Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />
Nuno Morgado<br />
Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />
349), porém, na realidade (pós-)contemporânea, as barreiras naturais não constituem fronteiras -<br />
constituíram antes na Idade Média e na Idade Moderna, nas quais eram os limites naturais como as<br />
montanhas, os rios, os bos<strong>que</strong>s, mares e desertos <strong>que</strong> exerciam essa função (Rodrígues, 2000:<br />
139). Nesta óptica, refuta-se Richelieu (1585-1642) <strong>que</strong> sustentava o conceito de fronteira natural<br />
baseado nos factores físico-geográfico, humano e Razão de Estado (este último tão teorizado pelo<br />
Richelieu português, D. Sebastião César de Meneses (m.1672) - Razão de Estado como arte de<br />
bem governar a respublica (Menezes, 1945)). Richelieu apresentava, afinal, o Reno e os Pirenéus<br />
como fronteiras naturais da França (Richelieu, 2008). Em contrapartida, na sua obra essencial para<br />
esta matéria, Foucher (1988) escreve: “mais, par définition, toutes les frontières sont artificielles. . .”<br />
(Foucher, 1988:10), ou seja, as fronteiras nada mais são do <strong>que</strong> um reflexo do poder do Estado e,<br />
por isso, sujeitas a ajuste a essa realidade mutável - segundo as suas conclusões (Foucher, 1988:<br />
71) a <strong>que</strong>stão das fronteiras naturais está ultrapassada. Assim sendo,<br />
“en réalité, il n’y a pas de bonne frontière dans l’absolu, encore moins de frontière<br />
idéale, mais des frontières réelles qui soit son reconnus de manière symétri<strong>que</strong> com<strong>me</strong><br />
légiti<strong>me</strong>s, soit présentant plus d’avantages politi<strong>que</strong>s, stratégi<strong>que</strong>s, économi<strong>que</strong>s pour les<br />
uns <strong>que</strong> pour les autres, à un mo<strong>me</strong>nt histori<strong>que</strong> donné” (Foucher, 1988: 11).<br />
Efectiva<strong>me</strong>nte, expomos <strong>que</strong> a “. . .fronteira é uma realidade de tensão. . .” (Bessa & Dias,<br />
2007: 67) – <strong>que</strong> <strong>me</strong>lhor exemplo <strong>que</strong> a Álsácia-Lorena? (fig. 7 e 8) - e <strong>que</strong> a mobilidade e alteração<br />
da<strong>que</strong>las obedecem ao poder, id est, são as “fronteiras geohistóricas” (Dias, 2005: 93) <strong>que</strong><br />
obedecem à vitalidade dos núcleos geohistóricos <strong>que</strong> representam o poder do Estado em cada<br />
mo<strong>me</strong>nto histórico e <strong>que</strong>, repetimos, as expandem ou as deixam retrair. “El proceso histórico de las<br />
fronteras demuestra <strong>que</strong> en lugar de obedecer a las leyes de un determinismo geográfico o racial,<br />
responden a la vitalidad de los nucleos geohistóricos, de los <strong>que</strong> sólo constituyen la periferia de<br />
tensión” confirma-nos Vives (1961: 172). O Sacro Império Romano das Nações Germânicas,<br />
excelente exemplo de um núcleo geohistórico, teve o seu centro de poder pri<strong>me</strong>ira<strong>me</strong>nte situado na<br />
região renana, depois deslocou-se para sul e leste nos fins da Idade Média, subiu para o<br />
Brandenburg no século XVIII, situou-se aí bem como em Wien no século seguinte e, após ter caído<br />
o III Reich, retomou à região renana, sendo a capital da RFA, a cidade de Bonn. (Vives, 1961: 132).<br />
E subiu de novo para o Brandenburg quando Berlin voltou a ser a capital da Alemanha,<br />
materializando-se mais uma prova para a hipótese defendida do carácter cíclico do poder<br />
hegemónico germânico. Este exemplo pragmático de núcleo geohistórico serve agora, sobretudo,<br />
para colocar a nu a elasticidade das suas fonteiras. Assim, ao longo dos seus mil anos de<br />
existência, registando o I Reich períodos de maior ou <strong>me</strong>nor poder, foi fazendo corresponder aos<br />
respectivos mo<strong>me</strong>ntos históricos o alarga<strong>me</strong>nto ou retrai<strong>me</strong>nto de fronteiras.<br />
De acordo com Haushofer, a fronteira é “natural”, no entanto, como se formula, não-traçada<br />
nem imposta pelas barreiras naturais. Antes, ensina-nos o general, imposta pela “natureza das<br />
coisas” <strong>que</strong> se decompõe da natureza do poder do Estado e da “penetração cultural” (Dias, 2005:<br />
129). O fundador da Escola de Geopolítica Alemã centra-se ferrea<strong>me</strong>nte na importância da<br />
irradiação cultural, porém sem estabelecer qual<strong>que</strong>r doutrina expansionista: “In a book on frontiers,<br />
[Haushofer, 1939] Haushofer outlines the Ratzelian organic theory of the State and uses this to<br />
32