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São Carlos, v.10 n. 46 2008


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO<br />

Reitora:<br />

Profa. Dra. SUELY VILELA<br />

Vice-Reitor:<br />

Prof. Dr. FRANCO M. LAJOLO<br />

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS<br />

Diretor:<br />

Profa. Dra. MARIA DO CARMO CALIJURI<br />

Vice-Diretor:<br />

Prof. Dr. ARTHUR JOSÉ VIEIRA PORTO<br />

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS<br />

Chefe do Departamento:<br />

Prof. Dr. CARLITO CALIL JUNIOR<br />

Suplente do Chefe do Departamento:<br />

Prof. Dr. SERGIO PERSIVAL BARONCINI PROENÇA<br />

Coordenador de Pós-Graduação:<br />

Prof. Dr. MARCIO ANTONIO RAMALHO<br />

Editor Responsável:<br />

Prof. Dr. MÁRCIO ROBERTO SILVA CORRÊA<br />

Coordenadora de Publicações e Material Bibliográfico:<br />

MARIA NADIR MINATEL<br />

e-mail: minatel@sc.usp.br<br />

Editoração e Diagramação:<br />

FRANCISCO CARLOS GUETE DE BRITO<br />

MARIA NADIR MINATEL<br />

MASAKI KAWABATA NETO<br />

MELINA BENATTI OSTINI<br />

RODRIGO RIBEIRO PACCOLA<br />

TATIANE MALVESTIO SILVA


São Carlos, v.10 n. 46 2008


Departamento de Engenharia de Estruturas<br />

Escola de Engenharia de São Carlos – <strong>USP</strong><br />

Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro<br />

CEP: 13566-590 – São Carlos – SP<br />

Fone: (16) 3373-9481 Fax: (16) 3373-9482<br />

site: http://www.set.eesc.usp.br


SUMÁRIO<br />

Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite 1<br />

Sistema computacional com geração de dados e visualização de resultados para<br />

estrutura de edifícios<br />

Luiz Liserre & Marcio Antonio Ramalho 33<br />

Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo 61<br />

Contribuição para o projeto e dimensionamento de edifícios de múltiplos andares<br />

com elementos estruturais mistos aço-concreto<br />

Marcela de Arruda Fabrizzi & Roberto Martins Gonçalves 91<br />

Um algoritmo estocástico para detecção de dano<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier 111<br />

Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo<br />

constitutivo de dano<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença 127


ISSN 1809-5860<br />

DIMENSIONAMENTO DE ELEMENTOS<br />

ESTRUTURAIS EM ALUMÍNIO<br />

Didiane Victoria Buzinelli 1 & Maximiliano Malite 2<br />

Resumo<br />

O alumínio, ou mais precisamente as ligas de alumínio, vem ganhando significativo<br />

espaço no mercado das construções metálicas, com aplicação nas estruturas e em<br />

componentes como telhas e painéis em geral. Características como a leveza, boa<br />

trabalhabilidade, elevada resistência mecânica e à corrosão colocam as estruturas de<br />

alumínio como vantajosas em relação às estruturas de aço em muitas situações.<br />

Enfatizando as características do material e o projeto estrutural, são apresentadas as<br />

ligas de alumínio, suas características e produtos disponíveis, e os fundamentos<br />

teóricos que constituem a base do dimensionamento das barras e das ligações. Com a<br />

ausência de norma brasileira para projeto de estruturas de alumínio, são apresentados<br />

e discutidos os requisitos da norma americana da Aluminum Association e as<br />

recomendações das usinas produtoras.<br />

Palavras-chave: estruturas metálicas; estruturas de alumínio; alumínio;<br />

dimensionamento.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

1.1 Obtenção e aspectos gerais<br />

O setor de produção de alumínio, um dos mais versáteis metais utilizados pelo<br />

homem, é hoje a segunda indústria metalúrgica do mundo, superada apenas pela<br />

siderurgia. O alumínio é um metal que apresenta vasta gama de aplicação pois<br />

apresenta elevada resistência mecânica e à corrosão, possuindo excelente aspecto<br />

estético e sua densidade corresponde a um terço da densidade do aço.<br />

Entretanto os estudos desenvolvidos no Brasil, na área de estruturas metálicas,<br />

têm-se limitado às estruturas de aço, deixando a um segundo plano o alumínio enquanto<br />

material estrutural. A literatura nacional sobre o assunto restringe-se basicamente a<br />

catálogos e manuais das usinas produtoras.<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, cezdidinaba@ig.com.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, mamalite@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


2<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

Segundo ABDO (1993), as estruturas de alumínio, em comparação com as<br />

estruturas de aço, apresentam reduções no peso de 40% a 70%. Desta forma,<br />

admitindo-se estruturas mais leves e com custos de manutenção mais baixos, as<br />

estruturas de alumínio podem, em certos casos, apresentar custos globais inferiores aos<br />

das estruturas de aço correspondentes.<br />

A economia associada ao custo de manutenção para a qual o alumínio apresenta<br />

vantagens em função de sua grande resistência à corrosão, faz deste um material<br />

adequado para ambientes corrosivos.<br />

O alumínio apresenta baixo módulo de elasticidade, se comparado com o aço,<br />

correspondendo a um terço do valor do aço. Este fator faz com que as estruturas em<br />

alumínio apresentem uma satisfatória resposta sob o efeito de tensões oriundas de<br />

impactos, deformações e ajustes. Em contrapartida, o baixo módulo de elasticidade<br />

determina a necessidade de uma cuidadosa avaliação da rigidez dos elementos e da<br />

estrutura globalmente.<br />

O coeficiente de dilatação térmica do alumínio corresponde ao dobro do valor<br />

para o aço, entretanto em função do baixo módulo de elasticidade, as tensões<br />

provenientes das variações de temperatura em geral não alcançam valores<br />

significativos.<br />

Outra vantagem fundamental dos elementos estruturais em alumínio está no<br />

processo de fabricação de perfis através do processo de extrusão. Este processo permite<br />

a fabricação de perfis com diversas seções transversais, oferecendo facilidade de<br />

montagem, maior eficiência estrutural pela melhor distribuição de massa e melhorias de<br />

aparência estética.<br />

Para o projetista, este processo de fabricação de perfis permite maior liberdade<br />

para o dimensionamento, com a utilização de um maior número possível de seções<br />

transversais.<br />

O alumínio pode ser ainda forjado, usinado, cortado, estampado, furado e<br />

soldado, conferindo-lhe maior trabalhabilidade. Em determinadas ligas, é um material<br />

soldável e para a viabilidade econômica das estruturas soldadas em alumínio faz-se<br />

necessário o aumento das velocidades de soldagem, bem menores se comparadas com<br />

as correspondentes em estruturas de aço. O preparo das superfícies de alumínio também<br />

encarece o processo.<br />

Com relação aos processos de acabamento o alumínio pode ser submetido a<br />

vários tipos de tratamento, cuja principal finalidade é apenas estética.<br />

Exemplos de estruturas com utilização de elementos estruturais em alumínio<br />

podem ser vistos nos painéis de alumínio dos edifícios da United Nations Secretariat<br />

em Nova Iorque e Alcoa Building em Pittsburg e na cobertura da cúpula de entrada do<br />

Walt Disney World’s Epcot Center na Flórida.<br />

Uma das maiores aplicações do alumínio em estruturas está na construção de<br />

coberturas, como por exemplo a estrutura de cobertura do Hospital Radcliffe em Oxford<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

3<br />

e da Cúpula do Descobrimento construída na Inglaterra para o Festival Britânico de<br />

1951.<br />

Destaca-se ainda, também em Pittsburg, a ponte Smithfield Street Bridge, que<br />

foi recuperada com a colocação de novo tabuleiro em vigas de alumínio, diminuindo o<br />

peso próprio da estrutura.<br />

No contexto nacional, a construção do Pavilhão Anhembi em São Paulo, que<br />

consiste na maior área coberta em estrutura de alumínio no mundo, retrata uma<br />

realidade diferente em um país onde as estruturas em alumínio ocupam um lugar<br />

extremamente modesto.<br />

Dentre os avanços na utilização do alumínio em estruturas no Brasil, destacamse<br />

suas recentes aplicações no estado de Pernambuco com a conclusão em 1997 do<br />

Shopping Center Caruaru, que soma 63 toneladas de alumínio e 20.000 metros<br />

quadrados de área construída.<br />

1.2 Histórico sobre as normas de dimensionamento de elementos<br />

estruturais em alumínio<br />

O alumínio tem uma história comercial muito mais recente que a do aço, com a<br />

primeira produção de alumínio na data de 1888. A primeira norma para construções em<br />

aço foi publicada em 1923 (AISC) enquanto que a correspondente norma para alumínio<br />

data de 1967.<br />

As primeiras recomendações para dimensionamento de estruturas de alumínio<br />

começaram a ser desenvolvidas pela ALCOA por volta de 1930. Em maio de 1952, a<br />

ASCE publicou um artigo intitulado “Specifcations for Structures of Moderate Strength<br />

Aluminum Alloy of High Resistance to Corrosion”. Especificações similares surgiram<br />

em 1956 e 1962 ao mesmo tempo que os maiores produtores de alumínio<br />

desenvolveram manuais para dimensionamento de seus produtos.<br />

A primeira “Specifications for Aluminum Structures” foi publicada em 1967,<br />

pela ALUMINUM ASSOCIATION (AA), com base nos trabalhos da ASCE, e foi<br />

reconhecida pela indústria do alumínio.<br />

A norma da AA foi revisada em 1971, 1976, 1982 e 1986, mas muitas das<br />

prescrições permaneceram sem modificações.<br />

Em 1994, na sexta edição, a norma do AA introduziu várias alterações. A<br />

novidade mais relevante foi a inserção do método dos estados limites (LRFD) para<br />

alumínio nos Estados Unidos.<br />

Em 1999, destaca-se a publicação do Eurocode 9: Design of Aluminum<br />

Structures com prescrições gerais e prescrições para edificações.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


4<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

2 LIGAS ESTRUTURAIS DE ALUMÍNIO<br />

2.1 Tipos e classificação<br />

O alumínio puro é um material com propriedades mecânicas inadequadas para<br />

uso estrutural. Para melhorar estas propriedades adicionam-se ao alumínio outros<br />

materiais, constituindo as ligas estruturais de alumínio.<br />

As ligas estruturais de alumínio dividem-se entre ligas tratáveis termicamente e<br />

ligas não tratáveis termicamente. Sendo as diversas ligas de alumínio designadas por<br />

quatro dígitos seguidos pela letra que indica sua têmpera.<br />

Em função das características dos elementos da liga, as ligas são agrupadas em<br />

séries. As ligas da série 6000 são as mais utilizadas estruturalmente destacando-se as<br />

ligas 6061, 6063 e 6351.<br />

Com relação ao tratamento das ligas destas séries pode-se agrupar as séries 1000, 3000,<br />

4000 e 5000 como ligas não tratáveis termicamente e as séries 2000, 6000 e 7000 como<br />

ligas tratáveis termicamente.<br />

Os fabricantes de alumínio apresentam para cada liga a sua curva de<br />

flambagem, no entanto esta não considera os fatores de segurança empregados no<br />

dimensionamento, ou seja, não são as tensões admissíveis.<br />

2.2 Propriedades do material<br />

A ausência de normalização nacional sobre o assunto implica na consulta a<br />

normas estrangeiras, as quais especificam o alumínio, enquanto material estrutural,<br />

estabelecendo valores mínimos das propriedades mecânicas.<br />

Diferentemente dos aços normalmente utilizados em estruturas, o alumínio não<br />

apresenta patamar de escoamento no gráfico tensão x deformação, sendo a tensão de<br />

escoamento do material determinada de maneira convencional (por exemplo através do<br />

método off set 0,2 %).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

5<br />

Figura 2.1- Comparação entre as curvas tensão x deformação para o aço ASTM A36 e a liga<br />

de alumínio 6061-T6.<br />

O módulo de elasticidade à compressão varia de 7.000 kN/cm2 a 7.600 kN/cm2,<br />

(variação em torno de 10% para as ligas comumente utilizadas) sendo razoavelmente<br />

adotado como um valor convencional de 7.000 kN/cm2 .<br />

O coeficiente de Poisson é assumido como 0,33, conduzindo ao seguinte valor<br />

para o módulo de elasticidade transversal:<br />

G = 0,375E<br />

(2.1)<br />

A soldagem afeta significativamente as propriedades mecânicas das ligas<br />

estruturais de alumínio. Nesta situação, as propriedades mecânicas mínimas são<br />

apresentadas na norma da AA distinguidas pelo índice subscrito w.<br />

Tabela 2.1- Propriedades mecânicas de algumas ligas.<br />

Propriedades Mecânicas<br />

Liga / Têmpera Alcoa Resistência à ruptura por Resistência ao escoamento alongamento dureza<br />

tração - f tu (MPa) por tração - f ty (MPa) (%) 50 mm Brinell<br />

mín. máx. mín. máx. mín. máx.<br />

6061-O - 152,3 - 111,7 16 30<br />

6061-T4 182,8 - 111,7 - 16 65<br />

6061-T6 264,0 - 243,7 - 8 95<br />

6061-T8 345,2 - 264,0 - - -<br />

6061-T9 355,4 - 289,4 - - -<br />

6063-O - 132,0 - - 18 25<br />

6063-T4 126,9 - 60,9 - 14 50<br />

6063-T4A 111,7 - 55,8 - 15 48<br />

6063-T5 147,2 - 106,6 - 8 60<br />

6063-T6 208,2 - 172,6 - 8 73<br />

6262-T6 264,0 - 243,7 - 10 90<br />

6262-T9 350,3 - 319,8 - 5 120<br />

6351-O 101,5 152,3 50,8 101,5 16 35<br />

6351-T4 223,4 - 132,0 - 16 60<br />

6351-T6 294,5 - 258,9 - 8 95<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


6<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

A tabela 2.1 apresenta as propriedades mecânicas de algumas ligas de alumínio<br />

e a tabela 2.2 as propriedades físicas das ligas de alumínio empregadas em projeto.<br />

Tabela 2.2 - Propriedades físicas das ligas de alumínio empregadas em projeto.<br />

PROPRIEDADES FÍSICAS<br />

VALOR<br />

módulo de elasticidade<br />

70.000 MPa<br />

módulo de deformação transversal 26.300 MPa<br />

coeficiente de Poisson 0,33<br />

densidade 2700 kg/m 3<br />

coeficiente de dilatação térmica 23,9x10 -6 / o C<br />

3 BARRAS SUBMETIDAS À TRAÇÃO<br />

A especificação da AA estabelece que a tensão calculada com base na área<br />

líquida não deve ultrapassar os seguintes valores admissíveis:<br />

f<br />

ty<br />

(FS)<br />

y<br />

e<br />

f<br />

tu<br />

(k<br />

t)(FS)<br />

u (3.1)<br />

Onde:<br />

(FS)y - fator de segurança no escoamento, igual a 1,65,<br />

(FS)u - fator de segurança na ruptura, igual a 1,95 e<br />

kt - coeficiente de modificação do fator de segurança sendo igual a 1,0 para a maioria<br />

das ligas, exceto para a liga 2014-T6 cujo valor é igual a 1,25.<br />

Observa-se que autores como KISSEL & FERRY (1995) analisam o<br />

escoamento admitindo a seção bruta da barra ao contrário da norma da AA que não<br />

reconhece este fenômeno.<br />

A determinação da resistência de barras tracionadas em alumínio, descrita na<br />

norma da AA, é similar à determinação da resistência de barras tracionadas em aço<br />

estabelecida no AISC-ASD (1989).<br />

As considerações apresentadas pela AA com relação à área líquida efetiva de<br />

perfis parcialmente conectados, juntamente com as considerações de MARSH (1983) e<br />

as especificações do AISC-ASD (1989) podem ser resumidas em um coeficiente que<br />

multiplica a área líquida da seção transversal (Ct), que estão apresentados na tabela 3.1.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

7<br />

Tabela 3.1 - Comparação entre os valores de Ct para o cálculo da área efetiva.<br />

CASO AA AISC MARSH<br />

cantoneira de abas iguais com 1 aba<br />

conectada e com 2 parafusos em linha 0,67 0,75 0,62<br />

dupla cantoneiras de abas iguais com 2<br />

parafusos em linha 0,83 0,75 0,75<br />

cantoneiras de abas iguais com 1 aba<br />

conectada e com 3 parafusos em linha 0,67 0,85 0,62<br />

dupla cantoneiras de abas iguais com 3<br />

parafusos em linha 0,83 0,85 0,75<br />

T com a aba conectada<br />

não<br />

previsto<br />

0,75 ou<br />

0,85<br />

não<br />

previsto<br />

Assim como nos elementos estruturais em aço, é usual também nas estruturas<br />

em alumínio limitar a esbeltez dos elementos tracionados. Valores típicos podem ser<br />

tomados como 250 para estruturas internas e protegidas (sem risco de vibração) e 150<br />

para estruturas externas nas quais pode ocorrer vibração.<br />

4 BARRAS SUBMETIDAS À COMPRESSÃO<br />

As especificações da AA estabelecem que as tensões críticas no caso de barras<br />

comprimidas devem ser calculadas em função dos modos de falha da barra (flambagem<br />

global) e dos componentes da seção transversal (flambagem local). Em ambos os casos<br />

a tensão admissível é obtida dividindo-se a tensão crítica pelo fator de segurança na<br />

compressão.<br />

A AA estabelece o fator de segurança no escoamento (FS)y igual a 1,65 e na<br />

flambagem (FS)u igual a 1,95. Estes valores são próximos aos tradicionalmente<br />

propostos pelo AISC-ASD: 1,67 para escoamento (λ=0) e 1,92 flambagem elástica,<br />

sendo que na flambagem inelástica calcula-se um valor entre 1,67 e 1,92, em função da<br />

esbeltez da barra. No caso do escoamento aplica-se ainda um coeficiente de<br />

modificação do fator de segurança empregado em algumas ligas e denominado kc.<br />

Deste modo tem-se:<br />

- no escoamento:<br />

Onde:<br />

k<br />

f cy<br />

(FS)<br />

c y<br />

- na flambagem:<br />

σ c<br />

(FS) u (4.1)<br />

fcy - resistência ao escoamento por compressão,<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


8<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

σc - tensão crítica na compressão,<br />

kc - coeficiente de modificação do fator de segurança 1,12 para a liga 2014-T6 e<br />

algumas ligas da série 6000 e 1,1 para todas as outras.<br />

4.1 Flambagem em barras sujeitas à compressão centrada<br />

4.1.1 Flambagem global<br />

A classificação das peças comprimidas é função do seu índice de esbeltez (λ)<br />

dado por:<br />

λ= kL r (4.2)<br />

Onde:<br />

kL - comprimento efetivo de flambagem e<br />

r - raio de giração .<br />

A resistência de barras esbeltas, isto é, sujeitas à flambagem elástica, é<br />

determinada pela expressão de Euler, cuja tensão crítica é dada por:<br />

σ<br />

c<br />

2<br />

π E<br />

=<br />

2<br />

λ<br />

(4.3)<br />

A flambagem inelástica ocorre quando a tensão crítica de flambagem elástica<br />

supera a tensão de proporcionalidade, o que ocorre geralmente em barras de esbeltez<br />

intermediária.<br />

Assim, emprega-se expressões aproximadas, calibradas experimentalmente,<br />

para o trecho de flambagem inelástica e a relação entre tensão crítica e esbeltez é dada<br />

para a flambagem inelástica por uma aproximação linear, com bons resultados.<br />

σ<br />

= B − D λ<br />

(4.4)<br />

c c c<br />

Os valores de Bc e Dc são determinados por meio de expressões que relacionam<br />

a resistência ao escoamento por compressão e o módulo de elasticidade, para cada liga<br />

e têmpera, e são experimentalmente calibradas.<br />

Deste modo, tem-se:<br />

- para as ligas nas têmperas envelhecidas artificialmente:<br />

⎛ ⎞<br />

B<br />

c<br />

= ⎜ + fcy<br />

⎝<br />

1 2 a ⎟<br />

⎠<br />

(4.5)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

9<br />

C 4,1 E c<br />

= = C<br />

B<br />

c<br />

2<br />

(4.6)<br />

D<br />

c<br />

= 0,41 B C<br />

c<br />

c<br />

(4.7)<br />

- para as ligas nas têmperas não envelhecidas artificialmente:<br />

⎛ ⎞<br />

B<br />

c<br />

= ⎜ + fcy<br />

⎝<br />

1 3 a ⎟<br />

⎠<br />

(4.8)<br />

C<br />

D<br />

c<br />

c<br />

E<br />

= 544 , = C<br />

B<br />

= 0,67 B C<br />

c<br />

c<br />

c<br />

2<br />

(4.9)<br />

(4.10)<br />

Onde:<br />

a =<br />

E<br />

f cy<br />

(4.11)<br />

E - módulo de elasticidade<br />

fcy - resistência ao escoamento por compressão<br />

As expressões para o cálculo destas constantes são apresentadas na norma da<br />

AA, sendo que, para dimensionamento, estas constantes já se encontram devidamente<br />

tabeladas para várias ligas, como por exemplo, no ALUMINUM DESIGN MANUAL.<br />

Como ocorre no escoamento de barras tracionadas, também nas barras<br />

comprimidas a resistência ao escoamento é reduzida por um fator kc tabelado na norma<br />

da AA como 1,12 para a liga 2014-T6 e algumas ligas da série 6000 e 1,1 para as<br />

demais ligas.<br />

σ c<br />

=<br />

f<br />

k<br />

cy<br />

c<br />

(4.12)<br />

A figura 4.1 apresenta as curvas de flambagem para a liga 6351 nas têmperas<br />

T4 e T6.<br />

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10<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

Figura 4.1 - Curva de flambagem para a liga 6351 nas têmperas T4 e T6.<br />

Figura 4.2 - Curva de flambagem para a liga 6351 -T6 e aço ASTM-A36.<br />

A figura 4.2 apresenta a comparação entre as curvas de flambagem para a liga<br />

6351 na têmpera T6 e para o aço ASTM-A36. Nota-se que para fins comparativos a<br />

curva para o aço foi construída utilizando-se os valores de módulo de elasticidade e<br />

resistência ao escoamento na compressão da liga 6351 têmpera T6.<br />

Em se tratando de seções abertas e de paredes delgadas, o caso geral de<br />

instabilidade deve ser verificado (flambagem por flexo-torção).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

11<br />

Nestes casos as especificações da AA apresentam o conceito de esbeltez<br />

equivalente para as seções monossimétricas - flambagem por flexo-torção, ou seções<br />

duplamente simétricas - flambagem por torção. Entretanto estas especificações não<br />

apresentam um método de determinação da esbeltez equivalente para seções<br />

assimétricas.<br />

Para a flambagem por torção, a norma da AA apresenta o cálculo da esbeltez<br />

equivalente pela expressão 4.13.<br />

λ φ<br />

=<br />

Ar<br />

0<br />

2<br />

[ w ( φ ) ]<br />

0,<br />

038I + C k L<br />

t<br />

2<br />

(4.13)<br />

Onde:<br />

λφ - índice de esbeltez equivalente para flambagem por torção<br />

A - área da seção transversal<br />

r0 - raio polar de giração da seção transversal em relação ao centro de torção,<br />

dado pela expressão 4.14.<br />

2 2 2<br />

( 2<br />

x y 0 0 )<br />

r = r + r + x + y<br />

0<br />

(4.14)<br />

x0 e y0 - distância entre o centróide e o centro de torção, nas direções dos eixos<br />

principais x e y, respectivamente<br />

rx e ry - raios de giração da seção transversal para os eixos principais de inércia<br />

It - momento de inércia à torção<br />

Cw - constante de empenamento<br />

kφ - coeficiente para cálculo do comprimento efetivo à torção da barra<br />

L - comprimento livre da barra à torção<br />

No caso da flambagem por flexo-torção, sugere-se a determinação da tensão na<br />

flexo-torção, caso geral, (σFT) e a partir desta obter-se o índice de esbeltez equivalente<br />

na flexo-torção (λFT), analogamente ao procedimento empregado nas normas de aço.<br />

Ou seja:<br />

λ<br />

FT<br />

2<br />

fcy<br />

kc<br />

π E<br />

E<br />

= λeq<br />

= × ⇒ λFT<br />

= π<br />

σ f k<br />

σ<br />

FT cy c<br />

Sendo σFT a tensão na flexo-torção e dada pela expressão 4.16.<br />

FT<br />

(4.15)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


12<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

[( )<br />

σ = σ σ + σ σ + σ σ −<br />

FT ex ey ex t ey t<br />

2<br />

( σexσey σexσt σeyσt ) 4( σexσeyσ )( γσex βσey σt<br />

)<br />

⎛<br />

− ⎜ + + − + +<br />

⎝<br />

⎞<br />

⎟ ⎤ ⎠⎦ ⎥ × ⎡ 1<br />

⎢<br />

⎣⎢<br />

2 + +<br />

( γσex βσey σt<br />

)<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦⎥<br />

Onde:<br />

(4.16)<br />

σex , σey - tensões críticas de flambagem elástica por flexão em torno dos eixos<br />

x e y, respectivamente<br />

σt - tensão crítica de flambagem elástica por torção<br />

β, γ - parâmetros definidos a seguir:<br />

β = 1-(x0 / r0)2<br />

γ = 1-(y0 / r0)2<br />

A expressão 4.16 vale para todas as seções, podendo ser simplificada, no caso<br />

das seções monossimétricas, pela expressão 4.17.<br />

σ<br />

1<br />

= ⎡( ) ( )<br />

β σ + σ − σ + σ 2<br />

−4<br />

2 ⎣⎢<br />

βσ σ<br />

FT ex t ex t ex t<br />

⎤<br />

⎦⎥<br />

(4.17)<br />

4.1.2 Flambagem local<br />

O outro caso de instabilidade que deve ser verificado é a flambagem local, na<br />

qual a seção transversal da barra é subdividida em elementos bidimensionais<br />

considerando a largura e a espessura da chapa, além das vinculações das bordas.<br />

KISSEL & FERRY (1995) descrevem três casos de flambagem local, em<br />

função da esbeltez do elemento (relação largura - espessura b/t): escoamento,<br />

flambagem local no regime inelástico e flambagem local no regime elástico. Sendo os<br />

fatores de segurança os mesmos da flambagem global : 1,65 para o escoamento e 1,95<br />

para a flambagem.<br />

As expressões usadas para o cálculo da flambagem local são similares às<br />

empregadas no cálculo da flambagem global, sendo a esbeltez global (kL/r) substituída<br />

pela esbeltez do local (b/t), multiplicada pelo fator α.<br />

O fator α, multiplicando a relação largura - espessura, considera a vinculação<br />

do elemento e a distribuição de tensões.<br />

Assim a tensão crítica de flambagem local pode ser determinada da seguinte<br />

maneira:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

13<br />

escoamento:<br />

σ c<br />

=<br />

f<br />

k<br />

cy<br />

c<br />

(4.18)<br />

flambagem inelástica:<br />

σ<br />

= B −D<br />

c p p<br />

⎛ αb⎞<br />

⎜ ⎟<br />

⎝ t ⎠<br />

(4.19)<br />

Onde:<br />

b/t - é a relação largura - espessura<br />

Bp e Dp - constantes definidas para cada liga e têmpera.<br />

α - fator que expressa a condição de vinculação da chapa.<br />

flambagem elástica:<br />

2<br />

π E<br />

σ<br />

c<br />

=<br />

⎛ αb<br />

⎝ ⎜ ⎞<br />

⎟<br />

t ⎠<br />

2<br />

(4.20)<br />

Deve-se atentar para o fato da AA considerar como largura de um elemento<br />

apenas a parte plana deste elemento, o que difere da consideração do AISC. No caso de<br />

elementos com espessura variável adota-se, de maneira análoga ao aço, uma espessura<br />

média.<br />

Nos elementos em que é permitido considerar o comportamento pós-flambagem<br />

existe um ganho de resistência do elemento e a expressão 4.20 é modificada para:<br />

k2 BpE<br />

σ<br />

c<br />

= ⎛ αb<br />

⎝ ⎜ ⎞<br />

⎟<br />

t ⎠<br />

(4.21)<br />

A constante k2 é determinada para cada liga. Por exemplo, para a liga 6061-T6<br />

seu valor é igual a 2,27. A figura 4.3 ilustra este comportamento, com as expressões<br />

para a liga 6061-T6, no caso de uma chapa com uma das bordas livre.<br />

σ c (kN / cm 2 )<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


14<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

Figura 4.3 - Curva de flambagem local para elemento na liga 6061-T6, no caso de uma chapa<br />

com uma das bordas livre.<br />

A norma da AA permite ainda, que após o cálculo das tensões admissíveis à<br />

flambagem local de cada elemento que formam a seção transversal, calcule-se uma<br />

tensão admissível média dada pela expressão 4.22, que será a tensão admissível à<br />

flambagem local para a barra comprimida.<br />

σ<br />

ca<br />

=<br />

A1σ 1<br />

+ A2σ 2+ K+<br />

A σ<br />

A<br />

c c n cn<br />

(4.22)<br />

Onde:<br />

Ai - área do elemento i,<br />

σci - tensão admissível à flambagem local para o elemento i,<br />

A - área da seção transversal (= A1 + A2 + ... + An ), e<br />

σca - tensão admissível média à flambagem local.<br />

4.1.2.1 Elementos com enrijecedores de borda<br />

Assim como nos perfis de aço formados a frio, é usual em alumínio empregar<br />

perfis com enrijecedores de borda nas. Os enrijecedores de borda conferem um vínculo<br />

à borda livre da chapa, cuja eficiência, evidentemente, depende de sua “rigidez”.<br />

A norma da AA apresenta uma expressão para o cálculo da tensão admissível à<br />

flambagem local de elementos com enrijecedores de borda (4.23).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

15<br />

( )<br />

σ = σ + σ −σ<br />

as uT sT uT<br />

R<br />

(4.23)<br />

Onde:<br />

borda;<br />

σas - tensão admissível à flambagem local do elemento com enrijecedor de<br />

σuT - tensão admissível à flambagem local admitindo o elemento apoiado com<br />

borda livre (sem enrijecedor de borda);<br />

σsT - tensão admissível à flambagem local admitindo o elemento apoiado em<br />

ambas as bordas;<br />

R - é o parâmetro que depende da rigidez do enrijecedor de borda e da esbeltez<br />

do elemento a ser enrijecido, dado por:<br />

R = 10 , se b/t ≤ S/3 (4.24)<br />

R =<br />

rs<br />

⎛ bt 1⎞<br />

9t⎜<br />

− ⎟<br />

⎝ S 3⎠<br />

≤<br />

10 ,<br />

se S/3 < b/t ≤ S (4.25)<br />

rs<br />

R =<br />

⎛ bt ⎞<br />

15 , t⎜<br />

+ 3⎟<br />

⎝ S ⎠<br />

Sendo:<br />

≤ 10 ,<br />

se S < b/t ≤ 2S (4.26)<br />

rs - raio de giração do enrijecedor em relação à linha esqueleto do elemento a<br />

ser enrijecido;<br />

b, t - largura e espessura, respectivamente, do elemento a ser enrijecido;<br />

S<br />

= 128 ,<br />

E<br />

f cy<br />

(4.27)<br />

Os enrijecedores de borda dos perfis tabelados, em geral apresentam baixa<br />

eficiência, como é possível comprovar no exemplo a seguir.<br />

Seja o perfil U enrijecido apresentado na figura 4.4, com suas propriedades<br />

geométricas.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


16<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

y<br />

47,5<br />

2 ,5<br />

2 ,5<br />

7,5<br />

A = 5,22 cm 2<br />

I x = 93,97 cm 4<br />

107,0<br />

x<br />

14,0<br />

x<br />

I y = 13,92 cm 4<br />

r x = 4,24 cm<br />

r y = 1,63 cm<br />

3,0<br />

W x = 17,56 cm 3<br />

W y = 4,16 cm 3<br />

y<br />

Figura 4.4 - Perfil U enrijecido disponível comercialmente (dimensões em mm), adotado no<br />

exemplo.<br />

Inicialmente calcula-se a esbeltez do elemento a ser enrijecido e do enrijecedor:<br />

b 42<br />

⎧ mesa ⇒ = = 16,<br />

8<br />

⎪<br />

t 25 ,<br />

⎨<br />

⎪enrijecedor<br />

b<br />

⎩<br />

⇒ 75 ,<br />

= = 25 , < C = 52 compacto<br />

1<br />

, ( )<br />

t 3<br />

Determina-se o momento de inércia e o raio de giração do enrijecedor em<br />

relação a linha esqueleto do elemento a ser enrijecido:<br />

I<br />

r<br />

s<br />

s<br />

= × 3<br />

3 75 ,<br />

+ ( 3 × 7, 5)<br />

. 2,<br />

5 = 246mm<br />

12<br />

Is<br />

= = 331 , mm = 033 , cm<br />

A<br />

s<br />

2 4<br />

No caso da liga 6061-T6 tem-se da expressão 4.27:<br />

S = 128 7 .<br />

,<br />

000 = 16,<br />

7<br />

25<br />

b<br />

= 16,<br />

8 ≈ S<br />

t<br />

cálculo de “R” pela expressão 4.25<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

17<br />

R =<br />

331 ,<br />

⎛ ⎞<br />

9× 25 , ⎜1−<br />

1 ⎟<br />

⎝ 3⎠<br />

= 0, 221 < 1,<br />

0<br />

As tensões admissíveis à flambagem local para a mesa com uma das bordas<br />

livre (σuT) e com as duas bordas apoiadas (σsT), resultam:<br />

σ<br />

σ<br />

uT<br />

sT<br />

106<br />

2<br />

= = 637 , kN / cm<br />

bt<br />

= 16 − 0, 174 = 1312 , kN/<br />

cm<br />

( bt)<br />

Calcula-se a seguir, a tensão admissível à flambagem local para a mesa<br />

considerando a contribuição do enrijecedor:<br />

2<br />

σ<br />

σ<br />

as<br />

as<br />

= 6, 37 + ( 1312 , − 6, 37) 0, 221 = 6, 37 + 1,<br />

49<br />

= 786 , kN cm<br />

2<br />

Observa-se que, em comparação com a mesa com borda livre, houve um ganho<br />

de resistência de 23% , que corresponde a 60% do valor da tensão admissível no caso<br />

de elemento com as duas bordas apoiadas.<br />

4.1.3 Interação entre flambagem global e flambagem local<br />

Nos casos em que a seção é constituída por elementos esbeltos, ou seja, a<br />

relação b/t é superior a C2 , o comportamento pós-flambagem que implica em aumento<br />

da tensão nas extremidades vinculadas dos elementos, pode constituir-se num fator<br />

redutor da capacidade da barra em termos de flambagem global.<br />

Se a tensão admissível à flambagem local for menor que a tensão admissível a<br />

flambagem global, havendo então a possibilidade de redução da capacidade da barra<br />

pela interação entre os dois modos de flambagem, deve-se calcular uma tensão<br />

admissível reduzida (σa,r ) dada pela expressão (4.28).<br />

σ<br />

ar ,<br />

=<br />

1 1<br />

σ 3<br />

cg<br />

. σ 3<br />

cl<br />

FS<br />

(4.28)<br />

Onde:<br />

σcg - tensão crítica da flambagem global,<br />

σcl - tensão crítica de flambagem local,<br />

FS - fator de segurança aplicado à flambagem (1,95 para barras comprimidas e<br />

1,65 para barras fletidas)<br />

A expressão 4.28 é aplicável somente se a seção possuir elementos esbeltos (b/t<br />

σ σ<br />

cl<br />

cg<br />

> C2 ), e se FS<br />

<<br />

FS .<br />

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18<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

5 BARRAS SUBMETIDAS À FLEXÃO SIMPLES<br />

Quando uma barra está submetida a flexão, sua capacidade está relacionada com<br />

a sua resistência ao momento fletor e à força cortante. Para estes esforços têm-se<br />

diferentes modos de ruína aplicáveis.<br />

Com relação ao momento fletor, os modos de ruína aplicáveis são: plastificação<br />

ou ruptura da região tracionada, as instabilidades locais (mesa comprimida e alma) e a<br />

instabilidade global (flambagem lateral com torção). Para a força cortante poderá<br />

ocorrer um estado de plastificação ou de instabilidade da alma.<br />

Além dos modos de ruína anteriormente relacionados, é necessário verificar<br />

também a condição de serviço (utilização), como deslocamentos excessivos (flechas) e<br />

vibrações.<br />

BRIMELOW (1971) recomenda limitar os valores das flechas em 1/180 do vão<br />

para terças e longarinas, e em 1/325 do vão para as vigas em geral.<br />

5.1 Momento fletor: vigas estáveis lateralmente e de seção compacta<br />

A verificação da região tracionada das vigas é similar à verificação das barras<br />

tracionadas, onde a máxima tensão de tração calculada para a seção transversal líquida<br />

da viga não deve superar a tensão admissível ao escoamento ou à ruptura (fty /1,65 ou<br />

ftu /(kt 1,95) ).<br />

De maneira análoga ao previsto no AISC-ASD (1989), a tensão admissível ao<br />

escoamento pode ser majorada para levar em consideração a plastificação da seção.<br />

Tabela 5.1 - Tensão admissível para vigas de alumínio segundo a norma da AA.<br />

SEÇÃO ESCOAMENTO ESCOAMENTO RUPTURA<br />

À COMPRESSÃO A TRAÇÃO<br />

I e U fletidos f cy / 1,65 = 0,6 f cy f ty / 1,65 = 0,6 f cy f tu / 1,95 k t = 0,6 f tu / k t<br />

em relação ao eixo<br />

de maior inércia<br />

I fletidos em<br />

relação ao eixo de<br />

menor inércia e<br />

barras maciças<br />

1,30 f cy / 1,65 =<br />

= 0,79 f cy<br />

1,30 f cy / 1,65 = 1,42 f tu / 1,95 k t =<br />

= 0,79 f cy = 0,73 f tu / k t<br />

tubos retangulares f cy / 1,65 = 0,6 f cy f cy / 1,65 = 0,6 f cy f tu / 1,95 k t = 0,6 f tu / k t<br />

tubos circulares 1,17 f cy /1,65 =<br />

= 0,71 f cy<br />

1,17 f cy /1,65 =<br />

= 0,71 f cy<br />

1,24 f tu / 1,95 k t =<br />

= 0,63 f cy<br />

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Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

19<br />

5.2 Flambagem lateral com torção (FLT)<br />

A flambagem lateral com torção pode ocorrer em vigas que apresentam flexão<br />

em torno do eixo de maior inércia e neste caso a tensão de flambagem elástica é obtida<br />

dividindo-se o momento de flambagem elástica (Mc ) pelo módulo de resistência<br />

elástico em relação à fibra mais comprimida (Wc ).<br />

A norma da AA apresenta uma expressão simplificada para o cálculo da tensão<br />

de flambagem elástica (5.1), desprezando-se os efeitos de torção e empenamento, de<br />

maneira análoga ao procedimento tradicionalmente empregado pelo AISC-ASD. Desta<br />

forma, a tensão de flambagem elástica na flexão é calculada por uma expressão idêntica<br />

à da flambagem elástica de barras comprimidas, tomando como esbeltez a relação Lb /<br />

(1,2ry).<br />

σ<br />

c<br />

2<br />

π E<br />

=<br />

⎛ Lb<br />

⎝ ⎜ ⎞<br />

12 , r<br />

⎟<br />

⎠<br />

y<br />

2<br />

(5.1)<br />

Onde:<br />

Lb - distância entre dois pontos travados lateralmente (vínculo de garfo)<br />

O momento (ou a tensão) de flambagem elástica pode ser majorada para levar<br />

em consideração a variação do momento fletor ao longo da viga, uma vez que a<br />

expressão 5.3 refere-se a caso mais desfavorável de momento uniforme. A majoração é<br />

feita pelo coeficiente de equivalência de momento na flexão (Cb). A expressão<br />

recomendada pela AA é a mesma do AISC-LRFD, 2a edição (1993) - expressão 5.4,<br />

mais abrangente que a conhecida expressão das edições anteriores do AISC e da NBR<br />

