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São Carlos, v.7 n. 29 2005 - SET - USP

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São <strong>Carlos</strong>, <strong>v.7</strong> n. <strong>29</strong> <strong>2005</strong>


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO<br />

Reitor:<br />

Prof. Titular ADOLFO JOSÉ MELFI<br />

Vice-Reitor:<br />

Prof. Titular HÉLIO NOGUEIRA DA CRUZ<br />

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS<br />

Diretor:<br />

Prof. Titular FRANCISCO ANTONIO ROCCO LAHR<br />

Vice-Diretor:<br />

Prof. Titular RUY ALBERTO CORREA ALTAFIM<br />

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS<br />

Chefe do Departamento:<br />

Prof. Titular CARLITO CALIL JUNIOR<br />

Suplente do Chefe do Departamento:<br />

Prof. Titular SÉRGIO PERSIVAL BARONCINI PROENÇA<br />

Coordenador de Pós-Graduação:<br />

Prof. Associado MÁRCIO ROBERTO SILVA CORRÊA<br />

Coordenadora de Publicações e Material Bibliográfico:<br />

MARIA NADIR MINATEL<br />

e-mail: minatel@sc.usp.br<br />

Editoração e Diagramação:<br />

FRANCISCO CARLOS GUETE DE BRITO<br />

MASAKI KAWABATA NETO<br />

MELINA BENATTI OSTINI<br />

TATIANE MALVESTIO SILVA


São <strong>Carlos</strong>, <strong>v.7</strong> n. <strong>29</strong> <strong>2005</strong>


Departamento de Engenharia de Estruturas<br />

Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – <strong>USP</strong><br />

Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro<br />

CEP: 13566-590 – São <strong>Carlos</strong> – SP<br />

Fone: (16) 3373-9481 Fax: (16) 3373-9482<br />

site: http://www.set.eesc.usp.br


SUMÁRIO<br />

Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto<br />

submetidas a esforços de compressão<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa 1<br />

Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando<br />

chapas de compensado<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Junior 31<br />

Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />

Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias 57<br />

Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição<br />

de fibras de aço na resistência e na ductilidade à punção de lajes-cogumelo e<br />

ao cisalhamento de vigas de concreto<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai 79<br />

Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação dinâmica<br />

elastoplástica entre o solo e estruturas<br />

Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda 113<br />

Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto<br />

armado<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs 131


ISSN 1809-5860<br />

ESTUDO DA RESISTÊNCIA E DA<br />

DEFORMABILIDADE DA ALVENARIA DE BLOCOS<br />

DE CONCRETO SUBMETIDAS A ESFORÇOS DE<br />

COMPRESSÃO<br />

Andrea Elizabeth Juste 1 & Márcio Roberto Silva Corrêa 2<br />

Resumo<br />

O estudo da resistência à compressão e da deformabilidade de paredes de alvenaria de<br />

blocos de concreto é de fundamental importância para a caracterização desse material<br />

e o desenvolvimento de análises de estruturas compostas por esse tipo de painel. Este<br />

trabalho trata desse tema, objetivando prever com maior acuidade os principais<br />

parâmetros de deformação e de resistência de paredes de alvenaria de blocos de<br />

concreto, a saber: resistência à compressão e módulo de elasticidade longitudinal nas<br />

direções paralela e perpendicular à junta de assentamento. Foi desenvolvido um<br />

trabalho experimental para estimar a influência da resistência dos blocos, da<br />

resistência da argamassa e da direção de aplicação de forças no comportamento<br />

mecânico da alvenaria de blocos de concreto não-grauteada, quando submetida a<br />

esforços de compressão. Para tanto, realizaram-se ensaios de laboratório em blocos,<br />

argamassas, prismas de três blocos e paredinhas com dimensões de 80 cm x 80 cm.<br />

Por inferência estatística não foram obtidas correlações aceitáveis entre as variáveis<br />

estudadas. Porém, obtiveram-se tendências de comportamento dos corpos de prova<br />

estudados, confirmando a influência das características da argamassa e do bloco no<br />

comportamento estrutural da alvenaria quando submetida a esforços de compressão.<br />

Palavras-chave: alvenaria estrutural; análise experimental; blocos de concreto; curvas<br />

tensão-deformação; módulo de elasticidade; resistência à compressão.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Por muitos anos a alvenaria estrutural foi pouco utilizada no Brasil devido a<br />

muitos fatores tais como: preconceito, maior domínio da tecnologia do concreto armado<br />

por parte de construtores e projetistas e pouca divulgação do assunto nas universidades<br />

durante o processo de formação dos engenheiros. Muitos projetistas são leigos no que<br />

diz respeito a este sistema construtivo e acabam, assim, optando pelo concreto armado.<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, andreajuste@ig.com.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, mcorrea@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


2<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

Isto é também influenciado pelo reduzido número de publicações sobre o assunto em<br />

português, pois a maior parte da bibliografia é estrangeira e voltada para as<br />

peculiaridades do país de origem.<br />

Nos últimos cinco anos essa situação tem se alterado de forma significativa. O<br />

interesse por esse sistema estrutural cresceu de forma notável, especialmente pelas<br />

condições nitidamente favoráveis que se obtêm em termos de economia. E, no<br />

momento, a demanda por tecnologias que possam garantir a execução de obras<br />

econômicas e seguras é realmente muito grande.<br />

Nesse aspecto, um ponto de grande importância a ser mais bem estudado é<br />

exatamente a deformabilidade de painéis de alvenaria de blocos, especialmente levandose<br />

em consideração as características dos materiais empregados no Brasil e as<br />

peculiaridades nacionais dos sistemas construtivos utilizados na confecção desses<br />

painéis. Devido à carência dessas informações, o projetista de estruturas é, em geral,<br />

obrigado a lançar mão da intuição ou adaptar tabelas presentes em Normas Técnicas<br />

Internacionais, produzidas para materiais e condições construtivas diferentes dos<br />

utilizados no Brasil.<br />

2 PROGRAMA EXPERIMENTAL<br />

2.1. Resumo dos ensaios realizados<br />

Durante o programa experimental foram ensaiados os componentes bloco e<br />

argamassa e os elementos com eles executados: prismas e paredinhas.<br />

A divisão do trabalho experimental consistiu em duas partes: ensaios-piloto<br />

utilizando apenas prismas e ensaios finais utilizando prismas e paredinhas. Os ensaiospiloto<br />

em prismas de três blocos foram realizados para determinar os parâmetros que<br />

deveriam ser considerados nos posteriores ensaios com paredinhas.<br />

Assim, definiu-se para os ensaios-piloto em prismas, a análise das seguintes<br />

variáveis:<br />

a) Resistência à compressão dos blocos<br />

Consideração das resistências de 4,5 MPa e 10,0 MPa para blocos de concreto, por<br />

serem representativos da utilização prática no Brasil.<br />

b) Argamassa<br />

Utilização de dois tipos de argamassa industrializada da empresa CIMPOR, a F07 e<br />

a F51. A escolha dessas argamassas baseou-se na distinção em relação ao módulo de<br />

elasticidade e à resistência à compressão relatada em boletins técnicos fornecidos<br />

pelo fabricante.<br />

Obs.: Foi realizado, paralelamente ao estudo em prismas, um estudo para a<br />

determinação da resistência e do módulo de elasticidade de um terceiro tipo de<br />

argamassa – a F11, através de ensaios utilizando-se apenas corpos de prova<br />

cilíndricos com dimensões de 5 cm x 10 cm, considerando-se a eventualidade de sua<br />

utilização, o que não ocorreu.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />

3<br />

c) Cordões de argamassa<br />

Moldagem dos prismas em duas situações: preenchimento de todos os septos dos<br />

blocos (assentamento total) e preenchimento apenas dos septos longitudinais dos<br />

blocos (assentamento lateral).<br />

Como será discutido mais adiante, o quesito argamassa foi prejudicado em<br />

função de problemas nos ensaios-piloto de prismas com a argamassa industrializada.<br />

Optou-se, então, pelo uso de argamassas comuns, com traços usualmente empregados<br />

na alvenaria, especificados pela BS 5628 (1992). Foi também descartada a variável<br />

relacionada ao tipo de assentamento da argamassa, devido a restrições de tempo,<br />

ocupação e espaço no laboratório do <strong>SET</strong>/EESC/<strong>USP</strong>. Cabe ressaltar que essa decisão<br />

foi tomada com o objetivo de reduzir o programa experimental, não tendo a pretensão<br />

de julgá-la sem importância no comportamento da alvenaria comprimida.<br />

Definiu-se que os ensaios finais deveriam contemplar os seguintes requisitos:<br />

a) Resistência à compressão dos blocos<br />

Consideração dos blocos de concreto com resistências de 4,5 MPa e 12,0 MPa. A<br />

alteração da resistência dos blocos de 10 MPa para os de 12 MPa deve-se a um<br />

engano ocorrido na entrega dos blocos. Pelo fato da análise dos corpos de prova<br />

necessitar da distinção de resistência à compressão e módulo de elasticidade, julgouse<br />

que esta mudança não afetaria o objetivo dos estudos. Dessa forma, manteve-se a<br />

modificação da resistência do bloco.<br />

b) Argamassa<br />

Utilização de dois traços alternativos de argamassa recomendados pela BS 5628<br />

(1978), usualmente empregados na alvenaria:<br />

Cimento:Cal:Areia (em volume)<br />

Tipo (ii) - 1:0,5:4,5<br />

Tipo (iii) - 1:1:6<br />

c) Cordões de argamassa<br />

Moldagem dos prismas e paredinhas feita apenas com o assentamento total dos<br />

blocos.<br />

d) Direção de aplicação de carregamento<br />

Consideração de duas situações de aplicação de carregamento: paralelo e<br />

perpendicular à junta de assentamento dos blocos.<br />

Quanto aos corpos de prova, foram utilizados prismas de três blocos e paredinhas<br />

com dimensões modulares de 80 cm x 80 cm, conforme indica a figura 2.1.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


4<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 2.1 - Esquema dos corpos de prova utilizados nos ensaios finais – (a) Prisma (b)<br />

Paredinha (medidas em mm).<br />

2.2. Execução dos ensaios de caracterização mecânica<br />

2.2.1. Blocos<br />

Ensaios-Piloto 1 e Ensaios Finais<br />

A caracterização dos blocos, feita em termos de resistência média (f bm ) e de<br />

resistência característica (f bk ), seguiu as especificações da Norma Brasileira NBR 7186<br />

(1994).<br />

A determinação do módulo de elasticidade longitudinal dos blocos foi realizada<br />

simultaneamente com os ensaios de prismas. Para tanto, foram instalados transdutores<br />

de deslocamento com curso de 10 mm e base de 155 mm nos blocos centrais dos<br />

prismas, repetindo esse posicionamento na face oposta do prisma. A opção por este tipo<br />

de medição pode ser explicada pela tentativa de eliminar a influência do efeito da<br />

restrição da base da prensa e do capeamento utilizado, já que ensaios anteriores<br />

realizados pelo laboratório, onde eram utilizadas unidades individuais, indicaram<br />

dificuldades na obtenção de resultados satisfatórios. Além disso, o posicionamento dos<br />

transdutores no prisma permitiu que o estudo das deformações do bloco fosse feito<br />

numa situação semelhante ao seu comportamento na alvenaria.<br />

2.2.2. Argamassas<br />

Ensaio-Piloto 1<br />

Para cada tipo de argamassa do primeiro ensaio-piloto, executaram-se em<br />

moldes metálicos 6 corpos de prova cilíndricos com dimensões de 5cm x 10cm,<br />

seguindo as recomendações da Norma Brasileira NBR 7215 (1982). Destes 6 corpos de<br />

prova, 3 foram ensaiados para obter a resistência à compressão uniaxial, conforme a<br />

NBR 13279 (1995), e 3 para a determinação do módulo de elasticidade longitudinal,<br />

conforme as especificações da NBR 8522 (1984) e da Norma Americana ASTM E111-<br />

82.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />

5<br />

As medições de deformações dos corpos de prova de argamassa foram obtidas<br />

através do uso de dois tipos de instrumentação: extensômetros, com base de 10 mm, e<br />

transdutores de deslocamentos, com curso de 10mm (ver figura 2.2). Dois<br />

extensômetros com base de 10 mm, colados longitudinalmente com massa plástica para<br />

a medição das deformações axiais, foram dispostos ao longo da geratriz do corpo de<br />

prova, igualmente espaçados no perímetro da seção transversal. A disposição dos dois<br />

transdutores foi a mesma dos extensômetros, sendo os encurtamentos tomados em<br />

relação aos pratos da prensa. Com o uso destes dois tipos de aparelhagem foi possível<br />

comparar os resultados obtidos pelos mesmos, de modo a escolher o mais adequado<br />

para a medição de deformações que iriam ser utilizados nos ensaios finais.<br />

Figura 2.2 - Posicionamento da instrumentação nos corpos de prova de argamassa (EP1).<br />

Ensaio-Piloto 2<br />

Nos ensaios das argamassas do segundo ensaio-piloto foram empregados corpos<br />

de prova cilíndricos com dimensões de 15 cm x 30 cm. Este tipo de corpo de prova foi<br />

usado para que fosse possível utilizar o dispositivo mostrado na figura 2.3, para a<br />

fixação dos transdutores de deslocamentos, sem que os mesmos ficassem em contato<br />

com os pratos da prensa. Essa medida teve como objetivo reduzir o efeito do<br />

capeamento nos resultados das deformações.<br />

Figura 2.3 - Dispositivo de fixação dos transdutores para corpos de prova com dimensões de 15<br />

cm x 30 cm.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


6<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

Ensaios Finais<br />

Para os ensaios finais foram moldados 4 corpos de prova cilíndricos de<br />

argamassa, com dimensões de 5cm x 10cm, para cada preparo de argamassa de<br />

moldagem de 3 paredinhas e 6 prismas.<br />

Os corpos de prova foram ensaiados para determinar sua resistência à<br />

compressão.<br />

2.2.3. Prismas<br />

Ensaio-Piloto 1<br />

Os prismas dos ensaios-piloto foram moldados utilizando três blocos assentados<br />

a prumo, conforme especifica Norma Americana ASTM E 447 (1997).<br />

A moldagem dos prismas foi feita através de séries de 3 exemplares, sendo cada<br />

série diferenciada uma da outra pela variação de dois tipos de argamassa, duas<br />

resistência de blocos e duas formas de assentamento. Dessa maneira, foram ensaiadas 8<br />

séries de 3 prismas, totalizando 24 prismas.<br />

As formas de assentamento são o assentamento total e o lateral dos blocos. O<br />

assentamento total consiste em preencher com argamassa toda a seção transversal do<br />

bloco. Para o assentamento lateral o preenchimento é feito apenas nas faces<br />

longitudinais da seção transversal do bloco. Para efeito de notação neste trabalho, a<br />

nomeação dos prismas, com finalidade de facilitar a identificação durante os ensaios, foi<br />

feita utilizando uma letra e três números. A letra indica o tipo de argamassa utilizada (P,<br />

Q ou R). O primeiro número indica a classe de resistência do bloco utilizado (1 ou 2), o<br />

segundo a forma de assentamento da argamassa (1 ou 2) e o terceiro o número do<br />

exemplar da série (1, 2 ou 3).<br />

A figura 2.4 apresenta o esquema de posicionamento dos transdutores nos<br />

prismas para medições de deslocamentos no prisma e no bloco.<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 2.4 - (a) Vista frontal (b) Vista oposta. Transdutores 1,2,3 e 4: medições de<br />

deslocamentos no prisma; transdutores 5 e 6 - medições de deslocamentos nos blocos (EP1)<br />

(medidas em mm).<br />

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7<br />

Ensaios Finais<br />

Nos ensaios finais foram moldados 2 prismas com três blocos assentados a<br />

prumo para cada paredinha. A execução dos prismas obedeceu as especificações da<br />

NBR 8.215 (1983). Através destes prismas pretendeu-se obter correlações de resistência<br />

entre os mesmos e as paredinhas.<br />

A determinação do módulo de elasticidade dos blocos foi feita utilizando-se três<br />

prismas para cada classe de resistência de bloco. Os demais prismas foram ensaiados<br />

apenas para obter sua resistência à compressão.<br />

A denominação dos prismas durante os ensaios foi feita da seguinte maneira:<br />

As duas primeiras letras correspondem ao tipo de corpo de prova estudado (PR e<br />

PA), seguido do tipo de bloco (B1 e B2), tipo de argamassa (A1 e A2), direção de<br />

carregamento (EY e EX) e número do exemplar (1, 2 e 3).<br />

Exemplo: PRB1A1EY1<br />

2.2.4. Paredinhas<br />

Optou-se por realizar ensaios em paredinhas de blocos de concreto com<br />

dimensões 80 cm x 80 cm. Para tanto, foram moldadas 24 paredinhas, onde foram<br />

consideradas duas resistências de bloco, duas resistências de argamassa e duas direções<br />

de aplicação de carregamento, estando cada variação dividida em séries compostas por<br />

três exemplares, seguindo por analogia as recomendações da NBR 8522 (1984) para a<br />

determinação do módulo de elasticidade.<br />

Com o objetivo de realizar um controle de resistência, para cada paredinha<br />

foram moldados dois prismas de três blocos. E, para cada mistura de argamassa,<br />

calculada para ser suficiente na execução de três paredinhas e 6 prismas, foram<br />

moldados 4 corpos de prova.<br />

Os esquemas de instrumentação utilizados durante os ensaios para a paredinha<br />

ensaiada nas direções x e y são mostrados na figura 2.5 e 2.6, respectivamente.<br />

Os extensômetros 1, 2, 3 e 4 tiveram como objetivo medir os deslocamentos<br />

verticais dos blocos, de modo a possibilitar a obtenção do módulo de elasticidade<br />

longitudinal das paredinhas. Os extensômetros 5 e 6 foram utilizados para medir os<br />

deslocamentos horizontais nos blocos na região central da paredinha. Com isso, tinha-se<br />

como objetivo calcular o coeficiente de Poisson local nas paredes.<br />

A realização dos ensaios das paredinhas seguiu basicamente os mesmos<br />

procedimentos utilizados durante os ensaios de determinação do módulo de elasticidade<br />

longitudinal dos prismas.<br />

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8<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 2.5 - (a) Vista frontal (b) Vista oposta. Transdutores 1,2,3 e 4 - medições de<br />

deslocamentos verticais na parede; Transdutores 5 e 6 - medições de deslocamentos horizontais<br />

na parede (EF) (medidas em mm).<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 2.6 - (a) Vista frontal (b) Vista oposta. Transdutores 1,2,3 e 4: medições de<br />

deslocamentos verticais na parede; Transdutores 5 e 6 - medições de deslocamentos horizontais<br />

na parede (EF) (medidas em mm).<br />

3 ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />

3.1. Blocos<br />

Ensaios-Piloto 1<br />

Os valores das resistências médias à compressão são apresentados na tabela 3.1<br />

e os valores característicos estimados na tabela 3.2.<br />

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Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />

9<br />

Tabela 3.1 - Valores médios de resistência à compressão dos blocos (EP1)<br />

Tipo de<br />

bloco<br />

Classe de<br />

resistência<br />

Idade dos<br />

blocos<br />

Área bruta<br />

(546 cm 2 )<br />

Área líquida<br />

(300 cm 2 )<br />

(MPa) (dias) f bm<br />

(MPa)<br />

S d<br />

(MPa)<br />

CV (%) f bm<br />

(Mpa)<br />

S d<br />

(MPa)<br />

CV<br />

(%)<br />

1 4,5 114 9,43 0,86 9,12 17,15 1,56 9,10<br />

2 10,0 206 22,55 1,01 4,48 41,00 1,84 4,49<br />

Tabela 3.2 - Valores característicos de resistência à compressão dos blocos (EP1)<br />

Tipo Classe de Área bruta (546 cm 2 ) Área líquida (300 cm 2 )<br />

de<br />

bloco<br />

resistência (MPa) f bk,est<br />

(MPa)<br />

S d<br />

(Mpa)<br />

CV (%) f bk,est<br />

(MPa)<br />

S d<br />

(MPa)<br />

CV<br />

(%)<br />

1 4,5 8,37 0,86 10,27 15,22 1,56 10,25<br />

2 10,0 20,27 1,01 4,98 36,85 1,84 4,99<br />

A resistência à compressão média dos blocos foi cerca de 10% maior do que sua<br />

resistência característica. Além disso, pode-se perceber que os valores de resistência<br />

média dos blocos excederam em mais de 100% a resistência nominal dos mesmos.<br />

A determinação do módulo de elasticidade dos blocos foi feita a partir do gráfico<br />

tensão-deformação, utilizando-se a equação de uma parábola ajustada à curva obtida<br />

experimentalmente, com os valores médios entre os dois transdutores indutivos de<br />

deslocamento. Cabe ressaltar que esta curva foi determinada descartando-se o trecho de<br />

acomodação do corpo de prova e os pontos em que se percebeu grande distanciamento<br />

entre a parábola e os resultados dos ensaios, compreendendo níveis de carregamento<br />

superiores em torno de 50% da carga de ruptura.<br />

Segundo recomendação do ACI 530-92 (1995), o módulo de elasticidade<br />

longitudinal do bloco foi calculado a partir da inclinação de uma reta secante obtida no<br />

gráfico tensão-deformação, através da ligação entre os pontos correspondentes a 5% e<br />

33% da tensão de ruptura do bloco durante o ensaio à compressão. Com isso, pretendeuse<br />

minimizar as possíveis perturbações referentes ao início do ensaio.<br />

Na tabela 3.3 são apresentados os valores das relações entre o módulo de<br />

elasticidade e a resistência à compressão dos blocos. Segundo DRYSDALE et al.<br />

(1994), este valor para blocos de concreto pode variar entre 500 e 1000. Dessa forma,<br />

verificou-se que ambos os blocos atenderam as especificações do referido autor. Os<br />

valores também se encontram na faixa entre 500 a 1500, proposta por SAHLIN (1971).<br />

Além disso, pode-se concluir que a rigidez dos blocos aumenta proporcionalmente ao<br />

aumento das resistências dos mesmos. Esta tabela também apresenta a mesma relação<br />

ao utilizar as expressões sugeridas pelo CEB-FIP Model Code (1990) e pelo ACI –<br />

Building Code 318 (1990) para estimar o valor do módulo de elasticidade do concreto.<br />

Os valores obtidos através destas expressões mostraram grande distanciamento dos<br />

valores experimentais, exceto para a estimativa utilizando a expressão do CEB-FIP<br />

Mode Code (1990) para o bloco do tipo 2.<br />

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10<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

Tabela 3.3 - Valores das relações entre módulo de elasticidade e resistência à compressão dos<br />

blocos (EP1)<br />

Tipo de Valores obtidos E bm segundo ACI E bm segundo CEB-FIP<br />

Bloco Nos ensaios E bm =0,0428.f 1/2 1,5<br />

bm . γ b E bm =2,5.10 4 (.f bm /10) 1/3<br />

f bm<br />

*<br />

(MPa)<br />

E bm<br />

(MPa)<br />

E bm /f bm E bm (Mpa) E bm /f bm E bm (MPa) E bm /f bm<br />

1 17,15 16902 986 9066 5<strong>29</strong> <strong>29</strong>922 1745<br />

2 41,00 41391 1010 31340 764 40013 976<br />

* Resistência do bloco na área líquida.<br />

Ensaios Finais<br />

Os valores das resistências médias à compressão são apresentados na tabela 3.4<br />

e os valores característicos estimados na tabela 3.5.<br />

Nestes ensaios, podem-se perceber aumentos na resistência à compressão média<br />

dos blocos de até 150% quando comparada aos valores nominais. Foram obtidos baixos<br />

coeficientes de variação para os valores de resistência alcançados, encontrando-se na<br />

faixa entre 5 e 11%.<br />

O módulo de elasticidade dos blocos foi obtido do mesmo modo dos ensaiospiloto<br />

1, ou seja, a partir da equação de uma parábola ajustada à curva obtida<br />

experimentalmente no gráfico tensão-deformação. O ajuste desta curva foi feito até<br />

níveis de tensão da ordem de 60% do valor da carga de ruptura. Este valor foi estipulado<br />

por permitir o cálculo do módulo de elasticidade secante entre níveis de tensões entre 5<br />

e 33% da carga de ruptura e apresentar ótimos coeficientes de ajustes para as parábolas<br />

obtidas.<br />

Tabela 3.4 - Valores médios de resistência à compressão dos blocos (EF)<br />

Tipo<br />

de<br />

Classe de<br />

Resistência<br />

Idade dos<br />

blocos<br />

Área bruta<br />

(546 cm 2 )<br />

Área líquida<br />

(289 cm 2 )<br />

Bloco (MPa) (dias) f bm<br />

(MPa)<br />

S d<br />

(MPa)<br />

CV (%) f bm<br />

(Mpa)<br />

S d<br />

(Mpa)<br />

CV<br />

(%)<br />

B1 4,5 77 10,80 1,14 10,51 20,38 2,14 10,51<br />

B2 12,0 - 22,92 1,32 5,75 41,00 2,49 5,75<br />

Tabela 3.5 - Valores característicos de resistência à compressão dos blocos (EF)<br />

Tipo Classe de Área bruta (546 cm 2 ) Área líquida (289 cm 2 )<br />

de<br />

Bloco resistência (MPa) f bk,est<br />

(MPa)<br />

S d<br />

(MPa)<br />

CV (%) f bk,est<br />

(MPa)<br />

S d<br />

(MPa)<br />

CV<br />

(%)<br />

B1 4,5 8,84 1,14 12,90 16,68 2,14 12,83<br />

B2 12,0 19,91 1,32 4,41 38,83 2,49 6,41<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />

11<br />

A figura 3.1 apresenta um gráfico com uma curva ajustada aos valores médios<br />

de deformações.<br />

Gráfico Tensão x Deformação PRB1A2E y 2 - Bloco de 4,5 MPa<br />

6,0<br />

5,0<br />

Tensão (MPa)<br />

4,0<br />

3,0<br />

2,0<br />

y = -3E+06x 2 + 7515,9x<br />

R 2 = 0,9938<br />

Média Transdutores<br />

Ajuste da curva (parábola)<br />

1,0<br />

0,0<br />

0,0000 0,0002 0,0004 0,0006 0,0008 0,0010 0,0012 0,0014 0,0016 0,0018<br />

Deformação<br />

Figura 3.1 - Exemplo da curva ajustada para os valores médios de tensão-deformação para o<br />

bloco de 4,5 MPa (EF).<br />

Cabe ressaltar que, ao contrário dos ensaios-piloto, o módulo de elasticidade<br />

longitudinal foi calculado a partir da resistência à compressão em relação à área bruta<br />

dos corpos de prova. Admitiu-se esta convenção para que fosse possível fazer<br />

comparações coerentes entre blocos, prismas e paredinhas ensaiadas nas duas direções,<br />

sem a necessidade de determinação da área efetiva de cada corpo de prova.<br />

Os valores dos módulos de elasticidade longitudinal dos blocos, obtidos a partir<br />

da inclinação da reta secante entre os pontos correspondentes a 5% e 33% da tensão de<br />

ruptura são apresentados na tabela 3.6 para os blocos de 4,5 MPa e na tabela 4.10 para<br />

os blocos de 12,0 MPa. Os valores obtidos que se distanciaram muito em relação aos<br />

demais foram descartados.<br />

A tabela 3.6 também apresenta as relações entre módulo de elasticidade e<br />

resistência à compressão dos blocos para os valores obtidos nos ensaios, ao utilizar a<br />

expressão sugerida pelo ACI – Building Code 318 (1990) e a proposta pelo CEB-FIP<br />

Mode Code (1990), para estimar o valor do módulo de elasticidade do concreto.<br />

Verificou-se que, para os blocos de 4,5 MPa, a relação E bm /f bm obtida<br />

experimentalmente atendeu aos limites especificados por DRYSDALE et al. (1994),<br />

entre 500 e 1000, e SAHLIN (1971), entre 500 e1500. Porém, para os blocos de 12 MPa<br />

este valor ficou abaixo do esperado.<br />

Para estes ensaios, pode-se observar também que os valores calculados a partir<br />

da equação sugerida pelo CEB-FIP Mode Code (1990) ficaram bem distantes dos<br />

obtidos experimentalmente.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


12<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

Tabela 3.6 - Valores das relações entre módulo de elasticidade e resistência à compressão dos<br />

blocos (EF)<br />

Tipo de Valores obtidos E bm segundo ACI E bm segundo CEB-FIP<br />

Bloco Nos ensaios E bm =0,0428.f 1/2 1,5<br />

bm . γ b E bm =2,5.10 4 (f bm /10) 1/3<br />

*<br />

f bm E bm E bm /f bm E bm (MPa) E bm /f bm E bm (Mpa) E bm /f bm<br />

(Mpa) (MPa)<br />

B1 10,80 6228 577 5557 515 25650 2375<br />

B2 22,92 7554 330 9208 402 3<strong>29</strong>62 1438<br />

* Resistência do bloco na área bruta.<br />

3.2. Argamassas<br />

Ensaio-Piloto 1<br />

A tabela 3.7 apresenta as resistências à compressão dos corpos de prova<br />

cilíndricos de dimensões de 5 cm x 10 cm, referentes às argamassas industrializadas<br />

utilizadas nas séries do primeiro ensaio-piloto.<br />

A determinação do módulo de elasticidade obedeceu aos mesmos procedimentos<br />

usados para os blocos de concreto. Um exemplo de gráfico com as curvas de tensãodeformação,<br />

obtidas através do uso de extensômetros e transdutores, é mostrado na<br />

figura 3.2. Os valores obtidos pelas medições feitas através dos transdutores indutivos<br />

de deslocamentos e dos extensômetros estão apresentados na tabela 3.8.<br />

Através dos resultados fornecidos pela tabela 3.8, percebeu-se que os<br />

coeficientes de variação, na sua maioria, foram menores para as medições feitas<br />

utilizando extensômetros. A exceção para a argamassa do tipo P deveu-se ao fato de ter<br />

sido desconsiderado o resultado que apresentou um desvio grande em relação à média.<br />

Caso contrário essa variação teria sido de 28%, ou seja, bem superior à obtida com o<br />

uso do extensômetro. Assim, pode-se admitir a grande influência do capeamento na<br />

variação dos resultados ao se utilizar transdutores apoiados na base da prensa,<br />

concluindo que o uso de extensômetros para medições de deformações ainda é<br />

considerado o mais adequado.<br />

Tabela 3.7 - Resistência à compressão dos corpos de prova de argamassa cilíndricos 5 x 10 cm<br />

(EP1)<br />

Tipo de Resistência indicada F rup,am do Resistência à compressão (35<br />

dias)<br />

argamassa Pelo fabricante (28 dias) ensaio (kN) f am (MPa) S d (MPa) CV (%)<br />

P 6,0 10,3 5,2 0,28 5,4<br />

Q 4,2 11,1 5,7 0,48 8,4<br />

R 2,8 7,2 3,7 0,14 3,9<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />

13<br />

Tabela 3.8 - Módulo de elasticidade das argamassas industrializadas (EP1)<br />

Tipo de<br />

argamassa<br />

Módulo de elasticidade médio<br />

Extensômetro<br />

Módulo de elasticidade médio<br />

Transdutor<br />

E am (MPa) S d (MPa) CV (%) E am (MPa) S d (MPa) CV (%)<br />

P 7396 1244,35 16,82 5664 883,88 15,61<br />

Q 8879 671,75 7,57 9720 1000,98 10,30<br />

R 5903 444,43 7,53 8144 144,96 1,78<br />

A tabela 3.9 apresenta a relação entre o módulo de elasticidade e a resistência à<br />

compressão da argamassa, a partir dos valores obtidos através do uso de extensômetros<br />

e de transdutores. Esta mesma relação tem o valor proposto por HILDSDORF 1 apud<br />

ALY (1992) de 1000.<br />

Tabela 3.9 - Relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão das argamassas<br />

(EP1)<br />

Tipo de<br />

Módulo de elasticidade médio<br />

Extensômetro<br />

Módulo de elasticidade médio<br />

Transdutor<br />

argamassa E am / f am S d CV (%) E am / f am S d CV (%)<br />

P 1142 130,67 9,74 890 169,88 19,09<br />

Q 1530 95,00 6,20 1685 261,53 15,52<br />

R 1633 188,43 11,55 1699 873,98 51,44<br />

Observa-se que os valores obtidos para as relações E am /f am foram bem próximos<br />

em ambos os casos, porém o coeficiente de variação teve um valor muito superior<br />

quando utilizado o transdutor.<br />

Ensaio-Piloto 2<br />

As tabelas 3.10 e 3.11 apresentam, respectivamente, as características de<br />

resistência à compressão e de deformabilidade das argamassas estudadas.<br />

A necessidade da escolha de duas argamassas com módulos de elasticidade<br />

distintos foi atendida. Dessa forma, julgou-se plausível utilizar a dosagem desenvolvida<br />

pela autora citada.<br />

1<br />

HILSDORF, H.K. (1969).Investigation into the Failure Mechanism of Brick Masonry Loaded in Axial<br />

Compression. Houston, Gulf. Londres.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


14<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

Tabela 3.10 - Resistência à compressão das argamassas (EP2)<br />

Tipo de Resistência à<br />

compressão<br />

F rup,am do Resistência à compressão (16<br />

dias)<br />

Argamassa FONTE (28 dias) ensaio (kN) f am (MPa) S d (MPa) CV (%)<br />

A1 6,9 116 6,44 0,13 1,99<br />

A2 4,1 74 4,20 0,07 1,64<br />

Tabela 3.11- Módulo de elasticidade das argamassas (EP2)<br />

Tipo de argamassa E am (MPa) S d (MPa) CV (%)<br />

A1 9796 102,55 1,05<br />

A2 7598 359,56 4,73<br />

Tabela 3.12 - Relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão das argamassas<br />

(EP2)<br />

Tipo de argamassa E am /f am (MPa) S d (MPa) CV (%)<br />

A1 1517 17,62 1,16<br />

A2 1809 74,03 4,09<br />

Média 1663 206,89 12,44<br />

Nota: Os módulos foram obtidos a partir do ajuste da curva tensão-deformação até 80% do<br />

valor da carga de ruptura.<br />

As relações entre o módulo de elasticidade e a resistência à compressão da<br />

argamassa, apresentadas na tabela 3.12, mostram que os coeficientes de variação foram<br />

bem menores que os obtidos nos ensaios-piloto 1. Porém, a média dos valores desta<br />

relação comprovou um certo distanciamento já indicado nos ensaios-piloto 1, no que diz<br />

respeito ao valor igual a 1000, proposto por HILDSDORF (1992).<br />

Ensaios Finais<br />

Já a tabela 3.13 indica os valores médios de cada tipo de argamassa para todos<br />

os corpos de prova ensaiados.<br />

Ao comparar os resultados de resistência à compressão dos ensaios finais e os<br />

valores estimados para os 28 dias dos ensaios-piloto 2, utilizando a expressão 4.1,<br />

observou-se aumentos de 44,4% para a argamassa do tipo 1 e 9,3% para a argamassa do<br />

tipo 2.<br />

Tabela 3.13 - Resistência à compressão média dos corpos de prova de argamassa (EF)<br />

Tipo de<br />

Resistência média à compressão<br />

Argamassa f am (MPa) S d (Mpa) CV (%)<br />

A1 10,24 0,82 8,00<br />

A2 5,05 0,88 17,31<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />

15<br />

3.3. Prismas<br />

Ensaios-Piloto 1<br />

A tabela 3.14 apresenta os valores obtidos nos ensaios das séries de prismas e os<br />

valores de carga de ruptura previstos teoricamente, baseados num valor médio de<br />

eficiência igual a 0,80, obtido pelos ensaios realizados por ALY & SABBATINI (1994),<br />

a diferença entre estes valores, em relação aos previstos teoricamente, além da sua<br />

resistência à compressão, obtida em função da área líquida dos blocos.<br />

Tabela 3.14 - Resistência à compressão dos prismas (EP1)<br />

Série F rup,prevista F rup,ensaio Diferença Resistência média à compressão<br />

(kN) (kN) (%) f pm * (MPa) S d (MPa) CV (%)<br />

Q11 260 255 -1,9 8,48 1,02 12,04<br />

Q12 260 227 -12,7 7,56 1,23 16,22<br />

Q21 579 503 -13,1 16,75 1,53 9,13<br />

Q22 579 344 -40,6 10,82 0,07 0,63<br />

* Resistência do prisma na área líquida.<br />

A tabela acima mostra uma proximidade nos valores previstos teoricamente e os<br />

obtidos nos ensaios para os prismas de blocos de resistência à compressão de 4,5 MPa.<br />

Porém, cabe ressaltar que estes valores teóricos referem-se aos blocos com suas<br />

resistências à compressão correspondentes aos valores característicos especificados<br />

pelo fabricante. Porém, notou-se que os mesmos representavam a resistência à<br />

compressão característica dos blocos aos 7 dias e não aos 28, como previsto. Com a<br />

realização do ensaio de resistência à compressão dos blocos, notou-se um ganho de<br />

resistência de 86 e 103% para os blocos de 4,5 MPa e 10 MPa, respectivamente. Dessa<br />

forma, deveriam ser obtidos valores bem superiores aos alcançados, o que resultou<br />

valores de eficiência extremamente baixos.<br />

Como citado no capítulo 3 do presente trabalho, os ensaios de prismas à<br />

compressão foram feitos utilizando-se as argamassas dos tipos P e Q. Os prismas com o<br />

tipo P apresentaram um esmagamento precoce da argamassa utilizada, ocorrendo o<br />

esboroamento da mesma com níveis de carregamento na faixa de 15 a 40% da carga de<br />

ruptura alcançada. Com isso, alguns corpos de prova chegaram ao final do ensaio com<br />

perda total da interface bloco-argamassa. Além disso, houve o descolamento de alguns<br />

blocos durante o transporte dos corpos de prova. Ambas as ocorrências indicaram que<br />

estes prismas tiveram problemas em relação à aderência bloco-argamassa quando usada<br />

a referida argamassa.<br />

A ruptura precoce levou os prismas a alcançarem módulos de elasticidade<br />

extremamente elevados para as argamassa do tipo P. Assim, optou-se por não<br />

considerar os módulos de elasticidade dos ensaios com esta argamassa, já que os<br />

mesmos resultaram em resultados insatisfatórios.<br />

Verificou-se, também, um comprometimento na aderência da interface blocoargamassa<br />

nos ensaios pilotos realizados com a argamassa industrializada do tipo Q, já<br />

que em vários dos prismas houve o descolamento dos blocos durante o transporte dos<br />

corpos de prova e algumas ocorrências de esboroamento em cargas muito baixas<br />

durante o ensaio. Porém, para este tipo de argamassa, o gráfico tensão–deformação<br />

apresentou um comportamento típico, sem a mudança brusca de inclinação da curva.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


16<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

No presente trabalho, verificou-se que o uso da argamassa industrializada não<br />

resultou numa boa combinação argamassa/tipo de bloco. Além disso, a argamassa Q é<br />

recomendada pelo fabricante para assentar blocos sílico-calcáreos, o que pode explicar<br />

em parte a perda de aderência.<br />

Outro motivo que poderia explicar o comprometimento dos valores obtidos nos<br />

ensaios é o uso de aditivos incorporadores de ar na argamassa. Segundo SOLÓRZANO<br />

(1994), apesar de diminuir a quantidade de água que deve ser colocada na argamassa,<br />

melhorar a sua trabalhabilidade e beneficiar na retenção de água, diminui a resistência<br />

de aderência.<br />

A BS 4721 limita o teor de ar incorporado para argamassa pronta<br />

industrializada em um teor mínimo de 7% e máximo de 18%. As argamassas utilizadas<br />

do tipo P e Q apresentaram teores de <strong>29</strong> e 17%, respectivamente. De fato, a argamassa<br />

do tipo P, que não atende aos limites estipulados por essa norma, foi a que mais<br />

apresentou comprometimento na resistência de aderência, resultando em valores de<br />

resistência à compressão e módulo de elasticidade poucos satisfatórios.<br />

Tabela 3.15 - Módulo de elasticidade dos prismas da série Q (EP1)<br />

Série E pm (Mpa) S d (MPa) CV (%)<br />

Q11 4756 64 1,35<br />

Q12 7302 410 5,61<br />

Q21 13738 543 3,95<br />

Q22 12412 190 1,53<br />

* Resistência do prisma na área líquida.<br />

A média dos prismas apresentou baixos coeficientes de variação. Notou-se que,<br />

conforme é aumentada a resistência à compressão do bloco, a influência da forma de<br />

assentamento no módulo de elasticidade do prisma diminui. Assim, a diferença entre o<br />

módulo de elasticidade do prisma quando comparado o assentamento total e o lateral<br />

para o bloco de 4,5 MPa foi de 54%, sendo que para o bloco de 10 MPa esta diferença<br />

foi de 11%. Além disso, observou-se um aumento no módulo de elasticidade quando<br />

utilizado o assentamento lateral para o bloco de 4,5 MPa e uma diminuição deste valor<br />

para blocos de 10 MPa (ver tabela 3.15).<br />

A influência da resistência à compressão da argamassa na resistência à compressão<br />

do prisma não pode ser analisada, já que os ensaios referentes ao segundo tipo de<br />

argamassa foram desconsiderados.<br />

Tabela 3.16 - Relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão dos prismas<br />

(EP1)<br />

Série de Prisma E pm /f pm S d CV (%)<br />

Q11 525* 10,36 1,97<br />

Q12 864 86,00 9,96<br />

Q21 964 243,25 25,23<br />

Q22 1145 26,32 2,30<br />

Média 991 116,45 11,75<br />

* Resultado descartado por apresentar um desvio grande em relação aos outros valores.<br />

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Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />

17<br />

A tabela 3.16 apresenta a relação entre o módulo de elasticidade e a resistência<br />

média à compressão dos prismas. Por estes valores, descartando o valor da série Q11,<br />

que se afastou bastante da média, a relação fica em torno de 1000, próxima à obtida para<br />

os blocos.<br />

Influência da resistência à compressão do bloco na resistência à compressão do<br />

prisma<br />

A tabela 3.17 apresenta os valores de eficiência obtidos nos ensaios de prismas.<br />

