São Carlos, v.7 n. 29 2005 - SET - USP
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São <strong>Carlos</strong>, <strong>v.7</strong> n. <strong>29</strong> <strong>2005</strong>
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO<br />
Reitor:<br />
Prof. Titular ADOLFO JOSÉ MELFI<br />
Vice-Reitor:<br />
Prof. Titular HÉLIO NOGUEIRA DA CRUZ<br />
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS<br />
Diretor:<br />
Prof. Titular FRANCISCO ANTONIO ROCCO LAHR<br />
Vice-Diretor:<br />
Prof. Titular RUY ALBERTO CORREA ALTAFIM<br />
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS<br />
Chefe do Departamento:<br />
Prof. Titular CARLITO CALIL JUNIOR<br />
Suplente do Chefe do Departamento:<br />
Prof. Titular SÉRGIO PERSIVAL BARONCINI PROENÇA<br />
Coordenador de Pós-Graduação:<br />
Prof. Associado MÁRCIO ROBERTO SILVA CORRÊA<br />
Coordenadora de Publicações e Material Bibliográfico:<br />
MARIA NADIR MINATEL<br />
e-mail: minatel@sc.usp.br<br />
Editoração e Diagramação:<br />
FRANCISCO CARLOS GUETE DE BRITO<br />
MASAKI KAWABATA NETO<br />
MELINA BENATTI OSTINI<br />
TATIANE MALVESTIO SILVA
São <strong>Carlos</strong>, <strong>v.7</strong> n. <strong>29</strong> <strong>2005</strong>
Departamento de Engenharia de Estruturas<br />
Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – <strong>USP</strong><br />
Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro<br />
CEP: 13566-590 – São <strong>Carlos</strong> – SP<br />
Fone: (16) 3373-9481 Fax: (16) 3373-9482<br />
site: http://www.set.eesc.usp.br
SUMÁRIO<br />
Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto<br />
submetidas a esforços de compressão<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa 1<br />
Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando<br />
chapas de compensado<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Junior 31<br />
Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />
Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias 57<br />
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição<br />
de fibras de aço na resistência e na ductilidade à punção de lajes-cogumelo e<br />
ao cisalhamento de vigas de concreto<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai 79<br />
Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação dinâmica<br />
elastoplástica entre o solo e estruturas<br />
Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda 113<br />
Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto<br />
armado<br />
Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs 131
ISSN 1809-5860<br />
ESTUDO DA RESISTÊNCIA E DA<br />
DEFORMABILIDADE DA ALVENARIA DE BLOCOS<br />
DE CONCRETO SUBMETIDAS A ESFORÇOS DE<br />
COMPRESSÃO<br />
Andrea Elizabeth Juste 1 & Márcio Roberto Silva Corrêa 2<br />
Resumo<br />
O estudo da resistência à compressão e da deformabilidade de paredes de alvenaria de<br />
blocos de concreto é de fundamental importância para a caracterização desse material<br />
e o desenvolvimento de análises de estruturas compostas por esse tipo de painel. Este<br />
trabalho trata desse tema, objetivando prever com maior acuidade os principais<br />
parâmetros de deformação e de resistência de paredes de alvenaria de blocos de<br />
concreto, a saber: resistência à compressão e módulo de elasticidade longitudinal nas<br />
direções paralela e perpendicular à junta de assentamento. Foi desenvolvido um<br />
trabalho experimental para estimar a influência da resistência dos blocos, da<br />
resistência da argamassa e da direção de aplicação de forças no comportamento<br />
mecânico da alvenaria de blocos de concreto não-grauteada, quando submetida a<br />
esforços de compressão. Para tanto, realizaram-se ensaios de laboratório em blocos,<br />
argamassas, prismas de três blocos e paredinhas com dimensões de 80 cm x 80 cm.<br />
Por inferência estatística não foram obtidas correlações aceitáveis entre as variáveis<br />
estudadas. Porém, obtiveram-se tendências de comportamento dos corpos de prova<br />
estudados, confirmando a influência das características da argamassa e do bloco no<br />
comportamento estrutural da alvenaria quando submetida a esforços de compressão.<br />
Palavras-chave: alvenaria estrutural; análise experimental; blocos de concreto; curvas<br />
tensão-deformação; módulo de elasticidade; resistência à compressão.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Por muitos anos a alvenaria estrutural foi pouco utilizada no Brasil devido a<br />
muitos fatores tais como: preconceito, maior domínio da tecnologia do concreto armado<br />
por parte de construtores e projetistas e pouca divulgação do assunto nas universidades<br />
durante o processo de formação dos engenheiros. Muitos projetistas são leigos no que<br />
diz respeito a este sistema construtivo e acabam, assim, optando pelo concreto armado.<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, andreajuste@ig.com.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, mcorrea@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
2<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
Isto é também influenciado pelo reduzido número de publicações sobre o assunto em<br />
português, pois a maior parte da bibliografia é estrangeira e voltada para as<br />
peculiaridades do país de origem.<br />
Nos últimos cinco anos essa situação tem se alterado de forma significativa. O<br />
interesse por esse sistema estrutural cresceu de forma notável, especialmente pelas<br />
condições nitidamente favoráveis que se obtêm em termos de economia. E, no<br />
momento, a demanda por tecnologias que possam garantir a execução de obras<br />
econômicas e seguras é realmente muito grande.<br />
Nesse aspecto, um ponto de grande importância a ser mais bem estudado é<br />
exatamente a deformabilidade de painéis de alvenaria de blocos, especialmente levandose<br />
em consideração as características dos materiais empregados no Brasil e as<br />
peculiaridades nacionais dos sistemas construtivos utilizados na confecção desses<br />
painéis. Devido à carência dessas informações, o projetista de estruturas é, em geral,<br />
obrigado a lançar mão da intuição ou adaptar tabelas presentes em Normas Técnicas<br />
Internacionais, produzidas para materiais e condições construtivas diferentes dos<br />
utilizados no Brasil.<br />
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL<br />
2.1. Resumo dos ensaios realizados<br />
Durante o programa experimental foram ensaiados os componentes bloco e<br />
argamassa e os elementos com eles executados: prismas e paredinhas.<br />
A divisão do trabalho experimental consistiu em duas partes: ensaios-piloto<br />
utilizando apenas prismas e ensaios finais utilizando prismas e paredinhas. Os ensaiospiloto<br />
em prismas de três blocos foram realizados para determinar os parâmetros que<br />
deveriam ser considerados nos posteriores ensaios com paredinhas.<br />
Assim, definiu-se para os ensaios-piloto em prismas, a análise das seguintes<br />
variáveis:<br />
a) Resistência à compressão dos blocos<br />
Consideração das resistências de 4,5 MPa e 10,0 MPa para blocos de concreto, por<br />
serem representativos da utilização prática no Brasil.<br />
b) Argamassa<br />
Utilização de dois tipos de argamassa industrializada da empresa CIMPOR, a F07 e<br />
a F51. A escolha dessas argamassas baseou-se na distinção em relação ao módulo de<br />
elasticidade e à resistência à compressão relatada em boletins técnicos fornecidos<br />
pelo fabricante.<br />
Obs.: Foi realizado, paralelamente ao estudo em prismas, um estudo para a<br />
determinação da resistência e do módulo de elasticidade de um terceiro tipo de<br />
argamassa – a F11, através de ensaios utilizando-se apenas corpos de prova<br />
cilíndricos com dimensões de 5 cm x 10 cm, considerando-se a eventualidade de sua<br />
utilização, o que não ocorreu.<br />
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Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />
3<br />
c) Cordões de argamassa<br />
Moldagem dos prismas em duas situações: preenchimento de todos os septos dos<br />
blocos (assentamento total) e preenchimento apenas dos septos longitudinais dos<br />
blocos (assentamento lateral).<br />
Como será discutido mais adiante, o quesito argamassa foi prejudicado em<br />
função de problemas nos ensaios-piloto de prismas com a argamassa industrializada.<br />
Optou-se, então, pelo uso de argamassas comuns, com traços usualmente empregados<br />
na alvenaria, especificados pela BS 5628 (1992). Foi também descartada a variável<br />
relacionada ao tipo de assentamento da argamassa, devido a restrições de tempo,<br />
ocupação e espaço no laboratório do <strong>SET</strong>/EESC/<strong>USP</strong>. Cabe ressaltar que essa decisão<br />
foi tomada com o objetivo de reduzir o programa experimental, não tendo a pretensão<br />
de julgá-la sem importância no comportamento da alvenaria comprimida.<br />
Definiu-se que os ensaios finais deveriam contemplar os seguintes requisitos:<br />
a) Resistência à compressão dos blocos<br />
Consideração dos blocos de concreto com resistências de 4,5 MPa e 12,0 MPa. A<br />
alteração da resistência dos blocos de 10 MPa para os de 12 MPa deve-se a um<br />
engano ocorrido na entrega dos blocos. Pelo fato da análise dos corpos de prova<br />
necessitar da distinção de resistência à compressão e módulo de elasticidade, julgouse<br />
que esta mudança não afetaria o objetivo dos estudos. Dessa forma, manteve-se a<br />
modificação da resistência do bloco.<br />
b) Argamassa<br />
Utilização de dois traços alternativos de argamassa recomendados pela BS 5628<br />
(1978), usualmente empregados na alvenaria:<br />
Cimento:Cal:Areia (em volume)<br />
Tipo (ii) - 1:0,5:4,5<br />
Tipo (iii) - 1:1:6<br />
c) Cordões de argamassa<br />
Moldagem dos prismas e paredinhas feita apenas com o assentamento total dos<br />
blocos.<br />
d) Direção de aplicação de carregamento<br />
Consideração de duas situações de aplicação de carregamento: paralelo e<br />
perpendicular à junta de assentamento dos blocos.<br />
Quanto aos corpos de prova, foram utilizados prismas de três blocos e paredinhas<br />
com dimensões modulares de 80 cm x 80 cm, conforme indica a figura 2.1.<br />
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4<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 2.1 - Esquema dos corpos de prova utilizados nos ensaios finais – (a) Prisma (b)<br />
Paredinha (medidas em mm).<br />
2.2. Execução dos ensaios de caracterização mecânica<br />
2.2.1. Blocos<br />
Ensaios-Piloto 1 e Ensaios Finais<br />
A caracterização dos blocos, feita em termos de resistência média (f bm ) e de<br />
resistência característica (f bk ), seguiu as especificações da Norma Brasileira NBR 7186<br />
(1994).<br />
A determinação do módulo de elasticidade longitudinal dos blocos foi realizada<br />
simultaneamente com os ensaios de prismas. Para tanto, foram instalados transdutores<br />
de deslocamento com curso de 10 mm e base de 155 mm nos blocos centrais dos<br />
prismas, repetindo esse posicionamento na face oposta do prisma. A opção por este tipo<br />
de medição pode ser explicada pela tentativa de eliminar a influência do efeito da<br />
restrição da base da prensa e do capeamento utilizado, já que ensaios anteriores<br />
realizados pelo laboratório, onde eram utilizadas unidades individuais, indicaram<br />
dificuldades na obtenção de resultados satisfatórios. Além disso, o posicionamento dos<br />
transdutores no prisma permitiu que o estudo das deformações do bloco fosse feito<br />
numa situação semelhante ao seu comportamento na alvenaria.<br />
2.2.2. Argamassas<br />
Ensaio-Piloto 1<br />
Para cada tipo de argamassa do primeiro ensaio-piloto, executaram-se em<br />
moldes metálicos 6 corpos de prova cilíndricos com dimensões de 5cm x 10cm,<br />
seguindo as recomendações da Norma Brasileira NBR 7215 (1982). Destes 6 corpos de<br />
prova, 3 foram ensaiados para obter a resistência à compressão uniaxial, conforme a<br />
NBR 13279 (1995), e 3 para a determinação do módulo de elasticidade longitudinal,<br />
conforme as especificações da NBR 8522 (1984) e da Norma Americana ASTM E111-<br />
82.<br />
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Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />
5<br />
As medições de deformações dos corpos de prova de argamassa foram obtidas<br />
através do uso de dois tipos de instrumentação: extensômetros, com base de 10 mm, e<br />
transdutores de deslocamentos, com curso de 10mm (ver figura 2.2). Dois<br />
extensômetros com base de 10 mm, colados longitudinalmente com massa plástica para<br />
a medição das deformações axiais, foram dispostos ao longo da geratriz do corpo de<br />
prova, igualmente espaçados no perímetro da seção transversal. A disposição dos dois<br />
transdutores foi a mesma dos extensômetros, sendo os encurtamentos tomados em<br />
relação aos pratos da prensa. Com o uso destes dois tipos de aparelhagem foi possível<br />
comparar os resultados obtidos pelos mesmos, de modo a escolher o mais adequado<br />
para a medição de deformações que iriam ser utilizados nos ensaios finais.<br />
Figura 2.2 - Posicionamento da instrumentação nos corpos de prova de argamassa (EP1).<br />
Ensaio-Piloto 2<br />
Nos ensaios das argamassas do segundo ensaio-piloto foram empregados corpos<br />
de prova cilíndricos com dimensões de 15 cm x 30 cm. Este tipo de corpo de prova foi<br />
usado para que fosse possível utilizar o dispositivo mostrado na figura 2.3, para a<br />
fixação dos transdutores de deslocamentos, sem que os mesmos ficassem em contato<br />
com os pratos da prensa. Essa medida teve como objetivo reduzir o efeito do<br />
capeamento nos resultados das deformações.<br />
Figura 2.3 - Dispositivo de fixação dos transdutores para corpos de prova com dimensões de 15<br />
cm x 30 cm.<br />
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6<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
Ensaios Finais<br />
Para os ensaios finais foram moldados 4 corpos de prova cilíndricos de<br />
argamassa, com dimensões de 5cm x 10cm, para cada preparo de argamassa de<br />
moldagem de 3 paredinhas e 6 prismas.<br />
Os corpos de prova foram ensaiados para determinar sua resistência à<br />
compressão.<br />
2.2.3. Prismas<br />
Ensaio-Piloto 1<br />
Os prismas dos ensaios-piloto foram moldados utilizando três blocos assentados<br />
a prumo, conforme especifica Norma Americana ASTM E 447 (1997).<br />
A moldagem dos prismas foi feita através de séries de 3 exemplares, sendo cada<br />
série diferenciada uma da outra pela variação de dois tipos de argamassa, duas<br />
resistência de blocos e duas formas de assentamento. Dessa maneira, foram ensaiadas 8<br />
séries de 3 prismas, totalizando 24 prismas.<br />
As formas de assentamento são o assentamento total e o lateral dos blocos. O<br />
assentamento total consiste em preencher com argamassa toda a seção transversal do<br />
bloco. Para o assentamento lateral o preenchimento é feito apenas nas faces<br />
longitudinais da seção transversal do bloco. Para efeito de notação neste trabalho, a<br />
nomeação dos prismas, com finalidade de facilitar a identificação durante os ensaios, foi<br />
feita utilizando uma letra e três números. A letra indica o tipo de argamassa utilizada (P,<br />
Q ou R). O primeiro número indica a classe de resistência do bloco utilizado (1 ou 2), o<br />
segundo a forma de assentamento da argamassa (1 ou 2) e o terceiro o número do<br />
exemplar da série (1, 2 ou 3).<br />
A figura 2.4 apresenta o esquema de posicionamento dos transdutores nos<br />
prismas para medições de deslocamentos no prisma e no bloco.<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 2.4 - (a) Vista frontal (b) Vista oposta. Transdutores 1,2,3 e 4: medições de<br />
deslocamentos no prisma; transdutores 5 e 6 - medições de deslocamentos nos blocos (EP1)<br />
(medidas em mm).<br />
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7<br />
Ensaios Finais<br />
Nos ensaios finais foram moldados 2 prismas com três blocos assentados a<br />
prumo para cada paredinha. A execução dos prismas obedeceu as especificações da<br />
NBR 8.215 (1983). Através destes prismas pretendeu-se obter correlações de resistência<br />
entre os mesmos e as paredinhas.<br />
A determinação do módulo de elasticidade dos blocos foi feita utilizando-se três<br />
prismas para cada classe de resistência de bloco. Os demais prismas foram ensaiados<br />
apenas para obter sua resistência à compressão.<br />
A denominação dos prismas durante os ensaios foi feita da seguinte maneira:<br />
As duas primeiras letras correspondem ao tipo de corpo de prova estudado (PR e<br />
PA), seguido do tipo de bloco (B1 e B2), tipo de argamassa (A1 e A2), direção de<br />
carregamento (EY e EX) e número do exemplar (1, 2 e 3).<br />
Exemplo: PRB1A1EY1<br />
2.2.4. Paredinhas<br />
Optou-se por realizar ensaios em paredinhas de blocos de concreto com<br />
dimensões 80 cm x 80 cm. Para tanto, foram moldadas 24 paredinhas, onde foram<br />
consideradas duas resistências de bloco, duas resistências de argamassa e duas direções<br />
de aplicação de carregamento, estando cada variação dividida em séries compostas por<br />
três exemplares, seguindo por analogia as recomendações da NBR 8522 (1984) para a<br />
determinação do módulo de elasticidade.<br />
Com o objetivo de realizar um controle de resistência, para cada paredinha<br />
foram moldados dois prismas de três blocos. E, para cada mistura de argamassa,<br />
calculada para ser suficiente na execução de três paredinhas e 6 prismas, foram<br />
moldados 4 corpos de prova.<br />
Os esquemas de instrumentação utilizados durante os ensaios para a paredinha<br />
ensaiada nas direções x e y são mostrados na figura 2.5 e 2.6, respectivamente.<br />
Os extensômetros 1, 2, 3 e 4 tiveram como objetivo medir os deslocamentos<br />
verticais dos blocos, de modo a possibilitar a obtenção do módulo de elasticidade<br />
longitudinal das paredinhas. Os extensômetros 5 e 6 foram utilizados para medir os<br />
deslocamentos horizontais nos blocos na região central da paredinha. Com isso, tinha-se<br />
como objetivo calcular o coeficiente de Poisson local nas paredes.<br />
A realização dos ensaios das paredinhas seguiu basicamente os mesmos<br />
procedimentos utilizados durante os ensaios de determinação do módulo de elasticidade<br />
longitudinal dos prismas.<br />
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8<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 2.5 - (a) Vista frontal (b) Vista oposta. Transdutores 1,2,3 e 4 - medições de<br />
deslocamentos verticais na parede; Transdutores 5 e 6 - medições de deslocamentos horizontais<br />
na parede (EF) (medidas em mm).<br />
(a)<br />
(b)<br />
Figura 2.6 - (a) Vista frontal (b) Vista oposta. Transdutores 1,2,3 e 4: medições de<br />
deslocamentos verticais na parede; Transdutores 5 e 6 - medições de deslocamentos horizontais<br />
na parede (EF) (medidas em mm).<br />
3 ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />
3.1. Blocos<br />
Ensaios-Piloto 1<br />
Os valores das resistências médias à compressão são apresentados na tabela 3.1<br />
e os valores característicos estimados na tabela 3.2.<br />
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Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />
9<br />
Tabela 3.1 - Valores médios de resistência à compressão dos blocos (EP1)<br />
Tipo de<br />
bloco<br />
Classe de<br />
resistência<br />
Idade dos<br />
blocos<br />
Área bruta<br />
(546 cm 2 )<br />
Área líquida<br />
(300 cm 2 )<br />
(MPa) (dias) f bm<br />
(MPa)<br />
S d<br />
(MPa)<br />
CV (%) f bm<br />
(Mpa)<br />
S d<br />
(MPa)<br />
CV<br />
(%)<br />
1 4,5 114 9,43 0,86 9,12 17,15 1,56 9,10<br />
2 10,0 206 22,55 1,01 4,48 41,00 1,84 4,49<br />
Tabela 3.2 - Valores característicos de resistência à compressão dos blocos (EP1)<br />
Tipo Classe de Área bruta (546 cm 2 ) Área líquida (300 cm 2 )<br />
de<br />
bloco<br />
resistência (MPa) f bk,est<br />
(MPa)<br />
S d<br />
(Mpa)<br />
CV (%) f bk,est<br />
(MPa)<br />
S d<br />
(MPa)<br />
CV<br />
(%)<br />
1 4,5 8,37 0,86 10,27 15,22 1,56 10,25<br />
2 10,0 20,27 1,01 4,98 36,85 1,84 4,99<br />
A resistência à compressão média dos blocos foi cerca de 10% maior do que sua<br />
resistência característica. Além disso, pode-se perceber que os valores de resistência<br />
média dos blocos excederam em mais de 100% a resistência nominal dos mesmos.<br />
A determinação do módulo de elasticidade dos blocos foi feita a partir do gráfico<br />
tensão-deformação, utilizando-se a equação de uma parábola ajustada à curva obtida<br />
experimentalmente, com os valores médios entre os dois transdutores indutivos de<br />
deslocamento. Cabe ressaltar que esta curva foi determinada descartando-se o trecho de<br />
acomodação do corpo de prova e os pontos em que se percebeu grande distanciamento<br />
entre a parábola e os resultados dos ensaios, compreendendo níveis de carregamento<br />
superiores em torno de 50% da carga de ruptura.<br />
Segundo recomendação do ACI 530-92 (1995), o módulo de elasticidade<br />
longitudinal do bloco foi calculado a partir da inclinação de uma reta secante obtida no<br />
gráfico tensão-deformação, através da ligação entre os pontos correspondentes a 5% e<br />
33% da tensão de ruptura do bloco durante o ensaio à compressão. Com isso, pretendeuse<br />
minimizar as possíveis perturbações referentes ao início do ensaio.<br />
Na tabela 3.3 são apresentados os valores das relações entre o módulo de<br />
elasticidade e a resistência à compressão dos blocos. Segundo DRYSDALE et al.<br />
(1994), este valor para blocos de concreto pode variar entre 500 e 1000. Dessa forma,<br />
verificou-se que ambos os blocos atenderam as especificações do referido autor. Os<br />
valores também se encontram na faixa entre 500 a 1500, proposta por SAHLIN (1971).<br />
Além disso, pode-se concluir que a rigidez dos blocos aumenta proporcionalmente ao<br />
aumento das resistências dos mesmos. Esta tabela também apresenta a mesma relação<br />
ao utilizar as expressões sugeridas pelo CEB-FIP Model Code (1990) e pelo ACI –<br />
Building Code 318 (1990) para estimar o valor do módulo de elasticidade do concreto.<br />
Os valores obtidos através destas expressões mostraram grande distanciamento dos<br />
valores experimentais, exceto para a estimativa utilizando a expressão do CEB-FIP<br />
Mode Code (1990) para o bloco do tipo 2.<br />
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10<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
Tabela 3.3 - Valores das relações entre módulo de elasticidade e resistência à compressão dos<br />
blocos (EP1)<br />
Tipo de Valores obtidos E bm segundo ACI E bm segundo CEB-FIP<br />
Bloco Nos ensaios E bm =0,0428.f 1/2 1,5<br />
bm . γ b E bm =2,5.10 4 (.f bm /10) 1/3<br />
f bm<br />
*<br />
(MPa)<br />
E bm<br />
(MPa)<br />
E bm /f bm E bm (Mpa) E bm /f bm E bm (MPa) E bm /f bm<br />
1 17,15 16902 986 9066 5<strong>29</strong> <strong>29</strong>922 1745<br />
2 41,00 41391 1010 31340 764 40013 976<br />
* Resistência do bloco na área líquida.<br />
Ensaios Finais<br />
Os valores das resistências médias à compressão são apresentados na tabela 3.4<br />
e os valores característicos estimados na tabela 3.5.<br />
Nestes ensaios, podem-se perceber aumentos na resistência à compressão média<br />
dos blocos de até 150% quando comparada aos valores nominais. Foram obtidos baixos<br />
coeficientes de variação para os valores de resistência alcançados, encontrando-se na<br />
faixa entre 5 e 11%.<br />
O módulo de elasticidade dos blocos foi obtido do mesmo modo dos ensaiospiloto<br />
1, ou seja, a partir da equação de uma parábola ajustada à curva obtida<br />
experimentalmente no gráfico tensão-deformação. O ajuste desta curva foi feito até<br />
níveis de tensão da ordem de 60% do valor da carga de ruptura. Este valor foi estipulado<br />
por permitir o cálculo do módulo de elasticidade secante entre níveis de tensões entre 5<br />
e 33% da carga de ruptura e apresentar ótimos coeficientes de ajustes para as parábolas<br />
obtidas.<br />
Tabela 3.4 - Valores médios de resistência à compressão dos blocos (EF)<br />
Tipo<br />
de<br />
Classe de<br />
Resistência<br />
Idade dos<br />
blocos<br />
Área bruta<br />
(546 cm 2 )<br />
Área líquida<br />
(289 cm 2 )<br />
Bloco (MPa) (dias) f bm<br />
(MPa)<br />
S d<br />
(MPa)<br />
CV (%) f bm<br />
(Mpa)<br />
S d<br />
(Mpa)<br />
CV<br />
(%)<br />
B1 4,5 77 10,80 1,14 10,51 20,38 2,14 10,51<br />
B2 12,0 - 22,92 1,32 5,75 41,00 2,49 5,75<br />
Tabela 3.5 - Valores característicos de resistência à compressão dos blocos (EF)<br />
Tipo Classe de Área bruta (546 cm 2 ) Área líquida (289 cm 2 )<br />
de<br />
Bloco resistência (MPa) f bk,est<br />
(MPa)<br />
S d<br />
(MPa)<br />
CV (%) f bk,est<br />
(MPa)<br />
S d<br />
(MPa)<br />
CV<br />
(%)<br />
B1 4,5 8,84 1,14 12,90 16,68 2,14 12,83<br />
B2 12,0 19,91 1,32 4,41 38,83 2,49 6,41<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />
11<br />
A figura 3.1 apresenta um gráfico com uma curva ajustada aos valores médios<br />
de deformações.<br />
Gráfico Tensão x Deformação PRB1A2E y 2 - Bloco de 4,5 MPa<br />
6,0<br />
5,0<br />
Tensão (MPa)<br />
4,0<br />
3,0<br />
2,0<br />
y = -3E+06x 2 + 7515,9x<br />
R 2 = 0,9938<br />
Média Transdutores<br />
Ajuste da curva (parábola)<br />
1,0<br />
0,0<br />
0,0000 0,0002 0,0004 0,0006 0,0008 0,0010 0,0012 0,0014 0,0016 0,0018<br />
Deformação<br />
Figura 3.1 - Exemplo da curva ajustada para os valores médios de tensão-deformação para o<br />
bloco de 4,5 MPa (EF).<br />
Cabe ressaltar que, ao contrário dos ensaios-piloto, o módulo de elasticidade<br />
longitudinal foi calculado a partir da resistência à compressão em relação à área bruta<br />
dos corpos de prova. Admitiu-se esta convenção para que fosse possível fazer<br />
comparações coerentes entre blocos, prismas e paredinhas ensaiadas nas duas direções,<br />
sem a necessidade de determinação da área efetiva de cada corpo de prova.<br />
Os valores dos módulos de elasticidade longitudinal dos blocos, obtidos a partir<br />
da inclinação da reta secante entre os pontos correspondentes a 5% e 33% da tensão de<br />
ruptura são apresentados na tabela 3.6 para os blocos de 4,5 MPa e na tabela 4.10 para<br />
os blocos de 12,0 MPa. Os valores obtidos que se distanciaram muito em relação aos<br />
demais foram descartados.<br />
A tabela 3.6 também apresenta as relações entre módulo de elasticidade e<br />
resistência à compressão dos blocos para os valores obtidos nos ensaios, ao utilizar a<br />
expressão sugerida pelo ACI – Building Code 318 (1990) e a proposta pelo CEB-FIP<br />
Mode Code (1990), para estimar o valor do módulo de elasticidade do concreto.<br />
Verificou-se que, para os blocos de 4,5 MPa, a relação E bm /f bm obtida<br />
experimentalmente atendeu aos limites especificados por DRYSDALE et al. (1994),<br />
entre 500 e 1000, e SAHLIN (1971), entre 500 e1500. Porém, para os blocos de 12 MPa<br />
este valor ficou abaixo do esperado.<br />
Para estes ensaios, pode-se observar também que os valores calculados a partir<br />
da equação sugerida pelo CEB-FIP Mode Code (1990) ficaram bem distantes dos<br />
obtidos experimentalmente.<br />
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12<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
Tabela 3.6 - Valores das relações entre módulo de elasticidade e resistência à compressão dos<br />
blocos (EF)<br />
Tipo de Valores obtidos E bm segundo ACI E bm segundo CEB-FIP<br />
Bloco Nos ensaios E bm =0,0428.f 1/2 1,5<br />
bm . γ b E bm =2,5.10 4 (f bm /10) 1/3<br />
*<br />
f bm E bm E bm /f bm E bm (MPa) E bm /f bm E bm (Mpa) E bm /f bm<br />
(Mpa) (MPa)<br />
B1 10,80 6228 577 5557 515 25650 2375<br />
B2 22,92 7554 330 9208 402 3<strong>29</strong>62 1438<br />
* Resistência do bloco na área bruta.<br />
3.2. Argamassas<br />
Ensaio-Piloto 1<br />
A tabela 3.7 apresenta as resistências à compressão dos corpos de prova<br />
cilíndricos de dimensões de 5 cm x 10 cm, referentes às argamassas industrializadas<br />
utilizadas nas séries do primeiro ensaio-piloto.<br />
A determinação do módulo de elasticidade obedeceu aos mesmos procedimentos<br />
usados para os blocos de concreto. Um exemplo de gráfico com as curvas de tensãodeformação,<br />
obtidas através do uso de extensômetros e transdutores, é mostrado na<br />
figura 3.2. Os valores obtidos pelas medições feitas através dos transdutores indutivos<br />
de deslocamentos e dos extensômetros estão apresentados na tabela 3.8.<br />
Através dos resultados fornecidos pela tabela 3.8, percebeu-se que os<br />
coeficientes de variação, na sua maioria, foram menores para as medições feitas<br />
utilizando extensômetros. A exceção para a argamassa do tipo P deveu-se ao fato de ter<br />
sido desconsiderado o resultado que apresentou um desvio grande em relação à média.<br />
Caso contrário essa variação teria sido de 28%, ou seja, bem superior à obtida com o<br />
uso do extensômetro. Assim, pode-se admitir a grande influência do capeamento na<br />
variação dos resultados ao se utilizar transdutores apoiados na base da prensa,<br />
concluindo que o uso de extensômetros para medições de deformações ainda é<br />
considerado o mais adequado.<br />
Tabela 3.7 - Resistência à compressão dos corpos de prova de argamassa cilíndricos 5 x 10 cm<br />
(EP1)<br />
Tipo de Resistência indicada F rup,am do Resistência à compressão (35<br />
dias)<br />
argamassa Pelo fabricante (28 dias) ensaio (kN) f am (MPa) S d (MPa) CV (%)<br />
P 6,0 10,3 5,2 0,28 5,4<br />
Q 4,2 11,1 5,7 0,48 8,4<br />
R 2,8 7,2 3,7 0,14 3,9<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />
13<br />
Tabela 3.8 - Módulo de elasticidade das argamassas industrializadas (EP1)<br />
Tipo de<br />
argamassa<br />
Módulo de elasticidade médio<br />
Extensômetro<br />
Módulo de elasticidade médio<br />
Transdutor<br />
E am (MPa) S d (MPa) CV (%) E am (MPa) S d (MPa) CV (%)<br />
P 7396 1244,35 16,82 5664 883,88 15,61<br />
Q 8879 671,75 7,57 9720 1000,98 10,30<br />
R 5903 444,43 7,53 8144 144,96 1,78<br />
A tabela 3.9 apresenta a relação entre o módulo de elasticidade e a resistência à<br />
compressão da argamassa, a partir dos valores obtidos através do uso de extensômetros<br />
e de transdutores. Esta mesma relação tem o valor proposto por HILDSDORF 1 apud<br />
ALY (1992) de 1000.<br />
Tabela 3.9 - Relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão das argamassas<br />
(EP1)<br />
Tipo de<br />
Módulo de elasticidade médio<br />
Extensômetro<br />
Módulo de elasticidade médio<br />
Transdutor<br />
argamassa E am / f am S d CV (%) E am / f am S d CV (%)<br />
P 1142 130,67 9,74 890 169,88 19,09<br />
Q 1530 95,00 6,20 1685 261,53 15,52<br />
R 1633 188,43 11,55 1699 873,98 51,44<br />
Observa-se que os valores obtidos para as relações E am /f am foram bem próximos<br />
em ambos os casos, porém o coeficiente de variação teve um valor muito superior<br />
quando utilizado o transdutor.<br />
Ensaio-Piloto 2<br />
As tabelas 3.10 e 3.11 apresentam, respectivamente, as características de<br />
resistência à compressão e de deformabilidade das argamassas estudadas.<br />
A necessidade da escolha de duas argamassas com módulos de elasticidade<br />
distintos foi atendida. Dessa forma, julgou-se plausível utilizar a dosagem desenvolvida<br />
pela autora citada.<br />
1<br />
HILSDORF, H.K. (1969).Investigation into the Failure Mechanism of Brick Masonry Loaded in Axial<br />
Compression. Houston, Gulf. Londres.<br />
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14<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
Tabela 3.10 - Resistência à compressão das argamassas (EP2)<br />
Tipo de Resistência à<br />
compressão<br />
F rup,am do Resistência à compressão (16<br />
dias)<br />
Argamassa FONTE (28 dias) ensaio (kN) f am (MPa) S d (MPa) CV (%)<br />
A1 6,9 116 6,44 0,13 1,99<br />
A2 4,1 74 4,20 0,07 1,64<br />
Tabela 3.11- Módulo de elasticidade das argamassas (EP2)<br />
Tipo de argamassa E am (MPa) S d (MPa) CV (%)<br />
A1 9796 102,55 1,05<br />
A2 7598 359,56 4,73<br />
Tabela 3.12 - Relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão das argamassas<br />
(EP2)<br />
Tipo de argamassa E am /f am (MPa) S d (MPa) CV (%)<br />
A1 1517 17,62 1,16<br />
A2 1809 74,03 4,09<br />
Média 1663 206,89 12,44<br />
Nota: Os módulos foram obtidos a partir do ajuste da curva tensão-deformação até 80% do<br />
valor da carga de ruptura.<br />
As relações entre o módulo de elasticidade e a resistência à compressão da<br />
argamassa, apresentadas na tabela 3.12, mostram que os coeficientes de variação foram<br />
bem menores que os obtidos nos ensaios-piloto 1. Porém, a média dos valores desta<br />
relação comprovou um certo distanciamento já indicado nos ensaios-piloto 1, no que diz<br />
respeito ao valor igual a 1000, proposto por HILDSDORF (1992).<br />
Ensaios Finais<br />
Já a tabela 3.13 indica os valores médios de cada tipo de argamassa para todos<br />
os corpos de prova ensaiados.<br />
Ao comparar os resultados de resistência à compressão dos ensaios finais e os<br />
valores estimados para os 28 dias dos ensaios-piloto 2, utilizando a expressão 4.1,<br />
observou-se aumentos de 44,4% para a argamassa do tipo 1 e 9,3% para a argamassa do<br />
tipo 2.<br />
Tabela 3.13 - Resistência à compressão média dos corpos de prova de argamassa (EF)<br />
Tipo de<br />
Resistência média à compressão<br />
Argamassa f am (MPa) S d (Mpa) CV (%)<br />
A1 10,24 0,82 8,00<br />
A2 5,05 0,88 17,31<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />
15<br />
3.3. Prismas<br />
Ensaios-Piloto 1<br />
A tabela 3.14 apresenta os valores obtidos nos ensaios das séries de prismas e os<br />
valores de carga de ruptura previstos teoricamente, baseados num valor médio de<br />
eficiência igual a 0,80, obtido pelos ensaios realizados por ALY & SABBATINI (1994),<br />
a diferença entre estes valores, em relação aos previstos teoricamente, além da sua<br />
resistência à compressão, obtida em função da área líquida dos blocos.<br />
Tabela 3.14 - Resistência à compressão dos prismas (EP1)<br />
Série F rup,prevista F rup,ensaio Diferença Resistência média à compressão<br />
(kN) (kN) (%) f pm * (MPa) S d (MPa) CV (%)<br />
Q11 260 255 -1,9 8,48 1,02 12,04<br />
Q12 260 227 -12,7 7,56 1,23 16,22<br />
Q21 579 503 -13,1 16,75 1,53 9,13<br />
Q22 579 344 -40,6 10,82 0,07 0,63<br />
* Resistência do prisma na área líquida.<br />
A tabela acima mostra uma proximidade nos valores previstos teoricamente e os<br />
obtidos nos ensaios para os prismas de blocos de resistência à compressão de 4,5 MPa.<br />
Porém, cabe ressaltar que estes valores teóricos referem-se aos blocos com suas<br />
resistências à compressão correspondentes aos valores característicos especificados<br />
pelo fabricante. Porém, notou-se que os mesmos representavam a resistência à<br />
compressão característica dos blocos aos 7 dias e não aos 28, como previsto. Com a<br />
realização do ensaio de resistência à compressão dos blocos, notou-se um ganho de<br />
resistência de 86 e 103% para os blocos de 4,5 MPa e 10 MPa, respectivamente. Dessa<br />
forma, deveriam ser obtidos valores bem superiores aos alcançados, o que resultou<br />
valores de eficiência extremamente baixos.<br />
Como citado no capítulo 3 do presente trabalho, os ensaios de prismas à<br />
compressão foram feitos utilizando-se as argamassas dos tipos P e Q. Os prismas com o<br />
tipo P apresentaram um esmagamento precoce da argamassa utilizada, ocorrendo o<br />
esboroamento da mesma com níveis de carregamento na faixa de 15 a 40% da carga de<br />
ruptura alcançada. Com isso, alguns corpos de prova chegaram ao final do ensaio com<br />
perda total da interface bloco-argamassa. Além disso, houve o descolamento de alguns<br />
blocos durante o transporte dos corpos de prova. Ambas as ocorrências indicaram que<br />
estes prismas tiveram problemas em relação à aderência bloco-argamassa quando usada<br />
a referida argamassa.<br />
A ruptura precoce levou os prismas a alcançarem módulos de elasticidade<br />
extremamente elevados para as argamassa do tipo P. Assim, optou-se por não<br />
considerar os módulos de elasticidade dos ensaios com esta argamassa, já que os<br />
mesmos resultaram em resultados insatisfatórios.<br />
Verificou-se, também, um comprometimento na aderência da interface blocoargamassa<br />
nos ensaios pilotos realizados com a argamassa industrializada do tipo Q, já<br />
que em vários dos prismas houve o descolamento dos blocos durante o transporte dos<br />
corpos de prova e algumas ocorrências de esboroamento em cargas muito baixas<br />
durante o ensaio. Porém, para este tipo de argamassa, o gráfico tensão–deformação<br />
apresentou um comportamento típico, sem a mudança brusca de inclinação da curva.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
16<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
No presente trabalho, verificou-se que o uso da argamassa industrializada não<br />
resultou numa boa combinação argamassa/tipo de bloco. Além disso, a argamassa Q é<br />
recomendada pelo fabricante para assentar blocos sílico-calcáreos, o que pode explicar<br />
em parte a perda de aderência.<br />
Outro motivo que poderia explicar o comprometimento dos valores obtidos nos<br />
ensaios é o uso de aditivos incorporadores de ar na argamassa. Segundo SOLÓRZANO<br />
(1994), apesar de diminuir a quantidade de água que deve ser colocada na argamassa,<br />
melhorar a sua trabalhabilidade e beneficiar na retenção de água, diminui a resistência<br />