8800 (1986).<br />

C<br />

b<br />

Onde:<br />

12,5M<br />

max.<br />

=<br />

2,5 M 3M + 4 M + 3M<br />

max. A B C<br />

Mmáx - valor absoluto do máximo momento no trecho analisado,<br />

(5.2)<br />

MA - valor absoluto de momento no primeiro quarto do trecho analisado,<br />

MB - valor absoluto de momento no ponto médio do trecho analisado,<br />

MC - valor absoluto de momento no terceiro quarto do trecho analisado.<br />

A expressão 5.1 é conservadora, uma vez que despreza os efeitos de torção e<br />

empenamento. A norma da AA permite que o raio de giração em relação ao eixo de<br />

menor inércia ry , seja substituído por rye , calculado pela expressão 5.3, onde são<br />

considerados os efeitos de torção e empenamento para o caso de carregamento aplicado<br />

no centro de torção.<br />

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20<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

r<br />

ye<br />

C I<br />

1,7 W 1 0,152 I b yd<br />

= +<br />

I<br />

c<br />

t<br />

y<br />

⎛ KL<br />

y<br />

⎜<br />

⎝ d<br />

b<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

2<br />

(5.3)<br />

A norma da AA apresenta outra expressão que leva em consideração o ponto de<br />

aplicação do carregamento em relação ao centro de torção (5.4). Para o caso de<br />

carregamento aplicado na mesa superior (desfavorável) o termo 0,5 deve ser tomado<br />

como negativo, e quando aplicado na mesa inferior (favorável), como positivo.<br />

r<br />

ye<br />

C I ⎡<br />

1,7 W 0,5 1,25 0,152 ⎛ I b yd<br />

= ⎢± + + ⎜<br />

c ⎢<br />

⎝ I<br />

⎣<br />

t<br />

y<br />

⎞ KL<br />

y b<br />

⎟ ⎛ ⎠⎝ ⎜ ⎞<br />

⎟<br />

d ⎠<br />

2<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎦<br />

(5.4)<br />

Onde:<br />

rye - raio efetivo de giração utilizado no lugar de ry,<br />

Cb - coeficiente de equivalência de momentos na flexão,<br />

Iy - momento de inércia em relação ao eixo de menor inércia da viga,<br />

Cw - constante de empenamento da seção,<br />

It - momento de inércia à torção, ou constante de St. Venant,<br />

Ky - coeficiente do comprimento efetivo para a mesa comprimida em relação ao<br />

menor eixo de inércia, sendo igual a 1,0 para o caso de não haver restrição ao giro nos<br />

pontos de travamento lateral.<br />

d - comprimento da viga.<br />

A flambagem inelástica, ou seja, sob tensão superior ao limite de<br />

proporcionalidade do material é admitida de maneira similar ao caso de barras<br />

comprimidas. Na curva de flambagem no caso de vigas o fator de segurança único,<br />

igual a 1,65, para todos os trechos.<br />

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Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

21<br />

Figura 5.1 - Curva de flambagem na flexão (FLT), em termos de tensões admissíveis, para a<br />

liga 6061-T6. Aplicável a perfis I e U fletidos em relação ao eixo de maior inércia.<br />

5.3 Flambagem local em elementos de viga<br />

Os conceitos e procedimentos já abordados para o caso de elementos<br />

pertencentes a barras comprimidas também são aplicáveis aos elementos de viga,<br />

ocorrendo agora dois “grupos de elementos”: os submetidos à compressão uniforme,<br />

como por exemplo a mesa de perfis I e U fletidos em torno do eixo de maior inércia; e<br />

os não submetidos à compressão uniforme, como por exemplo a alma de perfis I e U<br />

fletidos em torno do eixo de maior inércia e as mesas de perfis I e U fletidos em torno<br />

do eixo de menor inércia.<br />

A figura 5.2 apresenta as curvas de flambagem local da AA, em termos de<br />

tensão admissível, para elementos com borda livre e compressão uniforme (mesa de<br />

perfis I e U), e elementos com bordas apoiadas sob flexão simétrica (alma de perfis I e<br />

U simétricos em relação ao eixo de maior inércia), para a liga 6061-T6. Notar que nessa<br />

figura foi incluída a curva para elementos com borda livre e compressão uniforme,<br />

pertencentes a barras axialmente comprimidas. Na flexão o fator de segurança é único e<br />

igual a 1,65.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


22<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

Figura 5.2 - Curvas de flambagem local para a liga 6061-T6.<br />

A tensão admissível à flambagem local das barras submetidas à flexão pode ser<br />

tomada, a favor da segurança, igual ao menor valor obtido com base na análise de todos<br />

os elementos que compõem a seção. A norma da AA permite ainda que seja adotado<br />

um valor correspondente à média ponderada das tensões de flambagem local.<br />

Assim como no caso das barras comprimidas, a interação entre os dois modos<br />

de flambagem deve também ser verificada, considerando-se agora o fator de segurança<br />

empregado na flexão, igual a 1,65.<br />

5.4 Enrugamento da alma<br />

O enrugamento da alma é um fenômeno localizado que pode ocorrer em almas<br />

não enrijecidas, sujeitas à força concentrada.<br />

Para os casos usuais de perfis I ou U, com a alma paralela ao plano que contém<br />

a força concentrada e o raio interno de concordância entre mesa e alma admitido como<br />

nulo, Tem-se a expressão 5.5.<br />

F a w<br />

2<br />

Onde:<br />

( cy<br />

cy )( )<br />

= 0,412β t 0,667f + 2,426<br />

f N + C<br />

Fa - força concentrada (ou reação de apoio) admissível, em kN;<br />

β = 1,0 para forças fora da extremidade da viga;<br />

β = 1,2 para forças na extremidade da viga;<br />

(5.5)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

23<br />

tw - espessura da alma, em cm;<br />

fcy - resistência ao escoamento na compressão, em kN/cm2;<br />

N - extensão de região de aplicação da força ou da reação de apoio, em cm;<br />

C = 13,7 cm para forças fora da extremidade da viga;<br />

C = 3,3 cm para forças na extremidade da viga;<br />

5.5 Enrugamento da alma e flexão combinados<br />

A última edição da norma da AA (6a edição) apresenta uma expressão de<br />

interação para tal verificação (5.6), o que não era previsto nas edições anteriores.<br />

⎛<br />

⎜<br />

⎝<br />

M<br />

M<br />

a<br />

1,5<br />

⎞ F<br />

⎟ + ⎛ ⎠ ⎝ ⎜ ⎞<br />

⎟<br />

F ⎠<br />

a<br />

1 , 5<br />

≤<br />

1,0<br />

(5.6)<br />

Onde:<br />

M - momento fletor na seção onde atua a força concentrada,<br />

Ma - momento fletor admissível, calculado para a flexão isoladamente,<br />

F - força concentrada na seção analisada,<br />

Fa - força concentrada admissível conforme expressão 5.5.<br />

5.6 Cisalhamento por flexão<br />

A verificação da força cortante em vigas de alumínio é similar à das vigas de<br />

aço, constituindo uma análise da alma sujeita ao escoamento ou à flambagem local.<br />

norma da AA aborda dois casos: alma sem enrijecedores e almas com enrijecedores.<br />

A curva de flambagem para almas sem enrijecedores é constituída por três<br />

trechos (com fator de segurança igual a 1,65) para os três trechos:<br />

escoamento por cisalhamento:<br />

τ a<br />

ty<br />

= 06f ,<br />

165 , (5.7)<br />

flambagem inelástica:<br />

B −125 , D ( h t)<br />

p p<br />

τ a<br />

=<br />

165 , (5.8)<br />

a<br />

165125 ( ht)<br />

flambagem elástica: , ,<br />

τ<br />

=<br />

π<br />

2<br />

E<br />

2<br />

(5.9)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


24<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

No caso de almas com enrijecedores, a curva de flambagem é constituída por<br />

apenas dois trechos: escoamento por cisalhamento e flambagem elástica.<br />

Figura 5.3 - Curvas de flambagem para cisalhamento - liga 6061-T6.<br />

A esbeltez das almas sem enrijecedores é dada pela relação entre a altura da<br />

alma (distância livre entre mesas) e a espessura, h/t. Para as almas com enrijecedores, a<br />

esbeltez é dada pela relação ae/t, sendo ae calculado pela expressão 5.10.<br />

a<br />

e<br />

=<br />

a<br />

1+<br />

0,<br />

7<br />

1<br />

( a a )<br />

1 2<br />

2<br />

(5.10)<br />

Onde a1 e a2 são respectivamente a menor e a maior distância tomada entre a<br />

altura da alma e o espaçamento entre os enrijecedores.<br />

6 BARRAS SUBMETIDAS À FLEXÃO COMPOSTA<br />

O procedimento de verificação das barras de alumínio submetidas à flexão<br />

composta é similar ao aplicado no projeto de estruturas de aço, consistindo de<br />

expressões de interação envolvendo os efeitos da força normal e do momento fletor.<br />

A norma da AA, assim como as normas de estruturas de aço, consideram o<br />

efeito de segunda ordem (amplificador) na flexo-compressão e, a favor da segurança<br />

desprezam-no na flexo-tração (restaurador).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

25<br />

7 LIGAÇÕES<br />

As ligações entre elementos estruturais em alumínio são similares às ligações<br />

entre elementos de aço, entretanto requerem alguns cuidados em função das<br />

propriedades deste material, principalmente com relação à marcação e preparação das<br />

superfícies a serem ligadas e com a adequação do material a ser utilizado.<br />

Pode-se agrupar as ligações, de modo geral, em dois grandes grupos, os das<br />

ligações com conectores e o das ligações soldadas.<br />

As ligações com conectores são muito utilizadas nas estruturas metálicas,<br />

sobressaindo-se nas estruturas de alumínio. Os elementos mais empregados nestes tipos<br />

de ligações são os parafusos com porcas e arruelas, os rebites, os pinos e os parafusos<br />

de rosca soberba (auto-atarraxantes).<br />

7.1 Modos de falha nas ligações parafusadas ou rebitadas<br />

Os modos de falha para solicitação perpendicular ao eixo do parafuso ou rebite,<br />

prováveis nas ligações entre elementos de alumínio, são os comumente encontrados nas<br />

ligações de elementos metálicos de modo geral destacando-se:<br />

1. Cisalhamento do conector<br />

2. Esmagamento do metal base<br />

3. Ruptura do metal base na seção líquida<br />

4. Rasgamento do metal base entre furo e borda<br />

7.2 Parafusos submetidos à tração<br />

O cálculo da área efetiva à tração é diferente no caso de parafusos de aço e de<br />

alumínio. Para os parafusos de aço, conforme ASTM - rosca UNC, a área efetiva à<br />

tração é dada pela expressão 7.1.<br />

A<br />

r<br />

=<br />

Onde:<br />

⎛ 0,9743⎞<br />

0,7854⎜d<br />

− ⎟<br />

⎝ n ⎠<br />

Ar - área efetiva à tração (pol2)<br />

d - diâmetro nominal do parafuso (pol)<br />

n - número de fios de rosca por pol.<br />

2<br />

(7.1)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


26<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

O resultado desta equação é tabelado no AISC-ASD (1989) para o caso de<br />

parafusos com rosca grossa e é o mesmo apresentado para conectores de aço inoxidável<br />

tabelado na ASTM F593 “Stainless Steel Bolts, Hex Cap, Screws and Studs” (1991),<br />

para as séries de roscas grossa e fina.<br />

No caso de parafusos de alumínio a da área efetiva à tração é calculada pela<br />

expressão 7.2, resultando em valores 10% menores que para os parafuso de aço.<br />

A = ⎛<br />

0,7854 d − 1,2269 ⎞<br />

r ⎜ ⎟<br />

⎝ n ⎠<br />

2<br />

(7.2)<br />

7.3 Parafusos submetidos à força cortante<br />

O procedimento para determinação da resistência à força cortante em parafusos<br />

de alumínio é diferente do tradicionalmente empregado pelo AISC-ASD, que adota<br />

sempre como referência a área bruta do parafuso, diferenciando a tensão admissível<br />

para os casos de rosca inclusa ou exclusa ao plano de corte.<br />

Por outro lado, a norma da AA estabelece sempre a mesma tensão admissível ao<br />

cisalhamento, diferenciando a área efetiva ao cisalhamento do parafuso. Assim para o<br />

caso de rosca exclusa, a área efetiva ao cisalhamento é a própria área bruta (nominal)<br />

do parafuso, enquanto que no caso de rosca inclusa, emprega-se uma área efetiva que<br />

evidentemente é menor que a área bruta.<br />

Observa-se que a norma da AA não apresenta requisitos para a verificação de<br />

parafusos de alumínio submetidos à tração e força cortante combinados.<br />

7.4 Pressão de contato em furos e distância entre furo e borda<br />

De acordo com a norma da AA, a pressão de contato não pode ultrapassar a<br />

tensão admissível ao esmagamento, dada pelo menor valor entre:<br />

fby<br />

(FS) y<br />

fby<br />

=<br />

1,65<br />

ou<br />

f<br />

bu<br />

f<br />

bu<br />

=<br />

12 , ( FS) 12 , ( 195 , )<br />

u<br />

(7.3)<br />

As tensões admissíveis devem ser reduzidas em 33% no caso de parafusos em<br />

furos alongados ou no caso de pinos.<br />

7.5 Parafusos auto-atarraxantes<br />

A última edição da norma da AA (6a edição) apresenta requisitos para a<br />

verificação de ligações ente elementos de alumínio empregando os parafusos auto-<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

27<br />

atarraxantes (com rosca soberba). Os modos de falha observados nesse tipo de ligação<br />

estão descritos a seguir:<br />

1. Pull-out: é o arrancamento do parafuso por tração associado à ruptura do<br />

elemento que não está em contato com a cabeça do parafuso.<br />

2. Pull-over: é o arrancamento do parafuso por tração associado à ruptura do<br />

elemento que está em contato com a cabeça do parafuso.<br />

3. Tiltting: é a inclinação excessiva do parafuso por efeito de cisalhamento.<br />

7.6 Ligações soldadas<br />

A soldagem dos metais altera as propriedades mecânicas na região da solda,<br />

devido principalmente às elevadas temperaturas aplicadas nessa região, necessárias<br />

para fundir o metal base e o metal da solda.<br />

Nas estruturas de alumínio, a preocupação deve ser ainda maior. O calor<br />

introduzido pela soldagem altera de maneira significativa a resistência das ligas,<br />

reduzindo no caso da liga 6061-T6 por exemplo, em torno de 40% a resistência ao<br />

escoamento e resistência à ruptura por tração.<br />

A norma da AA apresenta a resistência ao cisalhamento dos eletrodos mais<br />

utilizados (tabela 7.1), e a tabela 7.2 as resistências de algumas ligas (metal base) na<br />

região da solda.<br />

Tabela 7.1 - Resistências ao cisalhamento para os eletrodos mais empregados.<br />

Liga do eletrodo Resistência ao cisalhamento - f su (MPa)<br />

1100 52,5<br />

4043 80<br />

5183 130<br />

5356 119<br />

5554 119<br />

5556 140<br />

5654 84<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


28<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

Tabela 7.2 - Resistências de algumas ligas na região da solda.<br />

Liga f tyw (MPa) f tuw (MPa) f syw (MPa) f suw (MPa)<br />

5005-H14 49 98 28 63<br />

5052-H34 91 175 52,5 112<br />

5083-H111 147 273 84 161<br />

5083-H116 168 280 98 168<br />

5086-H34 133 245 77 147<br />

5086-H111 126 245 70 147<br />

5454-H111 112 217 66,5 133<br />

5454-H34 112 217 66,5 133<br />

5456-H111 168 287 98 168<br />

5456-H114 182 294 105 175<br />

6005-T5 119 168 70 105<br />

6061-T6 140 167 83 104<br />

6063-T5 77 119 45,5 77<br />

6063-T6 77 119 45,5 77<br />

Solda de topo: são empregadas para ligação de topo entre dois elementos sendo a<br />

resistência admissível de uma solda de topo tomada como o menor valor entre:<br />

09 , f<br />

e f tuw tyw<br />

( FS) u<br />

( FS)<br />

y<br />

(7.4)<br />

Onde:<br />

ftuw : resistência à ruptura por tração do metal base na região da solda<br />

ftyw : resistência ao escoamento do metal base na região da solda<br />

(FS)u = 1,95 (fator de segurança na ruptura)<br />

(FS)y = 1,65 (fator de segurança no escoamento)<br />

Solda de filete: são empregadas nas juntas em T e nas juntas por sobreposição, não<br />

requerendo preparo da superfície. A resistência das soldas de filete é determinada com<br />

base em dois modos de falha: ruptura da solda na garganta efetiva , ou ruptura do metal<br />

base junto à solda. O fator de segurança é igual a 2,34 (20% maior que o fator de<br />

segurança na ruptura, empregado no dimensionamento de barras). Portanto a resistência<br />

admissível de uma solda de filete deve ser tomada como o menor valor entre:<br />

- ruptura por cisalhamento do filete na garganta efetiva<br />

R<br />

w<br />

fsu<br />

= 234 , (7.5)<br />

- ruptura por cisalhamento do metal base na face da fusão<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

29<br />

R<br />

MB<br />

fsuw<br />

= 14 ,<br />

234 , (7.6)<br />

Onde:<br />

Rw - resistência admissível da solda<br />

RMB - resistência admissível do metal base na face de fusão<br />

fsu - resistência ao cisalhamento da solda, conforme tabela 7.1<br />

fsuw - resistência à ruptura do metal base, conforme tabela 7.2<br />

8 COMENTÁRIOS FINAIS E CONCLUSÕES<br />

Destaca-se as vantagens de utilização de elementos estruturais em alumínio em<br />

função do alumínio ser um material três vezes mais leve que o aço com elevada<br />

resistência a corrosão e módulo de elasticidade três vezes menor que o do aço.<br />

Entretanto, observou-se uma carência de referências bibliográficas sobre a<br />

aplicação do alumínio em estruturas, inclusive por parte das usinas produtoras.<br />

As ligas de alumínio não apresentam patamar de escoamento no diagrama<br />

tensão - deformação, sendo a resistência ao escoamento determinada de maneira<br />

convencional com base no método off set 0,2%.<br />

O dimensionamento das barras tracionadas em alumínio é feito com base no<br />

escoamento ou ruptura na seção líquida efetiva, com fatores de segurança 1,65 para o<br />

escoamento e 1,95 para a ruptura, valores próximos aos adotados pelo AISC, 1,67 e 2,0<br />

para o escoamento e ruptura respectivamente. É importante notar que a norma da AA<br />

não estabelece a verificação do escoamento na seção bruta, empregando a área líquida<br />

efetiva nas duas verificações.<br />

A norma da AA estabelece curvas de flambagem, em termos de tensões<br />

admissíveis, constituídas de três trechos: escoamento, flambagem inelástica (reta) e<br />

flambagem elástica (hipérbole de Euler), com fatores de segurança igual a 1,65 para<br />

escoamento e 1,95 para flambagem.<br />

Outro aspecto importante observado, diz respeito aos enrijecedores de borda de<br />

perfis comerciais, que apresentam dimensões muito reduzidas e portanto baixa<br />

eficiência estrutural como elemento enrijecedor de mesa.<br />

Analogamente à verificação das barras comprimidas, a flambagem local (FLM e<br />

FLA) é analisada com base em tensões admissíveis à flambagem local, não sendo<br />

previsto o conceito de largura efetiva.<br />

No caso de barras submetidas a flexão, diferentemente da norma do AISC, a<br />

norma da AA prevê os casos de carregamento atuando no centro de torção, na mesa<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


30<br />

Didiane Victoria Buzinelli & Maximiliano Malite<br />

superior e na mesa inferior, podendo conduzir a valores bem diferentes da tensão crítica<br />

em alguns casos.<br />

Assim como nas estruturas de aço, as estruturas de alumínio podem ser<br />

rebitadas, parafusadas e soldadas. Nas ligações com conectores, destaca-se a rebitagem<br />

a frio, processo ainda muito empregado no alumínio.<br />

Com relação a soldagem, se nas estruturas de aço simplifica os detalhes e<br />

consiste num processo relativamente barato e muito difundido, no alumínio o custo é<br />

relativamente elevado e requer mão-de-obra muito especializada, o que tem<br />

inviabilizado economicamente a soldagem como dispositivo de ligação nas estruturas<br />

voltadas a construção civil.<br />

Destaca-se a necessidade de um estudo aprofundado de sistemas estruturais para<br />

elementos em alumínio buscando a viabilidade de utilização deste material.<br />

9 REFERÊNCIAS<br />

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Washington, DC., August.<br />

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NARAYANAN, R. (Ed.). INTERNATIONAL CONFERENCE OF STEEL AND<br />

ALUMINUM STRUCTURES. Proceedings… Cardiff, UK, July, 1987.<br />

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by: LEE, S. L.; SHANMUGAM, N. E. (Ed.). INTERNATIONAL CONFERENCE OF<br />

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testing wrought and casting aluminum and aluminum-alloy rivets and coldheading<br />

wire and roads.<br />

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testing of aluminum and aluminum-alloy, rivets and cold-heading wire and roads.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


Dimensionamento de elementos estruturais em alumínio<br />

31<br />

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Standard Test Methods for Tension Testing of Materials [Metric].<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMA TÉCNICAS - ABNT (1986). NBR 8800 -<br />

Projeto e execução de estruturas de aço de edifícios. Rio de Janeiro.<br />

BRIMELOW, E. I. (1971). Aluminio en la construccion. Espanha: Ediciones URMO.<br />

BUZINELLI, D. V. (2000). Dimensionamento de elementos estrutruais em<br />

alumínio. São Carlos. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos<br />

– Universidade de São Paulo.<br />

CANADIAN STANDARDS ASSOCIATION. (1983). CAN3-S157-M83 - Strength<br />

design in aluminum. Rexdale, Ontario. Dec.<br />

CANADIAN STANDARDS ASSOCIATION. (1984). CAN3-S136-M84. Cold formed<br />

steel structural members. Rexdale, Ontario. Dec.<br />

KISSEl, J. R.; FERRY, R. L. (1995). Aluminum structures: a guide to their<br />

specifications and design. New York, USA/Canada: John Wiley and Sons, Inc.<br />

MAGALHÃES, J. R. M. (1996). Sobre o projeto e a construção de estruturas<br />

metálicas espaciais. São Carlos. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de<br />

São Carlos - Universidade de São Paulo.<br />

MARSH, C. (1983). Strengh of aluminum. Canada: ALCAN Canada Products Limited.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 1-31, 2008


ISSN 1809-5860<br />

SISTEMA COMPUTACIONAL COM GERAÇÃO<br />

DE DADOS E VISUALIZAÇÃO DE RESULTADOS<br />

PARA ESTRUTURA DE EDIFÍCIOS<br />

Luiz Liserre 1 & Marcio Antonio Ramalho 2<br />

Resumo<br />

Este trabalho trata do desenvolvimento de um sistema computacional, para a geração de dados<br />

e apresentação de resultados, específico para as estruturas de edifícios. As rotinas<br />

desenvolvidas devem trabalhar em conjunto com um sistema computacional para análise de<br />

estruturas com base no Método dos Elementos Finitos, contemplando tanto as estruturas de<br />

pavimentos; com a utilização de elementos de barra, placa/casca e molas; como as estruturas<br />

de contraventamento; com a utilização de elementos de barra tridimensional e recursos<br />

especiais como nó mestre e trechos rígidos. A linguagem computacional adotada para a<br />

elaboração das rotinas mencionadas é o Object Pascal do DELPHI, um ambiente de<br />

programação visual estruturado na programação orientada a objetos do Object Pascal. Essa<br />

escolha tem como objetivo, conseguir um sistema computacional onde alterações e adições de<br />

funções possam ser realizadas com facilidade, sem que o todo o conjunto de programas precise<br />

ser analisado e modificado. Por fim, o programa deve servir como um verdadeiro ambiente<br />

para análise de estruturas de edifícios, controlando através de uma interface amigável com o<br />

usuário uma série de outros programas já desenvolvidos em FORTRAN, como por exemplo o<br />

dimensionamento de vigas, pilares, etc.<br />

Palavras-chave: estruturas de edifícios; método dos elementos finitos; estruturas de<br />

contraventamento; pré-processador; pós-processador.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A análise de edifícios é um tópico de grande importância para engenharia de<br />

estruturas. Qualquer desenvolvimento técnico obtido para essa área produz, por efeito<br />

de escala, um benefício sensível para toda a sociedade. Isso porque esses edifícios<br />

são em número tão expressivo que deixam as outras estruturas em situação de menor<br />

destaque.<br />

Durante muito tempo as análises eram feitas de forma simplificada,<br />

considerando os elementos estruturais, pilares, vigas e lajes, isolados uns dos outros.<br />

No entanto, com o aparecimento dos microcomputadores, tornou-se viável a aplicação<br />

de procedimentos sofisticados que consideram a interação entre os diversos<br />

componentes estruturais que constituem um edifício. Dessa forma, pouco a pouco as<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, luiz.liserre@directnet.com.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, ramalho@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 33-59, 2008


34<br />

Luiz Liserre & Marcio Antonio Ramalho<br />

estruturas calculadas foram se aproximando do seu comportamento real, através da<br />

consideração do comportamento conjunto dos seus elementos componentes.<br />

Entretanto, para se realizar análises eficientes com a consideração do<br />

comportamento conjunto dos diversos elementos estruturais, é necessário o<br />

desenvolvimento de ferramentas específicas para a geração dos dados e visualização<br />

dos resultados. Essas ferramentas devem permitir a utilização dessas técnicas mais<br />

sofisticadas sem grandes complicações para os usuários.<br />

Aqueles que já estiveram envolvidos com essas análises sabem que a<br />

utilização de pacotes computacionais genéricos não é totalmente viável. Mesmo com<br />

os recursos de geração e visualização de resultados neles existentes, torna-se pouco<br />

confortável a análise das referidas estruturas devido as particularidades que<br />

necessariamente devem ser consideradas. Assim, é de grande importância que<br />

possam ser desenvolvidas essas ferramentas, possibilitando um avanço cada vez<br />

mais expressivo dos procedimentos de análise de edifícios. Nesse caso melhora-se a<br />

segurança dos dimensionamentos e também a economia dos diversos sistemas<br />

construtivos envolvidos.<br />

Exatamente com esse intuito é que se propõe este trabalho, o de se<br />

desenvolver todo um sistema de geração de dados e visualização de resultados<br />

voltados especificamente para as estruturas de edifícios.<br />

Para o desenvolvimento do sistema, a linguagem computacional adotada foi o<br />

Object Pascal, utilizando o ambiente de programação visual Delphi. O Delphi é<br />

ambiente de programação extremamente amigável ao desenvolvedor e que fornece<br />

todos os recursos de uma linguagem visual com suporte à programação orientada a<br />

objeto. Requisitos esses fundamentais para permitir a construção de aplicativos<br />

complexos, facilmente modificáveis e com o mínimo de codificação.<br />

2 JUSTIFICATIVAS<br />

Na Engenharia atual, em especial na Engenharia de Estruturas e no<br />

desenvolvimento de projetos, a utilização de computadores se faz obrigatória.<br />

Também é evidente a necessidade de que os modelos sejam aperfeiçoados de forma<br />

que o comportamento das estruturas possa ser avaliado de forma cada vez mais<br />

acurado.<br />

Essa complexidade dos modelos leva a uma evidente maior complexidade dos<br />

dados de entrada e também na necessidade que recursos especiais para a<br />

observação dos resultados obtidos. É completamente impensável se fornecer dados<br />

para todos os nós e elementos que deverão constituir o modelo e obter resultados em<br />

termos de listagens de valores numéricos para deslocamentos nodais e esforços nas<br />

extremidades de elementos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 33-59, 2008


Sistema computacional com geração de dados e visualização de resultados para estrutura<br />

35<br />

Por esses motivos, todos os programas de análise de estruturas que são<br />

voltados para uma utilização mais profissional possuem geradores de dados e<br />

recursos especiais para a visualização de resultados, como por exemplo o<br />

SAP90(1991), o SUPERSAP, o ANSYS(1996) e o NASTRAN(1995). Até mesmo<br />

programas que tem uma utilização mais voltada para o ambiente acadêmico, como o<br />

LUSAS(1995), também possuem esses recursos que, conforme já se mencionou, são<br />

fundamentais para a viabilidade de sua utilização.<br />

Entretanto, os usuários desses sistemas, que costumam analisar edifícios,<br />

sabem que a utilização dos mesmos para esse tipo de estrutura está longe de ser<br />

confortável. Diversos detalhes específicos fazem com que os edifícios sejam muito<br />

mais facilmente tratados quando se dispõem de funções especiais. A geração do<br />

pavimento, que normalmente possui aberturas, a colocação de vigas, pilares e o<br />

próprio carregamento proveniente de paredes são exemplos típicos que podem ser<br />

citados. Além disso, a rapidez e a confiabilidade do modelo aumentam bastante, se a<br />

geração do pavimento servir para a definição automática do modelo da estrutura de<br />

contraventamento; incluindo seus detalhes intrínsecos, como os nós mestres para a<br />

simulação dos diafragmas e os trechos rígidos para as vigas.<br />

Exatamente pelos motivos ressaltados nos parágrafos anteriores é que se<br />

justifica a importância deste trabalho, no qual pretende colocar num só sistema todas<br />

essas ferramentas de grande importância e, o que é mais importante, possibilitando<br />

que atualizações e adições de recursos possam ser executadas com relativa<br />

facilidade. Isso fará com que programas já desenvolvidos para determinadas funções<br />

específicas tenham uma utilização muito maior, evitando-se que caiam em desuso<br />

pela dificuldade de aperfeiçoamento e utilização isolada. Além disso, há ainda o fato<br />

de se estar desenvolvendo um aplicativo para as plataformas Windows 95/98 e<br />

Windows 2000/NT evitando também, o desuso dos programas anteriormente<br />

desenvolvidos que dependem do sistema operacional DOS, que é uma interface cada<br />

vez menos utilizada e conhecida dos novos usuários.<br />

3 HISTÓRICO<br />

O MEF - Método dos Elementos Finitos, ou FEM – Finite Element Method,<br />

surgiu no início da década de 50 e hoje constitui um método de grande aplicação nas<br />

mais diversas áreas, tais como: estruturas metálicas, concreto armado, geotecnia,<br />

automobilística, mecânica naval, aeronáutica, etc. Entretanto, apesar das inúmeras<br />

vantagens do Método dos Elementos Finitos, os usuários deparam-se com um grande<br />

inconveniente: a grande quantidade de dados de entrada.<br />

Segundo HABER et al. (1981), normalmente 80% do tempo gasto na análise de<br />

estruturas calculadas pelo Método dos Elementos Finitos é consumido pela entrada<br />

dos dados quando se utiliza o método convencional. Por esse motivo tem-se<br />

continuamente procurado desenvolver e aperfeiçoar programas para geração<br />

automática de malhas.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 33-59, 2008


36<br />

Luiz Liserre & Marcio Antonio Ramalho<br />

Diante da relevância desse fato, foi realizado um levantamento das pesquisas<br />

realizadas no Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de<br />

São Carlos-<strong>USP</strong>, sobre o problema de entrada de dados para modelagens de<br />

estruturas de pavimentos utilizando o Método dos Elementos Finitos. Entre elas podese<br />

citar o programa de SOUZA JR. (1996). Nesse trabalho, desenvolveu-se um<br />

método de geração de malha utilizando a técnica de triangulação automática em que a<br />

estrutura é dividida em macro elementos. Essa técnica exige pouco tempo de<br />

processamento e define elementos bem distribuídos.<br />

Tem-se também o programa desenvolvido por REZENDE (1990), onde se<br />

propôs um método que consiste em gerar malhas quadrilaterais onde pode haver a<br />

junção de duas ou mais malhas até formar o desenho desejado.<br />

E dispõe-se, principalmente, do programa Geração de Redes Básicas para<br />

Pavimentos, desenvolvido originalmente por BAPTISTA(1994) em C. Esse programa<br />

trata da geração da rede básica de nós e elementos de placa ou casca para o<br />

pavimento de um edifício através do fornecimento de poligonais que descrevem<br />

contorno externo e contornos internos (vazios), além de pontos e segmentos de retas<br />

para eventuais posições pré-estabelecidas para nós ou mesmo linhas de nós.<br />

Como o objetivo deste trabalho não foi o de desenvolver novas técnicas para<br />

geração de malha, mas sim de utilizar as técnicas mais adequadas disponíveis até o<br />

momento, melhorando e facilitando sua utilização pelo usuário através de recursos<br />

gráficos avançados, todas essas pesquisas foram de bastante utilidade.<br />

Um segundo problema levantado trata da geração da estrutura de<br />

contraventamento. Para isso foi utilizado o trabalho de PEREIRA (1997) que trata de<br />

detalhes de modelagem de estruturas de contraventamento de edifícios de concreto<br />

armado. PEREIRA (1997) fornece um procedimento para a modelagem das estruturas<br />

de contraventamento que utiliza os arquivos que contém as informações sobre cada<br />

pavimento. Dessa forma, pode-se gerar em detalhes todo o contraventamento através<br />

da conveniente montagem dos pavimentos da edificação.<br />

Assim como ocorre para o Método dos Elementos Finitos, para a análise de<br />

estruturas de contraventamento, a principal preocupação refere-se justamente à<br />

geração do modelo. A entrada de dados é a fase mais demorada e sujeita a erros, o<br />

que torna necessário o desenvolvimento de geradores com a finalidade de conferir<br />

maior rapidez, eficiência e confiabilidade.<br />

Finalmente, vale a pena destacar que todos os processamentos dos<br />

pavimentos em elementos finitos realizados neste trabalho são realizados através do<br />

programa LASER – “Linguagem para Análise de Estruturas Reticuladas” RAMALHO<br />

(1990), que é um sistema computacional geral em elementos finitos que permite a<br />

utilização de oito tipos diferentes de elementos, inclusive os elementos de placa e de<br />

barra, que interessam mais diretamente a essa pesquisa.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 33-59, 2008


Sistema computacional com geração de dados e visualização de resultados para estrutura<br />

37<br />

4 METODOLOGIA ADOTADA<br />

O sistema desenvolvido teve que englobar quatro conjuntos de programas:<br />

I) Geração de dados<br />

II) Processamento dos modelos<br />

III) Visualização de resultados<br />

IV) Dimensionamento de componentes<br />

Somente os conjuntos I e III são compostos por programas que foram<br />

elaborados ou reescritos em Object Pascal. Os conjuntos II e IV são compostos por<br />

programas já desenvolvidos em FORTRAN, sendo que no caso do conjunto II, apenas<br />

são executados através do programa controlador do sistema para que sua utilização<br />

seja facilitada.<br />

A seguir faz-se uma breve descrição dos programas que compõem os grupos I<br />

e II, para explicitar melhor como o sistema em questão foi desenvolvido.<br />

4.1 Programas para geração dos dados<br />

São os seguintes os programas que dizem respeito à geração de dados para<br />

pavimentos e estruturas de contraventamento.<br />

4.1.1 Geração de redes básicas para pavimentos – Programa GeraMalha<br />

Este programa foi originalmente desenvolvido por BAPTISTA(1994), em C, e<br />

trata da geração da rede básica de nós e elementos de placa ou casca para o<br />

pavimento de um edifício através do fornecimento de poligonais que descrevem o<br />

contorno externo e os contornos internos (vazios), além de pontos e retas para<br />

eventuais posições pré-estabelecidas para nós ou mesmo linhas de nós.<br />

É um programa que já atingiu uma boa eficiência de funcionamento, gerando<br />

com grande facilidade e rapidez modelos básicos para pavimentos de relativa<br />

complexidade. Um item que foi melhorado nessa pesquisa, permite que seus dados de<br />

entrada sejam gerados a partir de um arquivo do tipo DXF do AutoCAD,<br />

AUTODESK(1992). Dessa maneira, o sistema permite ao usuário fornecer esses<br />

dados a partir da própria arquitetura de um pavimento que tenha sido desenhada<br />

através do AutoCAD ou qualquer outro aplicativo que produza arquivos no formato<br />

DXF.<br />

4.1.2 Geração de elementos, detalhes especiais e carregamento para<br />

pavimentos<br />

Existe um programa denominado GLS, desenvolvido em FORTRAN, que<br />

coloca sobre o modelo básico gerado pelo GeraMalha, as vigas, os pilares, as molas e<br />

as cargas pontuais ou lineares, além de executar algumas outras funções especiais<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 33-59, 2008


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Luiz Liserre & Marcio Antonio Ramalho<br />

como o levantamento ou abaixamento de grupos de elementos de placa de forma a<br />

simular trechos independentes do pavimento que se está gerando.<br />

Essa operação gera um arquivo final, que pode ser chamado de modelo final,<br />

pronto para o processamento pelo Sistema LASER. Só que para realizar essa tarefa,<br />

esse programa necessita dos arquivos com as informações específicas de cada objeto<br />

citado, como o arquivo de pilares *.P, o de vigas *.V, o de cargas *.C, e assim por<br />

diante. Estes por sua vez, necessitam de ferramentas próprias para serem gerados de<br />

forma eficiente.<br />

De posse desses arquivos, o programa GLS extrai a definição do nó inicial e<br />

final de cada elemento ou carga a serem gerados. E, a partir desses dados, o<br />

programa executa automaticamente uma série de operações que simplificam<br />

sobremaneira o processo. Por exemplo, se um pilar é definido do nó i ao nó j o<br />

programa realiza as seguintes operações:<br />

Identifica todos os nós contidos no trecho.<br />

Coloca, se necessário, um nó adicional no centro.<br />

Gera a barra, perpendicular ao pavimento, que vai simular o pilar.<br />

Gera as barras, ou apenas modifica as características geométricas das que já<br />

existirem, sobre o trecho considerado de forma a considerar o trecho rígido que simula<br />

o comprimento do pilar.<br />

Realiza rebaixamento ou levantamento de grupos de elementos placa ou casca com a<br />

geração automática de elementos barra perpendiculares ao pavimento para simular a<br />

ligação entre as partes.<br />

Como se pode perceber, tais operações são absolutamente importantes para a<br />

consideração de um modelo bem elaborado e que causam um grande desconforto se<br />

não puderem ser implementadas de forma automática. Entretanto, para que se possa<br />

utilizar o GLS de uma forma automatizada, é necessário fornecer uma ferramenta que,<br />

a partir da malha básica, permita ao usuário a montagem dos arquivos de entrada<br />

requisitados pelo programa GLS.<br />

Para atender a essa deficiência é que foi proposto e elaborado um programa<br />

no ambiente DELPHI. Esse sistema permite ao usuário definir todo o modelo utilizando<br />

o desenho da malha básica no próprio vídeo do computador, oferecendo, para isso, os<br />

seguintes recursos:<br />

Criação e modificação de pontos nodais.<br />

Criação e modificação de elementos placa ou casca.<br />

Criação de vigas.<br />

Criação de pilares.<br />

Criação de molas.<br />

Criação de cargas nodais e linhas de cargas nodais.<br />

Criação de Lajes.<br />

Definição de espessuras e cargas distribuídas para elementos placa.<br />

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Sistema computacional com geração de dados e visualização de resultados para estrutura<br />

39<br />

Visualização para o conjunto de elementos gerados, inclusive cargas, com recursos de<br />

“zoom”.<br />

Geração dos arquivos de saída para o programa GLS.<br />

4.1.1 Geração da estrutura de contraventamento<br />

Para a modelagem das estruturas de contraventamento é fundamental que se<br />

possa utilizar os arquivos que contém informações sobre cada pavimento. Somente<br />

através da conveniente montagem dos pavimentos da edificação e dados sobre os<br />

pés-direito a serem considerados é que se pode gerar todo o contraventamento em<br />

detalhes. Esse procedimento encontra-se desenvolvido em PEREIRA(1997) e produz<br />

resultados muito satisfatórios, permitindo inclusive que se façam modificações para a<br />

retirada e inclusão de barras e nós, modificações de trechos rígidos, etc.<br />

Entretanto, trata-se de um programa escrito em FORTRAN que obtêm seus<br />

dados de entrada de arquivos em formato ASCII, dificultando a sua utilização. Além<br />

disso, tal programa não oferece visualizador gráfico próprio, obrigando o usuário a<br />

gerar arquivos no formato DXF e visualizar o resultado através de outros aplicativos.<br />

Neste trabalho, boa parte deste programa foi reescrita em DELPHI melhorando<br />

significativamente a interface com o usuário.<br />

A diferença é que se decidiu por dar ênfase na entrada de dados de forma<br />

amigável e na automatização da montagem dos pavimentos com a visualização<br />

tridimensional do conjunto gerado, sem entrar no âmbito da edição ou modificação dos<br />

elementos. Por esse motivo o sistema não contempla, diretamente no desenho<br />

apresentado no vídeo, recurso para retirada e adição de barras e nós a partir do<br />

conjunto básico formado pela sucessão de pavimentos.<br />

No entanto, ele oferece recurso para geração automática do carregamento<br />

devido à ação dos ventos, segundo a NBR6123(1988), e ações devidas ao<br />

desaprumo, de acordo com a DIN1053 (1974) e da revisão da NBR-6118 (NB-1).<br />

4.2 Programas para visualização dos resultados<br />

São os seguintes os programas que dizem respeito à visualização dos<br />

resultados para pavimentos e estruturas de contraventamento.<br />

4.2.1 Visualização de resultados para pavimentos – Programa CPLS<br />

A base para este visualizador de resultados é o programa desenvolvido pelo<br />

próprio autor em seu trabalho de iniciação científica, LISERRE(1993). Trata-se de um<br />

traçador de curvas de isovalor para momentos, tensões e deslocamentos, de<br />

funcionamento muito rápido e eficiente. O programa foi escrito em PASCAL e tem sido<br />

extensivamente utilizado desde a sua elaboração, funcionando basicamente para<br />

elementos placa ou casca.<br />

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Luiz Liserre & Marcio Antonio Ramalho<br />