As relações entre f pm e f bm mostradas nesta tabela diferem bastante dos valores<br />

esperados nos ensaios. Para a previsão teórica da resistência à compressão dos prismas,<br />

utilizou-se a relação de 0,80, assumida com no valor médio obtido nos ensaios em<br />

prismas de blocos de concreto realizados por ALY & SABBATINI (1994).<br />

OLIVEIRA (1997) alcançou em seus ensaios com prismas utilizando dois blocos<br />

de 4,5 MPa uma eficiência de 0,87.<br />

Atribuíram-se os baixos valores de eficiência alcançados à baixa aderência entre<br />

bloco e a argamassa.<br />

Tabela 3.17 - Relação entre resistência à compressão do prisma e dos blocos (EP1)<br />

Série de f pm (A l ) f pm (A b ) f bm (A l ) f bm (A b ) Eficiência<br />

Prisma (Mpa) (MPa) (MPa) (MPa) f pm / f bm<br />

P11 5,42 2,98 17,15 9,43 0,32<br />

P12 4,61 2,54 17,15 9,43 0,27<br />

P21 13,05 7,18 41,00 22,55 0,32<br />

P22 12,83 7,06 41,00 22,55 0,31<br />

Q11 8,48 4,67 17,15 9,43 0,49<br />

Q12 7,56 4,16 17,15 9,43 0,44<br />

Q21 15,09 8,30 41,00 22,55 0,37<br />

Q22 11,47 6,31 41,00 22,55 0,28<br />

Ensaios Finais<br />

Na tabela 3.18 são apresentados os valores de cargas de ruptura previstos<br />

teoricamente e os obtidos nas séries ensaiadas, a diferença entre estes valores, em<br />

relação aos previstos teoricamente, além de suas correspondentes resistências à<br />

compressão, calculada em relação à área bruta dos blocos.<br />

Para a previsão teórica da resistência à compressão dos prismas, utilizou-se a<br />

relação de 0,80, assumida com base no valor médio obtido nos ensaios em prismas de<br />

blocos de concreto realizados por ALY & SABBATINI (1994).<br />

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18<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

Tabela 3.18 - Resistência à compressão dos prismas (EF)<br />

Série F rup,prevista F rup,ensaio Diferença Resistência média à<br />

compressão<br />

Correspondente (kN) (kN) (%) f pm (MPa) S d (Mpa) CV (%)<br />

PRB1A1E y 422 437 3,6 7,96 0,67 8,39<br />

PRB1A1E x 422 377 -10,7 6,89 0,89 12,01<br />

PRB2A1E Y 1001 459 -54,2 7,75 0,78 10,03<br />

PRB2A1E X 1001 574 -42,7 10,48 1,37 12,74<br />

PRB1A2E Y 422 433 2,6 7,93 0,85 10,77<br />

PRB1A2E X 422 388 -8,1 7,07 0,84 11,91<br />

PRB2A2E y 1001 507 -49,4 9,22 1,23 13,38<br />

PRB2A2E x 1001 491 -51,0 9,44 1,46 15,44<br />

* Resistência do prisma na área bruta.<br />

Os valores apresentados na tabela acima mostram as resistências médias à<br />

compressão dos 6 prismas de cada série de paredes (2 prismas para cada parede).<br />

As séries moldadas com blocos do tipo 1 apresentaram variações de resistência à<br />

compressão desprezíveis ao variar os tipos de argamassa utilizados. Porém, pode-se<br />

perceber que os valores de resistência à compressão obtidos durante os ensaios finais<br />

distanciaram-se muito dos valores previstos teoricamente para os prismas que utilizaram<br />

o bloco do tipo 2. Esta ocorrência pode ter como motivo o uso de blocos de resistência à<br />

compressão muito elevada se comparada à resistência à compressão da argamassa.<br />

Desta forma, o esmagamento da argamassa ocorreu muito precocemente, fato este<br />

observado durante os ensaios. Com isso, comprova-se a observação de DRYSDALE et<br />

al. (1994), a respeito do aumento da influência da resistência à compressão da<br />

argamassa na resistência à compressão da alvenaria conforme se aumenta a resistência<br />

da unidade.<br />

Tabela 3.19 - Módulo de elasticidade dos prismas (EF)<br />

Série F pm Módulo de Elasticidade<br />

Correspondente (MPa) E pm (MPa) S d CV (%)<br />

(MPa)<br />

PRB1A2E y 7,74 6183 501 8,10<br />

PRB2A2E y 9,98 4870 487 10,00<br />

* Resistência do prisma na área bruta.<br />

Para estes ensaios, os valores médios de módulos de elasticidade dos prismas<br />

também apresentaram baixos coeficientes de variação. Vale lembrar que foram<br />

descartados os resultados que se distanciaram muito dos demais.<br />

A determinação do módulo de elasticidade foi realizada em apenas 3 prismas<br />

correspondentes a cada tipo de bloco estudado. Desta forma, procurou-se analisar os<br />

módulos de elasticidade das duas séries em que foram utilizadas duas resistências<br />

distintas de blocos, totalizando 6 prismas ensaiados.<br />

Observou-se que os prismas com resistência de blocos maiores tiveram seu<br />

módulo de elasticidade menor ao compará-los com os de menor resistência. Isto<br />

contradiz o que era esperado, partindo da hipótese de que resistências maiores tendem a<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />

19<br />

produzir um conjunto mais rígido, ou seja, com módulo de elasticidade mais elevado.<br />

Com isso, os resultados indicaram uma maior deformabilidade ao utilizar o bloco de<br />

maior resistência. Isto pode ter ocorrido pelo fato de ter sido realizado o ensaio usando a<br />

argamassa do tipo 2, que apresentou resistências de prismas bem inferiores à esperada<br />

quando combinada com o bloco do tipo 2, resultando numa ruptura por esmagamento da<br />

argamassa. Dessa forma, o módulo de elasticidade menor para esta série indica a<br />

deformabilidade da parede levando à ruptura por esmagamento da argamassa, enquanto<br />

a série PRB1A2Ey indica a deformabilidade da parede levando à ruptura por tração do<br />

bloco.<br />

Tabela 3.20 - Relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão dos prismas (EF)<br />

Série de prisma E pm /f pm S d CV (%)<br />

B1A2E y 789 18,88 2,27<br />

B2A2E y 489 57,89 11,84<br />

A relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão média dos<br />

prismas, mostrada através da tabela 3.22, mostra que, provavelmente, a baixa resistência<br />

à compressão da argamassa em relação ao bloco tenha afetado o comportamento do<br />

conjunto.<br />

Influência da resistência à compressão do bloco na resistência à compressão do<br />

prisma<br />

Os valores de eficiência obtidos nos ensaios de prismas são apresentados na<br />

tabela 3.21.<br />

Tabela 3.21- Relação entre resistência à compressão do prisma e dos blocos (EF)<br />

Série f pm (A b ) f bm (A b ) Eficiência<br />

Correspondente (Mpa) (MPa) f pm /f bm<br />

PRB1A1E y 7,96 10,80 0,74<br />

PRB1A1E x 6,89 10,80 0,64<br />

PRB2A1E Y 7,75 22,92 0,34<br />

PRB2A1E X 10,48 22,92 0,46<br />

PRB1A2E Y 7,93 10,80 0,73<br />

PRB1A2E X 7,07 10,80 0,66<br />

PRB2A2E y 9,22 22,92 0,40<br />

PRB2A2E x 9,44 22,92 0,41<br />

As eficiências obtidas através dos ensaios de prismas aproximaram do valor 0,70<br />

quando usados prismas com blocos do tipo B1 e 0,40 quando usados blocos do tipo B2.<br />

Com isso, pode-se comprovar que para o primeiro caso os valores estão 14% abaixo da<br />

média obtida por ALY & SABBATINI (1994). No segundo caso o valor cai muito,<br />

indicando inadequação da argamassa para o bloco usado.<br />

O uso da argamassa de menor resistência à compressão teve pouquíssima<br />

interferência nos valores de resistências à compressão dos prismas, no caso do bloco<br />

B1, concordando com a consideração feita por ROMAGNA (2000). Esse autor afirma<br />

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20<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

não haver influência da resistência à compressão da argamassa na resistência à<br />

compressão do prisma para blocos de baixa resistência.<br />

3.4. Paredinhas<br />

3.4.1. Resistência à compressão<br />

Os valores médios de força de compressão de ruptura prevista teoricamente e os<br />

alcançados nos ensaios, a diferença entre estes valores, em relação aos estimados, e a<br />

resistência média à compressão obtida em função da área bruta das paredinhas podem<br />

ser encontrados na tabela 3.22.<br />

Tabela 3.22 - Resistência à compressão das paredinhas (EF)<br />

Série F rup,prevista F rup,ensaio Diferença Resistência média à compressão<br />

Correspondente (kN) (kN) (%) f pam * (MPa) S d CV (%)<br />

(MPa)<br />

PAB1A1E y 669 550 -17,8 4,97 0,35 7,12<br />

PAB1A1E x 335 238 -<strong>29</strong>,0 2,16 0,14 6,48<br />

PAB2A1E Y 1420 978 -31,1 8,84 0,96 10,89<br />

PAB2A1E X 710 576 -18,9 5,20 0,60 11,53<br />

PAB1A2E Y 669 456 -31,8 4,12 0,39 9,42<br />

PAB1A2E X 335 222 -33,7 2,01 0,06 2,99<br />

PAB2A2E y 1420 625** -56,0 5,65 - -<br />

PAB2A2E x 710 427 -39,9 3,38 0,35 10,45<br />

* Resistência do prisma na área bruta;<br />

** Nesta série não foi possível obter valores médios devido à ruptura de duas paredinhas<br />

durante o transporte.<br />

A previsão teórica da resistência à compressão das paredinhas ensaiadas com<br />

carregamento na direção Y foi de 0,56.f bm (0,7.f pm ), com base nos resultados médios de<br />

eficiência obtidos nos ensaios de ALY & SABBATINI (1994). Para as paredinhas com<br />

carregamento na direção X, admitiu-se que esse valor cairia pela metade, ou seja,<br />

0,28.f bm .<br />

Pode-se observar a existência de grandes diferenças entre as resistências à<br />

compressão previstas e as obtidas experimentalmente.<br />

A tabela 3.23 foi elaborada com o objetivo de verificar o fator de eficiência em<br />

paredinhas quando carregadas na direção Y e X, alcançando valores próximos de 0,40 e<br />

0,20, respectivamente, contra 0,56 e 0,28, utilizados para estimar as resistências à<br />

compressão.<br />

Ao comparar as paredinhas moldadas com blocos do tipo 1 (4,5 MPa) ensaiadas<br />

na direção Y e X, verificou-se diminuições de resistência de 17% e 7%,<br />

respectivamente, ao passar da argamassa do tipo 1 para a do tipo 2. Para as paredinhas<br />

de 12 MPa, esta diferença foi de 35% para as paredinhas ensaiadas na direção X.<br />

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Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />

21<br />

Tabela 3.23 - Relação entre resistência à compressão da paredinha e dos blocos (EF)<br />

Série f pam (A b ) f bm (A b ) Eficiência<br />

Correspondente (MPa) (MPa) f pam /f bm<br />

PAB1A1E y 4,97 10,80 0,46<br />

PAB1A1E x 2,16 10,80 0,20<br />

PAB2A1E Y 8,84 22,92 0,39<br />

PAB2A1E X 5,20 22,92 0,23<br />

PAB1A2E Y 4,12 10,80 0,38<br />

PAB1A2E X 2,01 10,80 0,19<br />

PAB2A2E y 5,65 22,92 0,25<br />

PAB2A2E x 3,38 22,92 0,15<br />

Gráfico Eficiência x Resistência à compressão da paredinha<br />

0,6<br />

0,5<br />

Eficiência da paredinha<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

Bloco B1<br />

Bloco B2<br />

0,1<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />

f pa (MPa)<br />

Figura 3.2 - Gráfico de eficiência x resistência à compressão da paredinha (EF).<br />

A figura 3.2 apresenta um gráfico com a reta obtida a partir dos resultados de<br />

resistência à compressão das paredinhas ensaiada na direção Y e suas correspondentes<br />

ensaiadas na direção X, mostrando uma certa tendência destas últimas resistirem a cerca<br />

de 50% dos esforços suportados pelas primeiras.<br />

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22<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

Resistência à compressão da paredinha em Y x Resistência à compressão da paredinha em X<br />

10<br />

9<br />

8<br />

7<br />

f pam em Y (MPa)<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />

f pam em X (MPa)<br />

Figura 3.3 - Gráfico de resistência à compressão da paredinha ensaiada em Y x resistência à<br />

compressão da paredinha ensaiada em X (EF).<br />

3.4.2. Módulo de elasticidade<br />

O módulo de elasticidade das paredinhas foi obtido da mesma maneira descrita<br />

para os demais ensaios, ou seja, através da inclinação da reta formada entre os pontos de<br />

5 a 33% da tensão de ruptura, a partir da equação de cada curva ajustada, obtida com os<br />

valores experimentais médios de tensão x deformação.<br />

Tabela 3.24 - Módulo de elasticidade das paredinhas (EF)<br />

Séries de paredes f pam Módulo de Elasticidade *<br />

Correspondentes (Mpa) E pam (Mpa) S d (Mpa) CV (%)<br />

PAB1A1E y 4,97 6383 160,62 2,52<br />

PAB1A1E x 2,16 3060 40,72 1,33<br />

PAB2A1E Y 8,84 9128 1105,50 12,11<br />

PAB2A1E X 5,20 8062 566,92 7,03<br />

PAB1A2E Y 4,12 6440 147,96 2,30<br />

PAB1A2E X 2,01 3125 173,94 5,57<br />

PAB2A2E y 3,86 8693** - -<br />

PAB2A2E x 3,38 6966 2552,04 36,64<br />

* Resistência do prisma na área bruta<br />

** Nesta série não foi possível obter valores médios devido a ruptura de duas paredinhas<br />

durante o transporte.<br />

Analisando os resultados em paredinhas moldadas com blocos do tipo 1 é possível<br />

perceber que os módulos de elasticidade praticamente não sofreram aumentos<br />

significativos com a mudança do tipo de argamassa utilizada. Já nas paredinhas onde<br />

foram usados blocos do tipo B2, esta variação foi de 13%. Isto pode comprovar o que já<br />

concluído por FRANCO (1987) em seu trabalho experimental, que a diferença entre os<br />

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Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />

23<br />

módulos de elasticidade se torna cada vez mais sensível com a alteração dos traços da<br />

argamassa, conforme maior o módulo de elasticidade da alvenaria.<br />

Entretanto, ao comparar os módulos de elasticidade obtidos nas séries de<br />

paredinhas com argamassa do tipo 1, observaram-se aumentos de 43 e 164% nas<br />

direções de ensaio Y e X, respectivamente, ao passar de blocos do tipo 1 para o tipo 2.<br />

Ao utilizar a argamassa do tipo 2, esse aumento foi de 123% para a parede ensaiada na<br />

direção X.<br />

As séries em que foram utilizados blocos do tipo 1 com as argamassas tanto do tipo<br />

1 quanto do tipo 2, sofreram redução média de 52% ao passar a direção de ensaio de X<br />

para Y. Já para a série em que se utilizou o bloco do tipo 2 e argamassa do tipo 1 esta<br />

redução foi de 12%.<br />

Tabela 3.25 - Comparação do módulo de elasticidade entre a expressão proposta por SHALIN<br />

(1971) e os obtidas no ensaio (EF)<br />

Séries de paredes E am<br />

*<br />

E bm E pam<br />

*<br />

E pam<br />

Correspondentes (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)<br />

PAB1A1E y 9796 6228 6380 6383<br />

PAB2A1E Y 9796 7554 7778 9128<br />

PAB1A2E Y 7598 6228 6425 6440<br />

PAB2A2E y 7598 7554 6425 8693**<br />

* Resistência do bloco na área bruta<br />

** Nesta série não foi possível obter valores médios devido a ruptura de duas paredinhas<br />

durante o transporte.<br />

A partir dos valores de módulo de elasticidade médios da argamassa e do bloco<br />

calculadas a partir dos ensaios, montou-se a tabela 3.28 para que fosse possível<br />

comparar os resultados teóricos com o uso da equação proposta por SHALIN (1971) e<br />

os módulos obtidos nos ensaios de paredinhas. Com isso, verificou-se grande<br />

proximidade dos resultados estimados com os experimentais para os blocos do tipo 1,<br />

havendo uma variação de 17% para a série de blocos do tipo 2.<br />

Módulo de elasticidade da paredinha em Y x Módulo de elasticidade da paredinha em X<br />

10000<br />

9000<br />

8000<br />

7000<br />

E pam em Y (MPa)<br />

6000<br />

5000<br />

4000<br />

3000<br />

2000<br />

1000<br />

0<br />

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000<br />

E pam em X (MPa)<br />

Figura 3.4 - Gráfico de módulo de elasticidade da paredinha ensaiada em Y x módulo de<br />

elasticidade da paredinha ensaiada em X (EF).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


24<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

O gráfico 3.4 mostra a relação entre o módulo de elasticidade da paredinha<br />

ensaiada na direção Y em função da sua correspondente ensaiada na direção X. Para as<br />

paredinhas com blocos do tipo 1 a relação entre E pam em X tende a 50% do valor de<br />

E pam em Y.<br />

3.4.3. Relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão da<br />

paredinha<br />

A figura 3.5 mostra um gráfico que relaciona o módulo de elasticidade da<br />

paredinha com a sua resistência à compressão, onde foram consideradas as paredinhas<br />

ensaiadas nas direções X e Y em conjunto. Esta opção foi adotada após verificar que a<br />

separação acarretaria pouca diferença em relação à média.<br />

Gráfico de Módulo de Elasticidade x Resistência à compressão da paredinha<br />

12000<br />

10000<br />

8000<br />

E pa (MPa)<br />

6000<br />

4000<br />

Bloco B1<br />

Bloco B2<br />

Li (Bl B1)<br />

2000<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />

f pa (MPa)<br />

Figura 3.5 - Gráfico Módulo de elasticidade x Resistência à compressão da paredinha (EF).<br />

Através deste gráfico é possível perceber que as paredinhas com blocos dos tipos<br />

1 e 2 apresentaram a maioria dos seus valores de resistência à compressão próximos (na<br />

faixa entre 3,0 e 6,0 MPa), porém com um certo aumento na sua rigidez.<br />

Na média, a razão entre o módulo de elasticidade da paredinha e sua resistência<br />

à compressão alcançou o valor de 1500.<br />

A figura 3.26 apresenta um gráfico que relaciona a razão módulo de<br />

elasticidade/resistência à compressão da paredinha com a sua resistência à compressão.<br />

Através deste gráfico, pode-se perceber que as paredinhas com blocos do tipo 2<br />

apresentaram relações entre E pa /f pa maiores quando comparados às que utilizaram<br />

blocos do tipo 1.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />

25<br />

Tabela 3.26 - Relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão das paredinhas<br />

(EF)<br />

Série de Prisma E pam /f pam S d CV (%)<br />

PAB1A1E y 1236 3,33 0,27<br />

PAB1A1E x 1469 84,84 5,77<br />

PAB2A1E Y 1272 80,92 6,36<br />

PAB2A1E X 1569 27,54 1,76<br />

PAB1A2E Y 1525 132,39 8,68<br />

PAB1A2E X 1573 145,47 9,25<br />

PAB2A2E y 1539* - -<br />

PAB2A2E x 1735 119,11 6,87<br />

Média 1501 352,85 23,51<br />

* Resultado descartado<br />

Gráfico de E pa /f pa x Resistência à compressão da paredinha<br />

2000<br />

1800<br />

1600<br />

1400<br />

1200<br />

E pa /f pa<br />

1000<br />

800<br />

600<br />

400<br />

200<br />

Bloco B1<br />

Bloco B2<br />

Li (Bl B1)<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />

f pa (MPa)<br />

Figura 3.6 - Gráfico E pa /f pa x Resistência à compressão da paredinha (EF)<br />

3.4.4. Relação entre resistência à compressão do prisma e da paredinha<br />

A figura 3.27 mostra os resultados das relações entre as resistências à compressão<br />

dos prismas e a resistência à compressão das paredinhas.<br />

A relação média das resistências entre prismas e paredinhas nas direções X e Y foi<br />

de 0,58 e 0,36, respectivamente.<br />

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26<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

Tabela 3.27 - Relação entre a resistências à compressão dos prismas e das paredinhas (EF)<br />

Série f prm (A b ) f pam (A b ) f pam /f prm<br />

Correspondente (MPa) (MPa)<br />

PAB1A1E y 7,96 4,97 0,62<br />

PAB1A1E x 6,89 2,16 0,31<br />

PAB2A1E Y 7,75 8,84 1,14*<br />

PAB2A1E X 10,48 5,20 0,50<br />

PAB1A2E Y 7,93 4,12 0,51<br />

PAB1A2E X 7,07 2,01 0,28<br />

PAB2A2E y 9,22 5,65 0,61<br />

PAB2A2E x 9,44 3,38 0,36<br />

* Resultado descartado<br />

Coeficiente de Poisson<br />

Notou-se uma grande dificuldade em calcular o coeficiente de Poisson a partir<br />

dos resultados obtidos experimentalmente. Esta dificuldade deveu-se ao fato da<br />

ocorrência de grandes oscilações nos resultados experimentais, principalmente sob<br />

baixas tensões, que pode ter tido como causa a grande variabilidade das medidas de<br />

ensaio aliada à variabilidade intrínseca do material. Além disso, a grandeza das medidas<br />

(pequenos valores de leitura) também dificultou sua obtenção, sendo desta forma<br />

bastante influenciada por imprecisões de medida ligadas ao ensaio.<br />

3.4.5. Modo de ruptura das paredinhas<br />

De um modo geral, as paredinhas ensaiadas na direção Y apresentaram<br />

propagação de fissuras verticais, predominantemente através das juntas verticais na<br />

região central das paredes, sendo algumas desviadas pelas faces dos blocos. Observouse<br />

também a presença de fissuras verticais ao longo dos septos laterais das paredinhas.<br />

A ruptura ocorreu, na maioria das vezes, por tração transversal dos blocos.<br />

Porém, para as paredinhas que utilizaram blocos do tipo 2, as fissurações descritas<br />

acima ocorreram de maneira bem menos pronunciada, prevalecendo a ruptura por<br />

esmagamento da argamassa.<br />

As paredinhas ensaiadas na direção X apresentaram fissuração dos septos<br />

transversais ao longo do comprimento da parede dos blocos, tanto no topo quanto na<br />

base das paredinhas, conforme mostra a figura 3.7. O início da fissuração visível deu-se<br />

normalmente em carregamentos com valores de cerca de 60% da carga de ruptura.<br />

Nesse momento ouviu-se um estalo que se repetiu mais tarde por cerca de duas ou três<br />

vezes, o que caracterizava a ruptura dos septos transversais dos blocos, provavelmente<br />

pela presença de concentração de tensões nessa região. Também observou-se a presença<br />

de fissuras nos septos longitudinais dos blocos próximos ao topo da paredinha (ver<br />

figura 3.7a). Na maioria das vezes a ruptura ocorreu posteriormente ao descolamento<br />

das fiadas dos blocos. (fig 3.7b).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />

27<br />

Figura 3.7 - Detalhe da fissuração ao longo dos septos laterais para a paredinha com<br />

carregamento na direção X (EF).<br />

Figura 3.8 - Detalhe da fissuração ao longo dos septos laterais para a paredinha com<br />

carregamento na direção X (EF).<br />

4 CONCLUSÕES<br />

Com base na análise experimental e na revisão bibliográfica, pode-se chegar às<br />

seguintes conclusões:<br />

A utilização das placas de fibra de madeira no capeamento dos corpos de prova<br />

mostrou-se bastante eficiente, pois permitiu o esmagamento da placa do capeamento,<br />

provocando o aparecimento de tensões laterais e o preenchimento dos vazios,<br />

acomodando as deformações iniciais. Entretanto, a comparação entre ensaios realizados<br />

com diferentes tipos de capeamento deve ser feita de maneira criteriosa, já que esta<br />

mudança pode alterar os valores de resistência e deformabilidade.<br />

O fato de não haver nenhum método de ensaio padronizado que possa ser<br />

utilizado para determinar o módulo de elasticidade da alvenaria, faz com que os valores<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


28<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

obtidos sejam afetados por diversos fatores, tais como: velocidade e intensidade de<br />

carregamento, dimensões dos corpos de prova. Dessa forma, a comparação direta dos<br />

resultados de deformabilidade em corpos de prova ensaiados por outros pesquisadores<br />

torna-se inviável, ressaltando a necessidade de uma norma brasileira específica sobre o<br />

assunto.<br />

Não se pode dizer que foram obtidas correlações, no que diz respeito à<br />

deformabilidade e às resistências à compressão dos corpos de prova, pela insuficiência<br />

de números de corpos de prova ensaiados e o grande número de variáveis envolvidas.<br />

Porém, pode-se afirmar que foram verificadas algumas importantes tendências de<br />

comportamento estruturais dos componentes e do conjunto envolvido neste estudo.<br />

Os valores de ruptura estimados teoricamente foram superiores aos obtidos<br />

através dos ensaios realizados na maioria dos corpos de prova.<br />

O ajuste da curva tensão-deformação através de uma parábola, até níveis de<br />

tensão na ordem de 60 a 70% da carga de ruptura, apresentou coeficientes de ajuste<br />

bastante satisfatórios para os valores obtidos experimentalmente.<br />

Os blocos alcançaram aumentos de até 150% nos valores de resistência à<br />

compressão média se comparados às resistências nominais indicadas pelo fabricante,<br />

notando-se que, para os blocos estudados, os valores característicos determinantes das<br />

classes de resistência dos blocos foram obtidos a partir de ensaios realizados aos 7 dias.<br />

O método para determinação dos valores de módulo de elasticidade do bloco a<br />

partir do ensaio de prisma mostrou-se bastante eficiente, já que, na maioria dos casos, os<br />

valores de relação entre E bm /f bm estavam dentro das faixas propostas pelos autores<br />

DRYSDALE et al. (1994) e SAHLIN (1971). Assim, acredita-se que a diminuição da<br />

influência da restrição lateral da base da máquina de ensaio, conseguida a partir da<br />

medida de deformações no bloco intermediário do prisma de três blocos, contribuiu de<br />

maneira significativa para a obtenção do módulo de elasticidade do bloco (E b ).<br />

Outra conclusão que pode ser obtida foi que a estimativa dos E bm feita através da<br />

utilização das expressões apresentadas pelo CEB-FIP Mode Code (1990) e pelo ACI –<br />

Building Code 318 (1990), para estimar o módulo de elasticidade do concreto, pode<br />

introduzir valores muito distantes dos reais. Dessa forma, é necessário que seja feito um<br />

estudo mais aprofundado para procurar obter expressões que representem o<br />

comportamento dos blocos utilizados na alvenaria estrutural de maneira mais realista.<br />

O papel da absorção inicial do bloco é importante, pois além de ajudar na<br />

produção de aderência, ajuda absorvendo água em excesso da argamassa, diminuindo a<br />

relação água/cimento e incrementando a resistência à compressão. O excesso é<br />

prejudicial, pois produz o efeito contrário, roubando água necessária para que ocorra a<br />

hidratação. Esta situação foi notada quando utilizadas as argamassas industrializadas<br />

para moldagem dos prismas dos ensaios-piloto 1.<br />

A afirmação feita por diversos autores citados durante este trabalho sobre a<br />

resistência à compressão depender principalmente da resistência e característica do<br />

bloco utilizado e em bem menor proporção das características da argamassa confirmouse<br />

neste trabalho experimental para blocos de baixa resistência à compressão. Assim,<br />

para esta situação deve-se escolher um tipo de argamassa com traço adequado, de modo<br />

a otimizar outras propriedades da argamassa, tais como trabalhabilidade e capacidade de<br />

absorver deformações. Porém, ao serem utilizados blocos de resistência à compressão<br />

elevada, deve ser tomado cuidado especial na escolha da argamassa, para que a mesma<br />

não interfira na resistência à compressão da alvenaria.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />

<strong>29</strong><br />

A utilização da argamassa industrializada na moldagem dos prismas não<br />

permitiu que os mesmos apresentassem o comportamento esperado durante os ensaios,<br />

provavelmente pelo comprometimento da resistência de aderência entre bloco e<br />

argamassa.<br />

A diferença de resistências em paredinhas carregadas nas duas direções (paralela<br />

e perpendicular à junta de assentamento) era esperada, já que as próprias unidades<br />

apresentam desigualdades geométricas em direções distintas. Dessa forma, se os blocos<br />

apresentam diferenças de resistência característica nas direções ortogonais, o mesmo<br />

deve ser esperado quando o conjunto bloco-argamassa é analisado.<br />

As medidas do coeficiente de Poisson não foram consideradas confiáveis devido<br />

à grande dispersão dos valores obtidos, o que comprova a dificuldade de obtenção deste<br />

parâmetro.<br />

Os resultados obtidos reforçam a idéia de que deve ser realizado um estudo<br />

mais aprofundado com os materiais utilizados no Brasil, com o objetivo de melhorar a<br />

segurança e a qualidade da alvenaria estrutural.<br />

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ALY, V. L. C.; SABBATINI, F. H. (1992). Determinação de correlações de resistência<br />

mecânica de paredes de alvenaria estrutural de blocos de concreto. In:<br />

INTERNATIONAL SEMINAR ON STRUCTURAL MASONRY FOR<br />

DEVELOPING COUNTRIES, 5., Florianópolis, SC. Proceedings… Florianópolis.<br />

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requirements for masonry structures. Detroid, Michigan.<br />

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82 – Standard test method for young’s modulus, tangent modulus, and chord<br />

modulus. Philadelphia. Annual book of ASTM standars.<br />

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masonry prisms. Philadelphia. Annual book of ASTM standars<br />

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vazado de concreto simples para alvenaria com função estrutural – Método de<br />

ensaio. Rio de Janeiro.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1982). NBR 7.215 –<br />

Ensaio de cimento Portland – Método de ensaio. Rio de Janeiro.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1983). NBR 8.215 -<br />

Prismas de blocos vazados de concreto simples para alvenaria estrutural - Preparo<br />

e ensaio à compressão. Rio de Janeiro.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


30<br />

Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1984). NBR 8522–<br />

Concreto – Determinação do módulo de deformação estática e diagrama tensãodeformação.<br />

Rio de Janeiro.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1989). NBR 13.279 –<br />

Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – Determinação<br />

da resistência à compressão - Método de ensaio. Rio de Janeiro.<br />

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Structural use of masonry. Part 1. Unreinforced masonry. Londres, Inglaterra.<br />

COMITÉ EURO-INTERNATIONAL DU BETÓN (1990). CEB-FIP model code<br />

1990. Bulletin d’Information.<br />

DRYSDALE, R. G.; HAMID, A. A.; BAKER, L. R. (1994). Masonry structures:<br />

behavior and design. Enhllewood Cliffs, New Jersey: Prentice Hall.<br />

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bloco-argamassa. São <strong>Carlos</strong>. Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong>. Relatório final de<br />

Iniciação Científica – PIBIC/CNPq/EESC/<strong>USP</strong>.<br />

FRANCO, L. S. (1987). Desempenho estrutural do elemento parede de alvenaria<br />

empregado na alvenaria estrutural não armada, quando submetido a esforços de<br />

compressão. São Paulo. 136p. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica -<br />

Universidade de São Paulo.<br />

JUSTE, A. E. (2001). Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de<br />

blocos de concreto submetida a esforços de compressão. São <strong>Carlos</strong>. Dissertação<br />

(Mestrado) – Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />

OLIVEIRA, F. (1997). Reabilitação de estruturas de alvenaria pela aplicação de<br />

revestimentos resistentes de argamassa armada. Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong><br />

- Universidade de São Paulo. Relatório parcial de doutorado.<br />

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concreto grauteados e não grauteados. Florianópolis. 193 p. Dissertação (Mestrado) -<br />

Universidade Federal de Santa Catarina.<br />

SAHLIN, S. (1971). Structural masony. Englewood Cliffs: Prentice Hall.<br />

SOLORZANO, M. G. P. (1994). Características e desempenho de juntas de<br />

argamassa na alvenaria estrutural de blocos de concreto. São Paulo. 203 p.<br />

Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica - Universidade de São Paulo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>


ISSN 1809-5860<br />

RIGIDEZ DE NÓ DE PÓRTICO EM ESTRUTURAS<br />

DE SEÇÃO COMPOSTA PREGADA UTILIZANDO<br />

CHAPAS DE COMPENSADO<br />

Guilherme Corrêa Stamato 1 & Carlito Calil Junior 2<br />

Resumo<br />

As estruturas de madeira compostas com alma em compensado já vêm sendo<br />

amplamente utilizadas em diversos países onde as estruturas de madeira estão<br />

tecnologicamente mais desenvolvidas, oferecendo aos engenheiros civis mais uma<br />

opção de sistema construtivo eficiente, seguro e duradouro. Nesse trabalho são<br />

apresentados estudos teóricos e experimentais referentes às ligações em nó de pórtico<br />

em estruturas de seção composta utilizando compensado nas almas, e em especial as<br />

estruturas cuja ligação alma mesa é feita por pinos metálicos. O objetivo desse<br />

trabalho é desenvolver critérios de dimensionamento para determinar a rigidez da<br />

ligação de nó de pórtico para complementar o dimensionamento de pórticos de seção<br />

composta. Os ensaios de rigidez de nó de pórtico de seção composta permitiram o<br />

desenvolvimento de metodologia para o cálculo da rigidez dessas ligações, visto que<br />

não existe formulação equivalente na bibliografia internacional. Conclui-se que as<br />

ligações de nó de pórtico com ligação alma/mesa pregada podem ser consideradas<br />

rígidas na maioria dos casos estudados, apresentando R M ≥0,85.<br />

Palavras chave: estruturas de madeira; ligações; rigidez; seções compostas;<br />

normalização.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

As estruturas compostas utilizando compensado nas almas representam um<br />

sistema construtivo eficiente e seguro e cujos produtos utilizados, ou seja, madeira<br />

maciça, compensado e pregos ou adesivo, são encontrados em todas as regiões do<br />

país, o que torna as estruturas compostas com alma em compensado uma excelente<br />

opção para a modernização das estruturas de madeira no Brasil.<br />

Devido ao desenvolvimento de novos materiais, sistemas construtivos e<br />

sistemas estruturais, os estudos das ligações entre os elementos na estrutura têm<br />

sido importante para o aperfeiçoamento dos critérios de dimensionamento, já que a<br />

transmissão dos esforços e as deformações na estrutura dependem do<br />

comportamento dessas ligações.<br />

1 Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, gstamato@itapeva.unesp.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, calil@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


32<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />

As ligações de nó de pórtico ainda precisam ser bastante estudadas, já que<br />

esse sistema construtivo tem grande potencial para a construção de pórticos<br />

industriais, rurais ou residenciais. Para o dimensionamento desses pórticos é<br />

importante a escolha do modelo estático (bi-articulado, tri-articulado, etc.), e para a<br />

correta análise da distribuição das tensões pela estrutura é importante conhecer a<br />

rigidez de cada nó. Além da distribuição de tensões, a rigidez dos nós influencia<br />

também as deformações na estrutura. Assim, o comportamento das ligações de nós<br />

de pórtico é tão importante na análise dos Estados Limites de Utilização quanto dos<br />

Estados Limites Últimos. O estudo da rigidez das ligações vem se intensificando há<br />

algum tempo em todos os tipos de materiais; concreto, aço, madeira maciça, MLC,<br />

etc., porém essa lacuna ainda é muito grande nas estruturas compostas com<br />

compensado mesmo no âmbito internacional, demandando mais estudos a esse<br />

respeito.<br />

Com a evolução dos computadores e das técnicas e programas<br />

computacionais o cálculo dos esforços e deformações tornaram-se mais precisos,<br />

implementando alguns requintes de cálculo que antes eram aproximados devido à<br />

inviabilidade de serem considerados num dimensionamento manual. Com isso tem<br />

sido bastante estudada atualmente a rigidez das ligações de nó de pórtico, que antes<br />

era considerada no cálculo simplesmente como rótula perfeita ou engastamento<br />

perfeito, e que agora já pode ser calculada como semi-rígida, aproximando o cálculo<br />

das tensões com o comportamento real da estrutura. Conhecendo-se melhor a<br />

distribuição das tensões pode-se dimensionar uma estrutura de modo mais<br />

econômico.<br />

Não existem na bibliografia internacional referências a respeito da rigidez de<br />

ligações de nó de pórtico em estruturas compostas. O dimensionamento das ligações<br />

rígidas apresentadas pelo EUROCODE 5, cujo desenvolvimento é apresentado por<br />

RACHER(1995), é baseado na rigidez de ligações entre elementos de seção<br />

retangular maciças. WOODARD(1995) contesta a utilização de critérios baseados em<br />

seção retangulares maciças em seções compostas, visto que a transmissão das<br />

tensões entre elementos numa seção composta é diferente da seção retangular<br />

maciça.<br />

Nesse trabalho (STAMATO, 2002) foram realizados ensaios em corpos de<br />

prova estruturais de nó de pórtico, com ligação alma mesa pregada ou colada, cujos<br />

resultados serviram de base para o desenvolvimento de um método de<br />

dimensionamento de rigidez de nó de pórtico para ligações pregadas, observando-se<br />

as ligações pregadas se mostraram eficiente em comparação com os corpos de prova<br />

colados.<br />

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />

Da pesquisa bibliográfica sobre o compensado pode-se concluir que o<br />

compensado é um derivado da madeira que tem sido largamente utilizado em<br />

estruturas compostas em vários países, apresentando-se como uma possibilidade<br />

interessante para a atualização dos métodos construtivos utilizados no Brasil, tendo<br />

potencial para alavancar a industrialização das estruturas de madeira no país e<br />

fornecer novas alternativas para o setor da construção civil ainda bastante carente.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />

33<br />

O compensado apresenta algumas vantagens em relação à madeira bruta e a<br />

outros materiais, entre essas vantagens pode-se citar: controle de qualidade das<br />

lâminas, evitando nós, falhas e rachaduras e resultando num material mais<br />

homogêneo; possibilidade de produção de elementos compostos de grandes<br />

dimensões a partir de toras de pequenos diâmetros; grande resistência ao<br />

cisalhamento, à compressão e a tração normal (no plano da chapa), devido à<br />

laminação cruzada; trabalhabilidade e; a grande produção dessas chapas no país.<br />

Essas particularidades fazem do compensado um material bastante adequado para a<br />

utilização como almas de vigas compostas. Entre as desvantagens do compensado<br />

pode-se citar: comprimento comercial reduzido (2,44m), que demanda ligação entre<br />

as peças da alma; a falta de classificação das chapas segundo sua resistência,<br />

existindo apenas classificação segundo a aparência das lâminas externas e internas e<br />

o adesivo utilizado; e a existência de muitas empresas produtoras de compensado<br />

que não seguem as recomendações e controles de qualidades previstos pelas normas<br />

ABNT. Isso pode ser resolvido com a classificação mecânica das chapas de<br />

compensado.<br />

Dezenas de estruturas utilizando compensado foram construídas entre as<br />

décadas de 40 e 60 no Brasil, e muitas dessas estruturas ainda estão em operação, o<br />

que comprova a durabilidade do compensado e a aplicabilidade desse sistema<br />

construtivo no país. A construção de estruturas modernas, versáteis e seguras<br />

utilizando seção composta com alma em compensado é facilmente observada em<br />

países como Alemanha, Finlândia, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos entre<br />

outros que já dominam a tecnologia da construção desse tipo de estrutura. A<br />

existência de indústrias especializadas na produção dessas estruturas mostra a<br />

viabilidade desse sistema e a competitividade deste contra outros materiais. As<br />

figuras 1 e 2 ilustram algumas utilizações do compensado no Brasil e no exterior.<br />

Figura 1 - esq.: Estrutura em pórtico utilizando madeira compensada - fonte: INTERNATIONAL<br />

PANEL&LUMBER (IPL). Dir.: Estrutura em cúpula utilizando madeira compensada - fonte: FPI<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


34<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />

Figura 2 - esq.: Estrutura de residência utilizando madeira compensada - fonte: IPL. Dir.:<br />

Pórtico composto de madeira maciça e almas em compensado construído pela CASEMA em<br />

Guaratinguetá - SP - fonte: do autor.<br />

Uma das principais aplicações das estruturas compostas cm alma em<br />

compensado são os galpões industriais, em pórticos bi-articulado ou tri-articulado. No<br />

dimensionamento dessas estruturas em pórtico, as ligações devem ser consideradas<br />

tanto na análise local quanto na análise global da estrutura. A rigidez das ligações<br />

pode afetar a distribuição de tensões internas da estrutura bem como os<br />

deslocamentos desta. Os critérios de dimensionamento atuais normalmente assumem<br />

que uma ligação é ou engaste perfeito ou rótula perfeita. Segundo STAMATO(1998),<br />

como as deformações por embutimento na madeira produzem grandes deformações<br />

nas ligações, a rigidez da ligação deveria ser considerada no dimensionamento, o que<br />

alteraria os cálculos dos deslocamentos da estrutura e a distribuição de tensões<br />

internas no caso de estruturas hiperestáticas. RACHER (1995) apresenta um estudo<br />

sobre a rigidez de ligação, onde desenvolve os conceitos utilizados pelo EUROCODE<br />

5:1993 no cálculo de estruturas com ligações resistentes ao momento.<br />

A classificação de uma ligação como rígida, semi-rígida ou rotulada esta<br />

apresentada a seguir utilizando como modelo um pórtico com duas ligações (Figura<br />