de aderência.<br />
A BS 4721 limita o teor de ar incorporado para argamassa pronta<br />
industrializada em um teor mínimo de 7% e máximo de 18%. As argamassas utilizadas<br />
do tipo P e Q apresentaram teores de <strong>29</strong> e 17%, respectivamente. De fato, a argamassa<br />
do tipo P, que não atende aos limites estipulados por essa norma, foi a que mais<br />
apresentou comprometimento na resistência de aderência, resultando em valores de<br />
resistência à compressão e módulo de elasticidade poucos satisfatórios.<br />
Tabela 3.15 - Módulo de elasticidade dos prismas da série Q (EP1)<br />
Série E pm (Mpa) S d (MPa) CV (%)<br />
Q11 4756 64 1,35<br />
Q12 7302 410 5,61<br />
Q21 13738 543 3,95<br />
Q22 12412 190 1,53<br />
* Resistência do prisma na área líquida.<br />
A média dos prismas apresentou baixos coeficientes de variação. Notou-se que,<br />
conforme é aumentada a resistência à compressão do bloco, a influência da forma de<br />
assentamento no módulo de elasticidade do prisma diminui. Assim, a diferença entre o<br />
módulo de elasticidade do prisma quando comparado o assentamento total e o lateral<br />
para o bloco de 4,5 MPa foi de 54%, sendo que para o bloco de 10 MPa esta diferença<br />
foi de 11%. Além disso, observou-se um aumento no módulo de elasticidade quando<br />
utilizado o assentamento lateral para o bloco de 4,5 MPa e uma diminuição deste valor<br />
para blocos de 10 MPa (ver tabela 3.15).<br />
A influência da resistência à compressão da argamassa na resistência à compressão<br />
do prisma não pode ser analisada, já que os ensaios referentes ao segundo tipo de<br />
argamassa foram desconsiderados.<br />
Tabela 3.16 - Relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão dos prismas<br />
(EP1)<br />
Série de Prisma E pm /f pm S d CV (%)<br />
Q11 525* 10,36 1,97<br />
Q12 864 86,00 9,96<br />
Q21 964 243,25 25,23<br />
Q22 1145 26,32 2,30<br />
Média 991 116,45 11,75<br />
* Resultado descartado por apresentar um desvio grande em relação aos outros valores.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />
17<br />
A tabela 3.16 apresenta a relação entre o módulo de elasticidade e a resistência<br />
média à compressão dos prismas. Por estes valores, descartando o valor da série Q11,<br />
que se afastou bastante da média, a relação fica em torno de 1000, próxima à obtida para<br />
os blocos.<br />
Influência da resistência à compressão do bloco na resistência à compressão do<br />
prisma<br />
A tabela 3.17 apresenta os valores de eficiência obtidos nos ensaios de prismas.<br />
As relações entre f pm e f bm mostradas nesta tabela diferem bastante dos valores<br />
esperados nos ensaios. Para a previsão teórica da resistência à compressão dos prismas,<br />
utilizou-se a relação de 0,80, assumida com no valor médio obtido nos ensaios em<br />
prismas de blocos de concreto realizados por ALY & SABBATINI (1994).<br />
OLIVEIRA (1997) alcançou em seus ensaios com prismas utilizando dois blocos<br />
de 4,5 MPa uma eficiência de 0,87.<br />
Atribuíram-se os baixos valores de eficiência alcançados à baixa aderência entre<br />
bloco e a argamassa.<br />
Tabela 3.17 - Relação entre resistência à compressão do prisma e dos blocos (EP1)<br />
Série de f pm (A l ) f pm (A b ) f bm (A l ) f bm (A b ) Eficiência<br />
Prisma (Mpa) (MPa) (MPa) (MPa) f pm / f bm<br />
P11 5,42 2,98 17,15 9,43 0,32<br />
P12 4,61 2,54 17,15 9,43 0,27<br />
P21 13,05 7,18 41,00 22,55 0,32<br />
P22 12,83 7,06 41,00 22,55 0,31<br />
Q11 8,48 4,67 17,15 9,43 0,49<br />
Q12 7,56 4,16 17,15 9,43 0,44<br />
Q21 15,09 8,30 41,00 22,55 0,37<br />
Q22 11,47 6,31 41,00 22,55 0,28<br />
Ensaios Finais<br />
Na tabela 3.18 são apresentados os valores de cargas de ruptura previstos<br />
teoricamente e os obtidos nas séries ensaiadas, a diferença entre estes valores, em<br />
relação aos previstos teoricamente, além de suas correspondentes resistências à<br />
compressão, calculada em relação à área bruta dos blocos.<br />
Para a previsão teórica da resistência à compressão dos prismas, utilizou-se a<br />
relação de 0,80, assumida com base no valor médio obtido nos ensaios em prismas de<br />
blocos de concreto realizados por ALY & SABBATINI (1994).<br />
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18<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
Tabela 3.18 - Resistência à compressão dos prismas (EF)<br />
Série F rup,prevista F rup,ensaio Diferença Resistência média à<br />
compressão<br />
Correspondente (kN) (kN) (%) f pm (MPa) S d (Mpa) CV (%)<br />
PRB1A1E y 422 437 3,6 7,96 0,67 8,39<br />
PRB1A1E x 422 377 -10,7 6,89 0,89 12,01<br />
PRB2A1E Y 1001 459 -54,2 7,75 0,78 10,03<br />
PRB2A1E X 1001 574 -42,7 10,48 1,37 12,74<br />
PRB1A2E Y 422 433 2,6 7,93 0,85 10,77<br />
PRB1A2E X 422 388 -8,1 7,07 0,84 11,91<br />
PRB2A2E y 1001 507 -49,4 9,22 1,23 13,38<br />
PRB2A2E x 1001 491 -51,0 9,44 1,46 15,44<br />
* Resistência do prisma na área bruta.<br />
Os valores apresentados na tabela acima mostram as resistências médias à<br />
compressão dos 6 prismas de cada série de paredes (2 prismas para cada parede).<br />
As séries moldadas com blocos do tipo 1 apresentaram variações de resistência à<br />
compressão desprezíveis ao variar os tipos de argamassa utilizados. Porém, pode-se<br />
perceber que os valores de resistência à compressão obtidos durante os ensaios finais<br />
distanciaram-se muito dos valores previstos teoricamente para os prismas que utilizaram<br />
o bloco do tipo 2. Esta ocorrência pode ter como motivo o uso de blocos de resistência à<br />
compressão muito elevada se comparada à resistência à compressão da argamassa.<br />
Desta forma, o esmagamento da argamassa ocorreu muito precocemente, fato este<br />
observado durante os ensaios. Com isso, comprova-se a observação de DRYSDALE et<br />
al. (1994), a respeito do aumento da influência da resistência à compressão da<br />
argamassa na resistência à compressão da alvenaria conforme se aumenta a resistência<br />
da unidade.<br />
Tabela 3.19 - Módulo de elasticidade dos prismas (EF)<br />
Série F pm Módulo de Elasticidade<br />
Correspondente (MPa) E pm (MPa) S d CV (%)<br />
(MPa)<br />
PRB1A2E y 7,74 6183 501 8,10<br />
PRB2A2E y 9,98 4870 487 10,00<br />
* Resistência do prisma na área bruta.<br />
Para estes ensaios, os valores médios de módulos de elasticidade dos prismas<br />
também apresentaram baixos coeficientes de variação. Vale lembrar que foram<br />
descartados os resultados que se distanciaram muito dos demais.<br />
A determinação do módulo de elasticidade foi realizada em apenas 3 prismas<br />
correspondentes a cada tipo de bloco estudado. Desta forma, procurou-se analisar os<br />
módulos de elasticidade das duas séries em que foram utilizadas duas resistências<br />
distintas de blocos, totalizando 6 prismas ensaiados.<br />
Observou-se que os prismas com resistência de blocos maiores tiveram seu<br />
módulo de elasticidade menor ao compará-los com os de menor resistência. Isto<br />
contradiz o que era esperado, partindo da hipótese de que resistências maiores tendem a<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />
19<br />
produzir um conjunto mais rígido, ou seja, com módulo de elasticidade mais elevado.<br />
Com isso, os resultados indicaram uma maior deformabilidade ao utilizar o bloco de<br />
maior resistência. Isto pode ter ocorrido pelo fato de ter sido realizado o ensaio usando a<br />
argamassa do tipo 2, que apresentou resistências de prismas bem inferiores à esperada<br />
quando combinada com o bloco do tipo 2, resultando numa ruptura por esmagamento da<br />
argamassa. Dessa forma, o módulo de elasticidade menor para esta série indica a<br />
deformabilidade da parede levando à ruptura por esmagamento da argamassa, enquanto<br />
a série PRB1A2Ey indica a deformabilidade da parede levando à ruptura por tração do<br />
bloco.<br />
Tabela 3.20 - Relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão dos prismas (EF)<br />
Série de prisma E pm /f pm S d CV (%)<br />
B1A2E y 789 18,88 2,27<br />
B2A2E y 489 57,89 11,84<br />
A relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão média dos<br />
prismas, mostrada através da tabela 3.22, mostra que, provavelmente, a baixa resistência<br />
à compressão da argamassa em relação ao bloco tenha afetado o comportamento do<br />
conjunto.<br />
Influência da resistência à compressão do bloco na resistência à compressão do<br />
prisma<br />
Os valores de eficiência obtidos nos ensaios de prismas são apresentados na<br />
tabela 3.21.<br />
Tabela 3.21- Relação entre resistência à compressão do prisma e dos blocos (EF)<br />
Série f pm (A b ) f bm (A b ) Eficiência<br />
Correspondente (Mpa) (MPa) f pm /f bm<br />
PRB1A1E y 7,96 10,80 0,74<br />
PRB1A1E x 6,89 10,80 0,64<br />
PRB2A1E Y 7,75 22,92 0,34<br />
PRB2A1E X 10,48 22,92 0,46<br />
PRB1A2E Y 7,93 10,80 0,73<br />
PRB1A2E X 7,07 10,80 0,66<br />
PRB2A2E y 9,22 22,92 0,40<br />
PRB2A2E x 9,44 22,92 0,41<br />
As eficiências obtidas através dos ensaios de prismas aproximaram do valor 0,70<br />
quando usados prismas com blocos do tipo B1 e 0,40 quando usados blocos do tipo B2.<br />
Com isso, pode-se comprovar que para o primeiro caso os valores estão 14% abaixo da<br />
média obtida por ALY & SABBATINI (1994). No segundo caso o valor cai muito,<br />
indicando inadequação da argamassa para o bloco usado.<br />
O uso da argamassa de menor resistência à compressão teve pouquíssima<br />
interferência nos valores de resistências à compressão dos prismas, no caso do bloco<br />
B1, concordando com a consideração feita por ROMAGNA (2000). Esse autor afirma<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
20<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
não haver influência da resistência à compressão da argamassa na resistência à<br />
compressão do prisma para blocos de baixa resistência.<br />
3.4. Paredinhas<br />
3.4.1. Resistência à compressão<br />
Os valores médios de força de compressão de ruptura prevista teoricamente e os<br />
alcançados nos ensaios, a diferença entre estes valores, em relação aos estimados, e a<br />
resistência média à compressão obtida em função da área bruta das paredinhas podem<br />
ser encontrados na tabela 3.22.<br />
Tabela 3.22 - Resistência à compressão das paredinhas (EF)<br />
Série F rup,prevista F rup,ensaio Diferença Resistência média à compressão<br />
Correspondente (kN) (kN) (%) f pam * (MPa) S d CV (%)<br />
(MPa)<br />
PAB1A1E y 669 550 -17,8 4,97 0,35 7,12<br />
PAB1A1E x 335 238 -<strong>29</strong>,0 2,16 0,14 6,48<br />
PAB2A1E Y 1420 978 -31,1 8,84 0,96 10,89<br />
PAB2A1E X 710 576 -18,9 5,20 0,60 11,53<br />
PAB1A2E Y 669 456 -31,8 4,12 0,39 9,42<br />
PAB1A2E X 335 222 -33,7 2,01 0,06 2,99<br />
PAB2A2E y 1420 625** -56,0 5,65 - -<br />
PAB2A2E x 710 427 -39,9 3,38 0,35 10,45<br />
* Resistência do prisma na área bruta;<br />
** Nesta série não foi possível obter valores médios devido à ruptura de duas paredinhas<br />
durante o transporte.<br />
A previsão teórica da resistência à compressão das paredinhas ensaiadas com<br />
carregamento na direção Y foi de 0,56.f bm (0,7.f pm ), com base nos resultados médios de<br />
eficiência obtidos nos ensaios de ALY & SABBATINI (1994). Para as paredinhas com<br />
carregamento na direção X, admitiu-se que esse valor cairia pela metade, ou seja,<br />
0,28.f bm .<br />
Pode-se observar a existência de grandes diferenças entre as resistências à<br />
compressão previstas e as obtidas experimentalmente.<br />
A tabela 3.23 foi elaborada com o objetivo de verificar o fator de eficiência em<br />
paredinhas quando carregadas na direção Y e X, alcançando valores próximos de 0,40 e<br />
0,20, respectivamente, contra 0,56 e 0,28, utilizados para estimar as resistências à<br />
compressão.<br />
Ao comparar as paredinhas moldadas com blocos do tipo 1 (4,5 MPa) ensaiadas<br />
na direção Y e X, verificou-se diminuições de resistência de 17% e 7%,<br />
respectivamente, ao passar da argamassa do tipo 1 para a do tipo 2. Para as paredinhas<br />
de 12 MPa, esta diferença foi de 35% para as paredinhas ensaiadas na direção X.<br />
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Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />
21<br />
Tabela 3.23 - Relação entre resistência à compressão da paredinha e dos blocos (EF)<br />
Série f pam (A b ) f bm (A b ) Eficiência<br />
Correspondente (MPa) (MPa) f pam /f bm<br />
PAB1A1E y 4,97 10,80 0,46<br />
PAB1A1E x 2,16 10,80 0,20<br />
PAB2A1E Y 8,84 22,92 0,39<br />
PAB2A1E X 5,20 22,92 0,23<br />
PAB1A2E Y 4,12 10,80 0,38<br />
PAB1A2E X 2,01 10,80 0,19<br />
PAB2A2E y 5,65 22,92 0,25<br />
PAB2A2E x 3,38 22,92 0,15<br />
Gráfico Eficiência x Resistência à compressão da paredinha<br />
0,6<br />
0,5<br />
Eficiência da paredinha<br />
0,4<br />
0,3<br />
0,2<br />
Bloco B1<br />
Bloco B2<br />
0,1<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
f pa (MPa)<br />
Figura 3.2 - Gráfico de eficiência x resistência à compressão da paredinha (EF).<br />
A figura 3.2 apresenta um gráfico com a reta obtida a partir dos resultados de<br />
resistência à compressão das paredinhas ensaiada na direção Y e suas correspondentes<br />
ensaiadas na direção X, mostrando uma certa tendência destas últimas resistirem a cerca<br />
de 50% dos esforços suportados pelas primeiras.<br />
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22<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
Resistência à compressão da paredinha em Y x Resistência à compressão da paredinha em X<br />
10<br />
9<br />
8<br />
7<br />
f pam em Y (MPa)<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
f pam em X (MPa)<br />
Figura 3.3 - Gráfico de resistência à compressão da paredinha ensaiada em Y x resistência à<br />
compressão da paredinha ensaiada em X (EF).<br />
3.4.2. Módulo de elasticidade<br />
O módulo de elasticidade das paredinhas foi obtido da mesma maneira descrita<br />
para os demais ensaios, ou seja, através da inclinação da reta formada entre os pontos de<br />
5 a 33% da tensão de ruptura, a partir da equação de cada curva ajustada, obtida com os<br />
valores experimentais médios de tensão x deformação.<br />
Tabela 3.24 - Módulo de elasticidade das paredinhas (EF)<br />
Séries de paredes f pam Módulo de Elasticidade *<br />
Correspondentes (Mpa) E pam (Mpa) S d (Mpa) CV (%)<br />
PAB1A1E y 4,97 6383 160,62 2,52<br />
PAB1A1E x 2,16 3060 40,72 1,33<br />
PAB2A1E Y 8,84 9128 1105,50 12,11<br />
PAB2A1E X 5,20 8062 566,92 7,03<br />
PAB1A2E Y 4,12 6440 147,96 2,30<br />
PAB1A2E X 2,01 3125 173,94 5,57<br />
PAB2A2E y 3,86 8693** - -<br />
PAB2A2E x 3,38 6966 2552,04 36,64<br />
* Resistência do prisma na área bruta<br />
** Nesta série não foi possível obter valores médios devido a ruptura de duas paredinhas<br />
durante o transporte.<br />
Analisando os resultados em paredinhas moldadas com blocos do tipo 1 é possível<br />
perceber que os módulos de elasticidade praticamente não sofreram aumentos<br />
significativos com a mudança do tipo de argamassa utilizada. Já nas paredinhas onde<br />
foram usados blocos do tipo B2, esta variação foi de 13%. Isto pode comprovar o que já<br />
concluído por FRANCO (1987) em seu trabalho experimental, que a diferença entre os<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />
23<br />
módulos de elasticidade se torna cada vez mais sensível com a alteração dos traços da<br />
argamassa, conforme maior o módulo de elasticidade da alvenaria.<br />
Entretanto, ao comparar os módulos de elasticidade obtidos nas séries de<br />
paredinhas com argamassa do tipo 1, observaram-se aumentos de 43 e 164% nas<br />
direções de ensaio Y e X, respectivamente, ao passar de blocos do tipo 1 para o tipo 2.<br />
Ao utilizar a argamassa do tipo 2, esse aumento foi de 123% para a parede ensaiada na<br />
direção X.<br />
As séries em que foram utilizados blocos do tipo 1 com as argamassas tanto do tipo<br />
1 quanto do tipo 2, sofreram redução média de 52% ao passar a direção de ensaio de X<br />
para Y. Já para a série em que se utilizou o bloco do tipo 2 e argamassa do tipo 1 esta<br />
redução foi de 12%.<br />
Tabela 3.25 - Comparação do módulo de elasticidade entre a expressão proposta por SHALIN<br />
(1971) e os obtidas no ensaio (EF)<br />
Séries de paredes E am<br />
*<br />
E bm E pam<br />
*<br />
E pam<br />
Correspondentes (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)<br />
PAB1A1E y 9796 6228 6380 6383<br />
PAB2A1E Y 9796 7554 7778 9128<br />
PAB1A2E Y 7598 6228 6425 6440<br />
PAB2A2E y 7598 7554 6425 8693**<br />
* Resistência do bloco na área bruta<br />
** Nesta série não foi possível obter valores médios devido a ruptura de duas paredinhas<br />
durante o transporte.<br />
A partir dos valores de módulo de elasticidade médios da argamassa e do bloco<br />
calculadas a partir dos ensaios, montou-se a tabela 3.28 para que fosse possível<br />
comparar os resultados teóricos com o uso da equação proposta por SHALIN (1971) e<br />
os módulos obtidos nos ensaios de paredinhas. Com isso, verificou-se grande<br />
proximidade dos resultados estimados com os experimentais para os blocos do tipo 1,<br />
havendo uma variação de 17% para a série de blocos do tipo 2.<br />
Módulo de elasticidade da paredinha em Y x Módulo de elasticidade da paredinha em X<br />
10000<br />
9000<br />
8000<br />
7000<br />
E pam em Y (MPa)<br />
6000<br />
5000<br />
4000<br />
3000<br />
2000<br />
1000<br />
0<br />
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000<br />
E pam em X (MPa)<br />
Figura 3.4 - Gráfico de módulo de elasticidade da paredinha ensaiada em Y x módulo de<br />
elasticidade da paredinha ensaiada em X (EF).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
24<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
O gráfico 3.4 mostra a relação entre o módulo de elasticidade da paredinha<br />
ensaiada na direção Y em função da sua correspondente ensaiada na direção X. Para as<br />
paredinhas com blocos do tipo 1 a relação entre E pam em X tende a 50% do valor de<br />
E pam em Y.<br />
3.4.3. Relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão da<br />
paredinha<br />
A figura 3.5 mostra um gráfico que relaciona o módulo de elasticidade da<br />
paredinha com a sua resistência à compressão, onde foram consideradas as paredinhas<br />
ensaiadas nas direções X e Y em conjunto. Esta opção foi adotada após verificar que a<br />
separação acarretaria pouca diferença em relação à média.<br />
Gráfico de Módulo de Elasticidade x Resistência à compressão da paredinha<br />
12000<br />
10000<br />
8000<br />
E pa (MPa)<br />
6000<br />
4000<br />
Bloco B1<br />
Bloco B2<br />
Li (Bl B1)<br />
2000<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
f pa (MPa)<br />
Figura 3.5 - Gráfico Módulo de elasticidade x Resistência à compressão da paredinha (EF).<br />
Através deste gráfico é possível perceber que as paredinhas com blocos dos tipos<br />
1 e 2 apresentaram a maioria dos seus valores de resistência à compressão próximos (na<br />
faixa entre 3,0 e 6,0 MPa), porém com um certo aumento na sua rigidez.<br />
Na média, a razão entre o módulo de elasticidade da paredinha e sua resistência<br />
à compressão alcançou o valor de 1500.<br />
A figura 3.26 apresenta um gráfico que relaciona a razão módulo de<br />
elasticidade/resistência à compressão da paredinha com a sua resistência à compressão.<br />
Através deste gráfico, pode-se perceber que as paredinhas com blocos do tipo 2<br />
apresentaram relações entre E pa /f pa maiores quando comparados às que utilizaram<br />
blocos do tipo 1.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />
25<br />
Tabela 3.26 - Relação entre módulo de elasticidade e resistência à compressão das paredinhas<br />
(EF)<br />
Série de Prisma E pam /f pam S d CV (%)<br />
PAB1A1E y 1236 3,33 0,27<br />
PAB1A1E x 1469 84,84 5,77<br />
PAB2A1E Y 1272 80,92 6,36<br />
PAB2A1E X 1569 27,54 1,76<br />
PAB1A2E Y 1525 132,39 8,68<br />
PAB1A2E X 1573 145,47 9,25<br />
PAB2A2E y 1539* - -<br />
PAB2A2E x 1735 119,11 6,87<br />
Média 1501 352,85 23,51<br />
* Resultado descartado<br />
Gráfico de E pa /f pa x Resistência à compressão da paredinha<br />
2000<br />
1800<br />
1600<br />
1400<br />
1200<br />
E pa /f pa<br />
1000<br />
800<br />
600<br />
400<br />
200<br />
Bloco B1<br />
Bloco B2<br />
Li (Bl B1)<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
f pa (MPa)<br />
Figura 3.6 - Gráfico E pa /f pa x Resistência à compressão da paredinha (EF)<br />
3.4.4. Relação entre resistência à compressão do prisma e da paredinha<br />
A figura 3.27 mostra os resultados das relações entre as resistências à compressão<br />
dos prismas e a resistência à compressão das paredinhas.<br />
A relação média das resistências entre prismas e paredinhas nas direções X e Y foi<br />
de 0,58 e 0,36, respectivamente.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
26<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
Tabela 3.27 - Relação entre a resistências à compressão dos prismas e das paredinhas (EF)<br />
Série f prm (A b ) f pam (A b ) f pam /f prm<br />
Correspondente (MPa) (MPa)<br />
PAB1A1E y 7,96 4,97 0,62<br />
PAB1A1E x 6,89 2,16 0,31<br />
PAB2A1E Y 7,75 8,84 1,14*<br />
PAB2A1E X 10,48 5,20 0,50<br />
PAB1A2E Y 7,93 4,12 0,51<br />
PAB1A2E X 7,07 2,01 0,28<br />
PAB2A2E y 9,22 5,65 0,61<br />
PAB2A2E x 9,44 3,38 0,36<br />
* Resultado descartado<br />
Coeficiente de Poisson<br />
Notou-se uma grande dificuldade em calcular o coeficiente de Poisson a partir<br />
dos resultados obtidos experimentalmente. Esta dificuldade deveu-se ao fato da<br />
ocorrência de grandes oscilações nos resultados experimentais, principalmente sob<br />
baixas tensões, que pode ter tido como causa a grande variabilidade das medidas de<br />
ensaio aliada à variabilidade intrínseca do material. Além disso, a grandeza das medidas<br />
(pequenos valores de leitura) também dificultou sua obtenção, sendo desta forma<br />
bastante influenciada por imprecisões de medida ligadas ao ensaio.<br />
3.4.5. Modo de ruptura das paredinhas<br />
De um modo geral, as paredinhas ensaiadas na direção Y apresentaram<br />
propagação de fissuras verticais, predominantemente através das juntas verticais na<br />
região central das paredes, sendo algumas desviadas pelas faces dos blocos. Observouse<br />
também a presença de fissuras verticais ao longo dos septos laterais das paredinhas.<br />
A ruptura ocorreu, na maioria das vezes, por tração transversal dos blocos.<br />
Porém, para as paredinhas que utilizaram blocos do tipo 2, as fissurações descritas<br />
acima ocorreram de maneira bem menos pronunciada, prevalecendo a ruptura por<br />
esmagamento da argamassa.<br />
As paredinhas ensaiadas na direção X apresentaram fissuração dos septos<br />
transversais ao longo do comprimento da parede dos blocos, tanto no topo quanto na<br />
base das paredinhas, conforme mostra a figura 3.7. O início da fissuração visível deu-se<br />
normalmente em carregamentos com valores de cerca de 60% da carga de ruptura.<br />
Nesse momento ouviu-se um estalo que se repetiu mais tarde por cerca de duas ou três<br />
vezes, o que caracterizava a ruptura dos septos transversais dos blocos, provavelmente<br />
pela presença de concentração de tensões nessa região. Também observou-se a presença<br />
de fissuras nos septos longitudinais dos blocos próximos ao topo da paredinha (ver<br />
figura 3.7a). Na maioria das vezes a ruptura ocorreu posteriormente ao descolamento<br />
das fiadas dos blocos. (fig 3.7b).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />
27<br />
Figura 3.7 - Detalhe da fissuração ao longo dos septos laterais para a paredinha com<br />
carregamento na direção X (EF).<br />
Figura 3.8 - Detalhe da fissuração ao longo dos septos laterais para a paredinha com<br />
carregamento na direção X (EF).<br />
4 CONCLUSÕES<br />
Com base na análise experimental e na revisão bibliográfica, pode-se chegar às<br />
seguintes conclusões:<br />
A utilização das placas de fibra de madeira no capeamento dos corpos de prova<br />
mostrou-se bastante eficiente, pois permitiu o esmagamento da placa do capeamento,<br />
provocando o aparecimento de tensões laterais e o preenchimento dos vazios,<br />
acomodando as deformações iniciais. Entretanto, a comparação entre ensaios realizados<br />
com diferentes tipos de capeamento deve ser feita de maneira criteriosa, já que esta<br />
mudança pode alterar os valores de resistência e deformabilidade.<br />
O fato de não haver nenhum método de ensaio padronizado que possa ser<br />
utilizado para determinar o módulo de elasticidade da alvenaria, faz com que os valores<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
28<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
obtidos sejam afetados por diversos fatores, tais como: velocidade e intensidade de<br />
carregamento, dimensões dos corpos de prova. Dessa forma, a comparação direta dos<br />
resultados de deformabilidade em corpos de prova ensaiados por outros pesquisadores<br />
torna-se inviável, ressaltando a necessidade de uma norma brasileira específica sobre o<br />
assunto.<br />
Não se pode dizer que foram obtidas correlações, no que diz respeito à<br />
deformabilidade e às resistências à compressão dos corpos de prova, pela insuficiência<br />
de números de corpos de prova ensaiados e o grande número de variáveis envolvidas.<br />
Porém, pode-se afirmar que foram verificadas algumas importantes tendências de<br />
comportamento estruturais dos componentes e do conjunto envolvido neste estudo.<br />
Os valores de ruptura estimados teoricamente foram superiores aos obtidos<br />
através dos ensaios realizados na maioria dos corpos de prova.<br />
O ajuste da curva tensão-deformação através de uma parábola, até níveis de<br />
tensão na ordem de 60 a 70% da carga de ruptura, apresentou coeficientes de ajuste<br />
bastante satisfatórios para os valores obtidos experimentalmente.<br />
Os blocos alcançaram aumentos de até 150% nos valores de resistência à<br />
compressão média se comparados às resistências nominais indicadas pelo fabricante,<br />
notando-se que, para os blocos estudados, os valores característicos determinantes das<br />
classes de resistência dos blocos foram obtidos a partir de ensaios realizados aos 7 dias.<br />
O método para determinação dos valores de módulo de elasticidade do bloco a<br />
partir do ensaio de prisma mostrou-se bastante eficiente, já que, na maioria dos casos, os<br />
valores de relação entre E bm /f bm estavam dentro das faixas propostas pelos autores<br />
DRYSDALE et al. (1994) e SAHLIN (1971). Assim, acredita-se que a diminuição da<br />
influência da restrição lateral da base da máquina de ensaio, conseguida a partir da<br />
medida de deformações no bloco intermediário do prisma de três blocos, contribuiu de<br />
maneira significativa para a obtenção do módulo de elasticidade do bloco (E b ).<br />
Outra conclusão que pode ser obtida foi que a estimativa dos E bm feita através da<br />
utilização das expressões apresentadas pelo CEB-FIP Mode Code (1990) e pelo ACI –<br />
Building Code 318 (1990), para estimar o módulo de elasticidade do concreto, pode<br />
introduzir valores muito distantes dos reais. Dessa forma, é necessário que seja feito um<br />
estudo mais aprofundado para procurar obter expressões que representem o<br />
comportamento dos blocos utilizados na alvenaria estrutural de maneira mais realista.<br />
O papel da absorção inicial do bloco é importante, pois além de ajudar na<br />
produção de aderência, ajuda absorvendo água em excesso da argamassa, diminuindo a<br />
relação água/cimento e incrementando a resistência à compressão. O excesso é<br />
prejudicial, pois produz o efeito contrário, roubando água necessária para que ocorra a<br />
hidratação. Esta situação foi notada quando utilizadas as argamassas industrializadas<br />
para moldagem dos prismas dos ensaios-piloto 1.<br />
A afirmação feita por diversos autores citados durante este trabalho sobre a<br />
resistência à compressão depender principalmente da resistência e característica do<br />
bloco utilizado e em bem menor proporção das características da argamassa confirmouse<br />
neste trabalho experimental para blocos de baixa resistência à compressão. Assim,<br />
para esta situação deve-se escolher um tipo de argamassa com traço adequado, de modo<br />
a otimizar outras propriedades da argamassa, tais como trabalhabilidade e capacidade de<br />
absorver deformações. Porém, ao serem utilizados blocos de resistência à compressão<br />
elevada, deve ser tomado cuidado especial na escolha da argamassa, para que a mesma<br />
não interfira na resistência à compressão da alvenaria.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
Estudo da resistência e da deformabilidade da alvenaria de blocos de concreto submetidas...<br />
<strong>29</strong><br />
A utilização da argamassa industrializada na moldagem dos prismas não<br />
permitiu que os mesmos apresentassem o comportamento esperado durante os ensaios,<br />
provavelmente pelo comprometimento da resistência de aderência entre bloco e<br />
argamassa.<br />
A diferença de resistências em paredinhas carregadas nas duas direções (paralela<br />
e perpendicular à junta de assentamento) era esperada, já que as próprias unidades<br />
apresentam desigualdades geométricas em direções distintas. Dessa forma, se os blocos<br />
apresentam diferenças de resistência característica nas direções ortogonais, o mesmo<br />
deve ser esperado quando o conjunto bloco-argamassa é analisado.<br />
As medidas do coeficiente de Poisson não foram consideradas confiáveis devido<br />
à grande dispersão dos valores obtidos, o que comprova a dificuldade de obtenção deste<br />
parâmetro.<br />
Os resultados obtidos reforçam a idéia de que deve ser realizado um estudo<br />
mais aprofundado com os materiais utilizados no Brasil, com o objetivo de melhorar a<br />
segurança e a qualidade da alvenaria estrutural.<br />
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
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e ensaio à compressão. Rio de Janeiro.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
30<br />
Andrea Elizabeth Juste & Márcio Roberto Silva Corrêa<br />
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Concreto – Determinação do módulo de deformação estática e diagrama tensãodeformação.<br />
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argamassa na alvenaria estrutural de blocos de concreto. São Paulo. 203 p.<br />
Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica - Universidade de São Paulo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 1-30, <strong>2005</strong>
ISSN 1809-5860<br />
RIGIDEZ DE NÓ DE PÓRTICO EM ESTRUTURAS<br />
DE SEÇÃO COMPOSTA PREGADA UTILIZANDO<br />
CHAPAS DE COMPENSADO<br />
Guilherme Corrêa Stamato 1 & Carlito Calil Junior 2<br />
Resumo<br />
As estruturas de madeira compostas com alma em compensado já vêm sendo<br />
amplamente utilizadas em diversos países onde as estruturas de madeira estão<br />
tecnologicamente mais desenvolvidas, oferecendo aos engenheiros civis mais uma<br />
opção de sistema construtivo eficiente, seguro e duradouro. Nesse trabalho são<br />
apresentados estudos teóricos e experimentais referentes às ligações em nó de pórtico<br />
em estruturas de seção composta utilizando compensado nas almas, e em especial as<br />
estruturas cuja ligação alma mesa é feita por pinos metálicos. O objetivo desse<br />
trabalho é desenvolver critérios de dimensionamento para determinar a rigidez da<br />
ligação de nó de pórtico para complementar o dimensionamento de pórticos de seção<br />
composta. Os ensaios de rigidez de nó de pórtico de seção composta permitiram o<br />
desenvolvimento de metodologia para o cálculo da rigidez dessas ligações, visto que<br />
não existe formulação equivalente na bibliografia internacional. Conclui-se que as<br />
ligações de nó de pórtico com ligação alma/mesa pregada podem ser consideradas<br />
rígidas na maioria dos casos estudados, apresentando R M ≥0,85.<br />
Palavras chave: estruturas de madeira; ligações; rigidez; seções compostas;<br />
normalização.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
As estruturas compostas utilizando compensado nas almas representam um<br />
sistema construtivo eficiente e seguro e cujos produtos utilizados, ou seja, madeira<br />
maciça, compensado e pregos ou adesivo, são encontrados em todas as regiões do<br />
país, o que torna as estruturas compostas com alma em compensado uma excelente<br />
opção para a modernização das estruturas de madeira no Brasil.<br />
Devido ao desenvolvimento de novos materiais, sistemas construtivos e<br />
sistemas estruturais, os estudos das ligações entre os elementos na estrutura têm<br />
sido importante para o aperfeiçoamento dos critérios de dimensionamento, já que a<br />
transmissão dos esforços e as deformações na estrutura dependem do<br />
comportamento dessas ligações.<br />
1 Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, gstamato@itapeva.unesp.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, calil@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
32<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />
As ligações de nó de pórtico ainda precisam ser bastante estudadas, já que<br />
esse sistema construtivo tem grande potencial para a construção de pórticos<br />
industriais, rurais ou residenciais. Para o dimensionamento desses pórticos é<br />
importante a escolha do modelo estático (bi-articulado, tri-articulado, etc.), e para a<br />
correta análise da distribuição das tensões pela estrutura é importante conhecer a<br />
rigidez de cada nó. Além da distribuição de tensões, a rigidez dos nós influencia<br />
também as deformações na estrutura. Assim, o comportamento das ligações de nós<br />
de pórtico é tão importante na análise dos Estados Limites de Utilização quanto dos<br />
Estados Limites Últimos. O estudo da rigidez das ligações vem se intensificando há<br />
algum tempo em todos os tipos de materiais; concreto, aço, madeira maciça, MLC,<br />
etc., porém essa lacuna ainda é muito grande nas estruturas compostas com<br />
compensado mesmo no âmbito internacional, demandando mais estudos a esse<br />
respeito.<br />
Com a evolução dos computadores e das técnicas e programas<br />
computacionais o cálculo dos esforços e deformações tornaram-se mais precisos,<br />
implementando alguns requintes de cálculo que antes eram aproximados devido à<br />
inviabilidade de serem considerados num dimensionamento manual. Com isso tem<br />
sido bastante estudada atualmente a rigidez das ligações de nó de pórtico, que antes<br />
era considerada no cálculo simplesmente como rótula perfeita ou engastamento<br />
perfeito, e que agora já pode ser calculada como semi-rígida, aproximando o cálculo<br />
das tensões com o comportamento real da estrutura. Conhecendo-se melhor a<br />
distribuição das tensões pode-se dimensionar uma estrutura de modo mais<br />
econômico.<br />
Não existem na bibliografia internacional referências a respeito da rigidez de<br />
ligações de nó de pórtico em estruturas compostas. O dimensionamento das ligações<br />
rígidas apresentadas pelo EUROCODE 5, cujo desenvolvimento é apresentado por<br />
RACHER(1995), é baseado na rigidez de ligações entre elementos de seção<br />
retangular maciças. WOODARD(1995) contesta a utilização de critérios baseados em<br />
seção retangulares maciças em seções compostas, visto que a transmissão das<br />
tensões entre elementos numa seção composta é diferente da seção retangular<br />
maciça.<br />
Nesse trabalho (STAMATO, 2002) foram realizados ensaios em corpos de<br />
prova estruturais de nó de pórtico, com ligação alma mesa pregada ou colada, cujos<br />
resultados serviram de base para o desenvolvimento de um método de<br />
dimensionamento de rigidez de nó de pórtico para ligações pregadas, observando-se<br />
as ligações pregadas se mostraram eficiente em comparação com os corpos de prova<br />
colados.<br />
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />
Da pesquisa bibliográfica sobre o compensado pode-se concluir que o<br />
compensado é um derivado da madeira que tem sido largamente utilizado em<br />
estruturas compostas em vários países, apresentando-se como uma possibilidade<br />
interessante para a atualização dos métodos construtivos utilizados no Brasil, tendo<br />
potencial para alavancar a industrialização das estruturas de madeira no país e<br />
fornecer novas alternativas para o setor da construção civil ainda bastante carente.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />
33<br />
O compensado apresenta algumas vantagens em relação à madeira bruta e a<br />
outros materiais, entre essas vantagens pode-se citar: controle de qualidade das<br />
lâminas, evitando nós, falhas e rachaduras e resultando num material mais<br />
homogêneo; possibilidade de produção de elementos compostos de grandes<br />
dimensões a partir de toras de pequenos diâmetros; grande resistência ao<br />
cisalhamento, à compressão e a tração normal (no plano da chapa), devido à<br />
laminação cruzada; trabalhabilidade e; a grande produção dessas chapas no país.<br />
Essas particularidades fazem do compensado um material bastante adequado para a<br />
utilização como almas de vigas compostas. Entre as desvantagens do compensado<br />
pode-se citar: comprimento comercial reduzido (2,44m), que demanda ligação entre<br />
as peças da alma; a falta de classificação das chapas segundo sua resistência,<br />
existindo apenas classificação segundo a aparência das lâminas externas e internas e<br />
