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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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romances disponíveis –, o conjunto da obra do escritor. Mas porque se tratava de um romancista<br />

em intensa atividade de escrita, os onze livros depressa deixariam de ser o conjunto<br />

para serem de futuro apenas um conjunto da obra. Um entre vários possíveis de organizar<br />

frente à totalidade da vasta bibliografia do romancista. À integralidade dessa obra<br />

calha com enorme justeza a idéia de conjunto, de conjuntos ou de etapas. Porque é por etapas<br />

que a sua obra, quando finalmente concluída por determinação do final da existência<br />

física do escritor (em 1996), claramente se apresenta, apontando para um perceptível caminho<br />

de complexificação da sua Arte e do seu pensamento estético-filosófico.<br />

À maneira de Mudança cada uma dessas etapas ou subdivisões do grande conjunto<br />

da obra representa-se ou concentra-se particularmente em determinados livros. Por exemplo,<br />

em Aparição (1959) ou Estrela polar (1962) ou Para sempre (1983). Este romance, de<br />

particular importância na totalidade da obra do escritor, constitui uma espécie de síntese de<br />

todo o trabalho ficcional até ele realizado e ao mesmo tempo uma “fronteira”, a última,<br />

para além da qual se vai estender a fase final da criação do romancista. Desde “Mudança”:<br />

romance-limite, dissertação acadêmica de 1981, comecei a tentar mostrar o caráter de unidade<br />

que a obra de Vergílio Ferreira possui como amplíssimo espaço de reflexão sobre o<br />

Homem e as suas relações com determinados valores, tais como a Arte ou o Cosmos, que,<br />

na ausência ou impossibilidade de transcendência religiosa podem constituir os valores do<br />

Absoluto. Desde a aludida dissertação – e depois dela em alguns ensaios esparsamente<br />

publicados – procurei mostrar que a unidade da obra do escritor estrutura-se conscientemente<br />

em conjuntos de livros que constroem um caminho, um percurso que, originado em<br />

expressões simples ou até simplistas de manifestações literárias e da representação do Homem<br />

naquela dimensão limitada da Literatura que foi o ponto de partida neo-realista, levaria<br />

a patamares altamente complexos nessa reflexão em torno da condição humana e do<br />

questionamento existencial dessa humanidade. Paralelamente à crescente complexidade do<br />

pensar sobre o Homem observa-se, na evolução do romance do autor em questão, um proporcional<br />

e paralelo crescimento do grau de complexidade estética. Vergílio Ferreira, ao<br />

refletir sobre o Homem (núcleo temático da sua obra), pensa o romance (gênero literário).<br />

A visão do problema oferecida pela análise que “em tempos” realizei da obra do autor<br />

de Aparição resultaria incompleta, se não me tivesse proposto o estudo dos romances<br />

posteriores aos onze primeiros. Nem poderia ser diferente, uma vez que à época, Vergílio<br />

Ferreira – sendo já um dos escritores mais importantes do século XX, em Portugal – era<br />

ainda o autor de uma obra em processo de construção. Depois de 1979 (ano de publicação

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