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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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233<br />

fim”. 56 Seis anos antes, já o teórico alemão escrevia sobre a “crise do romance”, título de<br />

um artigo seu sobre o romance Berlin Alexandersplatz, de Alfred Döblin, em que afirma<br />

que na sociedade contemporânea já não há lugar para a criação de romances segundo os<br />

grandes modelos da tradição romanesca e que o gênero entrara em crise, constatação que o<br />

próprio Döblin faz, também, em textos teóricos e no próprio Alexandersplatz, romance que<br />

produziu para exemplificar a crise do romance. Diz Walter Benjamin que<br />

O romancista se separou do povo e do que ele faz. A matriz do romance é o indivíduo<br />

em sua solidão, o homem que não pode mais falar exemplarmente sobre suas preocupações,<br />

a quem ninguém pode dar conselhos, e que não sabe dar conselhos a ninguém. Escrever<br />

um romance significa descrever a existência humana, levando o incomensurável<br />

ao paroxismo. 57<br />

Benjamin analisa, ainda, a importância da teorização de Döblin para a percepção da<br />

crise do romance, que, segundo o autor do artigo, “não se resigna” com ela, mas a ela se<br />

antecipa “e a transforma em coisa sua” 58 . Döblin, diz ainda Walter Benjamin,<br />

desenvolve a teoria do “roman pur”. Com o máximo de sutileza, descarta os elementos<br />

narrativos simples, combinados entre si de forma linear [...] em beneficio de procedimentos<br />

mais intelectualizados, puramente romanescos, o que também significa, no caso,<br />

românticos. A posição dos personagens com relação à ação, a posição do autor com relação<br />

a eles e à sua técnica, tudo isso deve fazer parte integrante do próprio romance.<br />

Em suma, esse “roman pur” é interioridade pura, não conhece a dimensão externa e<br />

constitui, nesse sentido, a antítese mais completa da atitude épica pura, representada pela<br />

narrativa. 59<br />

E transcreve, de Döblin, esta passagem da conferência em que o autor de Alexandersplatz<br />

expôs a sua teoria do romance puro: “Talvez os senhores levantem as mãos à cabeça, se eu<br />

lhes disser que aconselho os autores a serem decididamente líricos, dramáticos, e mesmo<br />

reflexivos, em seu trabalho épico.” 60 .<br />

56 BENJAMIN, Walter. O narrador. In: _____ et al. Textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1987, p. 57.<br />

Coleção Os pensadores.<br />

57 BENJAMIN, Walter. A crise do romance: sobre Alexandersplatz, de Döblin. In: _____ . Obras escolhidas.<br />

São Paulo: Brasiliense, 1994, v. 1, p. 54.<br />

58 Idem, ibidem, p. 55.<br />

59 Idem, ibidem, p. 55-56.<br />

60 Idem, ibidem, p. 56.

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