΓu<br />

∂x<br />

j<br />

⎪⎩<br />

⎫⎪<br />

⎬<br />

⎪⎭<br />

(66)<br />

2<br />

onde L ( )<br />

Ω é o espaço das funções quadrado integráveis no domínio Ω do corpo considerado e se<br />

assume que a condição de contorno de Dirichlet é zero em Γ u<br />

. Formalmente, representa-se o espaço<br />

2<br />

L<br />

( )<br />

Ω como:<br />

⎧<br />

⎫<br />

= ∫ = < +∞⎬<br />

(67)<br />

⎩<br />

⎭<br />

2<br />

( ) ⎨<br />

2<br />

L ( Ω)<br />

2 2<br />

L Ω w w é definido em Ω e w dΩ w<br />

Ω<br />

Isto posto, dado um funcional linear contínuo F( ψ ) : W →<br />

contorno pode ser representado na seguinte forma:<br />

Determinar φ ∈ W tal que<br />

( ) F( ψ)<br />

B φ,ψ<br />

, um problema de valor de<br />

= ∀ ψ ∈ W<br />

(68)<br />

Admitindo-se que a abordagem adotada para gerar uma aproximação para a forma bilinear<br />

seja tipo Galerkin, então o espaço das funções admissíveis é igual ao espaço das funções peso. Além<br />

disso, o emprego do método dos elementos finitos para a geração das aproximações acaba por<br />

atribuir uma dimensão finita ao espaço solução.<br />

Assim sendo, pode-se introduzir o subespaço de W , de dimensão finita, como:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

143<br />

( m)<br />

( )<br />

⎪⎧<br />

2 ∂u<br />

⎫<br />

n 2<br />

⎪<br />

Wn = ⎨un un∈L ( Ω ); ∈ L ( Ω ),j= 1,2,3;u<br />

n∈ Qn Ω ;un = 0 em Γu⎬<br />

⎪⎩<br />

∂x<br />

j<br />

⎪⎭<br />

( m)<br />

onde Qn<br />

( Ω ) indica o caráter polinomial de grau “n ” da aproximação global u n quando restrita ao<br />

elemento m do domínio discretizado. Nessas condições, tem-se que a solução por Elementos Finitos<br />

da Eq. (68) é obtida resolvendo-se o seguinte problema:<br />

Encontrar φn∈ Wn<br />

tal que<br />

( ) F( ψ )<br />

B φ ,ψ<br />

= ∀ ψ n<br />

∈ W n<br />

(70)<br />

n n n<br />

Para medir a qualidade da aproximação por Elementos Finitos, no sentido de erro em relação<br />

à solução exata, é necessário introduzir normas, representadas por: ⋅ e ⋅<br />

S T<br />

nos espaços das<br />

funções admissíveis e teste, respectivamente. Assim, como o auxílio das normas no espaço das<br />

funções admissíveis podem ser introduzidas as seguintes relações:<br />

e<br />

( φ− φ n S<br />

)<br />

(71)<br />

ηn∈Wn<br />

( )<br />

inf φ− η , com ηn ∈ Wn<br />

(72)<br />

n S<br />

A norma representada pela Eq.(71) mede o erro entre a solução exata φ e uma solução<br />

aproximada φ<br />

n<br />

. Tal norma pode ser empregada como uma medida de convergência de uma<br />

seqüência de soluções se: φ−φn →0p/n→∞.<br />

S<br />

Já a norma da Eq.(72) mede o menor erro possível entre todas as possíveis aproximações η<br />

n<br />

do espaço discretizado W<br />

n<br />

. Um aspecto importante que se pode demonstrar é que a solução por<br />

Elementos Finitos é aquela que apresenta o menor erro de aproximação. Assim sendo, uma vez<br />

adotado o MEF, a convergência passa a depender da ordem do espaço de aproximação adotado e da<br />

própria solução exata, isto é:<br />

h<br />

h<br />

( )<br />

n<br />

inf φ ηh Φ φ 0 para n<br />

η ∈W<br />

S<br />

− = → →∞ (73)<br />

Ao se aplicar uma alternativa numérica como o MEF a expectativa é que a metodologia de<br />

geração de aproximações produza soluções convergentes não somente em relação à certa solução<br />

exata, mas para todo conjunto de soluções exatas de uma classe de problemas. Assim sendo, a<br />

análise de convergência deve assumir um sentido mais amplo, passando a depender da capacidade<br />

de aproximação do espaço de funções escolhido e, também, da densidade da forma bilinear que rege<br />

a classe de problemas. Nesse sentido, Bathe (1996), Brezzi e Bathe (1990) e Brezzi e Fortin (1991),<br />

levam em conta a forma bilinear na definição da norma e demonstram a seguinte expressão que<br />

relaciona as medidas de convergência (71) e (72) mencionadas, envolvendo uma constante<br />

relacionada à classe de problemas:<br />

(69)<br />

⎛<br />

k ⎞<br />

λ ⎠<br />

m<br />

φ−φn<br />

≤<br />

S ⎜1+ ⎟ inf φ−ηn<br />

ηn∈Wn<br />

⎝<br />

S<br />

(74)<br />

onde k<br />

m<br />

vem da condição de continuidade da forma bilinear, que pode ser expressa por:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


144<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

B( η,ψ) ≤ km η ψ ∀ η,ψ ∈ W<br />

(75)<br />

S T<br />

Aliás, um requisito mínimo sobre B( η,ψ ) e F(ψ) , para que a Eq.(70) tenha sentido, é a sua<br />

continuidade.<br />

Ainda na Eq.(74), a constante λ é obtida da condição de Babuška-Brezzi (inf-sup), e se<br />

apresentar um valor positivo aponta para a densidade da forma bilinear. Para espaços de dimensão<br />

finita a condição inf-sup passa a ser definida por:<br />

( )<br />

B η ,ψ<br />

h h<br />

inf sup λ 0<br />

ηh∈Wh<br />

ψ h∈<br />

W h ηh ψ<br />

S h T<br />

= > (76)<br />

Claramente o valor de λ está associado à forma bilinear que rege a classe de problemas.<br />

Pode-se mostrar, ainda, que as Eq.(75) (continuidade) e Eq.(76) (condição inf-sup) implicam<br />

na Eq.(74). Assim, se a Eq.(76) é atendida, conclui-se pela Eq.(74) que as soluções por elementos<br />

finitos apresentam-se convergentes pra toda solução exata da classe de problemas governada pela<br />

forma bilinear.<br />

Ao contrário, se λ → 0 + a análise da Eq.(74) mostra que haverá convergência somente para<br />

n<br />

⎛ k<br />

soluções em relação às quais Φ ( φ ) tenda a zero mais rapidamente do que o multiplicador 1 m ⎞<br />

⎜ +<br />

λ<br />

⎟<br />

⎝ ⎠<br />

tender ao infinito. Isto não é sempre garantido, podendo haver ao menos uma solução φ da classe de<br />

problemas para a qual essa situação se inverta e a solução por elementos finitos não apresente<br />

convergência.<br />

Em termos do emprego prático das condições anteriores, numa primeira situação se a<br />

condição de Babuška-Brezzi indicar ( λ > 0 ) para certa solução aproximada de um dado problema<br />

então a eq.(74) fornece uma medida do erro de aproximação. Numa segunda etapa a constatação de<br />

λ → 0 para sucessivas aproximações mais refinadas indica que pode haver problemas de<br />

convergência em relação à solução exata daquele problema.<br />

Numa situação mais geral, pode-se, em última análise, comprovar, ou não, a robustez de<br />

determinado elemento finito, avaliando pela eq.(76) a evolução das constantes de estabilidade para as<br />

seqüências de soluções, de todos os problemas de uma classe, obtidas por discretizações realizadas<br />

com aquele elemento. Esta situação é, porém, impraticável, podendo ser conduzida parcialmente em<br />

termos operacionais, mas ainda assim em grau suficiente para oferecer um indicativo de robustez,<br />

conforme se mostra no capítulo de aplicações.<br />

4.2.2 Determinação numérica de λ<br />

Babuška (1996) apresenta um desenvolvimento matemático provando que a determinação<br />

numérica de λ corresponde à raiz quadrada do menor autovalor positivo do seguinte problema de<br />

autovalor:<br />

T −1<br />

BT Bη<br />

= μSη<br />

(77)<br />

Na Eq.(77) S e T são matrizes simétricas positivo-definidas obtidas das normas<br />

2 T<br />

= ( η Sη)<br />

e ψ ( ψ Tψ)<br />

2 T<br />

n S<br />

η<br />

seguinte forma:<br />

( )<br />

T<br />

B η ,ψ<br />

n<br />

n<br />

n T<br />

= e a matriz B pode ser obtida da parte bilinear da Eq.(70), escrita da<br />

= ψ Bη<br />

(78)<br />

onde η e ψ são vetores que reúnem os valores nodais de η<br />

n<br />

e<br />

ψ<br />

n<br />

.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

145<br />

4.2.3 O teste numérico da condição de Babuška-Brezzi (inf-sup) aplicado à FHMT e FHT com<br />

enriquecimento nodal<br />

Sejam as equações que governam a FHMT escritas da seguinte forma:<br />

T T T T T<br />

∫ δσ fσdΩ + ∫ u ( Lδσ) dΩ −∫ uΓ<br />

( Nδσ) dΓ − u ( ) ( )<br />

t ∫ Γ<br />

Nδσ dΓ = u Nδσ dΓ<br />

i ∫ (79)<br />

Ω Ω Γt Γi Γu<br />

T<br />

T<br />

∫ δu ( Lσ)<br />

dΩ =−∫ δubdΩ<br />

(80)<br />

Ω<br />

Ω<br />

T<br />

T<br />

∫ δuΓ<br />

( Nσ)<br />

dΓ = δu<br />

t ∫ Γ<br />

tdΓ<br />

(81)<br />

t<br />

Γt<br />

Γt<br />

T<br />

T<br />

∫ δuΓ<br />

( N ) ( )<br />

i +<br />

σ dΓ + ∫ δuΓ<br />

Nσ dΓ = 0<br />

(82)<br />

i<br />

Γi<br />

Γi<br />

Baseado em Schwab (1998), para a FHMT, pode-se definir para as Eq.(79) a Eq.(82) uma<br />

