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Estou só. E o universo à minha roda, poderoso e nulo. Há, no centro disto uma<br />
verdade intensa e não a atinjo [...]. (NN, p. 282).<br />
Recorrentes desde romances anteriores, são, por exemplo, em Nítido nulo, os motivos<br />
simbólicos da morte do cão; da divinização do humano, ou, aqui, da recusa disso; a<br />
reflexão sobre a Palavra e a linguagem; a mecanização do homem; a música e o seu “poder”<br />
de magia e encantamento; a morte da criança; o erotismo; o tom bíblico-versicular de<br />
alguns “discursos profético-messiânicos”; o aprofundamento do traço grotesco de algumas<br />
personagens; a ironização do discurso político; a recorrência à fotografia e ao cinema, não<br />
só enquanto aspecto de técnica narrativa, mas também como referências fílmicas ou “fílmográficas”;<br />
a questão dos nomes como elementos de identificação, implicando conotações<br />
de significados especiais, tanto quanto a impossível nominação, ou o “inominável”<br />
(problema já considerado em Alegria breve); a constância dos aforismos e de jogos intertextuais,<br />
parafrásticos e parodísticos... De tudo isto se encontra em Nítido nulo como possibilidade<br />
de desenvolvimento analítico-interpretativo, mas trabalhar sobre cada um destes<br />
tópicos seria porventura alongar demasiadamente o capítulo e talvez sem resultado de maior<br />
a extrair do alongamento uma vez que quase todos os motivos simbólicos agora listados<br />
são já conhecidos. Todavia, importa esclarecer que estes motivos são recorrentes, mas não<br />
exatamente repetitivos, porque há sempre uma diferente conotação a registrar e interpretar.<br />
Pretendendo restringir-me apenas a alguns poucos casos, tomo, como exemplo, o<br />
mais que recorrente símbolo do cão, que, presente na grande maioria dos romances do escritor<br />
(praticamente em todos, sendo pouquíssimas as exceções), em Nítido nulo aparece<br />
pela primeira vez sem nome e sem dono (um cão todos os cães ou um cão nenhum cão?). A<br />
ausência do nome no cão deste romance por certo decorrerá exatamente da inexistência de<br />
um dono, porque é o dono que dá nome ao animal, ou que o aceita com o nome que tem se<br />
ele vem de um dono anterior. Em Nítido nulo o cão é a mais presente de todas as constantes,<br />
achando-se permanentemente ao alcance do olhar de Jorge, no retângulo da praia que<br />
ele pode ver através da janela gradeada da sua cela. O animal é visto ora sozinho ora de<br />
mistura com outros elementos visualizáveis por Jorge – estacas para armação de toldos,<br />
bancos de madeira empilhados na areia, barcos que passam no mar, gaivotas, três pescadores,<br />
ou de mistura com imagens irreais que a vertiginosa memória de Jorge presentifica<br />
numa espécie de delírio em que se misturam todos os tempos da sua vida. É importante<br />
lembrar que Jorge espera pelo momento da execução da sua sentença de morte, da qual