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simbólicas e temático-filosóficas que nela são de sempre. A abertura do conceito de signo,<br />
qualquer que seja a perspectiva desde a qual se busque o seu entendimento, implica uma<br />
diversidade de acepções que diversifica um elenco mais ou menos vasto, mais ou menos<br />
aberto de significações. Pode-se pensar no pluri-significado do signo, numa sua polissemia<br />
capaz de o aproximar do conceito de símbolo, como o compreendemos em literatura. O<br />
signo é um valor oculto, a que o sinal dá visibilidade, tornando o abstrato concreto, visível,<br />
legível. No pórtico do romance, Vergílio Ferreira, inscrevendo uma epígrafe de Heráclito,<br />
de certo modo “decodifica” o significado do título que se espraia, como símbolo que se<br />
concretize em alegoria, pelo significado do romance. A epígrafe: “A harmonia invisível é<br />
mais forte do que a visível”. A “harmonia invisível” é o signo, a “visível”, o sinal. A decodificação<br />
é dada com mais clareza em duas ou três anotações de Conta-Corrente 74 , onde o<br />
escritor também registra a fábula do romance que já tem delineada desde o início da escritura:<br />
Iniciei sábado um novo romance. A “história” (que já anda comigo há anos): um<br />
tremor de terra arrasa uma aldeia. Um arquiteto reconstrói-a. Mas suspende a reconstrução<br />
quando está no começo. Primeiro capítulo: o narrador deambula pelo labirinto dos<br />
escombros. Último capítulo: o narrador deambula pelo labirinto das paredes começadas.<br />
Figura central: o Arquiteto. Possível remate: o narrador e o Arquiteto são um só, embora<br />
dialoguem no livro, ande cada um por seu lado, etc. Tema: não há um centro coordenador<br />
da nossa civilização. Episódio central: a discussão sobre o que ficará no centro da<br />
aldeia: a Escola? A Fábrica? A Igreja? Entretanto, no decorrer do ano, as necessidades<br />
elementares vão-se cumprindo: comer, fornicar e o mais. (CC1, p. 234 – anotação de<br />
24.2.1975).<br />
Poucas vezes Vergílio Ferreira elabora assim o plano ou a fábula de um romance<br />
seu. Desde aqui fica visível o “parentesco” entre Signo Sinal e Alegria Breve: uma aldeia<br />
arrasada por um sismo; uma aldeia abandonada porque de lá todos se foram quando o vol-<br />
74 “Tenho enfim um título – o ‘signo’ é o oculto e o ‘sinal” o visível. O título lembra talvez excessivamente o<br />
de Nítido nulo, não sei.” (CC2, p. 239 – anotação de 1.1.1979). “Escrevi hoje o capítulo XXXV do romance,<br />
que já tem, como disse, um título até ver. É um capítulo de escrita quase automática. Estou ansioso por<br />
ler. [...]. Por ‘signo’ entendo uma orientação inconsciente, uma ordenação invisível; e, por sinal, o que é da<br />
ordem da visibilidade. O pior é se no fim de tudo, tudo à mesma fica sem se ver.” (Ibid., p. 241 – anotação<br />
de 14.1.1979). “Acabei neste momento o romance. [...]. Livro algum me consumiu tanto tempo e tanto esforço.<br />
[...]. Dei por ora a este livro o título de Signo sinal. O invisível e o visível. O obscuro categórico e a<br />
oposta e nossa determinação. Tomei como epígrafe uma frase de Heráclito que diz que a harmonia invisível<br />
vale mais que a visível. A História está em suspenso. A sua voz, se já a tem (que deve ser), é por enquanto<br />
inaudível. Entretanto teimamos em impor-lhe as nossas obstinações. Elas atropelam-se sem um<br />
destino que as oriente.” (Ibid., p. 241-242 – anotação de 19.1.1979).