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REVISTA DE<br />

MORFOLOGIA<br />

URBANA<br />

Revista da Rede Portuguesa de Morfologia Urbana<br />

2014<br />

Volume 2<br />

Número 1


Editor:<br />

Editores Associados:<br />

Editor dos Book Review:<br />

Editor Assistente:<br />

Consultores:<br />

Quadro Editorial:<br />

Vítor Oliveira, Universidade do Porto, Portugal, vitorm@fe.up.pt<br />

Frederico de Holanda, Universidade de Brasília, Brasil<br />

Paulo Pinho, Universidade do Porto, Portugal<br />

Teresa Marat-Mendes, Instituto Universitário de Lisboa, Portugal,<br />

marat.mendes@gmail.com<br />

Mafalda Silva, Universidade do Porto, Portugal<br />

Giancarlo Cataldi, Università degli Studi di Firenze, Itália<br />

Jeremy Whitehand, University of Birmingham, Reino Unido<br />

Kai Gu, University of Auckland, Nova Zelândia<br />

Michael Conzen, University of Chicago, Estados Unidos da<br />

América<br />

Peter Larkham, Birmingham City University, Reino Unido<br />

Isabel Martins, Universidade Agostinho Neto, Angola<br />

Jorge Correia, Universidade do Minho, Portugal<br />

José Forjaz, Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique<br />

Judite Nascimento, Universidade de Cabo Verde, Cabo Verde<br />

Luiz Amorim, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil<br />

Mário Fernandes, Universidade do Porto, Portugal<br />

Renato Leão Rego, Universidade Estadual de Maringá, Brasil<br />

Sandra Pinto, Universidade Nova de Lisboa, Portugal<br />

Sílvio Soares Macedo, Universidade de São Paulo, Brasil<br />

Stael de Alvarenga Pereira Costa, Universidade Federal de Minas<br />

Gerais, Brasil<br />

Teresa Marat-Mendes, Instituto Universitário de Lisboa, Portugal<br />

Os autores são os únicos responsáveis pelas opiniões expressas nos textos publicados na<br />

‘Revista de Morfologia Urbana’. Os Artigos (não deverão exceder as 6 000 palavras, devendo<br />

ainda incluir um resumo com um máximo de 200 palavras), as Perspetivas (não deverão exceder<br />

as 1 000 palavras), os Relatórios e as Notícias referentes a eventos futuros deverão ser enviados<br />

ao Editor. As normas para contributos encontram-se na página 2.<br />

Desenho original da capa - Karl Kropf. Desenho das figuras - Vítor Oliveira<br />

REDE PORTUGUESA DE MORFOLOGIA URBANA ISSN 2182-7214


REVISTA DE MORFOLOGIA URBANA<br />

Revista da Rede Portuguesa de Morfologia Urbana<br />

Volume 2 Número 1 Julho 2014<br />

3 Editorial<br />

5 F. Holanda<br />

O mundo das miudezas: Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília<br />

(PPCUB)<br />

15 N. Palma<br />

Estudos urbanos e geometria fractal<br />

25 G. Cataldi, G. L. Maffei e P.Vaccaro<br />

Saverio Muratori e a escola Italiana de tipologia projetual<br />

Perspetivas<br />

37 As origens da morfologia urbana e a geografia alemã V. Oliveira e C. Monteiro<br />

40 Extensões da forma A. Perdicoúlis<br />

42 A ‘rua direita’ portuguesa: elemento estruturador ou designação toponímica?<br />

S. M. G. Pinto<br />

44 Gramáticas genéricas para o domínio da cidade e urbanismo J. N. Beirão<br />

Relatórios<br />

14 Criação da INTBAU Portugal R. Florentino<br />

24 Turkish Network of Urban Morphology T. Ünlü<br />

36 Chinese Network of Urban Morphology W. Ding<br />

Book reviews<br />

47 C. D. Coelho (2013) Os elementos urbanos T. Marat-Mendes<br />

48 F. de Holanda (2013) 10 mandamentos da arquitetura V. Oliveira<br />

Notícias<br />

4 Urban Morphology<br />

13 ISUF2014: Our common future in Urban Morphology<br />

50 PNUM2015: Configuração urbana e os desafios da urbanidade


Normas para contributos para a Revista de Morfologia Urbana<br />

Os textos a submeter à ‘Revista de Morfologia<br />

Urbana’ deverão ser originais, escritos em<br />

Português, e não deverão estar em apreciação em<br />

nenhuma outra revista científica. Os textos serão<br />

aceites para publicação depois da avaliação<br />

favorável de, pelo menos, dois revisores<br />

independentes. Os artigos não deverão exceder as<br />

6 000 palavras, devendo ainda incluir um resumo<br />

com um máximo de 200 palavras e até cinco<br />

palavras-chave. O título do artigo, o resumo e as<br />

palavras-chave deverão ser bilingue, em<br />

Português e em Inglês. Como a autoria dos textos<br />

não é revelada aos revisores, o(s) nome(s) e o(s)<br />

endereço(s) do(s) autor(es) devem constar de uma<br />

folha em separado. As ‘perspetivas’ (também<br />

sujeitas a ‘revisão por pares’) e os book reviews<br />

não deverão exceder as 1 000 palavras. Os artigos<br />

e as ‘perspetivas’ devem ser formatados em word<br />

e enviados por email para o Editor<br />

(vitorm@fe.up.pt). Os book reviews deverão ser<br />

endereçados ao Editor dos Book Review<br />

(marat.mendes@gmail.com). Os textos deverão<br />

ser submetidos em formato de coluna única com<br />

margens largas. Os autores não deverão tentar<br />

reproduzir o layout da revista. Todas as medições<br />

devem ser expressas no sistema métrico.<br />

Os autores são os únicos responsáveis pelas<br />

opiniões expressas nos textos publicados na<br />

‘Revista de Morfologia Urbana’. São ainda<br />

responsáveis por assegurar eventuais permissões<br />

para reprodução de ilustrações, citações extensas,<br />

etc.<br />

Referências<br />

Os autores deverão usar o sistema de<br />

referenciação Harvard, no qual o nome do autor<br />

(sem as iniciais) e a data são apresentados no<br />

corpo do texto – por exemplo (Whitehand e<br />

Larkham, 1992). As referências são apresentadas<br />

por ordem alfabética no final do texto, sob o<br />

título ‘Referências’, da seguinte forma:<br />

Conzen, M. P. (2012) ‘Urban morphology, ISUF<br />

and a view forward’, 18th International<br />

Seminar on Urban Form, Montreal, 26 a 29<br />

de Agosto.<br />

Conzen, M. R. G. (1968) ‘The use of town plans<br />

in the study of urban history’, em Dyos, H. J.<br />

(ed.) The study of urban history (Edward<br />

Arnold, Londres) 113-30.<br />

Hillier, B. (2008) Space is the machine<br />

(www.spacesyntax.com) consultado em 9<br />

Setembro de 2013.<br />

Kropf, K. S. (1993) ‘An inquiry into the<br />

definition of built form in urban morphology’,<br />

Tese de Doutoramento não publicada,<br />

University of Birmingham, Reino Unido.<br />

Moudon, A. V. (1997) ‘Urban morphology as an<br />

emerging interdisciplinary field’, Urban<br />

Morphology 1, 3-10.<br />

Whitehand, J. W. R. e Larkham, P. J. (eds.)<br />

(1992) Urban landscapes, international<br />

perspectives (Routledge, Londres).<br />

No caso de publicações com múltiplos<br />

autores, todos os nomes devem ser incluídos na<br />

lista de referências. Apenas as referências citadas<br />

devem ser incluídas na lista.<br />

Ilustrações e tabelas<br />

Os desenhos e as fotografias deverão ter a<br />

dimensão adequada à sua reprodução. Nesse<br />

sentido, a dimensão das páginas da revista deverá<br />

ser tida em consideração pelo autor ao desenhar<br />

as ilustrações. As ilustrações devem ser a preto e<br />

branco a menos que a cor seja essencial. Devem<br />

ser numeradas de forma consecutiva, referidas<br />

diretamente no texto e submetidas em formato<br />

JPEG ou TIFF. As ilustrações fotográficas<br />

deverão ter uma resolução de, pelo menos, 1200<br />

dpi, e os desenhos de, pelo menos, 600 dpi. Todas<br />

as ilustrações devem ter uma designação. No<br />

final do texto, após a lista de referências, deve ser<br />

incluída uma lista das ilustrações, da seguinte<br />

forma:<br />

Figura 1. Análise metrológica de Lower<br />

Broad Street, Ludlow<br />

Deverá ser dedicada uma atenção especial ao<br />

layout das tabelas, devendo ser desenhada uma<br />

tabela por página. As tabelas deverão ser<br />

desenhadas com o mínimo recurso a<br />

normalizações quer na vertical quer na horizontal.<br />

Deverão ter margens largas em todos os lados.<br />

Página de título<br />

Numa página em separado deverá ser indicado o<br />

título do artigo e o nome, a filiação académica<br />

(ou profissional) e o endereço completo<br />

(incluindo email) do(s) autor(es).<br />

Títulos<br />

Apenas na primeira letra e nos nomes próprios<br />

serão utilizadas maiúsculas. Os títulos deverão<br />

ser justificados à esquerda. Os títulos primários<br />

deverão ser a negrito e os secundários em itálico.<br />

Números<br />

Deverão ser usados algarismos para todas as<br />

unidades de medida, à exceção de quantidades de<br />

objetos e pessoas, quando estas se referirem a<br />

valores compreendidos entre um e vinte. Nesse<br />

caso, os números deverão escritos por extenso.<br />

Por exemplo: 10 dias, 10 km, 24 habitantes, 6400<br />

m; mas dez pessoas, cinco mapas.<br />

Provas<br />

Durante o processo de publicação serão enviadas<br />

provas aos autores. Nesta fase, apenas serão<br />

corrigidos erros de impressão, não sendo<br />

aceitáveis alterações de fundo.


Editorial<br />

Diferentes abordagens no estudo da forma urbana<br />

Ao longo das últimas décadas tem vindo a<br />

desenvolver-se todo um conjunto de<br />

diferentes teorias, conceitos e métodos para a<br />

descrição, explicação e desenho da forma<br />

física das cidades. Os artigos e viewpoints<br />

reunidos neste número da ‘Revista de<br />

Morfologia Urbana’ expressam esta<br />

diversidade teórica e metodológica: desde a<br />

abordagem tipológica projetual promovida<br />

pela Escola Muratoriana (Cataldi et al., pp.<br />

25-36) até à sintaxe espacial (Holanda, pp. 5-<br />

13), da análise fractal (Palma, pp. 15-24) às<br />

gramáticas da forma (Beirão, pp. 44-6). De<br />

algum modo, estes textos dão também<br />

continuidade ao conjunto de artigos e<br />

viewpoints, incluídos no primeiro número da<br />

Revista, sobre a abordagem históricogeográfica<br />

promovida pela Escola<br />

Conzeniana, a sua articulação com a sintaxe<br />

espacial e, ainda, sobre os autómatos<br />

celulares.<br />

Este dinamismo na formulação e<br />

desenvolvimento de novas teorias, conceitos<br />

e métodos tem, naturalmente, uma série de<br />

vantagens, mas contém também uma<br />

fragilidade fundamental, já que o debate em<br />

morfologia urbana não foi ainda capaz de<br />

fornecer uma meta-estrutura comparativa que<br />

permita, a académicos e profissionais,<br />

perceber: i) que abordagens usar face à<br />

natureza específica de um determinado caso<br />

em análise; ii) se é possível combinar<br />

diferentes abordagens; e, ainda, iii) em que<br />

momentos ou perante que aspetos de um<br />

determinado caso fará mais sentido usar cada<br />

uma das abordagens escolhidas. O esforço de<br />

construção de uma estrutura desta natureza<br />

deverá ser informado pelo desenvolvimento<br />

de estudos comparativos das várias teorias,<br />

conceitos e métodos morfológicos.<br />

Perante este desafio, alguns projetos de<br />

investigação têm-se centrado na utilização de<br />

uma abordagem morfológica, ou de um<br />

conceito ou método, em diferentes tipos de<br />

áreas urbanas em diferentes partes do<br />

mundo. Whitehand (2009) descreve a<br />

utilização do método de ‘regionalização<br />

morfológica’ na identificação e<br />

representação de ‘unidades de paisagem<br />

urbana’. Tendo em vista a aplicação do<br />

método em diferentes contextos, Whitehand<br />

alerta para a necessidade de um<br />

conhecimento aprofundado de cada local e<br />

da utilização do mesmo nível de resolução na<br />

identificação das unidades de paisagem.<br />

Conzen (2009) desenvolve uma avaliação<br />

comparativa do desempenho do conceito de<br />

‘cintura periférica’ nos diferentes contextos<br />

culturais em que foi aplicado. Para além de<br />

identificar as semelhanças e as diferenças<br />

fundamentais entre os diferentes casos de<br />

estudo, Conzen reflete sobre a eficácia e<br />

sobre os limites do próprio conceito.<br />

Num âmbito diferente, Conzen (2008)<br />

analisa os resultados do European Historic<br />

Town Atlas, um programa cujo objetivo<br />

fundamental, partilhado por um vasto<br />

conjunto de investigadores em diferentes<br />

países, é o ‘redesenho’ de cartografia antiga<br />

de áreas urbanas, a uma escala uniforme e<br />

com as mesmas regras de representação, no<br />

sentido de facilitar a sua posterior<br />

comparação.<br />

Outros autores exploraram a utilização de<br />

diferentes abordagens no mesmo caso de<br />

estudo. Osmond (2007) propõe uma<br />

metodologia integrada, desenvolvida em<br />

torno do conceito de Urban Structural Unit e<br />

incluindo técnicas morfológicas<br />

complementares (sintaxe espacial e<br />

geometria fractal), e aplica-a a dois<br />

subúrbios de Sydney. Pinho e Oliveira<br />

(2009) estudam a evolução da forma urbana<br />

do Porto ao longo dos séculos XIX e XX,<br />

combinando a abordagem Conzeniana e a<br />

sintaxe espacial e encontrando importantes<br />

relações entre diferentes conceitos<br />

formulados no seio das duas abordagens. Do<br />

mesmo modo, Griffiths et al. (2010)<br />

combinam estas duas abordagens, num<br />

ambiente integrado de SIG, para analisar a<br />

persistência de centros urbanos no território<br />

da ‘Grande Londres’.<br />

Kropf (2009) desenvolve uma análise<br />

crítica de um conjunto de textos<br />

fundamentais das seguintes abordagens:<br />

Revista de Morfologia Urbana (2014) 2(1) 3-4 Rede Portuguesa de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214


4 Editorial<br />

análise espacial, configuracional (sintaxe<br />

espacial), tipológica projetual e históricogeográfica.<br />

Depois de identificar os<br />

fenómenos que são objeto da análise<br />

morfológica, Kropf identifica um aspeto<br />

comum às quatro abordagens que poderá ser<br />

usado para coordenar as diferentes visões. O<br />

seu objetivo fundamental é estabelecer uma<br />

estrutura comparativa na qual as diferentes<br />

abordagens se suportem mutuamente no<br />

sentido de construir um conhecimento mais<br />

aprofundado dos assentamentos urbanos. No<br />

final, e apesar dos passos dados no artigo,<br />

Kropf sustenta a necessidade de aprofundar<br />

esta análise crítica comparativa.<br />

A necessidade de desenvolver estudos<br />

comparativos sobre as diferentes abordagens<br />

é, de facto, um desafio fundamental que se<br />

coloca à morfologia urbana. Ao longo dos<br />

próximos meses, três eventos promovidos<br />

pelo International Seminar on Urban Form<br />

(ISUF) e pela Rede Portuguesa de<br />

Morfologia Urbana (PNUM) darão um<br />

sólido contributo a este debate. O primeiro<br />

corresponde à inclusão de um conjunto de<br />

sessões no ISUF2014-Porto, coordenadas por<br />

Jeremy Whitehand, dedicado a este tema.<br />

Estas sessões irão centrar-se na comparação<br />

das diferentes escolas e abordagens<br />

morfológicas, na comparação da aplicação de<br />

conceitos morfológicos em diferentes<br />

contextos geográficos e, por fim, na análise<br />

das dinâmicas da forma urbana em ambientes<br />

multiculturais. O segundo será a conclusão e<br />

publicação de resultados, de um estudo,<br />

financiado pelo ISUF, que compara a<br />

utilização de quatro abordagens (históricogeográfica,<br />

tipológica projetual, sintaxe<br />

espacial e análise espacial) no mesmo caso<br />

de estudo, a Rua de Costa Cabral na cidade<br />

do Porto. Por último, no final do primeiro<br />

semestre de 2015 realizar-se-á (em<br />

articulação com o ISUF2015-Roma e com o<br />

PNUM2015-Brasília), na Faculdade de<br />

Engenharia da Universidade do Porto, o<br />

primeiro Workshop de Morfologia Urbana do<br />

PNUM com o tema ‘Diferentes Abordagens<br />

no Estudo da Forma Urbana’.<br />

Referências<br />

Conzen, M. P. (2008) ‘Retriving the preindustrial<br />

built environment of Europe: the<br />

Historic Town Atlas programme and<br />

comparative morphological study’, Urban<br />

Morphology 12, 143-56.<br />

Conzen, M. P. (2009) ‘How cities internalize<br />

their former urban fringes: a cross-cultural<br />

comparison’, Urban Morphology 13, 29-54.<br />

Griffiths, S., Jones, C. E., Vaughan, L. e Haklay,<br />

M. (2010) ‘The persistence of suburban centres<br />

in Greater London: combining Conzenian and<br />

space syntax approaches’, Urban Morphology<br />

14, 85-99.<br />

Kropf, K. S. (2009) ‘Aspects of urban form’,<br />

Urban Morphology 13, 105-20.<br />

Osmond, P. (2007) ‘Quantifying the qualitative:<br />

an evaluation of urban ambience’, Proceedings<br />

of the 6 th International Space Syntax<br />

Symposium, Istanbul.<br />

Pinho, P. e Oliveira, V. (2009) ‘Different<br />

approaches in the study of urban form’, Journal<br />

of Urbanism 2, 103-25.<br />

Whitehand, J. W. R. (2009) ‘The structure of<br />

urban landscapes: strengthening research and<br />

practice’, Urban Morphology 13, 5-27.<br />

Vítor Oliveira<br />

Urban Morphology<br />

O último número da revista Urban Morphology,<br />

referente ao mês de Abril, foi já publicado, sendo<br />

que a versão online se encontra disponível, para<br />

os subscritores, em http://www.<br />

urbanform.org/online_public/index.shtml.<br />

Este número inclui quatro artigos. Kai Gu e<br />

Jian Zhang debatem a utilização de fontes<br />

cartográficas na investigação em morfologia<br />

urbana que tem vindo a ser desenvolvida na<br />

China. Vítor Oliveira, Mafalda Silva e Ivor<br />

Samuels apresentam os resultados do primeiro<br />

caso de estudo desenvolvido sob o<br />

enquadramento da ISUF Task Force on Research<br />

and Practice in Urban Morphology – a cidade do<br />

Porto e o seu Plano Diretor Municipal (PDM).<br />

Karl Kropf desenvolve um ensaio crítico sobre as<br />

diferentes definições de forma construída, de<br />

modo a construir um elemento de referência para<br />

a análise dos diferentes aspetos da forma urbana.<br />

Por fim, Renato Leão Rego aborda a temática da<br />

‘cidade ideal versus cidade construída’ através da<br />

análise comparada de duas cidades Brasileiras<br />

planeadas em meados do século XX, Maringá e<br />

Sinop. O próximo número da revista Urban<br />

Morphology será publicado em Outubro.


O mundo das miudezas: Plano de Preservação do Conjunto<br />

Urbanístico de Brasília – PPCUB<br />

Frederico de Holanda<br />

Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília - CEP 70910-<br />

900, Brasil. Email: fredholanda44@gmail.com<br />

Artigo revisto recebido a 18 de Fevereiro de 2014<br />

Resumo. O projeto de lei complementar do Plano de Preservação do<br />

Conjunto Urbanístico de Brasília encontra-se em tramitação no âmbito do<br />

Poder Legislativo, do Distrito Federal, Brasil. Infelizmente, o projeto não<br />

considera históricos problemas da cidade: rupturas do tecido urbano;<br />

vazios sem justificativa funcional, bioclimática ou expressiva; questões de<br />

acessibilidade universal; má definição de espaços para a vida pública; uma<br />

das mais perversas estratificações socioespaciais do mundo. Décadas de<br />

crítica a configurações modernas, que não consideram o espaço ‘entre<br />

edifícios’ como alvo da atenção projetual, são ignoradas. Mais que em<br />

projetos do período clássico do urbanismo moderno (anos 1960), projetos<br />

recentes fazem proliferar espaços definidos por paredes cegas, ou edifíciosilhas<br />

em esquemas introvertidos: atividades abrem para o interior dos<br />

prédios e esvaziam o âmbito público de transições entre fechado e aberto.<br />

As iniciativas do ‘homem comum’ de Certeau, sempre a reinventar a cidade<br />

mediante fascinantes ‘fissuras urbanas’ na ordem hegemônica, são<br />

ignoradas. Em vez de atacar problemas estruturais da cidade, o Plano<br />

perde-se em pormenorizar atributos das parcelas urbanas, no furor<br />

legislativo de quase duzentos artigos e uma miríade de anexos. O mundo das<br />

miudezas.<br />

Palavras-chave: Brasília, patrimônio, preservação, PPCUB.<br />

No momento da escrita a minuta do Projeto<br />

de Lei Complementar do Plano de<br />

Preservação do Conjunto Urbanístico de<br />

Brasília (doravante PPCUB) encontra-se em<br />

tramitação no Poder Legislativo do Distrito<br />

Federal (doravante DF), Brasil, a ele<br />

encaminhado pelo Poder Executivo local. O<br />

documento de quase 200 artigos trata da área<br />

tombada de Brasília como Patrimônio<br />

Cultural da Humanidade, pela UNESCO. A<br />

proposta inclui considerações sobre as ‘áreas<br />

de entorno’, que supostamente também<br />

devem ser controladas por interferirem na<br />

paisagem da área tombada.<br />

A prolixidade do documento impressiona.<br />

A área tombada é dividida em onze Áreas de<br />

Preservação (APs), subdivididas em 71<br />

Unidades de Preservação (UPs) (o Art. 2,<br />

sobre as 45 siglas utilizadas, indica o que<br />

vem pela frente). Tradicionalmente observase<br />

que o controle urbanístico de Brasília<br />

transformou-se, no tempo, num labirinto<br />

interminável de NGBs (Normas de Uso e<br />

Gabarito), quase uma para cada terreno da<br />

cidade. O PPCUB seria a oportunidade para<br />

reordenar o caos jurídico e fazer da<br />

legislação urbanística algo mais claro, que<br />

concebesse os documentos legais como<br />

instrumentos para a consecução de uma<br />

melhor paisagem urbana – para a resolução<br />

dos problemas estruturais da cidade, pelo<br />

menos os relacionados à configuração da<br />

urbe.<br />

Mais uma oportunidade perdida, como<br />

tantas outras na história da Capital Federal<br />

do Brasil. E o mais lamentável: o intenso<br />

debate sobre o Plano ocorrido ao longo de<br />

2013 entre o Poder Executivo e a Sociedade<br />

Civil. Não poderia ter sido mais ‘ideológico’,<br />

no mau sentido do termo: fundado em<br />

Revista de Morfologia Urbana (2014) 2(1) 5-13 Rede Portuguesa de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214


6 O mundo das miudezas: Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB<br />

‘aparências’, ignorando o conhecimento<br />

sistemático produzido sobre a cidade ao<br />

longo de décadas; eivado de ‘valores<br />

inconfessos’ e de doutrinas que se gostaria<br />

de ter visto há muito enterradas; ‘paroquial’,<br />

porque não enxerga as medidas propostas no<br />

contexto da ‘cidade como sistema’, mas<br />

como intervenções a supostamente<br />

resolverem problemas pontuais.<br />

Decerto os problemas de Brasília<br />

extrapolam o âmbito da área tombada. Mas,<br />

no mínimo, seu equacionamento também<br />

passa por transformações na área. Não há<br />

espaço aqui para a análise das diretrizes de<br />

todas as áreas de preservação, menos ainda<br />

de todas as unidades de preservação ou das<br />

áreas de entorno. A título de exemplo, alguns<br />

pontos ilustram as diretrizes do PPCUB e<br />

revelam como elas passam ao largo dos<br />

problemas identificados em várias<br />

oportunidades e por vários autores (Holanda,<br />

2002, 2010, 2011a, 2011b, 2011c, 2011d,<br />

2012; Paviani, 1985).<br />

Áreas de entorno<br />

Brasília é uma ‘cidade tricéfala’ (Holanda,<br />

2010). Para caracterizar a situação,<br />

propomos três conceitos de ‘centro’. As<br />

cidades têm: i) o ‘centro funcional’, ou<br />

centro de comércio e serviços (CCS), ponto<br />

em torno do qual se concentra a maioria dos<br />

empregos e serviços; ii) o ‘centro<br />

morfológico’, ponto mais acessível<br />

topologicamente, isto é, aquele a que<br />

chegamos com menos inflexões de percurso,<br />

em média, a partir de todos os demais pontos<br />

da cidade, considerado o sistema viário –<br />

conceito de acessibilidade advindo da Teoria<br />

da Sintaxe Espacial (Hillier e Hanson, 1984;<br />

Holanda, 2010); iii) o ‘centro demográfico’,<br />

ponto que minimiza a distância per capita<br />

média para os habitantes da metrópole,<br />

considerado o local de moradia (o ‘centro de<br />

massa’ populacional).<br />

Brasília é tricéfala porque organiza de<br />

maneira peculiar a relação entre as três<br />

centralidades. O ‘centro funcional’, ponto em<br />

torno do qual estão 44 % dos empregos do<br />

DF (CODEPLAN, 2004), localiza-se no<br />

entorno imediato do cruzamento dos dois<br />

eixos estruturais do Plano Piloto – o Eixo<br />

Monumental e o Eixo Rodoviário. Ele dista<br />

10 km do centro morfológico, a sudoeste. O<br />

centro demográfico, ou ‘de massa’, não<br />

coincide com o primeiro nem com o segundo<br />

(Figura 1). A Figura 1 mostra parte dos eixos<br />

viários do município de Brasília, onde estão<br />

os três centros da cidade tricéfala. O mapa de<br />

eixos provém de técnicas da Teoria da<br />

Sintaxe Espacial. Quanto mais quentes as<br />

cores, mas acessíveis são os eixos ao<br />

conjunto do sistema. A separação das três<br />

centralidades em ‘locais distintos’ – o que<br />

não acontece em outras cidades brasileiras –<br />

implica enormes custos, particularmente para<br />

a população de baixa renda que dispõe de um<br />

arremedo de transporte coletivo: caro,<br />

ineficiente e sucateado.<br />

O centro morfológico e o centro<br />

demográfico estão na AE 02 (Área de<br />

Entorno 02, Figura 2). A área é tangenciada<br />

pela ‘Estrada Parque Indústria e<br />

Abastecimento’ (EPIA), via que define o<br />

limite oeste da área tombada (Figura 2). Ao<br />

longo dela, o uso do solo transformou-se<br />

radicalmente nas últimas décadas – exemplo<br />

da ‘lei do movimento natural’, como<br />

sugerida por Hillier et al. (1993): a alta<br />

acessibilidade de uma área urbana puxa para<br />

ela intensos fluxos motorizados, que por sua<br />

vez atraem atividades urbanas centrais.<br />

O desenvolvimento de qualquer cidade<br />

faz deslocar as centralidades. Fenômeno<br />

universal, o mero tamanho da cidade implica<br />

novos centros, embora o centro histórico<br />

raramente perca sua proeminência – no caso<br />

brasileiro, assim foi com o Rio de Janeiro,<br />

São Paulo, Recife (Villaça, 1998). À medida<br />

que distâncias crescem, novos centros criam<br />

oportunidades de emprego e serviços mais<br />

próximos às residências.<br />

Uma excelente oportunidade para<br />

desenvolver-se uma nova centralidade de<br />

Brasília está na AE 02, e nas AE 06a e AE<br />

06b, também situadas ao longo da EPIA.<br />

Minuta recente do PPCUB reconhece a<br />

potencialidade, mas ela foi retirada do<br />

projeto de lei, depois de intensos debates<br />

entre governo e representantes da Sociedade<br />

Civil. Lamentavelmente, a discussão foi<br />

intensamente ideologizada. Nada<br />

pormenorizada, sabe-se, contudo, que a<br />

proposta do Executivo retoma os piores<br />

problemas do urbanismo moderno: haveria<br />

um ‘setor de trabalho’ isolado das<br />

habitações; o ‘setor habitacional’ seria mais<br />

um bairro socialmente homogêneo, como da


O mundo das miudezas: Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB 7<br />

