Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
Dedicatórias/ Agradecimentos Ao meu pai que me ... - UTL Repository
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer?<br />
Nuno Morgado<br />
Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________<br />
Com efeito, quando o Wilhelm II. determinou <strong>que</strong> o livro de Mahan (1840-1914) seria de<br />
leitura obrigatória pelos seus oficiais de Marinha (Fernandes, 2003: 16), traçava desde logo as suas<br />
Machtpolitik e Weltpolitik, pois o Kaiser aprendera com o almirante <strong>que</strong> o controlo das linhas<br />
marítimas servia para proteger o comércio e avaliar os negócios de guerra. É, pois, mais um<br />
mo<strong>me</strong>nto histórico, dos tantos <strong>que</strong> temos vindo a enu<strong>me</strong>rar (e <strong>que</strong> estão condensados nas<br />
cronologias H.1 e H.2) da Germânia a tentar impor-se no Mundo. De facto e como defendemos pelo<br />
método geohistórico, as dinastias dos: Otónidas, Sálios, Hohenstaufen, Habsburg, bem como<br />
Bismarck e Hitler fazem parte de uma linha contínua <strong>que</strong> incorpora um desejo integral de hegemonia<br />
do poder germânico, não se olvidando o Império Carolíngio <strong>que</strong> Toynbee caracteriza como um<br />
“império fantasma do Império Romano do Ocidente” (1988: 190) uma vez <strong>que</strong> reuniu a França e a<br />
Alemanha sob a <strong>me</strong>sma coroa. Aqui se prova o poder cíclico germânico à luz da História, apontando<br />
para uma base sólida, tendo em vista a resposta à <strong>que</strong>stão de partida.<br />
Neste domínio de ciclos de poder hegemónico, nascido no romantismo do século XIX, o<br />
movi<strong>me</strong>nto pangermanista (âmago da política externa germânica histórica, como se antecipa) visa<br />
dar plenitude soberana a um Estado inspirado geográfica e cultural<strong>me</strong>nte no Sacrum Romanorum<br />
Imperium Nationis Germanicæ e este objectivo estratégico é sistematica<strong>me</strong>nte deitado fora no caixote<br />
do lixo da História (Bessa & Dias, 2007: 15), desprezado e calcado pelos inimigos do espaço<br />
germânico. De certo, como reacção, será evidente <strong>que</strong> um poder como o germânico não se pode<br />
aclimatar à frustração sempiterna. <strong>Ao</strong> fim e ao cabo, não se es<strong>que</strong>ce também <strong>que</strong> “La «tendencia a la<br />
reconquista» es un factor geopolitico en extremo poderoso” (Vives, 1961: 146) “ya <strong>que</strong> combina la<br />
fuerza psicologica del pasado histórico, con las necessidades de la <strong>me</strong>jor cobertura estrategica [do<br />
Estado]”.<br />
Volvendo a Haushofer, sempre imbuído na luta pela grandeza da Alemanha (Defarges,<br />
2003: 80), como patriota teorizou, à sua maneira, um caminho para a Germânia alcançar efectiva<br />
supremacia. E não foi incólo<strong>me</strong> às condições do Tratado de Versailles, mas antes profunda<strong>me</strong>nte<br />
marcado por ele – a geopolítica alemã nasceu de uma cultura reaccionária à<strong>que</strong>le humilhante<br />
Tratado (Losano: 2009c: 314). Neste docu<strong>me</strong>ntário (6), os alemães não deixam es<strong>que</strong>cer as<br />
humilhantes condições territoriais do Diktat de Versailles (figs. 2 e 3) alicerçado na pseudo-derrota<br />
militar do II Reich na I Guerra Mundial. A ideia afigura-se infrutífera uma vez <strong>que</strong> os responsáveis<br />
pela assinatura da paz, aceitando as imposições do Tratado, não foram as elites do Império – <strong>que</strong>,<br />
em abono da verdade, abandonaram os seus tronos - mas antes os da República.<br />
Em verdade, como “poucas sociedades animais escapam às leis da territorialidade” (Bessa,<br />
1997a: 27) e logo “. . .o Ho<strong>me</strong>m é indes<strong>me</strong>ntivel<strong>me</strong>nte um animal territorial” (Bessa & Dias: 2007: 75),<br />
Haushofer marcado por estas concepções e ainda por uma cultura aglutinada por: Herder (1744-<br />
1803) verdadeira bandeira do pangermanismo romântico <strong>que</strong> realizou uma recolha de cânticos e<br />
tradições germânicas e feroz reaccionário ao “imperialismo cultural francês” (Claval, 1996: 22);<br />
Humbolt (1769-1859) e Ritter (1779-1859) fundadores da moderna geografia europeia aliada a uma<br />
concepção antropomórfica do Estado; Ranke (1795 - 1886) e Treitschke (1834- 1896) historiadores<br />
nacionalistas alemães ligados aos conceitos de Machtpolitik e Realpolitik (a propósito o conceito de<br />
Realpolitik ultrapassou “em popularidade a tradicional expressão francesa Raison d‟État” o <strong>que</strong><br />
28