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1. APARIÇÃO:<br />
Viagem iniciática ao encontro da fulgurante revelação do ser a si próprio<br />
Aparição é o primeiro grande marco do percurso inicial da obra romanesca de Vergílio<br />
Ferreira. De algum modo – e inquestionavelmente – esse romance culmina e encerra<br />
um ciclo, ao mesmo tempo em que abre (e se abre para) um outro. Mas é importante observar<br />
que, entre um e outro ciclo de romances (o inicial e o que se seguirá a Aparição)<br />
esta narrativa situa-se como uma realização inarredável, um inevitável ponto de confluência<br />
ao qual conduziram elementos integrantes de toda uma gestação anterior e que só à<br />
leitura deste livro, que guarda a experiência existencial de Alberto Soares, se poderia perceber.<br />
Do mesmo modo, com relação a obras futuras – Estrela polar, Alegria breve, Para<br />
sempre –, ainda que, culminando e aparentemente encerrando um ciclo que se poderia julgar<br />
ultrapassado, Aparição projeta-se como um núcleo a partir do qual se originaram, em<br />
natural desdobramento, novos temas e problemas da existência tratados no romance, até ao<br />
questionamento da própria escrita, da linguagem, da palavra, que viria a ser – e desde sempre<br />
se prenunciou – um dos temas de eleição e privilégio do escritor.<br />
Antes de constituir o conceito filosófico de que viria a revestir-se desde o romance<br />
a partir do qual adquire específico significado de natureza metafísica e existencial, aparição<br />
era já uma palavra privilegiada no vocabulário do escritor, conotando uma poeticidade<br />
ou mesmo já uma certa e destacável carga semântica. É uma palavra quase de sempre, e,<br />
pelo menos a partir de Mudança – senão mesmo antes –, passará a freqüentar o texto vergiliano.<br />
Encontramo-la, neste romance, utilizada num contexto de evidente emoção: “Em<br />
breve aparição, repentinamente erguido diante dela [de Berta], como em magia de lenda,<br />
um homem quase estranho reparara nela humanamente, cobrindo-a, num instante, de quente<br />
compreensão.” (M, p. 157 – itálico meu). E no mesmo livro, ainda que embrionariamente,<br />
já o próprio conceito filosófico que vai depois “cercar” a palavra, se insinua, inserido no<br />
contexto de uma longa conversa havida entre Carlos Bruno e Pedro, conversa que se encaminhara<br />
num sentido de reflexão filosófica sobre o estar do homem no mundo. Pertence