Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
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Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />
Nuno Morgado<br />
Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />
trata<strong>me</strong>nto adequado a esta matéria, do mito imperial, procura ser: abrangente (incluir enfim esta<br />
variação interdisciplinar <strong>que</strong> se contempla), profundo (indo além de intenções de registos<br />
historiográficos simples, pelo <strong>que</strong> se trouxe o assunto à luz da escalpelização) e contextualizado (daí<br />
o esforço de o enquadrar na hipótese geral defendida).<br />
Entrando sucinta<strong>me</strong>nte nos domínios da Confederação Germânica (1815-1867), toma-se um<br />
pe<strong>que</strong>no aponta<strong>me</strong>nto, prova cabal de política externa traçada por uma elite (não pelas massas,<br />
estas objecto e não sujeito) imbuída na cultura do seu povo, e <strong>que</strong> tem como fim garantir os<br />
interesses nacionais, e não os interesses dos outros. Esse exemplo de política externa germânica<br />
feita num sentido inteligente, instru<strong>me</strong>nto de uma paz realista e conservadora, (Congresso de Wien -<br />
1815) tem um no<strong>me</strong>: Fürst Metternich (1773-1859), como explicam Bessa e Pinto no seg<strong>me</strong>nto da<br />
sua obra (1999) dedicado à contra-revolução. E a propósito do tema, reavivam-se as palavras de<br />
Thomas Mann: “os alemães são um povo da contra-revolução romântica, contra o intelectualismo<br />
filosófico e o racionalismo do Iluminismo, de um levanta<strong>me</strong>nto da música contra a literatura, da<br />
mística contra a claridade. . .” (Scheidl, 1999: 89).<br />
Uma vez <strong>que</strong> se está a lançar um olhar para o século XIX, <strong>me</strong>ncione-se também a acção<br />
estratégica de Bismarck (1815-1898) (Duroselle, 1992: 37-48) <strong>que</strong> assentou a sua politica externa<br />
realista nos seus dois maiores instru<strong>me</strong>ntos: a diplomacia, obtendo uma teia de alianças<br />
laboriosa<strong>me</strong>nte criada; e a guerra, não se coibindo em esmagar <strong>que</strong>m impedisse a Alemanha de se<br />
unificar e se tornar um Estado hegemónico na Europa e no Mundo.<br />
Regressando à problemática, cumpre-se no intento sublinhar, de igual modo, o conceito de<br />
Wachstumspitz, outro dos princípios <strong>que</strong> prevalecem na concepção germânica de política externa e<br />
<strong>que</strong> significa exacta<strong>me</strong>nte: “todo o enclave tem o índice de cresci<strong>me</strong>nto”. E <strong>me</strong>lhor exemplo histórico<br />
não se acha <strong>que</strong> não na campanha multissecular da Ordem Teutónica nos países do Báltico (o<br />
Castelo de Marienburg de 1274 permanece orgulhosa<strong>me</strong>nte), alargando e estendendo aí a influência<br />
germânica (figs. 4 e 5) pois “. . .l’Ordre Teutoni<strong>que</strong> représentait une force au service de l’expansion<br />
germani<strong>que</strong> dans l’est de l’Europe, une armée idéale, fidèle à l’empereur et porteuse des valeurs de la<br />
culture allemande ” (Toomaspoeg, 2001 : 7). Outrossim, a <strong>que</strong>stão religiosa não se desagrega deste<br />
assunto, tendo em conta <strong>que</strong> a “. . .igreja alemã identifica, porém, quase sempre, a propagação da fé<br />
à extensão das fronteiras do Império” (Heers, 1977: 182). Destas bases, poder-se-á observar o<br />
enclave de Kaliningrad com outros olhos.<br />
Por outro lado, a Germânia não teve apenas líderes realistas <strong>que</strong> levaram a sua construção<br />
política a um maior ou <strong>me</strong>nor sucesso. Hitler, a título de exemplo mais recente, um ideólogo<br />
despreparado para a “. . .avaliação real de poderes. . .”, como elucida Bessa (2001: 120), permitiu<br />
<strong>que</strong> a sua doutrina assumisse um papel protagonista na arena internacional dos poderes, tendo em<br />
conta <strong>que</strong>, obcecado com a derrota do comunismo, ignorou a geopolítica, id est, a ideologia cegou o<br />
saber. “A agressão de Hitler contra a URSS foi a grande catástrofe eurásica” la<strong>me</strong>nta-se Dugin<br />
(2010a: 57) (fig 18). E o ditador austro-alemão não precisava ter lido Margeride (1990) <strong>que</strong> explica<br />
conclusiva<strong>me</strong>nte as dificuldades na conquista da Rússia, bastava recolher o exemplo histórico<br />
falhado de Napoleão na conquista do Heartland, a par de escutar o génio geopolítico de Haushofer,<br />
<strong>que</strong> instituía a aliança com Rússia como essencial.<br />
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