Figura 1. Centralidades em locais distintos, peculiaridade de Brasília.<br />

tradição no DF (neste caso, para a classe<br />

média). Por outro lado, a reação crítica não<br />

está preocupada com estes problemas, mas<br />

com o fato de uma nova zona urbana vir<br />

eventualmente agravar os problemas de<br />

tráfego na região. Uso de solo e mobilidade<br />

não são ‘ambas’ pensadas como ‘variáveis’<br />

da equação; não se cogita que uma nova<br />

centralidade ‘exige’ a contrapartida de novos<br />

padrões de mobilidade, mormente em<br />

Brasília, onde cedo ou tarde os padrões<br />

atuais baseados no carro terão que ser<br />

revistos (já o estão sendo, embora muito<br />

timidamente, pois a cidade está seriamente<br />

travada).<br />

Mas a reação da Sociedade Civil, em<br />

bloco, contra a área de expansão, esconde<br />

algo mais, não apenas questões de<br />

mobilidade: mascara a ‘ideologia da<br />

apartação’, pela qual um cordon sanitaire<br />

deve continuar a isolar, tanto quanto<br />

possível, o coração metropolitano – o Plano<br />

Piloto projetado por Lucio Costa – do resto<br />

da urbe. Por imediatismo político, o Estado<br />

retirou a proposta de pauta. Cedo ou tarde ela<br />

retornará: mais um capítulo, dentre outros,<br />

que ilustram a tendência, também em<br />

Brasília, para uma cidade mais compacta,<br />

malgré os desejos isolacionistas das classes<br />

altas que habitam áreas centrais da<br />

metrópole.<br />

Dentre as considerações sobre as<br />

expansões, não se comenta sobre alturas<br />

edificadas em função de critérios claros de<br />

visibilidade do conjunto tombado, cujo sítio<br />

tem a forma aproximada de uma calota (área<br />

clara no centro da Figura 2). Na AE 06b, na<br />

mesma figura, nada construído com menos<br />

de 100 m de altura será visto das asas<br />

residenciais ou do Eixo Monumental. Sequer<br />

teremos um contraponto similar ao de La<br />

Défense (Paris), no prolongamento dos<br />

Champs Élysées, onde o problema não é a<br />

altura dos espigões, mas o mau espaço<br />

público que eles definem (Figura 3). Essas<br />

áreas do ‘entorno’ são um recurso precioso<br />

para o desenvolvimento metropolitano, uma<br />

potencialidade até agora ignorada. Difícil<br />

discernir o que é pior para a cidade: as<br />

propostas do Executivo ou as reações<br />

ideológicas da Sociedade Civil.<br />

Eixo Monumental<br />

O Eixo Monumental é o mais forte


8 O mundo das miudezas: Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB<br />

Figura 4. Unidades de Preservação (UPs) da<br />

Área de Preservação 1 (AP1). Fonte:<br />

www.sedhab.df.gov.br/.<br />

Figura 2. Áreas do Entorno, segundo o<br />

PPCUB. Fonte: www.sedhab.df.gov.br/.<br />

Figura 3. La Défense, Paris.<br />

elemento macroestruturador de Brasília, a<br />

unidade morfológica responsável pelo forte<br />

caráter simbólico da cidade. Mede quase 9<br />

km da extremidade leste da Praça dos Três<br />

Poderes até a Estação Rodoferroviária, na<br />

ponta oeste (considerando o prolongamento<br />

até a borda lacustre, são mais 3 km). No<br />

PPCUB ele é a AP 1, dividido em seis UPs<br />

(Figura 4). À exceção da Praça do Buriti,<br />

sede do governo local, todas as UPs são<br />

áreas ‘consolidadas, vedados novos<br />

parcelamentos’. Entretanto, ao mesmo<br />

tempo, admite-se: i) a complementação da<br />

Esplanada dos Ministérios por edifícios para<br />

atividades de apoio, segundo proposta<br />

original de Lucio Costa, nunca<br />

implementada, o que implica novo<br />

parcelamento – é positiva a recomendação de<br />

concurso público para tal (tema abordado em<br />

Holanda e Tenorio, 2010); ii) no último<br />

tramo, a oeste, que vai da Praça do Buritis à<br />

Estação Rodoferroviária (AP1, UP6),<br />

admite-se a complementação com atividades<br />

institucionais, de comércio varejista<br />

relacionado a artigos ‘culturais, recreativos e<br />

desportivos’, e de prestação de serviços,<br />

proposta também retirada do projeto de lei<br />

(não se explicam as razões de serem apenas<br />

estes usos).<br />

Chama a atenção o fato de o perímetro<br />

das unidades morfológicas (no caso, as UPs)<br />

coincidir com o eixo das vias limítrofes (à<br />

exceção da Praça do Buriti). Como na boa<br />

cartilha moderna, não se considera os<br />

‘espaços’ por onde passamos e que<br />

percebemos, de fato, como unidades<br />

morfológicas que deviam ser objeto de<br />

atenção; afinal, pela cartilha, vias obedecem<br />

à função exclusiva de circular, não de<br />

permanência ou usufruto do lugar.<br />

Considerar vias como simples<br />

ferramentas de circulação motorizada refletese<br />

– novamente – na desconsideração para<br />

com as construções lindeiras. A configuração<br />

do Eixo Monumental, necessariamente<br />

diferençada por tramos, deveria ter estado<br />

presente, mormente numa cidade que prima,<br />

em muitos aspectos, por uma ordem<br />

espacial-volumétrica clara. Não: hoje a<br />

ocupação das bordas é aleatória e não há, no<br />

Plano, discussão sobre isso. Nas laterais do<br />

Eixo Monumental há de tudo: prédios de 65<br />

m de altura nos setores hoteleiros; vazio


O mundo das miudezas: Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB 9<br />

de estacionamentos de grandes<br />

equipamentos, como os do Estádio Mané<br />

Garrincha ou do Ginásio Nielson Nelson; os<br />

palácios da Praça do Buriti; as residências<br />

unifamiliares do Setor Militar Urbano e do<br />

bairro Cruzeiro Velho, etc. A cada demanda<br />

surgida, a definição dos tipos edilícios é ad<br />

hoc – e arbitrária – não está relacionada à<br />

configuração da unidade maior que deveria<br />

definir (algo que se faz, tão bem, na<br />

Esplanada dos Ministérios).<br />

Nas áreas ‘consolidadas’, mas com<br />

muitos espaços vazios admitia-se, na<br />

proposta do governo, lotes ‘de no mínimo<br />

10 000 m 2 e no máximo 20 000 m 2 ’, mas não<br />

há nada sobre critérios para sua quantidade,<br />

localização e configuração. É<br />

particularmente o caso da área retangular<br />

gramada central entrevias de 2 500 m de<br />

extensão por 170 m de largura onde existe<br />

apenas a Catedral Militar Rainha da Paz<br />

(último tramo a oeste, UP6, Figura 4).<br />

Mantendo-se o caráter predominante de<br />

parque mediante lotes isolados, baixos<br />

índices de aproveitamento, taxas de<br />

ocupação e alturas, o espaço deveria ser<br />

pontuado por edifícios ímpares. Seriam<br />

fortalecidas referências imagéticas locais,<br />

aumentando a informação visual e<br />

consequente orientabilidade ao longo do<br />

elemento macroestruturador Eixo<br />

Monumental. As descontinuidades atuais não<br />

têm qualidades funcionais, expressivas ou<br />

ecológicas, ao contrário, funcionam como<br />

rupturas indesejadas no tecido urbano. No<br />

entanto, sua ocupação foi vista, por setores<br />

da Sociedade Civil, como refletindo<br />

interesses inconfessáveis em prol da<br />

privatização de terras públicas. Não: ocupar<br />

criteriosamente parte desses espaços com<br />

equipamentos de interesse público implicaria<br />

mais gente a usufruir espaços de centralidade<br />

privilegiada. Ideologia, novamente.<br />

Os setores centrais<br />

Nas áreas centrais mais densas do Plano<br />

Piloto proliferam rupturas e caminhos a<br />

serem percorridos pelos pedestres em longos<br />

trechos desprovidos de atividades –<br />

caminhos em meio ao nada. Mais até que em<br />

projetos do período clássico do urbanismo<br />

moderno (consideremos assim os anos<br />

1960), projetos mais recentes (por exemplo,<br />

o Setor Comercial Norte, Figura 5) fazem<br />

proliferar espaços definidos por paredes<br />

cegas ou edifícios-ilhas em esquemas<br />

introvertidos: as atividades abrem para o<br />

interior e esvaziam o âmbito público de<br />

transições entre o fechado e o aberto.<br />

Preocupações morfológicas quanto ao espaço<br />

para a vida pública estão ausentes do<br />

PPCUB. Não há índices ‘urbanísticos’, há<br />

índices ‘edilícios’: o Art. 63 lista cinco deles,<br />

‘todos’ relativos ‘ao espaço da divisa do lote<br />

para dentro’. Preocupações quanto à<br />

‘configuração do espaço público aberto’<br />

simplesmente inexistem (exceto<br />

recomendações genéricas quanto ao seu<br />

mobiliário, arborização, etc.). Nada impede a<br />

proliferação, noutras áreas, das soluções<br />

perversas já detectadas. É de temer um<br />

eventual projeto de reformulação da parte<br />

dos setores hoteleiros onde estão prédios de<br />

apenas dois pavimentos – cedo ou tarde isso<br />

acontecerá, pois nada justifica essa ocupação<br />

numa área tão central. As mais altas<br />

densidades contribuirão para maior<br />

vitalidade da área central da cidade. Mas,<br />

como antes, não se trata simplesmente de<br />

aumentar alturas e índices de<br />

aproveitamento, como é a exclusiva<br />

preocupação hoje, mas de configurar o<br />

âmbito público.<br />

Em todas as áreas da metrópole isso se<br />

verifica, mas é mais grave nos setores<br />

centrais de Brasília. Em vez de dar o<br />

exemplo para o resto da cidade, o centro<br />

metropolitano maximiza a perversidade. O<br />

recuo ante o modernismo clássico chega ao<br />

ponto de propostas de Lucio Costa,<br />

constantes do Relatório do Plano Piloto<br />

(1957), serem ignoradas. Por exemplo, nunca<br />

foi executado o edifício explicitado no<br />

‘Relatório do Plano Piloto’, entre os Setores<br />

de Diversões, norte e sul – no local, um<br />

imenso buraco (Figura 6). No PPCUB, nem<br />

uma palavra sobre ele. Pelo contrário, é ‘área<br />

consolidada, vedados novos parcelamentos<br />

urbanos’. Como em outros casos, um<br />

‘urbanismo de adições’ seria altamente<br />

recomendável – para referir provocativa<br />

ideia de Rodrigo Perez de Arce, quando faz a<br />

crítica dos ‘desertos’ modernos. Aqui, não<br />

seria nem isso, mas um ‘urbanismo de<br />

completações’...


10 O mundo das miudezas: Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB<br />

Figura 5. Setor Comercial Norte, Brasília.<br />

Figura 6. Vazio imprevisto pelo projeto, entre<br />

o Setor de Diversões Sul e seu simétrico norte,<br />

Brasília.<br />

O ‘labirinto do deserto’<br />

A AP 07 e AP 08 compreendem as áreas de<br />

baixa ocupação a leste das asas residenciais<br />

do Plano Piloto. São áreas de muito baixa<br />

ocupação, onde proliferam resquícios de um<br />

dos dois ‘labirintos’ típicos do urbanismo<br />

moderno – o ‘labirinto do deserto’, onde<br />

predomina ‘o longe’: grandes<br />

descontinuidades morfológicas, com poucos<br />

ou nenhum estímulo visual na escala menor,<br />

prejudicando legibilidade e orientabilidade<br />

urbanas. O termo é inspirado no conto de<br />

Jorge Luís Borges ‘Os dois reis e os dois<br />

labirintos’. Borges (2009) fala no ‘labirinto<br />

de muros’ (onde se perdem referências mais<br />

amplas, onde só se apreende o ‘perto’) e no<br />

‘labirinto do deserto’ (onde se perdem<br />

referências locais, onde só se apreende o<br />

‘longe’). Os dois labirintos são típicos do<br />

urbanismo moderno. A eles, Hillier e Hanson<br />

se referem no pós-escrito de The social logic<br />

of space, embora usem termos diversos: a<br />

‘solução dura’, o primeiro labirinto, e a<br />

‘solução suave’, o segundo labirinto (Hillier<br />

e Hanson, 1984).<br />

É quase inacreditável que a vista da<br />

Figura 7 tenha sido tomada de um ponto de<br />

enorme centralidade da metrópole,<br />

imediatamente ao norte da Esplanada dos<br />

Ministérios. Ao sul do Eixo Monumental o<br />

problema se repete: há inúmeros trechos de<br />

‘terra de ninguém’ entre as quadras das<br />

embaixadas. Aqui, uma ocupação de baixa<br />

densidade, com reformulação do sistema<br />

viário labiríntico atual, seria condizente com<br />

a ‘escala bucólica’ (como normalmente a<br />

área é referida). Se sobra ‘labirinto do<br />

deserto’ na escala bucólica, espaços livres e<br />

públicos na margem do lago deveriam ser<br />

mais amplos. O ponto está relacionado a um<br />

pecado original do projeto. Lucio Costa<br />

admitia a privatização da orla, embora não<br />

tanto quanto aconteceu: ‘apenas os clubes<br />

esportivos, os restaurantes, os lugares de<br />

recreio, os balneários e núcleos de pesca<br />

poderão chegar à beira d’água’ (Costa, 1995,<br />

p. 294). Admitir privatização das margens<br />

contrasta com a tradição brasileira de se<br />

manterem públicas as áreas lindeiras a<br />

corpos d’água – rios, lagos, mar (Couto,<br />

2003). Criou-se precedente que fez da<br />

exceção a regra. Além de clubes e<br />

restaurantes, surgiram centros de<br />

convenções, conjuntos de cinema multiplex<br />

com praças de alimentação, academias de<br />

ginástica e apartamentos de luxo cada vez<br />

menos disfarçados de hotéis (a imprensa tem<br />

dado inúmeros exemplos de clubes<br />

substituídos por condomínios fechados). O<br />

PPCUB propõe a desprivatização da orla,<br />

mas prevê apenas a norma legal de reserva<br />

de 30 m. Ao contrário, e variando em função<br />

do trecho, a faixa pública deveria ser muito<br />

mais generosa. Ainda há bons trechos a<br />

(re)conquistar para o cidadão comum.<br />

À guisa de conclusão: o mundo das<br />

miudezas... incompleto<br />

O PPCUB é o mundo das miudezas, contudo,<br />

mesmo nelas, incompleto. Além da falta de


O mundo das miudezas: Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB 11<br />

Figura 7. O ‘labirinto do deserto’, imediatamente ao norte da Esplanada dos Ministérios.<br />

equacionamento de problemas no nível<br />

macro da metrópole (desejáveis e factíveis),<br />

o documento carece de atenção para com o<br />

âmbito local. A literatura acumula sugestões<br />

de indicadores para o espaço digno da boa<br />

vida pública, particularmente nas áreas<br />

centrais das cidades. Desde os pioneiros<br />

Kevin Lynch (1960) e Jane Jacobs (1961) –<br />

para não falar em Camillo Sitte (1889) – têm<br />

contribuído Christopher Alexander et al.<br />

(1977), Bill Hillier e Julienne Hanson<br />

(1984), Alan Jacobs e Donald Appleyard<br />

(1987), o movimento Project for Public<br />

Spaces (2005), Andrés Duany et al. (2000) e<br />

o Congress for the new urbanism (1993), Jan<br />

Gehl (2006) e muitos outros (Tenorio, 2012,<br />

apresenta uma revisão crítica da literatura e<br />

uma proposta metodológica para a avaliação<br />

de tais lugares). Exemplificam-se<br />

preocupações dos autores, ausentes no<br />

PPCUB: a quantidade e a forma do espaço<br />

livre ante o espaço total das áreas (espaço<br />

livre em demasia só é ocupado em<br />

circunstâncias excepcionais, não no dia a dia<br />

da cidade); o tamanho médio das unidades de<br />

espaço aberto, particularmente a largura das<br />

ruas, mirando um espaço adequado<br />

interfachadas, para a boa visibilidade e<br />

reconhecimento do outro; a variedade,<br />

complementaridade e distribuição temporal<br />

das atividades, relacionadas num espaço<br />

urbano vital; a ocorrência de habitação nas<br />

zonas centrais, em distribuição adequada de<br />

tipos edilícios variados e em densidade que<br />

proporcione a concentração de pessoas; o<br />

microdesenho do espaço para atender as<br />

questões de mobilidade, prioridade ao<br />

pedestre, ciclistas, transporte público, etc.,<br />

mas a predominância do carro é generalizada<br />

na cidade, ocupando uma parcela espantosa –<br />

e crescente – dos espaços livres; a reduzida<br />

dimensão dos quarteirões, facilitando a<br />

permeabilidade interpartes da cidade nas<br />

suas áreas centrais; o tamanho das parcelas<br />

relacionadas ao espaço público, favorecendo<br />

a maior quantidade de estabelecimentos por<br />

metro linear de extensão de rua; as<br />

‘constituições’ dos lugares – frequentes<br />

transições diretas entre dentro e fora, mas<br />

também numerosas janelas (os ‘olhos da<br />

rua’) – evitando-se uma das mais perversas<br />

doenças do urbanismo moderno: as longas<br />

empenas cegas, etc.<br />

O PPCUB reproduz a visão moderna<br />

clássica da cidade: os objetos de atenção são<br />

os ‘setores’ da cidade. As normas ‘nunca’<br />

dizem respeito aos espaços ‘entre’ as massas<br />

edificadas – concentram-se nos índices


12 O mundo das miudezas: Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB<br />

‘dentro das parcelas’. As regras estão<br />

relacionadas às ‘unidades de preservação’<br />

cujos limites são vias arteriais importantes<br />

que, entretanto, não são objeto de atenção<br />

enquanto definidas pelas massas edificadas<br />

lindeiras – ou então se chega ao aparente<br />

paradoxo de definir uma via, ‘ela própria’,<br />

como unidade de preservação,<br />

independentemente do que está ao redor<br />

(caso da manutenção da configuração<br />

perversa do ‘Eixão da Morte’). Decerto, a<br />

normativa mantém as alturas edificadas<br />

condizentes com as ‘escalas’ da cidade –<br />

maiores no centro, mais baixas nas asas<br />

residenciais, etc. É pouco. Em todas as áreas<br />

problemas morfológicos continuarão a<br />

rondar a cidade como fantasmas insepultos.<br />

O PPCUB é a tradução exemplar, na letra<br />

da lei, da hegemonia do urbanismo moderno,<br />

contestado em tantos lugares do planeta pelo<br />

dano causado aos espaços para a vida<br />

pública. Em Brasília ele continua a reinar<br />

soberano. Acredita-se que a manutenção das<br />

qualidades essenciais da cidade depende da<br />

reprodução ortodoxa dos princípios<br />

modernos. Pelo contrário: as qualidades<br />

essenciais de Brasília não se relacionam à<br />

cartilha moderna. Elas decorrem de atributos<br />

que fazem a excelência das cidades desde<br />

sempre, ainda que, no caso de Brasília,<br />

limitem-se principalmente a dimensões<br />

expressivas: uma forte identidade, uma<br />

legibilidade interpartes clara (à la Lynch),<br />

uma beleza ímpar, uma configuração que<br />

cumpriu à excelência os requisitos de cidadesímbolo<br />

da nacionalidade. Os problemas,<br />

sim: a cidade-para-todas-as-classes, realizada<br />

mediante um ‘tipo edilício ideal e universal’,<br />

revelou-se um mito (superquadras não são<br />

acessíveis a baixos poderes aquisitivos);<br />

fortes barreiras físicas impõem pesados ônus<br />

para os pedestres; padrões de mobilidade são<br />

compatíveis com o veículo privado, não com<br />

o transporte público; bioclimaticamente, a<br />

cidade é confortável no interior dos setores<br />

(ou superquadras), muito desconfortável fora<br />

deles (ou entre eles).<br />

Brasília não foi tombada por razões<br />

‘históricas’, não por ser ‘original’, por<br />

representar à maravilha certo movimento<br />

arquitetônico ou certa época. Decerto razões<br />

‘contingenciais’ aparecem nos textos de sua<br />

declaração como Patrimônio Cultural da<br />

Humanidade. Mas será isso que subjaz ao<br />

tombamento, ou esse é um discurso<br />

ideológico cego às qualidades ‘essenciais’ da<br />

cidade? Pensar assim não seria ‘degradar a<br />

apreciação estética a uma apreciação<br />

histórica’ (Cícero, 2012)? Sim: Brasília vale<br />

porque Lucio Costa não está entre os<br />

primeiros a fazer algo, mas porque está entre<br />

os melhores; não porque faz o novo, mas<br />

porque faz o que não envelhece (Cícero,<br />

2012).<br />

Resolver os problemas pendentes é<br />

libertar a cidade das (perversas)<br />

circunstâncias nas quais ela foi gerada.<br />

Ainda não foi dessa vez.<br />

Referências<br />

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O mundo das miudezas: Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB 13<br />

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(Studio Nobel, São Paulo).<br />

Tradução do resumo e palavras-chave<br />

A piecemeal world: the Preservation Plan for the Urban Complex of Brasilia - PPCUB<br />

Abstract. The Project for the Complementary Law of the Preservation Plan for the Urban Complex of<br />

Brasilia is now within the realm of the Legislative Power, Federal District, Brazil. Unfortunately the<br />

project does not consider the historical problems of the city: ruptures of the urban tissue, urban voids<br />

without functional bioclimatic or expressive reasons, accessibility issues, poor definition of spaces<br />

promoting public life, and one of the most perverse socio-spatial stratifications in the world. Decades of<br />

critique on modern configurations, which do not consider the ‘space between buildings’, are ignored.<br />

More than the projects of the classic period of the modern urbanism (1960s), the recent projects propose<br />

the proliferation of spaces defined by blind walls, of ‘island buildings’ in introverted schemes, and of<br />

activities opening to inner spaces and emptying the public realm of transitions between the ‘inside’ and<br />

the ‘outside’. Initiatives of the ‘ordinary man’, who reinvents the city through fascinating ‘urban<br />

fissures’ in the dominant order, are ignored. Instead of facing the structural problems of the city, the<br />

Plan focuses on attributes of urban plots individually, in a ‘legislative storm’ of almost 200 articles and a<br />

great number of appendixes. A piecemeal world.<br />

Key words: Brasilia, heritage, preservation, PPCUB<br />

ISUF2014: Our common future in Urban Morphology<br />

A Faculdade de Engenharia da Universidade do<br />

Porto recebe, entre os dias 3 e 6 de Julho, o<br />

International Seminar on Urban Form (ISUF). A<br />

21ª conferência do ISUF, organizada por uma<br />

equipa coordenada por Vítor Oliveira e Paulo<br />

Pinho, reunirá na cidade do Porto os maiores<br />

especialistas no estudo da forma física das<br />

cidades. A julgar pelo número de abstracts<br />

submetidos e aceites, esta deverá será uma das<br />

maiores conferências já realizadas nos 20 anos de<br />

história do ISUF.<br />

Os 4 dias de trabalhos incluem 4 sessões<br />

plenárias, uma série de sessões paralelas, eventos<br />

sociais (com o apoio da Câmara Municipal do<br />

Porto) e um conjunto de passeios pela cidade<br />

onde os participantes, vindos dos 5 continentes,<br />

poderão contactar diretamente com as ruas, os<br />

quarteirões e os edifícios da cidade do Porto.<br />

Mais informações estão disponíveis no website da<br />

conferência em http://isuf2014.fe.up.pt/.


