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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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viesse o romancista a inserir elementos cuja ocorrência se daria ao longo da década de 70.<br />

Sobretudo acontecimentos pertencentes à ordem da política, da economia, que é dizer da<br />

ordem da História. Acontecimentos que, ficcionalizados, cabiam inteiramente no cenário<br />

alegórico da aldeia arrasada pelo terremoto e que deveria ser reconstruída pelo misterioso<br />

arquiteto. Ocorrências prometedoras de grandes modificações que se deveriam realizar em<br />

Portugal depois da morte de Salazar – distensão do regime ditatorial, Revolução de 25 de<br />

Abril de 1974, democratização do país, ingresso na Comunidade Econômica Européia –<br />

mas que se apresentam “suspensas” na “suspensão” da História, “paralisadas” como as<br />

obras de reconstrução da nova aldeia sobre a aldeia destruída pelo sismo. Tudo era labirinto<br />

na procura de caminhos nessa história portuguesa recente. Tudo é labirinto na impossibilidade<br />

narrativa do romance, na impossibilidade de caminhar, de arrancar para o futuro ou<br />

para qualquer solução. Tudo é labirinto – de sinuosas curvas, idas e vindas pela obscuridade<br />

do indefinido – do primeiro ao último capítulo: “Vou à deriva pelo labirinto das ruas –<br />

[...]” (SS, p. 11).<br />

Vou à deriva pelo labirinto das ruas, pela rede dos muros que se erguem do chão.<br />

É uma rede que se estende pela noite a toda a vastidão do largo, desenha o ininteligível<br />

do enigma no silêncio. (Ibid., p. 239).<br />

A estrutura de Signo sinal é claramente a retomada do modelo estrutural de Rápida,<br />

a sombra e de Nítido nulo: em Signo sinal um estático protagonista-“narrador”, numa praia<br />

cheia de luz, rememora caoticamente o seu passado “cruzando-o” com o presente e até<br />

com hipóteses de futuro (por exemplo, para quem haveria de ficar a fábrica do pai). Está<br />

sozinho, até que encontra um cão: Teseu, que ele diria ser a sua última companhia, mas<br />

que se vai embora, no final, permanecendo sozinho o “narrador”. Hesita por muito tempo<br />

se toma ou não um banho de mar. Até que resolve que sim. Relembra “histórias” da gente<br />

da aldeia e as longas conversas com o Arquiteto. Nesta narrativa desestruturada e sem lances<br />

épicos, o misterioso Arquiteto é uma espécie de “Velho do Restelo” que dialoga com o<br />

protagonista e às vezes “contra” ele, um seu alter-ego ou consciência outra que se lhe impõe<br />

como um elemento dialógico e dialético, estabelecendo um contraditório de idéias.<br />

Não pertence ao domínio do realismo, porque só é visto por Luís Cunha e por ninguém<br />

mais, na aldeia cuja reconstrução deverá orientar. Aparece e desaparece misteriosamente e<br />

às vezes nos lugares mais inesperados. Disserta professoralmente utilizando argumentos

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