Neste trabalho, tal programa foi reescrito em DELPHI para tornar sua interface<br />

com o usuário ainda mais confortável e para traçar curvas para o esforço cortante, que<br />

pode ser interessante principalmente quando se resolve pavimentos em laje nervurada<br />

utilizando-se elementos de placa com espessura equivalente.<br />

Outro ponto de suma importância foi o de acrescentar rotinas para desenhar os<br />

diagramas de elementos barras, recurso que o programa não dispunha. Esses<br />

diagramas são apresentados através uma visualização tridimensional.<br />

Todos esses resultados podem ser montados em arquivos DXF, de forma que<br />

possam ser impressos, na escala desejada, em impressoras ou “plotters”.<br />

4.2.2 Visualização de resultados para estruturas de contraventamento<br />

Neste caso, a base para o programa que foi desenvolvido encontra-se em duas<br />

dissertações, PEREIRA(1997) e BARBIRATO(1997). Trata-se de um programa escrito<br />

em FORTRAN, que produz desenhos para esforços, momentos fletores e força<br />

cortante segundo os dois eixos principais dos elementos barra tridimensional, e<br />

configuração deslocada da estrutura. Todos esses resultados, entretanto, são<br />

montados em arquivos tipo DXF para posterior visualização através do AutoCAD. Esse<br />

procedimento se deve ao fato do FORTRAN, que fora utilizado, não possuir recursos<br />

gráficos convenientes para que a visualização pudesse ser realizada através do<br />

próprio programa.<br />

Neste trabalho, a proposta foi de se reescrever as rotinas já existentes no<br />

DELPHI de modo a permitir uma melhor interface com o usuário e, principalmente,<br />

para que todas as visualizações pudessem ser feitas através do próprio programa.<br />

Dessa forma consegue-se uma agilidade muito maior na análise dos resultados, uma<br />

vez que possibilita, de forma instantânea, a seleção de vistas que podem ser<br />

impressas em escala para compor a memória de cálculo.<br />

5 CONCEPÇÃO DO SISTEMA<br />

Conforme se pôde perceber pelos itens anteriores, o sistema desenvolvido vem<br />

suprir uma série de deficiências. Principalmente no que diz respeito à entrada de<br />

dados que dependem de geometria, e da integração entre os diversos módulos já<br />

existentes que compõem o processo da geração e análise dos pavimentos e da<br />

estrutura de contraventamento de um edifício em concreto armado.<br />

Nesse processo, a primeira etapa do trabalho caracteriza-se pelo<br />

desenvolvimento de uma plataforma totalmente interativa com o usuário para<br />

possibilitar, a partir do desenho de um pavimento, a montagem da malha básica e<br />

complementação do modelo mediante a adição de vigas, pilares, molas, lajes e<br />

carregamentos. Essa primeira etapa deve ser realizada para cada um dos diferentes<br />

pavimentos, térreo, tipo, ático, etc, que integram o edifício em análise e é finalizada<br />

com o processamento do modelo de elementos finitos realizado pelo sistema LASER.<br />

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Sistema computacional com geração de dados e visualização de resultados para estrutura<br />

41<br />

A malha básica citada refere-se à discretização do pavimento em elementos<br />

finitos que podem ser triangulares ou quadrangulares. Para a geração desse modelo,<br />

conforme citado anteriormente, aproveitou-se um programa já existente e<br />

desenvolvido em C. Trata-se do programa Geração de Redes Básicas para<br />

Pavimentos ou GeraMalha, desenvolvido originalmente por BAPTISTA(1994), e<br />

atualmente denominado GMA (Gerador de Malhas).<br />

Definiu-se essa etapa de geração da malha básica como sendo o módulo 1.<br />

A razão por se ter optado em utilizar o programa GMA na geração da malha,<br />

deve-se pelo fato de evitar o retrabalho computacional de se reescrever as mesmas<br />

rotinas em uma outra linguagem, por mostrar pocessamento consistente e eficiente, e<br />

principalmente, por oferecer uma entrada de dados simples e prática, necessitando<br />

apenas do fornecimento de poligonais que descrevem contorno externo e contornos<br />

internos (aberturas), além de pontos e retas, estas últimas denominadas no programa<br />

de segmentos.<br />

Os segmentos são úteis para a indicação do posicionamento de uma carga<br />

linear ou mesmo de uma viga através da geração de uma linha de nós, figura 1. A<br />

presença do objeto segmento faz o programa GMA gerar no modelo, uma seqüência<br />

de nós no local onde o mesmo se encontra posicionado, para que, na fase seguinte,<br />

que é o módulo 2, o usuário possa dispor dos nós para o adequado posicionamento de<br />

uma viga ou de um carregamento linearmente distribuído.<br />

Diante do exposto, conclui-se que, para a geração da malha básica, há a<br />

necessidade de se oferecer ferramentas específicas para que o usuário possa<br />

fornecer de maneira automatizada os parâmetros de entrada para a geração do<br />

arquivo de entrada, e posterior processamento pelo programa GMA.<br />

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42<br />

Luiz Liserre & Marcio Antonio Ramalho<br />

Contorno<br />

Externo<br />

Objeto Ponto –<br />

faz existir um<br />

Nó<br />

Desenho Básico<br />

Arquivo DXF<br />

Contorno<br />

Interno<br />

(Aberturas)<br />

Objeto Segmento que<br />

define uma Linha Nodal<br />

para posteriormente, no<br />

módulo 2, indicar a<br />

posição de uma viga ou<br />

carregamento<br />

linearmente distribuído<br />

Figura 1 - Objetos que definem o modelo GMA.<br />

Figura 2 - À esquerda malha obtida após o processamento GMA do modelo da figura 1, e à<br />

direita mesma malha já acrescentado de vigas e pilares.<br />

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Sistema computacional com geração de dados e visualização de resultados para estrutura<br />

43<br />

A fase seguinte, módulo 2, corresponde à leitura do arquivo de resultados<br />

gerado pelo programa GMA, isto é, a malha básica de elementos finitos, e sua edição<br />

pelo usuário, figura 2. Essa edição deve possibilitar a adição ou exclusão de nós e<br />

elementos, bem como completar o modelo com a definição de pilares, vigas,<br />

carregamentos, etc. Feito isso, é realizado um processamento utilizando-se um<br />

programa denominado GLS, também escrito em FORTRAN, que prepara efetivamente<br />

o arquivo final para o Sistema LASER.<br />

Na seqüência desse processo, passa-se para a segunda etapa que<br />

compreende um terceiro módulo, que é o da definição da estrutura de<br />

contraventamento, e um quarto, que é de visualização de resultados. Destaca-se que<br />

o módulo 3, apenas é utilizado após terem sido devidamente montados e processados<br />

todos os diferentes pavimentos que compõem o edifício. Já o módulo 4, para<br />

visualização de resultados, pode ser utilizado a qualquer momento tanto pelo módulo 2<br />

quanto pelo módulo 3, bastando, para isso, dispor dos resultados do processamento<br />

provenientes do sistema LASER.<br />

Para a implementação dos módulos 1 e 2 conforme descrito anteriormente, foi<br />

necessário conceber um sistema capaz de gerenciar de forma eficiente todas as<br />

etapas do processo, isto é, de se fornecer as ferramentas necessárias para o usuário<br />

executar as tarefas relacionadas da forma mais automatizada possível.<br />

O mesmo ocorreu para os módulos 3 e 4 que foram desenvolvidos em<br />

sistemas a parte. Destaca-se a importância dessa abordagem para o módulo 4, já que,<br />

estando totalmente independente dos módulos de geração de dados, acaba facilitando<br />

futuras modificações de tal sorte que o mesmo possa ser utilizado para a análise de<br />

resultados provenientes de outros programas de cálculo estrutural.<br />

Tudo isso originou os seguintes sistemas desenvolvidos no ambiente de<br />

programação Delphi: Sistema MESTRE, para geração do modelo de elementos finitos<br />

de cada pavimento e o respectivo processamento pelo sistema LASER, contemplando<br />

os módulos 1 e 2; Sistema Edifício, para o módulo 3, com a montagem do modelo de<br />

contraventamento e o respectivo processamento pelo Sistema LASER; e o Sistema<br />

Visualiza3D, módulo 4, para a visualização de resultados dos pavimentos e do edifício.<br />

6 PROJETO EXEMPLO<br />

Com o objetivo de ilustrar o processo para geração de modelos no sistema<br />

Mestre, apresenta-se a modelagem de um pavimento tipo e a montagem da estrutura<br />

de contraventamento de um edifício residencial em concreto armado composto de 10<br />

pavimentos tipo e o ático. Para o cálculo do vento, supôs-se que tal edifício será<br />

construído em terreno plano na região central de uma cidade de médio porte, sendo a<br />

velocidade básica de 40 m/s.<br />

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Luiz Liserre & Marcio Antonio Ramalho<br />

Figura 3 - Edifício exemplo: planta baixa pavimento tipo (x10).<br />

Figura 4 - Edifício exemplo: forma estrutural para o pavimento tipo.<br />

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Sistema computacional com geração de dados e visualização de resultados para estrutura<br />

45<br />

Para facilitar o processo de montagem dos pavimentos no sistema Mestre,<br />

pode-se seguir o roteiro descrito a seguir:<br />

1) Criar um diretório para o edifício e sub-diretórios para cada pavimento<br />

- C:\Projetos\EdificioExemplo Diretório do edifício<br />

- ...\EdificioExemplo\Terreo<br />

- ...\EdificioExemplo\Tipo<br />

- ...\EdificioExemploAtico<br />

- ...\EdificioExemplo\Contraventamento<br />

Subdiretórios<br />

para cada<br />

pavimento e para<br />

a análise do<br />

vento<br />

2) Caso se disponha das plantas arquitetônicas no AutoCAD, pode-se utilizálos<br />

diretamente para a construção do modelo. Para isso, basta criar uma<br />

camada denominada GMA contendo as linhas que definem a forma e as<br />

posições dos elementos estruturais e carregamentos a serem gerados no<br />

sistema Mestre. Destaca-se que tal desenho deve ser exportado no formato<br />

DXF para que o mesmo possa ser lido pelo sistema Mestre.<br />

Figura 5 - Visualização das linhas criadas na camada GMA para o pavimento tipo.<br />

O arquivo deve se gerado no formato DXF do AutoCAD para ser lido posteriormente<br />

pelo Sistema Mestre. O símbolo ⊕ indica a origem do sistema de coordenadas.<br />

3) Etapas a completar para cada um dos pavimentos :<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 33-59, 2008


46<br />

Luiz Liserre & Marcio Antonio Ramalho<br />

a) Entrar no sistema Mestre e criar um novo modelo no subdiretório<br />

correspondente.<br />

b) Módulo 1 – Preparação do arquivo para o processamento GMA –<br />

Montagem da malha básica de elementos finitos<br />

I) Importar o arquivo DXF com as linhas básicas do<br />

pavimento<br />

II) Especificar no sistema Mestre o contorno externo, os<br />

contornos internos, linhas e pontos nodais que serão<br />

utilizados no processamento GMA para a construção<br />

da malha básica de elementos finitos (formada apenas<br />

pelos elementos placa).<br />

III) Gerar o arquivo .GMA e executar o processamento<br />

GMA para a montagem da malha básica.<br />

c) Módulo 2 – Edição da malha básica e adição de vigas, pilares e<br />

carregamentos.<br />

I) Importar o arquivo gerado pelo módulo anterior<br />

II) Checar a malha básica gerada e editá-la se necessário.<br />

III) Inserir os pilares, vigas com suas respectivas<br />

propriedades e materiais<br />

IV) Inserir os carregamentos<br />

V) Acertar as vinculações caso necessário<br />

VI) Realizar o processamento GLS para gerar os arquivos<br />

para o processamento final a ser realizado pelo<br />

programa LS5H.EXE (Sistema LASER). O programa<br />

GLS gera um arquivo com os offsets para as vigas,<br />

trechos rígidos dos pilares, e com os devidos<br />

carregamentos associados.<br />

VII) Processamento final Programa LS5H para gerar os<br />

resultados de tensões e deslocamentos para a<br />

visualização de resultados.<br />

d) Módulo 4 – Visualização dos Resultados. Esse módulo permite<br />

visualizar, no caso dos pavimentos, as curvas de isovalor para<br />

deslocamentos, momentos, cortantes e tensões, através de<br />

recursos 2D e 3D.<br />

e) Módulo 3 – Estrutura de Contraventamento. Ao final de todas as<br />

análises e acertos nos modelos, parte-se para a montagem da<br />

estrutura de contraventamento onde se define como o edifício é<br />

constituído. Para isso cria-se o modelo que representa o edifício no<br />

subdiretório Contraventamento utilizando os arquivos existentes nos<br />

demais subdiretórios que representam os pavimentos.<br />

A seguir é apresentada uma série de ilustrações mostrando o resultado dos<br />

passos descritos neste tópico, bem como algumas informações adicionais.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 33-59, 2008


Sistema computacional com geração de dados e visualização de resultados para estrutura<br />

47<br />

6.1 Etapas realizadas para a geração do Pavimento TIPO<br />

6.1.1 Criando o modelo<br />

Nessa tela são fornecidas as informações<br />

gerais do modelo, tais como: nome do<br />

projeto, nome do cliente, unidades de<br />

trabalho, Fck e Fyk, módulo de<br />

elasticidade, peso específico e módulo de<br />

Poisson.<br />

6.1.2 Carregando o arquivo DXF<br />

Uma vez criado o modelo DXF com a camada GMA com as<br />

linhas de esqueleto do pavimento, pode-se importá-lo no<br />

sistema Mestre através do menu Arquivos opção<br />

Importar.<br />

Após a importação, o Sistema Mestre permite obter<br />

diretamente com o mouse informações de coordenadas<br />

para o posicionamento das entidades geométricas que<br />

representam o contorno externo, contornos internos,<br />

segmentos e pontos nodais. Essas entidades<br />

geométricas são utilizadas no processamento GMA para<br />

a geração da malha básica de elementos finitos, isto é, a<br />

malha composta apenas pelos elementos placa.<br />

6.1.3 Definindo o contorno externo, contornos internos e linhas e pontos nodais<br />

Utilizando os recursos do sistema Mestre: Criar Contorno Externo, Contornos<br />

Internos, Segmentos e Pontos Nodais; foi possível gerar o resultado ilustrado na figura<br />

ao lado para o posterior processamento do programa GMA.<br />

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48<br />

Luiz Liserre & Marcio Antonio Ramalho<br />

6.1.4 Gerando e processando o arquivo GMA<br />

Adicionalmente, antes da execução do processamento GMA, são solicitadas<br />

algumas informações adicionais, tais como: espessura desejada para os elementos<br />

placa (espessuras das lajes), carregamento vertical aplicado e espaçamento desejado<br />

para o reticulado básico (dimensão dos elementos). Opcionalmente é possível<br />

especificar outros parâmetros para controlar a geração da malha, onde o valor 0.00<br />

(recomendado) é o padrão.<br />

6.1.5 Passando para o Módulo 2<br />

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Sistema computacional com geração de dados e visualização de resultados para estrutura<br />

49<br />

6.1.6 Carregando o arquivo com a malha básica gerada pelo Módulo 1<br />

Após o processamento GMA, deve-se importar a<br />

malha básica gerada para realizar os ajustes<br />

necessários e incluir os componentes estruturais<br />

pilares e vigas, bem como os demais carregamentos.<br />

Destaca-se que todos os parâmetros da malha gerada<br />

podem ser editados pelo módulo 2, desde<br />

coordenadas e vinculações de nós, incidência de<br />

elementos, até espessura e carregamentos<br />

associados aos elementos.<br />

6.1.7 Carregando o arquivo DXF com a planta de arquitetura<br />

Para facilitar a adição dos componentes estruturais<br />

pilares, vigas, bem como dos carregamentos<br />

linearmente distribuídos, pode-se carregar um DXF com<br />

a planta arquitetônica proveniente do AutoCAD.<br />

Destaca-se que, diferentemente do que ocorre no<br />

módulo 1, onde o sistema lê apenas a camada GMA, a<br />

interface de importação do DXF no módulo 2 permite<br />

especificar as camadas desejadas para a visualização.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 33-59, 2008


50<br />

Luiz Liserre & Marcio Antonio Ramalho<br />

6.1.8 Definindo e renumerando os pilares<br />

Os pilares são preferencialmente definidos antes<br />

das vigas. Para a geração e posicionamento de<br />

um Pilar basta, estando o modo Pilar ativo, clicar<br />

em Adicionar, o que fará o sistema abrir uma<br />

interface especializada. Essa interface conduz o<br />

usuário nas operações necessárias para a<br />

geração do pilar, onde é importante destacar<br />

algumas particularidades. Um pilar pode ser<br />

definido com 1 ou dois nós. No caso de pilares<br />

definidos com 1 nó, é necessário especificar o<br />

Nó k referente á definição do eixo y do elemento.<br />

No entanto essa operação é facilitada pelo<br />

sistema, uma vez que ele permite especificar<br />

diretamente pela movimentação do mouse, ou<br />

seleção de um nó, a orientação desejada. Para<br />

os pilares com dois nós o Nó K é definido<br />

automaticamente e, durante o processamento<br />

GLS, uma barra rígida com um nó intermediário é criada automaticamente de<br />

forma a simular o comportamento do pilar. A qualquer momento, durante as<br />

adições dos pilares, pode-se executar o comando renumerar para refazer a<br />

numeração dos mesmos.<br />

6.1.9 Definindo e renumerando as vigas<br />

Assim como para os pilares, as vigas<br />

são geradas com o botão adicionar<br />

estando o modo Viga ativo. Neste caso,<br />

o sistema também disponibiliza uma<br />

interface especializada que conduz o<br />

usuário no processo de geração da<br />

viga. Destaca-se que, para o caso das<br />

vigas, o Nó K é definido<br />

automaticamente, isto é, o eixo y do<br />

sistema local é orientado na direção Z<br />

do sistema global.<br />

Uma observação importante é com<br />

relação à especificação de vigas<br />

contínuas. Mesmo havendo pilares de<br />

canto na direção da viga formados por<br />

2 nós, pode-se definir a incidência da<br />

viga a partir do nó de canto fazendo a<br />

viga atravessar o pilar. Isso é possível<br />

pois o sistema gerencia<br />

automaticamente estas situações e realiza os acertos necessários com relação<br />

aos vãos teóricos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 33-59, 2008


Sistema computacional com geração de dados e visualização de resultados para estrutura<br />

51<br />

Da mesma forma que ocorre com os pilares, a qualquer momento, durante as<br />

adições das vigas, pode-se executar o comando renumerar para refazer a<br />

numeração das mesmas.<br />

6.1.10 Executando o processamento GLS e o processamento final LS5H<br />

(LASER)<br />

Após a finalização do modelo,<br />

com os componentes viga, pilar<br />

e carregamentos adicionais<br />

quando houver necessidade,<br />

basta realizar o processamento<br />

GLS e na seqüência o<br />

processamento final (LS5H).<br />

Destaca-se que antes de realizar<br />

o processamento GLS, é<br />

necessário gerar os arquivos<br />

com as informações do modelo<br />

através da geração dos<br />

arquivos: .B, .P, .V, .M e .C.<br />

6.1.11 Visualizando os resultados no Módulo 4<br />

Uma vez finalizado o processamento final, pode-se<br />

utilizar o módulo 4, Vizualiza 3D, para a<br />

visualização dos resultados gerados referentes a<br />

tensões, momentos, cortantes e deslocamentos<br />

para os elementos do modelo. Tal módulo permite<br />

definir desde os elementos a serem considerados<br />

na visualização, até a combinação dos casos de<br />

carregamento com a aplicação de multiplicadores<br />

específicos para cada caso.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 33-59, 2008


52<br />

Luiz Liserre & Marcio Antonio Ramalho<br />

6.2 Etapas realizadas para a geração da estrutura de contraventamento<br />

Ao finalizar a montagem e processamento dos pavimentos em estudo, pode-se<br />

acessar o módulo 3 para definir a estrutura de contraventamento.<br />

6.2.1 Definir os dados para o cálculo do vento do edifício e carregar os arquivos<br />

com as informações de cada pavimento.<br />

- Definição da cota inicial para consideração do efeito do vento,<br />

- Número de pavimentos diferentes,<br />

- Consideração ou não dos efeitos de desaprumo<br />

- Dimensões da edificação segundo as direções x,y e z,<br />

- Coeficiente de arrasto (combinação dos efeitos de baixa e alta turbulência),<br />

- Velocidade básica e fatores topográfico S1, de rugosidade S2 e estatístico<br />

S3,<br />

- Selecionar os pavimentos e definir o número de repetições a ser aplicado<br />

em cada pavimento,<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 33-59, 2008


Sistema computacional com geração de dados e visualização de resultados para estrutura<br />

53<br />

OBS: A ordem de entrada dos pavimentos define a seqüência da montagem da<br />

estrutura do edifício.<br />

6.2.2 Visualizando a estrutura gerada botão Visualizar<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 33-59, 2008


54<br />

Luiz Liserre & Marcio Antonio Ramalho<br />

6.2.3 Visualizando o relatório de geração botão Relatório de Geração<br />

6.2.4 Visualizando os resultados pelo módulo de visualização<br />

Botões Processar e Visualizar Resultados<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 33-59, 2008


Sistema computacional com geração de dados e visualização de resultados para estrutura<br />

55<br />

7 CONCLUSÔES<br />

Como pôde ser visto através do projeto exemplo, o aplicativo atende de forma<br />

satisfatória no que se refere a ferramentas de modelagem e visualização de resultados<br />

para modelos de elementos finitos. Desde a construção da malha básica até a<br />

inclusão ou edição de componentes estruturais no modelo, o usuário é sempre bem<br />

assistido, podendo intervir na construção do modelo de forma a representar o<br />

comportamento estrutural da forma mais correta possível. Facilidades como<br />

visualização de plantas arquitetônicas, consideração de recursos especiais como o nó<br />

mestre e os trechos rígidos, e geração e processamento dos modelos de forma<br />

integrada num único ambiente, oferece potencialidade, agilidade e confiabilidade na<br />

manipulação das informações.<br />

Além disso o módulo para montagem da estrutura de contraventamento<br />

oferece facilidades sem precedentes, já que, com poucas informações de entrada,<br />

gera toda a estrutura, incluindo os carregamentos devidos à ação do vento e do<br />

desaprumo, processa o modelo e ainda permite a visualização dos resultados, tudo<br />

em questão de minutos.<br />

Com a experiência adquirida neste trabalho, percebe-se que com os recursos<br />

computacionais disponíveis atualmente é possível avançar muito mais no<br />

desenvolvimento de ferramentas para facilitar o trabalho do engenheiro. Com uma<br />

arquitetura visando a integração com outros sistemas já desenvolvidos, a lista de<br />

diferentes problemas que podem ser tratados e automatizados torna-se bastante<br />

extensa.<br />

Por fim, acredita-se também que as ferramentas desenvolvidas neste trabalho<br />

podem auxiliar em muito o desenvolvimento de outros trabalhos mais específicos, que<br />

necessitem de ferramentas de geração e visualização de dados para análise por<br />

elementos finitos. Foi inclusive com esse intuito que optou-se por fazer módulos<br />

separados para a geração e visualização de dados.<br />

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ISSN 1809-5860<br />

ANÁLISE DE VIGAS DE CONCRETO ARMADO<br />

UTILIZANDO MODELOS DE BIELAS E TIRANTES<br />

Daniel dos Santos 1 & José Samuel Giongo 2<br />

Resumo<br />

O modelo de bielas e tirantes apresenta como uma de suas vantagens a generalidade,<br />

ou seja, é capaz de representar, de modo aproximado, porém realista e sistemático,<br />

grande parte dos elementos de concreto estrutural da atualidade. Além disso, permite<br />

ao engenheiro fácil visualização físico-intuitiva do comportamento do concreto<br />

estrutural. Por outro lado, o modelo ainda tem um enorme potencial não aproveitado.<br />

Ainda não existe um critério exato para determinação dos nós e das seções transversais<br />

das bielas de alguns elementos. Apesar de haver certas incertezas no caso de vigasparede<br />

e principalmente de blocos de fundação, nas vigas esses elementos do modelo<br />

podem ser determinados sem grandes dificuldades. Este trabalho consiste na análise de<br />

uma viga de concreto armado utilizando modelo de bielas e tirantes. Foi realizada a<br />

modelagem da viga no programa computacional CAST (2000) e as verificações da<br />

mesma segundo o MC CEB-FIP (1990), a fim de garantir a segurança estrutural do<br />

elemento e comparar resultados.<br />

Palavras-chave: concreto armado; modelo de bielas e tirantes; viga.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Ao se projetarem vigas de concreto armado, o procedimento empregado é o<br />

que utiliza o dimensionamento relativo à teoria da flexão (momento fletor e força<br />

cortante). Porém, não só no aspecto científico, mas também em outros aspectos,<br />

como prático e até didático, o cálculo de vigas de concreto armado utilizando o<br />

modelo de bielas e tirantes pode ser muito valioso. Este modelo tem como principais<br />

vantagens a melhor visualização do comportamento da estrutura, podendo-se verificar<br />

de modo mais claro a distribuição das tensões, e a facilidade na identificação das<br />

regiões mais solicitadas da estrutura. O modelo também permite que o projetista o<br />

utilize em toda a estrutura, tanto nas regiões sem descontinuidades, quanto nas<br />

regiões com descontinuidades.<br />

Um dos elementos estruturais mais comuns em vários tipos de construções, a<br />

viga é elemento fundamental de sustentação da maioria das edificações de concreto<br />

armado. Ao mesmo tempo, o modelo de bielas e tirantes é uma das mais geniais<br />

idéias de concepção e análise estrutural do século XX e até da própria história do<br />

concreto. Esse modelo passou por evoluções e até hoje é proposto por códigos e<br />

normas para o cálculo de estruturas não usuais de concreto armado, apesar de poder<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, danielsantoscivil@yahoo.com.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jsgiongo@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


62<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

ser usado, também, para dimensionar estruturas usuais, como vigas biapoiadas sem<br />

descontinuidades geométricas.<br />

2 AS VIGAS E O MODELO DE BIELAS E TIRANTES<br />

2.1 Preliminares<br />

Ao se estudar o equilíbrio da treliça de MÖRSCH, idealizada no século<br />

retrasado, podem ser determinados os deslocamentos no diagrama de momentos<br />

fletores, a fim de estabelecer os corretos pontos de interrupção das barras<br />

longitudinais da viga. Segundo a NBR 6118:2003, “o dimensionamento das armaduras<br />

longitudinais deve conduzir a um conjunto de esforços resistentes (N Rd , M Rd ) que<br />

constituam envoltória dos esforços solicitantes (N Sd , M Sd ) determinados na análise<br />

estrutural”.<br />

O modelo de bielas e tirantes, por sua vez, analisa a viga como um todo, sem<br />

a necessidade de separar os esforços solicitantes e as forças internas para equilibrálos,<br />

constituindo-se em modelo mais realista. Assim, permite que a determinação dos<br />

comprimentos das barras longitudinais seja realizada de maneira mais simples do que<br />

pelo modo tradicional - análise do momento fletor resistido por barra e consideração<br />

do diagrama de momentos fletores deslocado. Ao se aplicar o modelo, os pontos de<br />

interrupção das barras longitudinais podem ser determinados facilmente, de acordo<br />

com as forças aplicadas em cada barra do banzo da treliça, ou seja, determina-se a<br />

área de armadura necessária para resistir a força resultante em cada tramo do banzo<br />

que esteja tracionado. Sabendo-se que a força varia para cada barra da treliça, os<br />

pontos de interrupção das barras da armadura longitudinal podem ser definidos,<br />

portanto, a partir dos nós da treliça interna da viga.<br />

A análise da segurança da viga adotando o modelo de bielas e tirantes<br />

permite as verificações relativas aos banzos tracionado e comprimido, às diagonais<br />

comprimidas, aos pendurais e às regiões nodais.<br />

Para as verificações das vigas de concreto armado utilizando o modelo de<br />

bielas e tirantes, é necessário elaborar rotina de projeto que considere<br />

convenientemente:<br />

1. a segurança das regiões nodais;<br />

2. as verificações das diagonais comprimidas, considerando os critérios de<br />

resistência do concreto;<br />

3. as verificações dos pendurais (estribos), considerando os critérios de<br />

resistência das barras ou fios de aço;<br />

4. os comprimentos de ancoragem das armaduras longitudinais.<br />

2.2 A analogia clássica da treliça<br />

A treliça clássica de RITTER & MÖRSCH foi concebida no início do século XX<br />

e, desde então, vem sendo utilizada como base para o dimensionamento de vigas de<br />

concreto armado. Apesar de algumas pesquisas sugerirem alterações em sua teoria,<br />

seu aspecto geral foi mantido e está distante de ser superado, pois o mecanismo<br />

resistente desses elementos estruturais pode ser associado ao de treliças.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

63<br />

A Analogia Clássica da Treliça faz a analogia entre uma viga de concreto<br />

armado, depois de fissurada, e uma treliça de banzos paralelos e, apesar de<br />

apresentar certas imperfeições, resultantes da incompatibilidade entre modelo e viga<br />

real, ainda hoje é empregada em grande escala. Nas últimas décadas propostas vêm<br />

sendo feitas por pesquisadores e engenheiros sugerindo alterações no modelo<br />

original, a fim de aperfeiçoá-lo e, principalmente, ajustar os resultados experimentais<br />

aos teóricos.<br />

Atualmente, como importantes incrementos ao modelo de RITTER &<br />

MÖRSCH, destacam-se os modelos de bielas e tirantes, nos quais regiões da viga<br />

real são denotados como elementos da treliça. Neste caso, as armaduras transversais<br />

são os montantes tracionados da treliça, atuando tipicamente como tirantes na viga de<br />

concreto armado. Por sua vez, as diagonais comprimidas, situadas entre duas<br />

fissuras consecutivas, trabalham como as barras das diagonais comprimidas da<br />

treliça, atuando como as bielas. Por fim, citam-se os banzos da treliça, nos quais a<br />

armadura longitudinal de tração da viga funciona como o banzo tracionado e a faixa<br />

superior de concreto como o banzo comprimido.<br />

As hipóteses admitidas pela treliça clássica baseiam-se no panorama<br />

fissurado da viga, a partir do qual se pode determinar o mecanismo de funcionamento<br />

da mesma. O modelo propõe uma treliça de banzos paralelos em quase toda a<br />

extensão da viga, sendo que apenas nas regiões dos apoios o banzo superior inclinase<br />

até se encontrar com o inferior.<br />

As diagonais comprimidas apresentam inclinação θ menor ou igual a 45º em<br />

relação ao eixo longitudinal da viga, sendo que θ varia conforme a largura da alma e a<br />

taxa de armadura transversal. A delimitação das diagonais se dá pelas fissuras, pois<br />

cada diagonal está compreendida no espaço entre duas fissuras. Experimentalmente,<br />

observa-se que as inclinações das fissuras diminuem em direção aos apoios, valendo<br />

aproximadamente 90º na região central da viga. Porém, os modelos de cálculo<br />

determinam um ângulo de inclinação e consideram-no constante em toda a extensão<br />

da viga.<br />

O ângulo de inclinação mínimo é especificado segundo cada norma, porém<br />

usualmente admite-se θ = 45º, a fim de simplificar as considerações para o<br />

dimensionamento. A NBR 6118:2003 apresenta dois modelos de cálculo: o modelo I,<br />

que considera o ângulo θ = 45º, e o modelo II, que considera o ângulo θ arbitrado<br />

livremente entre 30º e 45º.<br />

A armadura transversal pode apresentar inclinação α entre 45º e 90º em<br />

relação ao eixo longitudinal da peça. Na prática, a grande maioria dos casos<br />

apresenta armadura transversal na posição vertical, ou seja, com α = 90º, em função<br />

da dificuldade de modelagem das barras da armadura com diferentes inclinações.<br />

Pode-se citar, porém, que tais inclinações, apesar de não usuais, melhoram a<br />

eficiência da armadura transversal.<br />

Segundo a NBR 6118:2003, a tensão nas barras da armadura transversal f ywd<br />

precisa respeitar os seguintes limites:<br />

Estribos: fywd = fyd = fyk / γs ≤ 435 MPa (1)<br />

Barras dobradas: fywd = 0,70 fyd = 0,70 fyk / γs ≤ 435 MPa (2)<br />

sendo:<br />

γ s = 1,15<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


64<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

2.3 Deslocamento do diagrama de momentos fletores<br />

Os esforços solicitantes relativos à flexão que atuam em uma viga de concreto<br />

de alma cheia não são exatamente iguais aos atuantes numa treliça. Na viga de<br />

concreto armado a resultante de compressão, que atua no banzo comprimido, e a de<br />

tração, que atua na armadura tracionada, para uma mesma seção, são proporcionais<br />

ao momento fletor atuante. Sendo assim, na viga, por se tratar de um elemento<br />

geometricamente contínuo, as intensidades das forças atuantes nos banzos variam<br />

ponto a ponto, ou seja, a cada diferença infinitesimal de espaço. Por outro lado, na<br />

treliça as forças apresentam valores constantes entre dois nós consecutivos, ou seja,<br />

em cada uma de suas barras.<br />

Por conta dessa diferença, precisa-se realizar uma translação a l do diagrama<br />

de momentos fletores de cálculo, a fim de compatibilizar modelo e viga real. Para o<br />

modelo II da NBR 6118:2003, tal translação admite os valores dados pela seguinte<br />

expressão:<br />

a l = (z / 2) (cotgθ - cotgα) + s t / 2 (3)<br />

sendo:<br />

z = distância entre a resultante de compressão e a de tração nos banzos<br />

(braço de alavanca);<br />

α = inclinação da armadura transversal;<br />

θ = inclinação das bielas de concreto comprimido;<br />

s t = espaçamento longitudinal entre os estribos.<br />

Para vigas no modelo I, ou seja, com estribos a 90º e inclinação das bielas<br />

igual a 45º, a expressão anterior resulta:<br />

a l = s t / 2 (4)<br />

A figura a seguir indica a decalagem do diagrama de momento fletor sugerida<br />

pela NBR 6118:2003.<br />

Figura 1 - Cobertura do diagrama de força de tração solicitante pelo diagrama resistente [NBR<br />

6118:2003].<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

65<br />

2.4 Determinação da inclinação das bielas<br />

No projeto da viga, o ângulo θ formado entre as bielas e o eixo longitudinal do<br />

elemento pode ser arbitrado livremente no intervalo θ min ≤ θ ≤ θ max .<br />

À medida que o ângulo escolhido se aproxima do valor máximo, maior é a<br />

taxa de armadura transversal necessária e, por outro lado, menor é a tensão nas<br />

bielas. Contrariamente, ao se adotar um valor de θ próximo a θ min , diminui-se a área<br />

de armadura transversal, resultando, porém, em acréscimo nas tensões de<br />

compressão atuantes nas bielas. Em vista disso, sugere-se a adoção de valores da<br />

inclinação das bielas (θ) os mais próximos possíveis de θ min , pois as tensões de<br />

compressão são verificadas diretamente, pois deve-se apenas garantir que tais<br />

tensões estejam dentro dos limites estabelecidos. O valor mínimo que pode ser<br />

utilizado para a inclinação θ das bielas varia de acordo com as normas, os códigos e<br />

os pesquisadores. O MC CEB-FIP (1990) recomenda utilizar inclinação mínima θ min =<br />

18,4º (cotgθ min = 3).<br />

Porém, alguns pesquisadores discordam desse valor, justificando ser um valor<br />

muito baixo. Sugestões baseadas em investigações experimentais indicam valores<br />

para inclinação mínima das bielas comprimidas em torno de θ min = 26,5º. A NBR<br />

6118:2003 admite, em seu modelo de cálculo II, no qual a inclinação θ das diagonais<br />

de compressão pode ser diferente de 45º, valor mínimo igual a 30º. Admite ainda que<br />

a parcela complementar V c sofra redução com o aumento de V Sd .<br />

Deve-se salientar que bielas com baixas inclinações resultam em alta tensão<br />

na armadura transversal entre o início da fissuração e o estado limite último, além de<br />

requererem maior comprimento de ancoragem da armadura longitudinal. Nesse caso,<br />

o controle da fissuração pode ser limitante no projeto podendo, então, impedir valores<br />

de θ próximos a θ min . Além disso, aconselha-se não utilizar pequenas inclinações em<br />

elementos submetidos a tração axial.<br />

2.5 O modelo de bielas e tirantes<br />

Durante décadas, pesquisadores apenas sugeriram modificações no modelo<br />

proposto por Ritter e Mörsch, porém mantendo seus conceitos básicos. Sugestões e<br />

modificações propostas buscaram adaptar melhor o modelo original aos resultados<br />

experimentais. Resultados de ensaios levaram à adoção da “Treliça de Mörsch<br />

Generalizada”, em que a inclinação das bielas comprimidas em relação ao eixo da<br />

viga variava de acordo com os comportamentos observados nos ensaios.<br />

Uma grande evolução se observou nos anos 80, quando SCHLAICH &<br />

SCHÄFER (1988), pesquisadores de Stuttgart, Alemanha, passaram a aplicar os<br />

modelos de bielas e tirantes em outros elementos estruturais, como vigas-parede,<br />

consolos, sapatas, blocos de fundação, ligações entre viga e pilar, aberturas em vigas<br />

e apoios em dente.<br />

MARTI (1985) utilizou-se da teoria da plasticidade e de critérios básicos, que<br />

envolviam conceitos de nós, bielas, tirantes, arcos e leques, para propor a aplicação<br />

dos modelos ao dimensionamento das armaduras longitudinais e transversais de uma<br />

viga.<br />

Assim sendo, pode-se dizer que o modelo de bielas e tirantes teve<br />

significativo avanço e ampla divulgação somente a partir da década de 80, quando<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


66<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

Schlaich, Schäfer e Marti conduziram à generalização da Analogia da Treliça e<br />

criaram uma base científica refinada, proporcionando considerável avanço para uma<br />

aplicação racional dos modelos em vigas.<br />

TJHIN & KUCHMA (2002) discutiram avanços e desafios do dimensionamento<br />

utilizando o modelo de bielas e tirantes com o auxílio de programas computacionais.<br />

SOUZA (2004) analisou amplamente o dimensionamento de elementos de<br />

concreto armado com descontinuidades, não apenas pelo modelo de bielas e tirantes,<br />

o qual o autor denomeia Método das Bielas, como também pelo Método Corda-Painel.<br />

Em seu trabalho foram realizadas análises em relação à determinação de parâmetros<br />

polêmicos, como a resistência adequada para bielas e nós, bem como a configuração<br />

geométrica das regiões nodais dependente das forças que nelas atuam.<br />

Vigas com aberturas em suas almas foram dimensionadas por RONCATTO &<br />

CAMPOS (2005), utilizando programa computacional desenvolvido pelos próprios<br />

autores. O programa “Furos em Vigas de Concreto” é capaz de estabelecer de forma<br />

automatizada o modelo de bielas e tirantes mais adequado para a situação sob<br />

análise, determinar as solicitações nos elementos, realizar as verificações de bielas e<br />

nós e as áreas de armaduras necessárias para os tirantes.<br />

2.6 Considerações iniciais sobre o modelo<br />

Sabe-se que a qualidade e a confiabilidade de um projeto estrutural, em geral,<br />

estão relacionadas não com seu comportamento global, mas sim com a precisão com<br />

que são dimensionadas as regiões de descontinuidade de seus elementos<br />

isoladamente. O que se verifica, corriqueiramente, é o uso de métodos e rotinas<br />

consagrados e confiáveis para o dimensionamento da maior parte dos elementos,<br />

mas isso não acontece quando se trata de regiões descontínuas, pois tais regiões<br />

geralmente são projetadas por modelos relativamente simples e ainda não<br />

consagrados, baseados, muitas vezes, na “experiência” do projetista. O modelo de<br />

bielas e tirantes é um método racional cientificamente comprovado, recomendado<br />

pela norma brasileira e por diversas outras normas internacionais para o<br />

dimensionamento de regiões descontínuas de elementos de concreto armado, que<br />

atende às necessidades de tais análises.<br />

A NBR 6118:2003 aborda superficialmente o modelo de bielas e tirantes,<br />

permitindo sua utilização no dimensionamento de vigas-parede, consolos e dentes<br />

Gerber.<br />

Apesar de o CEB-FIP Model Code (1978) já tratar do modelo de bielas e<br />

tirantes, somente na versão de 1990 é que foram disponibilizadas informações<br />

suficientes para se desenvolver projetos de elementos estruturais utilizando o modelo.<br />

No modelo de bielas e tirantes as bielas são representadas por campos de<br />

tensões de compressão, resistidas pelo concreto, e os tirantes são representados por<br />

campos de tensões de tração, usualmente resistidas pela armadura. Ocasionalmente,<br />

o concreto pode absorver as tensões de tração, desde que sejam respeitadas as<br />

condições de segurança relativas à resistência a tração do concreto.<br />

Buscando-se representar a estrutura real, constrói-se um modelo idealizado, o<br />

qual é constituído por barras, comprimidas e tracionadas, unidas por nós. As forças<br />

nas bielas e nos tirantes são calculadas por equilíbrio entre as forças atuantes<br />

internas e externas.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

67<br />

O processo do caminho de carga permite que se criem modelos analisando-se<br />

os fluxos de tensões na estrutura. Utilizando métodos numéricos, como o método dos<br />

elementos finitos, podem ser expressas as tensões elásticas e suas direções<br />

principais, o que permite uma direta determinação do modelo. As bielas podem ter as<br />

direções das linhas médias dos campos de compressão e os tirantes as direções das<br />

linhas médias dos campos de tração. Um exemplo simplificado do processo do<br />

caminho de carga, e suas etapas básicas, pode ser observado na viga-parede da<br />

