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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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[...] a obscenidade e a grosseria são hoje insuportáveis. O erotismo só hoje o entendemos.<br />

(p. 143). [...].<br />

– Porque o erotismo não é, não se reduz a... Essencialmente não é essa coisa pequena<br />

do prazer sensual. A sensualidade está para o erotismo como... como a vaidade de<br />

criar uma obra de arte para a grandeza de criar uma obra de arte. (p. 144 – itálicos da citação).<br />

E, finalmente, a conclusão de Amadeu:<br />

– O absoluto, eh... Admitamo-lo. É uma mania, uma doença moderna. O homem<br />

nunca pensou no Absoluto, ia vivendo como podia. Dirão vocês: mas o Absoluto lá estava.<br />

Pois. Mas eu já disse: o Grande Mito. Acabou-se. Então eu pergunto: que outra<br />

forma mais visível hoje para abordar esse Absoluto?<br />

[...]. Portanto o erotismo está no ápice de... O erotismo é a expressão total do máximo<br />

de vitalidade. (p. 145).<br />

Jaime acaba por aceitar a “teoria” de Amadeu. Por já não encontrar outra forma de<br />

Absoluto, ergue “ao triunfo a vitalidade do seu corpo” e entende porquê Vanda deve subir<br />

ao altar, tomando o lugar de uma imagem. “Portanto, Amadeu é o Profeta e o seu Breviário<br />

o Evangelho [...].” (AB, p. 179).<br />

O que na romanesca exposição da “teoria” de Amadeu é tratado de forma entre cínica<br />

e irônica, no ensaio Invocação ao meu corpo é tema de reflexão desenvolvida no capítulo<br />

“Quatro mitos modernos” 45 . Aí se trata de definir o encontro do homem com o Absoluto,<br />

que pode estar na Ação, no Erotismo, na Arte ou em Deus. Declarada a morte de<br />

Deus desde Nietzsche, Dostoievski e o existencialismo agnóstico, restam as três demais<br />

possibilidades. É nelas, que aposta, por exemplo, um escritor como Malraux, confessadamente<br />

um guia intelectual de Vergílio Ferreira. A Ação como moeda do Absoluto é testada<br />

em Apelo da noite, como já se viu. A Arte é o Absoluto possível em Cântico final. De certo<br />

modo, também em Aparição. Em Alegria breve algumas vozes clamam contra um mundo<br />

sem arte (Ema: “um mundo sem arte seria absurdo” – p. 138. É Ema quem dá a Jaime o<br />

disco com a gravação d’Os quatro elementos). O Erotismo começa a ser valorizado, pelo<br />

menos também desde Cântico final e intensifica-se em Estrela polar mas subordinado ao<br />

conhecimento do outro e à comunhão de um eu com ele. Em Alegria breve Jaime entregase<br />

intensamente, livremente, obcecadamente à prática erótica. Com Águeda, com Vanda,<br />

com Ema... Mas é o vazio que encontra. Apenas o “empréstimo” dos corpos, e o seu cansaço,<br />

e o seu desgaste.<br />

45 Invocação ao meu corpo, p. 153-278.

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