o adesivo utilizado; e a existência de muitas empresas produtoras de compensado<br />
que não seguem as recomendações e controles de qualidades previstos pelas normas<br />
ABNT. Isso pode ser resolvido com a classificação mecânica das chapas de<br />
compensado.<br />
Dezenas de estruturas utilizando compensado foram construídas entre as<br />
décadas de 40 e 60 no Brasil, e muitas dessas estruturas ainda estão em operação, o<br />
que comprova a durabilidade do compensado e a aplicabilidade desse sistema<br />
construtivo no país. A construção de estruturas modernas, versáteis e seguras<br />
utilizando seção composta com alma em compensado é facilmente observada em<br />
países como Alemanha, Finlândia, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos entre<br />
outros que já dominam a tecnologia da construção desse tipo de estrutura. A<br />
existência de indústrias especializadas na produção dessas estruturas mostra a<br />
viabilidade desse sistema e a competitividade deste contra outros materiais. As<br />
figuras 1 e 2 ilustram algumas utilizações do compensado no Brasil e no exterior.<br />
Figura 1 - esq.: Estrutura em pórtico utilizando madeira compensada - fonte: INTERNATIONAL<br />
PANEL&LUMBER (IPL). Dir.: Estrutura em cúpula utilizando madeira compensada - fonte: FPI<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
34<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />
Figura 2 - esq.: Estrutura de residência utilizando madeira compensada - fonte: IPL. Dir.:<br />
Pórtico composto de madeira maciça e almas em compensado construído pela CASEMA em<br />
Guaratinguetá - SP - fonte: do autor.<br />
Uma das principais aplicações das estruturas compostas cm alma em<br />
compensado são os galpões industriais, em pórticos bi-articulado ou tri-articulado. No<br />
dimensionamento dessas estruturas em pórtico, as ligações devem ser consideradas<br />
tanto na análise local quanto na análise global da estrutura. A rigidez das ligações<br />
pode afetar a distribuição de tensões internas da estrutura bem como os<br />
deslocamentos desta. Os critérios de dimensionamento atuais normalmente assumem<br />
que uma ligação é ou engaste perfeito ou rótula perfeita. Segundo STAMATO(1998),<br />
como as deformações por embutimento na madeira produzem grandes deformações<br />
nas ligações, a rigidez da ligação deveria ser considerada no dimensionamento, o que<br />
alteraria os cálculos dos deslocamentos da estrutura e a distribuição de tensões<br />
internas no caso de estruturas hiperestáticas. RACHER (1995) apresenta um estudo<br />
sobre a rigidez de ligação, onde desenvolve os conceitos utilizados pelo EUROCODE<br />
5:1993 no cálculo de estruturas com ligações resistentes ao momento.<br />
A classificação de uma ligação como rígida, semi-rígida ou rotulada esta<br />
apresentada a seguir utilizando como modelo um pórtico com duas ligações (Figura<br />
3a), onde foram desconsideradas as deformações devido aos esforços normais e de<br />
cisalhamento ao longo dos elementos por serem pequenas em relação às<br />
deformações devidas ao embutimento. O momento na ligação para esse pórtico<br />
considerado é dado pelas Equações 1 e 2.<br />
K<br />
r<br />
EI<br />
= βr<br />
(1)<br />
L<br />
M<br />
j<br />
2<br />
q × L 1<br />
= ⋅<br />
(2)<br />
8 H<br />
c 3<br />
1,5 + α +<br />
L β<br />
r<br />
Onde q é a carga uniformemente distribuída aplicada na peça horizontal do<br />
pórtico e α a relação entre os módulos de rigidez da viga e da coluna.<br />
A eficiência da ligação é medida bela razão R M , que relaciona o momento M j<br />
com o momento de uma ligação perfeitamente rígida (K r = ∝). A figura 3b e 3c<br />
apresentam a influência da rigidez da ligação na razão R M para diferentes<br />
configurações de pórticos.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />
35<br />
Figura 3 - a) Geometria do pórtico e b) e c) variações da eficiência das ligações.<br />
Uma diminuição substancial do momento na ligação ocorre quando o<br />
coeficiente de rigidez β r é menor que 6 (figura 3a e 3b). Considerando essa variação,<br />
a ligação pode ser considerada como rígida nos cálculos quando R M ≥ 0,85, o que<br />
requer valores de β r superiores a 8 e 12. No outro extremo, as ligações podem ser<br />
consideradas rotuladas se R M ≤ 0,20, relativo a um valor médio de β r = 0,5. Em todos<br />
os outros casos a estrutura deve ser dimensionada considerando ligações semirígidas.<br />
Considerando-se efeito de segunda ordem, essa classificação é relativa a<br />
estruturas contraventadas. Para estruturas não contraventadas, EC5 especifica um<br />
valor mínimo de 25 para β r para se considerar a ligação como rígida. (RACHER,1995)<br />
Além disso, a consideração de ligações semi-rígidas permite a redistribuição<br />
do momento na estrutura. Relacionado com a razão L/H c do pórtico e com o<br />
coeficiente β r , os valores relativos ao momento na ligação e a ao momento no meio do<br />
vão podem ser definidos para propiciar um dimensionamento mais econômico.<br />
RACHER apresenta um desenvolvimento das equações utilizadas pelo<br />
EUROCODE 5 para o dimensionamento de ligações rígidas. Nesse desenvolvimento<br />
RACHER(1995) baseia-se no comportamento de uma ligação entre peças de seção<br />
maciça retangular. Aplicável para estruturas em madeira maciça, madeira laminada<br />
colada e LVL.<br />
Para a análise da ligação, as peças de madeira devem ser suficientemente<br />
rígidas e resistentes para que suas deformações não afetem a análise das<br />
deformações da ligação. Portanto, a rotação da ligação é o resultado do<br />
deslocamento rotacional ϖ do pino (Figura 4c). Definindo o centro de rotação C como<br />
o centro geométrico da ligação, a condição de equilíbrio é dada pela Equação 3.<br />
M<br />
=<br />
n<br />
∑<br />
j=<br />
1<br />
F M<br />
r<br />
, j j<br />
(3)<br />
Onde F M,j é a carga no conector j, e r j sua distância ao centro de rotação.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
36<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />
Figura 4 - Ligações resistentes ao momento. a) distribuição circular dos pinos metálicos. b)<br />
distribuição por linhas e colunas; c) definições geométricas e forças nos pinos.<br />
Com seu desenvolvimento, RACHER(1995) afirma que a rigidez rotacional K r<br />
pode ser determinada pela Equação 4:<br />
K<br />
n<br />
2<br />
r<br />
= ∑ K r<br />
j j<br />
j=<br />
1<br />
α<br />
(4)<br />
Onde K αj representa a rigidez ao embutimento na direção α do pino j e r j<br />
representa a distância do pino j ao centro de rotação da peça.<br />
Essas teorias apresentadas por RACHER são baseadas em ligações entre<br />
elementos de seção cheia, como madeira maciça, madeira laminada colada, etc. e<br />
segundo WOODARD(1995) vem sendo utilizadas por calculistas para estruturas<br />
compostas com compensado com ligações pregadas. A utilização desses critérios<br />
desenvolvidos para seção retangular cheia é questionável no caso de seções<br />
compostas, devido principalmente à natureza diferente dos elementos que compõem<br />
a seção e dos mecanismos de transferência de tensão entre esses elementos.<br />
Pesquisa detalhada realizada por WOODARD(1995) em ligações pregadas de nós de<br />
pórtico de estruturas de elementos seção caixão com alma em compensado<br />
confirmaram que as teorias existentes para ligações rígidas em peças maciças não<br />
são aplicáveis para pórticos de seção caixão.<br />
WOODARD(1995) descreve um método de dimensionamento específico para<br />
ligações rígidas ao momento em pórticos de seção composta com almas em<br />
compensado. Segundo ele, as pesquisas com elementos de seção maciça têm se<br />
concentrado na distribuição de tensões na cobrejunta e na quantidade de pregos<br />
necessários para a ligação e a partir desses resultados foram propostos vários<br />
procedimentos de cálculo por Pneuman (1964), Burgess (1970), Batchelar (1982,<br />
1983, 1984), Pierce (1982), Milner (1988), Walford (1988a&b), Bier(1989), Hutchings<br />
(1989) e Kermani&Lee (1991), apud MILNER&WOODARD(1995). Embora<br />
Walford(1988b) e Milner (1988) tenham recomendado seções caixão como alternativa<br />
aos pórticos de viga e coluna maciças, seus respectivos procedimentos de cálculo<br />
estão de acordo somente com seções de laminado colado.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />
37<br />
3 MATERIAIS E MÉTODOS<br />
Os dispositivos e geometrias dos ensaios de nó de pórtico foram adotados em<br />
função de estudos realizados na bibliografia internacional, tais como: RODD E POPE<br />
(1999) e LEIJTEN et all. (1999), BATCHELAR & HUNT(1991) e WOODARD &<br />
MILNER (1995) entre outros, já que não foi encontrada normalização referente à<br />
esses ensaios. O ensaio de uma ligação, como mostra a Figura 5, é a melhor<br />
configuração de ensaio para a determinação da rigidez do nó, pois apresenta apenas<br />
um ponto onde a rigidez é indeterminada (no modelo em pórtico existem dois pontos).<br />
30<br />
122<br />
P<br />
Figura 5 - Esquema do ensaio de rigidez de ligação proposto.<br />
Os corpos de prova de ligações de nó de pórtico foram montados utilizando<br />
chapas de compensado de 12mm, com lâminas de pinus e adesivo a prova d’água.<br />
Para as mesas foram utilizadas peças de madeira maciça tratadas da espécie Pinus<br />
Taeda. Os pregos utilizados para ligações alma-mesa de 3mm de diâmetro com 6cm<br />
de comprimento, foram fixados por pregador pneumático, sem pré-furação. As<br />
dimensões das ligações de nó de pórtico estão apresentadas na Figura 6. A fotos da<br />
Figura 7 apresentam a montagem dos corpos de prova.<br />
3.1 Esquema estático dos ensaios<br />
Os ensaios de ligação em nó de pórtico foram montados segundo o esquema<br />
estático apresentado na Figura 5. A configuração do ensaio consiste na aplicação de<br />
carga por um cilindro hidráulico em uma das extremidades. Entre o cilindro hidráulico<br />
e o CP foi posicionado um anel dinamométrico para medir a força aplicada ao nó. A<br />
outra extremidade do CP foi fixada na laje de reação. Foram utilizadas barras<br />
metálicas circulares entre o CP e a laje de reação para permitir o movimento do CP<br />
sem gerar atrito. Foram utilizadas peças de contraventamento para evitar a perda de<br />
estabilidade do CP na vertical e uma guia metálica para direcionar a aplicação da<br />
força, evitando-se a perda de estabilidade do conjunto na horizontal.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
38<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />
CPs 0,0: s = 30mm<br />
CP 0,col<br />
CPs –1,+1: s = 40mm<br />
CPs –1,-1: s = 20mm; CP –1, col<br />
2 2<br />
3 1<br />
120<br />
97 4<br />
2<br />
12<br />
97<br />
12<br />
97<br />
3<br />
23<br />
4<br />
2<br />
46<br />
1<br />
12<br />
7<br />
23<br />
46<br />
CPs +1,+1: s = 40mm<br />
CPs +1,-1: s = 20mm<br />
120<br />
3<br />
1<br />
120<br />
CPs +1,-1b: s = 20mm<br />
CPs +1,-1ex: s = 20mm<br />
97<br />
4<br />
2<br />
74<br />
CPs +1,col: s = 40mm<br />
Figura 6 - Dimensões dos corpos de prova de nó de pórtico<br />
Figura 7 - Montagem dos corpos de prova de nó de pórtico.<br />
A montagem do ensaio na horizontal sobre a laje de reação do LaMEM<br />
mostrou-se muito eficiente e apresentou facilidades que não ocorreriam na montagem<br />
vertical. A Figura 8 apresenta foto com o dispositivo montado.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />
39<br />
3.2 Instrumentação dos CPs de nós de pórtico<br />
Para instrumentação dos corpos de prova de nós de pórtico foram utilizados,<br />
em cada CP, quatro relógios comparadores igualmente espaçados a fim de medir os<br />
deslocamentos relativos entre as duas vigas que compõem o nó. Utilizou-se também<br />
quatro extensômetros elétricos para leituras de deformações com o objetivo de avaliar<br />
o momento atuante nas vigas. Os extensômetros elétricos foram posicionados nas<br />
mesas das vigas, na face externa, conforma apresentado na Figura 8.<br />
Contraventamento<br />
Extensômetro<br />
s elétricos<br />
Extremidade fixa<br />
4<br />
Relógios<br />
comparadores<br />
3<br />
2<br />
1<br />
Extensômetro<br />
s elétricos<br />
Cilindro<br />
hidráulico<br />
Perfil<br />
táli<br />
Anel<br />
dinamométrico<br />
Figura 8 - Dispositivos de ensaios de nó de pórtico<br />
3.3 Cálculo da rigidez rotacional K r<br />
A rigidez rotacional do nó de pórtico obtida nos ensaios foi calculada<br />
utilizando as leituras dos relógios 3 ou 4, conforme explicado no item 6.5.1. A rigidez<br />
rotacional da ligação é definida como sendo a razão entre o momento aplicado na<br />
ligação e a rotação causada por esse momento na ligação.<br />
M<br />
K r<br />
=<br />
θ<br />
Onde M é o momento na ligação, calculado como sendo a força aplicada<br />
vezes a distância da aplicação da carga ao centro geométrico da ligação, e θ o ângulo<br />
de rotação relativa entre os dois elementos que compõem a ligação<br />
4 RESULTADOS<br />
Os ensaios de nós de pórtico forneceram grande quantidade de dados que<br />
foram processados e as informações mais relevantes para a avaliação da rigidez<br />
dessas ligações estão apresentadas na tabela 1. A tabela 2 apresenta os valores das<br />
deformações lidas em cada extensômetro elétricos nos ensaios de nós de pórtico.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
40<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />
Tabela 1 - Valores de carga, deslocamentos e tensões atuantes obtidos nos ensaios de nó de<br />
pórtico<br />
∆ P ∆ desl. (mm) ∆σ N/mm 2<br />
Nó (N) 1 2 3 4 1 2 3 4<br />
0,0a <strong>29</strong>26,4 1,732 -- -- 0,049 1,732 -- -- 0,049<br />
0,0b <strong>29</strong>26,4 2,<strong>29</strong>8 1,577 0,902 0,198 2,<strong>29</strong>8 1,577 0,902 0,198<br />
0,0c <strong>29</strong>26,4 2,952 1,998 1,061 0,219 2,952 1,998 1,061 0,219<br />
0,0d <strong>29</strong>26,4 2,355 -- -- 0,216 2,355 -- -- 0,216<br />
0,0e <strong>29</strong>26,4 2,436 1,609 0,887 0,156 2,436 1,609 0,887 0,156<br />
0,0f <strong>29</strong>26,4 2,256 1,513 0,785 0,113 2,256 1,513 0,785 0,113<br />
-1,-1a <strong>29</strong>26,4 2,256 1,513 0,785 0,113 2,256 1,513 0,785 0,113<br />
+1,-1b <strong>29</strong>26,4 0,845 0,502 0,177 0,000 0,845 0,502 0,177 0,000<br />
-1,+1a <strong>29</strong>26,4 2,121 1,400 0,721 0,113 2,121 1,400 0,721 0,113<br />
+1,+1<br />
a<br />
<strong>29</strong>26,4 2,005 1,220 0,495 0,000 2,005 1,220 0,495 0,000<br />
+1,-1a <strong>29</strong>26,4 1,096 0,668 0,269 0,000 1,096 0,668 0,269 0,000<br />
+1,-1<br />
ex <strong>29</strong>26,4 0,693 0,410 0,131 0,000 0,693 0,410 0,131 0,000<br />
m.mis<br />
,-1 <strong>29</strong>26,4 1,167 0,750 0,357 0,011 1,167 0,750 0,357 0,011<br />
0,col <strong>29</strong>26,4 3,182 1,800 1,004 0,219 3,182 1,800 1,004 0,219<br />
-1,col <strong>29</strong>26,4 1,100 0,714 0,375 0,081 1,100 0,714 0,375 0,081<br />
+1,col <strong>29</strong>26,4 0,580 0,339 0,095 0,000 0,580 0,339 0,095 0,000<br />
Tabela 2 - Valores das deformações nos nós de pórticos lidas nos extensômetros elétricos<br />
∆ P<br />
∆ε<br />
nó (N) 1 2 3 4<br />
0,0a <strong>29</strong>2,64 135 -120 160 -180<br />
0,0b <strong>29</strong>2,64 125 -165 80 -180<br />
0,0c <strong>29</strong>2,64 130 -250 130 -215<br />
0,0d <strong>29</strong>2,64 0 0 0 0<br />
0,0e <strong>29</strong>2,64 140 -200 180 -230<br />
0,0f <strong>29</strong>2,64 150 -150 75 -205<br />
-1,-1a <strong>29</strong>2,64 150 -150 75 -205<br />
+1,-1b <strong>29</strong>2,64 110 -210 65 -125<br />
-1,+1a <strong>29</strong>2,64 135 -160 150 -180<br />
+1,+1a <strong>29</strong>2,64 230 -285 110 -110<br />
+1,-1a <strong>29</strong>2,64 190 -180 130 -180<br />
+1,-1 ex <strong>29</strong>2,64 0 0 0 0<br />
m.mis,-1 <strong>29</strong>2,64 100 -145 140 -210<br />
0,col <strong>29</strong>2,64 200 -360 355 -330<br />
-1,col <strong>29</strong>2,64 140 -300 110 -220<br />
+1,col <strong>29</strong>2,64 265 -320 190 -365<br />
A figura 9 apresenta graficamente os deslocamentos medidos nos relógios<br />
comparados em função da carga aplicada ao nó 0,0e. A figura 10 apresenta<br />
graficamente as tensões medidas nos extensômetros elétricos em função da carga<br />
aplicada ao nó. Observa-se que em ambos os casos não ocorre plastificação para os<br />
níveis de carga utilizados no ensaio.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />
41<br />
deslocamento (mm)<br />
18<br />
16<br />
14<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
deslocamento x força, CP 0,0e<br />
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000<br />
Força (N)<br />
relógio 1<br />
relógio 2<br />
relógio 3<br />
relógio 4<br />
Figura 9 - Curva padrão deslocamento×força<br />
4<br />
tensão x força, CP 0,0e<br />
3<br />
Tensão (N/mm2)<br />
2<br />
1<br />
0<br />
-1<br />
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000<br />
canal1<br />
canal2<br />
canal3<br />
canal4<br />
-2<br />
Força (N)<br />
Figura 10 - Curva padrão tensões×força<br />
A figura 11 apresenta graficamente as curvas de força×deslocamento<br />
referente ao relógio comparador 1 para os vários nós de pórtico ensaiados. Observase<br />
na figura 11 a maior rigidez dos nós com mísula, e a pouca contribuição dos CPs “-<br />
1” para a rigidez dessas ligações.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
42<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />
Forçaxdeslocamento dos nós de pórtico<br />
Força (N)<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
0 2 4 6 8 10<br />
deslocamento (mm)<br />
média 0,0<br />
-1,-1a<br />
+1,-1b<br />
-1,+1a<br />
+1,+1a<br />
0,col<br />
-1,col<br />
+1,col<br />
Figura 11 - Curvas força × deslocamento referente ao relógio comparador 1.<br />
A partir dos dados de deslocamentos obtidos nos ensaios e apresentados na<br />
tabela 1 foram calculados os módulos de rigidez rotacional das ligações: K r . Foram<br />
calculados os valores de K r referente às leituras dos 4 relógios. É importante observar<br />
porém, que os relógios 1 e 2 estão afastados do centro de rotação da ligação e,<br />
portanto, as deformações por flexão da viga podem ser significativas. Por outro lado, o<br />
relógio 4 está muito próximo do centro de rotação, e sua sensibilidade pode não ser<br />
suficiente para fornecer boas leituras. Observa-se que para os CPs “-1” e “+1”, os dois<br />
pontos de fixação do relógio 4 estão na mesma peça, não apresentando portando<br />
deformações relativas entre as duas vigas que compõem o nó. Diante dessas<br />
considerações, o módulo de rigidez rotacional das ligações calculados a partir das<br />
medidas do relógio 3 são as mais recomendadas. A tabela 3 apresenta os valores dos<br />
K r para os 4 relógios comparadores.<br />
O módulo de rigidez rotacional das ligações de nós de pórtico em estruturas<br />
compostas com alma em compensado é um dos principais objetivos de estudo deste<br />
trabalho, visto que na bibliografia internacional não existe referência ao cálculo dessa<br />
rigidez por meios teóricos. O EUROCODE 5 e outros autores já citados no capítulo 3<br />
apresentam critérios de cálculo para ligações em nós de pórtico de estruturas de<br />
elementos de seção retangular, como MLC, LVL ou mesmo madeira maciça. Nesses<br />
critérios os cálculos baseiam-se no giro relativo entre as peças em torno de um centro<br />
de rotação. Nas estruturas de seção maciça, somente a rigidez do pinos metálicos e<br />
que contribuem para a rigidez rotacional, e conseqüentemente o centro de rotação<br />
está no centro geométrico do conjunto de pregos.<br />
Nas ligações de nó de pórtico de estruturas compostas, além da rigidez dos<br />
pregos existe a rigidez do contato entre as mesas inferiores, conforme apresentado na<br />
figura 12. Com o acréscimo dessa rigidez, o centro de rotação deixa de ser o centro<br />
geométrico do conjunto de pregos. A partir dos ensaios de nó de pórtico realizados,<br />
observou-se após a ruptura que o centro de rotação da ligação pode ser considerado<br />
o ponto de compressão entre as mesas. A figura 13 apresenta detalhes de rupturas<br />
de corpos-de-prova onde se observa pelas deformações dos pregos e deslocamentos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />
43<br />
das peças que o centro de rotação é a região de contato ente as mesas inferiores das<br />
vigas.<br />
Tabela 3 - Módulos de rigidez rotacional obtidos nos ensaios<br />
Rotaçã<br />
o (rad) K r<br />
(Nmm/<br />
rad)<br />
Nó 1 2 3 4 1 2 3 4<br />
0,0a 0,00182 -- -- 0,00025 8,1E+08 -- -- 6,0E+09<br />
0,0b 0,00242 0,00225 0,00200 0,00099 7,1E+08 7,6E+08 8,6E+08 1,7E+09<br />
0,0c 0,00311 0,00285 0,00236 0,00110 5,5E+08 6,0E+08 7,3E+08 1,6E+09<br />
0,0d 0,00248 -- -- 0,00108 6,9E+08 -- -- 1,6E+09<br />
0,0e 0,00256 0,00230 0,00197 0,00078 6,7E+08 7,5E+08 8,7E+08 2,2E+09<br />
0,0f 0,00237 0,00216 0,00174 0,00057 7,2E+08 8,0E+08 9,9E+08 3,0E+09<br />
-1,-1a 0,00237 0,00216 0,00174 0,00057 7,2E+08 8,0E+08 9,9E+08 3,0E+09<br />
+1,-1b 0,00089 0,00072 0,00039 0,00000 1,9E+09 2,4E+09 4,4E+09 --<br />
-1,+1a 0,00223 0,00200 0,00160 0,00057 7,7E+08 8,6E+08 1,1E+09 3,0E+09<br />
+1,+1a 0,00211 0,00174 0,00110 0,00000 8,2E+08 9,9E+08 1,6E+09 --<br />
+1,-1a 0,00115 0,00095 0,00060 0,00000 1,5E+09 1,8E+09 2,9E+09 --<br />
+1,-1 ex 0,00073 0,00059 0,000<strong>29</strong> 0,00000 1,7E+09 2,1E+09 4,2E+09 --<br />
m.mis,-1 0,00123 0,00107 0,00079 0,00005 1,4E+09 1,6E+09 2,2E+09 3,2E+10<br />
0,col 0,00335 0,00257 0,00223 0,00110 5,1E+08 6,7E+08 7,7E+08 1,6E+09<br />
-1,col 0,00116 0,00102 0,00083 0,00041 1,5E+09 1,7E+09 2,1E+09 4,2E+09<br />
+1,col 0,00061 0,00048 0,00021 0,00000 2,6E+09 3,2E+09 7,4E+09 --<br />
Região de<br />
compressão<br />
entre as<br />
mesas.<br />
Figura 12 - Figura esquemática da região de compressão entre as mesas inferiores das vigas<br />
que compõem o nó de pórtico.<br />
A partir dessas observações foram calculados os módulos de rigidez<br />
rotacional K r considerando como centro de rotação o contato entre as mesas<br />
inferiores das vigas. Para os CPs “+1”, ou seja, com mísula, considerou-se como<br />
centro de rotação o contato entre mesa inferior e mísula, conforme apresentado na<br />
figura 13. Os valores de K r encontrados estão apresentados na tabela 4, que também<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
44<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />
apresenta os valores de K r obtidos nos ensaios e a diferença proporcional entre eles.<br />
Nota-se que os valores de K r de ensaio adotados são os referente às medidas do<br />
relógio 3, conforme mencionado anteriormente. Nos corpos-de-prova onde só foram<br />
instalados os relógios 1 e 4, utilizou-se o valor de K r referente ao relógio 1.<br />
Centro de<br />
rotação<br />
Centro de<br />
rotação<br />
Figura 13 - Ruptura de nó de pórtico apresentando o centro de rotação relativa entre as vigas.<br />
K<br />
n<br />
2<br />
r<br />
= ∑ Kα<br />
r<br />
j j<br />
j = 1<br />
Assim, K r foi calculado por:<br />
Onde K αj representa a rigidez ao embutimento na direção α do pino j e r j<br />
representa a distância do pino j ao centro de rotação da peça, conforme apresentado<br />
por RACHER (1995).<br />
Tabela 4 - Valores dos módulos de rigidez, carga de ruptura, módulo de rigidez rotacional<br />
calculados e de ensaio<br />
Nó EI ef Frup (Kgf) Kensaio Kprego<br />
0,0a 3,07E+11 860 8,08E+08 9,46E+08<br />
0,0b 3,38E+11 823 8,59E+08 9,03E+08<br />
0,0c 2,72E+11 567 7,3E+08 1,02E+09<br />
0,0d 3,06E+11 759 6,94E+08 1,03E+09<br />
0,0e 2,62E+11 823 8,72E+08 9,11E+08<br />
0,0f 3,03E+11 658 9,86E+08 1,16E+09<br />
-1,-1 a 3,77E+11 Não rompido 9,86E+08 3,<strong>29</strong>E+09<br />
+1,-1b 3,72E+11 1847 4,38E+09 4,2E+09<br />
-1,+1 a 2,6E+11 860 1,07E+09 1,81E+09<br />
+1,+1 a 2,81E+11 1107 1,56E+09 1,54E+09<br />
+1,-1 a 3,57E+11 1628 2,88E+09 2,44E+09<br />
+1,-1 ex 2,87E+11 1738 4,21E+09 3,15E+09<br />
m.mis,-1 3,72E+11 1353 2,17E+09 2,34E+09<br />
0,col 2,67E+11 745 7,71E+08 0<br />
-1,col 3,27E+11 1536 2,07E+09 0<br />
+1,col 2,85E+11 2097 7,38E+09 0<br />
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Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />
45<br />
A Figura 14 apresenta os valores comparativos entre os módulos de rigidez<br />
medidos nos ensaios e os calculados referentes ao relógio 3, exceto para os CPs<br />
“0,0 a ”e “0,0d”, que utilizaram calores do relógio 1.<br />
Comparação entre Kr teórico e experimental<br />
Kr (Nxmm/rad)<br />
8,00E+09<br />
7,00E+09<br />
6,00E+09<br />
5,00E+09<br />
4,00E+09<br />
3,00E+09<br />
2,00E+09<br />
1,00E+09<br />
0,00E+00<br />
Kensaio<br />
Kprego<br />
0,0a<br />
0,0b<br />
0,0c<br />
0,0d<br />
0,0e<br />
0,0f<br />
-1,-1a<br />
+1,-1b<br />
-1,+1a<br />
+1,+1a<br />
Corpo de Prova<br />
+1,-1a<br />
+1,-1 ex<br />
m.mis,-1<br />
0,col<br />
-1,col<br />
+1,col<br />
Figura 14 - Valores do módulo de rigidez rotacional experimental e calculado.<br />
Na tabela 4 e na figura 14 observa-se que os valores calculados estão<br />
bastante próximos dos valores obtidos nos ensaios, com ressalvas para os valores<br />
dos CPs “-1” que apresentaram diferenças significativas. Diante da variabilidade da<br />
madeira e do compensado, as diferenças encontradas entre os valores de K r de<br />
ensaio e teóricos são pequenas, indicando que o método adotado apresenta bons<br />
resultados.<br />
Para uma análise mais rigorosa da confiabilidade da consideração do centro<br />
de rotação no cálculo da rigidez rotacional utilizou-se uma análise estatística cujo<br />
coeficiente de regressão resultou em: 63,1%. Considerando-se que os CPs “-1”<br />
apresentam valores muito diferentes, foi realizada outra regressão desconsiderandose<br />
os CPs “-1”. Nessa nova análise o coeficiente de regressão resultou em 94,2%.<br />
A fim de entender o comportamento das ligações “–1”, foram analisados seus<br />
modos de ruptura e observou-se, conforme a figura 15, que a ruptura desses CP se<br />
deu no centro do nó, indicando que a porção de compensado do L da ligação pouco<br />
contribui para a sua rigidez. Assim sendo, o módulo de rigidez rotacional K r foi<br />
novamente calculado considerando-se apenas os pregos do quadrado central da<br />
ligação. Os valores encontrados foram: K r (-1,-1) = 1,71E+09 Nmm/rad e K r (-1,+1) =<br />
1,07E+09 Nmm/rad.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
46<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />
Figura 15 - Modo de ruptura típico dos CPs “-1”<br />
Utilizando esses valores em uma nova análise, o coeficiente de regressão<br />
resultou em 92,1%, considerando aqui todas as ligações ensaiadas.<br />
Com esses valores pode-se concluir que o cálculo do módulo de rigidez<br />
rotacional da ligação de nó de pórtico considerando como centro de rotação o contato<br />
entre as mesas inferiores das vigas ou entre a mesa e a mísula fornece valores<br />
confiáveis para serem utilizados no dimensionamento de estruturas compostas.<br />
Ainda na tabela 4 e da figura 14, comparando-se K r das ligações pregadas<br />
com das ligações coladas observa-se que para os CPs “0” essa diferença é<br />
insignificante, para os CPs “-1” e “+1”, K r das ligações coladas é praticamente o dobro<br />
de K r das ligações pregadas. Observa-se ainda que K r da ligação “meia mísula”<br />
apresenta valor intermediário entre a ligação “0“ e a ligação “+1”, como era previsto.<br />
Outro ponto importante na análise de rigidez de ligações é a relação entre o<br />
momento transmitido pela ligação em questão e o momento transmitido por uma<br />
ligação hipotética de rigidez infinita (engastamento perfeito). O EUROCODE 5<br />
representa essa relação por R M , sendo:<br />
R<br />
M<br />
=<br />
M<br />
M<br />
j<br />
∞<br />
Onde M j é o momento atuante na ligação real e M ∞ é o momento referente a<br />
uma ligação hipotética de rigidez infinita.<br />
Essa análise é válida para estruturas onde ocorre redistribuição dos esforços,<br />
o que não é o caso dos corpos-de-prova de ligações por nó de pórtico ensaiados.<br />
Optou-se então pela análise de uma estrutura com ligações semi-rígidas equivalentes<br />
às ensaiadas. Para essa análise utilizou-se então os valores de K r obtidos nos<br />
ensaios e calcularam-se os momentos M j em uma estrutura hipotética utilizando esses<br />
elementos segundo a metodologia apresentada por RACHER (1995), sendo a<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />
47<br />
estrutura um pórtico biarticulado apresentado na figura 3, com duas ligações semirígidas<br />
de rigidez rotacional K r igual ao respectivo corpo-de-prova de nó de pórtico.<br />
Considerou-se também a relação α =1 (α = EI viga /EI col ) e os módulos de rigidez das<br />
peças, (EI) ef igual ao dos elementos utilizados no respectivo corpo-de-prova.<br />
Outros dois parâmetros importantes para a análise da rigidez dos nós de<br />
pórtico segundo o método de RACHER (1995) são o vão do pórtico (L) e a altura das<br />
colunas(H). Para uma análise mais geral do comportamento dessas estruturas<br />
considerou-se valores extremos de L/H c =1 ou 10 e valores do vão em relação à altura<br />
das vigas de 5 a 25, que condizem com situações reais de dimensionamento. Assim,<br />
para os valores citados, encontrou-se os valores de R M para a combinação de três<br />
variáveis: Tipo de ligação (X1); Espaçamento entre pregos (X2) e relação L/h v (X3).<br />
RACHER (1995) apresenta a equação para o cálculo de M j do pórtico em<br />
questão, para a qual é necessário o parâmetro βr (coeficiente de rigidez) que é<br />
calculado por:<br />
β<br />
r<br />
=<br />
K × L<br />
r<br />
EI<br />
ef<br />
As tabelas 5 e 6 apresentam os valores de β r e R M para as combinações de<br />
variáveis do planejamento estatístico.<br />
Tabela 5 - Valores de β r referentes a cada ligação de nó de pórtico ensaiada<br />
β r (L/Hc=1)<br />
β r (L/Hc=10)<br />
Tipo de nó L/h v =5 15 25 5 15 25<br />
0,0a 3,03 9,08 15,14 3,03 9,08 15,14<br />
0,0b 2,92 8,76 14,59 2,92 8,76 14,59<br />
0,0c 3,08 9,25 15,41 3,08 9,25 15,41<br />
0,0d 2,61 7,82 13,03 2,61 7,82 13,03<br />
0,0e 3,84 11,51 19,18 3,84 11,51 19,18<br />
0,0f 3,74 11,21 18,68 3,74 11,21 18,68<br />
-1,-1a 3,00 9,01 15,02 3,00 9,01 15,02<br />
+1,-1b 13,54 40,62 67,70 13,54 40,62 67,70<br />
-1,+1a 4,74 14,23 23,71 4,74 14,23 23,71<br />
+1,+1a 4,04 12,12 20,21 4,04 12,12 20,21<br />
+1,-1a 9,28 27,85 46,42 9,28 27,85 46,42<br />
+1,-1 ex 16,85 50,56 84,27 16,85 50,56 84,27<br />
m.mis,-1 6,71 20,12 33,54 6,71 20,12 33,54<br />
0,col 3,32 9,97 16,62 3,32 9,97 16,62<br />
-1,col 7,26 21,77 36,<strong>29</strong> 7,26 21,77 36,<strong>29</strong><br />
+1,col <strong>29</strong>,81 89,43 149,05 <strong>29</strong>,81 89,43 149,05<br />
Segundo RACHER (1995) e o EUROCODE 5, pode-se considerar rígida para<br />
efeito de cálculo as ligações com R M ≥ 0,85. Dos gráficos apresentados na figura 16<br />
observa-se que as ligações “0,0”e “-1” podem ser consideradas rígidas quando a<br />
relação L/h for maior que 15. Já as ligações “+1” são consideradas rígidas mesmo<br />
para L/h v menores que 5.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
48<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />
A partir desses resultados montou-se a tabela 7 de resultados e variáveis para<br />
a análise estatística. A análise estatística foi realizada com o intuito de se conhecer as<br />
influências de cada variável na rigidez de uma ligação. Para a análise estatística<br />
considerou-se os valores de R M referentes à L/H = 10.<br />
Tabela 6 - Valores de R M referentes a cada ligação de nó de pórtico ensaiada<br />
R M (L/Hc=1) R M (L/Hc=10)<br />
Tipo de nó L/h v =5 15 25 5 15 25<br />
0,0a 0,72 0,88 0,93 0,62 0,83 0,89<br />
0,0b 0,71 0,88 0,92 0,61 0,82 0,89<br />
0,0c 0,72 0,89 0,93 0,62 0,83 0,89<br />
0,0d 0,68 0,87 0,92 0,58 0,81 0,87<br />
0,0e 0,76 0,91 0,94 0,67 0,86 0,91<br />
0,0f 0,76 0,90 0,94 0,67 0,86 0,91<br />
-1,-1a 0,71 0,88 0,93 0,62 0,83 0,89<br />
+1,-1b 0,92 0,97 0,98 0,88 0,96 0,97<br />
-1,+1a 0,80 0,92 0,95 0,72 0,88 0,93<br />
+1,+1a 0,77 0,91 0,94 0,68 0,87 0,92<br />
+1,-1a 0,89 0,96 0,97 0,83 0,94 0,96<br />
+1,-1 ex 0,93 0,98 0,99 0,90 0,96 0,98<br />
m.mis,-1 0,85 0,94 0,97 0,78 0,91 0,95<br />
0,col 0,73 0,89 0,93 0,64 0,84 0,90<br />
-1,col 0,86 0,95 0,97 0,79 0,92 0,95<br />
+1,col 0,96 0,99 0,99 0,94 0,98 0,99<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />
49<br />
0,0 b<br />
0,0 e<br />
1<br />
1<br />
0,9<br />
0,9<br />
Rm<br />
0,8<br />
0,7<br />
0,6<br />
L/Hc = 1<br />
L/Hc = 10<br />
Rm<br />
0,8<br />
0,7<br />
0,6<br />
L/Hc = 1<br />
L/Hc = 10<br />
0,5<br />
5 10 15 20 25 30<br />
L/hv<br />
0,5<br />
5 10 15 20 25 30<br />
L/hv<br />
Rm<br />
1<br />
0,95<br />
0,9<br />
0,85<br />
0,8<br />
0,75<br />
0,7<br />
0,65<br />
0,6<br />
0,55<br />
0,5<br />
-1,-1<br />
L/Hc = 1<br />
L/Hc = 10<br />
5 10 15 20 25 30<br />
L/hv<br />
Rm<br />
1<br />
0,9<br />
0,8<br />
0,7<br />
0,6<br />
0,5<br />
+1,-1 b<br />
L/Hc = 1<br />
L/Hc = 10<br />
5 10 15 20 25 30<br />
L/hv<br />
Figura 16 - Curvas de R M × L/h v<br />
De forma gráfica pode-se observar na figura 16 que os valores de R M crescem<br />
tendendo a 1 com o aumento da razão L/h. Observa-se para os gráficos das ligações<br />
0,0 que para relações L/h maiores que 15<br />
Tabela 7 - Combinação de variáveis e resposta para análise estatística, considerando valores<br />
de R M referentes à L/H = 10<br />
X1 X2 X3 resposta<br />
Tipo de nó<br />
Espaçamento<br />
(mm) L/h v R M<br />
-1 20 5 0,62<br />
+1 20 5 0,88<br />
-1 40 5 0,72<br />
+1 40 5 0,68<br />
-1 20 25 0,89<br />
+1 20 25 0,97<br />
-1 40 25 0,93<br />
+1 40 25 0,92<br />
0 30 15 0,83<br />
0 30 15 0,82<br />
0 30 15 0,83<br />
0 30 15 0,81<br />
0 30 15 0,86<br />
0 30 15 0,86<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
50<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />
Utilizando o software MINITAB, v. 10, fez-se a regressão multivariável cujos<br />
resultados estão apresentados a seguir:<br />
MTB > FFactorial c4 = c1 c2 c3 c1*c2 c1*c3 c2*c3 c1*c2*c3;<br />
SUBC> EPlot;<br />
SUBC> Fits 'FITS1';<br />
SUBC> Residuals 'RESI1'.<br />
Fractional Factorial Fit<br />
Estimated Effects and Coefficients for C4<br />
Term Effect Coef Std Coef t-value P<br />
Constant 0.8<strong>29</strong>36 0.005<strong>29</strong>5 156.63 0.000<br />
C1 0.07310 0.03655 0.007005 5.22 0.002<br />
C2 -0.03007 -0.01503 0.007005 -2.15 0.075<br />
C3 0.20097 0.10049 0.007005 14.35 0.000<br />
C1*C2 -0.09891 -0.04946 0.007005 -7.06 0.000<br />
C1*C3 -0.03690 -0.01845 0.007005 -2.63 0.039<br />
C2*C3 0.01993 0.00997 0.007005 1.42 0.205<br />
C1*C2*C3 0.05109 0.02554 0.007005 3.65 0.011<br />
Analysis of Variance for C4<br />
Source DF Seq SS Adj SS Adj MS F P<br />
Main Effects 3 0.093275 0.0932748 0.0310916 79.21 0.000<br />
2-Way Interactions 3 0.023085 0.0230855 0.0076952 19.60 0.002<br />
3-Way Interactions 1 0.005220 0.0052199 0.0052199 13.30 0.011<br />
Residual Error 6 0.002355 0.0023552 0.0003925<br />
Curvature 1 0.000280 0.0002800 0.0002800 0.67 0.449<br />
Pure Error 5 0.002075 0.0020753 0.0004151<br />
Total 13 0.123935<br />
Dessa análise de regressão múltipla, o modelo de regressão encontrado foi:<br />
R M = 0,8<strong>29</strong>4 + 0,0366×X1 - 0.0150×X2 + 0,1005×X3 - 0.04946×X1×X2 -<br />
0,0185X1×X3 + 0,00997X2×X3 + 0,02554×X1×X2×X3<br />
Da análise residual do modelo de regressão múltipla conclui-se que o mesmo<br />
é adequado, portanto, podendo ser utilizado para estimar a rigidez da ligação. A<br />
tabela 8 apresenta os valores dos coeficientes, desvio padrão e valor de t calculado e<br />
tabelado para as variáveis.<br />
Da regressão múltipla observa-se que o efeito da variável X1 (tipo de ligação)<br />
é significativo, o que pode ser confirmado pelo valor de p, da distribuição de t-student,<br />
sendo p = 0,002 e efeito= 0.07310; a variável X2 (espaçamento entre pregos)<br />
apresenta pouca influência, com p = 0,075 e efeito= -0.03007; e X3 (razão L/h) com<br />
grande influência com p = 0,000 e efeito= 0.20097, o que já era esperado pois o<br />
equacionamento de Mj contém H/L e β r que por sua vez é correlata ao módulo de<br />
rigidez EI e conseqüentemente à altura da viga. Na análise estatística considera-se<br />
influência significativa valores de p ≤ 0,05.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />
51<br />
Tabela 8 - Valores obtidos na análise de regressão múltipla<br />
Desvio<br />
variável efeito coeficiente padrão t-value P<br />
Constant 0.8<strong>29</strong>36 0.005<strong>29</strong>5 156.63 0.000<br />
C1 0.07310 0.03655 0.007005 5.22 0.002<br />
C2 -0.03007 -0.01503 0.007005 -2.15 0.075<br />
C3 0.20097 0.10049 0.007005 14.35 0.000<br />
C1*C2 -0.09891 -0.04946 0.007005 -7.06 0.000<br />
C1*C3 -0.03690 -0.01845 0.007005 -2.63 0.039<br />
C2*C3 0.01993 0.00997 0.007005 1.42 0.205<br />
C1*C2*C3 0.05109 0.02554 0.007005 3.65 0.011<br />
A relação entre variáveis X1×X2 apresenta também grande influência sobre a<br />
rigidez, com p= 0,000 e efeito= -0.09891, assim como a relação X1×X3 com p= 0,039<br />
e efeito= -0.03690. A relação X2×X3 apresenta pequena influência na rigidez, com p=<br />
0,205 e efeito= 0.01993 respectivamente. E, finalmente, a correlação entre as três<br />
variáveis apresenta influência na rigidez com p= 0,011 e efeito= 0.05109. Observa-se<br />
também pelo valor de p da curvatura que, por ser alto, demonstra que não existe<br />
efeito de curvatura significativo.<br />
Segundo a regressão múltipla, a rigidez da ligação poderia ser estimada de<br />
forma empírica, já desconsiderando as variáveis e combinações com pouca influência,<br />
por:<br />
R M = 0,8<strong>29</strong>4+0,0366×X1+0,1005×X3-0.04946×X1×X2+0,02554×X1×X2×X3<br />
