Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
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Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />
Nuno Morgado<br />
Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />
outros quatro, mantinha-se a representação por corporações. De qual<strong>que</strong>r forma, o regionalismo tem<br />
uma longa tradição na Germânia (Costa, s.d.:287). Tendo o II Reich co<strong>me</strong>çado a perturbar essa<br />
ordem descentralizada, uma vez <strong>que</strong> “. . .era a verdadeira antítese [desse] império pré-moderno e<br />
supranacional do milénio passado” (Stür<strong>me</strong>r, 2003: XXX) – um Reino a impor-se a um Império como<br />
Império, o velho König da Prússia disse a Bismarck antes da proclamação do II Reich (retratada no<br />
estonteante quadro de Anton von Werner): “estamos a levar para o túmulo a velha Prússia” e com<br />
ela, uma organização germânica de séculos sub<strong>me</strong>tida a um centro de poder focado na Áustria (fig.<br />
20). É também nesta lógica federalista <strong>que</strong> deve ser referida a circulação de moedas regionais<br />
dentro da própria Alemanha, disputando espaço monetário ao Euro e criando desconforto no<br />
governo central alemão (25). Resta uma palavra a dizer sobre o federalismo - e essa assenta em<br />
mais um efeito funesto dos Aliados sobre a Alemanha: “os actuais Estados federais nasceram, em<br />
grande parte, após a II Guerra Mundial, sob influência das potências de ocupação, não tendo sido<br />
levado em consideração, de um modo especial, os aspectos da tradição na delineação das suas<br />
fronteiras” (Rö<strong>me</strong>r, 1980: 23); logo, aí estão os bávaros, os francos, os saxões, os suábios, os<br />
renanos, os palatinos, os hessianos, os vestefalianos, os frísios, com fronteiras ineptas, traçadas por<br />
ignaros punhos a<strong>me</strong>ricanos e soviéticos. Contudo, a situação mais grave e <strong>que</strong>, no entender da<br />
hipótese desta dissertação dará azo a acertos político-culturais, projecta-se nos prussianos, silésios,<br />
po<strong>me</strong>rânios, brandenburgueses, saxões, alsacianos, tiroleses do Sul, <strong>que</strong> estão bem longe da<br />
fronteira do Estado germânico.<br />
Um segundo aspecto, é a importância do Kanzler (Reichskanzler, Bundeskanzler) <strong>que</strong> tem<br />
sido sempre a figura forte dos regi<strong>me</strong>s, embora, seja certa a noção de <strong>que</strong> o Kanzler de hoje não<br />
será o do século XIX em termos de poder.<br />
Enfim, na cultura germânica permanecerá ainda a existência de uma crença na<br />
superioridade germânica. Nas palavras do escritor português Eça de Queiroz (s.d.:102) <strong>que</strong>,<br />
reflectindo esta temática, escrevia n' A Relíquia pela boca do doutíssimo Topsius: “ O brilho <strong>que</strong> sai<br />
do capacete alemão, D. Raposo, é a luz <strong>que</strong> guia a Humanidade”, pois a Alemanha nada <strong>me</strong>nos<br />
seria do <strong>que</strong> a mãe espiritual dos povos (Eça de Queiroz, s.d.: 71), D. Raposo, à portuguesa de<br />
Aquém e de Além-Mar, haveria de responder: “Sebo para o capacete!”<br />
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