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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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uma bailarina. Ema – nome e personagem – não possui essa leveza e a graça quase transcendental<br />

de Elsa, mas tem o mesmo comportamento agressivamente ousado, que não respeita<br />

éticas nem convenções. “Empresta” o seu corpo a Jaime e justifica a atitude com a<br />

história de uma santa Eponina: “Por misericórdia, por caridade, como outros dão esmolas<br />

de dinheiro, ela dava o seu corpo a mendigos, a leprosos, a vadios. Era a sua maneira de<br />

atingir o Limite.” (AB, p. 179). Tal como a bailarina de Cântico final Ema também vive no<br />

limite, “somente acontecia que o limite nela era O Limite, a aparição última do Absoluto<br />

que não tinha nome, e não o esforço ou o absoluto do caminho para lá.” (p. 178 – itálicos<br />

da citação). Águe da, carregando no nome uma sugestão mística de santa, lembra, ao mesmo<br />

tempo, a indefinição de Aida e Alda, de Aura e Alma, como um prolongamento destas<br />

misteriosas mulheres do romance anterior. Santa Vieira, a beata, sempre alcovitando em<br />

favor de Jaime, para o aproximar de Águeda, e sempre salmodiando arrevesadamente o seu<br />

discurso – “Senhor professor... Este é o caminho da sua salvação. Na terra e nos céus...” (p.<br />

43). “Põe tu a mão que eu porei a devoção.” (p. 44). “Senhor professor! Os desígnios de<br />

Deus são insondá veis.” (p. 121). Norma, a irmã de Jaime, tão correta nos seus procedi-<br />

Outros ecos de romances anteriores se encontram em Alegria breve. O tema da<br />

mentos.<br />

morte de Deus já está preludiado em Manhã submersa, na interrogação angustiada de Santos<br />

Lopes: “E se Deus não existisse?” (MS, p. 183). Também em Apelo da noite, em que o<br />

absoluto divino é substituído pela ação político-revolucionária participada por Adriano. E<br />

em Cântico final, claramente revelado nos diálogos de Mário com o Dr. Beirão, ateus, ambos,<br />

um acreditando na Arte, o outro na ciência e na natureza. E já definitivamente em A-<br />

parição, quer na experiência angustiada de Alberto Soares e na lucidez da sua consciência,<br />

quer na “loucura” e desvario criminoso do Bexiguinha: “já não há deuses para criarem e<br />

assim [...] o homem é que é deus porque pode matar.” (Ap, p. 131-132). E também, em<br />

definitivo, em Estrela polar, concentrando Adalberto o objetivo primeiro da sua existência<br />

no conhecimento absoluto do outro. Ainda em Aparição, ao contrário do Padre Marques<br />

(de Alegria breve) que afirma que “Deus é um ponto de chegada, a meta” (p. 238), Alberto<br />

Soares diz que “Deus morreu, Deus não é a minha meta, é o meu ponto de partida.” (Ap, p.<br />

108). A morte de Deus é o ponto de partida de Jaime para solidificar a humanidade do homem<br />

e o seu destino de estar sozinho num mundo sem o amparo da divindade, um mundo<br />

em que o homem, por si só, deverá resolver o próprio destino.<br />

É pela morte de Deus e pela

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