Figura 2.<br />

Figura 2 - Processo do caminho de carga.<br />

2.7 Princípios básicos do modelo de bielas e tirantes<br />

Pode-se entender o modelo de bielas e tirantes como um modelo de treliça<br />

mais abrangente. Esse modelo tem por base o mecanismo resistente das vigas de<br />

concreto armado, resultando em representações dos campos de tração e compressão<br />

das mesmas. Os campos comprimidos são as diagonais de concreto limitadas por<br />

duas fissuras consecutivas e o banzo comprimido de concreto (banzo superior, no<br />

caso de carregamento na face superior da viga), o qual pode apresentar barras de<br />

aço no caso de vigas com armadura dupla. Os campos tracionados correspondem à<br />

armadura transversal (pendurais ou montantes das treliças) e ao banzo tracionado<br />

(banzo inferior, no caso de carregamento na face superior da viga), composto pela<br />

armadura longitudinal da viga. O modelo propõe analisar a viga de concreto armado<br />

como uma treliça, estrutura formada por barras, em que as bielas e os tirantes estão<br />

ligados por nós, como mostrado na Figura 4 - b.<br />

Em outras palavras, o modelo consiste na representação discreta dos campos<br />

de tensão de tração e dos campos de tensão de compressão nos elementos<br />

estruturais, sendo que as bielas representam os campos principais de compressão e<br />

os tirantes representam os campos principais de tração. A tração pode ser absorvida<br />

por uma ou mais camadas de armadura. As bielas e os tirantes são interligados por<br />

elementos pontuais denominados de nós, os quais dão origem às regiões nodais.<br />

Estas, por suas vezes, constituem um volume de concreto que envolve os pontos de<br />

intersecção dos elementos do modelo. A Figura 3 apresenta um modelo de bielas e<br />

tirantes aplicado a um apoio em dente de uma viga, com todos os seus elementos<br />

básicos descritos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


68<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

O modelo de bielas e tirantes adotado é função da geometria da estrutura e<br />

das ações atuantes em seu contorno. Segundo SILVA & GIONGO (2000),<br />

normalmente pode-se obter a geometria do modelo analisando-se os seguintes<br />

aspectos:<br />

1. tipos de ações atuantes;<br />

2. ângulos entre bielas e tirantes;<br />

3. áreas de aplicação de ações e reações;<br />

4. número de camadas das armaduras;<br />

5. cobrimento das armaduras.<br />

Modelos de bielas e tirantes podem ser obtidos por meio do fluxo de tensões<br />

elásticas existentes na estrutura, pelo processo do caminho de carga ou por modelos<br />

padronizados. Caso se realize uma análise elástica da estrutura, a fim de se<br />

determinar as tensões elásticas e suas respectivas direções principais, torna-se muito<br />

simples e imediato o desenvolvimento de um modelo adequado.<br />

Figura 3 - Modelo de bielas e tirantes aplicado a um apoio em dente de uma viga.<br />

2.8 Definição geométrica do modelo<br />

A determinação da geometria de um modelo de bielas e tirantes deve levar<br />

em conta as ações atuantes na estrutura, no que diz respeito aos tipos e áreas de<br />

aplicação, suas respectivas áreas de reações, ângulos entre bielas e tirantes.<br />

Segundo análise do fluxo de tensões pelo elemento, por meio do processo do<br />

caminho de carga, a definição geométrica do modelo apresenta como principais<br />

fatores:<br />

1. Considerações sobre regiões contínuas e descontínuas;<br />

2. Ângulos entre bielas e tirantes;<br />

3. Tipos de ações atuantes;<br />

4. Esforços solicitantes no contorno;<br />

5. Área de aplicação das ações e das reações;<br />

6. Número de camadas da armadura;<br />

7. Cobrimento da armadura.<br />

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Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

69<br />

As dimensões das bielas e das regiões nodais dependem das áreas de<br />

aplicação das ações e reações e também da armadura, quanto ao número de<br />

camadas e ao cobrimento. Já o ângulo formado entre biela e tirante está relacionado<br />

com a distribuição de tensões elásticas devida às ações atuantes.<br />

2.9 Regiões contínuas (B) e descontínuas (D)<br />

As estruturas em geral ou seus elementos estruturais podem ser divididos em<br />

regiões contínuas (B) e descontínuas (D), a fim de refinar suas análises quando da<br />

aplicação de modelos.<br />

Tal divisão baseia-se nas hipóteses de Bernoulli, relativas à distribuição linear<br />

de deformações ao longo da seção transversal. Classificam-se como contínuas as<br />

regiões nas quais tais hipóteses são válidas e, descontínuas, nas quais não são. As<br />

regiões D são originárias de descontinuidades geométricas e/ou estáticas.<br />

Os modelos de treliça usuais são capazes de analisar as regiões B fissuradas,<br />

enquanto que os modelos de bielas e tirantes representam, simplificadamente, o fluxo<br />

interno de tensões em regiões D, possibilitando uma análise simultânea dessas e das<br />

contínuas. Em vista disso, o modelo de bielas e tirantes mostra-se como um<br />

procedimento não só mais abrangente ou geral, como também mais sofisticado na<br />

análise e no projeto de estruturas.<br />

As vigas usuais apresentam regiões descontínuas apenas nas regiões de<br />

aplicação de forças concentradas e nos apoios, sendo o restante composto por<br />

regiões contínuas, como mostra a Figura 4 - a.<br />

F d<br />

D B D B D<br />

a)<br />

Tirantes<br />

Bielas<br />

b)<br />

Figura 4 - Regiões (B) e (D) e modelo de treliça para uma viga (SILVA & GIONGO, 2000).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


70<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

2.10 Tipos fundamentais de nós<br />

Um nó é uma idealização de uma região de concreto na qual ocorrem<br />

mudanças bruscas nas direções das forças, provindas das bielas comprimidas, dos<br />

tirantes tracionados, de forças de ancoragem e forças externas – ações concentradas<br />

ou reações de apoio. Porém, essa mudança brusca de direção das forças, a qual se<br />

idealiza, simplificadamente, acontecer pontualmente, na realidade ocorre num<br />

determinado comprimento e numa determinada largura do elemento estrutural de<br />

concreto armado.<br />

Segundo SCHLAICH & SCHÄFER (1988), os nós dos modelos de bielas e<br />

tirantes podem ser de dois tipos, adiante discutidos:<br />

Nós singulares ou concentrados (“concentrated” ou “singular”): são nós onde<br />

forças concentradas são aplicadas e o desvio da força é feito localizadamente. Estes<br />

nós são críticos e devem ter as suas tensões verificadas, a fim de equilibrar as forças<br />

oriundas das bielas e dos tirantes sem produzir deformações excessivas capazes de<br />

provocar fissuração. Para o dimensionamento, é necessário se dispor da geometria<br />

do nó, do estado de tensões ao qual está submetido, da resistência do concreto e das<br />

condições de ancoragem das armaduras;<br />

Nós contínuos (“continuous” ou “smeared”): nestes nós o desvio da força<br />

ocorre em comprimentos satisfatórios, em que as armaduras podem ser ancoradas<br />

sem maiores problemas. Desde que os critérios de ancoragem sejam verificados,<br />

estes nós usualmente não são críticos, não necessitando de verificações adicionais.<br />

Nó singular<br />

Nó contínuo<br />

Figura 5 - Exemplo básico de nós contínuos e nós singulares em modelo de bielas e tirantes.<br />

Há muitas alternativas sugeridas por pesquisadores para a definição<br />

geométrica dos nós concentrados, tais quais as sugeridas por MARTI (1985),<br />

SCHLAICH & SCHÄFER (1988) e TJHIN & KUCHMA (2002).<br />

Segundo MARTI (1985), deve-se adotar as larguras das bielas de tal forma<br />

que todas as que concorrem num mesmo nó apresentem a mesma intensidade de<br />

tensão. Dessa forma, a tensão no interior do nó será igual à tensão das bielas,<br />

configurando, assim, um estado de tensões pseudo-hidrostático. Neste caso em<br />

particular, os lados das regiões nodais serão perpendiculares às direções dos eixos<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

71<br />

das bielas e, para a verificação da segurança, bastará apenas a verificação das bielas<br />

concorrentes em cada nó.<br />

De acordo com TJHIN & KUCHMA (2002), tradicionalmente procura-se<br />

estabelecer um arranjo nodal de maneira que as tensões em todos os seus lados<br />

sejam iguais. Isso pode ser feito dimensionando-se as fronteiras do nó, de maneira<br />

que elas sejam proporcionais e perpendiculares às forças atuantes naquele nó.<br />

Para a definição da largura do nó no qual concorre um tirante pode-se admitir<br />

que a força do tirante seja de compressão e que ela esteja atuando além do nó. Os<br />

nós considerados dessa maneira são denominados de hidrostáticos, pois o estado<br />

biaxial de tensão resultante no interior do nó também será hidrostático. Essa<br />

recomendação é idêntica àquela proposta por MARTI (1985), citada anteriormente.<br />

Ainda segundo TJHIN & KUCHMA (2002), principalmente em situações em<br />

que os nós são formados pelo encontro de mais de três elementos, a idealização<br />

como hidrostático pode ser muito trabalhosa, pois os eixos dos elementos tendem a<br />

não ser coincidentes.<br />

SCHLAICH & SCHÄFER (1988, 1991) propuseram um método simplificado<br />

para configurações típicas de nós. Segundo os pesquisadores, o nó tem sua<br />

geometria definida pela intersecção das dimensões das bielas e dos tirantes, cujos<br />

eixos devem coincidir. Assim, as tensões planas atuantes em todos os lados da região<br />

nodal não precisam ser iguais, porém as tensões em cada lado do nó devem ser<br />

constantes e devem permanecer abaixo de um limite pré-estabelecido para a tensão<br />

nodal.<br />

2.11 Parâmetros de resistência das regiões nodais<br />

Os nós são elementos que merecem atenção especial, pois precisam garantir<br />

adequada transferência de forças entre bielas e tirantes. Um fator limitante para a<br />

segurança e a confiabilidade de um nó é o ângulo formado pelas bielas e tirantes que<br />

nele concorrem. Quanto menor este ângulo, menor a resistência à compressão da<br />

biela.<br />

A tabela seguinte apresenta os intervalos permitidos para o ângulo formado<br />

entre uma biela e um tirante, segundo recomendações das principais normas<br />

internacionais e alguns pesquisadores.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


72<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

Tabela 1 - Limites inferior e superior para o ângulo formado entre as diagonais comprimidas e a<br />

armadura longitudinal da viga.<br />

Norma ou pesquisador<br />

NBR 6118:2003<br />

ACI 318 (2002)<br />

EUROCODE 2 (1992)<br />

Projeto de revisão do EUROCODE 2 (1999)<br />

CEB-FIP Model Code (1990)<br />

FUSCO (1984)<br />

SCHLAICH & SCHÄFER (1988, 1991)<br />

Ângulo permitido<br />

30 o ≤ θ ≤ 45 o<br />

25 o ≤ θ ≤ 65 o<br />

31 o ≤ θ ≤ 59 o<br />

21 o ≤ θ ≤ 45 o<br />

18,4 o ≤ θ ≤ 45 o<br />

26 o ≤ θ ≤ 63 o<br />

45 o ≤ θ ≤ 60 o<br />

Para a classificação das regiões nodais serão adotados os parâmetros da<br />

ASCE-ACI (1998) e da ACI 318 (2002), haja vista que o próprio CAST (2000) toma<br />

por base a norma norte-americana. Suas prescrições sugerem a classificação das<br />

regiões nodais como:<br />

CCC: região nodal circundada somente por bielas;<br />

CCT: região nodal circundada por bielas e por um único tirante;<br />

CTT: região nodal circundada por uma única biela e por tirantes em uma ou<br />

mais direções;<br />

TTT: região nodal circundada por três ou mais tirantes.<br />

De acordo com o Apêndice A do ACI 318 (2002), os critérios de resistência da<br />

região nodal são:<br />

φ.F nn ≥ F u (5)<br />

F nn = f cu .A n (6)<br />

f cu = 0,85.β s .f c ’ (7)<br />

sendo:<br />

f c ’ = resistência característica do concreto;<br />

φ = 0,85;<br />

βs = 1,0 para regiões nodais circundadas por bielas e/ou placas de apoio (nós<br />

tipo CCC);<br />

βs = 0,80 para regiões nodais ancorando somente um tirante (nós tipo CCT);<br />

βs = 0,60 para regiões nodais ancorando dois ou mais tirantes (nós tipo CTT).<br />

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Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

73<br />

2.12 Parâmetros de resistência das bielas<br />

Resistência das bielas segundo SCHLAICH & SCHÄFER (1988, 1991)<br />

Os critérios básicos de resistência das bielas, segundo SCHLAICH &<br />

SCHÄFER (1988, 1991), são:<br />

0,85 f cd para estado de tensão uniaxial e sem perturbação; (8)<br />

0,68 f cd para campos de compressão com fissuras paralelas às tensões de<br />

compressão; (9)<br />

0,51 f cd para campos de compressão com fissuras inclinadas. (10)<br />

Resistência das bielas segundo o Apêndice A do ACI 318 (2002)<br />

Os critérios básicos de resistência das bielas, segundo o Apêndice A do ACI<br />

318 (2002), são:<br />

φ.F ns ≥ F u (11)<br />

F ns = f cu .A c (12)<br />

f cu = 0,85.β s .f c ’ (13)<br />

sendo:<br />

f c ’ = resistência característica do concreto;<br />

φ = 0,85;<br />

βs = 1,0 para bielas uniformes de seção constante;<br />

βs = 0,75 para bielas do tipo garrafa que satisfaçam o item A.3.3 de<br />

distribuição de malha de armadura, encontrado no Apêndice A do ACI-318 (2002);<br />

βs = 0,60.λ para bielas do tipo garrafa que não satisfaçam o item A.3.3 de<br />

distribuição de malha de armadura, encontrado no Apêndice A do ACI-318 (2002).<br />

2.13 Parâmetros de resistência dos tirantes<br />

Quase sempre as forças internas de tração na estrutura resultantes do modelo<br />

adotado são absorvidas por tirantes constituídos por uma ou mais camadas de barras<br />

de aço, devido à limitada capacidade resistente do concreto em absorver esforços de<br />

tração. Ainda assim, caso se necessite, pode-se prover a estrutura de tirantes de<br />

concreto. Segundo SCHLAICH & SCHÄFER (1988, 1991), deve-se considerar a<br />

resistência à tração do concreto somente quando se esperar ruptura frágil ou zonas<br />

de ruptura localizadas.<br />

A seguir são fornecidas as expressões para o dimensionamento de tirantes de<br />

concreto e tirantes de aço:<br />

A s = γ f .R st / f yd (14)<br />

Ac = γ f .R st / f td (15)<br />

sendo:<br />

A s = área necessária do tirante de aço;<br />

A c = área necessária do tirante de concreto;<br />

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74<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

R st = força de tração atuante;<br />

f yd = resistência ao escoamento de cálculo do aço;<br />

f td = resistência à tração de cálculo do concreto;<br />

γ f = coeficiente de majoração das ações.<br />

3 VERIFICAÇÃO DE VIGAS SEGUNDO O MC CEB-FIP (1990)<br />

As expressões para verificação da segurança de vigas submetidas a força<br />

cortante fornecidas pelo Código Modelo CEB-FIP (1990), apesar de apresentarem<br />

nomenclatura diferente daquelas fornecidas pela NBR 6118:2003, são do mesmo<br />

gênero, mostrando que os esquemas de forças internas e externas aplicadas à treliça<br />

considerados pelo MC CEB-FIP (1990) são do mesmo gênero dos considerados pela<br />

norma brasileira. Serão apresentadas, a seguir, as expressões para dimensionamento<br />

segundo o MC CEB-FIP (1990), o qual considera, no equilíbrio da treliça, a inclinação<br />

θ das bielas livre, não necessariamente θ = 45 o como o modelo de cálculo I da NBR<br />

6118:2003.<br />

A verificação da compressão diagonal do concreto deve obedecer à seguinte<br />

condição de segurança:<br />

R Scw < R Rcw (16)<br />

R Scw = (V d / senθ) [cotgθ / (cotgθ + cotgα)] (17)<br />

e<br />

R Rcw = f cd2 b w z cosθ (18)<br />

sendo:<br />

f cd2 = 0,6 (1 - f ck / 250) f cd (19)<br />

f cd = f ck / γ c (20)<br />

γ c = 1,5<br />

A condição de segurança para o cálculo da armadura transversal é:<br />

R Stw < R Rtw (21)<br />

R Stw = V d / senα (22)<br />

e<br />

R Rtw = A sw f yd z (cotgθ + cotgα) / s (23)<br />

4 O PROGRAMA CAST<br />

4.1 Conceitos gerais<br />

O programa computacional gráfico CAST, Computer Aided Strut and Tie<br />

(2000), é capaz de realizar a análise e o dimensionamento de uma estrutura de<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

75<br />

concreto armado ou protendido com base no modelo de bielas e tirantes. O programa<br />

começou a ser desenvolvido em 1997 na Universidade de Illinois at Urbana-<br />

Champaign, nos Estados Unidos da América, e passou por atualizações. Uma versão<br />

inicial do programa foi introduzida pela primeira vez no Congresso do ACI de 2000,<br />

em Toronto, Canadá, por Dan Kuchma e Tjen Tjhin, após a apresentação do trabalho<br />

"Advances and Challenges to Design by the Strut-and-Tie Method".<br />

A interface utilizada é simples e possibilita a criação e a modificação de<br />

elementos estruturais e de possíveis modelos de bielas e tirantes, os quais precisam<br />

ser determinados pelo usuário. Esse aspecto chama a atenção, pois o programa não<br />

dispõe de um processo de otimização que determina automaticamente o modelo mais<br />

adequado e, sendo isso tarefa exclusiva do usuário, é necessário embasamento<br />

teórico acerca do modelo de bielas e tirantes, suas limitações e peculiaridades. Por<br />

outro lado, não exige solução única, possibilitando grande variedade de soluções para<br />

cada estrutura. Nesse aspecto, entram o conhecimento técnico-científico e a<br />

experiência do usuário do programa a fim de encontrar o modelo mais adequado, que<br />

leve em consideração economia e aspectos construtivos da estrutura. Além disso, sua<br />

facilidade em variar o modelo de bielas e tirantes adotado para um mesmo<br />

carregamento, a disponibilidade de rotinas para o dimensionamento de modelos de<br />

bielas e tirantes submetidos a múltiplos casos de carregamento e a simples<br />

automatização dos cálculos são fatores que vão ao encontro das necessidades do<br />

projetista de estruturas.<br />

4.2 Definição das propriedades dos elementos<br />

Para a verificação de nós e bielas, há a possibilidade de se utilizar valores das<br />

resistências propostos por pesquisadores e normas, predefinidos pelo programa,<br />

como também é possível determinar valores desejados. A Tabela 2 e a Tabela 3<br />

apresentam todos os valores predefinidos pelo programa para nós e bielas, os quais<br />

podem ser arbitrariamente adotados pelo usuário.<br />

Tabela 2 - Propriedades dos nós segundo as normas e expressões disponíveis no CAST<br />

(2000).<br />

Propriedades dos nós<br />

Fator<br />

f ck (MPa)<br />

Fator<br />

Fator<br />

Eq. Códigos<br />

Redução<br />

Eficiência<br />

Resultante 20 30 40 50<br />

Resistência<br />

ACI CCC 0,850 0,750 0,638 12,75 19,13 25,50 31,88<br />

ACI CCT 0,680 0,750 0,510 10,20 15,30 20,40 25,50<br />

ACI CTT 0,510 0,750 0,383 7,65 11,48 15,30 19,13<br />

Marti (1985) CCC 0,600 0,750 0,450 9,00 13,50 18,00 22,50<br />

Schlaich (1987) CCC 0,850 0,750 0,638 12,75 19,13 25,50 31,88<br />

Schlaich (1987) CCT / CTT 0,680 0,750 0,510 10,20 15,30 20,40 25,50<br />

MacGregor (1997) CCC 0,777 0,750 0,583 11,66 17,48 23,31 29,14<br />

MacGregor (1997) CCT 0,661 0,750 0,496 9,92 14,87 19,83 24,79<br />

MacGregor (1997) CTT 0,583 0,750 0,437 8,75 13,12 17,49 21,86<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


76<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

Tabela 3 - Propriedades das bielas segundo as normas e expressões disponíveis no CAST<br />

(2000).<br />

Propriedades das Bielas<br />

Eq. Códigos<br />

Fator<br />

Eficiência<br />

Fator<br />

Redução<br />

Resistência<br />

f ck (MPa)<br />

Fator<br />

Resultante 20 30 40 50<br />

ACI Prismatic 0,850 0,750 0,638 12,75 19,13 25,50 31,88<br />

ACI "Forma Garrafa" c/ Armad. 0,637 0,750 0,478 9,56 14,33 19,11 23,89<br />

ACI "Forma Garrafa" s/ Armad. 0,510 0,750 0,383 7,65 11,48 15,30 19,13<br />

ACI Bielas em Elem. Tracionados 0,340 0,750 0,255 5,10 7,65 10,20 12,75<br />

ACI Bielas para todos os outros casos 0,510 0,750 0,383 7,65 11,48 15,30 19,13<br />

Nielsen (1978) 0,550 0,750 0,413 8,25 12,38 16,50 20,63<br />

Ramirez & Breen (1983) 0,515 0,750 0,386 7,73 11,59 15,45 19,31<br />

Marti (1985) 0,600 0,750 0,450 9,00 13,50 18,00 22,50<br />

Schlaich (1987) Biela não Fissurada 0,850 0,750 0,638 12,75 19,13 25,50 31,88<br />

Schlaich (1987) Biela c/ Armad. Tracionada<br />

Perpendicular ao seu eixo 0,680 0,750 0,510 10,20 15,30 20,40 25,50<br />

Schlaich (1987) Biela c/ Armad. Tracionada<br />

Perpendicular ao seu eixo 0,680 0,750 0,510 10,20 15,30 20,40 25,50<br />

Schlaich (1987) Biela c/ Fissuras de grande<br />

abertura 0,340 0,750 0,255 5,10 7,65 10,20 12,75<br />

MacGregor (1997) Biela não Fissurada 0,777 0,750 0,583 11,66 17,48 23,31 29,14<br />

MacGregor (1997) Biela Fissurada c/ Armad.<br />

Perpendicular ao seu Eixo 0,622 0,750 0,467 9,33 14,00 18,66 23,33<br />

MacGregor (1997) Biela Fissurada s/ Armad.<br />

Perpendicular ao seu Eixo 0,505 0,750 0,379 7,58 11,36 15,15 18,94<br />

MacGregor (1997) Biela em Zona<br />

T i d<br />

0,466 0,750 0,350 6,99 10,49 13,98 17,48<br />

Cita-se que o projetista pode, como alternativa, limitar a tensão em cada<br />

membro do modelo. Para isso, ao invés de estabelecer as dimensões dos membros,<br />

há a possibilidade de apenas determinar a porcentagem a ser atingida da capacidade<br />

(resistência) última do membro, sendo que, no passo de análise automática da treliça<br />

pelo CAST (2000), ao invés de o programa verificar a tensão no membro, ele irá<br />

definir automaticamente suas propriedades geométricas a fim de configurar a<br />

intensidade de tensão definida pelo projetista.<br />

5 MODELAGEM DA VIGA VB E ANÁLISE DOS RESULTADOS<br />

A seguir estão expressas as propriedades geométricas e as demais<br />

características da viga. O carregamento unifomemente distribuído a que a viga está<br />

submetida foi distribuído pelos nós da treliça, excetuando-se os dois nós das<br />

extremidades. Foi considerado, para isso, o comprimento efetivo da viga, 3,60 m, e os<br />

carregamentos aplicados em cada nó do banzo superior foram determinados de<br />

acordo com suas áreas de influência. A carga distribuída aplicada sobre as áreas de<br />

influência dos nós extremos foi distribuída por toda a extensão restante da viga. Vale<br />

lembrar que a força aplicada na treliça já foi majorada, ou seja, já foi aplicada com seu<br />

valor de projeto.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

77<br />

A partir dos resultados, foram realizadas comparações entre os valores<br />

obtidos na modelagem e os obtidos nos dimensionamentos realizados manualmente<br />

segundo o MC CEB-FIP (1990)<br />

Aço: CA-50 ⇒ f y = 500 MPa<br />

Coeficiente de ponderação das ações:<br />

γ f = 1,4<br />

Coeficiente de ponderação da resistência do concreto, para as verificações<br />

segundo o MC CEB-FIP (1990):<br />

γ c = 1,4<br />

Coeficiente de ponderação da resistência do aço, para as verificações<br />

segundo o MC CEB-FIP (1990):<br />

γ s = 1,15<br />

Nas modelagens, foram atribuídos coeficientes de ponderação dos materiais<br />

ligeiramente diferentes dos utilizados nas verificações das normas. O CAST (2000)<br />

utiliza como padrão para todas as verificações e, portanto, para todos os coeficientes,<br />

os valores e recomendações do ACI, referentes à versão de janeiro de 2000. Sendo<br />

assim, o coeficiente de ponderação dos materiais é fator multiplicador de suas<br />

resistências.<br />

Nas modelagens optou-se por admitir as considerações e as verificações<br />

referentes ao ACI, exceto para os valores dos coeficientes de ponderação do concreto<br />

(φ c ) e do aço (φ s ) que assumiram, respectivamente:<br />

φ c ≈ γ -1 c ⇒ φ c = 0,75<br />

φ s ≈ γ -1 s ⇒ φ s = 0,85<br />

O modelo VB constitui-se de uma viga de concreto armado, biapoiada,<br />

submetida a um carregamento uniformemente distribuído em toda a sua extensão.<br />

Possui seção transversal retangular de 20 cm x 40 cm. A Figura 6 mostra o<br />

comprimento efetivo da viga VB, suas condições de apoio e o carregamento a que ela<br />

está submetida.<br />

Figura 6 - VB - carregamento e comprimento efetivo.<br />

Seção transversal: b w = 20 cm<br />

h = 40 cm<br />

Comprimento efetivo da viga: l efetivo,viga = 360 cm = 3,6 m<br />

Concreto: C25 ⇒ f ck = 25 MPa<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


78<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

Resultantes características nos apoios:<br />

R k = 22 [kN/m] . (3,6 / 2) [m] = 39,6 kN<br />

Momento flertor solicitante caracteístico e de cálculo:<br />

M k = p.l 2 / 8 = 22 . 3,6 2 / 8 M d = 1,4.M k = 49,90 kN.m<br />

Força cortante solicitante caracteístic e de cálculo:<br />

V k = 39,6 kN<br />

V d = 4,1.V k = 55,44 kN<br />

A seguir, são calculados os parâmetros k c e k s , a fim de se determinar a área<br />

de armadura longitudinal da viga, As, para resistir ao momento fletor.<br />

k c = b.d 2 /M d = 20 . 36 2 / 4990 = 5,19<br />

C25 ⇒ k s = 0,025<br />

k s = A s .d / M d ⇒ A s = k s .M d / d = 0,025 . 4990 / 36 = 3,47 cm 2<br />

Conhecidos os parâmetros geométricos da viga, podem ser determinados<br />

M d,lim , V d,u e V d,min :<br />

M d,lim = b.d 2 / k c,lim = 20 . 36 2 / 1,8 = 14400 kN.cm = 144,00 kN.m<br />

V d,u = 0,1.τ wu .b.d = 0,1 . 4,500 . 20 . 36 = 324,0 kN<br />

V d,min = 0,1.τ wmin .b.d = 0,1 . 1,182 . 20 . 36 = 85,1 kN<br />

V d,max = 55,5 kN < V d,u = 324,0 kN ⇒ condição ok!<br />

A verificação acima indica que a força cortante máxima atuante na viga é<br />

inferior à força cortante última a qual a viga é capaz de suportar.<br />

5.1 Verificações segundo o MC CEB-FIP (1990)<br />

A seguir é realizada a verificação das bielas segundo o MC CEB-FIP (1990):<br />

R Scw = (V d / senθ).[cotgθ / (cotgθ + cotgα)] (24)<br />

sendo:<br />

α = inclinação dos estribos = 90 o ⇒ cotgα = 0;<br />

θ = inclinação das bielas = 45 o ⇒ senθ = 2 1/2 / 2 ; cotgθ = 1;<br />

Quando V d = V d,max , temos:<br />

R Scw = (55,5 . 2 1/2 / 2).[1 / (1 + 0)]<br />

O cálculo da força solicitante de compressão atuante nas bielas da viga<br />

também visa estabelecer comparação, a fim de verificar a validade da modelagem. Os<br />

valores das forças nos elementos podem ser conferidos adiante, na Figura 11 e na<br />

Tabela 6. A Figura 12 apresenta os fatores de utilização dos elementos da treliça.<br />

R Scw = 78,5 kN<br />

R Scw,CAST = 78,4 kN (Figura 11; Tabela 6)<br />

A diferença entre as forças solicitantes de compressão nas bielas, tomando-se<br />

o valor obtido segundo verificação do MC CEB-FIP (1990) e o valor da biela mais<br />

solicitada da treliça, segundo modelagem no CAST (2000), é praticamente nula<br />

(0,1%).<br />

A seguir, realiza-se o cálculo da resistência das bielas segundo o MC CEB-<br />

FIP (1990):<br />

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Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

79<br />

R Rcw = f cd2 .b.z.cosθ (25)<br />

f cd2 = 0,60.(1 - f ck / 250).f cd = 0,60.(1 - 25 / 250).(2,5 / 1,4) =<br />

= 0,964 kN/cm 2<br />

k c = b.d 2 / M d = 5,19 ⇒ β x = 0,17<br />

β x = x / d ⇒ x = β x .d = 0,17 . 36 = 6,1 cm<br />

z = d - 0,4.x = 36 - 0,4 . 6,1 = 33,56 cm obs: z/d = 0,93<br />

R Rcw = 0,964 . 20 . 33,56 . 2 1/2 / 2<br />

R Scw = 78,5 < R Rcw = 457,5 kN ⇒ condição ok!<br />

A condição anterior indica que a capacidade resistente das bielas de concreto<br />

da viga é maior do que a solicitação a que elas estão submetidas.<br />

Conhecendo-se o braço do momento z, de acordo com o próprio momento<br />

máximo atuante, pode-se determinar a força solicitante de tração no banzo inferior da<br />

viga (R st ), relativa ao valor do momento aplicado, a fim de estabelecer comparação<br />

com o valor da força de tração determinada pela modelagem (R st,CAST ). É considerada<br />

a força de tração atuante nas barras mais solicitadas do banzo inferior da viga, que<br />

são as duas barras centrais.<br />

R st = M d / z + N d (26)<br />

N d = 0<br />

R st = 4990 / 33,56<br />

R st = 148,7 kN<br />

R st,CAST = 181,4 kN (Figura 11; Tabela 6)<br />

Portanto, o CAST (2000) está 18% a favor da segurança.<br />

5.2 Resultados da modelagem<br />

Neste primeiro modelo serão apresentadas inúmeras figuras e tabelas, a fim<br />

de representar de maneira completa todas as características da modelagem no CAST<br />

(2000) e de mostrar a grande variedade de respostas, gráficas ou numéricas, que o<br />

programa é capaz de fornecer. Ressalta-se que, para os modelos seguintes, serão<br />

apresentadas apenas as figuras e tabelas de maior relevância para análise. A Figura<br />

7 apresenta as propriedades da treliça, onde as bielas estão representadas por linhas<br />

azuis descontínuas e os tirantes por linhas alaranjadas contínuas. Os pontos<br />

vermelhos são os nós internos da viga, pertencentes à treliça, e os pontos cinzas são<br />

os nós situados nas faces a viga, nos quais são aplicados os carregamentos e<br />

definidos os apoios. As barras vermelhas descontínuas são os estabilisadores,<br />

elementos pertencentes à treliça definida pelo usuário que, para as determinadas<br />

condições de apoio e ações atuantes, não estão solicitados. Como, para as três<br />

primeiras modelagens, há simetria na viga, na treliça e no carregamento, será exibida<br />

apenas meia viga, quando se considerar conveniente.<br />

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80<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

Figura 7 - VB - a treliça e seus elementos.<br />

A Figura 8 exibe os carregamentos nos nós da viga, de acordo com as áreas<br />

de influência e dos critérios anteriormente discutidos.<br />

Figura 8 - VB - aplicação das forças aos nós.<br />

A Figura 9 exibe as propriedades atribuídas aos elementos e a Figura 10 aos<br />

nós, ambas as tarefas de responsabilidade do projetista.<br />

Figura 9 - VB - propriedades dos elementos.<br />

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Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

81<br />

Figura 10 - VB - propriedades dos nós.<br />

Definidas todas as características necessárias para se realizar as verificações<br />

convenientes, o próximo passo é analisar as solicitações que estão submetidos os<br />

elementos do modelos de bielas e tirantes. Apesar de o programa ser capaz de<br />

fornecer uma grande variedade de dados para análise, os principais são constituídos<br />

pelas porcentagens das capacidades resistentes de cada elemento e de cada nó, o<br />

que já é suficiente para se verificar a segurança do modelo. Caso as verificações de<br />

todos os elementos e nós apontem que em nenhum elemento a solicitação é maior<br />

que a capacidade resistente, pode-se garantir que, ao menos em relação ao modelo<br />

de bielas e tirantes adotado, está garantida a segurança estrutural da viga.<br />

Ressalta-se que, para que o modelo seja seguro, o projetista deve se<br />

assegurar de que todas as condições por ele determinadas sejam válidas. Há<br />

inúmeros fatores que podem gerar incompatibilidades entre o modelo e a viga real. Os<br />

principais são:<br />

1) Concepção incorreta do tipo de biela definida, ou do tipo de nó definido<br />

pelo projetista. Vale lembrar que bielas e nós assumem coeficientes de segurança<br />

dependentes de suas configurações na treliça. Portanto, determinções equivocadas<br />

ou duvidosas podem estar contra a segurança estrutural;<br />

2) Inadequada ancoragem das armaduras que atravessam os nós. Há<br />

configurações de nós que consideram tirantes os atravessando. Porém, para se<br />

garantir o esperado funcionamento e, consequentemente, a validade das capacidades<br />

resistentes, deve-se garantir que os tirantes estejam corretamente ancorados a essas<br />

regiões nodais;<br />

3) Insuficientes comprimentos de ancoragem necessários para armaduras. O<br />

comprimento de ancoragem é um fator muito importante que também deve ser<br />

considerado no modelo de bielas e tirantes. Portanto, devem ser consideradas todas<br />

as prescrições pertinentes a cada caso. No caso das barras da armadura longitudinal<br />

das vigas, deve-se considerar o comprimento de ancoragem básico além dos pontos<br />

de interrupção de cada barra determinado pelas forças nas barras das treliças;<br />

4) Determinação de dimensões - largura e espessura - incorretas para bielas e<br />

tirantes. As barras da treliça têm as áreas de suas seções transversais definidas pelos<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


82<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

comprimentos de suas larguras e pela espessura da estrutura. Considerando que a<br />

espessura é um fator que dificilmente gera dúvidas, pois pode-se considerar como<br />

espessura efetiva dos elementos a espessura total da estrutura, as dúvidas recaem<br />

nas determinações das larguras efetivas de bielas e tirantes. Deve-se verificar se as<br />

larguras adotadas não ultrapassam os limites da estrutura. Em seguida, é interessante<br />

dispor corretamente as barras das armaduras dos tirantes, em camadas quando<br />

necessário, a fim de garantir que os tirnates da treliça tenham espessuras suficientes<br />

para que não ocorra ruptura localizada na face de encontro entre o tirante e o nó ao<br />

qual ele está conectado;<br />

5) Definição de nós como contínuos ou singulares. Até hoje não existem<br />

critérios bem definidos para distinguir nós contínuos e nós concentrados. Tendo em<br />

vista que nós singulares, que são aqueles em que há espaço suficiente para que os<br />

desvios das forças neles atuantes sejam suaves, não são críticos e, portanto, não<br />

precisam ser verificados, é necessário muita cautela para se definir um nó como<br />

contínuo.<br />

Além desses aspectos principais, todas as demais verificações necessárias às<br />

vigas devem ser realizadas, como as verificações para Estados Limites de Serviço.<br />

Cita-se que, caso a treliça adotada não seja estaticamente determinada ou caso não<br />

haja correta disposição de suas barras, o CAST (2000) indicará que há algum<br />

problema e não fornecerá ao projetista nenhuma resposta.<br />

A seguir apresentam-se as respostas obtidas na modelagem da viga VB.<br />

Essas respostas são apresentadas em porcentagens de solicitação dos elementos, ou<br />

seja, em foma da relação solicitação dividida pela resistência. Valores iguais ou<br />

superiores à unidade indicam que a capacidade última resistente do elemento foi<br />

atingida.<br />

A Figura 11 apresenta as forças solicitantes aplicadas em cada membro da<br />

treliça. Valores positivos indicam tração e negativos indicam compressão.<br />

Figura 11 - VB - forças nos membros da treliça.<br />

A Figura 12 apresenta a envoltória resistência a que está submetida a viga.<br />

Os valores entre parênteses representam a razão entre a solicitação no elemento e a<br />

resistência do mesmo, também chamada de fator de utilização. Valores baixos<br />

tendem às cores frias (azul) e valores altos tendem às quentes (vermelho).<br />

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Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

