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Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository

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Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />

Nuno Morgado<br />

Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />

Seguindo pelos dita<strong>me</strong>s da análise funcional para a cultura germânica, sintetizamos, desde<br />

logo, <strong>que</strong> são os valores culturais anti-democráticos e anti-liberais <strong>que</strong> marcam os pontos políticoculturais<br />

(e estruturais por prolonga<strong>me</strong>nto) do país até ao final da II Guerra Mundial. A forma política<br />

democrática sobre a qual o pensador italo-alemão Michels (1876-1936 ) opinou o já citado (Michels,<br />

2001: 408), pois não passa de uma “fábula infantil” (Michels, 2001: 403) e a <strong>que</strong> Santo, no cultivo<br />

indirecto de Michels, através de Burnham, acrescenta e refere como “degenerescência da Burguesia<br />

e da Sociedade Capitalista” (Bessa, 1997: 174) tem sido pois, por a<strong>que</strong>les povos, recorrente<strong>me</strong>nte<br />

renegada. Constate-se o <strong>que</strong> pensava Thomas Mann (1875 - 1955), escritor e Prémio Nobel, sobre<br />

esta matéria:<br />

“não <strong>que</strong>ro política, <strong>que</strong>ro objectividade, ordem, decência. Estou profunda<strong>me</strong>nte<br />

convicto de <strong>que</strong> o povo alemão nunca amará a democracia política, por<strong>que</strong> simples<strong>me</strong>nte não<br />

gosta de política. A diferença entre o espírito e a política é a <strong>me</strong>sma diferença <strong>que</strong> existe<br />

entre a cultura e a civilização, a alma e a sociedade, a liberdade e o voto eleitoral, a arte e a<br />

literatura. O facto de ser alemão é cultura, alma, liberdade e arte e não civilização, sociedade,<br />

voto eleitoral ou literatura.” (Fischer, 2007: 242).<br />

Se advier a recusa categórica a esta perspectiva, à revelia da cientificidade dos autores com<br />

<strong>que</strong> se sustenta, de <strong>que</strong> os projectos ideológicos da democracia liberal na Germânia foram<br />

constante<strong>me</strong>nte frustrados – “. . .«Germany», as such, has no strong traditions of freedom or<br />

democracy” (Shlaes, 1991: XVII) - um bom exemplo encontramos na recusa da coroa imperial por<br />

Friedrich Wilhelm IV., durante as revoluções liberais de 1848, por<strong>que</strong> esta lhe era oferecida por<br />

eleição por um Parla<strong>me</strong>nto, <strong>que</strong> mais tarde lhe limitaria o poder (Bundestag, 1984:49). Neste âmbito,<br />

não se es<strong>que</strong>ça, de igual modo, <strong>que</strong> após cair em Wien o conservador ministro Metternich (1773 –<br />

1859), nesse período da “Primavera dos Povos”, subiu de seguida ao poder o autocrático Kaiser<br />

Franz Joseph (1830-1916), ferrea<strong>me</strong>nte apoiado pelo Fürst Schwartzenberg (1800-1852), contrarevolucionário<br />

convicto, <strong>que</strong> tecera laboriosa<strong>me</strong>nte uma política a fim de obrigar o tendente liberal<br />

Kaiser Ferdinand I (1793-1875) a abdicar.<br />

Prova cabal, o ditado popular alemão proclama: Gegen Demokraten helfen nur Soldaten<br />

[contra os democratas só ajudam os soldados].<br />

Portanto, estes povos germânicos, do alto sentido de justiça e sentido prático, não têm<br />

vocação para suportar aquilo <strong>que</strong> Rauschning (1940) descreveu como “deputados burgueses e<br />

alheios à vida do povo” (1940: 211), não obstante ainda, estes povos serem “. . .uma raça pesada e<br />

confortável. Falta-lhes o tempera<strong>me</strong>nto revolucionário” (1940: 124). A este propósito, diga-se apenas<br />

de passagem, <strong>que</strong> os alemães apenas tiveram uma verdadeira e longa revolução – a Reforma<br />

Protestante e essa visava, não o paraíso na terra, mas alcançar o Céu depois da morte, bem como a<br />

concretizar a aspiração da libertação material através da acumulação de ri<strong>que</strong>za, <strong>que</strong> a Igreja<br />

Católica não vê com bons olhos.<br />

Por outro lado, a Alemanha e demais Estados pós-fascistas (apenas os <strong>que</strong> não ficaram sob<br />

a esfera soviética), em especial a Áustria, tentaram, num certo sentido, recusar até aos anos 70 a<br />

a<strong>me</strong>ricanização da economia no sentido do liberalismo. Foram, comprovada<strong>me</strong>nte, neocorporativas,<br />

introduzindo um conjunto de direitos sociais, reconhecendo <strong>que</strong> as instituições são<br />

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