Para os níveis das variáveis adotados, a análise estatística múltipla indica que<br />
a rigidez rotacional de uma ligação de nó de pórtico é influenciada pela geometria<br />
adotada, ou seja, se esta possui mísula ou não, e pela geometria do pórtico e dos<br />
elementos. O espaçamento apresentou pouca influência nessa análise devido aos<br />
intervalos de espaçamentos de 6d a 13d entre pregos utilizados nos ensaios, que são<br />
espaçamentos viáveis do ponto de vista de dimensionamento. Espaçamentos maiores<br />
resultariam em baixa eficiência da seção composta, e por isso não são<br />
recomendáveis. É importante observar que o espaçamento entre pregos está<br />
diretamente relacionado com a quantidade de pregos na ligação, e conseqüentemente<br />
com o cálculo de K r , portanto são importantes para a rigidez da ligação. Essa<br />
influência pode ser observada comparando-se os valores de K r de ensaio das ligações<br />
“-1,-1”com “-1,+1” e “+1,-1” com “+1,+1” na tabela 4.<br />
Os corpos-de-prova com meia mísula e colados foram ensaiados com o intuito<br />
de fornecer parâmetros extras para avaliar a coerência do comportamento dessas<br />
ligações. Esses CPs não estavam previstos no planejamento estatístico e, seus<br />
resultados não foram utilizados na análise estatística assim como os corpos-de-prova<br />
“+1,-1 a” e “+1,-1 extra” por apresentarem problemas de montagem.<br />
Observando-se na tabela 6 os valores de R M para esses corpos-de-prova<br />
acima citados, observa-se que a diferença entre K r observada entre os corpos-deprova<br />
colados e pregados tipo “-1” e “+1”, que era de praticamente o dobro, deixa de<br />
ser significativa quando comparados os respectivos valores de R M , pois mesmo para<br />
as ligações pregadas os valores de R M já eram acima de 0,85, ou seja, já podiam ser<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
52<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />
consideradas rígidas. Ainda na tabela 6 observa-se que a utilização de meia mísula já<br />
é suficiente para aumentar a rigidez da ligação para níveis considerados rígidos.<br />
Observa-se também que os CPs “+1,-1a” e ”+1,-1extra” apresentaram bons resultados<br />
mesmo com montagem irregular (mesa interrompida e falta de montantes<br />
respectivamente). Esse desempenho provavelmente se deve à grande rigidez da<br />
mísula.<br />
4.1 Modos de ruptura<br />
Apesar do foco desse trabalho ser a rigidez das ligações, aqui são<br />
apresentadas algumas considerações a respeito da carga máxima resistida e dos<br />
modos de ruptura observados nos CPs ensaiados. Com exceção do corpo-de-prova “-<br />
1,-1” todos os corpos-de-prova de ligação de nó de pórticos foram carregados até a<br />
ruptura, anotando-se a carga máxima de cada ensaio e o modo de ruptura..<br />
Dos valores das cargas de ruptura apresentados na tabela 4, nota-se um<br />
grande aumento da carga última dos corpos-de-prova “0” para os corpos “+1”, que<br />
segue a tendência de aumento de K r . Nota-se também que o CP com meia mísula<br />
apresenta valores próximos da média entre “0” e “+1” tanto para a carga máxima<br />
quanto para K r . Observa-se pelos valores de ruptura um grande acréscimo da carga<br />
de ruptura dos corpos-de-prova “+1” quando se dobrou o número de pregos (CPs<br />
“+1,+1” e “+1,-1 b”).<br />
É interessante observar que as cargas de ruptura dos corpos-de-prova<br />
colados não foram muito superiores aos seus equivalentes pregados e que junto com<br />
a comparação relativa à rigidez mostra boa eficiência das ligações pregadas.<br />
Os modos de ruptura de todos os CPs rompidos estão apresentados nas<br />
fotos das figura 17 e 18, seguindo a seqüência da tabela 4.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />
53<br />
Figura 17 - Modos de ruptura dos corpos-de-prova 0,0a; 0,0b; 0,0c; 0,0d; 0,0e; 0,0f; +1,-1b e<br />
-1,+1.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
54<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />
Figura 18 - Modos de ruptura dos corpos-de-prova +1,+1; +1,-1a; +1,-1ex; meia mísula; 0,col; -<br />
1,col e +1,col<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
Rigidez de nó de pórtico em estruturas de seção composta pregada utilizando chapas...<br />
55<br />
Como pode ser observado na figura 17 os modos de ruptura encontrados para<br />
os CPs “0” pregados foram sempre por deformação excessiva da ligação, seguidos<br />
pela ruptura por flexão da mesa inferior após grande deformação. Já para os corposde-prova<br />
“+1” e “-1” os modos de ruptura final foram por ruptura na madeira das<br />
mesas ou das chapas de compensado.<br />
Essa mudança do modo de ruptura indica que o aumento da quantidade de<br />
pregos na região solicitada ao momento foi suficiente para que os pregos deixassem<br />
de ser o ponto crítico da ligação, permitindo um aumento de carga suficiente para que<br />
outros pontos rompessem antes dos pregos. É importante notar que pode ter ocorrido<br />
plastificação de alguns pregos durante o carregamento das ligações “+1” ou “-1”,<br />
porém não em escala perceptível a olho nu.<br />
Analisando-se os modos de ruptura das ligações coladas pode-se reforçar a<br />
afirmativa anterior, visto que as rupturas dos corpos-de-prova colados se deu<br />
praticamente igual às rupturas dos corpos-de-provas pregados “+1” e “-1”, sendo a<br />
carga de ruptura dos corpos-de-prova colados não muito superior às cargas de<br />
ruptura dos CPs pregados.<br />
5 CONCLUSÕES<br />
Dos ensaios de ligações por nó de pórtico observou-se um grande acréscimo<br />
da resistência e da rigidez com a utilização de mísulas. Essas mísulas permitem<br />
aumentar a quantidade de pregos na ligação e a seção da ligação na região mais<br />
solicitada, portanto aumentando a eficiência da ligação de nó de pórtico.<br />
O equacionamento utilizado na análise de rigidez de nó de pórtico, adaptado<br />
do proposto por RACHER (1995), considerando o centro de rotação como o contato<br />
entre as mesas inferiores das vigas, ou entre mísula e mesa inferior da viga<br />
apresentaram bons resultados.<br />
Segundo os resultados dos ensaios, as ligações de nó de pórtico de<br />
estruturas compostas com compensado podem ser consideradas como rígidas em<br />
quase todos os casos estudados, pois apresentam R M ≥ 0,85, que segundo RACHER<br />
é o suficiente para se considerar a ligação como rígida no cálculo da estrutura sem<br />
resultar em erro considerável.<br />
A eficiência das ligações pregadas, com rigidezes muito próximas das<br />
ligações coladas, justifica a utilização das ligações alma/mesa pregadas para a<br />
execução de estruturas “in loco”, sem necessidade de industrializar o sistema de<br />
montagem como é o caso das ligações coladas.<br />
6 AGRADECIMENTOS<br />
Os autores agradecem à Fundação de Aparo à Pesquisa do Estrado de São<br />
Paulo (FAPESP) pelo financiamento dessa pesquisa.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
56<br />
Guilherme Corrêa Stamato & Carlito Calil Júnior<br />
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. (1997). NBR 7190/97<br />
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Part 1-1: General rules and rules for buildings. EUROCODE 5. Bruxelas: CEN. 110p.<br />
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São <strong>Carlos</strong>. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> -<br />
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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 31-56, <strong>2005</strong>
ISSN 1809-5860<br />
ANÁLISE DE VIGAS DE MADEIRA PREGADAS COM<br />
SEÇÃO COMPOSTA I<br />
Jorge Luís Nunes de Góes 1 & Antonio Alves Dias 2<br />
Resumo<br />
As vigas compostas de madeira pregadas possuem vasta aplicação como material<br />
estrutural, desde vigas para instalações residenciais e industriais até longarinas de<br />
pontes de pequenos vãos, apresentando como principais vantagens o baixo custo e a<br />
facilidade de execução, não exigindo mão-de-obra qualificada. Este trabalho tem como<br />
objetivo o estudo teórico e experimental de vigas de madeira com seção composta I<br />
formadas por peças de madeira serrada e solidarizadas por pregos. São apresentados<br />
os critérios das normas EUROCODE 5 e NBR 7190, bem como a teoria a respeito do<br />
assunto. É avaliado o procedimento de cálculo da NBR 7190, em comparação com o<br />
EUROCODE 5, sendo realizada verificação experimental dos critérios destas normas,<br />
por meio de ensaios de flexão em protótipos de vigas compostas. Os resultados obtidos<br />
demonstram que o modelo do EUROCODE 5 é o mais indicado para estimar a rigidez<br />
efetiva, tensões normais e de cisalhamento bem como a força nos conectores.<br />
Palavras-chave: peças compostas; rigidez de ligações; vigas de madeira.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
O emprego de peças compostas de madeira, formadas pela união de peças<br />
de dimensões comerciais, vem alcançando importância no setor de estruturas de<br />
madeira do Brasil, principalmente em virtude da gradativa escassez de peças de<br />
grandes dimensões. As peças compostas de madeira serrada, solidarizadas<br />
continuamente por pregos, possuem vasta aplicação como material estrutural, desde<br />
vigas para instalações residenciais e industriais até longarinas de pontes de pequenos<br />
vãos. O sistema em vigas composta apresenta como principais vantagens a facilidade<br />
e o baixo custo de produção.<br />
Estas formas de composição não permitem emendas longitudinais, tornando<br />
seu comprimento restrito ao tamanho usual das peças de madeira. A facilidade e o<br />
baixo custo de produção, fazem com que estas vigas compostas sejam extensamente<br />
utilizadas como vigas de uso doméstico (figura 1), para 4 a 6 metros de vão, como<br />
também para longarinas de pequenas pontes até 10 metros de vão.<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, jgoes@sc.usp.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, dias@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
58<br />
Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />
Figura 1 - Exemplo de utilização de viga composta pregada.<br />
Os elementos de ligação mais utilizados para a solidarização das peças de<br />
madeira são os adesivos e os pinos metálicos. Apesar da indiscutível eficiência dos<br />
adesivos, existem maiores dificuldades na sua aplicação, o que torna os pinos<br />
metálicos os elementos de ligação mais utilizados no Brasil. Especialmente os pregos,<br />
devido à facilidade de aplicação e baixo custo.<br />
As ligações por pinos metálicos permitem deslizamento entre as peças<br />
unidas. Esse deslizamento, que é função da rigidez da ligação, causa redução nas<br />
propriedades mecânicas da peça composta.<br />
Fica caracterizada, assim, a importância da quantificação da rigidez das<br />
ligações para as peças compostas. Sabe-se que a rigidez é influenciada por vários<br />
fatores, dentre eles: o tipo, espaçamento e quantidade dos elementos de ligação,<br />
além das características físicas, de resistência e elasticidade da espécie da madeira<br />
utilizada.<br />
Em contradição ao exposto, a norma brasileira NBR 7190 “Projeto de<br />
Estruturas de Madeira”, apresenta uma metodologia simplificada de cálculo para o<br />
dimensionamento de peças com seção transversal composta, recomendando a<br />
redução da inércia da peça, por meio de coeficientes que consideram a não<br />
solidarização total das peças que compõem a seção transversal. Esses coeficientes<br />
são apresentados conforme o arranjo da seção transversal, não levando em conta a<br />
rigidez da ligação.<br />
O objetivo deste trabalho é fazer a avaliação teórica e experimental do modelo<br />
de cálculo para as peças justapostas de seção T, I e Caixão, da norma brasileira,<br />
permitindo um melhor conhecimento do comportamento e resistência de peças<br />
compostas, tornando as estruturas de madeira cada vez mais competitivas,<br />
divulgadas e aceitas pelos projetistas.<br />
2 CONCEITOS BÁSICOS<br />
Segundo a hipótese de Navier uma viga maciça apresenta, numa seção<br />
transversal qualquer, distribuição contínua de deformações longitudinais ao longo de<br />
sua altura, figura 2-(a). Por outro lado, numa peça de elementos sobrepostos<br />
independentes, isto é, sem nenhum tipo de conector interligando-os, a distribuição das<br />
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Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />
59<br />
deformações é contínua somente ao longo da altura de cada elemento. Nas<br />
superfícies de separação são observadas descontinuidades decorrentes do<br />
comportamento individualizado (figura 2-(b)).<br />
Figura 2 - Deformação de uma barra fletida. (a) seção maciça; (b) barras sobrepostas; (c)<br />
seção composta interligada por pinos metálicos; (d) esforços solicitantes. Fonte: ALVIM (2002).<br />
Quando os elementos constituintes de uma viga composta estiverem<br />
interligados, os conectores restringem parte dos deslizamentos relativos que ocorrem<br />
entre as peças independentes, produzindo uma interação entre eles. A distribuição<br />
das deformações nessa viga, ainda apresenta as descontinuidades nas interfaces,<br />
entretanto, são inferiores às verificadas na peça de elementos independentes, figura<br />
2-(c).<br />
Diante do exposto, fica evidenciada a principal característica das vigas<br />
compostas: o comportamento mecânico interposto ao das vigas maciças e ao das<br />
peças de elementos independentes.<br />
O comportamento intermediário é influenciado diretamente pela rigidez dos<br />
elementos de ligação utilizados para a sua solidarização. Considerando o emprego de<br />
uma ligação “perfeitamente rígida”, não surgem deslocamentos relativos entre os<br />
pontos da borda que delimitam a zona de contato entre as peças.<br />
Na teoria, tais peças podem ser consideradas como de seção homogênea,<br />
supondo uma seção transversal equivalente à soma de todas as outras seções<br />
transversais individuais, aplicando-se a teoria clássica da flexão para vigas. Contudo,<br />
os dispositivos de ligação usados nos casos correntes de projeto são deformáveis.<br />
Com isto, tem-se uma “ligação elástica”, onde após a deformação da peça por flexão<br />
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60<br />
Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />
ocorrem escorregamentos das porções interligadas, ocasionados pela<br />
deformabilidade dos conectores.<br />
O aparecimento de tais deslocamentos relativos produzem uma distribuição<br />
de esforços internos que difere consideravelmente daqueles correspondentes às<br />
ligações rígidas. Portanto, o momento de inércia e o módulo de resistência das peças<br />
compostas, unidas por conectores deformáveis, passam a ser uma fração daqueles<br />
das peças consideradas maciças. A magnitude dessa fração dependerá de<br />
parâmetros geométricos da viga, bem como de uma série de fatores que caracterizam<br />
a rigidez da ligação.<br />
O efeito da composição dessas peças é garantido pela transmissão dos<br />
esforços cortantes por meio da ligação. Os conectores devem suportar as tensões de<br />
cisalhamento distribuídas na região de contato entre as peças, figura 2-(d). Desse<br />
modo, é estabelecido um certo grau de monolitismo entre as peças justapostas.<br />
Então, fica evidente a necessidade de utilização de critérios especiais para o<br />
correto dimensionamento dos elementos estruturais formados de peças compostas.<br />
Atualmente são utilizados basicamente dois métodos distintos, adotados pelos<br />
principais documentos normativos do mundo, para o dimensionamento de peças<br />
compostas: o método dos coeficientes de minoração e o método analítico.<br />
3 MÉTODO DOS COEFICIENTES DE MINORAÇÃO<br />
Esse método consiste na aplicação de coeficientes redutores sobre as<br />
propriedades estáticas das peças compostas. Os coeficientes de minoração ou de<br />
eficiência têm a função de estabelecer a correspondência entre peças compostas e<br />
maciças. Para isso, são necessários dados experimentais adequados para<br />
estabelecer essa correspondência.<br />
As verificações das tensões normais e dos deslocamentos máximos são feitas<br />
considerando a redução do módulo de resistência e do momento de inércia. Já a<br />
verificação das tensões cisalhantes, bem como da força atuante nos conectores, é<br />
feita como se a viga fosse de seção maciça.<br />
A figura 3 ilustra o comportamento interposto das peças compostas e o uso<br />
dos coeficientes de minoração.<br />
h<br />
σ<br />
h<br />
h<br />
1<br />
1<br />
σ<br />
h1<br />
h1<br />
σ<br />
σ =<br />
W 0 =<br />
b<br />
M<br />
W 0<br />
2 I0<br />
h<br />
W<br />
σ<br />
M<br />
= (β) W<br />
0<br />
=<br />
(α)<br />
h<br />
0<br />
I 0<br />
1<br />
1<br />
σ =<br />
W =<br />
M<br />
2 W 1<br />
(a) (b) (c)<br />
Figura 3 - Comportamento interposto das peças compostas. (a) seção com dois elementos<br />
sobrepostos; (b) seção composta interligada por união deformável; (c) seção maciça<br />
equivalente. Fonte: GEHRI (1988).<br />
2 I 1<br />
h 1<br />
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Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />
61<br />
Apesar de proporcionar agilidade no cálculo, tal método apresenta grande<br />
variabilidade e por este motivo alguns documentos normativos que anteriormente<br />
adotavam-no, após revisão optaram pelo método analítico.<br />
4 MÉTODO ANALÍTICO BASEADO NAS EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO<br />
Este modelo consiste na análise da viga como sendo formada por elementos<br />
em equilíbrio solidarizados por equações de compatibilidade de deslocamento.<br />
Todo o desenvolvimento dessa teoria é baseado em hipóteses, nas quais a<br />
linearidade entre causa e efeito é sempre observada. Admite-se a validade das<br />
seguintes hipóteses:<br />
As uniões entre os elementos são contínuas, distribuídas uniformemente e<br />
apresentam as mesmas propriedades mecânicas em todo o comprimento da viga.<br />
O deslocamento relativo da região correspondente à superfície de contato dos<br />
elementos é diretamente proporcional ao esforço atuante na conexão.<br />
As flechas dos elementos da viga composta, tomadas em qualquer posição ao<br />
longo do comprimento, são sempre as mesmas para todos os elementos.<br />
A distribuição das deformações ao longo da altura dos elementos da viga<br />
composta é linear.<br />
Os elementos constituintes da viga composta seguem a lei de Hooke.<br />
As flechas são pequenas.<br />
São desprezadas as deformações produzidas pelo esforço cortante, no<br />
cálculo dos deslocamentos das seções transversais.<br />
A adoção da primeira hipótese significa o estudo de um caso particular de<br />
vigas compostas. O fato de se considerar a superfície fictícia de interligação com<br />
propriedades mecânicas invariantes, implica em se ter os conectores aplicados em<br />
arranjos regulares por todo o plano de separação dos elementos.<br />
Com a segunda hipótese fica assumido um comportamento linear para o<br />
conector isolado. Tal fato, entretanto, por vezes não é confirmado experimentalmente<br />
em ensaios dos conectores isolados, porém a determinação da característica de<br />
rigidez com base na inclinação de reta secante à curva experimental do conector<br />
isolado, e o seu posterior emprego nas expressões teóricas, conduzem a resultados<br />
coerentes com os de experimentação de vigas.<br />
A integridade da viga composta é admitida na terceira hipótese. As demais se<br />
enquadram no grupo de hipóteses da modelagem de Bernoulli-Navier para a flexão de<br />
vigas ordinárias.<br />
Sendo assim, inicia-se a apresentação do método com referência à rigidez da<br />
união. Cada conector é solicitado por forças de cisalhamento, causando um<br />
deslocamento. A relação entre a força atuante e o deslocamento u entre os elementos<br />
individuais que compõem a seção transversal composta é definido pelo módulo de<br />
deslizamento K. A figura 4 ilustra a configuração padrão da união, apresentando o<br />
deslocamento u e o fluxo de cisalhamento ν.<br />
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Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />
Figura 4 – Deslocamento e força cisalhante entre os elementos individuais. Fonte:<br />
KREUZINGER (1995).<br />
O efeito da distribuição contínua de ligações como apresentado na figura 4<br />
pode ser expressa da seguinte forma:<br />
F s<br />
K<br />
ν = ; C = ; ν = C ⋅ u<br />
(1)<br />
s s<br />
onde:<br />
ν = fluxo de cisalhamento atuante na superfície de contato entre os elementos<br />
(N/mm);<br />
F s = força atuante no conector (N);<br />
u = deslocamento da ligação (mm);<br />
s = espaçamento entre conectores (mm);<br />
K = módulo de deslizamento (N/mm);<br />
C = rigidez da ligação (N/mm 2 ).<br />
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Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />
63<br />
Figura 5 - Detalhes de uma viga composta e a configuração de equilíbrio de um elemento dx.<br />
Fonte: KREUZINGER (1995).<br />
Considerando uma peça composta de seção transversal tipo T, são ilustradas<br />
na figura 5 o sistema de carregamento, a configuração da seção transversal, a<br />
deformação e o elemento dx com as respectivas forças de equilíbrio.<br />
O deslocamento relativo entre as partes unidas é demostrado na figura 6.<br />
Figura 6 - Deformações. Fonte: KREUZINGER (1995).<br />
Onde, u 1 e u 2 são os deslocamentos longitudinais dos eixos 1 e 2 da seção<br />
transversal, w’ é a rotação causada pelo momento fletor e u é o deslocamento relativo<br />
entre as partes individuais no local da ligação. Essa análise de deslocamento<br />
apresentada é válida somente quando as deformações devido ao cisalhamento são<br />
desprezadas.<br />
⎛ h1<br />
h2<br />
⎞<br />
= u2 − u1<br />
+ w′<br />
⋅ ⎜ + ⎟ = u2<br />
− u + w′<br />
⋅ a<br />
(2)<br />
⎝ 2 2 ⎠<br />
u 1<br />
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64<br />
Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />
Observando a equação (2) pode ser verificado que a dimensão crítica é a<br />
distância entre os eixos das peças; quanto maior for este valor, maior será a<br />
deformação relativa.<br />
Adicionando os princípios da elasticidade à teoria de flexão simples, tem-se:<br />
N 1 = E1<br />
⋅ A1<br />
⋅ u1′<br />
e N 2 = E2<br />
⋅ A 2 ⋅ u′<br />
2<br />
(3)<br />
1 = −E1<br />
⋅I<br />
⋅ w′<br />
e M2 = −E<br />
2 ⋅I2<br />
⋅ w′<br />
(4)<br />
M 1<br />
1 = −E1<br />
⋅I<br />
⋅ w′′<br />
′ e V2 = −E<br />
2 ⋅I2<br />
⋅ w ′′ ′<br />
(5)<br />
V 1<br />
( u − u + w′<br />
a)<br />
ν = C ⋅ u = C ⋅ 2 1 ⋅<br />
(6)<br />
A figura 7 apresenta os diagramas de tensões normais e cisalhantes para a<br />
seção composta.<br />
Figura 7 - Distribuição de tensões. Fonte: KREUZINGER (1995).<br />
Equilibrando os dois elementos na direção x e z: [p x = 0, (N 1 + N 2 ) ’ = 0]<br />
′<br />
N 1 + ν = 0<br />
(7)<br />
′<br />
N 2 + ν = 0<br />
(8)<br />
′<br />
M = V<br />
1 1 − ν ⋅<br />
h<br />
1<br />
2<br />
(9a)<br />
′<br />
M = V<br />
2 2 − ν ⋅<br />
h<br />
2<br />
2<br />
(9b)<br />
′ ′<br />
1 + V = −p<br />
= V′<br />
V 2<br />
(9c)<br />
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Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />
65<br />
Somando os momentos e diferenciando em relação a x:<br />
″ ″<br />
+ M + ν′⋅<br />
a + p<br />
M1 2<br />
=<br />
0<br />
(10)<br />
Desta forma, existem três equações de equilíbrio (7), (9) e (10) e três<br />
deformações incógnitas u 1 , u 2 e w. Substituindo os princípios da elasticidade nestas<br />
equações de equilíbrio:<br />
( u − u + w′<br />
⋅ a) 0<br />
E1 ⋅ A1<br />
⋅u1′′<br />
+ C ⋅ 2 1 =<br />
(11)<br />
( u − u + w′<br />
⋅ a) 0<br />
E2 ⋅ A 2 ⋅u′′<br />
2 − C ⋅ 2 1 =<br />
(12)<br />
( I + E ⋅I<br />
) ⋅ w′′′′<br />
− C ⋅a<br />
⋅ ( u′<br />
− u′<br />
+ w′′<br />
⋅a) p<br />
E1 1 2 2<br />
2 1 =<br />
⋅ (13)<br />
Para a resolução das equações de equilíbrio são adotados carregamento e<br />
deformações senoidais. Além de facilitar a derivação, o autor afirma que esta<br />
consideração ainda proporciona soluções aplicáveis para as mais diferentes<br />
distribuições de carregamento.<br />
⎛ π ⎞<br />
p = p0 ⋅ sen⋅<br />
⎜ ⋅ x⎟<br />
(14)<br />
⎝ L ⎠<br />
⎛ π ⎞<br />
⎛ π ⎞<br />
⎛ π ⎞<br />
1 = u ⋅ cos⋅<br />
⎜ ⋅ x⎟<br />
; u2 = u20<br />
⋅ cos⋅<br />
⎜ ⋅ x⎟ ; w = w 0 ⋅ sen⋅<br />
⎜ ⋅ x⎟ (15a,b,c)<br />
⎝ L ⎠<br />
⎝ L ⎠ ⎝ L ⎠<br />
u 10<br />
Substituindo esses termos nas equações de equilíbrio (2), (3) e (4), resulta o<br />
sistema de equações apresentado abaixo.<br />
2<br />
⎡ π<br />
⎤<br />
u ⋅ ⎢−<br />
⋅E1<br />
⋅ A1<br />
− C + u<br />
2<br />
⎥ 20 ⋅ 0<br />
⎣ L<br />
⎦<br />
π<br />
L<br />
[ C] + w ⋅ C ⋅ ⋅ a 0<br />
10 =<br />
⎡<br />
⎤<br />
π<br />
[ C] + u ⋅ − ⋅E<br />
⋅ A − C + w ⋅ C a 0<br />
L<br />
⎢−<br />
⋅ ⋅<br />
L<br />
⎥<br />
⎣<br />
⎦ ⎣ ⎦<br />
⎡<br />
⎤<br />
u ⎢<br />
=<br />
L<br />
⎥ ⎢<br />
L<br />
⎥<br />
⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ L<br />
L ⎦<br />
A solução do sistema é apresentada a seguir.<br />
2<br />
π<br />
⎡ ⎤<br />
u10 ⋅ 20 ⎢ 2 1 1 ⎥ 0<br />
=<br />
4<br />
2<br />
⎡ π ⎤ ⎡ π ⎤ π<br />
π<br />
10 ⋅ − C ⋅ ⋅ a + u20<br />
⋅ C ⋅ ⋅ a + w 0 ⋅ ⎢ ⋅<br />
p<br />
4<br />
2 ⎥<br />
⎡<br />
⎢<br />
⎣<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦<br />
2<br />
( E1<br />
⋅I1<br />
+ E2<br />
⋅I2<br />
) + C ⋅ ⋅ a 0<br />
w<br />
0<br />
4<br />
L<br />
1<br />
L 1<br />
= p0<br />
⋅ ⋅<br />
= p<br />
2 0 ⋅ ⋅<br />
(16a)<br />
4<br />
4<br />
π<br />
E<br />
( EI) 1 ⋅ A1<br />
⋅ γ1<br />
⋅ a π<br />
E<br />
ef<br />
1 ⋅I1<br />
+ E2<br />
⋅I2<br />
+<br />
E1<br />
⋅ A1<br />
1+ γ1<br />
⋅<br />
E ⋅ A<br />
2<br />
2<br />
4<br />
u<br />
w<br />
π<br />
a ⋅ γ<br />
⋅E<br />
⋅ A<br />
1 2 2<br />
10 = 0 ⋅ ⋅<br />
(16b)<br />
L γ1<br />
⋅E1<br />
⋅ A1<br />
+ E2<br />
⋅ A 2<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
66<br />
Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />
u<br />
20<br />
w<br />
π<br />
a ⋅ γ<br />
⋅E<br />
⋅ A<br />
1 1 1<br />
= − 0 ⋅ ⋅<br />
(16c)<br />
L γ1<br />
⋅E1<br />
⋅ A1<br />
+ E2<br />
⋅ A 2<br />
k<br />
1<br />
2<br />
π E1<br />
⋅ A1<br />
= ⋅ ;<br />
2<br />
L k<br />
1<br />
γ =<br />
(17a,b)<br />
1<br />
( 1+<br />
k )<br />
1<br />
As tensões podem ser obtidas aplicando os princípios da elasticidade a estas<br />
deformações. A tensão no eixo do elemento 1 da seção transversal é:<br />
L<br />
π<br />
σ 1 = E1<br />
⋅u1′<br />
(x = ) = −E1<br />
⋅u10<br />
(18)<br />
2<br />
L<br />
Usando os seguintes termos<br />
w<br />
0<br />
4<br />
L 1<br />
= p0<br />
⋅ ⋅<br />
(19)<br />
4<br />
π<br />
( EI) ef<br />
M<br />
0<br />
2<br />
L<br />
= p0<br />
⋅<br />
(20)<br />
2<br />
π<br />
a<br />
2<br />
1 1 1<br />
= (21)<br />
γ<br />
1<br />
γ ⋅E<br />
⋅ A ⋅ a<br />
⋅E<br />
⋅ A + E ⋅ A<br />
1<br />
1<br />
2<br />
2<br />
a<br />
= a −<br />
(22)<br />
1 a 2<br />
a tensão é:<br />
γ<br />
⋅E<br />
⋅a<br />
⋅M<br />
1<br />
σ 1 =<br />
(23)<br />
1 1 0<br />
( EI) ef<br />
Nota-se que a equação obtida é semelhante à equação de uma viga simples.<br />
No anexo B do EUROCODE 5 (1993) são apresentadas as equações de rigidez<br />
efetiva, tensões normais, tensão máxima cisalhante e carga atuante nos conectores<br />
para uma seção genérica composta com dois ou três elementos.<br />
5 RIGIDEZ DAS LIGAÇÕES<br />
O fenômeno característico das ligações por conectores metálicos em vigas<br />
compostas é o deslizamento entre os elementos adjacentes. No instante em que a<br />
viga é solicitada, forças de cisalhamento são induzidas e transferidas à interface dos<br />
elementos adjacentes, por meio de forças laterais desenvolvidas sobre os conectores.<br />
O comportamento da ligação (madeira e conector) pode ser descrito por um<br />
parâmetro de referência chamado Módulo de Deslizamento (Slip Modulus).<br />
EHLBECK & LARSEN (1991), abordam em seu trabalho os conceitos<br />
estabelecidos pelo EUROCODE 5 com referência às ligações de elementos<br />
estruturais de madeira. Os autores indicam que o EUROCODE 5 utiliza dois valores<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />
67<br />
de Módulo de Deslizamento, um para o dimensionamento nos Estados Limites<br />
Últimos (K u ) e outro para os Estados Limites de Utilização (K ser ).<br />
O Módulo de Deslizamento instantâneo para os Estados Limites de Utilização<br />
– denotado K ser – é assumido como o módulo secante da curva carga-deslocamento<br />
ao nível de carga de aproximadamente 40% da carga máxima da ligação (figura 8).<br />
Nesse baixo nível de carregamento, de 0 a 0,4 F max , a relação linear entre carga e<br />
deslocamento é assumida como aceitável para os propósitos de dimensionamento.<br />
Fmáx<br />
0,7 Fmáx<br />
Força (P)<br />
0,4 Fmáx<br />
Kser<br />
Ku<br />
Deslocamento (δ)<br />
Figura 8 - Módulo de Deslizamento secante.<br />
O módulo de deslizamento instantâneo para os Estados Limites Últimos –<br />
denotado K u – é assumido como o módulo secante da curva carga deslocamento a<br />
um nível de carga de aproximadamente 60 a 70% da carga máxima. Como uma<br />
razoável simplificação aplicável para os procedimentos de dimensionamento, K u pode<br />
ser dado por K u = 2/3 K ser .<br />
EHLBECK & LARSEN (1991) também indicam a expressão empírica 24 para<br />
estimar o valor do Módulo de Deslizamento (K ser ).<br />
K<br />
ser<br />
1,5<br />
ρk<br />
⋅ d<br />
= (24)<br />
20<br />
6 NORMAS TÉCNICAS<br />
Neste item são apresentados métodos de dimensionamento de vigas de<br />
madeira com seção composta unidas continuamente por conectores metálicos<br />
deformáveis da norma brasileira e européia de projeto de estruturas de madeira.<br />
6.1 Dimensionamento segundo a NBR 7190<br />
A norma brasileira não faz menção específica ao detalhamento das ligações<br />
em estruturas compostas. No entanto, apresenta critério que considera a redução da<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
68<br />
Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />
inércia das peças compostas utilizando coeficientes em função do tipo de arranjo da<br />
seção transversal para considerar o efeito de composição parcial.<br />
No item 7.7.2 desta norma é recomendado que as peças compostas por<br />
peças serradas formando seção T, I ou Caixão, solidarizadas permanentemente por<br />
ligações rígidas por pregos podem ser dimensionadas como se a viga fosse de seção<br />
maciça, com área igual à soma das áreas das seções dos elementos componentes,<br />
admitindo um momento de inércia efetivo dado por:<br />
I<br />
ef<br />
= α ⋅I<br />
(25)<br />
r<br />
th<br />
Onde I th é o momento de inércia da seção total da peça como se ela fosse<br />
maciça, sendo<br />
- para seções T: α r = 0,95<br />
- para seções I ou Caixão: α r = 0,85<br />
Como pode-se observar, essa consideração independe de fatores como o<br />
diâmetro e o espaçamento entre conectores.<br />
6.2 Dimensionamento segundo o EUROCODE 5<br />
No anexo B desta norma européia é apresentado o critério de<br />
dimensionamento para vigas compostas unidas por conectores metálicos (ligações<br />
flexíveis). Recomenda que o efeito da deformabilidade da ligação seja levada em<br />
consideração, assumindo-se uma relação linear entre a carga de cisalhamento e o<br />
deslocamento longitudinal relativo entre os elementos da ligação.<br />
O módulo de deslizamento é determinado em função da densidade da<br />
madeira e do diâmetro do pino utilizado. No caso de ligações com pré-furação os<br />
valores de K são dados por:<br />
K<br />
2<br />
= ⋅<br />
(26)<br />
3<br />
u K ser<br />
K<br />
ser<br />
1,5<br />
ρk<br />
⋅ d<br />
= (27)<br />
20<br />
onde:<br />
K = K u para os estados limites últimos (N/mm);<br />
K = K ser para os estados limites de utilização (N/mm);<br />
d é o diâmetro do prego em mm;<br />
ρ k é a densidade da madeira em kg/m 3 . Se as peças forem de madeiras<br />
diferentes deve-se utilizar uma densidade equivalente ρ k = ρk1<br />
⋅ ρk2<br />
.<br />
A partir deste módulo de deslizamento, é definido o fator de redução de<br />
inércia do conjunto, levando em consideração além do tipo de união, a disposição e<br />
espaçamento dos elementos de ligação, o tipo de madeira, a forma de montagem e<br />
proporção das peças individuais e o vão entre apoios da viga composta.<br />
γ 2 = 1 e<br />
−1<br />
2<br />
⎡ π ⋅Ei<br />
⋅ A i ⋅ s ⎤<br />
i<br />
γ i = ⎢1<br />
+<br />
2 ⎥ para i = 1 e 3 (28)<br />
K i ⋅L<br />
⎣<br />
⎦<br />
onde:<br />
E i = módulo de elasticidade de cada elemento da seção transversal;<br />
A i = área de cada parte da seção transversal;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />
69<br />
s i = espaçamento dos pregos na interface do elemento i com o elemento 2;<br />
K i = módulo de deslizamento da ligação do elemento i com o elemento 2;<br />
L = vão efetivo da viga (L = vão, para vigas biapoiadas), (L = 0,8⋅vão, para<br />
vigas contínuas) e (L = 2⋅vão, para vigas em balanço).<br />
O espaçamento dos pregos pode ser uniforme ou variar conforme a força de<br />
cisalhamento, entre um valor mínimo s min e s max , sendo s max ≤ 4⋅s min . Nesse último caso<br />
um valor efetivo de espaçamento pode ser usado, dado por:<br />
s<br />
ef<br />
= 0,75 ⋅ s + 0,25 ⋅ s<br />
(<strong>29</strong>)<br />
min<br />
max<br />
A distância entre os centros de gravidade da seção até a linha neutra da peça<br />
(ver figura 9) é dado por:<br />
( h + h ) − γ ⋅E<br />
⋅ A ⋅ ( h + h )<br />
γ1<br />
⋅E1<br />
⋅ A1<br />
⋅ 1 2 3 3 3 2 3<br />
a 2 =<br />
(30)<br />
3<br />
2 ⋅ γ ⋅E<br />
⋅ A<br />
∑<br />
i=<br />
1<br />
i<br />
i<br />
i<br />
a<br />
⎛ h + h ⎞<br />
⎛ h2<br />
+ h3<br />
⎞<br />
= e a 3 = ⎜ ⎟ + a2<br />
(31)<br />
⎝ 2 ⎠<br />
⎝ 2 ⎠<br />
1 2<br />
1 ⎜ ⎟ − a2<br />
onde:<br />
a i = distância do centróide da área de cada elemento que compõe a seção<br />
transversal até a linha neutra y-y, desde que a 2 não seja menor que zero e não maior<br />
que h 2 /2;<br />
h i = altura de cada parte dos elementos componentes da seção transversal<br />
com h 3 nulo para seção T;<br />
b i = largura de cada parte dos elementos componentes da seção transversal;<br />
Assim é possível o cálculo da rigidez efetiva levando em consideração a<br />
rigidez da ligação.<br />
3<br />
2<br />
( )<br />
ef<br />
= ∑ ( Ei<br />
⋅Ii<br />
+ γ i ⋅Ei<br />
⋅ A i ⋅ ai<br />
)<br />
EI (32)<br />
i=<br />
1<br />
onde:<br />
I i = momento de inércia de cada elemento componente da seção transversal (I i<br />
= b i .h i 3 /12).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
70<br />
Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />
A , I<br />
1 1<br />
,E1<br />
b1<br />
s 1,K<br />
1,<br />
F1<br />
σ1<br />
σ m,1<br />
0,5 b 2<br />
a<br />
1<br />
a 2<br />
a 3<br />
A 2,I ,E2<br />
A,I<br />
2<br />
3 3, E3<br />
y<br />
b2<br />
b<br />
3<br />
h2<br />
y 2 σ m,2<br />
h2<br />
h<br />
2 2<br />
+<br />
h3<br />
σ3<br />
σ m,3<br />
s 3, K3,F3<br />
-<br />
σ2<br />
h<br />
a 1<br />
a 2<br />
a 3<br />
b1<br />
b1<br />
2 2<br />
y<br />
b<br />
2<br />
3<br />
b2<br />
2<br />
b<br />
3<br />
y<br />
h<br />
h<br />
1<br />
3<br />
h2<br />
σ m,2<br />
σ1<br />
+<br />
σ<br />
σ<br />
3<br />
m,3<br />
-<br />
σ2<br />
σ m,1<br />
h<br />
A1,I1,<br />
E1<br />
2 a 1<br />
a<br />
A 2, I2,<br />
E2<br />
y<br />
b1<br />
b2<br />
y<br />
s 1,K<br />
Figura 9 - Seções transversais e distribuição de tensões do EUROCODE 5.<br />
h2<br />
2<br />
h2<br />
2<br />
,F<br />
1 1<br />
h1<br />
h2<br />
σ<br />
σ1<br />
+<br />
m,2<br />
-<br />
σ2<br />
σ m,1<br />
h<br />
Da mesma forma, são equacionadas as tensões normais e cisalhantes<br />
atuantes nas peças, bem como a força aplicada nos elementos de ligação ocasionada<br />
pelo deslizamento entre as peças.<br />
Para vigas com geometria de seção transversal conforme as da figura 9, as<br />
tensões normais devem ser calculadas como mostrado a seguir:<br />
M<br />
σ = γ ⋅E<br />
⋅ a ⋅<br />
(33)<br />
i<br />
i<br />
i<br />
i<br />
( EI) ef<br />
M<br />
σ = 0,5<br />
⋅E<br />
⋅ h ⋅<br />
(34)<br />
m,i<br />
i<br />
i<br />
( EI) ef<br />
onde:<br />
M = momento fletor;<br />
σ i e σ m,i = respectivamente as tensões no centróide e nas extremidades dos<br />
elementos da seção transversal.<br />
A máxima tensão cisalhante ocorre onde a tensão normal é nula. A tensão<br />
máxima de cisalhamento na alma da viga pode ser obtida como:<br />
2<br />
( γ ⋅E<br />
⋅ A ⋅ a + 0,5 ⋅E<br />
⋅b<br />
⋅h<br />
)<br />
V<br />
τ 2,max = 3 3 3 3<br />
2 2 ⋅<br />
(35)<br />
b ⋅<br />
2<br />
( EI) ef<br />
onde:<br />
V = força máxima de cisalhamento.<br />
E por fim apresenta-se a equação para o cálculo da carga aplicada no<br />
conector.<br />
V<br />
F = γ ⋅E<br />
⋅ A ⋅ a ⋅ s ⋅ para i = 1 e 3 (36)<br />
i<br />
i<br />
i<br />
i<br />
i<br />
i<br />
( EI) ef<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />
71<br />
7 ENSAIOS EM VIGAS COMPOSTAS<br />
Para aferição dos modelos de dimensionamento de vigas compostas foram<br />
conduzidos ensaios experimentais de flexão em 9 protótipos (3 de cada espécie) de<br />
seção I simétrica, formadas por peças de seções comerciais, solidarizadas<br />
continuamente por pregos. As espécies nativas de madeira utilizadas foram o Angelim<br />
Pedra Verdadeiro – Dinizia excelsa (alta densidade) e o Cedrilho – Erisma spp (média<br />
densidade). A espécie de reflorestamento utilizada foi o Pinus Hondurensis – Pinus<br />
caribea var. hondurensis (baixa densidade).<br />
