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constantemente questiona os seus próprios limites e possibilidades. Por isso não cabe em<br />
esquematismos de abordagem rigorosamente única, porque transborda de qualquer “cerca”<br />
com a qual se pretenda impor fronteiras.<br />
Uma obra assim “pede” muito mais interpretação do que análise, porque se mostra<br />
francamente aberta a diferentes leituras, desejando-se múltipla e amplíssima metáfora artística<br />
que permitisse, a um tempo, a fruição do romanesco e do poético, do pictórico e do<br />
musical, do lírico e do trágico, do sublime e do grotesco... Obra assim – que reiteradamente<br />
privilegiou em cada livro uma estrutura circular em que o final retoma o início na representação<br />
de um movimento infinito, que pode ser cósmico, ou musical, ou poético ou o da<br />
vida que se repete ou renova para além de cada um que viveu –, obra assim exige um caminho<br />
de compreensão que lhe seja análogo, em que todas as intuições, abstrações e acasos<br />
possam ser considerados. Uma leitura circular, espiralada, em volteios que permitam conhecer,<br />
compreender, interpretar, complementar estabelecendo com o texto em estudo um<br />
diálogo franco, intenso, que não despreze forma alguma de inquirição ou perquirição do<br />
sentido buscado na obra. Uma leitura hermenêutica, se for indispensável que se nomeie um<br />
método ou obrigatoriamente se deva ter um.<br />
Evidente que essa leitura terá que vencer as etapas componentes do seu caminho<br />
crítico. A hipótese ou ponto de partida da investigação, é que Para sempre é um romancesúmula<br />
e nele coexistem inúmeros temas, motivos, símbolos, aspectos estruturais, estilísticos,<br />
filosóficos, algumas recorrências, obsessões, mitos pessoais, enfim, um sem-número<br />
de elementos que se foram insinuando, delineando, cristalizando ao longo da obra que<br />
Vergílio Ferreira sistematicamente elaborou até esse romance-síntese que sumariza toda<br />
uma fase do seu percurso estético. Por outro lado, o livro em questão abre perspectivas<br />
para vôos cada vez mais ousados, mais insólitos e inusitados, de que dão testemunho as<br />
narrativas que lhe são posteriores e que compõem a última fase do trabalho ficcional do<br />
escritor. O estudo levará em conta esse antes e esse depois de Para sempre, procurando<br />
fazer o reconhecimento das internas conexões do conjunto da obra, pontos de intersecção<br />
que lhe costuram a impressionante unidade.<br />
A leitura crítica que se propõe desenvolver no conhecimento e compreensão da o-<br />
bra, sem cair em ecletismo anárquico nem em excessos de subjetividade, deverá permitir<br />
comparações, associações com livros e autores diversos e entre os do próprio Vergílio Ferreira<br />
– por exemplo, no incontornável diálogo que há entre os seus romances, o diário e<br />
ensaios seus como Carta ao futuro (1958) e Invocação ao meu corpo (1969) – e uma série