forma bilinear B(.,.) e um funcional linear F(.) , como segue abaixo:<br />

T T T<br />

∫ ∫ ( ) ∫ Γ ( ) L<br />

t<br />

B(η,ψ) = δσ fσdΩ + u Lδσ dΩ − u Nδσ dΓ +<br />

∫<br />

Γi<br />

T<br />

Γi<br />

Ω Ω Γt<br />

T T T<br />

∫ ( ) ∫ Γ ( ) ( )<br />

t ∫ Γi<br />

L+ δu Lσ dΩ+ δu Nσ dΓ − u Nδσ dΓ + L (83)<br />

T<br />

( + ) ∫ Γ ( )<br />

i<br />

L + δu N σ dΓ + δu Nσ dΓ<br />

Γi<br />

Ω Γt<br />

Γi<br />

T T T<br />

( ) = ∫ ( ) − ∫ + ∫ Γ<br />

(84)<br />

t<br />

F ψ u Nδσ dΓ δubdΩ δu tdΓ<br />

Γu<br />

Ω Γt<br />

onde η= ( σ,u,u<br />

Γ,uΓ<br />

) e ψ ( δσ,δu,δu<br />

Γ,δuΓ<br />

)<br />

t<br />

i<br />

2 2<br />

{( Γ ) ( ) ( )}<br />

t Γi Γt Γi<br />

= são definidos em de S × T com:<br />

t<br />

i<br />

S = σ,u,u ,u : σ,u∈L Ω ;u ,u ∈ L Γ<br />

(85)<br />

2 2<br />

{( Γ ) ( ) ( )}<br />

t Γi Γt Γi<br />

T = δσ,δu,δu ,δu :δσ,δu∈L Ω ;δu ,δu ∈ L Γ<br />

(86)<br />

Pode-se, ainda, definir as seguintes normas:<br />

( )<br />

2<br />

2<br />

2 2 2 2<br />

=<br />

Γt Γ<br />

= + +<br />

i Γ<br />

+<br />

S Ω Ω Γ t Γi<br />

S<br />

t<br />

Γi<br />

∫ ∫ ∫ ∫ (87)<br />

η σ,u,u ,u σ dΩ udΩ u dΓ udΓ<br />

( )<br />

2<br />

2<br />

2 2 2 2<br />

=<br />

Γt Γ<br />

= + +<br />

i Γ<br />

+<br />

S Ω Ω Γ t Γi<br />

T<br />

t<br />

Γi<br />

∫ ∫ ∫ ∫ (88)<br />

ψ δσ,δu,δu ,δu δσ dΩ δudΩ δudΓ δudΓ<br />

Para aplicação do “teste inf-sup” a certa malha de cobertura com elementos finitos<br />

quadrilaterais de quatro nós e triangulares de três nós da FHMT com enriquecimento é preciso<br />

determinar todas as matrizes envolvidas na Eq.(77). Para isso, consideram-se as mesmas bases<br />

aproximativas para os campos de tensão e deslocamento no domínio e deslocamento no contorno,<br />

apresentadas no capítulo 3.<br />

A matriz de coeficientes da Eq.(11) é a matriz B da Eq.(77). As matrizes S e T são obtidas<br />

com auxílio das normas dadas nas Eq.(87) e (88). Assim, estão definidos todos os parâmetros da<br />

Eq.(77) necessários para o cálculo de λ<br />

n<br />

. Agora, para a determinação de S=T e B dentro das várias<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


146<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

condições de enriquecimento basta ampliar da forma desejada as bases aproximativas iniciais dos<br />

campos de tensão e deslocamento no domínio e deslocamento no contorno.<br />

Como a aplicação da condição inf-sup para avaliar a robustez dos elementos é impraticável,<br />

opta-se por verificar a estabilidade das soluções obtidas em cada um dos diferentes problemas, de<br />

uma mesma classe, abordados no capítulo de exemplos; nesse sentido, realiza-se uma espécie de<br />

“teste inf-sup”. Para tanto, a metodologia adotada é similar à sugerida no trabalho de Chapelle e Bathe<br />

(1993), isto é: em problema da FHMT com enriquecimento nodal será considerada uma seqüência de<br />

malhas com elementos quadrilaterais e triangulares. Para cada malha o valor de λ n<br />

= μ min<br />

será<br />

calculado. Se os μ<br />

min<br />

não tenderem a zero, o elemento quadrilateral e triangular da FHMT com<br />

enriquecimento nodal será considerado estável.<br />

A estabilidade em todos os problemas testados, se constatada pode ser interpretada como um<br />

bom indicativo da robustez dos elementos.<br />

Para aplicar o “teste inf-sup” à FHT segue a mesma metodologia descrita anteriormente para a<br />

FHMT, com a consideração dada pela Eq.(18).<br />

5 O TESTE “INF-SUP” APLICADO À FHT/FHMT COM ENRIQUECIMENTO NODAL:<br />

RESULTADOS NUMÉRICOS<br />

5.1 Introdução<br />

A aplicação do teste “inf-sup” exige a consideração de variações sobre as condições de<br />

contorno e seqüência de malhas utilizadas na discretização de uma classe de problemas. Isto implica<br />

que se os elementos finitos quadrilaterais e triangulares da FHT/FHMT com enriquecimento nodal<br />

satisfaz o teste “inf-sup” para certo conjunto de malhas, não é possível garantir que esses mesmos<br />

elementos finitos satisfaçam aquela condição para qualquer problema da classe discretizado com<br />

outras seqüências de malhas.<br />

O teste “inf-sup” é, portanto, de difícil aplicação. No entanto, entende-se que é possível aplicálo<br />

para obter indicativos de desempenho dos elementos da FHT/FHMT avaliados aqui nesta pesquisa,<br />

considerando-se um número limitado de testes.<br />

Por isso, para a análise da estabilidade do elemento quadrilateral e triangular da FHT/FHMT<br />

com o teste “inf-sup”, selecionaram-se dois casos:<br />

u = 0,u = 0 e<br />

O primeiro é uma chapa quadrada com a borda vertical esquerda engastada ( x y )<br />

bordas horizontais com deslocamentos verticais nulos ( uy<br />

= 0)<br />

, ver Figura 4.<br />

Figura 4 – Chapa tracionada.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

147<br />

O segundo modelo é uma chapa retangular com fenda central, como mostra a Figura 5. Devido<br />

à dupla simetria do problema, para efeitos do estudo do ‘Teste por Inspeção’, será analisado apenas<br />

1<br />

( 4 ) desta chapa (Figura 6).<br />

Figura 5 – Chapa tracionada com fenda central.<br />

Figura 6 – Simetria da chapa tracionada com fenda central.<br />

Nos dois exemplos propostos, adota-se E = 1000 para o módulo de Young, ν = 0,3 para o<br />

coeficiente de Poisson e ainda regime de comportamento elástico-linear. Ambas as chapas são<br />

tracionadas por p= 10 unidades de força distribuída por unidade de comprimento. Vale lembrar que<br />

para o teste “inf-sup” a carga p não tem influência alguma.<br />

Figura 7 – Malhas quadrilaterais regulares – chapa tracionada.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


148<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

Figura 8 – Malhas triangulares regulares – chapa tracionada.<br />

Chapelle e Bathe (1993) sugerem que um elemento seja avaliado com o teste “inf-sup”<br />

utilizando-se malhas com refinamentos sucessivos. Ao menos três refinamentos são recomendados<br />

para prever se λ<br />

n<br />

será limitado inferiormente por uma constante positiva. Seguindo as recomendações<br />

daquele trabalho, para aplicação do teste “inf-sup” na FHT/FHMT com enriquecimento nodal<br />

considera-se em cada um dos problemas uma seqüência de malhas de elementos quadrilaterais e<br />

triangulares.<br />

As malhas apresentadas nas Figuras 7 e 8 ( 1× 1, 2× 2, 4× 4, 8× 8 e 16 × 16 ) serão<br />

utilizada na avaliação da chapa tracionada. Já para o problema da chapa com fenda adotam-se as<br />

malhas das Figuras 9 e 10 ( 3× 3,6× 6, 12 × 12 e 24 × 24 ).<br />

Figura 9 – Malhas quadrilaterais regulares – chapa tracionada com fenda central.<br />

Primeiramente, considerou-se nos dois problemas a situação sem enriquecimento.<br />

Posteriormente, as condições de enriquecimento sobre os campos envolvidos na FHT/FHMT com<br />

funções polinomiais foram avaliadas.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

149<br />

Figura 10 – Malhas triangulares regulares – chapa tracionada com fenda central.<br />

Para cada uma das malhas regulares apresentadas (com ou sem enriquecimento) as matrizes<br />

S = Te B foram montadas e o valor de λ n<br />

(inf-sup) calculado. Os resultados obtidos estão aqui<br />

plotados na forma de gráficos log( 1 N ) × log( λ<br />

n ) (N é a soma do número total de parâmetros de<br />

tensão e de graus de liberdade em deslocamentos). Se a curva log( 1 N ) × log( λ<br />

n ) converge<br />

assimptoticamente para um determinado valor λ n<br />

> 0 , conclui-se que os elementos quadrilaterais e<br />

triangulares da FHT/FHMT satisfazem o teste “inf-sup”, indicando para a convergência da solução.<br />

Vale ressaltar que todas as combinações de enriquecimento utilizadas no teste “inf-sup” satisfazem as<br />

Eq.(63) a (65).<br />

5.2 Chapa tracionada<br />

Os resultados do teste “inf-sup” para o conjunto de malhas regulares quadrilaterais da<br />

FHT/FHMT sem enriquecimento, utilizadas na discretização deste problema, são apresentados nas<br />

Figuras 11 e 12.<br />

log(1/N)<br />

-3,8 -3,4 -3 -2,6 -2,2 -1,8 -1,4 -1 -0,6<br />

-2,95<br />

-3,00<br />

-3,05<br />

-3,10<br />

-3,15<br />

log(inf-sup)<br />

-3,20<br />

FHT-Aproximação Constante das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Linear das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Quadrática das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

Figura 11 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento quadrilateral – FHT sem enriquecimento.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


150<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

Na Figura 11, verifica-se que o elemento quadrático da FHT sem enriquecimento (em todos os<br />

níveis da aproximação das tensões no domínio) satisfaz o teste “inf-sup” com λn<br />

> 0 . Com o elemento<br />

quadrilateral da FHMT, igualmente ao da FHT, consegue-se claramente λn<br />

> 0 ver Figura 12.<br />

,<br />

O elemento quadrilateral da FHT enriquecido, nos três níveis de aproximação do campo de<br />

tensão, satisfez o teste “inf-sup” para o problema da chapa tracionada, pois todas as curvas<br />

apresentam tendência de convergência para um λ n<br />

> 0 , ver Figura 13. Ressalta-se que para este<br />

problema, os enriquecimentos foram realizados na totalidade dos nós de domínio e em todos os nós<br />

de contorno que não possuam condição de contorno essencial prescrita.<br />

log(1/N)<br />

-3,8 -3,4 -3 -2,6 -2,2 -1,8 -1,4 -1<br />

-2<br />

-2,5<br />

-3<br />

-3,5<br />

-4<br />

-4,5<br />

-5<br />

-5,5<br />

-6<br />

FHMT-Sem Enriquecimento<br />

log(inf-sup)<br />

Figura 12 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento quadrilateral – FHMT sem enriquecimento.<br />

log(1/N)<br />

-3,8 -3,4 -3 -2,6 -2,2 -1,8 -1,4 -1 -0,6<br />

-2,95<br />

-3,00<br />

-3,05<br />

log(inf-sup)<br />

-3,10<br />

-3,15<br />

FHT-Aproximação Constante das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Linear das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Quadrática das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Constante das Tensões no Domínio-Enriquecimento das Tensões no Domínio (y²) e Deslocamentos no Contorno (x)<br />

FHT-Aproximação Linear das Tensões no Domínio-Enriquecimento dos Deslocamentos no Contorno (x)<br />

FHT-Aproximação Quadrática das Tensões no Domínio-Enriquecimento dos Deslocamentos no Contorno (x)<br />

-3,20<br />

Figura 13 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento quadrilateral – FHT com enriquecimento.<br />

Com a seleção de algumas combinações de enriquecimento aplicada ao elemento quadrilateral<br />

da FHMT, manteve-se a tendência de λ > 0 apresentada por este mesmo elemento sem<br />

enriquecimento, como mostra a Figura 14.<br />

n<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

151<br />

log(1/N)<br />

-3,8 -3,4 -3 -2,6 -2,2 -1,8 -1,4 -1<br />

-2,98<br />

-3<br />

-3,02<br />

-3,04<br />

-3,06<br />

-3,08<br />

-3,1<br />

-3,12<br />

-3,14<br />

-3,16<br />

-3,18<br />

FHMT-Sem Enriquecimento<br />

FHMT-Enriquecimento das Tensões e Deslocamentos no Domínio (y²) e Deslocamentos no Contorno (x)<br />

