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Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer? Nuno Morgado Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________ 1) Para uma Avaliação do Potencial Estratégico SÍNTESE: Como remate a esta súmula de conclusões objectivas, retiradas da aplicação à Alemanha do referido modelo científico de Avaliação do Potencial Estratégico traçado por Couto (1988: 257-281), usufrui, enfim, esta dissertação, de ora em diante, de uma terra fresca e arada para lançar as sementes do saber geopolítico e analisar o florescimento da Política Externa alemã, i.e., consciencializados de que o potencial alemão verificado, apontado e colocado a nu, se apresenta vasto e denso, com efeito, estão criadas as condições para a compreensão de que existe um desajustamento e desequilíbrio na cena internacional entre países em pé de desigualdade (Bessa, 2001: 65) nos quais se contam o potencial alemão como um dos da fila da frente, porém demasiado distante do reconhecimento necessário que, no entender do seu interesse nacional, lhe deveria ser prestado. A forma como o pensamento clássico alemão e a política externa alemã respondem a este desafio, sem esquecer a Deutsche Frage, são os propósitos sobre os quais nos vamos debruçar de seguida. 19
Império Germânico: desígnio anulado ou a renascer? Nuno Morgado Uma perspectiva geopolítica __________________________________________________________________ “Há só um processo de transformar afectivamente uma nação inteira. . . Esse remédio é a guerra. . . É, sem dúvida o processo germânico, a doutrina germânica” Fernando Pessoa (Miguel, 1999: 44) 2) Uma perspectiva geopolítica - O Despertar da Alemanha “A História é um cemitério de aristocratas” dizia Pareto (1848-1923) (Cruz, 2004: 456). É neste cemitério paretiano – uma vez que vamos cruzar o século XIX para examinar Ratzel e o século XX para investigar Haushofer, auxiliados pelo método geohistórico de Vives e da importância das “deducciones geohistóricas” (Vives, 1961: 13) que constitui “a dualidade contínuo/descontínuo” (Bessa &Dias, 2007: 57) de grandes rupturas e grandes continuidades na geohistória da Germânia – que se vai proceder ao ensaio para se compreender o poder germânico cíclico que explicamos, e assim manda-se subir o pano a fim de dar início à reflexão geopolítica que se segue. Em primeiro lugar, explicite-se o conceito, e para esse mister tomam-se as palavras genéricas de Dias (2005: 21) segundo as quais “. . .é aceite pela maioria dos especialistas a ideia de que a geopolítica estuda e relaciona a actividade política com o espaço. . .”. Postas estas delimitações, clarificamos então que a essência da geopolítica tem como “. . .objecto de estudo as relações entre a política e o espaço. . .” (Dias, 2005: 59). Com efeito, a terra como “. . .vasto escenario, casi inmutable a lo largo de ese período geológico. . .” (Vives, 1961: 11) ou a citação "uma geração passa, outra vem; e a terra permanece sempre" (Eclesiastes 1:4) são duas frases que encerram, esse in, a mesma ideia: “a Geografia é o factor mais estável do poder nacional” (Bessa & Dias, 2007: 17) e é partindo deste conhecimento elementar que prosseguimos o raciocínio. No mais, “geography may place greater or lesser obstacles in the path of the attacker. In land warfare, rough terrain and narrow frontages aid the defender, whereas flat terrain and wide frontages aid the attacker” (Snyder, 1991: 23). A relevância da Geopolítica nos assuntos de Estado é, então, enorme. Antes, porém, de se entrar na Geopolitik propriamente dita, torna-se necessário a priori expor a perspectiva teórica tomada como fundamento, que se filia numa determinada visão do Mundo, no concernente aos conceitos de Guerra de Paz, enumerados no Antelóquio. Trata-se de um breve exercício que servirá, na análise de Ratzel e Haushofer, de linha condutora, com o intuito de impedir o resvale para um projecto utópico de elevados custos, bem como acentua que, não obstante o rigor científico, devem evidenciar-se as influências recebidas a fim de se pugnar pela objectividade requerida. De facto, e já no âmbito do método, não se pretende “justificar reivindicações territoriais” (Bessa & Dias, 2007: 57) e por termos delimitado o que é geopolítico (e auxiliando-nos na Geografia Política de Ratzel e na Geopolítica de Haushofer) distinguimos cuidadosamente a geopolítica da sua “utilização nacionalista” (Bessa &Dias, 2007: 57) – que não é a nossa, de resto, uma vez que, como será recorrentemente abordado, a cultura germânica nutre a tendência para uma construção 20
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