Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />
Nuno Morgado<br />
Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />
Sob este prisma, Cravinho (2002) apresenta-se como bastante útil para trazer à temática,<br />
pois, na verdade, enu<strong>me</strong>ra princípios de pensadores a <strong>que</strong> este trabalho se filia estreita<strong>me</strong>nte e <strong>que</strong><br />
se passam a pontuar. Na companhia de Carr (1892-1982), critica-se o molde feito às realidades para<br />
a sua distorção, com vista ao alcance da paz, visto <strong>que</strong>, ao invés, é preciso identificar as forças reais<br />
e aceitar as realidades <strong>que</strong> não se podem alterar, propondo <strong>me</strong>canismos adequados a essas<br />
realidades. Refuta-se o idealismo <strong>que</strong> defende uma harmonia natural de interesses (dada a sua<br />
inexistência) e defende-se <strong>que</strong> qual<strong>que</strong>r distribuição de poder é visada para defender por a<strong>que</strong>les a<br />
<strong>que</strong>m ela lhe convém, e para destruir pelos <strong>que</strong> são prejudicados e têm uma política externa digna<br />
de tal. De Niebuhr (1892-1971) seleccionamos a vontade <strong>que</strong> cada Estado logra em dominar o outro<br />
e promover os seus interesses. Por fim, em Morgenthau (1906-1980), convergimos no valor<br />
perpétuo do poder, ainda <strong>que</strong> ao arrepio deste não ter contornos imutáveis, mas variantes no tempo<br />
e no espaço.<br />
Efectiva<strong>me</strong>nte, para a análise da Política Externa Alemã compensa um olhar mais intenso em<br />
Morgenthau, no<strong>me</strong> maior do realismo político, para enu<strong>me</strong>rar os seus seis princípios (Morgenthau,<br />
1978: 4-15): a política obedece a princípios básicos constantes enraizados na natureza humana<br />
estrutural<strong>me</strong>nte egoísta e com ânsia de poder; por esta razão, a política distingue-se de outras áreas<br />
pela procura do poder; assim, o poder tem um valor perpétuo para a política, embora os seus<br />
contornos sejam mutáveis; tendo em conta esta ânsia, a política vive em permanente tensão com<br />
preceitos éticos; o realismo rejeita também qual<strong>que</strong>r identificação das aspirações de uma nação com<br />
as leis <strong>que</strong> regem o Universo; e por fim o realismo defende a autonomia e especificidade da esfera<br />
política face a outras. De facto, numa interessante passagem da sua obra, Morgenthau dedica-se a<br />
responder à sua interrogação: “how to detect and counter an Imperialistic policy?” (Morgenthau, 1978:<br />
67-76), indicando <strong>que</strong> actual<strong>me</strong>nte essa é uma tarefa árdua pela dificuldade em identificar as<br />
<strong>me</strong>didas sub-reptícias do softpower. Com efeito, “. . .the vehicles of economic and cultural<br />
penetration” (Morgenthau, 1978: 74) são de leitura ambígua e difusa, <strong>que</strong> apenas um olhar<br />
estrategica<strong>me</strong>nte treinado pode trazer à luz do conheci<strong>me</strong>nto académico. E esta nossa hipótese de<br />
estudo não recorre senão a estes princípios <strong>me</strong>todológicos, a fim de garantir um trabalho científico<br />
rigoroso, ordenado e coerente, em <strong>que</strong> se apresentam os argu<strong>me</strong>ntos <strong>que</strong> vêm discorrendo ao longo<br />
do texto, funda<strong>me</strong>ntados por literatura e demais docu<strong>me</strong>ntação, de forma a garantir os conteúdos<br />
cuidados no mais alto grau.<br />
Convergindo com o pensa<strong>me</strong>nto de Morgenthau, em verdade, a política externa das grandes<br />
potências nunca é eterna, mas flexível, qualidade essa <strong>que</strong> leva a <strong>que</strong>m seja aliado hoje, seja<br />
inimigo amanhã: a Rússia era aliada do II Reich nos tempos de Bismarck (1866) e na I Guerra<br />
Mundial (1914-18) combateu contra os Impérios Centrais.<br />
Contudo, não se reconhece apenas o real domínio da força e não se examina toda a política<br />
internacional apenas como “power politics” (Rittberger, 2001: 12). Como fez saber Maquiavel, “os<br />
<strong>que</strong> <strong>que</strong>rem fazer apenas de leão não percebem nada do assunto” (1972: 94). Por isso, faz-se a<br />
devida vénia à importância dos acordos, das convenções, das negociações, das plataformas e do<br />
direito consuetudinário, essencial<strong>me</strong>nte instru<strong>me</strong>ntos dos pe<strong>que</strong>nos Estados. Subsiste o cuidado de<br />
nada absolutizar. O já citado Karel Čapek expôs as contigências do direito internacional, na <strong>me</strong>dida<br />
48