FHMT-Enriquecimento das Tensões no Domínio (y²) e Deslocamentos no Contorno (x)<br />

log(inf-sup)<br />

Figura 14 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento quadrilateral – FHMT com enriquecimento.<br />

log(1/N)<br />

-4,4 -4 -3,6 -3,2 -2,8 -2,4 -2 -1,6 -1,2 -0,8 -0,4 0<br />

-2,95<br />

-3,00<br />

-3,05<br />

-3,10<br />

-3,15<br />

log(inf-sup)<br />

-3,20<br />

FHT-Aproximação Constante das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Linear das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Quadrática das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

Figura 15 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento triangular – FHT sem enriquecimento.<br />

log(1/N)<br />

-3,8 -3,4 -3 -2,6 -2,2 -1,8 -1,4 -1<br />

-2<br />

-2,5<br />

-3<br />

-3,5<br />

-4<br />

-4,5<br />

-5<br />

-5,5<br />

-6<br />

FHMT-Sem Enriquecimento<br />

log(inf-sup)<br />

Figura 16 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento triangular – FHMT sem enriquecimento.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


152<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

A Figura 15 mostra que, mesmo sem enriquecimento algum sobre as bases aproximativas do<br />

elemento triangular da FHT, é possível convergir λn<br />

> 0 para uma constante positiva.<br />

Com o elemento triangular da FHMT sem enriquecimento também foi possível obter λ n<br />

> 0 ,<br />

como destaca a Figura 16.<br />

O enriquecimento polinomial exclusivo sobre os deslocamentos no contorno ou simultâneo<br />

sobre as tensões no domínio e deslocamentos no contorno do elemento quadrilateral da FHT<br />

conduziu a resultados satisfatórios, λn<br />

> 0 , nos casos da aproximação constante, linear e quadrática<br />

do campo de tensão, ver Figura 17.<br />

log(1/N)<br />

-4,4 -4 -3,6 -3,2 -2,8 -2,4 -2 -1,6 -1,2 -0,8<br />

-3,00<br />

-3,05<br />

-3,10<br />

log(inf-sup)<br />

-3,15<br />

FHT-Aproximação Constante das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Linear das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Quadrática das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Constante das Tensões no Domínio-Enriquecimento das Tensões no Domínio (y²) e Deslocamentos no Contorno (x)<br />

FHT-Aproximação Linear das Tensões no Domínio-Enriquecimento dos Deslocamentos no Contorno (x)<br />

FHT-Aproximação Quadrática das Tensões no Domínio-Enriquecimento dos Deslocamentos no Contorno (x)<br />

Figura 17 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento triangular – FHT com enriquecimento.<br />

-3,20<br />

log(1/N)<br />

-3,8 -3,4 -3 -2,6 -2,2 -1,8 -1,4 -1<br />

-2,98<br />

-3<br />

-3,02<br />

-3,04<br />

-3,06<br />

-3,08<br />

log(inf-sup)<br />

-3,1<br />

-3,12<br />

-3,14<br />

-3,16<br />

FHMT-Sem Enriquecimento<br />

FHMT-Enriquecimento das Tensões no Domínio (y²) e Deslocamentos no Contorno (x)<br />

FHMT-Enriquecimento das Tensões e Deslocamentos no Domínio (y²) e Deslocamentos no Contorno (x)<br />

Figura 18 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento triangular – FHMT com enriquecimento.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

153<br />

A Figura 18 destaca que as condições de enriquecimento testadas para ampliar os campos de<br />

tensão e deslocamento no domínio e deslocamento no contorno do elemento triangular da FHMT<br />

foram suficientes para alcançar λn<br />

> 0 .<br />

5.3 Chapa tracionada com fenda central<br />

Neste exemplo, com relação à análise do teste “inf-sup”, são aplicados enriquecimentos<br />

seletivos sobre os campos envolvidos na FHT/FHMT. Os nós escolhidos para o enriquecimento<br />

seletivo deste exemplo são os nós sem condição de contorno essencial prescrita em torno da ponta da<br />

fenda.<br />

A aproximação constante das tensões no domínio sem enriquecimento gerou resposta<br />

λn<br />

→ 0 . Nos demais níveis de aproximação do campo de tensão no domínio observaram-se<br />

convergência assintótica do λ<br />

n<br />

para um valor positivo, ver Figura 19.<br />

log(1/N)<br />

-4,2 -3,8 -3,4 -3 -2,6 -2,2 -1,8 -1,4 -1 -0,6<br />

-2,95<br />

-3<br />

-3,05<br />

-3,1<br />

-3,15<br />

log(inf-sup)<br />

FHT-Aproximação Constante das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Linear das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Quadrática das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

-3,2<br />

Figura 19 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento quadrilateral – FHT sem enriquecimento.<br />

log(1/N)<br />

-4 -3,6 -3,2 -2,8 -2,4 -2 -1,6<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

-2<br />

-2,5<br />

-3<br />

-3,5<br />

FHMT-Sem Enriquecimento<br />

log(inf-sup)<br />

Figura 20 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento quadrilateral – FHMT sem enriquecimento.<br />

A Figura 20 indica que o elemento quadrilateral da FHMT sem enriquecimento satisfaz o teste<br />

“inf-sup”, pois λ<br />

n<br />

tende para um valor positivo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


154<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

log(1/N)<br />

-4,4 -4 -3,6 -3,2 -2,8 -2,4 -2 -1,6 -1,2<br />

-3,00<br />

-3,05<br />

-3,10<br />

-3,15<br />

log(inf-sup)<br />

-3,20<br />

FHT-Aproximação Constante das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Linear das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Quadrática das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

Figura 21 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento triangular – FHT sem enriquecimento.<br />

O elemento triangular da FHT (todas as bases aproximativas das tensões no domínio) sem<br />

enriquecimento satisfaz o teste “inf-sup” com λ<br />

n<br />

tendendo para uma constante positiva, como mostra<br />

a Figura 21.<br />

log(1/N)<br />

-4 -3,6 -3,2 -2,8 -2,4 -2 -1,6<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

-2<br />

-2,5<br />

-3<br />

-3,5<br />

FHMT-Sem Enriquecimento<br />

log(inf-sup)<br />

Figura 22 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento triangular – FHMT sem enriquecimento.<br />

Com o elemento triangular da FHMT sem enriquecimento claramente se alcança λ n<br />

> 0 , ver<br />

Figura 22.<br />

Como apresenta a Figura 23, para todas as combinações de enriquecimentos testados no<br />

elemento triangular da FHMT é possível à convergência para λn<br />

> 0 .<br />

O elemento quadrilateral enriquecido da FHMT apresentou o mesmo comportamento do<br />

elemento triangular enriquecido da mesma formulação (Figura 23), ou seja, foi possível convergir λ<br />

n<br />

para uma constante positiva, ver Figura 24.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

155<br />

log(1/N)<br />

-3,8 -3,4 -3 -2,6 -2,2 -1,8 -1,4<br />

-2,98<br />

-3<br />

-3,02<br />

-3,04<br />

-3,06<br />

-3,08<br />

-3,1<br />

-3,12<br />

-3,14<br />

-3,16<br />

-3,18<br />

FHMT-Sem Enriquecimento<br />

FHMT-Enriquecimento das Tensões no Domínio (y²) e Deslocamentos no Contorno (x)<br />

FHMT-Enriquecimento das Tensões e Deslocamentos no Domínio (y²) e Deslocamentos no Contorno (x)<br />

FHMT-Enriquecimento das Tensões e Deslocamentos no Domínio (y²+x²+y+x+xy) e Deslocamentos no Contorno (x)<br />

log(inf-sup)<br />

Figura 23 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento triangular – FHMT com enriquecimento.<br />

log(1/N)<br />

-3,8 -3,4 -3 -2,6 -2,2 -1,8 -1,4<br />

-2,98<br />

-3<br />

-3,02<br />

-3,04<br />

-3,06<br />

-3,08<br />

-3,1<br />

-3,12<br />

-3,14<br />

-3,16<br />

-3,18<br />

log(inf-sup)<br />

FHMT-Sem Enriquecimento<br />

FHMT-Enriquecimento das Tensões e Deslocamentos no Domínio (y²) e Deslocamentos no Contorno (x)<br />

FHMT-Enriquecimento das Tensões e Deslocamentos no Domínio (y²+x²+y+x+xy) e Deslocamentos no Contorno (x)<br />

Figura 24 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento quadrilateral – FHMT com enriquecimento.<br />

As Figuras 25 e 26 indicam que os elementos quadrilateral e triangular da FHT enriquecidos<br />

foram muito eficientes, pois em todas as possibilidades de enriquecimento testadas, conseguiu-se<br />

convergência para λn<br />

> 0 .<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


156<br />

Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

log(1/N)<br />

-4,2 -3,8 -3,4 -3 -2,6 -2,2 -1,8 -1,4 -1 -0,6<br />

-2,95<br />

-3<br />

-3,05<br />

-3,1<br />

log(inf-sup)<br />

-3,15<br />

-3,2<br />

FHT-Aproximação Constante das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Linear das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Quadrática das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Constante das Tensões no Domínio-Enriquecimento das Tensões no Domínio (y²)<br />

FHT-Aproximação Linear das Tensões no Domínio-Enriquecimento dos Deslocamentos no Contorno (x)<br />

FHT-Aproximação Quadrática das Tensões no Domínio-Enriquecimento dos Deslocamentos no Contorno (x)<br />

Figura 25 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento quadrilateral – FHT com enriquecimento.<br />

log(1/N)<br />

-4,4 -4 -3,6 -3,2 -2,8 -2,4 -2 -1,6 -1,2<br />

-3,00<br />

-3,05<br />

-3,10<br />

log(inf-sup)<br />

-3,15<br />

FHT-Aproximação Constante das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Linear das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Quadrática das Tensões no Domínio-Sem Enriquecimento<br />

FHT-Aproximação Constante das Tensões no Domínio-Enriquecimento das Tensões no Domínio (y²) e Deslocmentos no Contorno (x)<br />

FHT-Aproximação Linear das Tensões no Domínio-Enriquecimento dos Deslocamentos no Contorno (x)<br />

FHT-Aproximação Quadrática das Tensões no Domínio-Enriquecimento dos Deslocamentos no Contorno (x)<br />

-3,20<br />

Figura 26 – Resultados do teste “inf-sup” – elemento triangular – FHT com enriquecimento.<br />

6 CONCLUSÕES<br />

Os estudos realizados constituem uma contribuição ao desenvolvimento das formulações nãoconvencionais<br />

em elementos finitos, em particular aquelas fundamentadas em formulações Híbridas<br />

(FHT) e Híbrido-Mistas de Tensão (FHMT).<br />

A aplicação do MEFG a FHT/FHMT foi constituído pela utilização de malhas formadas por<br />

elementos quadrilaterais de quatro nós e triangulares de três nós aliada à técnica de enriquecimento<br />

nodal. Especificamente para os elementos da FHT, as aproximações dos campos de tensão no<br />

domínio são auto-equilibradas e não estão atreladas a nós. Já as aproximações para o deslocamento<br />

no contorno são obtidas por interpolação de valores nodais, tanto na FHT como na FHMT. As<br />

aproximações dos deslocamentos no domínio (exclusivo da FHMT) também são obtidas por<br />

interpolação de valores nodais.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

