Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
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Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />
Nuno Morgado<br />
Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />
multissecular da ideia de Reich na <strong>me</strong>ntalidade alemã até aos nossos dias, embora refreada, sem<br />
sombra de obliteração. Todavia, nem a hecatombe do nacional-socialismo expurgou esta noção<br />
essencial da cultura germânica, conquanto a tenha atenuado, ou por outra, silenciado, catalogando<br />
sistematica<strong>me</strong>nte esta aspiração de intento “nazi” e por isso sempiterna<strong>me</strong>nte condenada ao baú<br />
cheio de mofo do politica<strong>me</strong>nte correcto. Além do mais, não se deve deixar à margem do problema o<br />
mito germânico daqui decorrente, id est, dessa tradição de séculos ligada à Kaiser-Idee [ideia<br />
imperial], directa<strong>me</strong>nte herdeira do Império Romano e relacionada com o conceito de monarchia<br />
universalis (Rodríguez, 2000: 59) do milenar Sacro Império Romano das Nações Germânicas<br />
(800/962-1806). Porém, não só da<strong>que</strong>le, uma vez <strong>que</strong> também: o Império Carolíngio (800-843), o<br />
Império Austríaco (1806- 1867), a Confederação Germânica (1815-1866), a Confederação Germânica<br />
do Norte (1866-1871), o Império Austro-Húngaro (1867-1918), o II Reich (1871-1918) e até <strong>me</strong>smo o<br />
III Reich (1933-1945) contribuíram ao longo dos séculos para ci<strong>me</strong>ntar essa ideia imperial.<br />
Sem dúvida, o mito, parte integrante das nações, “um nada <strong>que</strong> é tudo” como identificou<br />
Fernando Pessoa (1888-1935), encontra aqui um lugar de primazia incontestada. Eis a lenda imperial<br />
germânica:<br />
“Dédormais, pour toutes les Allemagnes, l’empereur promis dort au sein d’une grotte<br />
de Thuringe. Il est assis devant une table de pierre et, depuis qu’il dort, sa barbe fait déjà<br />
plusieurs fois le tour de la table. Parfois, il se soulève pour demander au berger qui le veille :<br />
«Les corbeaux volent-ils toujours autour de la montagne ?» Et le berger répond triste<strong>me</strong>nt :<br />
«Oui !» L’empereur reprend son rêve séculaire, en attendant le jour où «il portera<br />
l’Allemagne à la tête de tous les autres peuples». Alors, le Reich qui durera mille ans<br />
couvrira toute l’Europe. (Muraise, 1969: 106-107)<br />
Mais se acrescenta <strong>que</strong>, de acordo com o mito, o Reich de mil anos não será feito senão “por<br />
vontade de Deus (Gott mit uns)” (Angebert, 1973: 38). Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852), lembra<br />
ainda, referindo-se ao Sacro Império Romano das Nações Germânicas: “«Our Reich may co<strong>me</strong>!»<br />
concretizando-se uma fusão política, mitológica e religiosa (Philipps, s.d.:6).<br />
E este Sacro Império Romano das Nações Germânicas, tido na construção política mais<br />
longa de todas as enu<strong>me</strong>radas, é acalentado como núcleo geohistórico de acordo com Vives (1961:<br />
132), como expusemos atrás no foco de poder <strong>que</strong> circula da região renana ao Brandenburg. Uma<br />
linha cíclica, portanto, de um retomar transhistórico <strong>que</strong> se exibe evidente. Com efeito, o <strong>me</strong>smo<br />
Vives (1961: 132) finca bem este núcleo geohistórico como uma sociedade histórica indissolúvel e<br />
nuclear, situada no espaço territorial natural da Mitteleuropa (1942: 6-7), onde a tradição tem um<br />
papel aglutinador, espiritual e cultural (Stür<strong>me</strong>r, 2003: 30). Aliás, o próprio Hino Alemão (Lied der<br />
Deutschen) tem a letra escrita por um alemão (Hoffmann von Fallersleben) e a música composta por<br />
um “austríaco” (Joseph Haydn) (Knopp, 1990: 28-29), superando-se e eliminando-se<br />
<strong>me</strong>tafisica<strong>me</strong>nte, assim e ainda hoje, a<strong>que</strong>las fronteiras actuais. Aliás, aquando da Germânia dividida<br />
em duas (Morgado, 2011b) Naumann advogava a união entre o II Reich e o Império Austro-Húngaro<br />
(Philipps, s.d.: 10). No entanto, e embora a Tradição do Mito traga um poder místico à História, a<br />
análise não se entrega a uma visão exclusiva<strong>me</strong>nte mítica, sob pena da sua condenação. Antes se<br />
apresenta mais esta preposição válida, conquanto refutável, como todas as outras até aqui. O<br />
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