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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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da aceitação do “outro”, desde o nome, desde a sua pessoa, da sua identidade profunda,<br />

enfim, desde uma relação que, nascida de uma inexplicável empatia entre um “eu” e um<br />

“outro”, conduza da comunicação à comunhão.<br />

A empatia nascida em Adalberto a partir do seu encontro com Aida, segue no senti-<br />

não de uma atração meramente física, mas de um erotismo que a<br />

do do interesse erótico,<br />

transcendesse e fosse a esperança de uma comunhão a alcançar. Por isso, desde o início,<br />

direciona o seu relacionamento com ela para o conhecimento da pessoa que ela é. Quer<br />

conhecê-la em profundidade. Precisa identificá-la no que ela tem de essencial e de único.<br />

De uma forma absoluta, reconhecidamente indispensável para Adalberto, mas que para ele<br />

virá a ser inalcançável. Porque o processo de conhecimento da pessoa de Aida se perturbou<br />

para Adalberto desde o início e se complexificará até ao tumulto, até ao caos, até ao delíperturba-se<br />

com o encontro de Adalberto com Alda, uma irmã gêmea de<br />

rio. Esse processo<br />

Aida. Em tudo absolutamente idênticas, elas confundem-se desde a semelhança dos nomes.<br />

Inicia-se então um jogo perturbante e perigoso: sem conseguir distinguir uma da outra,<br />

Adalberto desconfia que Aida e Alda se alternam não só em tarefas profissionais (Aida é<br />

funcionária da livraria de que Adalberto é proprietário), mas se alternam, também, na relação<br />

amorosa consigo. Incapaz de as identificar entre si, Adalberto algumas vezes incorreu<br />

(ou pensa ter incorrido) em desastroso equívoco, beijando e abraçando Alda julgando tratar-se<br />

de Aida. Curioso que só para Adalberto esse problema de identificação existisse,<br />

uma vez que os demais em redor – Faustino, empregado da livraria; Jesuína, sua mulher;<br />

Garcia, o pintor; Emílio, o médico... enfim, todos as reconheciam, menos Adalberto. Mas<br />

como explicar essa incapacidade de Adalberto, se justamente deveria ser ele, que, pela sua<br />

relação íntima com Aida mais facilmente a deveria distinguir de Alda? Obcecado pelo conhecimento<br />

da pessoa, da identidade profunda do outro com quem se quer comunicar, da<br />

sua essencialidade, a sua unicidade, Adalberto procura desesperadamente ver o que porventura<br />

será invisível. O seu olhar busca alcançar a camada do ser que se situa muito além<br />

da mera aparência física. Mas até onde o consegue lançar, não distingue diferenças entre<br />

Aida e Alda, embora saiba que em alguma zona profunda elas existam, em algum obscuro<br />

e inalcançável recôndito do ser. Esse jogo de equívocos (espécie de comédia de enganos de<br />

conseqüências trágicas) entre ser Aida ou ser Alda, que Adalberto vê alimentado ao seu<br />

redor, vai originar, na atmosfera densa, nebulosa e labiríntica do romance uma das suas<br />

grandes marcas, senão mesmo a maior delas: o jogo, constante até ao estabelecimento de<br />

um plano, entre realidade e irrealidade. Não só a identidade – sobretudo a do outro – está

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