157<br />

Uma contribuição original do trabalho foi a inserção de uma estratégia de enriquecimento para<br />

as aproximações das tensões no domínio atreladas a malhas formadas da FHT. A metodologia de<br />

enriquecimento proposta possibilita a ampliação das aproximações do campo de tensão da FHT tendo<br />

por referência os nós da malha, já que originalmente estas não são atreladas a nós.<br />

Todas as bases aproximativas envolvidas nas FHT/FHMT foram ampliadas via enriquecimento<br />

nodal por meio de funções polinomiais.<br />

A combinação dos elementos quadrilaterais de quatro nós e triangulares de três nós da<br />

FHT/FHMT com a técnica de enriquecimento nodal apresentou grande potencial para a solução, com<br />

precisão numérica e baixo custo computacional, dos problemas tratados neste trabalho, mesmo sob<br />

forte distorção de malha.<br />

Por outro lado, objetivando garantir eficiência no processo de enriquecimento das<br />

aproximações dos campos envolvidos na FHT/FHMT, iniciou-se um estudo sobre as condições<br />

necessárias e suficientes para convergência de soluções aproximadas obtidas com os métodos<br />

propostos.<br />

Primeiramente estas condições foram avaliadas com auxílio do ‘Teste por Inspeção’<br />

consistindo, basicamente, em verificar se o vetor incógnito do sistema de equações lineares satisfaz as<br />

Eq.(63) a (65). Observou-se claramente que este teste é somente condição necessária para<br />

convergência, mesmo assim, o ‘Teste por Inspeção’ foi de grande valia na escolha de combinações de<br />

enriquecimento dos campos envolvidos na FHT/FHMT.<br />

Finalmente, desenvolveu-se um teste numérico, baseado no trabalho de Chapelle e Bathe<br />

(1993), para análise da estabilidade do elemento quadrilateral e triangular da FHT/FHMT com<br />

enriquecimento nodal. Esse teste é outra contribuição original do trabalho.<br />

Desta contribuição original, conclui-se que os elementos quadrilateral e triangular da FHMT<br />

com enriquecimento nodal são estáveis. Já para a FHT, somente o elemento quadrilateral com<br />

enriquecimento nodal, mostrou-se estável.<br />

7 AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agradecem à CAPES pelo apoio financeiro concedido.<br />

8 REFERÊNCIAS<br />

BABUŠKA, I. Error bounds for finite element methods. Numerische Mathematik, v.16, p. 322-333,<br />

1971.<br />

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BABUŠKA, I. On the inf-sup (babuška-brezzi) condition. The University of Texas at Austin, 1996.<br />

(Technical Report #5. TICAM).<br />

BATHE, K. J. Finite element procedures. 2.ed. New Jersey: Prentice-Hall, 1996.<br />

BREZZI, F. On the existence, uniqueness and approximation of saddle point problems arising from<br />

Lagrange multipliers. RAIRD, v. 8, r-2, p. 127-151, 1974.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


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Wesley Góis & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

BREZZI, F.; BATHE, K. J. A discourse on the stability conditions for mixed finite element formulation.<br />

Computer Methods in Applied Mechanics and Engineering, v. 82, p. 27-57, 1990.<br />

BREZZI, F.; FORTIN, M. Mixed and hybrid finite element methods. New York: Springer Verlag,<br />

1991.<br />

CHAPELLE, D.; BATHE, K. J. The inf-sup test. Computers & Structures, v. 47, n. 4/5, p. 537-545,<br />

1993.<br />

DUARTE, C. A.; ODEN, J. T. Hp clouds – a meshless to solve boundary - value problem. The<br />

University of Texas at Austin, 1995. (Technical Report. TICAM).<br />

DUARTE, C. A.; ODEN, J. T. Hp clouds – an hp meshless method. Numerical Methods for Partial<br />

Differential Equations. John Wiley & Sons, 1996. p. 1-34.<br />

FREITAS, J. A. T.; ALMEIDA, J. P. B. M.; PEREIRA, E. M. B. R. Non-conventional formulations for the<br />

finite element method. Structural Engineering and Mechanics, v. 4, p. 655-678, 1996.<br />

GÓIS, W. Método dos Elementos Finitos Generalizados em formulação variacional mista.<br />

Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2004.<br />

GÓIS, W. Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal.<br />

Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2009.<br />

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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


Elementos finitos híbridos e híbrido-mistos de tensão com enriquecimento nodal<br />

159<br />

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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 131-159, 2009


160


ISSN 1809-5860<br />

ESTRATÉGIA BASEADA EM DOMÍNIO DE FALHA COMPOSTO APLICADA<br />

PARA ANÁLISE DE CONFIABILIDADE EM GRELHAS DE CONCRETO<br />

ARMADO<br />

Rodrigo de Azevedo Neves 1 & Wilson Sérgio Venturini 2<br />

Resumo<br />

Os métodos probabilísticos desenvolvem-se cada vez mais e tendem a servir de referência para a avaliação da<br />

segurança nos projetos e verificações de estruturas. Como exemplo, os métodos de simulação têm sido<br />

largamente utilizados para prever a segurança estrutural, o que é possível hoje graças à capacidade dos atuais<br />

computadores. Porém, mesmo com o enorme progresso da informática, os tempos de processamento ainda são<br />

altos, já que as simulações requerem grande quantidade de cálculos. Para ultrapassar estas barreiras surgiram<br />

os métodos aproximados de confiabilidade. Dentre eles destaca-se o método da superfície de resposta, que<br />

permite realizar eficientes análises de confiabilidade. Na maioria de suas aplicações busca-se o ponto de projeto,<br />

que define o ponto de falha mais provável da estrutura. Com a crescente demanda por análises probabilísticas, as<br />

aplicações cresceram e hoje se realizam cálculos de confiabilidade de sistemas complexos como a grelha de<br />

concreto armado. Nelas os projetistas objetivam otimizar os consumos de material a fim de reduzir custos,<br />

levando a uma situação em que vários pontos da grelha tornam-se pontos potenciais de falha, podendo aumento<br />

o tempo computacional. Assim, apresenta-se neste trabalho uma proposta de determinação da probabilidade<br />

global de falha de uma grelha de concreto armado que considera vários modos de falha possíveis. Um domínio<br />

de falha composto foi usado para melhor determinar as probabilidades de falha e reduzir o tempo de cálculo.<br />

Palavras-chave: Confiabilidade estrutural. Múltiplos modos de falha. Concreto armado. Análise não-linear.<br />

MULTI-PART FAILURE DOMAIN STRATEGY APPLIED TO REINFORCED<br />

CONCRETE GRIDS RELIABILITY ANALYSIS<br />

Abstract<br />

Probabilistic methods have been experiencing a great development and they tend to become reference methods in<br />

projecting and verifying civil structures. As an example, we can see the huge expansion of simulation methods to<br />

predict structural safety. This growth is only possible due to the great development of the personal computers,<br />

seeing that the methods require extensive iterative calculation. However, even with the large computational<br />

evolution, the wasted time in processing refined Finite Element Models is still high. To go beyond these<br />

difficulties, approximated reliability methods emerged, and between them, we can draw attention to response<br />

surface method (RSM), which allows formulating very efficient reliability analysis. In its essence, the main idea of<br />

RSM is to search for the most probable failure point. This assumption has shown great results, but, with the<br />

increasing exigency for refined structural analysis, models are getting bigger and models like reinforced concrete<br />

grids have been widely used. Here, structural engineers seek to optimize concrete and steel weight, searching for<br />

the optimum cost. This evidence leads to the failure possibility in several system components, which can once<br />

more increase computing time. So, in this work, a new approach of reinforced concrete grid reliability analysis is<br />

proposed, accounting many critical cross-section failure probabilities. To reach this goal, a multi-part failure<br />

domain was adopted to improve failure probability accuracy and reduce computing time.<br />

Keywords: Structural reliability analysis. Multiple failure modes. Reinforced concrete. Non-linear analysis.<br />

1 Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, rodrigoneves.fa@gmail.com<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, venturin@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 161-178, 2009


162<br />

Rodrigo de Azevedo Neves & Wilson Sérgio Venturini<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Há muito tempo os profissionais da área de Engenharia vêm buscando fornecer uma solução<br />

precisa para o problema da segurança de suas estruturas. O uso de modelos não lineares, já bastante<br />

difundidos na literatura para representar melhor o comportamento das estruturas, levou a um melhor<br />

conhecimento do comportamento estrutural. A principal característica do uso desses modelos é que<br />

com a redistribuição dos esforços e danificação dos materiais, certas seções ou elementos respondem<br />

de maneira não linear às solicitações externas. Essa redistribuição é verificada nas estruturas<br />

hiperestáticas, que constituem a maioria das estruturas correntes de engenharia. Devido ao caráter<br />

não linear dos modelos constitutivos dos materiais, eles passam a perder rigidez em certo nível de<br />

carga à medida que aumentam as tensões a que estão submetidos. Dependendo do modelo escolhido<br />

e do material estrutural, as perdas de rigidez podem começar mesmo com baixas tensões. Tudo isso<br />

forma um conjunto de cuidados que devem ser tomados nas fases de projeto e verificação, pois após<br />

as devidas tensões de pico os materiais tendem a se deformar muito rapidamente e os colapsos<br />

estruturais, da mesma maneira, são bruscos.<br />

Assim, com a crescente evolução dos materiais e também a ousadia dos projetistas, os<br />

sistemas estruturais projetados e verificados atualmente apresentam uma tendência de se aproximar<br />

cada vez mais de seus próprios limites. Tudo isso torna necessário que os níveis de segurança sejam<br />

bem conhecidos, o que não é permitido com o uso dos atuais métodos que fazem uso de coeficientes<br />

parciais. Não existem ainda códigos que permitam projeto e/ou verificações estruturais baseados em<br />

métodos totalmente probabilísticos, o que leva ao desconhecimento dos valores das probabilidades de<br />

falha das estruturas correntemente projetadas.<br />

Buscando esse melhor conhecimento da segurança, o meio científico encontrou na teoria da<br />

confiabilidade uma maneira para tentar diminuir as incertezas com relação às probabilidades de<br />

ocorrência de colapsos. Com esta abordagem tenta-se modelar as incertezas das variáveis de projeto<br />

por meio de distribuições estatísticas que levem em conta informações disponíveis sobre as variáveis.<br />

Enfim, fazendo-se uso de procedimentos matemáticos convenientes são determinadas as<br />

probabilidades de falhas dos elementos, seções ou sistemas. Nesse cenário, as aplicações da<br />

confiabilidade aplicadas à segurança de estruturas tiveram grandes avanços. Hoje, o assunto é tema<br />

de pesquisa prioritário em diversos centros de pesquisa em países desenvolvidos.<br />

Historicamente, desde o trabalho de Freudenthal (1947), vêm sendo aperfeiçoados inúmeros<br />

estudos no campo da segurança estrutural através da adaptação de técnicas estatísticas. Esse autor<br />

tentou desenvolver um estudo onde um coeficiente pudesse comparar dois sistemas distintos. No<br />

artigo publicado por Ang & Amin (1968) já foi apresentado um estimador da probabilidade de falha de<br />

um sistema através da combinação das probabilidades de seus elementos. Mas, foi no trabalho de<br />