3a), onde foram desconsideradas as deformações devido aos esforços normais e de<br />

cisalhamento ao longo dos elementos por serem pequenas em relação às<br />

deformações devidas ao embutimento. O momento na ligação para esse pórtico<br />

considerado é dado pelas Equações 1 e 2.<br />

K<br />

r<br />

EI<br />

= βr<br />

(1)<br />

L<br />

M<br />

j<br />

2<br />

q × L 1<br />

= ⋅<br />

(2)<br />

8 H<br />

c 3<br />

1,5 + α +<br />

L β<br />

r<br />

Onde q é a carga uniformemente distribuída aplicada na peça horizontal do<br />

pórtico e α a relação entre os módulos de rigidez da viga e da coluna.<br />

A eficiência da ligação é medida bela razão R M , que relaciona o momento M j<br />

com o momento de uma ligação perfeitamente rígida (K r = ∝). A figura 3b e 3c<br />

apresentam a influência da rigidez da ligação na razão R M para diferentes<br />

configurações de pórticos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />

35<br />

Figura 3 - a) Geometria do pórtico e b) e c) variações da eficiência das ligações.<br />

Uma diminuição substancial do momento na ligação ocorre quando o<br />

coeficiente de rigidez β r é menor que 6 (figura 3a e 3b). Considerando essa variação,<br />

a ligação pode ser considerada como rígida nos cálculos quando R M ≥ 0,85, o que<br />

requer valores de β r superiores a 8 e 12. No outro extremo, as ligações podem ser<br />

consideradas rotuladas se R M ≤ 0,20, relativo a um valor médio de β r = 0,5. Em todos<br />

os outros casos a estrutura deve ser dimensionada considerando ligações semirígidas.<br />

Considerando-se efeito de segunda ordem, essa classificação é relativa a<br />

estruturas contraventadas. Para estruturas não contraventadas, EC5 especifica um<br />

valor mínimo de 25 para β r para se considerar a ligação como rígida. (RACHER,1995)<br />

Além disso, a consideração de ligações semi-rígidas permite a redistribuição<br />

do momento na estrutura. Relacionado com a razão L/H c do pórtico e com o<br />

coeficiente β r , os valores relativos ao momento na ligação e a ao momento no meio do<br />

vão podem ser definidos para propiciar um dimensionamento mais econômico.<br />

RACHER apresenta um desenvolvimento das equações utilizadas pelo<br />

EUROCODE 5 para o dimensionamento de ligações rígidas. Nesse desenvolvimento<br />

RACHER(1995) baseia-se no comportamento de uma ligação entre peças de seção<br />

maciça retangular. Aplicável para estruturas em madeira maciça, madeira laminada<br />

colada e LVL.<br />

Para a análise da ligação, as peças de madeira devem ser suficientemente<br />

rígidas e resistentes para que suas deformações não afetem a análise das<br />

deformações da ligação. Portanto, a rotação da ligação é o resultado do<br />

deslocamento rotacional ϖ do pino (Figura 4c). Definindo o centro de rotação C como<br />

o centro geométrico da ligação, a condição de equilíbrio é dada pela Equação 3.<br />

M<br />

=<br />

n<br />

∑<br />

j=<br />

1<br />

F M<br />

r<br />

, j j<br />

(3)<br />

Onde F M,j é a carga no conector j, e r j sua distância ao centro de rotação.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


36<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />

Figura 4 - Ligações resistentes ao momento. a) distribuição circular dos pinos metálicos. b)<br />

distribuição por linhas e colunas; c) definições geométricas e forças nos pinos.<br />

Com seu desenvolvimento, RACHER(1995) afirma que a rigidez rotacional K r<br />

pode ser determinada pela Equação 4:<br />

K<br />

n<br />

2<br />

r<br />

= ∑ K r<br />

j j<br />

j=<br />

1<br />

α<br />

(4)<br />

Onde K αj representa a rigidez ao embutimento na direção α do pino j e r j<br />

representa a distância do pino j ao centro de rotação da peça.<br />

Essas teorias apresentadas por RACHER são baseadas em ligações entre<br />

elementos de seção cheia, como madeira maciça, madeira laminada colada, etc. e<br />

segundo WOODARD(1995) vem sendo utilizadas por calculistas para estruturas<br />

compostas com compensado com ligações pregadas. A utilização desses critérios<br />

desenvolvidos para seção retangular cheia é questionável no caso de seções<br />

compostas, devido principalmente à natureza diferente dos elementos que compõem<br />

a seção e dos mecanismos de transferência de tensão entre esses elementos.<br />

Pesquisa detalhada realizada por WOODARD(1995) em ligações pregadas de nós de<br />

pórtico de estruturas de elementos seção caixão com alma em compensado<br />

confirmaram que as teorias existentes para ligações rígidas em peças maciças não<br />

são aplicáveis para pórticos de seção caixão.<br />

WOODARD(1995) descreve um método de dimensionamento específico para<br />

ligações rígidas ao momento em pórticos de seção composta com almas em<br />

compensado. Segundo ele, as pesquisas com elementos de seção maciça têm se<br />

concentrado na distribuição de tensões na cobrejunta e na quantidade de pregos<br />

necessários para a ligação e a partir desses resultados foram propostos vários<br />

procedimentos de cálculo por Pneuman (1964), Burgess (1970), Batchelar (1982,<br />

1983, 1984), Pierce (1982), Milner (1988), Walford (1988a&b), Bier(1989), Hutchings<br />

(1989) e Kermani&Lee (1991), apud MILNER&WOODARD(1995). Embora<br />

Walford(1988b) e Milner (1988) tenham recomendado seções caixão como alternativa<br />

aos pórticos de viga e coluna maciças, seus respectivos procedimentos de cálculo<br />

estão de acordo somente com seções de laminado colado.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />

37<br />

3 MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Os dispositivos e geometrias dos ensaios de nó de pórtico foram adotados em<br />

função de estudos realizados na bibliografia internacional, tais como: RODD E POPE<br />

(1999) e LEIJTEN et all. (1999), BATCHELAR & HUNT(1991) e WOODARD &<br />

MILNER (1995) entre outros, já que não foi encontrada normalização referente à<br />

esses ensaios. O ensaio de uma ligação, como mostra a Figura 5, é a melhor<br />

configuração de ensaio para a determinação da rigidez do nó, pois apresenta apenas<br />

um ponto onde a rigidez é indeterminada (no modelo em pórtico existem dois pontos).<br />

30<br />

122<br />

P<br />

Figura 5 - Esquema do ensaio de rigidez de ligação proposto.<br />

Os corpos de prova de ligações de nó de pórtico foram montados utilizando<br />

chapas de compensado de 12mm, com lâminas de pinus e adesivo a prova d’água.<br />

Para as mesas foram utilizadas peças de madeira maciça tratadas da espécie Pinus<br />

Taeda. Os pregos utilizados para ligações alma-mesa de 3mm de diâmetro com 6cm<br />

de comprimento, foram fixados por pregador pneumático, sem pré-furação. As<br />

dimensões das ligações de nó de pórtico estão apresentadas na Figura 6. A fotos da<br />

Figura 7 apresentam a montagem dos corpos de prova.<br />

3.1 Esquema estático dos ensaios<br />

Os ensaios de ligação em nó de pórtico foram montados segundo o esquema<br />

estático apresentado na Figura 5. A configuração do ensaio consiste na aplicação de<br />

carga por um cilindro hidráulico em uma das extremidades. Entre o cilindro hidráulico<br />

e o CP foi posicionado um anel dinamométrico para medir a força aplicada ao nó. A<br />

outra extremidade do CP foi fixada na laje de reação. Foram utilizadas barras<br />

metálicas circulares entre o CP e a laje de reação para permitir o movimento do CP<br />

sem gerar atrito. Foram utilizadas peças de contraventamento para evitar a perda de<br />

estabilidade do CP na vertical e uma guia metálica para direcionar a aplicação da<br />

força, evitando-se a perda de estabilidade do conjunto na horizontal.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


38<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />

CPs 0,0: s = 30mm<br />

CP 0,col<br />

CPs –1,+1: s = 40mm<br />

CPs –1,-1: s = 20mm; CP –1, col<br />

2 2<br />

3 1<br />

120<br />

97 4<br />

2<br />

12<br />

97<br />

12<br />

97<br />

3<br />

23<br />

4<br />

2<br />

46<br />

1<br />

12<br />

7<br />

23<br />

46<br />

CPs +1,+1: s = 40mm<br />

CPs +1,-1: s = 20mm<br />

120<br />

3<br />

1<br />

120<br />

CPs +1,-1b: s = 20mm<br />

CPs +1,-1ex: s = 20mm<br />

97<br />

4<br />

2<br />

74<br />

CPs +1,col: s = 40mm<br />

Figura 6 - Dimensões dos corpos de prova de nó de pórtico<br />

Figura 7 - Montagem dos corpos de prova de nó de pórtico.<br />

A montagem do ensaio na horizontal sobre a laje de reação do LaMEM<br />

mostrou-se muito eficiente e apresentou facilidades que não ocorreriam na montagem<br />

vertical. A Figura 8 apresenta foto com o dispositivo montado.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />

39<br />

3.2 Instrumentação dos CPs de nós de pórtico<br />

Para instrumentação dos corpos de prova de nós de pórtico foram utilizados,<br />

em cada CP, quatro relógios comparadores igualmente espaçados a fim de medir os<br />

deslocamentos relativos entre as duas vigas que compõem o nó. Utilizou-se também<br />

quatro extensômetros elétricos para leituras de deformações com o objetivo de avaliar<br />

o momento atuante nas vigas. Os extensômetros elétricos foram posicionados nas<br />

mesas das vigas, na face externa, conforma apresentado na Figura 8.<br />

Contraventamento<br />

Extensômetro<br />

s elétricos<br />

Extremidade fixa<br />

4<br />

Relógios<br />

comparadores<br />

3<br />

2<br />

1<br />

Extensômetro<br />

s elétricos<br />

Cilindro<br />

hidráulico<br />

Perfil<br />

táli<br />

Anel<br />

dinamométrico<br />

Figura 8 - Dispositivos de ensaios de nó de pórtico<br />

3.3 Cálculo da rigidez rotacional K r<br />

A rigidez rotacional do nó de pórtico obtida nos ensaios foi calculada<br />

utilizando as leituras dos relógios 3 ou 4, conforme explicado no item 6.5.1. A rigidez<br />

rotacional da ligação é definida como sendo a razão entre o momento aplicado na<br />

ligação e a rotação causada por esse momento na ligação.<br />

M<br />

K r<br />

=<br />

θ<br />

Onde M é o momento na ligação, calculado como sendo a força aplicada<br />

vezes a distância da aplicação da carga ao centro geométrico da ligação, e θ o ângulo<br />

de rotação relativa entre os dois elementos que compõem a ligação<br />

4 RESULTADOS<br />

Os ensaios de nós de pórtico forneceram grande quantidade de dados que<br />

foram processados e as informações mais relevantes para a avaliação da rigidez<br />

dessas ligações estão apresentadas na tabela 1. A tabela 2 apresenta os valores das<br />

deformações lidas em cada extensômetro elétricos nos ensaios de nós de pórtico.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


40<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />

Tabela 1 - Valores de carga, deslocamentos e tensões atuantes obtidos nos ensaios de nó de<br />

pórtico<br />

∆ P ∆ desl. (mm) ∆σ N/mm 2<br />

Nó (N) 1 2 3 4 1 2 3 4<br />

0,0a <strong>29</strong>26,4 1,732 -- -- 0,049 1,732 -- -- 0,049<br />

0,0b <strong>29</strong>26,4 2,<strong>29</strong>8 1,577 0,902 0,198 2,<strong>29</strong>8 1,577 0,902 0,198<br />

0,0c <strong>29</strong>26,4 2,952 1,998 1,061 0,219 2,952 1,998 1,061 0,219<br />

0,0d <strong>29</strong>26,4 2,355 -- -- 0,216 2,355 -- -- 0,216<br />

0,0e <strong>29</strong>26,4 2,436 1,609 0,887 0,156 2,436 1,609 0,887 0,156<br />

0,0f <strong>29</strong>26,4 2,256 1,513 0,785 0,113 2,256 1,513 0,785 0,113<br />

-1,-1a <strong>29</strong>26,4 2,256 1,513 0,785 0,113 2,256 1,513 0,785 0,113<br />

+1,-1b <strong>29</strong>26,4 0,845 0,502 0,177 0,000 0,845 0,502 0,177 0,000<br />

-1,+1a <strong>29</strong>26,4 2,121 1,400 0,721 0,113 2,121 1,400 0,721 0,113<br />

+1,+1<br />

a<br />

<strong>29</strong>26,4 2,005 1,220 0,495 0,000 2,005 1,220 0,495 0,000<br />

+1,-1a <strong>29</strong>26,4 1,096 0,668 0,269 0,000 1,096 0,668 0,269 0,000<br />

+1,-1<br />

ex <strong>29</strong>26,4 0,693 0,410 0,131 0,000 0,693 0,410 0,131 0,000<br />

m.mis<br />

,-1 <strong>29</strong>26,4 1,167 0,750 0,357 0,011 1,167 0,750 0,357 0,011<br />

0,col <strong>29</strong>26,4 3,182 1,800 1,004 0,219 3,182 1,800 1,004 0,219<br />

-1,col <strong>29</strong>26,4 1,100 0,714 0,375 0,081 1,100 0,714 0,375 0,081<br />

+1,col <strong>29</strong>26,4 0,580 0,339 0,095 0,000 0,580 0,339 0,095 0,000<br />

Tabela 2 - Valores das deformações nos nós de pórticos lidas nos extensômetros elétricos<br />

∆ P<br />

∆ε<br />

nó (N) 1 2 3 4<br />

0,0a <strong>29</strong>2,64 135 -120 160 -180<br />

0,0b <strong>29</strong>2,64 125 -165 80 -180<br />

0,0c <strong>29</strong>2,64 130 -250 130 -215<br />

0,0d <strong>29</strong>2,64 0 0 0 0<br />

0,0e <strong>29</strong>2,64 140 -200 180 -230<br />

0,0f <strong>29</strong>2,64 150 -150 75 -205<br />

-1,-1a <strong>29</strong>2,64 150 -150 75 -205<br />

+1,-1b <strong>29</strong>2,64 110 -210 65 -125<br />

-1,+1a <strong>29</strong>2,64 135 -160 150 -180<br />

+1,+1a <strong>29</strong>2,64 230 -285 110 -110<br />

+1,-1a <strong>29</strong>2,64 190 -180 130 -180<br />

+1,-1 ex <strong>29</strong>2,64 0 0 0 0<br />

m.mis,-1 <strong>29</strong>2,64 100 -145 140 -210<br />

0,col <strong>29</strong>2,64 200 -360 355 -330<br />

-1,col <strong>29</strong>2,64 140 -300 110 -220<br />

+1,col <strong>29</strong>2,64 265 -320 190 -365<br />

A figura 9 apresenta graficamente os deslocamentos medidos nos relógios<br />

comparados em função da carga aplicada ao nó 0,0e. A figura 10 apresenta<br />

graficamente as tensões medidas nos extensômetros elétricos em função da carga<br />

aplicada ao nó. Observa-se que em ambos os casos não ocorre plastificação para os<br />

níveis de carga utilizados no ensaio.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />

41<br />

deslocamento (mm)<br />

18<br />

16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

deslocamento x força, CP 0,0e<br />

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000<br />

Força (N)<br />

relógio 1<br />

relógio 2<br />

relógio 3<br />

relógio 4<br />

Figura 9 - Curva padrão deslocamento×força<br />

4<br />

tensão x força, CP 0,0e<br />

3<br />

Tensão (N/mm2)<br />

2<br />

1<br />

0<br />

-1<br />

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000<br />

canal1<br />

canal2<br />

canal3<br />

canal4<br />

-2<br />

Força (N)<br />

Figura 10 - Curva padrão tensões×força<br />

A figura 11 apresenta graficamente as curvas de força×deslocamento<br />

referente ao relógio comparador 1 para os vários nós de pórtico ensaiados. Observase<br />

na figura 11 a maior rigidez dos nós com mísula, e a pouca contribuição dos CPs “-<br />

1” para a rigidez dessas ligações.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


42<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />

Forçaxdeslocamento dos nós de pórtico<br />

Força (N)<br />

4000<br />

3500<br />

3000<br />

2500<br />

2000<br />

1500<br />

1000<br />

500<br />

0<br />

0 2 4 6 8 10<br />

deslocamento (mm)<br />

média 0,0<br />

-1,-1a<br />

+1,-1b<br />

-1,+1a<br />

+1,+1a<br />

0,col<br />

-1,col<br />

+1,col<br />

Figura 11 - Curvas força × deslocamento referente ao relógio comparador 1.<br />

A partir dos dados de deslocamentos obtidos nos ensaios e apresentados na<br />

tabela 1 foram calculados os módulos de rigidez rotacional das ligações: K r . Foram<br />

calculados os valores de K r referente às leituras dos 4 relógios. É importante observar<br />

porém, que os relógios 1 e 2 estão afastados do centro de rotação da ligação e,<br />

portanto, as deformações por flexão da viga podem ser significativas. Por outro lado, o<br />

relógio 4 está muito próximo do centro de rotação, e sua sensibilidade pode não ser<br />

suficiente para fornecer boas leituras. Observa-se que para os CPs “-1” e “+1”, os dois<br />

pontos de fixação do relógio 4 estão na mesma peça, não apresentando portando<br />

deformações relativas entre as duas vigas que compõem o nó. Diante dessas<br />

considerações, o módulo de rigidez rotacional das ligações calculados a partir das<br />

medidas do relógio 3 são as mais recomendadas. A tabela 3 apresenta os valores dos<br />

K r para os 4 relógios comparadores.<br />

O módulo de rigidez rotacional das ligações de nós de pórtico em estruturas<br />

compostas com alma em compensado é um dos principais objetivos de estudo deste<br />

trabalho, visto que na bibliografia internacional não existe referência ao cálculo dessa<br />

rigidez por meios teóricos. O EUROCODE 5 e outros autores já citados no capítulo 3<br />

apresentam critérios de cálculo para ligações em nós de pórtico de estruturas de<br />

elementos de seção retangular, como MLC, LVL ou mesmo madeira maciça. Nesses<br />

critérios os cálculos baseiam-se no giro relativo entre as peças em torno de um centro<br />

de rotação. Nas estruturas de seção maciça, somente a rigidez do pinos metálicos e<br />

que contribuem para a rigidez rotacional, e conseqüentemente o centro de rotação<br />

está no centro geométrico do conjunto de pregos.<br />

Nas ligações de nó de pórtico de estruturas compostas, além da rigidez dos<br />

pregos existe a rigidez do contato entre as mesas inferiores, conforme apresentado na<br />

figura 12. Com o acréscimo dessa rigidez, o centro de rotação deixa de ser o centro<br />

geométrico do conjunto de pregos. A partir dos ensaios de nó de pórtico realizados,<br />

observou-se após a ruptura que o centro de rotação da ligação pode ser considerado<br />

o ponto de compressão entre as mesas. A figura 13 apresenta detalhes de rupturas<br />

de corpos-de-prova onde se observa pelas deformações dos pregos e deslocamentos<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />

43<br />

das peças que o centro de rotação é a região de contato ente as mesas inferiores das<br />

vigas.<br />

Tabela 3 - Módulos de rigidez rotacional obtidos nos ensaios<br />

Rotaçã<br />

o (rad) K r<br />

(Nmm/<br />

rad)<br />

Nó 1 2 3 4 1 2 3 4<br />

0,0a 0,00182 -- -- 0,00025 8,1E+08 -- -- 6,0E+09<br />

0,0b 0,00242 0,00225 0,00200 0,00099 7,1E+08 7,6E+08 8,6E+08 1,7E+09<br />

0,0c 0,00311 0,00285 0,00236 0,00110 5,5E+08 6,0E+08 7,3E+08 1,6E+09<br />

0,0d 0,00248 -- -- 0,00108 6,9E+08 -- -- 1,6E+09<br />

0,0e 0,00256 0,00230 0,00197 0,00078 6,7E+08 7,5E+08 8,7E+08 2,2E+09<br />

0,0f 0,00237 0,00216 0,00174 0,00057 7,2E+08 8,0E+08 9,9E+08 3,0E+09<br />

-1,-1a 0,00237 0,00216 0,00174 0,00057 7,2E+08 8,0E+08 9,9E+08 3,0E+09<br />

+1,-1b 0,00089 0,00072 0,00039 0,00000 1,9E+09 2,4E+09 4,4E+09 --<br />

-1,+1a 0,00223 0,00200 0,00160 0,00057 7,7E+08 8,6E+08 1,1E+09 3,0E+09<br />

+1,+1a 0,00211 0,00174 0,00110 0,00000 8,2E+08 9,9E+08 1,6E+09 --<br />

+1,-1a 0,00115 0,00095 0,00060 0,00000 1,5E+09 1,8E+09 2,9E+09 --<br />

+1,-1 ex 0,00073 0,00059 0,000<strong>29</strong> 0,00000 1,7E+09 2,1E+09 4,2E+09 --<br />

m.mis,-1 0,00123 0,00107 0,00079 0,00005 1,4E+09 1,6E+09 2,2E+09 3,2E+10<br />

0,col 0,00335 0,00257 0,00223 0,00110 5,1E+08 6,7E+08 7,7E+08 1,6E+09<br />

-1,col 0,00116 0,00102 0,00083 0,00041 1,5E+09 1,7E+09 2,1E+09 4,2E+09<br />

+1,col 0,00061 0,00048 0,00021 0,00000 2,6E+09 3,2E+09 7,4E+09 --<br />

Região de<br />

compressão<br />

entre as<br />

mesas.<br />

Figura 12 - Figura esquemática da região de compressão entre as mesas inferiores das vigas<br />

que compõem o nó de pórtico.<br />

A partir dessas observações foram calculados os módulos de rigidez<br />

rotacional K r considerando como centro de rotação o contato entre as mesas<br />

inferiores das vigas. Para os CPs “+1”, ou seja, com mísula, considerou-se como<br />

centro de rotação o contato entre mesa inferior e mísula, conforme apresentado na<br />

figura 13. Os valores de K r encontrados estão apresentados na tabela 4, que também<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


44<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />

apresenta os valores de K r obtidos nos ensaios e a diferença proporcional entre eles.<br />

Nota-se que os valores de K r de ensaio adotados são os referente às medidas do<br />

relógio 3, conforme mencionado anteriormente. Nos corpos-de-prova onde só foram<br />

instalados os relógios 1 e 4, utilizou-se o valor de K r referente ao relógio 1.<br />

Centro de<br />

rotação<br />

Centro de<br />

rotação<br />

Figura 13 - Ruptura de nó de pórtico apresentando o centro de rotação relativa entre as vigas.<br />

K<br />

n<br />

2<br />

r<br />

= ∑ Kα<br />

r<br />

j j<br />

j = 1<br />

Assim, K r foi calculado por:<br />

Onde K αj representa a rigidez ao embutimento na direção α do pino j e r j<br />

representa a distância do pino j ao centro de rotação da peça, conforme apresentado<br />

por RACHER (1995).<br />

Tabela 4 - Valores dos módulos de rigidez, carga de ruptura, módulo de rigidez rotacional<br />

calculados e de ensaio<br />

Nó EI ef Frup (Kgf) Kensaio Kprego<br />

0,0a 3,07E+11 860 8,08E+08 9,46E+08<br />

0,0b 3,38E+11 823 8,59E+08 9,03E+08<br />

0,0c 2,72E+11 567 7,3E+08 1,02E+09<br />

0,0d 3,06E+11 759 6,94E+08 1,03E+09<br />

0,0e 2,62E+11 823 8,72E+08 9,11E+08<br />

0,0f 3,03E+11 658 9,86E+08 1,16E+09<br />

-1,-1 a 3,77E+11 Não rompido 9,86E+08 3,<strong>29</strong>E+09<br />

+1,-1b 3,72E+11 1847 4,38E+09 4,2E+09<br />

-1,+1 a 2,6E+11 860 1,07E+09 1,81E+09<br />

+1,+1 a 2,81E+11 1107 1,56E+09 1,54E+09<br />

+1,-1 a 3,57E+11 1628 2,88E+09 2,44E+09<br />

+1,-1 ex 2,87E+11 1738 4,21E+09 3,15E+09<br />

m.mis,-1 3,72E+11 1353 2,17E+09 2,34E+09<br />

0,col 2,67E+11 745 7,71E+08 0<br />

-1,col 3,27E+11 1536 2,07E+09 0<br />

+1,col 2,85E+11 2097 7,38E+09 0<br />

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Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />

45<br />

A Figura 14 apresenta os valores comparativos entre os módulos de rigidez<br />

medidos nos ensaios e os calculados referentes ao relógio 3, exceto para os CPs<br />

“0,0 a ”e “0,0d”, que utilizaram calores do relógio 1.<br />

Comparação entre Kr teórico e experimental<br />

Kr (Nxmm/rad)<br />

8,00E+09<br />

7,00E+09<br />

6,00E+09<br />

5,00E+09<br />

4,00E+09<br />

3,00E+09<br />

2,00E+09<br />

1,00E+09<br />

0,00E+00<br />

Kensaio<br />

Kprego<br />

0,0a<br />

0,0b<br />

0,0c<br />

0,0d<br />

0,0e<br />

0,0f<br />

-1,-1a<br />

+1,-1b<br />

-1,+1a<br />

+1,+1a<br />

Corpo de Prova<br />

+1,-1a<br />

+1,-1 ex<br />

m.mis,-1<br />

0,col<br />

-1,col<br />

+1,col<br />

Figura 14 - Valores do módulo de rigidez rotacional experimental e calculado.<br />

Na tabela 4 e na figura 14 observa-se que os valores calculados estão<br />

bastante próximos dos valores obtidos nos ensaios, com ressalvas para os valores<br />

dos CPs “-1” que apresentaram diferenças significativas. Diante da variabilidade da<br />

madeira e do compensado, as diferenças encontradas entre os valores de K r de<br />

ensaio e teóricos são pequenas, indicando que o método adotado apresenta bons<br />

resultados.<br />

Para uma análise mais rigorosa da confiabilidade da consideração do centro<br />

de rotação no cálculo da rigidez rotacional utilizou-se uma análise estatística cujo<br />

coeficiente de regressão resultou em: 63,1%. Considerando-se que os CPs “-1”<br />

apresentam valores muito diferentes, foi realizada outra regressão desconsiderandose<br />

os CPs “-1”. Nessa nova análise o coeficiente de regressão resultou em 94,2%.<br />

A fim de entender o comportamento das ligações “–1”, foram analisados seus<br />

modos de ruptura e observou-se, conforme a figura 15, que a ruptura desses CP se<br />

deu no centro do nó, indicando que a porção de compensado do L da ligação pouco<br />

contribui para a sua rigidez. Assim sendo, o módulo de rigidez rotacional K r foi<br />

novamente calculado considerando-se apenas os pregos do quadrado central da<br />

ligação. Os valores encontrados foram: K r (-1,-1) = 1,71E+09 Nmm/rad e K r (-1,+1) =<br />

1,07E+09 Nmm/rad.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


46<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />

Figura 15 - Modo de ruptura típico dos CPs “-1”<br />

Utilizando esses valores em uma nova análise, o coeficiente de regressão<br />

resultou em 92,1%, considerando aqui todas as ligações ensaiadas.<br />

Com esses valores pode-se concluir que o cálculo do módulo de rigidez<br />

rotacional da ligação de nó de pórtico considerando como centro de rotação o contato<br />

entre as mesas inferiores das vigas ou entre a mesa e a mísula fornece valores<br />

confiáveis para serem utilizados no dimensionamento de estruturas compostas.<br />

Ainda na tabela 4 e da figura 14, comparando-se K r das ligações pregadas<br />

com das ligações coladas observa-se que para os CPs “0” essa diferença é<br />

insignificante, para os CPs “-1” e “+1”, K r das ligações coladas é praticamente o dobro<br />

de K r das ligações pregadas. Observa-se ainda que K r da ligação “meia mísula”<br />

apresenta valor intermediário entre a ligação “0“ e a ligação “+1”, como era previsto.<br />

Outro ponto importante na análise de rigidez de ligações é a relação entre o<br />

momento transmitido pela ligação em questão e o momento transmitido por uma<br />

ligação hipotética de rigidez infinita (engastamento perfeito). O EUROCODE 5<br />

representa essa relação por R M , sendo:<br />

R<br />

M<br />

=<br />

M<br />

M<br />

j<br />

∞<br />

Onde M j é o momento atuante na ligação real e M ∞ é o momento referente a<br />

uma ligação hipotética de rigidez infinita.<br />

Essa análise é válida para estruturas onde ocorre redistribuição dos esforços,<br />

o que não é o caso dos corpos-de-prova de ligações por nó de pórtico ensaiados.<br />

Optou-se então pela análise de uma estrutura com ligações semi-rígidas equivalentes<br />

às ensaiadas. Para essa análise utilizou-se então os valores de K r obtidos nos<br />

ensaios e calcularam-se os momentos M j em uma estrutura hipotética utilizando esses<br />

elementos segundo a metodologia apresentada por RACHER (1995), sendo a<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />

47<br />

estrutura um pórtico biarticulado apresentado na figura 3, com duas ligações semirígidas<br />

de rigidez rotacional K r igual ao respectivo corpo-de-prova de nó de pórtico.<br />

Considerou-se também a relação α =1 (α = EI viga /EI col ) e os módulos de rigidez das<br />

peças, (EI) ef igual ao dos elementos utilizados no respectivo corpo-de-prova.<br />

Outros dois parâmetros importantes para a análise da rigidez dos nós de<br />

pórtico segundo o método de RACHER (1995) são o vão do pórtico (L) e a altura das<br />

colunas(H). Para uma análise mais geral do comportamento dessas estruturas<br />

considerou-se valores extremos de L/H c =1 ou 10 e valores do vão em relação à altura<br />

das vigas de 5 a 25, que condizem com situações reais de dimensionamento. Assim,<br />

para os valores citados, encontrou-se os valores de R M para a combinação de três<br />

variáveis: Tipo de ligação (X1); Espaçamento entre pregos (X2) e relação L/h v (X3).<br />

RACHER (1995) apresenta a equação para o cálculo de M j do pórtico em<br />

questão, para a qual é necessário o parâmetro βr (coeficiente de rigidez) que é<br />

calculado por:<br />

β<br />

r<br />

=<br />

K × L<br />

r<br />

EI<br />

ef<br />

As tabelas 5 e 6 apresentam os valores de β r e R M para as combinações de<br />

variáveis do planejamento estatístico.<br />

Tabela 5 - Valores de β r referentes a cada ligação de nó de pórtico ensaiada<br />

β r (L/Hc=1)<br />

β r (L/Hc=10)<br />

Tipo de nó L/h v =5 15 25 5 15 25<br />

0,0a 3,03 9,08 15,14 3,03 9,08 15,14<br />

0,0b 2,92 8,76 14,59 2,92 8,76 14,59<br />

0,0c 3,08 9,25 15,41 3,08 9,25 15,41<br />

0,0d 2,61 7,82 13,03 2,61 7,82 13,03<br />

0,0e 3,84 11,51 19,18 3,84 11,51 19,18<br />

0,0f 3,74 11,21 18,68 3,74 11,21 18,68<br />

-1,-1a 3,00 9,01 15,02 3,00 9,01 15,02<br />

+1,-1b 13,54 40,62 67,70 13,54 40,62 67,70<br />

-1,+1a 4,74 14,23 23,71 4,74 14,23 23,71<br />

+1,+1a 4,04 12,12 20,21 4,04 12,12 20,21<br />

+1,-1a 9,28 27,85 46,42 9,28 27,85 46,42<br />

+1,-1 ex 16,85 50,56 84,27 16,85 50,56 84,27<br />

m.mis,-1 6,71 20,12 33,54 6,71 20,12 33,54<br />

0,col 3,32 9,97 16,62 3,32 9,97 16,62<br />

-1,col 7,26 21,77 36,<strong>29</strong> 7,26 21,77 36,<strong>29</strong><br />

+1,col <strong>29</strong>,81 89,43 149,05 <strong>29</strong>,81 89,43 149,05<br />

Segundo RACHER (1995) e o EUROCODE 5, pode-se considerar rígida para<br />

efeito de cálculo as ligações com R M ≥ 0,85. Dos gráficos apresentados na figura 16<br />

observa-se que as ligações “0,0”e “-1” podem ser consideradas rígidas quando a<br />

relação L/h for maior que 15. Já as ligações “+1” são consideradas rígidas mesmo<br />

para L/h v menores que 5.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


48<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />

A partir desses resultados montou-se a tabela 7 de resultados e variáveis para<br />

a análise estatística. A análise estatística foi realizada com o intuito de se conhecer as<br />

influências de cada variável na rigidez de uma ligação. Para a análise estatística<br />

considerou-se os valores de R M referentes à L/H = 10.<br />

Tabela 6 - Valores de R M referentes a cada ligação de nó de pórtico ensaiada<br />

R M (L/Hc=1) R M (L/Hc=10)<br />

Tipo de nó L/h v =5 15 25 5 15 25<br />

0,0a 0,72 0,88 0,93 0,62 0,83 0,89<br />

0,0b 0,71 0,88 0,92 0,61 0,82 0,89<br />

0,0c 0,72 0,89 0,93 0,62 0,83 0,89<br />

0,0d 0,68 0,87 0,92 0,58 0,81 0,87<br />

0,0e 0,76 0,91 0,94 0,67 0,86 0,91<br />

0,0f 0,76 0,90 0,94 0,67 0,86 0,91<br />

-1,-1a 0,71 0,88 0,93 0,62 0,83 0,89<br />

+1,-1b 0,92 0,97 0,98 0,88 0,96 0,97<br />

-1,+1a 0,80 0,92 0,95 0,72 0,88 0,93<br />

+1,+1a 0,77 0,91 0,94 0,68 0,87 0,92<br />

+1,-1a 0,89 0,96 0,97 0,83 0,94 0,96<br />

+1,-1 ex 0,93 0,98 0,99 0,90 0,96 0,98<br />

m.mis,-1 0,85 0,94 0,97 0,78 0,91 0,95<br />

0,col 0,73 0,89 0,93 0,64 0,84 0,90<br />

-1,col 0,86 0,95 0,97 0,79 0,92 0,95<br />

+1,col 0,96 0,99 0,99 0,94 0,98 0,99<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />

49<br />

0,0 b<br />

0,0 e<br />

1<br />

1<br />

0,9<br />

0,9<br />

Rm<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

L/Hc = 1<br />

L/Hc = 10<br />

Rm<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

L/Hc = 1<br />

L/Hc = 10<br />

0,5<br />

5 10 15 20 25 30<br />

L/hv<br />

0,5<br />

5 10 15 20 25 30<br />

L/hv<br />

Rm<br />

1<br />

0,95<br />

0,9<br />

0,85<br />

0,8<br />

0,75<br />

0,7<br />

0,65<br />

0,6<br />

0,55<br />

0,5<br />

-1,-1<br />

L/Hc = 1<br />

L/Hc = 10<br />

5 10 15 20 25 30<br />

L/hv<br />

Rm<br />

1<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

+1,-1 b<br />

L/Hc = 1<br />

L/Hc = 10<br />

5 10 15 20 25 30<br />

L/hv<br />

Figura 16 - Curvas de R M × L/h v<br />

De forma gráfica pode-se observar na figura 16 que os valores de R M crescem<br />

tendendo a 1 com o aumento da razão L/h. Observa-se para os gráficos das ligações<br />

0,0 que para relações L/h maiores que 15<br />

Tabela 7 - Combinação de variáveis e resposta para análise estatística, considerando valores<br />

de R M referentes à L/H = 10<br />

X1 X2 X3 resposta<br />

Tipo de nó<br />

Espaçamento<br />

(mm) L/h v R M<br />

-1 20 5 0,62<br />

+1 20 5 0,88<br />

-1 40 5 0,72<br />

+1 40 5 0,68<br />

-1 20 25 0,89<br />

+1 20 25 0,97<br />

-1 40 25 0,93<br />

+1 40 25 0,92<br />

0 30 15 0,83<br />

0 30 15 0,82<br />

0 30 15 0,83<br />

0 30 15 0,81<br />

0 30 15 0,86<br />

0 30 15 0,86<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


50<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />

Utilizando o software MINITAB, v. 10, fez-se a regressão multivariável cujos<br />

resultados estão apresentados a seguir:<br />

MTB > FFactorial c4 = c1 c2 c3 c1*c2 c1*c3 c2*c3 c1*c2*c3;<br />

SUBC> EPlot;<br />

SUBC> Fits 'FITS1';<br />

SUBC> Residuals 'RESI1'.<br />

Fractional Factorial Fit<br />

Estimated Effects and Coefficients for C4<br />

Term Effect Coef Std Coef t-value P<br />

Constant 0.8<strong>29</strong>36 0.005<strong>29</strong>5 156.63 0.000<br />

C1 0.07310 0.03655 0.007005 5.22 0.002<br />

C2 -0.03007 -0.01503 0.007005 -2.15 0.075<br />

C3 0.20097 0.10049 0.007005 14.35 0.000<br />

C1*C2 -0.09891 -0.04946 0.007005 -7.06 0.000<br />

C1*C3 -0.03690 -0.01845 0.007005 -2.63 0.039<br />

C2*C3 0.01993 0.00997 0.007005 1.42 0.205<br />

C1*C2*C3 0.05109 0.02554 0.007005 3.65 0.011<br />

Analysis of Variance for C4<br />

Source DF Seq SS Adj SS Adj MS F P<br />

Main Effects 3 0.093275 0.0932748 0.0310916 79.21 0.000<br />

2-Way Interactions 3 0.023085 0.0230855 0.0076952 19.60 0.002<br />

3-Way Interactions 1 0.005220 0.0052199 0.0052199 13.30 0.011<br />

Residual Error 6 0.002355 0.0023552 0.0003925<br />

Curvature 1 0.000280 0.0002800 0.0002800 0.67 0.449<br />

Pure Error 5 0.002075 0.0020753 0.0004151<br />

Total 13 0.123935<br />

Dessa análise de regressão múltipla, o modelo de regressão encontrado foi:<br />

R M = 0,8<strong>29</strong>4 + 0,0366×X1 - 0.0150×X2 + 0,1005×X3 - 0.04946×X1×X2 -<br />

0,0185X1×X3 + 0,00997X2×X3 + 0,02554×X1×X2×X3<br />

Da análise residual do modelo de regressão múltipla conclui-se que o mesmo<br />

é adequado, portanto, podendo ser utilizado para estimar a rigidez da ligação. A<br />

tabela 8 apresenta os valores dos coeficientes, desvio padrão e valor de t calculado e<br />

tabelado para as variáveis.<br />

Da regressão múltipla observa-se que o efeito da variável X1 (tipo de ligação)<br />

é significativo, o que pode ser confirmado pelo valor de p, da distribuição de t-student,<br />

sendo p = 0,002 e efeito= 0.07310; a variável X2 (espaçamento entre pregos)<br />

apresenta pouca influência, com p = 0,075 e efeito= -0.03007; e X3 (razão L/h) com<br />

grande influência com p = 0,000 e efeito= 0.20097, o que já era esperado pois o<br />

equacionamento de Mj contém H/L e β r que por sua vez é correlata ao módulo de<br />

rigidez EI e conseqüentemente à altura da viga. Na análise estatística considera-se<br />

influência significativa valores de p ≤ 0,05.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />

51<br />

Tabela 8 - Valores obtidos na análise de regressão múltipla<br />

Desvio<br />

variável efeito coeficiente padrão t-value P<br />

Constant 0.8<strong>29</strong>36 0.005<strong>29</strong>5 156.63 0.000<br />

C1 0.07310 0.03655 0.007005 5.22 0.002<br />

C2 -0.03007 -0.01503 0.007005 -2.15 0.075<br />

C3 0.20097 0.10049 0.007005 14.35 0.000<br />

C1*C2 -0.09891 -0.04946 0.007005 -7.06 0.000<br />

C1*C3 -0.03690 -0.01845 0.007005 -2.63 0.039<br />

C2*C3 0.01993 0.00997 0.007005 1.42 0.205<br />

C1*C2*C3 0.05109 0.02554 0.007005 3.65 0.011<br />

A relação entre variáveis X1×X2 apresenta também grande influência sobre a<br />

rigidez, com p= 0,000 e efeito= -0.09891, assim como a relação X1×X3 com p= 0,039<br />

e efeito= -0.03690. A relação X2×X3 apresenta pequena influência na rigidez, com p=<br />

0,205 e efeito= 0.01993 respectivamente. E, finalmente, a correlação entre as três<br />

variáveis apresenta influência na rigidez com p= 0,011 e efeito= 0.05109. Observa-se<br />

também pelo valor de p da curvatura que, por ser alto, demonstra que não existe<br />

efeito de curvatura significativo.<br />

Segundo a regressão múltipla, a rigidez da ligação poderia ser estimada de<br />

forma empírica, já desconsiderando as variáveis e combinações com pouca influência,<br />

por:<br />

R M = 0,8<strong>29</strong>4+0,0366×X1+0,1005×X3-0.04946×X1×X2+0,02554×X1×X2×X3<br />

Para os níveis das variáveis adotados, a análise estatística múltipla indica que<br />

a rigidez rotacional de uma ligação de nó de pórtico é influenciada pela geometria<br />

adotada, ou seja, se esta possui mísula ou não, e pela geometria do pórtico e dos<br />

elementos. O espaçamento apresentou pouca influência nessa análise devido aos<br />

intervalos de espaçamentos de 6d a 13d entre pregos utilizados nos ensaios, que são<br />

espaçamentos viáveis do ponto de vista de dimensionamento. Espaçamentos maiores<br />

resultariam em baixa eficiência da seção composta, e por isso não são<br />

recomendáveis. É importante observar que o espaçamento entre pregos está<br />

diretamente relacionado com a quantidade de pregos na ligação, e conseqüentemente<br />

com o cálculo de K r , portanto são importantes para a rigidez da ligação. Essa<br />

influência pode ser observada comparando-se os valores de K r de ensaio das ligações<br />

“-1,-1”com “-1,+1” e “+1,-1” com “+1,+1” na tabela 4.<br />

Os corpos-de-prova com meia mísula e colados foram ensaiados com o intuito<br />

de fornecer parâmetros extras para avaliar a coerência do comportamento dessas<br />

ligações. Esses CPs não estavam previstos no planejamento estatístico e, seus<br />

resultados não foram utilizados na análise estatística assim como os corpos-de-prova<br />