14 Relatório<br />

Criação da INTBAU Portugal<br />

Figura 1. Criação da INTBAU Portugal: 1ª Assembleia Geral.<br />

No dia 4 de Abril de 2014 realizou-se em Lisboa<br />

a 1ª Assembleia Geral da Associação INTBAU<br />

Portugal, tendo sido aprovados o seu regulamento<br />

e os primeiros órgãos sociais. Esta Associação é o<br />

chapter português da INTBAU – International<br />

Network for Traditional Building, Architecture<br />

and Urbanism, com sede em Londres e cujo<br />

patrono é sua alteza real o Príncipe de Gales. Esta<br />

rede internacional visa a promoção das formas de<br />

construção tradicional, numa perspetiva<br />

culturalista, em todos os países onde tem<br />

delegações, não apenas na Europa, mas também<br />

em todos os continentes, no Canadá, na Índia, no<br />

Irão ou na Austrália, por exemplo.<br />

Por ocasião da recente criação do chapter<br />

Espanhol, surgiu a hipótese de se constituir uma<br />

Associação Ibérica, mas a sede da INTBAU<br />

entendeu que se deveria formalizar a delegação<br />

portuguesa, dado ter nos seus registos cerca de 40<br />

membros inscritos, residentes no nosso país.<br />

No final de 2013, a Direção da INTBAU<br />

celebrou com José Franqueira Baganha o acordo<br />

para a constituição da INTBAU Portugal, que<br />

veio a registar-se enquanto associação sem fins<br />

lucrativos, de direito português, a 3 de Fevereiro<br />

deste ano. Nos seus objetivos está, como<br />

não poderia deixar de ser, a promoção da<br />

construção, da arquitetura e do urbanismo<br />

tradicionais em Portugal, mediante a organização<br />

de atividades destinadas a esse fim.<br />

Na 1ª Assembleia Geral da INTBAU Portugal<br />

ficou decidido o princípio de não se implementar<br />

qualquer quota aos seus membros, procurando-se<br />

que a Associação possa gerar receitas das suas<br />

atividades e de mecenato, sobretudo institucional.<br />

Os primeiros órgãos sociais são formados, na sua<br />

grande maioria, por arquitetos: a Mesa da<br />

Assembleia Geral está a cargo de Cristina<br />

Cavaco, Jorge Silva e Catarina Santos, o<br />

Conselho Fiscal de Eduardo Figueiredo, Álvaro<br />

Barbosa e Alexandre Reffóios e a Direcção de<br />

José Baganha, Alexandre Gamelas e Rui<br />

Florentino. Na Assembleia foi também a decidida<br />

a agenda de uma nova reunião, para debate sobre<br />

as primeiras atividades da Associação, que deverá<br />

realizar-se no Convento de Cristo, em Tomar.<br />

Rui Florentino, CESUR-IST, Universidade de<br />

Lisboa, Av. Rovisco Pais 1, 1049-001 Lisboa,<br />

Portugal. Email: ruiflorentino@gmail.com.


Estudos urbanos e geometria fractal<br />

Niara Palma<br />

Universidade de Santa Cruz do Sul, Rua Jerônimo Coelho 267, CEP 90010241 Bairro<br />

Centro Histórico, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.<br />

Email: niara.palma.br@gmail.com<br />

Artigo revisto recebido a 24 de Janeiro de 2014<br />

Resumo. Muitas metodologias convencionais utilizadas no estudo da forma<br />

urbana não têm considerado o grau de irregularidade dos perímetros urbanos<br />

nem toda a complexidade morfológica, pois tratam a forma das cidades dentro<br />

do âmbito da geometria euclidiana. Este artigo explora a aplicação da<br />

geometria fractal ao estudo de áreas urbanas, centrando-se num conjunto de<br />

aspetos da forma urbana relacionados com a fragmentação dos tecidos<br />

urbanos, a presença de vazios urbanos e, por fim, a ‘auto-semelhança’ em<br />

diferentes escalas de observação. Esta análise desenvolve-se a partir do<br />

trabalho de investigação desenvolvido por Frankhauser desde os anos 90. A<br />

análise fractal é aplicada a um conjunto de cinco cidades no Vale do Rio<br />

Pardo, no Rio Grande do Sul, Brasil. Ao longo dos últimos anos, este conjunto<br />

de cidades tem crescido de forma desordenada, sendo que o desenvolvimento<br />

acelerado e a ampliação do perímetro urbano originaram uma ocupação<br />

rarefeita com grandes impactos sobre os tecidos urbanos.<br />

Palavras-chave: estudos urbanos, geometria fractal, dimensão fractal, autosemelhança,<br />

Vale do Rio Pardo<br />

A evolução da estrutura urbana pode ser<br />

representada como um sistema que progride<br />

em passos discretos. Cada estado alcançado<br />

depende das relações funcionais, da história e<br />

do processo de evolução anterior. Neste<br />

artigo considera-se a cidade como um<br />

sistema dinâmico, em constante<br />

transformação, onde a estrutura urbana é<br />

formada ao longo do tempo, gerando<br />

potenciais de atratividade capazes de<br />

catalisar a transformação espacial. A<br />

estrutura urbana é, então, o resultado de uma<br />

série de relações espaciais e socioeconómicas<br />

que se complementam e que se manifestam<br />

fisicamente no espaço construído. Assim<br />

como as decisões de localização de<br />

atividades (decisões que deixam marcas<br />

importantes na composição do espaço<br />

urbano), também as inovações de uso<br />

interferem no crescimento e na densidade de<br />

ocupação, estruturando a organização e a<br />

complexidade do sistema urbano.<br />

Os estudos urbanos consideram o<br />

crescimento da cidade, as suas<br />

transformações, os padrões que nela vão<br />

emergindo – as novas ordens e estruturas.<br />

Neste sentido, os investigadores nesta área<br />

científica têm trabalhado no desenvolvimento<br />

de modelos que possam refletir, de uma<br />

forma cada vez mais refinada, as<br />

características dinâmicas do sistema urbano.<br />

O modelo, sendo uma representação<br />

simplificada da realidade, permite a<br />

‘descrição’ de um modo sistémico. Este<br />

processo ocorre no sentido de extrair do<br />

sistema urbano concreto os aspetos<br />

fundamentais de cada fenómeno estudado e<br />

de inferir sobre as principais relações<br />

existentes.<br />

A análise do crescimento urbano pode<br />

requerer formas quantitativas de ‘descrição’<br />

que permitam a identificação de diferentes<br />

padrões de ocupação. Para uma reflexão<br />

sobre as diferentes formas de crescimento<br />

urbano deverá ser considerada a forma destes<br />

padrões, a sua representação e a possibilidade<br />

de comparação da sua forma, podendo<br />

relacionar diferentes sistemas urbanos ou<br />

Revista de Morfologia Urbana (2014) 2(1) 15-24 Rede Portuguesa de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214


16 Estudos urbanos e geometria fractal<br />

manter o foco na análise da evolução de<br />

apenas um sistema ao longo do tempo.<br />

Em muitos casos, as áreas urbanas são<br />

formadas por clusters, de diferentes<br />

tamanhos, distribuídos espacialmente de<br />

forma não homogénea ao longo de vales,<br />

linhas de transporte ou áreas menos<br />

acessíveis ocupadas de maneira esparsa.<br />

Estas situações levam os investigadores e os<br />

profissionais a procurar novos modos de<br />

‘descrição’ da forma urbana, abrindo-se aqui<br />

um espaço para a utilização da geometria<br />

fractal.<br />

Geometria fractal<br />

Ao longo dos anos 70 e 80, Mandelbrot<br />

desenvolveu a geometria fractal, uma<br />

descrição sistemática e abrangente da<br />

linguagem matemática subjacente aos<br />

processos e formas naturais – ver por<br />

exemplo, o livro seminal The fractal<br />

geometry of nature (Mandelbrot, 1982). Em<br />

1975, Mandelbrot introduziu o termo fractal,<br />

do latim fractus, que significa ‘fragmentado’.<br />

A própria palavra ‘fractal’ contém um<br />

importante aspeto visual dessas estruturas<br />

matemáticas, e de muitas estruturas naturais<br />

– a sua aparência irregular e fragmentada<br />

(Joye, 2011).<br />

Uma característica importante das formas<br />

fractais é que este aspeto fragmentado surge<br />

em diferentes escalas da estrutura – uma<br />

propriedade designada como ‘autosemelhança’.<br />

Talvez a característica mais<br />

importante de um fractal seja a ‘dimensão<br />

fractal’. Enquanto na geometria Euclidiana a<br />

dimensão fornece uma informação sobre o<br />

espaço ocupado pelo objeto, na geometria<br />

fractal a dimensão (fractal) representa<br />

também o nível de irregularidade de um<br />

objeto (Mandelbrot, 1991). Quanto maior for<br />

a irregularidade de uma forma, maior será a<br />

sua dimensão fractal. Essa característica da<br />

dimensão fractal torna-a numa ferramenta<br />

muito útil para a apreensão das características<br />

individuais de uma forma. Torna-a, por<br />

exemplo, uma ferramenta útil para perceber a<br />

expansão de novas áreas urbanas a partir de<br />

uma área inicial.<br />

Na geometria Euclidiana, um ponto tem<br />

dimensão 0, uma linha tem dimensão 1, um<br />

quadrado ou um retângulo têm dimensão 2 e<br />

um volume no espaço é 3-dimensional. Pelo<br />

contrário, um fractal num plano terá uma<br />

dimensão entre 1 e 2, e um fractal no espaço<br />

terá uma dimensão entre 2 e 3. Os fractais<br />

têm uma dimensão não-integral pois ocupam<br />

mais espaço do que uma simples linha – a<br />

primeira dimensão – mas não ocupam todo o<br />

plano – a segunda dimensão (Joye, 2011).<br />

Falconer (1991) sustenta que para um<br />

objeto ser considerado um fractal deverá<br />

cumprir um conjunto de requisitos: ser autosimilar<br />

(um intervalo entre 0 e ½ deve ser<br />

igual a um intervalo entre ½ e 1); ser<br />

demasiado irregular para poder ser descrito<br />

pela geometria tradicional; possuir dimensão<br />

fractal, que será normalmente superior à<br />

dimensão Euclidiana; poder ser obtido<br />

através de um procedimento recursivo; e, por<br />

fim, não variar com a escala.<br />

A geometria fractal tem vindo a ser<br />

utilizada em diversas áreas do conhecimento<br />

como o estudo de sistemas caóticos (por<br />

exemplo, o padrão de formação de nuvens), a<br />

caracterização de objetos, a análise e o<br />

reconhecimento de padrões em imagens, a<br />

análise de texturas e a medição do<br />

comprimento de curvas.<br />

Desde os anos 80 a geometria fractal tem<br />

sido utilizada para a análise de fenómenos<br />

urbanos, destacando-se: na década de 90, os<br />

trabalhos de Allen (1997), Batty e Longley<br />

(1994) e Frankhauser (1994, 1998); na<br />

primeira década do século XX, os textos de<br />

Batty (2003), Benguigui et al. (2008),<br />

Cooper e Oskrochi (2008), Frankhauser e<br />

Pumain (2000), Frankhauser (2002) e<br />

Weidlich (2000); e nos primeiros anos da<br />

presente década, Feng e Chen (2010) e Terzi<br />

e Kaya (2011). No Brasil esta abordagem foi<br />

já utilizada, na área da geografia, por<br />

Azevedo e Christofoletti (2007) e Trentin<br />

(2012).<br />

Batty e Longley (1994) consideram que<br />

do mesmo modo que o crescimento natural,<br />

também o crescimento urbano envolve<br />

adição e subtração de unidades básicas,<br />

células ou partículas. No caso das cidades,<br />

estas unidades podem ser individuais,<br />

residências, firmas, ligações de transporte e<br />

outros. As cidades crescem através da<br />

acumulação destas unidades básicas. Estes<br />

padrões podem existir em escalas maiores e<br />

indicar auto-similaridade em escalas que<br />

emergem do processo de crescimento.


Estudos urbanos e geometria fractal 17<br />

Considera-se que dentro de cada processo de<br />

crescimento existem códigos que determinam<br />

o modo como a organização destas unidades<br />

básicas de desenvolvimento urbano define o<br />

seu crescimento e forma, repetindo-se em<br />

diferentes escalas. Deste modo a repetição de<br />

padrões torna-se um elemento natural no<br />

crescimento urbano.<br />

Modelos clássicos<br />

A propriedade mais básica de um objeto<br />

fractal é ele ser, por definição, multi-escalar.<br />

Esta característica resulta do procedimento<br />

utilizado para construir um fractal teórico,<br />

baseado na repetição da mesma operação,<br />

definida pelo objeto gerador, em escalas cada<br />

vez menores. Ao mesmo tempo, o limite<br />

deste objeto geométrico torna-se cada vez<br />

mais complexo pela inclusão de um número<br />

crescente de tentáculos (Frankhauser, 2004).<br />

A Figura 1 ilustra a geração do chamado<br />

‘Tapete de Sierpinski’ (figura plana<br />

desenvolvida por Sierpinski).<br />

Neste exemplo a estrutura geométrica<br />

permanece confinada á área do quadrado<br />

inicial. O mesmo tipo de objeto geométrico<br />

pode ser também construído pela adição de<br />

quadrados de uma determinada dimensão e<br />

de acordo com uma regra de geração, dando<br />

origem a um objeto cada vez mais complexo.<br />

Segundo Frankhauser (2004), este<br />

exemplo pode ser, de algum modo,<br />

relacionado com um processo de expansão<br />

urbana onde, a partir de um núcleo inicial,<br />

são adicionadas novas áreas ao longo de<br />

quatro eixos de saída da cidade. Numa fase<br />

seguinte, a expansão continua ao longo dos<br />

eixos principais, mas também ao longo de<br />

eixos secundários dando origem a uma rede<br />

viária hierarquizada (Figura 2).<br />

Por outro lado, a Figura 3 poderá sugerir<br />

áreas metropolitanas formadas por<br />

assentamentos de dimensão variada,<br />

desconectados, distribuídos de maneira<br />

desigual sobre o espaço. Novamente, a<br />

estrutura dos fractais torna-se mais e mais<br />

complexa a cada nova iteração.<br />

Os fractais, regulares e irregulares,<br />

parecem assim oferecer uma base<br />

interessante para o estudo de assentamentos<br />

urbanos. Em seguida, serão considerados os<br />

espaços construídos da cidade como os<br />

Figura 1. Geração de um Tapete de Sierpinski.<br />

Em cada passo, cada quadrado é substituído<br />

por n=5 quadrados com comprimento<br />

reduzido pelo fator r = 1/3.<br />

Figura 2. Geração de um fractal pela adição de<br />

elementos (relacionável com a rede viária).<br />

Figura 3. Um Tapete de Sierpinski consistente<br />

de uma série de clusters (a), um compacto com<br />

hierarquia de espaços abertos (b) e um tipo<br />

Poeira de Fournier que remete uma rede viária<br />

intra-urbana (c).<br />

elementos constitutivos da ‘massa’ de uma<br />

estrutura fractal. Este processo envolve a<br />

contagem do número de pontos ocupados,<br />

que se encontram a uma determinada<br />

distância de cada ponto ocupado, calculandose<br />

em seguida a correlação entre eles. O<br />

processo inicia-se com apenas um ponto (um<br />

pixel), sendo de seguida ampliada a escala de<br />

análise até se cobrir a figura como um todo.<br />

A dimensão mede o grau de concentração<br />

dos espaços ocupados através de diferentes<br />

escalas, ou mais precisamente, o decaimento<br />

relativo na massa em qualquer distância do<br />

ponto onde a massa é concentrada. Neste<br />

sentido, é possível perceber em detalhe a<br />

distribuição dos pontos ocupados na forma<br />

em análise. Como foi já referido, para as<br />

formas perfeitas, usualmente estudadas pela


18 Estudos urbanos e geometria fractal<br />

geometria Euclidiana, o valor estimado de<br />

dimensão fractal é muito próximo de 1.<br />

A dimensão fractal de uma superfície<br />

uniformemente ocupada será igual a 2, pois<br />

essa não possui irregularidades. Note-se que<br />

no modelo de Frankhauser (2004), aqui<br />

utilizado para o cálculo de dimensão fractal,<br />

o valor é estimado segundo o número de<br />

pixels ocupado em cada figura, representada<br />

como uma forma dentro de um limite<br />

quadrado (geração de imagens que ainda<br />

deixam espaços em branco no seu limite).<br />

Devido a esta característica de leitura do<br />

modelo, os valores não são exatamente iguais<br />

a 2.<br />

Naturalmente, os assentamentos urbanos<br />

não são construídos como as figuras aqui<br />

apresentadas. Como tal, Frankhauser (2004)<br />

sugere diferentes métodos para verificar o<br />

quanto um padrão observado é, de facto,<br />

estruturado de acordo com a lógica fractal.<br />

Estes métodos reproduzem a lógica de<br />

interação medindo a distribuição dos espaços<br />

ocupados ou do comprimento da fronteira<br />

através de múltiplas escalas. Este tipo de<br />

análise foi utilizado para o estudo de<br />

diferentes tipos de ocupação, especialmente<br />

tipos considerados ‘amorfos’, com fronteiras<br />

‘suaves’ ou ‘dendríticas’. Quando a forma<br />

em análise não é uma figura geométrica<br />

perfeita, ou é preenchida de forma irregular,<br />

a sua dimensão fractal assume um valor<br />

compreendido entre 1 e 2. A Figura 4<br />

compara uma forma circular perfeita<br />

(perímetro), com uma forma circular com<br />

preenchimento irregular e, ainda, com uma<br />

forma circular com a superfície<br />

uniformemente ocupada.<br />

Na secção seguinte descreve-se uma<br />

aplicação a um conjunto de cidades do Vale<br />

do Rio Pardo. A aplicação centra-se no<br />

perímetro urbano e nos vazios internos, e tem<br />

em vista a identificação do tipo de ocupação<br />

presente em cada cidade. Foi utilizado o<br />

software Fractalyse desenvolvido no centro<br />

de investigação ThéMA num projeto<br />

coordenado por Frankhauser e Tannier. Será<br />

aplicada a medida de dimensão fractal, do<br />

tipo correlação, onde cada ponto é rodeado<br />

por uma janela de pequena dimensão.<br />

Contabiliza-se o número de pontos<br />

ocupados dentro de cada janela, sendo que,<br />

em seguida, a mesma operação é aplicada<br />

para janelas cada vez maiores. Se houver<br />

Figura 4. Dimensão Fractal de um círculo<br />

segundo seu perímetro, preenchimento<br />

irregular e totalmente preenchido.<br />

alteração de pontos proporcionalmente à<br />

escala da nova janela (correlação positiva), a<br />

forma é considerada uniforme. Por outro<br />

lado, se o número de pontos não for<br />

proporcional à mudança da escala de<br />

crescimento das janelas utilizadas, está-se em<br />

presença de uma forma fragmentada e<br />

irregular, como mostra a Figura 5. Em cada<br />

gráfico, o eixo X representa o lado da janela<br />

Ɛ = (2i + 1), o eixo Y representa a média de<br />

pontos contados por janela e o parâmetro<br />

principal é o tamanho do lado da janela Ɛ.<br />

Caso de estudo: cinco cidades no Vale do<br />

Rio Pardo<br />

Escala regional e urbana<br />

Esta secção apresenta a aplicação da<br />

geometria fractal a cinco cidades do Vale do<br />

Rio Pardo, no Rio Grande do Sul: Estrela,<br />

Lajeado, Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires<br />

e, por fim, Vera Cruz. O Vale do Rio Pardo é<br />

uma região no Rio Grande do Sul – uma das<br />

27 unidades federativas Brasileiras,<br />

localizada no extremo sul do país. Reside<br />

nesta região (com uma área de 13 250 km²)<br />

uma população de perto de 450 000<br />

habitantes (dados da Fundação de Economia<br />

e Estatística do Rio Grande do Sul)<br />

distribuída por um vasto conjunto de cidades<br />

de pequena e média dimensão. A rede de<br />

cidades do Vale do Rio Pardo é apresentada<br />

na Figura 6, onde se identifica as que serão<br />

parte desta análise. Embora a figura destaque<br />

apenas as estradas principais, pode-se<br />

perceber a existência de uma rede formada<br />

por essas estradas e pelo conjunto de vias<br />

secundárias utilizadas diariamente pela<br />

população que transita entre estas cidades em<br />

função das relações de trabalho, estudo e<br />

transporte de mercadorias.<br />

De entre as cinco cidades selecionadas


Estudos urbanos e geometria fractal 19<br />

Figura 5. Ampliação da janela para a contagem de pontos existentes em cada escala<br />

considerada até preencher toda a figura. Neste caso foram consideradas janelas de 1 a 117<br />

pixels.<br />

será dada uma maior atenção a Santa Cruz do<br />

Sul, devido à sua situação de principal polo<br />

regional, concentrando as principais<br />

indústrias de fumo, principal produto agrícola<br />

da região. A partir de uma primeira análise<br />

de Santa Cruz do Sul será possível<br />

estabelecer um conjunto de parâmetros que<br />

sirvam de referência para a análise dos<br />

resultados das demais cidades que fazem<br />

parte do seu sistema regional. Santa Cruz do<br />

Sul é um dos principais núcleos da<br />

colonização alemã do Rio Grande do Sul. A<br />

colónia foi fundada, por lei provincial, a 6 de<br />

Dezembro de 1847. Esta cidade possui dois<br />

importantes limites: a leste, o morro chamado<br />

‘Cinturão Verde’, e a oeste, a BR 471. Santa<br />

Cruz do Sul desenvolveu-se a partir de um<br />

núcleo planeado, com lotes de traçado<br />

regular (demarcados pelo engenheiro<br />

Frederico Cabral) e com um limite<br />

quadrangular – figuras 7 e 8.<br />

Até aos anos 20 do século passado, Santa<br />

Cruz manteve uma forma bastante regular.<br />

Ao longo do século XX a cidade foi-se<br />

expandindo seguindo antigas estradas e<br />

incluindo parcelas ligadas ao perímetro<br />

urbano anterior (Figura 7). Os morros foram<br />

sempre os ‘constrangimentos’ mais<br />

significativos, acabando por definir uma<br />

cidade com uma forma mais ‘dendrítica’.<br />

Nos últimos anos, a cidade cresceu de forma<br />

rápida e pouco regulada. Esta particularidade<br />

é detetada através da observação dos valores<br />

de dimensão fractal que, em apenas 10 anos,<br />

aumentaram cerca de 25 por cento (Figura 8).<br />

A criação do distrito industrial e a<br />

ocupação da Área de Preservação<br />

Permanente – o Cinturão Verde –<br />

contribuíram para este tipo de ocupação e<br />

para o crescimento do perímetro urbano.<br />

Outra característica fundamental de Santa<br />

Cruz do Sul é a ocupação de áreas próximas<br />

às suas principais saídas em direção às<br />

demais cidades do Vale do Rio Pardo, com<br />

uma forte ligação de complementaridade<br />

socioeconómica, provocando uma grande<br />

interação espacial. Esta interação ocorre<br />

diariamente, sendo que o fluxo de pessoas<br />

gerado se deve fundamentalmente a<br />

deslocações casa-trabalho, casa-estudo, local<br />

de produção-abastecimento, e por fim, ao<br />

acesso à oferta diversificada do seu polo<br />

principal, Santa Cruz do Sul. Naturalmente,<br />

esta rede afeta também as outras cidades, de<br />

dimensão mais reduzida, do Vale do Rio<br />

Pardo (Figura 9).<br />

Muitos sistemas numa fase de<br />

crescimento apresentam auto-similaridade.<br />

Também a cidade tem sido considerada como<br />

um elemento com estas características. A<br />

similaridade pode também influenciar um<br />

conjunto de elementos que possuam ligação<br />

entre si, assim como as interações espaciais<br />

encontradas em sistemas regionais. Nas<br />

últimas décadas do século XX, uma parte da<br />

comunidade científica, na área da Física,<br />

começou a interessar-se pela dinâmica de<br />

sistemas ditos complexos, cujas partes<br />

interagem de forma não-linear. Uma das<br />

propriedades marcantes de tais sistemas é a<br />

presença de leis de escala ou Leis de<br />

Potência. Uma Lei de Potência é uma relação<br />

funcional entre duas quantidades. Por<br />

exemplo: a relação de complementaridade


20 Estudos urbanos e geometria fractal<br />

Figura 6. Distribuição territorial das cidades<br />

estudadas.<br />

socioeconômica existente num sistema<br />

regional, regido por um polo principal, que<br />

pode afetar as demais cidades da rede, num<br />

determinado atributo. Neste caso, o atributo é<br />

a forma urbana e a ocupação urbana, medida<br />

pela dimensão fractal de cada cidade<br />

analisada.<br />

A hipótese principal é que se um<br />

determinado tipo de ocupação começa a<br />

desenvolver-se numa cidade que é<br />

considerada um polo de um sistema regional<br />

– como é o caso de Santa Cruz do Sul –<br />

outras cidades da mesma região poderão vir a<br />

apresentar o mesmo tipo de crescimento e<br />

ocupação do solo, gerando assim<br />

características formais similares. A dimensão<br />

fractal de cada uma das cidades permite<br />

comparar o grau de fragmentação do tecido<br />

urbano gerado pela ocupação recente – que<br />

define sua forma atual – tendo em<br />

consideração o seu perímetro urbano e os<br />

vazios internos.<br />

Apesar de Santa Cruz do Sul ter mantido,<br />

ao longo de muitas décadas, uma forma<br />

compacta e regular semelhante ao seu núcleo<br />

inicial, com as mudanças na região e com o<br />

aparecimento de novos loteamentos e novos<br />

tipos habitacionais (por exemplo, os<br />

condomínios fechados), a cidade passou a<br />

apresentar uma forma dendrítica.<br />

No contexto regional do Vale do Rio<br />

Pardo, o fenómeno de ocupação do solo<br />

urbano pode ser considerado como ‘coevolução’,<br />

ou seja, um processo<br />

evolucionário que surge da interação entre<br />

componentes de espécies diferentes num<br />

mesmo sistema – neste caso, as cidades da<br />

região que têm apresentado mudanças na sua<br />

forma urbana resultantes de novas ocupações<br />

do solo e de uma expansão incontrolada da<br />

área urbana. Nas cidades estudadas é possível<br />

observar um parcelamento de propriedades<br />

próximas às áreas já urbanizadas, e o<br />

desenvolvimento urbano ao longo de eixos<br />

fundamentais de transporte.<br />

A uma escala menor, o crescimento<br />

envolve transições individuais relacionadas<br />

com o uso do solo, a ocupação e a densidade<br />

urbana. Se há uma alteração na configuração<br />

deste conjunto de componentes, o sistema<br />

urbano resultante deixa de apresentar apenas<br />

as propriedades coletivas dos componentes,<br />

passando também a incluir propriedades<br />

emergentes do sistema decorrentes de<br />

alterações das relações entre os componentes<br />

da estrutura urbana. Neste caso, a Lei de<br />

Potência, gerada por novas formas de<br />

ocupação urbana, leva a que no contexto<br />

regional se encontrem padrões similares. Isto<br />

mesmo é visível nas Tabela 1 e 2, que<br />

apresentam os resultados da análise da<br />

dimensão fractal das cinco cidades<br />

analisadas.<br />

No caso da cidade de Lajeado, a ocupação<br />

urbana possuiu outro grau de organização,<br />

com uma alta dimensão fractal, próxima de 2.<br />

Como tal, poderia ser considerada uma figura<br />

totalmente ocupada. A contradição, porém, é<br />

a formação de um tecido urbano com pouca<br />

acessibilidade, com muitos loteamentos, com<br />

um modelo do tipo ‘espinha de peixe’ que<br />

está associado a uma elevada segregação.<br />

As Leis de Potência revelam<br />

regularidades em propriedades de sistemas<br />

complexos – como são as cidades – que<br />

sofrem transformações em diferentes escalas<br />

e que apresentam similaridades entre elas. A<br />

visão numa determinada escala pode ser<br />

similar à visão noutras escalas. Os exemplos<br />

apresentados nas primeiras secções do artigo<br />

apresentam uma auto-similaridade perfeita<br />

por se tratarem de modelos matemáticos. No<br />

entanto, isto não acontece nem no ambiente<br />

urbano nem na natureza.<br />

Conforme foi dito anteriormente, em<br />

muitos casos, as áreas urbanas são formadas<br />

por clusters de diferentes tamanhos,<br />

distribuídos espacialmente de um modo não<br />

homogéneo ao longo de vales, linhas de<br />

transporte e áreas menos acessíveis, que são<br />

ocupadas de maneira esparsa. Uma mudança<br />

de escala, da urbana para a regional, e<br />

considerando as diferentes cidades


Estudos urbanos e geometria fractal 21<br />

Figura 7. Plantas de Santa Cruz do Sul em 1870, 1922 e 1957.<br />

Figura 8. Perímetro urbano de Santa Cruz do Sul entre 1870 e 2012.<br />

Figura 9. Contorno e vazios internos das cidades de Venâncio Aires, Vera Cruz, Estrela e<br />

Lajeado.