83<br />

Figura 12 - VB - fatores de utilização dos elementos.<br />

A Tabela 4 apresenta os fatores de utilização de todos os elementos da treliça<br />

e a Tabela 5 de todos os nós.<br />

Tabela 4 - VB - fatores de utilização dos elementos da treliça.<br />

Row # Element ID Force (kN) Stress (MPa) Stress Ratio f'c Ratio<br />

1 E1 0,0 NA NA NA<br />

2 E2 45,4 319,44 0,75 NA<br />

3 E3 35,3 248,45 0,59 NA<br />

4 E4 25,2 177,46 0,42 NA<br />

5 E5 15,1 106,48 0,25 NA<br />

6 E6 5,0 35,49 0,08 NA<br />

7 E7 0,0 NA NA NA<br />

8 E8 5,0 35,49 0,08 NA<br />

9 E9 15,1 106,48 0,25 NA<br />

10 E10 25,2 177,46 0,42 NA<br />

11 E11 35,3 248,45 0,59 NA<br />

12 E12 45,4 319,44 0,75 NA<br />

13 E13 0,0 NA NA NA<br />

14 E14 0,0 NA NA NA<br />

15 E15 -55,4 2,77 0,17 0,11<br />

16 E16 -100,8 5,04 0,32 0,20<br />

17 E17 -136,1 6,80 0,43 0,27<br />

18 E18 -161,3 8,06 0,51 0,32<br />

19 E19 -176,4 8,82 0,55 0,35<br />

20 E20 -176,4 8,82 0,55 0,35<br />

21 E21 -161,3 8,06 0,51 0,32<br />

22 E22 -136,1 6,80 0,43 0,27<br />

23 E23 -100,8 5,04 0,32 0,20<br />

24 E24 -55,4 2,77 0,17 0,11<br />

25 E25 0,0 NA NA NA<br />

26 E26 55,4 214,88 0,51 NA<br />

27 E27 100,8 390,70 0,92 NA<br />

28 E28 136,1 263,72 0,62 NA<br />

29 E29 161,3 312,56 0,74 NA<br />

30 E30 176,4 341,86 0,80 NA<br />

31 E31 181,4 351,63 0,83 NA<br />

32 E32 181,4 351,63 0,83 NA<br />

33 E33 176,4 341,86 0,80 NA<br />

34 E34 161,3 312,56 0,74 NA<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


84<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

Continuação<br />

35 E35 136,1 263,72 0,62 NA<br />

36 E36 100,8 390,70 0,92 NA<br />

37 E37 55,4 214,88 0,51 NA<br />

38 E38 -55,4 2,77 0,17 0,11<br />

39 E39 0,0 NA NA NA<br />

40 E40 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

41 E41 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

42 E42 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

43 E43 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

44 E44 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

45 E45 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

46 E46 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

47 E47 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

48 E48 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

49 E49 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

50 E50 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

51 E51 0,0 NA NA NA<br />

52 E52 -55,4 2,77 0,17 0,11<br />

53 E53 -78,4 3,92 0,25 0,16<br />

54 E54 -64,1 3,21 0,20 0,13<br />

55 E55 -49,9 2,49 0,16 0,10<br />

56 E56 -35,6 1,78 0,11 0,07<br />

57 E57 -21,4 1,07 0,07 0,04<br />

58 E58 -7,1 0,36 0,02 0,01<br />

59 E59 -7,1 0,36 0,02 0,01<br />

60 E60 -21,4 1,07 0,07 0,04<br />

61 E61 -35,6 1,78 0,11 0,07<br />

62 E62 -49,9 2,49 0,16 0,10<br />

63 E63 -64,1 3,21 0,20 0,13<br />

64 E64 -78,4 3,92 0,25 0,16<br />

Tabela 5 - VB - fatores de utilização dos nós da treliça.<br />

Row # Element ID Force (kN) Stress (MPa) Stress Ratio f'c Ratio<br />

1 E1 0,0 NA NA NA<br />

2 E2 45,4 319,44 0,75 NA<br />

3 E3 35,3 248,45 0,59 NA<br />

4 E4 25,2 177,46 0,42 NA<br />

5 E5 15,1 106,48 0,25 NA<br />

6 E6 5,0 35,49 0,08 NA<br />

7 E7 0,0 NA NA NA<br />

8 E8 5,0 35,49 0,08 NA<br />

9 E9 15,1 106,48 0,25 NA<br />

10 E10 25,2 177,46 0,42 NA<br />

11 E11 35,3 248,45 0,59 NA<br />

12 E12 45,4 319,44 0,75 NA<br />

13 E13 0,0 NA NA NA<br />

14 E14 0,0 NA NA NA<br />

15 E15 -55,4 2,77 0,17 0,11<br />

16 E16 -100,8 5,04 0,32 0,20<br />

17 E17 -136,1 6,80 0,43 0,27<br />

18 E18 -161,3 8,06 0,51 0,32<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

85<br />

Continuação<br />

19 E19 -176,4 8,82 0,55 0,35<br />

20 E20 -176,4 8,82 0,55 0,35<br />

21 E21 -161,3 8,06 0,51 0,32<br />

22 E22 -136,1 6,80 0,43 0,27<br />

23 E23 -100,8 5,04 0,32 0,20<br />

24 E24 -55,4 2,77 0,17 0,11<br />

25 E25 0,0 NA NA NA<br />

26 E26 55,4 214,88 0,51 NA<br />

27 E27 100,8 390,70 0,92 NA<br />

28 E28 136,1 263,72 0,62 NA<br />

29 E29 161,3 312,56 0,74 NA<br />

30 E30 176,4 341,86 0,80 NA<br />

31 E31 181,4 351,63 0,83 NA<br />

32 E32 181,4 351,63 0,83 NA<br />

33 E33 176,4 341,86 0,80 NA<br />

34 E34 161,3 312,56 0,74 NA<br />

35 E35 136,1 263,72 0,62 NA<br />

36 E36 100,8 390,70 0,92 NA<br />

37 E37 55,4 214,88 0,51 NA<br />

38 E38 -55,4 2,77 0,17 0,11<br />

39 E39 0,0 NA NA NA<br />

40 E40 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

41 E41 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

42 E42 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

43 E43 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

44 E44 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

45 E45 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

46 E46 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

47 E47 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

48 E48 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

49 E49 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

50 E50 -10,1 2,52 0,16 0,10<br />

51 E51 0,0 NA NA NA<br />

52 E52 -55,4 2,77 0,17 0,11<br />

53 E53 -78,4 3,92 0,25 0,16<br />

54 E54 -64,1 3,21 0,20 0,13<br />

55 E55 -49,9 2,49 0,16 0,10<br />

56 E56 -35,6 1,78 0,11 0,07<br />

57 E57 -21,4 1,07 0,07 0,04<br />

58 E58 -7,1 0,36 0,02 0,01<br />

59 E59 -7,1 0,36 0,02 0,01<br />

60 E60 -21,4 1,07 0,07 0,04<br />

61 E61 -35,6 1,78 0,11 0,07<br />

62 E62 -49,9 2,49 0,16 0,10<br />

63 E63 -64,1 3,21 0,20 0,13<br />

64 E64 -78,4 3,92 0,25 0,16<br />

A Tabela 6 apresenta as armaduras necessárias para a viga calculadas<br />

segundo as forças atuantes em cada tirante, determindas pelo CAST (2000).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


86<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

Tabela 6 - VB - armaduras necessárias para a viga determinadas pelo CAST (2000).<br />

Arm. longitudinal<br />

F st (kN) f yd (kN/cm 2 ) A s,nec (cm 2 ) 1,1 A s,nec (cm 2 ) A s,ef # A s,ef (cm 2 ) Stress ratio<br />

181,40 43,5 4,17 4,59 4 φ 13 1 5,16 0,81<br />

176,40 43,5 4,06 4,46 4 φ 13 1 5,16 0,79<br />

161,30 43,5 3,71 4,08 4 φ 13 1 5,16 0,72<br />

136,10 43,5 3,13 3,44 4 φ 13 1 5,16 0,61<br />

100,80 43,5 2,32 2,55 2 φ 13 2 2,58 0,90<br />

55,40 43,5 1,27 1,40 2 φ 13 2 2,58 0,49<br />

Arm. transversal<br />

F sw (kN) f yd (kN/cm 2 ) A sw,nec (cm 2 ) 1,1 A s,nec (cm 2 ) A s,ef # A s,ef (cm 2 ) Stress ratio<br />

45,40 43,5 1,04 1,15 2 φ 10 1 1,42 0,73<br />

35,30 43,5 0,81 0,89 2 φ 10 1 1,42 0,57<br />

25,20 43,5 0,58 0,64 2 φ 10 1 1,42 0,41<br />

15,10 43,5 0,35 0,38 2 φ 10 1 1,42 0,24<br />

5,00 43,5 0,11 0,13 2 φ 10 1 1,42 0,08<br />

A Figura 13 mostra a disposição das armaduras dos tirantes da treliça<br />

calculadas pelo CAST (2000). Vale lembrar que o programa não considera os<br />

comprimentos de ancoragem.<br />

Figura 13 - VB - disposição das armaduras dos tirantes da treliça.<br />

Por fim é apresentado o resumo da viga, conforme a Figura 14, onde constam<br />

os dados de geometria, carregamento e reações com valores característicos,<br />

diagramas de força cortante e momento fletor, ambos de cálculo, cobrimento do<br />

diagrama pelas barras da armadura longitudinal, já acrescidas dos comprimentos de<br />

ancoragem necessários, treliça do modelo de bielas e tirantes e disposição das barras<br />

da armadura longitudinal, também já acrescidas dos respectivos comprimentos de<br />

ancoragem. A representação das barras da armadura longitudinal determinadas<br />

segundo o modelo de bielas e tirantes aparece como boa alternativa em relação ao<br />

método tradicional, pois não há a necessidade do cobrimento do diagrama de<br />

momentos fletores.<br />

Cita-se que, também nas determinações das armaduras pelo método<br />

tradicional, foram utilizadas as bitolas e as respectivas áreas das seções transversais<br />

das barras relativas ao ACI 318 (1995) pois, como para as armaduras do modelo no<br />

CAST (2000) foram utilizadas tais características, visou-se padronizar e facilitar as<br />

comparações.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

87<br />

22,0 kN/m<br />

3,60 m<br />

Rk (kN)<br />

55,4 kN<br />

55,4<br />

55,4 kN<br />

Vd (kN)<br />

-55,4<br />

Md (kN.m)<br />

49,9<br />

2 Ø 13 (352)<br />

15<br />

2 Ø 13 (400)<br />

15<br />

5 360<br />

5<br />

CORTE A-A<br />

A<br />

l b<br />

A 2 Ø 13 (286)<br />

15 2 Ø 13 (400)<br />

15<br />

5 360 5<br />

Figura 14 - VB1 – resumo.<br />

l b<br />

6 CONCLUSÃO<br />

O modelo de bielas e tirantes proporciona ao projetista ótima representação<br />

da estrutura e de seu comportamento. Além disso, pode ser aplicado não somente<br />

nas regiões contínuas de uma estrutura, mas também em suas regiões descontínuas,<br />

onde não são válidas as hipóteses de Bernoulli.<br />

Apesar de suas significativas vantagens, o modelo apresenta um grande<br />

inconveniente: sua aplicação. A falta de consenso a respeito dos valores limites para<br />

as intensidades das tensões das inúmeras configurações de nós, bem como da<br />

própria geometria dos mesmos; das corretas configurações geométricas das bielas e<br />

suas respectivas resistências, dependentes da geometria da região D e do<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


88<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

caminhamento das ações são fatores que dificultam sua aplicabilidade e difusão.<br />

Também por esses motivos, várias normas e códigos tratam desses assuntos de<br />

maneira superficial ou até mesmo nem tratam.<br />

O modelo de bielas e tirantes já é, para muitas estruturas – ou parte delas –,<br />

em geral as mais complexas, a única alternativa de determinação e verificação<br />

estrutural, mas dificilmente é empregado em estruturas comuns, como em vigas<br />

usuais. Em vista disso tudo, a utilização do CAST (2000) aparece como alternativa<br />

muito interessante na verificação e no dimensionamento de vigas de concreto armado<br />

usuais. Sua interface agradável e sua fácil e rápida utilização configuram excelente<br />

auxílio a projetistas que fazem uso de computador, ao passo que o programa é de<br />

domínio público na rede mundial de computadores. Ao utilizar o CAST (2000), o<br />

projetista pode desfrutar da maior vantagem do modelo de bielas e tirantes, que é a<br />

ótima visualização do comportamento da estrutura. Além disso, como característica<br />

inerente ao modelo, o projetista tem o poder de determinar, de certa forma, o<br />

comportamento estrutural e, assim, definir a geometria da treliça de acordo com o<br />

comportamento desejado.<br />

Outra grande vantagem da modelagem de estruturas utilizando bielas e<br />

tirantes é a possibilidade de múltipas soluções. Sabe-se que a qualidade e a<br />

experiência do projetista são fundamentais na modelagem, pois há a necessidade de<br />

se prever o comportamento estrutural a fim de se construir o modelo mais adequado,<br />

ou seja, o que possibilitará o melhor comportamento. No caso das vigas, essa tarefa é<br />

simples. Como seu comportamento é bem conhecido, não há grande variedade de<br />

possíveis soluções e, consequentemente, isso minimiza a chance de erro por parte do<br />

projetista, outro fator estimulante para a utilização do CAST (2000). Porém, sem<br />

dúvida alguma, a maior vantagem apresentada pelo programa é sua capacidade de<br />

verificar automaticamente as regiões nodais. Tendo em vista que a verificação de nós<br />

é a tarefa mais complicada quando da aplicação de um modelo de bielas e tirantes,<br />

certamente o CAST (2000) mostra-se como um enorme auxílio aos projetos<br />

estruturais por modelos de bielas e tirantes.<br />

É necessário ressaltar a importância de se distribuir adequadamente as barras<br />

das armaduras dos tirantes em camadas quando possível, a fim de se garantir as<br />

larguras efetivas dos mesmos, visando diminuir as tensões nas faces dos nós aos<br />

quais cada tirante está conectado. Como são realizadas verificações para cada face<br />

do nó, é interessante que as áreas de cada um dos elementos conectados a cada nó<br />

sejam suficientes para resistir a tensão ali existente. Portanto, como as áreas efetivas<br />

dos tirantes são determinadas pela espessura da estrutura, que é um valor fixo, e<br />

pelas larguras efetivas dos respectivos tirantes, visa-se distribuir as barras da<br />

armadura de forma que se obtenha a maior espessura efetiva para cada elemento.<br />

Quanto aos valores da força cortante, pôde-se comprovar a validade das<br />

expressões para o dimensionamento do MC CEB-FIP (1990), pois elas aparentam<br />

representar perfeitamente o esquema resistente das diagonais.<br />

Com a configuração que se optou para transformar o carregamento distribuído<br />

em cargas nodais, com a desconsideração dos dois nós extremos, foi possível<br />

comprovar a idéia de que, para vigas com essa configuração, muito usual nas<br />

estruturas, as regiões superiores das extremidades praticamente não têm função<br />

estrutural, confirmando o conceito de que o banzo superior, paralelo ao inferior na<br />

região central da viga, tende a se inclinar até se encontrar com o banzo inferior na<br />

região do apoio.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos de bielas e tirantes<br />

89<br />

Por fim, cita-se que as normas para dimensionamento de estruturas de<br />

concreto armado estabelecem critérios para se prover a estrutura de uma taxa de<br />

armadura mínima. Esse fator, em alguns casos, pode comprometer o comportamento<br />

do modelo de bielas e tirantes adotado. Como a idealização da treliça depende da<br />

disposição, prevista ou desejada (proposital), dos elementos que ela compõem, em<br />

casos em que, segundo o modelo, deveria haver tirantes com taxas de armadura<br />

inferiores às mínimas, a necessidade de se dispor a quantidade mínima de armadura<br />

pode alterar o comportamento inicialmente esperado pelo engenheiro.<br />

7 AGRADECIMENTOS<br />

Agradecemos à CAPES pelo apoio financeiro, sem o qual esta pesquisa não<br />

poderia ter sido realizada.<br />

8 REFERÊNCIAS<br />

AMERICAN CONCRETE INSTITUTE (1995). ACI 318/95 - Building code<br />

requeriments for structural concrete. Detroit, Michigan.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2004). NBR 6118:2003 –<br />

Projeto de estruturas de concreto – procedimento. Rio de Janeiro.<br />

COMITÉ EURO-INTERNATIONAL DU BÉTON (1990). CEB-FIP model code 1990:<br />

first draft, Addendum, Bulletim D’Information, n.198, Sep.<br />

MARTI, P.(1985). Basic Tools of Reinforced Concrete Beam Design. ACI Journal.<br />

Proceedings. v. 82, n. 1. Jan./Feb. p. 45-56.<br />

RONCATTO, C.; CAMPOS FILHO, A. (2005). Aplicação do método das bielas e<br />

tirantes ao projeto automático de furos na alma de vigas de concreto armado. In:<br />

CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO, 47, Recife, 2005. Anais...<br />

SANTOS, D. (2006) Análise das vigas de concreto armado utilizando modelos de<br />

bielas e tirantes. São Carlos. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São<br />

Carlos – Universidade de São Paulo.<br />

SCHAFER, K.; SCHLAICH, J. (1988). Consistent design of structural concrete using<br />

strut and tie models. In: COLÓQUIO SOBRE COMPORTAMENTO E PROJETO DE<br />

ESTRUTURAS, 5., Rio de Janeiro, 1988. Anais... PUC/RJ.<br />

SCHLAICH, J.; SCHAFER, K. (1991). Design and detailing of structural concrete using<br />

strut and tie models. The Structural Engineer, v.69, n.6, Mar.<br />

SILVA, R. C.; GIONGO, J. S. (2000). Modelos de bielas e tirantes aplicados a<br />

estruturas de concreto armado. São Carlos: EESC-<strong>USP</strong>.<br />

SOUZA, R. A. (2004). Concreto estrutural: análise e dimensionamento de<br />

elementos com descontinuidades. São Paulo. 379 p. Tese (Doutorado). Escola<br />

Politécnica – Universidade de São Paulo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


90<br />

Daniel dos Santos & José Samuel Giongo<br />

TJHIN, T. N.; KUCHMA, D. A. (2002). Computer-based tools by design by strut-and-tie<br />

method: advances and challenges. ACI Structural Journal, v.99, n.5, p.586-594,<br />

2002.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 61-90, 2008


ISSN 1809-5860<br />

CONTRIBUIÇÃO PARA O PROJETO E<br />

DIMENSIONAMENTO DE EDIFÍCIOS DE<br />

MÚLTIPLOS ANDARES COM ELEMENTOS<br />

ESTRUTURAIS MISTOS AÇO - CONCRETO<br />

Marcela de Arruda Fabrizzi 1 & Roberto Martins Gonçalves 2<br />

Resumo<br />

Este trabalho objetivou o estudo dos edifícios de múltiplos andares constituídos por<br />

elementos mistos aço-concreto, com enfoque acadêmico, porém abordando aspectos e<br />

recomendações normativas diretamente aplicadas na prática corrente da engenharia<br />

estrutural. A revisão bibliográfica foi realizada com base em estudos acadêmicos e<br />

normativos além do estudo de um edifício exemplo constituído por elementos mistos. Os<br />

elementos mistos lajes, vigas e pilares foram abordados inicialmente de forma isolada,<br />

com base nas recomendações normativas, sendo que ao final os conceitos foram<br />

interligados, apresentando ao leitor os principais aspectos teóricos e normativos para o<br />

dimensionamento de um edifício <strong>completo</strong> constituído de elementos estruturais mistos.<br />

Palavras-chave: estruturas mistas aço-concreto; estruturas de aço; elementos mistos<br />

aço-concreto; lajes mistas aço-concreto; vigas mistas aço-concreto; pilares mistos açoconcreto;<br />

edifícios.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Os materiais aço e concreto são a combinação mais utilizada, atualmente,<br />

para compor as estruturas de edificações. Eles podem ser utilizados em uma estrutura<br />

com elementos compostos por um dos materiais e também formando elementos<br />

mistos, trabalhando em conjunto.<br />

As características dos dois materiais são diferentes e complementares. O<br />

concreto alia resistência à compressão, elevada rigidez e proteção contra corrosão e<br />

incêndio. O aço, como características complementares, apresenta elevada resistência<br />

à tração e esbeltez dos elementos. Além disso, ambos os materiais apresentam<br />

coeficientes de dilatação térmicos próximos, não ocasionando deformações térmicas<br />

diferenciais.<br />

Os dois materiais já são utilizados em um mesmo edifício em larga escala,<br />

porém, muitas vezes, não se utiliza seu trabalho conjunto. Até poucos anos, nos<br />

pilares mistos revestidos, o concreto era considerado apenas como elemento de<br />

1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, marcela@laser.com.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, goncalve@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


92<br />

Marcela de Arruda Fabrizzi & Roberto Martins Gonçalves<br />

proteção contra incêndio e em pilares tubulares preenchidos de concreto, o aço era<br />

considerado apenas uma fôrma permanente para o pilar de concreto.<br />

No caso de pavimentos mistos, a laje de concreto ou mista aço-concreto é um<br />

elemento quase sempre presente, porém, a sua resistência à flexão no plano da viga<br />

era desprezada. Com a introdução dos conectores, que são elementos de custo<br />

relativamente baixo, pode-se considerar os elementos trabalhando em conjunto com<br />

grande eficiência.<br />

Logicamente que os materiais e as combinações de materiais têm suas<br />

diferentes aplicações dentro da Engenharia e o melhor sistema estrutural depende de<br />

vários fatores, como:<br />

• Utilização da edificação;<br />

• Projeto arquitetônico;<br />

• Carregamentos;<br />

• Vãos a serem vencidos;<br />

• Método construtivo;<br />

• Mão de obra e tecnologia disponíveis;<br />

• Prazo de execução da obra;<br />

• Custo das fundações;<br />

• Custo final da obra;<br />

• Retorno do capital investido.<br />

O objetivo deste trabalho é apresentar os procedimentos de dimensionamento<br />

dos elementos mistos que compõem um edifício. Estes procedimentos serão<br />

baseados nas principais normas nacionais e internacionais, além de uma revisão<br />

bibliográfica sobre o assunto.<br />

Pretende-se abranger aspectos relativos ao projeto dos elementos mistos açoconcreto<br />

apresentando uma análise crítica com ênfase nos aspectos didáticos e<br />

normativos. Destina-se a estudantes do assunto e também a engenheiros projetistas<br />

de estruturas.<br />

Este trabalho também é oportuno em função da Norma Brasileira NBR 8800<br />

“Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios”<br />

(rev. Abril 2006) estar em fase de revisão, ressaltando-se que irá apresentar os<br />

aspectos normativos para os elementos mistos.<br />

2 VIGAS MISTAS<br />

As vigas mistas são elementos compostos por perfis de aço (geralmente tipo<br />

“I”) e laje de concreto ou tipo “steel-deck” interligados por conectores. Estes três<br />

elementos passam, então, a trabalhar em conjunto.<br />

Os principais tipos de vigas mistas são os seguintes:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


Dimensionamento de edifícios de múltiplos andares com elementos estruturais mistos...<br />

93<br />

b.1) Nervuras paralelas à viga<br />

b.2) Nervuras perpendiculares à viga<br />

a) Laje maciça com face<br />

inferior plana<br />

b) Laje com fôrma de aço<br />

incorporada<br />

c) Perfil "I" com mesas<br />

diferentes<br />

d) Perfil de aço totalmente envolvido<br />

por concreto<br />

e) Perfil de aço parcialmente<br />

envolvido por concreto<br />

Figura 1 - Principais tipos de vigas mistas.<br />

A viga mista é uma combinação de dois elementos já presentes na maioria<br />

dos edifícios de aço: o perfil de aço e a laje de concreto ou “steel-deck”. O elemento<br />

adicional, o conector, não representa custo elevado no contexto geral da estrutura.<br />

A combinação dos dois elementos pode ser feita de inúmeras maneiras,<br />

sendo as apresentadas na figura 1 as mais usuais. Porém, desde que seja garantida a<br />

transmissão parcial ou total dos esforços cisalhantes longitudinais, seja por utilização<br />

de conectores, seja por embutimento do perfil, a viga pode ser considerada mista.<br />

Existem hoje no mercado inúmeros tipos de lajes e é constante o surgimento<br />

de outros, porém de uma maneira geral é possível garantir a interação entre os dois<br />

elementos. Os principais tipos de laje utilizados para compor vigas mistas são:<br />

• Lajes de concreto maciças onde os conectores são soldados à mesa<br />

superior do perfil e incorporados à laje (figura 1.a);<br />

• Lajes mistas (“steel-deck”) moldadas ‘in-loco’ com fôrma de aço<br />

incorporada (figura 1.b) onde o conector é soldado através da fôrma de<br />

aço à mesa do perfil;<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


94<br />

Marcela de Arruda Fabrizzi & Roberto Martins Gonçalves<br />

• Laje pré-fabricada: laje contendo elementos pré-fabricados e moldados<br />

‘in-loco’. Neste caso, as vigotas são espaçadas da largura das lajotas<br />

cerâmicas de enchimento, apóiam-se na mesa superior das vigas<br />

metálicas e os conectores são soldados a esta mesa nos intervalos<br />

entre as vigotas (figura 2).<br />

No Brasil, a utilização de vigotas pré-fabricadas para lajes é bastante comum;<br />

portanto é importante salientar ser possível utilizarmos conjuntamente uma viga<br />

metálica com um piso em lajes tipo vigotas, de forma a compor uma viga mista.<br />

A figura 2 mostra, de maneira esquemática, um pavimento composto de laje<br />

pré-moldada e vigas mistas. A largura efetiva da mesa de concreto é definida pela<br />

faixa maciça de concreto ao longo do perfil de aço.<br />

Largura efetiva<br />

Região maciça de concreto<br />

Vigota pré-fabricada<br />

Lajota cerâmica<br />

Perfil de aço<br />

Conectores de cisalhamento<br />

Figura 2 - Esquema de um pavimento misto formado por laje de vigota pré-moldada.<br />

A figura 3 apresenta um edifício projetado por esta autora com subsolo para<br />

estacionamento e limitação de altura deste nível. Foram utilizadas lajes com vigotas<br />

treliçadas, conectores tipo perfil U e perfil I laminado.<br />

É importante observar que, neste caso, a concepção de viga mista foi<br />

adaptada para a situação da obra. Além da utilização deste tipo de laje, o tipo de<br />

conector utilizado foi o de mais fácil obtenção na cidade de Botucatu, no interior do<br />

estado de São Paulo. Mesmo dentro do contexto de uma obra de pequeno porte, a<br />

utilização da viga mista foi vantajosa e viável. Os fatores que contribuíram para a<br />

escolha deste tipo de viga foram: limitação de pé-direito devido à declividade do<br />

terreno e necessidade de vãos de 8m no pavimento inferior para abrigar vagas de<br />

estacionamento.<br />

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Dimensionamento de edifícios de múltiplos andares com elementos estruturais mistos...<br />

95<br />

Figura 3 - Perfis de aço e conectores para compor viga mista com laje pré-fabricada.<br />

A interação entre o aço e o concreto pode ser analisada através da figura 4.<br />

Em vigas de aço isoladas (figura 4.a) o escorregamento na interface aço-concreto é<br />

permitido e formam-se duas linhas neutras. A resistência da laje no plano de flexão da<br />

viga não é considerada.<br />

No caso de interação parcial, ocorre a formação de duas linhas neutras,<br />

porém com escorregamento relativo inferior ao da viga isolada (figura 4.b). E, por fim,<br />

no caso de interação total considera-se que o deslocamento relativo na interface<br />

possa ser desprezado e assim ocorre a formação de apenas uma linha neutra (figura<br />

4.c).<br />

Escorregamento<br />

Escorregamento<br />

LN da laje<br />

LN da laje<br />

LN do perfil<br />

LN da seção<br />

mista<br />

LN do perfil<br />

a) Perfil isolado<br />

b) Interação parcial<br />

c) Interação total<br />

Figura 4 - Distribuição de tensões: perfil isolado, interação total e interação parcial.<br />

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96<br />

Marcela de Arruda Fabrizzi & Roberto Martins Gonçalves<br />

Existem 2 classificações distintas de interação nas vigas mistas relativas à:<br />

• Resistência;<br />

• Rigidez.<br />

A primeira é aquela em que a resistência da viga é determinada pela<br />

resistência ao momento fletor e não pelo cisalhamento da conexão, ou seja, em caso<br />

de colapso, haverá rompimento do aço ou do concreto, não dos conectores.<br />

Em relação à rigidez, uma conexão é dita flexível quando utiliza conectores<br />

flexíveis, por exemplo, tipo pino com cabeça, sendo permitido, desta maneira, a<br />

deformação do conector.<br />

O uso de vigas mistas acrescenta resistência e rigidez à seção em relação ao<br />

mesmo perfil isolado. Como resultado, temos economia de material e diminuição da<br />

altura da estrutura.<br />

Para dimensionamento das vigas mistas, é feita uma analogia com uma viga<br />

“T” em concreto armado. Porém, é necessário considerar as diferenças entre os dois<br />

materiais (aço e concreto) em relação à resistência e deformabilidade.<br />

Além disso, não existe uma interação ou aderência natural entre os dois<br />

materiais; portanto, para que o escorregamento na interface seja impedido ou<br />

minimizado é necessária a utilização de conectores de cisalhamento. Este dispositivo<br />

resiste aos esforços cisalhantes longitudinais à viga, permitindo que os dois materiais<br />

trabalhem em conjunto.<br />

2.1 Vigas mistas bi-apoiadas<br />

Em vigas mistas biapoiadas, os materiais aço e concreto são solicitados da<br />

maneira mais adequada. Como o carregamento usual em edifícios é gravitacional, os<br />

momentos fletores gerados aplicam compressão na fibra superior e tração na fibra<br />

inferior.<br />

Quando a linha neutra (L.N.) se situa na mesa de concreto, apenas a sua<br />

parcela comprimida é considerada e o perfil de aço encontra-se totalmente tracionado.<br />

Quando a linha neutra está na mesa superior do perfil, esta, apesar de parcialmente<br />

comprimida, está travada lateralmente pelo concreto e por este motivo os efeitos da<br />

flambagem local são minimizados. O restante do perfil encontra-se tracionado.<br />

Quando a L.N. se localiza na alma do perfil, este deve ser verificado à<br />

flambagem local ou lateral por distorção como em vigas de aço isoladas.<br />

Sendo os dois primeiros casos de posicionamento da L.N. os mais comuns, as<br />

vigas mistas biapoiadas aproveitam as características mais adequadas de cada<br />

material. Esta configuração de apoio, apesar de não ser possível rotular totalmente<br />

uma viga a um pilar, ou seja, sempre irá ocorrer momento de engastamento nesta<br />

ligação, é bastante comum de ser assumida. Isto se deve ao fato que requer maior<br />

resistência que a consideração de ligação semi-flexível e pela simplicidade de<br />

dimensionamento e execução da ligação. Apesar destas vantagens, como não<br />

transmite momentos fletores, não resiste a ações horizontais.<br />

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Dimensionamento de edifícios de múltiplos andares com elementos estruturais mistos...<br />

97<br />

2.2 Vigas mistas contínuas<br />

Nas regiões de momento negativo que ocorre nas vigas mistas contínuas<br />

aparece uma situação oposta das vigas biapoiadas:<br />

• Mesa de concreto tracionada;<br />

• Perfil de aço comprimido.<br />

A resistência do concreto à tração é desprezada e considera-se apenas a<br />

armadura devidamente ancorada. Já o perfil de aço, como está comprimido, irá sofrer<br />

os efeitos da instabilidade. Além disso, a laje de concreto irá fissurar, podendo até<br />

apresentar um estado limite de utilização.<br />

A figura 5 apresenta simplificadamente a diferença de comportamento entre<br />

regiões de momento positivo e negativo.<br />

Este tipo de viga tem algumas vantagens em relação às vigas bi-apoiadas:<br />

• Sob mesmo carregamento e mesma distância entre os apoios, são<br />

obtidos momentos fletores positivos menores;<br />

• Como ocorre a transferência de momento fletor para os pilares, a viga<br />

forma um pórtico juntamente com o pilar, resistindo a carregamentos<br />

horizontais.<br />

• Muitas vezes, vigas simplesmente apoiadas são tidas como contínuas<br />

nos apoios intermediários sem a necessidade de ligações especiais<br />

entre os dois elementos;<br />

Outra situação comum em vigas mistas contínuas é a presença de esforços<br />

cortantes e momentos fletores atuando simultaneamente nos apoios intermediários<br />

podendo levar à necessidade de verificação de interação entre os dois esforços.<br />

A<br />

Concreto<br />

Fissurado<br />

B<br />

Momento<br />

Negativo<br />

Armadura<br />

Tracionada<br />

A<br />

Momento<br />

Positivo<br />

A<br />

B<br />

Vista Longitudinal<br />

Momento<br />

Positivo<br />

A<br />

Modelo<br />

Deformação<br />

Modelo<br />

Tensão<br />

Modelo<br />

Deformação<br />

Modelo<br />

Tensão<br />

Seção A-A<br />

Seção B-B<br />

Figura 5 - Comparação do comportamento de vigas mistas contínuas em regiões de momentos<br />

positivo e negativo.<br />

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98<br />

Marcela de Arruda Fabrizzi & Roberto Martins Gonçalves<br />

A utilização de vigas mistas bi-apoiadas ou contínuas irá depender da<br />

geometria do edifício, método de execução, sistema estrutural adotado,<br />

disponibilidade de materiais e serviços.<br />

2.3 Efeitos do escoramento<br />

Outro aspecto importante no dimensionamento de estruturas mistas é a<br />

verificação da condição durante a construção, pois o concreto necessita de um<br />

período, normalmente 28 dias, para atingir a sua resistência de projeto, e as<br />

solicitações impostas durante esta fase podem ser diferentes da situação definitiva.<br />

Muitas vezes, a dimensão necessária do perfil de uma viga mista pode ser<br />

determinada pela sua capacidade de resistir isoladamente às solicitações durante a<br />

construção, inclusive o peso do concreto anteriormente à sua cura.<br />

No caso de construção escorada (figura 6), os elementos somente serão<br />

solicitados em conjunto; desta forma os pesos próprios, as ações permanentes e<br />

acidentais serão resistidas pela seção mista. As deflexões também serão as da seção<br />

mista; portanto, menores que da seção isolada. Não há necessidade de verificação na<br />

situação de construção, uma vez que, nesta fase, a seção não estará sendo<br />

solicitada.<br />

Seção<br />

Resistente<br />

Vista Longitudinal<br />

Distribuição de Tensões<br />

Modelo Elástico<br />

Estágio de Construção<br />

+<br />

=<br />

Escoramento Removido<br />

(Somente peso próprio aplicado)<br />

+<br />

Carregamento Acidental Aplicado<br />

Figura 6 - Vigas mistas escoradas.<br />

Os perfis de aço de vigas mistas não escoradas (figura 7) devem ser<br />

dimensionados para resistir a todos os esforços aplicados antes que o concreto esteja<br />

curado. Durante esta fase tanto o concreto, quanto os conectores não estão sendo<br />

solicitados. Após a cura do concreto, o carregamento acidental será resistido pela<br />

seção mista, no entanto, ocorre uma sobreposição das tensões aplicadas antes e<br />

depois da cura do concreto.<br />

O peso próprio do concreto é normalmente substancial e, por isto, a situação<br />

de construção pode ser condicionante, em construções não-escoradas, resultando em<br />

seções maiores que a mesma viga escorada.<br />

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Dimensionamento de edifícios de múltiplos andares com elementos estruturais mistos...<br />

99<br />

Seção<br />

Resistente<br />

Vista Longitudinal<br />

Estágio de Construção<br />

(Somente peso próprio aplicado)<br />

Distribuição de Tensões<br />

Modelo Elástico<br />

+<br />

=<br />

Carregamento Acidental Aplicado<br />

Figura 7 - Vigas mistas não escoradas.<br />

O período de escoramento pode variar de acordo com o tipo de cimento<br />

utilizado, relação carregamento durante a construção/carregamento total e condições<br />

ambientais. Para que o concreto atinja a sua resistência de projeto são necessários<br />

28 dias; porém, o projetista pode especificar a idade do concreto e a sua resistência<br />

para que o escoramento possa ser retirado. Isto porque, durante esta fase, as cargas<br />

acidentais de projeto não terão sido aplicadas e a resistência do concreto pode ser<br />

inferior à final.<br />

2.4 Considerações finais<br />

Com base nestas informações básicas, dois estados limites das vigas mistas<br />

devem ser considerados:<br />

• Resistência da seção mista à flexão;<br />

• Resistência da conexão ao cisalhamento longitudinal.<br />

Além destas, existem outras situações que devem ser consideradas no<br />

dimensionamento das vigas mistas:<br />

• Flambagem local em seções esbeltas;<br />

• Deformações excessivas;<br />

• Fissuração do concreto;<br />

• Força cortante;<br />

• Flambagem local e lateral por distorção em regiões de momentos<br />

negativos;<br />

• Interação momento fletor-força cortante.<br />

3 LAJES MISTAS (“STEEL-DECK”)<br />

As lajes tipo “steel-deck” são elementos formados por fôrma de aço e camada<br />

de concreto moldada ‘in-loco’ agindo conjuntamente. As principais vantagens deste<br />

tipo de laje são:<br />

• Diminuição ou até mesmo eliminação do escoramento;<br />

• Utilização da fôrma de aço como plataforma de serviço durante a<br />

construção;<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


100<br />

Marcela de Arruda Fabrizzi & Roberto Martins Gonçalves<br />

• Fôrma de aço funciona como armadura positiva da laje;<br />

• Alta qualidade de acabamento da face interna da laje;<br />

• Dispensa de escoramento e redução dos gastos com desperdício de<br />

material;<br />

• Facilidade de instalação e maior rapidez construtiva;<br />

• Plataforma de serviço e proteção aos operários que trabalham nos<br />

andares inferiores, propiciando maior segurança;<br />

• Apresenta facilidade para a passagem de dutos das diversas<br />

instalações, favorecendo também a fixação de forros.<br />

O comportamento misto pode ser obtido de diversas maneiras, desde que<br />

seja permitida a transferência de esforços cisalhantes longitudinais na interface entre<br />

o aço e o concreto. Para limitar futuras situações o EUROCODE 4 (2004) permite que<br />

o cisalhamento longitudinal seja resistido por:<br />

• Meios mecânicos através de reentrâncias e mossas no perfil da chapa<br />

metálica;<br />

• Atrito entre a superfície de concreto e de aço;<br />

• Ancoragem nos extremos proporcionada por conectores soldados.<br />

Os tipos de lajes mistas variam por forma, profundidade e espaçamento das<br />

nervuras e espessura da chapa. A escolha do tipo de laje mista a ser utilizada deve<br />

levar em consideração basicamente duas situações:<br />

• Vãos em que não haja necessidade de escoramento: neste caso a<br />

situação de construção é mais crítica, já que a fôrma de aço deverá<br />

suportar o peso próprio do concreto não curado. Assim, são<br />

recomendadas fôrmas trapezoidais com resistência ao cisalhamento<br />

vertical limitada e alta ductilidade;<br />

• No caso de vãos com necessidade de escoramento, a situação final de<br />

carregamento tensiona mais a seção mista. Portanto, fôrmas que<br />

tenham maior resistência ao cisalhamento longitudinal devem ser<br />

utilizadas, por exemplo, “steel-deck” com reentrâncias.<br />

Figura 8 - Principais tipos de lajes mistas.<br />

De acordo com Johnson (1994), por várias décadas as lajes tipo “steel-deck”<br />

são o sistema mais utilizado na América do Norte. Devido a isto, muitos avanços<br />

tecnológicos foram obtidos, sendo hoje muito utilizadas na Europa e em outros<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


Dimensionamento de edifícios de múltiplos andares com elementos estruturais mistos... 101<br />

lugares do mundo. No Brasil, especialmente em edifícios comerciais, industriais e<br />

administrativos, esta é uma solução com alguma representatividade.<br />

A resistência do concreto estrutural e da armadura são os mesmos descritos<br />

para as vigas mistas. A chapa de aço tem espessura comercial variando entre 0,75 e<br />

1,50mm aproximadamente, e como ficará exposta ao meio ambiente, é necessário<br />

que seja galvanizada para protegê-la contra a corrosão. Inicialmente, as fôrmas<br />

utilizadas possuíam 3m de vão e 50mm de profundidade e, desta maneira, não<br />

necessitavam de escoramento. Hoje, com a utilização do escoramento, são<br />

produzidas fôrmas de maior profundidade e apropriadas para vãos de até<br />

aproximadamente 5m.<br />

O deslocamento vertical é uma função da rigidez da laje e, muitas vezes, é o<br />

estado limite de utilização que governa o dimensionamento da mesma, portanto, a<br />

utilização de aço com alta resistência pode não ser vantajosa. O aço normalmente<br />

utilizado nas fôrmas de aço incorporadas é o ASTM A653 grau 40, com tensão de<br />

escoamento 280MPa.<br />

Usualmente, os fabricantes deste tipo de laje fornecem, em forma de<br />

catálogos ou especificações técnicas, sobrecarga, vão e outras características da<br />

fôrma de aço.<br />

O concreto da laje pode ter armadura inferior adicional à fôrma de aço e deve<br />

ter armadura superior para controle de fissuração ou para resistir a momentos<br />

negativos conferidos pela continuidade da laje em apoios intermediários.<br />

O dimensionamento das lajes mistas deve considerar duas situações distintas:<br />

• Durante a construção: peso próprio da chapa e do concreto não<br />

endurecido, além de sobrecargas de construção, inclusive<br />

carregamentos devido a armazenamento de materiais, quando<br />

aplicáveis.<br />

• Durante a vida útil da estrutura como laje mista, considerando o estado<br />

limite último e os estados limites de utilização.<br />

Na situação de construção, todo escoramento deve ser considerado. Esta<br />

situação não será apresentada neste trabalho, porém consiste no dimensionamento<br />

similar ao de telhas metálicas, podendo ser encontrado em bibliografia referente a<br />

estruturas de aço.<br />

O comportamento das lajes mistas está entre o da laje maciça de concreto<br />

armado e da viga mista. De certa maneira, o “steel-deck” comporta-se como armadura<br />

incorporada ao concreto, porém com a desvantagem de não estar totalmente<br />

envolvido pelo concreto. Mas também possui rigidez à flexão como uma viga mista,<br />

podendo se deformar sob carregamento.<br />

4 PILARES MISTOS<br />

A questão do incêndio sempre foi problemática para as estruturas de aço.<br />

Inicialmente, um concreto de baixa resistência era aplicado sobre o perfil de aço e a<br />

sua contribuição era desprezada. Ao longo dos anos, percebeu-se que, utilizando<br />

concreto de maior resistência seria possível acrescentar resistência e estabilidade ao<br />

pilar.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


102<br />

Marcela de Arruda Fabrizzi & Roberto Martins Gonçalves<br />

Hoje existem muitas variações de seções de pilares mistos, porém as usuais<br />

são as descritas na figura 9.<br />

b.1) Com conectores soldados à<br />

alma do perfil<br />

b.2) Com armadura transversal<br />

soldada à alma do perfil<br />

a) Perfil "I" totalmente<br />

envolvido por concreto<br />

b) Perfil "I" parcialmente envolvido por concreto<br />

c) Tubo circular preenchido por concreto<br />

d) Tubo retangular preenchido por concreto<br />

Figura 9 - Tipos de pilares mistos.<br />

Os quatro tipos acima apresentam vantagens e desvantagens, sendo que as<br />

principais estão descritas na tabela 1.<br />

Tabela 1 - Vantagens e desvantagens das seções de pilares mistos.<br />

Tipos<br />

Proteção<br />

ao fogo<br />

Superfície<br />

metálica<br />

Armadura<br />

adicional<br />

Necessidade<br />

de fôrma<br />

Efeito de<br />

confinamento<br />

a) Sim Não Sim Sim Não<br />

b) Sim/Parcial Sim Sim Sim/Não Não<br />

c) Não Sim Sim/Não Não Sim<br />

d) Não Sim Sim/Não Não Não<br />

A principal vantagem dos pilares mistos é o ganho de resistência e rigidez<br />

proporcionado por um material de custo atualmente menor que o aço, o concreto.<br />