“+1,-1 a” e “+1,-1 extra” por apresentarem problemas de montagem.<br />

Observando-se na tabela 6 os valores de R M para esses corpos-de-prova<br />

acima citados, observa-se que a diferença entre K r observada entre os corpos-deprova<br />

colados e pregados tipo “-1” e “+1”, que era de praticamente o dobro, deixa de<br />

ser significativa quando comparados os respectivos valores de R M , pois mesmo para<br />

as ligações pregadas os valores de R M já eram acima de 0,85, ou seja, já podiam ser<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


52<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />

consideradas rígidas. Ainda na tabela 6 observa-se que a utilização de meia mísula já<br />

é suficiente para aumentar a rigidez da ligação para níveis considerados rígidos.<br />

Observa-se também que os CPs “+1,-1a” e ”+1,-1extra” apresentaram bons resultados<br />

mesmo com montagem irregular (mesa interrompida e falta de montantes<br />

respectivamente). Esse desempenho provavelmente se deve à grande rigidez da<br />

mísula.<br />

4.1 Modos de ruptura<br />

Apesar do foco desse trabalho ser a rigidez das ligações, aqui são<br />

apresentadas algumas considerações a respeito da carga máxima resistida e dos<br />

modos de ruptura observados nos CPs ensaiados. Com exceção do corpo-de-prova “-<br />

1,-1” todos os corpos-de-prova de ligação de nó de pórticos foram carregados até a<br />

ruptura, anotando-se a carga máxima de cada ensaio e o modo de ruptura..<br />

Dos valores das cargas de ruptura apresentados na tabela 4, nota-se um<br />

grande aumento da carga última dos corpos-de-prova “0” para os corpos “+1”, que<br />

segue a tendência de aumento de K r . Nota-se também que o CP com meia mísula<br />

apresenta valores próximos da média entre “0” e “+1” tanto para a carga máxima<br />

quanto para K r . Observa-se pelos valores de ruptura um grande acréscimo da carga<br />

de ruptura dos corpos-de-prova “+1” quando se dobrou o número de pregos (CPs<br />

“+1,+1” e “+1,-1 b”).<br />

É interessante observar que as cargas de ruptura dos corpos-de-prova<br />

colados não foram muito superiores aos seus equivalentes pregados e que junto com<br />

a comparação relativa à rigidez mostra boa eficiência das ligações pregadas.<br />

Os modos de ruptura de todos os CPs rompidos estão apresentados nas<br />

fotos das figura 17 e 18, seguindo a seqüência da tabela 4.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />

53<br />

Figura 17 - Modos de ruptura dos corpos-de-prova 0,0a; 0,0b; 0,0c; 0,0d; 0,0e; 0,0f; +1,-1b e<br />

-1,+1.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


54<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />

Figura 18 - Modos de ruptura dos corpos-de-prova +1,+1; +1,-1a; +1,-1ex; meia mísula; 0,col; -<br />

1,col e +1,col<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />

55<br />

Como pode ser observado na figura 17 os modos de ruptura encontrados para<br />

os CPs “0” pregados foram sempre por deformação excessiva da ligação, seguidos<br />

pela ruptura por flexão da mesa inferior após grande deformação. Já para os corposde-prova<br />

“+1” e “-1” os modos de ruptura final foram por ruptura na madeira das<br />

mesas ou das chapas de compensado.<br />

Essa mudança do modo de ruptura indica que o aumento da quantidade de<br />

pregos na região solicitada ao momento foi suficiente para que os pregos deixassem<br />

de ser o ponto crítico da ligação, permitindo um aumento de carga suficiente para que<br />

outros pontos rompessem antes dos pregos. É importante notar que pode ter ocorrido<br />

plastificação de alguns pregos durante o carregamento das ligações “+1” ou “-1”,<br />

porém não em escala perceptível a olho nu.<br />

Analisando-se os modos de ruptura das ligações coladas pode-se reforçar a<br />

afirmativa anterior, visto que as rupturas dos corpos-de-prova colados se deu<br />

praticamente igual às rupturas dos corpos-de-provas pregados “+1” e “-1”, sendo a<br />

carga de ruptura dos corpos-de-prova colados não muito superior às cargas de<br />

ruptura dos CPs pregados.<br />

5 CONCLUSÕES<br />

Dos ensaios de ligações por nó de pórtico observou-se um grande acréscimo<br />

da resistência e da rigidez com a utilização de mísulas. Essas mísulas permitem<br />

aumentar a quantidade de pregos na ligação e a seção da ligação na região mais<br />

solicitada, portanto aumentando a eficiência da ligação de nó de pórtico.<br />

O equacionamento utilizado na análise de rigidez de nó de pórtico, adaptado<br />

do proposto por RACHER (1995), considerando o centro de rotação como o contato<br />

entre as mesas inferiores das vigas, ou entre mísula e mesa inferior da viga<br />

apresentaram bons resultados.<br />

Segundo os resultados dos ensaios, as ligações de nó de pórtico de<br />

estruturas compostas com compensado podem ser consideradas como rígidas em<br />

quase todos os casos estudados, pois apresentam R M ≥ 0,85, que segundo RACHER<br />

é o suficiente para se considerar a ligação como rígida no cálculo da estrutura sem<br />

resultar em erro considerável.<br />

A eficiência das ligações pregadas, com rigidezes muito próximas das<br />

ligações coladas, justifica a utilização das ligações alma/mesa pregadas para a<br />

execução de estruturas “in loco”, sem necessidade de industrializar o sistema de<br />

montagem como é o caso das ligações coladas.<br />

6 AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agradecem à Fundação de Aparo à Pesquisa do Estrado de São<br />

Paulo (FAPESP) pelo financiamento dessa pesquisa.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


56<br />

Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. (1997). NBR 7190/97<br />

- Projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro.<br />

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for moment resisting joints in timber frames. In: INTERNATIONAL TIMBER<br />

ENGINEERING CONFERENCE LONDON. Londres, 1991. Anais... p.3.104-3.110.<br />

COMITE EUROPEU DE NORMALIZAÇÃO (1993). Design of timber structures -<br />

Part 1-1: General rules and rules for buildings. EUROCODE 5. Bruxelas: CEN. 110p.<br />

LEIJTEN, A. J. M. (1992). Reinforced semi-rigid timber joints. COST Project C1–<br />

semi-rigid behavior. COST C1 Workshop, Strasbourg, Out. 1992.<br />

RACHER, P. (1995). Moment resisting connections. Timber Engineering. STEP 1.<br />

C16/1-C16/10.<br />

RODD, P. D.; POPE, D. J. (1999). The stiffness off moment transmiting joints in<br />

reinforced glulam. In: PACIFIC TIMBER ENGINEERING CONFERENCE. Rotorua,<br />

New Zealand, Mar., 1999. Anais... p. 280-285<br />

STAMATO, G. C. (1997). Resistência ao embutimento da madeira compensada.<br />

São <strong>Carlos</strong>. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> -<br />

Universidade de São Paulo.<br />

STAMATO, G. C. (2002). Ligações em estruturas de madeira compostas por<br />

chapas de madeira compensada. São <strong>Carlos</strong>. Tese (Doutorado) – Escola de<br />

Engenharia de São <strong>Carlos</strong> - Universidade de São Paulo.<br />

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frame. Doctor of Philosophy Thesis. Victoria, Austrália: Departament of Civil<br />

Engineering. Monash University.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>


ISSN 1809-5860<br />

ANÁLISE DE VIGAS DE MADEIRA PREGADAS COM<br />

SEÇÃO COMPOSTA I<br />

Jorge Luís Nunes de Góes 1 & Antonio Alves Dias 2<br />

Resumo<br />

As vigas compostas de madeira pregadas possuem vasta aplicação como material<br />

estrutural, desde vigas para instalações residenciais e industriais até longarinas de<br />

pontes de pequenos vãos, apresentando como principais vantagens o baixo custo e a<br />

facilidade de execução, não exigindo mão-de-obra qualificada. Este trabalho tem como<br />

objetivo o estudo teórico e experimental de vigas de madeira com seção composta I<br />

formadas por peças de madeira serrada e solidarizadas por pregos. São apresentados<br />

os critérios das normas EUROCODE 5 e NBR 7190, bem como a teoria a respeito do<br />

assunto. É avaliado o procedimento de cálculo da NBR 7190, em comparação com o<br />

EUROCODE 5, sendo realizada verificação experimental dos critérios destas normas,<br />

por meio de ensaios de flexão em protótipos de vigas compostas. Os resultados obtidos<br />

demonstram que o modelo do EUROCODE 5 é o mais indicado para estimar a rigidez<br />

efetiva, tensões normais e de cisalhamento bem como a força nos conectores.<br />

Palavras-chave: peças compostas; rigidez de ligações; vigas de madeira.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O emprego de peças compostas de madeira, formadas pela união de peças<br />

de dimensões comerciais, vem alcançando importância no setor de estruturas de<br />

madeira do Brasil, principalmente em virtude da gradativa escassez de peças de<br />

grandes dimensões. As peças compostas de madeira serrada, solidarizadas<br />

continuamente por pregos, possuem vasta aplicação como material estrutural, desde<br />

vigas para instalações residenciais e industriais até longarinas de pontes de pequenos<br />

vãos. O sistema em vigas composta apresenta como principais vantagens a facilidade<br />

e o baixo custo de produção.<br />

Estas formas de composição não permitem emendas longitudinais, tornando<br />

seu comprimento restrito ao tamanho usual das peças de madeira. A facilidade e o<br />

baixo custo de produção, fazem com que estas vigas compostas sejam extensamente<br />

utilizadas como vigas de uso doméstico (figura 1), para 4 a 6 metros de vão, como<br />

também para longarinas de pequenas pontes até 10 metros de vão.<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, jgoes@sc.usp.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, dias@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


58<br />

Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />

Figura 1 - Exemplo de utilização de viga composta pregada.<br />

Os elementos de ligação mais utilizados para a solidarização das peças de<br />

madeira são os adesivos e os pinos metálicos. Apesar da indiscutível eficiência dos<br />

adesivos, existem maiores dificuldades na sua aplicação, o que torna os pinos<br />

metálicos os elementos de ligação mais utilizados no Brasil. Especialmente os pregos,<br />

devido à facilidade de aplicação e baixo custo.<br />

As ligações por pinos metálicos permitem deslizamento entre as peças<br />

unidas. Esse deslizamento, que é função da rigidez da ligação, causa redução nas<br />

propriedades mecânicas da peça composta.<br />

Fica caracterizada, assim, a importância da quantificação da rigidez das<br />

ligações para as peças compostas. Sabe-se que a rigidez é influenciada por vários<br />

fatores, dentre eles: o tipo, espaçamento e quantidade dos elementos de ligação,<br />

além das características físicas, de resistência e elasticidade da espécie da madeira<br />

utilizada.<br />

Em contradição ao exposto, a norma brasileira NBR 7190 “Projeto de<br />

Estruturas de Madeira”, apresenta uma metodologia simplificada de cálculo para o<br />

dimensionamento de peças com seção transversal composta, recomendando a<br />

redução da inércia da peça, por meio de coeficientes que consideram a não<br />

solidarização total das peças que compõem a seção transversal. Esses coeficientes<br />

são apresentados conforme o arranjo da seção transversal, não levando em conta a<br />

rigidez da ligação.<br />

O objetivo deste trabalho é fazer a avaliação teórica e experimental do modelo<br />

de cálculo para as peças justapostas de seção T, I e Caixão, da norma brasileira,<br />

permitindo um melhor conhecimento do comportamento e resistência de peças<br />

compostas, tornando as estruturas de madeira cada vez mais competitivas,<br />

divulgadas e aceitas pelos projetistas.<br />

2 CONCEITOS BÁSICOS<br />

Segundo a hipótese de Navier uma viga maciça apresenta, numa seção<br />

transversal qualquer, distribuição contínua de deformações longitudinais ao longo de<br />

sua altura, figura 2-(a). Por outro lado, numa peça de elementos sobrepostos<br />

independentes, isto é, sem nenhum tipo de conector interligando-os, a distribuição das<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />

59<br />

deformações é contínua somente ao longo da altura de cada elemento. Nas<br />

superfícies de separação são observadas descontinuidades decorrentes do<br />

comportamento individualizado (figura 2-(b)).<br />

Figura 2 - Deformação de uma barra fletida. (a) seção maciça; (b) barras sobrepostas; (c)<br />

seção composta interligada por pinos metálicos; (d) esforços solicitantes. Fonte: ALVIM (2002).<br />

Quando os elementos constituintes de uma viga composta estiverem<br />

interligados, os conectores restringem parte dos deslizamentos relativos que ocorrem<br />

entre as peças independentes, produzindo uma interação entre eles. A distribuição<br />

das deformações nessa viga, ainda apresenta as descontinuidades nas interfaces,<br />

entretanto, são inferiores às verificadas na peça de elementos independentes, figura<br />

2-(c).<br />

Diante do exposto, fica evidenciada a principal característica das vigas<br />

compostas: o comportamento mecânico interposto ao das vigas maciças e ao das<br />

peças de elementos independentes.<br />

O comportamento intermediário é influenciado diretamente pela rigidez dos<br />

elementos de ligação utilizados para a sua solidarização. Considerando o emprego de<br />

uma ligação “perfeitamente rígida”, não surgem deslocamentos relativos entre os<br />

pontos da borda que delimitam a zona de contato entre as peças.<br />

Na teoria, tais peças podem ser consideradas como de seção homogênea,<br />

supondo uma seção transversal equivalente à soma de todas as outras seções<br />

transversais individuais, aplicando-se a teoria clássica da flexão para vigas. Contudo,<br />

os dispositivos de ligação usados nos casos correntes de projeto são deformáveis.<br />

Com isto, tem-se uma “ligação elástica”, onde após a deformação da peça por flexão<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


60<br />

Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />

ocorrem escorregamentos das porções interligadas, ocasionados pela<br />

deformabilidade dos conectores.<br />

O aparecimento de tais deslocamentos relativos produzem uma distribuição<br />

de esforços internos que difere consideravelmente daqueles correspondentes às<br />

ligações rígidas. Portanto, o momento de inércia e o módulo de resistência das peças<br />

compostas, unidas por conectores deformáveis, passam a ser uma fração daqueles<br />

das peças consideradas maciças. A magnitude dessa fração dependerá de<br />

parâmetros geométricos da viga, bem como de uma série de fatores que caracterizam<br />

a rigidez da ligação.<br />

O efeito da composição dessas peças é garantido pela transmissão dos<br />

esforços cortantes por meio da ligação. Os conectores devem suportar as tensões de<br />

cisalhamento distribuídas na região de contato entre as peças, figura 2-(d). Desse<br />

modo, é estabelecido um certo grau de monolitismo entre as peças justapostas.<br />

Então, fica evidente a necessidade de utilização de critérios especiais para o<br />

correto dimensionamento dos elementos estruturais formados de peças compostas.<br />

Atualmente são utilizados basicamente dois métodos distintos, adotados pelos<br />

principais documentos normativos do mundo, para o dimensionamento de peças<br />

compostas: o método dos coeficientes de minoração e o método analítico.<br />

3 MÉTODO DOS COEFICIENTES DE MINORAÇÃO<br />

Esse método consiste na aplicação de coeficientes redutores sobre as<br />

propriedades estáticas das peças compostas. Os coeficientes de minoração ou de<br />

eficiência têm a função de estabelecer a correspondência entre peças compostas e<br />

maciças. Para isso, são necessários dados experimentais adequados para<br />

estabelecer essa correspondência.<br />

As verificações das tensões normais e dos deslocamentos máximos são feitas<br />

considerando a redução do módulo de resistência e do momento de inércia. Já a<br />

verificação das tensões cisalhantes, bem como da força atuante nos conectores, é<br />

feita como se a viga fosse de seção maciça.<br />

A figura 3 ilustra o comportamento interposto das peças compostas e o uso<br />

dos coeficientes de minoração.<br />

h<br />

σ<br />

h<br />

h<br />

1<br />

1<br />

σ<br />

h1<br />

h1<br />

σ<br />

σ =<br />

W 0 =<br />

b<br />

M<br />

W 0<br />

2 I0<br />

h<br />

W<br />

σ<br />

M<br />

= (β) W<br />

0<br />

=<br />

(α)<br />

h<br />

0<br />

I 0<br />

1<br />

1<br />

σ =<br />

W =<br />

M<br />

2 W 1<br />

(a) (b) (c)<br />

Figura 3 - Comportamento interposto das peças compostas. (a) seção com dois elementos<br />

sobrepostos; (b) seção composta interligada por união deformável; (c) seção maciça<br />

equivalente. Fonte: GEHRI (1988).<br />

2 I 1<br />

h 1<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />

61<br />

Apesar de proporcionar agilidade no cálculo, tal método apresenta grande<br />

variabilidade e por este motivo alguns documentos normativos que anteriormente<br />

adotavam-no, após revisão optaram pelo método analítico.<br />

4 MÉTODO ANALÍTICO BASEADO NAS EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO<br />

Este modelo consiste na análise da viga como sendo formada por elementos<br />

em equilíbrio solidarizados por equações de compatibilidade de deslocamento.<br />

Todo o desenvolvimento dessa teoria é baseado em hipóteses, nas quais a<br />

linearidade entre causa e efeito é sempre observada. Admite-se a validade das<br />

seguintes hipóteses:<br />

As uniões entre os elementos são contínuas, distribuídas uniformemente e<br />

apresentam as mesmas propriedades mecânicas em todo o comprimento da viga.<br />

O deslocamento relativo da região correspondente à superfície de contato dos<br />

elementos é diretamente proporcional ao esforço atuante na conexão.<br />

As flechas dos elementos da viga composta, tomadas em qualquer posição ao<br />

longo do comprimento, são sempre as mesmas para todos os elementos.<br />

A distribuição das deformações ao longo da altura dos elementos da viga<br />

composta é linear.<br />

Os elementos constituintes da viga composta seguem a lei de Hooke.<br />

As flechas são pequenas.<br />

São desprezadas as deformações produzidas pelo esforço cortante, no<br />

cálculo dos deslocamentos das seções transversais.<br />

A adoção da primeira hipótese significa o estudo de um caso particular de<br />

vigas compostas. O fato de se considerar a superfície fictícia de interligação com<br />

propriedades mecânicas invariantes, implica em se ter os conectores aplicados em<br />

arranjos regulares por todo o plano de separação dos elementos.<br />

Com a segunda hipótese fica assumido um comportamento linear para o<br />

conector isolado. Tal fato, entretanto, por vezes não é confirmado experimentalmente<br />

em ensaios dos conectores isolados, porém a determinação da característica de<br />

rigidez com base na inclinação de reta secante à curva experimental do conector<br />

isolado, e o seu posterior emprego nas expressões teóricas, conduzem a resultados<br />

coerentes com os de experimentação de vigas.<br />

A integridade da viga composta é admitida na terceira hipótese. As demais se<br />

enquadram no grupo de hipóteses da modelagem de Bernoulli-Navier para a flexão de<br />

vigas ordinárias.<br />

Sendo assim, inicia-se a apresentação do método com referência à rigidez da<br />

união. Cada conector é solicitado por forças de cisalhamento, causando um<br />

deslocamento. A relação entre a força atuante e o deslocamento u entre os elementos<br />

individuais que compõem a seção transversal composta é definido pelo módulo de<br />

deslizamento K. A figura 4 ilustra a configuração padrão da união, apresentando o<br />

deslocamento u e o fluxo de cisalhamento ν.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


62<br />

Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />

Figura 4 – Deslocamento e força cisalhante entre os elementos individuais. Fonte:<br />

KREUZINGER (1995).<br />

O efeito da distribuição contínua de ligações como apresentado na figura 4<br />

pode ser expressa da seguinte forma:<br />

F s<br />

K<br />

ν = ; C = ; ν = C ⋅ u<br />

(1)<br />

s s<br />

onde:<br />

ν = fluxo de cisalhamento atuante na superfície de contato entre os elementos<br />

(N/mm);<br />

F s = força atuante no conector (N);<br />

u = deslocamento da ligação (mm);<br />

s = espaçamento entre conectores (mm);<br />

K = módulo de deslizamento (N/mm);<br />

C = rigidez da ligação (N/mm 2 ).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />

63<br />

Figura 5 - Detalhes de uma viga composta e a configuração de equilíbrio de um elemento dx.<br />

Fonte: KREUZINGER (1995).<br />

Considerando uma peça composta de seção transversal tipo T, são ilustradas<br />

na figura 5 o sistema de carregamento, a configuração da seção transversal, a<br />

deformação e o elemento dx com as respectivas forças de equilíbrio.<br />

O deslocamento relativo entre as partes unidas é demostrado na figura 6.<br />

Figura 6 - Deformações. Fonte: KREUZINGER (1995).<br />

Onde, u 1 e u 2 são os deslocamentos longitudinais dos eixos 1 e 2 da seção<br />

transversal, w’ é a rotação causada pelo momento fletor e u é o deslocamento relativo<br />

entre as partes individuais no local da ligação. Essa análise de deslocamento<br />

apresentada é válida somente quando as deformações devido ao cisalhamento são<br />

desprezadas.<br />

⎛ h1<br />

h2<br />

⎞<br />

= u2 − u1<br />

+ w′<br />

⋅ ⎜ + ⎟ = u2<br />

− u + w′<br />

⋅ a<br />

(2)<br />

⎝ 2 2 ⎠<br />

u 1<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


64<br />

Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />

Observando a equação (2) pode ser verificado que a dimensão crítica é a<br />

distância entre os eixos das peças; quanto maior for este valor, maior será a<br />

deformação relativa.<br />

Adicionando os princípios da elasticidade à teoria de flexão simples, tem-se:<br />

N 1 = E1<br />

⋅ A1<br />

⋅ u1′<br />

e N 2 = E2<br />

⋅ A 2 ⋅ u′<br />

2<br />

(3)<br />

1 = −E1<br />

⋅I<br />

⋅ w′<br />

e M2 = −E<br />

2 ⋅I2<br />

⋅ w′<br />

(4)<br />

M 1<br />

1 = −E1<br />

⋅I<br />

⋅ w′′<br />

′ e V2 = −E<br />

2 ⋅I2<br />

⋅ w ′′ ′<br />

(5)<br />

V 1<br />

( u − u + w′<br />

a)<br />

ν = C ⋅ u = C ⋅ 2 1 ⋅<br />

(6)<br />

A figura 7 apresenta os diagramas de tensões normais e cisalhantes para a<br />

seção composta.<br />

Figura 7 - Distribuição de tensões. Fonte: KREUZINGER (1995).<br />

Equilibrando os dois elementos na direção x e z: [p x = 0, (N 1 + N 2 ) ’ = 0]<br />

′<br />

N 1 + ν = 0<br />

(7)<br />

′<br />

N 2 + ν = 0<br />

(8)<br />

′<br />

M = V<br />

1 1 − ν ⋅<br />

h<br />

1<br />

2<br />

(9a)<br />

′<br />

M = V<br />

2 2 − ν ⋅<br />

h<br />

2<br />

2<br />

(9b)<br />

′ ′<br />

1 + V = −p<br />

= V′<br />

V 2<br />

(9c)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />

65<br />

Somando os momentos e diferenciando em relação a x:<br />

″ ″<br />

+ M + ν′⋅<br />

a + p<br />

M1 2<br />

=<br />

0<br />

(10)<br />

Desta forma, existem três equações de equilíbrio (7), (9) e (10) e três<br />

deformações incógnitas u 1 , u 2 e w. Substituindo os princípios da elasticidade nestas<br />

equações de equilíbrio:<br />

( u − u + w′<br />

⋅ a) 0<br />

E1 ⋅ A1<br />

⋅u1′′<br />

+ C ⋅ 2 1 =<br />

(11)<br />

( u − u + w′<br />

⋅ a) 0<br />

E2 ⋅ A 2 ⋅u′′<br />

2 − C ⋅ 2 1 =<br />

(12)<br />

( I + E ⋅I<br />

) ⋅ w′′′′<br />

− C ⋅a<br />

⋅ ( u′<br />

− u′<br />

+ w′′<br />

⋅a) p<br />

E1 1 2 2<br />

2 1 =<br />

⋅ (13)<br />

Para a resolução das equações de equilíbrio são adotados carregamento e<br />

deformações senoidais. Além de facilitar a derivação, o autor afirma que esta<br />

consideração ainda proporciona soluções aplicáveis para as mais diferentes<br />

distribuições de carregamento.<br />

⎛ π ⎞<br />

p = p0 ⋅ sen⋅<br />

⎜ ⋅ x⎟<br />

(14)<br />

⎝ L ⎠<br />

⎛ π ⎞<br />

⎛ π ⎞<br />

⎛ π ⎞<br />

1 = u ⋅ cos⋅<br />

⎜ ⋅ x⎟<br />

; u2 = u20<br />

⋅ cos⋅<br />

⎜ ⋅ x⎟ ; w = w 0 ⋅ sen⋅<br />

⎜ ⋅ x⎟ (15a,b,c)<br />

⎝ L ⎠<br />

⎝ L ⎠ ⎝ L ⎠<br />

u 10<br />

Substituindo esses termos nas equações de equilíbrio (2), (3) e (4), resulta o<br />

sistema de equações apresentado abaixo.<br />

2<br />

⎡ π<br />

⎤<br />

u ⋅ ⎢−<br />

⋅E1<br />

⋅ A1<br />

− C + u<br />

2<br />

⎥ 20 ⋅ 0<br />

⎣ L<br />

⎦<br />

π<br />

L<br />

[ C] + w ⋅ C ⋅ ⋅ a 0<br />

10 =<br />

⎡<br />

⎤<br />

π<br />

[ C] + u ⋅ − ⋅E<br />

⋅ A − C + w ⋅ C a 0<br />

L<br />

⎢−<br />

⋅ ⋅<br />

L<br />

⎥<br />

⎣<br />

⎦ ⎣ ⎦<br />

⎡<br />

⎤<br />

u ⎢<br />

=<br />

L<br />

⎥ ⎢<br />

L<br />

⎥<br />

⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ L<br />

L ⎦<br />

A solução do sistema é apresentada a seguir.<br />

2<br />

π<br />

⎡ ⎤<br />

u10 ⋅ 20 ⎢ 2 1 1 ⎥ 0<br />

=<br />

4<br />

2<br />

⎡ π ⎤ ⎡ π ⎤ π<br />

π<br />

10 ⋅ − C ⋅ ⋅ a + u20<br />

⋅ C ⋅ ⋅ a + w 0 ⋅ ⎢ ⋅<br />

p<br />

4<br />

2 ⎥<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

2<br />

( E1<br />

⋅I1<br />

+ E2<br />

⋅I2<br />

) + C ⋅ ⋅ a 0<br />

w<br />

0<br />

4<br />

L<br />

1<br />

L 1<br />

= p0<br />

⋅ ⋅<br />

= p<br />

2 0 ⋅ ⋅<br />

(16a)<br />

4<br />

4<br />

π<br />

E<br />

( EI) 1 ⋅ A1<br />

⋅ γ1<br />

⋅ a π<br />

E<br />

ef<br />

1 ⋅I1<br />

+ E2<br />

⋅I2<br />

+<br />

E1<br />

⋅ A1<br />

1+ γ1<br />

⋅<br />

E ⋅ A<br />

2<br />

2<br />

4<br />

u<br />

w<br />

π<br />

a ⋅ γ<br />

⋅E<br />

⋅ A<br />

1 2 2<br />

10 = 0 ⋅ ⋅<br />

(16b)<br />

L γ1<br />

⋅E1<br />

⋅ A1<br />

+ E2<br />

⋅ A 2<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


66<br />

Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />

u<br />

20<br />

w<br />

π<br />

a ⋅ γ<br />

⋅E<br />

⋅ A<br />

1 1 1<br />

= − 0 ⋅ ⋅<br />

(16c)<br />

L γ1<br />

⋅E1<br />

⋅ A1<br />

+ E2<br />

⋅ A 2<br />

k<br />

1<br />

2<br />

π E1<br />

⋅ A1<br />

= ⋅ ;<br />

2<br />

L k<br />

1<br />

γ =<br />

(17a,b)<br />

1<br />

( 1+<br />

k )<br />

1<br />

As tensões podem ser obtidas aplicando os princípios da elasticidade a estas<br />

deformações. A tensão no eixo do elemento 1 da seção transversal é:<br />

L<br />

π<br />

σ 1 = E1<br />

⋅u1′<br />

(x = ) = −E1<br />

⋅u10<br />

(18)<br />

2<br />

L<br />

Usando os seguintes termos<br />

w<br />

0<br />

4<br />

L 1<br />

= p0<br />

⋅ ⋅<br />

(19)<br />

4<br />

π<br />

( EI) ef<br />

M<br />

0<br />

2<br />

L<br />

= p0<br />

⋅<br />

(20)<br />

2<br />

π<br />

a<br />

2<br />

1 1 1<br />

= (21)<br />

γ<br />

1<br />

γ ⋅E<br />

⋅ A ⋅ a<br />

⋅E<br />

⋅ A + E ⋅ A<br />

1<br />

1<br />

2<br />

2<br />

a<br />

= a −<br />

(22)<br />

1 a 2<br />

a tensão é:<br />

γ<br />

⋅E<br />

⋅a<br />

⋅M<br />

1<br />

σ 1 =<br />

(23)<br />

1 1 0<br />

( EI) ef<br />

Nota-se que a equação obtida é semelhante à equação de uma viga simples.<br />

No anexo B do EUROCODE 5 (1993) são apresentadas as equações de rigidez<br />

efetiva, tensões normais, tensão máxima cisalhante e carga atuante nos conectores<br />

para uma seção genérica composta com dois ou três elementos.<br />

5 RIGIDEZ DAS LIGAÇÕES<br />

O fenômeno característico das ligações por conectores metálicos em vigas<br />

compostas é o deslizamento entre os elementos adjacentes. No instante em que a<br />

viga é solicitada, forças de cisalhamento são induzidas e transferidas à interface dos<br />

elementos adjacentes, por meio de forças laterais desenvolvidas sobre os conectores.<br />

O comportamento da ligação (madeira e conector) pode ser descrito por um<br />

parâmetro de referência chamado Módulo de Deslizamento (Slip Modulus).<br />

EHLBECK & LARSEN (1991), abordam em seu trabalho os conceitos<br />

estabelecidos pelo EUROCODE 5 com referência às ligações de elementos<br />

estruturais de madeira. Os autores indicam que o EUROCODE 5 utiliza dois valores<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />

67<br />

de Módulo de Deslizamento, um para o dimensionamento nos Estados Limites<br />

Últimos (K u ) e outro para os Estados Limites de Utilização (K ser ).<br />

O Módulo de Deslizamento instantâneo para os Estados Limites de Utilização<br />

– denotado K ser – é assumido como o módulo secante da curva carga-deslocamento<br />

ao nível de carga de aproximadamente 40% da carga máxima da ligação (figura 8).<br />

Nesse baixo nível de carregamento, de 0 a 0,4 F max , a relação linear entre carga e<br />

deslocamento é assumida como aceitável para os propósitos de dimensionamento.<br />

Fmáx<br />

0,7 Fmáx<br />

Força (P)<br />

0,4 Fmáx<br />

Kser<br />

Ku<br />

Deslocamento (δ)<br />

Figura 8 - Módulo de Deslizamento secante.<br />

O módulo de deslizamento instantâneo para os Estados Limites Últimos –<br />

denotado K u – é assumido como o módulo secante da curva carga deslocamento a<br />

um nível de carga de aproximadamente 60 a 70% da carga máxima. Como uma<br />

razoável simplificação aplicável para os procedimentos de dimensionamento, K u pode<br />

ser dado por K u = 2/3 K ser .<br />

EHLBECK & LARSEN (1991) também indicam a expressão empírica 24 para<br />

estimar o valor do Módulo de Deslizamento (K ser ).<br />

K<br />

ser<br />

1,5<br />

ρk<br />

⋅ d<br />

= (24)<br />

20<br />

6 NORMAS TÉCNICAS<br />

Neste item são apresentados métodos de dimensionamento de vigas de<br />

madeira com seção composta unidas continuamente por conectores metálicos<br />

deformáveis da norma brasileira e européia de projeto de estruturas de madeira.<br />

6.1 Dimensionamento segundo a NBR 7190<br />

A norma brasileira não faz menção específica ao detalhamento das ligações<br />

em estruturas compostas. No entanto, apresenta critério que considera a redução da<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


68<br />

Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />

inércia das peças compostas utilizando coeficientes em função do tipo de arranjo da<br />

seção transversal para considerar o efeito de composição parcial.<br />

No item 7.7.2 desta norma é recomendado que as peças compostas por<br />

peças serradas formando seção T, I ou Caixão, solidarizadas permanentemente por<br />

ligações rígidas por pregos podem ser dimensionadas como se a viga fosse de seção<br />

maciça, com área igual à soma das áreas das seções dos elementos componentes,<br />

admitindo um momento de inércia efetivo dado por:<br />

I<br />

ef<br />

= α ⋅I<br />

(25)<br />

r<br />

th<br />

Onde I th é o momento de inércia da seção total da peça como se ela fosse<br />

maciça, sendo<br />

- para seções T: α r = 0,95<br />

- para seções I ou Caixão: α r = 0,85<br />

Como pode-se observar, essa consideração independe de fatores como o<br />

diâmetro e o espaçamento entre conectores.<br />

6.2 Dimensionamento segundo o EUROCODE 5<br />

No anexo B desta norma européia é apresentado o critério de<br />

dimensionamento para vigas compostas unidas por conectores metálicos (ligações<br />

flexíveis). Recomenda que o efeito da deformabilidade da ligação seja levada em<br />

consideração, assumindo-se uma relação linear entre a carga de cisalhamento e o<br />

deslocamento longitudinal relativo entre os elementos da ligação.<br />

O módulo de deslizamento é determinado em função da densidade da<br />

madeira e do diâmetro do pino utilizado. No caso de ligações com pré-furação os<br />

valores de K são dados por:<br />

K<br />

2<br />

= ⋅<br />

(26)<br />

3<br />

u K ser<br />

K<br />

ser<br />

1,5<br />

ρk<br />

⋅ d<br />

= (27)<br />

20<br />

onde:<br />

K = K u para os estados limites últimos (N/mm);<br />

K = K ser para os estados limites de utilização (N/mm);<br />

d é o diâmetro do prego em mm;<br />

ρ k é a densidade da madeira em kg/m 3 . Se as peças forem de madeiras<br />

diferentes deve-se utilizar uma densidade equivalente ρ k = ρk1<br />

⋅ ρk2<br />

.<br />

A partir deste módulo de deslizamento, é definido o fator de redução de<br />

inércia do conjunto, levando em consideração além do tipo de união, a disposição e<br />

espaçamento dos elementos de ligação, o tipo de madeira, a forma de montagem e<br />

proporção das peças individuais e o vão entre apoios da viga composta.<br />

γ 2 = 1 e<br />

−1<br />

2<br />

⎡ π ⋅Ei<br />

⋅ A i ⋅ s ⎤<br />

i<br />

γ i = ⎢1<br />

+<br />

2 ⎥ para i = 1 e 3 (28)<br />

K i ⋅L<br />

⎣<br />

⎦<br />

onde:<br />

E i = módulo de elasticidade de cada elemento da seção transversal;<br />

A i = área de cada parte da seção transversal;<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />

69<br />

s i = espaçamento dos pregos na interface do elemento i com o elemento 2;<br />

K i = módulo de deslizamento da ligação do elemento i com o elemento 2;<br />

L = vão efetivo da viga (L = vão, para vigas biapoiadas), (L = 0,8⋅vão, para<br />

vigas contínuas) e (L = 2⋅vão, para vigas em balanço).<br />

O espaçamento dos pregos pode ser uniforme ou variar conforme a força de<br />

cisalhamento, entre um valor mínimo s min e s max , sendo s max ≤ 4⋅s min . Nesse último caso<br />

um valor efetivo de espaçamento pode ser usado, dado por:<br />

s<br />

ef<br />

= 0,75 ⋅ s + 0,25 ⋅ s<br />

(<strong>29</strong>)<br />

min<br />

max<br />

A distância entre os centros de gravidade da seção até a linha neutra da peça<br />

(ver figura 9) é dado por:<br />

( h + h ) − γ ⋅E<br />

⋅ A ⋅ ( h + h )<br />

γ1<br />

⋅E1<br />

⋅ A1<br />

⋅ 1 2 3 3 3 2 3<br />

a 2 =<br />

(30)<br />

3<br />

2 ⋅ γ ⋅E<br />

⋅ A<br />

∑<br />

i=<br />

1<br />

i<br />

i<br />

i<br />

a<br />

⎛ h + h ⎞<br />

⎛ h2<br />

+ h3<br />

⎞<br />

= e a 3 = ⎜ ⎟ + a2<br />

(31)<br />

⎝ 2 ⎠<br />

⎝ 2 ⎠<br />

1 2<br />

1 ⎜ ⎟ − a2<br />

onde:<br />

a i = distância do centróide da área de cada elemento que compõe a seção<br />

transversal até a linha neutra y-y, desde que a 2 não seja menor que zero e não maior<br />

que h 2 /2;<br />

h i = altura de cada parte dos elementos componentes da seção transversal<br />

com h 3 nulo para seção T;<br />

b i = largura de cada parte dos elementos componentes da seção transversal;<br />

Assim é possível o cálculo da rigidez efetiva levando em consideração a<br />

rigidez da ligação.<br />

3<br />

2<br />

( )<br />

ef<br />

= ∑ ( Ei<br />

⋅Ii<br />

+ γ i ⋅Ei<br />

⋅ A i ⋅ ai<br />

)<br />

EI (32)<br />

i=<br />

1<br />

onde:<br />

I i = momento de inércia de cada elemento componente da seção transversal (I i<br />

= b i .h i 3 /12).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


70<br />

Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />

A , I<br />

1 1<br />

,E1<br />

b1<br />

s 1,K<br />

1,<br />

F1<br />

σ1<br />

σ m,1<br />

0,5 b 2<br />

a<br />

1<br />

a 2<br />

a 3<br />

A 2,I ,E2<br />

A,I<br />

2<br />

3 3, E3<br />

y<br />

b2<br />

b<br />

3<br />

h2<br />

y 2 σ m,2<br />

h2<br />

h<br />

2 2<br />

+<br />

h3<br />

σ3<br />

σ m,3<br />

s 3, K3,F3<br />

-<br />

σ2<br />

h<br />

a 1<br />

a 2<br />

a 3<br />

b1<br />

b1<br />

2 2<br />

y<br />

b<br />

2<br />

3<br />

b2<br />

2<br />

b<br />

3<br />

y<br />

h<br />

h<br />

1<br />

3<br />

h2<br />

σ m,2<br />

σ1<br />

+<br />

σ<br />

σ<br />

3<br />

m,3<br />

-<br />

σ2<br />

σ m,1<br />

h<br />

A1,I1,<br />

E1<br />

2 a 1<br />

a<br />

A 2, I2,<br />

E2<br />

y<br />

b1<br />

b2<br />

y<br />

s 1,K<br />

Figura 9 - Seções transversais e distribuição de tensões do EUROCODE 5.<br />

h2<br />

2<br />

h2<br />

2<br />

,F<br />

1 1<br />

h1<br />

h2<br />

σ<br />

σ1<br />

+<br />

m,2<br />

-<br />

σ2<br />

σ m,1<br />

h<br />

Da mesma forma, são equacionadas as tensões normais e cisalhantes<br />

atuantes nas peças, bem como a força aplicada nos elementos de ligação ocasionada<br />

pelo deslizamento entre as peças.<br />

Para vigas com geometria de seção transversal conforme as da figura 9, as<br />

tensões normais devem ser calculadas como mostrado a seguir:<br />

M<br />

σ = γ ⋅E<br />

⋅ a ⋅<br />

(33)<br />

i<br />

i<br />

i<br />

i<br />

( EI) ef<br />

M<br />

σ = 0,5<br />

⋅E<br />

⋅ h ⋅<br />

(34)<br />

m,i<br />

i<br />

i<br />

( EI) ef<br />

onde:<br />

M = momento fletor;<br />

σ i e σ m,i = respectivamente as tensões no centróide e nas extremidades dos<br />

elementos da seção transversal.<br />

A máxima tensão cisalhante ocorre onde a tensão normal é nula. A tensão<br />

máxima de cisalhamento na alma da viga pode ser obtida como:<br />

2<br />

( γ ⋅E<br />

⋅ A ⋅ a + 0,5 ⋅E<br />

⋅b<br />

⋅h<br />

)<br />

V<br />

τ 2,max = 3 3 3 3<br />

2 2 ⋅<br />

(35)<br />

b ⋅<br />

2<br />

( EI) ef<br />

onde:<br />

V = força máxima de cisalhamento.<br />

E por fim apresenta-se a equação para o cálculo da carga aplicada no<br />

conector.<br />

V<br />

F = γ ⋅E<br />

⋅ A ⋅ a ⋅ s ⋅ para i = 1 e 3 (36)<br />

i<br />

i<br />

i<br />

i<br />

i<br />

i<br />

( EI) ef<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />

71<br />

7 ENSAIOS EM VIGAS COMPOSTAS<br />

Para aferição dos modelos de dimensionamento de vigas compostas foram<br />

conduzidos ensaios experimentais de flexão em 9 protótipos (3 de cada espécie) de<br />

seção I simétrica, formadas por peças de seções comerciais, solidarizadas<br />

continuamente por pregos. As espécies nativas de madeira utilizadas foram o Angelim<br />

Pedra Verdadeiro – Dinizia excelsa (alta densidade) e o Cedrilho – Erisma spp (média<br />

densidade). A espécie de reflorestamento utilizada foi o Pinus Hondurensis – Pinus<br />

caribea var. hondurensis (baixa densidade).<br />

A tabela 1 apresenta a geometria da seção transversal, o comprimento, vão<br />

do ensaio, tipo de ligação e espécie de madeira utilizada para as vigas ensaiadas.<br />