Hasofer & Lind (1974) que foram estabelecidas as bases da teoria da confiabilidade da maneira que<br />

ela vem sendo estudada e desenvolvida até os dias atuais. Mohamed & Lemaire (1995) expuseram<br />

uma análise de confiabilidade de um modelo mecânico complexo com o uso de estados limites e<br />

modelos constitutivos lineares ou com trechos linearizados. Lin & Frangopol (1996) publicaram um dos<br />

primeiros trabalhos a utilizar a confiabilidade como base para uma otimização de elementos de<br />

concreto armado. Nos trabalhos de Imaib & Frangopol (2000) e Frangopol & Imaib (2000) várias<br />

contribuições foram concretizadas: eles mostraram o estudo de confiabilidade de estruturas com nãolinearidade<br />

geométrica utilizando formulação lagrangeana total, e ainda utilizaram acoplamento entre<br />

elementos finitos (MEF) e o método de superfícies de resposta (RSM) para determinar a superfície de<br />

falha com métodos numéricos para o cálculo das probabilidades de falha. Introduziram ainda<br />

dificuldades matemáticas de simulação, como a correlação entre os carregamentos, a correlação entre<br />

as resistências e o comportamento frágil e/ou dúctil dos materiais. Soares et al. (2002) realizaram<br />

análises de confiabilidade de pórticos de concreto armado com acoplamento MEF-RSM, mostrando<br />

resultados do índice de confiabilidade para o modo de falha mais provável. Uma comparação entre<br />

técnicas de simulação e as de superfícies de resposta pode ser vista em Neves et al. (2004). Já a tese<br />

de Neves (2004) mostrou avanços na tentativa de determinar a probabilidade de falha de um sistema,<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 161-178, 2009


Estratégia baseada em domínio de falha composto aplicada para análise de confiabilidade em grelhas de concreto... 163<br />

considerando-se outros modos de ruptura diferentes do modo mais provável. Existem ainda inúmeros<br />

textos propondo e descrevendo diversas abordagens e formulações para o estudo de confiabilidade<br />

estrutural, dentre os quais os trabalhos Mohamed et al. (2001) e Soares (2001) se destacam por tratar<br />

de assuntos como calibração de coeficientes parciais de segurança, consideração de correlação<br />

estatística, influência da seqüência de aplicação do carregamento, introdução de aleatoriedade no<br />

carregamento, otimização baseada em confiabilidade, acoplamento MEF-RSM, técnicas de simulação,<br />

redução de variância, dentre outros.<br />

Efetuando-se uma simples leitura nos artigos técnicos publicados citados anteriormente ou<br />

mesmo em outros nos periódicos relevantes no contexto internacional, pode-se perceber que a<br />

comunidade científica trilha um caminho possivelmente irreversível no sentido de abandonar as<br />

verificações de segurança baseadas em coeficientes parciais. Conforme já comprovado por<br />

renomados pesquisadores, esta prática conduz a índices de confiabilidade não uniformes e<br />

geralmente desconhecidos, podendo haver situações anti-econômicas de dimensionamento ou, ao<br />

contrário, casos com baixa confiabilidade. Este último fato por si só já constitui motivação suficiente<br />

para a realização de pesquisas no assunto. Além disso, ainda não existe uma abordagem definitiva<br />

que considere os múltiplos modos de falha estruturais presentes num sistema hiperestático otimizado.<br />

Quando o sistema (aqui o sistema é a grelha de concreto armado) tem sua geometria otimizada,<br />

numerosas seções tornam-se pontos potenciais de falha e esses modos potenciais de ruptura não<br />

devem ser negligenciados, pois a soma de suas probabilidade de falha pode até ser maior do que a<br />

probabilidade isolada do modo principal.<br />

Neste trabalho foi usado um modelo físico não-linear para representar o comportamento<br />

estrutural da grelha de concreto armado. Para a obtenção dos resultados mecânicos da estrutura,<br />

traduzidos no coeficiente de carga crítica, utilizou-se o método dos elementos finitos. Um elemento<br />

finito de barra usual com função de forma do terceiro grau descrevendo os deslocamentos ao longo do<br />

eixo de cada barra foi adotado. O comportamento não-linear dos elementos de concreto armado foi<br />

simulado através da introdução de diferentes modelos representativos das respostas dos materiais<br />

submetidos à tração e à compressão. Para a solução do sistema não-linear de equações, utilizou-se<br />

método do tipo Newton modificado, com matriz secante.<br />

2 METODOLOGIA<br />

A adoção do modelo de grelha para a modelagem de pisos de concreto armado conduz a<br />

modelos de sistemas estruturais suficientemente precisos, embora modelagens melhores possam ser<br />

obtidas considerando-se os efeitos conjuntos de elementos de barra e placa ao mesmo tempo. Na<br />

grelha otimizada os modelos estruturais são caracterizados por um grande número de pontos<br />

prováveis de falha em várias seções transversais.<br />

Elementos unidimensionais estruturais de concreto armado, tais como vigas, são largamente<br />

empregados na prática corrente da Engenharia Civil. Nas últimas três décadas, os modelos para<br />

concreto armado progrediram bastante, o que permitiu que os Engenheiros e pesquisadores<br />

conseguissem simular melhor o seu comportamento. Numerosos livros e trabalhos técnicos<br />

apresentam estudos aprofundados sobre o seu comportamento teórico e modelagem numérica, e os<br />

processos usuais de dimensionamento de sistemas e elementos estruturais estão amplamente<br />

difundidos. Entretanto, mesmo com a grande quantidade disponível de informações e estudos sobre o<br />

seu comportamento mecânico, a modelagem do concreto armado ainda hoje consiste em um campo<br />

de pesquisa bastante ativo, tal é a complexidade física e a heterogeneidade do material. Ele apresenta<br />

um conhecido comportamento não-linear frente às solicitações a que é submetido; comportamento<br />

este governado pelos diferentes fenômenos relacionados aos seus materiais e interação entre eles.<br />

Até mesmo em uma modelagem simplificada, assumindo hipóteses simplistas, uma determinação<br />

precisa de deslocamentos, deformações e fissuras em estruturas submetidas às ações correntes deve<br />

levar em consideração, no mínimo os efeitos de plastificação, perdas de rigidez e contribuição do<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 161-178, 2009


164<br />

Rodrigo de Azevedo Neves & Wilson Sérgio Venturini<br />

concreto não fissurado. Modelos mais elaborados podem levar em conta os efeitos de aderência na<br />

interface aço-concreto (Rossello & Elices, 2004), amolecimento do concreto, interação mecânica entre<br />

os agregados, etc.. Essas considerações podem ainda se estender às ações cíclicas, por exemplo, os<br />

sismos, introduzindo outros problemas relacionados à degradação do concreto e aos efeitos do<br />

carregamento e descarregamento (Kratzig & Polling, 2004). Respostas ainda mais complexas e<br />

precisas podem ser baseadas em modelos fundamentados na mecânica da fratura ou na mecânica do<br />

dano contínuo. Conforme pode ser verificado na literatura, estes últimas teorias trazem previsões<br />

acuradas do comportamento do concreto (Bazant, 2002) e (Scotta et al, 2001). Modelos como o de<br />

Ghali & Favre (1986) e Debernardi (1989) provaram ser precisos o suficiente para representar o<br />

material. O uso de modelos separados para os dois materiais tem se mostrado como a melhor saída<br />

para o problema. Modelos baseados em mecânica do dano, tais como os de Lemaitre (1992) e<br />

Lemaitre & Chaboche (1994) são viáveis para descrever com mais precisão a lei constitutiva do<br />

concreto (Figura 1). Paralelamente, modelos elastoplásticos com encruamento vem sendo utilizados<br />

com sucesso para representar o comportamento do aço (Figura 2).<br />

Neste trabalho, o comportamento do concreto no ramo comprimido foi simulado com o modelo<br />

publicado no CEB-90, enquanto que o ramo tracionado foi representado com o modelo de Figueiras<br />

(1983), por ter a capacidade de simular os efeitos globais de enrijecimento do elemento devidos à<br />

contribuição do concreto intacto entre fissuras. Para as barras de armadura de aço, o comportamento<br />

foi assumido elasto-plástico com encruamento.<br />

Strain ‰<br />

-8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2<br />

10<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

-20<br />

-25<br />

-30<br />

-35<br />

-40<br />

-45<br />

Stress(Mpa)<br />

Figura 1 – Diagrama tensão-deformação para diferentes concretos.<br />

Strain ‰<br />

-10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10<br />

1000<br />

800<br />

600<br />

400<br />

200<br />

0<br />

-200<br />

-400<br />

-600<br />

-800<br />

-1000<br />

Figura 2 – Diagrama tensão-deformação para diferentes aços.<br />

Stress(Mpa)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 161-178, 2009


Estratégia baseada em domínio de falha composto aplicada para análise de confiabilidade em grelhas de concreto... 165<br />

Depois da escolha do modelo não-linear para os materiais, os esforços resistentes podem ser<br />

determinados com precisão através da integração das tensões no domínio da seção transversal. Para<br />

a solução desse problema não-linear, o equilíbrio é encontrado iterativamente através de algoritmos<br />

conhecidos, do tipo previsão e correção. O procedimento baseado em matrizes secantes assegura a<br />

estabilidade da solução frente aos problemas de descontinuidades de tangentes, que existem em<br />

razão da presença de inflexões e de funções não-contínuas nos modelos constitutivos adotados para<br />

os materiais. O comportamento do material perante às componentes de cisalhamento e torção foi<br />

considerado linear, apenas para a manutenção do equilíbrio, o que quer dizer, portanto, que não há<br />

aplicação de correção não linear nas direções correspondentes às solicitações tangenciais. Assim, o<br />

comportamento do concreto é governado por um critério uniaxial de ruptura baseado na máxima<br />

tensão normal presente na seção. Dessa maneira são importantes apenas os cálculos das curvaturas<br />

e da posição da linha neutra em uma seção transversal para que se determine unicamente o estado<br />

de tensões nessa seção. Esta distribuição de tensões é determinada assumindo-se a hipótese de<br />

Bernoulli.<br />

Hoje, a técnica mais comum usada para realizar análises de concreto armado é o<br />

acoplamento de modelos materiais com o método dos elementos finitos. Um dos aspectos mecânicos<br />

mais importantes é a redistribuição de momentos fletores devida à adoção de modelos materiais nãolineares.<br />

Modelar corretamente as perdas de rigidez é importante para estimar o comportamento dos<br />

elementos. Em relação ao material concreto, um ponto importante é a heterogeneidade de suas<br />

propriedades mecânicas, que muito embora sejam assumidas como valores determinísticos,<br />

fisicamente não respeitam essa condição de não-variabilidade. Assim, devem-se considerá-las como<br />

aleatórias e, portanto, uma análise probabilística deve ser realizada para avaliar a probabilidade de<br />

violação de um estado limite qualquer. Na grelha, a principal conseqüência dessa aleatoriedade é a<br />

presença de várias seções capazes de se transformar no ponto mais frágil da estrutura. Daí conclui-se<br />

que o comportamento intrínseco da grelha de concreto armado leva, por si só, à definição de inúmeros<br />

modos potenciais de falha.<br />

A abordagem confiabilística proposta no presente trabalho requer a determinação da carga<br />

crítica da estrutura, representada pela mínima carga que leva o sistema a atingir um estado limite. A<br />

carga encontrada é dividida pelo carregamento aplicado P APL , de onde se obtém um coeficiente<br />

adimensional de carga crítica λ. Seja por exemplo uma seção genérica “i” de um elemento de concreto<br />

armado, cuja curvatura é 1/r e a posição da linha neutra define as deformações no concreto e no aço<br />

