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Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo constitutivo de dano<br />
129<br />
Por outro lado, ao empregar a modelagem fundamentada no pressuposto de meio<br />
contínuo, como prescreve a mecânica do dano, o maior problema que se apresenta é o<br />
da identificação de zonas de localização do dano e de suas orientações. Mesmo que seja<br />
adotada a modelagem contínua e supondo que tenha sido possível identificar uma região<br />
de localização, ainda uma outra questão surge: qual a largura da zona? Além disso,<br />
numa simulação numérica, alguma forma de adaptação da malha deve ser adotada para<br />
que se possa inserir dentro daquela zona elementos com lei de encruamento negativo<br />
bem definida.<br />
As questões anteriores relativas à abordagem contínua na verdade surgiram em<br />
conseqüência das dificuldades evidenciadas quando nas análises numéricas se passaram<br />
a incluir modelos constitutivos com encruamento negativo. Com o emprego de tais<br />
modelos, baseados em uma descrição local do comportamento do material, a largura da<br />
zona de localização tende progressivamente a zero, uma vez que a simulação procura<br />
encontrar uma condição de evolução e localização do dano compatível com uma fratura<br />
discreta. Para ilustrar essa dificuldade, basta imaginar, por simplicidade, uma malha<br />
composta por elementos de deformação constante, para os quais necessariamente a<br />
largura da zona de localização fica associada às suas dimensões. Repetindo-se uma<br />
mesma análise com malhas progressivamente mais refinadas, observa-se que a largura<br />
da zona tende a zero, obtendo-se soluções que convergem para uma resposta de energia<br />
dissipada nula. Matematicamente, diz-se que o problema de valor de contorno resulta<br />
mal colocado (no sentido de existência de um número finito de soluções linearmente<br />
independentes que dependem continuamente dos dados). Matematicamente ocorre perda<br />
de elipticidade das equações governantes se o tipo de análise for estática ou perda de<br />
hiperbolicidade se for análise dinâmica, (Benallal et al. 7 ). Em qualquer caso, a<br />
descrição numérica deixa de ser uma representação coerente da realidade física.<br />
Entretanto, é possível introduzir na formulação contínua técnicas ditas de regularização<br />
que preservam a condição matemática de elipticidade quando a zona de localização de<br />
deformações se desenvolve, provendo soluções numéricas representativas de problemas<br />
de valor de contorno envolvendo encruamento negativo e localização.<br />
Uma técnica bastante simples de regularização consiste em impor à zona de localização<br />
uma largura mínima e adotar uma condição de ruptura, ou de formação da fratura<br />
discreta, quando o estado de deformação dentro dela atingir certo valor limite. Para que<br />
a fixação de uma medida não pareça ser recurso sem fundamento, uma justificativa que<br />
se encontra na literatura é admitir que tal medida seja uma ‘propriedade’, normalmente<br />
referida como um “comprimento interno” do material.<br />
Mas uma maneira mais elegante e ao mesmo tempo matematicamente correta de<br />
implementar esta idéia consiste em formular o problema de modo que a largura da zona<br />
esteja implícita no modelo resultante. Essa alternativa é proporcionada pelos chamados<br />
modelos não-locais, como os modelos que introduzem gradientes de ordem superior da<br />
deformação plástica ou da variável de dano na função de escoamento ou de danificação<br />
- Frémond & Nedjar 8 , Peerlings et al. 9 , De Borst et al. 10 , Comi 11, 12 , Comi &<br />
Driemeier 13,14 . Este trabalho trata exatamente desse tipo de modelo.<br />
Há ainda outras técnicas de regularização que incluem um ‘comprimento interno’,<br />
destacando-se as seguintes: teoria micropolar – de Borst & Muhlhaus 15 , Steinmann &<br />
Stein 16 , Iordache & Willam 17 , integral não-local - Pijaudier-Cabot & Bazant 18 , energia<br />
de fratura – Oliver 19 .<br />
Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008