22 Estudos urbanos e geometria fractal<br />

Tabela 1. Dimensão Fractal de Santa Cruz<br />

do Sul entre 1870 e 2012.<br />

Tabela 2. Dimensão fractal de Venâncio<br />

Aires, Vera Cruz, Estrela e Lajeado.<br />

Figura 10. Parcela da cidade de Santa Cruz do Sul.<br />

Figura 11. Parcela da cidade de Lajeado.<br />

integrantes do Vale do Rio Pardo, evidencia<br />

todo um conjunto de semelhanças no tipo de<br />

crescimento urbano. Por outro lado, a<br />

característica básica de um fractal é a autosimilaridade<br />

em diferentes escalas que pode<br />

passar do âmbito regional para o urbano e<br />

para o intraurbano.<br />

Escala intraurbana<br />

A análise dos limites de uma cidade revela<br />

propriedades importantes do modo como se<br />

estrutura internamente. Estas propriedades<br />

podem ser medidas de diversos modos numa<br />

hierarquia que define dimensão, forma e<br />

escala. A característica de auto-similaridade<br />

em contexto intraurbano foi testada nas duas<br />

maiores cidades do conjunto em análise,<br />

Santa Cruz do Sul e Lajeado. Escolheram-se,<br />

de forma aleatória, parcelas ocupadas<br />

localizadas no perímetro urbano das<br />

respetivas cidades. O objetivo era testar se,<br />

em escalas menores, com uma definição de


Estudos urbanos e geometria fractal 23<br />

ruas e quarteirões, a alta fragmentação do<br />

tecido urbano permaneceria (mantendo-se<br />

também no perímetro urbano como um todo).<br />

No caso de Santa Cruz do Sul existe autosemelhança<br />

quando se parte para escalas<br />

menores de observação intraurbana. A<br />

dimensão fractal da parcela estudada nesta<br />

cidade é 1,565, quando analisado o perímetro<br />

urbano e as áreas de ocupação mais rarefeita<br />

(Figura 10). Do mesmo modo, também no<br />

caso da parcela da cidade de Lajeado a<br />

dimensão fractal continua elevada, com<br />

1,567 (Figura 11).<br />

Os exemplos das parcelas de Santa Cruz<br />

do Sul e Lajeado mostram que, mesmo<br />

alterando a escala de observação do<br />

território, é possível observar que os<br />

impactos gerados no tecido urbano são<br />

semelhantes às análises anteriores –<br />

desenvolvidas a escalas maiores – desde o<br />

desenvolvimento de uma forma dendrítica,<br />

até à incompatibilidade dos novos<br />

loteamentos com a rede viária existente.<br />

Conclusões<br />

Com o estudo de caso aqui apresentado, foi<br />

possível demonstrar a validade de uma<br />

metodologia de análise dos fenómenos<br />

urbanos, centrada na forma urbana e com<br />

uma forte componente de geometria fractal.<br />

Neste caso, o grau de fragmentação e<br />

preenchimento urbano pode ser avaliado a<br />

partir da dimensão fractal que, em Santa Cruz<br />

do Sul, contribui para a compreensão da<br />

dinâmica espacial e temporal da sua forma<br />

urbana. Com essa abordagem foi também<br />

possível analisar a dinâmica regional de<br />

expansão urbana de um conjunto de cidades<br />

inter-relacionadas por complementaridades<br />

socioeconómicas no Vale do Rio Pardo.<br />

Com base na dimensão fractal<br />

identificaram-se padrões de crescimento<br />

semelhantes associados à expansão<br />

desregrada, vigente na região, que leva à<br />

fragmentação dos tecidos urbanos e à<br />

emergência de formas urbanas irregulares.<br />

Essa propriedade foi detectada através da<br />

aplicação da dimensão fractal, mostrando-se<br />

tanto em âmbito intraurbano (indicando a<br />

existência de descontinuidades e vazios)<br />

como em perímetros irregulares (que se<br />

repetem, em maior ou menor grau, nas<br />

cidades analisadas).<br />

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Terzi, F. e Kaya, H. S. (2011) ‘Dynamic spatial


24 Estudos urbanos e geometria fractal<br />

analysis of urban sprawl through fractal<br />

geometry: the case of Istanbul’, Environment<br />

and Planning B: Planning and Design 38, 175-<br />

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(Instituto de Geociências, São Paulo).<br />

Weidlich, W. (2000) Sociodynamics: a systematic<br />

approach to mathematical modelling in the<br />

social sciences (Wolfgang Harwood Academic<br />

Publishers, Amsterdão).<br />

Tradução do resumo e palavras-chave<br />

Abstract. Conventional methodologies in the study of urban form have not been considering the whole<br />

morphological complexity of cities or the degree of irregularity of urban perimeters as they address the<br />

physical form of cities within the scope of Euclidean geometry. This paper explores the application of<br />

fractal geometry in the study of urban areas, focusing on a number of aspects of physical form related to<br />

the fragmentation of urban fabrics, the presence of urban voids and, finally, the existence of selfsimilarity<br />

at different scales of observation. This analysis draws on the research work developed by<br />

Frankhauser from the 1990s onwards. Fractal analysis is applied to a set of five cities in the Vale do Rio<br />

Pardo, Rio Grande do Sul, Brazil. Over the last years, this set of cities had an uncontrolled pattern of<br />

growth. The rapid urban development patterns and the expansion of urban perimeters have led to a type<br />

of rarefied territorial occupation with major impacts on the urban fabrics of these cities.<br />

Key Words: Urban studies, fractal geometry, fractal dimension, self-organization, Vale do Rio Pardo<br />

Turkish Network of Urban Morphology<br />

A primeira reunião da Turkish Network of<br />

Urban Morphology (TNUM) teve lugar no dia<br />

11 de Abril de 2014 no Center for<br />

Mediterranean Urban Studies da Mersin<br />

University, em Mersin. Os objetivos<br />

fundamentais desta reunião foram os seguintes:<br />

formar um espaço comum para a partilha de<br />

diferentes estudos morfológicos; discutir as<br />

possibilidades de desenvolvimento de estudos<br />

colaborativos, na área da forma urbana, por<br />

diferentes investigadores e instituições turcas; e,<br />

por fim, alargar os estudos a um nível<br />

internacional através da cooperação com outras<br />

redes nacionais e regionais e com o<br />

International Seminar on Urban Form (ISUF).<br />

A primeira reunião da rede, designada como<br />

Foundation Workshop, foi palco de muitas e<br />

proveitosas discussões. Na primeira parte do<br />

workshop os vários investigadores tiveram<br />

oportunidade de partilhar os seus estudos e<br />

análises. A segunda parte foi dedicada a um<br />

debate sobre o futuro do TNUM e sobre os<br />

diferentes desenvolvimentos possíveis para esta<br />

nova rede de investigação.<br />

Sublinham-se três aspetos fundamentais<br />

deste debate. O primeiro refere-se à estrutura<br />

organizacional da rede. Foi definido que o<br />

Center for Mediterranean Urban Studies irá<br />

atuar como elemento coordenador do TNUM.<br />

Os investigadores que estiveram presentes no<br />

workshop farão parte de uma comissão diretiva<br />

presidida por Ayşe Sema Kubat (Department of<br />

Urban and Regional Planning, Istanbul<br />

Technical University) coadjuvada pelo diretor<br />

do Center for Mediterranean Urban Studies,<br />

Tolga Ünlü (Department of City and Regional<br />

Planning, Mersin University).<br />

O segundo aspeto que importa referir<br />

prende-se com a formação de uma comissão<br />

com o objetivo de preparar uma lista<br />

bibliográfica de estudos sobre forma urbana na<br />

Turquia. Este trabalho terá por base o artigo de<br />

Ayşe Sema Kubat, The study of urban form in<br />

Turkey, publicado na revista Urban Morphology<br />

(Kubat, 2010).<br />

Por fim, foi estabelecido que o primeiro<br />

simpósio do TNUM realizar-se-á na Mersin<br />

University, a 22 e 23 de Outubro de 2015, e irá<br />

discutir as diferentes abordagens e perspetivas<br />

no estudo da forma urbana na Turquia.<br />

Reference<br />

Kubat, A. S. (2010) ‘The study of urban form in<br />

Turkey’, Urban Morphology 14, 31-48.<br />

Tolga Ünlü, Department of City and Regional<br />

Planning, Mersin University, Yenisehir, Mersin<br />

33343, Turkey. Email: tolgaunlu@gmail.com


Saverio Muratori e a escola Italiana de tipologia projetual<br />

Giancarlo Cataldi, Gian Luigi Maffei e Paolo Vaccaro<br />

Dipartimento di Progettazione dell’Architettura, Università degli Studi di Firenze,<br />

Viale Gramsci 42, 50132 Firenze, Italy, Email: giancarlo.cataldi@gmail.com,<br />

gianluigimaffei@libero.it<br />

Artigo originalmente publicado na Urban Morphology em Abril de 2002<br />

Resumo. Este artigo descreve o desenvolvimento da escola Muratoriana de<br />

morfologia urbana e tipologia do edificado. Partindo do trabalho de<br />

Muratori enquanto arquiteto experiente, profundamente envolvido na<br />

interpretação Romana do racionalismo Italiano, os autores descrevem o<br />

crescente interesse de Muratori pela história como meio para recuperar o<br />

sentido de continuidade na prática arquitetónica. Adotando uma abordagem<br />

teórica assente na arquitetura e no desenho urbano, Muratori começou a<br />

trabalhar num quadro crítico que pudesse explicar a criação e a<br />

transformação da forma urbana ao longo dos séculos. Muratori teve muitos<br />

seguidores. Descreve-se o ressurgimento do interesse pelo trabalho de<br />

Muratori nos anos 90.<br />

Palavras-chave: Muratori, Caniggia, história, tipologia projetual, Itália<br />

O quinquagésimo aniversário da publicação<br />

do ensaio fundamental de Saverio Muratori<br />

Vita e storia della città (Muratori, 1950)<br />

constitui uma oportunidade para descrever os<br />

acontecimentos e a evolução das ideias que<br />

caracterizaram a escola desenvolvida a partir<br />

da atividade de ensino de Muratori. De<br />

acordo com Muratori, ao longo da primeira<br />

metade do século XX, o planeamento urbano<br />

e a teoria de desenho urbano foram deixando<br />

de ser instrumentos culturais enraizados na<br />

história. Este processo refletiu-se no<br />

crescimento de uma abordagem positivista<br />

relativamente ao edifício. O planeamento e o<br />

desenho tornaram-se pouco mais do que<br />

instrumentos técnicos. Na opinião de<br />

Muratori, isto conduziu, progressivamente, a<br />

um empobrecimento da disciplina. Apenas<br />

um conhecimento sistemático das leis de<br />

reprodução da história poderia recrear o<br />

papel reclamado anteriormente pelo desenho<br />

urbano. Para alcançar esse conhecimento era<br />

necessário um novo quadro teórico, e foi à<br />

construção desse quadro que Muratori<br />

dedicou a sua vida profissional.<br />

Saverio Muratori<br />

Muratori (1910-73) desenvolveu o seu<br />

percurso como estudante, na escola e na<br />

universidade, durante um período de<br />

profunda renovação das instituições de<br />

ensino Italianas (Cataldi, 1982a, 1984;<br />

Marcucci, 1984; Pigafetta, 1990). A Riforma<br />

Gentile de 1923 constituiu uma tentativa de<br />

reestabelecer o conhecimento académico nas<br />

disciplinas das humanidades e das ciências.<br />

A mudança foi finalmente introduzida em<br />

1929. A aproximação destas duas culturas<br />

deu relevância à arquitetura, já que nela seria<br />

possível ultrapassar as diferenças entre<br />

escolas de arte e escolas politécnicas de<br />

engenharia.<br />

Pouco tempo depois da sua graduação,<br />

numa escola clássica, o jovem Muratori terá<br />

absorvido o conceito de arquitetura<br />

contextualizada nas aulas dos seus primeiros<br />

professores (Fasolo, Giovannoni, Foschini,<br />

Calandra e Piacentini), em particular<br />

Gustavo Giovannoni. Este conceito foi<br />

posteriormente incorporado e desenvolvido<br />

Revista de Morfologia Urbana (2014) 2(1) 25-36 Rede Portuguesa de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214


