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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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Mas a capela de S. Silvestre também virá a ser uma ruína, havendo alguém retirado os seus<br />

santos do altar e dos seus nichos. No contexto filosófico do romance não é difícil depreender-se<br />

que os dois picos indicam diferentes caminhos na trajetória existencial do homem.<br />

Ambos apontam para o alto, sugerindo a escalada, ambos são silvestres como o nome do<br />

santo que dá o batismo a um deles. A subida para o alto pela escalada deste, dá-se pela<br />

esperança da transcendência ou na certeza dela. Sob a proteção do sagrado e em direção a<br />

ele, conduzindo à Eternidade de Deus e/ou com Deus. O outro pico aponta para o vazio.<br />

Não há nada coroando o seu ponto culm inante. Não há lá nenhuma razão de romagem nem<br />

ponto de atração. Quem o escalar estará sozinho e lá em cima encontrará apenas a humanidade<br />

do Homem. Esta é a leitura ou uma das leituras dos dois picos. A ela se voltará no<br />

decorrer da análise de Alegria breve.<br />

Jaime Faria está sozinho num mundo sem vida. E recluso, desde sempre, mas vo-<br />

com Vanda, “ao monte mais distante que se via do monte de S. Silvestre: havia outros<br />

luntariamente, ao espaço da paisagem que os seus olhos podem alcançar até ao horizonte:<br />

“O meu horizonte é este. Há outro para lá? Não quero ir ver.” (AB, p. 20). Mas um dia foi.<br />

Foi<br />

montes para além. Naturalmente, se continuasse, voltaria ao ponto de partida: é a forma da<br />

vida humana – ou não? O círculo.” (ibid.). É significativa esta referência, no texto do ropáginas<br />

da sua abertura, ao círculo como forma da própria vida humana.<br />

mance e a poucas<br />

Explicita, ou contribui para isso, a recorrência da circularidade estrutural ou metafórica nos<br />

romances do autor. Mas o círculo é uma forma fechada, da qual não se pode sair ou onde<br />

não se pode entrar, dependendo do lugar onde se está. Isso explica determinadas concep-<br />

ções espaciais vergilianas, os labirintos de Évora ou de Penalva, a sala da casa grande vazia<br />

onde Alberto relembra e escreve, a cela da cadeia onde Adalberto escreve também, ou<br />

o quarto da escrita e da evocação de Antônio Santos Lopes. Em Alegria breve o espaço é o<br />

da amplitude que se espraia ao redor da aldeia, estende-se para o longe até onde os olhos<br />

alcançam e não há muros onde o olhar esbarre. Mas é um espaço vazio, que ressuma esterilidade<br />

e solidão, uma espectralidade kafkiana e uma irrealidade de outros mundos:<br />

A aldeia fica numa pequena plataforma, no cimo de um tronco de cone. É um cone suficientemente<br />

destacado, unido ao corpo da montanha por uma espécie de ponte, digamos,<br />

por um “istmo”. Um caminho percorre essa espécie de ponte. Depois continua no<br />

flanco da montanha, ultrapassa-a ainda e vai dar à terra mais próxima que é a vila e fica<br />

a uns dez quilômetros. (AB, p. 21).

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