A tabela 1 apresenta a geometria da seção transversal, o comprimento, vão<br />
do ensaio, tipo de ligação e espécie de madeira utilizada para as vigas ensaiadas.<br />
Tabela 1 - Dados de projeto das vigas compostas<br />
Espécie<br />
de<br />
Madeira<br />
Viga<br />
Geometria da<br />
Seção<br />
Ligação<br />
Comp.<br />
(cm)<br />
Vão<br />
ensaio<br />
(cm)<br />
Instrumentação<br />
Angelim Pedra Verdadeiro<br />
A1<br />
A2<br />
A3<br />
5,60<br />
15,50<br />
2,50 15,10 2,50<br />
20,10<br />
18 x 30<br />
C/2,5 cm<br />
380 370<br />
Relógios<br />
comparadores e<br />
extensômetros<br />
elétricos<br />
Relógios<br />
comparadores<br />
Pinus Hondurensis<br />
P1<br />
P2<br />
5,80<br />
16,00<br />
5,65<br />
2,55 15,80 2,55<br />
20,90<br />
5,30 18,90 5,30<br />
<strong>29</strong>,50<br />
22 x 42<br />
C/5,0 cm<br />
22 x 48<br />
C/5,0 cm<br />
310 300<br />
400 390<br />
Relógios<br />
comparadores e<br />
extensômetros<br />
elétricos<br />
15,50<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
72<br />
Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />
Tabela 1 - Continuação<br />
P3<br />
5,65<br />
5,05 19,65 5,05<br />
<strong>29</strong>,75<br />
22 x 48<br />
C/2,4 cm<br />
400 390<br />
15,00<br />
Cedrilho<br />
C1<br />
C2<br />
5,00<br />
5,10 18,40 5,10<br />
28,60<br />
22 x 48<br />
C/5,0 cm<br />
400 390<br />
Relógios<br />
comparadores e<br />
extensômetros<br />
elétricos<br />
C3<br />
13,40<br />
Relógios<br />
comparadores<br />
Para auxiliar a análise precisa dos resultados, todas as peças de madeira que<br />
compõem a seção transversal composta foram previamente testadas por meio de<br />
ensaios não destrutivos de flexão estática. Destes ensaios são obtidos o módulo de<br />
elasticidade à flexão de cada peça que está sendo empregada na viga, garantindo<br />
maior precisão da análise dos resultados.<br />
Após a montagem, as vigas compostas foram testadas por ensaio de flexão<br />
com carregamento nos terços, leitura de flechas e deslizamento entre as peças, por<br />
meio de relógios comparadores e leitura de deformações por meio de extensômetros<br />
elétricos de resistência (ver esquema do ensaio na figura 2).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />
73<br />
L/3 L/3<br />
L/3<br />
P/2<br />
Ext. 1<br />
Ext. 2<br />
P/2<br />
Ext. 3<br />
Ext. 4<br />
Ext. 5<br />
Ext. 6<br />
Rel. 1<br />
Rel. 2<br />
L<br />
extensômetros elétricos<br />
Figura 10 - Montagem do ensaio em vigas compostas instrumentadas com extensômetros<br />
elétricos.<br />
A figura 11 ilustra a realização dos ensaios de flexão das vigas compostas.<br />
Figura 11 - Ensaios de flexão em protótipo de peças compostas.<br />
Para avaliação da rigidez à flexão foram realizados três ciclos de<br />
carregamento, tendo sido registrados os valores observados no último ciclo. Estes<br />
carregamentos foram conduzidos até o limite de flecha L/200 para todas as vigas, de<br />
forma a não exceder o regime elástico do material. Ao final do terceiro ciclo, após a<br />
retirada dos relógios comparadores, as vigas foram conduzidas à ruptura.<br />
8 RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />
Neste item são realizadas as avaliações da rigidez efetiva, deformações,<br />
tensões e força de ruptura das vigas compostas.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
74<br />
Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />
8.1 Rigidez efetiva<br />
Na tabela 2 encontram-se os valores de rigidez à flexão e os respectivos<br />
valores dos coeficientes de eficiência (α) para cada as vigas compostas. A coluna<br />
(α EC5 ) indica os valores do coeficiente de eficiência calculado pela equação 36,<br />
segundo a metodologia proposta pelo EUROCODE 5. A coluna (α exp. ) indica os<br />
valores do coeficiente de eficiência calculado pela equação 37.<br />
(EI)<br />
EC5<br />
α EC5 = (36)<br />
(EI)<br />
ríg<br />
(EI)<br />
exp<br />
α exp = (37)<br />
(EI)<br />
ríg<br />
Também é apresentado o valor do erro entre a estimativa do EUROCODE 5 e<br />
os resultados experimentais (vide equação 38). O sinal (-) indica que o valor de rigidez<br />
à flexão, obtido experimentalmente, foi menor que o estimado teoricamente pelo<br />
método do EUROCODE 5.<br />
(EI)<br />
exp<br />
-(EI)<br />
(EI)<br />
EC5<br />
EC5<br />
⋅ 100<br />
(38)<br />
Tabela 2 - Rigidez à flexão e coeficiente de eficiência das vigas compostas<br />
Viga<br />
(EI) ríg.<br />
(kN.cm 2 )<br />
(EI) EC5<br />
(kN.cm 2 )<br />
(EI) exp.<br />
(kN.cm 2 )<br />
α EC5 α exp. Erro (%)<br />
A1 12389321 10993965 10660463 0,89 0,86 -3,0<br />
A2 12221476 10877689 10355724 0,89 0,85 -4,8<br />
A3 13384421 11837396 11445233 0,88 0,86 -3,3<br />
C1 20779163 15630796 13454931 0,75 0,65 -13,9<br />
C2 21980521 15881122 13743379 0,72 0,66 -13,5<br />
C3 17817781 13465536 12731707 0,76 0,72 -5,5<br />
P1 7733260 5943941 5789<strong>29</strong>2 0,77 0,75 -2,6<br />
P2 28208205 16389020 16527848 0,58 0,59 0,8<br />
P3 20336034 16663170 17017367 0,82 0,84 2,1<br />
Na figura 12 é apresentado o diagrama de força x flecha para a viga A1.<br />
Neste diagrama são indicadas quatro curvas teóricas (Rígida, Livre, NBR e EC5) além<br />
dos valores experimentais obtidos dos ensaios. A curva “Rígida” considera ligação<br />
perfeitamente rígida. A curva “Livre” indica o comportamento da viga supondo não<br />
haver ligação. Também são apresentados, nas curvas “NBR” e “EC5”, os<br />
comportamentos da viga de acordo com os procedimentos de cálculo indicados pelas<br />
normas NBR 7190 e EUROCODE 5, respectivamente.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />
75<br />
Viga A1<br />
Força (kN)<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80<br />
Flecha (mm)<br />
Rígida NBR EC5 Experimental Livre<br />
Figura 12 - Diagrama força x flecha dos ensaios de flexão da viga de Angelim A1.<br />
Observando o diagrama da figura 12 e os valores de erro na tabela 2, pode-se<br />
notar a proximidade dos valores teóricos do EUROCODE 5 com os valores obtidos<br />
nos ensaios, principalmente nos instantes iniciais (até L/200). Nota-se também que a<br />
partir de um dado momento o sistema composto começa a perder eficiência e desse<br />
ponto em diante a teoria linear do EUROCODE 5 e da NBR 7190 torna-se inadequada<br />
para prever os deslocamentos e os esforços atuantes.<br />
8.2 Deformações e tensões<br />
A seguir são apresentados os diagramas de tensões e deformações para a<br />
viga A2, indicando os resultados experimentais e comparando-os com os obtidos da<br />
formulação do EUROCODE 5. As tensões e deformações apresentadas na figura 13<br />
referem-se aos valores obtidos através de extensômetros elétricos posicionados na<br />
seção transversal central, para o nível de força aplicada que produzia uma flecha<br />
teórica de L/200 considerando regime elástico.<br />
Viga A2<br />
Viga A2<br />
20<br />
20<br />
Altura na seção (cm)<br />
15<br />
10<br />
5<br />
Altura na seção (cm)<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-1500 -1000 -500 0 500 1000 1500<br />
0<br />
-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25<br />
Deformações (µε)<br />
Tensões (MPa)<br />
Teórico<br />
Experimental<br />
Teórico<br />
Experimental<br />
Figura 13 - Diagramas de deformações e tensões da viga A2.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
76<br />
Jorge Luís Nunes de Góes & Antonio Alves Dias<br />
A figura 13 indica boa correspondência entre os valores teóricos calculados<br />
pelo método do EUROCODE 5 e os valores experimentais obtidos pelos<br />
extensômetros elétricos.<br />
8.3 Força de ruptura<br />
Em relação aos estados limites últimos, foram comparados os valores de força<br />
máxima calculados teoricamente pelo método do EUROCODE 5 e NBR 7190, e<br />
comparados com os resultados experimentais obtidos.<br />
Vigas de Angelim<br />
Força de Ruptura (kN)<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
A1 A2 A3<br />
Vigas<br />
EC5<br />
NBR<br />
Exp.<br />
Figura 14 - Diagrama de força de ruptura das vigas de Angelim.<br />
A figura 14 ilustra os valores teóricos da forças obtidas, bem como, o valor<br />
experimental, correspondente à ruptura da peça. Os valores de ruptura experimentais<br />
das vigas de Angelim são de 102% a 240% superiores quando comparados com os<br />
teóricos obtidos do cálculo do EUROCODE 5. A grande diferença têm fundamento na<br />
consideração do estado de ruptura da viga. Tanto o método do EUROCODE 5 quanto<br />
o método da NBR consideram, para estes exemplos particulares de vigas, que,<br />
quando a ligação mais solicitada (extremo da viga) atinge sua capacidade máxima, a<br />
viga atingiu o estado o estado limite último. Entretanto, pode ser observado que, após<br />
este ponto, ocorre uma redistribuição de esforços, devido a alta flexibilidade dos<br />
conectores, garantindo maior capacidade resistente para o elemento estrutural. Por<br />
fim, a ruptura das vigas foi caracterizada por de tração na mesa inferior ou tração na<br />
alma, por flexão.<br />
Comparando os valores teóricos da capacidade resistente obtidos pela norma<br />
EUROCODE 5 e NBR 7190, nota-se que esta conduz a valores inferiores. Isto é<br />
devido ao fato da norma brasileira considerar o fluxo de cisalhamento como se a viga<br />
fosse maciça. Já a norma européia admite um redução no valor do fluxo de<br />
cisalhamento, em função da eficiência da conexão. Em média esta diferença na<br />
resistência ficou por volta de 10 a 14%.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
Análise de vigas de madeira pregadas com seção composta I<br />
77<br />
9 CONCLUSÕES<br />
As vigas compostas de madeira pregadas apresentam facilidade de execução<br />
e baixo custo de produção, podendo ser largamente empregadas nas construções de<br />
madeira principalmente quando é requerido um acréscimo de inércia sem a<br />
disponibilidade de peças de seção maciça.<br />
O modelo da NBR 7190, por meio de coeficientes de redução de inércia é<br />
simples mas impreciso para estimar o comportamento deste tipo de elemento<br />
estrutural.<br />
Já o método do EUROCODE 5 apresentou razoável concordância com os<br />
resultados experimentais.<br />
10 AGRADECIMENTOS<br />
Os autores expressam seus agradecimentos à FAPESP – “Fundação de<br />
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo”, pela concessão da bolsa de estudos e<br />
suporte financeiro para o desenvolvimento da pesquisa.<br />
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1997). NBR 7190 - Projeto<br />
de Estruturas de Madeira. Rio de Janeiro.<br />
ALVIM, R. C. (2002). A Resistência dos Pilares de Madeira Composta. São Paulo.<br />
Tese (Doutorado) – Escola Politécnica - Universidade de São Paulo.<br />
GEHRI, E. (1988). Zusammengesetzte Träger. In: Autographie Einführung in die<br />
Norm 164 (1981). p.285-<strong>29</strong>8.<br />
GÓES, J. L. N. (2002). Análise de vigas de madeira pregadas com seção<br />
composta I. São <strong>Carlos</strong>. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São<br />
<strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />
KREUZINGER, H. (1995). Mechanically jointed beams e columns. Timber<br />
Engineering STEP 1, Lecture B11, Centrum Hout, The Netherlands.<br />
COMITÉ EUROPÉEN DE NORMALISATION (1993). EUROCODE 5 - Design of<br />
Timber Structures. Brussels.<br />
EHLBECK, J.; LARSEN, H. J. (1991). Eurocode 5 - Design of Timber Structures:<br />
Joints. p.9-23.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 57-77, <strong>2005</strong>
ISSN 1809-5860<br />
ANÁLISE DOS MECANISMOS RESISTENTES E DAS<br />
SIMILARIDADES DE EFEITOS DA ADIÇÃO DE<br />
FIBRAS DE AÇO NA RESISTÊNCIA E NA<br />
DUCTILIDADE À PUNÇÃO DE LAJES-COGUMELO E<br />
AO CISALHAMENTO DE VIGAS DE CONCRETO<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda 1 & João Bento de Hanai 2<br />
Resumo<br />
Um dos principais problemas das lajes-cogumelo refere-se à ruína por puncionamento<br />
da ligação laje-pilar. Esta forma de ruína deve ser evitada, proporcionando-se às lajes<br />
as melhores condições para o desenvolvimento de mecanismos de escoamento das<br />
armaduras e de ruína por flexão, antes da ocorrência da ruína por cisalhamento. A<br />
introdução de fibras de aço em elementos de concreto submetidos a solicitações<br />
tangenciais proporciona melhoria de desempenho, seja pelo aumento da capacidade<br />
resistente, seja pela alteração da forma de ruína. Pretende-se contribuir com o avanço<br />
do conhecimento sobre o assunto, explorando aspectos como a análise das<br />
similaridades dos efeitos da adição de fibras de aço na resistência e na ductilidade de<br />
lajes-cogumelo à punção, com aqueles que se observam no cisalhamento de vigas<br />
prismáticas análogas. Abordam-se os casos de ligações laje-pilar interno sem<br />
armadura de punção, variando-se a resistência do concreto, a taxa e o tipo de fibra<br />
utilizado. A partir dos resultados experimentais, verificou-se que existe uma<br />
similaridade de comportamento estrutural entre esses dois elementos e concluiu-se que<br />
é possível utilizar ensaios de cisalhamento em vigas prismáticas para se obter<br />
indicadores a serem utilizados nos ensaios de punção de lajes. Foi efetuada uma<br />
análise da adaptabilidade de modelos teóricos existentes sobre cisalhamento em vigas e<br />
punção em lajes, com vistas à consideração do efeito da adição de fibras de aço ao<br />
concreto. Com base nesses modelos, foram estabelecidos critérios quantitativos para<br />
avaliação da resistência e da ductilidade das ligações laje-pilar.<br />
Palavras-chave: concreto com fibras; punção; cisalhamento; similaridades;<br />
modelo teórico.<br />
1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, accetti@sc.usp.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jbhanai@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
80<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Na ruína por punção, sendo a força cortante a ação predominante, a laje pode romper<br />
antes que a armadura de flexão atinja sua tensão de escoamento, observando-se então uma<br />
ruína de natureza frágil, abrupta, que não oferece qualquer aviso prévio. Esta forma de ruína<br />
deve, portanto, ser evitada, proporcionando-se às lajes as melhores condições para o<br />
desenvolvimento de mecanismos de escoamento das armaduras e de ruína por flexão, mais<br />
dúctil, antes da ocorrência da ruína por cisalhamento. Assim, é essencial que nos projetos de<br />
ligações laje-pilar se preocupe com os parâmetros tanto de resistência como de ductilidade.<br />
Pesquisas mais recentes têm mostrado a melhoria de desempenho devida à<br />
introdução de fibras de aço em elementos de concreto submetidos a solicitações tangenciais,<br />
seja pelo aumento da capacidade resistente, seja pela alteração da forma de ruína. O<br />
interesse despertado por esse estudo pode ser explicado pela expectativa de bons resultados<br />
no desenvolvimento de novos materiais, na economia de tempo para no preparo do concreto<br />
com fibras, em face ao tempo necessário para montagem e execução da armadura<br />
transversal, ou mesmo pela vantagem das fibras proporcionarem maior ductilidade à ligação.<br />
Deve-se salientar o particular interesse na associação de concreto de alta resistência<br />
com fibras de aço. O incremento da resistência do concreto aumenta a resistência da ligação à<br />
punção, mas ao mesmo tempo o concreto de alta resistência mostra-se mais frágil e leva à<br />
diminuição do efeito de engrenamento dos agregados na superfície de ruína, pois ela passa a<br />
se mostrar mais lisa. A adição de fibras de aço oferece, taticamente, maior tenacidade ao<br />
concreto e efeitos de costura, tanto na superfície de ruína como nas imediações das<br />
armaduras longitudinais e transversais (quando estas existirem).<br />
Os objetivos específicos da tese são:<br />
a) produzir novos dados experimentais e re-estruturar os dados existentes sobre a resistência<br />
e a ductilidade de ligações laje-pilar em lajes-cogumelo de concreto armado reforçado com<br />
fibras de aço;<br />
b) efetuar uma análise prospectiva da adaptabilidade de modelos mecânicos teóricos<br />
existentes sobre a punção em lajes, com vistas à consideração do efeito da adição de fibras de<br />
aço ao concreto;<br />
c) analisar e estabelecer conclusões sobre a similaridade de comportamento estrutural de lajes<br />
de concreto com fibras, sujeitas à punção, e de vigas análogas submetidas à força cortante;<br />
d) estabelecer, quando possível, correlações qualitativas entre a resistência e a ductilidade de<br />
lajes-cogumelo à punção, com a resistência e a ductilidade de vigas prismáticas ao<br />
cisalhamento;<br />
e) estabelecer, na medida do possível, método e critérios de seleção do tipo, volume e outras<br />
características das fibras de aço a serem usadas em ligações laje-pilar, por meio de<br />
indicadores obtidos em ensaios mais simples de cisalhamento em prismas;<br />
f) estabelecer critérios quantitativos para avaliação da ductilidade das ligações laje-pilar.<br />
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS<br />
2.1 Aspectos teóricos do concreto com fibras<br />
A efetividade do reforço com fibras pode ser avaliada com base nos critérios de<br />
melhoria de resistência e de tenacidade do compósito, comparado com a matriz frágil. As<br />
fibras aumentam a resistência do material, promovendo meios de transferência de tensão<br />
através das fissuras. Além disso, elas aumentam a tenacidade do material, proporcionando<br />
mecanismos de absorção de energia, relacionados com o desligamento e o arrancamento das<br />
fibras que formam pontes nas fissuras. A eficácia das fibras na melhoria das propriedades<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />
81<br />
mecânicas da matriz frágil de cimento é controlada pelos processos pelos quais a força é<br />
transferida para as fibras e pelo efeito de “costura” das fissuras, proporcionado pelas fibras em<br />
estágios avançados de carregamento. Estes dois aspectos serão estudados separadamente,<br />
nos próximos sub-itens.<br />
2.2 Mecanismos alternativos resistentes ao cisalhamento<br />
Segundo RUSSO & PULERI (1997), os dois principais mecanismos resistentes ao<br />
cisalhamento de vigas sem armadura transversal, isto é, os mecanismos provenientes da<br />
contribuição do concreto, são a ação de viga e a ação de arco (Equação 1).<br />
dT dj<br />
V jd + Td<br />
dx dx<br />
= (1)<br />
onde T é a força de tração na armadura, x é o comprimento da viga e j é um valor<br />
adimensional, menor do que 1, que faz reduzir o braço de alavanca de um valor igual a d para<br />
outro menor, igual a jd. Em vigas esbeltas (a/d ≥ 2,5), onde a ação de viga é predominante, 20<br />
a 40% da força cortante é resistida pelo concreto comprimido não fissurado (banzo<br />
comprimido), 33 a 55% pelo engrenamento dos agregados ao longo das superfícies rugosas<br />
do concreto em cada um dos lados da fissura, e 15 a 25% pela ação de pino da armadura<br />
longitudinal de flexão. Esses são os chamados mecanismos resistentes alternativos. De<br />
acordo com LIM & OH (1999), em vigas esbeltas sem estribos e reforçadas com fibras de aço,<br />
o esforço cortante é transmitido por meio das seguintes parcelas: efeito do concreto nãofissurado<br />
da região comprimida (V c ), efeito de engrenamento dos agregados ao longo da<br />
fissura diagonal (V a ), efeito de pino da armadura longitudinal que atravessa esta fissura (V p ) e<br />
componentes verticais da força de arrancamento das fibras ao longo da fissura inclinada (V fib ),<br />
conforme mostra a Figura 1.<br />
Figura 1 - Parcelas do esforço cortante resistido por uma viga de CRFA (LIM & OH, 1999).<br />
2.3 Resistência de lajes à punção<br />
Os diagramas força x deslocamento dos ensaios de lajes submetidas ao<br />
puncionamento normalmente exibem estágios de comportamento, delimitados por mudanças<br />
significativas da inclinação das curvas, conforme mostra a Figura 2.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
82<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
I II<br />
III IV<br />
FORÇA<br />
Pu<br />
P y<br />
P<br />
fiss<br />
O<br />
δ<br />
fiss<br />
δy<br />
δ<br />
u<br />
DESLOCAMENTO<br />
Figura 2 - Comportamento geral de lajes ensaiadas à punção.<br />
O estágio I se refere ao concreto não fissurado, onde a força aplicada é proporcional<br />
ao deslocamento. As deformações da armadura são pequenas. O estágio II começa com a<br />
ocorrência de fissuração, que começa na superfície tracionada da laje, no contorno do pilar. A<br />
rigidez da laje diminui drasticamente. As tensões de tração no concreto são transferidas<br />
rapidamente para a armadura, conforme o carregamento aumenta. Mais fissuras aparecem na<br />
superfície tracionada e se propagam em direção às bordas da laje. As deformações da<br />
armadura aumentam rapidamente e eventualmente podem alcançar o limite de escoamento.<br />
Este estágio termina com a formação de curvaturas acentuadas na laje. No estágio III a rigidez<br />
da laje sofre outra redução devido ao aumento do carregamento. A laje sofre deformações<br />
plásticas elevadas devidas à propagação do escoamento ao longo da armadura de flexão. O<br />
aumento do carregamento só é possível devido à ação de membrana da armadura de flexão.<br />
Perto da carga última, a rigidez da laje diminui rapidamente e as fissuras começam a aparecer<br />
nas superfícies tracionada e comprimida, na direção circunferencial e ao redor da área<br />
carregada. A força concentrada começa a perfurar a laje e, quando as fissuras circunferenciais<br />
se tornam muito abertas, a capacidade portante da laje cai bruscamente. A região IV indica<br />
outra redução da capacidade portante da laje. Essa redução ocorre em várias etapas,<br />
simultaneamente ao lascamento do concreto da região tracionada da laje.<br />
3 MODELO MECÂNICO DE ALEXANDER & SIMMONDS (1991)<br />
ALEXANDER & SIMMONDS (1991) propuseram um modelo simplificado (“Bond<br />
Model”), denominado neste trabalho Modelo Viga-Arco, para punção em lajes sem armadura<br />
de punção. O Modelo Viga-Arco descreve a transferência da força cortante em uma ligação<br />
laje-pilar interno, em termos de dois mecanismos fundamentais de transferência de esforço<br />
cortante: ação de viga e ação de arco. A laje é dividida em faixas radiais e quadrantes (Figura<br />
3) radiais, o esforço cortante é suportado por um arco comprimido, e varia de um valor máximo<br />
na face do pilar a um valor próximo de zero, na interseção do arco com a armadura de flexão<br />
da laje. Portanto, a força é transferida dos quadrantes adjacentes para uma faixa radial por<br />
meio de ação de viga, e da faixa para o pilar por meio de ação de arco.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />
83<br />
Figura 3 - Transferência de esforço cortante em uma ligação laje-pilar interno<br />
(AFHAMI et al., 1998).<br />
De acordo com o Modelo Viga-Arco, a resistência à punção de uma ligação laje-pilar é<br />
limitada pelo momento resistente da faixa radial e pela capacidade da laje de gerar gradiente<br />
de força na armadura de flexão positiva localizada na vizinhança do pilar. Os gradientes de<br />
força na armadura podem ser limitados pela perda de aderência ou pela difusão do<br />
escoamento ao longo do comprimento da barra. Qualquer que seja a causa, a perda do<br />
gradiente de força nas barras localizadas nos quadrantes das lajes reduz sua capacidade de<br />
resistir ao cisalhamento na vizinhança com o pilar. A laje rompe por punção antes da formação<br />
do mecanismo de linhas de escoamento, devido à perda da aderência da armadura localizada<br />
nos quadrantes adjacentes da laje, perpendicularmente às faixas radiais.<br />
Roteiro para aplicação do Modelo Viga-Arco<br />
1) Calcula-se o momento resistente da faixa radial.<br />
⎛ ρ f<br />
2<br />
y ⎞<br />
M = ρ<br />
⎜ −<br />
⎟<br />
s<br />
f<br />
y<br />
c d 1<br />
[kN.cm] (2)<br />
⎝ 1,7 f<br />
c ⎠<br />
2) Calcula-se a resistência ao cisalhamento das faixas radiais pela equação do ACI 318/99.<br />
τ = ( 0,167 f<br />
c<br />
) /10 [kN/cm 2 ] (3)<br />
3) Calcula-se o máximo esforço cortante distribuído linearmente, atuante em cada face lateral<br />
de uma faixa radial, que pode ser transmitido dos quadrantes adjacentes a ela (solução de<br />
limite inferior).<br />
ω = d τ [kN/cm] (4)<br />
4) Calcula-se a resistência à punção da ligação, que é a soma da resistência ao cisalhamento<br />
das quatro faixas radiais.<br />
P 8 M ω [kN] (5)<br />
u<br />
=<br />
s<br />
Na Tabela 1 tem-se a aplicação do Modelo Viga-Arco para algumas lajes sem fibras,<br />
ensaiadas por autores citados na revisão bibliográfica.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
84<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
Tabela 1 -– Aplicação do Modelo Viga-Arco para lajes sem fibras<br />
Autor<br />
f c f y<br />
d P<br />
ρ (%)<br />
u(exp) P u(calc)<br />
(MPa) (MPa) (cm) (kN) (kN)<br />
P u(exp) / P u(calc)<br />
Zambrana Vargas 26,00 602,00 1,73 4,0 80,00 52,69 1,52<br />
Harajli <strong>29</strong>,60 501,00 1,12 3,9 62,53 41,47 1,51<br />
McHarg 30,00 434,00 0,87 12,5 306,00 <strong>29</strong>9,91 1,02<br />
Harajli 31,40 501,00 1,12 5,5 99,36 70,74 1,40<br />
Alexander & Simmonds 35,60 438,00 0,46 10,5 264,00 169,58 1,56<br />
Azevedo 43,73 609,88 1,57 8,0 176,48 155,40 1,14<br />
Theodorakopoulos & Swamy 44,20 535,00 0,63 10,0 173,50 185,24 0,94<br />
Swamy & Ali 45,00 462,00 0,63 10,0 197,70 173,53 1,14<br />
Hughes & Xiao 52,00 558,00 1,00 5,2 89,00 86,48 1,03<br />
Azevedo 86,65 609,88 1,57 8,0 190,72 191,01 1,00<br />
Zambrana Vargas 88,70 602,00 1,73 4,0 88,70 79,03 1,12<br />
Média 1,22<br />
4 PROGRAMA EXPERIMENTAL<br />
4.1 Ensaios-piloto série 1<br />
Para a primeira série de ensaios-piloto optou-se por ensaiar vigas correspondentes a<br />
três lajes ensaiadas por AZEVEDO (1999). As vigas foram ensaiadas à flexão e<br />
dimensionadas para romperem por cisalhamento. Os ensaios das vigas, assim como os das<br />
lajes, foram feitos com deformação controlada, e velocidade igual a 0,005 mm/s. Procurou-se<br />
manter a mesma espessura, altura útil, e taxa de armadura das lajes, e as mesmas dimensões<br />
do pilar utilizado nos ensaios das ligações. O esquema de ensaio está ilustrado na Figura 4.<br />
Figura 4 - Ensaio das Vigas Piloto Série 1.<br />
De acordo com o esperado, para a relação a/d utilizada, a ruína das vigas foi por<br />
tração diagonal, sendo que uma das fissuras se propagou ao longo da alma da viga até ela se<br />
tornar instável devido ao aumento do carregamento e acontecer a ruína. Na Figura 5<br />
apresenta-se a configuração de ruína das vigas. Onde está escrito V1A entenda-se VP1A, e<br />
assim por diante. Nas vigas VP1 o volume percentual de fibras era 0%, nas vigas VP2 era<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />
85<br />
0,75% e nas vigas VP3 era 1,5%. Nas vigas VP3 apareceram fissuras de flexão, que se devem<br />
à presença das fibras em quantidade elevada (1,5%). As armaduras dessas vigas foram mais<br />
solicitadas, quase atingindo o escoamento; entretanto a ruína permaneceu caracterizada por<br />
cisalhamento, havendo a formação da fissura crítica inclinada. Nos modelos sem fibras a<br />
fissura diagonal formou-se em apenas um dos lados da viga, enquanto que em alguns<br />
modelos com fibras, principalmente os com 1,5%, houve a formação de fissura diagonal nos<br />
dois lados da viga.<br />
Figura 5 - Configuração de ruína das Vigas Piloto Série 1.<br />
Na Figura 6 apresenta-se o gráfico da força aplicada versus o deslocamento do ponto central,<br />
de onde se verifica o ganho de resistência e ductilidade proporcionado pela adição das fibras<br />
de aço ao concreto.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
86<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
Força (kN)<br />
55<br />
50<br />
45<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
VP1A<br />
VP1B<br />
VP2A<br />
VP2B<br />
VP3A<br />
VP3B<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12<br />
Deslocamento (mm)<br />
Figura 6 - Gráfico Força x Deslocamento das Vigas Piloto Série 1.<br />
A quantificação do ganho de resistência tanto para as vigas, como para as lajes, pode<br />
ser encontrada no gráfico da Figura 7.<br />
250<br />
200<br />
176,48<br />
191,96<br />
197,61<br />
Resistência<br />
150<br />
100<br />
Vigas<br />
Lajes<br />
50<br />
27,72<br />
40,44<br />
45,78<br />
0<br />
0 0,75 1,5<br />
V f (%)<br />
Figura 7 - Gráfico Resistência média x Volume de fibras para Lajes e Vigas Piloto Série 1.<br />
Plotando em um gráfico (Figura 8) a resistência média das vigas versus a resistência<br />
das lajes, verifica-se que a linha de tendência é do tipo linear, e o coeficiente de correlação é<br />
bem próximo da unidade.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />
87<br />
Pu (kN)<br />
200<br />
195<br />
190<br />
185<br />
180<br />
y = 1,1785x + 143,92<br />
R 2 = 0,9991<br />
Experimental<br />
Linear<br />
175<br />
20 25 30 35 40 45 50<br />
F u (kN)<br />
Figura 8 - Gráfico Resistência das Lajes x Resistência média das Vigas Piloto Série 1.<br />
4.2 Ensaios-piloto série 2<br />
Para a segunda série de ensaios-piloto, optou-se por ensaiar vigas curtas<br />
correspondentes às mesmas três lajes ensaiadas por AZEVEDO (1999). Os ensaios das vigas,<br />
assim como os das lajes, foram feitos com deformação controlada, e velocidade igual a<br />
0,005 mm/s. Procurou-se manter a mesma espessura, altura útil, e taxa de armadura das lajes,<br />
e as mesmas dimensões do pilar utilizado nos ensaios das ligações. O esquema de ensaio<br />
está ilustrado na Figura 9.<br />
Figura 9 - Ensaio das Vigas Piloto Série 2.<br />
Na Figura 10 apresenta-se a configuração de ruína das vigas curtas. Nessas vigas a<br />
ação do efeito arco foi predominante.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
88<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
Figura 10 - Configuração de ruína das Vigas Piloto Série 2.<br />
Na Figura 11 apresenta-se o gráfico da força aplicada versus o deslocamento do<br />
ponto central, de onde se observa que praticamente não houve ganho de resistência nem de<br />
ductilidade devido à adição das fibras de aço ao concreto.<br />
Força (kN)<br />
65<br />
60<br />
55<br />
50<br />
45<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
VP4A<br />
VP4B<br />
VP5A<br />
VP5B<br />
VP6A<br />
VP6B<br />
0 2 4 6 8 10<br />
Deslocamento (mm)<br />
Figura 11 - Gráfico Força x Deslocamento das Vigas Piloto Série 2.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />
89<br />
No gráfico da Figura 12 foram plotados os valores de resistência ao cisalhamento de<br />
todas as vigas dos ensaios-piloto e de resistência à punção das lajes de referência. A<br />
similaridade de comportamento existente entre as lajes e as vigas da Série 1 não se<br />
manifestou entre as lajes e as vigas de Série 2.<br />
250<br />
Resistência<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
191,96<br />
197,61<br />
176,48<br />
Lajes<br />
Vigas S1<br />
Vigas S2<br />
54,26<br />
50,32<br />
56,68<br />
28,27<br />
40,92<br />
46,63<br />
0 0,75 1,5<br />
V f (%)<br />
Figura 12 - Gráfico Resistência média x Volume de fibras para Lajes e Vigas Piloto Série 2.<br />
4.3 Planejamento dos ensaios<br />
Os modelos de lajes eram quadrados de lados de 116 cm e possuíam espessura de<br />
10 cm. Na Figuras 13 e 14 encontram-se os detalhamentos das armaduras dos modelos de<br />
lajes.<br />
Armadura superior<br />
Armadura inferior<br />
9 Ø 5,0mm<br />
17 Ø 10,0mm<br />
9 Ø 5,0mm<br />
20 Ø 10,0mm<br />
Figura 13 - Detalhamento das armaduras dos modelos de laje.<br />
Os modelos foram moldados na posição invertida, para facilitar o posicionamento da<br />
armadura de flexão, garantindo-se o cobrimento definido no projeto.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
90<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
20Ø10mm<br />
10<br />
116<br />
2,3 5,6<br />
13,8<br />
1 1<br />
1,5<br />
9Ø5mm<br />
113<br />
9<br />
7,5 1,5<br />
1,5 110 1,5<br />
Ø 10mm - 128 cm<br />
Ø 5mm - 111 cm<br />
17Ø10mm<br />
116<br />
7<br />
10<br />
13,8<br />
1 1<br />
1,5<br />
9Ø5mm<br />
113<br />
1,5<br />
1,5<br />
110<br />
1,5<br />
8<br />
6,5<br />
Ø 10mm - 126 cm<br />
Ø 5mm - 111 cm<br />
Figura 14 - Detalhamento das armaduras dos modelos de laje na posição da concretagem.<br />
Na Figura 15 encontra-se o esquema do sistema de ensaio dos modelos de ligação<br />
laje-pilar. Os ensaios foram feitos com deformação controlada, com a velocidade de<br />
deslocamento do pistão de 0,005 mm/s. O pilar foi simulado por uma chapa de aço de<br />
dimensões em planta de 8 x 8 cm, conforme procedimento utilizado por AZEVEDO (1999).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />
91<br />
Atuador<br />
servo-hidráulico<br />
Viga " I" metálica<br />
Célula de<br />
carga<br />
Chapa<br />
Chapa de<br />
apoio<br />
Laje<br />
Bloco de<br />
concreto<br />
Figura 15 - Sistema de ensaio dos modelos de ligação laje-pilar.<br />
Na Figura 16 tem-se o esquema de instrumentação dos modelos de ligação laje-pilar.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
92<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
Armadura inferior<br />
Armadura superior<br />
17 Ø 10,0mm<br />
1 2 3<br />
5<br />
6<br />
4<br />
7 8<br />
9 Ø 5,0mm<br />
13<br />
14<br />
15<br />
9 10 11<br />
16<br />
12<br />
20 Ø 10,0mm<br />
9 Ø 5,0mm<br />
23<br />
24<br />
22<br />
Legenda:<br />
17<br />
25<br />
21<br />
transdutor de deslocamento superior<br />
fundo de escala = 50 mm<br />
transdutor de deslocamento inferior<br />
18<br />
20<br />
fundo de escala = 100 mm<br />
19<br />
1160 mm<br />
170<br />
205<br />
115<br />
130<br />
55<br />
65<br />
1160 mm<br />
165<br />
100<br />
30<br />
5<br />
6<br />
7<br />
1 2<br />
3<br />
4<br />
8<br />
215<br />
145<br />
75<br />
9 10 11<br />
13<br />
14<br />
15<br />
16<br />
12<br />
80<br />
80<br />
Figura 16 - Esquema de instrumentação dos modelos de ligação laje-pilar.<br />
Na Figura 17 encontram-se o detalhamento e a instrumentação das armaduras dos<br />
modelos de vigas da Série 1, na posição da concretagem (invertida).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />
93<br />
10<br />
2,3<br />
60<br />
1 1<br />
1,5<br />
10<br />
1<br />
1<br />
12<br />
9<br />
1<br />
2Ø5mm<br />
57<br />
28,5<br />
10,5<br />
2 6<br />
1<br />
5<br />
4<br />
3<br />
10<br />
9<br />
Ø 10mm<br />
Ø5mm<br />
Ø 5mm<br />
Ø5mm<br />
7<br />
11<br />
8 12<br />
9<br />
10<br />
10<br />
Figura 17 - Detalhamento e instrumentação das armaduras da vigas da Série1.<br />
Na Figura 18 encontram-se o detalhamento das armaduras e a instrumentação do aço<br />
dos modelos das vigas das Séries 2 e 4, na posição da concretagem. Na Série 2 em diante,<br />
passou-se a não mais instrumentar os pontos 7 a 10 da armadura comprimida, substituindo-os<br />
por rosetas coladas ao concreto.<br />
10<br />
2,3<br />
60<br />
1 1<br />
1,5<br />
10<br />
1<br />
1<br />
12<br />
9<br />
1<br />
2Ø5mm<br />
9<br />
57<br />
28,5<br />
10,5 10,5<br />
2 6 4<br />
Ø 10mm<br />
1 5<br />
Ø 5mm<br />
3<br />
Ø 10mm<br />
10<br />
Ø5mm<br />
Ø5mm<br />
10<br />
Ø 5mm<br />
Figura 18 - Detalhamento e instrumentação das armaduras da vigas das Séries 2 e 4.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
94<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
Na Série 5 há uma pequena diferença na largura das vigas em relação ao desenho<br />
mostrado na Figura 4.14. Nessa série, a largura das vigas passa a ser 11 cm, pois precisavase<br />
obter taxa de armadura de flexão semelhante a utilizada por ZAMBRANA VARGAS (1997).<br />
Além disso, a instrumentação das barras longitudinais resume-se apenas aos pontos centrais<br />
(5 e 6) e o concreto não foi instrumentado.<br />
Na Figura 19 encontram-se o detalhamento das armaduras e a instrumentação do aço<br />
dos modelos das vigas da Série 3, na posição da concretagem.<br />
17<br />
2,3<br />
110<br />
1 1<br />
1<br />
13<br />
2<br />
17<br />
1<br />
1<br />
1<br />
2Ø5mm<br />
108<br />
1<br />
49<br />
5<br />
5 11<br />
16<br />
Ø 10mm<br />
Ø 5mm<br />
2 7<br />
Ø 10mm<br />
Ø5mm<br />
Ø5mm<br />
11<br />
Ø 5mm<br />
8<br />
3<br />
Ø 10mm<br />
Ø 5mm<br />
6 4<br />
Ø 10mm<br />
Ø 5mm<br />
Figura 19 - Detalhamento e instrumentação das armaduras da vigas da Série 3.<br />
Nas Figuras 20 e 21 encontram-se a instrumentação do concreto, por meio de rosetas<br />
coladas em uma das faces da viga, e o esquema da aplicação do carregamento.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />
95<br />
F<br />
14,75<br />
10<br />
9<br />
8<br />
7<br />
45°<br />
12 11<br />
10<br />
1,25<br />
20,25 8 20,25<br />
1,25<br />
4,5<br />
60<br />
4,5<br />
Figura 20 - Instrumentação com rosetas do concreto das vigas das Séries 2 e 4.<br />
F<br />
27,25<br />
17<br />
11 10<br />
9<br />
45°<br />
14 13<br />
12<br />
1,25 45,25<br />
8 45,25<br />
1,25<br />
4,5<br />
110<br />
4,5<br />
Figura 21 - Instrumentação com rosetas do concreto das vigas da Série 3.<br />
Na Tabela 2 encontra-se detalhado o programa experimental.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
96<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
Tabela 2 - Programa de ensaios<br />
Modelos<br />
h d<br />
Série<br />
(cm) (cm)<br />
Viga Laje<br />
c<br />
(cm)<br />
ρ<br />
(%)<br />
fc14<br />
(MPa)<br />
Tipo de<br />
fibra<br />
Vf<br />
(%)<br />
V1A<br />
V1B<br />
