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4. CÂNTICO FINAL.<br />
Entre a Arte e a Vida, os caminhos para o Absoluto: um tempo de solidão, de plenitude<br />
e transcendência.<br />
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Em Cântico final o pintor Mário também empreenderá um regresso dessa natureza.<br />
Retorna à montanha, que havia trocado pelo cosmopolitismo de Lisboa. Não para dar<br />
grandeza à sua vida apostada num ato extremo de coragem, como tragicamente o fizera<br />
Adriano, mas para nela se acolher em criação artística, justificando a existência e dando<br />
grandeza ao tempo que lhe restava de vida. Cântico final também de algum modo é um<br />
romance à clef, também de algum modo representa os ideais de uma geração. Não mais os<br />
de uma utopia política, mas os da realização pela Arte. Apelo da noite põe em debate as<br />
relações da Arte com a política. “Ser-se artista dentro da ação” (AN, p. 188), é um dos<br />
pontos questionados. Adriano tem os seus numes tutelares: o quarto que habita tem as paredes<br />
decoradas com reproduções de Van Gogh, Cézanne, Braque, da Guernica de Picasso,<br />
do Velho rei de Rouault (“o seu quadro predileto”) e “um díptico de fotografias dos ‘seus<br />
escritores’: Eça e Malraux.” (AN, p. 192). É muito significativa a intensa admiração de<br />
Adriano por estes dois escritores e pelo quadro de Rouault, porque eles são também pontos<br />
de referência inarredáveis no percurso formativo de Vergílio Ferreira que sobre eles reflete<br />
desde os ensaios de Do mundo original até incontáveis passagens nos volumes de Conta-<br />
Corrente. Não interessa perguntar ou tentar saber quem, neste romance à clef, é Adriano.<br />
Não são desejáveis nem importantes quaisquer insinuações de autobiografismo. Adriano é<br />
mais um estágio na evolução da arquipersonagem vergiliana, como também o são Carlos<br />
Bruno e Pedro, Antônio Santos Lopes e Mário, Alberto e Adalberto (de Aparição e Estrela<br />
polar) e toda a seqüência de heróis problemáticos que vão protagonizar os romances futuros<br />
de Vergílio Ferreira.<br />
O sentido de evolução da arquipersonagem ou herói problemático vergiliano implica<br />
ao mesmo tempo um desdobramento na continuidade do que seja a essência do protagonista<br />
romanesco e um processo de depuração ou complexificação quanto ao seu significado<br />
e aos seus temas. Assim, a Mário – de Cântico final – já não interessa a ação política, o que<br />
não significa que não lhe interesse a política. Sobretudo enquanto idéia, enquanto pensamento<br />
e nas suas representações pela Arte. A questão passa a estar colocada sobretudo no<br />
plano teórico e assim é discutida pelos integrantes do grupo de artistas, intelectuais e aficionados<br />
de que Mário faz parte. A essencial discussão que Cântico final propõe naquilo<br />
que tem de evidente dimensão ensaística pertence ao domínio da estética e pode ser exem-