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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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mas da existência do Homem. Esse caminho, que veio percorrendo de tão longe, desde as<br />

encostas da serra, desde os gélidos invernos ou os verões abrasadores na montanha, desde a<br />

infância perdida e na sua sensibilidade dolorosamente “mutilada” pelos rigores de um sistema<br />

institucional de educação religiosa que não desejava, desde o encontro com as harmonias<br />

cósmicas e a espécie de música ou de pintura ou de qualquer outra linguagem da<br />

Arte que está nelas, esse caminho foi também um caminho de solidão e por vezes de algumas<br />

incompreensões, como costumam ser, ademais, os percursos dos grandes criadores.<br />

A experiência acadêmica, literária e amplamente intelectual vivida por Vergílio<br />

Ferreira, em Coimbra, no período de 1935 a 1940 iria aproximá-lo dos caminhos da literatura.<br />

Régio, a Presença e os presencistas ainda participavam da atmosfera cultural da cidade,<br />

palco de que tinham sido os principais atores desde 1927. Mas uma outra tendência ou<br />

vaga de interesses começara a “minar” o psicologismo esteticista daquela geração que lera<br />

Gide, Proust, Dostoievski, Bergson, Freud, os simbolistas e pós-simbolistas franceses, os<br />

modernistas portugueses de 1915 (cujo trabalho de renovação desejavam continuar) e que<br />

talvez mesmo tivessem ouvido falar de Kafka ou de Joyce ou de Svevo. E essa literatura de<br />

reflexão intimista, de análise psicológica, de questionamentos estéticos, de preocupações<br />

(ainda que incipientes) existenciais, de criação de mundos fantásticos ou de situações ficcionais<br />

fantasmáticas, de valorização de uma certa mística na poesia, pouco a pouco foi<br />

sendo substituída por uma programática e manifesta carga ideológica de inspiração marxista<br />

que desprezava e que mandava liquidar, na arte, todas as inúteis alienações intimistas,<br />

individualistas e esteticistas. Esse tipo de arte assim distanciada da realidade circundante<br />

foi cedendo lugar, rapidamente, a uma arte pragmática, revolucionária, capaz de interferir<br />

na vida política, social e econômica do país e de modificar o cenário histórico e de nele<br />

trocar de posição as classes sociais que o constituíam, como se movem, num tabuleiro de<br />

xadrez, as peças desse jogo. Era a literatura neo-realista, que, alicerçada sobre bases marxistas<br />

e no que de marxismo restou na revolução comunista russa de 1917, chegava a Portugal<br />

por um largo influxo internacional envolvendo, desde as originárias influências russas,<br />

até às contribuições de teóricos e doutrinadores e de autores literários norteamericanos,<br />

italianos e brasileiros, tendo estes (sobretudo os regionalistas de 30), importância<br />

decisiva na formação daquela nova geração literária portuguesa. O movimento teve<br />

em Coimbra um dos seus redutos, onde poetas e prosadores comprometidos com a nova<br />

causa histórica, social, política, a que se chamou de “novo humanismo”, entre outros vários

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