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Dimensionamento de edifícios de múltiplos andares com elementos estruturais mistos... 103<br />

Como regra geral, o concreto contribui para a resistência da seção à compressão e<br />

também diminui os efeitos da esbeltez local.<br />

Os pilares mistos preenchidos por concreto têm como vantagem a utilização<br />

do próprio perfil de aço como fôrma. Pilares mistos parcialmente envolvidos podem<br />

receber o concreto antes da montagem enquanto o perfil está na posição horizontal.<br />

Concreta-se de um lado e após um ou dois dias o perfil é rodado e concretado o lado<br />

oposto, não necessitando utilização de fôrmas.<br />

Os pilares tubulares têm como vantagem sobre todos os outros tipos de seção<br />

o efeito do confinamento que acarreta aumento da resistência do concreto.<br />

A presença de superfície metálica é uma vantagem de execução, pois as<br />

ligações com as vigas ou outros elementos metálicos podem ser as mesmas<br />

utilizadas em estruturas de aço.<br />

Outra vantagem dos pilares mistos é arquitetônica. É possível, com uma<br />

mesma seção externa de um pilar misto, resultar em resistências diferentes. Isto se<br />

aplica aos edifícios de múltiplos andares, onde a carga vertical varia ao longo dos<br />

andares e pode facilitar a disposição arquitetônica dos pilares sem aumentar o custo<br />

da estrutura.<br />

No dimensionamento de pilares mistos é admitido que exista interação total<br />

entre os materiais aço-concreto, desde que as tensões cisalhantes longitudinais não<br />

ultrapassem certos valores. Claramente, as diferenças e não linearidades dos dois<br />

materiais devem ser observadas; porém uma análise minuciosa só seria possível com<br />

a utilização de métodos computacionais. A consideração de seção mista com<br />

interação completa é bastante aceitável para os métodos atuais de cálculos.<br />

5 RESULTADOS FINAIS<br />

Nesta fase do trabalho serão apresentados os elementos constituintes do<br />

edifício exemplo dimensionados nos capítulos anteriores. O esquema estrutural do<br />

edifício está novamente descrito na figura 10. Os pavimentos são compostos de lajes<br />

mistas apoiadas na direção do eixo y, compondo vigas mistas com perfis tipo “I”<br />

interconectados por meio de conectores tipo pino com cabeça. O sistema resistente<br />

às ações horizontais é composto de contraventamentos entre os eixos 1 e 2 e entre<br />

os 5 e 6, nos eixos A e D e pórticos, com ligações rígidas entre pilares e vigas, na<br />

direção y em todos os eixos, de 1 a 6.<br />

O dimensionamento dos elementos seguiu, basicamente, as recomendações<br />

da NBR 8800 (rev. 2006) e os resultados estão baseados nos procedimentos desta<br />

Norma.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


104<br />

Marcela de Arruda Fabrizzi & Roberto Martins Gonçalves<br />

1 2 3 4 5 6<br />

y<br />

A<br />

V2 V2 V2 V2 V2<br />

V1 V1 V1 V1 V1<br />

B<br />

C<br />

V3 V3 V3 V3<br />

V3<br />

V3 V3 V3 V3<br />

V3<br />

V1 V1 V1 V1<br />

V1<br />

5 x 4m = 20m<br />

D<br />

V4<br />

V5<br />

V5<br />

V5<br />

V5<br />

V2 V2 V2 V2 V2<br />

V4<br />

x<br />

5 x 9m = 45m<br />

PAVIMENTO TIPO<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

D<br />

C B A<br />

z<br />

z<br />

20 x 3,5M = 70m<br />

x<br />

ELEVAÇÕES<br />

y<br />

1m<br />

Figura 10 - Edifício exemplo.<br />

O pavimento tipo do edifício exemplo é composto basicamente dos seguintes<br />

elementos:<br />

a) Laje mista conforme figura 11:<br />

Ø6.3 c/15<br />

Ø6.3 c/15 Concreto<br />

f ck>3KN/cm 2<br />

115<br />

75mm<br />

65mm<br />

140mm<br />

155mm<br />

119mm<br />

155mm<br />

Steel deck MF-75<br />

e=1,25mm<br />

aço ZAR-280<br />

f y=28KN/cm 2<br />

Figura 11 - Seção transversal da laje mista do pavimento do edifício exemplo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


Dimensionamento de edifícios de múltiplos andares com elementos estruturais mistos... 105<br />

A viga V3, biapoiada está descrita na figura 12:<br />

d=352<br />

bef=2250<br />

bf=171<br />

tw=6,9<br />

tf=9,8 h=332,4 tf=9,8<br />

Concreto<br />

f ck>3KN/cm 2<br />

274<br />

(típico)<br />

Perfil W 360x44<br />

ASTM A572 Gr 50<br />

Fy=34,5 KN/cm 2<br />

hf=75 tc=65<br />

Conectores Ø 25mm<br />

ASTM A108 Gr 1020<br />

f y=34,5KN/cm 2<br />

a) Seção transversal b) Vista longitudinal<br />

Figura 12 - Viga V3 do edifício exemplo.<br />

A viga V5, contínua, dimensionada também no capítulo 3, está descrita na<br />

figura 13:<br />

bef=750/1250<br />

As = 13Ø12,5 = 16,3cm 2<br />

Aço CA-50 / f y=50KN/cm<br />

Concreto<br />

f ck>3KN/cm 2<br />

200<br />

(típico)<br />

Conectores Ø 25mm<br />

ASTM A108 Gr 1020<br />

f y=34,5KN/cm 2<br />

Armadura<br />

119<br />

(típ.)<br />

d=612<br />

155<br />

(típ.)<br />

bf=229<br />

tw=11,9<br />

tf=19,6 h=572,8 tf=19,6<br />

Perfil W 600x125<br />

ASTM A572 Gr 50<br />

Fy=34,5 KN/cm 2<br />

115<br />

hf=75 tc=65<br />

a) Seção transversal b) Vista longitudinal<br />

Figura 13 - Viga V5 do edifício exemplo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


106<br />

Marcela de Arruda Fabrizzi & Roberto Martins Gonçalves<br />

A seção do primeiro lance de um dos pilares principais do edifício, o pilar entre<br />

no encontro dos eixos 2 e B está descrita na figura 14:<br />

d=650<br />

bf=450<br />

tw=22,4<br />

tf=31,15 h=587,7 tf=31,15<br />

4Ø16mm<br />

Estribos Ø6.3<br />

a cada 190mm<br />

Figura 14 - Seção transveral do pilar eixo 3B do edifício exemplo.<br />

5.1 Considerações sobre os resultados obtidos no edifício exemplo<br />

As quantidades estimadas para a estrutura do edifício exemplo estão<br />

descritas na tabela 2.<br />

Tabela 2 - Quantidades estimadas da estrutura do edifício exemplo.<br />

ELEMENTOS<br />

Aço<br />

(t)<br />

Concreto<br />

(m³)<br />

Armadura<br />

(t)<br />

Vigas mistas<br />

Biapoiadas 220 __ __<br />

Contínuas 280 __ __<br />

Lajes mistas 300 1900 60<br />

Pilares mistos 380 230 15<br />

Contraventamentos 70 __ __<br />

TOTAL 1250 2130 75<br />

A somatória do consumo de aço para vigas e pilares resultou nos dados<br />

apresentados a seguir:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


Dimensionamento de edifícios de múltiplos andares com elementos estruturais mistos... 107<br />

ELEMENTOS<br />

Aço<br />

(t)<br />

Concreto<br />

(m³)<br />

Armadura<br />

(t)<br />

VIGAS + PILARES 880 230 15<br />

Serão feitas três comparações separadamente: vigas biapoiadas, vigas<br />

cotínuas (parte do pórtico) e pilares mistos. A compação entre lajes tipo “steel-deck” e<br />

qualquer outro tipo de laje ultrapassaria uma análise apenas de consumo de material,<br />

uma vez que a laje mista possui vantagens como utilização como fôrma, plataforma<br />

de trabalho, acabamento infeior da laje, possibilidade de diminuição ou ausência de<br />

escoramento, além da sua função de armadura positiva. Por estes motivos, não será<br />

feita comparação entre tipos de lajes neste trabalho.<br />

A tabela 3 apresenta uma simulação de consumo de aço para uma estrutura<br />

de aço com aproximadamente as mesmas características do edifício exemplo.<br />

Tabela 3 - Estimativa de consumo de aço para uma estrutura similar à estrutura do edifício<br />

exemplo composta por elementos de aço isolados.<br />

ELEMENTOS DE AÇO<br />

Aço<br />

(t)<br />

Vigas<br />

Biapoiadas 400<br />

Contínuas 350<br />

Pilares * 470<br />

TOTAL (VIGAS + PILARES) 820<br />

* Sáles (1995): edifício com as mesmas características do edifício exemplo; modelo estrutural<br />

com treliças, consumo de aço das diagonais = 100t.<br />

Foi feita uma comparação com o edifício exemplo retirado de Sáles (1995)<br />

apenas para os pilares mistos, pois as vigas já haviam sido tratadas como mistas por<br />

Sáles (1995). As quantidades de aço para as vigas foi estimadas por cálculos durante<br />

o presente estudo.<br />

Com os dados das tabelas 2 e 3 é possível fazer uma breve comparação<br />

entre o consumo de aço para elementos mistos e elementos de aço isolado, o que<br />

está demonstrado na tabela 4.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


108<br />

Marcela de Arruda Fabrizzi & Roberto Martins Gonçalves<br />

Tabela 4 - Comparação entre consumo de aço para elementos mistos e elementos de aço<br />

isolados.<br />

Elementos<br />

Consumo de aço (t)<br />

Porcentagem<br />

Mistos Isolados de economia de aço<br />

Vigas<br />

Biapoiadas 220 400 45%<br />

Contínuas 280 350 20%<br />

Pilares 380 470 19%<br />

Total (vigas + pilares) 880 1220 28%<br />

A composição das vigas mistas, na maioria dos edifícios, necessita apenas do<br />

acréscimo dos conectores e armaduras para as regiões de momento negativo, sendo<br />

que a laje, mista ou não, já é um elemento presente. Como era esperado, para as<br />

vigas mistas biapoiadas a redução do consumo foi maior do que para as vigas<br />

contínuas. Isto se deve ao fato do concreto trabalhar essencialmente à compressão e<br />

o perfil de aço à tração como já foi demonstrado anteriormente.<br />

A redução de consumo de aço para os pilares mistos (19%) também é de<br />

grande importância ainda que tenhamos que acrescentar o custo do concreto e das<br />

armaduras. Há uma economia substancial na estrutura, comprovando que a<br />

composição entre aço e concreto para pilares também é bastante vantajosa. Deve ser<br />

considerado também que há um acréscimo no peso transmitido às fundações devido<br />

à inclusão do concreto (em média 20t por pilar).<br />

Neste item foi foi claramente demonstrado que os elementos mistos possuem<br />

vantagens econômicas (em média da ordem de 25%) em relação a elementos de aço<br />

isolados, mas existem outros aspectos que devem ser avaliados durante a tomada de<br />

decisão do partido estrutural que será adotado.<br />

5.2 Conclusões finais<br />

O objetivo de abordar aspectos dos estudos acadêmicos e práticos relativos<br />

ao dimensionamento dos elementos mistos aço-concreto foi alcançado.<br />

A combinação aço-concreto apresenta algumas vantagens em relação aos<br />

elementos isolados de aço e de concreto. Assim, em determinadas situações, podem<br />

ser a melhor solução.<br />

A definição do tipo de estrutura a ser utilizada numa edificação deve ser um<br />

processo minucioso que procure analisar todos os fatores da obra como ambientais,<br />

construtivos, arquitetônicos, relativos ao conforto e à utilização da edificação.<br />

O dimensionamento das vigas mistas biapoiadas já está bastante estudado e<br />

este tipo de elemento vem sendo largamente utilizado, pois combina dois elementos<br />

já presentes na maioria dos edifícios com vigas de aço. Os conectores de<br />

cisalhamento mais utilizados são os tipo pino com cabeça e o perfil U laminado, mas<br />

dependendo da localização da obra e disponibilidade de material, o conector pode ser<br />

adaptado desde que garantida a sua resistência e considerada a sua ductilidade.<br />

As vigas mistas contínuas devem ser dimensionadas considerando as<br />

situações de flambagem local da mesa e da alma, flambagem lateral com distorção,<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


Dimensionamento de edifícios de múltiplos andares com elementos estruturais mistos... 109<br />

além da verificação do estado limite de fissuração do concreto lembrando que, em<br />

muitos casos, sua adoção não apresenta vantagens em termos de consumo de aço.<br />

Os pilares mistos também apresentam como principais vantagens a esbeltez<br />

em relação aos pilares de concreto, maior rigidez em relação aos pilares metálicos e<br />

proteção contra a corrosão e contra incêndio. Devem ser dimensionados<br />

considerando as curvas de flambagem dos pilares metálicos adaptadas aos pilares<br />

mistos. Os efeitos de segunda ordem têm papel importante no dimensionamento<br />

destes elementos.<br />

Os sistemas de contraventamento influenciam bastante o resultado final da<br />

estrutura, para o caso do edifício exemplo deste trabalho, foi considerado um sistema<br />

aporticado na direção em que os pilares possuem maior inércia e um sitema de<br />

contraventamento com ligações articuladas na outra direção. As vigas mistas<br />

dispostas na direção dos pórticos foram consideradas contínuas e todas as demais<br />

ligações nesta direção foram tratadas como aporticadas. Mais uma vez, a escolha do<br />

tipo de sistema resistente às ações horizontais deve considerar as condições<br />

específicas de cada edifício, bem como as condições locais.<br />

As lajes tipo “steel-deck” são os elementos mistos que apresentam a melhor<br />

relação custo-benefício e, cada vez mais, os fabricantes brasileiros disponibilizam<br />

para os projetistas e construtores informações técnicas e construtivas para a<br />

utilização destas lajes. Deve-se lembrar que situações específicas, como ações<br />

concentradas e aberturas na laje, precisam ser verificadas separadamente.<br />

Outro aspecto que necessita cuidados especiais numa edificação composta<br />

por elementos mistos são as ligações. Estas devem ser bem estudadas anteriormente<br />

ao dimensionamento e detalhamento da estrutura como um todo, pois podem onerar o<br />

custo final, bem como provocar trabalhos excessivos no canteiro de obras. No<br />

entanto, as ligações mistas não foram escopo deste trabalho.<br />

5.3 Sugestões para novas pesquisas<br />

Como sugestões para novas pesquisas com este mesmo enfoque temos:<br />

• Estudos experimentais e também desenvolvimento de modelos teóricos<br />

e analíticos de ligações mistas;<br />

• Estudos das tensões cisalhantes em lajes mistas e pilares mistos<br />

• Estudo mais aprofundado dos efeitos de segunda ordem em pilares<br />

mistos;<br />

• Estudos sobre vibrações em lajes tipo “ steel-deck” e estruturas mistas<br />

em geral.<br />

6 AGRADECIMENTOS<br />

Agradecemos à Escola de Engenharia de São Carlos e à Universidade de<br />

São Paulo (<strong>USP</strong>).<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


110<br />

Marcela de Arruda Fabrizzi & Roberto Martins Gonçalves<br />

7 REFERÊNCIAS<br />

AMERICAN INSTITUTE OF STEEL CONSTRUCTION (1994). AISC-LFRD – Load<br />

and resistance resistence design. Chicago<br />

AMERICAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS – ASCE (1997). Effective Length and<br />

Notional Load Approaches for Assessing Frame Stability: implications for<br />

American steel design. By the Task Comitee on Effective Length. New York.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1986). NBR 8800 – Projeto e<br />

execução de estruturas de aço de edifícios. Rio de Janeiro.<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2003). NBR 6118 – Projeto<br />

de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro.<br />

BRITISH STANDARD INSTITUTION (1979). BS 5400 – Steel, concrete and<br />

composite bridges. Parte 5: Code of practice for design of composite bridges.<br />

Londres.<br />

BRITISH STANDARD INSTITUTION (1990). BS 5950 – Structural use of steelwork<br />

in building. Parte 3: Section 3.1: Code of practice for design of simple and<br />

continuous composite beams. Londres.<br />

EUROCODE 4 (2004 draft of prEN 1994-1-1) – Design of Composite Steel and<br />

Concrete Structures. Parte 1-1: General rules for buildings. Bruxelas.<br />

FABRIZZI, M. A. (2007). Contribuição para o projeto e dimensionamento de<br />

edifícios de múltiplos andares com elementos estruturais mistos aço-concreto.<br />

São Carlos. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos –<br />

Universidade de São Paulo.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 91-110, 2008


ISSN 1809-5860<br />

UM ALGORITMO ESTOCASTICO PARA DETECÇÃO<br />

DE DANO<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo 1 & José Elias Laier 2<br />

Resumo<br />

Neste estudo, um novo algoritmo híbrido para avaliação da integridade estrutural a<br />

partir de respostas dinâmicas é apresentado. A formulação da função objetivo para o<br />

problema de minimização definido emprega Funções de Resposta em Freqüência e/ou<br />

dados modais do sistema. Uma nova estratégia para o controle dos parâmetros do<br />

algoritmo Particle Swarm Optimization (PSO), baseada no uso do método de Nelder –<br />

Mead é desenvolvida; conseqüentemente, a convergência do PSO fica independente dos<br />

parâmetros heurísticos e sua estabilidade e precisão são melhoradas. O método híbrido<br />

proposto teve melhor desempenho, nas diversas funções teste analisadas, quando<br />

comparado com os algoritmos Simulated Annealing, Algoritmos Genéticos e o PSO.<br />

São apresentados diversos problemas de detecção de dano, levando em conta os efeitos<br />

do ruído e da falta de dados experimentais. Em todos os casos, a posição e extensão do<br />

dano foram determinadas com sucesso. Finalmente, usando o PSOS, os parâmetros de<br />

um oscilador não linear (oscilador de Duffing) foram identificados.<br />

Palavras-chave: Particle Swarm Optimization; identificação de dano; problemas<br />

inversos; vigas fissuradas; oscilador não linear.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A Neste trabalho, o problema inverso DD baseado em modelos é definido<br />

como um problema de programação não linear, no qual se estabelece uma Função<br />

Objetivo (fobj) para comparar dados experimentais do sistema com dados simulados<br />

do modelo (ver Equações 40 a 45), e, mediante sua minimização / maximização, são<br />

calculados os parâmetros que identificam o dano.<br />

Dentre as técnicas heurísticas desenvolvidas recentemente, e abordadas<br />

neste capítulo, o algoritmo Particle Swarm Optimization (PSO) proposto por Kennedy e<br />

Eberhart (1995), o algoritmo Simulated Annealing em suas varias versões (por<br />

exemplo, a versão de Kirkpatrick, Gelatti e Vecchi 1983, a de Corana et. al., 1987 ou a<br />

de Koh e Liaw ,2003) se apresentam, junto com os AGs, como opções promissoras<br />

para atacar o problema de detecção de dano. Esta asseveração é fundamentada em<br />

diversos fatores, entre os quais pode-se mencionar:<br />

-sua facilidade de programação e de formulação;<br />

-sua capacidade de fazer uso eficiente de um grande número de processadores;<br />

-não requerem continuidade na definição do problema de otimização e não depende<br />

da estimativa de um ponto inicial para garantir a convergência (para o problema DD,<br />

1 Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, ojbegam@uis.edu.co<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, jelaier@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 111-126, 2008


112<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

uma estimativa a priori para começar a busca é quase impossível, devido a grande<br />

quantidade de opções);<br />

-estão adaptados para procurar soluções globais o quase globais.<br />

Adicionalmente, como mostrado por Schutte e Groenwold (2005), o algoritmo<br />

PSO ultrapassa o desempenho do AGs em vários problemas difíceis de programação<br />

não linear, notadamente, em problemas de otimização sem restrições.<br />

Por outro lado, é um fato conhecido que os algoritmos heurísticos precisam de<br />

um maior número de avaliações da função objetivo, para encontrar uma solução ótima,<br />

quando comparados com as técnicas baseadas em gradientes e/ou derivadas de<br />

segunda ordem. Porém, a principal desvantagem das técnicas clássicas de<br />

programação não linear, quando aplicadas ao problema DD, é que elas são<br />

suscetíveis de convergir para ótimos locais e, portanto, não podem ser empregadas<br />

com sucesso em problemas não lineares com múltiplos pontos ótimos, como os<br />

estudados neste trabalho. Além desta limitação, os algoritmos clássicos são altamente<br />

sensíveis à presença de ruído nos dados experimentais (HEMEZ et. al.,1995). Isto se<br />

deve ao fato de que os gradientes usados dependem explicitamente dos vetores<br />

modais medidos e/ou da sua expansão (quando utilizados dados modais), desta<br />

forma, qualquer erro de medição ou de modelagem irá corromper a qualidade dos<br />

gradientes. De maneira geral, a mesma conclusão pode ser feita para qualquer<br />

método baseado em sensibilidades (gradientes).<br />

Recentemente, diversas estratégias para evitar a convergência prematura e<br />

melhorar a capacidade de busca dos métodos heurísticos básicos vêm sendo<br />

propostas. Por exemplo, Koh e Liaw (2003), apresentam uma das primeiras tentativas<br />

para melhorar o desempenho numérico de um sistema de identificação estrutural<br />

baseado em Algoritmos Genéticos (AGs) mediante a combinação do AG com um<br />

método de busca local. Outra possibilidade estudada por Hwang e He (2006), para<br />

solucionar problemas de otimização estrutural e problemas de identificação de<br />

sistemas, é a combinação de operadores do Simualted Annealing (SA) com os AGs<br />

com o intuito de melhorar a convergência do AG. O método se baseia em um<br />

algoritmo genético de parâmetros reais com um operador de crossover novo e<br />

incorpora as vantagens que o SA possui (capacidade de fugir de pontos locais)<br />

melhorando desta forma o desempenho global do método.<br />

Finalmente, o problema DD apresenta três características que tornam<br />

interessante o uso de algoritmos heurísticos para sua solução. A primeira, é que se<br />

trata de um problema que deve ser solucionado em presença de ruído. A segunda, é<br />

que a detecção de dano baseada em modelos é um problema fortemente não linear,<br />

onde podem existir múltiplos pontos ótimos e pode ser de natureza descontínua<br />

(SINHA; FRISWELL; EDWARDS, 2002; BLAND; KAPANIA, 2004). Por último, a<br />

estratégia baseada em heurísticas não precisa um conjunto <strong>completo</strong> de medidas, por<br />

exemplo, medidas em todos os graus de liberdade. As anteriores razões dificultam<br />

muito o uso de técnicas clássicas de otimização para resolver o problema DD. A tabela<br />

1 mostra uma comparação entre métodos tradicionais e algoritmos heurísticos para<br />

solução de problemas de detecção de dano.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 111-126, 2008


Um algoritmo estocastico para detecção de dano<br />

113<br />

Tabela 1 - Comparação entre algoritmos clássicos e algoritmos heurísticos.<br />

Heurísticos<br />

Soluções globais<br />

Não requerem cálculo de derivadas<br />

Não dependem de ponto inicial<br />

Sem restrições: continuidade, convexidade<br />

Pouca sensibilidade a ruídos<br />

Maior número de avaliações da função<br />

objetivo<br />

Operações lógicas básicas<br />

Uso de regras heurísticas<br />

Sem versões comerciais; literatura<br />

fragmentada.<br />

Clássicos<br />

Soluções locais<br />

Cálculo de derivadas necessário<br />

Dependem de ponto inicial<br />

Restrições: Continuidade, convexidade<br />

Sensíveis a ruídos<br />

Menor número de avaliações da função<br />

objetivo<br />

Programação dependente do problema<br />

Embasamento matemático<br />

Com versões comerciais; livros publicados.<br />

2 ALGORITMOS HEURISTICOS<br />

Simulated Annealing (SA)<br />

O algoritmo SA se baseia na analogia entre o processo de resfriamento lento<br />

de sólidos e a solução de problemas de otimização de grande porte, com variáveis<br />

contínuas e discretas. Foi proposto por Kirkpatrick, Gelatti e Vecchi em 1983. O SA<br />

tem sido empregado no campo da física e da cristalografia, para ajustar modelos<br />

atômicos de proteínas usando dados experimentais e informações químicas<br />

(BRUNGER, 1991). Uma das primeiras aplicações do SA, para o posicionamento<br />

ótimo de sensores e atuadores em estruturas espaciais, foi feita por Salama et al.<br />

(1990), e sua aplicação é relativamente recente na disciplina de otimização estrutural,<br />

onde os objetivos principais são obter estruturas com formas, pesos, resistências<br />

ótimas e/ou controlar parâmetros de vibração de diversos sistemas (GENOVESE;<br />

LAMBERTI; PAPPALETTERE, 2005; KINCAID, 1992).<br />

No trabalho apresentado por Bennage e Dhingra (1995), é mostrada a<br />

robustez do SA mediante sua aplicação em problemas de otimização multi-objetivo<br />

para o projeto de treliças com variáveis contínuas e discretas. Embora nas áreas<br />

anteriores o algoritmo SA tenha sido usado com freqüência, poucos trabalhos têm<br />

sido publicados aplicando esta metodologia na área de dinâmica de estruturas, nos<br />

campos de ajuste de modelos e detecção de dano (ZIAEI-RAD, 2005; BEGAMBRE;<br />

LAIER, 2006; ZHOU; KIM; YANG, 2005; BEGAMBRE; LAIER, 2005). Uma<br />

contribuição deste trabalho é testar o algoritmo Simulated Annealing em problemas de<br />

detecção de dano. Para este fim, a variante do SA apresentada por Corana et. al.<br />

(1987), é avaliada em diversas funções teste e em casos de detecção de dano<br />

simulados.<br />

O processo de annealing (recozimento) consiste em aquecer uma substancia<br />

até que ela derrete e, seguidamente, reduzir de forma lenta sua temperatura.<br />

Mediante este procedimento, se permite à substancia atingir o equilíbrio térmico em<br />

cada temperatura. Eventualmente, a temperatura decresce até que o material<br />

congela. Se a temperatura é diminuída de forma suficientemente lenta o processo de<br />

annealing sempre atinge o estado de mínima energia a partir de um número quase<br />

infinito de estados iniciais possíveis. O annealing é um processo natural de otimização<br />

e sua simulação na área de matemática aplicada é conhecida como Simulated<br />

Annealing.<br />

O SA é, basicamente, um procedimento de busca aleatória de pontos ótimos<br />

globais, que permite movimentos para fugir de pontos ótimos locais. Estes<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 111-126, 2008


114<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

movimentos de fuga são controlados através do conhecido critério de Metropolis<br />

(METROPOLIS et. al., 1953). As vantagens que tornam atraente o SA para a solução<br />

de problemas inversos são sua não dependência do cálculo de gradiente da função<br />

objetivo e sua capacidade de fugir de pontos ótimos locais. O procedimento geral,<br />

para otimizar uma função empregando o SA, envolve a definição de uma função<br />

objetivo, a proposta de um mecanismo para gerar variações na configuração atual, o<br />

estabelecimento de um programa de esfriamento e, finalmente, a fixação de um<br />

critério de parada. Estes passos fundamentais são descritos em detalhe nas seguintes<br />

seções.<br />

Função objetivo<br />

A expressão para a função objetivo utilizada para detecção de dano mediante<br />

o SA pode ser uma das dadas pelas Equações (40) a (45). O problema agora, pode<br />

A<br />

ser formulado da seguinte maneira: achar<br />

ot que satisfaça a Equação (46):<br />

f<br />

obj<br />

( A<br />

ot<br />

{ F(<br />

A)<br />

A∈<br />

R<br />

n }<br />

) = min /<br />

onde, o estado do sistema é definido pelo vetor de configuração atual A<br />

(parâmetros de dano).<br />

(1)<br />

Estruturas de vizinhança<br />

Para definir um mecanismo gerador de variações aleatórias para a<br />

configuração atual é necessário estabelecer uma estrutura de vizinhança. Este<br />

mecanismo é uma forma de perturbar A para obter novas configurações A . Entre os<br />

tipos de vizinhança sugeridos na literatura se podem mencionar o ajuste unidirecional<br />

aleatório (CORANA et. al., 1987), o ajuste de raio fixo, o ajuste normal e o ajuste de<br />

Cauchy. Os três últimos precisam da definição de um parâmetro extra para determinar<br />

o ponto vizinho (o raio, no caso do ajuste de raio fixo e as variâncias, para o ajuste<br />

normal e de Cauchy). Por este motivo, o mecanismo de transição de ajuste<br />

unidirecional aleatório foi empregado neste trabalho. Esta estrutura de vizinhança<br />

funciona como descrito a seguir.<br />

A<br />

A avaliação da função fobj é feita no ponto inicial<br />

k e seu valor fobj (<br />

A<br />

k ) é<br />

A<br />

guardado. Um novo ponto<br />

j é determinado mediante uma variação aleatória<br />

α<br />

introduzida no elemento<br />

i do vetor Ak:<br />

α = α + λ ⋅η<br />

i<br />

i<br />

i<br />

na Equação (47), λ é um número aleatório no intervalo (-1,1),<br />

ηi<br />

representa um<br />

elemento do vetor η , que é o comprimento do passo para o vetor<br />

Ak<br />

e<br />

α<br />

i ,<br />

αi<br />

(2)<br />

são<br />

elementos de<br />

Ak<br />

e<br />

A<br />

j , respectivamente. Seguidamente, o valor da função fobj (<br />

A<br />

j )<br />

é calculado. Se fobj (<br />

A<br />

j ) < fobj (<br />

A<br />

k ),<br />

o algoritmo “desce” (se aproxima do mínimo). Se fobj (<br />

A<br />

de<br />

j ser aceito vem dada pelo critério de Metropolis:<br />

Aj<br />

é aceite e<br />

Ak<br />

é substituído por<br />

A<br />

j ) > fobj (<br />

A<br />

j , portanto,<br />

A<br />

k ), a probabilidade<br />

P<br />

r<br />

⎟<br />

[ ] ⎞<br />

⎜ ⎛ Δfobj<br />

−<br />

⎝ T ⎠<br />

A = e<br />

j<br />

(3)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 111-126, 2008


Um algoritmo estocastico para detecção de dano<br />

115<br />

( ) ( )<br />

Δ fobj = fobj Ak − fobj Aj<br />

na Equação (48),<br />

e T é o parâmetro de “temperatura”,<br />

que é o análogo da temperatura no processo físico de annealing (recozimento). Na<br />

prática, o valor Pr é comparado com P, que é um número randômico no intervalo<br />

A A<br />

(0,1). Se Pr > P, o novo ponto é aceito e<br />

k é substituído por<br />

j e o algoritmo “Sobe”<br />

Aj<br />

(se afasta do mínimo), caso contrário, é rejeitado. O algoritmo SA começa numa<br />

Aj<br />

temperatura “alta” To e uma seqüência de pontos é gerada até atingir o equilíbrio,<br />

A<br />

j<br />

f<br />

isto é, se obtém uma seqüência de pontos , cujo valor médio de<br />

obj<br />

atinge um<br />

valor estável à medida que j aumenta. O melhor ponto alcançado (mínimo nesta<br />

temperatura) é guardado como Aot.<br />

Programa de esfriamento<br />

Neste estágio do processo, o parâmetro de controle T é diminuído de acordo<br />

com uma regra de decremento, conhecida como programa de esfriamento, que<br />

obedece à relação:<br />

T<br />

j+ = θ ⋅T j<br />

1<br />

(3)<br />

onde, θ é uma constante real cujo valor está no intervalo (0,1). Com o valor de T<br />

reduzido segundo a Equação (49), uma nova seqüência de pontos é gerada a partir<br />

de Aot , até que o novo equilíbrio seja atingido e o processo continua até o critério de<br />

parada ser satisfeito. É importante ressaltar que, para finalizar o programa de<br />

esfriamento, o algoritmo precisa ter realizado um número predeterminado de iterações<br />

na mesma temperatura. Corana et. al. (1987) recomendam escolher o valor máximo<br />

entre 100 e 5N, onde N é o número de variáveis do problema estudado.<br />

O valor de temperatura inicial depende da função que vai ser otimizada e da<br />

definição da vizinhança empregada no algoritmo. Um critério usado para definir este<br />

parâmetro é a taxa de aceitação, definida como o número inicial de avaliações da<br />

função objetivo aceitas (movimento de descida / subida) sobre o número total de<br />

avaliações realizadas (número total de movimentos). Na prática, um valor de<br />

temperatura inicial deve ser tal que o valor da taxa de aceitação fique entre 0.5 e 0.9.<br />

Se o valor da taxa for maior que 0.9, uma percentagem significativa de avaliações é<br />

gasta num estado “derretido”, desperdiçando esforço computacional numa procura<br />

equivalente a uma busca aleatória. Se a taxa de aceitação for menor que 0.5, a<br />

probabilidade do algoritmo ficar preso num ótimo local aumenta.<br />

Critério de Parada<br />

O algoritmo termina para um valor de T pequeno, para o qual, nenhuma<br />

melhora no valor de fobj, possa ser esperada. Na prática, o critério de parada pode<br />

ser definido mediante um valor de tolerância da seguinte forma: se a diferença entre<br />

valores finais da função objetivo das p últimas temperaturas e o valor atual da função<br />

for menor que o valor da tolerância, o algoritmo termina. A Figura 1 apresenta o<br />

fluxograma básico do SA.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 111-126, 2008


116<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

Figura 1 - Diagrama de fluxo SA básico.<br />

Da anterior exposição, fica claro que, grandes diferenças no valor da função<br />

e/ou baixas temperaturas diminuem a probabilidade de um movimento de “subida” do<br />

algoritmo. Por outro lado, a variação do passo η é feita segundo o proposto em<br />

Corana et. al. (1987), de tal forma que, a relação entre o número de movimentos de<br />

subida/descida aceitos e o total de movimentos realizados, permaneça próxima de<br />

0.5, e, de esta maneira, manter um bom seguimento do valor da função estudada.<br />

Finalmente, a estratégia de realizar uma busca unidirecional aleatória tem melhores<br />

chances de manter a direção favorável de busca nas iterações seguintes e de se<br />

aproximar do ponto ótimo de forma sistemática. A perturbação simultânea, além de<br />

não manter a direção favorável de busca, também não fornece informação sobre o<br />

efeito de cada variável na violação de restrições em problema com restrições.<br />

Algoritmo Particle Swarm Optimization (PSO)<br />

O algoritmo PSO foi proposto por Kennedy e Eberhart em 1995 e está<br />

baseado na simulação de um modelo de interação social simplificado. Sabe-se que<br />

compartilhar informação no ambiente social oferece aos membros do grupo uma<br />

vantagem evolutiva. Esta observação é fundamental para o desenvolvimento do PSO.<br />

O PSO é membro da ampla categoria de métodos conhecidos como Swarm<br />

Intelligence, utilizados para resolver problemas de programação não linear. Desde sua<br />

introdução, muitas aplicações em otimização estrutural e multidisciplinar tem sido<br />

publicadas. Uma revisão das aplicações do PSO, para solucionar problemas de<br />

otimização na área de sistemas elétricos, é apresentada em Alrashidi e El-Hawary<br />

(2006). Outras aplicações para o projeto térmico ótimo de prédios podem ser<br />

encontradas em Wetter e Wright (2004). Aplicações adicionais para otimização<br />

estrutural (forma e peso) são apresentadas em Venter e Sobieszczanski-Sobieski<br />

(2003), Schutte e Groenwold (2003) e Fourie e Groenwold (2002).<br />

Por outro lado, nenhum estudo sobre aplicações e modificações do PSO para<br />

detecção de dano tem sido reportado. Desta forma, esta pesquisa representa a<br />

primeira tentativa de avaliar o desempenho numérico do algoritmo, assim como, de<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 111-126, 2008


Um algoritmo estocastico para detecção de dano<br />

117<br />

melhorar seu comportamento, em problemas de identificação de dano, mediante a<br />

estratégia híbrida desenvolvida.<br />

No PSO existem vários parâmetros explícitos cujos valores afetam a maneira<br />

na qual o algoritmo faz a busca no espaço do problema (KENNEDY, 1997;<br />

ALRASHIDI; EL-HAWARY, 2006; VENTER; SOBIESZCZANSKI-SOBIESKI, 2003;<br />

SCHUTTE; GROENWOLD, 2003; FOURIE; GROENWOLD, 2002). Estes parâmetros<br />

heurísticos controlam as propriedades de convergência do PSO, portanto, mediante a<br />

correta seleção destas constantes, o desempenho do algoritmo pode ser melhorado,<br />

como explicado nas seguintes seções.<br />

Mecanismo e parâmetros básicos do PSO<br />

Neste trabalho, é implementada a versão global assíncrona do PSO com<br />

redução de inércia linear (SCHUTTE; GROENWOLD, 2003). O algoritmo básico parte<br />

da hipótese de que cada partícula (solução candidata) da população (swarm ou<br />

conjunto de N partículas) voa sobre o espaço de busca, procurando por regiões<br />

promissoras da paisagem (por exemplo, em um problema de maximização), regiões<br />

que possuam valores da função objetivo maiores que outros, descobertos<br />

previamente. Neste contexto, a posição de cada partícula é ajustada, utilizando a<br />

informação social compartilhada pelos membros do enxame (swarm), e cada partícula<br />

tenta mudar sua posição a um ponto onde, ela e o enxame, tinham um valor maior da<br />

função objetivo em iterações previas.<br />

As partículas são manipuladas de acordo com as seguintes equações vetoriais<br />

(SHI; EBERHART, 1998):<br />

i i i<br />

pk<br />

+ 1<br />

= pk<br />

+ vk<br />

+ 1<br />

(5)<br />

i<br />

i<br />

i i<br />

g i<br />

vk<br />

+ 1<br />

= ωvk<br />

+ C1rand1( bk<br />

− pk<br />

) + C2rand<br />

2<br />

( bk<br />

− pk<br />

)<br />

(6)<br />

onde, k indica um incremento pseudo-temporal unitário,<br />

i<br />

pk<br />

representa a posição<br />

i<br />

p 1<br />

de cada partícula i (soluções candidatas) no tempo (iteração) k,<br />

k + é a posição da<br />

i<br />

b<br />

particular i no tempo k+1,<br />

k representa a melhor posição alcançada pela particular i<br />

g<br />

b<br />

no tempo k (melhor posição individual),<br />

k é a melhor posição no enxame no tempo k<br />

(melhor posição atingida pela partícula usada para guiar as outras partículas no<br />

i<br />

i<br />

v<br />

enxame),<br />

k é a velocidade da partícula i no tempo k e<br />

vk<br />

+ 1<br />

é a velocidade ajustada<br />

da partícula i no tempo k+1. Todos os vetores nas Equações (5) e (5), são de<br />

dimensão mx1, onde m é o número de parâmetros otimizados, rand1 e rand2 são<br />

números aleatórios independentes (com probabilidade uniforme) entre 0 e 1. Os<br />

parâmetros C1 e C2 controlam o fluxo de informação entre o enxame atual. Se C2 ><br />

C1, então a partícula põe mais confiança no enxame, de outra forma, a partícula põe<br />

mais confiança nela mesma. Devido a que cada partícula possui uma velocidade, o<br />

comportamento do PSO é direcional, isto é, a partícula é acelerada estocasticamente<br />

na direção da melhor posição global da população e também é acelerada<br />

estocasticamente na direção de sua anterior melhor posição. C1 e C2 são conhecidos<br />

como os parâmetros cognitivo e social, respectivamente. ω é o fator de inércia (ou<br />

fator de amortecimento) que controla o impacto da velocidade previa da partícula<br />

sobre sua velocidade atual (SHI; EBERHART, 1998). O fator de inércia no PSO<br />

lembra o parâmetro de temperatura T no algoritmo Simulated Annealing. Um fator de<br />

inércia alto facilita uma exploração global do espaço de busca, enquanto que um valor<br />

pequeno deste parâmetro possibilita uma busca local (ajuste fino), portanto, a<br />

apropriada seleção do fator de amortecimento fornece um balance entre a capacidade<br />

de busca local e de busca global do algoritmo e permitirá um número menor de<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 111-126, 2008


118<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

iterações (em media) para identificar o ponto ótimo global. A Equação (6) possibilita<br />

transições aleatórias nas posições das partículas, permitindo que o algoritmo escape<br />

dos pontos ótimos locais.<br />

O algoritmo PSO funciona mediante a modificação da distância que cada<br />

partícula percorre em cada direção (Equação (50)). Para controlar o passo do<br />

i<br />

algoritmo ( vk<br />

+ 1<br />

) e para prevenir o fenômeno de explosão (TAYAL, 2003), um valor de<br />

velocidade máxima Vmax = (pUB-pLB0) / H (com H = 5) foi empregado nesta<br />

pesquisa. Vale a pena salientar que todas as posições das partículas<br />

limitadas por seus valores máximo (pUP) e mínimo (pLB) permitidos.<br />

p<br />

i<br />

k<br />

devem ser<br />

A literatura propõe usar 0 < ω < 1.4, C1 = C2 = 2 com C1 + C2 ≤ 4 e 5 < H <<br />

10 para manter um equilíbrio entre a capacidade de busca global e local do algoritmo<br />