26 Saverio Muratori e a escola Italiana de tipologia projetual<br />

na sua própria teoria.<br />

Após a conclusão do curso em 1933, uma<br />

grande curiosidade intelectual e um elevado<br />

referencial cultural levaram Muratori a<br />

aprofundar o seu conhecimento sobre<br />

arquitetura moderna, através da elaboração<br />

de um conjunto de artigos para a revista<br />

Architettura sobre os mais recentes projetos<br />

arquitetónicos na Europa. Este trabalho<br />

influenciou os seus primeiros projetos,<br />

maioritariamente desenvolvidos em<br />

colaboração com Ludovico Quaroni e<br />

Francesco Fariello, nos quais se inclui uma<br />

maqueta da Praça Imperial Romana para a<br />

Exposição Universal de Roma em 1937.<br />

Os projetos subsequentes, de sua<br />

exclusiva autoria, caracterizam-se por um<br />

interesse experimental pela composição das<br />

praças Italianas: temas urbanos<br />

fundamentais, nos quais o ambiente<br />

consolidado envolvente constitui a razão<br />

contextualizada para a existência da praça e<br />

dos edifícios monumentais que a rodeiam.<br />

A guerra interrompeu a atividade de<br />

planeamento de Muratori, mas não a sua<br />

reflexão crítica que, pelo contrário,<br />

aumentou de intensidade. Os seus ensaios de<br />

1944-46, publicados a título póstumo por<br />

Guido Marinucci, testemunham isto mesmo.<br />

O conceito de cidade como organismo vivo,<br />

como obra de arte coletiva, e a ideia de<br />

planear novos edifícios em continuidade com<br />

a cultura edificatória do lugar são<br />

apresentados pela primeira vez nesses<br />

ensaios. Com uma forma embrionária está<br />

também presente a ideia de ‘história<br />

operativa’, que viria a encontrar uma<br />

definição explícita nos livros sobre Veneza.<br />

Nos anos de reconstrução do pós-guerra,<br />

Muratori envolveu-se profundamente nos<br />

planos de habitação do Istituto Nazionale<br />

delle Assicurazioni (INA), lançados em 1948<br />

e implementados em todas as grandes<br />

cidades Italianas. Muratori foi responsável,<br />

enquanto líder de grupo, por alguns distritos<br />

de Roma, como é o caso de Tuscolano, onde<br />

a abordagem de planeamento urbano e o<br />

edificado foram influenciados pelo<br />

empirismo Escandinavo.<br />

Durante este período, Muratori desenhou<br />

quatro edifícios públicos fundamentais em<br />

três cidades Italianas: a igreja de S. Giovanni<br />

al Gatano em Pisa (Figura 1), o edifício de<br />

escritórios da Ente Nazionale di Previdenza<br />

ed Assicurazione Sociale em Bolonha<br />

(Figura 2), a sede do Partido Democrata<br />

Cristão (Figura 3) e a, incompleta, igreja de<br />

Tuscolano, ambos em Roma. Desta forma,<br />

Muratori pode explorar soluções para<br />

problemas técnicos modernos (inerentes a<br />

novos materiais e, em particular, ao betão<br />

armado) quer ao nível do estilo quer ao nível<br />

do ambiente. É notável como, nestes<br />

trabalhos, Muratori abarca os períodos mais<br />

significativos da história da arquitetura<br />

Italiana: desde o Românico em Pisa, ao<br />

Gótico em Bolonha, até ao Renascimento e<br />

ao Barroco em Roma. Não importa a nossa<br />

apreciação destes trabalhos; eles sobressaem<br />

no panorama internacional da arquitetura<br />

contemporânea porque os temas que<br />

exploram estão décadas à frente do seu<br />

tempo.<br />

Muito provavelmente, estas experiências<br />

induziram em Muratori uma profunda<br />

insatisfação com o vazio conceptual que é<br />

evidente entre os planos urbanos e estes<br />

trabalhos de arquitetura. Ele considerou que<br />

os primeiros – seguindo as funções do seu<br />

tempo – se encontravam relacionados de<br />

forma pobre com a complexidade e a<br />

originalidade dos últimos.<br />

Em 1952, foi convidado para Veneza para<br />

a cátedra de Características Distributivas dos<br />

Edifícios. Aqui, reexaminou as primeiras<br />

pesquisas urbanas sobre o centro da cidade e<br />

as hipóteses teóricas do seu ensaio de 1950.<br />

Muratori fez tudo isto utilizando os conceitos<br />

fundamentais de tipo, tecido, organismo e<br />

história operativa. Studi per una operante<br />

storia urbana di Venezia constituiu a<br />

primeira pesquisa sistemática sobre os<br />

edifícios históricos de uma cidade e surgiu<br />

um ano antes do livro complementar de<br />

Paolo Maretto sobre L’edilizia gótica<br />

veneziana, que continha uma introdução<br />

crítica de Muratori (Maretto, 1960; Muratori,<br />

1959).<br />

Em 1954 Muratori regressou a Roma para<br />

substituir Arnaldo Foschini como Professor<br />

de Composição Arquitetónica. Em Roma,<br />

Muratori procurou renovar o ensino da<br />

arquitetura. A sua experiência em Veneza<br />

despoletou a ideia de história operativa, que<br />

veio a inspirar e a fornecer a base para os<br />

planos dos estudantes em Roma. Os temas<br />

propostos tinham em vista a compreensão<br />

dos diferentes valores inerentes às diferentes


Saverio Muratori e a escola Italiana de tipologia projetual 27<br />

Figura 3. Edifício de escritórios, Roma (1955-<br />

58), anterior Sede do Partido Democrata<br />

Cristão, projetado por S. Muratori.<br />

Figura 1. Igreja de S. Giovanni al Gatano, Pisa<br />

(1947-70), projetada por S. Muratori.<br />

Figura 2. Edifício de escritórios da Ente<br />

Nazionale di Previdenza ed Assicurazione<br />

Sociale, Bolonha (1952-57), projetado por S.<br />

Muratori.<br />

fases de formação urbana, incluindo as<br />

influências e as implicações dos novos<br />

projetos sobre os edifícios existentes quer no<br />

centro histórico das cidades, onde o tecido é<br />

compacto, quer nos subúrbios, onde os<br />

territórios eram suscetíveis de acomodar um<br />

vasto leque de soluções.<br />

Ao considerar os organismos<br />

arquitetónicos, Muratori reforça os temas<br />

urbanos, como é exemplificado pelo famoso<br />

exercício da ‘capela em alvenaria’. Aqui, era<br />

pedido aos estudantes para planearem um<br />

edifício representativo e coerente, no qual, a<br />

organização espacial da forma – enquanto<br />

síntese de materiais, estrutura e plano<br />

compositivo – era o propósito fundamental.<br />

No início dos anos 60, a equipa de<br />

professores assistentes de Muratori começou<br />

a formar-se. Esta equipa incluía Renato<br />

Bollati, Sergio Bollati, Gianfranco Caniggia,<br />

Guido Figus, Sandro Giannini, Romano<br />

Greco, Paolo Maretto e Guido Marinucci.<br />

Com os Bollati e com Marinucci, Muratori<br />

foi responsável pelo notável atlas Studi per<br />

una operante storia urbana di Roma,<br />

concluído em 1963 (Muratori et al., 1963).<br />

Com outros, participou em importantes<br />

concursos de arquitetura, vencendo o<br />

concurso para Barene di S. Giuliano em<br />

Veneza em 1959. Este projeto incluía a<br />

recreação, numa versão moderna, na frente<br />

da lagoa, de três momentos particularmente<br />

significativos da história urbana de Veneza.<br />

Muratori tinha já aplicado este método de<br />

planeamento por fases (Cataldi, 1998), de<br />

forma menos explícita, nos conjuntos<br />

habitacionais do INA nos planos de<br />

expansão urbana em Magliana, em Roma.<br />

Entretanto, o ensino de Muratori, que se<br />

tinha distanciado de forma radical das<br />

tendências em voga, foi contestado por<br />

movimentos de jovens estudantes e por<br />

colegas do corpo docente de Roma, que<br />

acharam prudente afastarem-se de uma<br />

pessoa incómoda, totalmente comprometida<br />

com uma refundação da arquitetura e que,<br />

como tal, não apoiaria os formalismos e<br />

tecnicismos do movimento moderno. No<br />

final, o trabalho, a controvérsia e as


28 Saverio Muratori e a escola Italiana de tipologia projetual<br />

contendas produziram em Muratori um<br />

sentido crescente de isolamento, que<br />

coincidiu com o seu desejo de concentrar as<br />

suas reflexões filosóficas em temas mais<br />

abrangentes, fora do campo disciplinar<br />

específico da arquitetura. Civilità e territorio<br />

constitui o culminar de um percurso<br />

reflexivo que começou em 1962 com<br />

Architettura e civilità in crisi (Muratori,<br />

1963, 1967): ambos os títulos são indicativos<br />

das suas preocupações intelectuais. No<br />

primeiro, assume-se que a crise arquitetónica<br />

é expressão de uma crise mais abrangente. O<br />

segundo livro analisa os processos de autoconsciência.<br />

Para Muratori, a única forma de<br />

resolver a crise consistia na capacidade dos<br />

seres humanos estabelecerem, a uma escala<br />

global, uma relação equilibrada com os<br />

‘seus’ territórios.<br />

Muratori morreu em 1973 num momento<br />

de grande fervor intelectual, rodeado de<br />

alguns estudantes e colegas, incluindo Enzo<br />

Flamini, que teve a oportunidade de<br />

assimilar os últimos aspetos problemáticos<br />

do seu pensamento. Os projetos Atlante<br />

territoriale e Tabelloni, que pretendiam ser<br />

uma espécie de classificação lógica universal<br />

das estruturas construídas pelo homem,<br />

ficaram por concluir (Cataldi, 1984).<br />

Nos últimos anos, consciente do pouco<br />

tempo que lhe restava e da dificuldade em<br />

expressar as suas ideias, Muratori adquiriu o<br />

hábito de gravar os seus discursos e as suas<br />

aulas, que preparava utilizando diagramas e<br />

cartas sinópticas. Este é o tema das<br />

transcrições de Guido Marinucci (1924-<br />

2000) que, com uma profunda dedicação e<br />

uma paciência inesgotável, se dedicou ao<br />

trabalho do mestre nas décadas<br />

subsequentes. Em larga medida, Marinucci<br />

foi o responsável pelos dois volumes de<br />

trabalho póstumo centrado na metodologia<br />

do sistema realidade / auto-consciência, que<br />

constitui a última evidência escrita do<br />

pensamento de Muratori (Muratori, 1976,<br />

1978). Um homem culto com inúmeros<br />

interesses, um grande arquiteto com instinto<br />

para os problemas das formas; Marinucci<br />

ficou tão impressionado pelo seu encontro<br />

com Muratori que decidiu ser o curador e o<br />

promotor das suas ideias. Juntamente com os<br />

Bollati, Marinucci deu um importante<br />

contributo para a preparação do livro sobre<br />

Roma, que ele bem conhecia e amava.<br />

A escola Romana de Saverio Muratori<br />

A revolução no ensino iniciada por Saverio<br />

Muratori resultou numa reforma intelectual,<br />

ao invés de uma reforma cultural, para os<br />

seus assistentes que chegavam com<br />

diferentes experiências de aprendizagem. Ao<br />

longo dos anos, desenvolveu com eles um<br />

seminário, com a participação de alguns<br />

alunos mais interessados, no qual cada<br />

assistente era responsável por um conjunto<br />

de temas. Mais tarde, essa experiência<br />

conduziu aos cursos livres de 1965-66<br />

desenvolvidos sob sua orientação (Muratori,<br />

1967). Estes cursos constituíram uma<br />

tentativa de criar um curriculum para uma<br />

nova faculdade de arquitetura, altamente<br />

integrada, no que se refere às componentes<br />

de ensino. Esta tentativa entrou em conflito<br />

aberto com as propostas inovadoras para os<br />

estudos arquitetónicos, introduzidas alguns<br />

anos antes por Bruno Zevi, para quem<br />

Muratori era um académico e um<br />

tradicionalista. Atacado publicamente,<br />

Muratori reagiu através do famoso Discorso<br />

del Roxi (Cataldi, 1984), no qual reafirmou a<br />

sua posição e convidou para os seus cursos,<br />

aqueles que no movimento estudantil não<br />

partilhavam o extremismo de Zevi. Este<br />

processo deu lugar à formação de um grupo<br />

de estudantes altamente motivados, que<br />

promoveram uma campanha, na faculdade, a<br />

favor de Muratori. Muratori decidiu aceder<br />

aos seus pedidos e organizou cursos de<br />

planeamento não-institucionais. O fracasso<br />

dessas iniciativas, devido à oposição da<br />

faculdade e ao levantamento dos estudantes<br />

em 1968, provocou em Muratori um sentido<br />

de isolamento e introversão que atravessou<br />

as aulas dos seus últimos anos (que foram<br />

publicadas a título póstumo por Marinucci).<br />

Entretanto, um conjunto de assistentes de<br />

Muratori começou a desenvolver os seus<br />

próprios programas de investigação sobre<br />

tecidos, organismos urbanos e território.<br />

Enquanto Marinucci e os Bollati ajudaram<br />

Muratori com o seu livro sobre Roma,<br />

Caniggia publicou Como: lettura di una città<br />

em 1963, ao mesmo tempo que publicava<br />

Esperienze operative sul tessuto urbano di<br />

Roma com S. Bollati, G. Marinucci e A.<br />

Giannini (Bollati et al., 1963; Caniggia,<br />

1963). Estes livros foram seguidos pelo<br />

ensaio do jovem bolseiro Paolo Vaccaro


Saverio Muratori e a escola Italiana de tipologia projetual 29<br />

sobre Tipo e tissuto edilizio a Roma<br />

(Vaccaro, 1968).<br />

Para um grupo considerável de<br />

assistentes, a primeira oportunidade para<br />

colocar em prática o método tipológico<br />

surgiu na Etiópia em 1964, com a<br />

necessidade de planear 22 cidades (Bollati et<br />

al., 1968). Neste caso, a interpretação dos<br />

processos de formação territorial Etíope<br />

forneceu a chave conceptual para formular<br />

os diferentes planos de cidades. Estes foram<br />

condensados numa única carta sinóptica: um<br />

procedimento clássico de Muratori.<br />

Alessandro Giannini deixou-nos um<br />

conjunto de artigos que constituem um<br />

registo escrito destas experiências, com uma<br />

grande importância quer a nível científico<br />

quer como registo histórico de um mundo<br />

pós-colonial em desaparecimento.<br />

A dispersão a partir de Roma<br />

A morte de Muratori privou os seus<br />

assistentes não só de uma referência<br />

essencial para o seu desenvolvimento<br />

intelectual como também de um conjunto de<br />

oportunidades de carreira na Universidade de<br />

Roma, onde foram ostracizados pelo restante<br />

corpo docente. No entanto, as reformas nos<br />

estudos arquitetónicos de 1970, que criaram<br />

novas faculdades, ofereceram-lhes novas<br />

oportunidades, sendo de destacar o apoio<br />

fundamental de Luigi Vagnetti.<br />

Praticamente um contemporâneo de<br />

Muratori, Luigi Vagnetti (1915-80)<br />

distinguiu-se como um dos mais brilhantes<br />

alunos de Arnaldo Foschini, tornando-se seu<br />

assistente após a conclusão do curso<br />

(Cataldi, 1982b; Cataldi e Rossi, 2000). A<br />

sua relação com Muratori intensificou-se<br />

durante o período do pós-guerra na<br />

sequência de concursos e de trabalhos<br />

desenvolvidos em equipa, testemunhando o<br />

interesse que Vagnetti partilhava com<br />

Muratori por uma arquitetura<br />

contextualizada. Quando Muratori substituiu<br />

Foschini na docência, Vagnetti, que<br />

permaneceu alguns anos como assistente em<br />

Roma antes de se tornar professor<br />

catedrático em Palermo em 1962, teve a<br />

oportunidade de conhecer o seu pensamento<br />

e, em simultâneo, de apreciar o trabalho dos<br />

seus assistentes.<br />

Como presidente da comissão científica<br />

da nova Faculdade de Reggio Calabria,<br />

Vagnetti convidou Paolo Maretto e<br />

Gianfranco Caniggia para assistentes (sendo<br />

que o primeiro, em alguns aspetos, se tinha<br />

tornado mais independente do mestre). Mais<br />

tarde, em Génova e Florença, Vagnetti<br />

confirmou o seu papel ‘histórico’ enquanto<br />

promotor da escola Muratoriana,<br />

promovendo a contratação de Giannini, dos<br />

Bollati e de Vaccaro. Grupos de assistentes<br />

formados em Reggio Calabria, Génova e<br />

Florença, reviviam assim, na sua prática<br />

pedagógica, o método de trabalho<br />

apreendido em Roma com Muratori.<br />

Enquanto estudante, Paolo Maretto<br />

(1931-98) colaborou com Muratori em<br />

Veneza, estudando a cidade lagunar<br />

enquanto se formava. O seu último livro, La<br />

casa veneziana nella storia della città,<br />

publicado em 1986, concluiu um ciclo de<br />

investigação apaixonada, cujo ponto de<br />

partida tinha sido L’ edilizia gótica<br />

veneziana. Maretto também publicou livros<br />

sobre as cidades e o território do sul da<br />

Calábria e sobre o centro histórico de<br />

Génova (Cataldi, 1975; Maretto, 1975;<br />

Maretto et al., 1978). Os seus textos teóricos<br />

fundamentais (Maretto, 1971, 1973, 1980)<br />

expressam o desejo de organizar o estudo<br />

tipológico de acordo com as quatro escalas<br />

interrelacionadas fundamentais do contexto<br />

humano. Maretto também mostrou um<br />

grande interesse pela experimentação de<br />

linguagens arquitectónicas, evidente no<br />

complexo paroquial de Sarmeola na<br />

província de Pádua.<br />

Desde o início, Renato e Sergio Bollati<br />

(ambos nascidos em Atlanta, EUA, em<br />

1929), que foram formados na escola de<br />

Roma nos anos 50, demostraram uma<br />

marcada inclinação para a prática<br />

profissional de arquitetura. Juntamente com<br />

Guido Marinucci foram os mais fiéis<br />

assistentes do mestre. Sob a orientação de<br />

Muratori participaram na preparação do livro<br />

sobre Roma, do incompleto Atlas territorial,<br />

dos planos para Magliana e para a Barene<br />

veneziana, e dos edifícios religiosos e da<br />

Câmara dos Deputados em Roma.<br />

Contactados por Vagnetti para a Reggio<br />

Calabria, foi aqui que desenvolveram a sua<br />

experiência pedagógica, com investigação<br />

abrangente sobre numerosos tecidos e


30 Saverio Muratori e a escola Italiana de tipologia projetual<br />

cidades na Calábria e na Sicília. Esta<br />

investigação fundamental é praticamente<br />

desconhecida devido à relutância dos Bollati<br />

em expô-la fora dos círculos académicos<br />

(Bollati R, 1976; Bollati S, 1976; Bollati R,<br />

1980; Bollati S, 1980; Bollati et al., 1990).<br />

Os seus projetos mostram como Muratori os<br />

influenciou no sentido da criação de soluções<br />

orgânicas e contextuais (Cataldi, 1991a).<br />

Sandro Giannini (nascido em 1929) tem<br />

um percurso de vida complementar ao dos<br />

Bollati, com quem partilha a autoria do<br />

Tabellone, um exemplo gráfico do trabalho<br />

de Muratori (Bollati et al., 1978). Giannini<br />

foi o primeiro assistente a seguir o mestre no<br />

desenvolvimento de estudos territoriais de<br />

larga escala; primeiro em Reggio e depois<br />

em Génova, tendo começado com os artigos<br />

mencionados acima sobre a Etiópia,<br />

desenvolvendo depois estudos fundamentais<br />

sobre a Ligúria (Giannini e Ghelfi, 1980,<br />

1981). Participou também na interpretação<br />

dos tipos e tecidos de Ostia Antica e<br />

realizou, de forma sistemática, uma<br />

comparação entre arquitetura, música e<br />

filosofia (Giannini, 1983). Giannini revisitou<br />

o pensamento de Muratori (Giannini, 1983)<br />

de um modo original, redefinindo e<br />

atualizando os termos fundamentais do<br />

léxico do mestre (Giannini, 1979, 1993). Nos<br />

seus últimos anos, desenvolveu uma<br />

metodologia específica para interpretação<br />

territorial com ênfase especial nas periferias<br />

das cidades, focando a sua atenção nos<br />

‘espaços vazios’, por oposição aos ‘espaços<br />

construídos’ (Giannini, 1995).<br />

Gianfranco Caniggia<br />

Desde os seus dias como estudante<br />

universitário, Gianfranco Caniggia (1932-87)<br />

teve um percurso brilhante. Seguiu o<br />

percurso do seu pai, Emanuele, que desde<br />

cedo o envolveu em importantes projetos,<br />

incluindo o complexo Trinità dei Pellegrini<br />

em Roma, construído em três fases<br />

sequenciais, o que demonstra a progressiva<br />

aquisição por Caniggia dos temas de<br />

planeamento de Muratori. Convidado por<br />

Muratori para o seu grupo de assistentes,<br />

Caniggia aplicou o método de interpretação<br />

nos estudos sobre Como, uma cidade<br />

planeada de origem Romana. A interpretação<br />

do processo de desenvolvimento urbano,<br />

através de um método de síntese tipológica<br />

que avança e recua no tempo, permitiu-lhe<br />

compreender, perante as casas em banda<br />

Romanas, a persistência da domus como um<br />

tipo de substrato. Esta foi uma intuição<br />

fundamental que abriu uma linha de<br />

investigação sobre os processos de formação<br />

das casas-pátio medievais nas cidades<br />

históricas Europeias (Caniggia, 1976).<br />

Como os outros assistentes de Muratori,<br />

também Caniggia foi obrigado, pela diáspora<br />

de Roma, a ensinar em Reggio e depois em<br />

Génova e em Florença. Nas duas últimas<br />

cidades, construiu, nos cursos de<br />

planeamento, uma linha de investigação em<br />

que desenvolve a metodologia de<br />

interpretação das cidades e as suas<br />

componentes. Caniggia foi progressivamente<br />

estabilizando uma sólida experiência<br />

pedagógica que viria a dar corpo a<br />

Composizione architettonica e tipologia<br />

edilizia, estruturado em quatro volumes. Os<br />

dois primeiros, publicados com o importante<br />

contributo de Gian Luigi Maffei, centram-se<br />

na interpretação do ‘edificado básico’<br />

(Caniggia e Maffei, 1979, 1984): concebidos<br />

como um manual, foram utilizados em<br />

muitos cursos de arquitetura, tendo sido<br />

traduzidos para Espanhol, Francês e Inglês<br />

(Caniggia e Maffei, 1995; 2000; 2001). Os<br />

volumes sobre a interpretação e o desenho<br />

dos edifícios de exceção encontravam-se<br />

numa versão provisória quando Caniggia<br />

morreu.<br />

A preocupação fundamental de Caniggia<br />

era transmitir as ideias de Muratori em<br />

termos arquitetónicos, partindo da convicção<br />

que a sua difusão era, de algum modo,<br />

impedida pelas dificuldades de compreensão<br />

do pensamento de Muratori. Como tal,<br />

Caniggia procurou simplificar e reduzir o seu<br />

sistema teórico, sublinhando os aspetos<br />

operativos mais diretos. Neste sentido, o<br />

significado fundamental deste contributo<br />

consiste na utilização e na importância dada,<br />

nos seus textos, aos termos e conceitos de<br />

‘tipo’, ‘tecido construído’ e, acima de tudo,<br />

‘edificado básico’, entendido como a matriz<br />

formativa dos edifícios especializados. Não<br />

era por acaso que Caniggia utilizava esta<br />

última expressão ao invés de ‘arquitetura’,<br />

contestando abertamente a visão de Zevi de<br />

edifícios de arquitetura como invenções ou


Saverio Muratori e a escola Italiana de tipologia projetual 31<br />

fenómenos irrepetíveis.<br />

O plano do tribunal de Teramo (1971-75)<br />

foi claramente influenciado por temas que<br />

Caniggia desenvolveu durante os cursos de<br />

Muratori. O seu período de observância mais<br />

próxima de Muratori inclui os planos da<br />

Câmara de Deputados e das igrejas em<br />

Roma.<br />

Depois da morte do mestre, Caniggia<br />

seguiu o seu próprio caminho, colocando em<br />

prática no bairro Quino, em Génova (Figura<br />

4), aquilo que tinha aprendido sobre as<br />

peculiares características do ambiente urbano<br />

Genovês (Caniggia e Maffei, 1984).<br />

Durante os anos 80, Caniggia e os seus<br />

colegas participaram em importantes<br />

concursos nacionais. As estações ferroviárias<br />

de Pescara e Bolonha, a área de Murate em<br />

Florença, a expansão edificada da Giudecca<br />

em Veneza e os ‘vazios’ em Roma (Caniggia<br />

et al., 1984; Maffei, 1988; Regazzoni<br />

Caniggia, 1988) constituem passos de um<br />

único e consistente processo de planeamento,<br />

que pretende demonstrar a sua convicção de<br />

que a única forma verdadeiramente<br />

inovadora de planear as cidades consiste na<br />

sua interpretação de acordo com a história,<br />

evitando soluções extemporâneas ligadas a<br />

invenções individuais injustificadas.<br />

O contínuo diálogo com Caniggia<br />

estimulou Adelaide Reggazoni Caniggia a<br />

aplicar o seu método a elementos móveis que<br />

contribuem para a definição qualitativa e<br />

dimensional dos espaços interiores. O seu<br />

livro Profilo di tipologia dell’ arredo, em<br />

combinação com outros estudos, representa<br />

um importante contributo para o<br />

conhecimento da decoração interior<br />

(Reggazioni Caniggia, 1977). Esta escala<br />

interior surge na classificação de estruturas<br />

construídas pelo homem de Muratori (e<br />

também nas versões dos Bollati e de<br />

Giannini) como a primeira das escalas<br />

construídas.<br />

Após a morte prematura de Caniggia, os<br />

seus inúmeros e inacabados estudos foram<br />

integrados e publicados por Gian Luigi<br />

Maffei, seu pupilo e amigo. Nesta ligação, os<br />

livros de Maffei sobre as casas Romanas e<br />

Florentinas têm um particular significado. A<br />

abordagem metodológica e os conteúdos<br />

referem-se explicitamente a Caniggia<br />

(Maffei, 1990a, 1990b, 1999) cujos últimos<br />

textos – que na sua maioria não foram<br />

publicados – foram recolhidos por Maffei no<br />

volume póstumo Ragionamenti di tipologia<br />

(Caniggia, 1997).<br />

A atual escola<br />

Existe atualmente uma geração de seguidores<br />

da obra de Muratori que não o conheceram<br />

diretamente. Estão presentes em diferentes<br />

universidades Italianas, nomeadamente em<br />

Reggio Calabria, Génova, Florença, Roma e,<br />

mais recentemente, em novas faculdades de<br />

arquitetura como Ferrara, Cesana e Bari.<br />

O grupo de Florença tem sido,<br />

indubitavelmente, o mais ativo e o centro<br />

académico de referência para a escola, desde<br />

a morte de Caniggia. Para os seus membros,<br />

a primeira ocasião para uma colaboração<br />

reciproca foi fornecida pela exposição de<br />

1987 Cortona, struttura e storia coordenada<br />

por Paolo Vaccaro, e que teve Giancarlo<br />

Cataldi e Enrico Lavagnino como<br />

responsáveis pela interpretação territorial, e<br />

Gian Luigi Maffei e Vaccaro como<br />

responsáveis pela interpretação urbana e do<br />

edificado (Vaccaro et al., 1987). Foi uma<br />

oportunidade fundamental para o<br />

desenvolvimento de discussões<br />

metodológicas e para a comparação e o<br />

intercâmbio interdisciplinar com arqueólogos<br />

e historiadores, particularmente para<br />

verificar e examinar, na cidade Etrusca, as<br />

relações, a várias escalas, entre fases<br />

espontâneas e planeadas.<br />

Em simultâneo, Giancarlo Cataldi e os<br />

seus assistentes investigaram o período até<br />

então inexplorado da arquitetura primitiva.<br />

Os resultados foram apresentados num<br />

conjunto de exposições internacionais,<br />

conferências e publicações (Cataldi, 1986,<br />

1988, 1989, 1991b; Cataldi e Farneti, 1989;<br />

Cataldi e Corallo, 1992; Cataldi et al., 1982).<br />

Esta investigação é baseada na hipótese de<br />

classificação geral dos processos tipológicos<br />

(Figura 5).<br />

Em meados dos anos 90, uma outra<br />

investigação em Florença, coordenada por<br />

Gian Luigi Maffei, abordou os edifícios<br />

históricos Toscanos sujeitos a sismos<br />

(Maffei, 1997). O estudo comparativo<br />

envolvendo inúmeros assentamentos,


32 Saverio Muratori e a escola Italiana de tipologia projetual<br />

Figura 4. Parte do bairro Quino, Génova (1982), projetado por G. Caniggia.<br />

Figura 5. Visão geral de um conjunto de tipos habitacionais.<br />

Reproduzido de Cataldi (ed.) (1986).


Saverio Muratori e a escola Italiana de tipologia projetual 33<br />

incluindo cidades de pequena e de média<br />

dimensão, sublinhou, face a uma identidade<br />

cultural comum, o caracter distintivo das<br />

diferentes áreas sub-regionais.<br />

Em 1981 Giancarlo Cataldi, com<br />

Nicholas Adams, Lero Di Cristina, Fausto<br />

Formichi, Laura Marcucci e Henry Millon,<br />

fundou o CISPUT (Centro Internazionale<br />

per lo Studio dei Processi Urbani e<br />

Territoriali). O propósito fundamental era<br />

fornecer oportunidades para arquitetos e<br />

historiadores de arquitetura se encontrarem e<br />

desenvolverem comparações, verificando,<br />

sob o ponto de vista de diferentes disciplinas,<br />

os resultados do método de Muratori, em<br />

particular em relação a Pienza e ao seu<br />

território (Cataldi, 1978, 1983, 1992).<br />

No décimo aniversário da morte de<br />

Muratori, em 1983, o CISPUT organizou em<br />

Pienza – com o importante contributo dos<br />

seus assistentes – uma exposição e uma<br />

conferência sobre o pensamento e o trabalho<br />

do mestre (Cataldi, 1984). A esta seguiramse<br />

outras conferências internacionais sobre<br />

edifícios e cidades (Cataldi, 1985). Desde<br />

1993, as conferências do CISPUT têm-se<br />

realizado com uma periodicidade anual,<br />

criando oportunidades fundamentais para o<br />

debate no interior da escola.<br />

Depois de Pienza, a exposição sobre<br />

Muratori deslocou-se para outras cidades<br />

Italianas: Reggio Calabria, Génova, Modena<br />

e Bolonha; e depois para o Instituto<br />

Politécnico de Zurique (através do convite de<br />

Sylvain Malfroy), para a Escola de<br />

Estrasburgo (através do convite de Pier<br />

Giorgio Gerosa) e para alguns colégios e<br />

universidades nos Estados Unidos (por<br />

iniciativa de Nicholas Adams). Durante os<br />

anos 80, Caniggia foi convidado por Malfroy<br />

e Anne Vernez Moudon para lecionar em<br />

Lausanne e Seattle.<br />

Nos anos 90, era chegado o momento de<br />

um encontro internacional de grupos e<br />

escolas centradas nas cidades e nos seus<br />

processos de transformação. O primeiro<br />

destes encontros realizou-se em Lausanne<br />

em 1994. Entre os presentes estavam Gian<br />

Luigi Maffei, Sylvain Malfroy, Bruno<br />

Marchand, Paulo Maretto, Anne Vernez<br />

Moudon e Jeremy Whitehand. Este encontro<br />

conduziu à fundação do ISUF. Durante a<br />

segunda metade dos anos 90, os pontos de<br />

vista teóricos e metodológicos das escolas<br />

Francesa, Inglesa e Italiana emergiram de<br />

forma cada vez mais clara. Depois da<br />

conferência de Birmingham, em 1997, o<br />

ISUF tornou-se no principal ponto de<br />

referência internacional para os estudos de<br />

forma urbana, suportado pela Urban<br />

Morphology, que rapidamente se tornou num<br />

eficaz instrumento de difusão, debate e<br />

comparação.<br />

Para a nossa escola, a conferência em<br />

Florença em 1999 (Corona e Maffei, 1999)<br />

representou um importante reconhecimento<br />

que fortaleceu a nossa vontade de trabalhar<br />

em equipa. A este nível, a construção do<br />

nosso Léxico, sob os auspícios do ISUF, é<br />

particularmente importante. Este trabalho<br />

procura dar resposta à necessidade de<br />

clarificar o uso e o significado de diferentes<br />

termos em diferentes línguas. Com este<br />

propósito realizou-se um conjunto de<br />

seminários (em Florença, no Dipartimento di<br />

Projettazione dell’Architettura, e em<br />

Anghiai e Chioggis – 12ª e 13ª conferências<br />

do CISPUT). Um importante contributo<br />

epistemológico foi dado por Pier Giorgio<br />

Cerosa e Pierre Larochelle. Nos seminários<br />

desenvolveu-se o debate e a comparação<br />

com base num léxico pormenorizado de<br />

‘fragmentos’ das principais definições<br />

utilizadas por Muratori. Uma simplificação e<br />

uma redefinição crítica e funcional dos<br />

termos deverá ser a base para o futuro léxico,<br />

que pretendemos traduzir para Inglês,<br />

Francês e Espanhol.<br />

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Caniggia, G. e Maffei, G. L. (1979)<br />

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Caniggia, G. e Maffei, G. L. (1984)<br />

Composizione architettonica e tipologia edilizia<br />

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Cataldi, G. (ed.) (1984) ‘Saverio Muratori<br />

architetto (1910-1973). Il pensiero e l’opera’,<br />

Studi e Documenti di Architettura 12, 5-14.<br />

Cataldi, G. (ed.) (1985) ‘Edilizia seriale pianificat<br />

in Italia. 1500-1600’, Studi e Documenti di<br />

Architettura 14.<br />

Cataldi, G. (ed.) (1986) ‘All’ origine<br />

dell’abitare’, Studi e Documenti di Architettura<br />

13.<br />

Cataldi, G. (1988) ‘Le ragioni dell’abitare’, Studi<br />

e Documenti di Architettura 15.<br />

Cataldi, G. (ed.) (1989) Attualità del primitivo e<br />

del tradizionale in architettura (Alinea,<br />

Florença).<br />

Cataldi, G. (1991a) ‘Continuità e verifica di un<br />

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Bollati’, Controspazio 4, 7-10.<br />

Cataldi, G. (1991b) Les origens de l’habitacle<br />

(Collegi Oficial d’Aparelladors i Arquitectes<br />

Técnics de Barcelona, Barcelona).<br />

Cataldi, G. (1992) ‘Pienza, Forma Urbis’, Il<br />

Duomo di Pienza, cinque secoli di restauri<br />

(Università di Siena, Sopraintendeza per i Beni<br />

Ambientali e Architettonici, Siena) 51-59.<br />

Cataldi, G. (1998) ‘Designing in stages: theory<br />

and design in the typological concept of the<br />

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Cataldi, G. e Corallo, R. (1992) Tipologie<br />

primitive: 3. Oceania (Alinea, Florença).<br />

Cataldi, G. e Rossi, M. (eds.) (2000) ‘Luigi<br />

Vagnetti architetto (Roma, 1915-1980).<br />

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Cataldi, G., Farneti, F., Larco, R., Pellegrino, F. e<br />

Tamburini, P. (1982) Tipologie primitive. 1. I<br />

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Corona, R. e Maffei, G. L. (1999)<br />

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Giannini, A. (1970) ‘Ostia’, Quaderni<br />

dell’Istituto di Elementi di Architettura e<br />

Relievo dei Monumenti (Università di Genova)


Saverio Muratori e a escola Italiana de tipologia projetual 35<br />

4, 9-108.<br />

Giannini, A. (1972) Corso di indirizzi<br />

dell’architettura moderna (Università degli<br />

Studi di Genova, Génova).<br />

Giannini, A. (1979) Dispense del Corso di<br />

Pianificazione Territoriale (Università di<br />

Genova, Génova).<br />

Giannini, A. (1983) La filosofia di Saverio<br />

Muratori (Corso di Pianificazione Territoriale e<br />

Urbanistica, Génova).<br />

Giannini, A. (1993) Dispense del Corso di<br />

Pianificazione Territoriale (Università di<br />

Genova, Génova).<br />

Giannini, A. (1995) La periferia e il progetto<br />

(Alinea, Florença).<br />

Giannini, A. e Ghelfi, R. (1980) Studi di<br />

ambiente ligure. Volume primo: Liguria in<br />

generale ed estremo Levante (Centro Studi<br />

Unioncamere Liguri).<br />

Giannini, A. e Ghelfi, R. (1981) Gli insediamenti<br />

storici dell’entroterra: recupero e<br />

valorizzazione ambientale (Centro Studi<br />

Unioncamere Liguri).<br />

Maffei, G. L. (1988) ‘Gianfranco Caniggia:<br />

maestro di architettura (1933-1987)’, Bollettino<br />

del Dipartimento di Progettazione<br />

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Maffei, G. L. (1990a) La casa fiorentina nella<br />

storia della città (Marsilio, Veneza).<br />

Maffei, G. L. (ed.) (1990b) La casa rurale in<br />

Lunigiana (Marsilio, Veneza).<br />

Maffei, G. L. (ed.) (1997) Analisi tipologica degli<br />

insediamenti e dell’edilizia residenziale dell’<br />

area toscana (Alinea, Florença).<br />

Maffei, G. L. (1999) La casa romana nella storia<br />

della città (Alinea, Florença).<br />

Maretto, P. (1960) ‘Studi per una operante storia<br />

urbana di Venezia. II. L’edilizia gotica<br />

veneziana’, Palladio 3-4, 123-201 (2ª ed, 1961,<br />

Istituto Poligrafico dello Stato, Roma); (3ª ed,<br />

1978, Filippi, Veneza).<br />

Maretto, P. (1971) Architettura, edilizia,<br />

urbanistica, territorio. Introduzione alla<br />

composizione architettonica (Istituto di<br />

Elementi di Architettura e Relievo, Génova).<br />

Maretto, P. (1973) Nell’ architettura (Teorema,<br />

Florença).<br />

Maretto, P. (1975) ‘Edifizioni tardosettecentesche<br />

nella Calabria meridionale’,<br />

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Maretto, P. (1980) Realtà naturale e realtà<br />

costruita (Uniedit, Firenzi) (2ª ed. 1984, Alinea,<br />

Firenze) (3ª ed., 1993, Alinea, Florença).<br />

Maretto, P. (1986) La casa veneziana nella storia<br />

della città. Dalle origini all’Ottocento<br />

(Marsilio, Veneza) (4ª ed. 1992).<br />

Maretto, P., Genovesi, E., Rocco, M. G., Rocco,<br />

L., Filippi, G., Morozzo, D., Boccardo, A. e<br />

Tucci, M. (1978) ‘Restauro edilizio di via della<br />

Maddalena a Genova: Studi di storia territoriale<br />

urbana edilizia della città. Rilievo e saggio di<br />

riqualificazione dei tissuti edilizi, Quaderni<br />

dell’ Instituto di Progettazione Architettonica<br />

(Genova) 16-18.<br />

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Muratori, S. (1950) ‘Vita e storia delle Città’,<br />

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Muratori, S. (1959) ‘Studi per una operante storia<br />

urbana di Venezia. I’, Palladio 3-4 (2ª ed, 1960,<br />

Istituto Poligrafico dello Stato, Roma).<br />

Muratori, S. (1963) Architettura e civilità in crisi<br />

(Centro Studi di Storia Urbanistica, Roma).<br />

Muratori, S. (1967) Civilità e territorio (Centro<br />

Studi di Storia Urbanistica, Roma) 3 vols.<br />

Muratori, S., Bollati, R., Bollati, S. e Marinucci,<br />

G. (1963) Studi per una operante storia urbana<br />

di Roma (Consiglio Nazionale delle Ricerche,<br />

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Muratori, S. (1976) Autocoscienza e realtà nella<br />

storia delle ecumeni civili, Lectures 1971-71<br />

(G. Marinucci ed.) (Centro Studi di Storia<br />

Urbanistica, Roma).<br />

Muratori, S. (1978) Metodologia del sistema<br />

realtà-autocoscienza. Dalle ultime lezioni<br />

dell’a.a. 1972-73 (G. Marinucci ed.) (Centro<br />

Studi di Storia Urbanistica, Roma).<br />

Pigafetta, G. (1990) Saverio Muratori architetto.<br />

Teoria e progetti (Marsilio, Veneza).<br />

Regazzoni Caniggia, A. (1977) Profilo di<br />

tipologia dell’arredo (Uniedit, Florença) (2ª ed.<br />

1982, Alinea, Florença).<br />

Regazzoni Caniggia, A. (1982) I mobili da<br />

riposto. Profilo di tipologia dell’arredo 2<br />

(Alinea, Florença).<br />

Regazzoni Caniggia, A. (1987) L’organismo<br />

arredativo. Metodologia di analisi e lettura<br />

comparata (Kappa, Roma).<br />

Regazzoni Caniggia, A. (1988) ‘Progetti (di G.<br />

Caniggia)’, Bollettino del Dipartimento di<br />

Progettazione Architettonica e Urbana 11<br />

(Università di Roma ‘La Sapienza’) 14-20.<br />

Vaccaro, P. (1968) Tessuto e tipo edilizio a<br />

Roma, dalla fine del XIV sec. alla fine del XVIII<br />

sec. (Centro Studi di Storia Urbanistica, Roma).<br />

Vaccaro, P., Gialluca, B. e Lavagnino, E. (eds.)<br />

(1987) Cortona struttura e storia. Materiali per<br />

una conoscenza operante della città e del<br />

territorio (Editrice Grafica l’Etruria, Cortona).


