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3. ALEGRIA BREVE:<br />
Viagem ao redor do inverno, à espera do filho<br />
O princípio da circularidade estrutural é uma constante ao longo de toda a produção<br />
romanesca de Vergílio Ferreira. Creio que já o disse. Mas provavelmente não terei dito<br />
que, a sugestão do círculo, que ao final de cada romance aponta para um retorno ao início<br />
(e Aparição e Estrela polar são grandes exemplos dessa idéia de regresso), é realmente<br />
sugestão, porque o círculo a rigor não se fecha, passando a linha da sua formação para a-<br />
lém do ponto em que a circunferência se deveria concluir. A imagem é portanto muito mais<br />
a de uma espiral do que a de um círculo fechado. A extremidade da espiral que deixa em<br />
aberto o círculo sugerido é o que faz com que a obra de Vergílio Ferreira seja permanen-<br />
uma obra aberta. Sempre em constante construção, sempre evoluindo, mas tam-<br />
temente<br />
bém sempre, e até ao fim, inconclusa. É o que lhe dá, também, o sentido de continuidade,<br />
que, manifestando-se mais perceptível de Aparição para Estrela polar, está de fato presen-<br />
te na obra toda, desenvolvendo uma espécie de dialética entre modificação e permanência,<br />
uma mudança em processo e em constante processo de mutação. Isso é conseguido pelo<br />
escritor com a valorização dos grandes símbolos e recorrências temáticas e até estilísticas<br />
(ele preferiria dizer de “tom”), que vêm a ser os elementos constantes da sua escrita e do<br />
seu pensamento, aos quais vai, passo a passo, livro a livro, fazendo acréscimos como quem<br />
enriquece um acervo.<br />
É a extremidade aberta desse círculo que não se conclui que permite fazer esses a-<br />
créscimos. Na sucessão de círculos que se vão sobrepondo desde um ponto de partida, uma<br />
espiral sugere o infinito e/ou a inconclusão. E dependendo de para onde aponte, se para<br />
baixo ou se para cima, sugere também um aprofundamento (idéia de mergulho a regiões<br />
mais profundas, mais obscuras ou mais complexas) ou uma ascensão, uma escalada (movimento,<br />
trabalho ou processo de ascese, purificação e conquista) para regiões superiores.<br />
Em Vergílio Ferreira essa espiral tanto pode apontar para um sentido quanto para o outro.<br />
Poder-se-ia mesmo dizer que ela cresce para baixo e para cima, indicando a sua obra, ao<br />
mesmo tempo, esse mergulho para regiões profundas e complexas da Arte, do Pensamento<br />
e do conhecimento do Homem, e uma escalada – gradual e permanente esforço de conquista<br />
– em direção aos p íncaros, à revelação, à gnose, à realização estético-filosófica. Neste<br />
sentido, é muito significativo o símbolo da Montanha, e o do regresso do Homem<br />
a ela. A