Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />
Nuno Morgado<br />
Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />
Aliás, Bessa disseca a política externa do ex-Ministro Fischer, último federalista europeu na<br />
política externa alemã, e revela <strong>que</strong>, com a<strong>que</strong>le estadista, para além dos intentos costu<strong>me</strong>iros <strong>que</strong><br />
atrás se expuseram de a Alemanha al<strong>me</strong>jar “salvaguardar a paz” e imple<strong>me</strong>ntar o “primado do<br />
direito”, o Ministro pretendeu real<strong>me</strong>nte: fo<strong>me</strong>ntar com “interesse a ligação transatlântica”, ter<br />
“atenção aos Balcãs”, promover o “alarga<strong>me</strong>nto da União Europeia a Leste”, forjar uma “ligação<br />
intensa com a Rússia” e rever o “estatuto da Alemanha na ONU” (Bessa, 2001: 22). Tudo isto<br />
plasmando clara<strong>me</strong>nte na defesa de <strong>que</strong> “ a Alemanha tem de redefinir o seu papel em matéria de<br />
política externa”. Rittberger (2001: 20) completa <strong>que</strong> a “continuidade e reabilitação” foram<br />
prioridades na política externa da Alemanha para Fischer e <strong>que</strong> este Ministro dos Verdes nunca<br />
hesitou na altura de cumprir as directivas de uma política externa conveniente ao país.<br />
Certa<strong>me</strong>nte <strong>que</strong> os EUA se enfureceram com a política externa de Schröder e <strong>que</strong>, travando<br />
qual<strong>que</strong>r boa relação da Europa com a Rússia, tentaram desestabilizar a Alemanha. Sinal, de resto,<br />
<strong>que</strong> comprova a perspectiva da política externa germano-a<strong>me</strong>ricana como uma política cheia de<br />
pontos de alta tensão (Erb, 2003: 187-192) e tudo <strong>me</strong>nos pacífica.<br />
Contudo, ocorreram entretanto eleições no Estado alemão <strong>que</strong> colocaram Merkel (n.1954)<br />
como Bundeskanzlerin. I<strong>me</strong>diata<strong>me</strong>nte entabulou intensas relações com os EUA, rompendo a<br />
política de Schröder. Analisando a história pessoal da Bundeskanzlerin, refira-se <strong>que</strong> a estadista foi<br />
profunda<strong>me</strong>nte marcada pela repressão da URSS na RDA em <strong>que</strong> cresceu e, por reacção, tornouse<br />
numa combatente pelos direitos humanos e pela democracia. Daí <strong>que</strong> seja pragmática com a<br />
Rússia e <strong>que</strong>, <strong>me</strong>smo chegando a criticar os EUA na polémica dos prisioneiros de Guantanamo, são<br />
estes últimos o seu aliado por excelência. Esse humanitarismo encontra também prova na recepção<br />
de Merkel ao Dalai Lama, para fúria da China, e é deste seu aspecto pessoal <strong>que</strong> brota a sua<br />
posição, como se abordou, pragmática face à Rússia, <strong>que</strong> Stein<strong>me</strong>ier (n.1956), ex-Ministro dos<br />
Negócios Estrangeiros do SPD, criticava, pois para ele a “. . .relação estratégica com a Rússia<br />
continua a ser uma <strong>que</strong>stão central da diplomacia alemã” (Daehnhardt, 2007b: 3). Aprofunda-se o<br />
assunto.<br />
Stein<strong>me</strong>ier propôs uma nova Ostpolitik (Daehnhardt, 2006a). É importante compreender <strong>que</strong>,<br />
ainda nos tempos de Schröder, tentou forjar-se uma relação bilateral forte entre Berlin e Moscovo,<br />
mas Merkel, luterana da CDU, em detri<strong>me</strong>nto dessa aliança bilateral, <strong>que</strong>r alargar a relação a laços<br />
UE/Rússia. (Daehnhardt, 2006a: 2). Pairou, assim, um conflito entre Merkel e o seu antigo Ministro<br />
dos Negócios Estrangeiros, uma vez <strong>que</strong> Stein<strong>me</strong>ier assumia <strong>que</strong> “. . . as relações entre a Europa e<br />
a Rússia são essenciais para a estabilidade europeia e sua segurança energética. . .” (Daehnhardt,<br />
2007c: 2), enquanto Merkel defendeu <strong>que</strong> apesar de importantes, as relações Alemanha/Rússia não<br />
são “. . . prioritárias num quadro político onde as relações inter-europeias e a parceria transatlântica<br />
são os palcos privilegiados.” (Daehnhardt: 2007c: 2). Facto é <strong>que</strong> de acordo com Pereira (2003: 549)<br />
“para Rusia, la esperanza del siglo XXI está en Europa”. Assim a Rússia deve ser a aliada<br />
preferencial da Europa em geral e da Alemanha em particular.<br />
Nesta perspectiva forte<strong>me</strong>nte assente no pressuposto geopolítico, Stein<strong>me</strong>ier assumiu esta<br />
posição até à exaustão: “a Rússia é indispensável como parceira para a Alemanha”, “a Alemanha<br />
precisa da Rússia”, “constrói-se uma aliança mútua entre a Alemanha e a Rússia”, “a Rússia como<br />
53