Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
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Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />
Nuno Morgado<br />
Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />
neste vídeo (24), pode verificar-se, na ocorrência da aludida Militärmusikfest Berlin, a profunda <strong>pai</strong>xão<br />
com <strong>que</strong> os militares alemães e o seu público entoam, <strong>que</strong>r a Overture do Tannhäuser <strong>que</strong> nos<br />
re<strong>me</strong>te para o obscuro e místico mundo da mitologia germânica, de Odin a Thor, <strong>que</strong> constitui as<br />
raízes da cultura da<strong>que</strong>les povos, <strong>que</strong>r também, e sobretudo, a Overture, em versão reduzida, do<br />
1812 de Tchaikovsky, nada <strong>me</strong>nos do <strong>que</strong> uma das músicas mais compro<strong>me</strong>tidas com a doutrina da<br />
contra-revolução, exaltação suprema da estrondosa derrota <strong>que</strong> Napoleão sofreu ao tentar penetrar<br />
no Heartland e com ela o fracasso da trilogia da Revolução Francesa, pela sua rejeição a leste de<br />
Reims. Efectiva<strong>me</strong>nte, não desapareceram, em especial, as “. . .traditions of Prussian military prestige<br />
. . .” (Erb, 2003: 192).<br />
Voltando ainda à <strong>que</strong>stão do terminus da I Guerra Mundial, Novembro de 1918 representa<br />
para os alemães uma data de transtorno, um embaraço, confusão, amargura e <strong>me</strong>do (Haffner, 2004:<br />
34), sinais bem distintos do <strong>que</strong> o senso comum poderia adivinhar em manifestações de festa e alívio<br />
pelo fim da guerra. Com efeito, o alemão prosaico conclui da República de Weimar desta época:<br />
“nada do <strong>que</strong> a es<strong>que</strong>rda faz funciona” (Haffner, 2004: 53).<br />
Ei-los, pois, aos povos germânicos cultural<strong>me</strong>nte: organizados, austeros, correctos,<br />
aplicados, pragmáticos, ordeiros, disciplinados, poupados, trabalhadores, previdentes, e apesar de<br />
tão diferentes entre si, pelas muitas diferenças tradicionais, tão se<strong>me</strong>lhantes. Um “povo devoto e fácil<br />
de governar” segundo Martin Walser (Vilarinho, 1974/5: 184). Em particular, os militares germânicos,<br />
no âmbito da “coragem cívica”, são esquivos e mostram uma grande relutância em afrontar o poder<br />
instalado (Haffner, 2004: 45) e, por conseguinte, a procederem a um golpe de Estado. Pelo contrário,<br />
obedecem até ao fim - «Seid getreu bist zum Tod» [Sede fiéis até à morte], como cantavam outrora<br />
na marcha. Especifica<strong>me</strong>nte quanto aos prussianos pode acrescentar-se ao <strong>que</strong> se afirmou, o<br />
afamado puritanismo <strong>que</strong> encerra em si as virtudes da honra, da severidade, da dignidade, do<br />
ascetismo, do cumpri<strong>me</strong>nto do dever, da lealdade, da honestidade, da abnegação e da austeridade<br />
(Haffner, 2004: 90).<br />
Uma última palavra para encerrar a <strong>que</strong>stão cultural dos povos germânicos vai para o ideal<br />
<strong>que</strong> ci<strong>me</strong>nta ab-soluta<strong>me</strong>nte a noção de um Império Germânico, <strong>que</strong> encerre os seus vários povos,<br />
já definido aquando da identificação dos núcleos históricos incontornáveis da Política Externa<br />
Histórica da Germânia: o Pangermanismo. A Alldeutscher Verband [União de todos os Alemães] foi<br />
uma ideia <strong>que</strong> se chegou a organizar como estrutura a partir de 1891 e <strong>que</strong> se inspirava na tradição<br />
do Sacro Império Romano das Nações Germânicas na vivência dos vários povos germânicos e<br />
germanizados sob a <strong>me</strong>sma forma política, na descrição de Calleo (1990:4) “um local prénapoleónico<br />
cosmopolita e idílico”. Confor<strong>me</strong> se <strong>me</strong>ncionou, <strong>que</strong>r Bismarck, <strong>que</strong>r Hitler não<br />
souberam dar forma política a esta ideia. Por outro lado, os ingleses e franceses, (especial<strong>me</strong>nte os<br />
pri<strong>me</strong>iros) grandes inimigos do Pangermanismo, sempre ensaiaram impedir ligações entre os povos<br />
germânicos, de forma a enfra<strong>que</strong>cer o poder destes e a barrar o apareci<strong>me</strong>nto de um bloco forte e<br />
coeso <strong>que</strong> dominasse a Europa. Melhor exemplo não se consegue encontrar <strong>que</strong> não na proibição<br />
pela SDN, da união económica entre a Alemanha e a Áustria.<br />
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