36 Saverio Muratori e a escola Italiana de tipologia projetual<br />

Tradução do título, resumo e palavras-chave<br />

Abstract. This paper outlines the development of the Muratorian school of urban morphology and<br />

building typology. Starting from Muratori’s experience as a talented architect, deeply rooted in the<br />

Roman interpretation of Italian rationalism, the authors describe the growth of Muratori’ s interest in<br />

history as a means of recovering a sense of continuity in architectural practice. Adopting a theoretical<br />

approach grounded in architecture and urban design, he started working on a critical framework which<br />

could explain the creation and transformation of urban form over the centuries. He had many followers.<br />

The resurgence of interest in Muratori’s work in the 1990s is described.<br />

Tradução<br />

Key Words: Muratori, Caniggia, history, processual typology, Italy<br />

Este texto foi traduzido por Vítor Oliveira, que agradece a Giancarlo Cataldi a disponibilidade<br />

permanente para esclarecer todas as questões relacionadas com este processo.<br />

Chinese Network of Urban Morphology<br />

Durante o processo de urbanização sem<br />

precedentes que tem vindo a ocorrer na China<br />

desde os anos 90, novas questões teóricas e<br />

práticas foram sendo levantadas.<br />

Perante este cenário, a morfologia urbana,<br />

enquanto ciência da forma urbana, parece<br />

fornecer não só o enquadramento teórico como<br />

também um conjunto de ferramentas para<br />

abordar estas questões.<br />

Ao longo dos últimos anos foram-se<br />

estabelecendo, nas principais universidades<br />

Chinesas, grupos de investigação com um<br />

trabalho relevante na área da forma urbana. A<br />

Chinese Network of Urban Morphology foi<br />

recentemente estabelecida (o seminário<br />

inaugural decorreu na Nanjing University em<br />

Outubro de 2013) com o propósito fundamental<br />

de fornecer uma plataforma para incentivar, e<br />

cristalizar, interesses de investigação e práticas<br />

de comunicação. Os fundadores institucionais<br />

da rede são a Nanjing University, a South China<br />

University of Technology, a Southeast<br />

University, a Peking University, a Tongji<br />

University e, ainda, a Xi’an University of<br />

Architecture and Technology.<br />

A partir destas contribuições individuais e<br />

institucionais foram acordados três requisitos<br />

que deverão sustentar o caminho a percorrer<br />

num futuro próximo pela Chinese Network of<br />

Urban Morphology: i) existe uma necessidade<br />

crucial de estabelecer a morfologia urbana<br />

como uma teoria nuclear de suporte à prática de<br />

desenho urbano; ii) os resultados da<br />

investigação em morfologia urbana deverão ser<br />

utilizados na prática profissional de um modo<br />

mais eficaz; e, finalmente, iii) para lançar um<br />

conjunto de solidas fundações neste domínio do<br />

conhecimento é essencial construir uma<br />

terminologia integradora e uma metodologia de<br />

morfologia urbana que tenha em conta o fórum<br />

internacional, diverso e multilinguístico, no<br />

qual a teoria e a prática morfológica têm vindo<br />

a funcionar.<br />

Foram ainda definidos três objetivos<br />

fundamentais para a Chinese Network of Urban<br />

Morphology: i) a promoção do estudo da forma<br />

urbana na China; ii) o desenvolvimento de uma<br />

rede de investigação ‘dentro’ e ‘fora’ da China<br />

sobre a morfologia urbana chinesa, através da<br />

organização de seminários e da publicação de<br />

uma newsletter; e ainda iii) o fortalecimento das<br />

relações com o International Seminar on Urban<br />

Form (ISUF), e com as suas redes nacionais e<br />

regionais, através da colaboração nas suas<br />

diferentes iniciativas.<br />

Wowo Ding, School of Architecture and Urban<br />

Planning, Nanjing University, Hankou Road 22,<br />

Nanjing 210093, China. E-mail:<br />

dww@nju.edu.cn


PERSPETIVAS<br />

Debate sobre temas fundamentais<br />

em morfologia urbana<br />

As origens da morfologia urbana e a geografia alemã<br />

Vítor Oliveira, CITTA – Centro de Investigação do Território, Transportes e<br />

Ambiente, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto, Rua Roberto Frias 4200-<br />

465 Porto, Portugal. E-mail: vitorm@fe.up.pt. Cláudia Monteiro CM Arquiteta, Rua<br />

Santos Pousada 1185-1ºEsq, Porto, Portugal. E-mail:aclaudiamonteiro@inbox.com<br />

O termo ‘morfologia’ foi inicialmente proposto,<br />

na viragem do século XVIII para o século XIX,<br />

por Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), o<br />

famoso escritor e pensador alemão que dedicou<br />

uma parte do seu trabalho à biologia. Goethe<br />

utilizou a expressão morfologia para designar a<br />

‘ciência que lida com a essência das formas’.<br />

Apesar da expressão morfologia ter sido<br />

proposta como um ramo da biologia, o seu<br />

sentido mais geral e abstrato permitiu-lhe ser<br />

aplicada muito para além da ciência dos seres<br />

vivos. Um século mais tarde esta aplicação adotou<br />

as áreas urbanas como objeto de estudo. Na<br />

viragem para o século XX e durante as primeiras<br />

décadas desse século, surgem os primeiros<br />

estudos em morfologia urbana desenvolvidos,<br />

essencialmente, por geógrafos Alemães. Em<br />

meados do século XX a história da morfologia<br />

urbana, enquanto área do conhecimento, passará<br />

inevitavelmente pelos trabalhos de um conjunto<br />

de arquitetos em Itália e geógrafos em Inglaterra –<br />

em particular Saverio Muratori e M. R. G.<br />

Conzen – e nas últimas décadas do século por<br />

uma nova abordagem, inicialmente desenvolvida<br />

por arquitetos ingleses – a sintaxe espacial.<br />

Esta ‘perspetiva’ centra-se no contributo<br />

pioneiro dos geógrafos alemães para o campo da<br />

morfologia urbana. A perceção rigorosa desse<br />

contributo é dificultada pela língua em que os<br />

mesmos são escritos. Esse constrangimento levou<br />

a que este texto se construísse fundamentalmente<br />

a partir da leitura de um vasto conjunto de fontes<br />

secundárias, das quais se destacam dois artigos de<br />

revisão deste período publicados na revista Urban<br />

Morphology, Hofmeister (2004) e Heineberg<br />

(2007), bem como o artigo de Whitehand sobre a<br />

tradição Conzeniana, cuja tradução para<br />

Português se incluiu no último número da<br />

‘Revista de Morfologia Urbana’ (Whitehand,<br />

2013).<br />

A geografia humana alemã da última década<br />

do século XIX é marcada por duas obras<br />

fundamentais (Tabela 1). Em 1894, o historiador<br />

(e esta é a única exceção disciplinar num contexto<br />

dominado por geógrafos) Johannes Fritz publica<br />

Deutsche Stadtanlagen, um estudo comparativo<br />

sobre mais de 300 cidades alemãs. A inovação<br />

fundamental deste estudo é a utilização do ‘plano’<br />

da cidade e da cartografia como fonte de<br />

informação primordial para a história urbana, algo<br />

que até então não acontecia. Um dos resultados<br />

do estudo é a proposta de uma classificação de<br />

cidades baseada precisamente no tipo de plano.<br />

Cinco anos mais tarde, e claramente influenciado<br />

pelo texto de Fritz, Otto Schlüter publica Über<br />

den Grundriβ der Städte. Este artigo fundamental<br />

desenvolve a linha de investigação sobre o plano<br />

da cidade iniciado por Fritz, incluindo a<br />

identificação das diferentes partes ou zonas que<br />

constituem o centro da cidade. Whitehand (2007)<br />

Revista de Morfologia Urbana (2014) 2(1) 37-46 Rede Portuguesa de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214


38 Perspetivas<br />

Tabela 1. Geografia humana Alemã 1890-1929<br />

Década<br />

Ano de<br />

publicação<br />

Autor (Instituição<br />

de ensino)<br />

Estudos sobre cidades<br />

1890-99 1894 Johannes Fritz<br />

(Estrasburgo)<br />

1899 Otto Schlüter<br />

(Halle)<br />

1900-09 1903 Friedrich Ratzel<br />

(Leipzig)<br />

1910-19 1916 Hugo Hassinger<br />

(Viena)<br />

1918 Walter Geisler<br />

(Halle)<br />

1920-29 1924 Walter Geisler<br />

(Halle)<br />

1925 Hans Dörries<br />

(Goettingen)<br />

1927 Hans Bobek<br />

(Viena)<br />

1928 Rudolf Martiny<br />

-<br />

1930-39 1932 M. R. G. Conzen<br />

(Berlim)<br />

1936 Herbert Louis<br />

(Berlim)<br />

Deutsche Stadtanlagen<br />

Cidades Alemãs<br />

Über den Grundriβ der Städte<br />

Sobre a estrutura das cidades<br />

Die Geographische Lage der groβen Städte<br />

A localização geográfica das grandes cidades<br />

Kunsthistorischer Atlas von Wien<br />

Atlas histórico-artístico de Viena<br />

Danzig: ein siedlungsgeographischer Versuch<br />

Danzig: um ensaio sobre a geografia do assentamento<br />

Die Deutsche Stadt: ein Beitrage zur Morphologie der Kulturlandschaft<br />

A cidade Alemã: um contributo para a morfologia da paisagem cultural<br />

Die Städte im oberen Leinetal,Göttingen, Northeim und Einbeck<br />

As cidades de Leinetal, Goettingen, Northeim e Einbeck<br />

Grundfragen der stadtgeographie<br />

Questões básicas em geografia urbana<br />

Die Grundriβgestaltung der deutschen Siedlungen<br />

A estrutura dos assentamentos Alemães<br />

Die Havelstädte<br />

As cidades do Havel<br />

Die geographische Gliederung von Gross-Berlin<br />

A estrutura geográfica da Grande Berlim<br />

sustenta que este trabalho foi pioneiro daquilo<br />

que, anos mais tarde, se viria a designar por<br />

‘abordagem morfogenética’. Um outro aspeto<br />

importante no trabalho deste geografo é a<br />

convicção de que o estudo da cidade passa<br />

necessariamente pelo estudo da paisagem mais<br />

abrangente onde ela se insere.<br />

Na primeira década do século XX, Die<br />

Geographische Lage der groβen Städte de<br />

Friedrich Ratzel continua a linha de investigação<br />

iniciada no final do século XIX. Um dos<br />

principais contributos deste texto de 1903, é o<br />

facto de se centrar não só na localização das<br />

cidades, mas nos motivos e nas características que<br />

levam à escolha do local original para a fundação<br />

dos assentamentos humanos.<br />

Na década seguinte surgem dois textos em que<br />

se pretende ir para além do estudo de localização<br />

e das questões genéticas. Cada um dos textos<br />

estuda em detalhe uma única cidade, Viena e<br />

Danzig (a atual cidade de Gdańsk). Em 1916,<br />

Hugo Hassinger publica um atlas históricoartístico<br />

de Viena. Neste livro, o geógrafo<br />

identifica na planta da cidade de Viena, os estilos<br />

arquitetónicos e a idade dos edifícios, recorrendo<br />

para isso à utilização da cor. O resultado desta<br />

análise é um conjunto de plantas que constitui um<br />

elemento fundamental para a conservação do<br />

património edificado de Viena. Como os seus<br />

colegas, Hassinger sustenta que uma planta podia<br />

mostrar toda uma série de aspetos que um texto,<br />

uma tabela ou um diagrama, não podiam. Dois<br />

anos mais tarde, um antigo aluno de Schlüter<br />

Walter Geisler, publica um dos textos mais<br />

importantes deste período (Geisler, 1918).<br />

Paradoxalmente, Geisler faz referência ao<br />

trabalho de todos os autores descritos acima, à<br />

exceção de Hassinger. O livro sobre Danzig<br />

estrutura-se em duas partes fundamentais,<br />

divididas em dezassete capítulos: a primeira<br />

aborda as condições físico-geográficas,<br />

demográficas e económicas de Danzig; a segunda<br />

parte centra-se na estrutura e na organização<br />

espacial da cidade. Para além de um vasto<br />

conjunto de quadros e fotografias de Danzig, o<br />

livro contem uma inovação fundamental, para a<br />

época em que foi preparado, uma série de plantas<br />

desenhadas pelo autor incluindo a identificação<br />

dos usos do solo e do edificado, e do número de<br />

pisos dos edifícios residenciais na área central da


Perspetivas 39<br />

Figura 1. Planta da área central de Danzig.<br />

Fonte: Geisler (1918) Danzig: ein siedlungsgeographischer Versuch.<br />

cidade (Figura 1).<br />

Em 1924, Geisler publica um novo e influente<br />

livro, desta vez sobre as cidades Alemãs, Die<br />

Deutsche Stadt. Neste texto propõe uma<br />

classificação dessas cidades com base nos sítios<br />

escolhidos para a sua fundação, no plano térreo e<br />

nos tipos de edificado. Em 1925, Hans Dörries<br />

retoma a linha desenvolvida por Hassinger e<br />

Geisler na década anterior, identificando no plano<br />

de um conjunto de cidades históricas a idade dos<br />

seus edifícios e os seus estilos arquitetónicos. Em<br />

1928, e após um conjunto de estudos preliminares<br />

sobre cidades da região de Vestfália, Rudolf<br />

Martiny publica um texto sobre a estrutura dos<br />

assentamentos alemães. Do mesmo modo que<br />

Geisler, quatro anos antes, Martiny procura<br />

definir um conjunto de elementos generalizáveis<br />

sobre as cidades Alemãs. Quase em simultâneo,<br />

Hans Bobek publica um artigo sobre questões<br />

básicas em geografia urbana. Segundo Hofmeister<br />

(2004), este artigo lança as bases para uma<br />

mudança de direção numa das linhas dominantes<br />

na geografia humana Alemã. De um modo geral,<br />

a partir de então e até às últimas décadas do<br />

século XX, a questão das funções urbanas adquire<br />

um maior peso em detrimento da temática da<br />

forma urbana.<br />

No entanto, na década de 30 são ainda<br />

produzidos dois textos com um papel fundamental<br />

nas origens da morfologia urbana. O primeiro é a<br />

dissertação de M. R. G. Conzen concluída em<br />

1932 (um ano antes do geógrafo emigrar para<br />

Inglaterra), onde é analisado o plano e o tecido<br />

edificado (os dois primeiros elementos da sua<br />

divisão tripartida da paisagem urbana) de doze<br />

cidades localizadas a noroeste de Berlim. Do<br />

mesmo modo que Geisler, Conzen utiliza a cor<br />

para representar o número de pisos e os diferentes<br />

tipos edificatórios existentes nestas cidades. O<br />

segundo é o texto de Herbert Louis (um dos<br />

mentores de Conzen) sobre a estrutura geográfica<br />

da ‘Grande Berlim’. Neste capítulo de livro,<br />

Louis introduz o conceito de Stadtrandzone<br />

(cintura periférica), um elemento de forma urbana


40 Perspetivas<br />

constituído por parcelas com uma grande<br />

variedade ao nível da geometria e das dimensões,<br />

e cuja formação na borda de uma área construída<br />

está associada a um momento de estagnação ou<br />

crescimento lento dessa área e ao modo como,<br />

anos mais tarde, essa mesma área reinicia o<br />

processo de crescimento.<br />

O trabalho dos geógrafos alemães no início do<br />

século XX teve uma importância fundamental<br />

para o estabelecimento da morfologia urbana<br />

como ciência que estuda a forma física das<br />

cidades, bem como os atores e os processos que a<br />

moldam. Este trabalho teve uma forte influência<br />

não só na Alemanha (apesar de tardia) mas<br />

também noutros países. Tendo por base a série de<br />

revisões nacionais publicadas na revista Urban<br />

Morphology, com a designação ‘The study of<br />

urban form in…’, Oliveira (2013) identifica uma<br />

forte influência destes autores na morfologia<br />

urbana na Polónia, Irlanda e Inglaterra. É<br />

justamente em Inglaterra que esta influência<br />

adquire a sua expressão maior, no trabalho de M.<br />

R. G. Conzen. Apesar de a partir da década de 30,<br />

a abordagem morfogenética perder peso na<br />

geografia humana Alemã, ela vai ser retomada<br />

nas décadas seguintes no trabalho que o geógrafo<br />

alemão, então emigrado, desenvolve em<br />

Inglaterra.<br />

Referências<br />

Geisler, W. (1918) Danzig: ein<br />

siedlungsgeographischer Versuch (Kafemann,<br />

Danzig).<br />

Heineberg, H. (2007) ‘German geographical<br />

urban morphology in an international and<br />

interdisciplinary framework’, Urban<br />

Morphology 11, 5-24.<br />

Hofmeister, B. (2004) ‘The study of urban form<br />

in Germany’, Urban Morphology 8, 3-12.<br />

Oliveira, V. (2013) ‘The study of urban form:<br />

reflections on national reviews’, Urban<br />

Morphology 17, 21-28.<br />

Whitehand, J. W. R. (2007) ‘Conzenian urban<br />

morphology and urban landscapes’,<br />

Proceedings of the 6th International Space<br />

Syntax Symposium, Istanbul.<br />

Whitehand, J. W. R. (2013) ‘Morfologia urbana<br />

Britânica: a tradição Conzeniana’, Revista de<br />

Morfologia Urbana 1, 45-52.<br />

Extensões da forma<br />

Anastássios Perdicoúlis, CITTA – Centro de Investigação do Território, Transportes e<br />

Ambiente, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto, Porto, Portugal; ECT –<br />

Escola de Ciências e Tecnologia, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila<br />

Real, Portugal. E-mail: tasso@utad.pt<br />

A forma é – por definição – a parte visível, ou a<br />

configuração da essência. Falando em forma, logo<br />

se pensa em espaço: a forma tem dimensões<br />

físicas, é ‘3D’, e tem que ser visível –<br />

principalmente visível. Mas, ‘se retirassemos o<br />

aspeto visual da forma, como poderíamos<br />

perceber a essência?’ Colocando a questão<br />

especificamente em relação à cidade, como<br />

podemos perceber a essência urbana sem auxílio<br />

visual? Não há melhor maneira de saber do que<br />

fechar mesmo os olhos – ou, por razões de<br />

segurança, fazer uma experiência mental.<br />

Para este propósito, enviaremos um<br />

‘observador’ em missão a uma cidade<br />

desconhecida – num sítio ‘exótico’, num país<br />

distante – para explorar ‘a qualidade invisível da<br />

cidade’: o que seriam os complementos ou<br />

extensões da forma urbana ou, por vezes, os seus<br />

substitutos. Para este tipo de experiência, com<br />

estímulos visuais reduzidos, o observador chega<br />

ao sítio à noite, após uma viagem de avião, e<br />

aponta as suas observações.<br />

‘O primeiro encontro com a cidade é marcado<br />

pelo seu ar quente e húmido. Um vento suave faz<br />

passar um cheiro forte a especiarias. Ao fundo,<br />

ouve-se trânsito rodoviário, imensas buzinadelas,<br />

motores a dois tempos e sente-se um ligeiro<br />

cheiro a óleo queimado’.<br />

Face à ausência de informação visual, os<br />

sentidos de ‘segunda ordem’ como o olfato, a<br />

audição e o tato – neste caso, o con-tato da pele<br />

com a temperatura, a humidade, e o vento –<br />

despertam e tornam-se protagonistas na perceção<br />

do espaço. Existe sentido de orientação (dado, por<br />

exemplo, pelo vento) e de atividade humana<br />

(transmitido, por exemplo, pelo trânsito). Os<br />

cheiros das especiarias despertam a imaginação<br />

ou, até mesmo, o apetite.<br />

‘A dado momento, o sentido do tato fica<br />

muito intenso: o que parecem ser dezenas de<br />

pequenas mãos agarram o meu corpo pelas<br />

pernas, imobilizando-o por completo. Ouvem-se


Perspetivas 41<br />

vozes de crianças – muitas crianças – todas a falar<br />

no mesmo tempo. A interpretação torna-se<br />

absolutamente necessária. Será um assalto? Será<br />

um convite para uma brincadeira? Ou será<br />

simplesmente o ato de pedir esmola em grupo?’<br />

O contato com a cidade aprofunda-se um pouco<br />

mais, tornando-se literalmente em envolvimento.<br />

Cada uma das hipóteses do observador revelaria<br />

situações sociais diferentes. O assalto seria mais<br />

grave, indicando condições de vida muito<br />

degradadas, com violência elevada, uma eventual<br />

motivação de sobrevivência, ou inclusive a<br />

ausência de princípios civilizacionais. O convite<br />

para uma brincadeira poderia ser uma hipótese,<br />

em alguns contextos, mas o observador teria de<br />

ser, ou de ter, algo especial para atrair a atenção<br />

das crianças. O pedido de esmola seria a opção<br />

mais provável, mas o elevado número de pedintes<br />

conferia uma grande intensidade ao ato, tornandoo<br />

relativamente perigoso.<br />

Não intimidado pela surpresa, o observador<br />

continua a exploração noturna da cidade,<br />

confiando no motorista para o conduzir pela<br />

cidade — afinal, de algum modo, tem que<br />

conhecer a forma, ou ‘como a cidade é’.<br />

‘Ouve-se que o trânsito é dominado por<br />

triciclos (motor a dois tempos) cada vez mais<br />

perto. O nosso triciclo entra numa corrida de<br />

trânsito com acelerações bruscas em três<br />

dimensões: no plano horizontal, e no eixo frentetrás,<br />

o motor e os travões provam-se capazes de<br />

provocar emoções fortes. A agilidade dos<br />

veículos provoca movimentos bruscos também no<br />

eixo lateral do plano horizontal. Os buracos na<br />

estrada são responsáveis por uma imensidade de<br />

altos e baixos. O espaço da cidade começa a ser<br />

vivido muito intensamente, em três dimensões<br />

(envolvendo tontura e náusea) mas, curiosamente,<br />

continua a ser um espaço que ainda não foi visto.’<br />

Após uma irresistível tentativa de adivinhar a<br />

forma visível do espaço (as figuras e as cores, o<br />

horizonte, a vegetação, as casas, os espaços<br />

comerciais, as estradas com os triciclos), no dia<br />

seguinte chega uma revelação. Mais uma surpresa<br />

– desta vez à primeira vista – com aquela<br />

sensação familiar de que ‘ver é conhecer’.<br />

‘A forma visível da cidade, no seu exotismo, é<br />

impressionante: edifícios altos e favelas coloridas<br />

na mesma vista; esgotos de águas pluviais a céu<br />

aberto atravessam a cidade; e um mar de triciclos<br />

a saltitar, misturado com um outro mar de pessoas<br />

e de animais – todos a emitirem os seus sons, a<br />

marcar a sua presença e a desenvolverem as suas<br />

atividades.’<br />

A cidade ‘exótica’ parece ter uma forma<br />

precária, face a standards ocidentais. No entanto,<br />

é muito concreta para muitos outros sítios do<br />

mundo (Pinto, 2013; Viana et al., 2013). Mais<br />

uma surpresa espera o observador ao entrar em<br />

contacto um pouco mais próximo com os adultos<br />

daquela cidade.<br />

‘O dia revela também um aspeto da vida nesta<br />

cidade exótica que é raro, ou até impossível, na<br />

cidade ocidental: o sorriso genuíno das pessoas –<br />

tantos sorrisos, de tantas pessoas – impressionaria<br />

em quaisquer circunstâncias, mas dentro de um<br />

meio urbano que seria caracterizado como<br />

desordem no mundo ocidental, contrasta e<br />

impressiona. Como é que é possível alguém estar<br />

feliz naquelas condições?’<br />

Os imensos sorrisos poderiam ser dirigidos,<br />

ou não, ao observador: a informalidade do<br />

ambiente, mesmo em torno dos grandes edifícios,<br />

leva as pessoas a estarem mais ‘à vontade’,<br />

dando-lhes liberdade para fazerem coisas naturais<br />

– por exemplo, serem amigáveis sem desconfiar<br />

se vão ser atacadas ou burladas, sorrirem quando<br />

estão contentes, parar e olhar quando e para tudo<br />

que lhes apeteça, procurarem comida nas<br />

proximidades, ou até, fazerem as suas<br />

necessidades no mesmo espaço de proximidade –<br />

talvez um extremo comportamental,<br />

particularmente perigoso em ambientes de alta<br />

densidade populacional. Sorrir pode também<br />

indicar descontração. Por exemplo, a<br />

descontração de quem não tem preocupações<br />

relativas à desvalorização da sua propriedade, ao<br />

cumprimento dos pagamentos de crédito pessoal<br />

na hipótese de perder o seu emprego, de que está<br />

mesmo contente com aquilo (pouco) que tem.<br />

De forma não revelada, parece que a essência<br />

da cidade é naturalmente incógnita. E quando se<br />

trata de uma realidade fora das convenções<br />

familiares, como a cidade exótica, este carácter<br />

incógnito transforma-se em mistério. Mas com<br />

um pouco de atenção em relação aos outros<br />

sentidos e à informação que vem por via destes,<br />

há sempre pistas para substituir o aspeto visual da<br />

forma urbana. Este modo de conhecer a cidade<br />

está atento a qualidades da essência da cidade que<br />

poderiam não estar presentes nas fotografias ou<br />

nos desenhos técnicos de arquitetura – por<br />

exemplo, a formalidade (ou não) da ‘estrutura’<br />

socio-económica (propriedade, competição) e a<br />

‘função’ humana no ambiente urbano (liberdade<br />

de usos). Estas dimensões invisíveis estendem a<br />

essência da cidade para além da forma, que é<br />

visual. Ou, talvez, definam uma ‘forma invisível’.<br />

Referências<br />

Pinto, S. M. G. (2013) ‘Regular = planeado<br />

versus irregular = espontâneo: nascimento e<br />

morte de uma relação dicotómica nos estudos<br />

históricos da forma urbana’, Revista de<br />

Morfologia Urbana 1, 5-16.<br />

Viana, D. L., Sanz, J. R. L. e Natálio, A. (2013)<br />

‘Aprendendo com a forma urbana de Maputo<br />

(in)formal’, Revista de Morfologia Urbana 1,<br />

17-30.


