Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
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Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />
Nuno Morgado<br />
Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />
órgãos desigualitários da representatividade social e admitindo igual<strong>me</strong>nte os sindicatos, embora<br />
controlados. Com efeito, e sublinhando o caso austríaco, esteve-se nos limites do Estado<br />
Corporativo <strong>que</strong>, como a restante Europa dos valores, sucumbiu perante a burguesia mundial do<br />
multiculturalismo liberal. No entanto, e quanto à Alemanha, é tido <strong>que</strong> actual<strong>me</strong>nte constitui um<br />
Estado com um tecido económico alta<strong>me</strong>nte a<strong>me</strong>ricanizado, tendo preservado, porém, muitas das<br />
suas tradições no âmbito social e político.<br />
Relacionado com, pelo <strong>me</strong>nos, esta tentativa de rejeição do liberalismo estará, certa<strong>me</strong>nte, o<br />
apego à vida comunitária do alemão comum, em detri<strong>me</strong>nto do individualismo característico do<br />
pensa<strong>me</strong>nto ocidental. Os fenó<strong>me</strong>nos ligados à consciência nacional germânica vêem na liberdade<br />
individual uma frustração (Haffner, 2004: 66), enquanto observam na vida em comunidade, no<br />
consenso, na camaradagem e na união, a solução para a organização política e social. Pois bem, o<br />
<strong>que</strong> se afirma é o início do trilho <strong>que</strong> desemboca na clareira conclusiva em <strong>que</strong> nos deparamos com<br />
a possibilidade de a Alemanha ser “. . .um país basica<strong>me</strong>nte inapto para a democracia. . .” (Haffner,<br />
2004: 68), uma vez <strong>que</strong> será tida a democracia como a institucionalização do conflito (mais ou<br />
<strong>me</strong>nos ideológico), o <strong>que</strong> corrobora um cariz antidemocrático <strong>que</strong> logo no início deste sub-capítulo<br />
ficou estabelecido à cultura germânica. Mais se acrescenta <strong>que</strong> se criou, na cultura germânica, uma<br />
grande idoneidade estratégica para a acção e enor<strong>me</strong> aspiração comunitária de mobilização por<br />
uma causa comum. Os povos em estudo desenvolveram conse<strong>que</strong>nte<strong>me</strong>nte um enor<strong>me</strong> ardor ao<br />
trabalho e gigantesca capacidade <strong>que</strong> os tornou numa potência industrial. Obvia<strong>me</strong>nte, neste<br />
aspecto, a <strong>que</strong>stão dos recursos do território foi fulcral, uma vez <strong>que</strong> a ri<strong>que</strong>za de minérios do<br />
subsolo fez explodir a maior industrialização dos países da Europa na segunda <strong>me</strong>tade do século<br />
XIX. Contudo, a grande capacidade de mobilização, assim como o sistema educativo com uma base<br />
filosófica forjada, a acção de uma elite alta<strong>me</strong>nte perspicaz e visionária, criaram as condições para<br />
uma elevada adaptabilidade do povo alemão a conjunturas adversas e extremas, alta coesão entre<br />
os indivíduos e os grupos e uma facilidade quasi inata na mobilização colectiva (ex.: reconstrução do<br />
país no pós I e II Guerra Mundiais).<br />
Por outro lado, a rejeição do liberalismo discorre de uma tradição rústica ligada ao campo,<br />
incompatível com um certo modelo de vida citadina <strong>que</strong> exclui completa<strong>me</strong>nte os ele<strong>me</strong>ntos da vida<br />
rural. Como reminiscência deste assunto, pode citar-se, por exemplo, o caso da Suíça germânica<br />
(Présence Suisse, 2003: 19) em <strong>que</strong> se continuam a revivescer as tradições campestres mais<br />
primitivas, sem deixar a morte se aproximar dessas festividades seculares. E centenas de outros<br />
casos se podem apontar ao longo do território germânico.<br />
Os povos germânicos, a par destes atributos, foram marcados, ao longo dos séculos, pelo<br />
senti<strong>me</strong>nto anti-semita. Como nos faz saber Ullrich (1998: 103) os judeus eram vistos como a<br />
negatividade do capitalismo especulador encarnado, usurários, e por conseguinte, bode expiatório<br />
cíclico, ali<strong>me</strong>ntado ao longo dos tempos pelos pogroms (Gaile, 1991). Este facto, porém, não é<br />
gratuito, mas prende-se efectiva<strong>me</strong>nte com o profundo enraiza<strong>me</strong>nto, na Germânia, do cristianismo<br />
<strong>que</strong> infere nos judeus os culpados da crucificação do Messias (Schwanitz, 2009: 74 e 97): “E todo o<br />
povo respondeu: «Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!»” (Mateus, 27:25), id<br />
est, perpetuação da acusação dos judeus a Cristo pelos séculos dos séculos, através de todas as<br />
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