Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
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Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />
Nuno Morgado<br />
Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />
gerações. De facto, sustenta-se <strong>que</strong> os princípios do cristianismo (Haffner, 2004: 93) estão<br />
sedi<strong>me</strong>ntados na cultura germânica e não seriam passíveis de remoção até Hitler atentar contra<br />
essas fundações. Como nota final deste assunto, em Outubro de 2010, numa viagem de cinco dias à<br />
Turquia, o Presidente alemão Christian Wulff, corporizando esta matéria cultural, pediu direitos para<br />
os cristãos em território do outrora Império Romano do Oriente, numa lógica de liberdade religiosa. E<br />
reaviva-se igual<strong>me</strong>nte <strong>que</strong> a Alemanha se ofereceu, em Novembro de 2010, para ajudar 2500<br />
cristãos, vítimas de perseguição no Ira<strong>que</strong>.<br />
O elitismo marca também o seu cunho na tradição dos povos germânicos. A<strong>que</strong>la<br />
“superioridade material e intelectual ou também moral” sobre a elite de <strong>que</strong> nos fala Mosca (1858-<br />
1941) (Cruz, 2004: 408) justifica, por exemplo, as razões pelas quais “a Unidade alemã não veio «de<br />
baixo», por decisão popular, mas «de cima» através de um tratado entre príncipes” (Rö<strong>me</strong>r, 1980:<br />
37).<br />
Como se verifica, a milenar cultura germânica é rica no mais alto grau - daí a dificuldade em<br />
caracterizá-la, como se avisou inicial<strong>me</strong>nte - tendo sido sobretudo valorizada a partir do romantismo<br />
do século XIX. É nessa época <strong>que</strong> nasce o ditado da Germânia enquanto ,,Land der Dichter und<br />
Denker” [a terra dos poetas e dos pensadores] ilustrativo do Génio Germânico.<br />
No entanto, não fica arredada a expressão de Kraus (1874-1936): Land der Richter und<br />
Henker [terra dos juízes e carrascos]. A propósito desta face obscura, mas tão fascinante, da cultura<br />
germânica, relembramos a filha do já citado Thomas Mann, Erika Mann (1905-1969) <strong>que</strong>, ligando o<br />
patriotismo alemão ao romantismo, conexão esta cheia de sentido pelo período concomitante em <strong>que</strong><br />
nascem ambos, defendeu <strong>que</strong> na Arte, na Filosofia e demais campos germânicos, subsiste um gosto<br />
pela morte - um êxtase pela morte. Decerto, o facto de os vienenses terem o hábito de almoçar nos<br />
restaurantes com vista para o cemitério Zentralfriedhof, co<strong>me</strong>ntando a beleza dos jazigos onde<br />
determinado ho<strong>me</strong>m de negócios ou certo aristocrata jaz, será um sintoma evidente da cultura <strong>que</strong> se<br />
analisa. E, de facto, basta ler os poetas, ver os quadros (a proliferação da pintura sobre a Morte na<br />
Idade Média é absoluta<strong>me</strong>nte exímia) e ouvir a música dos grandes compositores - o talento inato<br />
germânico para a música, <strong>que</strong> retomaremos (o eterno Don Giovanni de Mozart) - conhecer pois essa<br />
milenar cultura germânica, para corroborar a óptica da filha do Prémio Nobel.<br />
Uma <strong>pai</strong>xão pela Guerra, irmã da Morte, é em suma, apanágio do germanismo e lembremos<br />
<strong>que</strong>, aliás, Gehrmann ou Wehrmann, significam respectiva<strong>me</strong>nte o "ho<strong>me</strong>m da lança" ou "ho<strong>me</strong>m da<br />
guerra". Neste aspecto bélico, seria uma falha i<strong>me</strong>nsa obliterar o carácter tradicional militarista dos<br />
povos germânicos. Conscientes do empate técnico em termos militares entre os exércitos da I Guerra<br />
Mundial - pois fora assinado um Armistício e não um Acto de rendição, sendo <strong>que</strong> a derrota se deu<br />
em termos políticos e não estrita<strong>me</strong>nte militares - os povos germânicos deram continuidade ao<br />
militarismo enquanto sua característica cultural essencial. Ainda hoje se mantêm algumas tradições<br />
neste âmbito, como por exemplo a anual Militärmusikfests em Berlin. Refira-se, da <strong>me</strong>sma forma, <strong>que</strong><br />
não obstante existir um poderoso movi<strong>me</strong>nto pela paz unindo ambientalistas, estudantes,<br />
sindicalistas e líderes religiosos num discurso pacifista e antimilitarista desde o período do pós-guerra<br />
II Guerra Mundial, as forças armadas alemãs continuam ainda assim a ser compostas, em grande<br />
parte por recrutas – sinal inequívoco de <strong>que</strong> o militarismo alemão continua vivo. E, por exemplo,<br />
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