42 Perspetivas<br />

A ‘rua direita’ portuguesa: elemento estruturador ou<br />

designação toponímica?<br />

Sandra M. G. Pinto, Centro de História de Além-Mar, Lisboa, Portugal. Centro de<br />

Documentação e Pesquisa dos Domínios Portugueses (XV-XIX), Curitiba, Brasil. Rua<br />

João Bravo n.º 22 1ºG, 3040-379 Coimbra, Portugal. Email: sandramgpinto@gmail.com<br />

Nesta ‘perspetiva’ procura-se questionar o<br />

conceito de ‘rua direita’ dentro da História do<br />

Urbanismo Português. A pergunta enunciada no<br />

título é necessariamente provocadora, já que não<br />

se duvida que aquela foi, ou é, uma designação<br />

toponímica. A hesitação prende-se, portanto, em<br />

entendê-la como ‘o’ elemento estruturador dos<br />

espaços urbanos. Perceba-se, então, a razão da<br />

própria questão.<br />

Entre os diversos estudos linguísticos e<br />

etnológicos relativos a Portugal, Vasconcelos<br />

(1917), ao examinar Chaves, deu conta que o<br />

topónimo de ‘rua direita’ estava presente em<br />

várias cidades e vilas, mas que, ao contrário do<br />

que o qualificativo (i.e. ‘direita’) à partida poderia<br />

indiciar, as ruas assim nomeadas eram sinuosas.<br />

A ‘aparente contradição’ foi resolvida pelo<br />

esclarecimento de que o qualificativo não se<br />

referia à forma física, mas ao facto de tal rua ser<br />

central e de ligar diretamente um extremo ao<br />

outro da área urbana. Este mesmo fenómeno e a<br />

mesma explicação foram depois aprofundados por<br />

outros investigadores, tendo Ribeiro (1968)<br />

dedicado especial atenção à Rua Direita de Viseu,<br />

tornando-se assim consensual considerar que as<br />

‘ruas direitas’, apesar de serem formalmente<br />

tortuosas, eram funcionalmente o centro<br />

comercial, ‘o coração’, e o eixo principal de<br />

circulação, ligando os pontos de referência, ‘os<br />

órgãos vitais’ (Ribeiro, 1984 [1965]).<br />

Teoricamente, a contraposição foi dada por<br />

Robert Smith. Como forma de provar a sua<br />

conjetura, de que os portugueses não souberam<br />

planear cidades ordenadas e regulares no Brasil,<br />

aproveitou para ridiculizar o facto de que as ‘ruas,<br />

ironicamente chamadas direitas, eram tortas e<br />

cheias de altibaixos’ (Smith, 1955, p. 12).<br />

Contudo, a sua leitura derivava mais da<br />

comparação formal entre as aglomerações<br />

coloniais da América Latina erigidas por<br />

portugueses e por espanhóis, do que do<br />

conhecimento efetivo da cultura e produção<br />

urbana dos primeiros. Curioso é que foi o<br />

‘desmanchar’ deste preconceito que fez avançar o<br />

próprio conhecimento.<br />

Neste sentido, e provavelmente não por acaso,<br />

a ‘rua direita’ passou a ser vista como o elemento<br />

disciplinador do desenvolvimento urbanístico<br />

português. Para a emergente historiografia<br />

nacional, a aparente falta de regularidade<br />

geométrica dos espaços urbanos foi compensada<br />

por um modo caraterístico ou específico da<br />

produção portuguesa, no qual o elemento urbano<br />

com aquela designação passou a constituir-se<br />

como ‘o’ eixo a partir do qual se organizava todo<br />

o espaço. Através de um raciocínio abdutivo,<br />

criou-se, assim, um fenómeno de estudo,<br />

sustentado empiricamente pelas atuais<br />

designações toponímicas dos arruamentos.<br />

Metodologicamente tornou-se corrente procurar<br />

‘a’ rua direita de cada caso particular, e a proposta<br />

teórica disseminou-se nos estudos históricos do<br />

urbanismo português, pois aquela designação<br />

fazia-se sentir em várias aglomerações<br />

continentais e ultramarinas (por exemplo:<br />

Fernandes, 1989; Gaspar, 1985; Rossa, 1995).<br />

Todavia, o posterior confronto com as<br />

informações toponímicas e topográficas de<br />

períodos mais recuados – pois as primeiras até ao<br />

século XIX variaram ao longo do tempo<br />

(Andrade, 1993) – levou ao reconhecimento de<br />

que tal qualificativo existiu em muitas artérias<br />

viárias num mesmo espaço urbano e que estas<br />

podiam ainda receber outros atributos, conforme<br />

o percurso aludido, começando-se a questionar a<br />

relação, anteriormente estabelecida, entre o<br />

topónimo e a forma/função das artérias (por<br />

exemplo: Borges, 1995; Rossa, 2001).<br />

A exploração dos documentos escritos antigos<br />

consente ainda outras considerações, de âmbito<br />

toponímico. Permite comprovar a aceção de<br />

direção, como se depreende pelo exemplo<br />

escalabitano de uia publica que uenit directe de<br />

porta de Alpram et uadit ad portam de Alcaçoua,<br />

assim designada em 1294, sendo fácil presumir a<br />

redução da expressão ‘rua que vai direita’ para<br />

apenas ‘rua direita’. Mas, mostra igualmente que,<br />

em alguns casos, o tal circunlóquio foi<br />

introduzido em épocas posteriores, não só ao<br />

aparecimento físico/material das artérias viárias,<br />

mas até à própria inclusão de outros atributos,<br />

como se verifica também para Santarém, onde,<br />

entre outras, as ruas ‘da Ramada’, ‘dos<br />

Mercadores’ ou ‘do Açougue Velho’ foram<br />

referidas somente como ‘ruas’, respetivamente,<br />

em 1240, 1245 e 1294, aparecendo já como ‘ruas<br />

direitas de’ em 1437, 1380 e 1363 (Viana, 2007).<br />

De facto, as fontes documentais, como também os


Perspetivas 43<br />

estudos históricos de toponímia, permitem atestar<br />

que foi na segunda metade do século XIV que a<br />

palavra ‘direita’, utilizada para qualificar<br />

determinadas ‘ruas’, começou a aparecer<br />

abundantemente na documentação escrita. Tal<br />

como, outrossim, também o qualificativo de<br />

‘travessa’, tomando, neste caso, a expressão de<br />

‘rua travessa’, como tão bem comprova o caso do<br />

topónimo bracarense, Rua Travessa que vai do<br />

Postigo até à porta da Igreja de Santiago da<br />

Cividade primeiramente da mão direita como vão<br />

para a dita Igreja, referido no Tombo do Cabido<br />

datado de 1369-80 (Ribeiro, 2008, p. 421). Daqui<br />

depreende-se que ‘direita’ e ‘travessa’ foram,<br />

então, qualificativos de direção, justapostos ao<br />

substantivo ‘rua’, de modo a nomear, distinguir e<br />

a caracterizar determinadas artérias fossem elas<br />

novas ou existentes dentro do conjunto urbano.<br />

Ambos os qualificativos aludiam ao itinerário,<br />

pois se naquele o percurso era ‘direto’ entre dois<br />

pontos de referência, neste era de<br />

‘atravessamento’ entre dois espaços de circulação.<br />

Evidencie-se ainda que com o tempo surgiram<br />

alterações nas designações: algumas ‘ruas<br />

direitas’ perderam o qualificativo; nalgumas ‘ruas<br />

travessas’ o qualificativo transformou-se em<br />

substantivo; e outras artérias foram<br />

alternadamente identificadas de ‘rua’ e ‘travessa’,<br />

dentro de um mesmo intervalo cronológico ou, até<br />

mesmo, dentro do mesmo documento.<br />

Com efeito, os dados toponímicos encontrados<br />

na documentação histórica obrigam, assim, a<br />

relativizar a ideia de que todas as artérias<br />

identificadas pela designação de ‘ruas direitas’<br />

foram ‘os’ eixos estruturantes dos espaços<br />

urbanos portugueses. Não se nega que algumas<br />

dessas ruas, tal como outras, ou até algumas ‘ruas<br />

travessas’, tenham desempenhado tal papel; ainda<br />

que outras com o mesmo qualificativo possam ter<br />

sido somente um acesso mais direto, mais curto<br />

ou mais rápido, sem qualquer importância<br />

comercial. O que se almeja com este<br />

esclarecimento é que, nos estudos históricos da<br />

forma urbana portuguesa, se procure e dê a<br />

importância devida a cada artéria viária dentro de<br />

uma leitura morfológica mais global, e não se<br />

evidencie as ruas chamadas de ‘direitas’, apenas e<br />

só, por causa da sua designação toponímica,<br />

sendo então necessário cruzar duas leituras<br />

históricas diferentes, a formal e a toponímica,<br />

para assim perceber as dinâmicas e as mutações<br />

ao longo do tempo.<br />

Referências<br />

Andrade, A. A. (1993) ‘Conhecer e nomear: a<br />

toponímia das cidades medievais portuguesas’,<br />

A Cidade, Jornadas Inter e Pluridisciplinares I<br />

(Universidade Aberta, Lisboa) 123-40.<br />

Borges, A. M. (1995) ‘A toponímia de Évora no<br />

final da Idade Média’, Estudos de Arte e<br />

História, Homenagem a Artur Nobre de<br />

Gusmão (Editorial Vega, Lisboa) 80-8.<br />

Fernandes, J. M. (1989) ‘O Funchal e o<br />

urbanismo de raiz portuguesa no Atlântico,<br />

Estudo comparativo e de enquadramento<br />

histórico-estrutural’, Colóquio Internacional de<br />

História da Madeira I (DRAC, Funchal) 247-<br />

60.<br />

Gaspar, J. (1985) ‘A cidade portuguesa na Idade<br />

Média: aspetos da estrutura física e<br />

desenvolvimento funcional’, En la España<br />

medieval (La ciudad hispánica durante los<br />

siglos XIII al XVI) 6, 133-50.<br />

Ribeiro, M. (2008) Braga entre a época romana e<br />

a Idade Moderna. Uma metodologia de análise<br />

para a leitura da evolução da paisagem urbana,<br />

Tese de Doutoramento não publicada,<br />

Universidade do Minho, Portugal.<br />

Ribeiro, O. (1984 [1965]) ‘Cidade’, Dicionário de<br />

História de Portugal II (Livraria Figueirinhas,<br />

Porto) 60-6.<br />

Ribeiro, O. (1968) ‘A rua direita de Viseu’,<br />

Geographica, Revista da Sociedade de<br />

Geografia de Lisboa 16, 49-63.<br />

Rossa, W. (1995) ‘A cidade portuguesa’, História<br />

da Arte Portuguesa III (Círculo de Leitores,<br />

Lisboa) 233-323.<br />

Rossa, W. (2001) DiverCidade: Urbanografia do<br />

espaço de Coimbra até ao estabelecimento<br />

definitivo da Universidade, Tese de<br />

Doutoramento não publicada, Universidade de<br />

Coimbra, Portugal.<br />

Smith, R. C. (1955) Arquitetura colonial: as artes<br />

na Bahia (Livraria Progresso, Salvador).<br />

Vasconcelos, J. L. (1917) ‘Por Trás-os-Montes’,<br />

O Archeogolo Português 22, 1-53.<br />

Viana, M. (2007) Espaço e povoamento numa<br />

vila portuguesa, Santarém 1147-1350<br />

(Caleidoscópio, Casal de Cambra).


44 Perspetivas<br />

Gramáticas genéricas para o domínio da cidade e urbanismo<br />

José Nuno Beirão, CIAUD, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, Rua<br />

Sá Nogueira, Pólo Universitário Alto da Ajuda, 1349-055 Lisboa. Portugal. Email:<br />

jnb@fa.ulisboa.pt<br />

Em Urbanismo o recurso ao uso de regras ou<br />

códigos constitui uma constante. As regras podem<br />

utilizar-se em 4 níveis de atuação distintos: i) num<br />

modo analítico, como forma de compreensão do<br />

desenvolvimento dos tecidos e padrões urbanos;<br />

ii) como instrumento de síntese na génese de<br />

soluções, iii) como instrumento regulamentar; e,<br />

ainda, iv) na instrução de algorítmos de simulação<br />

do comportamento e desenvolvimento urbano.<br />

No presente documento apresenta-se o<br />

conceito de ‘gramática genérica’ como estrutura<br />

suporte constituinte de software aplicável aos 4<br />

níveis de atuação referidos recorrendo à ‘regra’<br />

como o elemento gerativo. Começa-se por<br />

explicar a estrutura comum de uma regra,<br />

transversal a uma linguagem de padrões e a uma<br />

gramática da forma. De seguida expõe-se a sua<br />

aplicação a um domínio formal específico<br />

estruturado sob a forma de uma ontologia.<br />

Finalmente, indica-se como se constituem<br />

gramáticas genéricas num domínio formal<br />

recorrendo como exemplo ao domínio da cidade.<br />

A título conclusivo explica-se como as gramáticas<br />

genéricas podem constituir a base de um sistema<br />

de modelação de informação urbana (City<br />

Information Modeling – CIM).<br />

A estrutura comum de uma regra possui na<br />

sua forma mais genérica o formato ‘predicado →<br />

consequente’, ou, numa linguagem mais familiar<br />

ao domínio da sintaxe formal o formato: ‘se →<br />

então’. Genericamente este formato propõe que<br />

num domínio de objetos previamente definido,<br />

perante a ocorrência de um objeto ou conjunto de<br />

objetos A se aplique uma transformação t a esses<br />

objetos produzindo um consequente B tal que B =<br />

t(A). Este formato genérico de regra (A→B) é<br />

transversal quer ao conceito de linguagem de<br />

padrões (Alexander et al., 1977), quer ao de<br />

gramáticas da forma (Stiny e Gips, 1972). Veja-se<br />

na estrutura da linguagem de padrões (capítulo<br />

introdutório: ‘Using this book’, pp. IX a XLIV)<br />

onde se indica a identificação de um problema<br />

recorrente em meio urbano como predicado para<br />

o qual se aponta uma solução suportada na<br />

tradição ou experiência comprovada como<br />

consequente desse predicado. Numa gramática da<br />

forma tomamos como argumentos das nossas<br />

regras formas A ocorrendo num projeto C que<br />

reconhecemos como predicado e que<br />

transformamos de acordo com a seguinte<br />

expressão:<br />

(1) B = (C-A) + t(A)<br />

Por outras palavras subtraímos a uma forma<br />

complexa C a ocorrência A e adicionamos a sua<br />

transformação t(A). Na realidade, a leitura da<br />

ocorrência A verifica-se não só ao nível de um<br />

reconhecimento puro da forma A mas de qualquer<br />

variação Euclidiana de A, seja ela uma simetria,<br />

uma rotação ou homotetia de A. Esta operação<br />

permite a aplicação da transformação a uma<br />

forma existente ou a qualquer ocorrência de uma<br />

forma semelhante escalada ou não, rodada ou não.<br />

Quando a regra se aplica a uma forma qualquer<br />

que seja a proporção das suas partes (por<br />

exemplo, a qualquer quadrilátero) podemos dizer<br />

que a regra se aplica a qualquer atribuição de<br />

valores g aos parâmetros de A. A expressão (1)<br />

toma então a forma:<br />

(2) B= (C-g(A)) + t(g(A))<br />

A gramática torna-se assim uma gramática<br />

paramétrica (Stiny, 1980).<br />

O paralelo acima traçado com a teoria da<br />

linguagem de padrões de Alexander pode-se<br />

facilmente suportar argumentando o recurso ao<br />

mesmo formato A→B. A grande diferença ocorre<br />

ao nível da estrutura semântica das regras e,<br />

acima de tudo, ao nível da sua pragmática. A<br />

estrutura descritiva dos padrões de Alexander<br />

mantém uma ambiguidade de leitura das<br />

ocorrências (predicados) útil à interpretação<br />

semântica dos espaços urbanos e arquitetónicos.<br />

Igualmente, e acima de tudo, essa ambiguidade de<br />

interpretação mantém-se ao nível da<br />

transformação a aplicar (dimensão semântica e<br />

dimensão pragmática) obtendo-se como resultado<br />

um consequente que abre o seu espaço<br />

representacional à ambiguidade e ao espaço<br />

idiossincrático da profissão de arquiteto e<br />

urbanista.<br />

Concentremo-nos agora na noção de domínio<br />

formal e/ou conceptual e em particular no<br />

domínio da ‘cidade e o urbanismo’. O domínio da<br />

cidade deverá conter os conceitos capazes de<br />

descrever a cidade tal como ela é, enquanto o<br />

domínio do urbanismo tem em vista descrever a<br />

cidade como se pretende que ela seja, ou mais<br />

precisamente, descrever quais as transformações<br />

que admitimos que ocorram no domínio da cidade<br />

para garantir que a sua evolução não se desvia


Perspetivas 45<br />

muito de um objetivo a que chamaremos visão<br />

(Friedman, 1997). No campo da computação<br />

chamamos uma ontologia computacional às<br />

especificações da conceptualização de um<br />

domínio (Gruber, 1993). Mais concretamente,<br />

trata-se de uma descrição do nosso domínio em<br />

termos das classes e subclasses de objetos que o<br />

compõem, dos seus atributos e das relações<br />

expressas entre classes.<br />

O domínio da ‘cidade e o urbanismo’ é<br />

particularmente complexo porque as leituras do<br />

que são ‘as coisas’ (ou objetos) neste domínio<br />

revestem-se por vezes de grande ambiguidade. No<br />

entanto, a fim de simplificar essa leitura podemos<br />

subdividir as descrições do domínio em<br />

subdomínios (sistemas) correspondentes a óticas<br />

distintas de leitura do domínio principal. Por<br />

exemplo, podemos ler a cidade como um sistema<br />

de ruas, como um sistema construído ou como um<br />

sistema de propriedade. Dentro de cada sistema<br />

podemos incluir subclasses que complementam a<br />

descrição do sistema. Por exemplo, considerando<br />

a cidade como sistema de ruas a que chamaremos<br />

apenas networks podemos identificar várias<br />

subclasses de representação deste sistema: i) as<br />

ruas como representação axial da network ou<br />

apenas como eixos de composição de um plano<br />

onde se especificam as suas hierarquias na rede;<br />

ii) a classificação da rua no sistema viário (via<br />

coletora, distribuidora, acesso local, etc); iii) a sua<br />

nomenclatura no léxico corrente da língua natural<br />

do contexto em que nos inserimos (por exemplo,<br />

rua principal, avenida, travessa, beco, circular,<br />

etc); iv) a composição de cada rua para cada<br />

descrição das classes anteriores como um<br />

conjunto de faixas (ou componentes) que<br />

constituem um perfil de rua em particular; e, por<br />

fim, v) a descrição detalhada (incluindo<br />

parâmetros e atributos) de cada componente de<br />

perfil de rua (faixas de rodagem, estacionamento,<br />

passeios, ciclovias, faixas bus, faixas ajardinadas,<br />

alinhamentos arbóreos, etc). Para maior detalhe<br />

ver Beirão (2012).<br />

Na descrição de um domínio as dependências<br />

ou relações entre as classes são especificadas nas<br />

definições dos objetos pertencentes a cada classe.<br />

Podem existir também relações de dependência<br />

entre objetos pertencentes a subdomínios ou<br />

sistemas diferentes. Por exemplo, edifícios que<br />

pertencem ao sistema construído estão dentro de<br />

lotes que pertencem ao sistema de propriedade.<br />

Voltando às gramáticas e padrões, cada regra<br />

opera apenas um conjunto limitado de objetos<br />

geralmente pertencente a uma classe de objetos.<br />

Numa gramática, uma classe representa-se por um<br />

conjunto de formas (F i ) e símbolos (S i ): {F i ,S i }.<br />

Uma gramática urbana descreve um pequeno<br />

conjunto identificável de operações de urbanismo<br />

que podem ser traduzidas através de um conjunto<br />

de regras R que operam sobre o conjunto {F i ,S i } a<br />

partir de uma forma inicial I i . Uma gramática<br />

genérica Γ que opera no domínio da ‘cidade e<br />

urbanismo’ é constituída pelo conjunto das<br />

subgramáticas Γ i em que i representa a classe de<br />

objectos {F i ,S i } da ontologia considerando que as<br />

classes são identificadas pelo índice i<br />

(1,2,3,4,...,i).<br />

A forma inicial I i estabelece o elemento de<br />

comunicação entre as diferentes gramáticas Γ i<br />

pois são as únicas formas nas gramáticas que<br />

podem pertencer a conjuntos de formas fora da<br />

classe a que a gramática se refere. As formas<br />

iniciais podem ser de três tipos: i) objetos préexistentes;<br />

ou seja, objetos selecionados pelo<br />

projetista ou utilizador da ferramenta<br />

computacional, a partir do conjunto de todos os<br />

elementos pré-existentes E 0 , ou seja, do contexto;<br />

ii) objetos que na gramática Γ i podem ser lidos<br />

como objetos iniciais; iii) objetos resultantes da<br />

geração produzida por outras gramáticas e que<br />

foram (a) ou podem ser (b) classificados como<br />

objetos iniciais da gramática que estamos a<br />

considerar. Os objetos (a) são objetos que foram<br />

anteriormente classificados como objetos iniciais<br />

de outras gramáticas em função das relações<br />

expressas na ontologia. Os objetos (b) são<br />

classificados pelo projetista.<br />

Cada gramática assume a forma<br />

Γ i ={F i ,S i ,R,I i }. Voltando aos padrões, um padrão<br />

reproduz transformações urbanísticas genéricas<br />

comuns ao ato de projeto urbano ou a uma<br />

transformação espontânea comum em meio<br />

urbano, as quais, por serem comuns, podem ser<br />

geralmente entendidas através de um curto<br />

vocábulo ou representação icónica como<br />

Alexander sugere. Por exemplo:<br />

GridbyAddingAxes ou GridbyAddingCells. Um<br />

projeto urbano ou uma simulação é obtido pela<br />

aplicação combinada de vários padrões que geram<br />

soluções de acordo com a sua gramática e com os<br />

inputs fornecidos.<br />

Assim, utilizando gramáticas genéricas<br />

organizadas sob a forma de padrões obtém-se<br />

uma metalinguagem de padrões aplicável na<br />

geração de projetos urbanos ou na simulação de<br />

desenvolvimentos urbanos. Na implementação de<br />

um tal sistema obtém-se uma ferramenta<br />

computacional que automatiza alguns<br />

procedimentos e deixa outros para a decisão e<br />

interferência do utilizador. A estrutura descritiva<br />

do domínio (ontologia) mantém no entanto a<br />

integridade nas representações, qualquer que seja<br />

a formalização do projeto, que permite a partir<br />

das representações produzir cálculos de<br />

propriedades do projeto gerado pelo sistema, por<br />

exemplo, o cálculo automático de indicadores de<br />

densidade (Berghauser-Pont e Haupt, 2010) ou<br />

outros que possam ser calculados a partir dos


46 Perspetivas<br />

dados ou representações gerados pelas<br />

gramáticas. O confronto dos cálculos de<br />

indicadores com as soluções formais permite ao<br />

utilizador da ferramenta avaliar a pertinência da<br />

correlação entre indicadores e solução formal e<br />

variar os parâmetros de entrada para afinar as<br />

soluções.<br />

Para a obtenção de uma tal ferramenta<br />

desenvolveu-se um modelo juntando uma base de<br />

dados geográfica, uma plataforma de SIG<br />

(Sistema de Informação Geográfica) e um<br />

interface de desenho paramétrico incluindo uma<br />

plataforma de CAD e um interface de<br />

programação visual onde se implementaram os<br />

padrões acima referidos conjuntamente com um<br />

módulo de cálculo de indicadores. Este conjunto<br />

integrado de ferramentas permite reunir num<br />

conjunto pleno de interatividade, a análise urbana,<br />

a síntese de soluções e algumas ferramentas de<br />

avaliação. Tais ferramentas podem ser usadas<br />

como bases para projetar o urbano ou,<br />

simplesmente, simular os seus comportamentos<br />

analisando e avaliando resultados em contexto<br />

disponibilizando uma plataforma que dá corpo às<br />

tendências mais recentes de integração e<br />

conjugação de vários métodos e ferramentas<br />

analíticas como suporte à decisão em projeto<br />

urbano, como por exemplo Gil et al. (2007), Nes<br />

et al. (2012), Stahle et al. (2003), Ye e Nes<br />

(2013). Este conjunto de ferramentas, por<br />

analogia com o BIM (Building Information<br />

Modeling) designou-se por CIM (City<br />

Information Modeling).<br />

Nesta ‘Perspetiva’, abordou-se a definição de<br />

uma gramática genérica aplicada ao domínio da<br />

cidade e urbanismo como conceito primordial<br />

constituinte de uma plataforma de CIM.<br />

Ilustrações das aplicações deste sistema estão<br />

disponíveis no link http://www.measurb.org/docs/<br />

TODOS_Workshop.pdf onde se podem consultar<br />

os resultados da sua aplicação, num formato de<br />

workshop, a um problema de desenho urbano<br />

específico. Ficam por detalhar a estrutura<br />

discursiva das gramáticas genéricas e a descrição<br />

detalhada da implementação, as quais podem ser<br />

consultadas respetivamente em Beirão (2012),<br />

Beirão et al. (2011) e Beirão et al. (2012).<br />

Referências<br />

Alexander, C., Ishikawa, S., Silverstein, M.,<br />

Jacobson, M., Fiksdahl-King, I. e Angel, S.<br />

(1977) A Pattern Language (Oxford University<br />

Press, Oxford).<br />

Beirão, J. (2012) CItyMaker: Designing<br />

Grammars for Urban Design<br />

(http://repository.tudelft.nl/view/ir/uuid:16322b<br />

a7-6c37-4c31-836b-bc42037ea14c/) consultado<br />

em 28 de Março de 2014.<br />

Beirão, J., Nourian, P. e Mashhoodi, B. (2011)<br />

‘Parametric urban design: an interactive<br />

sketching system for shaping neighborhoods’,<br />

29 th eCAADe Conference, Ljubljana.<br />

Beirão, J., Arrobas, P. e Duarte J. (2012)<br />

‘Parametric urban design: joining morphology<br />

and urban indicators in a single interactive<br />

model’, in Achten, H., Pavlicek, J., Hulin, J. e<br />

Matejdan, D. (eds.) Digital Physicality -<br />

Proceedings of the 30 th eCAADe Conference,<br />

Czech Technical University, Prague<br />

(http://cumincad.scix.net/cgibin/works/Show?_i<br />

d=ecaade2012_130&sort=DEFAULT&search=<br />

Beir%e3o&hits=11) consultado em 28 de<br />

Março de 2014.<br />

Berghauser-Pont, M. e Haupt, P. (2010)<br />

Spacematrix. space, density and urban form<br />

(NAi Publishers, Roterdão).<br />

Friedman, A. (1997) ‘Design for change: flexible<br />

planning strategies for the 1990s and beyond’,<br />

Journal of Urban Design 2, 277-95.<br />

Gil, J., Stutz, C. e Chiaradia, A. (2007)<br />

‘Confeego: tool set for spatial configuration<br />

studies’, New developments in space syntax<br />

software, 15.<br />

Gruber, T. R. (1993) A translation approach to<br />

portable ontology specifications<br />

(http://www.dbis.informatik.huberlin.de/dbisold<br />

/lehre/WS0203/SemWeb/lit/KSL-92-17.pdf)<br />

consultado em 28 de Março de 2014.<br />

Nes, A. v., Berghauser-Pont, M. and Mashhoodi,<br />

B. (2012) ‘Combination of space syntax with<br />

spacematrix and the mixed use index’, 8 th<br />

International Space Syntax Symposium,<br />

Santiago do Chile, 3 a 6 de Julho.<br />

Stahle, A., Marcus, L. e Karlstrom, L. A. (2003)<br />

‘Place syntax tool - GIS software for analysing<br />

geographic accessibility with axial lines’, New<br />

developments in space syntax software, 35.<br />

Stiny, G. (1980) ‘Introduction to shape and shape<br />

grammars’, Environment and Planning B:<br />

Planning and Design 7, 343-51.<br />

Stiny, G. e Gips, J. (1972) ‘Shape grammars and<br />

the generative specification of painting and<br />

sculpture’, Information Processing 71, 1460-5.<br />

Ye, Y., e Nes. A. v. (2013) ‘The spatial flaws of<br />

new towns’, 9 th International Space Syntax<br />

Symposium, Seoul, 31 de Outubro a 3 de<br />

Novembro.


