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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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tiva perde os seus functores, o grande herói, os grandes perigos, os grandes périplos e o<br />

grande objetivo”, e “dispersa-se em nuvens de elementos de linguagem narrativos, mas<br />

também denotativos, prescritivos, descritivos, etc., veiculando cada um valências pragmáticas<br />

sui generis” 71 .<br />

Penso que à “problemática” estrutural referida por Prado Coelho na defesa da presença<br />

do pós-modernismo em Signo sinal se pode adicionar o caráter abstrato deste romance.<br />

Elemento que se começa a perceber desde o título que obviamente o irmana a Nítido<br />

nulo. Possuem ambos a mesma estrutura exploradora de resultados sonoros e semânticos.<br />

Estrutura que já despertou o interesse de Maria Alzira Seixo, a propósito de Nítido nulo 72<br />

podendo Signo sinal ensejar análise idêntica. Os vocábulos “signo” e “sinal” denotam, à<br />

partida, alguma (ou forte) relação com o apogeu dos estudos lingüísticos, da semiótica e do<br />

estruturalismo que tão em voga estiveram ao longo da década de 70 do século passado.<br />

Decerto terá sido daí que vieram para a composição do título do romance de Vergílio. Talvez<br />

também num exercício de ironia, uma vez que é público e notório que o escritor não<br />

era entusiasta nem da lingüística nem do estruturalismo nos domínios da literatura. 73 Por<br />

isso tantas vezes eles entraram (ao lado dos discursos políticos), sob a forma de referências<br />

a autores ou da deformação de um jargão técnico, na escritura de discursos altamente irônicos<br />

e demonstradores do vazio ou de modas passageiras, como todas, presentes sobretudo<br />

nos romances que antecederam Signo sinal, tendo sido já – esses discursos – objeto de<br />

demonstração e exemplificação nas análises feitas de Nítido nulo e de Rápida, a sombra.<br />

O título do romance constitui um dos “signos” do seu caráter abstrato e da diferença<br />

que ao longo do processo evolutivo da obra vergiliana se foi instalando nos resultados da<br />

sua criação ficcional. Diferença que todavia preserva as dominantes ou as grandes linhas<br />

tiva da emancipação do trabalhador, a narrativa do desenvolvimento da riqueza ou a narrativa do herói<br />

do saber trabalhando para um bom fim ético-político, a paz universal. (Itálicos do texto citado).<br />

71 LYOTARD, Jean-François. La condition post-moderne. Paris: Minuit, 1979, p. 7-8. Apud COELHO, Eduardo<br />

Prado. Op. cit., p. 60.<br />

72 “A reverberação, colhida no código circunstancial do romance (a incidência dos raios solares sobre as<br />

águas e conseqüente deslumbramento de quem olha, e, mais secundariamente, a persistência de sons alargados<br />

pelo espaço), funciona no título, [...], também ao nível fonético (reflexão: nn-ii; refração: ii/uu), solicitando<br />

além disso uma série associativa espalhada por vários campos semânticos: brilho, cintilação, [...],<br />

penetração, espasmo [...]; nudo, nu, obscuro, furo, etc. Entreveja-se, de passagem, a possibilidade de exploração<br />

de um código erótico.” (SEIXO, Maria Alzira. Nítido nulo. In: _____ . Discursos do texto. Amadora:<br />

Bertrand, 1977, p. 176-177. Resenha).<br />

73 A propósito do que chamou a “febre da Lingüística, V. F. escreveu no seu diário: “Apareceu um moço [...],<br />

meu antigo aluno agora assistente de Lingüística na Faculdade. Lingüística à baila. Derrida, Foucault. Não<br />

acertamos idéias. Para mim, a febre da Lingüística tem um significado negativo.” (CC1, p. 360 – anotação<br />

de 12.9.1976).

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