Tabela 1 - Dados de projeto das vigas compostas<br />

Espécie<br />

de<br />

Madeira<br />

Viga<br />

Geometria da<br />

Seção<br />

Ligação<br />

Comp.<br />

(cm)<br />

Vão<br />

ensaio<br />

(cm)<br />

Instrumentação<br />

Angelim Pedra Verdadeiro<br />

A1<br />

A2<br />

A3<br />

5,60<br />

15,50<br />

2,50 15,10 2,50<br />

20,10<br />

18 x 30<br />

C/2,5 cm<br />

380 370<br />

Relógios<br />

comparadores e<br />

extensômetros<br />

elétricos<br />

Relógios<br />

comparadores<br />

Pinus Hondurensis<br />

P1<br />

P2<br />

5,80<br />

16,00<br />

5,65<br />

2,55 15,80 2,55<br />

20,90<br />

5,30 18,90 5,30<br />

<strong>29</strong>,50<br />

22 x 42<br />

C/5,0 cm<br />

22 x 48<br />

C/5,0 cm<br />

310 300<br />

400 390<br />

Relógios<br />

comparadores e<br />

extensômetros<br />

elétricos<br />

15,50<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


72<br />

Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />

Tabela 1 - Continuação<br />

P3<br />

5,65<br />

5,05 19,65 5,05<br />

<strong>29</strong>,75<br />

22 x 48<br />

C/2,4 cm<br />

400 390<br />

15,00<br />

Cedrilho<br />

C1<br />

C2<br />

5,00<br />

5,10 18,40 5,10<br />

28,60<br />

22 x 48<br />

C/5,0 cm<br />

400 390<br />

Relógios<br />

comparadores e<br />

extensômetros<br />

elétricos<br />

C3<br />

13,40<br />

Relógios<br />

comparadores<br />

Para auxiliar a análise precisa dos resultados, todas as peças de madeira que<br />

compõem a seção transversal composta foram previamente testadas por meio de<br />

ensaios não destrutivos de flexão estática. Destes ensaios são obtidos o módulo de<br />

elasticidade à flexão de cada peça que está sendo empregada na viga, garantindo<br />

maior precisão da análise dos resultados.<br />

Após a montagem, as vigas compostas foram testadas por ensaio de flexão<br />

com carregamento nos terços, leitura de flechas e deslizamento entre as peças, por<br />

meio de relógios comparadores e leitura de deformações por meio de extensômetros<br />

elétricos de resistência (ver esquema do ensaio na figura 2).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />

73<br />

L/3 L/3<br />

L/3<br />

P/2<br />

Ext. 1<br />

Ext. 2<br />

P/2<br />

Ext. 3<br />

Ext. 4<br />

Ext. 5<br />

Ext. 6<br />

Rel. 1<br />

Rel. 2<br />

L<br />

extensômetros elétricos<br />

Figura 10 - Montagem do ensaio em vigas compostas instrumentadas com extensômetros<br />

elétricos.<br />

A figura 11 ilustra a realização dos ensaios de flexão das vigas compostas.<br />

Figura 11 - Ensaios de flexão em protótipo de peças compostas.<br />

Para avaliação da rigidez à flexão foram realizados três ciclos de<br />

carregamento, tendo sido registrados os valores observados no último ciclo. Estes<br />

carregamentos foram conduzidos até o limite de flecha L/200 para todas as vigas, de<br />

forma a não exceder o regime elástico do material. Ao final do terceiro ciclo, após a<br />

retirada dos relógios comparadores, as vigas foram conduzidas à ruptura.<br />

8 RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

Neste item são realizadas as avaliações da rigidez efetiva, deformações,<br />

tensões e força de ruptura das vigas compostas.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


74<br />

Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />

8.1 Rigidez efetiva<br />

Na tabela 2 encontram-se os valores de rigidez à flexão e os respectivos<br />

valores dos coeficientes de eficiência (α) para cada as vigas compostas. A coluna<br />

(α EC5 ) indica os valores do coeficiente de eficiência calculado pela equação 36,<br />

segundo a metodologia proposta pelo EUROCODE 5. A coluna (α exp. ) indica os<br />

valores do coeficiente de eficiência calculado pela equação 37.<br />

(EI)<br />

EC5<br />

α EC5 = (36)<br />

(EI)<br />

ríg<br />

(EI)<br />

exp<br />

α exp = (37)<br />

(EI)<br />

ríg<br />

Também é apresentado o valor do erro entre a estimativa do EUROCODE 5 e<br />

os resultados experimentais (vide equação 38). O sinal (-) indica que o valor de rigidez<br />

à flexão, obtido experimentalmente, foi menor que o estimado teoricamente pelo<br />

método do EUROCODE 5.<br />

(EI)<br />

exp<br />

-(EI)<br />

(EI)<br />

EC5<br />

EC5<br />

⋅ 100<br />

(38)<br />

Tabela 2 - Rigidez à flexão e coeficiente de eficiência das vigas compostas<br />

Viga<br />

(EI) ríg.<br />

(kN.cm 2 )<br />

(EI) EC5<br />

(kN.cm 2 )<br />

(EI) exp.<br />

(kN.cm 2 )<br />

α EC5 α exp. Erro (%)<br />

A1 12389321 10993965 10660463 0,89 0,86 -3,0<br />

A2 12221476 10877689 10355724 0,89 0,85 -4,8<br />

A3 13384421 11837396 11445233 0,88 0,86 -3,3<br />

C1 20779163 15630796 13454931 0,75 0,65 -13,9<br />

C2 21980521 15881122 13743379 0,72 0,66 -13,5<br />

C3 17817781 13465536 12731707 0,76 0,72 -5,5<br />

P1 7733260 5943941 5789<strong>29</strong>2 0,77 0,75 -2,6<br />

P2 28208205 16389020 16527848 0,58 0,59 0,8<br />

P3 20336034 16663170 17017367 0,82 0,84 2,1<br />

Na figura 12 é apresentado o diagrama de força x flecha para a viga A1.<br />

Neste diagrama são indicadas quatro curvas teóricas (Rígida, Livre, NBR e EC5) além<br />

dos valores experimentais obtidos dos ensaios. A curva “Rígida” considera ligação<br />

perfeitamente rígida. A curva “Livre” indica o comportamento da viga supondo não<br />

haver ligação. Também são apresentados, nas curvas “NBR” e “EC5”, os<br />

comportamentos da viga de acordo com os procedimentos de cálculo indicados pelas<br />

normas NBR 7190 e EUROCODE 5, respectivamente.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />

75<br />

Viga A1<br />

Força (kN)<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60 70 80<br />

Flecha (mm)<br />

Rígida NBR EC5 Experimental Livre<br />

Figura 12 - Diagrama força x flecha dos ensaios de flexão da viga de Angelim A1.<br />

Observando o diagrama da figura 12 e os valores de erro na tabela 2, pode-se<br />

notar a proximidade dos valores teóricos do EUROCODE 5 com os valores obtidos<br />

nos ensaios, principalmente nos instantes iniciais (até L/200). Nota-se também que a<br />

partir de um dado momento o sistema composto começa a perder eficiência e desse<br />

ponto em diante a teoria linear do EUROCODE 5 e da NBR 7190 torna-se inadequada<br />

para prever os deslocamentos e os esforços atuantes.<br />

8.2 Deformações e tensões<br />

A seguir são apresentados os diagramas de tensões e deformações para a<br />

viga A2, indicando os resultados experimentais e comparando-os com os obtidos da<br />

formulação do EUROCODE 5. As tensões e deformações apresentadas na figura 13<br />

referem-se aos valores obtidos através de extensômetros elétricos posicionados na<br />

seção transversal central, para o nível de força aplicada que produzia uma flecha<br />

teórica de L/200 considerando regime elástico.<br />

Viga A2<br />

Viga A2<br />

20<br />

20<br />

Altura na seção (cm)<br />

15<br />

10<br />

5<br />

Altura na seção (cm)<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

-1500 -1000 -500 0 500 1000 1500<br />

0<br />

-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25<br />

Deformações (µε)<br />

Tensões (MPa)<br />

Teórico<br />

Experimental<br />

Teórico<br />

Experimental<br />

Figura 13 - Diagramas de deformações e tensões da viga A2.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


76<br />

Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />

A figura 13 indica boa correspondência entre os valores teóricos calculados<br />

pelo método do EUROCODE 5 e os valores experimentais obtidos pelos<br />

extensômetros elétricos.<br />

8.3 Força de ruptura<br />

Em relação aos estados limites últimos, foram comparados os valores de força<br />

máxima calculados teoricamente pelo método do EUROCODE 5 e NBR 7190, e<br />

comparados com os resultados experimentais obtidos.<br />

Vigas de Angelim<br />

Força de Ruptura (kN)<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

A1 A2 A3<br />

Vigas<br />

EC5<br />

NBR<br />

Exp.<br />

Figura 14 - Diagrama de força de ruptura das vigas de Angelim.<br />

A figura 14 ilustra os valores teóricos da forças obtidas, bem como, o valor<br />

experimental, correspondente à ruptura da peça. Os valores de ruptura experimentais<br />

das vigas de Angelim são de 102% a 240% superiores quando comparados com os<br />

teóricos obtidos do cálculo do EUROCODE 5. A grande diferença têm fundamento na<br />

consideração do estado de ruptura da viga. Tanto o método do EUROCODE 5 quanto<br />

o método da NBR consideram, para estes exemplos particulares de vigas, que,<br />

quando a ligação mais solicitada (extremo da viga) atinge sua capacidade máxima, a<br />

viga atingiu o estado o estado limite último. Entretanto, pode ser observado que, após<br />

este ponto, ocorre uma redistribuição de esforços, devido a alta flexibilidade dos<br />

conectores, garantindo maior capacidade resistente para o elemento estrutural. Por<br />

fim, a ruptura das vigas foi caracterizada por de tração na mesa inferior ou tração na<br />

alma, por flexão.<br />

Comparando os valores teóricos da capacidade resistente obtidos pela norma<br />

EUROCODE 5 e NBR 7190, nota-se que esta conduz a valores inferiores. Isto é<br />

devido ao fato da norma brasileira considerar o fluxo de cisalhamento como se a viga<br />

fosse maciça. Já a norma européia admite um redução no valor do fluxo de<br />

cisalhamento, em função da eficiência da conexão. Em média esta diferença na<br />

resistência ficou por volta de 10 a 14%.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />

77<br />

9 CONCLUSÕES<br />

As vigas compostas de madeira pregadas apresentam facilidade de execução<br />

e baixo custo de produção, podendo ser largamente empregadas nas construções de<br />

madeira principalmente quando é requerido um acréscimo de inércia sem a<br />

disponibilidade de peças de seção maciça.<br />

O modelo da NBR 7190, por meio de coeficientes de redução de inércia é<br />

simples mas impreciso para estimar o comportamento deste tipo de elemento<br />

estrutural.<br />

Já o método do EUROCODE 5 apresentou razoável concordância com os<br />

resultados experimentais.<br />

10 AGRADECIMENTOS<br />

Os autores expressam seus agradecimentos à FAPESP – “Fundação de<br />

Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo”, pela concessão da bolsa de estudos e<br />

suporte financeiro para o desenvolvimento da pesquisa.<br />

11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1997). NBR 7190 - Projeto<br />

de Estruturas de Madeira. Rio de Janeiro.<br />

ALVIM, R. C. (2002). A Resistência dos Pilares de Madeira Composta. São Paulo.<br />

Tese (Doutorado) – Escola Politécnica - Universidade de São Paulo.<br />

GEHRI, E. (1988). Zusammengesetzte Träger. In: Autographie Einführung in die<br />

Norm 164 (1981). p.285-<strong>29</strong>8.<br />

GÓES, J. L. N. (2002). Análise de vigas de madeira pregadas com seção<br />

composta I. São <strong>Carlos</strong>. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São<br />

<strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />

KREUZINGER, H. (1995). Mechanically jointed beams e columns. Timber<br />

Engineering STEP 1, Lecture B11, Centrum Hout, The Netherlands.<br />

COMITÉ EUROPÉEN DE NORMALISATION (1993). EUROCODE 5 - Design of<br />

Timber Structures. Brussels.<br />

EHLBECK, J.; LARSEN, H. J. (1991). Eurocode 5 - Design of Timber Structures:<br />

Joints. p.9-23.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>


ISSN 1809-5860<br />

ANÁLISE DOS MECANISMOS RESISTENTES E DAS<br />

SIMILARIDADES DE EFEITOS DA ADIÇÃO DE<br />

FIBRAS DE AÇO NA RESISTÊNCIA E NA<br />

DUCTILIDADE À PUNÇÃO DE LAJES-COGUMELO E<br />

AO CISALHAMENTO DE VIGAS DE CONCRETO<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda 1 & João Bento de Hanai 2<br />

Resumo<br />

Um dos principais problemas das lajes-cogumelo refere-se à ruína por puncionamento<br />

da ligação laje-pilar. Esta forma de ruína deve ser evitada, proporcionando-se às lajes<br />

as melhores condições para o desenvolvimento de mecanismos de escoamento das<br />

armaduras e de ruína por flexão, antes da ocorrência da ruína por cisalhamento. A<br />

introdução de fibras de aço em elementos de concreto submetidos a solicitações<br />

tangenciais proporciona melhoria de desempenho, seja pelo aumento da capacidade<br />

resistente, seja pela alteração da forma de ruína. Pretende-se contribuir com o avanço<br />

do conhecimento sobre o assunto, explorando aspectos como a análise das<br />

similaridades dos efeitos da adição de fibras de aço na resistência e na ductilidade de<br />

lajes-cogumelo à punção, com aqueles que se observam no cisalhamento de vigas<br />

prismáticas análogas. Abordam-se os casos de ligações laje-pilar interno sem<br />

armadura de punção, variando-se a resistência do concreto, a taxa e o tipo de fibra<br />

utilizado. A partir dos resultados experimentais, verificou-se que existe uma<br />

similaridade de comportamento estrutural entre esses dois elementos e concluiu-se que<br />

é possível utilizar ensaios de cisalhamento em vigas prismáticas para se obter<br />

indicadores a serem utilizados nos ensaios de punção de lajes. Foi efetuada uma<br />

análise da adaptabilidade de modelos teóricos existentes sobre cisalhamento em vigas e<br />

punção em lajes, com vistas à consideração do efeito da adição de fibras de aço ao<br />

concreto. Com base nesses modelos, foram estabelecidos critérios quantitativos para<br />

avaliação da resistência e da ductilidade das ligações laje-pilar.<br />

Palavras-chave: concreto com fibras; punção; cisalhamento; similaridades;<br />

modelo teórico.<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, accetti@sc.usp.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jbhanai@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


80<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Na ruína por punção, sendo a força cortante a ação predominante, a laje pode romper<br />

antes que a armadura de flexão atinja sua tensão de escoamento, observando-se então uma<br />

ruína de natureza frágil, abrupta, que não oferece qualquer aviso prévio. Esta forma de ruína<br />

deve, portanto, ser evitada, proporcionando-se às lajes as melhores condições para o<br />

desenvolvimento de mecanismos de escoamento das armaduras e de ruína por flexão, mais<br />

dúctil, antes da ocorrência da ruína por cisalhamento. Assim, é essencial que nos projetos de<br />

ligações laje-pilar se preocupe com os parâmetros tanto de resistência como de ductilidade.<br />

Pesquisas mais recentes têm mostrado a melhoria de desempenho devida à<br />

introdução de fibras de aço em elementos de concreto submetidos a solicitações tangenciais,<br />

seja pelo aumento da capacidade resistente, seja pela alteração da forma de ruína. O<br />

interesse despertado por esse estudo pode ser explicado pela expectativa de bons resultados<br />

no desenvolvimento de novos materiais, na economia de tempo para no preparo do concreto<br />

com fibras, em face ao tempo necessário para montagem e execução da armadura<br />

transversal, ou mesmo pela vantagem das fibras proporcionarem maior ductilidade à ligação.<br />

Deve-se salientar o particular interesse na associação de concreto de alta resistência<br />

com fibras de aço. O incremento da resistência do concreto aumenta a resistência da ligação à<br />

punção, mas ao mesmo tempo o concreto de alta resistência mostra-se mais frágil e leva à<br />

diminuição do efeito de engrenamento dos agregados na superfície de ruína, pois ela passa a<br />

se mostrar mais lisa. A adição de fibras de aço oferece, taticamente, maior tenacidade ao<br />

concreto e efeitos de costura, tanto na superfície de ruína como nas imediações das<br />

armaduras longitudinais e transversais (quando estas existirem).<br />

Os objetivos específicos da tese são:<br />

a) produzir novos dados experimentais e re-estruturar os dados existentes sobre a resistência<br />

e a ductilidade de ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de concreto armado reforçado com<br />

fibras de aço;<br />

b) efetuar uma análise prospectiva da adaptabilidade de modelos mecânicos teóricos<br />

existentes sobre a punção em lajes, com vistas à consideração do efeito da adição de fibras de<br />

aço ao concreto;<br />

c) analisar e estabelecer conclusões sobre a similaridade de comportamento estrutural de lajes<br />

de concreto com fibras, sujeitas à punção, e de vigas análogas submetidas à força cortante;<br />

d) estabelecer, quando possível, correlações qualitativas entre a resistência e a ductilidade de<br />

lajes-cogumelo à punção, com a resistência e a ductilidade de vigas prismáticas ao<br />

cisalhamento;<br />

e) estabelecer, na medida do possível, método e critérios de seleção do tipo, volume e outras<br />

características das fibras de aço a serem usadas em ligações laje-pilar, por meio de<br />

indicadores obtidos em ensaios mais simples de cisalhamento em prismas;<br />

f) estabelecer critérios quantitativos para avaliação da ductilidade das ligações laje-pilar.<br />

2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS<br />

2.1 Aspectos teóricos do concreto com fibras<br />

A efetividade do reforço com fibras pode ser avaliada com base nos critérios de<br />

melhoria de resistência e de tenacidade do compósito, comparado com a matriz frágil. As<br />

fibras aumentam a resistência do material, promovendo meios de transferência de tensão<br />

através das fissuras. Além disso, elas aumentam a tenacidade do material, proporcionando<br />

mecanismos de absorção de energia, relacionados com o desligamento e o arrancamento das<br />

fibras que formam pontes nas fissuras. A eficácia das fibras na melhoria das propriedades<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />

81<br />

mecânicas da matriz frágil de cimento é controlada pelos processos pelos quais a força é<br />

transferida para as fibras e pelo efeito de “costura” das fissuras, proporcionado pelas fibras em<br />

estágios avançados de carregamento. Estes dois aspectos serão estudados separadamente,<br />

nos próximos sub-itens.<br />

2.2 Mecanismos alternativos resistentes ao cisalhamento<br />

Segundo RUSSO & PULERI (1997), os dois principais mecanismos resistentes ao<br />

cisalhamento de vigas sem armadura transversal, isto é, os mecanismos provenientes da<br />

contribuição do concreto, são a ação de viga e a ação de arco (Equação 1).<br />

dT dj<br />

V jd + Td<br />

dx dx<br />

= (1)<br />

onde T é a força de tração na armadura, x é o comprimento da viga e j é um valor<br />

adimensional, menor do que 1, que faz reduzir o braço de alavanca de um valor igual a d para<br />

outro menor, igual a jd. Em vigas esbeltas (a/d ≥ 2,5), onde a ação de viga é predominante, 20<br />

a 40% da força cortante é resistida pelo concreto comprimido não fissurado (banzo<br />

comprimido), 33 a 55% pelo engrenamento dos agregados ao longo das superfícies rugosas<br />

do concreto em cada um dos lados da fissura, e 15 a 25% pela ação de pino da armadura<br />

longitudinal de flexão. Esses são os chamados mecanismos resistentes alternativos. De<br />

acordo com LIM & OH (1999), em vigas esbeltas sem estribos e reforçadas com fibras de aço,<br />

o esforço cortante é transmitido por meio das seguintes parcelas: efeito do concreto nãofissurado<br />

da região comprimida (V c ), efeito de engrenamento dos agregados ao longo da<br />

fissura diagonal (V a ), efeito de pino da armadura longitudinal que atravessa esta fissura (V p ) e<br />

componentes verticais da força de arrancamento das fibras ao longo da fissura inclinada (V fib ),<br />

conforme mostra a Figura 1.<br />

Figura 1 - Parcelas do esforço cortante resistido por uma viga de CRFA (LIM & OH, 1999).<br />

2.3 Resistência de lajes à punção<br />

Os diagramas força x deslocamento dos ensaios de lajes submetidas ao<br />

puncionamento normalmente exibem estágios de comportamento, delimitados por mudanças<br />

significativas da inclinação das curvas, conforme mostra a Figura 2.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


82<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

I II<br />

III IV<br />

FORÇA<br />

Pu<br />

P y<br />

P<br />

fiss<br />

O<br />

δ<br />

fiss<br />

δy<br />

δ<br />

u<br />

DESLOCAMENTO<br />

Figura 2 - Comportamento geral de lajes ensaiadas à punção.<br />

O estágio I se refere ao concreto não fissurado, onde a força aplicada é proporcional<br />

ao deslocamento. As deformações da armadura são pequenas. O estágio II começa com a<br />

ocorrência de fissuração, que começa na superfície tracionada da laje, no contorno do pilar. A<br />

rigidez da laje diminui drasticamente. As tensões de tração no concreto são transferidas<br />

rapidamente para a armadura, conforme o carregamento aumenta. Mais fissuras aparecem na<br />

superfície tracionada e se propagam em direção às bordas da laje. As deformações da<br />

armadura aumentam rapidamente e eventualmente podem alcançar o limite de escoamento.<br />

Este estágio termina com a formação de curvaturas acentuadas na laje. No estágio III a rigidez<br />

da laje sofre outra redução devido ao aumento do carregamento. A laje sofre deformações<br />

plásticas elevadas devidas à propagação do escoamento ao longo da armadura de flexão. O<br />

aumento do carregamento só é possível devido à ação de membrana da armadura de flexão.<br />

Perto da carga última, a rigidez da laje diminui rapidamente e as fissuras começam a aparecer<br />

nas superfícies tracionada e comprimida, na direção circunferencial e ao redor da área<br />

carregada. A força concentrada começa a perfurar a laje e, quando as fissuras circunferenciais<br />

se tornam muito abertas, a capacidade portante da laje cai bruscamente. A região IV indica<br />

outra redução da capacidade portante da laje. Essa redução ocorre em várias etapas,<br />

simultaneamente ao lascamento do concreto da região tracionada da laje.<br />

3 MODELO MECÂNICO DE ALEXANDER & SIMMONDS (1991)<br />

ALEXANDER & SIMMONDS (1991) propuseram um modelo simplificado (“Bond<br />

Model”), denominado neste trabalho Modelo Viga-Arco, para punção em lajes sem armadura<br />

de punção. O Modelo Viga-Arco descreve a transferência da força cortante em uma ligação<br />

laje-pilar interno, em termos de dois mecanismos fundamentais de transferência de esforço<br />

cortante: ação de viga e ação de arco. A laje é dividida em faixas radiais e quadrantes (Figura<br />

3) radiais, o esforço cortante é suportado por um arco comprimido, e varia de um valor máximo<br />

na face do pilar a um valor próximo de zero, na interseção do arco com a armadura de flexão<br />

da laje. Portanto, a força é transferida dos quadrantes adjacentes para uma faixa radial por<br />

meio de ação de viga, e da faixa para o pilar por meio de ação de arco.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />

83<br />

Figura 3 - Transferência de esforço cortante em uma ligação laje-pilar interno<br />

(AFHAMI et al., 1998).<br />

De acordo com o Modelo Viga-Arco, a resistência à punção de uma ligação laje-pilar é<br />

limitada pelo momento resistente da faixa radial e pela capacidade da laje de gerar gradiente<br />

de força na armadura de flexão positiva localizada na vizinhança do pilar. Os gradientes de<br />

força na armadura podem ser limitados pela perda de aderência ou pela difusão do<br />

escoamento ao longo do comprimento da barra. Qualquer que seja a causa, a perda do<br />

gradiente de força nas barras localizadas nos quadrantes das lajes reduz sua capacidade de<br />

resistir ao cisalhamento na vizinhança com o pilar. A laje rompe por punção antes da formação<br />

do mecanismo de linhas de escoamento, devido à perda da aderência da armadura localizada<br />

nos quadrantes adjacentes da laje, perpendicularmente às faixas radiais.<br />

Roteiro para aplicação do Modelo Viga-Arco<br />

1) Calcula-se o momento resistente da faixa radial.<br />

⎛ ρ f<br />

2<br />

y ⎞<br />

M = ρ<br />

⎜ −<br />

⎟<br />

s<br />

f<br />

y<br />

c d 1<br />

[kN.cm] (2)<br />

⎝ 1,7 f<br />

c ⎠<br />

2) Calcula-se a resistência ao cisalhamento das faixas radiais pela equação do ACI 318/99.<br />

τ = ( 0,167 f<br />

c<br />

) /10 [kN/cm 2 ] (3)<br />

3) Calcula-se o máximo esforço cortante distribuído linearmente, atuante em cada face lateral<br />

de uma faixa radial, que pode ser transmitido dos quadrantes adjacentes a ela (solução de<br />

limite inferior).<br />

ω = d τ [kN/cm] (4)<br />

4) Calcula-se a resistência à punção da ligação, que é a soma da resistência ao cisalhamento<br />

das quatro faixas radiais.<br />

P 8 M ω [kN] (5)<br />

u<br />

=<br />

s<br />

Na Tabela 1 tem-se a aplicação do Modelo Viga-Arco para algumas lajes sem fibras,<br />

ensaiadas por autores citados na revisão bibliográfica.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


84<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

Tabela 1 -– Aplicação do Modelo Viga-Arco para lajes sem fibras<br />

Autor<br />

f c f y<br />

d P<br />

ρ (%)<br />

u(exp) P u(calc)<br />

(MPa) (MPa) (cm) (kN) (kN)<br />

P u(exp) / P u(calc)<br />

Zambrana Vargas 26,00 602,00 1,73 4,0 80,00 52,69 1,52<br />

Harajli <strong>29</strong>,60 501,00 1,12 3,9 62,53 41,47 1,51<br />

McHarg 30,00 434,00 0,87 12,5 306,00 <strong>29</strong>9,91 1,02<br />

Harajli 31,40 501,00 1,12 5,5 99,36 70,74 1,40<br />

Alexander & Simmonds 35,60 438,00 0,46 10,5 264,00 169,58 1,56<br />

Azevedo 43,73 609,88 1,57 8,0 176,48 155,40 1,14<br />

Theodorakopoulos & Swamy 44,20 535,00 0,63 10,0 173,50 185,24 0,94<br />

Swamy & Ali 45,00 462,00 0,63 10,0 197,70 173,53 1,14<br />

Hughes & Xiao 52,00 558,00 1,00 5,2 89,00 86,48 1,03<br />

Azevedo 86,65 609,88 1,57 8,0 190,72 191,01 1,00<br />

Zambrana Vargas 88,70 602,00 1,73 4,0 88,70 79,03 1,12<br />

Média 1,22<br />

4 PROGRAMA EXPERIMENTAL<br />

4.1 Ensaios-piloto série 1<br />

Para a primeira série de ensaios-piloto optou-se por ensaiar vigas correspondentes a<br />

três lajes ensaiadas por AZEVEDO (1999). As vigas foram ensaiadas à flexão e<br />

dimensionadas para romperem por cisalhamento. Os ensaios das vigas, assim como os das<br />

lajes, foram feitos com deformação controlada, e velocidade igual a 0,005 mm/s. Procurou-se<br />

manter a mesma espessura, altura útil, e taxa de armadura das lajes, e as mesmas dimensões<br />

do pilar utilizado nos ensaios das ligações. O esquema de ensaio está ilustrado na Figura 4.<br />

Figura 4 - Ensaio das Vigas Piloto Série 1.<br />

De acordo com o esperado, para a relação a/d utilizada, a ruína das vigas foi por<br />

tração diagonal, sendo que uma das fissuras se propagou ao longo da alma da viga até ela se<br />

tornar instável devido ao aumento do carregamento e acontecer a ruína. Na Figura 5<br />

apresenta-se a configuração de ruína das vigas. Onde está escrito V1A entenda-se VP1A, e<br />

assim por diante. Nas vigas VP1 o volume percentual de fibras era 0%, nas vigas VP2 era<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />

85<br />

0,75% e nas vigas VP3 era 1,5%. Nas vigas VP3 apareceram fissuras de flexão, que se devem<br />

à presença das fibras em quantidade elevada (1,5%). As armaduras dessas vigas foram mais<br />

solicitadas, quase atingindo o escoamento; entretanto a ruína permaneceu caracterizada por<br />

cisalhamento, havendo a formação da fissura crítica inclinada. Nos modelos sem fibras a<br />

fissura diagonal formou-se em apenas um dos lados da viga, enquanto que em alguns<br />

modelos com fibras, principalmente os com 1,5%, houve a formação de fissura diagonal nos<br />

dois lados da viga.<br />

Figura 5 - Configuração de ruína das Vigas Piloto Série 1.<br />

Na Figura 6 apresenta-se o gráfico da força aplicada versus o deslocamento do ponto central,<br />

de onde se verifica o ganho de resistência e ductilidade proporcionado pela adição das fibras<br />

de aço ao concreto.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


86<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

Força (kN)<br />

55<br />

50<br />

45<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

VP1A<br />

VP1B<br />

VP2A<br />

VP2B<br />

VP3A<br />

VP3B<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12<br />

Deslocamento (mm)<br />

Figura 6 - Gráfico Força x Deslocamento das Vigas Piloto Série 1.<br />

A quantificação do ganho de resistência tanto para as vigas, como para as lajes, pode<br />

ser encontrada no gráfico da Figura 7.<br />

250<br />

200<br />

176,48<br />

191,96<br />

197,61<br />

Resistência<br />

150<br />

100<br />

Vigas<br />

Lajes<br />

50<br />

27,72<br />

40,44<br />

45,78<br />

0<br />

0 0,75 1,5<br />

V f (%)<br />

Figura 7 - Gráfico Resistência média x Volume de fibras para Lajes e Vigas Piloto Série 1.<br />

Plotando em um gráfico (Figura 8) a resistência média das vigas versus a resistência<br />

das lajes, verifica-se que a linha de tendência é do tipo linear, e o coeficiente de correlação é<br />

bem próximo da unidade.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />

87<br />

Pu (kN)<br />

200<br />

195<br />

190<br />

185<br />

180<br />

y = 1,1785x + 143,92<br />

R 2 = 0,9991<br />

Experimental<br />

Linear<br />

175<br />

20 25 30 35 40 45 50<br />

F u (kN)<br />

Figura 8 - Gráfico Resistência das Lajes x Resistência média das Vigas Piloto Série 1.<br />

4.2 Ensaios-piloto série 2<br />

Para a segunda série de ensaios-piloto, optou-se por ensaiar vigas curtas<br />

correspondentes às mesmas três lajes ensaiadas por AZEVEDO (1999). Os ensaios das vigas,<br />

assim como os das lajes, foram feitos com deformação controlada, e velocidade igual a<br />

0,005 mm/s. Procurou-se manter a mesma espessura, altura útil, e taxa de armadura das lajes,<br />

e as mesmas dimensões do pilar utilizado nos ensaios das ligações. O esquema de ensaio<br />

está ilustrado na Figura 9.<br />

Figura 9 - Ensaio das Vigas Piloto Série 2.<br />

Na Figura 10 apresenta-se a configuração de ruína das vigas curtas. Nessas vigas a<br />

ação do efeito arco foi predominante.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


88<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

Figura 10 - Configuração de ruína das Vigas Piloto Série 2.<br />

Na Figura 11 apresenta-se o gráfico da força aplicada versus o deslocamento do<br />

ponto central, de onde se observa que praticamente não houve ganho de resistência nem de<br />

ductilidade devido à adição das fibras de aço ao concreto.<br />

Força (kN)<br />

65<br />

60<br />

55<br />

50<br />

45<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

VP4A<br />

VP4B<br />

VP5A<br />

VP5B<br />

VP6A<br />

VP6B<br />

0 2 4 6 8 10<br />

Deslocamento (mm)<br />

Figura 11 - Gráfico Força x Deslocamento das Vigas Piloto Série 2.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />

89<br />

No gráfico da Figura 12 foram plotados os valores de resistência ao cisalhamento de<br />

todas as vigas dos ensaios-piloto e de resistência à punção das lajes de referência. A<br />

similaridade de comportamento existente entre as lajes e as vigas da Série 1 não se<br />

manifestou entre as lajes e as vigas de Série 2.<br />

250<br />

Resistência<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

191,96<br />

197,61<br />

176,48<br />

Lajes<br />

Vigas S1<br />

Vigas S2<br />

54,26<br />

50,32<br />

56,68<br />

28,27<br />

40,92<br />

46,63<br />

0 0,75 1,5<br />

V f (%)<br />

Figura 12 - Gráfico Resistência média x Volume de fibras para Lajes e Vigas Piloto Série 2.<br />

4.3 Planejamento dos ensaios<br />

Os modelos de lajes eram quadrados de lados de 116 cm e possuíam espessura de<br />

10 cm. Na Figuras 13 e 14 encontram-se os detalhamentos das armaduras dos modelos de<br />

lajes.<br />

Armadura superior<br />

Armadura inferior<br />

9 Ø 5,0mm<br />

17 Ø 10,0mm<br />

9 Ø 5,0mm<br />

20 Ø 10,0mm<br />

Figura 13 - Detalhamento das armaduras dos modelos de laje.<br />

Os modelos foram moldados na posição invertida, para facilitar o posicionamento da<br />

armadura de flexão, garantindo-se o cobrimento definido no projeto.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


90<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

20Ø10mm<br />

10<br />

116<br />

2,3 5,6<br />

13,8<br />

1 1<br />

1,5<br />

9Ø5mm<br />

113<br />

9<br />

7,5 1,5<br />

1,5 110 1,5<br />

Ø 10mm - 128 cm<br />

Ø 5mm - 111 cm<br />

17Ø10mm<br />

116<br />

7<br />

10<br />

13,8<br />

1 1<br />

1,5<br />

9Ø5mm<br />

113<br />

1,5<br />

1,5<br />

110<br />

1,5<br />

8<br />

6,5<br />

Ø 10mm - 126 cm<br />

Ø 5mm - 111 cm<br />

Figura 14 - Detalhamento das armaduras dos modelos de laje na posição da concretagem.<br />

Na Figura 15 encontra-se o esquema do sistema de ensaio dos modelos de ligação<br />

laje-pilar. Os ensaios foram feitos com deformação controlada, com a velocidade de<br />

deslocamento do pistão de 0,005 mm/s. O pilar foi simulado por uma chapa de aço de<br />

dimensões em planta de 8 x 8 cm, conforme procedimento utilizado por AZEVEDO (1999).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />

91<br />

Atuador<br />

servo-hidráulico<br />

Viga " I" metálica<br />

Célula de<br />

carga<br />

Chapa<br />

Chapa de<br />

apoio<br />

Laje<br />

Bloco de<br />

concreto<br />

Figura 15 - Sistema de ensaio dos modelos de ligação laje-pilar.<br />

Na Figura 16 tem-se o esquema de instrumentação dos modelos de ligação laje-pilar.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


92<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

Armadura inferior<br />

Armadura superior<br />

17 Ø 10,0mm<br />

1 2 3<br />

5<br />

6<br />

4<br />

7 8<br />

9 Ø 5,0mm<br />

13<br />

14<br />

15<br />

9 10 11<br />

16<br />

12<br />

20 Ø 10,0mm<br />

9 Ø 5,0mm<br />

23<br />

24<br />

22<br />

Legenda:<br />

17<br />

25<br />

21<br />

transdutor de deslocamento superior<br />

fundo de escala = 50 mm<br />

transdutor de deslocamento inferior<br />

18<br />

20<br />

fundo de escala = 100 mm<br />

19<br />

1160 mm<br />

170<br />

205<br />

115<br />

130<br />

55<br />

65<br />

1160 mm<br />

165<br />

100<br />

30<br />

5<br />

6<br />

7<br />

1 2<br />

3<br />

4<br />

8<br />

215<br />

145<br />

75<br />

9 10 11<br />

13<br />

14<br />

15<br />

16<br />

12<br />

80<br />

80<br />

Figura 16 - Esquema de instrumentação dos modelos de ligação laje-pilar.<br />

Na Figura 17 encontram-se o detalhamento e a instrumentação das armaduras dos<br />

modelos de vigas da Série 1, na posição da concretagem (invertida).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />

93<br />

10<br />

2,3<br />

60<br />

1 1<br />

1,5<br />

10<br />

1<br />

1<br />

12<br />

9<br />

1<br />

2Ø5mm<br />

57<br />

28,5<br />

10,5<br />

2 6<br />

1<br />

5<br />

4<br />

3<br />

10<br />

9<br />

Ø 10mm<br />

Ø5mm<br />

Ø 5mm<br />

Ø5mm<br />

7<br />

11<br />

8 12<br />

9<br />

10<br />

10<br />

Figura 17 - Detalhamento e instrumentação das armaduras da vigas da Série1.<br />

Na Figura 18 encontram-se o detalhamento das armaduras e a instrumentação do aço<br />

dos modelos das vigas das Séries 2 e 4, na posição da concretagem. Na Série 2 em diante,<br />

passou-se a não mais instrumentar os pontos 7 a 10 da armadura comprimida, substituindo-os<br />

por rosetas coladas ao concreto.<br />

10<br />

2,3<br />

60<br />

1 1<br />

1,5<br />

10<br />

1<br />

1<br />

12<br />

9<br />

1<br />

2Ø5mm<br />

9<br />

57<br />

28,5<br />

10,5 10,5<br />

2 6 4<br />

Ø 10mm<br />

1 5<br />

Ø 5mm<br />

3<br />

Ø 10mm<br />

10<br />

Ø5mm<br />

Ø5mm<br />

10<br />

Ø 5mm<br />

Figura 18 - Detalhamento e instrumentação das armaduras da vigas das Séries 2 e 4.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


94<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

Na Série 5 há uma pequena diferença na largura das vigas em relação ao desenho<br />

mostrado na Figura 4.14. Nessa série, a largura das vigas passa a ser 11 cm, pois precisavase<br />

obter taxa de armadura de flexão semelhante a utilizada por ZAMBRANA VARGAS (1997).<br />

Além disso, a instrumentação das barras longitudinais resume-se apenas aos pontos centrais<br />

(5 e 6) e o concreto não foi instrumentado.<br />

Na Figura 19 encontram-se o detalhamento das armaduras e a instrumentação do aço<br />

dos modelos das vigas da Série 3, na posição da concretagem.<br />

17<br />

2,3<br />

110<br />

1 1<br />

1<br />

13<br />

2<br />

17<br />

1<br />

1<br />

1<br />

2Ø5mm<br />

108<br />

1<br />

49<br />

5<br />

5 11<br />

16<br />

Ø 10mm<br />

Ø 5mm<br />

2 7<br />

Ø 10mm<br />

Ø5mm<br />

Ø5mm<br />

11<br />

Ø 5mm<br />

8<br />

3<br />

Ø 10mm<br />

Ø 5mm<br />

6 4<br />

Ø 10mm<br />

Ø 5mm<br />

Figura 19 - Detalhamento e instrumentação das armaduras da vigas da Série 3.<br />

Nas Figuras 20 e 21 encontram-se a instrumentação do concreto, por meio de rosetas<br />

coladas em uma das faces da viga, e o esquema da aplicação do carregamento.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />

95<br />

F<br />

14,75<br />

10<br />

9<br />

8<br />

7<br />

45°<br />

12 11<br />

10<br />

1,25<br />

20,25 8 20,25<br />

1,25<br />

4,5<br />

60<br />

4,5<br />

Figura 20 - Instrumentação com rosetas do concreto das vigas das Séries 2 e 4.<br />

F<br />

27,25<br />

17<br />

11 10<br />

9<br />

45°<br />

14 13<br />

12<br />

1,25 45,25<br />

8 45,25<br />

1,25<br />

4,5<br />

110<br />

4,5<br />

Figura 21 - Instrumentação com rosetas do concreto das vigas da Série 3.<br />

Na Tabela 2 encontra-se detalhado o programa experimental.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


96<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

Tabela 2 - Programa de ensaios<br />

Modelos<br />

h d<br />

Série<br />

(cm) (cm)<br />

Viga Laje<br />

c<br />

(cm)<br />

ρ<br />

(%)<br />

fc14<br />

(MPa)<br />

Tipo de<br />

fibra<br />

Vf<br />

(%)<br />

V1A<br />

V1B<br />

L1 10 8,5 8 1,57 25 -- 0<br />

S1<br />

V2A<br />

ZP-305<br />

L2 10 8,5 8 1,57 25<br />

V2B<br />

DRAMIX<br />

1<br />

V3A<br />

ZP-305<br />

L3 10 8,5 8 1,57 25<br />

V3B<br />

DRAMIX<br />

2<br />

V4A<br />

V4B<br />

L4 10 8,5 8 1,57 60 -- 0<br />

S2<br />

V5A<br />

ZP-305<br />

L5 10 8,5 8 1,57 60<br />

V5B<br />

DRAMIX<br />

1<br />

V6A<br />

ZP-305<br />

L6 10 8,5 8 1,57 60<br />

V6B<br />

DRAMIX<br />

2<br />

V7A<br />

V7B<br />

-- 17 15,5 8 1,59 60 -- 0<br />

S3<br />

V8A<br />

ZP-305<br />

-- 17 15,5 8 1,59 60<br />

V8B<br />

DRAMIX<br />

1<br />

V9A<br />

ZP-305<br />

-- 17 15,5 8 1,59 60<br />

V9B<br />

DRAMIX<br />

2<br />

S4<br />

V10A<br />

RL 45/50 BN<br />

L7 10 8,5 8 1,57 40(1)<br />

V10B<br />

DRAMIX<br />

0,75<br />

V11A<br />

RL 45/50 BN<br />

L8 10 8,5 8 1,57 40(1)<br />

V11B<br />

DRAMIX<br />

1,5<br />

V12A<br />

V12B<br />

-- 10 8,5 8 1,71 85(2) -- 0<br />

S5<br />

V13A<br />

HSCF-25<br />

-- 10 8,5 8 1,71 85(2)<br />

V13B<br />

HAREX<br />

0,75<br />

V14A<br />

HSCF-25<br />

-- 10 8,5 8 1,71 85(2)<br />

V14B<br />

HAREX<br />

1,5<br />

(1)<br />

traço utilizado por AZEVEDO (1999)<br />

(2)<br />

traço utilizado por ZAMBRANA VARGAS (1997)<br />

Variáveis<br />

estudadas<br />

fc<br />

Vf<br />

fc<br />

Vf<br />

d<br />

tipo de fibra<br />

fc<br />

d<br />

tipo de fibra<br />

área<br />

carregada<br />

Na Tabela 3 encontram-se as características das fibras utilizadas neste trabalho.<br />

