Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
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Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />
Nuno Morgado<br />
Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />
Secular<strong>me</strong>nte, a Alemanha (leia-se o Reich) apresentou-se num Império como federação de<br />
médios e pe<strong>que</strong>nos Estados, nos quais a ri<strong>que</strong>za e o poder estavam concentrados nas mãos da<br />
aristocracia, não raro proprietária de extensas terras (Junkers), bem como dos ricos <strong>me</strong>rcadores nas<br />
cidades, <strong>que</strong> obtiveram mais margem de manobra após a Reforma Protestante, situação <strong>que</strong> de<br />
algum modo se modificou com o fim do II Reich em 1918, envolvendo a perda de poder e influência,<br />
enquanto e<strong>me</strong>rgiu uma elite pró-democrata, isto é, os políticos da República de Weimar.<br />
Feito o interregno a esta experiência democrática com o III Reich, a antiga aristocracia <strong>que</strong> não<br />
vira devolvido o seu poder durante o nacional-socialismo de aspiração plebeia, os terra-tenentes e as<br />
elites endinheiradas voltaram a sofreram uma perda adicional de poder no pós II Guerra Mundial,<br />
especial<strong>me</strong>nte na RDA, ao verem as suas propriedades confiscadas e o seu poder esfumar-se<br />
perante o materialismo dialéctico e a luta de classes. Já na RFA parte da velha elite e dos seus<br />
descendentes conservaram posições de influência, em especial na esfera militar e no corpo<br />
diplomático. Do <strong>me</strong>smo modo, a elite administrativa permaneceu intocada. Com a reunificação da<br />
Alemanha, em 1990, a elite comunista dissipar-se-ia, alargando-se apenas as instituições da RFA aos<br />
5 Länder.<br />
As correntes de opinião na Alemanha, como nos Estados em <strong>que</strong> o regi<strong>me</strong> democrático foi posto<br />
em prática, são ricas e diversas. Em termos políticos, os partidos cristalizam a maioria dessas<br />
correntes, desempenhando um papel central.<br />
Aprofundando, na Germânia oitocentista, eram as antigas elites <strong>que</strong>, ao manterem os seus<br />
privilégios e influência, dominavam os estados. Tratava-se de uma “. . .fusão militarizada de<br />
burocracia real e aristocracia proprietária. . .” (Moore, 1983: 430) - os Junker e os Industriais<br />
compunham uma elite poderosa sendo <strong>que</strong> a própria Prússia era o mais antidemocrático de todos os<br />
<strong>que</strong> compunham o conjunto germânico. Foi Bismarck o pri<strong>me</strong>iro inserir uma coligação entre os Junker<br />
prussianos e classe média alemã (Taylor, 1993: 136). Então, o corpo burocrático do Estado, os<br />
diplomatas, e as forças armadas - a elite prussiana, controlava o sistema político de então. Deixando<br />
a Prússia e regressando à Germânia na sua totalidade, faz também todo o sentido afirmar-se,<br />
relativa<strong>me</strong>nte aos fracassos sucessivos do liberalismo e da democracia por via revolucionária <strong>que</strong> “os<br />
aristocratas austríacos já não eram os únicos a rejeitar a revolução; os burgueses co<strong>me</strong>çavam<br />
também a estar fartos dela” (Macedo, 1968: 231), em suma, advém o <strong>que</strong> Gaile chama de ,,Sieg der<br />
Konterrevolution” [Vitória da contra-revolução] (1991: 306-313). E porquê? Max Weber (1983)<br />
explicou perfeita<strong>me</strong>nte e sem deixar margem para dúvidas - a burguesia germânica não desafiava o<br />
sistema, acomodava-se a ele: não <strong>que</strong>ria governar, <strong>que</strong>ria ganhar dinheiro (linha da Reforma<br />
Protestante). Verdadeira<strong>me</strong>nte, no século XIX, e seguindo as linhas do milenar Sacro Império, os<br />
povos germânicos mantiveram-se bem longe de uma estrutura política demoliberal, na esteira do<br />
declarado. Aliás, é defendido até por alguns autores, <strong>que</strong> as raízes do nacional-socialismo, <strong>que</strong><br />
constituiu um Estado totalitário e belicista, assegurando um sistema profunda<strong>me</strong>nte oposto ao estado<br />
liberal constitucional de democracia burguesa, representativa e pluralista; se encontram no<br />
autocrático II Reich de Bismarck e do Kaiser Wilhelm II, bem como na extensão natural da matéria<br />
cultural germânica. De facto, até em termos orgânicos e operacionais se podem encontrar<br />
se<strong>me</strong>lhanças entre o II e o III Reich: “likewise, in both the Wilhelmine and Nazi periods, Germany<br />
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