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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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De estrutura, também, mas com nítidos desdobramentos para estratos de significareflexo,<br />

sobre livros seus, Vergílio Ferreira admite sem constrangimento 58 . As constantes<br />

ções metafísicas e simbólicas são os aspectos relacionáveis com o nouveau roman, cujo<br />

referências à “tecnificação” da aldeia e de alguns de seus habitantes, principalmente os que<br />

vieram de fora – técnicos, operários e sobretudo os engenheiros, sempre mais que “tecnificados”,<br />

“tecnológicos” são evidentes indícios do processo de coisificação do humano, uma<br />

constante no movimento romanesco francês dos anos 60 e 70 denominado “novo roman-<br />

inúmeras as referências à “tecnificação” da aldeia e dos homens em Alegria breve<br />

ce”. São<br />

e decerto não são casuais. Passagens, por exemplo, como esta em que se diz que os homens<br />

que vieram de fora para trabalhar na aldeia<br />

triunfam facilmente do tempo e da morte, são eficientíssimos, têm poderes terríveis. São<br />

filhos do aço, e das pontas dos dedos saem-lhes arames que vão cruzando pelas ruas,<br />

tecnificando em linhas retas a aldeia toda. São extremamente eficazes e plausíveis, tecnificam<br />

tudo, sabem tudo, simplificam tudo. (AB, p. 30).<br />

Homens e técnica, homens e máquinas, aparelhagens, tecnologias, fundem-se cons-<br />

na visão que Jaime tem destes homens que vieram do mundo exterior para mo-<br />

tantemente<br />

dificar radicalmente a paisagem e a vida da aldeia. É claramente uma visão do homem de-<br />

sumanizado, ele mesmo parte homem, parte máquina, como o engenheiro Luís Barreto,<br />

que precisa de um aparelho auditivo para ouvir o que lhe dizem, aparelho cheio de botões,<br />

de<br />

fios, de minúsculas roldanas que ele de vez em quando manobra (AB, p. 70). Este messes<br />

instrumentos orientais, da China, talvez. Uma vibração ranhosa.” (p. 93). Interessa<br />

mo “Luís Barreto, engenheiro de minas, tem uma voz monocórdica de arame. Lembra es-<br />

lembrar antecedentes vergilianos desta tecnificação do homem: Luis Barreto usa um apare-<br />

ouvir; o Sr. Sousa – de Estrela polar – usa um aparelho para falar, e a sua mulher,<br />

lho para<br />

D. Aura, usa uma cabeleira postiça. O engenheiro é personagem recorrente nos romances<br />

de Vergílio Ferreira, e é sempre apresentado como um homem desprovido de emoção, duro<br />

como o concreto e como o ferro, homem, mas desumanizado. É assim o engenheiro Chico,<br />

de Apa rição – “baixo, sólido, quadrado, ar de pugilista” (Ap, p. 39) ... “quadrado homem de<br />

58 Cf. Um escritor apresenta-se, p. 172-177, e, sobretudo, o ensaio “Para uma auto-análise literária”, no seu<br />

parágrafo conclusivo, onde V. F., fazendo a “indicação dos pontos de referência para a [sua] evolução”, a-<br />

firma: “Assim Eça e os brasileiros [Jorge Amado, Graciliano, Érico Veríssimo e Lins do Rego]; Dostoie<br />

Malraux; Joyce, Kafka, Beckett e o Novo Romance serão os três marcos da minha viagem, os três<br />

evski<br />

grupos de autores em que até hoje melhor me reconheci.” (EI-II, p. 19).

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