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cuspido e humilhado e amarrado ao madeiro. Mas a verdade está comigo e a verdade<br />
não morre. Eu sou a salvação e a vida.” (NN, p. 37-38).<br />
Este é o mais antigo dos “profetas” na memória de Jorge. É ainda um “profeta” do<br />
tempo da infância na aldeia e será o primeiro a morrer, apedrejado na praça. No meio deste<br />
discurso cada vez mais inflamado em que o orador, com “olhos de lume, fascinava e arrepiava”<br />
a multidão que o ouvia, “uma pedra voou não se sabe donde, embateu em cheio<br />
contra a testa do orador – e ele estacou, um fio de sangue escorreu-lhe até à boca.” (p. 39).<br />
[...] homens e mulheres, gravemente, apanharam pedras do chão, dispararam-nas contra<br />
o homem. Tinham a face séria, sem ódio, sem um grito, meticulosos cumprindo uma<br />
função ritual, arremessavam pedras certeiras com extrema violência. O homem estacava,<br />
tentava ainda falar. Até que tombou morto, o rosto coberto de sangue. A multidão<br />
então parou, deu dois passos à frente, estreitando o cerco à volta do homem. De olhos<br />
fitos, olhavam. Depois, devagar, viraram costas, foram dispersando. Ficou só o homem<br />
na praça. E eu. (Ibid.).<br />
Depois, ao longo do livro, morrerão outros. O segundo, nas proximidades da Faculdade,<br />
aonde havia um largo e um homem prelecionava, “os olhos saídos e acesos, a testa<br />
desafrontada, cabelos de tempestade [...] estava em cima de um estrado. Tinha um livro<br />
encostado ao peito,” (NN, p. 95)<br />
– Analfabetos de todo o mundo, ouvi-me! [...]. (Ibid.).<br />
– Vim aqui para vos insultar, ó pífios! ó castrados! ó infinitamente camelídeos<br />
de ignorância!<br />
[...] agora abria os dois braços, o livro seguro no extremo de um, decerto o seu evangelho.<br />
[...]<br />
– Mas não vim só para vos insultar!<br />
E sorria. Grande, patriarcal [...]. (p. 96)<br />
– soou a hora da revelação, o reino da verdade vai descer sobre a terra. Vinde a<br />
mim vós os que andais iludidos e eu vos iluminarei. Vinde a mim vós todos os mistificados<br />
e eu vos rasgarei os olhos. A verdade é só uma e as portas da cadeia não prevalecerão<br />
contra ela.<br />
[...].<br />
– a verdade está aí e não a vedes. Vigiai e atendei para não cairdes em estupidez.<br />
Em verdade vos digo que soou a hora do NÃO, ó pífios, ó castrados, ó infinitamente<br />
camelídeos de ignorância!