L1 10 8,5 8 1,57 25 -- 0<br />
S1<br />
V2A<br />
ZP-305<br />
L2 10 8,5 8 1,57 25<br />
V2B<br />
DRAMIX<br />
1<br />
V3A<br />
ZP-305<br />
L3 10 8,5 8 1,57 25<br />
V3B<br />
DRAMIX<br />
2<br />
V4A<br />
V4B<br />
L4 10 8,5 8 1,57 60 -- 0<br />
S2<br />
V5A<br />
ZP-305<br />
L5 10 8,5 8 1,57 60<br />
V5B<br />
DRAMIX<br />
1<br />
V6A<br />
ZP-305<br />
L6 10 8,5 8 1,57 60<br />
V6B<br />
DRAMIX<br />
2<br />
V7A<br />
V7B<br />
-- 17 15,5 8 1,59 60 -- 0<br />
S3<br />
V8A<br />
ZP-305<br />
-- 17 15,5 8 1,59 60<br />
V8B<br />
DRAMIX<br />
1<br />
V9A<br />
ZP-305<br />
-- 17 15,5 8 1,59 60<br />
V9B<br />
DRAMIX<br />
2<br />
S4<br />
V10A<br />
RL 45/50 BN<br />
L7 10 8,5 8 1,57 40(1)<br />
V10B<br />
DRAMIX<br />
0,75<br />
V11A<br />
RL 45/50 BN<br />
L8 10 8,5 8 1,57 40(1)<br />
V11B<br />
DRAMIX<br />
1,5<br />
V12A<br />
V12B<br />
-- 10 8,5 8 1,71 85(2) -- 0<br />
S5<br />
V13A<br />
HSCF-25<br />
-- 10 8,5 8 1,71 85(2)<br />
V13B<br />
HAREX<br />
0,75<br />
V14A<br />
HSCF-25<br />
-- 10 8,5 8 1,71 85(2)<br />
V14B<br />
HAREX<br />
1,5<br />
(1)<br />
traço utilizado por AZEVEDO (1999)<br />
(2)<br />
traço utilizado por ZAMBRANA VARGAS (1997)<br />
Variáveis<br />
estudadas<br />
fc<br />
Vf<br />
fc<br />
Vf<br />
d<br />
tipo de fibra<br />
fc<br />
d<br />
tipo de fibra<br />
área<br />
carregada<br />
Na Tabela 3 encontram-se as características das fibras utilizadas neste trabalho.<br />
Tabela 3 - Características das fibras utilizadas<br />
Fibra seção l (mm) D (mm) l/D f y (MPa)<br />
ZP-305<br />
DRAMIX<br />
circular 30 0,55 54,5 1150<br />
RL 45/50 BN<br />
DRAMIX<br />
circular 50 1,05 48 1000<br />
HSCF-25<br />
HAREX<br />
retangular 25(*) 0,667(*) 37,45(*) 770<br />
( * ) valores nominais<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />
97<br />
5 RESULTADOS EXPERIMENTAIS<br />
Na Figuras 22 a 24 apresentam-se fotografias do sistema de ensaio das ligações laje-pilar e<br />
das vigas.<br />
Figura 22 - Sistema de ensaio das ligações laje-pilar.<br />
Figura 23 - Sistema de ensaio das vigas de altura menor.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
98<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
Figura 24 - Sistema de ensaio das vigas de altura maior.<br />
Nas Tabelas 4 a 7 encontram-se os traços dos concretos utilizados em todas as séries.<br />
Tabela 4 - Traço do concreto dos modelos<br />
da Série 1<br />
Traço 1:1,94:2,06:0,65<br />
Tabela 5 - Traço do concreto dos modelos<br />
de S2 e S3<br />
Traço 1:0,76:1,24:0,34<br />
Materiais<br />
Consumo (kg/m 3 )<br />
L1<br />
V1A,<br />
V1B<br />
L2<br />
V2A,<br />
V2B<br />
L3<br />
V3A,<br />
V3B<br />
Cimento Ribeirão<br />
CP II-E-32<br />
424,77 424,77 424,77<br />
Areia 824,05 824,05 824,05<br />
Pedrisco<br />
(φ max =6,3 mm)<br />
875,03 875,03 875,03<br />
Água 276,10 276,10 276,10<br />
Aditivo<br />
Superplastificante<br />
REAX 3000<br />
(γ = 1,16 kg/m 3 )<br />
-- 0,66% 0,99%<br />
Fibra ZP-305<br />
DRAMIX<br />
Materiais<br />
L4<br />
V4A/B<br />
V7A/B<br />
Consumo (kg/m 3 )<br />
L5<br />
V5A/B<br />
V8A/B<br />
L6<br />
V6A/B<br />
V9A/B<br />
Cimento Ribeirão<br />
CP II-E-32<br />
718,56 718,56 718,56<br />
Areia 546,11 546,11 546,11<br />
Pedrisco<br />
(φ max =6,3 mm)<br />
891,01 891,01 891,01<br />
Água 244,31 244,31 244,31<br />
Aditivo<br />
Superplastificante<br />
REAX 3000<br />
(γ = 1,16 kg/m 3 )<br />
1% 1,7% 2%<br />
Fibra ZP-305<br />
DRAMIX<br />
l = 30 mm<br />
D = 0,55 mm<br />
l / D = 54,5<br />
f y = 1150 MPa<br />
-- 78,5 157<br />
l = 30 mm<br />
D = 0,55 mm<br />
l / D = 54,5<br />
f y = 1150 MPa<br />
-- 78,5 157<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />
99<br />
Tabela 6 - Traço do concreto dos modelos da<br />
Série 4<br />
Traço 1:1,8:2,5:0,5<br />
Tabela 7 - Traço do concreto dos modelos da<br />
Série 5<br />
Traço 1:0,1:1,33:2,33:0,34<br />
Materiais<br />
Cimento Ribeirão<br />
CP II-E-32<br />
Consumo (kg/m3)<br />
L7<br />
V10A,<br />
V10B<br />
L8<br />
V11A,<br />
V11B<br />
423,15 423,15<br />
Areia 760,56 760,56<br />
Brita 1<br />
(φmax=19 mm)<br />
1056,30 1056,30<br />
Água 211,30 211,30<br />
Aditivo<br />
Superplastificante<br />
REAX 3000<br />
(γ = 1,16 kg/m3)<br />
Fibra RL 45/50 BN<br />
DRAMIX<br />
0,5% 1%<br />
Materiais<br />
V12A,<br />
V12B<br />
Consumo (kg/m 3 )<br />
V13A,<br />
V13B<br />
V14A,<br />
V14B<br />
Cimento Ciminas<br />
CP V-ARI PLUS<br />
470,59 470,59 470,59<br />
Microssílica<br />
SILMIX<br />
47,06 47,06 47,06<br />
Areia 625,88 625,88 625,88<br />
Brita 1<br />
(φ max =19 mm)<br />
1096,47 1096,47 1096,47<br />
Água 160,00 160,00 160,00<br />
Aditivo<br />
Superplastificante<br />
REAX 3000<br />
(γ = 1,16 kg/m 3 )<br />
-- 3% 3%<br />
Fibra HSCF-25<br />
HAREX<br />
l = 50 mm<br />
D = 1,05 mm<br />
l / D = 48<br />
fy = 1000 MPa<br />
59,85 119,70<br />
l = 25 mm<br />
D = 0,667 mm<br />
l / D = 37,48<br />
f y = 770 MPa<br />
-- 59,85 119,70<br />
Nas Tabelas 8 e 9 apresentam-se os dados e resultados principais de todas as séries de<br />
ensaios.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
100<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
Tabela 8 – Dados e resultados principais de todos os modelos<br />
Modelos de lajes<br />
Modelos de vigas<br />
Série h d ρ f Laje<br />
c Tipo de<br />
(cm) (cm) (%) (MPa) fibra<br />
l/D<br />
V f P u<br />
b h d ρ f<br />
Viga<br />
c Tipo de<br />
(%) (kN) (cm) (cm) (cm) (%) (MPa) fibra<br />
l/D<br />
V f F u<br />
(%) (kN)<br />
L1 10 8 1,57 23,13 -- -- 0 137,20 V1A<br />
V1B 12 10 8,5 1,57 23,13 -- -- 0 24,86<br />
<strong>29</strong>,65<br />
ZP-305<br />
S1<br />
S2<br />
S3<br />
L2 10 8 1,57 24,40<br />
L3 10 8 1,57 28,06<br />
DRAMIX<br />
ZP-305<br />
DRAMIX<br />
54,5 1 139,55<br />
V2A<br />
V2B 12 10 8,5 1,57 24,40 ZP-305<br />
DRAMIX 54,5 1 43,65<br />
47,17<br />
54,5 2 163,62<br />
V3A<br />
V3B 12 10 8,5 1,57 28,06 ZP-305<br />
DRAMIX 54,5 2 55,14<br />
51,05<br />
L4 10 8 1,57 56,98 -- -- 0 192,86 V4A<br />
V4B 12 10 8,5 1,57 56,98 -- -- 0 36,26<br />
36,35<br />
ZP-305<br />
L5 10 8 1,57 59,72<br />
L6 10 8 1,57 52,38<br />
--<br />
--<br />
--<br />
DRAMIX<br />
ZP-305<br />
DRAMIX<br />
54,5 1 215,14<br />
V5A<br />
V5B 12 10 8,5 1,57 59,72 ZP-305<br />
DRAMIX 54,5 1 72,78<br />
66,60<br />
V6A<br />
54,5 2 236,17<br />
V6B 12 10 8,5 1,57 52,38 ZP-305<br />
DRAMIX 54,5 2 57,17<br />
53,85<br />
V7A<br />
V7B 13 17 15,5 1,59 56,98 -- -- 0 54,82<br />
46,44<br />
V8A<br />
V8B 13 17 15,5 1,59 59,72 ZP-305<br />
DRAMIX 54,5 1 68,32<br />
80,06<br />
V9A<br />
V9B 13 17 15,5 1,59 52,38 ZP-305<br />
DRAMIX 54,5 2 81,17<br />
104,93<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7. n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras...<br />
101<br />
Tabela 9 (continuação) – Dados e resultados principais de todos os modelos<br />
Modelos de lajes<br />
Série<br />
h d ρ f<br />
Laje<br />
c Tipo de V f P u<br />
(cm) (cm) (%) (MPa) fibra<br />
l/D<br />
Viga<br />
(%) (Kn)<br />
OSC.S1 10 8 1,57 43,73 -- -- 0 176,48 VP1A<br />
VP1B<br />
S4<br />
RL 45/50<br />
L7 10 8 1,57 36,55 48 0,75 182,85 V10A<br />
BN<br />
V10B<br />
RL 45/50<br />
L8 10 8 1,57 46,08 48 1,50 210,90 V11A<br />
BN<br />
V11B<br />
V12A<br />
L07 6 4 1,73 88,7 -- -- 0 101<br />
V12B<br />
S5<br />
HSCF-25<br />
V13A<br />
L08 6 4 1,73 79,0<br />
37,48 0,75 112<br />
HAREX<br />
V13B<br />
HSCF-25<br />
V14A<br />
L09 6 4 1,73 93,0<br />
37,48 1,50 136<br />
HAREX<br />
V14B<br />
b<br />
(cm)<br />
h<br />
(cm)<br />
d<br />
(cm)<br />
Modelos de vigas<br />
f c<br />
(Mpa)<br />
ρ<br />
(%)<br />
Tipo de<br />
fibra<br />
l/D<br />
V f<br />
(%)<br />
12 10 8,0 1,67 36,08 -- -- 0<br />
12 10 8,5 1,57 36,55<br />
12 10 8,5 1,57 46,08<br />
RL 45/50<br />
BN<br />
RL 45/50<br />
BN<br />
11 10 8,5 1,71 75,27 -- -- 0<br />
11 10 8,5 1,71 73,50<br />
11 10 8,5 1,71 73,10<br />
HSCF-25<br />
HAREX<br />
HSCF-25<br />
HAREX<br />
F u<br />
(kN)<br />
28,42<br />
27,01<br />
48 0,75 42,71<br />
38,99<br />
48 1,50 49,99<br />
61,79<br />
46,39<br />
50,80<br />
37,48 0,75 62,64<br />
51,43<br />
37,48 1,50 67,50<br />
55,09<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
102<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
Na maioria dos casos detectaram-se similaridades de comportamento estrutural entre<br />
lajes e vigas análogas. Em alguns puderam ser obtidas correlações numéricas entre as<br />
resistências dos dois elementos, conforme pode ser visto nas Figuras 25 a 27.<br />
35<br />
32,63<br />
30<br />
25,55<br />
27,84<br />
Resistência normalizada<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
6,71<br />
9,60<br />
Lajes S2<br />
Vigas S3<br />
12,85<br />
5<br />
0<br />
0 1 2<br />
V f<br />
(%)<br />
Figura 1 - Gráfico Resistência normalizada x Volume de fibras para lajes e vigas de S2 e S3.<br />
35<br />
30,24<br />
31,07<br />
30<br />
26,69<br />
Resistência normalizada<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
4,61<br />
6,76<br />
Lajes S4<br />
Vigas S4<br />
8,23<br />
5<br />
0<br />
0 0,75 1,5<br />
V f (%)<br />
Figura 2 - Gráfico Resistência normalizada x Volume de fibras para lajes e vigas de S4.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7. n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras... 103<br />
16<br />
14<br />
12,60<br />
14,10<br />
Resistência normalizada<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
10,72<br />
5,60<br />
6,65<br />
7,17<br />
Lajes S5<br />
2<br />
Vigas S5<br />
0<br />
0 0,75 1,5<br />
V f (%)<br />
Figura 3 - Gráfico Resistência normalizada x Volume de fibras para lajes e vigas de S5.<br />
6 ANÁLISES TEÓRICAS<br />
6.1 Análise global das lajes<br />
A resistência do concreto à compressão pode ser relacionada com sua resistência à<br />
tração por compressão diametral, segundo o ACI 318 (1999), como mostra a Equação 6.<br />
f<br />
sp<br />
= 0,5563 f c<br />
(6)<br />
sendo f c a resistência do concreto à compressão axial e f sp a resistência do concreto à tração<br />
por compressão diametral, ambas em [MPa].<br />
Para relacionar a resistência à tração por compressão diametral com a resistência à<br />
compressão, no caso de concreto com fibras, efetuou-se uma regressão linear (Figura 28) dos<br />
resultados experimentais das lajes estudadas. Obteve-se a Equação 7, que relaciona a<br />
resistência média à tração com a resistência média à compressão e com o volume percentual<br />
de fibras (V f ). Para essa equação assumiu-se uma forma similar à Equação 6.<br />
f = (0,19 V + 0,53) f<br />
(7)<br />
sp<br />
f<br />
c<br />
sendo f sp e f c dados em [MPa] e V f em [%].<br />
O ACI 318 (1999) fornece a seguinte equação para determinação da resistência à punção de<br />
lajes sem armadura de punção e pilares de seção quadrada:<br />
P = u<br />
(0,3321 f<br />
c<br />
b<br />
od)<br />
/10<br />
(8)<br />
onde:<br />
f c → resistência do concreto à compressão axial;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
104<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
b o = 4(c+d) → perímetro onde ocorre a punção;<br />
d → altura útil da laje;<br />
c → largura do pilar;<br />
sendo f c em [MPa]; b o , d em [cm].<br />
Para levar em conta o efeito da adição de fibras de aço, introduz-se na Equação 8 o<br />
valor de f sp obtido na Equação 7, de modo a se obter uma equação modificada do ACI<br />
318 (1999). Nesta operação, são efetuadas as devidas adaptações para que não sejam<br />
alterados os fatores de ajuste e de ponderação da segurança, que se encontram embutidos no<br />
coeficiente 0,3321 da Equação 8. Desta forma, considerando um volume percentual de fibras<br />
(V f ) igual a zero, a Equação 9 torna-se igual à Equação 8.<br />
P<br />
0,3321<br />
= [ (0,19 Vf<br />
+ 0,53) fcbod] /10 = [ 0,6266 (0,19 Vf<br />
0,53) fcbod] /10 (9)<br />
0,53<br />
u<br />
+<br />
sendo f c em [MPa]; b o , d em [cm] e V f em [%].<br />
1,0<br />
0,8<br />
y = 0,1903x + 0,5255<br />
R 2 = 0,9089<br />
fsp / Raiz (fc)<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0,0<br />
Valores experimentais<br />
Regressão linear<br />
0 0,5 1 1,5 2 2,5<br />
V f (%)<br />
Figura 4 - Relação entre a resistência do concreto à tração por compressão diametral e<br />
o volume de fibras de aço das lajes.<br />
No gráfico da Figura 7, a Equação 9 foi testada para os dados experimentais obtidos<br />
nesta pesquisa (inclusive as lajes L2 e L3), juntamente com alguns de ZAMBRANA VARGAS<br />
(1997) e de AZEVEDO (1999), utilizados como referência. No gráfico observa-se que a<br />
Equação 9 oferece resposta razoável às tendências experimentais, à medida que se aumenta<br />
o volume de fibras adicionado.<br />
No entanto, como a regressão linear sobre os dados experimentais resulta em uma<br />
reta que se aproxima da ordenada unitária, o nível de segurança que havia nas lajes sem<br />
fibras não é mantido. Portanto, considerando os dados particulares desta análise, um<br />
coeficiente empírico da ordem de 0,3102 deve ser aplicado para reduzir o efeito de V f na<br />
Equação 9. Resulta então a Equação 10, denominada “Equação do ACI 318 Modificada”<br />
(Figura <strong>29</strong>).<br />
P = 0,6266 (0,19×<br />
0,3102 V + 0,53) f b d = 0,6266 (0,06 V 0,53) f b d (10)<br />
u f<br />
c o<br />
f<br />
+<br />
c<br />
o<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7. n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras... 105<br />
Em HOLANDA & HANAI (2002) determinou-se uma equação semelhante a esta<br />
(Equação 11), a partir de um maior número de resultados experimentais, encontrados na<br />
revisão bibliográfica pertencente ao Capítulo 2 desta tese.<br />
P<br />
= 0,65 (0,08 V 0,51) f b d<br />
(11)<br />
u f<br />
+<br />
c<br />
o<br />
2,5<br />
2<br />
Pu (exp) / Pu (calc)<br />
1,5<br />
1<br />
0,5<br />
0<br />
ACI 318 (1999)<br />
Equação 6.4<br />
ACI 318 Modificada (Eq. 6.5)<br />
0 0,5 1 1,5 2 2,5<br />
V f (%)<br />
Figura 5 - Aferição da Equação do ACI 318 Modificada para lajes<br />
(dados das lajes L2 e L3 eliminados).<br />
6.2 Análise global das vigas<br />
Para relacionar a resistência à tração por compressão diametral com a resistência à<br />
compressão, no caso de concreto com fibras, efetuou-se uma regressão linear dos resultados<br />
experimentais das vigas ensaiadas nesta pesquisa. Obteve-se a Equação 12, que relaciona a<br />
resistência média à tração com a resistência média à compressão e com o volume percentual<br />
de fibras (V f ). Para essa equação assumiu-se uma forma similar à Equação 6.<br />
f = (0,15 V + 0,51) f<br />
(12)<br />
sp<br />
f<br />
c<br />
sendo f sp , f c em [MPa] e V f em [%].<br />
O ACI 318 (1999) fornece a seguinte equação para determinação do esforço cortante<br />
último de vigas sem estribos:<br />
V = u<br />
(0,166 f<br />
c<br />
b d) /10<br />
(13)<br />
onde:<br />
f c → resistência do concreto à compressão axial;<br />
d → altura útil da laje;<br />
b → largura da viga;<br />
sendo f c em [MPa]; b, d em [cm].<br />
Para levar em conta o efeito da adição de fibras de aço, introduz-se na Equação 13 o<br />
valor de f sp obtido na Equação 12, de modo a se obter uma equação modificada do ACI<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
106<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
318 (1999). Nessa operação são efetuadas as devidas adaptações para que não sejam<br />
alterados os fatores de ajuste e de ponderação da segurança, que se encontram embutidos no<br />
coeficiente 0,166 da Equação 13:<br />
V<br />
0,166<br />
= [ (0,15 Vf<br />
+ 0,51) fc<br />
b d]/10 = [0,3255 (0,15 Vf<br />
0,51) fc<br />
b d] /10 (14)<br />
0,51<br />
u<br />
+<br />
sendo f c em [MPa]; b, d em [cm] e V f em [%].<br />
As resistências ao cisalhamento das vigas, obtidas utilizando-se a Equação 14,<br />
apresentam correlações razoáveis com os resultados experimentais, conforme mostra o<br />
gráfico da Figura 30. Neste gráfico a Equação do ACI Modificada (Equação 14) foi aplicada a<br />
todas as vigas ensaiadas nesta pesquisa. Observa-se que a equação testada oferece resposta<br />
razoável às tendências experimentais, pois a regressão linear resulta numa reta quase<br />
paralela ao eixo das abscissas, com valores em geral a favor da segurança.<br />
2,5<br />
2<br />
Fu (exp) / F u (calc)<br />
1,5<br />
1<br />
0,5<br />
0<br />
ACI 318 Modificada<br />
Regressão linear<br />
0 0,5 1 1,5 2 2,5<br />
V f (%)<br />
Figura 6 - Aferição da Equação do ACI 318 Modificada para vigas.<br />
6.3 Modelo viga-arco modificado<br />
Neste item pretende-se contribuir com o aperfeiçoamento de um modelo mecânico<br />
existente que explica a transferência de força na ligação laje-pilar, o “Bond Model” de<br />
ALEXANDER & SIMMONDS (1991), incluindo a parcela de contribuição das fibras de aço<br />
adicionadas ao concreto. A partir da investigação experimental, concluiu-se que contribuição<br />
das fibras deve ser colocada na parcela proveniente da ação de viga, que ocorre na direção<br />
perpendicular às faixas radiais.<br />
ALEXANDER & SIMMONDS (1991) sugerem que se determine a tensão tangencial<br />
transmitida dos quadrantes para as faixas radiais, por ação de viga, por meio de equações<br />
normativas de resistência de vigas ao cisalhamento (uma única direção). Os autores<br />
recomendam a utilização da equação do ACI 318 (1999), para o cálculo da resistência ao<br />
cisalhamento das faixas radiais:<br />
τ = ( 0,166 f<br />
c<br />
) /10<br />
(15)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7. n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras... 107<br />
sendo f c dado em [MPa].<br />
Para levar em conta o efeito da adição de fibras de aço, introduz-se na Equação 15 o<br />
valor de f sp obtido na Equação 12, de modo a se obter uma equação modificada do ACI<br />
318 (1999). Nessa operação são efetuadas as devidas adaptações para que não sejam<br />
alterados os fatores de ajuste e de ponderação da segurança, que se encontram embutidos no<br />
coeficiente 0,166 da Equação 15:<br />
0,166<br />
τ = [ (0,15 Vf + 0,51) fc<br />
]/10 = [0,3255 (0,15 Vf<br />
+ 0,51) fc<br />
] /10<br />
(16)<br />
0,51<br />
sendo f c dado em [MPa] e V f em [%].<br />
O esforço cortante atuante nas vigas, agora obtido teoricamente por intermédio da<br />
Equação 16, é considerado como sendo o esforço cortante que os quadrantes de laje<br />
transferem às faixas radiais por meio de ação de viga. Isto pode ser admitido porque lajes e<br />
vigas possuem as mesmas características (altura útil, taxa de armadura, resistência do<br />
concreto à compressão, taxa de fibras etc.) e foi verificado experimentalmente que nas vigas<br />
ocorreu de fato ação de viga.<br />
Roteiro para aplicação do Modelo Viga-Arco Modificado<br />
1) Calcula-se o momento resistente da faixa radial.<br />
⎛ ρ f<br />
2<br />
y ⎞<br />
M ⎜ ⎟<br />
s<br />
= ρ f<br />
y<br />
c d<br />
1−<br />
[kN.cm] (17)<br />
⎝ 1,7 f<br />
c ⎠<br />
2) Calcula-se a resistência ao cisalhamento das faixas radiais pela equação do ACI 318<br />
Modificada.<br />
τ = 0,3255 (0,15 V 0,51) f ] /10 [kN/cm 2 ] (18)<br />
[<br />
f<br />
+<br />
c<br />
3) Calcula-se o máximo esforço cortante distribuído linearmente, atuante em cada face lateral<br />
de uma faixa radial, que pode ser transmitido dos quadrantes adjacentes a ela (solução de<br />
limite inferior).<br />
ω = d τ [kN/cm] (19)<br />
4) Calcula-se a resistência da ligação à punção, que é a soma da resistência ao cisalhamento<br />
das quatro faixas radiais.<br />
P 8 M ω [kN] (20)<br />
u<br />
=<br />
s<br />
Substituindo a Equação 18 na 19, e depois substituindo as Equações 17 e 19 na<br />
Equação 20, tem-se:<br />
P<br />
f<br />
y<br />
f<br />
2<br />
⎛ ρ<br />
y ⎞<br />
= 8 ρ c d ⎜1<br />
⎟ ⋅ d ⋅[0,3255(0,15 Vf<br />
0,51) f<br />
c<br />
] /10<br />
10<br />
−<br />
(21)<br />
1,7 f<br />
⎝<br />
c ⎠<br />
u<br />
+<br />
sendo f y e f c dados em [MPa], c e d em [cm], V f em [%] e ρ adimensional.<br />
Simplificando a Equação 21 obtém-se a seguinte expressão para o cálculo da carga<br />
de ruína à punção pelo Modelo Viga-Arco Modificado:<br />
P<br />
u<br />
'<br />
( 170−ω<br />
) kf<br />
'<br />
= 0,0035d c d fc<br />
ω<br />
(22)<br />
onde:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
108<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
ρ f<br />
' y<br />
ω =<br />
(23)<br />
f<br />
c<br />
k = (0,15V + 0,51) f<br />
(24)<br />
f<br />
f<br />
c<br />
sendo f y e f c dados em [MPa], c e d dados em [cm], ρ e V f dados em [%].<br />
No gráfico da Figura 31, o Modelo Viga-Arco Modificado foi aplicado a todos os<br />
resultados experimentais encontrados na revisão bibliográfica, mais os resultados obtidos<br />
nesta pesquisa. No gráfico observa-se que a dispersão dos resultados experimentais em<br />
relação à reta de regressão linear é muito pequena. Verifica-se que, para um volume de fibras<br />
de 2% (máximo para se conseguir trabalhabilidade adequada), o aumento de resistência à<br />
punção, em relação à laje sem fibras, chega a aproximadamente 25%.<br />
7 CONCLUSÕES<br />
A partir dos resultados experimentais, pode-se concluir que é possível utilizar ensaios<br />
de cisalhamento em vigas prismáticas para se obter indicadores a serem utilizados nos<br />
ensaios de lajes à punção. Verificou-se que existe uma similaridade de comportamento<br />
estrutural entre lajes de concreto com fibras sujeitas à punção e vigas prismáticas submetidas<br />
à força cortante e que, na maioria dos casos, existiu uma correlação entre suas resistências e<br />
suas ductilidades. Nestes ensaios foram testados apenas três tipos de fibras, devido à<br />
preocupação de se avaliar também outras variáveis, como resistência do concreto à<br />
compressão, volume percentual de fibras, altura útil do elemento e dimensão da chapa de<br />
carregamento. A execução de ensaios de vigas prismáticas, como foi feito nesta pesquisa,<br />
poderia também ter como finalidade selecionar o melhor tipo de fibra, de acordo com os<br />
requisitos de resistência e de ductilidade, a ser empregado na ligação laje-pilar. Seriam<br />
ensaios mais simples de se executar e menos onerosos, de onde se poderiam tirar boas<br />
conclusões sobre o comportamento da ligação laje-pilar a ser ensaiada posteriormente.<br />
As análises teóricas realizadas a partir das Equações do ACI Modificadas, tanto para<br />
lajes como para vigas, forneceram bons indicadores de previsão de resistência ao<br />
cisalhamento de vigas sem estribos e resistência à punção de lajes sem armadura de punção,<br />
considerando a contribuição da adição de fibras ao concreto.<br />
O Modelo Viga-Arco Modificado pode ser considerado um bom indicador para<br />
previsão de resistência e ductilidade de ligações laje-pilar interno, sem armadura transversal e<br />
reforçadas com fibras de aço, submetidas à punção. É um modelo simples de ser aplicado e,<br />
com base nos testes que foram feitos com os dados experimentais encontrados na revisão<br />
bibliográfica, parece fornecer bons resultados. Além disso, não se tinha, até o momento,<br />
conhecimento de um modelo de cálculo teórico que permitisse avaliar o efeito da adição de<br />
fibras e prognosticar a capacidade resistente de lajes-cogumelo à punção.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7. n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras... 109<br />
2,0<br />
1,5<br />
1,0<br />
0,5<br />
0,0<br />
0 0,25 0,5 0,75 1 1,25 1,5 1,75 2 2,25<br />
V f (%)<br />
Holanda<br />
McHarg<br />
Azevedo<br />
Zambrana Vargas<br />
Harajli A<br />
Harajli B<br />
Hughes & Xiao<br />
Tan & Paramasivan<br />
Theodorakopoulos &<br />
Swamy<br />
Alexander & Simmonds<br />
Swamy & Ali<br />
Linear (Todos)<br />
Pu (calc) / Pu (exp)<br />
Figura 7 - Aferição do Modelo Viga-Arco Modificado (toda a bibliografia consultada).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
110<br />
Kristiane Mattar Accetti Holanda & João Bento de Hanai<br />
8 AGRADECIMENTOS<br />
Agradecemos ao CNPq e à FAPESP pelo apoio financeiro, sem o qual esta pesquisa<br />
não poderia ter sido realizada.<br />
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ACCETTI, K. M. (1998). Contribuições ao projeto estrutural de edifícios em alvenaria. São<br />
<strong>Carlos</strong>. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – Universidade de São<br />
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Jul/Aug.<br />
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structural concrete (ACI 318-99) and Commentary (ACI 318R-99). Farmington Hills: ACI, 1999.<br />
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v.5.<br />
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proportioning, mixing, placing, and finishing steel fiber reinforced concrete. In: Manual of<br />
concrete practice. Detroit, Michigan. v.5.<br />
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e ao cisalhamento de vigas de concreto. São <strong>Carlos</strong>. Tese (Doutorado) – Escola<br />
de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />
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interno de concreto reforçado com fibras de aço. In: JORNADAS SUL-AMERICANAS DE<br />
ENGENHARIA ESTRUTURAL, 30., Brasília, maio 2002. Anais... Brasília: UnB/ASAEE, 15p. 1<br />
CD-ROM.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7. n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
Análise dos mecanismos resistentes e das similaridades de efeitos da adição de fibras... 111<br />
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Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 79-111, <strong>2005</strong>
112
ISSN 1809-5860<br />
APLICAÇÃO DO ACOPLAMENTO ENTRE O MEC E<br />
O MEF PARA O ESTUDO DA INTERAÇÃO<br />
DINÂMICA ELASTOPLÁSTICA ENTRE O SOLO E<br />
ESTRUTURAS<br />
Francisco Patrick Araujo Almeida 1 & Humberto Breves Coda 2<br />
Resumo<br />
O objetivo do presente trabalho é o desenvolvimento de um código computacional que<br />
possibilite a análise dinâmica de estruturas tridimensionais em regime elástico-linear<br />
acopladas ao solo, tratado como meio infinito elastoplástico. As superestruturas são<br />
tratadas por elementos finitos simples de casca e de barra geral, as estruturas de<br />
fundações são tratadas por elementos de casca que simulam o contato com o solo,<br />
modelando radiers, túneis e reservatórios enterrados. Blocos são modelados por<br />
elementos de contorno tridimensionais. O solo é modelado de duas maneiras distintas:<br />
na região plastificada emprega-se a solução fundamental de Kelvin (estática) e na<br />
região não plastificada (elástica) adota-se a solução fundamental do problema de<br />
Stokes. O acoplamento entre os meios é feito aplicando-se a técnica de sub-regiões.<br />
Deve ficar claro que todo procedimento estático equivalente foi implementado. Dois<br />
exemplos numéricos são apresentados, onde se percebe a eficiência do código<br />
computacional desenvolvido.<br />
Palavras-chave: interação solo-estrutura; Método dos Elementos de Contorno; Método<br />
dos Elementos Finitos; acoplamento MEC/MEF; dinâmica; não-linearidade física.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
O Método dos Elementos Finitos (MEF) é, atualmente, uma das ferramentas<br />
mais difundidas para solucionar diversos problemas da engenharia. Sua aplicação na<br />
mecânica estrutural já está consagrada pela prática. (VENTURINI, 1988). É de se<br />
observar, contudo, que por ser uma técnica de domínio, traz algumas complicações<br />
em análises que envolvem domínios infinitos, pois estes devem ser interrompidos<br />
para que se gere uma discretização finita, ocasionando a formação de um contorno<br />
fictício que usualmente é eliminado com o uso do Método dos Elementos de Contorno<br />
(MEC). Tal problema se agrava ainda mais em análises dinâmicas para domínios<br />
infinitos, onde reflexões indesejadas podem ocorrer no final da discretização, ou esta<br />
deve ser estendida exaustivamente para comportar o tempo de análise desejado.<br />
1 Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, patrick@ctec.ufal.br<br />
2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, hbcoda@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>
114<br />
Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />
Pesquisadores dos mais importantes centros de pesquisa do mundo têm se<br />
interessado pelo Método dos Elementos de Contorno, tanto no desenvolvimento de<br />
formulações próprias para diversos problemas, como em gerar formulações mistas<br />
com o Método dos Elementos Finitos, aproveitando conjuntamente o que cada<br />
método tem de melhor. Tal interesse tem resultado em um enorme progresso do<br />
método. Praticamente todos os centros importantes de pesquisa dos países mais<br />
avançados têm grupos de pesquisadores dedicados ao desenvolvimento desta<br />
técnica.<br />
Neste contexto, três vantagens principais são oferecidas pelo Método dos<br />
Elementos de Contorno: modelagem própria para domínios infinitos, grande redução<br />
do número de equações e volume de dados (principalmente quando se trata de meios<br />
tridimensionais infinitos como o solo) e a inexistência de erros de interpolação no<br />
domínio para problemas lineares.<br />
Em contrapartida, o Método dos Elementos de Contorno não apresenta<br />
nenhuma característica vantajosa, no que diz respeito à análise de estruturas<br />
reticuladas e cascas gerais, quando comparado ao MEF. Disso se conclui que uma<br />
medida natural para a análise da interação solo-estrutura é a composição de uma<br />
modelagem onde o MEF é usado para a estrutura (pórticos e cascas) e o MEC para o<br />
solo ou semi-espaço infinito.<br />
O principal objetivo do trabalho é o desenvolvimento de um código<br />
computacional que possibilite a análise dinâmica de estruturas tridimensionais em<br />
regime elástico-linear acopladas ao solo, que é tratado como não-linear. Todo o<br />
procedimento estático equivalente também foi implementado.<br />
O solo é tratado como meio infinito elastoplástico. As superestruturas são<br />
tratadas por elementos finitos simples de casca e de barra geral, as estruturas de<br />
fundações são tratadas por elementos de casca que simulam o contato com o solo,<br />
modelando radiers e túneis. Blocos são modelados por elementos de contorno<br />
tridimensionais.<br />
O solo é modelado de duas maneiras distintas, na região plastificada<br />
emprega-se a solução fundamental de Kelvin (estática) acompanhada de integrador<br />
temporal apropriado, dando origem ao chamado “non-linear mass matrix BEM” ou<br />
MEC não-linear dinâmico via matriz de massa. Na região não plastificada (elástica)<br />
adota-se a solução fundamental do problema de Stokes. O acoplamento entre os<br />
diferentes meios é feito aplicando-se a técnica de sub-regiões.<br />
Como justificativas para a escolha do tema da pesquisa, pode-se citar que<br />
enquanto os trabalhos voltados para plasticidade bidimensional, estática e dinâmica,<br />
através do MEC são abundantes na literatura, não existem muitas publicações<br />
disponíveis relativas à plasticidade tridimensional.<br />
Além do mais, acredita-se que o desenvolvimento de código computacional<br />
para a simulação numérica tridimensional dinâmica de estruturas conectadas ao solo<br />
suposto elastoplástico seja de grande importância para a engenharia, pois atualmente<br />
não se dispõe de ferramenta tão geral para se fazer tal tipo de análise. Os programas<br />
com os quais se poderia tentar tais simulações estão elaborados em elementos<br />
finitos, o que limita muito o seu emprego devido ao volume de informações que se<br />
precisa gerar e aos problemas relacionados à simulação de meios infinitos ou semiinfinitos<br />
quando de análises dinâmicas envolvendo propagação de ondas.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>
Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />
115<br />
Como contribuições do trabalho, pode-se citar: a utilização do algoritmo de<br />
Houbolt para a solução de problemas tridimensionais, o emprego do MMBEM para<br />
problemas elastoplásticos tridimensionais, os processos de integração para elementos<br />
de contorno e células, os estudos sobre a estabilização do acoplamento TDBEM/FEM<br />
e a utilização de integrais singulares no TDBEM.<br />
2 O MÉTODO DOS ELEMENTOS DE CONTORNO APLICANDO MATRIZ<br />
DE MASSA (MMBEM)<br />
O surgimento do Método dos Elementos de Contorno (MEC) como uma<br />
alternativa para a resolução de diversos problemas da engenharia é um dos grandes<br />
avanços científicos nessa área do conhecimento dos últimos anos. Uma das principais<br />
vantagens deste método, para problemas lineares, quando comparado com os<br />
métodos de domínio usuais (como por exemplo o Método dos Elementos Finitos<br />
(MEF)) é a redução do número de variáveis do problema, pois enquanto nos métodos<br />
usuais o domínio a ser tratado precisa ser dividido em vários subdomínios, no Método<br />
dos Elementos de Contorno apenas o contorno do mesmo precisa ser discretizado.<br />
Além disso, para alguns problemas, já é comprovado que o MEC apresenta respostas<br />
mais precisas e confiáveis que os métodos tradicionalmente empregados para<br />
análises similares.<br />
Partindo-se das equações diferenciais de equilíbrio, representadas pela<br />
eq.(1), pode-se chegar à equação integral de contorno para deslocamentos<br />
dinâmicos, eq.(2).<br />
σ + b = ρ& u&<br />
+ cu&<br />
em Ω i, j = 1, 2, 3 (1)<br />
ij,j<br />
i<br />
i<br />
∫<br />
Γ<br />
i<br />
∫<br />
*<br />
*<br />
*<br />
c u (s,t) + p (s,q)u (Q,t)dΓ + ρu&<br />
(q,t)u (s,q)dΩ + cu&<br />
(q,t)u (s,q) dΩ<br />
ik<br />
∫<br />
Γ<br />
k<br />
ik<br />
k<br />
∫<br />
Ω<br />
Ω<br />
k<br />
*<br />
*<br />
*<br />
n<br />
= uik (s,q)p<br />
k(Q,t)dΓ + uik(s,q)b<br />
k(q,t)dΩ + εijk(s,q)<br />
σjk(q,t)<br />
dΩ<br />
(2)<br />
ik<br />
∫<br />
Ω<br />
∫<br />
Ω<br />
k<br />
ik<br />
Matricialmente, a eq.(2) poderia ser escrita como:<br />
n<br />
HU(t) + CU(t) & + MU(t) &<br />
= GP(t) + Bb(t) + Qσ<br />
(t)<br />
(3)<br />
A equação integral de contorno para tensões é escrita como:<br />
'<br />
'<br />
'<br />
'<br />
'<br />
' n<br />
σ (t) = G P(t) − HU(t) + B b(t) − C U(t) & − MU(t) &<br />
+ Q σ (t)<br />
(4)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>
116<br />
Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />
3 O MÉTODO DOS ELEMENTOS DE CONTORNO NO DOMÍNIO DO<br />
TEMPO (TDBEM)<br />
O Time Domain Boundary Element Method (TDBEM) ou Método dos<br />
Elementos de Contorno no Domínio do Tempo surge como uma alternativa ao<br />
chamado Mass Matrix Boundary Element Method (MMBEM), uma vez que, utilizando<br />
soluções fundamentais dependentes do tempo, elimina a necessidade da<br />
discretização do domínio para a geração de matriz de massa. Sendo assim, em<br />
análises elásticas, nenhuma discretização do domínio é necessária.<br />
Vale dizer que a implementação de pontos fonte singulares para os elementos<br />
de contorno triangulares planos foi desenvolvida integralmente neste trabalho.<br />
Igualmente ao que foi feito para o MMBEM, a equação integral de<br />
deslocamentos, para pontos fonte internos ou no contorno, para o TDBEM, pode ser<br />
deduzida a partir da eq.(1).<br />
C<br />
−<br />
t<br />
t<br />
*<br />
∫ u (s, τ)f(t<br />
− τ)dτ<br />
= ∫∫ u (Q,t − τ;s / f)p<br />
j(Q,<br />
τ)dΓdτ +<br />
kj kj<br />
0 j<br />
0 Γ<br />
t<br />
t<br />
*<br />
*<br />
∫∫ pkj(Q,t<br />
− τ;s / f)u<br />
j(Q,<br />
τ)dΓdτ + ∫∫ b<br />
j<br />
(q, τ)ukj(q,t<br />
− τ;s / f)dΩdτ<br />
+<br />
0 Γ<br />
0 Ω<br />
*<br />
*<br />
+ ∫ ρu<br />
(q,t;s / f)u& kj j<br />
(q,0) dΩ<br />
− ρ<br />
Ω<br />
Ω ∫ u (q,t;s / f)u<br />
j<br />
(q,0) d<br />
Ω<br />
& kj<br />
(5)<br />
Para pontos fonte exteriores, a eq.(5) correspondente é escrita como:<br />
'<br />
t<br />
∫∫ Γ<br />
0<br />
'<br />
t<br />
p<br />
*<br />
kj<br />
(Q,t<br />
'<br />
+<br />
e<br />
C<br />
1<br />
− τ;s / f)u ( τ)dΓdτ +<br />
j<br />
∫ Ω<br />
*<br />
ρu (0)u (q,t<br />
&<br />
j kj<br />
'<br />
+<br />
e<br />
C<br />
1<br />
;s / f) dΩ<br />
'<br />
e<br />
t<br />
* '<br />
* ' e<br />
ukj (Q,t + − τ;s / f)p<br />
j(<br />
τ)dΓ<br />
τ + + − τ τ Ω τ +<br />
C<br />
∫∫ ukj<br />
(q,t ;s / f)b<br />
j(<br />
)d d<br />
0 Ω C<br />
= ∫∫ Γ<br />
d<br />
0<br />
1<br />
e<br />
+ ∫ ρu<br />
& * '<br />
j<br />
(0)ukj(q,t<br />
+ ;s / f) dΩ<br />
Ω C<br />
(6)<br />
1<br />
1<br />
4 O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF)<br />
O Método dos Elementos Finitos (MEF) é utilizado no trabalho para a<br />
discretização das superestruturas. Vigas e pilares são modelados por elementos<br />
finitos simples de barra, e as cascas, modeladas por elementos finitos simples de<br />
casca. Para o tratamento desses elementos estruturais, o Método dos Elementos de<br />
Contorno (MEC) não tem apresentado maiores vantagens com relação ao MEF.<br />
Mais uma vez, as equações diferenciais de equilíbrio são o ponto de partida<br />
para a dedução da equação integral do MEF.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>
Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />
117<br />
∫<br />
Ω<br />
σ ε d Ω + ρu& u dΩ + cu&<br />
u dΩ = b u dΩ + p u dΓ<br />
+ Fu<br />
(7)<br />
'<br />
kj kj<br />
∫<br />
Ω<br />
k<br />
'<br />
k<br />
∫<br />
Ω<br />
k<br />
'<br />
k<br />
∫<br />
Ω<br />
k<br />
'<br />
k<br />
∫<br />
Γ<br />
k<br />
'<br />
k<br />
'<br />
j j<br />
A eq.(7) é conhecida como Princípio dos Trabalhos Virtuais para Problemas<br />
Dinâmicos e é a base para a construção do MEF dinâmico. Aplicando-se sobre uma<br />
aproximação em elementos finitos tal equação, chega-se à seguinte equação<br />