ε C (i) e ε S (i), conforme mostra a Figura 3:<br />

ε c (i)<br />

i<br />

1 r<br />

LN<br />

ε s (i)<br />

Figura 3 – Seção de concreto armado representativa de um nó qualquer da grelha.<br />

O procedimento para a determinação da carga crítica é executado dividindo-se o<br />

carregamento por um fator real η e aplicando-se essas parcelas de carga em incrementos sucessivos,<br />

até que seja superada uma deformação limite em uma seção qualquer “i” da estrutura. O fator η pode<br />

inclusive ser subdividido para aumento da precisão na deformação última, já que ela é extremamente<br />

sensível aos incrementos de carga na região próxima ao seu limite.<br />

A carga crítica fica então definida da seguinte maneira:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 161-178, 2009


166<br />

Rodrigo de Azevedo Neves & Wilson Sérgio Venturini<br />

P<br />

ULT<br />

=λ× P<br />

APL<br />

onde λ∈R/ ε (i) =ε (i) ou ε (i) =ε (i)<br />

c cULT s sULT<br />

(1)<br />

onde as deformações limite são escolhidas para todas as “i” seções conforme segue:<br />

ε<br />

cULT<br />

=− ⎫<br />

⎬ =<br />

ε<br />

sULT<br />

(i) = 1,00% ⎭<br />

(i) 0,35% i 1,N<br />

Seções<br />

(2)<br />

Depois de esquematizados os principais pontos do modelo mecânico usado, na seção<br />

seguinte apresenta-se a teoria para cálculo da probabilidade de falha da grelha de concreto armado<br />

com a utilização da técnica proposta.<br />

3 DESENVOLVIMENTO<br />

3.1 Generalidades sobre confiabilidade estrutural<br />

O trabalho dos pesquisadores que buscam as modelagens com métodos baseados em teoria<br />

da confiabilidade é árduo: de um lado eles necessitam de numerosas chamadas aos modelos de<br />

elementos finitos para a aplicação de suas técnicas; do outro existem estudantes, engenheiros,<br />

profissionais e também pesquisadores tentando modelar estruturas cada vez maiores e mais<br />

complexas, com milhares de graus de liberdade, buscando simular da maneira mais fiel possível os<br />

fenômenos naturais através de seus softwares, tornando cada vez mais lenta a determinação<br />

computacional de uma resposta estrutural. O que se constata, porém, é que mesmo com as<br />

dificuldades adicionais geradas para o uso de métodos confiabilísticos, o embasamento matemático e<br />

a quantidade de benefícios aportados pela confiabilidade são tais, que a previsão da segurança<br />

estrutural por meio do acoplamento de métodos numéricos com essas devidas técnicas se faz cada<br />

vez mais presente no meio técnico e científico.<br />

A confiabilidade estrutural é definida estritamente como a probabilidade que uma estrutura tem<br />

de desempenhar a função para a qual foi designada, ao longo de toda a sua vida útil. A sua definição<br />

matemática é:<br />

R = 1− P f<br />

(3)<br />

onde P f denota uma probabilidade de falha durante a vida útil, caracterizada por uma situação onde se<br />

atinge algum estado limite pré-estabelecido.<br />

Portanto, estatisticamente, a confiabilidade é o evento complementar à probabilidade de falha.<br />

Como geralmente os valores da confiabilidade são grandes, usa-se trabalhar com a probabilidade de<br />

falha, que nos casos de estruturas civis é um valor normalmente compreendido entre 10 -7 e 10 -3 .<br />

Inúmeros fatores contribuem para o desempenho de uma estrutura, como por exemplo, a<br />

geometria, as ações, a quantidade e o posicionamento de armaduras, etc. Essas são normalmente as<br />

variáveis de projeto. O que o estudo da confiabilidade vai dizer é qual a chance de existir uma<br />

combinação dessas variáveis de projeto que conduz o sistema a uma situação de estado limite.<br />

Para isso deve-se iniciar posicionando todas as variáveis de projeto em um espaço cartesiano,<br />

onde se sabe que uma região desse espaço concentra pontos que atendem todas as exigências do<br />

projeto. Nessa região a estrutura está segura. Na região complementar a essa, nem todos aqueles<br />

requisitos são atendidos, o que acontece em virtude das incertezas inerentes às variáveis de projeto.<br />

Somando-se as regiões do espaço que não atendem aos requisitos de projeto, virá a definição<br />

matemática da probabilidade de falha. Atribuindo-se distribuições estatísticas convenientes para as<br />

variáveis de projeto, denotam-se por X i i=1,2...n essas “n” variáveis para as quais deveremos<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 161-178, 2009


Estratégia baseada em domínio de falha composto aplicada para análise de confiabilidade em grelhas de concreto... 167<br />

considerar as incertezas. Uma situação qualquer (evento probabilístico) ou realização será<br />

denominada de x i . A associação de uma variável a uma distribuição estatística pode ser feita através<br />

de estudos estatísticos, de observações físicas, de análises de laboratório, ou apenas através da<br />

opinião de especialistas. Cabe observar, porém, que a qualidade da informação disponível e da<br />

aproximação escolhida reflete diretamente na precisão dos resultados.<br />

Em seguida, desenvolve-se o método da seguinte forma: se existem duas regiões<br />

complementares, existe então uma função G(x i ), desconhecida a priori, que mede a resposta estrutural<br />

do sistema e determina se a realização x i pertence ou não ao conjunto de pontos que satisfazem os<br />

requisitos de segurança. Ela é chamada de função de desempenho e divide o espaço das variáveis de<br />

projeto nessas duas partes: uma dessas regiões, onde G(x i )>0, convencionou-se chamar de domínio<br />

seguro. Já a zona onde a equação G(x i )


168<br />

Rodrigo de Azevedo Neves & Wilson Sérgio Venturini<br />

computacionais impostas pelos cada vez mais refinados modelos mecânicos. Dentre esses métodos,<br />

conforme já mencionado, destaca-se o método da superfície de resposta (RSM), que fornece rápida e<br />

eficiente aproximação de P f .<br />

Na grande maioria dos casos a falha de um sistema estrutural não pode ser escrita em termos<br />

de uma função explícita das variáveis aleatórias, sendo que apenas uma definição implícita da função<br />

de estado limite é possível. Mesmo em casos mais simples, onde a representação da superfície é<br />

possível, a aproximação numérica implícita pode ser mais conveniente pelo caráter generalista que<br />

fornece ao procedimento. A solução pode ser obtida com a construção da superfície de resposta<br />

baseada em um certo número de realizações do modelo mecânico, aproximando a função de estado<br />

limite na vizinhança do ponto de projeto.<br />

Constata-se facilmente na literatura especializada que o uso de superfícies de resposta em<br />

confiabilidade não é recente, mas fica claro que mais estudos são necessários para contribuir com os<br />

avanços em termos de eficiência, performance, e generalidade da técnica.<br />

A grande vantagem do RSM é permitir a construção rápida de uma função de estado limite e a<br />

determinação do ponto de projeto, ambos desconhecidos a priori. Isso é feito por meio da substituição<br />

da função de estado limite real por hipersuperfícies aproximadoras em torno da vizinhança do ponto<br />

de projeto em um processo iterativo. Este procedimento torna a busca do ponto de projeto bastante<br />

simples, rápida e eficiente, já que a superfície real é substituída por um simples polinômio. Faz-se uso<br />

de uma transformação isoprobabilística, como indicada na Figura 4, para a definição do ponto de<br />

projeto como o ponto P*, situado no espaço de variáveis transformadas, onde a ocorrência de uma<br />

falha é mais provável. Nessa abordagem, esse ponto define que a probabilidade de falha do sistema é<br />

igual à probabilidade do seu ponto mais frágil. Aqui, os outros modos de falha são negligenciados em<br />

favor da probabilidade obtida com o ponto de projeto.<br />

x 2<br />

0<br />

Domínio de falha<br />

( xi<br />

) = 0<br />

Domínio de falha<br />

( u i )<br />

2<br />

P *<br />

( i ) = 0<br />

f x<br />

( )<br />

i<br />

x 1<br />

0<br />

1<br />

Figura 4 – Transformação isoprobabilística do espaço físico para o espaço normalizado.<br />

A definição de um índice adimensional para medir a segurança foi introduzida por Hasofer &<br />

Lind (1974), que propuseram trabalhar no espaço de variáveis gaussianas independentes, ao invés de<br />

fazê-lo no espaço das variáveis físicas. Com esta transformação, o trabalho em questão mostrou que<br />

o índice é invariável e vem sendo utilizado com sucesso até hoje, o que para os autores indica que o<br />

índice de Hasofer & Lind deverá realmente se firmar como uma unanimidade na comunidade<br />

internacional.<br />

A transformação isoprobabilística do espaço físico Xi para o espaço normalizado Ui dá-se por<br />

meio da expressão:<br />

U<br />

( )<br />

= T X<br />

(5)<br />

i i i<br />

No novo espaço, a função de desempenho tem a seguinte forma:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 161-178, 2009


Estratégia baseada em domínio de falha composto aplicada para análise de confiabilidade em grelhas de concreto... 169<br />

( ) ( )<br />

−1<br />

( ) ( )<br />

G X = G T U ≡ H U = 0<br />

(6)<br />

i i i i<br />

Para traçar as superfícies de resposta, é necessário que se lance mão da análise da estrutura<br />

em um conjunto de situações pré-definidas, que é denominado de plano de experiência (PE), conceito<br />

que não é recente e é advindo da teoria de planejamento de experimentos. Esse conjunto é o principal<br />

fundamento do RSM. Cada ponto do plano será responsável por uma resposta mecânica do modelo<br />

de elementos finitos. Tendo-se em mãos o conjunto de pontos e as devidas respostas mecânicas,<br />

constrói-se a superfície de resposta, calculando-se os coeficientes de seu polinômio por meio de<br />

técnicas de aproximação de pontos a superfícies. Adotou-se a técnica dos mínimos quadrados. A<br />

superfície é escrita em função das variáveis de projeto e dos coeficientes obtidos nesta regressão.<br />

O índice de confiabilidade β pode então ser definido como a mínima distância entre a origem e<br />

o domínio de falha no espaço normalizado. Esta distância, bem como a sua direção define o ponto P*,<br />

mostrado na Figura 4, que é o chamado ponto de projeto, onde ocorre a maior probabilidade de falha.<br />

De acordo com essa representação física, o índice de confiabilidade β é calculado através da solução<br />

do seguinte problema de otimização restrita:<br />

∑<br />

i<br />

( )<br />

β= min u<br />

i<br />

( )<br />

Sujeito a G u ≤ 0<br />

i<br />

2<br />

(7)<br />

Para a solução deste problema um dos algoritmos mais conhecidos no campo da<br />

confiabilidade é o algoritmo de Rackwitz & Fiessler (1978). Este método não é sempre aplicável, pois<br />

é falho em alguns casos que dependem da forma da superfície de resposta e da continuidade de suas<br />

derivadas. No presente estudo não existem problemas deste tipo. Embora o algoritmo requeira o<br />

cálculo das derivadas parciais da função de falha, o que poderia elevar o tempo computacional, ele<br />

apresenta rápida convergência, pois se utiliza de polinômios simples e conhecidos.<br />

