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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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1. APARIÇÃO:<br />

Viagem iniciática ao encontro da fulgurante revelação do ser a si próprio<br />

Aparição é o primeiro grande marco do percurso inicial da obra romanesca de Vergílio<br />

Ferreira. De algum modo – e inquestionavelmente – esse romance culmina e encerra<br />

um ciclo, ao mesmo tempo em que abre (e se abre para) um outro. Mas é importante observar<br />

que, entre um e outro ciclo de romances (o inicial e o que se seguirá a Aparição)<br />

esta narrativa situa-se como uma realização inarredável, um inevitável ponto de confluência<br />

ao qual conduziram elementos integrantes de toda uma gestação anterior e que só à<br />

leitura deste livro, que guarda a experiência existencial de Alberto Soares, se poderia perceber.<br />

Do mesmo modo, com relação a obras futuras – Estrela polar, Alegria breve, Para<br />

sempre –, ainda que, culminando e aparentemente encerrando um ciclo que se poderia julgar<br />

ultrapassado, Aparição projeta-se como um núcleo a partir do qual se originaram, em<br />

natural desdobramento, novos temas e problemas da existência tratados no romance, até ao<br />

questionamento da própria escrita, da linguagem, da palavra, que viria a ser – e desde sempre<br />

se prenunciou – um dos temas de eleição e privilégio do escritor.<br />

Antes de constituir o conceito filosófico de que viria a revestir-se desde o romance<br />

a partir do qual adquire específico significado de natureza metafísica e existencial, aparição<br />

era já uma palavra privilegiada no vocabulário do escritor, conotando uma poeticidade<br />

ou mesmo já uma certa e destacável carga semântica. É uma palavra quase de sempre, e,<br />

pelo menos a partir de Mudança – senão mesmo antes –, passará a freqüentar o texto vergiliano.<br />

Encontramo-la, neste romance, utilizada num contexto de evidente emoção: “Em<br />

breve aparição, repentinamente erguido diante dela [de Berta], como em magia de lenda,<br />

um homem quase estranho reparara nela humanamente, cobrindo-a, num instante, de quente<br />

compreensão.” (M, p. 157 – itálico meu). E no mesmo livro, ainda que embrionariamente,<br />

já o próprio conceito filosófico que vai depois “cercar” a palavra, se insinua, inserido no<br />

contexto de uma longa conversa havida entre Carlos Bruno e Pedro, conversa que se encaminhara<br />

num sentido de reflexão filosófica sobre o estar do homem no mundo. Pertence

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