matricial:<br />
KU + CU& + MU&<br />
= Bb + GP + IF<br />
(8)<br />
4.1 Elemento finito de barra<br />
Como já foi comentado anteriormente, vigas e pilares serão modelados por<br />
elementos finitos de barra geral. Este elemento segue as hipóteses de Euler/Bernoulli.<br />
O elemento finito de barra utilizado no presente trabalho possui 6 graus de<br />
liberdade (gdl) por extremidade, sendo eles: translações em x 1 (U 1 ), x 2 (U 2 ) e x 3 (U 3 ), e<br />
rotações em torno de x 1 (θ 1 ), x 2 (θ 2 ) e x 3 (θ 3 ), nesta ordem. Figura 1.<br />
θ 3<br />
U 2<br />
θ 2<br />
U 1<br />
U 3<br />
θ 1 i<br />
L<br />
θ 3<br />
θ 2<br />
U 3<br />
U 2<br />
j U 1 θ 1<br />
Figura 1 - Graus de liberdade do elemento finito de barra.<br />
A partir das coordenadas locais dos elementos de barra, pode-se definir seus<br />
deslocamentos locais, bem como os esforços internos associados a eles.<br />
4.2 Elemento finito de placa<br />
O elemento finito de casca será considerado como uma composição de um<br />
elemento finito de placa e um elemento finito de chapa (ou membrana). Para o<br />
elemento finito de placa, decidiu-se utilizar o elemento finito DKT (discrete Kirchhoff<br />
triangle) por ter sido um elemento bastante utilizado e que tem apresentado bons<br />
resultados; sua matriz de rigidez pode ser escrita de forma explícita e trata-se de um<br />
elemento triangular com número de graus de liberdade (gdl) mínimo, 9. O<br />
desempenho do elemento finito DKT já foi amplamente verificado por diversos<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>
118<br />
Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />
autores, seja em casos de placas, cascas, pavimentos e edifícios de múltiplos<br />
pavimentos.<br />
O elemento finito DKT faz parte do grupo dos elementos finitos triangulares de<br />
placa com 9 graus de liberdade, sendo 3 por vértice (translação em z (w) e rotações<br />
em x (θ x ) e y (θ y )). Ver figura 2.<br />
z, w θ x = w ,y , θ y = -w ,x<br />
w<br />
NÓ 3<br />
θ x<br />
θ y<br />
0<br />
θ y<br />
y<br />
θ x<br />
x<br />
NÓ 1<br />
w<br />
θ x<br />
θ y<br />
h<br />
NÓ 2<br />
w<br />
θ x<br />
θ y<br />
Figura 2 - Elemento finito DKT.<br />
A teoria de pequenos deslocamentos de placas com deformações por esforço<br />
cortante incluídos, também conhecida como teoria das placas de Reissner-Mindlin, é<br />
utilizada na formulação do elemento finito DKT. Após as deduções das expressões de<br />
energia de deformação e antes de se chegar à matriz de rigidez do elemento DKT,<br />
admite-se que o elemento será utilizado na análise de placas delgadas, e assim, as<br />
deformações por esforço cortante, e conseqüentemente a energia de deformação<br />
causada por esse esforço, são desprezadas quando comparadas com a energia de<br />
deformação por flexão.<br />
A formulação do elemento finito DKT baseia-se nas seguintes hipóteses: as<br />
rotações β x e β y variam quadraticamente no elemento, sendo β x e β y as rotações da<br />
normal ao plano médio indeformado do elemento, segundo os planos x−z e y−z,<br />
respectivamente; a hipótese de Kirchhoff é imposta discretamente ao longo dos lados<br />
do elemento em seus pontos nodais, possibilitando relacionar as rotações com as<br />
primeiras derivadas dos deslocamentos transversais; a variação de w é cúbica e<br />
definida apenas ao longo dos lados do elemento; impõe-se uma variação linear de β n<br />
ao longo dos lados, onde β n é a rotação na direção normal aos lados.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>
Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />
119<br />
4.3 Elemento finito de chapa<br />
O elemento finito de chapa adotado foi o CST (constant strain triangle), que,<br />
como o próprio nome diz, é um elemento triangular que considera aproximação<br />
constante para o campo de deformações do elemento, ou, campo de deslocamentos<br />
linear, conforme eq.(9) e figura 3. Esta escolha foi feita com o intuito de facilitar a<br />
adequação dos efeitos de membrana ao elemento de placa descrito no item anterior.<br />
u(x,y) = a1<br />
+ a2x<br />
+ a3y<br />
(9)<br />
v(x,y) = a + a x + a y<br />
4<br />
5<br />
6<br />
y(v)<br />
v 3<br />
(x ,y )<br />
3 3<br />
u 3<br />
v 2<br />
v 1<br />
(x ,y )<br />
2 2<br />
u 2<br />
(x ,y )<br />
1 1<br />
u 1<br />
x(u)<br />
Figura 3 - Elemento finito de chapa CST.<br />
5 EXEMPLOS<br />
Dois problemas são estudados com o intuito principal de mostrar a aplicação<br />
dos desenvolvimentos descritos nos itens anteriores, bem como a potencialidade do<br />
código computacional desenvolvido na pesquisa.<br />
5.1 Exemplo 1<br />
No primeiro exemplo, analisa-se um sólido apoiado em uma face, sujeito a um<br />
carregamento súbito, uniformemente aplicado na face oposta. O material do sólido<br />
apresenta características não-lineares físicas. Ver figura 4.<br />
O sólido do presente exemplo foi analisado de duas formas distintas. Na<br />
primeira, utilizou-se o MMBEM para todo o sólido, e na segunda, utilizou-se o<br />
acoplamento MMBEM/TDBEM/FEM, onde a sub-região modelada pelo MMBEM<br />
correspondeu à metade do sólido e a outra metade foi igualmente dividida entre as<br />
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120<br />
Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />
sub-regiões do TDBEM e do FEM. Para a modelagem do acoplamento, vale dizer que<br />
a região de plastificação do problema ficou naturalmente confinada na região do<br />
MMBEM. A sub-região modelada pelo MEF (ou FEM) compreende não apenas a<br />
barra, mas também uma casca de ligação. A figura 5 apresenta as discretizações<br />
utilizadas para ambos os casos.<br />
q = 1Pa<br />
4 m<br />
E = 100.000 Pa<br />
E = 10.000 Pa<br />
t<br />
ν = 0,25<br />
σ = 1,50 Pa<br />
y<br />
ρ = 0,002kg/m³<br />
e3<br />
e2<br />
e1<br />
2 m<br />
2 m<br />
Figura 4 - Exemplo 1.<br />
MMBEM<br />
MMBEM/TDBEM/FEM<br />
Figura 5 - Discretizações do exemplo 1.<br />
É necessário ainda dizer que o passo de tempo (∆t) adotado para a análise<br />
com o MMBEM foi de 0,00012s, e para o acoplamento MMBEM/TDBEM/FEM,<br />
0,0002s. Esta diferença é justificada pelas condições de estabilidade para o TDBEM<br />
quando tratando de corpos finitos, e por questões de amortecimento numérico do<br />
MMBEM, já bem conhecidas.<br />
A figura 6 apresenta os resultados obtidos para o deslocamento longitudinal<br />
no nó localizado no centro da face carregada.<br />
Pode-se dizer que os resultados apresentaram ótima concordância, apesar da<br />
diferença das modelagens adotadas. Conclui-se que o acoplamento<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>
Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />
121<br />
MMBEM/TDBEM/FEM para análises dinâmicas não-lineares foi implementado com<br />
sucesso. Observa-se ainda que este exemplo é particularmente difícil de ser<br />
analisado pela utilização do TDBEM – por se tratar de meio finito – mostrando que a<br />
técnica foi bem implementada e se apresenta precisa e estável. Graças ao grau de<br />
dificuldade deste exemplo, a formulação resultante se mostra uma ferramenta<br />
poderosa para o estudo de problemas de interação solo-estruturas gerais e outros<br />
tipos de problema, como por exemplo, meios reforçados.<br />
Exemplo 1<br />
8,0E-05<br />
7,0E-05<br />
MMBEM<br />
Acoplamento<br />
6,0E-05<br />
Deslocamento (m)<br />
5,0E-05<br />
4,0E-05<br />
3,0E-05<br />
2,0E-05<br />
1,0E-05<br />
0,0E+00<br />
0,000 0,001 0,002 0,003 0,004 0,005 0,006 0,007 0,008<br />
Tempo (s)<br />
Figura 6 - Deslocamento longitudinal do exemplo 1.<br />
5.2 Exemplo 2<br />
O segundo exemplo estuda o problema de uma cavidade esférica em um<br />
meio infinito sujeita a uma pressão interna conforme figura 7, onde não se considerou<br />
unidade nos valores apresentados.<br />
Foram realizadas diversas análises do problema proposto, onde se<br />
considerou: carga p(t) de impacto, aplicação de reforço à parede da cavidade e<br />
plastificação da região próxima à cavidade. Para o reforço da parede, considerou-se<br />
uma casca de espessura t=5 e densidade ρ e coeficiente de Poisson ν iguais aos do<br />
meio infinito, e variou-se o valor do módulo de elasticidade da casca. As várias<br />
análises podem ser agrupadas em 10 tipos, por modelagem utilizada, descritos a<br />
seguir.<br />
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Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />
p(t)<br />
E=8,993E+6<br />
ρ=2,5E-4<br />
ν=0,25<br />
p0=1000<br />
R=212<br />
Figura 7 - Exemplo 2.<br />
1 o ) TDBEM elastodinâmico<br />
EC TDBEM<br />
Foram utilizados 480 elementos de contorno para a discretização da<br />
cavidade; dois valores para ∆t foram testados: 0,0003 e 0,0005.<br />
2 o ) FEM+TDBEM elastodinâmico<br />
Trata-se da mesma modelagem apresenta anteriormente, sendo que com a<br />
aplicação do reforço, com o mesmo número de elementos. Consideraram-se dois<br />
valores para o módulo de elasticidade do material da casca:<br />
Ec<br />
7<br />
⎧10<br />
⋅Es<br />
= 8,993 ⋅10<br />
⎨<br />
⎩100<br />
⋅Es<br />
= 8,993 ⋅10<br />
=<br />
8<br />
sendo Ec o módulo de elasticidade da casca, e Es o módulo de elasticidade do meio<br />
infinito. A partir deste segundo tipo de análise, para as análises dinâmicas, utilizou-se<br />
apenas ∆t=0,0005.<br />
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Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />
123<br />
3 o ) BEM elastostático<br />
EC BEM<br />
Neste tipo de análise, utilizou-se 480 elementos de contorno do BEM para a<br />
discretização da cavidade.<br />
4 o ) FEM+BEM elastostático<br />
Trata-se da análise anterior mais a casca de reforço.<br />
5 o ) MMBEM+TDBEM elastodinâmico<br />
EC MMBEM<br />
EC TDBEM<br />
Células MMBEM<br />
Nesta análise, utilizou-se 922 células do MMBEM, e 74 elementos de contorno<br />
para a superfície de acoplamento MMBEM/TDBEM, onde seu raio foi de 2R.<br />
6 o ) FEM+MMBEM+TDBEM elastodinâmico<br />
Trata-se da mesma modelagem anterior, sendo que com o reforço.<br />
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124<br />
Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />
7 o ) MMBEM elastoplástico estático<br />
EC MMBEM<br />
Células MMBEM<br />
No lugar das células da análise dinâmica do tipo anterior, são consideradas<br />
células de plastificação para o MMBEM. Utilizou-se o critério de plastificação de von<br />
Mises, onde se adotou tensão de plastificação de valor 700 e módulo de elasticidade<br />
tangente (E t ) de 10% do valor de E do meio infinito.<br />
8 o ) FEM+MMBEM elastoplástico estático<br />
Consideração do reforço na modelagem anterior.<br />
9 o ) MMBEM+TDBEM elastoplástico dinâmico<br />
Trata-se da modelagem 5 considerando-se a plastificação da sub-região do<br />
MMBEM, para tanto, são consideradas as células de plastificação, coincidentes com<br />
as da montagem da matriz de massa.<br />
10 o ) FEM+MMBEM+TDBEM elastoplástico dinâmico<br />
Modelagem anterior reforçada.<br />
A figura 8 apresenta os resultados de deslocamento radial ao longo do tempo<br />
para as análises elásticas. A resposta analítica, sem a consideração de reforço, foi<br />
colhida de Timoshenko e Goodier (1980). Observa-se inicialmente que todos os<br />
valores dinâmicos convergiram para os seus correspondentes estáticos. Para as<br />
análises com o TDBEM, não houve grandes diferenças para os dois valores de ∆t<br />
utilizados. Nas análises com o FEM, o valor de β=0,25 não forneceu resultados<br />
estáveis; os valores que são apresentados na figura 8, foram obtidos com β=0,32. O<br />
comportamento obtido para a modelagem FEM+TDBEM se mostrou mais suave que<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>
Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />
125<br />
aquele apresentado para a modelagem FEM+MMBEM+TDBEM. Deve-se comentar<br />
que o estudo relativo à estabilidade do acoplamento TDBEM/FEM é uma contribuição<br />
original deste trabalho. Também se pode comentar, como era esperado, que o reforço<br />
da casca forneceu maior rigidez ao sistema, gerando assim, menores deslocamentos<br />
radiais.<br />
0.020<br />
Cavidade esférica<br />
Análise elastodinâmica<br />
0.018<br />
deslocamento radial<br />
0.016<br />
0.014<br />
0.012<br />
0.010<br />
0.008<br />
0.006<br />
analítica<br />
BEM<br />
TDBEM dt=0,0003<br />
TDBEM dt=0,0005<br />
MMBEM+TDBEM<br />
FEM+BEM Ec=10Es<br />
FEM+TDBEM Ec=10Es<br />
FEM+MMBEM+TDBEM Ec=10Es<br />
FEM+BEM Ec=100Es<br />
FEM+TDBEM Ec=100Es<br />
FEM+MMBEM+TDBEM Ec=100Es<br />
0.004<br />
0.002<br />
0.000<br />
0.000 0.002 0.004 0.006 0.008 0.010 0.012 0.014 0.016 0.018 0.020<br />
tempo<br />
Figura 8 - Análise elastodinâmica.<br />
A figura 9 apresenta os resultados de tensão x deformação radiais para as<br />
análises elastoplásticas estáticas, com e sem reforço. É interessante observar o<br />
quanto a ação do reforço diminui as deformações plásticas, chegando até à<br />
supressão da plastificação para a casca mais rígida. Os autores gostariam de informar<br />
que, para a análise sem reforço, apenas 3 nós – dos 39 – da superfície mais externa<br />
(nós de célula, uma vez que nesta região não existem elementos de contorno)<br />
chegaram a plastificar. Pelos resultados, observa-se que o efeito de explosão<br />
submersa (túneis) em edificações distantes será fortemente influenciado pela<br />
presença ou não de reforços.<br />
A figura 10 apresenta os deslocamentos radiais com a aplicação da pressão<br />
interna.<br />
Por fim, a figura 11 apresenta os deslocamentos radiais em função do tempo<br />
para uma aplicação súbita do carregamento. Observa-se que a não consideração de<br />
reforço, para análise elastoplástica, apresenta valores elevados de deslocamento, em<br />
comparação com aqueles obtidos para a análise elástica. Com a consideração do<br />
reforço para Ec=10Es esta diferença diminui, e, para a casca mais rígida, a diferença<br />
nem é perceptível, embora aconteça a plastificação. Como uma informação adicional,<br />
pode-se dizer que, para a casca menos rígida, a partir do sexto passo de tempo a<br />
análise foi elástica; e, para a casca mais rígida, a partir do décimo primeiro passo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>
126<br />
Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />
Pode-se afirmar ainda, a respeito do parágrafo anterior, que, se naquelas<br />
análises fosse considerada a não-linearidade física do reforço (MEF), os resultados<br />
poderiam ser bem diferentes.<br />
1200<br />
Cavidade esférica<br />
Análise elastoplástica estática<br />
1000<br />
800<br />
tensão radial<br />
600<br />
400<br />
elástica Ec=0Es<br />
plástica Ec=0Es<br />
elástica Ec=10Es<br />
plástica Ec=10Es<br />
elástica Ec=100Es<br />
200<br />
0<br />
0.0E+00 1.0E-04 2.0E-04 3.0E-04 4.0E-04 5.0E-04 6.0E-04 7.0E-04 8.0E-04 9.0E-04 1.0E-03<br />
deformação radial<br />
Figura 9 - Análise elastoplástica estática – tensão x deformação.<br />
1200<br />
Cavidade esférica<br />
Análise elastoplástica estática<br />
1000<br />
pressão radial<br />
800<br />
600<br />
400<br />
elástica Ec=0Es<br />
plástica Ec=0Es<br />
elástica Ec=10Es<br />
plástica Ec=10Es<br />
elástica Ec=100Es<br />
200<br />
0<br />
0.0E+00 5.0E-03 1.0E-02 1.5E-02 2.0E-02 2.5E-02 3.0E-02 3.5E-02 4.0E-02 4.5E-02<br />
deslocamento radial<br />
Figura 10 - Análise elastoplástica estática – pressão x deslocamento.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>
Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />
127<br />
Cavidade esférica<br />
Análise elatoplástica dinâmica<br />
0.080<br />
0.070<br />
0.060<br />
deslocamento radial<br />
0.050<br />
0.040<br />
0.030<br />
Ec=0Es ED<br />
Ec=0Es EPD<br />
Ec=10Es ED<br />
Ec=10Es EPD<br />
Ec=100Es ED<br />
Ec=100Es EPD<br />
0.020<br />
0.010<br />
0.000<br />
0.000 0.002 0.004 0.006 0.008 0.010 0.012 0.014 0.016 0.018 0.020<br />
tempo<br />
Figura 11 - Análise elastoplástica dinâmica.<br />
6 CONCLUSÕES<br />
O principal objetivo do trabalho foi o desenvolvimento de um código<br />
computacional que possibilitasse a análise de estruturas tridimensionais em regime<br />
elástico-linear acopladas a meios infinitos ou semi-infinitos (como é o caso do solo),<br />
que foram tratados como físico não-lineares. Objetivou-se também a implementação<br />
de todo o procedimento estático equivalente.<br />
Analisando-se as aplicações apresentadas no trabalho, pode-se chegar à<br />
principal conclusão do mesmo, que é a de que os desenvolvimentos metodológicos<br />
propostos e utilizados conseguem descrever com boa aproximação os fenômenos<br />
estudados na pesquisa – sejam eles, a mecânica e dinâmica de estruturas elásticas<br />
acopladas a meios elastoplásticos infinitos ou semi-infinitos, como comentado acima –<br />
e que o código computacional elaborado está funcionando perfeitamente e<br />
apresentando bons resultados.<br />
Deve-se comentar que, para se atingir de forma completa o objetivo material<br />
mencionado anteriormente, foram necessárias implementações numéricas e análises<br />
muitas vezes inéditas, bem como a utilização de outras desenvolvidas por diferentes<br />
autores. A seguir, estas contribuições são esmiuçadas e permeadas com<br />
considerações conclusivas, comentando os comportamentos das respostas numéricas<br />
obtidas.<br />
Como conclusões complementares do trabalho, pode-se começar<br />
comentando a respeito da eficiência dos dois algoritmos empregados para as<br />
integrações temporais: Newmark β, para o Método dos Elementos Finitos (MEF), e<br />
Houlbolt, para o Método dos Elementos de Contorno aplicando matriz de massa, ou<br />
Mass Matrix Boundary Element Method (MMBEM). O emprego com sucesso deste<br />
último tinha sido verificado por vários outros pesquisadores, sendo que para análises<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>
128<br />
Francisco Patrick Araujo Almeida & Humberto Breves Coda<br />
bidimensionais. A presente pesquisa vem trazer contribuições ao estudo do citado<br />
método aplicado a problemas 3D. Porém, é importante mencionar que, a depender da<br />
discretização utilizada e do intervalo de tempo (∆t) fornecido na análise, o algoritmo<br />
de Houbolt pode apresentar perda de estabilidade numérica. Isto ocorre porque ∆t 2<br />
pode assumir valores muito pequenos e, quando multiplicado pela matriz G, cujos<br />
elementos também podem ser muito pequenos, levam à perda de precisão no<br />
processo numérico que relaciona esta matriz com a matriz H .<br />
Outra conclusão importante do trabalho é com relação à utilização do Método<br />
dos Elementos de Contorno (MEC) à modelagem de problemas não-lineares físicos.<br />
Já se chegou a afirmar que o MEC não se apresentava como uma técnica apropriada<br />
ao estudo de tais problemas. A partir da observação dos desenvolvimentos<br />
apresentados para o tratamento de plasticidade, bem como dos resultados das<br />
implementações realizadas, pode-se concluir que o MEC também é uma ferramenta<br />
muito precisa para o tratamento de problemas inelásticos. A contribuição da presente<br />
pesquisa é ainda mais valorizada quando se considera que o estudo do tema em<br />
discussão foi feito tridimensionalmente, inclusive com a apresentação de diversos<br />
exemplos. Com relação à utilização de células tetraédricas, observa-se a<br />
possibilidade de variação linear de tensões (4 nós), o mesmo só seria possível no<br />
MEF para elementos com 8 nós. Além disso, para problemas onde uma pequena<br />
porção do corpo plastifica, tal como para o solo que circunda uma estrutura de<br />
fundação, apenas naquela região é necessária a utilização de células de plastificação.<br />
Ainda com relação aos problemas inelásticos, a formulação numérica encontrada na<br />
literatura bidimensional foi corrigida em Coda e Venturini (2000), e no presente<br />
trabalho foi implementada de forma original para problemas tridimensionais.<br />
Outra grande contribuição do trabalho foi o desenvolvimento e implementação<br />
dos diversos processos de integração utilizados na pesquisa: singular, não-singular e<br />
quase-singular para elementos de contorno triangulares planos com aproximação<br />
linear, e singular e não-singular para as células tetraédricas, também com<br />
aproximação linear.<br />
Com relação ao Método dos Elementos de Contorno no Domínio do Tempo ou<br />
Time Domain Boundary Element Method (TDBEM), os autores gostariam de dizer que<br />
a implementação de pontos fonte singulares para os elementos de contorno<br />
triangulares planos foi desenvolvida integralmente nesse trabalho, fazendo-se uso das<br />
técnicas comentadas anteriormente. Observou-se no trabalho que a aplicação do<br />
TDBEM a problemas de corpos fechados é bastante sensível ao valor do intervalo de<br />
tempo ∆t adotado. Para problemas infinitos ou semi-infinitos, esta dependência já se<br />
mostrou menor.<br />
A respeito do acoplamento entre o TDBEM e o MEF, observou-se em algumas<br />
análises perda de estabilidade. Tal problema foi resolvido com um aumento no valor<br />
de β do algoritmo de integração temporal do MEF (Newmark). Esta alteração gera um<br />
adiantamento da contribuição das forças inerciais das sub-regiões modeladas por esta<br />
técnica. Os autores consideram tal descoberta simples e ao mesmo tempo muito<br />
importante, uma vez que tal problema já chegou a ser encarado como um entrave ao<br />
acoplamento entre as duas técnicas.<br />
Uma conclusão a respeito do MEF é a de que os elementos finitos escolhidos<br />
se mostraram bastante eficientes para a análise dos elementos estruturais<br />
correspondentes. O algoritmo de Newmark β também se mostrou uma excelente<br />
opção para as análises dinâmicas onde o MEF foi empregado.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>
Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da interação...<br />
1<strong>29</strong><br />
Finalmente, para o exemplo 2, concluiu-se que a ação de reforço na parede<br />
da cavidade pode diminuir bastante as deformações plásticas no solo, podendo<br />
chegar até à supressão da plastificação. Para a análise elastoplástica dinâmica,<br />
concluiu-se que a diferença entre os deslocamentos radiais obtidos, com e sem a<br />
consideração de plastificação do meio infinito, é inversamente proporcional à rigidez<br />
do reforço, lembrando-se que, se nestas análises fosse considerada a não-linearidade<br />
física do reforço (MEF), os resultados poderiam ser bem diferentes.<br />
7 AGRADECIMENTOS<br />
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, pelo<br />
financiamento da pesquisa.<br />
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ALMEIDA, F. P. A. (1999). Análise comparative de resultados de diferentes<br />
discretizações para as lajes de pavimentos utilizando os elementos finitos DKT e<br />
P15N. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> - Universidade<br />
de São Paulo.<br />
ALMEIDA, F. P. A. (2003). Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o<br />
estudo da interação dinâmica elastoplástica entre o solo e estruturas. Tese<br />
(Doutorado) - Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> - Universidade de São Paulo.<br />
CODA, H. B.; VENTURINI, W. S. (2000). Dynamic non-linear stress analysis by the<br />
mass matrix BEM. Engineering Analysis with Boundary Elements, v.24, p.623-32.<br />
TIMOSHENKO, S. P.; GOODIER, J. N. (1980). Teoria da elasticidade. 3.ed. Rio de<br />
Janeiro: Guanabara Dois.<br />
VENTURINI, W. S. (1988). Um estudo sobre o método dos elementos de contorno<br />
e suas aplicações em problemas de engenharia. Tese (Livre-docência) - Escola de<br />
Engenharia de São <strong>Carlos</strong> - Universidade de São Paulo.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 113-1<strong>29</strong>, <strong>2005</strong>
130
ISSN 1809-5860<br />
DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE RESISTENTE<br />
DE NÓS DE PÓRTICO EXTERNOS DE CONCRETO<br />
ARMADO<br />
Gerson Moacyr Sisniegas Alva 1 & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs 2<br />
Resumo<br />
Este trabalho apresenta alguns métodos de cálculo para a determinação da<br />
capacidade resistente de nós de pórtico externos, formados nas ligações viga-pilar de<br />
extremidade de concreto armado. Primeiramente, apresenta-se uma breve<br />
abordagem teórica sobre o comportamento mecânico dos nós externos, descrevendose<br />
a forma usual de determinação dos esforços solicitantes e de dimensionamento.<br />
Em seguida, apresentam-se as hipóteses e o equacionamento utilizados por dois<br />
modelos teóricos que se propõem a avaliar a capacidade resistente dos nós, a saber:<br />
o modelo de PAULAY & PRIESTLEY (1992) e o modelo de HWANG & LEE (1999).<br />
Ambos utilizam os conceitos dos modelos clássicos de biela e tirante. A capacidade<br />
resistente dos nós de pórtico também é avaliada por meio de expressões prescritas<br />
pelas principais normas que abordam o assunto, entre as quais se encontram as<br />
normas americanas ACI-352 (1991) e ACI-318 (1995), a norma neozelandesa NZS-<br />
3101 (1995) e a norma japonesa AIJ (1991). Por fim, são desenvolvidos alguns<br />
exemplos numéricos de aplicação dos modelos teóricos abordados para a<br />
determinação da resistência dos nós, incluindo-se comentários e análises pertinentes.<br />
Palavras-chave: Concreto armado; nós de pórtico; ligações viga-pilar; modelos de<br />
biela e tirante; cisalhamento.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Nós de pórticos são definidos a partir das ligações entre vigas e pilares. São<br />
regiões (volumes) gerados pela interseção da viga com o pilar, tal como ilustra a figura<br />
1. Na realidade, o nó de pórtico é uma porção do pilar de altura igual à da seção da<br />
viga.<br />
1 Doutor em Engenharia de Estruturas – EESC-<strong>USP</strong>, alva@feciv.ufu.br<br />
2 Professora do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, analucia@sc.usp.br<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
132<br />
Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
Nó<br />
Viga<br />
Pilar<br />
Figura 1 - Definição de nó de pórtico.<br />
Comumente, o termo nó de pórtico é utilizado para se referir à ligação viga-pilar<br />
como um todo. A rigor, a ligação é formada pelo nó e pelos elementos estruturais pilar,<br />
viga e laje.<br />
Nas estruturas em pórtico correntes, os nós de pórtico podem ser classificados<br />
em nós internos, nós externos e nós de canto, conforme indica a figura 2.<br />
c) Nó de canto<br />
(viga de cobertura-pilar de<br />
extremidade)<br />
a) Nó externo<br />
(viga-pilar de extremidade)<br />
b) Nó interno<br />
(viga-pilar interno)<br />
Figura 2 - Nomenclatura usualmente utilizada para a classificação de nós de pórtico.<br />
Nas últimas três décadas, pode-se dizer que houve uma maior preocupação<br />
com o comportamento mecânico dos nós de pórtico, fato confirmado pelo crescimento<br />
das pesquisas envolvendo tal região do sistema estrutural. Antes disso, em nível de<br />
projeto, admitia-se que as condições nos nós de pórtico não eram críticas. Ou seja,<br />
admitia-se que a resistência da ligação era igual à do elemento estrutural menos<br />
resistente. Entretanto, pode-se dizer que os nós de pórtico são, com freqüência,<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />
133<br />
regiões mais críticas do sistema estrutural como um todo, devido a uma série de<br />
fatores, entre os quais se incluem a mudança de direção de esforços e tensões, as<br />
elevadas tensões cisalhantes que ali surgem, além dos aspectos construtivos<br />
associados à ancoragem das armaduras.<br />
Em termos de desempenho estrutural, é desejável que o nó de pórtico<br />
apresente resistência suficiente de modo a não impedir o total desenvolvimento da<br />
capacidade resistente dos elementos que serão conectados. Levando em conta que a<br />
filosofia de projeto recomenda, em situação de ruína, que a plastificação ocorra antes<br />
nas vigas que nos pilares, o nó de pórtico deve resistir a ações maiores à<br />
correspondente ao momento último da viga.<br />
Em termos de execução em obra, é desejável também que o arranjo das<br />
armaduras na ligação não dificulte a sua colocação nem a compactação do concreto.<br />
De fato, deve haver a preocupação do projetista estrutural quanto ao problema de<br />
congestionamento das armaduras nessa região.<br />
Conhecendo-se a resistência ao cisalhamento do nó do pórtico torna-se<br />
possível avaliar se os elementos viga e pilar poderão alcançar a capacidade máxima.<br />
Essa grandeza pode ser obtida por meio dos modelos de PAULAY & PRIESTLEY<br />
(1992) e HWANG & LEE (1999) - os quais utilizam conceitos dos modelos de biela e<br />
tirante - e por expressões prescritas por normas de cálculo que tratam dos nós de<br />
pórtico.<br />
2 FORÇAS SOLICITANTES EM NÓS DE PÓRTICO EXTERNOS<br />
Os nós de pórticos, em função da geometria das ligações e em função da<br />
posição das armaduras longitudinais da viga, estão submetidos, essencialmente, a<br />
esforços de cisalhamento.<br />
A força cortante solicitante é obtida simplesmente por equilíbrio de forças no<br />
painel. Assim, em um nó externo, por exemplo, a força cortante horizontal atuante é<br />
expressa por (vide figura 3):<br />
V<br />
jh<br />
= T − V<br />
(1)<br />
v<br />
p<br />
onde<br />
T v é a resultante na armadura tracionada da viga;<br />
V p é a força cortante no pilar.<br />
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134<br />
Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
V p<br />
N<br />
C sp1<br />
C cp1<br />
V p<br />
T<br />
v<br />
Tv<br />
V v<br />
Vv<br />
Ccv<br />
C sv<br />
C cv<br />
C<br />
sv<br />
V p<br />
N+ V v<br />
V p<br />
T p2<br />
p1<br />
Ccp2T Csp2<br />
Figura 3 - Forças solicitantes em nós externos.<br />
Analogamente, podem ser obtidas as forças cortantes nos nós internos ou em<br />
outros tipos de nó de pórtico.<br />
σ<br />
τ<br />
τ<br />
τ<br />
τ<br />
σ<br />
Figura 4 - Estado simplificado de solicitação normalmente assumido para os nós externos.<br />
Usualmente, o nó de pórtico é encarado como um painel submetido a um<br />
estado plano de tensões (figura 4), embora o estado de solicitação real a que está<br />
sujeito o nó seja mais complexo. Resultados experimentais, entretanto, indicam que<br />
essa simplificação de cálculo é razoável na determinação da resistência dos nós.<br />
Utilizando as equações de equilíbrio e de compatibilidade nas seções da viga e<br />
do pilar, encontram-se as forças necessárias para a obtenção da força cortante no nó.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />
135<br />
3 CAPACIDADE RESISTENTE DOS NÓS EXTERNOS<br />
3.1 Modelo de PAULAY & PRIESTLEY (1992)<br />
PAULAY & PRIESTLEY (1992) propõem que a resistência ao cisalhamento do<br />
nó seja composta pela contribuição de duas parcelas: uma parcela relativa ao<br />
concreto, promovida pela biela diagonal comprimida, e a outra relativa à armadura<br />
transversal. Assumem algumas hipóteses de cálculo com relação à transferência de<br />
esforços, as quais permitem determinar a área de estribos horizontais na região nodal.<br />
Embora a preocupação estivesse voltada para as ações cíclicas reversíveis, a<br />
formulação proposta pelos autores para o cálculo da armadura transversal em nós de<br />
pórtico pode nortear o dimensionamento sob ações monotônicas, como no caso dos<br />
nós externos.<br />
Algumas expressões apresentadas originalmente pelos autores foram<br />
novamente deduzidas e reescritas, ficando isentas de simplificações adicionais que<br />
não são comentadas neste trabalho.<br />
Nós externos:<br />
Segue-se a nomenclatura utilizada no equacionamento deste item:<br />
T é a resultante da armadura longitudinal de tração da viga;<br />
C<br />
s é a resultante da armadura longitudinal de compressão da viga;<br />
C é a resultante das tensões de compressão no concreto na seção da viga;<br />
c<br />
V<br />
p é a força cortante atuante no pilar;<br />
N é a força normal de compressão no pilar;<br />
A<br />
cp é a área bruta da seção do pilar;<br />
A é a área da armadura longitudinal de tração da viga;<br />
st<br />
A é a área da armadura longitudinal de compressão da viga;<br />
sc<br />
A é a área total de estribos horizontais necessários no nó;<br />
p<br />
sh<br />
x é a altura da zona comprimida do pilar;<br />
h<br />
p é a altura da seção do pilar;<br />
u<br />
0 é o fluxo de cisalhamento produzido pela transmissão das forças de compressão<br />
da armadura da viga ao interior do nó por aderência;<br />
f<br />
c é a resistência à compressão do concreto;<br />
f<br />
y é a resistência ao escoamento do aço para as armaduras principais de vigas e<br />
pilares;<br />
f é a resistência ao escoamento do aço para os estribos horizontais do nó.<br />
yh<br />
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136<br />
Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
N<br />
V p<br />
V p<br />
A st<br />
T<br />
T<br />
A sh<br />
D<br />
θ<br />
A sc<br />
C c<br />
u<br />
0<br />
V ch<br />
C c<br />
C s<br />
C s<br />
V p<br />
x p<br />
h p<br />
α hp<br />
Figura 5 - Ações em nós de pórtico externos.<br />
Com base no esquema de tensões internas e respectivas resultantes em nós<br />
de pórtico externos, ilustrado na figura 5, obtém-se, por equilíbrio de forças, a seguinte<br />
expressão para calcular a força cortante horizontal atuante no nó:<br />
V<br />
= T −<br />
(2)<br />
jh<br />
V p<br />
O valor desta força cortante é a soma da contribuição do concreto V ch e da<br />
contribuição da armadura (estribos horizontais) V sh :<br />
V = V + V<br />
(3)<br />
jh<br />
ch<br />
sh<br />
A contribuição de resistência do concreto pode ser deduzida por meio do<br />
equilíbrio de forças no volume de concreto definido pela interseção da biela<br />
comprimida com as zonas de compressão da viga e do pilar (figura 6):<br />
V<br />
ch<br />
= C + ∆T<br />
− V<br />
(4)<br />
c<br />
c<br />
p<br />
onde ∆ Tc<br />
é a parcela da resultante da armadura comprimida C<br />
s a ser transmitida à<br />
biela comprimida, com ∆ Tc<br />
< C<br />
s . Esta hipótese justifica-se pelo fato de os ganchos da<br />
armadura comprimida não serem totalmente eficientes na transmissão das resultantes<br />
de compressão para o interior do nó ou da biela. Em outras palavras, ∆ Tc<br />
representa<br />
a força que pode ser efetivamente transmitida à biela diagonal, por aderência, na zona<br />
comprimida do pilar x .<br />
p<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />
137<br />
θ<br />
V<br />
ch<br />
C c<br />
∆T c<br />
x p<br />
V p<br />
Figura 6 - Equilíbrio de forças para o cálculo de V ch.<br />
O fluxo de cisalhamento, ou a força total a ser ancorada no nó, por unidade de<br />
comprimento, é dada por:<br />
u<br />
0<br />
C<br />
αh<br />
s<br />
= (5)<br />
p<br />
onde<br />
α h p é o comprimento de ancoragem efetivo, com α < 1 em virtude da presença dos<br />
ganchos. Os autores propõem o valor de α igual à 0,7.<br />
Admite-se que a transferência das forças de aderência à biela comprimida<br />
ocorre efetivamente em apenas 80% da zona comprimida x do pilar. Dessa forma,<br />
c<br />
0<br />
( 0,8 x )<br />
∆ T = u<br />
(6)<br />
p<br />
Com a expressão (5), obtém-se<br />
∆ Tc<br />
por:<br />
p<br />
C<br />
s<br />
∆ Tc<br />
= 0,8 xp<br />
(7)<br />
αhp<br />
Calcula-se a parcela de resistência à força cortante relativa ao concreto<br />
V<br />
ch :<br />
V<br />
C<br />
s<br />
ch<br />
= Cc<br />
+ 0,8x<br />
p<br />
− Vp<br />
(8)<br />
αhp<br />
De acordo com as expressões (3) e (8), tem-se que:<br />
V<br />
sh<br />
V<br />
V<br />
T<br />
V<br />
⎛<br />
⎜C<br />
⎝<br />
C<br />
0,8x<br />
V<br />
⎞<br />
⎟ = T − C −<br />
⎠<br />
0,8 x<br />
s<br />
s<br />
=<br />
jh<br />
−<br />
ch<br />
= −<br />
p<br />
−<br />
c<br />
+<br />
p<br />
−<br />
⎜<br />
p<br />
c<br />
p<br />
αh<br />
⎟<br />
(9)<br />
p<br />
αhp<br />
C<br />
Sabendo que em vigas<br />
que:<br />
C<br />
s<br />
= T − C e substituindo este valor em (9), pode-se escrever<br />
c<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
138<br />
Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
⎛ 0,8x<br />
p<br />
⎞<br />
V ⎜ ⎟<br />
sh<br />
= Cs<br />
1−<br />
(10)<br />
⎝ αhp<br />
⎠<br />
Finalmente, a área de estribos horizontais necessários é determinada por:<br />
V ⎛ ⎞<br />
sh<br />
C 0,8x<br />
s<br />
p<br />
A = = ⎜ − ⎟<br />
sh<br />
1<br />
(11)<br />
fyh<br />
fyh<br />
⎝ αhp<br />
⎠<br />
As expressões (10) e (11) podem ser reescritas considerando-se que a altura<br />
da zona comprimida do pilar é razoavelmente estimada por meio da seguinte<br />
aproximação:<br />
⎛ 0,85N ⎞<br />
x ⎜<br />
p<br />
0,25 ⎟<br />
N<br />
= + × h<br />
p<br />
fc<br />
A<br />
válida para > 0, 1<br />
(12)<br />
⎝<br />
cp ⎠<br />
fc<br />
A<br />
cp<br />
Substituindo o valor de<br />
α = 0,7 , obtém-se que:<br />
x<br />
p nas expressões (10) e (11) e adotando o valor sugerido de<br />
⎛ ⎞<br />
⎜<br />
N<br />
V ⎟<br />
sh<br />
= Cs<br />
0,7 −<br />
(13)<br />
⎝ fcA<br />
cp ⎠<br />
V ⎛ ⎞<br />
sh<br />
Cs<br />
⎜<br />
N<br />
A = = − ⎟<br />
sh<br />
0,7<br />
(14)<br />
fyh<br />
fyh<br />
⎝ fcA<br />
cp ⎠<br />
De acordo com o modelo de PAULAY & PRIESTLEY (1992), tanto na expressão (11)<br />
quanto na expressão (14), percebe-se que a força normal do pilar influencia o<br />
comportamento do nó, uma vez que o aumento da intensidade da normal reduz a<br />
quantidade de estribos necessários ao nó de pórtico.<br />