Depois de determinado o ponto de projeto P*, deve-se calcular a probabilidade de falha P f .<br />

Para esta operação utilizam-se também métodos aproximados. A chamada aproximação em primeira<br />

ordem para P f é obtida substituindo-se a função de estado limite no ponto P* por um hiper-plano<br />

tangente. Na literatura, essa aproximação é chamada de First Order Reliability Method (FORM). A<br />

probabilidade P f é aproximada por:<br />

f<br />

( )<br />

P ≈Φ −β (8)<br />

onde Φ(•) é a função de distribuição normal cumulativa.<br />

A precisão da aproximação FORM depende da curvatura da função de estado limite na<br />

vizinhança de P f . Aproximações melhores podem ser obtidas levando-se em conta essa curvatura,<br />

hipótese básica do Second Order Reliability Method (SORM).<br />

O erro na aproximação FORM e sua relação com a segurança da aproximação dependem da<br />

concavidade da superfície de ruína. Se esta for côncava, a aproximação é a favor da segurança e<br />

vice-versa. Normalmente uma aproximação desse tipo é suficiente se a curvatura da superfície de<br />

ruína e a probabilidade de ruína têm valores pequenos. Como na prática geralmente ocorrem casos<br />

como esses, a aproximação FORM é bem aceita e correntemente utilizada.<br />

A idéia do RSM é construir uma aproximação polinomial da função de estado limite, seja no<br />

espaço físico G(x i ) ou no espaço normalizado H(u i ). A escolha de uma superfície de grau dois é<br />

aconselhável porque ela permite o cálculo de curvaturas e evita as oscilações inerentes aos<br />

polinômios de ordem mais elevada. Por simplificação escolheu-se construir a aproximação<br />

diretamente no espaço normalizado. A aproximação para a superfície H(u i ) é dada por um polinômio<br />

<strong>completo</strong> do tipo:<br />

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170<br />

Rodrigo de Azevedo Neves & Wilson Sérgio Venturini<br />

N N N<br />

∑ ∑∑ (9)<br />

H(u ) = c + b u + a u u<br />

i i i ij i j<br />

i= 1<br />

i= 1 j=<br />

i<br />

onde c, b i e a ij são constantes a serem determinadas.<br />

H(u i ) é definida por pelo menos [(N+1)(N+2)/2] pontos, mas normalmente um grande número<br />

de pontos é tomado e a aproximação é obtida por mínimos quadrados.<br />

Dois passos são considerados essenciais: A escolha de um modelo mecânico adequado para<br />

representar a resposta estrutural, já descrito no item 2, e a seleção do PE conveniente que forneça<br />

uma representação precisa das variações do comportamento mecânico. A convergência do algoritmo<br />

de busca é diretamente relacionada à qualidade do PE selecionado. Recomenda-se também o uso de<br />

um procedimento iterativo para aumentar a precisão na busca do ponto de projeto.<br />

Na literatura técnica podem ser encontradas numerosas propostas de PE. Cabe observar que<br />

o uso de um único PE para qualquer modelo estrutural é praticamente impossível, devendo-se<br />

analisar a melhor opção de PE em cada caso. A Figura 5 mostra os PE usados no presente estudo. O<br />

PE estrela é obtido calculando-se duas respostas mecânicas simétricas para cada variável. O PE<br />

hiper-cubo apresenta dois níveis para cada variável. O PE fatorial <strong>completo</strong> tem três níveis de<br />

mapeamento para cada variável. O PE mínimo corresponde ao número mínimo de pontos obtidos na<br />

resposta numérica que permite definir unicamente os coeficientes de um polinômio quadrático<br />

<strong>completo</strong>. O PE composto é obtido a partir de uma fusão do PE estrela com o PE hiper-cubo,<br />

permitindo cinco níveis diferentes de experimentação para cada variável.<br />

Estrela Hiper-Cubo Fatorial Completo<br />

Mínimo<br />

Composto<br />

Figura 5 – Planos de experiência para 3 variáveis aleatórias.<br />

O procedimento assim se sucede: na iteração “k”, constrói-se a superfície de resposta<br />

aproximando-a pelo número de respostas requeridas pelo PE escolhido para representar H(u i ). A<br />

equação H(u i )=0 permite a determinação de um β(k), além de um ponto de projeto u i *(k) com o uso do<br />

algoritmo de Rackwitz-Fiesler. Em seguida constrói-se um novo polinômio na iteração “k+1” a partir da<br />

determinação da função implícita situada na vizinhança de u i *(k).Várias iterações permitem que seja<br />

obtida uma aproximação do índice de confiabilidade e do ponto de projeto.<br />

O problema geral de análise de confiabilidade utilizando o RSM, conforme descrito na Figura<br />

6, resume-se em três passos: Inicialmente é escolhido o conjunto de pontos do plano de experiência e<br />

obtém-se uma reposta estrutural para cada um dos pontos, assumindo-se uma distribuição estatística<br />

para cada variável estrutural. Em cada resposta mecânica, encontra-se um ponto no espaço físico ou<br />

normalizado. O conjunto desses vários pontos permite a construção da superfície de reposta. O<br />

segundo passo consiste em aplicar o algoritmo de otimização no espaço normalizado para encontrar o<br />

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Estratégia baseada em domínio de falha composto aplicada para análise de confiabilidade em grelhas de concreto... 171<br />

ponto P*. A distância deste ponto à origem é o índice de confiabilidade β. Depois de determiná-lo, o<br />

passo final é resolver a integral da Eq. (4). Uma boa aproximação pode ser obtida com um dos<br />

métodos FORM/SORM.<br />

Outras dificuldades podem ser encontradas se as correlações estatísticas entre as variáveis<br />

de projeto forem consideradas ou se distribuições não gaussianas forem adotadas. É possível que<br />

surjam dificuldades adicionais relacionadas à forma da função de estado limite, como por exemplo, o<br />

caso onde ela se aproxima de uma hiper-esfera, onde todos os pontos são mínimos.<br />

Plano de<br />

Experiência<br />

+<br />

Elementos<br />

Finitos<br />

Superfície de<br />

Resposta<br />

+<br />

Algoritmo de<br />

Otimização<br />

Ponto ui<br />

Índice β<br />

+<br />

Form / Sorm<br />

Probabilidade<br />

de falha<br />

Figura 6 – Procedimento geral para análise de confiabilidade com RSM.<br />

No presente caso, a definição da resposta mecânica é feita de acordo com as expressões<br />

descritas em Eq. (1) e Eq. (2). Como foi imposta uma variação estatística para as variáveis de projeto,<br />

a resposta estrutural passa a depender dos pontos do PE. A carga crítica é dada pela Eq. (1)<br />

modificada:<br />

P<br />

ULT<br />

=λ (x<br />

i<br />

) × PAPL<br />

(10)<br />

A função de estado limite, necessária para definir os domínios de falha e segurança, pode ser escrita<br />

tanto no espaço físico como no espaço normalizado:<br />

G(x)<br />

i<br />

= P<br />

ULT<br />

(x)<br />

i<br />

− P<br />

APL<br />

=λ (x)<br />

i<br />

× PAPL − PAPL<br />

= 0<br />

(11)<br />

H(u ) =λ(u ) − 1= 0<br />

(12)<br />

i<br />

i<br />

3.3 Múltiplos estados limites<br />

No presente estudo, a consideração de múltiplos modos de ruptura foi realizada a partir da<br />

introdução de várias funções de estado limite, formando um domínio de falha composto de sub-áreas.<br />

Cada uma das curvas de estado limite corresponde a um modo de falha. Estas curvas são construídas<br />

de maneira independente, a partir da imposição de se atingir a deformação limite apenas nos modos<br />

escolhidos. Computacionalmente o processo é feito negligenciando-se as deformações limite atingidas<br />

nos modos diferentes do desejado e com o conjunto dessas funções constrói-se o domínio composto.<br />

Obviamente este domínio não corresponde ao domínio exato de falha, mas, sem dúvida, é uma<br />

aproximação melhor do que aquelas obtidas com métodos FORM/SORM, visto que ele define uma<br />

região mais precisa. Propõe-se neste trabalho que a probabilidade final de falha seja calculada através<br />

de métodos de simulação sobre esse domínio composto. O tempo ganho é significante na maioria dos<br />

casos, já que as simulações são testadas com polinômios simples, contrapondo-se às custosas<br />

simulações feitas diretamente com o uso de refinados modelos de elementos finitos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 161-178, 2009


172<br />

Rodrigo de Azevedo Neves & Wilson Sérgio Venturini<br />

Uma outra observação importante é que o índice de confiabilidade pode ser calculado<br />

separadamente para medir a importância de cada modo de falha de maneira isolada. Este<br />

procedimento permite a seleção dos modos de falha importantes para a simulação, já que apenas as<br />

“n” primeiras funções de estado limite são consideradas. O valor de quantos “n” modos deve-se<br />

escolher, fica a determinar, conforme a importância dos modos secundários, o que introduz certa<br />

subjetividade à análise, pois esse número depende da sensibilidade do analista. Os autores sugerem<br />

que sejam feitos testes para medir a sensibilidade do modelo ao tamanho dessa amostra. Além disso,<br />

sabe-se que as probabilidades decrescem muito rapidamente com a distância da origem do espaço<br />

normalizado e por isso a escolha criteriosa de “n” pode evitar simulações desnecessárias. Um critério<br />

razoável, sugerido pelos autores, é descartar os modos secundários cujos índices de confiabilidade<br />

conduzam a probabilidades menores do que 10 -3 vezes a probabilidade obtida com o primeiro modo.<br />

Na próxima seção, pode-se observar um exemplo simples mostrando o uso da confiabilidade<br />

para a determinação da probabilidade de falha de um sistema.<br />

4 RESULTADOS OBTIDOS<br />

4.1 Viga com dois modos de falha<br />

Para demonstrar uma aplicação do uso de estados limites múltiplos em um sistema simples,<br />

uma viga como a da Figura 7 foi utilizada. Por simplificação não se discretizou a viga ao longo do<br />

comprimento. Assim, o modelo apresenta somente um elemento finito cujo carregamento consiste em<br />

dois momentos fletores concentrados em suas extremidades. Para possibilitar o traçado dos<br />

diagramas, foram consideradas apenas duas variáveis aleatórias, o que permite construir e visualizar<br />

em duas dimensões as funções de estado limite. Admitiu-se que a viga apresenta um concreto com<br />

distribuição estatística gaussiana igual em todo o seu comprimento, com uma média denotada por f C e<br />

um desvio padrão σ C . Da mesma maneira, a armadura também foi considerada constante e igual ao<br />

longo do comprimento, com distribuição gaussiana de média f Y e desvio padrão σ Y . Os coeficientes de<br />

variação do concreto e do aço foram tomados como de 18% e 12% respectivamente. Dois modos de<br />

falha foram considerados: o esmagamento do concreto e o escoamento do aço. Nesse exemplo a<br />

superfície de reposta foi traçada a partir de planos de experiência e para isso um PE composto foi<br />

escolhido. Os dados adicionais utilizados no exemplo estão descritos na Tabela 1:<br />

M<br />

Aço<br />

M<br />

Concreto<br />

L<br />

Figura 7 – Viga do exemplo.<br />

A análise mecânica da viga indicou falha ocorrendo nos dois modos de ruptura escolhidos.<br />

