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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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rados. Associa-se a uma certa fusão (ou confusão) de nomes e de personae dos quais o par<br />

Alda-Aida, de Estrela polar, é o ponto de partida sugestivo da associação que em Rápida,<br />

a sombra se faz entre Helena e Hélia. Não há dúvida que a intenção transgressora do modelo<br />

tradicional do romance (a que se poderia chamar de modelo “clássico”) persiste aqui,<br />

dando continuidade a uma linha romanesca – ou a um modelo ou tendência – de que Estrela<br />

polar e Nítido nulo são pontos relevantes. Esse modelo “transgressor”, tal como já se<br />

sublinhou com relação ao romance anterior, ultrapassa, em ousadia, as ousadias do próprio<br />

Modernismo, constituindo experiência talvez não classificável nas fronteiras de uma estética<br />

modernista. É-lhe posterior. Ultrapassou-a. Isto em termos de estruturação e de concepção<br />

das categorias da narrativa, agora submetidas a nova percepção que já não a tradicional.<br />

Tempo, espaço, personagens, perspectivas de focalização, tudo isso, nestes três romances<br />

de Vergílio Ferreira ultrapassa os limites do praticado pelo romance português do<br />

seu tempo, baseando-se a experiência na pesquisa que o romancista realiza sobre os movimentos<br />

literários europeus “de ponta”, como o fora o nouveau roman, pelo menos ao longo<br />

dos anos 60, do século passado. Natural, portanto, que críticos e teóricos como Prado Coelho<br />

e Merquior, vissem nessas obras do escritor português, marcas evidentes do romance<br />

pós-moderno. Os traços da ironia e do grotesco, apontando para uma certa caricaturização<br />

do sério, reforçam essa hipótese classificatória 36 . É irônica, na situação de tensão em que o<br />

protagonista recorda o seu encontro de juventude com a mulher, numa praia, a reiteração<br />

do seu amor em três línguas: “meu amor, mon amour, my love” (p. 10). E esta reiteração<br />

será recorrente ao longo do romance.<br />

36 Linda Hutcheon, em Poética do pós-modernismo (Rio de Janeiro: Imago, 1991), destaca a paródia apoiada<br />

na intertextualidade como importante elemento caracterizador da literatura pós-moderna:<br />

O pós-modernismo procura nitidamente combater o que acabou sendo considerado como o potencial<br />

do modernismo para o isolacionismo que separa a arte e o mundo, a literatura e a história. Porém,<br />

muitas vezes ele o faz utilizando contra si mesmo as próprias técnicas do esteticismo modernista.<br />

Mantém-se cuidadosamente a autonomia da arte: a auto-reflexividade metaficcional chega a enfatizá-la.<br />

Contudo, por meio da intertextualidade aparentemente introvertida, outra dimensão é acrescentada<br />

pela utilização das irônicas inversões da paródia: a relação crítica da arte com o “mundo” do<br />

discurso – e, por intermédio deste, com a sociedade e a política. (HUTCHEON, Linda. Op. cit. p.<br />

182).<br />

A citação pode não ser muito adequada ao contexto em que se insere, o da estruturação pós-moderna de<br />

Rápida, a sombra, mas cai com uma luva quanto a determinados aspectos de Nítido nulo – as paródias intertextuais<br />

dos diferentes discursos políticos e a intertextualidade originada a partir de textos da tradição<br />

religiosa, elementos também já encontrados em Alegria Breve. Poderá ver-se, mais adiante, que também<br />

pode ser aplicada ao romance de Vergílio posterior ao que agora está em análise: Signo sinal (1979), que<br />

apresenta forte carga política.

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