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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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2. MANHÃ SUBMERSA.<br />

Iniciação à dor e à renovação do Homem: um tempo de aprendizagem.<br />

Tal como Mudança, Manhã submersa é um romance de aprendizagem. Importa esclarecer<br />

a ambigüidade fatalmente decorrente da classificação: ambos são romances de<br />

aprendizagem no duplo sentido que a expressão encerra. De aprendizagem do romancista,<br />

que com eles envereda no campo de uma ficção caracterizada pela predominância das idéias<br />

sobre a ação romanesca, aproximando da experiência filosófica a experiência ficcional e<br />

deixando o romance social definitivamente para trás. De aprendizagem dos protagonistas<br />

dos respectivos romances. Carlos Bruno, de Mudança, “aprende a existência” ou sobre ela,<br />

vivendo ou sofrendo toda a amplitude da crise que se instalou na sua vida, responsável pela<br />

transformação do seu caráter, dos seus interesses, dos seus hábitos, dos seus gostos e do<br />

seu modo de estar no mundo. Antônio Santos Lopes (o Borralho de Vagão “J”), de Manhã<br />

submersa, aprende o livre arbítrio, a liberdade – mesmo que conquistada à custa do sacrifício<br />

do corpo –, a cultura, o amor. Retomando a personagem infantil de um seu romance da<br />

fase anterior e fazendo-a reaparecer como protagonista adolescente de Manhã submersa,<br />

Vergílio Ferreira realiza um romance de aprendizagem, ou de formação, na tradição alemã<br />

do bildungsroman, testemunhando a sua inserção na vida, questionando com ela os caminhos<br />

que lhe são impostos por uma engrenagem humana e social em que era a peça menor,<br />

acompanhando-a na sua revolta contra essa engrenagem determinista, no florescer da sua<br />

vontade e do seu pensamento até ao ato final de revolta e de ruptura.<br />

Na seqüência da idéia ou do conceito da arquipersonagem proposto por Helder Godinho<br />

e já anteriormente referidos, Antônio Santos Lopes representa o primeiro passo no<br />

processo de complexificação do Homem, saindo, enquanto criança/adolescente de um estágio<br />

primitivo, muito próximo do animal, para outro de constante crescimento na fase<br />

adolescente/adulto. A despeito do seu sofrimento – ou exatamente graças a ele – lhe foi<br />

dado aprender muito sobre a vida, sobre a humanidade, sobre si mesmo (em solidão e em<br />

comunicação com o Outro/os outros), sobre a cultura, sobre a transcendência (ou a sua<br />

falta), sobre o absoluto (ou a sua ausência) e o relativo.<br />

Antônio Santos Lopes, em Manhã submersa, começa a transformar-se num intelectual<br />

quando, contra a sua vontade, é obrigado a ingressar no Seminário, sendo destinado (e<br />

não destinando-se) à “carreira” sacerdotal. À perspectiva dessa “carreira”, imposta e não<br />

escolhida por vocação, preside uma estrutura familiar que o subjuga pela força da autoridade<br />

– representada por D. Estefânia, a madrinha rica que se quer fazer sua “protetora” – e

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