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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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um destino. Mas perco sempre. E todavia, não desisto de jogar – não deveria desistir?<br />

Aliás, não sei para que jogarmos, Padre Marques não deve ter prazer nenhum numa certeza<br />

antecipada de vitória. Há-de haver uma razão para insistirmos, ele e eu. Cumprimos<br />

um ritual antiqüíssimo. (Ibid., p. 216-217).<br />

E no decorrer desse combate paralelo ao das partidas de xadrez, alguma coisa visi-<br />

se modificou, porque, mesmo havendo ainda “um combate a resolver”, o Padre<br />

velmente<br />

Marques se havia tornado “um inimigo fácil” e Jaime “ajudava-o por isso a ser mais agressivo.”<br />

(p. 225).<br />

Mas o meu combate não emerge à superfície das palavras.<br />

– Só há duas verdades fundamentais: Deus existe, a alma é imortal.<br />

Não vem ao nível das palavras porque tudo isto é infantil. A vida organiza-se onde.<br />

As verdades decisivas como nascem?<br />

– Tu dizes: Deus existe porque alguém há-de ter feito isto. E eu pergunto: e quem<br />

fez o que fez isto? Tu respondes: se alguém o fizesse a ele, outro alguém teria feito este.<br />

Ora há-de haver um termo, um fim para esta cadeia sucessiva. Muito bem. Fico à espera<br />

de que pares. E nessa altura, pergunto: quem fez esse? Tu dizes: ninguém. Mas nesse<br />

caso, eu economizo tempo e fico-me logo pelo universo. E digo: o universo existe por<br />

si.<br />

É uma linguagem infantil. Conversamos assim com uma linguagem de crianças, e<br />

no entanto dizemos coisas terríveis. O que há de terrível no que dizemos, não se vê no<br />

que dizemos, está onde? As palavras que dizemos dizem-no, e explicam-no porque não<br />

há outra forma de o dizer, e no entanto deixam-no intacto. (AB, p. 225-226).<br />

Este é o outro nível do “jogo” que o jogo de xadrez simboliza e oculta. “Mas a certa<br />

altura, houve um lance imprevisto.” Jaime fica excitado: “Será possível? uma cilada? Firxeque<br />

duplo ao rei e à rainha.” (p. 227). Padre Marques passara a ser, de<br />

mo um cavalo em<br />

jogador imbatível, um “inimigo fácil”. E mais adiante, noutra partida, o padre argumenta<br />

enquanto joga:<br />

Toda essa metafísica que anuncia Deus é isso mesmo – um anúncio. Deus é um ponto<br />

de chegada, a meta. Dar essa importância outra vez à voz, ao anúncio que O chama, é<br />

voltar para trás. Ema está a voltar para trás. E todos esses modernistas. A voltar para<br />

trás.<br />

Estão em crise e não o confessam. Não anunciam o nascimento de Deus mas a sua morte.

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