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nascer e que vai integrar a sua personalidade profunda. “Eis porque uma alcunha – diz<br />
Vergílio Ferreira – normalmente nos ofende, mesmo que a constitua um nome vulgar: o<br />
nosso verdadeiro nome é ainda a nossa pessoa, darem-nos outro é pretender-se que não<br />
sejamos nós.” (IMC, p. 289). Esta reflexão diretamente se relaciona com aspectos de Estrela<br />
polar e com a significatividade dos nomes escolhidos pelo romancista para identificar as<br />
suas personagens. Poderíamos começar a pensar na semelhança existente entre os nomes<br />
Aida e Alda e entre Alberto (de Aparição) e Adalberto. Aida e Alda, personagens, são idênticas<br />
até ao extremo da impossibilidade (para Adalberto) da identificação entre uma e ou-<br />
de início ele se aproxima amorosamente, mas Alda vai-se-lhe impondo<br />
tra. É de Aida que<br />
ao longo das ocorrências de equívocos de reconhecimento. Após a morte de Alda (que A-<br />
dalberto julgou ser Aida) ocorrida acidentalmente no naufrágio de um barco em passeio<br />
numa temporada de praia, é com Aida que Adalberto casa, mas julgando casar com Alda.<br />
O engano foi mantido por muito tempo, até o nascimento do filho (a quem Adalberto pôs o<br />
seu nome, para ainda mais ser a continuidade de si). Mas não se manteve por muito mais<br />
tempo, porque Aida o não pôde suportar, dando-se a reconhecer, num momento que era<br />
para ela de extrema tensão:<br />
– Que sabes tu de mim? Que sabes tu das outras pessoas?<br />
– Alda!<br />
– Não digas sempre “Alda”!<br />
– Mas se é o teu nome...<br />
Ela então pôs-se de pé:<br />
– Estou farta, farta!<br />
Falava em voz surda para me julgar desde um tempo muito antigo:<br />
quando através dos olhos a sentimos a fulgir sobre nós, aquela intrigante totalidade que está ali na<br />
pessoa que vemos, aquele princípio de si que é inimaginável que não esteja vivo porque nos perguntamos<br />
invencivelmente “onde está?”... (IMC, p. 77, itálico da citação).<br />
18-Janeiro (domingo) [1981]. Que misteriosa é esta coisa de se ser uma “pessoa”. Aparição<br />
e Estrela polar falam disso. Mas de vez em quando e subitamente o mistério ataca-me de todo o lado<br />
e suspende-me a respiração. Como é que estabelecemos uma relação com alguém? Que é que define<br />
e identifica esse alguém? A que é que de uma pessoa nos dirigimos? Com quê dela estabelecemos<br />
relações? Que é que emerge de todas elas e é ela e a isso que amamos, odiamos, estabelecendo<br />
toda a sorte de correspondências? Porque uma pessoa não é o feitio do corpo, a face, o modo de falar,<br />
de gesticular de realizar toda a infinita maneira de se manifestar. A pessoa dir-se-ia mesmo que<br />
não é a pessoa, porque com a pessoa nós identificamos o somatório dos mil aspectos que a continuem.<br />
A última e definitiva realidade dela, aquilo dela com que estabelecemos as nossas relações é o<br />
indizível dela, que é aquilo para que falamos, que sentimos que ela é, a indefinível presença que está<br />
nela, o “espírito” que isso anima e está antes disso e sobressai disso e é a coisa única que é ela e com<br />
quem nos confrontamos, dialogamos, a quem amamos ou detestamos. (CC3, p. 218-219).