BOOK<br />

REVIEWS<br />

Os elementos urbanos, de Carlos Dias<br />

Coelho (coordenação), João Pedro Costa,<br />

João Silva Leite, José Miguel Silva, Luísa<br />

Trindade, Paulo Pereira, Sérgio Barreiros<br />

Proença, Sérgio Padrão Fernandes e Xavier<br />

Monteys, Argumentum, Lisboa, Portugal,<br />

2013, 205 pp. ISBN 978-972-8479-78-7.<br />

‘Os Elementos Urbanos’ constitui o primeiro<br />

número de uma série de quatro volumes da<br />

coleção ‘Cadernos de Morfologia Urbana -<br />

Estudos da Cidade Portuguesa’, que resulta do<br />

trabalho realizado pelo grupo de investigação<br />

FormaUrbis Lab, no âmbito do Centro de<br />

Investigação de Arquitetura, Urbanismo e Design<br />

(CIAUD) da Faculdade de Arquitetura da<br />

Universidade de Lisboa (FAUL). Os restantes<br />

números desta coleção cujas edições se aguardam<br />

para breve incluirão os seguintes títulos: O<br />

Tempo e a Forma; Outras Abordagens; e<br />

Conceitos e Metodologias.<br />

‘Os Elementos Urbanos’ constitui uma<br />

notável publicação que resulta do trabalho de<br />

reflexão sobre a forma da cidade, realizada pelos<br />

membros do grupo Forma Urbis Lab, com a<br />

coordenação de Carlos Dias Coelho. São coautores<br />

desta obra João Pedro Costa, João Silva<br />

Leite, José Miguel Silva, Sérgio Barreiros<br />

Proença, Sérgio Padrão Fernandes, membros do<br />

grupo de investigação FormaUrbis Lab, mas<br />

também Paulo Pereira da FAUL e Xavier<br />

Monteys da Universidade Politécnica da<br />

Catalunya, ambos consultores do grupo de<br />

investigação, bem como Luísa Trindade, da<br />

Universidade de Coimbra.<br />

A divulgação da investigação produzida pelo<br />

grupo FormaUrbis Lab tem sido disponibilizada<br />

através do website do grupo<br />

http://formaurbislab.fa.utl.pt/home. O interesse<br />

dos membros do grupo pelo estudo da forma da<br />

cidade portuguesa revê-se nomeadamente através<br />

de publicações anteriores dedicadas, por<br />

exemplo, à temática da inventariação de<br />

elementos específicos da forma urbana,<br />

designadamente ‘a praça’ (Coelho, 2007; Coelho<br />

e Lamas, 2005).<br />

A maior parte dos conteúdos deste livro<br />

resultam de material recolhido de Projetos de<br />

Investigação, realizados por este grupo,<br />

nomeadamente o Projeto ‘Atlas Morfológico’,<br />

mas também da contribuição de vários projetos<br />

de investigação individuais, articulados com o<br />

projeto anterior. Neste sentido destacam-se os<br />

contributos de várias teses de doutoramento,<br />

realizadas por alguns dos investigadores deste<br />

grupo de investigação e co-autores do livro.<br />

Grande parte dos investigadores deste grupo é<br />

também docente na Faculdade de Arquitetura da<br />

UL. A investigação produzida por este grupo<br />

beneficia certamente da oportunidade de articular<br />

o ensino com a investigação, promovendo-se<br />

desta forma um enriquecimento dos conteúdos<br />

pedagógicos, no âmbito do ensino da Arquitetura<br />

e do Urbanismo, através do processo<br />

metodológico levado a cabo por este grupo e dos<br />

seus respetivos resultados científicos.<br />

‘Os Elementos Urbanos’ constituem uma<br />

excelente oportunidade, para que um público<br />

mais alargado, para além dos estudantes de<br />

arquitetura da FAUL, venha a conhecer a<br />

excelência do trabalho de investigação realizado<br />

pelo grupo FormaUrbis Lab. Excelência esta, que<br />

nos tem sido já dada a conhecer através de<br />

diversas comunicações, de diferentes elementos<br />

do grupo, em diversos encontros científicos<br />

nacionais e internacionais.<br />

Resumidamente, destacam-se neste livro dois<br />

aspetos fundamentais. Primeiro, a qualidade<br />

gráfica e visual que tem acompanhado desde<br />

sempre o trabalho produzido por esta equipa de<br />

investigadores, bem como a consistência desse<br />

mesmo material gráfico. Segundo, a coerência<br />

dos vários temas abordados pelos diferentes<br />

membros do grupo, no que concerne ao estudo da<br />

forma urbana, evidenciando o sucesso da<br />

Revista de Morfologia Urbana (2014) 2(1) 47-50 Rede Portuguesa de Morfologia Urbana ISSN 2182-7214


48 Book Reviews<br />

coordenação do trabalho realizado por este grupo<br />

mas também numa apreciável unidade de grupo,<br />

face aos objetivos a cumprir nas diferentes<br />

investigações em curso. Estes dois fatores<br />

permitem a identificação de uma identidade,<br />

neste grupo de investigação, que se destaca pelo<br />

esforço de construir ferramentas de leitura da<br />

cidade apoiadas numa metodologia, cujo objetivo<br />

é o de analisar exaustivamente os diferentes<br />

elementos que compõem a forma urbana no seu<br />

todo, através de um exercício de decomposição. E<br />

assim, procurando responder a um objetivo<br />

comum – o estudo da cidade portuguesa.<br />

Foi precisamente apoiando-se neste exercício<br />

de decomposição dos diferentes elementos que<br />

constituem a forma urbana, que os autores deste<br />

livro estabeleceram a sua estrutura. Encontramos<br />

assim neste livro, ‘Os Elementos Urbanos’, nove<br />

capítulos que testemunham, segundo os seus<br />

autores, a decomposição do tecido urbano através<br />

dos seus vários elementos urbanos.<br />

Designadamente: i) o Tecido; ii) o Traçado; iii) a<br />

Malha; iv) a Praça; v) a Rua; vi) o Quarteirão;<br />

vii) a Parcela; viii) o Edifício Singular; e ix) o<br />

Edifício Comum.<br />

O livro inclui ainda um conjunto considerável<br />

de imagens a ilustrar os seus vários capítulos.<br />

Estas imagens testemunham a excelência da<br />

qualidade gráfica que identifica este grupo e que<br />

certamente contribui enquanto importante<br />

ferramenta de divulgação do trabalho junto do<br />

seu público-alvo, o estudante de arquitetura, mas<br />

também do leitor com interesse pelo estudo da<br />

forma da cidade. Salienta-se o uso da planta,<br />

como imagem primordial para a representação<br />

gráfica da forma urbana por este trabalho e que é<br />

notória ao longo dos seus vários capítulos, com<br />

pequenas exceções. Estas incluem o uso da<br />

fotografia bem como perfis.<br />

Finalmente, a apresentação sumária da<br />

metodologia, que os autores procuram enunciar,<br />

poderia ter encontrado neste livro um capítulo<br />

específico para sua sistematização,<br />

nomeadamente num capítulo conclusivo. Assim<br />

‘Os Elementos Urbanos’ teriam certamente<br />

contribuído para que o seu público-alvo, mais<br />

facilmente identificasse essa mesma metodologia<br />

e a pudesse utilizar como guia para futuras<br />

aplicações.<br />

Destaca-se contudo a oportunidade de<br />

calendário da publicação deste livro, pois<br />

coincide com um momento rico em debates<br />

acerca do ensino da morfologia urbana, e que tem<br />

conquistado espaço e atualização (Marat-Mendes<br />

e Cabrita, 2012; Oliveira, 2014) no âmbito da<br />

Rede Portuguesa de Morfologia Urbana e do<br />

próprio International Seminar on Urban Form<br />

(ISUF).<br />

Referências<br />

Coelho, C. D. e Lamas, J. (coord.) (2005) A<br />

Praça em Portugal - Açores, Inventário do<br />

Espaço Público (FAUTL e DROTRH, Ponta<br />

Delgada).<br />

Coelho, C. D. (coord.) (2007) A Praça em<br />

Portugal, Inventário de Espaço Público -<br />

Continente (DGOTDU, Lisboa).<br />

Oliveira, V. (2014) ‘Manuals for urban<br />

morphological education’, Urban Morphology<br />

18, 77-8.<br />

Marat-Mendes, T. e Cabrita, M. A. (2012)<br />

‘Morfologia urbana em Portugal: percurso e<br />

visibilidade’, in Sampayo, M., André, P. e<br />

Marat-Mendes (eds.) Morfologia urbana nos<br />

países lusófonos (ISCTE-IUL, Lisboa) 1750-<br />

81.<br />

Teresa Marat-Mendes, Instituto Universitário de<br />

Lisboa ISCTE-IUL, DINÂMIA’CET-IUL,<br />

Departamento de Arquitectura e Urbanismo, Av.<br />

das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal.<br />

Email: teresa.marat-mendes@iscte.pt<br />

10 mandamentos da arquitetura, de<br />

Frederico de Holanda, FRBH, Brasília,<br />

Brasil, 2013, 344 pp. ISBN 978-85-64222-<br />

06-9.<br />

Frederico de Holanda é um dos maiores<br />

comunicadores do nosso tempo na área da<br />

morfologia urbana. Antevi-o quando assisti pela<br />

primeira vez a uma das suas apresentações em<br />

Estocolmo, em 2009. Confirmei-o nas<br />

comunicações a que assisti nos três anos<br />

seguintes – no Porto, em Montreal e em Lisboa –<br />

e ainda na leitura dos seus livros. ‘10<br />

mandamentos da arquitetura’ comprova esta<br />

capacidade. É um livro notável, escrito numa<br />

linguagem simples e apelativa, que certamente<br />

alcançará um público alargado, indo muito para<br />

além dos círculos académicos e profissionais.<br />

O formato do livro retoma uma ideia de<br />

Hanson (1988), na altura centrada<br />

exclusivamente na escrita de textos académicos,<br />

estruturando-se num conjunto de dez<br />

‘mandamentos’ ou orientações. Em termos de<br />

organização dos conteúdos, o texto constrói-se a<br />

partir de uma experiência de Holanda como<br />

Professor Visitante em Santiago de Querétaro,<br />

México, em 2005. Alguns dos textos são inéditos<br />

(na totalidade ou em parte), outros revisitam<br />

temas abordados em anteriores apresentações,


Book Reviews 49<br />

artigos e livros (particularmente em Holanda,<br />

2010, 2011). Como nos trabalhos precedentes de<br />

Holanda, o leitor reencontrará aqui a cidade de<br />

Brasília, os arquitetos Lucio Costa e Oscar<br />

Niemeyer, bem como, a Teoria da Sintaxe<br />

Espacial. Ficará também a conhecer outras<br />

influências de Holanda, nomeadamente Evaldo<br />

Coutinho e Carlos Nelson dos Santos.<br />

O livro estrutura-se em dez capítulos, cada um<br />

deles correspondendo a um ‘mandamento’,<br />

abordando os seguintes temas: i) o alargamento<br />

do conceito de arquitetura à cidade e ao território<br />

(clarificando logo à partida qualquer malentendido<br />

que o título da obra pudesse sugerir);<br />

ii) as causas, ou ‘aquilo’ que está por detrás da<br />

arquitetura (definindo ainda os elementos<br />

arquitetónicos fundamentais – cheios, vazios e<br />

relações cheios-vazios); iii) os efeitos que a<br />

arquitetura provoca (abarcando aspetos<br />

funcionais, económicos, sociológicos,<br />

topocetivos, afetivos, simbólicos e estéticos); iv)<br />

as possibilidades e as restrições da arquitetura,<br />

bem como o modo como esta interfere na vida<br />

das pessoas; v) o modo como a arquitetura reflete<br />

(e pode contribuir para fomentar) igualdades e<br />

desigualdades sociais; vi) dois tipos de<br />

implicações da arquitetura, as implicações<br />

sintáticas, relacionadas com a configuração, e as<br />

implicações semânticas, ligadas a aspetos<br />

convencionais, circunstanciais e históricos; vii) o<br />

equilíbrio entre ordem e desordem, relacionando<br />

a última, ora com uma dimensão de inovação, ora<br />

com uma dimensão de regressão; viii) a utilização<br />

da história em arquitetura, apelando a um<br />

conhecimento crítico que seja capaz de abarcar<br />

longos períodos temporais; ix) o contributo de<br />

cada edifício para a qualificação do espaço<br />

público, distinguindo entre edifícios ‘com rosto’ e<br />

‘edifícios com costas’ ou ‘edifícios com ombros’;<br />

e, por fim, x) as teorias do conhecimento e a<br />

valorização de um conhecimento objetivo<br />

informado pela evidência.<br />

De entre os temas abordados ao longo do<br />

livro gostaria de retomar três: o alargamento do<br />

conceito de arquitetura; a relação entre<br />

arquitetura e comportamentos; e, por fim, o<br />

enfoque no espaço e não na forma. No prefácio<br />

do livro, Ruth Verde Zein refere que ‘(…) cada<br />

vez menos a arquitetura é socialmente<br />

considerada como uma das mais importantes<br />

facetas da vida e da criatividade humanas’. Uma<br />

das razões fundamentais para este fenómeno será<br />

porventura o enfoque cada vez mais reduzido que<br />

o arquiteto adota, concentrando todo o seu<br />

esforço técnico e criativo no desenho do edifício<br />

isolado. A modernidade iniciou este processo e a<br />

pós-modernidade continuou a alimentá-lo. Daí a<br />

importância fundamental do primeiro<br />

‘mandamento’ deste livro: alargar o conceito de<br />

arquitetura à cidade (às ruas e às praças) e ao<br />

território (ao território artificial e à paisagem<br />

natural), incluindo não apenas os objetos<br />

excecionais, mas também a ‘arquitetura sem<br />

arquitetos’ (Rodofsky, 1964), produzida por um<br />

saber implícito, ainda que sem uma aparente<br />

‘intenção’ estética.<br />

Como Holanda nos lembra, o modo como tem<br />

sido abordada a relação entre arquitetura e<br />

comportamentos – o determinismo arquitetónico<br />

– enquadra-se normalmente em dois extremos<br />

opostos. Por um lado, os que acham que a<br />

arquitetura determina a sociedade, porventura<br />

seguindo o apelo modernista. Por outro lado,<br />

aqueles que defendem que a arquitetura é vazia<br />

de conteúdos sociais e que as opções da<br />

arquitetura não têm qualquer efeito sobre a vida<br />

diária das pessoas. O autor apela a uma<br />

abordagem mais informada desta questão,<br />

alertando para o facto de a arquitetura refletir<br />

igualdades e desigualdades sociais, contradições<br />

e conflitos. Para ilustrar isto mesmo recorre a três<br />

exemplos esclarecedores na cidade de Brasília – o<br />

comércio informal na Esplanada dos Ministérios,<br />

os vendedores ambulantes na Plataforma<br />

Rodoviária e a feira da Torre da TV – e ainda ao<br />

caso de uma área residencial em Islington,<br />

Londres, estudada por Hillier (1996). Holanda<br />

alerta ainda para o facto de a arquitetura ser um<br />

campo de possibilidades mas também um campo<br />

de restrições. Trata-se, no fundo, de tornar o<br />

arquiteto consciente de que as suas ações podem<br />

contribuir para o estabelecimento de uma cidade<br />

mais justa e de uma sociedade mais democrática<br />

– ou o contrário.<br />

Por fim, ‘10 mandamentos da arquitetura’<br />

coloca-nos um desafio fascinante: mudar o nosso<br />

enfoque da forma para o espaço. A ideia não é<br />

nova (desde o final dos anos 70 que Hillier,<br />

Hanson e tantos outros aderentes da Teoria da<br />

Sintaxe Espacial, a têm vindo a desenvolver) e é<br />

aparentemente simples, mas na realidade<br />

representa uma mudança de paradigma no modo<br />

como vemos e construímos os nossos edifícios e<br />

as nossas cidades. O desafio consiste assim em<br />

privilegiar os vazios, os ‘elementos-fim’ que são<br />

realmente estruturantes nas nossas cidades e nos<br />

nossos edifícios, ao invés dos cheios, os<br />

‘elementos-meio’, que dependem de convenções<br />

e ideologias (no sentido mais estrito do termo) de<br />

uma determinada sociedade e de um dado tempo<br />

e que, como tal, sofrem constantes alterações.<br />

Aceitar este novo paradigma significa aceitar a<br />

importância fundamental da rua (dos espaços<br />

exteriores de circulação) e da praça (dos espaços<br />

exteriores de permanência) nas nossas cidades;<br />

significa voltar a conformá-los com fachadas<br />

frontais (com rosto) e não com fachadas laterais<br />

(ombros) ou fachadas de fundo (costas); significa


50 Book Reviews<br />

ainda questionar, com base num conhecimento<br />

profundo da história, o modo como as<br />

‘arquiteturas contemporâneas’ elegem como seu<br />

objetivo último o desenho do edifício isolado e o<br />

desenvolvimento de uma linguagem dos<br />

‘elementos-meio’.<br />

Referências<br />

Hanson, J. (1988) ‘The ten commandements<br />

(for writing academic papers)’<br />

(http://eden.dei.uc.pt/~jcardoso/ForStudents/Wr<br />

itingPaper.pdf) consultado em 20 de Janeiro de<br />

2014.<br />

Hillier, B. (1996) Space is the machine<br />

(Cambridge University Press, Cambridge).<br />

Holanda, F. de (2010) Brasília – cidade moderna,<br />

cidade eterna (FAU UnB, Brasília).<br />

Holanda, F. de (2011) O espaço de exceção<br />

(FRBH, Brasília).<br />

Rudofsky, B. (1964) Architecture without<br />

architects. A short introduction to nonpedigreed<br />

architecture (Museum of Modern<br />

Art, Nova Iorque).<br />

Vítor Oliveira, CITTA – Centro de Investigação<br />

do Território, Transportes e Ambiente,<br />

Faculdade de Engenharia, Universidade do<br />

Porto, Rua Roberto Frias 4200-465, Porto,<br />

Portugal. Email: vitorm@fe.up.pt<br />

PNUM2015: Configuração urbana e os desafios da urbanidade<br />

A 4ª Conferência Anual da Rede Portuguesa de<br />

Morfologia Urbana (PNUM) realizar-se-á em<br />

Brasília, Brasil, a 25 e 26 de Junho de 2015.<br />

O título da conferência é ‘Configuração<br />

urbana e os desafios da urbanidade’ e os temas<br />

em debate são os seguintes: i) transformações<br />

urbanas recentes – novos impactos, novos<br />

desafios; ii) desigualdade socioespacial das<br />

cidades; iii) configuração urbana e patrimônio<br />

cultural; iv) o legado da cidade moderna; e, por<br />

fim, v) a urbanização total: tendências para a<br />

metápole.<br />

O call for abstracts será lançado em<br />

Outubro de 2014, sendo que os resumos deverão<br />

ser submetidos até 1 de Fevereiro de 2015. Os<br />

autores serão notificados acerca da aceitação do<br />

resumo até 6 de Abril, podendo enviar o artigo<br />

completo (opcional) até 31 de Maio de 2015. A<br />

data limite de inscrição no PNUM2015 é o<br />

primeiro dia da conferência, 25 de Junho. O<br />

website do PNUM2015 contendo informações<br />

detalhadas sobre a conferência, será lançado<br />

muito em breve.<br />

A Comissão Organizadora da conferência<br />

inclui: Gabriela Tenorio (Presidente), Frederico<br />

de Holanda, Valério Medeiros, Ana Barros, Liza<br />

Andrade, Cláudia Garcia e Mônica Gondim. A<br />

Comissão Cientifica do PNUM2015 inclui:<br />

Frederico de Holanda (Presidente), Décio<br />

Rigatti, Edja Trigueiro, Gabriela Tenorio, Jorge<br />

Correia, Luiz Amorim, Miguel Bandeira, Nuno<br />

Norte Pinto, Renato Saboya, Stael Pereira da<br />

Costa, Teresa Marat-Mendes, Valério Medeiros,<br />

Vinicius Netto e Vítor Oliveira.<br />

Figura 1. Brasília (Source: Rodrigo Studart Corrêa).


REDE PORTUGUESA DE MORFOLOGIA URBANA<br />

A Rede Portuguesa de Morfologia Urbana (PNUM) foi criada em 2010, em Hamburgo, como<br />

um grupo regional do International Seminar on Urban Form. Os objectivos do grupo são:<br />

promover e desenvolver o estudo da forma urbana; consolidar uma verdadeira rede de<br />

investigação no domínio da morfologia urbana, através da organização de reuniões e<br />

conferências, e da publicação da presente Revista; e, por fim, estabelecer uma relação<br />

privilegiada com o International Seminar on Urban Form, através da colaboração com<br />

iniciativas de debate e divulgação do ISUF. Para mais informações consultar o sitío do PNUM<br />

em: pnum.fe.up.pt/pt.<br />

Conselho Cientifico<br />

Presidente: Vítor Oliveira, Universidade do Porto, Portugal (2016)<br />

Membros: Frederico de Holanda, Universidade de Brasília, Brasil (2016)<br />

Jorge Correia, Universidade do Minho, Portugal (2015)<br />

Miguel Bandeira, Universidade do Minho, Portugal (2016)<br />

Nuno Norte Pinto, The University of Manchester, Reino Unido (2016)<br />

Stael de Alvarenga Pereira Costa, Universidade Federal de Minas Gerais,<br />

Brasil (2016)<br />

Teresa Marat-Mendes, Instituto Universitário de Lisboa, Portugal (2016)<br />

(As datas entre parentesis indicam o final do mandato)


3 Editorial<br />

5 F. Holanda<br />

O mundo das miudezas: Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB)<br />

15 N. Palma<br />

Estudos urbanos e geometria fractal<br />

25 G. Cataldi, G. L. Maffei e P. Vaccaro<br />

Saverio Muratori e a escola Italiana de tipologia projetual<br />

Perspetivas<br />

37 As origens da morfologia urbana e a geografia alemã V. Oliveira e C. Monteiro<br />

40 Extensões da forma A. Perdicoulis<br />

42 A ‘rua direita’ portuguesa: elemento estruturador ou designação toponímica? S. M. G. Pinto<br />

44 Gramáticas genéricas para o domínio da cidade e urbanismo J. Beirão<br />

Relatórios<br />

14 Criação da INTBAU Portugal R. Florentino<br />

24 Turkish Network of Urban Morphology T. Ünlü<br />

36 Chinese Network of Urban Morphology W. Ding<br />

Book reviews<br />

47 C. D. Coelho (2013) Os elementos urbanos T. Marat-Mendes<br />

48 F. Holanda (2013) 10 mandamentos da arquitetura V. Oliveira<br />

Notícias<br />

4 Urban Morphology<br />

13 ISUF2014: Our common future in Urban Morphology<br />

50 PNUM2015: Configuração urbana e os desafios da urbanidade

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