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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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219<br />

O orador já estava de pé sobre a mesa, mas havia ainda estátuas em formação e<br />

aguardou. Fixou mesmo as retardadas para lhes acelerar o trabalho e só depois disse:<br />

[...].<br />

– Minhas senhoras e meus senhores. Na articulação a dois níveis do discurso<br />

poético na cadeia verbal pela prática teórica da metalinguagem Jakobson, Riffaterre. E a<br />

metáfora.<br />

[...].<br />

– Porque na cadeia dos significantes pela produção do texto, Althusser, Barthes,<br />

Derrida, Bachelard. Donde que a metonímia. E o código. Assim a produção do texto<br />

na ideologia dominante e/ou a prática social da relação produtor/consumidor segundo<br />

a mistificação burguesa e o método científico. (RS, p. 52-53).<br />

E Marx, Lacan, Troubetzkoy, Benveniste, Hjelmslev, Sapir, Chomsky, Martinet... “Houve<br />

aplausos veementes, mas só de um grupo estatuário, circunscrito e muito junto como a-<br />

glomeração alegórica.” (p. 54). E houve também alguém (“uma estátua robusta, com um<br />

tom em marfim de estátua consolidada” – p. 55) que interpôs uma objeção, porque toda<br />

aquela exposição era de um “formalismo decadente na traição objetiva.” E tudo recomeça,<br />

“– Porque uma arte alienatória, concretamente, dadas as contradições internas. E daí que o<br />

proletariado, essa é boa. Não transigiremos! Quando é que uma arte social objetivamente a<br />

exploração capitalista e numa luta de classes?” (p. 55). E novamente Marx e Engels e Lenine<br />

e Estaline...<br />

É natural que haja disjunção entre Júlio Neves e universos assim, seja o estético<br />

seja o político 47 . Essa disjunção aponta-lhe dois caminhos: o que leva à conquista de Hélia,<br />

47 A “disjunção” ou dificuldade de relacionamento entre Júlio Neves e os seus pares da literatura pode estar<br />

na origem de uma crítica negativa feita a um livro seu por um Gomes, crítico literário, episódio que, como<br />

tantos outros em diversos livros de V. F., constitui um dos muitos biografemas (para usar uma expressão<br />

de Barthes) que o romancista introduz com freqüência nas suas narrativas. Segundo a crítica do Gomes,<br />

“Júlio Neves, atingido o máximo das suas possibilidades de romancista com ‘Revelação’, que é o romance<br />

que lhe sustenta ainda um público, enfileirou também com o seu último livro ‘Nada’, um título significativo,<br />

no naipe dos falsificadores da literatura, os falhados de talento e que à falta dele, incapazes de criarem<br />

grandes obras como Proust, Thomas Mann ou” (RS, p. 72-73)... Do texto do “crítico” podem inferir-se traços<br />

de um episódio à clef do qual participaria o próprio V. F., no caso, representado por J. N.: Revelação, o<br />

romance que a J. N. sustentava “ainda um público” é título que denota e conota toda uma proximidade com<br />

Aparição, o romance de V. F. que, durante muito tempo foi o que entre o público obteve maior recepção (e<br />

talvez ainda hoje o seja). Nada, o “último livro” de J. N. e com o qual ele “enfileirou no naipe dos falsificadores<br />

da literatura, os falhados de talento”, é título igualmente relacionável com Nítido nulo, romance de<br />

V. F. imediatamente anterior a Rápida, a sombra e portanto, à época, o “último”. São mais que notórias as<br />

críticas negativas feitas a Nítido nulo por João Gaspar Simões e por Óscar Lopes. Por várias ocasiões V. F.<br />

as refere no seu diário (V. p. ex. CC1, p. 88 e 93 e CC3, p. 190-195). O crítico Gomes pode muito bem ser<br />

a representação de um destes, talvez mais provavelmente Gaspar Simões. Esta estratégia, de trazer a discussão<br />

crítica sobre a sua própria obra ou a de outros, não é nova, como se sabe, nos romances de V. F., já<br />

podendo ser encontrada, pelo menos, em Apelo da noite e Cântico final. Acaba por constituir um espaço<br />

ensaístico dentro do romance, embora quase sempre marcado por intensa ironia. É também nessa linha da

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