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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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135<br />

Montanha seria essa espiral apontada para o alto, mas a sua massa, é das profundezas da<br />

terra que emerge, é lá que ela nasce, é lá que está fincada, desde os seus alicerces.<br />

Assim, na obra romanesca de Vergílio Ferreira, cada livro que aparentemente se<br />

encerra sobre si mesmo, na sua evidente – mas aparente – circularidade, faz, na verdade,<br />

emergir outro. Cada tema, cada símbolo, cada alegoria, precipitam outros, na formação de<br />

uma corrente, de uma cadeia contínua. E desde os títulos, curiosamente desde os títulos<br />

encontrados sempre inscritos na massa textual de romances anteriores, como que desde<br />

sempre, desde as origens remotas da obra, como se nela nada fosse casual, mas, ao contrário<br />

disso, onde tudo fosse planejado a partir da ideação de um projeto que na sua execução,<br />

passo a passo, se fosse então revelando. Os títulos de Vergílio Ferreira merecem, por si (e<br />

já o tiveram), um ensaio dedicado ao seu estudo 37 .<br />

É atentando para este permanente sentido de desdobramento ou continuidade que<br />

perfeitamente se pode perceber, que, tal como Aparição se desdobra e continua em Estrela<br />

polar, Alegria breve dá prosseguimento a experiências contidas no romance anterior. Não<br />

por mera repetição, mas por aprofundamento e por alargamento – que se dá pelo acréscimo<br />

de elementos novos –. Aprofunda e intensifica processos de natureza essencialmente estética,<br />

que vão das filigranas da linguagem, do “tom” ou da constituição de toda uma “atmosfera”<br />

em que a diegese vai decorrer, às questões de técnica narrativa, visíveis na absorção<br />

de estratégias vanguardistas européias (o nouveau roman, por exemplo). Na inserção<br />

de elementos novos – ausentes ou pelo menos não enfatizados no romance anterior – são<br />

de se notar, sobretudo, os pertinentes ao extrato da significação metafísica de Alegria breve,<br />

ao seu traço eminentemente fenomenológico e à intensidade com que são debatidas<br />

certas questões. Por exemplo, a existência ou inexistência de Deus, a morte de Deus, o<br />

abandono do Homem a si mesmo – sem deuses, sem mitos, sem valores que não sejam os<br />

da sua própria humanidade –, a morte de tudo – desde a terra, às religiões, à Arte e à ciên-<br />

o Filho, a espera, o regresso... Determinados elementos classificáveis<br />

cia –, a esterilidade,<br />

como simbólicos, a exemplo do Filho e do regresso, assumem, neste romance de Vergílio<br />

Ferreira, diferentes possibilidades de leitura, ampliando o sentido anteriormente delineado.<br />

Assim, a própria dimensão simbólica da obra vergiliana se está continuamente ampliando.<br />

37 Cf. SEIXO, Maria Alzira. Poética do título em Vergílio Ferreira. In: FONSECA, Fernanda Irene (Org.).<br />

Vergílio Ferreira – cinqüenta anos de vida literária. Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 1995, p.<br />

479-483.

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