Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />
Nuno Morgado<br />
Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />
Em contrapartida, nas relações culturais internacionais formais, evidenciam-se, sobretudo na<br />
“diplomacia cultural” (Graça, 1992: 262) enquanto “. . .comple<strong>me</strong>nto da Cooperação Cultural<br />
Internacional pois, à <strong>me</strong>dida <strong>que</strong> esta se tem vindo a desenvolver, os Estados reconheceram na<br />
Cultura um ele<strong>me</strong>nto essencial na condução da sua Política Externa” (Graça, 1992: 210).<br />
Neste sentido, pode agora olhar-se para os seguintes dados do espaço germânico e<br />
estabelecer um raciocínio analógico entre os casos. A Alemanha gastou, entre 2000 e 2007, de<br />
acordo com o Relatório de Desenvolvi<strong>me</strong>nto Humano do PNUD (2010), o índice 4,4 da despesa<br />
pública total em despesas de educação; se compararmos com a Áustria (5,4), Suíça (5,3), República<br />
Checa (4,6), Eslováquia (3,6), Hungria (5,4), Polónia (4,9), Eslovénia (5,2), Croácia (3,9), Bélgica<br />
(6,1), Luxemburgo (3,7), Países do Báltico (cuja média é de 4,9), Roménia (4,4); podemos<br />
interrogarmo-nos das razões de um dos mais baixos valores, entre os referidos. Contudo,<br />
relembramos <strong>que</strong> a Alemanha tem o actual<strong>me</strong>nte o quarto maior Pib do Mundo. Conse<strong>que</strong>nte<strong>me</strong>nte,<br />
é certo <strong>que</strong> a sua despesa pública é proporcional<strong>me</strong>nte a maior do espaço germânico, pelo <strong>que</strong><br />
a<strong>que</strong>les 4,4 em investi<strong>me</strong>nto real, cilindram qual<strong>que</strong>r outro valor.<br />
Posto isto, e partindo de antemão <strong>que</strong> parte destes gastos para a educação permanecem<br />
para o âmbito interno, vamos agora analisar zelosa<strong>me</strong>nte como despende a Alemanha a outra parte<br />
do seu capital para a educação ao nível internacional, concretizando a sua Informação Cultural.<br />
Contudo, não sem antes reforçar <strong>que</strong> a “boa imagem” <strong>que</strong> atrás referimos, projecta-a a<br />
Alemanha fundeando-a na sua potente “economia” e na “sua estabilidade politica interna” (Rö<strong>me</strong>r,<br />
1980: 117), sendo o objectivo cultural nuclear externo: “apresentar de modo fidedigno a Alemanha<br />
como nação de cultura” (Rö<strong>me</strong>r, 1980: 117), por <strong>me</strong>io de um aprofundar da integração europeia e de<br />
promover o entendi<strong>me</strong>nto cultural, para isso hasteando a bandeira da unidade política, da língua e<br />
da cultura alemãs – noções essenciais, simultanea<strong>me</strong>nte, para se compreender a Estratégia Cultural<br />
Alemã e <strong>que</strong> estão na base dela. O portal Deutschland Tourismus, aliás, evidencia essa “boa<br />
imagem, nação de cultura” (28) e, desde logo, a Embaixada da Alemanha em Lisboa também,<br />
difundindo e informando (29), <strong>que</strong> a Alemanha se encontra na lista dos países mais admirados.<br />
A este propósito, tem-se algo a recalcitrar numa curta nota. Os estudiosos <strong>que</strong> se<br />
interessam pela multissecular cultura germânica têm perfeita<strong>me</strong>nte, e como conheci<strong>me</strong>nto<br />
ele<strong>me</strong>ntar, <strong>que</strong> a “cultura alemã” (unitária) não existe. Se não nos fecharmos numa visão a-histórica,<br />
alta<strong>me</strong>nte prejudicial para o entendi<strong>me</strong>nto destas matérias, olharemos para um império <strong>que</strong> durou<br />
mil anos (Schwanitz, 2004 :82) em <strong>que</strong>, nesses dez séculos, podemos, sem esforço, observar uma<br />
autêntica manta de retalhos, o “puzzle” nas palavras de Eatwell (1997: 88) divididos em principados,<br />
reinos, bispados, condados, etc. cada um com a sua cultura, leis, costu<strong>me</strong>s, princípios, como<br />
afirmámos no Antelóquio e uma descentralização [feudal] i<strong>me</strong>nsa, até <strong>que</strong> por fim acabou <strong>me</strong>smo<br />
por se dividir em dois impérios com dois soberanos (Alemão e Austro-Húngaro) e mais tarde, no pós<br />
I Guerra Mundial, em vários países numa frag<strong>me</strong>ntação nunca alcançada. Com efeito, partindo<br />
destas noções não se pode, em consciência científica, defender uma “cultura alemã unitária” <strong>que</strong><br />
não passou de um ideal para o nacional-socialismo (fig. 21), e <strong>que</strong> não passa hoje de idealismo para<br />
os <strong>que</strong> a apontam.<br />
76