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frâmio acabou (ou a guerra que o consumia). Não se pode pensar exatamente na continuidade<br />
de Alegria breve em Signo sinal, mas numa retomada de aspectos temáticos. No primeiro<br />
tem-se o gradual esvaziamento de um mundo, a sua derrocada lenta, a sua degradação<br />
até ao vazio e ao abandono. Um único e último habitante espera a chegada de um filho<br />
que não conhece para a recriação, reconstrução e repovoamento de um mundo novo sobre<br />
o que restou do velho. No segundo, o mundo é subitamente destruído por um terremoto. O<br />
protagonista não tem a esperança nem o futuro de um filho. Um Arquiteto deverá reconstruir<br />
esse mundo arrasado. Mas o projeto arrasta-se sem execução, sempre entravado por<br />
diversas causas. Os próprios sobreviventes desse mundo destruído não se entendem quanto<br />
a detalhes da reconstrução. Os representantes do mundo velho estão sempre em conflito<br />
com os que vêm construir o mundo novo. Há notícias de que outros povos, de outros mundos<br />
distantes, enviam ajudas substanciais para a reconstrução do mundo destruído, mas<br />
elas não chegam ao destino.<br />
Em Signo sinal há vários referenciais impondo o político, o econômico, tudo o que<br />
se possa relacionar com a História na essência do seu núcleo temático. Mas a História está<br />
suspensa no seu andamento. “Paralisada”, “congelada”, processo que se representa pela<br />
“suspensão” das obras na reconstrução da aldeia. Pela falta de entendimento entre os próprios<br />
habitantes. A História está “entalada”, é um outro termo que o romancista utiliza para<br />
significar isso que deseja transmitir pelo caminho da alegoria 75 .<br />
Há várias razões para se considerar Signo sinal o romance de maior sobrecarga política<br />
e ideológica de Vergílio Ferreira, embora ele também possa ser interpretado de um<br />
ponto de vista metaliterário: tendo ruído, com relação à modernidade, a estrutura do romance<br />
tradicional, o que ocasiona a crise do gênero, a “sobrevivência” da narrativa impõe,<br />
para ela, uma configuração moderna (ou pós-moderna). Assim, a aldeia destruída representaria<br />
a impossibilidade da narrativa, e a sua reconstrução a tentativa de criação de um novo<br />
modo de narrar. A aldeia seria assim a representação do próprio romance. Mas, sem dúvida,<br />
Signo sinal pode ser lido – como efetivamente o foi por alguns críticos – como uma<br />
alegoria sobre um Portugal político inserido – mas paralisado – na História moderna. O<br />
terremoto, a aldeia destruída, o Arquiteto, a reconstrução... Uma revolução (“sarrabulhada<br />
de feira”) que “estalara contra um senhor que há séculos, a opressão, [...]. Era um senhor já<br />
75 “A História está entalada e não sabe que fazer. A falar-te franco, eu penso que ela ainda não decidiu. E<br />
para aqui estamos todos, sem sabermos para que lado cair. A História encravou o jogo e todas as roldanas<br />
do seu maquinismo começam a enferrujar.” (Signo sinal. Amadora: Bertrand, 1979, p. 192). Cf. também<br />
CCnsII, p. 356-357 (anotação de 7.11.1990).