Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
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Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />
Nuno Morgado<br />
Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />
Se 15 milhões de indivíduos germânicos da Groβdeutschland, no pós-II Guerra Mundial,<br />
foram repatriados para a actual Kleindeutschland, não se podem es<strong>que</strong>cer os <strong>que</strong> se recusaram a<br />
abandonar a sua terra-natal. Aqui se trazem dois exemplos concretos. E os <strong>que</strong> foram arrancados e<br />
obrigados a viver na actual Alemanha, com certeza, mostrarão pouca vontade em receber<br />
imigrantes, como prova um Relatório da ONU (14) de Julho de 2009, <strong>que</strong> apregoa um povo um tanto<br />
racista, <strong>que</strong> não aceita o seu país como alvo de imigração, recusando-se a integrar a<strong>que</strong>les <strong>que</strong>, a<br />
seu ver, não pertencem ali. De resto, a própria Suiça, ao aprovar legislação para a expulsão<br />
automática dos imigrantes <strong>que</strong> co<strong>me</strong>tam cri<strong>me</strong>s, em Novembro de 2010, endureceu as<br />
circunstâncias da sua apregoada tolerância. Ainda sobre a imigração na Alemanha, já versada em<br />
sede própria (Morgado, 2010a), mais se acrescenta <strong>que</strong> a lei da nacionalidade alemã assenta num<br />
quadro alta<strong>me</strong>nte restritivo e suma<strong>me</strong>nte baseado no jus sanguinis, como se pode ler no site do<br />
Auswärtiges Amt [Ministério dos Negócios Estrangeiros]. Nestes domínios, porém noutro patamar<br />
podemos referir, de um lado, a solene proclamação da Bundeskanzlerin Merkel, em Outubro de<br />
2010, de <strong>que</strong> a “sociedade multicultural fracassara”, <strong>me</strong>nsagem <strong>que</strong> encontrou eco em toda a<br />
imprensa europeia <strong>que</strong> se apressou a relatar uma opinião pública chocada perante o<br />
reconheci<strong>me</strong>nto dessa evidência, apelada em radicalização do discurso; ou de outro, a intervenção<br />
inflamada do deputado austríaco Ewald Stadler (15) dirigindo-se ao Embaixador da Turquia em Wien<br />
convidando-o a tomar o Expresso do Oriente e recolher à Turquia, após as declarações da<strong>que</strong>le<br />
sobre dificuldades de integração e assimilação dos turcos no espaço germânico, isto pouco depois<br />
do Arcebispo católico Luigi Padovese ter sido esfa<strong>que</strong>ado e decapitado por um jovem muçulmano<br />
no dia 3 de Junho de 2010 em Iskenderum, na Turquia.<br />
Volvendo, crê-se <strong>que</strong> a punição imposta pelos vencedores da II Guerra Mundial ao nível da<br />
di<strong>me</strong>nsão territorial e do esvazia<strong>me</strong>nto dos poderes do Estado se tornou, verdadeira<strong>me</strong>nte, um<br />
incentivo à ideia de <strong>que</strong> a Alemanha se basta a si própria e não precisa de imigração: “«L 'ideologie<br />
allemande»” (Delattre, 1992: 67). Sem dúvida, foram os alemães <strong>que</strong> reconstruíram o seu país dos<br />
escombros de 1945. A esta explicação se junta, retomando breve<strong>me</strong>nte a opinião pública, “en<br />
Allemagne, le concept mê<strong>me</strong> de culture a un caratère d 'exclusion” (Delattre, 1992: 70). E Panayi no<br />
seu ensaio confirma esta convição (Larres,1998: 129-148). Por isso, “au lieu de regarder les<br />
étrangers com<strong>me</strong> une possibilité de régénération, les Allemands se crispent” (Delattre, 1992 : 61) e<br />
“les attentats racistes se multiplient. L'extrê<strong>me</strong> droite s'établit, à cha<strong>que</strong> eléction, autour de 10% des<br />
suffrages. Dans un Etat où l'on croyait ne jamais la voir revenir. Et la classe politi<strong>que</strong> démocrati<strong>que</strong><br />
esquive le débat” (Delattre, 1992 : 61).<br />
De facto, o problema dos cerca de 15 milhões de alemães expulsos das suas terras<br />
ancestrais <strong>me</strong>rece uma reflexão <strong>me</strong>ticulosa. Neste âmbito a BdV, fundada nos anos 50, assu<strong>me</strong> a<br />
função essencial de relembrar a Europa das injustiças aco<strong>me</strong>tidas aos povos germânicos pelas<br />
potências vencedoras da II Guerra Mundial (receosas da constituição de núcleos germânicos<br />
poderosos fora da Alemanha/Aústria/Suiça) e, conse<strong>que</strong>nte<strong>me</strong>nte, marcar uma posição para <strong>que</strong> se<br />
seja mantido, no mínimo no patamar <strong>me</strong>tafísico, o património germânico multissecular, actual<strong>me</strong>nte<br />
bem afastado da fronteira actual. Indubitavel<strong>me</strong>nte esta é uma <strong>que</strong>stão <strong>que</strong> caberá facil<strong>me</strong>nte na<br />
categoria do ultra-sensível, em <strong>que</strong> se abrem brechas para os ata<strong>que</strong>s à<strong>que</strong>les a <strong>que</strong>m estaria<br />
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