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Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository

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Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />

Nuno Morgado<br />

Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />

referimos, cai na caricatura e no exagero: o CSI a<strong>me</strong>ricano e demais séries da poderosa indústria<br />

cultural e ideológica dos EUA. O facto <strong>que</strong> nos importa aqui, é a criação de uma “boa imagem”<br />

(Graça, 1992: 270) de eficácia, autoridade e rigor germânicos, <strong>que</strong> retomaremos adiante.<br />

No <strong>me</strong>io audiovisual germânico, e no âmbito da matéria <strong>que</strong> tratamos, podemos ainda<br />

analisar três fil<strong>me</strong>s. Die Fetten Jahre sind vorbei (2004), uma produção austro-alemã, conta como<br />

três jovens anti-capitalistas berlinenses procuravam “educar” a média e alta burguesia da cidade, por<br />

<strong>me</strong>io da invasão e desarrumação das mansões, obrigando essas classes a olhar para a sociedade<br />

no seu todo, portanto para além da vida luxuosa <strong>que</strong> levavam. Numa peripécia, acabam por raptar<br />

um dos empresários e tem início uma série de interessantes diálogos, nos quais se versam assuntos<br />

ideológicos e a capacidade <strong>que</strong> hoje domina, ao nível do aburguesa<strong>me</strong>nto social. Num registo<br />

total<strong>me</strong>nte distinto, Die Flucht (2007) relata com emoção os contornos dolorosos da marcha forçada<br />

dos pussianos fugindo à frente do Exército Ver<strong>me</strong>lho, abandonando a sua Pátria secular, marcha<br />

protagonizada no fil<strong>me</strong> pela aristocracia prussiana. Por último, Die Welle (2008) constitui um<br />

interessante fil<strong>me</strong> <strong>que</strong> mostra como um professor liceal provoca os seus alunos com a possibilidade<br />

de se restaurar um regi<strong>me</strong> ditatorial na Alemanha e, perante o descrédito da<strong>que</strong>les, monta um subaparelho<br />

escolar totalitário a fim de inferir quão fácil é o controlo, a militarização e o revés<br />

democrático aplicado à sociedade alemã.<br />

A “Música”, <strong>que</strong> Graça aborda igual<strong>me</strong>nte (1992: 253), a forma de arte em <strong>que</strong> os germânicos<br />

são os indisputáveis <strong>me</strong>stres: Händel, Bach, Haydn, Mozart, Wagner, Brahams, etc. podemos nós<br />

ligar aos famosos e já relatados Militärmusikfest [Festivais Militares de Música], <strong>que</strong> ainda hoje se<br />

realizam na Alemanha, produto directo da cultura germânica <strong>que</strong> atrás ensaiámos explicar – a ligação<br />

do militarismo à música. Neste aspecto, pode relatar-se o nosso testemunho de, em Novembro de<br />

2010, aquando da nossa presença no XVI Festival, termos tido a oportunidade de verificar a alegria<br />

dos germânicos <strong>que</strong> encheram o pavilhão Max-Sch<strong>me</strong>ling-Halle a entoar as marchas militares<br />

tocadas e <strong>que</strong> sabiam trautear de cor, chegando os mais idosos a chorar, certa<strong>me</strong>nte em virtude de<br />

recordações pessoais. De denotar ainda <strong>que</strong> não foram aplaudidos os exércitos estrangeiros como<br />

foram os corpos militares do Estado alemão, evidenciando pois uma festa das Pátrias e não um<br />

aglo<strong>me</strong>rado da europeização. O Festival teve como epílogo uma composição de Strauss, como <strong>que</strong><br />

coroando a música austríaca e Wien como capital do Reich, aclamada na capital prussiana. Todavia,<br />

o <strong>que</strong> de maior monta se releva foi um episódio em <strong>que</strong> militares germânicos permaneceram<br />

ajoelhados e de cabeça baixa, num inequívoco jura<strong>me</strong>nto de fidelidade, perante a bandeira da<br />

juridica<strong>me</strong>nte extinta Prússia, depois de terem marchado ao som de Preuβens Gloria [Glória da<br />

Prússia] (27). Com efeito, será um episódio demasiado simbólico para se suprimir e levar ao<br />

entendi<strong>me</strong>nto despreocupado de <strong>que</strong> a Prússia está dissolvida e desapareceu.<br />

Com alguma ironia, na matéria musical <strong>que</strong> analisamos, podemos até versar sobre o fil<strong>me</strong><br />

The Sound of Music (1965) em <strong>que</strong> os a<strong>me</strong>ricanos, sem <strong>me</strong>direm bem o acto, vergaram-se a cantar,<br />

pelo mundo mágico do cinema - pela boca de Maria - a grandeza milenar da Germânia: “With songs<br />

they have sung for a thousand years!”, facilitando a propaganda de uma cultura milenar (como diz a<br />

canção) completa<strong>me</strong>nte oposta à deles próprios. Estas entrelinhas só podem ser desveladas com<br />

algum sentido de humor.<br />

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