Tabela 3 - Características das fibras utilizadas<br />

Fibra seção l (mm) D (mm) l/D f y (MPa)<br />

ZP-305<br />

DRAMIX<br />

circular 30 0,55 54,5 1150<br />

RL 45/50 BN<br />

DRAMIX<br />

circular 50 1,05 48 1000<br />

HSCF-25<br />

HAREX<br />

retangular 25(*) 0,667(*) 37,45(*) 770<br />

( * ) valores nominais<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />

97<br />

5 RESULTADOS EXPERIMENTAIS<br />

Na Figuras 22 a 24 apresentam-se fotografias do sistema de ensaio das ligações laje-pilar e<br />

das vigas.<br />

Figura 22 - Sistema de ensaio das ligações laje-pilar.<br />

Figura 23 - Sistema de ensaio das vigas de altura menor.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


98<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

Figura 24 - Sistema de ensaio das vigas de altura maior.<br />

Nas Tabelas 4 a 7 encontram-se os traços dos concretos utilizados em todas as séries.<br />

Tabela 4 - Traço do concreto dos modelos<br />

da Série 1<br />

Traço 1:1,94:2,06:0,65<br />

Tabela 5 - Traço do concreto dos modelos<br />

de S2 e S3<br />

Traço 1:0,76:1,24:0,34<br />

Materiais<br />

Consumo (kg/m 3 )<br />

L1<br />

V1A,<br />

V1B<br />

L2<br />

V2A,<br />

V2B<br />

L3<br />

V3A,<br />

V3B<br />

Cimento Ribeirão<br />

CP II-E-32<br />

424,77 424,77 424,77<br />

Areia 824,05 824,05 824,05<br />

Pedrisco<br />

(φ max =6,3 mm)<br />

875,03 875,03 875,03<br />

Água 276,10 276,10 276,10<br />

Aditivo<br />

Superplastificante<br />

REAX 3000<br />

(γ = 1,16 kg/m 3 )<br />

-- 0,66% 0,99%<br />

Fibra ZP-305<br />

DRAMIX<br />

Materiais<br />

L4<br />

V4A/B<br />

V7A/B<br />

Consumo (kg/m 3 )<br />

L5<br />

V5A/B<br />

V8A/B<br />

L6<br />

V6A/B<br />

V9A/B<br />

Cimento Ribeirão<br />

CP II-E-32<br />

718,56 718,56 718,56<br />

Areia 546,11 546,11 546,11<br />

Pedrisco<br />

(φ max =6,3 mm)<br />

891,01 891,01 891,01<br />

Água 244,31 244,31 244,31<br />

Aditivo<br />

Superplastificante<br />

REAX 3000<br />

(γ = 1,16 kg/m 3 )<br />

1% 1,7% 2%<br />

Fibra ZP-305<br />

DRAMIX<br />

l = 30 mm<br />

D = 0,55 mm<br />

l / D = 54,5<br />

f y = 1150 MPa<br />

-- 78,5 157<br />

l = 30 mm<br />

D = 0,55 mm<br />

l / D = 54,5<br />

f y = 1150 MPa<br />

-- 78,5 157<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />

99<br />

Tabela 6 - Traço do concreto dos modelos da<br />

Série 4<br />

Traço 1:1,8:2,5:0,5<br />

Tabela 7 - Traço do concreto dos modelos da<br />

Série 5<br />

Traço 1:0,1:1,33:2,33:0,34<br />

Materiais<br />

Cimento Ribeirão<br />

CP II-E-32<br />

Consumo (kg/m3)<br />

L7<br />

V10A,<br />

V10B<br />

L8<br />

V11A,<br />

V11B<br />

423,15 423,15<br />

Areia 760,56 760,56<br />

Brita 1<br />

(φmax=19 mm)<br />

1056,30 1056,30<br />

Água 211,30 211,30<br />

Aditivo<br />

Superplastificante<br />

REAX 3000<br />

(γ = 1,16 kg/m3)<br />

Fibra RL 45/50 BN<br />

DRAMIX<br />

0,5% 1%<br />

Materiais<br />

V12A,<br />

V12B<br />

Consumo (kg/m 3 )<br />

V13A,<br />

V13B<br />

V14A,<br />

V14B<br />

Cimento Ciminas<br />

CP V-ARI PLUS<br />

470,59 470,59 470,59<br />

Microssílica<br />

SILMIX<br />

47,06 47,06 47,06<br />

Areia 625,88 625,88 625,88<br />

Brita 1<br />

(φ max =19 mm)<br />

1096,47 1096,47 1096,47<br />

Água 160,00 160,00 160,00<br />

Aditivo<br />

Superplastificante<br />

REAX 3000<br />

(γ = 1,16 kg/m 3 )<br />

-- 3% 3%<br />

Fibra HSCF-25<br />

HAREX<br />

l = 50 mm<br />

D = 1,05 mm<br />

l / D = 48<br />

fy = 1000 MPa<br />

59,85 119,70<br />

l = 25 mm<br />

D = 0,667 mm<br />

l / D = 37,48<br />

f y = 770 MPa<br />

-- 59,85 119,70<br />

Nas Tabelas 8 e 9 apresentam-se os dados e resultados principais de todas as séries de<br />

ensaios.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


100<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

Tabela 8 – Dados e resultados principais de todos os modelos<br />

Modelos de lajes<br />

Modelos de vigas<br />

Série h d ρ f Laje<br />

c Tipo de<br />

(cm) (cm) (%) (MPa) fibra<br />

l/D<br />

V f P u<br />

b h d ρ f<br />

Viga<br />

c Tipo de<br />

(%) (kN) (cm) (cm) (cm) (%) (MPa) fibra<br />

l/D<br />

V f F u<br />

(%) (kN)<br />

L1 10 8 1,57 23,13 -- -- 0 137,20 V1A<br />

V1B 12 10 8,5 1,57 23,13 -- -- 0 24,86<br />

<strong>29</strong>,65<br />

ZP-305<br />

S1<br />

S2<br />

S3<br />

L2 10 8 1,57 24,40<br />

L3 10 8 1,57 28,06<br />

DRAMIX<br />

ZP-305<br />

DRAMIX<br />

54,5 1 139,55<br />

V2A<br />

V2B 12 10 8,5 1,57 24,40 ZP-305<br />

DRAMIX 54,5 1 43,65<br />

47,17<br />

54,5 2 163,62<br />

V3A<br />

V3B 12 10 8,5 1,57 28,06 ZP-305<br />

DRAMIX 54,5 2 55,14<br />

51,05<br />

L4 10 8 1,57 56,98 -- -- 0 192,86 V4A<br />

V4B 12 10 8,5 1,57 56,98 -- -- 0 36,26<br />

36,35<br />

ZP-305<br />

L5 10 8 1,57 59,72<br />

L6 10 8 1,57 52,38<br />

--<br />

--<br />

--<br />

DRAMIX<br />

ZP-305<br />

DRAMIX<br />

54,5 1 215,14<br />

V5A<br />

V5B 12 10 8,5 1,57 59,72 ZP-305<br />

DRAMIX 54,5 1 72,78<br />

66,60<br />

V6A<br />

54,5 2 236,17<br />

V6B 12 10 8,5 1,57 52,38 ZP-305<br />

DRAMIX 54,5 2 57,17<br />

53,85<br />

V7A<br />

V7B 13 17 15,5 1,59 56,98 -- -- 0 54,82<br />

46,44<br />

V8A<br />

V8B 13 17 15,5 1,59 59,72 ZP-305<br />

DRAMIX 54,5 1 68,32<br />

80,06<br />

V9A<br />

V9B 13 17 15,5 1,59 52,38 ZP-305<br />

DRAMIX 54,5 2 81,17<br />

104,93<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7. n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />

101<br />

Tabela 9 (continuação) – Dados e resultados principais de todos os modelos<br />

Modelos de lajes<br />

Série<br />

h d ρ f<br />

Laje<br />

c Tipo de V f P u<br />

(cm) (cm) (%) (MPa) fibra<br />

l/D<br />

Viga<br />

(%) (Kn)<br />

OSC.S1 10 8 1,57 43,73 -- -- 0 176,48 VP1A<br />

VP1B<br />

S4<br />

RL 45/50<br />

L7 10 8 1,57 36,55 48 0,75 182,85 V10A<br />

BN<br />

V10B<br />

RL 45/50<br />

L8 10 8 1,57 46,08 48 1,50 210,90 V11A<br />

BN<br />

V11B<br />

V12A<br />

L07 6 4 1,73 88,7 -- -- 0 101<br />

V12B<br />

S5<br />

HSCF-25<br />

V13A<br />

L08 6 4 1,73 79,0<br />

37,48 0,75 112<br />

HAREX<br />

V13B<br />

HSCF-25<br />

V14A<br />

L09 6 4 1,73 93,0<br />

37,48 1,50 136<br />

HAREX<br />

V14B<br />

b<br />

(cm)<br />

h<br />

(cm)<br />

d<br />

(cm)<br />

Modelos de vigas<br />

f c<br />

(Mpa)<br />

ρ<br />

(%)<br />

Tipo de<br />

fibra<br />

l/D<br />

V f<br />

(%)<br />

12 10 8,0 1,67 36,08 -- -- 0<br />

12 10 8,5 1,57 36,55<br />

12 10 8,5 1,57 46,08<br />

RL 45/50<br />

BN<br />

RL 45/50<br />

BN<br />

11 10 8,5 1,71 75,27 -- -- 0<br />

11 10 8,5 1,71 73,50<br />

11 10 8,5 1,71 73,10<br />

HSCF-25<br />

HAREX<br />

HSCF-25<br />

HAREX<br />

F u<br />

(kN)<br />

28,42<br />

27,01<br />

48 0,75 42,71<br />

38,99<br />

48 1,50 49,99<br />

61,79<br />

46,39<br />

50,80<br />

37,48 0,75 62,64<br />

51,43<br />

37,48 1,50 67,50<br />

55,09<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


102<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

Na maioria dos casos detectaram-se similaridades de comportamento estrutural entre<br />

lajes e vigas análogas. Em alguns puderam ser obtidas correlações numéricas entre as<br />

resistências dos dois elementos, conforme pode ser visto nas Figuras 25 a 27.<br />

35<br />

32,63<br />

30<br />

25,55<br />

27,84<br />

Resistência normalizada<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

6,71<br />

9,60<br />

Lajes S2<br />

Vigas S3<br />

12,85<br />

5<br />

0<br />

0 1 2<br />

V f<br />

(%)<br />

Figura 1 - Gráfico Resistência normalizada x Volume de fibras para lajes e vigas de S2 e S3.<br />

35<br />

30,24<br />

31,07<br />

30<br />

26,69<br />

Resistência normalizada<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

4,61<br />

6,76<br />

Lajes S4<br />

Vigas S4<br />

8,23<br />

5<br />

0<br />

0 0,75 1,5<br />

V f (%)<br />

Figura 2 - Gráfico Resistência normalizada x Volume de fibras para lajes e vigas de S4.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7. n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras... 103<br />

16<br />

14<br />

12,60<br />

14,10<br />

Resistência normalizada<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

10,72<br />

5,60<br />

6,65<br />

7,17<br />

Lajes S5<br />

2<br />

Vigas S5<br />

0<br />

0 0,75 1,5<br />

V f (%)<br />

Figura 3 - Gráfico Resistência normalizada x Volume de fibras para lajes e vigas de S5.<br />

6 ANÁLISES TEÓRICAS<br />

6.1 Análise global das lajes<br />

A resistência do concreto à compressão pode ser relacionada com sua resistência à<br />

tração por compressão diametral, segundo o ACI 318 (1999), como mostra a Equação 6.<br />

f<br />

sp<br />

= 0,5563 f c<br />

(6)<br />

sendo f c a resistência do concreto à compressão axial e f sp a resistência do concreto à tração<br />

por compressão diametral, ambas em [MPa].<br />

Para relacionar a resistência à tração por compressão diametral com a resistência à<br />

compressão, no caso de concreto com fibras, efetuou-se uma regressão linear (Figura 28) dos<br />

resultados experimentais das lajes estudadas. Obteve-se a Equação 7, que relaciona a<br />

resistência média à tração com a resistência média à compressão e com o volume percentual<br />

de fibras (V f ). Para essa equação assumiu-se uma forma similar à Equação 6.<br />

f = (0,19 V + 0,53) f<br />

(7)<br />

sp<br />

f<br />

c<br />

sendo f sp e f c dados em [MPa] e V f em [%].<br />

O ACI 318 (1999) fornece a seguinte equação para determinação da resistência à punção de<br />

lajes sem armadura de punção e pilares de seção quadrada:<br />

P = u<br />

(0,3321 f<br />

c<br />

b<br />

od)<br />

/10<br />

(8)<br />

onde:<br />

f c → resistência do concreto à compressão axial;<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


104<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

b o = 4(c+d) → perímetro onde ocorre a punção;<br />

d → altura útil da laje;<br />

c → largura do pilar;<br />

sendo f c em [MPa]; b o , d em [cm].<br />

Para levar em conta o efeito da adição de fibras de aço, introduz-se na Equação 8 o<br />

valor de f sp obtido na Equação 7, de modo a se obter uma equação modificada do ACI<br />

318 (1999). Nesta operação, são efetuadas as devidas adaptações para que não sejam<br />

alterados os fatores de ajuste e de ponderação da segurança, que se encontram embutidos no<br />

coeficiente 0,3321 da Equação 8. Desta forma, considerando um volume percentual de fibras<br />

(V f ) igual a zero, a Equação 9 torna-se igual à Equação 8.<br />

P<br />

0,3321<br />

= [ (0,19 Vf<br />

+ 0,53) fcbod] /10 = [ 0,6266 (0,19 Vf<br />

0,53) fcbod] /10 (9)<br />

0,53<br />

u<br />

+<br />

sendo f c em [MPa]; b o , d em [cm] e V f em [%].<br />

1,0<br />

0,8<br />

y = 0,1903x + 0,5255<br />

R 2 = 0,9089<br />

fsp / Raiz (fc)<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0,0<br />

Valores experimentais<br />

Regressão linear<br />

0 0,5 1 1,5 2 2,5<br />

V f (%)<br />

Figura 4 - Relação entre a resistência do concreto à tração por compressão diametral e<br />

o volume de fibras de aço das lajes.<br />

No gráfico da Figura 7, a Equação 9 foi testada para os dados experimentais obtidos<br />

nesta pesquisa (inclusive as lajes L2 e L3), juntamente com alguns de ZAMBRANA VARGAS<br />

(1997) e de AZEVEDO (1999), utilizados como referência. No gráfico observa-se que a<br />

Equação 9 oferece resposta razoável às tendências experimentais, à medida que se aumenta<br />

o volume de fibras adicionado.<br />

No entanto, como a regressão linear sobre os dados experimentais resulta em uma<br />

reta que se aproxima da ordenada unitária, o nível de segurança que havia nas lajes sem<br />

fibras não é mantido. Portanto, considerando os dados particulares desta análise, um<br />

coeficiente empírico da ordem de 0,3102 deve ser aplicado para reduzir o efeito de V f na<br />

Equação 9. Resulta então a Equação 10, denominada “Equação do ACI 318 Modificada”<br />

(Figura <strong>29</strong>).<br />

P = 0,6266 (0,19×<br />

0,3102 V + 0,53) f b d = 0,6266 (0,06 V 0,53) f b d (10)<br />

u f<br />

c o<br />

f<br />

+<br />

c<br />

o<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7. n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras... 105<br />

Em HOLANDA & HANAI (2002) determinou-se uma equação semelhante a esta<br />

(Equação 11), a partir de um maior número de resultados experimentais, encontrados na<br />

revisão bibliográfica pertencente ao Capítulo 2 desta tese.<br />

P<br />

= 0,65 (0,08 V 0,51) f b d<br />

(11)<br />

u f<br />

+<br />

c<br />

o<br />

2,5<br />

2<br />

Pu (exp) / Pu (calc)<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

ACI 318 (1999)<br />

Equação 6.4<br />

ACI 318 Modificada (Eq. 6.5)<br />

0 0,5 1 1,5 2 2,5<br />

V f (%)<br />

Figura 5 - Aferição da Equação do ACI 318 Modificada para lajes<br />

(dados das lajes L2 e L3 eliminados).<br />

6.2 Análise global das vigas<br />

Para relacionar a resistência à tração por compressão diametral com a resistência à<br />

compressão, no caso de concreto com fibras, efetuou-se uma regressão linear dos resultados<br />

experimentais das vigas ensaiadas nesta pesquisa. Obteve-se a Equação 12, que relaciona a<br />

resistência média à tração com a resistência média à compressão e com o volume percentual<br />

de fibras (V f ). Para essa equação assumiu-se uma forma similar à Equação 6.<br />

f = (0,15 V + 0,51) f<br />

(12)<br />

sp<br />

f<br />

c<br />

sendo f sp , f c em [MPa] e V f em [%].<br />

O ACI 318 (1999) fornece a seguinte equação para determinação do esforço cortante<br />

último de vigas sem estribos:<br />

V = u<br />

(0,166 f<br />

c<br />

b d) /10<br />

(13)<br />

onde:<br />

f c → resistência do concreto à compressão axial;<br />

d → altura útil da laje;<br />

b → largura da viga;<br />

sendo f c em [MPa]; b, d em [cm].<br />

Para levar em conta o efeito da adição de fibras de aço, introduz-se na Equação 13 o<br />

valor de f sp obtido na Equação 12, de modo a se obter uma equação modificada do ACI<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


106<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

318 (1999). Nessa operação são efetuadas as devidas adaptações para que não sejam<br />

alterados os fatores de ajuste e de ponderação da segurança, que se encontram embutidos no<br />

coeficiente 0,166 da Equação 13:<br />

V<br />

0,166<br />

= [ (0,15 Vf<br />

+ 0,51) fc<br />

b d]/10 = [0,3255 (0,15 Vf<br />

0,51) fc<br />

b d] /10 (14)<br />

0,51<br />

u<br />

+<br />

sendo f c em [MPa]; b, d em [cm] e V f em [%].<br />

As resistências ao cisalhamento das vigas, obtidas utilizando-se a Equação 14,<br />

apresentam correlações razoáveis com os resultados experimentais, conforme mostra o<br />

gráfico da Figura 30. Neste gráfico a Equação do ACI Modificada (Equação 14) foi aplicada a<br />

todas as vigas ensaiadas nesta pesquisa. Observa-se que a equação testada oferece resposta<br />

razoável às tendências experimentais, pois a regressão linear resulta numa reta quase<br />

paralela ao eixo das abscissas, com valores em geral a favor da segurança.<br />

2,5<br />

2<br />

Fu (exp) / F u (calc)<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

ACI 318 Modificada<br />

Regressão linear<br />

0 0,5 1 1,5 2 2,5<br />

V f (%)<br />

Figura 6 - Aferição da Equação do ACI 318 Modificada para vigas.<br />

6.3 Modelo viga-arco modificado<br />

Neste item pretende-se contribuir com o aperfeiçoamento de um modelo mecânico<br />

existente que explica a transferência de força na ligação laje-pilar, o “Bond Model” de<br />

ALEXANDER & SIMMONDS (1991), incluindo a parcela de contribuição das fibras de aço<br />

adicionadas ao concreto. A partir da investigação experimental, concluiu-se que contribuição<br />

das fibras deve ser colocada na parcela proveniente da ação de viga, que ocorre na direção<br />

perpendicular às faixas radiais.<br />

ALEXANDER & SIMMONDS (1991) sugerem que se determine a tensão tangencial<br />

transmitida dos quadrantes para as faixas radiais, por ação de viga, por meio de equações<br />

normativas de resistência de vigas ao cisalhamento (uma única direção). Os autores<br />

recomendam a utilização da equação do ACI 318 (1999), para o cálculo da resistência ao<br />

cisalhamento das faixas radiais:<br />

τ = ( 0,166 f<br />

c<br />

) /10<br />

(15)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7. n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras... 107<br />

sendo f c dado em [MPa].<br />

Para levar em conta o efeito da adição de fibras de aço, introduz-se na Equação 15 o<br />

valor de f sp obtido na Equação 12, de modo a se obter uma equação modificada do ACI<br />

318 (1999). Nessa operação são efetuadas as devidas adaptações para que não sejam<br />

alterados os fatores de ajuste e de ponderação da segurança, que se encontram embutidos no<br />

coeficiente 0,166 da Equação 15:<br />

0,166<br />

τ = [ (0,15 Vf + 0,51) fc<br />

]/10 = [0,3255 (0,15 Vf<br />

+ 0,51) fc<br />

] /10<br />

(16)<br />

0,51<br />

sendo f c dado em [MPa] e V f em [%].<br />

O esforço cortante atuante nas vigas, agora obtido teoricamente por intermédio da<br />

Equação 16, é considerado como sendo o esforço cortante que os quadrantes de laje<br />

transferem às faixas radiais por meio de ação de viga. Isto pode ser admitido porque lajes e<br />

vigas possuem as mesmas características (altura útil, taxa de armadura, resistência do<br />

concreto à compressão, taxa de fibras etc.) e foi verificado experimentalmente que nas vigas<br />

ocorreu de fato ação de viga.<br />

Roteiro para aplicação do Modelo Viga-Arco Modificado<br />

1) Calcula-se o momento resistente da faixa radial.<br />

⎛ ρ f<br />

2<br />

y ⎞<br />

M ⎜ ⎟<br />

s<br />

= ρ f<br />

y<br />

c d<br />

1−<br />

[kN.cm] (17)<br />

⎝ 1,7 f<br />

c ⎠<br />

2) Calcula-se a resistência ao cisalhamento das faixas radiais pela equação do ACI 318<br />

Modificada.<br />

τ = 0,3255 (0,15 V 0,51) f ] /10 [kN/cm 2 ] (18)<br />

[<br />

f<br />

+<br />

c<br />

3) Calcula-se o máximo esforço cortante distribuído linearmente, atuante em cada face lateral<br />

de uma faixa radial, que pode ser transmitido dos quadrantes adjacentes a ela (solução de<br />

limite inferior).<br />

ω = d τ [kN/cm] (19)<br />

4) Calcula-se a resistência da ligação à punção, que é a soma da resistência ao cisalhamento<br />

das quatro faixas radiais.<br />

P 8 M ω [kN] (20)<br />

u<br />

=<br />

s<br />

Substituindo a Equação 18 na 19, e depois substituindo as Equações 17 e 19 na<br />

Equação 20, tem-se:<br />

P<br />

f<br />

y<br />

f<br />

2<br />

⎛ ρ<br />

y ⎞<br />

= 8 ρ c d ⎜1<br />

⎟ ⋅ d ⋅[0,3255(0,15 Vf<br />

0,51) f<br />

c<br />

] /10<br />

10<br />

−<br />

(21)<br />

1,7 f<br />

⎝<br />

c ⎠<br />

u<br />

+<br />

sendo f y e f c dados em [MPa], c e d em [cm], V f em [%] e ρ adimensional.<br />

Simplificando a Equação 21 obtém-se a seguinte expressão para o cálculo da carga<br />

de ruína à punção pelo Modelo Viga-Arco Modificado:<br />

P<br />

u<br />

'<br />

( 170−ω<br />

) kf<br />

'<br />

= 0,0035d c d fc<br />

ω<br />

(22)<br />

onde:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


108<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

ρ f<br />

' y<br />

ω =<br />

(23)<br />

f<br />

c<br />

k = (0,15V + 0,51) f<br />

(24)<br />

f<br />

f<br />

c<br />

sendo f y e f c dados em [MPa], c e d dados em [cm], ρ e V f dados em [%].<br />

No gráfico da Figura 31, o Modelo Viga-Arco Modificado foi aplicado a todos os<br />

resultados experimentais encontrados na revisão bibliográfica, mais os resultados obtidos<br />

nesta pesquisa. No gráfico observa-se que a dispersão dos resultados experimentais em<br />

relação à reta de regressão linear é muito pequena. Verifica-se que, para um volume de fibras<br />

de 2% (máximo para se conseguir trabalhabilidade adequada), o aumento de resistência à<br />

punção, em relação à laje sem fibras, chega a aproximadamente 25%.<br />

7 CONCLUSÕES<br />

A partir dos resultados experimentais, pode-se concluir que é possível utilizar ensaios<br />

de cisalhamento em vigas prismáticas para se obter indicadores a serem utilizados nos<br />

ensaios de lajes à punção. Verificou-se que existe uma similaridade de comportamento<br />

estrutural entre lajes de concreto com fibras sujeitas à punção e vigas prismáticas submetidas<br />

à força cortante e que, na maioria dos casos, existiu uma correlação entre suas resistências e<br />

suas ductilidades. Nestes ensaios foram testados apenas três tipos de fibras, devido à<br />

preocupação de se avaliar também outras variáveis, como resistência do concreto à<br />

compressão, volume percentual de fibras, altura útil do elemento e dimensão da chapa de<br />

carregamento. A execução de ensaios de vigas prismáticas, como foi feito nesta pesquisa,<br />

poderia também ter como finalidade selecionar o melhor tipo de fibra, de acordo com os<br />

requisitos de resistência e de ductilidade, a ser empregado na ligação laje-pilar. Seriam<br />

ensaios mais simples de se executar e menos onerosos, de onde se poderiam tirar boas<br />

conclusões sobre o comportamento da ligação laje-pilar a ser ensaiada posteriormente.<br />

As análises teóricas realizadas a partir das Equações do ACI Modificadas, tanto para<br />

lajes como para vigas, forneceram bons indicadores de previsão de resistência ao<br />

cisalhamento de vigas sem estribos e resistência à punção de lajes sem armadura de punção,<br />

considerando a contribuição da adição de fibras ao concreto.<br />

O Modelo Viga-Arco Modificado pode ser considerado um bom indicador para<br />

previsão de resistência e ductilidade de ligações laje-pilar interno, sem armadura transversal e<br />

reforçadas com fibras de aço, submetidas à punção. É um modelo simples de ser aplicado e,<br />

com base nos testes que foram feitos com os dados experimentais encontrados na revisão<br />

bibliográfica, parece fornecer bons resultados. Além disso, não se tinha, até o momento,<br />

conhecimento de um modelo de cálculo teórico que permitisse avaliar o efeito da adição de<br />

fibras e prognosticar a capacidade resistente de lajes-cogumelo à punção.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7. n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras... 109<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

0 0,25 0,5 0,75 1 1,25 1,5 1,75 2 2,25<br />

V f (%)<br />

Holanda<br />

McHarg<br />

Azevedo<br />

Zambrana Vargas<br />

Harajli A<br />

Harajli B<br />

Hughes & Xiao<br />

Tan & Paramasivan<br />

Theodorakopoulos &<br />

Swamy<br />

Alexander & Simmonds<br />

Swamy & Ali<br />

Linear (Todos)<br />

Pu (calc) / Pu (exp)<br />

Figura 7 - Aferição do Modelo Viga-Arco Modificado (toda a bibliografia consultada).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


110<br />

Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />

8 AGRADECIMENTOS<br />

Agradecemos ao CNPq e à FAPESP pelo apoio financeiro, sem o qual esta pesquisa<br />

não poderia ter sido realizada.<br />

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ACCETTI, K. M. (1998). Contribuições ao projeto estrutural de edifícios em alvenaria. São<br />

<strong>Carlos</strong>. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – Universidade de São<br />

Paulo.<br />

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joints. Department of Civil Engineering, University of Alberta. (Structural Engineering Report<br />

No. 174).<br />

ALEXANDER, S. D. B.; SIMMONDS, S. H. (1992a). Bond model for concentric punching shear.<br />

ACI Structural Journal, v. 89, n. 3, p. 325-334, May/June.<br />

ALEXANDER, S. D. B.; SIMMONDS, S. H. (1992b). Punching shear tests of concrete slabscolumn<br />

joints containing fiber reinforcement. ACI Structural Journal, v.89, n.4, p.425-432,<br />

Jul/Aug.<br />

AMERICAN CONCRETE INSTITUTE - Committee 318. (1999). Building code requirements for<br />

structural concrete (ACI 318-99) and Commentary (ACI 318R-99). Farmington Hills: ACI, 1999.<br />

AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. (1987). ACI 544.1R-82 (Reapproved 1986) – State-ofthe-art<br />

report on fiber reinforced concrete. In: . Manual of concrete practice. Detroit, Michigan.<br />

v.5.<br />

AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. (1994). ACI 544.3R-93 – Guide for specifying,<br />

proportioning, mixing, placing, and finishing steel fiber reinforced concrete. In: Manual of<br />

concrete practice. Detroit, Michigan. v.5.<br />

AZEVEDO, A. P. (1999). Resistência e ductilidade das ligações laje-pilar em lajes de<br />

concreto de alta resistência armado com fibras de aço e armadura transversal de pinos.<br />

São <strong>Carlos</strong>. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – Universidade de<br />

São Paulo.<br />

BENTUR, A.; MINDESS, S. (1990). Fibre reinforced cementitious composites. London:<br />

Elsevier Applied Science.<br />

FURLAN JR., S. (1995). Vigas de concreto com taxas reduzidas de armadura de<br />

cisalhamento: influência do emprego de fibras curtas e de protensão. São <strong>Carlos</strong>. Tese<br />

(Doutorado) – Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />

HOLANDA, K. M. A. (2002). Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de<br />

efeitos da adição de fibras de aço na resistência e na ductibilidade e punção de lajescogumelo<br />

e ao cisalhamento de vigas de concreto. São <strong>Carlos</strong>. Tese (Doutorado) – Escola<br />

de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />

HOLANDA, K. M. A.; HANAI, J. B. (2002). Avaliação da capacidade resistente de ligações lajepilar<br />

interno de concreto reforçado com fibras de aço. In: JORNADAS SUL-AMERICANAS DE<br />

ENGENHARIA ESTRUTURAL, 30., Brasília, maio 2002. Anais... Brasília: UnB/ASAEE, 15p. 1<br />

CD-ROM.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7. n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras... 111<br />

ZAMBRANA VARGAS, E. N. (1997). Punção em lajes-cogumelo de concreto de alta<br />

resistência reforçado com fibras de aço. São <strong>Carlos</strong>. Dissertação (Mestrado) – Escola de<br />

Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>


112


ISSN 1809-5860<br />

APLICAÇÃO DO ACOPLAMENTO ENTRE O MEC E<br />

O MEF PARA O ESTUDO DA INTERAÇÃO<br />

DINÂMICA ELASTOPLÁSTICA ENTRE O SOLO E<br />

ESTRUTURAS<br />

Francisco Patrick Araujo Almeida 1 & Humberto Breves Coda 2<br />

Resumo<br />

O objetivo do presente trabalho é o desenvolvimento de um código computacional que<br />

possibilite a análise dinâmica de estruturas tridimensionais em regime elástico-linear<br />

acopladas ao solo, tratado como meio infinito elastoplástico. As superestruturas são<br />

tratadas por elementos finitos simples de casca e de barra geral, as estruturas de<br />

fundações são tratadas por elementos de casca que simulam o contato com o solo,<br />

modelando radiers, túneis e reservatórios enterrados. Blocos são modelados por<br />

elementos de contorno tridimensionais. O solo é modelado de duas maneiras distintas:<br />

na região plastificada emprega-se a solução fundamental de Kelvin (estática) e na<br />

região não plastificada (elástica) adota-se a solução fundamental do problema de<br />

Stokes. O acoplamento entre os meios é feito aplicando-se a técnica de sub-regiões.<br />

Deve ficar claro que todo procedimento estático equivalente foi implementado. Dois<br />

exemplos numéricos são apresentados, onde se percebe a eficiência do código<br />

computacional desenvolvido.<br />

Palavras-chave: interação solo-estrutura; Método dos Elementos de Contorno; Método<br />

dos Elementos Finitos; acoplamento MEC/MEF; dinâmica; não-linearidade física.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O Método dos Elementos Finitos (MEF) é, atualmente, uma das ferramentas<br />

mais difundidas para solucionar diversos problemas da engenharia. Sua aplicação na<br />

mecânica estrutural já está consagrada pela prática. (VENTURINI, 1988). É de se<br />

observar, contudo, que por ser uma técnica de domínio, traz algumas complicações<br />

em análises que envolvem domínios infinitos, pois estes devem ser interrompidos<br />

para que se gere uma discretização finita, ocasionando a formação de um contorno<br />

fictício que usualmente é eliminado com o uso do Método dos Elementos de Contorno<br />

(MEC). Tal problema se agrava ainda mais em análises dinâmicas para domínios<br />

infinitos, onde reflexões indesejadas podem ocorrer no final da discretização, ou esta<br />

deve ser estendida exaustivamente para comportar o tempo de análise desejado.<br />

1 Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, patrick@ctec.ufal.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, hbcoda@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


114<br />

Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />

Pesquisadores dos mais importantes centros de pesquisa do mundo têm se<br />

interessado pelo Método dos Elementos de Contorno, tanto no desenvolvimento de<br />

formulações próprias para diversos problemas, como em gerar formulações mistas<br />

com o Método dos Elementos Finitos, aproveitando conjuntamente o que cada<br />

método tem de melhor. Tal interesse tem resultado em um enorme progresso do<br />

método. Praticamente todos os centros importantes de pesquisa dos países mais<br />

avançados têm grupos de pesquisadores dedicados ao desenvolvimento desta<br />

técnica.<br />

Neste contexto, três vantagens principais são oferecidas pelo Método dos<br />

Elementos de Contorno: modelagem própria para domínios infinitos, grande redução<br />

do número de equações e volume de dados (principalmente quando se trata de meios<br />

tridimensionais infinitos como o solo) e a inexistência de erros de interpolação no<br />

domínio para problemas lineares.<br />

Em contrapartida, o Método dos Elementos de Contorno não apresenta<br />

nenhuma característica vantajosa, no que diz respeito à análise de estruturas<br />

reticuladas e cascas gerais, quando comparado ao MEF. Disso se conclui que uma<br />

medida natural para a análise da interação solo-estrutura é a composição de uma<br />

modelagem onde o MEF é usado para a estrutura (pórticos e cascas) e o MEC para o<br />

solo ou semi-espaço infinito.<br />

O principal objetivo do trabalho é o desenvolvimento de um código<br />

computacional que possibilite a análise dinâmica de estruturas tridimensionais em<br />

regime elástico-linear acopladas ao solo, que é tratado como não-linear. Todo o<br />

procedimento estático equivalente também foi implementado.<br />

O solo é tratado como meio infinito elastoplástico. As superestruturas são<br />

tratadas por elementos finitos simples de casca e de barra geral, as estruturas de<br />

fundações são tratadas por elementos de casca que simulam o contato com o solo,<br />

modelando radiers e túneis. Blocos são modelados por elementos de contorno<br />

tridimensionais.<br />

O solo é modelado de duas maneiras distintas, na região plastificada<br />

emprega-se a solução fundamental de Kelvin (estática) acompanhada de integrador<br />

temporal apropriado, dando origem ao chamado “non-linear mass matrix BEM” ou<br />

MEC não-linear dinâmico via matriz de massa. Na região não plastificada (elástica)<br />

adota-se a solução fundamental do problema de Stokes. O acoplamento entre os<br />

diferentes meios é feito aplicando-se a técnica de sub-regiões.<br />

Como justificativas para a escolha do tema da pesquisa, pode-se citar que<br />

enquanto os trabalhos voltados para plasticidade bidimensional, estática e dinâmica,<br />

através do MEC são abundantes na literatura, não existem muitas publicações<br />

disponíveis relativas à plasticidade tridimensional.<br />

Além do mais, acredita-se que o desenvolvimento de código computacional<br />

para a simulação numérica tridimensional dinâmica de estruturas conectadas ao solo<br />

suposto elastoplástico seja de grande importância para a engenharia, pois atualmente<br />

não se dispõe de ferramenta tão geral para se fazer tal tipo de análise. Os programas<br />

com os quais se poderia tentar tais simulações estão elaborados em elementos<br />

finitos, o que limita muito o seu emprego devido ao volume de informações que se<br />

precisa gerar e aos problemas relacionados à simulação de meios infinitos ou semiinfinitos<br />

quando de análises dinâmicas envolvendo propagação de ondas.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />

115<br />

Como contribuições do trabalho, pode-se citar: a utilização do algoritmo de<br />

Houbolt para a solução de problemas tridimensionais, o emprego do MMBEM para<br />

problemas elastoplásticos tridimensionais, os processos de integração para elementos<br />

de contorno e células, os estudos sobre a estabilização do acoplamento TDBEM/FEM<br />

e a utilização de integrais singulares no TDBEM.<br />

2 O MÉTODO DOS ELEMENTOS DE CONTORNO APLICANDO MATRIZ<br />

DE MASSA (MMBEM)<br />

O surgimento do Método dos Elementos de Contorno (MEC) como uma<br />

alternativa para a resolução de diversos problemas da engenharia é um dos grandes<br />

avanços científicos nessa área do conhecimento dos últimos anos. Uma das principais<br />

vantagens deste método, para problemas lineares, quando comparado com os<br />

métodos de domínio usuais (como por exemplo o Método dos Elementos Finitos<br />

(MEF)) é a redução do número de variáveis do problema, pois enquanto nos métodos<br />

usuais o domínio a ser tratado precisa ser dividido em vários subdomínios, no Método<br />

dos Elementos de Contorno apenas o contorno do mesmo precisa ser discretizado.<br />

Além disso, para alguns problemas, já é comprovado que o MEC apresenta respostas<br />

mais precisas e confiáveis que os métodos tradicionalmente empregados para<br />

análises similares.<br />

Partindo-se das equações diferenciais de equilíbrio, representadas pela<br />

eq.(1), pode-se chegar à equação integral de contorno para deslocamentos<br />

dinâmicos, eq.(2).<br />

σ + b = ρ& u&<br />

+ cu&<br />

em Ω i, j = 1, 2, 3 (1)<br />

ij,j<br />

i<br />

i<br />

∫<br />

Γ<br />

i<br />

∫<br />

*<br />

*<br />

*<br />

c u (s,t) + p (s,q)u (Q,t)dΓ + ρu&<br />

(q,t)u (s,q)dΩ + cu&<br />

(q,t)u (s,q) dΩ<br />

ik<br />

∫<br />

Γ<br />

k<br />

ik<br />

k<br />

∫<br />

Ω<br />

Ω<br />

k<br />

*<br />

*<br />

*<br />

n<br />

= uik (s,q)p<br />

k(Q,t)dΓ + uik(s,q)b<br />

k(q,t)dΩ + εijk(s,q)<br />

σjk(q,t)<br />

dΩ<br />

(2)<br />

ik<br />

∫<br />

Ω<br />

∫<br />

Ω<br />

k<br />

ik<br />

Matricialmente, a eq.(2) poderia ser escrita como:<br />

n<br />

HU(t) + CU(t) & + MU(t) &<br />

= GP(t) + Bb(t) + Qσ<br />

(t)<br />

(3)<br />

A equação integral de contorno para tensões é escrita como:<br />

'<br />

'<br />

'<br />

'<br />

'<br />

' n<br />

σ (t) = G P(t) − HU(t) + B b(t) − C U(t) & − MU(t) &<br />

+ Q σ (t)<br />

(4)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


116<br />

Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />

3 O MÉTODO DOS ELEMENTOS DE CONTORNO NO DOMÍNIO DO<br />

TEMPO (TDBEM)<br />

O Time Domain Boundary Element Method (TDBEM) ou Método dos<br />

Elementos de Contorno no Domínio do Tempo surge como uma alternativa ao<br />

chamado Mass Matrix Boundary Element Method (MMBEM), uma vez que, utilizando<br />

soluções fundamentais dependentes do tempo, elimina a necessidade da<br />

discretização do domínio para a geração de matriz de massa. Sendo assim, em<br />

análises elásticas, nenhuma discretização do domínio é necessária.<br />

Vale dizer que a implementação de pontos fonte singulares para os elementos<br />

de contorno triangulares planos foi desenvolvida integralmente neste trabalho.<br />

Igualmente ao que foi feito para o MMBEM, a equação integral de<br />

deslocamentos, para pontos fonte internos ou no contorno, para o TDBEM, pode ser<br />

deduzida a partir da eq.(1).<br />

C<br />

−<br />

t<br />

t<br />

*<br />

∫ u (s, τ)f(t<br />

− τ)dτ<br />

= ∫∫ u (Q,t − τ;s / f)p<br />

j(Q,<br />

τ)dΓdτ +<br />

kj kj<br />

0 j<br />

0 Γ<br />

t<br />

t<br />

*<br />

*<br />

∫∫ pkj(Q,t<br />

− τ;s / f)u<br />

j(Q,<br />

τ)dΓdτ + ∫∫ b<br />

j<br />

(q, τ)ukj(q,t<br />

− τ;s / f)dΩdτ<br />

+<br />

0 Γ<br />

0 Ω<br />

*<br />

*<br />

+ ∫ ρu<br />

(q,t;s / f)u& kj j<br />

(q,0) dΩ<br />

− ρ<br />

Ω<br />

Ω ∫ u (q,t;s / f)u<br />

j<br />

(q,0) d<br />

Ω<br />

& kj<br />

(5)<br />

Para pontos fonte exteriores, a eq.(5) correspondente é escrita como:<br />

'<br />

t<br />

∫∫ Γ<br />

0<br />

'<br />

t<br />

p<br />

*<br />

kj<br />

(Q,t<br />

'<br />

+<br />

e<br />

C<br />

1<br />

− τ;s / f)u ( τ)dΓdτ +<br />

j<br />

∫ Ω<br />

*<br />

ρu (0)u (q,t<br />

&<br />

j kj<br />

'<br />

+<br />

e<br />

C<br />

1<br />

;s / f) dΩ<br />

'<br />

e<br />

t<br />

* '<br />

* ' e<br />

ukj (Q,t + − τ;s / f)p<br />

j(<br />

τ)dΓ<br />

τ + + − τ τ Ω τ +<br />

C<br />

∫∫ ukj<br />

(q,t ;s / f)b<br />

j(<br />

)d d<br />

0 Ω C<br />

= ∫∫ Γ<br />

d<br />

0<br />

1<br />

e<br />

+ ∫ ρu<br />

& * '<br />

j<br />

(0)ukj(q,t<br />

+ ;s / f) dΩ<br />

Ω C<br />

(6)<br />

1<br />

1<br />

4 O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF)<br />

O Método dos Elementos Finitos (MEF) é utilizado no trabalho para a<br />

discretização das superestruturas. Vigas e pilares são modelados por elementos<br />

finitos simples de barra, e as cascas, modeladas por elementos finitos simples de<br />

casca. Para o tratamento desses elementos estruturais, o Método dos Elementos de<br />