(PARSOPOULOS; VRAHATIS, 2002; KENNEDY; EBERHART, 1995; KENNEDY,<br />

1997; ALRASHIDI; EL-HAWARY, 2006; TAYAL, 2003). Como sabido, os três<br />

parâmetros ω, C1 e C2, são dependentes do problema estudado (VENTER;<br />

SOBIESZCZANSKI-SOBIESKI, 2003; SCHUTTE; GROENWOLD, 2003). Devido a<br />

este fato, inclusive usuários experientes do PSO devem realizar testes exaustivos<br />

para encontrar o melhor conjunto de parâmetros para o PSO e usuários menos<br />

experientes podem fornecer valores inadequados causando a falha do algoritmo.<br />

Topologias de vizinhança<br />

No PSO, as partículas são influenciadas pelo sucesso de qualquer outra<br />

partícula com a qual elas estão conectadas. Essa vizinhança, não é constituída<br />

necessariamente por partículas que estão próximas umas das outras (em termos do<br />

valor das variáveis), mas de partículas que estão próximas em função da topologia de<br />

vizinhança que define a estrutura social do enxame. Neste sentido, a vizinhança<br />

determina o conjunto de partículas que contribuem para o cálculo do de uma<br />

partícula dada.<br />

g<br />

b<br />

Dependendo da vizinhança utilizada, o PSO pode ter duas versões. Se<br />

k , na<br />

Equação (51), for a melhor partícula do enxame (a melhor posição de toda a<br />

população), tem-se a versão global do PSO, ilustrada na Figura 5 e chamada de<br />

topologia totalmente conectada. Por outro lado, a versão local se obtém substituindo<br />

g<br />

b k<br />

pela melhor posição dentro de um número de partículas p (p< N, onde N e o<br />

i<br />

p<br />

número total de partículas da população) vizinhas da partícula<br />

k . Existem varias<br />

opções para definir uma vizinhança local, as mais usadas são descritas a seguir.<br />

Vizinhança Local: Nesta topologia, cada partícula é afetada pela melhor partícula<br />

de suas p vizinhas imediatas. Geralmente, o valor p = 2 é usado, dando origem à<br />

g<br />

b<br />

topologia conhecida como anel, mostrada na Figura 5. Neste caso,<br />

k = melhor<br />

vizinha imediata, na Equação (6).<br />

Vizinhança Focal: uma partícula esta conectada com todas as outras e elas estão<br />

conectadas unicamente com a primeira (chamada de partícula focal) como ilustrado<br />

g<br />

b<br />

na Figura 5. Neste caso,<br />

k = partícula foco, na equação (6).<br />

g<br />

b k<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 111-126, 2008


Um algoritmo estocastico para detecção de dano<br />

119<br />

Figura 2 - Topologias de vizinhança no PSO. a) totalmente conectada. b) local e c) focal.<br />

A topologia de vizinhança tem influencia na taxa de convergência do PSO, já<br />

que, determina quanto tempo empregaram as partículas para localizar a melhor<br />

posição no espaço de busca. Por exemplo, na versão global, todas as partículas estão<br />

conectadas e recebem informação sobre a melhor solução ao mesmo tempo. Desta<br />

forma, usando esta estrutura de vizinhança global, o enxame tende a convergir com<br />

maior rapidez que quando são usadas topologias locais o de estrela, devido a que, no<br />

último caso, a informação sobre a melhor posição demora mais em ser transmitida.<br />

Porém, pela mesma razão, a versão global é mais suscetível de convergir de forma<br />

prematura para um mínimo local.<br />

Critérios de parada<br />

Um critério de parada robusto é importante para qualquer algoritmo de<br />

otimização para evitar avaliações de função objetivo adicionais depois que uma<br />

solução ótima foi encontrada. Idealmente, o critério e parada empregado nenhum<br />

parâmetro relacionado com o problema. O critério de convergência considerado neste<br />

trabalho é básico. A máxima variação na função objetivo foi monitorada para um<br />

número específico de iterações consecutivas. Se a variação máxima da função<br />

objetivo foi menor que uma variação predefinida, se assume a convergência do<br />

algoritmo.<br />

Pseudo código do PSO e indicado na Figura 3.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 111-126, 2008


120<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

Figura 3 - PSO.<br />

O algoritmo PSOS<br />

A nova estratégia que se propõe neste trabalho, para controlar a seleção<br />

adequada das constantes heurísticas que governam o comportamento do PSO, se<br />

baseia no uso do método Simplex (NELDER; MEAD, 1965). Apesar das conhecidas<br />

falhas e ineficiências do algoritmo Simplex (LAGARIAS et. al., 1998) ele é usado aqui<br />

para escolher os parâmetros heurísticos do PSO e, desta forma, fazer com que o PSO<br />

se torne independente desses valores, como explicado a seguir.<br />

Heurística do PSOS<br />

A idéia central do método é que o algoritmo Simplex selecione os valores dos<br />

parâmetros N, w, C1 e C2 contidos no espaço de parâmetros (ver Figura 5) e, assim,<br />

procure uma configuração ótima ou quase ótima para o PSO.<br />

Dentro desta heurística, cada vértice do Simplex fica definido pelas<br />

coordenadas (N, w, C1, C2). Nesta situação, o PSO toma os valores dos parâmetros<br />

heurísticos determinados pelo Simplex e avalia a função objetivo do problema (ver<br />

Figura 9). Consequentemente, cada ponto do Simplex, e qualquer reflexão, contração,<br />

expansão e redução (ver seção 5.2), é avaliada com um enxame independente,<br />

caracterizado pelo vetor Xi (Ni, wi, C1i, C2i) i=1,…, n+1, onde, n é o número de<br />

parâmetros do PSO e Ni é um número inteiro, que representa o tamanho do enxame.<br />

A variável Ni (tamanho do enxame) foi incluída com a finalidade de estimar seu valor<br />

ótimo. Este procedimento melhora a capacidade de busca do algoritmo híbrido e o<br />

torna independente dos parâmetros heurísticos, devido a que realiza uma busca,<br />

dirigida por parâmetros quase ótimos, de forma automática.<br />

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Um algoritmo estocastico para detecção de dano<br />

121<br />

a)<br />

Figura 4 - Heurística do PSOS. a) Funcionamento global. b) Iteração inicial (Simplex em duas<br />

dimensões) e c) Iteração final após uma reflexão.<br />

3 RESULTADOS NUMERICOS – PROBLEMA DE KABE<br />

Este é um dos testes mais populares para métodos de ajuste de modelos e<br />

detecção de dano. A estrutura é mostrada na Figura 2. Kabe (1985), utiliza dados<br />

modais e o método dos multiplicadores de Lagrange para incorporar as restrições de<br />

simetria e de força definidas dentro do procedimento e realizar o ajuste. Este problema<br />

é classificado como de difícil solução devido à grande diferença relativa entre as<br />

magnitudes dos coeficientes de rigidez e à alta densidade modal do sistema, com<br />

diferença máxima de 26,8% entre a primeira e a oitava freqüência natural e de 5,2%<br />

entre a primeira e a quarta freqüência.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 111-126, 2008


122<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

K 1<br />

K K 3 K 1<br />

K 5 6<br />

m 1 m 2 m 4 m 6 m 8<br />

K 2 K 4 K 2 K m 3 m 5 m 5<br />

7<br />

K 1<br />

K 3 K 1<br />

Figura 5 - Problema de Kabe.<br />

Neste exemplo, foram escolhidas como variáveis para o problema de otimização<br />

os seis coeficientes de rigidez Ki. Os valores exatos dos coeficientes Ki e mi são<br />

dados na Tabela 65. A função objetivo utilizada é a dada pela Equação (1).<br />

Tabela 1 - Coeficiente de rigidez e massa.<br />

K1 K2 K3 K4 K5 K6<br />

1000 10 900 100 1.5 2.0<br />

m1 m2 m3 m4 m5 m6 m7 m8<br />

0.001 1.0 1.0 1.0 1.0 1.0 1.0 0.002<br />

Na tabela 2 estão indicados os valores médios do tempo de processamento<br />

empregado para solucionar o exemplo (em segundos) (tm), assim como também: o<br />

valor médio do número de avaliações totais da função objetivo (NAm), o valor médio<br />

do número da avaliações da função objetivo aceitas (NAAm), o valor médio da função<br />

objetivo (fobjm), o desvio padrão dos valores da função objetivo (σ), e a confiabilidade<br />

(C),que expressa o número de vezes, do total de 10, que o algoritmo convergiu<br />

utilizando menos de 20000 avaliações da função objetivo. Também se apresentam, na<br />

Tabela 7, os melhores resultados obtidos para o exemplo. O valor t corresponde ao<br />

tempo de cálculo (em segundos) da melhor rodada, fobj é o valor da função objetivo,<br />

NA é o número total de chamadas da função objetivo e NAA é o número de avaliações<br />

da função objetivo aceitas (descidas).<br />

Adicionalmente a Tabela 2 mostra os resultados do ajuste, quando empregados<br />

dados experimentais simulados, gerados segundo a metodologia descrita por Kabe<br />

(1985) (colunas 1 e 2). As colunas 1 e 2 da Tabela 7 foram calculadas começando a<br />

busca desde um ponto inicial diferente (aleatório), e, em todos os 10 testes realizados,<br />

o algoritmo convergiu com menos de 20000 avaliações da função objetivo.<br />

Comparando os valores dos elementos da matriz de rigidez exata (coluna 5 da Tabela<br />

7) com os valores ajustados utilizando um e dois modos (colunas 1 e 2 da Tabela 6)<br />

nota-se que, o SA teve um bom desempenho. Quando comparado com o método de<br />

Kabe, pode observar-se que, o SA conseguiu melhores aproximações para 12 dos 16<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 111-126, 2008


Um algoritmo estocastico para detecção de dano<br />

123<br />

elementos da matriz [K]. Um teste realizado (não apresentado), empregando-se os<br />

três primeiros modos analíticos normalizados com relação à massa (sem ruído),<br />

reproduziu os valores exatos dos elementos da matriz de rigidez.<br />

O melhor desempenho do SA pode ser explicado pelo fato de a solução de Kabe<br />

utilizar, para o cálculo dos multiplicadores de Lagrange (Equação b, Figura 13), a<br />

informação modal contaminada com ruído, e, por sua vez empregar estes<br />

multiplicadores para determinar a matriz de rigidez ajustada [Y] (Equação a, Figura<br />

13). As referidas operações matriciais envolvem somas e multiplicações da matriz de<br />

formas modais e de freqüências naturais medidas, propagando-se assim os erros de<br />

medição para a solução como mostrado na Figura 13. A abordagem direta mediante o<br />

SA, e de forma geral, mediante métodos heurísticos, evita os passos intermediários e<br />

impede a propagação do erro devido ao uso de funções objetivo do tipo construídas a<br />

partir das Equações c, d e e da Figura 13.<br />

Figura 4 - Comparação entre as equações da solução de Kabe e a solução heurística.<br />

Os valores de temperatura inicial (T0), de redução de temperatura (θ ) e de<br />

tolerância (ξ), utilizados no algoritmo SA para realizar o exemplo apresentado (Tabela<br />

2) foram de 50, 0,5 e 1E-6, respectivamente. Um valor muito alto de T0 pode aumentar<br />

o tempo de computação sem adicionar precisão aos cálculos.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 111-126, 2008


124<br />

Oscar Javier Begambre Carrillo & José Elias Laier<br />

Tabela 2 - Resultados do ajuste. Problema de Kabe (1985).<br />

Elem.<br />

Matriz<br />

[K]<br />

Este trabalho Kabe (1985)<br />

Valor<br />

Exato<br />

[1] [2] [3] [4] [5]<br />

1 modo 2 modos 1 modo 2 modos<br />

(1,1) 2,45 1,53 1,70 1,50 1,50<br />

(1,2) -2,45 -1,53 -2,10 -1,40 -1,50<br />

(2,2) 1013,52 1012,81 1030,40 1010,90 1011,50<br />

(2,3) -10,00 -10,45 -10,10 -8,00 -10,00<br />

(3,3) 1111,07 1111,27 1276,60 1091,00 1110,00<br />

(3,5) -100,00 -100,00 -198,60 -88,80 -100,00<br />

(4,4) 1100,98 1101,06 1235,20 1098,10 1110,00<br />

(4,5) -100,00 -100,00 -178,60 -99,60 -100,00<br />

(4,6) -100,00 -100,00 -198,50 -99,60 -100,00<br />

(5,5) 1100,98 1101,06 1239,30 1094,00 1100,00<br />

(6,6) 1113,07 1114,25 1279,80 1113,50 1112,00<br />

(6,7) -10,00 -10,45 -10,00 -11,90 -10,00<br />

(6,8) -2,00 -2,98 -4,10 -3,10 -2,00<br />

(7,7) 1013,52 1012,81 1002,10 1013,60 1011,50<br />

(7,8) -2,45 -1,53 -2,00 -2,40 -1,50<br />

(8,8) 4,45 4,52 5,10 4,40 3,50<br />

NA 19201 19201 ___ ___ ___<br />

NAA 9012 8942 ___ ___ ___<br />

t 0,391 0,391 ___ ___ ___<br />

fobj 2,17 4,60 ___ ___ ___<br />

C 100% 100% ___ ___ ___<br />

tm 0,38 0,37 ___ ___ ___<br />

fobjm 2,17 4,60 ___ ___ ___<br />

σ 2,55E-08 9,89E-09 ___ ___ ___<br />

NAm 19021,00 18721,00 ___ ___ ___<br />

NAAm 8960,50 8730,80 ___ ___ ___<br />

Para a melhor rodada: t corresponde ao tempo de cálculo (em segundos), fobj é o valor da<br />

função objetivo. NA é o número total de chamadas da função objetivo e NAA é o número de<br />

avaliações da função objetivo aceitas (descidas). Para as 10 rodadas, tm é o tempo de<br />

processamento empregado para solucionar cada exemplo (em segundos). NAm é o valor<br />

médio do número de avaliações totais da função objetivo. NAAm é o valor médio do número da<br />

avaliações da função objetivo aceitas. fobjm é o valor médio da função objetivo. σ o desvio<br />

padrão dos valores da função objetivo. C é a confiabilidade que expressa o número de vezes,<br />

do total de 10, que o algoritmo convergiu utilizando menos de 20000 avaliações da função<br />

objetivo.<br />

4 CONCLUSÕES<br />

O algoritmo PSOS foi introduzido neste trabalho. A abordagem se baseia na<br />

combinação do PSO básico com o algoritmo Simplex não linear. As principais<br />

vantagens deste enfoque são sua alta precisão e estabilidade e sua independência de<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 111-126, 2008


Um algoritmo estocastico para detecção de dano<br />

125<br />

uma estimativa inicial dos parâmetros heurísticos e de um ponto para iniciar a busca.<br />

O algoritmo PSOS foi capaz de determinar o ótimo global de todas as funções teste<br />

com alta precisão, estabilidade e confiança, utilizando um número menor de<br />

avaliações da função, quando comparado com o Simulated Annealing.<br />

5 AGRADECIMENTOS<br />

Agradecemos ao CNPQ pelo apoio financeiro, sem o qual esta pesquisa não<br />

poderia ter sido realizada.<br />

6 REFERÊNCIAS<br />

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ISSN 1809-5860<br />

ESTUDO DA LOCALIZAÇÃO DE DEFORMAÇÕES<br />

ASSOCIADA AO EMPREGO DE MODELO<br />

CONSTITUTIVO DE DANO<br />

Larissa Driemeier 1 & Sergio Persival Baroncini Proença 2<br />

Resumo<br />

O plano de trabalho proposto insere-se no âmbito da linha de pesquisas em Mecânica<br />

de Materiais com aplicação da Mecânica do dano Contínuo, dando-se ênfase para a<br />

questão de localização de deformações decorrente do emprego de modelos constitutivos<br />

com encruamento negativo (softening). Em particular, a motivação é oferecer uma<br />

contribuição ao estudo de uma das técnicas de regularização da resposta numérica,<br />

que objetivam eliminar a dependência dos resultados com relação à discretização<br />

adotada. Tal técnica de regularização consiste na consideração de gradientes da<br />

variável de dano na formulação dos modelos constitutivos. Tanto aspectos teóricos<br />

como de aplicação numérica são explorados, destacando-se nos primeiros uma análise<br />

do efeito da inclusão de gradientes de ordem superior na relação constitutiva e o<br />

emprego do Método dos Elementos Finitos em sua formulação em variáveis<br />

generalizadas no segundo aspecto. Outros aspectos complementares são também<br />

discutidos, relacionados à formulação variacional e algoritmos de integração em passo<br />

finito dos modelos em estudo. Os exemplos de aplicação consistem de análises estática<br />

e dinâmica de estruturas, realizando-se um confronto com resultados disponíveis na<br />

literatura ou mesmo com observações experimentais de ensaios de laboratório.<br />

Palavras-chave: método dos elementos finitos; mecânica do dano; análise não linear;<br />

localização.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

1.1 Fenômeno de localização<br />

Muitos materiais empregados na engenharia, dúcteis e quasi-frágeis, apresentam<br />

resposta caracterizada por um regime elástico bem definido, onde todos os processos<br />

são considerados reversíveis, e um regime não elástico, resultante da manifestação de<br />

1 Doutora em Engenharia de Estruturas - EESC-<strong>USP</strong>, driemeie@usp.br<br />

2 Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-<strong>USP</strong>, persival@sc.usp.br<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


128<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

fenômenos irreversíveis que envolvem dissipação de energia e precedem a ruptura.<br />

Neste regime normalmente identificam-se respostas caracterizadas por encruamentos<br />

positivo (“hardening”) e negativo (“softening”), sendo que o negativo é conseqüente<br />

do aparecimento de pronunciados gradientes de deslocamento em zonas restritas do<br />

meio, chamadas zonas de localização de deformação.<br />

Na literatura a observação experimental da localização de deformações em metais é<br />

relatada em diversas publicações – Nadai 1 , Asaro 2 , Perzyna & Perzyna 3 e Olmstead et<br />

al.<br />

4 . As zonas de localização foram primeiramente observadas em ensaios<br />

experimentais de tração sobre corpos de prova metálicos, onde o fenômeno irreversível<br />

dominante é a plastificação. Já num estágio avançado da resposta não-linear as<br />

deformações plásticas acabam por se concentrar na forma de bandas de cisalhamento<br />

ou bandas de Lüder.<br />

No caso de materiais como o concreto, o fenômeno dissipativo dominante é a micro -<br />

fissuração, cuja evolução, normalmente decorrente do aumento dos níveis de solicitação<br />

mecânica, tende a concentrar-se em uma zona de largura muito pequena. A progressão<br />

da microfissuração nessa zona acaba por levar à formação de uma fissura discreta,<br />

conforme ilustra a Figura1. A largura e direção da zona de localização dependem do<br />

tipo de concreto e dos defeitos nele contidos, da geometria, condições de contorno e<br />

carregamento (Cedolin et al. 5 , Pamin 6 ).<br />

Na modelagem matemática de estruturas em concreto, pode-se tratar cada fissura<br />

individualmente, como sugere a mecânica da fratura, ou modelar o processo de<br />

evolução da microfissuração inteiramente via lei constitutiva local, válida ponto a<br />

ponto, como sugerem os modelos de meios contínuos equivalentes, como os da<br />

mecânica do dano.<br />

(a) (b) (c)<br />

Figura 1 - (a) Fissuração em estágio inicial de solicitação: distribuída ao longo da estrutura;<br />

(b) Localização do fenômeno de fissuração; (c) Formação da macrofissura.<br />

Apesar da abordagem pela mecânica da fratura ser mais representativa sob o ponto de<br />

vista físico, pois leva em conta diretamente a presença de uma descontinuidade no meio,<br />

ela pode ser de aplicação inviável em situações de fissuração difusa ou mesmo em uma<br />

análise estrutural de grande escala. Essa abordagem também pressupõe a existência<br />

inicial da fissura, desconsiderando todo o processo anterior de evolução da<br />

microfissuração e que pode ocorrer envolvendo ponderável dissipação de energia.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo constitutivo de dano<br />

129<br />

Por outro lado, ao empregar a modelagem fundamentada no pressuposto de meio<br />

contínuo, como prescreve a mecânica do dano, o maior problema que se apresenta é o<br />

da identificação de zonas de localização do dano e de suas orientações. Mesmo que seja<br />

adotada a modelagem contínua e supondo que tenha sido possível identificar uma região<br />

de localização, ainda uma outra questão surge: qual a largura da zona? Além disso,<br />

numa simulação numérica, alguma forma de adaptação da malha deve ser adotada para<br />

que se possa inserir dentro daquela zona elementos com lei de encruamento negativo<br />

bem definida.<br />

As questões anteriores relativas à abordagem contínua na verdade surgiram em<br />

conseqüência das dificuldades evidenciadas quando nas análises numéricas se passaram<br />

a incluir modelos constitutivos com encruamento negativo. Com o emprego de tais<br />

modelos, baseados em uma descrição local do comportamento do material, a largura da<br />

zona de localização tende progressivamente a zero, uma vez que a simulação procura<br />

encontrar uma condição de evolução e localização do dano compatível com uma fratura<br />

discreta. Para ilustrar essa dificuldade, basta imaginar, por simplicidade, uma malha<br />

composta por elementos de deformação constante, para os quais necessariamente a<br />

largura da zona de localização fica associada às suas dimensões. Repetindo-se uma<br />

mesma análise com malhas progressivamente mais refinadas, observa-se que a largura<br />

da zona tende a zero, obtendo-se soluções que convergem para uma resposta de energia<br />

dissipada nula. Matematicamente, diz-se que o problema de valor de contorno resulta<br />

mal colocado (no sentido de existência de um número finito de soluções linearmente<br />

independentes que dependem continuamente dos dados). Matematicamente ocorre perda<br />

de elipticidade das equações governantes se o tipo de análise for estática ou perda de<br />

hiperbolicidade se for análise dinâmica, (Benallal et al. 7 ). Em qualquer caso, a<br />

descrição numérica deixa de ser uma representação coerente da realidade física.<br />

Entretanto, é possível introduzir na formulação contínua técnicas ditas de regularização<br />

que preservam a condição matemática de elipticidade quando a zona de localização de<br />

deformações se desenvolve, provendo soluções numéricas representativas de problemas<br />

de valor de contorno envolvendo encruamento negativo e localização.<br />

Uma técnica bastante simples de regularização consiste em impor à zona de localização<br />

uma largura mínima e adotar uma condição de ruptura, ou de formação da fratura<br />

discreta, quando o estado de deformação dentro dela atingir certo valor limite. Para que<br />

a fixação de uma medida não pareça ser recurso sem fundamento, uma justificativa que<br />

se encontra na literatura é admitir que tal medida seja uma ‘propriedade’, normalmente<br />

referida como um “comprimento interno” do material.<br />

Mas uma maneira mais elegante e ao mesmo tempo matematicamente correta de<br />

implementar esta idéia consiste em formular o problema de modo que a largura da zona<br />

esteja implícita no modelo resultante. Essa alternativa é proporcionada pelos chamados<br />

modelos não-locais, como os modelos que introduzem gradientes de ordem superior da<br />

deformação plástica ou da variável de dano na função de escoamento ou de danificação<br />

- Frémond & Nedjar 8 , Peerlings et al. 9 , De Borst et al. 10 , Comi 11, 12 , Comi &<br />

Driemeier 13,14 . Este trabalho trata exatamente desse tipo de modelo.<br />

Há ainda outras técnicas de regularização que incluem um ‘comprimento interno’,<br />

destacando-se as seguintes: teoria micropolar – de Borst & Muhlhaus 15 , Steinmann &<br />

Stein 16 , Iordache & Willam 17 , integral não-local - Pijaudier-Cabot & Bazant 18 , energia<br />

de fratura – Oliver 19 .<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


130<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

Mas observado o aspecto de regularização da resposta numérica, resta outra questão<br />

importante: aonde se inicia a localização?<br />

Em muitos problemas a região de localização pode ser mais facilmente definida em<br />

função da distribuição de esforços (naturalmente nas zonas mais solicitadas), da<br />

presença de descontinuidades geométricas do meio ou mesmo das condições de<br />

vinculação. Porém quando ela depende da distribuição inicial de defeitos do material, a<br />

qual possui naturalmente grande aleatoriedade, a detecção da zona de localização tornase<br />

mais difícil de ser realizada numericamente. Neste caso, a simulação numérica deve<br />

recorrer a funções de distribuição para a identificação dos pontos mais frágeis do meio.<br />

Neste trabalho as questões relativas à aleatoriedade da distribuição dos defeitos não<br />

serão consideradas, sendo o objetivo principal o estudo de uma técnica de regularização.<br />

Assim snedo, quando necessário, opta-se por provocar a localização pela adoção de<br />

uma resistência menor em determinados pontos da estrutura.<br />

Nos próximos dois itens apresentam-se exemplos que ilustram a questão da nãoobjetividade<br />

de resposta numérica dos modelos locais.<br />

1.2 Exemplo barra axialmente tracionada<br />

Neste exemplo considera-se uma barra axialmente tracionada por uma carga aplicada na<br />

extremidade livre e engastada na outra extremidade. A barra é discretizada por n<br />

elementos finitos de deformação constante, conforme ilustra a Figura 2.<br />

L<br />

y<br />

x<br />

σ<br />

Figura 2 - Barra sujeita a carregamento uniaxial.<br />

A resposta admitida para o material é do tipo elástico com dano. Antes de alcançar a<br />

resistência à tração σ vale uma relação linear entre tensão (normal) σ e deformação ε,<br />

seguida de um pequeno regime de encruamento positivo próximo da tensão de pico.<br />

Depois de alcançada a resistência de pico, a resposta é descrita por uma curva de<br />

encruamento negativo de acordo.<br />

Para fins de provocar a localização, adota-se inicialmente uma resistência à tração um<br />

pouco menor para um dos n elementos. Impondo-se um processo de deformação<br />

controlada, uma vez alcançado o limite à tração, a evolução das deformações irá<br />

ocorrer, naquele elemento, com redução dos níveis de tensão normal até a ruptura da<br />

barra (condição de dano unitário ou próximo dele). Durante esse processo, os elementos<br />

vizinhos, nos quais a resistência à tração não foi excedida, irão descarregar<br />

elasticamente. A Figura 3 mostra, para o caso de n=3, a curva σxε de cada elemento<br />

característico, a saber: a Figura 3b refere-se ao elemento central com resistência à<br />

tração menor, que entra em regime de encruamento negativo até a ruptura, enquanto a<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo constitutivo de dano<br />

131<br />

Figura 3a mostra o descarregamento dos demais elementos. Convém ressaltar que os<br />

demais elementos descarregam com uma rigidez menor em função da danificação que<br />

apresentam já no regime de encruamento positivo.<br />

σ<br />

3<br />

σ<br />

3<br />

2<br />

2<br />

1<br />

1<br />

0<br />

ε<br />

0E+0 2E-4 4E-4 6E-4 8E-4 1E-3<br />

0<br />

ε<br />

0E+0 2E-4 4E-4 6E-4 8E-4 1E-3<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 3 - Curva σxε durante a análise em elementos finitos para n=3: (a) descarregamento<br />

dos elementos 1 e 3; (b) carregamento do elemento 2.<br />

Tomando-se, por outro lado, a deformação média da barra, definida pela relação<br />

comprimento final sobre inicial, a resposta para vários valores de n é mostrada na<br />

Figura 4.<br />

Uma resposta similar à ilustrada vale também para a relação carga-deslocamento no<br />

ponto de aplicação da carga. Percebe-se que não há objetividade de resultados com o<br />

refinamento da malha, isto é, não parece ocorrer convergência para uma única curva de<br />

ruptura pós-pico real. Isto ocorre porque as equações governantes prevêem o<br />

mecanismo de ruptura como uma linha, ou zona de localização com espessura zero. A<br />

solução por elementos finitos simplesmente tenta captar esta linha localizando as<br />

deformações em um único elemento, independente das dimensões deste.<br />

Um resultado que se observa na curva tensão - deformação média é o fenômeno ‘snapback’.<br />

Tal fenômeno tem a seguinte explicação: o descarregamento elástico dos<br />

elementos que não atingiram a tensão de pico proporciona recuperação de deformações<br />

em quantidades tais que juntas prevalecem sobre aquelas do único elemento em<br />

carregamento; assim, para um número infinito de elementos (n → ∞) a curva pós-pico<br />

tende à uma curva de descarregamento totalmente elástico.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


132<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

σ [MPa]<br />

4<br />

3<br />

1 elemento<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0.000 0.001 0.002 0.003 0.004 0.005<br />

[mm/mm]<br />

ε<br />

Figura 4 - Curva Tensão - Deformação média.<br />

Uma outra maneira de interpretar a resposta ‘snap-back’ e sua tendência para uma curva<br />

de descarregamento elástico quando n → ∞ é que neste tipo de simulação, porque a<br />

localização acompanha o tamanho dos elementos, a energia dissipada tende a zero com<br />

a redução do tamanho da zona de localização. A busca pela recuperação da objetividade<br />

da resposta numérica apóia-se na evidência experimental que a ruptura deve<br />

necessariamente envolver determinada quantidade de energia dissipada, o que acaba por<br />

proporcionar um argumento favorável à estratégia de limitação inferior do tamanho da<br />

zona de localização.<br />

1.3 Exemplo bidimensional<br />

A Figura 5a apresenta um exemplo adotado por de Borst et al. 20 , Sluys et al. 21 , Comi &<br />

Perego 22 em análises com um modelo de plasticidade com gradiente e por Comi 11 ,<br />

Comi & Driemeier 13 em análises com modelos de dano com gradiente. O caso é aqui<br />

considerado para ilustrar o problema que surge numa análise numérica com o emprego<br />

de um modelo de dano local, sem recurso à regularização pela estratégia do gradiente.<br />

σ<br />

σ(t)<br />

h<br />

σ max<br />

t<br />

b<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 5 - (a) Espécime analisado. (b) Carregamento adotado.<br />

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Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo constitutivo de dano<br />

133<br />

O espécime está sujeito a carregamento de compressão aplicado segundo a lei descrita<br />

na Figura 5b e foi analisado considerando-se uma condição de deformação plana. Para a<br />

discretização usaram-se quatro malhas diferentes formadas por células quadradas com<br />

quatro elementos triangulares de deformação constante.<br />

A Figura 6 mostra os estados deformados obtidos com diferentes discretizações. Neste<br />

exemplo a restrição imposta aos deslocamentos em pontos do contorno foi o fator<br />

indutor da formação da banda de localização. Pode-se perceber que com o refinamento<br />

da malha a banda de localização diminui de espessura, obtendo-se resultados diferentes<br />

para cada malha adotada.<br />

(a) (b) (c) (d)<br />

Figura 6 - Malhas deformadas ao final da análise.<br />

1.4 Um aceno à origem dos modelos com gradiente e aos modelos de<br />

regularização por viscosidade<br />

Na teoria clássica da plasticidade a função de escoamento (f) tem sua evolução<br />

governada por uma medida equivalente (γ) da deformação plástica. Para regimes de<br />

encruamento negativo a forma local do modelo constitutivo é ainda representativa<br />

quando as deformações plásticas se distribuem de modo difuso no meio, sendo que leis<br />

específicas de f(γ) podem ser identificadas a partir de observação experimental.<br />

Entretanto, o modelo local perde representatividade quando a deformação, a partir de<br />

certo valor, passa a se localizar em uma zona estreita. Para levar em conta o efeito da<br />

distribuição heterogênea da deformação propõe-se que f passe a depender também de<br />

gradientes de γ. Portanto, os termos relativos ao gradiente complementam a teoria<br />

clássica e por envolverem uma variação no espaço introduzem uma modelagem nãolocal,<br />

isto é, com informações sobre o comportamento do material em certa vizinhança<br />

do ponto considerado, Mühlhaus & Aifantis 23 .<br />

Por outro lado, vários autores argumentam ainda que a introdução de uma forma de<br />

dependência do tempo no modelo constitutivo também permite uma regularização do<br />

problema. Comi & Perego 24 apresentam um modelo de dano com viscosidade e<br />

mostram que para valores de dano superiores à 0,5 a resposta pode apresentar<br />

dependência em relação à discretização da estrutura. Dubé et al. 25,26 demonstram, por<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


134<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

outro lado, que a introdução da viscosidade impossibilita a formação de ondas<br />

estacionárias. Needleman 27 demonstrou o modelo viscoso também introduz um<br />

‘comprimento característico’ do material.<br />

2 MODELO DE DANO ADOTADO<br />

Considere-se o seguinte modelo de dano local, proposto por Comi et al. 28<br />

formulação é baseada na termodinâmica dos sólidos:<br />

cuja<br />

1<br />

ψ = ( − ) ε ε<br />

2 1 2<br />

D T E (1)<br />

σ<br />

∂ψ<br />

2<br />

∂ψ<br />

= = ( 1− D) Eε<br />

; Y =− = ( 1− D)<br />

ε⋅Eε<br />

(2)<br />

∂ε<br />

∂D<br />

1<br />

f = Y + b1( 1+ b2D)( 1− D)<br />

ε v −b3D−k≤0<br />

(3)<br />

2<br />

f ≤ 0 ; D& ≥ 0;<br />

f D&<br />

= 0<br />

(4)<br />

A equação 1 define a energia livre de Helmholtz escrita como função do tensor de<br />

deformações ε e da variável isótropa de dano (D). Na equação 2, Y é a variável<br />

termodinâmica associada ao dano, ou força termodinâmica, e que também pode ser<br />

interpretada como energia disponibilizada em correspondência ao nível de dano criado.<br />

O critério de danificação é definido pela função f e as condições de carregamentodescarregamento<br />

são dadas pelas relações 4; εv<br />

= I ⋅ ε é a deformação volumétrica (I é<br />

o tensor identidade de segunda ordem), b i e k são parâmetros não-negativos do<br />

material.<br />

Na equação 3, a parcela envolvendo a deformação volumétrica permite levar em conta o<br />

comportamento dissimétrico em tração e compressão, exibido em materiais como o<br />

concreto. O parâmetro k é uma quantidade de referência para a energia disponibilizada<br />

que define o aparecimento de dano. Os parâmetros b 1 e b 3 permitem definir a tensão de<br />

pico, com a existência ou não de encruamento positivo (‘hardening’), bem como a<br />

inclinação da curva durante o encruamento negativo (‘softening’).<br />

Esta lei constitutiva é uma simplificação da versão proposta por Comi et al. 28 .<br />

Importante observar que, de acordo com o modelo dado pelas equações 1-4, o dano<br />

tende para o valor limite D=1 com deformações tendendo ao infinito, mas a<br />

correspondente energia de fratura (definida conforme Bazant & Cedollin 29 ) é limitada.<br />

Uma versão não-local do mesmo modelo pode ser obtida introduzindo-se na função de<br />

escoamento gradientes espaciais da variável de dano D. Considera-se a seguinte forma<br />

geral que inclui termos com ‘gradientes de segunda e quarta ordem’, implicitamente aos<br />

laplacianos indicados:<br />

f<br />

c1 = flocal<br />

+<br />

aD D c 2<br />

Δ − D ≤ 0<br />

1 −<br />

2Δ (5)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo constitutivo de dano<br />

135<br />

sendo c 1 um parâmetro de difusão com dimensão de força, c 2 outro parâmetro de<br />

difusão com dimensão de força vezes comprimento ao quadrado e a um parâmetro<br />

adimensional variando entre 0 e 1.<br />

As parcelas não-locais da equação 5 são aqui referidas genericamente como termos de<br />

gradientes de segunda e quarta ordem da variável interna de dano. Trata-se de uma<br />

questão de afinidade com a nomenclatura adotada em toda a bibliografia estudada<br />

(destaca-se, entre outros, Slyus 30 , Pamim 6 , Mühlhaus & Aifantis 23 , Comi 11 ). Na verdade,<br />

Δ 2 da variável<br />

aqueles termos envolvem o Laplaciano ( )<br />

interna de dano, respectivamente.<br />

Δ e Laplaciano segundo ( )<br />

Três modelos diferentes, que são descritos a seguir, podem ser obtidos da equação (5)<br />

impondo-se valores particulares para os parâmetros c 1 , c 2 e a:<br />

• Modelo A - c = 0, a = 0, c > 0 - somente o termo com gradiente de segunda<br />

2 1<br />

ordem está presente no modelo, coincidindo com aquele proposto por Comi 10 ;<br />

• Modelo B - c2 = 0, a > 0, c1<br />

> 0 - somente o termo com gradiente de segunda<br />

ordem está presente no modelo, mas a função de difusão c1 ( 1 − aD)<br />

cresce com o<br />

valor do dano. Em particular o valor a = 1 será considerado;<br />

• Modelo C - c2 > 0, a = 0, c1<br />

qualquer - o termo com gradiente de quarta ordem<br />

também é considerado. Os dois parâmetros de difusão são constantes.<br />

A presença de termos diferenciais na função de escoamento implica que apropriadas<br />

condições de contorno da variável de dano devem ser especificadas. Neste trabalho, tais<br />

condições de contorno são expressas na forma proposta por Mühlhaus & Aifantis 7 para<br />

o caso de plasticidade, não havendo, porém, uma interpretação física para as mesmas:<br />

c<br />

1<br />

[ ∇ D ⋅ n] D = 0 em ΓD<br />

⎧<br />

⎨c1ΔD<br />

− c2∇ Δ<br />

⎩<br />

[ c ΔD]<br />

2<br />

n<br />

& , para os modelos A e B. (6)<br />

[ D] ⋅ n + c ΔDdivn<br />

( ) − div[ ΔDn]<br />

∇D&<br />

= 0 em Γ<br />

D<br />

2<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

s<br />

s<br />

para modeloC.<br />

⎤⎫<br />

⎬D&<br />

⎥ = 0<br />

⎦⎭<br />

em Γ<br />

onde Γ D é o contorno da região com D& > 0 . O gradiente ∇ foi dividido em gradiente<br />

de superfície ∇ s e gradiente normal n ∇ n : ∇ ≡ ∇+ n ∇ .<br />

s<br />

n<br />

D<br />

(7)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


136<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

2.1 Propagação de onda<br />

As características de cada modelo proposto podem ser avaliadas no contexto de um<br />

problema unidimensional de propagação de uma onda numa barra com dano.<br />

Pode-se mostrar que partindo de um estado homogêneo, a propagação de uma onda<br />

harmônica de freqüência ω, número de onda q, ao longo de uma barra com dano tem por<br />

correspondência campos de velocidade e de evolução do dano expressos na forma:<br />

( − ) ( − )<br />

u&<br />

v e iqx ω<br />

= t D&<br />

= D e<br />

iqx ω t<br />

(8)<br />

0 0<br />

Mediante a substituição direta nas equações de movimento, relação constitutiva e<br />

condição de carregamento, dadas por:<br />

& σ<br />

, x<br />

[ ]<br />

= ρ&&&<br />

u & σ = ( 1− DE ) ( 1− Du )& &<br />

, x −2Dε<br />

&f = 0<br />

conclui-se que a velocidade de fase c ω q ω /( π / λ)<br />

f ≡ =<br />

2 depende do número de<br />

onda q. Caracteriza-se, no caso, um meio dispersivo, onde a velocidade de fase varia e<br />

as ondas se dispersam.<br />

(9)<br />

Assumindo, por simplificação, na função de escoamento, b 1 = 0 e b3 = b, a<br />

velocidade de fase para os modelos A e B resulta:<br />

c<br />

f<br />

ω<br />

= = ( 1 − Dc )<br />

q<br />

e<br />

aD<br />

⎛ 3 2<br />

b E<br />

⎞<br />

⎟ + a<br />

⎡ 1 2<br />

− D Eε<br />

−bD −k ⎤<br />

c q<br />

⎝ ⎠ ⎣⎢<br />

⎦⎥ + 1 2<br />

2<br />

2<br />

aD<br />

⎛ 1 2<br />

b E<br />

⎞<br />

⎟ + a<br />

⎡ 1 2<br />

− D Eε<br />

−bD −k ⎤<br />

c q<br />

⎝ 2 ⎠ ⎣⎢ 2<br />

⎦⎥ + 1 2 (10)<br />

( 1−<br />

) ⎜ − ε ( 1 )<br />

( 1− ) ⎜ + ε ( 1 )<br />

e para o modelo C:<br />

c<br />

f<br />

ω<br />

= = ce<br />

−<br />

q<br />

( 1 D)<br />

3<br />

2<br />

1<br />

2<br />

2<br />

b− Eε<br />

+ c q + c q<br />

2<br />

1 2 2 4<br />

b+ Eε<br />

+ c q + c q<br />

1 2 2 4 (11)<br />

onde ce ≡<br />

E<br />

ρ é a velocidade de propagação da onda na barra elástica.<br />

Para o modelo local, a velocidade de propagação vale:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo constitutivo de dano<br />

137<br />

c<br />

f<br />

ω<br />

= = ( 1 − Dc )<br />

q<br />

e<br />

b−<br />

b+<br />

3<br />

2<br />

1<br />

2<br />

Eε<br />

Eε<br />

2<br />

2<br />

(12)<br />

e não depende de q ou ω.<br />

As velocidades de fase 10-11 são reais se o número de onda é tal que os numeradores<br />

destas equações são positivos. Deste modo, tem-se que apenas ondas com comprimento<br />