Dependendo das resistências do aço e do concreto fornecidas pelos pontos do plano de experiência, a<br />

redistribuição de esforços internos conduziu a diferentes seqüências de falha, ora por escoamento da<br />

armadura, ora por esmagamento do concreto.<br />

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Estratégia baseada em domínio de falha composto aplicada para análise de confiabilidade em grelhas de concreto... 173<br />

Tabela 1 – Dados do exemplo<br />

Parâmetro<br />

Valor<br />

Parâmetro<br />

Valor<br />

L 1.000,0 mm As Sup 17 φ10mm<br />

f y 500,0 N/mm 2 d 875,0 mm<br />

f c 30,0 N/mm 2 ε slim 0,0100<br />

E y 210.000,0 N/mm 2 ε clim -0,0035<br />

b 120,0 mm σ y 60,0 N/mm 2<br />

h 1.000,0 mm σ c 5,4 N/mm 2<br />

M 250.000.000,0 N.mm Grau 2<br />

Inicialmente foi realizada a análise sem considerar os múltiplos estados limites. Isso foi<br />

realizado para permitir a realização de uma comparação entre as duas abordagens, pois, devido ao<br />

grau de dificuldade dos modelos mais refinados, não foram realizadas comparações com maior<br />

complexidade.<br />

O ponto de projeto foi encontrado com onze chamadas ao modelo de elementos finitos. Como<br />

o plano de experiência escolhido necessita de nove respostas mecânicas iniciais, conclui-se que<br />

durante o algoritmo dois pontos foram substituídos por pontos mais próximos à função. As linhas de<br />

isovalores da função de desempenho adimensional H(u i ) podem ser vistas na Figura 8, traçadas no<br />

espaço normal padrão. A variável u 1 corresponde ao concreto e a variável u 2 ao aço. Nomeou-se a<br />

curva onde H(u i ) = 0 de função de estado limite envoltória, já que a probabilidade obtida é a do modo<br />

preponderante.<br />

Figura 8 – Isolinhas da superfície de resposta no espaço normalizado.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 161-178, 2009


174<br />

Rodrigo de Azevedo Neves & Wilson Sérgio Venturini<br />

O cálculo do índice de confiabilidade foi efetuado através do algoritmo de Rackwitz & Fiessler.<br />

Com esse algoritmo é possível também determinar as coordenadas do ponto de projeto indicado<br />

acima, que corresponde à mínima distância da curva H(u i ) = 0 à origem. A Tabela 2 indica as<br />

coordenadas do ponto de projeto P* e o valor do índice de confiabilidade:<br />

Tabela 2 – Resultados da análise de confiabilidade<br />

Índice β 4,423<br />

Coordenadas do ponto de projeto<br />

u 1 = -1,515<br />

u 2 = 4,155<br />

O índice de confiabilidade encontrado foi de aproximadamente 4,423, correspondente a P f =<br />

0,00000487 para uma aproximação FORM. As coordenadas do ponto de projeto mostram que a<br />

segurança da estrutura é mais sensível às variações na resistência do aço, pois a variação do índice<br />

de confiabilidade é maior com relação à variável u 2 . Esse fenômeno é também devido à redistribuição<br />

de esforços, já que os valores da carga última do sistema são mais sensíveis às variações no valor da<br />

resistência do aço, interferindo na forma da função de estado limite.<br />

A interpretação física da probabilidade de falha é o significado concreto de toda análise<br />

probabilística. Além da sensibilidade já contida nas informações dos co-senos diretores do ponto de<br />

projeto, o número obtido nos informa que aproximadamente 487 em cada 100.000.000 de<br />

combinações possíveis para o par formado pela resistência do concreto e resistência do aço<br />

conduzirão a estrutura a uma situação de falha.<br />

Figura 9 – Funções de estado limite dos múltiplos modos de falha.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 161-178, 2009


Estratégia baseada em domínio de falha composto aplicada para análise de confiabilidade em grelhas de concreto... 175<br />

Depois da realização da análise com um estado limite único, deseja-se determinar qual a<br />

diferença na confiabilidade se vários estados limites forem considerados. Assim, realizou-se em<br />

seguida a abordagem proposta no presente trabalho, onde se consideram os múltiplos estados limites.<br />

Nesse exemplo, a determinação das curvas foi realizada com o emprego da imposição de ruptura<br />

segundo um determinado modo com o uso de planos de experiência, conforme descrito na tese de<br />

Neves (2004). Isso leva à construção de uma função de estado limite para cada um dos modos,<br />

conforme pode ser visto na Figura 9. As superfícies são adimensionais.<br />

As equações das três funções foram estabelecidas conforme a Eq. (13):<br />

H = 0.7142 - 0.1746u - 0.0054u -0.0059u -0.0160u u - 0.0056u = 0<br />

2 2<br />

Env 2 2 1 1 2 1<br />

H = 0.7687 + 0.1741u - 0.0011u -0.0130u -0.0054u u +0.0018u = 0<br />

2 2<br />

Y 2 2 1 1 2 1<br />

H = 0.7123 + 0.1733u +0.0066u -0.0054u -0.0171u u +0.0059u = 0<br />

2 2<br />

C 2 2 1 1 2 1<br />

(13)<br />

onde as funções H Env , H C e H Y representam, respectivamente, as funções de estado limite envoltória,<br />

do concreto e do aço.<br />

Fica evidente ao observar-se a Figura 9 que o domínio de falha definido pelas curvas de<br />

estado limite do aço e do concreto é mais preciso do que aquele determinado pela envoltória dos<br />

modos. A função de estado limite envoltória não consegue contemplar a área destacada com<br />

hachuras inclinadas, ao passo que o domínio composto é capaz de fazê-lo.<br />

Em seguida, em uma segunda fase de simulações, foram processadas 108 realizações,<br />

gerando-se pontos aleatoriamente no espaço das variáveis normalizadas, levando-se em conta o<br />

domínio de falha limitado pelas funções H C e H Y . O valor calculado para a probabilidade de falha final<br />

da viga foi de P f = 1,683x10 -5 , que é cerca de 3,5 vezes maior do que o valor obtido com a<br />

aproximação FORM.<br />

Conforme mencionado anteriormente, o tempo computacional dispensado é uma das barreiras<br />

no estudo da confiabilidade de modelos mais complexos. No presente exemplo, o tempo gasto na<br />

obtenção das curvas de estado limite individuais é aproximadamente o produto do tempo de gasto<br />

para o traçado de um estado limite pelo número de curvas a ser considerado. Isso quer dizer que em<br />

relação à análise com um estado limite, o algoritmo demanda mais tempo. Porém, na segunda fase da<br />

simulação, onde foram realizadas as 108 realizações no domínio composto, o ganho de tempo é<br />

extraordinário. Isso porque que cada reposta mecânica proveniente do modelo de elementos finitos<br />

deste exemplo consome em média três segundos e com isso o tempo consumido para realizar as<br />

simulações da segunda fase através de um modelo baseado em elementos finitos seria extremamente<br />

alto, enquanto que a segunda fase de simulações da presente proposta foi realizada em um tempo de<br />

apenas três horas. Além desse ganho de tempo a precisão obtida na determinação do domínio de<br />

falha foi melhor e a possibilidade de processamento de modelos mais complexos torna-se mais<br />

factível.<br />

5 CONCLUSÕES<br />

O uso da teoria da confiabilidade aplicada às estruturas consiste em uma tentativa de se<br />

considerar as incertezas presentes nas variáveis envolvidas no projeto. Há hoje uma grande tendência<br />

para a diversificação das aplicações de confiabilidade em vários ramos da ciência e a Engenharia de<br />

Estruturas, em particular, inicia no uso de modelos baseados em confiabilidade para realizar a<br />

previsão das probabilidades de falha de seus sistemas. Além disso, existe também uma forte<br />

tendência à realização do acoplamento de processos de otimização com índices de confiabilidade<br />

para a realização de projetos e verificações otimizadas, ambos submetidos a índices de confiabilidade<br />

pré-estabelecidos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 11, n. 51, p. 161-178, 2009


176<br />

Rodrigo de Azevedo Neves & Wilson Sérgio Venturini<br />

Na abordagem com um estado limite único, o ponto de projeto denominado de P* é o ponto de<br />

falha mais provável e a sua falha representa a falha do sistema. Em estudos anteriores verificou-se<br />

que o estado limite único representa uma envoltória dos estados limites dos modos de falha<br />

secundários e por isso não permite que as probabilidades desses modos sejam levadas em<br />

consideração. Esse método é bastante utilizado e fornece boas aproximações do índice de<br />

confiabilidade, como visto na literatura. Para as grelhas (ou outras estruturas otimizadas), no entanto,<br />

o inconveniente maior da técnica é que uma perturbação em qualquer das variáveis modifica o cenário<br />

de falha, isto é, a seção e o tipo de ruína. Isso ocorre principalmente em razão da otimização de<br />

seções e armaduras feitas por projetistas.<br />

Já na presente abordagem, o uso de estados múltiplos conduziu a uma obtenção mais precisa<br />

da probabilidade de falha, pois o domínio de falha foi definido de uma maneira mais refinada do que<br />

com o emprego de aproximações em primeira ou segunda ordem.<br />

A técnica aqui utilizada para o cálculo da confiabilidade permitiu a seleção dos modos de falha<br />

mais importantes e conduziu a resultados coerentes da probabilidade de falha do sistema. Além disso,<br />

seleção realizada acarretou um grande ganho de tempo de processamento, uns dos maiores entraves<br />

dos métodos de simulação hoje. A vantagem da simulação feita no presente trabalho em relação ao<br />

Monte Carlo puro é que ela é realizada apenas sobre polinômios e não sobre modelos mecânicos<br />

complexos, o que permite o processamento de exemplos maiores. Mais ainda, o procedimento<br />

mostrou-se bom do ponto de vista da generalização da técnica, pois forneceu resultados coerentes<br />

mesmo com elevado número de variáveis aleatórias, conforme pode ser constatado na tese de Neves<br />

(2004).<br />

Pode-se afirmar ainda que essa abordagem permite uma extensão para a determinação de<br />

probabilidades de falha de sistemas de modo global, podendo-se avaliar as probabilidades globais de<br />

colapso (isso não foi realizado neste trabalho). Acredita-se que essa contribuição pode ser<br />

rapidamente incorporada definindo-se as regiões cujas intersecções conduzem a estrutura a essa<br />

situação. A rigor, como a teoria da confiabilidade se constitui em uma ferramenta estritamente<br />

matemática, ela pode ser acoplada a qualquer modelo mecânico baseado em qualquer hipótese<br />

cinemática e em problemas dependentes ou não de sua variação no tempo.<br />

Por todo o exposto, pode-se concluir que a consideração de incertezas através das devidas<br />

associações estatísticas para o cálculo da confiabilidade consiste em um tema atual, relevante e está<br />

se tornando uma das linhas de pesquisa mais procuradas nos grandes centros de pesquisa mundiais,<br />

e deverá em breve fazer parte de procedimentos usuais do meio técnico.<br />

6 AGRADECIMENTOS<br />

Agradecemos à FAPESP pelo apoio financeiro durante o Doutorado no Brasil, sem o qual esta<br />

pesquisa não poderia ter sido realizada, e ao CNPq, pelo fomento da bolsa de doutorado-sanduíche<br />

na França.<br />

7 REFERÊNCIAS<br />

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COMITÉ EUROPÉEN DU BÉTON. Model code1990. 1990.<br />

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