Contorno (MEC) não tem apresentado maiores vantagens com relação ao MEF.<br />

Mais uma vez, as equações diferenciais de equilíbrio são o ponto de partida<br />

para a dedução da equação integral do MEF.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />

117<br />

∫<br />

Ω<br />

σ ε d Ω + ρu& u dΩ + cu&<br />

u dΩ = b u dΩ + p u dΓ<br />

+ Fu<br />

(7)<br />

'<br />

kj kj<br />

∫<br />

Ω<br />

k<br />

'<br />

k<br />

∫<br />

Ω<br />

k<br />

'<br />

k<br />

∫<br />

Ω<br />

k<br />

'<br />

k<br />

∫<br />

Γ<br />

k<br />

'<br />

k<br />

'<br />

j j<br />

A eq.(7) é conhecida como Princípio dos Trabalhos Virtuais para Problemas<br />

Dinâmicos e é a base para a construção do MEF dinâmico. Aplicando-se sobre uma<br />

aproximação em elementos finitos tal equação, chega-se à seguinte equação<br />

matricial:<br />

KU + CU& + MU&<br />

= Bb + GP + IF<br />

(8)<br />

4.1 Elemento finito de barra<br />

Como já foi comentado anteriormente, vigas e pilares serão modelados por<br />

elementos finitos de barra geral. Este elemento segue as hipóteses de Euler/Bernoulli.<br />

O elemento finito de barra utilizado no presente trabalho possui 6 graus de<br />

liberdade (gdl) por extremidade, sendo eles: translações em x 1 (U 1 ), x 2 (U 2 ) e x 3 (U 3 ), e<br />

rotações em torno de x 1 (θ 1 ), x 2 (θ 2 ) e x 3 (θ 3 ), nesta ordem. Figura 1.<br />

θ 3<br />

U 2<br />

θ 2<br />

U 1<br />

U 3<br />

θ 1 i<br />

L<br />

θ 3<br />

θ 2<br />

U 3<br />

U 2<br />

j U 1 θ 1<br />

Figura 1 - Graus de liberdade do elemento finito de barra.<br />

A partir das coordenadas locais dos elementos de barra, pode-se definir seus<br />

deslocamentos locais, bem como os esforços internos associados a eles.<br />

4.2 Elemento finito de placa<br />

O elemento finito de casca será considerado como uma composição de um<br />

elemento finito de placa e um elemento finito de chapa (ou membrana). Para o<br />

elemento finito de placa, decidiu-se utilizar o elemento finito DKT (discrete Kirchhoff<br />

triangle) por ter sido um elemento bastante utilizado e que tem apresentado bons<br />

resultados; sua matriz de rigidez pode ser escrita de forma explícita e trata-se de um<br />

elemento triangular com número de graus de liberdade (gdl) mínimo, 9. O<br />

desempenho do elemento finito DKT já foi amplamente verificado por diversos<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


118<br />

Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />

autores, seja em casos de placas, cascas, pavimentos e edifícios de múltiplos<br />

pavimentos.<br />

O elemento finito DKT faz parte do grupo dos elementos finitos triangulares de<br />

placa com 9 graus de liberdade, sendo 3 por vértice (translação em z (w) e rotações<br />

em x (θ x ) e y (θ y )). Ver figura 2.<br />

z, w θ x = w ,y , θ y = -w ,x<br />

w<br />

NÓ 3<br />

θ x<br />

θ y<br />

0<br />

θ y<br />

y<br />

θ x<br />

x<br />

NÓ 1<br />

w<br />

θ x<br />

θ y<br />

h<br />

NÓ 2<br />

w<br />

θ x<br />

θ y<br />

Figura 2 - Elemento finito DKT.<br />

A teoria de pequenos deslocamentos de placas com deformações por esforço<br />

cortante incluídos, também conhecida como teoria das placas de Reissner-Mindlin, é<br />

utilizada na formulação do elemento finito DKT. Após as deduções das expressões de<br />

energia de deformação e antes de se chegar à matriz de rigidez do elemento DKT,<br />

admite-se que o elemento será utilizado na análise de placas delgadas, e assim, as<br />

deformações por esforço cortante, e conseqüentemente a energia de deformação<br />

causada por esse esforço, são desprezadas quando comparadas com a energia de<br />

deformação por flexão.<br />

A formulação do elemento finito DKT baseia-se nas seguintes hipóteses: as<br />

rotações β x e β y variam quadraticamente no elemento, sendo β x e β y as rotações da<br />

normal ao plano médio indeformado do elemento, segundo os planos x−z e y−z,<br />

respectivamente; a hipótese de Kirchhoff é imposta discretamente ao longo dos lados<br />

do elemento em seus pontos nodais, possibilitando relacionar as rotações com as<br />

primeiras derivadas dos deslocamentos transversais; a variação de w é cúbica e<br />

definida apenas ao longo dos lados do elemento; impõe-se uma variação linear de β n<br />

ao longo dos lados, onde β n é a rotação na direção normal aos lados.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />

119<br />

4.3 Elemento finito de chapa<br />

O elemento finito de chapa adotado foi o CST (constant strain triangle), que,<br />

como o próprio nome diz, é um elemento triangular que considera aproximação<br />

constante para o campo de deformações do elemento, ou, campo de deslocamentos<br />

linear, conforme eq.(9) e figura 3. Esta escolha foi feita com o intuito de facilitar a<br />

adequação dos efeitos de membrana ao elemento de placa descrito no item anterior.<br />

u(x,y) = a1<br />

+ a2x<br />

+ a3y<br />

(9)<br />

v(x,y) = a + a x + a y<br />

4<br />

5<br />

6<br />

y(v)<br />

v 3<br />

(x ,y )<br />

3 3<br />

u 3<br />

v 2<br />

v 1<br />

(x ,y )<br />

2 2<br />

u 2<br />

(x ,y )<br />

1 1<br />

u 1<br />

x(u)<br />

Figura 3 - Elemento finito de chapa CST.<br />

5 EXEMPLOS<br />

Dois problemas são estudados com o intuito principal de mostrar a aplicação<br />

dos desenvolvimentos descritos nos itens anteriores, bem como a potencialidade do<br />

código computacional desenvolvido na pesquisa.<br />

5.1 Exemplo 1<br />

No primeiro exemplo, analisa-se um sólido apoiado em uma face, sujeito a um<br />

carregamento súbito, uniformemente aplicado na face oposta. O material do sólido<br />

apresenta características não-lineares físicas. Ver figura 4.<br />

O sólido do presente exemplo foi analisado de duas formas distintas. Na<br />

primeira, utilizou-se o MMBEM para todo o sólido, e na segunda, utilizou-se o<br />

acoplamento MMBEM/TDBEM/FEM, onde a sub-região modelada pelo MMBEM<br />

correspondeu à metade do sólido e a outra metade foi igualmente dividida entre as<br />

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120<br />

Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />

sub-regiões do TDBEM e do FEM. Para a modelagem do acoplamento, vale dizer que<br />

a região de plastificação do problema ficou naturalmente confinada na região do<br />

MMBEM. A sub-região modelada pelo MEF (ou FEM) compreende não apenas a<br />

barra, mas também uma casca de ligação. A figura 5 apresenta as discretizações<br />

utilizadas para ambos os casos.<br />

q = 1Pa<br />

4 m<br />

E = 100.000 Pa<br />

E = 10.000 Pa<br />

t<br />

ν = 0,25<br />

σ = 1,50 Pa<br />

y<br />

ρ = 0,002kg/m³<br />

e3<br />

e2<br />

e1<br />

2 m<br />

2 m<br />

Figura 4 - Exemplo 1.<br />

MMBEM<br />

MMBEM/TDBEM/FEM<br />

Figura 5 - Discretizações do exemplo 1.<br />

É necessário ainda dizer que o passo de tempo (∆t) adotado para a análise<br />

com o MMBEM foi de 0,00012s, e para o acoplamento MMBEM/TDBEM/FEM,<br />

0,0002s. Esta diferença é justificada pelas condições de estabilidade para o TDBEM<br />

quando tratando de corpos finitos, e por questões de amortecimento numérico do<br />

MMBEM, já bem conhecidas.<br />

A figura 6 apresenta os resultados obtidos para o deslocamento longitudinal<br />

no nó localizado no centro da face carregada.<br />

Pode-se dizer que os resultados apresentaram ótima concordância, apesar da<br />

diferença das modelagens adotadas. Conclui-se que o acoplamento<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />

121<br />

MMBEM/TDBEM/FEM para análises dinâmicas não-lineares foi implementado com<br />

sucesso. Observa-se ainda que este exemplo é particularmente difícil de ser<br />

analisado pela utilização do TDBEM – por se tratar de meio finito – mostrando que a<br />

técnica foi bem implementada e se apresenta precisa e estável. Graças ao grau de<br />

dificuldade deste exemplo, a formulação resultante se mostra uma ferramenta<br />

poderosa para o estudo de problemas de interação solo-estruturas gerais e outros<br />

tipos de problema, como por exemplo, meios reforçados.<br />

Exemplo 1<br />

8,0E-05<br />

7,0E-05<br />

MMBEM<br />

Acoplamento<br />

6,0E-05<br />

Deslocamento (m)<br />

5,0E-05<br />

4,0E-05<br />

3,0E-05<br />

2,0E-05<br />

1,0E-05<br />

0,0E+00<br />

0,000 0,001 0,002 0,003 0,004 0,005 0,006 0,007 0,008<br />

Tempo (s)<br />

Figura 6 - Deslocamento longitudinal do exemplo 1.<br />

5.2 Exemplo 2<br />

O segundo exemplo estuda o problema de uma cavidade esférica em um<br />

meio infinito sujeita a uma pressão interna conforme figura 7, onde não se considerou<br />

unidade nos valores apresentados.<br />

Foram realizadas diversas análises do problema proposto, onde se<br />

considerou: carga p(t) de impacto, aplicação de reforço à parede da cavidade e<br />

plastificação da região próxima à cavidade. Para o reforço da parede, considerou-se<br />

uma casca de espessura t=5 e densidade ρ e coeficiente de Poisson ν iguais aos do<br />

meio infinito, e variou-se o valor do módulo de elasticidade da casca. As várias<br />

análises podem ser agrupadas em 10 tipos, por modelagem utilizada, descritos a<br />

seguir.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


122<br />

Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />

p(t)<br />

E=8,993E+6<br />

ρ=2,5E-4<br />

ν=0,25<br />

p0=1000<br />

R=212<br />

Figura 7 - Exemplo 2.<br />

1 o ) TDBEM elastodinâmico<br />

EC TDBEM<br />

Foram utilizados 480 elementos de contorno para a discretização da<br />

cavidade; dois valores para ∆t foram testados: 0,0003 e 0,0005.<br />

2 o ) FEM+TDBEM elastodinâmico<br />

Trata-se da mesma modelagem apresenta anteriormente, sendo que com a<br />

aplicação do reforço, com o mesmo número de elementos. Consideraram-se dois<br />

valores para o módulo de elasticidade do material da casca:<br />

Ec<br />

7<br />

⎧10<br />

⋅Es<br />

= 8,993 ⋅10<br />

⎨<br />

⎩100<br />

⋅Es<br />

= 8,993 ⋅10<br />

=<br />

8<br />

sendo Ec o módulo de elasticidade da casca, e Es o módulo de elasticidade do meio<br />

infinito. A partir deste segundo tipo de análise, para as análises dinâmicas, utilizou-se<br />

apenas ∆t=0,0005.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />

123<br />

3 o ) BEM elastostático<br />

EC BEM<br />

Neste tipo de análise, utilizou-se 480 elementos de contorno do BEM para a<br />

discretização da cavidade.<br />

4 o ) FEM+BEM elastostático<br />

Trata-se da análise anterior mais a casca de reforço.<br />

5 o ) MMBEM+TDBEM elastodinâmico<br />

EC MMBEM<br />

EC TDBEM<br />

Células MMBEM<br />

Nesta análise, utilizou-se 922 células do MMBEM, e 74 elementos de contorno<br />

para a superfície de acoplamento MMBEM/TDBEM, onde seu raio foi de 2R.<br />

6 o ) FEM+MMBEM+TDBEM elastodinâmico<br />

Trata-se da mesma modelagem anterior, sendo que com o reforço.<br />

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124<br />

Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />

7 o ) MMBEM elastoplástico estático<br />

EC MMBEM<br />

Células MMBEM<br />

No lugar das células da análise dinâmica do tipo anterior, são consideradas<br />

células de plastificação para o MMBEM. Utilizou-se o critério de plastificação de von<br />

Mises, onde se adotou tensão de plastificação de valor 700 e módulo de elasticidade<br />

tangente (E t ) de 10% do valor de E do meio infinito.<br />

8 o ) FEM+MMBEM elastoplástico estático<br />

Consideração do reforço na modelagem anterior.<br />

9 o ) MMBEM+TDBEM elastoplástico dinâmico<br />

Trata-se da modelagem 5 considerando-se a plastificação da sub-região do<br />

MMBEM, para tanto, são consideradas as células de plastificação, coincidentes com<br />

as da montagem da matriz de massa.<br />

10 o ) FEM+MMBEM+TDBEM elastoplástico dinâmico<br />

Modelagem anterior reforçada.<br />

A figura 8 apresenta os resultados de deslocamento radial ao longo do tempo<br />

para as análises elásticas. A resposta analítica, sem a consideração de reforço, foi<br />

colhida de Timoshenko e Goodier (1980). Observa-se inicialmente que todos os<br />

valores dinâmicos convergiram para os seus correspondentes estáticos. Para as<br />

análises com o TDBEM, não houve grandes diferenças para os dois valores de ∆t<br />

utilizados. Nas análises com o FEM, o valor de β=0,25 não forneceu resultados<br />

estáveis; os valores que são apresentados na figura 8, foram obtidos com β=0,32. O<br />

comportamento obtido para a modelagem FEM+TDBEM se mostrou mais suave que<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />

125<br />

aquele apresentado para a modelagem FEM+MMBEM+TDBEM. Deve-se comentar<br />

que o estudo relativo à estabilidade do acoplamento TDBEM/FEM é uma contribuição<br />

original deste trabalho. Também se pode comentar, como era esperado, que o reforço<br />

da casca forneceu maior rigidez ao sistema, gerando assim, menores deslocamentos<br />

radiais.<br />

0.020<br />

Cavidade esférica<br />

Análise elastodinâmica<br />

0.018<br />

deslocamento radial<br />

0.016<br />

0.014<br />

0.012<br />

0.010<br />

0.008<br />

0.006<br />

analítica<br />

BEM<br />

TDBEM dt=0,0003<br />

TDBEM dt=0,0005<br />

MMBEM+TDBEM<br />

FEM+BEM Ec=10Es<br />

FEM+TDBEM Ec=10Es<br />

FEM+MMBEM+TDBEM Ec=10Es<br />

FEM+BEM Ec=100Es<br />

FEM+TDBEM Ec=100Es<br />

FEM+MMBEM+TDBEM Ec=100Es<br />

0.004<br />

0.002<br />

0.000<br />

0.000 0.002 0.004 0.006 0.008 0.010 0.012 0.014 0.016 0.018 0.020<br />

tempo<br />

Figura 8 - Análise elastodinâmica.<br />

A figura 9 apresenta os resultados de tensão x deformação radiais para as<br />

análises elastoplásticas estáticas, com e sem reforço. É interessante observar o<br />

quanto a ação do reforço diminui as deformações plásticas, chegando até à<br />

supressão da plastificação para a casca mais rígida. Os autores gostariam de informar<br />

que, para a análise sem reforço, apenas 3 nós – dos 39 – da superfície mais externa<br />

(nós de célula, uma vez que nesta região não existem elementos de contorno)<br />

chegaram a plastificar. Pelos resultados, observa-se que o efeito de explosão<br />

submersa (túneis) em edificações distantes será fortemente influenciado pela<br />

presença ou não de reforços.<br />

A figura 10 apresenta os deslocamentos radiais com a aplicação da pressão<br />

interna.<br />

Por fim, a figura 11 apresenta os deslocamentos radiais em função do tempo<br />

para uma aplicação súbita do carregamento. Observa-se que a não consideração de<br />

reforço, para análise elastoplástica, apresenta valores elevados de deslocamento, em<br />

comparação com aqueles obtidos para a análise elástica. Com a consideração do<br />

reforço para Ec=10Es esta diferença diminui, e, para a casca mais rígida, a diferença<br />

nem é perceptível, embora aconteça a plastificação. Como uma informação adicional,<br />

pode-se dizer que, para a casca menos rígida, a partir do sexto passo de tempo a<br />

análise foi elástica; e, para a casca mais rígida, a partir do décimo primeiro passo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


126<br />

Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />

Pode-se afirmar ainda, a respeito do parágrafo anterior, que, se naquelas<br />

análises fosse considerada a não-linearidade física do reforço (MEF), os resultados<br />

poderiam ser bem diferentes.<br />

1200<br />

Cavidade esférica<br />

Análise elastoplástica estática<br />

1000<br />

800<br />

tensão radial<br />

600<br />

400<br />

elástica Ec=0Es<br />

plástica Ec=0Es<br />

elástica Ec=10Es<br />

plástica Ec=10Es<br />

elástica Ec=100Es<br />

200<br />

0<br />

0.0E+00 1.0E-04 2.0E-04 3.0E-04 4.0E-04 5.0E-04 6.0E-04 7.0E-04 8.0E-04 9.0E-04 1.0E-03<br />

deformação radial<br />

Figura 9 - Análise elastoplástica estática – tensão x deformação.<br />

1200<br />

Cavidade esférica<br />

Análise elastoplástica estática<br />

1000<br />

pressão radial<br />

800<br />

600<br />

400<br />

elástica Ec=0Es<br />

plástica Ec=0Es<br />

elástica Ec=10Es<br />

plástica Ec=10Es<br />

elástica Ec=100Es<br />

200<br />

0<br />

0.0E+00 5.0E-03 1.0E-02 1.5E-02 2.0E-02 2.5E-02 3.0E-02 3.5E-02 4.0E-02 4.5E-02<br />

deslocamento radial<br />

Figura 10 - Análise elastoplástica estática – pressão x deslocamento.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />

127<br />

Cavidade esférica<br />

Análise elatoplástica dinâmica<br />

0.080<br />

0.070<br />

0.060<br />

deslocamento radial<br />

0.050<br />

0.040<br />

0.030<br />

Ec=0Es ED<br />

Ec=0Es EPD<br />

Ec=10Es ED<br />

Ec=10Es EPD<br />

Ec=100Es ED<br />

Ec=100Es EPD<br />

0.020<br />

0.010<br />

0.000<br />

0.000 0.002 0.004 0.006 0.008 0.010 0.012 0.014 0.016 0.018 0.020<br />

tempo<br />

Figura 11 - Análise elastoplástica dinâmica.<br />

6 CONCLUSÕES<br />

O principal objetivo do trabalho foi o desenvolvimento de um código<br />

computacional que possibilitasse a análise de estruturas tridimensionais em regime<br />

elástico-linear acopladas a meios infinitos ou semi-infinitos (como é o caso do solo),<br />

que foram tratados como físico não-lineares. Objetivou-se também a implementação<br />

de todo o procedimento estático equivalente.<br />

Analisando-se as aplicações apresentadas no trabalho, pode-se chegar à<br />

principal conclusão do mesmo, que é a de que os desenvolvimentos metodológicos<br />

propostos e utilizados conseguem descrever com boa aproximação os fenômenos<br />

estudados na pesquisa – sejam eles, a mecânica e dinâmica de estruturas elásticas<br />

acopladas a meios elastoplásticos infinitos ou semi-infinitos, como comentado acima –<br />

e que o código computacional elaborado está funcionando perfeitamente e<br />

apresentando bons resultados.<br />

Deve-se comentar que, para se atingir de forma completa o objetivo material<br />

mencionado anteriormente, foram necessárias implementações numéricas e análises<br />

muitas vezes inéditas, bem como a utilização de outras desenvolvidas por diferentes<br />

autores. A seguir, estas contribuições são esmiuçadas e permeadas com<br />

considerações conclusivas, comentando os comportamentos das respostas numéricas<br />

obtidas.<br />

Como conclusões complementares do trabalho, pode-se começar<br />

comentando a respeito da eficiência dos dois algoritmos empregados para as<br />

integrações temporais: Newmark β, para o Método dos Elementos Finitos (MEF), e<br />

Houlbolt, para o Método dos Elementos de Contorno aplicando matriz de massa, ou<br />

Mass Matrix Boundary Element Method (MMBEM). O emprego com sucesso deste<br />

último tinha sido verificado por vários outros pesquisadores, sendo que para análises<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


128<br />

Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />

bidimensionais. A presente pesquisa vem trazer contribuições ao estudo do citado<br />

método aplicado a problemas 3D. Porém, é importante mencionar que, a depender da<br />

discretização utilizada e do intervalo de tempo (∆t) fornecido na análise, o algoritmo<br />

de Houbolt pode apresentar perda de estabilidade numérica. Isto ocorre porque ∆t 2<br />

pode assumir valores muito pequenos e, quando multiplicado pela matriz G, cujos<br />

elementos também podem ser muito pequenos, levam à perda de precisão no<br />

processo numérico que relaciona esta matriz com a matriz H .<br />

Outra conclusão importante do trabalho é com relação à utilização do Método<br />

dos Elementos de Contorno (MEC) à modelagem de problemas não-lineares físicos.<br />

Já se chegou a afirmar que o MEC não se apresentava como uma técnica apropriada<br />

ao estudo de tais problemas. A partir da observação dos desenvolvimentos<br />

apresentados para o tratamento de plasticidade, bem como dos resultados das<br />

implementações realizadas, pode-se concluir que o MEC também é uma ferramenta<br />

muito precisa para o tratamento de problemas inelásticos. A contribuição da presente<br />

pesquisa é ainda mais valorizada quando se considera que o estudo do tema em<br />

discussão foi feito tridimensionalmente, inclusive com a apresentação de diversos<br />

exemplos. Com relação à utilização de células tetraédricas, observa-se a<br />

possibilidade de variação linear de tensões (4 nós), o mesmo só seria possível no<br />

MEF para elementos com 8 nós. Além disso, para problemas onde uma pequena<br />

porção do corpo plastifica, tal como para o solo que circunda uma estrutura de<br />

fundação, apenas naquela região é necessária a utilização de células de plastificação.<br />

Ainda com relação aos problemas inelásticos, a formulação numérica encontrada na<br />

literatura bidimensional foi corrigida em Coda e Venturini (2000), e no presente<br />

trabalho foi implementada de forma original para problemas tridimensionais.<br />

Outra grande contribuição do trabalho foi o desenvolvimento e implementação<br />

dos diversos processos de integração utilizados na pesquisa: singular, não-singular e<br />

quase-singular para elementos de contorno triangulares planos com aproximação<br />

linear, e singular e não-singular para as células tetraédricas, também com<br />

aproximação linear.<br />

Com relação ao Método dos Elementos de Contorno no Domínio do Tempo ou<br />

Time Domain Boundary Element Method (TDBEM), os autores gostariam de dizer que<br />

a implementação de pontos fonte singulares para os elementos de contorno<br />

triangulares planos foi desenvolvida integralmente nesse trabalho, fazendo-se uso das<br />

técnicas comentadas anteriormente. Observou-se no trabalho que a aplicação do<br />

TDBEM a problemas de corpos fechados é bastante sensível ao valor do intervalo de<br />

tempo ∆t adotado. Para problemas infinitos ou semi-infinitos, esta dependência já se<br />

mostrou menor.<br />

A respeito do acoplamento entre o TDBEM e o MEF, observou-se em algumas<br />

análises perda de estabilidade. Tal problema foi resolvido com um aumento no valor<br />

de β do algoritmo de integração temporal do MEF (Newmark). Esta alteração gera um<br />

adiantamento da contribuição das forças inerciais das sub-regiões modeladas por esta<br />

técnica. Os autores consideram tal descoberta simples e ao mesmo tempo muito<br />

importante, uma vez que tal problema já chegou a ser encarado como um entrave ao<br />

acoplamento entre as duas técnicas.<br />

Uma conclusão a respeito do MEF é a de que os elementos finitos escolhidos<br />

se mostraram bastante eficientes para a análise dos elementos estruturais<br />

correspondentes. O algoritmo de Newmark β também se mostrou uma excelente<br />

opção para as análises dinâmicas onde o MEF foi empregado.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />

1<strong>29</strong><br />

Finalmente, para o exemplo 2, concluiu-se que a ação de reforço na parede<br />

da cavidade pode diminuir bastante as deformações plásticas no solo, podendo<br />

chegar até à supressão da plastificação. Para a análise elastoplástica dinâmica,<br />

concluiu-se que a diferença entre os deslocamentos radiais obtidos, com e sem a<br />

consideração de plastificação do meio infinito, é inversamente proporcional à rigidez<br />

do reforço, lembrando-se que, se nestas análises fosse considerada a não-linearidade<br />

física do reforço (MEF), os resultados poderiam ser bem diferentes.<br />

7 AGRADECIMENTOS<br />

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, pelo<br />

financiamento da pesquisa.<br />

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ALMEIDA, F. P. A. (1999). Análise comparative de resultados de diferentes<br />

discretizações para as lajes de pavimentos utilizando os elementos finitos DKT e<br />

P15N. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> - Universidade<br />

de São Paulo.<br />

ALMEIDA, F. P. A. (2003). Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o<br />

estudo da interação dinâmica elastoplástica entre o solo e estruturas. Tese<br />

(Doutorado) - Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> - Universidade de São Paulo.<br />

CODA, H. B.; VENTURINI, W. S. (2000). Dynamic non-linear stress analysis by the<br />

mass matrix BEM. Engineering Analysis with Boundary Elements, v.24, p.623-32.<br />

TIMOSHENKO, S. P.; GOODIER, J. N. (1980). Teoria da elasticidade. 3.ed. Rio de<br />

Janeiro: Guanabara Dois.<br />

VENTURINI, W. S. (1988). Um estudo sobre o método dos elementos de contorno<br />

e suas aplicações em problemas de engenharia. Tese (Livre-docência) - Escola de<br />

Engenharia de São <strong>Carlos</strong> - Universidade de São Paulo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>


130


ISSN 1809-5860<br />

DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE RESISTENTE<br />

DE NÓS DE PÓRTICO EXTERNOS DE CONCRETO<br />

ARMADO<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva 1 & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs 2<br />

Resumo<br />

Este trabalho apresenta alguns métodos de cálculo para a determinação da<br />

capacidade resistente de nós de pórtico externos, formados nas ligações viga-pilar de<br />

extremidade de concreto armado. Primeiramente, apresenta-se uma breve<br />

abordagem teórica sobre o comportamento mecânico dos nós externos, descrevendose<br />

a forma usual de determinação dos esforços solicitantes e de dimensionamento.<br />

Em seguida, apresentam-se as hipóteses e o equacionamento utilizados por dois<br />

modelos teóricos que se propõem a avaliar a capacidade resistente dos nós, a saber:<br />

o modelo de PAULAY & PRIESTLEY (1992) e o modelo de HWANG & LEE (1999).<br />

Ambos utilizam os conceitos dos modelos clássicos de biela e tirante. A capacidade<br />

resistente dos nós de pórtico também é avaliada por meio de expressões prescritas<br />

pelas principais normas que abordam o assunto, entre as quais se encontram as<br />

normas americanas ACI-352 (1991) e ACI-318 (1995), a norma neozelandesa NZS-<br />

3101 (1995) e a norma japonesa AIJ (1991). Por fim, são desenvolvidos alguns<br />

exemplos numéricos de aplicação dos modelos teóricos abordados para a<br />

determinação da resistência dos nós, incluindo-se comentários e análises pertinentes.<br />

Palavras-chave: Concreto armado; nós de pórtico; ligações viga-pilar; modelos de<br />

biela e tirante; cisalhamento.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Nós de pórticos são definidos a partir das ligações entre vigas e pilares. São<br />

regiões (volumes) gerados pela interseção da viga com o pilar, tal como ilustra a figura<br />

1. Na realidade, o nó de pórtico é uma porção do pilar de altura igual à da seção da<br />

viga.<br />

1 Doutor em Engenharia de Estruturas – EESC-<strong>USP</strong>, alva@feciv.ufu.br<br />

2 Professora do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, analucia@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


132<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

Nó<br />

Viga<br />

Pilar<br />

Figura 1 - Definição de nó de pórtico.<br />

Comumente, o termo nó de pórtico é utilizado para se referir à ligação viga-pilar<br />

como um todo. A rigor, a ligação é formada pelo nó e pelos elementos estruturais pilar,<br />

viga e laje.<br />

Nas estruturas em pórtico correntes, os nós de pórtico podem ser classificados<br />

em nós internos, nós externos e nós de canto, conforme indica a figura 2.<br />

c) Nó de canto<br />

(viga de cobertura-pilar de<br />

extremidade)<br />

a) Nó externo<br />

(viga-pilar de extremidade)<br />

b) Nó interno<br />

(viga-pilar interno)<br />

Figura 2 - Nomenclatura usualmente utilizada para a classificação de nós de pórtico.<br />

Nas últimas três décadas, pode-se dizer que houve uma maior preocupação<br />

com o comportamento mecânico dos nós de pórtico, fato confirmado pelo crescimento<br />

das pesquisas envolvendo tal região do sistema estrutural. Antes disso, em nível de<br />

projeto, admitia-se que as condições nos nós de pórtico não eram críticas. Ou seja,<br />

admitia-se que a resistência da ligação era igual à do elemento estrutural menos<br />

resistente. Entretanto, pode-se dizer que os nós de pórtico são, com freqüência,<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />

133<br />

regiões mais críticas do sistema estrutural como um todo, devido a uma série de<br />

fatores, entre os quais se incluem a mudança de direção de esforços e tensões, as<br />

elevadas tensões cisalhantes que ali surgem, além dos aspectos construtivos<br />

associados à ancoragem das armaduras.<br />

Em termos de desempenho estrutural, é desejável que o nó de pórtico<br />

apresente resistência suficiente de modo a não impedir o total desenvolvimento da<br />

capacidade resistente dos elementos que serão conectados. Levando em conta que a<br />

filosofia de projeto recomenda, em situação de ruína, que a plastificação ocorra antes<br />

nas vigas que nos pilares, o nó de pórtico deve resistir a ações maiores à<br />

correspondente ao momento último da viga.<br />

Em termos de execução em obra, é desejável também que o arranjo das<br />

armaduras na ligação não dificulte a sua colocação nem a compactação do concreto.<br />

De fato, deve haver a preocupação do projetista estrutural quanto ao problema de<br />

congestionamento das armaduras nessa região.<br />

Conhecendo-se a resistência ao cisalhamento do nó do pórtico torna-se<br />

possível avaliar se os elementos viga e pilar poderão alcançar a capacidade máxima.<br />

Essa grandeza pode ser obtida por meio dos modelos de PAULAY & PRIESTLEY<br />

(1992) e HWANG & LEE (1999) - os quais utilizam conceitos dos modelos de biela e<br />

tirante - e por expressões prescritas por normas de cálculo que tratam dos nós de<br />

pórtico.<br />

2 FORÇAS SOLICITANTES EM NÓS DE PÓRTICO EXTERNOS<br />

Os nós de pórticos, em função da geometria das ligações e em função da<br />

posição das armaduras longitudinais da viga, estão submetidos, essencialmente, a<br />

esforços de cisalhamento.<br />

A força cortante solicitante é obtida simplesmente por equilíbrio de forças no<br />

painel. Assim, em um nó externo, por exemplo, a força cortante horizontal atuante é<br />

expressa por (vide figura 3):<br />

V<br />

jh<br />

= T − V<br />

(1)<br />

v<br />

p<br />

onde<br />

T v é a resultante na armadura tracionada da viga;<br />

V p é a força cortante no pilar.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


134<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

V p<br />

N<br />

C sp1<br />

C cp1<br />

V p<br />

T<br />

v<br />

Tv<br />

V v<br />

Vv<br />

Ccv<br />

C sv<br />

C cv<br />

C<br />

sv<br />

V p<br />

N+ V v<br />

V p<br />

T p2<br />

p1<br />

Ccp2T Csp2<br />

Figura 3 - Forças solicitantes em nós externos.<br />

Analogamente, podem ser obtidas as forças cortantes nos nós internos ou em<br />

outros tipos de nó de pórtico.<br />

σ<br />

τ<br />

τ<br />

τ<br />

τ<br />

σ<br />

Figura 4 - Estado simplificado de solicitação normalmente assumido para os nós externos.<br />

Usualmente, o nó de pórtico é encarado como um painel submetido a um<br />

estado plano de tensões (figura 4), embora o estado de solicitação real a que está<br />

sujeito o nó seja mais complexo. Resultados experimentais, entretanto, indicam que<br />

essa simplificação de cálculo é razoável na determinação da resistência dos nós.<br />

Utilizando as equações de equilíbrio e de compatibilidade nas seções da viga e<br />

do pilar, encontram-se as forças necessárias para a obtenção da força cortante no nó.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />

135<br />

3 CAPACIDADE RESISTENTE DOS NÓS EXTERNOS<br />

3.1 Modelo de PAULAY & PRIESTLEY (1992)<br />

PAULAY & PRIESTLEY (1992) propõem que a resistência ao cisalhamento do<br />

nó seja composta pela contribuição de duas parcelas: uma parcela relativa ao<br />

concreto, promovida pela biela diagonal comprimida, e a outra relativa à armadura<br />

transversal. Assumem algumas hipóteses de cálculo com relação à transferência de<br />

esforços, as quais permitem determinar a área de estribos horizontais na região nodal.<br />

Embora a preocupação estivesse voltada para as ações cíclicas reversíveis, a<br />

formulação proposta pelos autores para o cálculo da armadura transversal em nós de<br />

pórtico pode nortear o dimensionamento sob ações monotônicas, como no caso dos<br />

nós externos.<br />

Algumas expressões apresentadas originalmente pelos autores foram<br />

novamente deduzidas e reescritas, ficando isentas de simplificações adicionais que<br />

não são comentadas neste trabalho.<br />

Nós externos:<br />

Segue-se a nomenclatura utilizada no equacionamento deste item:<br />

T é a resultante da armadura longitudinal de tração da viga;<br />

C<br />

s é a resultante da armadura longitudinal de compressão da viga;<br />

C é a resultante das tensões de compressão no concreto na seção da viga;<br />

c<br />

V<br />

p é a força cortante atuante no pilar;<br />

N é a força normal de compressão no pilar;<br />

A<br />

cp é a área bruta da seção do pilar;<br />

A é a área da armadura longitudinal de tração da viga;<br />

st<br />

A é a área da armadura longitudinal de compressão da viga;<br />

sc<br />

A é a área total de estribos horizontais necessários no nó;<br />

p<br />

sh<br />

x é a altura da zona comprimida do pilar;<br />

h<br />

p é a altura da seção do pilar;<br />

u<br />

0 é o fluxo de cisalhamento produzido pela transmissão das forças de compressão<br />

da armadura da viga ao interior do nó por aderência;<br />

f<br />

c é a resistência à compressão do concreto;<br />

f<br />

y é a resistência ao escoamento do aço para as armaduras principais de vigas e<br />

pilares;<br />

f é a resistência ao escoamento do aço para os estribos horizontais do nó.<br />

yh<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


136<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

N<br />

V p<br />

V p<br />

A st<br />

T<br />

T<br />

A sh<br />

D<br />

θ<br />

A sc<br />

C c<br />

u<br />

0<br />

V ch<br />

C c<br />

C s<br />

C s<br />

V p<br />

x p<br />

h p<br />

α hp<br />

Figura 5 - Ações em nós de pórtico externos.<br />

Com base no esquema de tensões internas e respectivas resultantes em nós<br />

de pórtico externos, ilustrado na figura 5, obtém-se, por equilíbrio de forças, a seguinte<br />

expressão para calcular a força cortante horizontal atuante no nó:<br />

V<br />

= T −<br />

(2)<br />

jh<br />

V p<br />

O valor desta força cortante é a soma da contribuição do concreto V ch e da<br />

contribuição da armadura (estribos horizontais) V sh :<br />

V = V + V<br />

(3)<br />

jh<br />

ch<br />

sh<br />

A contribuição de resistência do concreto pode ser deduzida por meio do<br />

equilíbrio de forças no volume de concreto definido pela interseção da biela<br />

comprimida com as zonas de compressão da viga e do pilar (figura 6):<br />

V<br />

ch<br />

= C + ∆T<br />

− V<br />

(4)<br />

c<br />

c<br />

p<br />

onde ∆ Tc<br />

é a parcela da resultante da armadura comprimida C<br />

s a ser transmitida à<br />

biela comprimida, com ∆ Tc<br />

< C<br />

s . Esta hipótese justifica-se pelo fato de os ganchos da<br />

armadura comprimida não serem totalmente eficientes na transmissão das resultantes<br />

de compressão para o interior do nó ou da biela. Em outras palavras, ∆ Tc<br />

representa<br />

a força que pode ser efetivamente transmitida à biela diagonal, por aderência, na zona<br />

comprimida do pilar x .<br />

p<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />

137<br />

θ<br />

V<br />

ch<br />

C c<br />

∆T c<br />

x p<br />

V p<br />

Figura 6 - Equilíbrio de forças para o cálculo de V ch.<br />

O fluxo de cisalhamento, ou a força total a ser ancorada no nó, por unidade de<br />

comprimento, é dada por:<br />

u<br />

0<br />

C<br />

αh<br />

s<br />

= (5)<br />

p<br />

onde<br />

α h p é o comprimento de ancoragem efetivo, com α < 1 em virtude da presença dos<br />

ganchos. Os autores propõem o valor de α igual à 0,7.<br />

Admite-se que a transferência das forças de aderência à biela comprimida<br />

ocorre efetivamente em apenas 80% da zona comprimida x do pilar. Dessa forma,<br />

c<br />

0<br />

( 0,8 x )<br />

∆ T = u<br />

(6)<br />

p<br />

Com a expressão (5), obtém-se<br />

∆ Tc<br />

por:<br />

p<br />

C<br />

s<br />

∆ Tc<br />

= 0,8 xp<br />

(7)<br />

αhp<br />

Calcula-se a parcela de resistência à força cortante relativa ao concreto<br />

V<br />

ch :<br />

V<br />

C<br />

s<br />

ch<br />

= Cc<br />

+ 0,8x<br />

p<br />

− Vp<br />

(8)<br />

αhp<br />

De acordo com as expressões (3) e (8), tem-se que:<br />

V<br />

sh<br />

V<br />

V<br />

T<br />

V<br />

⎛<br />

⎜C<br />

⎝<br />

C<br />

0,8x<br />

V<br />

⎞<br />

⎟ = T − C −<br />

⎠<br />

0,8 x<br />

s<br />

s<br />

=<br />

jh<br />

−<br />

ch<br />

= −<br />

p<br />

−<br />

c<br />

+<br />

p<br />

−<br />

⎜<br />

p<br />

c<br />

p<br />

αh<br />

⎟<br />

(9)<br />

p<br />

αhp<br />

C<br />

Sabendo que em vigas<br />

que:<br />

C<br />

s<br />

= T − C e substituindo este valor em (9), pode-se escrever<br />

c<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


138<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

⎛ 0,8x<br />

p<br />

⎞<br />

V ⎜ ⎟<br />

sh<br />

= Cs<br />

1−<br />

(10)<br />

⎝ αhp<br />

⎠<br />

Finalmente, a área de estribos horizontais necessários é determinada por:<br />

V ⎛ ⎞<br />

sh<br />

C 0,8x<br />

s<br />

p<br />

A = = ⎜ − ⎟<br />

sh<br />

1<br />

(11)<br />

fyh<br />

fyh<br />

⎝ αhp<br />

⎠<br />

As expressões (10) e (11) podem ser reescritas considerando-se que a altura<br />

da zona comprimida do pilar é razoavelmente estimada por meio da seguinte<br />

aproximação:<br />

⎛ 0,85N ⎞<br />

x ⎜<br />

p<br />

0,25 ⎟<br />

N<br />

= + × h<br />

p<br />

fc<br />

A<br />

válida para > 0, 1<br />

(12)<br />

⎝<br />

cp ⎠<br />

fc<br />

A<br />

cp<br />

Substituindo o valor de<br />

α = 0,7 , obtém-se que:<br />

x<br />

p nas expressões (10) e (11) e adotando o valor sugerido de<br />

⎛ ⎞<br />

⎜<br />

N<br />

V ⎟<br />

sh<br />

= Cs<br />

0,7 −<br />

(13)<br />

⎝ fcA<br />

cp ⎠<br />

V ⎛ ⎞<br />

sh<br />

Cs<br />

⎜<br />

N<br />

A = = − ⎟<br />

sh<br />

0,7<br />

(14)<br />

fyh<br />

fyh<br />

⎝ fcA<br />

cp ⎠<br />

De acordo com o modelo de PAULAY & PRIESTLEY (1992), tanto na expressão (11)<br />

quanto na expressão (14), percebe-se que a força normal do pilar influencia o<br />

comportamento do nó, uma vez que o aumento da intensidade da normal reduz a<br />

quantidade de estribos necessários ao nó de pórtico.<br />

Notar que o modelo não é aplicável aos casos em que não existe armadura<br />

negativa na viga. Este fato decorre em virtude da força cortante V sh resistida pelos<br />

estribos depender da resultante de compressão C s .<br />

3.2 Modelo de HWANG & LEE (1999)<br />

Neste item aborda-se o modelo analítico proposto por HWANG & LEE (1999)<br />

para a avaliação da força cortante resistente em nós externos.<br />

A figura 7 ilustra a classificação dos modos típicos de colapso em modelos<br />

físicos de ligações viga-pilar extremidade, apresentada por HWANG & LEE (1999).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />

139<br />

P / Py<br />

1,1<br />

1,0<br />

0,8 Pmax<br />

Pmax<br />

F1<br />

P<br />

J2<br />

J3<br />

∆<br />

J1<br />

J: Colapso do nó<br />

F: Colapso por flexão da viga<br />

1<br />

4<br />

∆ / ∆y<br />

Figura 7 - Formas possíveis de colapso em nós externos – Adaptado de HWANG & LEE<br />

(1999).<br />

Pelo gráfico da figura 7, nota-se que a máxima força atingida na extremidade<br />

da viga e, conseqüentemente, a máxima força cortante atuante no nó, estão limitadas<br />

por uma das quatro possíveis formas de colapso da ligação:<br />

J1: Colapso por cisalhamento do nó antes de que se atinja a força de plastificação P y ;<br />

J2: Colapso por cisalhamento do nó após a força de plastificação: P/P y > 1,0;<br />

J3: Colapso por cisalhamento do nó para P/P y > 1,1 e ∆ (0,8Pmax) > 4∆ y , onde ∆ y é o<br />

deslocamento na plastificação;<br />

F1: Colapso por flexão da viga.<br />

O modelo proposto pelos autores deriva dos modelos de biela e tirante; no<br />

entanto, além de satisfazer apenas as condições de equilíbrio, também considera a<br />

compatibilidade de deformações e as leis constitutivas do material concreto.<br />

Os resultados do modelo proposto por HWANG & LEE (1999) apresentam uma<br />

correlação satisfatória com resultados experimentais obtidos por diversos<br />

pesquisadores.<br />

A seguir apresenta-se as hipóteses e a formulação matemática do referido<br />

modelo:<br />

O modelo é composto por três mecanismos. A resistência do nó se deve a<br />

participação da biela diagonal comprimida, dos estribos horizontais e das barras<br />

intermediárias do pilar (estribos verticais). O mecanismo promovido pela biela<br />

comprimida denomina-se mecanismo diagonal e os mecanismos promovidos pelos<br />

estribos horizontais e verticais, mecanismo horizontal e mecanismo vertical. A<br />

transferência de forças nesses mecanismos é ilustrada na figura 8.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


140<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

h 2<br />

0,5h<br />

h 2<br />

0,5h 0,5h<br />

2 2<br />

1<br />

h 1<br />

D<br />

θ<br />

Fh<br />

0,5h 1<br />

h 1<br />

Fv<br />

a<br />

a) Mecanismo Diagonal<br />

b) Mecanismo Horizontal<br />

c) Mecanismo Vertical<br />

Figura 8 - Mecanismos de resistência ao cisalhamento. a) Mecanismo Diagonal. b) Mecanismo<br />

Horizontal. c) Mecanismo Vertical.<br />

O mecanismo diagonal é composto pela biela de compressão principal, cujo<br />

ângulo de inclinação é definido a partir da seguinte expressão:<br />

⎛ h1<br />

⎞<br />

θ = arctan ⎜<br />

⎟<br />

(15)<br />

⎝ h2<br />

⎠<br />

onde<br />

h 1 é a distância vertical entre o eixos das armaduras superior e inferior da viga;<br />

h 2 é a distância horizontal entre o eixo da armadura longitudinal mais próxima da face<br />

interna do pilar e o eixo da armadura da viga dobrada a 90 graus no nó, conforme a<br />

figura 8.<br />

Outro parâmetro referente ao mecanismo diagonal é a área efetiva da biela,<br />

definida por:<br />

A = a ×<br />

(16)<br />

b<br />

b j<br />

onde<br />

a é a largura da biela;<br />

b j é a largura efetiva do nó.<br />

A largura da biela é definida a partir das zonas comprimidas da viga e do pilar.<br />

HWANG & LEE (1999) sugerem que essa largura seja estimada, com razoável<br />

precisão, a partir da expressão proposta por PAULAY & PRIESTLEY (1992):<br />

⎛ 0,85N ⎞<br />

a x ⎜<br />

p<br />

0,25 ⎟<br />

N<br />

= = + h<br />

p<br />

A<br />

pf<br />

com > 0, 1<br />

(17)<br />

⎝<br />

c ⎠<br />

Apfc<br />

onde<br />

x p é a altura da zona comprimida do pilar;<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />

141<br />

N é a força normal no pilar;<br />

A p é a área da seção transversal do pilar;<br />

f c é a resistência à compressão do concreto em corpos de prova cilíndricos;<br />

h p é a altura da seção do pilar.<br />

O cálculo exato para a obtenção da largura da biela é dado pela seguinte<br />

expressão:<br />

⎛<br />

⎞<br />

2 2<br />

⎛ ⎞<br />

⎜ ⎜<br />

x<br />

v<br />

a = x<br />

⎟⎟<br />

v<br />

+ x<br />

p<br />

sen θ + arctg<br />

⎜<br />

⎟<br />

(18)<br />

⎝ ⎝ x<br />

p ⎠⎠<br />

onde<br />

x v é a altura da zona comprimida na seção da viga.<br />

A largura efetiva do nó b j pode ser obtida com as recomendações das<br />

principais normas que tratam do assunto. Em suas análises, HWANG & LEE (1999)<br />

utilizaram a largura efetiva definida pelo ACI-318 (1995).<br />

O mecanismo horizontal consiste em um tirante (representando os estribos<br />

horizontais) e em duas bielas secundárias, mais abatidas que a biela principal. É<br />

importante citar que os diversos estudos experimentais realizados em nós de pórtico<br />

indicam que os estribos horizontais mais solicitados são os que se encontram mais<br />

próximos à metade da altura do nó, enquanto que os demais são menos solicitados.<br />

Por esse motivo, HWANG & LEE (1999) sugerem que os estribos centrais sejam<br />

considerados totalmente efetivos no cômputo da área da seção do tirante, devendo-se<br />

considerar, para os demais estribos, uma contribuição de apenas 50% da área.<br />

O mecanismo vertical é composto por um tirante vertical e duas bielas<br />

secundárias mais íngremes que a biela principal. O tirante vertical representa as<br />

barras longitudinais intermediárias do pilar. A forma de avaliar a área do tirante vertical<br />

é similar à indicada para o mecanismo horizontal. Evidentemente, quando o pilar não<br />

possui barras intermediárias, ou seja, quando contém apenas barras longitudinais<br />

próximas às faces externas do mesmo, o mecanismo vertical inexiste.<br />

A figura 9 ilustra o modelo de biela e tirante empregado por HWANG & LEE<br />

(1999).<br />

1<br />

2<br />

Vjh<br />

Fv<br />

V jv<br />

3 4<br />

F h<br />

6<br />

5<br />

biela<br />

tirante<br />

Figura 9 - Modelo de biela e tirante utilizado por HWANG & LEE (1999).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


142<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

Segundo o modelo de HWANG & LEE (1999), o escoamento dos estribos não<br />

necessariamente interrompe o desenvolvimento da resistência ao cisalhamento do nó,<br />

pois a biela diagonal é capaz de transmitir esforços de cisalhamento sozinha. Portanto,<br />

a máxima resistência do nó é alcançada quando a tensão de compressão na biela<br />

atinge a capacidade resistente do concreto.<br />

Equilíbrio de forças<br />

Com base no modelo de biela e tirante da figura 9, por equilíbrio de forças,<br />

determina-se a força cortante horizontal a ser resistida pelo nó:<br />

Vjh = Dcosθ + Fh<br />

+ Fv<br />

cotgθ<br />

(19)<br />

onde<br />

D é a força resultante de compressão na biela;<br />

F h é a força resultante de tração no tirante horizontal;<br />

F v é a força resultante de tração no tirante vertical.<br />

De forma similar, a força cortante vertical é expressa por:<br />

V = Dsenθ + F tgθ<br />

+ F<br />

(20)<br />

jv<br />

h<br />

v<br />

por:<br />

A relação entre a força cortante vertical e a força cortante horizontal é dada<br />

V<br />

V<br />

jv<br />

jh<br />

= tgθ<br />

(21)<br />

A parcela de força cortante horizontal e vertical resistidas pelos estribos são<br />

obtidas conforme sugerido por JENNEWEIN & SCHÄFER (1992):<br />

F<br />

h<br />

= γ V<br />

onde<br />

h<br />

jh<br />

2tgθ −1<br />

γ<br />

h<br />

=<br />

para 0<br />

h<br />

1<br />

3<br />

≤ γ ≤<br />

(22)<br />

O fator γ h representa a fração de força cortante horizontal transmitida pelo<br />

tirante horizontal sem a presença do tirante vertical. Da mesma maneira,<br />

F<br />

v<br />

= γ V<br />

onde<br />

v<br />

jv<br />

2cotgθ −1<br />

γ<br />

v<br />

=<br />

para 0<br />

v<br />

1<br />

3<br />

≤ γ ≤<br />

(23)<br />

onde o fator γ v representa a fração de força cortante transmitida pelo tirante vertical<br />

sem a presença do tirante horizontal.<br />

Com base nas expressões (19), (22) e (23), as forças envolvidas nos três<br />

mecanismos (D, F h e F v ) podem ser convenientemente expressas em função da força<br />

cortante horizontal:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />

143<br />

D<br />

F<br />

F<br />

1<br />

⎛<br />

⎜<br />

⎝<br />

R<br />

⎞<br />

⎟V<br />

⎠<br />

= d<br />

jh<br />

cosθ<br />

⎜ R<br />

d<br />

+ Rh<br />

+ R ⎟<br />

(24)<br />

v<br />

⎛<br />

⎜<br />

⎝<br />

R<br />

⎞<br />

⎟V<br />

⎠<br />

= h<br />

h ⎜<br />

jh<br />

R<br />

d<br />

+ Rh<br />

+ R ⎟<br />

(25)<br />

v<br />

1<br />

⎛<br />

⎜<br />

⎝<br />

R<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

= v<br />

v<br />

Vjh<br />

cot gθ<br />

⎜ R<br />

d<br />

+ Rh<br />

+ R ⎟<br />

(26)<br />

v<br />

onde R d , R h e R v são termos adimensionais que indicam a parcela de força cortante<br />

horizontal resistida pelo mecanismo diagonal, horizontal e vertical, respectivamente. O<br />

valor desses termos são determinados por:<br />

R<br />

R<br />

R<br />

( 1− γ )( 1− γ )<br />

h v<br />

d<br />

= (27)<br />

1− γ<br />

vγh<br />

γ<br />

( 1− γ )<br />

h v<br />

h<br />

= (28)<br />

1− γ<br />

v<br />

γ<br />

h<br />

γ<br />

( 1− γ )<br />

v h<br />

v<br />

= (<strong>29</strong>)<br />

1− γ<br />

vγ<br />

h<br />

Naturalmente, a soma dessas três parcelas adimensionais deve ser igual à<br />

unidade. Quando não houver barras longitudinais intermediárias no pilar, não há<br />

formação do mecanismo vertical, ou seja, γ v é igual a 0. A figura 10 indica como ocorre<br />

a distribuição das forças em nós de pórtico externos em função do ângulo de<br />

inclinação da biela.<br />

1,0<br />

Rh<br />

Mecanismo Horizontal<br />

Fração resistente<br />

0,5<br />

Rd<br />

Mecanismo Diagonal<br />

Mecanismo Vertical<br />

Rv<br />

0,0<br />

25 35 45 55 65<br />

Ângulo da biela diagonal (graus)<br />

Figura 10 - Distribuição da força cortante horizontal entre os três mecanismos.<br />

Para ângulos de inclinação da biela iguais a 45 graus, o mecanismo diagonal é<br />

o que mais participa da resistência ao cisalhamento. Nesta situação, R d assume valor<br />

igual a 0,5. A figura 10 também indica que a participação dos estribos horizontais na<br />

resistência à força cortante é maior à medida que a inclinação da biela aumenta.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


144<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

Assim, em nós de pórtico formados por vigas de grande altura em relação à altura da<br />

seção do pilar, a presença de estribos horizontais é mais relevante.<br />

Para verificar se a resistência do nó foi alcançada, as tensões de compressão<br />

da região nodal (nó 6 da figura 9) devem ser verificadas. Com algum esforço algébrico,<br />

determina-se a máxima tensão normal de compressão na região nodal, atuante na<br />

direção principal d, por:<br />

σ<br />

d,max<br />

=<br />

1<br />

A<br />

b<br />

⎡ ⎛ ⎛ h ⎞<br />

⎢ ⎜<br />

1<br />

⎞<br />

cos θ − arctg ⎟<br />

⎜<br />

⎟<br />

⎢ ⎝ ⎝ 2h<br />

2 ⎠⎠<br />

⎢D<br />

+<br />

× F<br />

⎢<br />

⎛ ⎛ h ⎞⎞<br />

⎜<br />

1<br />

cos arctg ⎟<br />

⎢<br />

⎜<br />

⎟<br />

⎣ ⎝ ⎝ 2h<br />

2 ⎠⎠<br />

h<br />

⎛ ⎛ 2h ⎞<br />

⎜<br />

1<br />

⎞<br />

cos arctg ⎟<br />

⎜<br />

⎟ − θ<br />

⎝ ⎝ h2<br />

⎠<br />

+<br />

⎠<br />

× F<br />

⎛ ⎛ 2h ⎞⎞<br />

⎜<br />

1<br />

sen arctg ⎟<br />

⎜<br />

⎟<br />

⎝ ⎝ h2<br />

⎠⎠<br />

v<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎦<br />

(30)<br />

Segundo HWANG & LEE (1999), é possível demonstrar que a direção principal<br />

d coincide com a direção da biela diagonal.<br />

Leis constitutivas<br />

Sabe-se que o concreto em zonas fissuradas apresenta resistência e rigidez<br />

menores que o concreto submetido apenas à compressão uniaxial, em virtude dos<br />

efeitos de tração da armadura que o atravessa. Um exemplo típico deste<br />

comportamento é o caso das bielas comprimidas em nós de pórtico.<br />

Uma vez que as atenções estão voltadas para a resistência, representa-se<br />

apenas o ramo ascendente da curva tensão-deformação do concreto fissurado (figura<br />

11) por:<br />

σ<br />

2<br />

⎡ ⎛ ε<br />

⎤<br />

d<br />

⎞ ⎛ εd<br />

⎞<br />

εd<br />

= ζf ⎢ − ⎥<br />

c<br />

=<br />

⎢<br />

⎜<br />

⎟<br />

⎜<br />

⎟ para ≤ 1<br />

⎣ ⎝ ζε0<br />

⎠ ⎝ ζε0<br />

⎠ ⎥<br />

ζε0<br />

⎦<br />

d<br />

2<br />

(31)<br />

5,8 1 0,9<br />

ζ =<br />

≤<br />

(32)<br />

f + ε<br />

ε<br />

c<br />

1 400<br />

r<br />

1+<br />

400<br />

r<br />

onde<br />

σ<br />

d é a tensão principal de compressão na direção d.<br />

ζ é o coeficiente adimensional de redução da resistência;<br />

ε<br />

d e ε<br />

r são as deformações principais médias na direção d e r<br />

ε<br />

0 é a deformação correspondente à tensão de resistência à compressão (corpo de<br />

prova cilíndrico), a qual pode ser estimada por:<br />

⎛ fc<br />

− 20 ⎞<br />

ε0 = −0,002<br />

− 0,001⎜<br />

⎟ para 20MPa<br />

fc 100MPa<br />

⎝ 100 ⎠<br />

≤ ≤<br />

(33)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />

145<br />

σ d<br />

cilindroσ d<br />

ε<br />

d<br />

σ d<br />

f<br />

c<br />

σ d<br />

ε r<br />

ζf<br />

c<br />

εd<br />

σ d<br />

concreto em<br />

zona fissurada<br />

ζε 0 ε 0<br />

ε d<br />

Figura 11 - Comportamento do concreto armado em zonas fissuradas em decorrência de<br />

deformações transversais.<br />

A máxima resistência ao cisalhamento é alcançada sempre que a tensão de<br />

compressão e a deformação na biela diagonal atingirem os valores máximos, ou seja:<br />

σ = ζ<br />

(34)<br />

d<br />

f c<br />

ε =<br />

(35)<br />

d<br />

ζε 0<br />

Para o aço, adota-se o modelo elasto-plástico perfeito. Assim, as relações<br />

entre as forças resultantes nas armaduras transversais e as respectivas deformações<br />

de tração podem se escritas da seguinte forma:<br />

F<br />

F<br />

h<br />

v<br />

= A<br />

shEsεh<br />

se h<br />

< εyh<br />

= A E ε se v<br />

< εyv<br />

sv<br />

s<br />

v<br />

ε F<br />

h<br />

Fyh<br />

= Ashfyh<br />

ε F<br />

v<br />

Fyv<br />

= Asvfyv<br />

= se ε<br />

h<br />

≥ εyh<br />

(36)<br />

= se ε<br />

v<br />

≥ εyv<br />

(37)<br />

onde<br />

A sh e A sv são as áreas de estribos horizontais e verticais, respectivamente;<br />

E s é o módulo de elasticidade do aço;<br />

ε h e ε v são as deformações nos estribos horizontais e verticais;<br />

ε yh e ε yv são as deformações nos estribos horizontais e verticais correspondentes ao<br />

início do escoamento;<br />

f yh e f yv são as tensões de escoamento do aço dos estribos horizontais e verticais.<br />

Compatibilidade<br />

São duas as equações de compatibilidade que relacionam as deformações<br />

médias nos diferentes sistemas de coordenadas. Uma vez conhecida a direção<br />

principal das tensões de compressão, a deformação principal de tração ε r pode ser<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


146<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

relacionada com a deformação horizontal ε h , a deformação vertical ε v e a deformação<br />

principal de compressão ε d da seguinte maneira:<br />

ε<br />

r<br />

= ε<br />

h<br />

+<br />

2<br />

( ε − ε ) g θ<br />

h<br />

d<br />

cot (38)<br />

2<br />

( ε − ε ) θ<br />

εr = ε<br />

v<br />

+<br />

v d<br />

tg (39)<br />

Procedimentos de resolução<br />

O algoritmo para a resolução do problema inicia-se com a adoção de um valor<br />

inicial para a resistência ao cisalhamento do nó V jh , seguida de três etapas:<br />

1) Empregam-se as equações de equilíbrio para encontrar a tensão máxima de<br />

compressão σ d,max que atua na região nodal (expressão 30). Assumindo-se que<br />

a resistência da biela tenha sido alcançada, obtém-se o valor do coeficiente ζ<br />

σd,max<br />

por meio de ζ = ;<br />

fc<br />

2) Utilizam-se as leis constitutivas dos materiais para determinar as deformações<br />

na biela e nos tirantes;<br />

3) Aplicando-se as equações de compatibilidade, obtém-se um novo valor para ζ.<br />

Se este valor estiver suficientemente próximo do valor calculado na etapa 1,<br />

então o valor atual de V jh é a resistência ao cisalhamento do nó; caso contrário,<br />

continua-se o procedimento iterativo.<br />

O algoritmo de resolução é encontrado detalhadamente em HWANG & LEE<br />

(1999).<br />

saber:<br />

Vale notar que o modelo contêm 10 variáveis que devem ser determinadas, a<br />

Quatro variáveis de forças: V jh , D, F h , F v ;<br />

Uma variável de tensão: σ d,max ;<br />

Uma variável associada ao material: ζ;<br />

Quatro variáveis de deformações: ε d, ε h, ε v , ε r<br />

Em função do número de variáveis envolvendo os tirantes, cinco situações de<br />

cálculo são possíveis na determinação de V jh :<br />

Situação E: A biela de compressão atinge a resistência máxima enquanto que os<br />

tirantes horizontais e verticais permanecem no regime elástico;<br />

Situação YH: Primeiramente, ocorre o escoamento do tirante horizontal. A força<br />

cortante restante é resistida apenas pelo mecanismo diagonal e vertical, até a biela de<br />

compressão atingir sua resistência máxima, permanecendo o estribo vertical em<br />

regime elástico;<br />

Situação YV: O escoamento do tirante vertical ocorre primeiro. Analogamente à<br />

situação YH, o acréscimo de força cortante deve ser redistribuído apenas para o<br />

mecanismo horizontal e diagonal, até que a biela atinja a resistência máxima,<br />

permanecendo o tirante horizontal em regime elástico;<br />

Situação YHV: O tirante horizontal atinge o escoamento, seguido do escoamento do<br />

tirante vertical após a redistribuição de forças. Após o escoamento dos tirantes, a biela<br />

atinge a resistência máxima;<br />

Situação YVH: Análoga a situação YHV, porém com o tirante vertical atingindo<br />

primeiro o escoamento.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />

147<br />

3.3 Expressões das normas de cálculo<br />

Entre as principais normas encontradas na literatura que tratam do<br />

dimensionamento de nós de pórtico de concreto, tanto para o caso de carregamento<br />

cíclico quanto para o caso monotônico, estão as normas americanas ACI-352 (1991) e<br />

ACI-318 (1995), a norma japonesa AIJ (1991) e a norma neozelandesa NZS-3101<br />

(1995).<br />

Observa-se que as normas apresentam entre si algumas diferenças no<br />

dimensionamento das ligações, em especial sobre os mecanismos resistentes do nó<br />

frente ao cisalhamento imposto pelos elementos conectados.<br />

No modelo de cálculo adotado pelo ACI-318 (1995), assume-se que as forças<br />

cortantes são resistidas primariamente pelo núcleo de concreto (nó) e pela armadura<br />

longitudinal do pilar, sendo a integridade da ligação assegurada pela presença de<br />

estribos horizontais colocados na região do nó, os quais servem também para confinar<br />

o concreto. Com esse modelo, percebe-se que o nó é tratado como uma parte do pilar.<br />

Além disso, ignoram-se as tensões de cisalhamento verticais quando a armadura<br />

longitudinal do pilar é uniformemente distribuída ao longo do perímetro do nó. De<br />

qualquer modo, as tensões de cisalhamento verticais podem ser obtidas utilizando-se<br />

o mesmo raciocínio empregado na determinação da força cortante horizontal. Outra<br />

particularidade da norma americana é a consideração do efeito benéfico da presença<br />

de vigas transversais sobre o confinamento.<br />

No modelo adotado pelas normas NZS-3101 (1995) e pelo CEB (1985), as<br />

tensões cisalhantes horizontais e verticais são consideradas no dimensionamento.<br />

A norma brasileira NBR 6118:2003 trata os nós de pórtico como regiões<br />

especiais, não valendo nessas regiões a hipótese da permanência das seções planas.<br />

Prescreve que, em decorrência da mudança de direção dos elementos estruturais, a<br />

resistência do conjunto depende da resistência à tração do concreto e da disposição<br />

da armadura, as quais devem ser consideradas no dimensionamento. Entretanto, não<br />

apresenta modelos de cálculo para o dimensionamento dos nós.<br />

Resistência nominal ao cisalhamento<br />

Nas verificações associadas ao nó, é usual expressar as forças cortantes em<br />

termos de tensões cisalhantes, calculadas simplesmente por:<br />

Vjh<br />

τ<br />

n<br />

=<br />

(40)<br />

A<br />

j<br />

onde A j é a área efetiva do nó de pórtico. Tal área ainda pode ser escrita como:<br />

A = b h<br />

(41)<br />

j<br />

j<br />

j<br />

onde b j e h j são a largura efetiva e a altura efetiva do nó.<br />

Normalmente, adota-se para a altura efetiva h j o valor da altura da seção<br />

transversal do pilar na direção em que o cisalhamento é introduzido ao nó. Por outro<br />

lado, a obtenção da largura efetiva está ligada às diferenças de largura e de<br />

posicionamento entre as seções dos pilares e das vigas. É evidente que áreas de<br />

concreto muito afastadas das faces verticais das vigas não participam eficientemente<br />

na resistência às tensões cisalhantes introduzidos ao nó de pórtico. Por esse motivo,<br />

algumas normas fornecem recomendações simples para o cálculo de uma largura<br />

efetiva para o nó.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


148<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

ACI 352 (1991) e ACI 318 (1995):<br />

A resistência nominal ao cisalhamento de um nó de pórtico é calculada pela<br />

seguinte expressão:<br />

V<br />

n<br />

τ<br />

n<br />

= = 0,083γ<br />

fc<br />

(42)<br />

A<br />

j<br />

onde<br />

γ é uma constante que depende da classificação do nó;<br />

f c é a resistência à compressão do concreto em MPa;<br />

A j é a área efetiva do nó, com A<br />

j<br />

= b<br />

jhp<br />

;<br />

b j é a largura efetiva do nó;<br />

h p é a altura da seção transversal do pilar na direção analisada.<br />

A constante γ é obtida a partir da tabela 1:<br />

Tabela 1 - Valores de γ em ligações viga-pilar – ACI 352 (1991) e ACI 318 (1995)<br />

Tipos de nós de pórtico<br />

Categoria<br />

(Tipo)<br />

Nós confinados por 4<br />

faces verticais (nós<br />

Nós confinados por três faces<br />

verticais ou por 2 faces<br />

Outros casos<br />

(nós de canto)<br />

internos)<br />

opostas (nós externos)<br />

1 24 20 15<br />

2 20 15 12<br />

NZS-3101 (1995) e AIJ (1991):<br />

Segundo as normas neozelandesa e a japonesa, a resistência nominal ao<br />

cisalhamento τ<br />

n assume o seguinte valor:<br />

τ<br />

n<br />

= kf c<br />

(43)<br />

onde<br />

k =0,2 para todos os tipos de nó, segundo a NZS-3101 (1995);<br />

k =0,3 para nós internos e k = 0,18 para nós externos, segundo a AIJ (1991).<br />

A figura 12 contém uma comparação da tensão nominal resistente em função<br />

da resistência à compressão do concreto, segundo as três normas aqui mencionadas.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />

149<br />

Tensão nominal resistente (MPa)<br />

12<br />

11<br />

10<br />

9<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

ACI318(1995)<br />

NZS3101(1995)<br />

AIJ(1991)<br />

2<br />

20 25 30 35 40 45 50<br />

Resistência à compressão do concreto (MPa)<br />

Figura 12 - Resistência ao cisalhamento em função da resistência à compressão.<br />

4 EXEMPLOS NUMÉRICOS<br />

4.1 Exemplo numérico: aplicação do modelo de PAULAY & PRIESTLEY (1992)<br />

Neste exemplo, são dimensionados os estribos horizontais do nó indicado na<br />

figura 13, de modo que a viga possa atingir o momento último, dentro das hipóteses<br />

usuais assumidas no estado limite último e da norma brasileira NBR 6118:2003. As<br />

intensidades das solicitações procuraram simular uma situação real de edifício de<br />

múltiplos andares em pórtico de concreto armado, compatíveis com as dimensões e<br />

geometria dos elementos estruturais escolhidos.<br />

Dados do problema:<br />

Concreto:<br />

f ck<br />

= 30MPa ;<br />

coeficiente de minoração da resistência do concreto: γ = 1, c<br />

4<br />

Aço:<br />

barras longitudinais da viga e do pilar:<br />

estribos do nó:<br />

γ = 1,15<br />

s<br />

f yh<br />

= 500MPa<br />

Força normal no pilar: 360 N d<br />

= kN<br />

Altura entre pisos consecutivos: 300cm<br />

f y<br />

= 500MPa<br />

;<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


150<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

Figura 13 - Ligação viga-pilar de extremidade do exemplo numérico.<br />

f<br />

fck<br />

3,0<br />

= = 2,143 kN/cm 2<br />

γ 1,4<br />

cd<br />

=<br />

c<br />

f<br />

fy<br />

50<br />

= = 43,48 kN/cm 2<br />

γ 1,15<br />

yd<br />

=<br />

s<br />

Força cortante horizontal do nó<br />

A resultante de tração das barras principais da viga, assumindo que esta atinja a<br />

máxima capacidade à flexão, é igual a:<br />

T<br />

= A f = 8,00 × 43,48 347,8 kN<br />

v ,d st yd<br />

=<br />

Calcula-se o momento último na viga com as hipóteses usuais do estado limite último:<br />

M u , d<br />

=<br />

12070kN.cm<br />

Por equilíbrio, o momento fletor no pilar é igual a metade do momento último da viga:<br />

M u , d<br />

=<br />

6035kN.cm<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />

151<br />

A força cortante no pilar correspondente ao momento último da viga pode ser obtida<br />

pela razão entre a soma dos momentos de extremidade do pilar e a distância entre<br />

pisos consecutivos da estrutura. Logo:<br />

V , d<br />

V<br />

6035+<br />

6035<br />

=<br />

40,2kN<br />

300<br />

= T − V = 347,8 − 40,2 307,6 kN<br />

p<br />

=<br />

jh ,d v,d p, d<br />

=<br />

Área de estribos horizontais no nó:<br />

Utilizando a expressão (11) do modelo de PAULAY & PRIESTLEY (1992), calcula-se a<br />

área de estribos<br />

C ⎛ ⎞<br />

s,d<br />

0,8x<br />

p<br />

A = ⎜ − ⎟<br />

sh<br />

1<br />

onde α = 0, 7<br />

fyh,d<br />

⎝ αhp<br />

⎠<br />

Aplicando as equações de equilíbrio e de compatibilidade da seção da viga, obtém-se,<br />

para o momento último da viga:<br />

C , d<br />

s<br />

= 195,76 kN<br />

Utilizando a aproximação da expressão (12):<br />

⎛ 0,85 × 360 ⎞<br />

x p<br />

= ⎜0,25<br />

+<br />

⎟ × 30 = 14,64cm<br />

⎝ 600 × 3,0 /1,4 ⎠<br />

195,76 ⎛ 0,8 × 14,64 ⎞<br />

A 1<br />

= 1,99cm<br />

43,48 ⎝ 0,7 × 30 ⎠<br />

2<br />

sh<br />

= ⎜ − ⎟<br />

(2φ8mm)<br />

Os estribos calculados devem ser colocados entre a armadura tracionada da viga e a<br />

zona comprimida da mesma.<br />

A fim de evitar o esmagamento da biela diagonal do nó, PAULAY &<br />

PRIESTLEY (1992) sugerem que a tensão nominal de cisalhamento esteja limitada a<br />

0,25 vezes a resistência característica à compressão do concreto. Aplicando os<br />

coeficientes de minoração da resistência do concreto, a força cortante solicitante de<br />

cálculo deve atender a seguinte verificação<br />

V ≤ 0,25.f<br />

jh,d<br />

V , d<br />

cd<br />

. A<br />

3,0<br />

≤ 0,25 × ×<br />

1,4<br />

j<br />

( 20 × 30) 321,4 kN<br />

jh<br />

=<br />

Como<br />

V , d<br />

jh<br />

= 307,6 kN , a verificação está atendida.<br />

4.2 Exemplo numérico: aplicação do modelo de HWANG & LEE (1999)<br />

Neste exemplo, determina-se a força cortante resistente com base no modelo<br />

de biela e tirante proposto por HWANG & LEE (1999) para nós externos. A geometria<br />

e os materiais são os mesmos do exemplo 4.1, variando-se apenas a área de estribos<br />

horizontais do nó. Os demais dados necessários estão contidos na tabela 2.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


152<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

Tabela 2 - Dados relativos à geometria da ligação e aos materiais adotados<br />

Materiais Viga Pilar Nó<br />

f c = 30 MPa<br />

ε o = -0,002<br />

f yh = 500 MPa<br />

E s = 210.000 MPa<br />

b v = 20 cm<br />

h v = 40 cm<br />

h 1 = 34,0 cm<br />

b p = 20 cm<br />

h p = 30 cm<br />

h 2 = 22,8 cm<br />

N = 360 kN<br />

A b = 365 cm 2<br />

A j = 600 cm 2<br />

θ = 56,2°<br />

A área da biela A b foi calculada de acordo com a expressão (18), tomando-se,<br />

por facilidade, a profundidade da linha neutra da viga (x v ) como sendo à<br />

correspondente ao início de plastificação das barras longitudinais da viga.<br />

Procedendo-se ao cálculo da seção da viga, obtém-se que:<br />

x v<br />

= 10,87cm<br />

Logo:<br />

a =<br />

b<br />

⎛<br />

⎜<br />

⎝<br />

⎛ 10,87 ⎞⎞<br />

14,64 ⎟<br />

⎝ ⎠⎠<br />

2<br />

2<br />

( 10,87) + ( 14,64) sen⎜55,2<br />

+ arctg⎜<br />

⎟⎟<br />

= 18,23cm<br />

A = 18,23 × 20 =<br />

365cm<br />

2<br />

Vale ressaltar que os valores da resistência à compressão do concreto e da<br />

resistência ao escoamento do aço fornecidos ao modelo de biela e tirante foram<br />

minorados pelos coeficientes de ponderação da resistência de cada material.<br />

A tabela 3 contém os resultados fornecidos pelo modelo de HWANG & LEE<br />

(1999) para diferentes áreas de armadura transversal no nó.<br />

Tabela 3 - Resultados fornecidos pelo modelo de HWANG & LEE (1999)<br />

A sh V jh,d<br />

(kN)<br />

τ d<br />

(kN/cm 2 )<br />

τ d / f cd D<br />

(kN)<br />

σ cd<br />

(kN/cm 2 )<br />

F h<br />

(kN)<br />

σ sh,d<br />

(kN/cm 2 )<br />

Sem estribos 252,6 0,421 0,196 453,6 1,243 0,000 0,000<br />

1φ8 (1,0 cm 2 ) 267,6 0,446 0,208 402,3 1,102 43,48 43,48<br />

2φ8 (2,0 cm 2 ) 282,6 0,471 0,220 351,2 0,962 87,00 43,48<br />

3φ8 (3,0 cm 2 ) <strong>29</strong>7,6 0,496 0,231 300,0 0,822 130,5 43,48<br />

4φ8 (4,0 cm 2 ) 312,6 0,521 0,243 248,8 0,682 174,0 43,48<br />

5φ8 (5,0 cm 2 ) 327,5 0,546 0,255 199,5 0,546 216,4 43,28<br />

6φ8 (6,0 cm 2 ) 338,8 0,565 0,264 206,3 0,565 223,9 37,31<br />

8φ8 (8,0 cm 2 ) 355,7 0,593 0,277 216,6 0,593 235,1 <strong>29</strong>,39<br />

A partir dos resultados da tabela 3, são feitas algumas análises e observações:<br />

• Para taxas de estribos pequenas, a resistência ao cisalhamento do nó é<br />

governada pelo escoamento dos estribos. Para taxas de estribos maiores, a<br />

resistência do nó acaba sendo governada pela resistência da biela comprimida,<br />

podendo os estribos trabalhar no regime elástico.<br />

• A resistência ao cisalhamento cresce linearmente com a área de estribos<br />

enquanto estes permanecem em regime de escoamento. Quando os estribos<br />

começam a trabalhar no regime elástico, observa-se um crescimento não-linear<br />

da resistência com a área de armadura transversal (figura 14).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />

153<br />

370<br />

Força cortante resistente (kN)<br />

350<br />

330<br />

310<br />

<strong>29</strong>0<br />

270<br />

250<br />

0 2 4 6 8 10<br />

Área de armadura transversal (cm2)<br />

Figura 14 - Resistência ao cisalhamento vs. Área de armadura transversal no nó –<br />

HWANG & LEE (1999).<br />

• A tensão normal na biela decresce linearmente com o aumento da área de<br />

estribos, enquanto estes ainda atingem o escoamento. Quando os estribos<br />

horizontais começam a trabalhar no regime elástico, a tensão normal da biela<br />

apresenta uma taxa de crescimento modesta, até que o nó não seja mais<br />

capaz de suportar o carregamento imposto (figura 15).<br />

Tensão na biela (kN/cm2)<br />

1,4<br />

1,2<br />

1,0<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0,0<br />

0 2 4 6 8 10<br />

Área de estribos (cm2)<br />

Figura 15 - Tensão de compressão na biela vs. Área de armadura transversal no nó –<br />

HWANG & LEE (1999).<br />

• Ao contrário do que propõem as principais normas de cálculo, a máxima tensão<br />

de cisalhamento associada ao esmagamento da biela diagonal também<br />

depende da taxa de armadura transversal e não somente da resistência à<br />

compressão do concreto. Na verdade, as taxas de armadura transversal<br />

prescritas por essas normas, em especial no caso de ações sísmicas, são<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


154<br />

Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />

suficientes o bastante para assumir, com segurança, que a resistência ao nó<br />

de pórtico dependa apenas da resistência à compressão do concreto.<br />

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Neste trabalho, foram abordados alguns modelos de cálculo para a<br />

determinação da resistência de nós externos formados nas estruturas em pórtico de<br />

concreto armado.<br />

Em situação de projeto, recomenda-se que o nó de pórtico apresente uma<br />

capacidade resistente maior que a das vigas e a dos pilares. Em outras palavras, o nó<br />

de pórtico deve ser a região mais resistente da ligação viga-pilar.<br />

Conhecendo-se a resistência ao cisalhamento do nó de pórtico, avalia-se se tal<br />

região é a mais ou a menos resistente da ligação. Para isso, calcula-se o momento<br />

último da viga, determinando-se a resultante na armadura tracionada da viga e a força<br />

cortante no pilar. Com essas duas grandezas, calcula-se a força cortante solicitante no<br />

nó, a qual deve ser comparada com a resistência ao cisalhamento do mesmo.<br />

Com relação a determinação da força cortante resistente do nó, foram<br />

apresentados os modelos de PAULAY & PRIESTLEY (1992) e o modelo de HWANG &<br />

LEE (1999). Ambos baseiam-se nos conceitos dos modelos de biela e tirante.<br />

A determinação da força cortante resistente também pode ser feita por<br />

expressões recomendadas por normas de dimensionamento, devendo-se, entretanto,<br />

satisfazer os requisitos de detalhamento para a aplicação adequada dessas<br />

expressões.<br />

Com relação aos dois modelos teóricos abordados neste trabalho, as seguintes<br />

diferenças podem ser mencionadas:<br />

• Em situação de projeto, o modelo de PAULAY & PRIESTLEY é mais prático<br />

que o modelo de HWANG & LEE, pois com uma única expressão - que<br />

depende apenas da resultante de compressão da armadura da viga, da altura<br />

da zona comprimida do pilar e altura da seção do mesmo - é possível<br />

dimensionar ou verificar o nó de pórtico. O modelo de HWANG & LEE<br />

apresenta uma formulação mais sofisticada e utiliza um processo iterativo de<br />

resolução, sendo mais conveniente empregá-lo com o auxílio de computador.<br />

• O modelo de PAULAY & PRIESTLEY faz uso apenas de equações de<br />

equilíbrio de forças em sua formulação. O modelo de HWANG & LEE, além de<br />

utilizar equações de equilíbrio de forças, também faz uso de equações de<br />

compatibilidade de deformações e de leis constitutivas dos materiais,<br />

apresentando, em princípio, mais consistência em termos mecânicos.<br />

• Para as taxas de estribos não muito elevadas, o modelo de PAULAY &<br />

PRIESTLEY fornece uma resistência ao cisalhamento maior que o modelo de<br />

HWANG & LEE.<br />

• A determinação da resistência do nó empregando o modelo de PAULAY &<br />

PRIESTLEY depende das taxas de armaduras principais da viga e do emprego<br />

das equações de compatibilidade e equilíbrio na seção da mesma. Por sua<br />

vez, o modelo de HWANG & LEE não requer os valores das resultantes das<br />

armaduras longitudinais da viga, pois a área da seção da biela pode ser<br />

estimada apenas com o valor da força normal do pilar (expressões 16 e 17).<br />

• O modelo de PAULAY & PRIESTLEY não é aplicável aos casos em que não<br />

existe armadura negativa na viga. Este fato decorre em virtude da força<br />

cortante V sh resistida pelos estribos depender da resultante de compressão C s .<br />

O mesmo não ocorre com o modelo de HWANG & LEE.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />

155<br />

• O modelo de PAULAY & PRIESTLEY também não é aplicável na ausência de<br />

estribos no nó. Neste caso, o modelo de HWANG & LEE deve ser utilizado,<br />

assumindo-se que a deformação ε h na expressão (38) seja igual à deformação<br />

das barras longitudinais de tração da viga.<br />

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ACI-ASCE Committee 352. (1991). Recommendations for design of beam-column<br />

joints in monolithic reinforced concrete structures. Detroit: American Concrete<br />

Institute.<br />

ALVA, G. M. S. (2000). Sobre o projeto de edifícios em estrutura mista açoconcreto.<br />

São <strong>Carlos</strong>. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong><br />

– Universidade de São Paulo.<br />

ALVA, G. M. S. (2004). Estudo teórico-experimental do comportamento de nós de<br />

pórtico de concreto armado submetidos a ações cíclicas. São <strong>Carlos</strong>. Tese<br />

(Doutorado) – Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />

AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. (1995). ACI 318R-95 – Building Code<br />

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ARCHITECTURAL INSTITUTE OF JAPAN. (1991). AIJ – Structural Design Guidelines<br />

for Reinforced Concrete Buildings. Tokyo.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2003). NBR 6118. Projeto de<br />

estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT.<br />

COMITEE EURO-INTERNATIONAL DU BETON - CEB. (1985). Model Code for<br />

seismic design of concrete structures. Bulletin d’Information, n.165.<br />

HWANG, S-J; LEE, H. J. (1999). Analytical model for predicting shear strenghts of<br />

exterior reinforced concrete beam-column joints for seismic resistance. ACI Structural<br />

Journal, v.96, n.5, p.846-57.<br />

JENNEWEIN, M., SCHÄFER, K. (1992). Standardisierte Nachweise von häufigen D-<br />

Bereichen, DAfStb. Helf, n.430, Beuth-Verlag, Berlim.<br />

NZS-3101. (1995). Concrete Structures Standard: Part1 – The design of concrete<br />

structures. Wellington.<br />

PARK, R.; PAULAY, T. (1975). Reinforced concrete structures. 2. ed. New York:<br />

John Wiley & Sons. p.716-61.<br />

PAULAY, T.; PRIESTLEY, M. (1992). Seismic design of reinforced concrete and<br />

mansory buildings. 2ed. New York: John Wiley & Sons. p.1-303.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>


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