λ ≤ λ c propagam-se, onde:<br />

2π<br />

λ = ≡2π<br />

c<br />

q c<br />

(modelos A, B)<br />

ou<br />

2c<br />

2 2<br />

( 1−aD)( 3Eε<br />

− 2b) + a[ 2bD + 2k −( 1−<br />

D)<br />

Eε<br />

]<br />

1<br />

(13)<br />

2π<br />

λ = ≡2π<br />

c<br />

q c<br />

2c<br />

⎛ 3 ⎞<br />

− c1 + c1 2 2<br />

+ 4c2<br />

⎜ Eε<br />

−b⎟<br />

⎝ 2 ⎠<br />

2<br />

(modelo C)<br />

(14)<br />

As altas freqüências de propagação podem ser desconsideradas por não serem<br />

compatíveis com processos dissipativos do material. Nestas condições, obtém-se uma<br />

onda de localização harmônica estacionária de comprimento de onda λ = λ c ; este<br />

comprimento representa o comprimento interno de localização.<br />

A evolução da velocidade de fase com o número de onda é mostrada na Figura 7, para<br />

D = 0 e parâmetros do material: E = 20000 MPa, c e = 1000 m s ,<br />

b = k =0. 0002 MPa e c 1 , c 2 que forneçam o mesmo número de onda crítico<br />

q c = 0. 089 mm -1 . Apesar do comportamento qualitativo semelhante, i.e. a velocidade<br />

de fase cresce de zero à velocidade de propagação elástica, a presença do gradiente de<br />

quarta ordem induz um crescimento mais rápido com o número de onda.<br />

Considere estados homogêneos iniciais diferentes, caracterizados por valores fixos de<br />

dano e deformação pertencentes à função de escoamento, i. e.:<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


138<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

1<br />

( )<br />

2 1 2<br />

− DEε = bD+<br />

k<br />

(15)<br />

1 200<br />

800<br />

400<br />

___ c 1 =0.05 N, c 2 = 0.00 Nmm 2<br />

___ c 1 =0.00 N, c 2 = 6.25 Nmm 2<br />

___ c 1 =-1.0 N, c 2 =131.25 Nmm 2<br />

0<br />

0 . 0 0.4 0.8 1.2 1.6<br />

comprimento de onda [1/mm]<br />

Figura 7 - Velocidade de fase para modelos de dano A, B e C.<br />

Das equações 4.13 e 15, o comprimento característico apresenta a seguinte forma para<br />

os modelos A e B:<br />

λ = 2π<br />

c<br />

c ( 1 − D)<br />

( 1−aD)( 3k − b + 4bD<br />

)<br />

1 (16)<br />

Deve-se ressaltar ainda que se a=0 a largura da zona de localização diminui com o<br />

aumento do dano, iniciando com o valor 2<br />

π<br />

c<br />

1<br />

3k−<br />

b<br />

e tendendo a zero quando o dano<br />

tende ao valor crítico um (Figura 8, curva 3). Como conseqüência, o efeito de<br />

regularização do termo gradiente tende a desaparecer. Este comportamento, se por um<br />

lado é fisicamente admissível, uma vez que permite a simulação da transição de uma<br />

zona altamente danificada para uma fissura, por outro lado, requer um refinamento de<br />

malha adaptativo ou a transição de uma aproximação contínua para uma discreta na qual<br />

descontinuidades de deslocamento são consideradas. Se a=1, o comprimento<br />

característico também diminui com o dano, mas tende a um valor positivo não-nulo<br />

2π<br />

c<br />

1<br />

3k<br />

+ 3b<br />

, se D tende a um. Neste caso, a zona de localização não se torna uma<br />

linha (Figura 8, curva 4). Recupera-se, portanto, a objetividade de resposta em uma<br />

análise numérica com uma largura finita de banda.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo constitutivo de dano<br />

139<br />

80<br />

comprimento de onda crítico [mm]<br />

60<br />

40<br />

20<br />

1<br />

4<br />

2<br />

(1) c 1<br />

= - 1. N, c 2<br />

= 131.25 N mm 2 3<br />

(2) c 1<br />

= 0. N, c 2<br />

= 6.25 N mm 2 a=0<br />

(3) c 1<br />

= 0.05 N, c 2<br />

= 0. N mm 2<br />

(4) c 1<br />

= 0.05 N, c 2<br />

= 0. N mm 2 a=1<br />

0<br />

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0<br />

dano<br />

Figura 8 - Comprimento de onda crítico para modelo de gradiente de quarta e segunda ordem.<br />

Para o modelo C, das equações 14 e 15, tem-se:<br />

λ = 2π<br />

c<br />

2c<br />

1−<br />

D<br />

2<br />

( ) ( )<br />

−c 1− D + c 1− D + 4c 3k − b+<br />

4bD<br />

1 1 2 2<br />

(17)<br />

Novamente a largura da banda diminui com o aumento do dano, tendendo a zero<br />

quando o dano tende ao valor crítico unitário, mas vai a zero mais lentamente que no<br />

caso c 2 = 0 (comparem-se curvas 1 e 2 com curva 3 na Figura 8).<br />

3 IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO DE DANO<br />

3.1. Problema em passo finito<br />

Considere-se a evolução da resposta de um corpo de volume Ω e superfície Γ, sujeito a<br />

forças de volume F()<br />

t e forças de superfície f( t ) em Γ f<br />

, descrita pelo modelo de<br />

dano da seção anterior e equações de equilíbrio dinâmico e compatibilidade linear.<br />

Supõe-se t0, t1,..., tn, tn+ 1 = tn<br />

+ Δ t,...<br />

instantes de tempo ao longo do intervalo<br />

=<br />

onde a resposta dinâmica da estrutura está sendo observada, e admite-se que em t<br />

todos valores são conhecidos; então, a solução deve ser computada em t n+1 para dados<br />

incrementos Δ F e Δf<br />

de carga.<br />

Utilizam-se as aproximações para is incrementos de deslocamentos e velocidades:<br />

t n<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


140<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

Δu<br />

= Δtu&<br />

Δu&<br />

= Δtu&&<br />

n+<br />

γ<br />

n+<br />

γ<br />

= Δt<br />

= Δt<br />

[( 1 − γ ) u&<br />

n + γ u&<br />

n+<br />

1]<br />

[( 1 − γ ) u&&<br />

+ γ u&&<br />

]<br />

n<br />

n+<br />

1<br />

(18)<br />

com parâmetro γ ∈] 0 1 ] (os subscritos n, n+1 e n + γ representam valores em t n ,<br />

t n+1 e t n+γ respectivamente, e Δ • representa o incremento da variável • em t<br />

Δ ).<br />

As relações que descrevem o comportamento dinâmico em passo finito são obtidas<br />

impondo-se equilíbrio dinâmico e compatibilidade geométrica no final do passo. Em<br />

particular, resolvendo a equação 18 e integrando a lei constitutiva de acordo com um<br />

esquema implícito obtém-se:<br />

L T * *<br />

σn+ 1 + Fn+ 1 = ρ un+<br />

1<br />

em Ω; m = f<br />

σ n+<br />

1 n+<br />

1 em Γ (19)<br />

f<br />

Cu<br />

σ<br />

ε em Ω u = U 1 em Γ<br />

(20)<br />

n+ 1 = n+<br />

1 ; n+<br />

1 n+<br />

u<br />

( D )<br />

2<br />

n+ 1 n+ 1 n+<br />

1<br />

= 1 − E ε em Ω (21)<br />

f n+1 ≤ 0 em Ω (22)<br />

ΔD ≥ 0 Δ 0<br />

c<br />

1<br />

[ ∇ D ⋅ n] D = 0emΓD<br />

f n + 1 D =<br />

em Ω (23)<br />

& , para os modelos A e B. (24)<br />

⎧<br />

⎨c1ΔD<br />

⎩<br />

[ c ΔD<br />

]<br />

2<br />

n+<br />

1<br />

n+<br />

1<br />

n − c ∇ Δ<br />

n<br />

2<br />

∇ΔD<br />

[ D ] ⋅ n + c ΔD<br />

divn ( ) − div[ ΔD<br />

n]<br />

n+<br />

1<br />

n+<br />

1<br />

= 0 em Γ<br />

D<br />

2<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

n+<br />

1<br />

para modeloC.<br />

s<br />

s<br />

n+<br />

1<br />

⎤⎫<br />

⎥⎬ΔDn+<br />

1 = 0<br />

⎦⎭<br />

em Γ<br />

D<br />

(25)<br />

Nas relações acima, C é o operador diferencial de compatibilidade linear; m é a normal<br />

à superfície Γ; U é o vetor de deslocamentos impostos. Convém lembrar que os modelos<br />

A, B, C referem-se àqueles apresentados no item anterior, a partir da equação 5, para<br />

valores particulares dos parâmetros de difusão c1, c2<br />

e da constante a. Ainda,<br />

ρ * e F *<br />

n+1 são definidos como:<br />

ρ<br />

* ≡<br />

γ<br />

1<br />

2 2<br />

Δt<br />

*<br />

⎡ −<br />

ρ ; Fn+ ≡ Fn+<br />

+ ⎢<br />

1 γ<br />

⎤<br />

1 1 ρ u&&<br />

n + 1 u&<br />

n +<br />

1 u<br />

2 2 2 n⎥<br />

⎣ γ γ Δt<br />

γ Δt<br />

⎦<br />

(26)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo constitutivo de dano<br />

141<br />

* *<br />

O algoritmo de integração acima apresenta os parâmetros de Newmark γ , β de<br />

* *<br />

modo que: γ β<br />

= 2 ; ρ é a densidade de massa. Para γ = 12 (i.e. β * = 14,<br />

γ * = 12) obtém-se o método de aceleração média, que faz parte do programa de<br />

elementos finitos de Zienkiewicz & Taylor 31,32 .<br />

3.2 Processo iterativo de solução<br />

O problema não-linear do valor de contorno expresso em passo finito deve ser resolvido<br />

através de um processo iterativo. No esquema adaptado, cada iteração consiste em duas<br />

fases: uma fase linear de previsão e uma fase não-linear de correção (a Figura 5.1<br />

mostra, de maneira sistemática, a seqüência implementada, para as duas fases), e um<br />

teste de convergência:<br />

• Fase de previsão - Na iteração i+1 para um valor de dano fixo, igual ao valor<br />

encontrado no final do passo anterior D= D n , e com forças externas iguais às<br />

forças residuais da iteração anterior i, calcula-se uma estimativa para o vetor dos<br />

deslocamentos nodais u i+1 das equações lineares de equilíbrio e compatibilidade e<br />

lei de Hooke.<br />

• Fase de correção - com os valores das deformações da fase de previsão<br />

ε i + 1<br />

Lu<br />

i + 1<br />

= , determina-se o incremento de dano usando as condições de<br />

carregamento-descarregamento e as condições de contorno com<br />

i + 1<br />

i+<br />

1<br />

D n+ 1 = Dn<br />

+ ΔD<br />

e εn+<br />

1 = ε . Com o valor do dano calculado, atualizamse<br />

as tensões.<br />

• Teste de convergência – Calcula-se o vetor de forças residuais<br />

i +1<br />

F e<br />

i +1<br />

f com o<br />

valor corrente das tensões e verifica-se a convergência comparando a norma dos<br />

resíduos com um valor fixo da tolerância. Não se verificando convergência, realizase<br />

nova iteração.<br />

Utiliza-se uma formulação variacional para o problema em passo finito. Neste trabalho,<br />

elaboram-se dois funcionais independentes para as fases de previsão e correção do<br />

problema não-linear, conforme sugere Comi 11 para implementação numérica de<br />

modelos com gradientes em variáveis generalizadas. Balbo 33 , sob uma análise<br />

matemática, também propõe a resolução do problema procurando-se condições ótimas<br />

de dois funcionais distintos.<br />

Uma vez apresentados os funcionais, cada variável independentemente é discretizada,<br />

conforme o método dos elementos finitos em variáveis generalizadas. Variáveis<br />

generalizadas são discutidas em Corradi 34,35 , Comi & Perego 36,37 . As equações<br />

resultantes das condições ótimas dos funcionais discretizados são implementadas no<br />

programa em elementos finitos de Zienkiewicz & Taylor 31,32 .<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


142<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

3.2.1 Fase de previsão<br />

A formulação variacional da fase de previsão pode ser estabelecida empregando-se um<br />

funcional do tipo Hu-Washizu, como em Comi 11 . Ou seja, a fase de previsão é<br />

equivalente ao seguinte problema de ‘ponto-sela’:<br />

min<br />

u, ε<br />

max{ L ( u, ε , σ )}<br />

σ<br />

p<br />

L<br />

p<br />

−<br />

∫<br />

Ω<br />

F<br />

≡<br />

∫<br />

Ω<br />

iT<br />

1 T 1<br />

u dΩ + n<br />

2<br />

ρ<br />

*<br />

u<br />

2<br />

u dΩ −<br />

∫<br />

Γ<br />

f<br />

f<br />

iT<br />

∫<br />

Ω<br />

u dΓ<br />

2<br />

T<br />

T<br />

( 1-D<br />

) ε Eε<br />

dΩ + σ ( Cu−<br />

ε )<br />

∫<br />

Ω<br />

dΩ<br />

(27)<br />

A fase de previsão coincide com um problema dinâmico (integrado no tempo para obter<br />

um problema equivalente quase-estático) para um corpo elástico com módulo de<br />

elasticidade E ( 1 − Dn) 2 . Stolarski & Belytschko 38 analisam este tipo de problema<br />

baseando-se no clássico princípio misto da elasticidade Hu-Washizu.<br />

3.2.2 Fase de correção<br />

Para os valores de ε obtidos na fase de previsão ( ε ε )<br />

≡ i , pode-se escrever dois<br />

funcionais para a fase de correção, os quais diferem entre si somente da forma de<br />

discretização adotada. A solução dos seguintes problemas de minimização:<br />

1<br />

min { } ΔD<br />

∈K<br />

; K ≡ { ΔD∈C<br />

ΔD<br />

≥ 0 em Ω}<br />

ΔD<br />

L<br />

c<br />

a<br />

∫<br />

Ω<br />

+<br />

L c<br />

⎡ 1 2 T<br />

T<br />

T<br />

( ΔD) ≡<br />

∫ ( 1−<br />

D) ε Eε<br />

− 2( b1P<br />

ε − k) D − ( b1<br />

( b2<br />

−1)<br />

P ε − b3<br />

)<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

1<br />

2<br />

∫<br />

Ω<br />

D<br />

c<br />

1<br />

2 2 T 3<br />

D + b1b<br />

2P<br />

εD<br />

dΩ<br />

+<br />

⎢⎣ 2<br />

3<br />

⎥⎦<br />

Ω<br />

2⎛ 2 ⎞<br />

⎤<br />

⎜ −<br />

T<br />

T 2 2<br />

T 3 1 T 4<br />

1 D⎟ε<br />

Eε<br />

+ ( b1P<br />

ε − k) D + ( b1<br />

( b2<br />

−1)<br />

P ε − b3<br />

) D − b1b<br />

2P<br />

ε D ⎥dΩ +<br />

3<br />

3<br />

2<br />

⎝<br />

( ∇D)<br />

T<br />

⎠<br />

∇DdΩ<br />

para os modelos A e B apresentados no item anterior, e<br />

1<br />

min { } ΔD<br />

∈K<br />

; K ≡ { ΔD∈C<br />

ΔD<br />

≥ 0 em Ω}<br />

ΔD<br />

L c<br />

(28)<br />

⎦<br />

⎤<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo constitutivo de dano<br />

143<br />

L c<br />

+<br />

⎡1<br />

2 T<br />

T<br />

T<br />

( ΔD) ≡<br />

∫ ( 1 − D) ε Eε<br />

− 2( b1P<br />

ε − k) D − ( b1<br />

( b2<br />

− 1)<br />

P ε − b3<br />

)<br />

∫<br />

3<br />

Ω<br />

2<br />

b b<br />

1<br />

2<br />

P<br />

Ω<br />

T<br />

⎢⎣ 2<br />

3<br />

εD<br />

dΩ +<br />

∫<br />

Ω<br />

c<br />

1<br />

T<br />

2<br />

( ∇D) ∇DdΩ +<br />

∫c2<br />

( ∇ D)<br />

Ω<br />

T<br />

∇<br />

2<br />

DdΩ<br />

D<br />

2<br />

⎤<br />

dΩ<br />

⎥⎦<br />

(29)<br />

para o modelo C apresentado no item anterior, são também solução da fase de correção.<br />

P é o vetor de projeção isótropa ( P T ≡ { 1 1 1 0 0 0 } ) e K é o cone<br />

convexo de funções não-negativas e contínuas em suas primeiras derivadas. Para<br />

soluções fisicamente admissíveis, a solução deve ser restrita a D = D + ΔD<br />

≤1 .<br />

Uma formulação mista alternativa pode ser obtida para o modelo C pela introdução do<br />

gradiente do dano Θ como uma variável independente, adicionando ao funcional a<br />

restrição Θ = ∇D<br />

, ponderada por um mutiplicador de lagrange μ.<br />

Esta formulação requer continuidade C 0 para o campo de dano e é mais conveniente<br />

para a formulação em elementos finitos.<br />

* *<br />

*<br />

0<br />

min max{ L c } ΔD<br />

∈K<br />

; ; K ≡<br />

μ<br />

{ ΔD<br />

∈C<br />

ΔD<br />

≥ 0 em Ω}<br />

ΔD<br />

*<br />

L c<br />

+<br />

⎡1<br />

2 T<br />

T<br />

T<br />

( ΔD,<br />

Θ;<br />

μ) ≡<br />

∫ ( 1−<br />

D) ε Eε<br />

− 2( b1P<br />

ε − k) D − ( b1<br />

( b2<br />

−1)<br />

P ε −b3<br />

)<br />

∫<br />

Ω<br />

2<br />

b1b<br />

2P<br />

3<br />

T<br />

εD<br />

Ω<br />

3<br />

⎢⎣ 2<br />

dΩ +<br />

∫<br />

Ω<br />

c Θ<br />

1<br />

2<br />

dΩ +<br />

∫<br />

Ω<br />

c<br />

2<br />

T<br />

( ∇Θ) ∇ΘdΩ + 2μ( ∇D<br />

− Θ)<br />

∫<br />

Ω<br />

n<br />

dΩ<br />

Uma importante característica da formulação é que o incremento de dano nos problemas<br />

de mínimo 28-29 e de ponto-sela 30 possui a restrição somente de não ser negativo.<br />

Além disso, pode-se provar que as condições de contorno (equações 24 e 25) são<br />

satisfeitas implicitamente para os funcionais acima, conforme demonstram Comi &<br />

Perego 37 para o caso de modelo elastoplástico com gradiente de segunda ordem, e<br />

Comi 11 e Comi & Driemeier 13 para modelo elástico com dano com gradiente segundo e<br />

gradientes segundo e quarto, respectivamente.<br />

D<br />

2<br />

⎤<br />

dΩ<br />

⎥⎦<br />

(30)<br />

3.3 Implementação em elementos finitos com variáveis generalizadas<br />

3.3.1 Fase de previsão<br />

O funcional da fase de previsão discretizado tem a seguinte forma:<br />

min max<br />

δu,<br />

δε<br />

δσ<br />

{ L p } com<br />

δu<br />

= 0 on Γu<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


144<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

+<br />

∫<br />

Ω<br />

Ω<br />

Ω<br />

( 1-N<br />

D )<br />

1 T T<br />

1<br />

T T<br />

L ≡<br />

∫<br />

u N u N u u dΩ +<br />

2<br />

p ρ * δ δ<br />

∫ D n<br />

δε N EN δε dΩ +<br />

2<br />

2<br />

ε ε<br />

(31)<br />

T T<br />

δσ N<br />

σ<br />

iT<br />

( C N )<br />

u<br />

δu<br />

− N<br />

ε<br />

δε dΩ − F<br />

∫<br />

N uδu<br />

dΩ −<br />

∫<br />

As condições ótimas do problema 31 são:<br />

Ω<br />

Γf<br />

iT<br />

f N<br />

δu<br />

dΓ<br />

T i<br />

+ C δσ F<br />

(32)<br />

L δu<br />

=<br />

δσ = E ~ n δε<br />

Cu δ δε<br />

u<br />

(33)<br />

= (34)<br />

onde os seguintes vetores e matrizes generalizados são definidos:<br />

L ≡<br />

i<br />

∫<br />

Ω<br />

ρ N<br />

∫<br />

T<br />

T<br />

u<br />

N<br />

dΩ;<br />

C ≡<br />

F ≡ N u F dΩ+<br />

N u F dΓ;<br />

Ω<br />

Γ f<br />

E ~ ≡ E ~ D<br />

n<br />

*<br />

i<br />

u<br />

∫<br />

dΩ;<br />

2<br />

T<br />

( n) ≡<br />

∫ ( 1 − N DDn) N ε EN ε dΩ;<br />

Ω<br />

T<br />

∫<br />

Ω<br />

i<br />

N<br />

T<br />

σ<br />

CN<br />

u<br />

(35)<br />

L, ρ , F e f foram já definidos. As equações 32-34 governam o problema discreto de<br />

previsão. As equações 32 e 34 expressam o equilíbrio dinâmico e a compatibilidade na<br />

forma fraca, enquanto a equação 33 é a lei de Hooke discretizada.<br />

3.3.2 Fase de correção<br />

O funcional da fase de correção, mostrado na equação 28, discretizado é dado por:<br />

min<br />

ΔD<br />

L c<br />

−<br />

+<br />

∫<br />

Ω<br />

∫<br />

Ω<br />

{ L } com ΔD<br />

≥ 0<br />

≡<br />

∫<br />

Ω<br />

c<br />

2 T T<br />

T<br />

( 1−<br />

N ( D + ΔD<br />

)) ε N E N ε − 2( b P N ε −b<br />

) N ( D + ΔD<br />

)<br />

T<br />

2 2 T<br />

( b ( b −1)<br />

P N ε −b<br />

)( N ( D + ΔD<br />

)) dΩ + b b P N ε ( N ( D + ΔD<br />

))<br />

c ∇<br />

1<br />

1<br />

1<br />

2<br />

2<br />

3<br />

T<br />

( N ( D + ΔD<br />

)) ∇( N ( D + ΔD<br />

))<br />

D<br />

D<br />

n<br />

ε<br />

n<br />

D<br />

n<br />

dΩ<br />

As condições ótimas de Kuhn-Tucker do problema 36 são:<br />

D<br />

n<br />

ε<br />

ε<br />

1<br />

∫<br />

Ω<br />

3<br />

1<br />

ε<br />

2<br />

4<br />

ε<br />

D<br />

D<br />

n<br />

n<br />

dΩ<br />

3<br />

(36)<br />

dΩ<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo constitutivo de dano<br />

145<br />

( ) ( ( ) )( Δ ) ( Δ )<br />

f ≡ϕ ε − a ε + b + c D + D − d ε, D + D −k ≤0<br />

,<br />

T 0<br />

ΔD ≥ 0 , f ΔD=<br />

n<br />

n<br />

(37)<br />

onde os seguintes vetores e matrizes generalizados são definidos:<br />

T⎛<br />

1 T T T ⎞<br />

ϕ( ε)<br />

≡ ∫ N D⎜<br />

ε Nε<br />

ENεε + b1P N ε⎟<br />

⎝<br />

e dΩ;<br />

2<br />

⎠<br />

Ω<br />

⎛ 1 T T T ⎞ T<br />

a( ε) ≡∫<br />

⎜ ε Nε ENεε −b1( b2<br />

−1)<br />

P Nεε⎟<br />

N DN<br />

⎝ 2<br />

⎠<br />

b ≡<br />

c ≡<br />

d<br />

∫<br />

Ω<br />

∫<br />

Ω<br />

b<br />

c<br />

1<br />

3<br />

Ω<br />

N<br />

N<br />

( ∇N<br />

)<br />

T<br />

dΩ;<br />

∇N<br />

D<br />

dΩ;<br />

T T<br />

T T<br />

( ε ,D + ΔD<br />

) ≡ b b P N εε N ( D + ΔD<br />

) N N ( D + ΔD<br />

)<br />

n<br />

T<br />

D<br />

D<br />

D<br />

∫<br />

Ω<br />

D<br />

1<br />

dΩ;<br />

k ≡<br />

2<br />

∫<br />

Ω<br />

N<br />

D<br />

T<br />

D<br />

k dΩ;<br />

n<br />

D<br />

D<br />

n<br />

dΩ<br />

(38)<br />

Para o caso de um parâmetro de difusão não constante ( a ≠ 0 ), optou-se por<br />

b1 = b2 = 0, e b3 = b. O funcional discretizado obtido é análogo ao anterior e, por<br />

brevidade, expõem-se aqui somente as matrizes finais:<br />

ϕ<br />

a<br />

( ε )<br />

( ε )<br />

b ≡<br />

c ≡<br />

d<br />

∫<br />

Ω<br />

∫<br />

Ω<br />

≡<br />

≡<br />

∫<br />

Ω<br />

∫<br />

Ω<br />

( 1 a)<br />

⎛ +<br />

⎜<br />

⎝ 2<br />

( b − ak)<br />

c<br />

1<br />

N<br />

( ∇N<br />

)<br />

⎛ 1<br />

⎜ ε<br />

⎝ 2<br />

N<br />

∇N<br />

⎛ 1<br />

⎜<br />

⎝ 2<br />

dΩ;<br />

dΩ;<br />

k ≡<br />

⎞<br />

ε ⎟ dΩ;<br />

⎠<br />

⎞<br />

ε ⎟N<br />

⎠<br />

dΩ;<br />

kdΩ;<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

T T<br />

T<br />

T T<br />

( ε,D<br />

+ ΔD<br />

) ≡ a ε N E N ε − b N ( D + ΔD<br />

) N N ( D + ΔD<br />

) dΩ<br />

n<br />

T<br />

D<br />

D<br />

T<br />

ε<br />

T<br />

D<br />

∫<br />

Ω<br />

T<br />

T<br />

N<br />

N<br />

N<br />

D<br />

D<br />

T<br />

ε<br />

T<br />

ε<br />

E N<br />

E N<br />

de acordo com a equação 37a.<br />

ε<br />

ε<br />

ε<br />

∫<br />

Ω<br />

N<br />

T<br />

D<br />

T<br />

D<br />

ε<br />

N<br />

D<br />

D<br />

n<br />

D<br />

D<br />

n<br />

(39)<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


146<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

Para a fase de correção do modelo C de dano, adaptou-se uma formulação mista (Comi<br />

& Driemeier 13 ), de modo que apenas continuidade C 0 é requerida para aproximação do<br />

campo de dano, mesmo quando termos de quarta ordem estão presentes no funcional.<br />

A formulação variacional mista pode ser obtida introduzindo o gradiente de dano Θ<br />

como uma variável independente e adicionando ao funcional a restrição Θ =∇D ,<br />

ponderada por um multiplicador de Lagrange μ.<br />

O funcional discretizado assume a forma:<br />

min<br />

max<br />

ΔD, Θ μ<br />

+<br />

*<br />

{ } com ΔD<br />

≥ 0<br />

L c<br />

* ⎡1<br />

2 T<br />

2 ⎤<br />

L c ( ΔD,<br />

Θ;<br />

μ) ≡<br />

∫ ( 1−<br />

N DD<br />

) ε Eε<br />

+ 2k<br />

N DD<br />

+ b3<br />

( N DD<br />

) dΩ<br />

(40)<br />

⎢⎣ 2<br />

⎥⎦<br />

+<br />

2<br />

T<br />

( N Θ) dΩ + c ( ∇N<br />

Θ) ( ∇N<br />

Θ)<br />

∫c1<br />

D ∫ 2 D<br />

Ω<br />

Ω<br />

T<br />

∫<br />

2( N μ μ ) ( ∇N<br />

DD<br />

− N DΘ)<br />

Ω<br />

Ω<br />

dΩ<br />

D<br />

dΩ<br />

O problema de complementaridade da forma discreta da fase de correção é dado por:<br />

( ) ( ( ) )( Δ ) ( Δ )<br />

f ≡ϕ ε − a ε + b D + D + d ε, D + D −k − gμ<br />

≤0 (41)<br />

n<br />

ΔD ≥ 0 ,<br />

T<br />

f ΔD=<br />

0<br />

(42)<br />

c1Θ+ c2Θ<br />

− hμ =0<br />

(43)<br />

T T<br />

g D −h<br />

Θ =0<br />

(44)<br />

n<br />

onde:<br />

g ≡<br />

c<br />

2<br />

∫<br />

Ω<br />

≡<br />

( ∇N<br />

)<br />

∫<br />

Ω<br />

c<br />

2<br />

D<br />

T<br />

N<br />

μ<br />

dΩ;<br />

≡<br />

T<br />

( ∇N<br />

Θ<br />

) ∇N<br />

ΘdΩ;<br />

h ≡<br />

∫<br />

c<br />

1<br />

∫<br />

Ω<br />

c N<br />

1<br />

Ω<br />

N<br />

T<br />

Θ<br />

T<br />

Θ<br />

N<br />

N<br />

Θ<br />

μ<br />

dΩ;<br />

dΩ<br />

(45)<br />

Considera-se n D , n Θ e n μ o número de variáveis generalizadas D , Θ e m,<br />

e<br />

respectivamente, considerando todo a malha de elementos finitos e n D , n<br />

e<br />

Θ e n e μ o<br />

número das mesmas variáveis por elemento.<br />

Na modelagem o multiplicador de lagrange μ é descontínuo através dos elementos. Tal<br />

opção permite desacoplar a equação 44 ao nível de elemento, podendo-se condensar<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo constitutivo de dano<br />

147<br />

tanto os graus de liberdade Θ dos pontos internos quanto o número de multiplicadores<br />

generalizados de Lagrange por elemento n e μ . Por exemplo, se μ é constante em um<br />

elemento n e μ = 1, como para o elemento de treliça de três nós, TRU-3, uma variável<br />

generalizada interna Θ i pode ser eliminada. Deste modo, as n Θ equações 43 permitem<br />

calcular as n μ variáveis μ e as (nΘ − n μ ) variáveis restantes Θ como função de<br />

todas as variáveis D . Devido à necessidade de continuidade do campo aproximado Θ ,<br />

esta parte deve ser processada em escala estrutural, mas apenas uma vez na análise toda.<br />

Finalmente, substituindo estes valores na função generalizada de danificação 41 obtémse<br />

a fase de correção discretizada, na forma de um problema de complementariedade<br />

não- linear, diretamente obtido do princípio da mínima energia:<br />

( ) ( )<br />

( ) ( )<br />

f ≡ϕ ε − a ε + b D + d ε, D −k −GD ≤0<br />

,<br />

T<br />

ΔD ≥ 0,<br />

f ΔD=<br />

0<br />

(46)<br />

onde a matriz G , que depende das matrizes de interpolação NΘ , N D e N μ ,<br />

considera os termos gradientes.<br />

O processo de solução do problema seguido neste trabalho para a fase de correção pode<br />

ser interpretado como ‘Método de restrições discretas de Kirchhoff’ (discrete Kirchhoff<br />

constraints approach). Tal método foi introduzido por Zienkiewicz & Taylor 31 no<br />

contexto da formulação de elementos de viga, membrana e casca, desprezando-se a<br />

deformação por cisalhamento.<br />

Os problemas da fase de correção são facilmente resolvidos, uma vez que os conjuntos<br />

de equações 37 e 41-42 têm a forma de um problema de complementariedade nãolinear<br />

(PCNL). Caso d = 0 tem-se o problema de complementariedade linear (PCL) e<br />

a solução é menos complexa.<br />

4 Exemplos<br />

4.1 Exemplo teórico unidimensional<br />

Para o exemplo unidimensional, considerem-se as discretizações em 40 (malha 1), 80<br />

(malha 2) e 160 (malha 3) elementos de uma barra dinamicamente tracionada, conforme<br />

Figura 9. Para integração dinâmica, a amplitude do passo de tempo é Δt = 5x10 -7 . Com<br />

relação à carga aplicada F(t), σ refere-se à tensão máxima, a partir da qual se inicia a<br />

danificação do material e o regime de amolecimento.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


148<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

F ( t )<br />

L<br />

⎧ 0 para t < 0<br />

= ⎨<br />

⎩0.<br />

53σ<br />

A para t ≥ 0<br />

L = 100 mm<br />

A =1mm<br />

ρ = 2 ⋅10<br />

b<br />

b<br />

1<br />

3<br />

= b<br />

2<br />

= b<br />

4<br />

2<br />

−8<br />

= 0<br />

Ns<br />

= 2×<br />

10<br />

E = 20000MPa<br />

Figura 9 - Exemplo unidimensional: dados geométricos, de carregamento e do material.<br />

F(t)<br />

F(t)<br />

F(t)<br />

2<br />

−4<br />

mm<br />

4<br />

MPa<br />

A Figura 10 mostra a reação no engaste em função do tempo (linhas sólidas), para as<br />

três diferentes malhas, com o modelo A de dano a gradiente (c 1 = 0.05N, c 2 = 0, a = 0).<br />

A linha pontilhada representa a solução elástica. O bloco de onda anda elasticamente até<br />

encontrar o engaste. Devido à reflexão, a tensão dobra ( σ = 1. 06σ<br />

) e se inicia a<br />

danificação ao longo da barra. O exemplo mostra que há independência dos resultados<br />

em relação à discretização adotada.<br />

R [N]<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0.0E+0 5.0E-5 1.0E-4 1.5E-4 2.0E-4 2.5E-4<br />

t [s]<br />

Figura 10 - Evolução da reação no engaste para as três malhas.<br />

A barra da Figura 9 é analisada para valores particulares dos parâmetros de difusão e da<br />

constante a: c 1 = 0.<br />

05N , c2<br />

= 0,<br />

a = 0 (modelo A), c 1 = 0.<br />

05N , c2<br />

= 0,<br />

a = 1<br />

2<br />

(modelo B) e c 1 = 0.<br />

05N , c2<br />

= 12 Nmm , a = 0 (modelo C). Os perfis de dano no<br />

final das análises, são mostrados na Figura 11a,b,c, respectivamente. Eles convergem<br />

rapidamente para um perfil independente da malha, com o refinamento. A evolução do<br />

dano durante a análise, para a malha 2, é mostrada nas Figuras 11d,e,f.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo constitutivo de dano<br />

149<br />

Figura 11 - Dano no final das análises e sua evolução para os modelos A(a,d), B(b,e) e C(c,f).<br />

A evolução do dano durante as análises dos modelos A e B, em alguns elementos da<br />

malha 3, é mostrada nas Figuras 12a,b, respectivamente (elemento 1 é o elemento mais<br />

próximo ao engaste e o elemento 60 é o último elemento que se danifica durante a<br />

análise). No início do processo de danificação, de t = 10 -4 e t = 1.4 x 10 -4 s, a zona de<br />

localização aumenta e um número cada vez maior de elementos entra em regime de<br />

danificação; depois surge a zona de localização e sua largura diminui; os elementos<br />

distantes do engaste descarregam e o dano estaciona para um número cada vez maior de<br />

elementos. Percebe-se que, para o modelo B, este fenômeno é menos pronunciado.<br />

D<br />

1.0<br />

1<br />

5<br />

D<br />

1.0<br />

1<br />

5<br />

0.8<br />

10<br />

0.8<br />

10<br />

0.6<br />

15<br />

0.6<br />

15<br />

0.4<br />

0.2<br />

0.0<br />

0.0E+0 1.0E-4 2.0E-4 3.0E-4<br />

t [s]<br />

20<br />

25<br />

30<br />

35<br />

40<br />

50<br />

60<br />

0.4<br />

0.2<br />

0.0<br />

0.0E+0 1.0E-4 2.0E-4 3.0E-4<br />

t [s]<br />

(a)<br />

(b)<br />

Figura 12 - (a) Evolução do dano para modelo A. (b) Evolução do dano para modelo B.<br />

20<br />

25<br />

30<br />

35<br />

40<br />

50<br />

60<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


150<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

4.2 Viga com entalhe<br />

O terceiro exemplo bidimensional refere-se a um teste em uma viga com entalhe de<br />

concreto, analisada por Meyer et al. 39 assumindo uma aproximação de fissuração<br />

contínua (smeared crack approach). Os testes experimentais deste exemplo também<br />

foram realizados por Meyer et al. 39 com controle de deslocamentos. A Figura 13 mostra<br />

os dados geométricos da viga e os parâmetros do modelo A de dano, obtidos de maneira<br />

a melhor adaptar a curva numérica de tração uniaxial do concreto àquela experimental<br />

fornecida em Meyer et al. 39 . A análise foi feita usando três malhas A, B e C de 724,<br />

1412 e 2148 elementos triangulares a deformação plana (Figura 14).<br />

2000 mm<br />

largura = 50 mm<br />

100 mm<br />

200mm<br />

Figura 13 - Geometria da viga e parâmetros do material.<br />

E = 30000 N/mm 2<br />

b 1 = 32.0 N/mm 2<br />

b 2 = 0<br />

b 3 = 0.0004 N/mm 2<br />

k = 0.001 N/mm 2<br />

c 1 = 9.0 N<br />

(a) (b) (c)<br />

Figura 14 - Malhas usadas na análise da estrutura: (a) 724 (malha 1), (b) 1412 (malha2) e (c)<br />

2148 (malha 3) elementos.<br />

Na Figura 15, mostra-se as respostas Força - Deflexão. Pode-se observar uma boa<br />

aproximação entre resultados numéricos e experimentais. Além disso, as curvas<br />

computadas convergem para uma solução independente da malha, com o refinamento,<br />

também no ramo descendente.<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


Estudo da localização de deformações associada ao emprego de modelo constitutivo de dano<br />

151<br />

F [N]<br />

1000<br />

800<br />

Dados experimentais,<br />

conforme M eyer et al [1994]<br />

600<br />

400<br />

724 elementos<br />

200<br />

1412 elementos<br />

2148 elementos<br />

0<br />

0.00 0.30 0.60 0.90<br />

deflexão [mm]<br />

Figura 15 - Curva Força (P) - Deflexão (u).<br />

A Figura 16 compara as configurações deformadas, para uma deflexão de 0.5 mm,<br />

obtida com as três malhas (fator de ampliação 300). Devido à localização do dano, altas<br />

deformações podem ser observadas perto do entalhe, mas a configuração de deformação<br />

é praticamente independente da malha.<br />

(a) (b) (c)<br />

Figura 16 - Configuração da deformada com deslocamento central imposto de 0.5 mm, para<br />

as malhas (a) 1, (b) 2 e (c) 3.<br />

5 SÍNTESE E CONCLUSÕES<br />

O trabalho enfoca o problema de localização de deformações decorrente do emprego de<br />

modelos constitutivos com ‘softening’. Inicialmente, descreve-se o fenômeno da<br />

localização que, em uma análise numérica, explica o surgimento de problemas como a<br />

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 46, p. 127-155, 2008


152<br />

Larissa Driemeier & Sergio Persival Baroncini Proença<br />

dependência dos resultados com a discretização adotada. Em outras palavras, nos<br />

modelos constitutivos clássicos, baseados em uma descrição local do comportamento do<br />

material, a largura da zona de localização tende a zero, uma vez que a simulação<br />

procura encontrar uma condição compatível com uma fratura discreta.<br />

Entre as técnicas de regularização da resposta numérica propostas na literatura, o<br />

trabalho trata daquela que consiste na inclusão de gradientes de ordem superior na<br />

função de escoamento. Os parâmetros que acompanham os termos com gradiente são<br />

chamados parâmetros de difusão e são considerados neste trabalho, como características<br />

do material.<br />

Segue o estudo de regularização dos modelos elásticos com dano. Diferentemente do<br />

modelo elasto-plástico, regularizado com gradientes segundo e quarto e com parâmetros<br />

de difusão constantes, não se apresenta, no modelo de dano, uma largura de banda fixa e<br />

finita, sendo que a mesma tende a zero na medida que o valor do parâmetro de dano<br />

tende à unidade. Três modelos com gradiente foram estudados: gradiente segundo com<br />

parâmetro de difusão constante, gradiente segundo com parâmetro de difusão nãoconstante,<br />

gradientes segundo e gradiente quarto com parâmetros de difusão constantes.<br />

Novamente a questão da largura da banda de localização foi abordada via uma análise<br />

de propagação de ondas. Conclui-se que é possível reproduzir uma largura finita ao<br />

final da análise, no caso de parâmetros de difusão variáveis com o dano; o gradiente<br />

quarto tende a retardar o processo de formação da descontinuidade, ou largura nula.<br />

Os modelos apresentados foram implementados com o emprego do Método dos<br />

Elementos Finitos em sua formulação em variáveis generalizadas. A base variacional de<br />

tal técnica permite uma implementação numérica do modelo a gradiente sem a<br />

necessidade de impor a priori condições extra de contorno. Os exemplos ilustram os<br />

diversos aspectos do modelo, evidenciados nas análises teóricas, e apontam limites de<br />

aplicabilidade da técnica de regularização adotada.<br />

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