Notar que o modelo não é aplicável aos casos em que não existe armadura<br />
negativa na viga. Este fato decorre em virtude da força cortante V sh resistida pelos<br />
estribos depender da resultante de compressão C s .<br />
3.2 Modelo de HWANG & LEE (1999)<br />
Neste item aborda-se o modelo analítico proposto por HWANG & LEE (1999)<br />
para a avaliação da força cortante resistente em nós externos.<br />
A figura 7 ilustra a classificação dos modos típicos de colapso em modelos<br />
físicos de ligações viga-pilar extremidade, apresentada por HWANG & LEE (1999).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />
139<br />
P / Py<br />
1,1<br />
1,0<br />
0,8 Pmax<br />
Pmax<br />
F1<br />
P<br />
J2<br />
J3<br />
∆<br />
J1<br />
J: Colapso do nó<br />
F: Colapso por flexão da viga<br />
1<br />
4<br />
∆ / ∆y<br />
Figura 7 - Formas possíveis de colapso em nós externos – Adaptado de HWANG & LEE<br />
(1999).<br />
Pelo gráfico da figura 7, nota-se que a máxima força atingida na extremidade<br />
da viga e, conseqüentemente, a máxima força cortante atuante no nó, estão limitadas<br />
por uma das quatro possíveis formas de colapso da ligação:<br />
J1: Colapso por cisalhamento do nó antes de que se atinja a força de plastificação P y ;<br />
J2: Colapso por cisalhamento do nó após a força de plastificação: P/P y > 1,0;<br />
J3: Colapso por cisalhamento do nó para P/P y > 1,1 e ∆ (0,8Pmax) > 4∆ y , onde ∆ y é o<br />
deslocamento na plastificação;<br />
F1: Colapso por flexão da viga.<br />
O modelo proposto pelos autores deriva dos modelos de biela e tirante; no<br />
entanto, além de satisfazer apenas as condições de equilíbrio, também considera a<br />
compatibilidade de deformações e as leis constitutivas do material concreto.<br />
Os resultados do modelo proposto por HWANG & LEE (1999) apresentam uma<br />
correlação satisfatória com resultados experimentais obtidos por diversos<br />
pesquisadores.<br />
A seguir apresenta-se as hipóteses e a formulação matemática do referido<br />
modelo:<br />
O modelo é composto por três mecanismos. A resistência do nó se deve a<br />
participação da biela diagonal comprimida, dos estribos horizontais e das barras<br />
intermediárias do pilar (estribos verticais). O mecanismo promovido pela biela<br />
comprimida denomina-se mecanismo diagonal e os mecanismos promovidos pelos<br />
estribos horizontais e verticais, mecanismo horizontal e mecanismo vertical. A<br />
transferência de forças nesses mecanismos é ilustrada na figura 8.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
140<br />
Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
h 2<br />
0,5h<br />
h 2<br />
0,5h 0,5h<br />
2 2<br />
1<br />
h 1<br />
D<br />
θ<br />
Fh<br />
0,5h 1<br />
h 1<br />
Fv<br />
a<br />
a) Mecanismo Diagonal<br />
b) Mecanismo Horizontal<br />
c) Mecanismo Vertical<br />
Figura 8 - Mecanismos de resistência ao cisalhamento. a) Mecanismo Diagonal. b) Mecanismo<br />
Horizontal. c) Mecanismo Vertical.<br />
O mecanismo diagonal é composto pela biela de compressão principal, cujo<br />
ângulo de inclinação é definido a partir da seguinte expressão:<br />
⎛ h1<br />
⎞<br />
θ = arctan ⎜<br />
⎟<br />
(15)<br />
⎝ h2<br />
⎠<br />
onde<br />
h 1 é a distância vertical entre o eixos das armaduras superior e inferior da viga;<br />
h 2 é a distância horizontal entre o eixo da armadura longitudinal mais próxima da face<br />
interna do pilar e o eixo da armadura da viga dobrada a 90 graus no nó, conforme a<br />
figura 8.<br />
Outro parâmetro referente ao mecanismo diagonal é a área efetiva da biela,<br />
definida por:<br />
A = a ×<br />
(16)<br />
b<br />
b j<br />
onde<br />
a é a largura da biela;<br />
b j é a largura efetiva do nó.<br />
A largura da biela é definida a partir das zonas comprimidas da viga e do pilar.<br />
HWANG & LEE (1999) sugerem que essa largura seja estimada, com razoável<br />
precisão, a partir da expressão proposta por PAULAY & PRIESTLEY (1992):<br />
⎛ 0,85N ⎞<br />
a x ⎜<br />
p<br />
0,25 ⎟<br />
N<br />
= = + h<br />
p<br />
A<br />
pf<br />
com > 0, 1<br />
(17)<br />
⎝<br />
c ⎠<br />
Apfc<br />
onde<br />
x p é a altura da zona comprimida do pilar;<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />
141<br />
N é a força normal no pilar;<br />
A p é a área da seção transversal do pilar;<br />
f c é a resistência à compressão do concreto em corpos de prova cilíndricos;<br />
h p é a altura da seção do pilar.<br />
O cálculo exato para a obtenção da largura da biela é dado pela seguinte<br />
expressão:<br />
⎛<br />
⎞<br />
2 2<br />
⎛ ⎞<br />
⎜ ⎜<br />
x<br />
v<br />
a = x<br />
⎟⎟<br />
v<br />
+ x<br />
p<br />
sen θ + arctg<br />
⎜<br />
⎟<br />
(18)<br />
⎝ ⎝ x<br />
p ⎠⎠<br />
onde<br />
x v é a altura da zona comprimida na seção da viga.<br />
A largura efetiva do nó b j pode ser obtida com as recomendações das<br />
principais normas que tratam do assunto. Em suas análises, HWANG & LEE (1999)<br />
utilizaram a largura efetiva definida pelo ACI-318 (1995).<br />
O mecanismo horizontal consiste em um tirante (representando os estribos<br />
horizontais) e em duas bielas secundárias, mais abatidas que a biela principal. É<br />
importante citar que os diversos estudos experimentais realizados em nós de pórtico<br />
indicam que os estribos horizontais mais solicitados são os que se encontram mais<br />
próximos à metade da altura do nó, enquanto que os demais são menos solicitados.<br />
Por esse motivo, HWANG & LEE (1999) sugerem que os estribos centrais sejam<br />
considerados totalmente efetivos no cômputo da área da seção do tirante, devendo-se<br />
considerar, para os demais estribos, uma contribuição de apenas 50% da área.<br />
O mecanismo vertical é composto por um tirante vertical e duas bielas<br />
secundárias mais íngremes que a biela principal. O tirante vertical representa as<br />
barras longitudinais intermediárias do pilar. A forma de avaliar a área do tirante vertical<br />
é similar à indicada para o mecanismo horizontal. Evidentemente, quando o pilar não<br />
possui barras intermediárias, ou seja, quando contém apenas barras longitudinais<br />
próximas às faces externas do mesmo, o mecanismo vertical inexiste.<br />
A figura 9 ilustra o modelo de biela e tirante empregado por HWANG & LEE<br />
(1999).<br />
1<br />
2<br />
Vjh<br />
Fv<br />
V jv<br />
3 4<br />
F h<br />
6<br />
5<br />
biela<br />
tirante<br />
Figura 9 - Modelo de biela e tirante utilizado por HWANG & LEE (1999).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
142<br />
Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
Segundo o modelo de HWANG & LEE (1999), o escoamento dos estribos não<br />
necessariamente interrompe o desenvolvimento da resistência ao cisalhamento do nó,<br />
pois a biela diagonal é capaz de transmitir esforços de cisalhamento sozinha. Portanto,<br />
a máxima resistência do nó é alcançada quando a tensão de compressão na biela<br />
atinge a capacidade resistente do concreto.<br />
Equilíbrio de forças<br />
Com base no modelo de biela e tirante da figura 9, por equilíbrio de forças,<br />
determina-se a força cortante horizontal a ser resistida pelo nó:<br />
Vjh = Dcosθ + Fh<br />
+ Fv<br />
cotgθ<br />
(19)<br />
onde<br />
D é a força resultante de compressão na biela;<br />
F h é a força resultante de tração no tirante horizontal;<br />
F v é a força resultante de tração no tirante vertical.<br />
De forma similar, a força cortante vertical é expressa por:<br />
V = Dsenθ + F tgθ<br />
+ F<br />
(20)<br />
jv<br />
h<br />
v<br />
por:<br />
A relação entre a força cortante vertical e a força cortante horizontal é dada<br />
V<br />
V<br />
jv<br />
jh<br />
= tgθ<br />
(21)<br />
A parcela de força cortante horizontal e vertical resistidas pelos estribos são<br />
obtidas conforme sugerido por JENNEWEIN & SCHÄFER (1992):<br />
F<br />
h<br />
= γ V<br />
onde<br />
h<br />
jh<br />
2tgθ −1<br />
γ<br />
h<br />
=<br />
para 0<br />
h<br />
1<br />
3<br />
≤ γ ≤<br />
(22)<br />
O fator γ h representa a fração de força cortante horizontal transmitida pelo<br />
tirante horizontal sem a presença do tirante vertical. Da mesma maneira,<br />
F<br />
v<br />
= γ V<br />
onde<br />
v<br />
jv<br />
2cotgθ −1<br />
γ<br />
v<br />
=<br />
para 0<br />
v<br />
1<br />
3<br />
≤ γ ≤<br />
(23)<br />
onde o fator γ v representa a fração de força cortante transmitida pelo tirante vertical<br />
sem a presença do tirante horizontal.<br />
Com base nas expressões (19), (22) e (23), as forças envolvidas nos três<br />
mecanismos (D, F h e F v ) podem ser convenientemente expressas em função da força<br />
cortante horizontal:<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />
143<br />
D<br />
F<br />
F<br />
1<br />
⎛<br />
⎜<br />
⎝<br />
R<br />
⎞<br />
⎟V<br />
⎠<br />
= d<br />
jh<br />
cosθ<br />
⎜ R<br />
d<br />
+ Rh<br />
+ R ⎟<br />
(24)<br />
v<br />
⎛<br />
⎜<br />
⎝<br />
R<br />
⎞<br />
⎟V<br />
⎠<br />
= h<br />
h ⎜<br />
jh<br />
R<br />
d<br />
+ Rh<br />
+ R ⎟<br />
(25)<br />
v<br />
1<br />
⎛<br />
⎜<br />
⎝<br />
R<br />
⎞<br />
⎟<br />
⎠<br />
= v<br />
v<br />
Vjh<br />
cot gθ<br />
⎜ R<br />
d<br />
+ Rh<br />
+ R ⎟<br />
(26)<br />
v<br />
onde R d , R h e R v são termos adimensionais que indicam a parcela de força cortante<br />
horizontal resistida pelo mecanismo diagonal, horizontal e vertical, respectivamente. O<br />
valor desses termos são determinados por:<br />
R<br />
R<br />
R<br />
( 1− γ )( 1− γ )<br />
h v<br />
d<br />
= (27)<br />
1− γ<br />
vγh<br />
γ<br />
( 1− γ )<br />
h v<br />
h<br />
= (28)<br />
1− γ<br />
v<br />
γ<br />
h<br />
γ<br />
( 1− γ )<br />
v h<br />
v<br />
= (<strong>29</strong>)<br />
1− γ<br />
vγ<br />
h<br />
Naturalmente, a soma dessas três parcelas adimensionais deve ser igual à<br />
unidade. Quando não houver barras longitudinais intermediárias no pilar, não há<br />
formação do mecanismo vertical, ou seja, γ v é igual a 0. A figura 10 indica como ocorre<br />
a distribuição das forças em nós de pórtico externos em função do ângulo de<br />
inclinação da biela.<br />
1,0<br />
Rh<br />
Mecanismo Horizontal<br />
Fração resistente<br />
0,5<br />
Rd<br />
Mecanismo Diagonal<br />
Mecanismo Vertical<br />
Rv<br />
0,0<br />
25 35 45 55 65<br />
Ângulo da biela diagonal (graus)<br />
Figura 10 - Distribuição da força cortante horizontal entre os três mecanismos.<br />
Para ângulos de inclinação da biela iguais a 45 graus, o mecanismo diagonal é<br />
o que mais participa da resistência ao cisalhamento. Nesta situação, R d assume valor<br />
igual a 0,5. A figura 10 também indica que a participação dos estribos horizontais na<br />
resistência à força cortante é maior à medida que a inclinação da biela aumenta.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
144<br />
Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
Assim, em nós de pórtico formados por vigas de grande altura em relação à altura da<br />
seção do pilar, a presença de estribos horizontais é mais relevante.<br />
Para verificar se a resistência do nó foi alcançada, as tensões de compressão<br />
da região nodal (nó 6 da figura 9) devem ser verificadas. Com algum esforço algébrico,<br />
determina-se a máxima tensão normal de compressão na região nodal, atuante na<br />
direção principal d, por:<br />
σ<br />
d,max<br />
=<br />
1<br />
A<br />
b<br />
⎡ ⎛ ⎛ h ⎞<br />
⎢ ⎜<br />
1<br />
⎞<br />
cos θ − arctg ⎟<br />
⎜<br />
⎟<br />
⎢ ⎝ ⎝ 2h<br />
2 ⎠⎠<br />
⎢D<br />
+<br />
× F<br />
⎢<br />
⎛ ⎛ h ⎞⎞<br />
⎜<br />
1<br />
cos arctg ⎟<br />
⎢<br />
⎜<br />
⎟<br />
⎣ ⎝ ⎝ 2h<br />
2 ⎠⎠<br />
h<br />
⎛ ⎛ 2h ⎞<br />
⎜<br />
1<br />
⎞<br />
cos arctg ⎟<br />
⎜<br />
⎟ − θ<br />
⎝ ⎝ h2<br />
⎠<br />
+<br />
⎠<br />
× F<br />
⎛ ⎛ 2h ⎞⎞<br />
⎜<br />
1<br />
sen arctg ⎟<br />
⎜<br />
⎟<br />
⎝ ⎝ h2<br />
⎠⎠<br />
v<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎥<br />
⎦<br />
(30)<br />
Segundo HWANG & LEE (1999), é possível demonstrar que a direção principal<br />
d coincide com a direção da biela diagonal.<br />
Leis constitutivas<br />
Sabe-se que o concreto em zonas fissuradas apresenta resistência e rigidez<br />
menores que o concreto submetido apenas à compressão uniaxial, em virtude dos<br />
efeitos de tração da armadura que o atravessa. Um exemplo típico deste<br />
comportamento é o caso das bielas comprimidas em nós de pórtico.<br />
Uma vez que as atenções estão voltadas para a resistência, representa-se<br />
apenas o ramo ascendente da curva tensão-deformação do concreto fissurado (figura<br />
11) por:<br />
σ<br />
2<br />
⎡ ⎛ ε<br />
⎤<br />
d<br />
⎞ ⎛ εd<br />
⎞<br />
εd<br />
= ζf ⎢ − ⎥<br />
c<br />
=<br />
⎢<br />
⎜<br />
⎟<br />
⎜<br />
⎟ para ≤ 1<br />
⎣ ⎝ ζε0<br />
⎠ ⎝ ζε0<br />
⎠ ⎥<br />
ζε0<br />
⎦<br />
d<br />
2<br />
(31)<br />
5,8 1 0,9<br />
ζ =<br />
≤<br />
(32)<br />
f + ε<br />
ε<br />
c<br />
1 400<br />
r<br />
1+<br />
400<br />
r<br />
onde<br />
σ<br />
d é a tensão principal de compressão na direção d.<br />
ζ é o coeficiente adimensional de redução da resistência;<br />
ε<br />
d e ε<br />
r são as deformações principais médias na direção d e r<br />
ε<br />
0 é a deformação correspondente à tensão de resistência à compressão (corpo de<br />
prova cilíndrico), a qual pode ser estimada por:<br />
⎛ fc<br />
− 20 ⎞<br />
ε0 = −0,002<br />
− 0,001⎜<br />
⎟ para 20MPa<br />
fc 100MPa<br />
⎝ 100 ⎠<br />
≤ ≤<br />
(33)<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />
145<br />
σ d<br />
cilindroσ d<br />
ε<br />
d<br />
σ d<br />
f<br />
c<br />
σ d<br />
ε r<br />
ζf<br />
c<br />
εd<br />
σ d<br />
concreto em<br />
zona fissurada<br />
ζε 0 ε 0<br />
ε d<br />
Figura 11 - Comportamento do concreto armado em zonas fissuradas em decorrência de<br />
deformações transversais.<br />
A máxima resistência ao cisalhamento é alcançada sempre que a tensão de<br />
compressão e a deformação na biela diagonal atingirem os valores máximos, ou seja:<br />
σ = ζ<br />
(34)<br />
d<br />
f c<br />
ε =<br />
(35)<br />
d<br />
ζε 0<br />
Para o aço, adota-se o modelo elasto-plástico perfeito. Assim, as relações<br />
entre as forças resultantes nas armaduras transversais e as respectivas deformações<br />
de tração podem se escritas da seguinte forma:<br />
F<br />
F<br />
h<br />
v<br />
= A<br />
shEsεh<br />
se h<br />
< εyh<br />
= A E ε se v<br />
< εyv<br />
sv<br />
s<br />
v<br />
ε F<br />
h<br />
Fyh<br />
= Ashfyh<br />
ε F<br />
v<br />
Fyv<br />
= Asvfyv<br />
= se ε<br />
h<br />
≥ εyh<br />
(36)<br />
= se ε<br />
v<br />
≥ εyv<br />
(37)<br />
onde<br />
A sh e A sv são as áreas de estribos horizontais e verticais, respectivamente;<br />
E s é o módulo de elasticidade do aço;<br />
ε h e ε v são as deformações nos estribos horizontais e verticais;<br />
ε yh e ε yv são as deformações nos estribos horizontais e verticais correspondentes ao<br />
início do escoamento;<br />
f yh e f yv são as tensões de escoamento do aço dos estribos horizontais e verticais.<br />
Compatibilidade<br />
São duas as equações de compatibilidade que relacionam as deformações<br />
médias nos diferentes sistemas de coordenadas. Uma vez conhecida a direção<br />
principal das tensões de compressão, a deformação principal de tração ε r pode ser<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
146<br />
Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
relacionada com a deformação horizontal ε h , a deformação vertical ε v e a deformação<br />
principal de compressão ε d da seguinte maneira:<br />
ε<br />
r<br />
= ε<br />
h<br />
+<br />
2<br />
( ε − ε ) g θ<br />
h<br />
d<br />
cot (38)<br />
2<br />
( ε − ε ) θ<br />
εr = ε<br />
v<br />
+<br />
v d<br />
tg (39)<br />
Procedimentos de resolução<br />
O algoritmo para a resolução do problema inicia-se com a adoção de um valor<br />
inicial para a resistência ao cisalhamento do nó V jh , seguida de três etapas:<br />
1) Empregam-se as equações de equilíbrio para encontrar a tensão máxima de<br />
compressão σ d,max que atua na região nodal (expressão 30). Assumindo-se que<br />
a resistência da biela tenha sido alcançada, obtém-se o valor do coeficiente ζ<br />
σd,max<br />
por meio de ζ = ;<br />
fc<br />
2) Utilizam-se as leis constitutivas dos materiais para determinar as deformações<br />
na biela e nos tirantes;<br />
3) Aplicando-se as equações de compatibilidade, obtém-se um novo valor para ζ.<br />
Se este valor estiver suficientemente próximo do valor calculado na etapa 1,<br />
então o valor atual de V jh é a resistência ao cisalhamento do nó; caso contrário,<br />
continua-se o procedimento iterativo.<br />
O algoritmo de resolução é encontrado detalhadamente em HWANG & LEE<br />
(1999).<br />
saber:<br />
Vale notar que o modelo contêm 10 variáveis que devem ser determinadas, a<br />
Quatro variáveis de forças: V jh , D, F h , F v ;<br />
Uma variável de tensão: σ d,max ;<br />
Uma variável associada ao material: ζ;<br />
Quatro variáveis de deformações: ε d, ε h, ε v , ε r<br />
Em função do número de variáveis envolvendo os tirantes, cinco situações de<br />
cálculo são possíveis na determinação de V jh :<br />
Situação E: A biela de compressão atinge a resistência máxima enquanto que os<br />
tirantes horizontais e verticais permanecem no regime elástico;<br />
Situação YH: Primeiramente, ocorre o escoamento do tirante horizontal. A força<br />
cortante restante é resistida apenas pelo mecanismo diagonal e vertical, até a biela de<br />
compressão atingir sua resistência máxima, permanecendo o estribo vertical em<br />
regime elástico;<br />
Situação YV: O escoamento do tirante vertical ocorre primeiro. Analogamente à<br />
situação YH, o acréscimo de força cortante deve ser redistribuído apenas para o<br />
mecanismo horizontal e diagonal, até que a biela atinja a resistência máxima,<br />
permanecendo o tirante horizontal em regime elástico;<br />
Situação YHV: O tirante horizontal atinge o escoamento, seguido do escoamento do<br />
tirante vertical após a redistribuição de forças. Após o escoamento dos tirantes, a biela<br />
atinge a resistência máxima;<br />
Situação YVH: Análoga a situação YHV, porém com o tirante vertical atingindo<br />
primeiro o escoamento.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />
147<br />
3.3 Expressões das normas de cálculo<br />
Entre as principais normas encontradas na literatura que tratam do<br />
dimensionamento de nós de pórtico de concreto, tanto para o caso de carregamento<br />
cíclico quanto para o caso monotônico, estão as normas americanas ACI-352 (1991) e<br />
ACI-318 (1995), a norma japonesa AIJ (1991) e a norma neozelandesa NZS-3101<br />
(1995).<br />
Observa-se que as normas apresentam entre si algumas diferenças no<br />
dimensionamento das ligações, em especial sobre os mecanismos resistentes do nó<br />
frente ao cisalhamento imposto pelos elementos conectados.<br />
No modelo de cálculo adotado pelo ACI-318 (1995), assume-se que as forças<br />
cortantes são resistidas primariamente pelo núcleo de concreto (nó) e pela armadura<br />
longitudinal do pilar, sendo a integridade da ligação assegurada pela presença de<br />
estribos horizontais colocados na região do nó, os quais servem também para confinar<br />
o concreto. Com esse modelo, percebe-se que o nó é tratado como uma parte do pilar.<br />
Além disso, ignoram-se as tensões de cisalhamento verticais quando a armadura<br />
longitudinal do pilar é uniformemente distribuída ao longo do perímetro do nó. De<br />
qualquer modo, as tensões de cisalhamento verticais podem ser obtidas utilizando-se<br />
o mesmo raciocínio empregado na determinação da força cortante horizontal. Outra<br />
particularidade da norma americana é a consideração do efeito benéfico da presença<br />
de vigas transversais sobre o confinamento.<br />
No modelo adotado pelas normas NZS-3101 (1995) e pelo CEB (1985), as<br />
tensões cisalhantes horizontais e verticais são consideradas no dimensionamento.<br />
A norma brasileira NBR 6118:2003 trata os nós de pórtico como regiões<br />
especiais, não valendo nessas regiões a hipótese da permanência das seções planas.<br />
Prescreve que, em decorrência da mudança de direção dos elementos estruturais, a<br />
resistência do conjunto depende da resistência à tração do concreto e da disposição<br />
da armadura, as quais devem ser consideradas no dimensionamento. Entretanto, não<br />
apresenta modelos de cálculo para o dimensionamento dos nós.<br />
Resistência nominal ao cisalhamento<br />
Nas verificações associadas ao nó, é usual expressar as forças cortantes em<br />
termos de tensões cisalhantes, calculadas simplesmente por:<br />
Vjh<br />
τ<br />
n<br />
=<br />
(40)<br />
A<br />
j<br />
onde A j é a área efetiva do nó de pórtico. Tal área ainda pode ser escrita como:<br />
A = b h<br />
(41)<br />
j<br />
j<br />
j<br />
onde b j e h j são a largura efetiva e a altura efetiva do nó.<br />
Normalmente, adota-se para a altura efetiva h j o valor da altura da seção<br />
transversal do pilar na direção em que o cisalhamento é introduzido ao nó. Por outro<br />
lado, a obtenção da largura efetiva está ligada às diferenças de largura e de<br />
posicionamento entre as seções dos pilares e das vigas. É evidente que áreas de<br />
concreto muito afastadas das faces verticais das vigas não participam eficientemente<br />
na resistência às tensões cisalhantes introduzidos ao nó de pórtico. Por esse motivo,<br />
algumas normas fornecem recomendações simples para o cálculo de uma largura<br />
efetiva para o nó.<br />
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148<br />
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ACI 352 (1991) e ACI 318 (1995):<br />
A resistência nominal ao cisalhamento de um nó de pórtico é calculada pela<br />
seguinte expressão:<br />
V<br />
n<br />
τ<br />
n<br />
= = 0,083γ<br />
fc<br />
(42)<br />
A<br />
j<br />
onde<br />
γ é uma constante que depende da classificação do nó;<br />
f c é a resistência à compressão do concreto em MPa;<br />
A j é a área efetiva do nó, com A<br />
j<br />
= b<br />
jhp<br />
;<br />
b j é a largura efetiva do nó;<br />
h p é a altura da seção transversal do pilar na direção analisada.<br />
A constante γ é obtida a partir da tabela 1:<br />
Tabela 1 - Valores de γ em ligações viga-pilar – ACI 352 (1991) e ACI 318 (1995)<br />
Tipos de nós de pórtico<br />
Categoria<br />
(Tipo)<br />
Nós confinados por 4<br />
faces verticais (nós<br />
Nós confinados por três faces<br />
verticais ou por 2 faces<br />
Outros casos<br />
(nós de canto)<br />
internos)<br />
opostas (nós externos)<br />
1 24 20 15<br />
2 20 15 12<br />
NZS-3101 (1995) e AIJ (1991):<br />
Segundo as normas neozelandesa e a japonesa, a resistência nominal ao<br />
cisalhamento τ<br />
n assume o seguinte valor:<br />
τ<br />
n<br />
= kf c<br />
(43)<br />
onde<br />
k =0,2 para todos os tipos de nó, segundo a NZS-3101 (1995);<br />
k =0,3 para nós internos e k = 0,18 para nós externos, segundo a AIJ (1991).<br />
A figura 12 contém uma comparação da tensão nominal resistente em função<br />
da resistência à compressão do concreto, segundo as três normas aqui mencionadas.<br />
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Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />
149<br />
Tensão nominal resistente (MPa)<br />
12<br />
11<br />
10<br />
9<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
ACI318(1995)<br />
NZS3101(1995)<br />
AIJ(1991)<br />
2<br />
20 25 30 35 40 45 50<br />
Resistência à compressão do concreto (MPa)<br />
Figura 12 - Resistência ao cisalhamento em função da resistência à compressão.<br />
4 EXEMPLOS NUMÉRICOS<br />
4.1 Exemplo numérico: aplicação do modelo de PAULAY & PRIESTLEY (1992)<br />
Neste exemplo, são dimensionados os estribos horizontais do nó indicado na<br />
figura 13, de modo que a viga possa atingir o momento último, dentro das hipóteses<br />
usuais assumidas no estado limite último e da norma brasileira NBR 6118:2003. As<br />
intensidades das solicitações procuraram simular uma situação real de edifício de<br />
múltiplos andares em pórtico de concreto armado, compatíveis com as dimensões e<br />
geometria dos elementos estruturais escolhidos.<br />
Dados do problema:<br />
Concreto:<br />
f ck<br />
= 30MPa ;<br />
coeficiente de minoração da resistência do concreto: γ = 1, c<br />
4<br />
Aço:<br />
barras longitudinais da viga e do pilar:<br />
estribos do nó:<br />
γ = 1,15<br />
s<br />
f yh<br />
= 500MPa<br />
Força normal no pilar: 360 N d<br />
= kN<br />
Altura entre pisos consecutivos: 300cm<br />
f y<br />
= 500MPa<br />
;<br />
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150<br />
Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
Figura 13 - Ligação viga-pilar de extremidade do exemplo numérico.<br />
f<br />
fck<br />
3,0<br />
= = 2,143 kN/cm 2<br />
γ 1,4<br />
cd<br />
=<br />
c<br />
f<br />
fy<br />
50<br />
= = 43,48 kN/cm 2<br />
γ 1,15<br />
yd<br />
=<br />
s<br />
Força cortante horizontal do nó<br />
A resultante de tração das barras principais da viga, assumindo que esta atinja a<br />
máxima capacidade à flexão, é igual a:<br />
T<br />
= A f = 8,00 × 43,48 347,8 kN<br />
v ,d st yd<br />
=<br />
Calcula-se o momento último na viga com as hipóteses usuais do estado limite último:<br />
M u , d<br />
=<br />
12070kN.cm<br />
Por equilíbrio, o momento fletor no pilar é igual a metade do momento último da viga:<br />
M u , d<br />
=<br />
6035kN.cm<br />
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Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />
151<br />
A força cortante no pilar correspondente ao momento último da viga pode ser obtida<br />
pela razão entre a soma dos momentos de extremidade do pilar e a distância entre<br />
pisos consecutivos da estrutura. Logo:<br />
V , d<br />
V<br />
6035+<br />
6035<br />
=<br />
40,2kN<br />
300<br />
= T − V = 347,8 − 40,2 307,6 kN<br />
p<br />
=<br />
jh ,d v,d p, d<br />
=<br />
Área de estribos horizontais no nó:<br />
Utilizando a expressão (11) do modelo de PAULAY & PRIESTLEY (1992), calcula-se a<br />
área de estribos<br />
C ⎛ ⎞<br />
s,d<br />
0,8x<br />
p<br />
A = ⎜ − ⎟<br />
sh<br />
1<br />
onde α = 0, 7<br />
fyh,d<br />
⎝ αhp<br />
⎠<br />
Aplicando as equações de equilíbrio e de compatibilidade da seção da viga, obtém-se,<br />
para o momento último da viga:<br />
C , d<br />
s<br />
= 195,76 kN<br />
Utilizando a aproximação da expressão (12):<br />
⎛ 0,85 × 360 ⎞<br />
x p<br />
= ⎜0,25<br />
+<br />
⎟ × 30 = 14,64cm<br />
⎝ 600 × 3,0 /1,4 ⎠<br />
195,76 ⎛ 0,8 × 14,64 ⎞<br />
A 1<br />
= 1,99cm<br />
43,48 ⎝ 0,7 × 30 ⎠<br />
2<br />
sh<br />
= ⎜ − ⎟<br />
(2φ8mm)<br />
Os estribos calculados devem ser colocados entre a armadura tracionada da viga e a<br />
zona comprimida da mesma.<br />
A fim de evitar o esmagamento da biela diagonal do nó, PAULAY &<br />
PRIESTLEY (1992) sugerem que a tensão nominal de cisalhamento esteja limitada a<br />
0,25 vezes a resistência característica à compressão do concreto. Aplicando os<br />
coeficientes de minoração da resistência do concreto, a força cortante solicitante de<br />
cálculo deve atender a seguinte verificação<br />
V ≤ 0,25.f<br />
jh,d<br />
V , d<br />
cd<br />
. A<br />
3,0<br />
≤ 0,25 × ×<br />
1,4<br />
j<br />
( 20 × 30) 321,4 kN<br />
jh<br />
=<br />
Como<br />
V , d<br />
jh<br />
= 307,6 kN , a verificação está atendida.<br />
4.2 Exemplo numérico: aplicação do modelo de HWANG & LEE (1999)<br />
Neste exemplo, determina-se a força cortante resistente com base no modelo<br />
de biela e tirante proposto por HWANG & LEE (1999) para nós externos. A geometria<br />
e os materiais são os mesmos do exemplo 4.1, variando-se apenas a área de estribos<br />
horizontais do nó. Os demais dados necessários estão contidos na tabela 2.<br />
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152<br />
Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
Tabela 2 - Dados relativos à geometria da ligação e aos materiais adotados<br />
Materiais Viga Pilar Nó<br />
f c = 30 MPa<br />
ε o = -0,002<br />
f yh = 500 MPa<br />
E s = 210.000 MPa<br />
b v = 20 cm<br />
h v = 40 cm<br />
h 1 = 34,0 cm<br />
b p = 20 cm<br />
h p = 30 cm<br />
h 2 = 22,8 cm<br />
N = 360 kN<br />
A b = 365 cm 2<br />
A j = 600 cm 2<br />
θ = 56,2°<br />
A área da biela A b foi calculada de acordo com a expressão (18), tomando-se,<br />
por facilidade, a profundidade da linha neutra da viga (x v ) como sendo à<br />
correspondente ao início de plastificação das barras longitudinais da viga.<br />
Procedendo-se ao cálculo da seção da viga, obtém-se que:<br />
x v<br />
= 10,87cm<br />
Logo:<br />
a =<br />
b<br />
⎛<br />
⎜<br />
⎝<br />
⎛ 10,87 ⎞⎞<br />
14,64 ⎟<br />
⎝ ⎠⎠<br />
2<br />
2<br />
( 10,87) + ( 14,64) sen⎜55,2<br />
+ arctg⎜<br />
⎟⎟<br />
= 18,23cm<br />
A = 18,23 × 20 =<br />
365cm<br />
2<br />
Vale ressaltar que os valores da resistência à compressão do concreto e da<br />
resistência ao escoamento do aço fornecidos ao modelo de biela e tirante foram<br />
minorados pelos coeficientes de ponderação da resistência de cada material.<br />
A tabela 3 contém os resultados fornecidos pelo modelo de HWANG & LEE<br />
(1999) para diferentes áreas de armadura transversal no nó.<br />
Tabela 3 - Resultados fornecidos pelo modelo de HWANG & LEE (1999)<br />
A sh V jh,d<br />
(kN)<br />
τ d<br />
(kN/cm 2 )<br />
τ d / f cd D<br />
(kN)<br />
σ cd<br />
(kN/cm 2 )<br />
F h<br />
(kN)<br />
σ sh,d<br />
(kN/cm 2 )<br />
Sem estribos 252,6 0,421 0,196 453,6 1,243 0,000 0,000<br />
1φ8 (1,0 cm 2 ) 267,6 0,446 0,208 402,3 1,102 43,48 43,48<br />
2φ8 (2,0 cm 2 ) 282,6 0,471 0,220 351,2 0,962 87,00 43,48<br />
3φ8 (3,0 cm 2 ) <strong>29</strong>7,6 0,496 0,231 300,0 0,822 130,5 43,48<br />
4φ8 (4,0 cm 2 ) 312,6 0,521 0,243 248,8 0,682 174,0 43,48<br />
5φ8 (5,0 cm 2 ) 327,5 0,546 0,255 199,5 0,546 216,4 43,28<br />
6φ8 (6,0 cm 2 ) 338,8 0,565 0,264 206,3 0,565 223,9 37,31<br />
8φ8 (8,0 cm 2 ) 355,7 0,593 0,277 216,6 0,593 235,1 <strong>29</strong>,39<br />
A partir dos resultados da tabela 3, são feitas algumas análises e observações:<br />
• Para taxas de estribos pequenas, a resistência ao cisalhamento do nó é<br />
governada pelo escoamento dos estribos. Para taxas de estribos maiores, a<br />
resistência do nó acaba sendo governada pela resistência da biela comprimida,<br />
podendo os estribos trabalhar no regime elástico.<br />
• A resistência ao cisalhamento cresce linearmente com a área de estribos<br />
enquanto estes permanecem em regime de escoamento. Quando os estribos<br />
começam a trabalhar no regime elástico, observa-se um crescimento não-linear<br />
da resistência com a área de armadura transversal (figura 14).<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />
153<br />
370<br />
Força cortante resistente (kN)<br />
350<br />
330<br />
310<br />
<strong>29</strong>0<br />
270<br />
250<br />
0 2 4 6 8 10<br />
Área de armadura transversal (cm2)<br />
Figura 14 - Resistência ao cisalhamento vs. Área de armadura transversal no nó –<br />
HWANG & LEE (1999).<br />
• A tensão normal na biela decresce linearmente com o aumento da área de<br />
estribos, enquanto estes ainda atingem o escoamento. Quando os estribos<br />
horizontais começam a trabalhar no regime elástico, a tensão normal da biela<br />
apresenta uma taxa de crescimento modesta, até que o nó não seja mais<br />
capaz de suportar o carregamento imposto (figura 15).<br />
Tensão na biela (kN/cm2)<br />
1,4<br />
1,2<br />
1,0<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0,0<br />
0 2 4 6 8 10<br />
Área de estribos (cm2)<br />
Figura 15 - Tensão de compressão na biela vs. Área de armadura transversal no nó –<br />
HWANG & LEE (1999).<br />
• Ao contrário do que propõem as principais normas de cálculo, a máxima tensão<br />
de cisalhamento associada ao esmagamento da biela diagonal também<br />
depende da taxa de armadura transversal e não somente da resistência à<br />
compressão do concreto. Na verdade, as taxas de armadura transversal<br />
prescritas por essas normas, em especial no caso de ações sísmicas, são<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
154<br />
Gerson Moacyr Sisniegas Alva & Ana Lúcia Homce de Cresce El Debs<br />
suficientes o bastante para assumir, com segurança, que a resistência ao nó<br />
de pórtico dependa apenas da resistência à compressão do concreto.<br />
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Neste trabalho, foram abordados alguns modelos de cálculo para a<br />
determinação da resistência de nós externos formados nas estruturas em pórtico de<br />
concreto armado.<br />
Em situação de projeto, recomenda-se que o nó de pórtico apresente uma<br />
capacidade resistente maior que a das vigas e a dos pilares. Em outras palavras, o nó<br />
de pórtico deve ser a região mais resistente da ligação viga-pilar.<br />
Conhecendo-se a resistência ao cisalhamento do nó de pórtico, avalia-se se tal<br />
região é a mais ou a menos resistente da ligação. Para isso, calcula-se o momento<br />
último da viga, determinando-se a resultante na armadura tracionada da viga e a força<br />
cortante no pilar. Com essas duas grandezas, calcula-se a força cortante solicitante no<br />
nó, a qual deve ser comparada com a resistência ao cisalhamento do mesmo.<br />
Com relação a determinação da força cortante resistente do nó, foram<br />
apresentados os modelos de PAULAY & PRIESTLEY (1992) e o modelo de HWANG &<br />
LEE (1999). Ambos baseiam-se nos conceitos dos modelos de biela e tirante.<br />
A determinação da força cortante resistente também pode ser feita por<br />
expressões recomendadas por normas de dimensionamento, devendo-se, entretanto,<br />
satisfazer os requisitos de detalhamento para a aplicação adequada dessas<br />
expressões.<br />
Com relação aos dois modelos teóricos abordados neste trabalho, as seguintes<br />
diferenças podem ser mencionadas:<br />
• Em situação de projeto, o modelo de PAULAY & PRIESTLEY é mais prático<br />
que o modelo de HWANG & LEE, pois com uma única expressão - que<br />
depende apenas da resultante de compressão da armadura da viga, da altura<br />
da zona comprimida do pilar e altura da seção do mesmo - é possível<br />
dimensionar ou verificar o nó de pórtico. O modelo de HWANG & LEE<br />
apresenta uma formulação mais sofisticada e utiliza um processo iterativo de<br />
resolução, sendo mais conveniente empregá-lo com o auxílio de computador.<br />
• O modelo de PAULAY & PRIESTLEY faz uso apenas de equações de<br />
equilíbrio de forças em sua formulação. O modelo de HWANG & LEE, além de<br />
utilizar equações de equilíbrio de forças, também faz uso de equações de<br />
compatibilidade de deformações e de leis constitutivas dos materiais,<br />
apresentando, em princípio, mais consistência em termos mecânicos.<br />
• Para as taxas de estribos não muito elevadas, o modelo de PAULAY &<br />
PRIESTLEY fornece uma resistência ao cisalhamento maior que o modelo de<br />
HWANG & LEE.<br />
• A determinação da resistência do nó empregando o modelo de PAULAY &<br />
PRIESTLEY depende das taxas de armaduras principais da viga e do emprego<br />
das equações de compatibilidade e equilíbrio na seção da mesma. Por sua<br />
vez, o modelo de HWANG & LEE não requer os valores das resultantes das<br />
armaduras longitudinais da viga, pois a área da seção da biela pode ser<br />
estimada apenas com o valor da força normal do pilar (expressões 16 e 17).<br />
• O modelo de PAULAY & PRIESTLEY não é aplicável aos casos em que não<br />
existe armadura negativa na viga. Este fato decorre em virtude da força<br />
cortante V sh resistida pelos estribos depender da resultante de compressão C s .<br />
O mesmo não ocorre com o modelo de HWANG & LEE.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
Determinação da capacidade resistente de nós de pórtico externos de concreto armado<br />
155<br />
• O modelo de PAULAY & PRIESTLEY também não é aplicável na ausência de<br />
estribos no nó. Neste caso, o modelo de HWANG & LEE deve ser utilizado,<br />
assumindo-se que a deformação ε h na expressão (38) seja igual à deformação<br />
das barras longitudinais de tração da viga.<br />
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
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joints in monolithic reinforced concrete structures. Detroit: American Concrete<br />
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São <strong>Carlos</strong>. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong><br />
– Universidade de São Paulo.<br />
ALVA, G. M. S. (2004). Estudo teórico-experimental do comportamento de nós de<br />
pórtico de concreto armado submetidos a ações cíclicas. São <strong>Carlos</strong>. Tese<br />
(Doutorado) – Escola de Engenharia de São <strong>Carlos</strong> – Universidade de São Paulo.<br />
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2003). NBR 6118. Projeto de<br />
estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT.<br />
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seismic design of concrete structures. Bulletin d’Information, n.165.<br />
HWANG, S-J; LEE, H. J. (1999). Analytical model for predicting shear strenghts of<br />
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NZS-3101. (1995). Concrete Structures Standard: Part1 – The design of concrete<br />
structures. Wellington.<br />
PARK, R.; PAULAY, T. (1975). Reinforced concrete structures. 2. ed. New York:<br />
John Wiley & Sons. p.716-61.<br />
PAULAY, T.; PRIESTLEY, M. (1992). Seismic design of reinforced concrete and<br />
mansory buildings. 2ed. New York: John Wiley & Sons. p.1-303.<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São <strong>Carlos</strong>, v. 7, n. <strong>29</strong>, p. 131-155, <strong>2005</strong>
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