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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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constantemente questiona os seus próprios limites e possibilidades. Por isso não cabe em<br />

esquematismos de abordagem rigorosamente única, porque transborda de qualquer “cerca”<br />

com a qual se pretenda impor fronteiras.<br />

Uma obra assim “pede” muito mais interpretação do que análise, porque se mostra<br />

francamente aberta a diferentes leituras, desejando-se múltipla e amplíssima metáfora artística<br />

que permitisse, a um tempo, a fruição do romanesco e do poético, do pictórico e do<br />

musical, do lírico e do trágico, do sublime e do grotesco... Obra assim – que reiteradamente<br />

privilegiou em cada livro uma estrutura circular em que o final retoma o início na representação<br />

de um movimento infinito, que pode ser cósmico, ou musical, ou poético ou o da<br />

vida que se repete ou renova para além de cada um que viveu –, obra assim exige um caminho<br />

de compreensão que lhe seja análogo, em que todas as intuições, abstrações e acasos<br />

possam ser considerados. Uma leitura circular, espiralada, em volteios que permitam conhecer,<br />

compreender, interpretar, complementar estabelecendo com o texto em estudo um<br />

diálogo franco, intenso, que não despreze forma alguma de inquirição ou perquirição do<br />

sentido buscado na obra. Uma leitura hermenêutica, se for indispensável que se nomeie um<br />

método ou obrigatoriamente se deva ter um.<br />

Evidente que essa leitura terá que vencer as etapas componentes do seu caminho<br />

crítico. A hipótese ou ponto de partida da investigação, é que Para sempre é um romancesúmula<br />

e nele coexistem inúmeros temas, motivos, símbolos, aspectos estruturais, estilísticos,<br />

filosóficos, algumas recorrências, obsessões, mitos pessoais, enfim, um sem-número<br />

de elementos que se foram insinuando, delineando, cristalizando ao longo da obra que<br />

Vergílio Ferreira sistematicamente elaborou até esse romance-síntese que sumariza toda<br />

uma fase do seu percurso estético. Por outro lado, o livro em questão abre perspectivas<br />

para vôos cada vez mais ousados, mais insólitos e inusitados, de que dão testemunho as<br />

narrativas que lhe são posteriores e que compõem a última fase do trabalho ficcional do<br />

escritor. O estudo levará em conta esse antes e esse depois de Para sempre, procurando<br />

fazer o reconhecimento das internas conexões do conjunto da obra, pontos de intersecção<br />

que lhe costuram a impressionante unidade.<br />

A leitura crítica que se propõe desenvolver no conhecimento e compreensão da o-<br />

bra, sem cair em ecletismo anárquico nem em excessos de subjetividade, deverá permitir<br />

comparações, associações com livros e autores diversos e entre os do próprio Vergílio Ferreira<br />

– por exemplo, no incontornável diálogo que há entre os seus romances, o diário e<br />

ensaios seus como Carta ao futuro (1958) e Invocação ao meu corpo (1969) – e uma série

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