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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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117<br />

em crise, é inalcançável e por isso não é confiável, como, a partir dessa crise ou desse impasse,<br />

todo o universo humano e físico em redor passa a ser “movediço”, nebuloso, labiríntico<br />

e não confiável. A dicotomia realidade/irrealidade ou a dúvida essencial de ser ou não<br />

ser Aida ou Alda (que no próprio romance vai gerar a fusão Aida/Alda) dá continuidade,<br />

em Estrela polar, ao jogo dialético de contrastes, já conhecido em anteriores romances de<br />

Vergílio Ferreira, como as oposições absoluto/relativo, idéia/ação, físico/metafísico, social/filosófico...<br />

A diluição da realidade insinua-se, com relação a Adalberto – logo no início<br />

da diegese, mais exatamente no sexto dos trinta e um capítulos que compõem o livro – nas<br />

palavras inseguramente reticentes de Faustino, que tenta (ou finge tentar) esclarecer para<br />

ele a espantosa semelhança que há entre Aida e Alda. Como um delírio, um rodopio, uma<br />

vertigem, ou como algo que cai num abismo sem fim, assim vão caindo sobre Adalberto as<br />

palavras de Faustino:<br />

– É que, sabe o Sr. Adalberto, elas são gêmeas.<br />

– Gêmeas?<br />

– Mas há também quem diga que não,<br />

havia quem dissesse que não. Que gêmeas eram D. Aura que era mãe de Aida, e<br />

uma D. Alma que era mãe de Alda, e que não vivia ali e estava casada. [...]. Aida e Alda<br />

são irmãs gêmeas, filhas do Sr. Sousa e de D. Aura. Mas há quem diga que não, que Alda<br />

é filha de uma irmã gêmea de D. Aura, uma D. Alma que teve aquela filha quando<br />

era solteira e que D. Aura, para dignificar a irmã, a recolhera como irmã gêmea de Aida,<br />

por terem ambas nascido no mesmo dia. Mas também se diz que nem sequer a filha do<br />

Sr. Sousa é filha do Sr. Sousa,<br />

– ... também se diz.<br />

[...].<br />

O verdadeiro pai seria um empregado da casa que subiu a sócio e morreu. Não: o<br />

verdadeiro pai seria um irmão desse sócio. Todavia, esse irmão jurara um dia que o verdadeiro<br />

pai era um vizinho que morava em frente e que o Sr. Sousa, aliás, conhecia muito<br />

bem, por ser casado com uma sua irmã, que não dera filhos. Mas como não tivera filhos<br />

da mulher, admitia-se facilmente que não era o pai da filha ou das filhas do Sr.<br />

Sousa e de D. Aura, que era extraordinariamente parecida com Aida e com Alda, ou, antes,<br />

estas é que eram parecidas com ela. (EP, p. 41-42).<br />

A partir daqui, nenhuma certeza será possível no penumbroso clima do romance. Já<br />

o não era, mesmo muito antes de, na diegese, se chegar ao ponto em que Adalberto ouve,<br />

em desespero, es tas palavras de abismo. Tal como o de Aparição, o texto de Estrela polar

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